segunda-feira, 12 de abril de 2010

HOMENAGEM A ALFONSINA STORNI

BIEN PUDIERA SER...

Pudiera ser que todo lo que en verso he sentido
No fuera más que aquello que nunca pudo ser,
No fuera más que algo vedado y reprimido
De familia en familia, de mujer en mujer.

Dicen que en los solares de mi gente, medido
Estaba todo aquello que se debía hacer...
Dicen que silenciosas las mujeres han sido
De mi casa materna... Ah, bien pudiera ser...

A veces en mi madre apuntaron antojos
De liberarse, pero se le subió a los ojos
Una honda amargura, y en la sombra lloró.

Y todo eso mordiente, vencido, mutilado,
Todo eso que se hallaba en sua alma encerrado,
Pienso que sin quererlo lo he libertado yo.





1

“Creio que sem querer fui eu quem libertou”
O canto onde talvez pudesse ainda crer
No dia que virá em raro amanhecer
Mudando a direção do quanto ainda sou,
Mergulho neste mar imenso e nada vejo
Somente o meu passado imerso em tanta dor,
E quem se faz assim em mundo encantador
Não sabe da alegria ao menos um lampejo
Poeta se pudesse em tantos temporais
Vencer o descaminho e crer em novo dia,
Mas como se eu bem sei assim, a poesia
Enquanto dita o rumo esconde mesmo o cais.
Pudesse, quem me dera a sorte bem diversa
Daquela que ora encontro e sobre a qual se versa.

2


“ Tudo o que se encontrava em sua alma guardado,”
O medo do não ser e tanto não pudesse
Quem sabe crer no sonho e dele faz a prece
Esconde a cada tempo o dia em duro fado,
Vencida pela angústia e quanto mais tentei
Não pude acreditar sequer num horizonte
Olhando para quando o jamais nunca aponte
Apenas o vazio ainda dita a lei
E dele não escapo e todo o meu futuro
Não pode ter nem mesmo a sombra do que agora
A cada novo dia, em palidez se aflora
Quem dera ter um cais, um porto mais seguro,
Sentindo a tempestade, imersa na procela
O quanto em mar imenso, o sonho não revela...


3


“ E tudo de mordaz, vencido, mutilado,”
Não pode mais trazer o quanto se tentava
Se eu sei que me perdi, imersa em tanta lava
O amor não traduzido ainda dá o recado
E sendo assim quem sabe algoz de cada sonho,
Servindo a quem tentei amar e não podia
Aonde se criara a luz de um novo dia
Apenas o bizarro, apenas o medonho.
Descrevo com terror o quanto ainda aguarde
Aquela que se fez amante além da vida,
A morte não trouxesse em si a despedida
Quem sabe dela mesma o quanto, ainda tarde
Não seja finalmente o todo que eu anseio
Não posso mais negar, quem sabe único veio...


4


“Uma funda amargura, e na sombra chorou”
Quem tantas vezes teve a sorte em vã desdita
E quanto mais reluta, eu sei tanto acredita
No tempo mais feroz, e tudo o que restou
Somente o frio intenso e dele o medo imenso
Saber do quanto tive e nada mais terei,
Saber do quanto fui e nada mais serei,
Decerto o descaminho aonde me convenço
Do medo tão feroz e dele o nada após
A voz se cala e a morte ao menos apazigua
A vida de quem sonha ao ser por certo exígua
Expressa a cada verso o mundo, frio algoz,
Servindo de mortalha aos meus delírios tento
Inutilmente mesmo apenas um alento...


5


“De enfim se liberar, mas ao subir-lhe ao seio”
O medo mais feroz de quem tanto sonhara
A vida quando atroz esboça cada escara
E nela se encontrando a sorte perde o veio,
Estardalhaço tanto, espúria desventura
A mão que acaricia a mesma apedrejando
O riso de esperança um ar tanto nefando
Assim o meu caminho em vão já se perdura,
Singrando o nada ter e mesmo quando quero
O tanto se mostrasse aquém do que podia,
Somente me restando a voz da poesia,
O tempo se moldando em ar terrível, fero
Mantendo tão somente o quanto ainda resta
Deixando esta sombria amargura funesta.

6

“Às vezes minha mãe terá sentido o anseio”
De ter se percebido assim também perdida
E nisto como pode, enfim ser parecida
A vida que se foi e aquela que ora veio,
Idêntico caminho, o manto em tez sombria
A fúria do viver, o medo do futuro,
A corda arrebentada aonde quis seguro
O rumo feito em dor e dela se recria
A própria ingratidão, medonha realidade
E tanto vejo assim o quanto nunca fora,
A sorte desvendada, uma alma sonhadora
Enquanto se porfia aos poucos se degrade,
Quem sabe noutro mar, imenso claro e então
A morte seja enfim, a melhor solução.


