sábado, 25 de agosto de 2012

BELEZA RARA

BELEZA RARA

Nesta beleza rara, escultural,
Suave calmaria leva o mar.
Contorno de vitória triunfal,
No campo das batalhas do luar.

Beiras à perfeição, és divinal,
Uma sílfide leva-me a sonhar.
Beleza sem igual, fenomenal,
Tradução mais correta: verbo amar.

A boca carmesim, doce e pequena,
Os olhos exclamando: formosura,
Acena com propósito de cura.

As pálpebras fechadas: vera cena,
Dormita tão serena criatura.
Acordado, venero esta morena!

MARCOS LOURES

OS PÉS CALEJADOS

OS PÉS CALEJADOS

Tantas vicissitudes nesta vida,
Os pés tão calejados, descaminhos.
Sabendo que esta noite está perdida,
Vencendo velhos sonhos, tão daninhos.

Abismos escondidos que se afloram,
Roubando as esperanças que nasciam.
O roxo destes lírios que descoram,
Meus olhos tão tristonhos, não sabiam.

Mas vivo coração não quer o fim,
Reluta e tira o luto que vestira.
Mortalha abandonada, rasgo; enfim...
Transformo a solidão, tira por tira.

E solto minhas asas deste abismo,
Nos braços deste amor, com otimismo.


MARCOS LOURES

TEUS OLHOS

TEUS OLHOS

Teus olhos, meus faróis, e meu destino...
Na mansidão da noite que ilumina
A vida perseguindo nossa sina
O mundo que me fez o teu menino...

Se posso, meu compasso é desatino
Na tua mão tão fria determina
Estrada que se fez em fonte e mina.
Novo sonho, verdade não domino,

Apenas viverei a cada dia
O dia que não tive nem teria
Se não fossem teus olhos dominantes;

Meu barco e minha lua, um horizonte
Perdido e recontado, seio e monte;
Quando nessa noite somos dois amantes!

MARCOS LOURES

O MUNDO SE MOSTRANDO UM LABIRINTO

O MUNDO SE MOSTRANDO UM LABIRINTO

O mundo se mostrando um labirinto
Mistérios que encontramos pela vida.
Angústia que se faz em despedida,
Vazio que decerto já pressinto.

Porém a natureza em seu instinto
Nos dá sem perceber uma saída
Mesmo que a sorte caia já vencida,
Um fogo de esperança eu sempre sinto

Vestido pelo amor tão benfazejo
De quem nos concedeu um braço forte.
Sanando com ternura qualquer corte,

Trazendo um belo cais que enfim prevejo.
Vencendo qualquer medo; cedo ou tarde
Contamos com poder de uma amizade.

MARCOS LOURES

TANTAS VEZES

TANTAS VEZES

Tantas vezes as dores enroscavam
Qual serpe numa cérvice infeliz.
Mesmo silente a vida tanto diz
Em palavras venais nos torturavam.

Os dias solitários que sangravam
Forrando uma pobre alma em cicatriz.
Meus olhos tão vazios já nevavam
E, cegos não sabiam de um matiz

Que o céu enfim promete pra quem ama
E tem a companhia deste amor.
Por mais que leve e branda seja a chama

Os laços da amizade são mais fortes
E trazem contra a dor de quaisquer portes
Um hálito divino e salvador...

MARCOS LOURES

MENINA MULHER

MENINA MULHER

Malícia nos teus olhos de menina,
Melancolia trazes, risos tristes...
Mistérios: tua lua cristalina...
Martírios dos amores que resistes...

Misantropia e luta, tua sina...
Molecagem, brinquedos, nada omites,
Metódica, trazendo luz divina...
Mediadora, os conflitos, dedos ristes,

Maciez travas beijos e mordidas...
Me manejas do modo que quiser,
Mansidão ultrapassa nossas vidas,

Meiguice rebentando quando quer,
Mazelas que consolas, reunidas,
Me mostram teu perfil, M, mulher...

MARCOS LOURES

CATIVO DOS TEUS OLHOS

CATIVO DOS TEUS OLHOS

Tornaste-me cativo de teus olhos,
Tão mansos, tão suaves, tão serenos.
Tornando meus caminhos mais amenos,
A flor felicidade traz em molhos...

Amar que sempre achei ser meu direito,
Agora não disfarço, num mergulho.
Saber-te, com certeza é meu orgulho.
Poder dizer ao mundo, satisfeito,

Que, em toda minha vida, tive sorte,
Encontro novo porto onde se aporte
A nau que já pensei ter naufragado.
Ao meu destino vou iluminado

Pelas luzes mais belas que já vi.
Que por favor divino, estão aqui!

MARCOS LOURES

NO CORTE DA NAVALHA

NO CORTE DA NAVALHA

Ah! Quando dispersei essa esperança
Em nome da certeza do futuro;
Não sabia que a vida não se cansa,
De fingir-se leal, porto seguro.

Ao tentar destruir esta aliança,
O claro sentimento fez-se escuro.
Tempestade abortando uma bonança,
A sorte se escondeu detrás do muro...

O mar que fora meu, virou deserto,
O frio de minha alma congelou.
A solidão feroz, ronda por perto,

A paz se fez distante, na batalha.
O nada simplesmente me sobrou,
No corte tão profundo da navalha!

MARCOS LOURES

PERDER-ME EM TUAS TRILHAS

PERDER-ME EM TUAS TRILHAS

Meu amor traz no peito bem marcado,
Com garras penetrando, bem profundo
Meu canto, de tristezas, compassado
Um grito, me trazendo o fim do mundo.

Amor meu, de teus beijos sou, me inundo
Meus abraços nos braços teus, atado
Vou, conheço o mergulho em que me afundo,
Nesse louco prazer, desesperado.

Quero, bem mais que tudo conhecer,
Os limites sem rumo da paixão,
Beijando, em tua boca conceber,

Tudo quanto pudera, o coração,
Quero aprender a ler nesse abc,
Vou perder-me nas trilhas, teu sertão...

MARCOS LOURES

MINHA AMIGA VERDADEIRA

MINHA AMIGA VERDADEIRA

Amada, minha amiga verdadeira
Das horas complicadas e ferinas.
Minha alma dolorida e caminheira
Encontra tuas mãos quase divinas.

Na mesa que partilho uma esperança
O pão desta alegria que me trazes
Garante, com certeza uma festança
Além do que sabemos ser capazes

Se vamos isolados pela vida,
Se estamos divididos, passo a passo.
Por isso, amada amiga tão querida,
Atemos bem mais forte nosso laço

E vamos, destemidos, ‘té o fim,
Regando cada flor deste jardim...

