27971
“Como emudece a voz de um coração”
Que tanto se fizera sertanejo
Tocado pela lua em raro ensejo
Traçando novos sonhos que virão
Tomando desde sempre esta beleza
Aonde se percebe a claridade,
O encanto que deveras já me invade
Mostrando este luar em tal grandeza
A natureza agora embevecida
Enamorada deita em rara prata
E quando e poesia invade a mata
Trazendo em raros tons a própria vida,
Minha alma se encantando mostra o canto
Do passarinho envolto em nobre manto.
27972
“e a gaita divinal emudecera,”
Ouvindo o suave canto do canário,
O coração que fora temerário
Agora ao sonho raro obedecera,
Sentindo este bafejo da esperança
Na argêntea maravilha em que se deu,
Penetra em claridade imenso breu,
E ao mais sublime encanto já se lança,
Enquanto a noite avança no sertão
E o plenilúnio invade toda a mata,
Beleza incomparável me arrebata
Nos sons desta sanfona e o violão
Plangente em belas notas seresteiras
Invade desde o vale às cordilheiras.
27973
“Fazia muito tempo que morrera,”
Uma esperança em mim, um trovador,
E agora quando vejo o pleno amor,
Quem tanto no passado já sofrera
Encontra lenitivo em raios tantos
Da lua imensa e bela que se aflora
E todo o meu sertão logo decora
Tomando cada verso com encantos,
E neles se propaga a maravilha
Aonde se perfila uma esperança
E a voz do seresteiro cedo alcança
Enquanto ao longe a dama nua brilha
Entorna sua prata sobre tudo,
E sôfrego cantor; então me iludo.
27974
“pela mulher mais linda do sertão”
Trazendo nos seus olhos clara lua,
Minha alma se embevece e já flutua
Domando desde já meu coração,
Aonde se hospedara a divindade
Sobeja fantasia que me inunda,
A sorte com certeza se aprofunda
E bebe então a plena liberdade,
Sabendo-te rainha dos meus sonhos,
Mergulho nos teus olhos desde quando
A vida noutra vida transbordando
Momentos fabulosos e risonhos,
Seguindo cada rastro aonde brilhas,
Do Paraíso encontro enfim as trilhas...
27975
“tinha sido atrozmente desprezado”
Por tanto amor que sempre trouxe em mim,
E a lua se deitando em meu jardim,
Tornando o meu caminho abençoado,
Deixando no passado toda a dor,
Um velho coração se encanta então
Bebendo cada raio da paixão,
Agora se transforma e sonhador,
Invade cada canto desta terra
Traçando em claridade seu futuro,
Aonde imaginara tão escuro
Beleza sem igual ora se encerra,
E tudo o que desejo a cada instante,
O brilho desta lua, fascinante.
27976
“O gaiteiro, o seu mestre bem amado,”
Chorando na sanfona em notas tais
Permite os mais sobejos, magistrais
Acordes traduzindo o apaixonado
Momento em que em entrego sem defesas,
E vejo claridade sem igual,
Tocado pela luz tão sensual,
Envolto em cada verso por belezas
Que sei somente encontro no luar
Em plenilúnio, rara claridade,
E quando esta ternura agora invade
A cada novo acorde a me mostrar,
No quanto esta viola já ponteio,
Deixando para trás todo o receio.
27977
“que foi sempre o primeiro entre os primeiros”
De todos os gaiteiros do sertão,
E acompanhando então meu violão,
Delírios sem igual, e costumeiros,
Enquanto a lua traz farto luar,
Tornando a terra inteira prateada,
A noite se desenha enamorada,
É como a divindade a se mostrar,
Inteira, bela e nua, claramente,
Domina este cenário sertanejo,
E a cada novo canto mais eu vejo
O quando enluarado já se sente
O coração tocado pelo brilho
No qual a cada instante maravilho.
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