7


“Em meu materno lar. Ah, sim, bem pode ser”
Um rumo tão diverso ao qual eu relutava,
Mas quando se percebe uma onda enorme e brava
O quanto poderia e sem ter nada a haver
Esgota-se a verdade e teimo contra o rumo
Sabendo ser venal o pouco que inda tenho,
Por mais que tanto lute e neste farto empenho,
Aos poucos na sangria em dor eu já me esfumo,
Esgarça-se a palavra e tudo o que trouxesse
Aquém do quanto tento e mesmo em desabrigo
Porquanto sonhadora, às vezes eu prossigo,
E sei do desafio, e dele o nada tece
Perdidamente insana, a vida se perdendo
E quanto inda tentasse, ausente dividendo...

8

“Silenciosas, dizer; que as mulheres hão sido”
Em nada simplesmente o nada além do vão
E assim ao me perder na mesma direção
O mundo que desejo, amargo e torpe olvido
Sentindo esta verdade ainda no meu peito
Ardência me domando um novo amanhecer,
Porém a lua morta expressando este sol
Imenso e radiante um tétrico farol
Ditando à noite escura apenas desprazer
Não posso crer então ter novo rumo em vida
Amordaçada, a voz jamais seria além
Do quanto em verso tento e o nada, e o nada vem
Sabendo desta senda há tanto em vão, perdida
Destino igual? Jamais. Assim melhor partir
Negando o quanto em nada eu vejo o meu porvir.

9


“Estava tudo aquilo, o que resta a fazer”
O não ser o lutar embora sendo amargo
O rumo pelo qual o canto em vão embargo
E sei que na verdade o fim a me tolher
Gestado desde quando a sorte desvendara
Assim se repetindo a mesma história, eu sigo
Sabendo do caminho em vital desabrigo
A nova realidade? A velha face amara
Onde me concebera e quanto não pudesse
Sentindo o frio imenso, apenas bebo o mar
Diversos caracóis, estrela a me mostrar
Do cavalo marinho, a beleza em rara messe,
O mergulho até o fim e dele a solução
Na branca areia o sonho e quem sabe o verão?


10


“Dos solares dos meus dizem; sempre medido,
O quanto poderia em passos mais audazes
Diverso do que tanto ainda em vão me trazes
A vida finalmente ao menos o sentido,
Disperso caminhar em águas violentas
E nelas ondas vejo o fim em placidez
No verso que compus o quanto tu não vês
E neste caminhar o tanto me apascentas
Em morte em mar em luta aonde não se mede
A senda mais cruel? Apenas calmaria,
E nela se moldando o que deveras cria
E o passo mais audaz, eu sei jamais impede
Retrato de uma vida em trágico caminho
No quanto em solidão da morte eu me avizinho.


11


“De família em família e mulher em mulher”
Repetindo esta história há tantas gerações
E nelas o que vês e sempre ainda expões
Além do quanto pensa ou mesmo o que se quer
Assim se revelando esta aridez imensa
Amortalhada sina esgota a realidade
E a cada estupidez a nova já me invade
E sem ter qualquer luz aonde se convença
Do passo diferente ou mesmo mais audaz,
Estúpido caminho espúria noite em vão
E sem saber se existe ao menos solução
Além do quanto a morte ainda posso e traz
Viceja a solidão e nela enfim perduro
O mundo traiçoeiro e sei quanto inseguro.

12


“Não seja mais do que deveras reprimido”
O passo em luz sombria e tanto se percebe
O fim de cada dia em tétrica e vã sebe
Assim o mundo atroz e sempre dividido
Entre homem e mulher caminho mais diverso
Determinando o fim do quanto poderia
E nele ser além da mera fantasia
Exposta cruelmente em cada e tolo verso
Poetisa morta ou mesmo ainda em vida
Escrava ou nada tanto o quanto não se vê
O encanto merecia ao menos um por que
E nele se mostrasse uma nova saída
Esboço um sonho e tento a solução distante
Por mais que ainda em não verdade se adiante.

13

“por mais que aquilo em que jamais se pode ser”
A verdade absoluta expressa negação
E dela se mostrando ainda o quanto em vão
O medo de seguir estúpido poder
Peçonha e mais peçonha a vida em dor intensa
E nela, a própria vida, o peso do talvez
Enquanto assim se urdindo imensa insensatez
Será que talvez mesmo a morte é recompensa?
Cansada de lutar ou tanto ou mais ou menos
Os dias que pensei pudessem ser diversos
Dos tão doridos vãos ingênuos dos meus versos
Quem sabe noutros mais um dia bem serenos.
Mas nada do que eu quero ainda pode em luz
Mergulho no oceano o tanto ao qual me opus.

14


“Bem pode ser que tudo o que tenho sentido”
Não tenha mais valia ou quem sabe bem pouca
Na verdade se vê a face de uma louca
Buscando a direção em tempo dividido
Assisto ao meu final e não mais quero crer
No quanto ainda pode ou mesmo se pudesse
A sorte variada e nela a plena messe
Matando a discordância, estúpido poder,
Traçando diferença ausência de caminho
Apenas poderia ainda ser feliz,
Mas tanto a vida em treva expondo contradiz
Deixando bem distante o que pensara em ninho,
Mortalha em tom marinho, apenas o que tento
E nesta imensidão, encontro enfim o alento...

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