MARCOS LOURES

EM TEU CORPO

EM TEU CORPO

Em teu corpo escrever mil poesias,
Usando minhas mãos; firme caneta,
Marcando com desejos, ardentias,
A boca vai trilhando qual cometa

Penetra cada ponto, nas magias
Que fazem nossa noite mais completa
Promessa de delícias, tantos dias,
Assim quem sabe, sinto-me poeta...

Relaxas, tranqüilizas, nem te moves...
Apenas um sorriso breve aflora,
Cicatrizes? Bem sei que assim removes

E deixa a poesia te invadir...
Querida, este terceto feito agora,
Não cansa de implorar. Quer repetir...

MARCOS LOURES

UMA AMIZADE PLENA

UMA AMIZADE PLENA

Uma amizade plena e duradoura
Nos faz já perceber o bom da sorte
Uma aliança assim nos dá suporte
E em plena claridade já nos doura.

A voz que se mostrou consoladora
Aplaca uma ferida, cura o corte,
E tantas vezes vence; redentora,
Tornando nossa mão mais firme e forte.

Tenaz e resistente, qual granito
Que enfrenta as tempestades que virão.
Alçando uma esperança ao infinito,

Redime-nos das dores inerentes.
Uma amizade imensa é solução;
E enfrenta as intempéries mais frequentes...

MARCOS LOURES

MEU AMOR

MEU AMOR

Meu Amor nunca esqueça de voltar
A noite que te leva não demore
Espero-te no próximo luar
Que o olhar dessa saudade não decore.

As rosas que colhi querem dizer
Do amor que nunca mais terei igual.
Das rosas uma flor a receber
Do amor um breve toque sensual...

Nos bares solitários sem a lua,
Casais em volta tramam seu encanto.
A mesa onde sentei, estando nua
Aguarda simplesmente... e nada... pranto.

E canto esta cantiga no fervor,
De quem aguarda a volta dum amor!

MARCOS LOURES

ROMÂNTICO!

ROMÂNTICO!

Romântico, romântico, romântico!
Rasgando o coração, esqueço a vida...
No canto, teu encanto, no meu cântico,
A lua dos amores, sei perdida!

Nos céus explodirei; sincero, quântico.
No mundo dos meus sonhos, preferida,
Nos mares dos meus mundos, onde, atlântico,
Espero a tua volta em despedida...

Te procurei nas ânsias do viver,
A quimera expressando minha dor,
Singulares desejos sem prazer

Guardando esse infeliz como um vulcão;
Desesperança explode, qual tumor;
Meu peito, amargurado coração!

MARCOS LOURES

DISTÂNCIAS

DISTÂNCIAS

Distâncias que percorro embalde são vencidas...
O canto que expressava agora vai calado...
Uma ave que voava as asas já feridas,
A noite representa o meu tempo passado...

Por vezes esperava as tuas mãos erguidas...
O gosto do teu beijo, o grito torturado...
A vida não passava, as dores incontidas...
Destino desvendado, amor virou meu fado...

Meu coração batendo afoito sem sentido...
Clarão que iluminava a noite dos meus sonhos...
Amor nunca chegava esboçado no olvido...

A lua clareando o velho e bravo mar,
Estrela que esvoaça os olhos meus tristonhos...
No beijo que eterniza esta certeza: amar!

MARCOS LOURES

DEPOIS DE SEMEAR A TEMPESTADE

DEPOIS DE SEMEAR A TEMPESTADE

Depois de semear a tempestade
Por tempos mais distintos, minha vida,
Depois de discutir felicidade
Em hora tão marcada quão doída.

Depois de procurar com ansiedade
A porta que mostrasse uma saída
Depois de renegado assim, quem há de
Cobrar minha esperança adormecida.

O tempo que é senhor, portanto rei,
Aos poucos me mostrando nova dança
Que é feita deste sonho que encontrei

Contigo, minha amiga em aliança,
Depois de tanto fogo que espalhei,
Agora só espalho uma bonança...

MARCOS LOURES

CONTIGO EU APRENDI

CONTIGO EU APRENDI

Eu, contigo aprendi a não sonhar,
A acreditar na dor, cruel saudade...
Olhar estrelas, cega claridade,
E nada mais, jamais poder amar!

Me ensinaste mentiras ao luar...
Fantasias cruéis, “felicidade”,
Coragem pra saber tal falsidade...
As marcas que deixaste, vou saudar!

Jamais t’ esquecerei, estejas certa...
Agradeço-te enfim, o ser poeta...
Saber cantar tristezas, assim rindo...

Ver as cores do mar, as fases da lua...
Muito obrigado, sinto-te tão tua,
A vida passa, então me vês sorrindo.

MARCOS LOURES

AMORES?

AMORES?

Amores? Foram tantos que nem sei
Forrando todo o chão de folhas mortas.
Outonos que vivi, tantos passei
Abrindo e mal fechando velhas portas.

Das balas encontradas escapei.
As bocas que beijara; semi-tortas;
Nos mares tão distantes naufraguei,
Nos cais aonde, livre, não aportas.

Mas cortas os meus sonhos mais audazes
Mostrando em cada noite, luas, fases
E fazes deste sonho que eu quisera

Amor que se perdeu há tanto tempo.
Na boca desdentada da pantera,
Amar fora somente passatempo...

MARCOS LOURES

NÃO TENHA MEDO DE SER FELIZ

NÃO TENHA MEDO DE SER FELIZ

Não tema atravessar a ponte estreita
Senão tu perderás uma bela ilha.
Andando é que se foge de uma espreita
Quem pára já sucumbe e nunca brilha.

A dor de uma derrota é mais aceita
Que o medo de seguir por uma trilha.
A trama que se faz, mesmo desfeita,
Não deixa que te prendam com anilha.

Aliás, se temeres, já perdeste,
É dura uma derrota para o nada.
Se a vida assim, amiga, percebeste;

Terás orgulho em cada cicatriz.
Melhor do que o vazio; derrotada.
Não tenha medo, então; de ser feliz!

MARCOS LOURES

NOSSOS CIOS

NOSSOS CIOS

Bem sei que morreremos abraçados
Os fados predestinam tal suplício
De tanto amor que tenho, velho vício,
Os braços estarão por certo atados.

Quem sabe qual Quasímodo, meus fados
Farão dessa Esmeralda precipício,
E tanto que te quero desde início
Talvez os nossos fim compartilhados.

Porém nossas sementes proliferam
E mordem quem deseja ser feliz.
Os olhos dos demônios que se deram

Invadem tantas glebas e plantios.
Mortalha que nos cobre, negro-anis
De noite se reparte em nossos cios...

