quinta-feira, 1 de abril de 2010

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28256


“Sem luz, sem ar, sem razão”
Caminhando em seca terra
Solidão tamanha encerra
Nada vejo em solução
Se perdendo assim a sorte
Sem ter nada que reponha
Nesta cena tão medonha
Medo apenas se comporte,
Cinza céu; vergel já morto
Onde um dia poderia
Ter a luz e a galhardia
Esperança perde o porto,
Navegando em águas sujas
Caricatas garatujas.
28257


“Hoje míseros escravos,”
Onde outrora vira a luz,
O caminho reproduz
Noites frias; mares bravos
E terrores assolando
O planeta feito azul,
Norte, leste, oeste e sul,
Nada vejo, a morte em bando
Putrefata senda, eu sei
E o verdugo feito em homem,
Esperanças se consomem,
Nada resta desta grei
O vazio se porfia
Morre aos poucos. Que agonia!


28258


“Ontem simples, fortes, bravos”
Hoje frágeis caminheiros
Entre medos e espinheiros
Onde houvera rosas, cravos,
Senda feita em turvas águas
Devastando-se deveras
Nem tampouco as duras feras
Vejo só terror em fráguas
Destoando co’o passado
Feito em glória em luzes tantas
Hoje em morte desencantas,
Não restando sequer prado,
Da floresta tropical
Ao terror, cruel, venal.


28259

“Combatem na solidão”
Como fossem, pois lunáticos
E os venais, são bem mais práticos
Neles vejo a podridão,
E o caminho feito em trevas
Se porfia a cada tempo,
Tão somente um contratempo?
Se o vazio ainda cevas
As longevas esperanças
São mortalhas, nada mais,
Onde houvera temporais,
Dos desertos frias lanças
E o fatal pressentimento
Do completo desalento.


28260



“Que com os tigres mosqueados”
As onças, jaguatiricas
Em tais terras antes ricas
Bons momentos vislumbrados
Extinção de qualquer vida,
Morte dita atrocidade,
Onde quis eternidade
Tão somente o pesticida,
O veneno se espalhando
Nada resta do planeta,
Ao vazio se arremeta
O que outrora fora brando,
Solidão já se mostrara
Na profunda e torpe escara.



28261

“São os guerreiros ousados”
Sonhadores, tão somente,
Mas é frágil tal semente
Pelos tantos destroçados,
As insânias do presente
Traduzindo noutro dia
Uma sorte se esvazia
Vida apenas segue ausente
Ilusão? Creio que não,
Na verdade se traduz
Pela fúria à qual me opus
E vencido, a direção
Se mostrando mais exata
Fogaréu tomando a mata.

28262

“A tribo dos homens nus”
Nada além de alguma cena,
O futuro já se acena
Saciando os urubus
Destruída a natureza,
O que resta para nós?
Se em verdade o frio algoz
Atuando com destreza
Nada deixa do passado,
Transcendendo ao próprio tempo
Segue envolto em contratempo,
Traz no olhar tão desolado
O farrapo de uma vida,
Que se vê leda e perdida.

28263


“Onde vive em campo aberto”
O verdugo feito em pus
Dilacera a própria cruz
Transcorrendo este deserto,
Rapineira realidade
Nada tendo no futuro,
Qualquer traço inda procuro,
Mas vazio agora invade,
Degradada natureza
Sorte finda, o que faremos?
Sem ter água, rios, remos
Só restando esta certeza
Da mortalha que se tece
Deste solo que empobrece.

28264

“Onde a terra esposa a luz”
Se gerava tanta vida,
Mas agora a despedida
Só a morte reproduz,
Finda a glória desta terra,
Finda a sorte do planeta
Tanto engano se cometa
Na verdade que se encerra
O mergulho no vazio
Num inferno sobre nós
Vendo a face deste algoz
Tento e mesmo desafio,
Num momento mais funesto,
Devorando cada resto.

28265


“São os filhos do deserto,”
Os herdeiros do futuro,
Solo agreste, torpe e duro,
Um abismo sendo aberto,
Só insetos, nada mais,
Talvez reste alguma vida
Onde a sorte em despedida
Se prepara em funerais,
As mortalhas já nos cabem,
Os momentos tão terríveis
Dias longos, implausíveis
Pouco a pouco já desabem
Sobre todos do planeta
Que à loucura se arremeta.

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