terça-feira, 4 de maio de 2010

31786 até 31795

31786

Sem você eu vou morrer,
Pois retratos que ora vejo
São apenas o desejo
Do que tanto pude crer
Mesmo quando sem saber
Das estâncias nem lampejo
E se ainda não prevejo
O que possa me trazer
Tanta insânia em posse e medo,
Quando ao nada eu me concedo
Busco o todo em contra-senso,
E se vejo este reflexo
Num momento em que perplexo,
No talvez me recompenso.



31787

A nossa separação
Expressada em dor e riso,
Noutro tanto se preciso
Novos dias me trarão,
Mas a mesma embarcação
Dita o ganho e o prejuízo
Neste alento qualquer siso
Já não vê satisfação,
Ao sentir ondas em mares,
E se quando procurares
Nas angústias, tons diversos,
O viver se transcendendo
Ao que pode revolvendo
No sabor dos próprios versos...




31788

O que fiz pra merecer
Se talvez ainda creia
Adentrando cada veia
Outra forma, noutro ser,
Revirando o que é poder
Quando a vida se receia
E deveras siga alheia
Do que tanto merecer,
Lavo os olhos no passado
Feito em sobras, destinado
Ao que um dia ainda quis,
Vou seguindo em pleno abismo,
E se tanto ainda cismo,
Minha queda é por um triz.


31789


Derretendo dia a dia,
O quanto percebera
Na verdade é como a cera
Que jamais se moldaria
Noutra igual. A fantasia
Mesmo quando percebera
Ser diversa revolvera
Os porões desta heresia.
Certamente quem procura
Nova escora, em amargura
Refazendo o mesmo passo,
No que tanto me pertença
Sem saber do que convença
Noutro vão retenho e faço.

31790


Coração amanteigado,
Resta em líquida figura
Quando bebe da ternura
Ou deveras dita o fado
Entre tanto e vão recado
Do vazio se assegura,
E se quer qualquer brandura,
Não revive o seu passado.
Esgueirando pelas frestas
Do que nada ainda atestas
Jamais posso refazer
Qualquer cena que sonhara,
Revivendo cada apara
Podo o sonho a me perder...


31791

Sem você, eu fico louco
E talvez ainda possa
Ter a sorte sua e nossa,
Mas distante me treslouco,
O que tanto quero é pouco
Perto mesmo que endossa
Caminhando além da fossa,
O meu canto ainda rouco,
Nascerá de novo tempo
Onde ausente contratempo
Poderá trazer ao menos
Dias calmos onde a sorte
Arremeta bem mais forte
Dias claros e serenos.

31792

Toda vez que a noite chega
Adentrando o quarto eu penso
Neste encanto outrora tenso,
E se encontro em minha adega
Outra sorte onde navega
Coração que quis imenso,
E se em nada recompenso,
A palavra já sonega,
Rego em dores o canteiro
E se um dia por inteiro
Não pudesse mais sentir
O que tanto quero agora,
Da diversa e rara flora
Só daninhas no porvir.


31793

Começou a maltratar
A figura de um passado
Onde o sonho abandonado
Não consigo desvendar
E sem nada no lugar
Vejo o quanto é desolado
O caminho mal traçado
Pela angústia a demonstrar
As diversas estações
Entre invernos e verões
Extremados fatos, fardo
Que recende ao próprio cardo,
Quando amor não se provê
No final nem um por que.

31794

E se foi melancolia
Mero aporte de uma vida
Onde busco a despedida
A mortalha se recria,
Vendo assim mera agonia
Quando tudo não duvida
A saudade sendo urdida
Noutra cena se irradia,
Riscos tantos, rastros vagos,
E se ainda quero afagos
Trago apenas solidão,
Cercanias mais diversas
Entre os medos ora versas
Não terei jamais verão...

31795


Que jamais ia deixar
O caminho preferido
Mesmo quando já ferido
Refletindo algum lugar
Dissonância a se recriar
Traz os ermos da libido,
Outro passo distraído
Noutro tanto a se mostrar,
Cada verso sendo vão
A palavra é podridão,
E decerto o esquecimento,
Se não pude discernir
Qualquer noite sem porvir,
Não trará mais um alento...

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