MARCOS LOURES

O SONHO QUE ME DESTE

O SONHO QUE ME DESTE

O sonho que me deste, minha amiga,
Em versos que declamo nada meus,
São sonhos na verdade, tão ateus
Que em versos invertidos nada abriga.

Nas curvas e montanhas que se diga
Que nada mais inverno, nem meus breus
Não quero nem corbelha ou camafeus
Apenas sei meus versos numa intriga.

Na prece que negaste sem quermesse
Mereces meu perdão por nada crer.
Espero que das pressas se confesse

Os erros que vivemos por fazer.
Afrontas e vacinas qu’alma engesse
São versos que esqueci de te dizer.

MARCOS LOURES

SAUDADE MATADEIRA

SAUDADE MATADEIRA

Às vezes vida passa e nada sobra
Senão uma saudade matadeira
Sentado na calçada, na cadeira
O vento da lembrança já me cobra

O canto que no peito inda soçobra
Fazendo de uma luz alvissareira
Esta marca que levo a vida inteira
E tudo num momento se recobra...

Sobrando pelo menos amizade
Embora nosso amor morresse cedo,
O tempo que vivemos liberdade

Foi bom, porém passou restando então
O mote principal de um novo enredo:
Uma amizade cheia de paixão...

MARCOS LOURES

SALVAÇÃO DE QUEM AMA

SALVAÇÃO DE QUEM AMA

Amor sem ter juízo empresta seu tormento
E faz com que fortuna abandone quem ama
Amor trazendo paz empresta sua chama
Obriga-me, entretanto, achar contentamento.

E nada mais importa amar é ser isento
De tudo que minha alma, aos mundos já proclama
E mesmo assim, amor, em lágrimas reclama.
Amor faz do meu canto eco do pensamento.

Amando entenderás o meu verso em lamento,
É fogo que me queima enquanto a dor inflama
Amor se dispersando escuta a voz do vento

Amor é tão proveito envolto em tanta fama
Não deixe que esse amor se esqueça num momento
Que amor, na perdição, salvação de quem ama!

MARCOS LOURES

AMOR QUE MATA E CURA

AMOR QUE MATA E CURA

Pensamentos cortando meu poema
Em versos e palavras sem tormento
Aumento minha dor em pensamento
A cada novo tempo que não tema

O tempo que se porta como lema
Não vaga minha vida sendo isento
Profana meu gentil comportamento
Nas ramas deste mar por certo rema.

Nem todas as virtudes que louvamos
Se encontram nos meus versos in natura.
A manga das camisas levantamos

Na luta que promete ser mais dura
O certo é que seguimos nos amando,
Amor que na verdade, mata e cura...

MARCOS LOURES

MEUS ANSEIOS

MEUS ANSEIOS

Meu verso parecendo um passarinho
Em busca das mentiras que me deste.
Vagando pelo mundo estou sozinho,
Talvez uma saudade, o que me reste.

Vencido pelas pedras do caminho
Entôo meu cantar que me reveste
Das dores em litígio, vasto ninho;
Com fome e com certezas, pão e peste.

Destino sem sentido nem promessa
Escondo meus olhares nos teus seios
Nos olhos que me dás não se confessa

O tempo que passamos sem receios.
A vida sem querer, pegando peça,
Transforma em agonia meus anseios...

MARCOS LOURES

AMOR QUE PREZO TANTO

AMOR QUE PREZO TANTO

Amor que tenho tanto, manso e puro,
Encanto que por Deus abençoado
Por uma paz celeste assegurado
Em mares e tempestas vai seguro.

Tenho nele a certeza que procuro
Do bem supremo sempre bem formado
Clareia todo negro rumo escuro
Trazendo a mansidão do bom futuro

Matando a solidão do meu passado.
Amor que nada sangra nem destrói
É sempre afirmação de belo estio

Impede a sensação do duro frio
É lua que não deixa a tempestade,
É rumo que me forja e me constrói,
Certeza de eternal felicidade...

MARCOS LOURES

LOUCO CIO

LOUCO CIO

Ouvindo tua voz na noite fria
Me lembro do verão do nosso amor.
Do tempo que passamos no torpor
Que sempre prenuncia a fantasia.

A boca que beijava e me lambia.
Delitos do prazer, ondas, calor.
Espinhos que sangravam, dor e flor.
Gemidos e delícias, sinfonia...

O tempo não perdoa, tudo acalma.
Loucura se transforma em morna calma.
As noites se esqueceram desse estio...

Porém, na transparência, camisola.
Meu verso, em disparada, nos consola
E a noite se promete, louco cio...

MARCOS LOURES

CANSADA VIAJANTE

CANSADA VIAJANTE

Quando te vi; cansada viajante,
Eu nunca poderia adivinhar,
Que, na vida, tu foste tão constante.
Embora nunca pude te encontrar...

Eu bem sei de teus passos; uma errante
Companheira noturna do luar.
Sempre perto, sentida tão distante,
Navegante de todo céu e mar.

Amiga, bem tentei te conhecer,
Pois nunca me mostraste tua face,
Não pude nem querer saber por quê.

Pois só me permitiste teu disfarce.
Procuro e nada encontro, pois, cadê?
Muitas vezes, difícil te saber...

MARCOS LOURES

TE OBEDEÇO!

TE OBEDEÇO!

Amor! Quando escutei a tua voz
Não pensei duas vezes. Te obedeço!
Mesmo que dolorida, duro, atroz,
No teu caminho; amor, me reconheço...

Quantas vezes, neguei o teu chamado...
Sozinho, arrependido, e tão vazio;
Procurava escutar, tempo passado,
Mas nada... tu voavas... Que fastio!

Depois de tanta dor e solidão,
Depois de tantas noites te esperando...
Amor, eu te buscando na amplidão,

E somente esse nada inda ecoando...
Amor, tua voz próxima de mim...
Serei, quem sabe... Então, feliz enfim?

MARCOS LOURES

CARINHOSO COMO O CARDO

CARINHOSO COMO O CARDO

Meu verso é carinhoso como o cardo
Encardo e sou birrento pra valer...
Depois de tanto peso e tanto fardo
Agora em liberdade, quero ver!

Sou caça que me caço e não me canso
Avanço e se quiser te mostro o ranço.
No fundo do quintal eu sempre danço
E se passo, passo a passo, não avanço...

No ritmo que embalava nossa dança
A moça se cansava e não dançava...
Agora que essa noite já me alcança
A moça que eu queria nunca amava...

Palavra que te quero mais feliz,
Dançando nessa dança, que te fiz...

MARCOS LOURES

A PRESENÇA DESTE AMOR

A PRESENÇA DESTE AMOR

Na ausência deste amigo que partiu
Por distantes caminhos dos meus olhos...
Na ausência de flores que se viu
Dos antigos buquês, de tantos molhos...

