sexta-feira, 26 de março de 2010

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27585


“o perfume e o sabor daquela boca”
Ainda vive em mim, guiando o sonho,
E em cada novo verso que componho,
Presença divinal que me treslouca.

Pudesse ter aqui neste momento,
Os lábios carmesins desta que fora
Razão da própria vida sonhadora,
E nela só por ela, eu me apascento.

Talvez quem sabe um dia, voltarás
Traçando outro caminho a quem se fez
Tomado por total insensatez
Ausente dos meus olhos, rumo e paz.

Quem sabe; ao dissipar em mim tal bruma,
Minha alma também ela, se perfuma...



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“se ao lábio o levo, sinto na água fresca”
Inesgotável fonte de alegria,
E tendo esta vontade que me guia
A sorte no passado tão dantesca

Agora me transmite paz e encanto
Vivendo tal ternura em lábios feita,
Minha alma com prazeres se deleita
Deixando para trás qualquer quebranto.

Vestindo de ilusão, nada me cala,
Açoda-me esperança e nela vejo,
Um mundo feito em glória e em tal desejo
A glória se mostrando qual vassala

Avassalando em mim tal vendaval
Um êxtase se torna um ritual.


27587



“E ainda hoje a extravagar – cabeça louca,”
Rondando constelares maravilhas,
Deixando no passado as armadilhas,
E a sorte que pensara sendo pouca

Agora transbordando dentro em mim,
Mudando a direção de cada vento,
E nela com certeza doce alento,
Perfuma e me extasia tal jardim,

Ascendo ao Paraíso em plena vida
Um anjo em formas belas de mulher,
Singrando qualquer mar que inda vier,
De tantos medos, vejo em ti saída,

E sei quanto é preciso navegar
Quem tanto procurou o imenso mar.


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“jovem, que nele muita vez bebera,”
As variáveis todas da ilusão,
Agora novos dias mostrarão
Em quão volátil sonho me envolvera.

Percorro as mais sombrias sendas quando
Percebo a solidão que se aproxima,
Uma alma tanto quer, deseja e estima,
Nos antros da paixão se transtornando.

Bebera deste amor a me fartar
Terrível aguardente, vício insano,
E agora no baixar do último pano,
Percebo tão distante este luar

E nele vejo ainda o teu retrato,
E ainda inebriado, eu me maltrato...

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“outrora a uma esquisita e romanesca”
Estrada me guiara o pensamento,
Vivendo tão somente este tormento,
A vida se fazendo ora dantesca.

Acordo e te percebo junto a mim
E sinto quão florido o meu presente,
Aonde uma alegria se pressente
Renasce com beleza tal jardim,

Aromas mais diversos, delicados
Aonde no passado a podridão
Traçara com terrível solidão
Em áridos caminhos, tristes prados.

Permito-me sonhar e busco além
Sabendo desta luz que amor contém.


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“Contam-me que esse copo pertencera”
A um velho sonhador que abandonado,
Vivera tão somente amargo enfado
E aos poucos solitário, perecera,

Matando o que deveras existia
Eu posso renovar num breve canto,
E nele com certeza farto encanto
Preconizando assim um claro dia.

Vencendo as intempéries, sigo alheio
Aos meus próprios pecados, meus engodos,
Livrando-me deveras destes lodos,
Adentro o Paraíso em manso veio,

Vislumbro mansamente tais searas
Por onde tanto amor tens e declaras.


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“em que, às vezes, aplaco a dor da sede”
Signatário dos sonhos mais audazes
Por mais que a vinha tenha suas fases,
Ainda o teu retrato na parede

Demonstra que deveras resististe
Ao quanto se mudou dentro de mim,
E quando te percebo, sinto enfim,
O quanto o meu viver se fez tão triste.

Medonhas caricatas, noites vãs
Descrevem esta vil realidade,
Por mais que o coração ainda brade,
Não vejo no futuro mais manhãs

Ensolaradas feitas com ternura,
Minha alma eternamente, ainda, escura..

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