27964
“- hoje, juntos os dois... tudo encantado”
Um sonho fabuloso e nada mais,
Aonde se expusesse aos vendavais
Somente no final a dor e o enfado,
Jogando contra a sorte nada veio,
Sedento deste afeto; não percebo
E quando um novo dia, inda concebo
Meus olhos se tomando por receio,
Ainda que pudesse ser feliz,
Diverso do que tanto imaginara
Minha alma se tornara mais amara
Que a própria realidade contradiz,
Angustiadamente o verso traça
O quanto deste amor se fez fumaça...
27965
“com as mãos e os lábios cheios de carinho,”
Tentara descobrir algum alento,
Mas quando se entregando ao sofrimento
Percebo quanto sigo vão sozinho,
Escalo as cordilheiras e não vendo
Sequer um rastro teu, se eu a perdi,
O amor que deseja tanto em ti,
Outrora se pensando em estupendo
Agora não passando de temor,
E nele nada crendo, só desfruto,
O velho coração se faz astuto
E ainda tendo um sonho a te propor,
Mergulha no oceano mais profundo,
E segue solitário e vagabundo...
27966
“Não hás de ser a eterna namorada”*
Daquele que se fez em luz sombria
E quando a realidade fantasia,
A sorte preparando a derrocada
Deveras somos feitos óleo e água
Já não se pode crer num amanhã
Aonde o desespero em seu afã
Acende a mais dispersa e frágil frágua.
O quanto se pensara em glória enfim,
Não deixa mais restar uma esperança
A vida sobre o nada já se lança
Agreste totalmente este jardim,
E o medo do futuro traz vazio
O que já fora outrora algum estio.
27967
“desde que o homem no mundo tem andado”
A sorte se fez má e destroçando
O que pensara ser suave e brando,
Apenas um retrato do passado,
Anseio por momentos mais gentis
E neles te percebo bem aqui,
Se o sonho a cada dia mais perdi,
Não poderei sequer ser tão feliz,
O vento se aproxima a destelhar
O abrigo aonde um dia imaginara
A sorte abençoada, bem mais clara,
Exposta aos raios nobres do luar,
Mas vejo o temporal e nele traço,
A vida sem carinho em tempo baço.
27968
“- são assim nesta vida os seus caminhos”
Levando para um cais mais traiçoeiro,
O amor quando se mostra por inteiro
Prepara a cada passo novos ninhos,
Mesquinharias ditam o abandono,
E quando não se vê outra saída,
A sorte desnudando nossa vida,
Traçando em primavera um duro outono,
Apenas o inverno me restando,
Depois somente o fim e nada mais
Angústias corriqueiras, invernais,
Aonde imaginara um tempo brando,
Ausência de calor, terrível frio,
E o coração deveras tão vazio.
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“com surpresa verás por todo lado,”
Quem tanto já reluta e busca enfim,
Que possa ter a flor no seu jardim,
Um dia com certeza abençoado,
Atrozes madrugadas, noites frias,
E o gozo de um prazer que nunca veio,
Ainda vive em mim tanto receio,
Matando as minhas próprias fantasias,
Quimera se espalhando na seara
E o canto de emoção já não escuto,
Ao coração restando um tosco luto,
A sorte a cada dia desampara,
E o medo de seguir doma o cenário,
O sonho se mostrando um vão falsário.
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“"...Mudarás, todos mudam, e os espinhos”
Que agora me trouxeste invés de rosas,
Aonde as sortes foram caprichosas,
Os dias se tornaram mais daninhos,
Mergulho neste imenso precipício
E rondo as noites mansas que quisera
O coração matando a primavera,
Inverno se tomando em torpe vício,
Audazes caminhares do futuro,
Mesquinhos dias trago do passado,
O tempo a cada dia anunciado
Somente se traduz por medo e escuro,
Nefastas as manhãs em tantas brumas,
Tal qual as esperanças já te esfumas...
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