Na ausência dessa luz em nossa noite,
No brilho que tu brilhas por quem és...
Das longas caminhadas, desse açoite
Que corta e que maltrata nossos pés...

Na ausência do canto em serenata
Que em toda madrugada te acordava,
De pássaro canoro nesta mata
Que todo alvorecer anunciava.

Na ausência disso tudo, de calor...
O que salva: a presença deste amor!

MARCOS LOURES

PERFUME

PERFUME

Sinto quando tu falas tal perfume
Que em ondas formam frases e sentidos,
São tantas essas ondas, tanto lume,
Trazendo tantos sonhos esquecidos,

Beijando minha praia já me abraçam
Na areia onde me encontro te esperando,
Desejos nesta praia, as ondas traçam,
E vão tão de repente, dominando...

O teu falar me toma antiga calma
E mostra-me a umidade deste amor.
Que banha meu querer no corpo e na alma,
Invade tão depressa, em louco ardor...

Amor, ondas, areia tudo encanta...
Me banha tão feroz enquanto canta...

MARCOS LOURES

PÉROLA TÃO RARA

PÉROLA TÃO RARA

Felicidade, pérola tão rara
Que em meio a tantas ostras procuramos,
Da dor em que se gera, se antepara,
Explode em maravilha, quando amamos...

Quem dera se tivéssemos colar
De tantas raridades pela vida.
Ensina-me depressa como amar,
E venha junto a mim, minha querida...

Quem sabe poderemos ser felizes,
Embora o sofrimento seja duro,
O dia se renasce em mil matizes
Depois do negro céu, por certo escuro...

Amor que se cultiva em plena febre,
Se cuida que essa pérola não quebre...

MARCOS LOURES

QUANDO FUJO

QUANDO FUJO

Amor eu te perdoo quando fujo
Nas noites em que quero outra aventura
Em braços diferentes quando surjo
Em busca de carinho e de ternura.

Querida eu te perdôo, sou sabujo
Que vive o tempo inteiro na procura
De um caso diferente, mesmo sujo
Na boca de quem morde com loucura.

Amor eu te perdôo tua espera
Por quem não voltará de madrugada.
Depois despisto amanso, acalmo a fera

Que insiste em transtornar: revolução.
Sabendo que virás desesperada,
Preparo para ti o meu perdão...

MARCOS LOURES

LEVASTE

LEVASTE

Levaste meu sorriso nos teus olhos
Sorrindo pelas ruas, sem juízo.
Não pude perceber, carrego antolhos
A fuga de quem teve em seu sorriso

Mentiras sacrossantas, santos óleos
Da santa que se deu em paraíso,
Colhendo da vingança em vários molhos
Escapa de meus dedos sem aviso.

Levaste os velhos planos que sonhei
Enganos que plantaste, eu recolhi.
Apenas o que vivo estava em ti

O gosto da mortalha que deixaste
No coração que, em mãos, eu te entreguei;
Somente este cadáver; não levaste...


MARCOS LOURES

EM CADA NOVO SONHO

EM CADA NOVO SONHO

Amor que se permite essa emoção
De ser o menestrel do sentimento,
Receba esse meu canto em oração,
Palavras que não são soltas ao vento...

São mansos como a noite, estes meus versos,
Pois sabem dos amores que mais sinto,
Vividos pelas noites, vão dispersos,
Bebendo nosso amor, que é doce e tinto.

As rimas que produzo sempre falam
De tudo que se vive, sendo puro.
Amores que no peito nunca calam,

A cada novo canto, novo apuro...
Amor tão perolado que rebrilha,
Em cada novo sonho, maravilha...

MARCOS LOURES

AMADA

AMADA

Amada, no teu canto tão sensível,
A voz de uma esperança se faz forte.
Por vezes, não percebo quão incrível
A mansidão que traz amor e sorte.
Querida a tua mão toca, invisível;
Não há nada no mundo que conforte
Mais do que este carinho. Incorruptível
Sensação de alegria não comporte
O mundo. Minha amiga eu tanto te amo
Que nada levará meu sentimento.
Talvez esta emoção com que conclamo
A luta benfazeja pela vida;
Reflita nestes versos num momento;
Que a paz no amor jamais seja vencida!

MARCOS LOURES

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

CONSOLO

CONSOLO

Nesta cova que herdaste por consolo,
Toda herança maldita que sobrou,
Vivendo deste imenso e seco solo,
Somente o que contigo carregou;
Amigo, neste mundo em que me imolo
Percebo que de nada adiantou

A cruz em que o cordeiro consagrado
Há tanto tempo morto, em sacrifício,
Deixada como um sonho abandonado,
Tornando-se pra muitos seu ofício.
No sangue há tanto tempo derramado,
A flor que mais cresceu foi a do vício

Espalhado pela terra, em tantas faces
Moldadas, escondendo mil disfarces...

MARCOS LOURES

NOS CRISTAIS DO SORRISO

NOS CRISTAIS DO SORRISO

Nos cristais do sorriso, querida,
Meus desejos são tantos, eu sei.
Não me basta saber se vencida
Outra noite, sozinho, eu terei.

Mas se vens com teu canto mais puro,
Minha vida, sorri, pode crer.
O chão triste, tão trágico e duro,
Só amor pode assim, refazer.

Meus desejos, por certo infinitos,
Sem temor, solidão já se vai.
Quem já teve seus sonhos aflitos,
Sabe bem quanto amor sempre atrai.

Nas visões, os arcanjos alados,
Os meus beijos serão; todos, dados...


MARCOS LOURES

MOTIVO

MOTIVO

O mundo pra sorrir tem um motivo
Que é feito numa luz tão deslumbrante
De um dia com certeza alucinante
Trazendo um sentimento sempre vivo.

Um coração sincero perceptivo
Já sabe do que falo neste instante,
Há tempos Deus nos deu um ser gigante
Que pleno de bondade, de amor altivo

Percorre como um anjo, nossas casas,
Trazendo sempre o bem, sem querer nada,
Presença que garanto é desejada

Por todos que conhecem tantos bens.
Por isto é que esta data é bem marcada
E serve pra te darmos parabéns...

MARCOS LOURES

QUANDO ME CALO

QUANDO ME CALO

Amigo me perdoe quando calo
O mundo parecendo uma mentira
Vencendo todo encanto de uma lira
De amores, na verdade sempre falo.

Quem vive neste mundo sem amá-lo
E como numa esfera volta e gira
Apenas tanta pena já me inspira.
Difícil de entender e perdoá-lo.

Amor que com certeza é bem sagrado
E deve ser assim eternizado,
Pois segue-nos do berço até sepulcro.

E toda sorte faz-se alvissareira
Numa amizade plena e verdadeira,
Que desta Terra deve ser o fulcro...

MARCOS LOURES

PALAVRAS BENDITAS

PALAVRAS BENDITAS

Palavras que benditas vão inclusas
Nos versos de amizade que me trazes,
Tu moldas perfeição em poucas frases
Erguendo sempre um brinde às belas Musas.

Outras situações são tão confusas
Num misto de guerrilhas entre pazes,
Ditames quase sempre mais audazes
Em mentes que se mostram mais obtusas.

Esta energia move todo o mundo,
Fazendo um coração sentir profundo
O toque de um amor que sem receio

Perfaz uma esperança de um estio,
Trazendo tanta luz em céu sombrio
Levando uma pura alma a um santo veio...

MARCOS LOURES

SER GUERREIRO

SER GUERREIRO

Por vezes necessito ser guerreiro
É quando a tempestade já se assoma
E torna o meu destino prisioneiro
E o nada num segundo enfim me doma.

Porém ao ter abraço verdadeiro
A vida se refaz em nova soma
E o mundo se mostrando companheiro
Com toda força chega e assim nos toma.

Meu coração não teme mais arenas
Distante dos vorazes cães, hienas,
Abutres que nos bicam sem parar.

Na força, com certeza, da amizade,
Encontro todo apoio e na verdade
Consigo bem mais forte caminhar...

MARCOS LOURES

MINHA IMAGEM REFLETIDA

MINHA IMAGEM REFLETIDA

Na menina dos olhos de quem amo,
Eu vejo minha imagem refletida
Ecoa minha voz quando te chamo
Minha alma na tua alma vai perdida...
Nós somos mesmo galho e um só ramo,
Atadas nossas luzes, mesma vida.

Nascemos um para outro, não duvido,
Juntando nossos corpos, somos um.
Vivemos deste sonho repartido
Não nos afastaremos, modo algum.
Meu passo sem teu passo, desvalido,
Tu sabes que sem ti eu sou nenhum...

E vamos, mundo afora em mesmo prisma,
Jamais em nossos dias, qualquer cisma...

MARCOS LOURES

NOUTRO AMOR

NOUTRO AMOR

Querida, noutro amor eu me encontrei,
Distante das mentiras que disseste.
Um mundo sem promessas; desfiei,
O vento que me sopra é inconteste.

Quem fora teu cativo, agora é rei,
A sorte finalmente assim, me veste.
Fugiste dos meus braços para além,
Bebendo noutras bocas a saliva

Que um dia demonstrara o nosso bem,
Matando uma esperança sempre viva.
Agora que encontraste um outro alguém
Espero tua vida sempre altiva..

Mas digo que jamais encontrarás
Amor como eu te dei. Mas vá em paz...

MARCOS LOURES

OS RAIOS DESTE SOL

OS RAIOS DESTE SOL

Os raios deste sol que não te alcançam
Se cansam de buscar o girassol,
E dançam simplesmente e se esperançam
Fazendo de seus braços novo sol.

Nas plêiades encontras outras chamas
Armadas sem saber de tantas luzes.
Embrenhas nas escoltas que reclamas
E matas sacrifícios vãos das cruzes.

No sonho que me dono e tu medonhas
Adornas os destinos, abandonos...
E sabes que nas noites que não sonhas
Amores com rumores querem donos...

E vamos transtornados ao futuro
Sombrio que navega em mar escuro...

MARCOS LOURES

ROSAS BRANCAS

ROSAS BRANCAS

Rosas brancas vertidas em sanguíneas
Estorvam meus caminhos pueris,
Quem sabe se seguisse essas alíneas
Talvez, em conseqüência, mais feliz.

Recordo dos pilares da existência
Quando em tramas inocentes não temia
Agora não concebo consistência
Na boca perfumada e tão macia...

As aves que trouxeram meus caminhos
Depuram cada vez mais a mortalha
Sabendo que me perco em tantos ninhos,
Apontam para o campo de batalha...

As rosas que enrubesces com desejo,
Forjando, martirizam meu versejo...

MARCOS LOURES

DEMENTES

DEMENTES

Dementes os sentidos que te prendem
Atendem entre dentes e mordidas
Ácidas as peçonhas que pretendem
As serpes sempre são mal resolvidas...

Vestidos de bizarras tempestades
Que mentem tão somente quanto tentam
Sombrias as fagulhas de inverdades
Que logo quando nascem, me atormentam.

As carnes em dentadas dilaceras
Passando pelos dentes afilados,
Recebo os teus bafios, quais de feras
Destroços que desejas desfiados.

Não temo mais teu hálito nefasto
Pois tudo o que já fomos, nem pro gasto...

MARCOS LOURES

CARINHOS DA TIGRESA

CARINHOS DA TIGRESA

Envolto nos carinhos da tigresa
Que sempre me inocula mais veneno,
Quem sabe faz agora e já põe mesa,
Sabendo que este mundo é bem pequeno.

As cores que te prendem me retratam
Em formas mais carnais esse desejo
Se matam não mais sangram nem retratam
O canto de um passado em realejo.

Na rigidez das mãos que me carinham
Os cantos que fizemos deste barro
As noites sem teus seios se avizinham.
Amor que se pretende mais bizarro,

Acendo no teu carro minhas dores,
Jardins que nós plantamos: cadê flores?

MARCOS LOURES

LOUCO AMOR

LOUCO AMOR

Quem dera ser amigo deste amor
Que não me deixa nada senão mágoas,
Vasculho os universos sem rancor,
As lágrimas desbotam, turvas águas...

Quem sabe se esse amor, sendo meu par
Pareça e se despenque nessas tramas,
Que trazem minhas luas ao teu mar
E nossas amplitudes, mesmas chamas...

Beijando quem se beija por desejo
Ensejo neste beijo meus guardados,
Se versos não concebo nem versejo,
Os olhos que me deste, bem amados...

Quem dera se soubesses do perigo,
Fazer de louco amor, um seu amigo...

MARCOS LOURES

ENVOLTO NUM LAMENTO

ENVOLTO NUM LAMENTO

Meu pensamento envolto num lamento
Calando em seu tormento, minha voz.
Sagrando contumaz pressentimento
Que torna o meu viver, decerto atroz...

Que resta de meus sonhos? Quase nada...
O canto que te trouxe queda mudo.
A mão que acaricia a minha amada,
Retalha meu amor em quase tudo...

A vela da esperança então se apaga,
E nada do que fomos já me resta...
Dos mares que navego, louca vaga

Remete ao sentimento que me empresta...
Amor que em tal tormenta já soçobra.
Contento com os restos que me sobra...

MARCOS LOURES

TANTO AMOR QUE ME ALUCINA

TANTO AMOR QUE ME ALUCINA

É tanto amor assim que me alucina
As bocas se procuram, tiram saias.
Encontro de diversa melanina
Meus mares invadindo essas praias.

Vivemos nos encontros, noites-dias
O brilho do meu sol em tua lua.
Criamos desse amor, as fantasias
Belezas dessa deusa toda nua...

Minha rainha d’ébano, ternura...
Dessa boca vermelha, tão carnuda
O beijo mais voraz mansa brandura
Atiça todo sonho, se desnuda...

Nas garras dessa deusa, mansa fera,
Um misto de princesa e de pantera...

MARCOS LOURES

TEUS DESEJOS

TEUS DESEJOS

Se forem teus desejos que eu me perca
Da sorte que prenúncios adivinho.
Amores que vivendo vêm acerca
De tudo que perdi, humilde ninho.

Vencido por quem sabe ser não manso
Esparso minha voz por alamedas.
Deveras teu desejo eu não alcanço
Sem olhos, pois as sortes seguem ledas

Definho sem ter pasto, em desamor.
Calçado desta estúpida saudade
O fato de tentar viver sem por

Meus dedos na ferida, falsidade.
No manto que em espaços viverei
Amar demais será sempre uma lei.

MARCOS LOURES

LABIRINTO

LABIRINTO

A vida se mostrando um labirinto
Tramada sobre as formas de um mistério.
Pois do útero materno ao cemitério
Vivemos tão somente por instinto.

Além do que procuro o que mais sinto
Se mostra sob o céu, um mar etéreo
Até que o golpe venha, enfim, funéreo
Das cores do ambiente eu já me pinto.

Quem anda na total obscuridade
Não sabe deste lume que virá
Em forma de carinho ou crueldade

A sorte noutras plagas vingará
Porém se tenho em vida uma amizade
A paz tão redentora chegará...

MARCOS LOURES

SACRIFÍCIO INÚTIL?

SACRIFÍCIO INÚTIL?

Quem quer os sacrifícios do cordeiro
Esquartejando uma alma em sangue frio
Não sabe quando amor é verdadeiro,
Mostrando-se cruel e mais sombrio.

Deixando por herança um podre cheiro
Que exala o ser humano, cão vadio,
Matando já de cara o seu herdeiro
Na profusão do nada e do vazio.

Nós somos agiotas desta Terra
Tão extorquida em saques violentos.
Porém, dentro do peito já se encerra

A solução que mostre esta verdade:
Os dias não serão tão virulentos
Somente se reinar uma amizade...

MARCOS LOURES

HÁ TEMPOS

HÁ TEMPOS

Há tempos nossos sonhos reunidos
Bastião que se fez contra as desventuras
Lutando contra as formas de torturas
Que tocam nossos nervos e sentidos.

Os dias mais difíceis já vencidos
A tarde se promete em mil venturas
Porém os sanguinários temem curas
Invadem nossos sonhos distraídos

E mostram suas garras mais cruéis
Arrancando os pedaços desta gente.
Secando tantos potes, negam méis

Carinho tendo multiplicidade
Talvez inda nos reste, tão somente,
Na força soberana da amizade...

MARCOS LOURES

PERTO DO CÉU

PERTO DO CÉU

Nos montes ascendendo perto ao céu
Com lumes e perfumes lua e rosa.
Amor que te dedico; e vaidosa,
Espero que mantenhas alvo véu

Pureza dentro d’alma em carrossel
Vagando por destinos, olorosa
Se vences ou convences belicosa
Não quero teu destino, pois cruel.

Mas vago por teu colo, sem sentido.
Invado tuas vagas e vergastas
Por mais que me conheças decidido,

Sou farto e não me canso de loucuras
Amor quando em amores tu desgastas,
Preâmbulo de males e torturas.

MARCOS LOURES

ALTARES DOS MEUS SONHOS

ALTARES DOS MEUS SONHOS

Altares dos meus sonhos, são imensos
Imersos em vazios sentimentos,
Remeto meus desejos nestes ventos
Amparo tantas dores, alvos lenços.

Tantos fiascos tive, tempos tensos,
Nas lâmpadas das almas nos tormentos
Envolto pelas trevas, sofrimentos
Amores são meus templos tão intensos.

Os gládios que levanto na batalha,
As hastas empunhando sem temor.
O canto de terror quando se espalha

Conclama tantas vezes, nunca pensa.
Porém já me avisando que este amor,
No fim da vida traz a recompensa.

MARCOS LOURES

NADA TEM VALOR

NADA TEM VALOR

Quem pensa tão somente em hierarquia
Pensando ser assim superior
Não sabe quanto a campa se faz fria
Depois da morte nada tem valor.

A solidão futura, mais sombria
Última companheira a te propor
Um pouco de saudosa nostalgia
Distante de quem fora o teu amor.

Apraza- te um vazio tão profundo?
Pois saiba que na terra mais mesquinho
Encontra esta igualdade noutro mundo

Banquete para os vermes. Pequenez.
Por isso, quem viveu sempre sozinho
Carinhos que terá: primeira vez...

MARCOS LOURES

DURA PELEJA

DURA PELEJA

Adentro na paixão, dura peleja
Por vezes na batalha saciado,
Meu dia vai além do que deseja
Um sonho que se mostra iluminado.

Por mais que dura, a vida, sempre seja
Quem dera se eu ficasse – amor – ao lado
Desta mulher que tenho desejado
E pela qual meu mundo já viceja.

A natureza se molda soberana
E trama o doce amor, em tal beleza
Que às vezes o destino nos engana

Encenando outros atos de outra peça.
Mas saiba que por fim tenho a certeza
E não há nada, amor que nos impeça...

MARCOS LOURES

MEU CORAÇÃO

MEU CORAÇÃO

Eu perdi o meu coração no empoeirado caminho deste mundo;
Mas tu o tomaste em tuas mãos.
Eu buscava alegria e apenas colhi tristezas;
Mas a tristeza que me enviaste tornou-se alegria em minha vida.
Os meus desejos se espalharam em mil pedaços;
Mas tu os recolheste e os reuniste em teu amor.
E enquanto eu vagava de porta em porta,
Cada passo meu estava me conduzindo ao teu portal.
Meu Coração

RABINDRANATH TAGORE


Meu coração perdido na poeira
Ao ser tomado amor, em tuas mãos,
Quem teve só tristeza; companheira,
Quem teve tantos dias sempre vãos

Verteu tua tristeza em alegria.
Espalhei meus desejos pelo mundo
Enquanto o teu amor os recolhia;
Dando um sentido mais profundo

À vida que eu tivera sem destino
Vagando porta em porta, descaminho
Agora ao perceber, quando me atino

Já vejo que não sou mais tão sozinho.
Pois cada passo, vagando pelo astral
Levava – doce amor – ao teu portal...

Obs Fantasia feita em soneto sobre obra de Rabindranath Tagore

MARCOS LOURES

TEU SILÊNCIO

TEU SILÊNCIO

Teu silêncio transborda dentro da alma
E deixa-me calado em mansa espera.
Mesmo sem palavra, amor acalma
Legando à quietude a bruta fera.

Amanhã, novo dia nascerá
E assim talvez resolvas me falar,
Um sol em outro tempo brilhará
E a vida novamente irá dourar

Com pássaros voando em canto leve,
Com peixes refazendo a piracema
E o fumo da esperança embora breve
Fará ressuscitar um velho tema.

Amar é refazer eternamente
Um ciclo que se forma novamente...

MARCOS LOURES

QUANDO CHEGASTE

QUANDO CHEGASTE

Quando chegaste, mansa; não a vi.
A vida preparando tal surpresa
Com pensar vagamundo, nem senti
O aroma que exalavas. Sendo presa
De problemas sutis, estava aqui,
Mas minha alma vagava enfim tão tesa
Que em ti não reparei nem percebi.
Talvez por um instinto de defesa
Já que amor é assunto delicado
P’ra quem sofreu bem mais do que o costume.
Depois de certo tempo, fui tocado
Pela beleza intensa de uma flor
Além da raridade do perfume.
Fui ver: desabrochou em mim o amor...

MARCOS LOURES

CARICATURA

CARICATURA

Perceba que minha alma está ferida,
Lacrada, destroçada pelo vento...
Mortalha caminhando em plena vida.
O luto não me sai do pensamento.

Levaste, sem saber, rumo e guarida;
Deixaste neste escambo, sofrimento...
Não vejo mais a lua Aparecida
Sumiste nos espaços. Peço unguento.

Misturo meus delitos e meus erros.
Procuro teus olhares, altos cerros,
Não vejo nem sinal da criatura

Que tantas vezes trouxe-me ternura.
Procuro por teu rosto. Noite escura
Reflete meu olhar. Caricatura...

MARCOS LOURES

PARECE, TANTAS VEZES...

PARECE, TANTAS VEZES...

Parece tantas vezes ser fatal
A dor que nos atinge e tão-somente
Uma amizade mostra-se ideal
Como aliada sempre e firmemente.

Por isso, companheira e camarada
Encontro em teu apoio esta firmeza
Para enfrentar o medo e a geada
Numa esperança clara, uma certeza

De que a vida será bem mais feliz
A quem já sofreu tanto no caminho.
Cevando no meu peito a flor de lis,

Cuidando deste afeto com carinho.
Meu verso te agradece tanto, tanto,
Amor: doce refrão em nosso canto...

MARCOS LOURES

O TEU RETRATO

O TEU RETRATO


Amiga tantas vezes esbocei
O teu retrato em formas tão diversas
Bem sabes que no fundo eu procurei
Te conhecer usando estas conversas

Que já tivemos. Nunca te encontrei
Quebra cabeças mostra em suas peças
Além do que num dia imaginei
Em palavras e frases tão dispersas.

Os pântanos guardados dentro da alma
As rochas que protegem teu recanto.
Um poço já lacrado no passado

Porém tua presença sempre acalma
E venho agradecer, mas; entretanto,
Queria amiga estar sempre ao teu lado...

MARCOS LOURES

MELÍFLUAS CARÍCIAS

MELÍFLUAS CARÍCIAS

Nas melífluas carícias, os teus passos.
Nesse teu sonho diáfano, macio;
As mansidões serenas... Belo estio,
Carinhos, madrigais em nossos laços.

Quem fora resistência, passos lassos,
Caminha pela sala... Águas de um rio...
Fantasias que crias? Ouço e rio.
Nas nossas festas, praças, luzes, paços...

Nas tuas noites, nossa paz, concertos...
De todos os meus erros sem consertos,
Perder-te é o maior de tantos medos;

Amores que fazemos; mil sessões.
Já me deste os teus sonhos. Tais cessões
Desmascaram todos os segredos...

MARCOS LOURES

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DE ÓCIOS REVESTIDOS

DE ÓCIOS REVESTIDOS

Amor que me deixou tantos cilícios,
Dos ócios meus pecados revestidos.
Mergulho por ferozes precipícios,
Abismos mais profundos, desvalidos.

Da morte que procuro, nem indícios...
Clareiras e cascatas dos sentidos
Denotam meus horrores e meus vícios...
Os prazeres, as dores, nos gemidos...

Carinhos congelados, meu velário...
Exponho minha entranha e meus desejos...
Da vida, meu farnel, meu relicário,

Carrego teus relevos u’a fornalha...
Troféus que levarei, teus falsos beijos,
Teu gozo me servindo de mortalha!

MARCOS LOURES

NOSTALGIA E DOLÊNCIA

NOSTALGIA E DOLÊNCIA

Nostalgia e dolência nesta tarde...
Carinhos imortais da amada bruma...
A noite me trará embora tarde,
O gosto da explosão, marinha espuma!

Quem ama não precisa deste alarde,
Espreita um caçador, um salto, o puma...
Olhar que no infinito, ferindo; arde,
Não pode descansar de forma alguma!

Espasmos da luxúria florescentes,
Noctívagos delírios vampirescos...
Meus sonhos, meus amores, são dantescos.

Aguardo, calmamente a minha morte.
No fundo, meus defeitos, indecentes,
Misturam-se num gozo louco e forte.

MARCOS LOURES

SEGUE SEU CAMINHO

SEGUE SEU CAMINHO

Quem fora, segue seu caminho, louco...
Meu movimento vai seguir meu canto.
Não poderei mais, nem mais quero...Encanto
Que vem, num grito, me deixando rouco...

Vida perturba, solidão, sufoco,
Nada mais triste que secar seu pranto...
Meus olhos miram nos teus olhos, tanto
Que me corrói, assim, matando um pouco

Do que restara de meus dias, Carla.
Quando te vejo, andando pela sala
Tua nudez transformando tudo...

Tua beleza, vai vagando a esmo.
Nesse reflexo, procurar eu mesmo,
A cada passo, mas não falo, mudo...

MARCOS LOURES

TEU RANCOR

TEU RANCOR

Que eu não caia; querida, em teu rancor
Palavras que tu soltas a ferir
Quem teve insanidade de pedir
Tua clemência feita em puro amor.

Janela que entreaberta vem propor
Tua presença, alheio e sem fugir
Do sol que um dia veio refulgir
E este cenário raro a se compor.

Bem sei que voltarás e num instante
Repleta de vinganças odiosas
Podando as esperanças; frágeis rosas

Que cismam em tentar sobreviver
E o fogo em crueldade, delirante,
Virás em descaminhos, acender...

MARCOS LOURES

COBIÇADA

COBIÇADA

Ao passares, cobiçada pelas ruas,
Não vês o meu olhar quase faminto.
Acendes um vulcão que esteve extinto
Dando a impressão, querida, que flutuas.

Sem olhar para trás tu continuas
E em cada passou teu, meus sonhos pinto.
O que pensam de um velho tão distinto
Imaginando a moça toda nua?

Bem sei que não teria qualquer chance
Mas te agradeço, enfim, de qualquer jeito.
Sentindo em cada passo num nuance

Que a vida permanece resistindo
E o sonho com certeza é meu direito.
E o mundo, enfim, deveras, é tão lindo...

MARCOS LOURES

NOS PERCALÇOS DA VIDA

NOS PERCALÇOS DA VIDA

Peço-te, nos percalços desta vida,
Tantas vezes sofrendo essa saudade;
Que maltrata e talvez bem merecida,
Não deixa respirar felicidade...

Devolvo-te a promessa deste amor
Que já se adormeceu tão solitário
Não deixando nem escombros, nem sabor.
Rio sem ter o mar como estuário...

As sombras do que fomos perambulam,
Os olhos carregados já lacrimam...
Meus pés sem ter o chão, sonambulam.
De tanto que nos demos, não se rimam

Apenas o silêncio desabando,
Amores, andorinhas, triste bando...

MARCOS LOURES

SEM TIMÃO

SEM TIMÃO

Penando sem ter pena de ninguém
Apenas quando iludo o coração
Sem coragem de ver se a noite vem,
Eu perco desse barco o seu timão.

E rudes meus caminhos perdem mar
Nas ânsias mais frenéticas por vida.
Ávida desta vida e tanto amar
Nas pedras e nas perdas, vai perdida...

Pensando que se pena sem ter nexo
Complexos diversos se convergem,
Vergéis de rara cor formando um plexo
Por onde nossas matas já se elegem

Fuligem de minha alma sem lareira
Que esquente e que me aqueça a vida inteira...

MARCOS LOURES

BEM MAIS FORTE

BEM MAIS FORTE

Eu vivo neste espaço mal servido
Entre as minhas pernas e meu sonho...
Demônios e fantasmas que duvido
Estejam nesse mundo que proponho.

Mas vestem solidão tal qual vestia
Aquela que não fora tão ingrata.
A noite transbordando em pleno dia
Invade e desanima quem maltrata.

Eu quero não poder ser mais assim,
Amante deste mundo tão raquítico
Vivendo sem saber sequer o fim,
De todos os meus mundos forte crítico.

Embaço essas respostas neste vento,
Levando bem mais forte o sentimento...

MARCOS LOURES

NEM PROMESSAS NEM PREMISSAS

NEM PROMESSAS NEM PREMISSAS

Não vejo mais promessas nem premissas
Apenas açucenas, cenas sãs,
Nas massas, nas remessas, nessas missas,
Que vagam pelas vagas, vastas, vãs.

Bem cedo os vendavais e as tempestades
Nas pestes tantas vestes santas ceias...
As mangas os ingás e as saudades
Das massas, das maçãs e das sereias...

Não vejo meu desejo noutro verso
Que inverso vai reverso e quase cheio...
Unidos pelos versos, universos
Que quase se quedaram corte ao meio...

Não quero mais os imãs nem rastejo.
Desejo teu desejo em meu desejo...

MARCOS LOURES

EM NOME DA AMIZADE

EM NOME DA AMIZADE

Em nome da amizade que nos une
Eu peço mil perdões pelos enganos
A vida, na verdade já nos pune
E impede que sigamos velhos planos

Na fúnebre saudade que hoje trago
De um tempo mais sincero e mais feliz
Amiga, necessito o teu afago,
Não quero mais a morte que prediz

Quem sabe desfiar tantos segredos
Na astróloga vontade de saber
Aonde se encontraram nossos medos
Por onde salvarei meu bem querer.

Eu peço, encarecido, então, querida,
Que salves com perdão a amarga vida...

MARCOS LOURES

ERMOS POÇOS

ERMOS POÇOS

Amiga, qual fantasma que sem rumo
Vagueia pela noite em hora morta,
Batendo firmemente em tua porta
Na busca por apoio e certo prumo.

Meus erros reconheço, enfim, assumo
Nem mesmo esta certeza me conforta,
Mesmo arrependimento também corta,
A vida vai perdendo assim seu sumo.

Temendo que me atinja tal desgraça
Tocando bem mais fundo em minha pele,
Sobrando tão somente os meus destroços,

Fantasma que se esconde na carcaça
E a quem a própria vida já repele
Agarra tuas mãos em ermos poços...

MARCOS LOURES

MINHA ALMA TÃO VORAZ

MINHA ALMA TÃO VORAZ

Minha alma tão voraz, desconhecida
Sorvendo mil pecados me amofina
Quem dera se encontrasse uma estricnina
Talvez tivesse a sorte resolvida.

A morte que se mostra como sina
Pudera reservar em outra vida
A cura procurada e descabida.
A mente que pairando se alucina

Encontra tão somente uma resposta
Que possa refazer sem sofrimento
Depois de ter cortado a carne em posta

Um vento mais suave em liberdade
Batendo na janela num momento
Demonstra bela estrela na amizade...

MARCOS LOURES

CAMINHANDO

CAMINHANDO

Caminhando busquei novas manhãs.
Os ventos tempestades me queimaram...
As mãos se esfarraparam, foram vãs,
Os tiros e canhões dilapidaram...

Nas tentações profanas das maçãs
Dos sonhos, pesadelos me sangravam
As noites solitárias são malsãs
Meus sonhos – liberdade - já calaram...

Os dias que se mostram mais saudáveis
Rapinas, tentam loucas; destruir.
As dores se tornando insuportáveis,

Vorazes, as tristezas não disfarçam
E querem nosso amor já destruir...
Bicos esfomeados, tudo caçam...

MARCOS LOURES

DOCE DELEITE

DOCE DELEITE

Moleque quando andava nas calçadas
Bem reparava a bela que subia,
As saias pelos ventos levantadas
Deixando a molecada em euforia.

As frutas dos vizinhos, se roubadas
Traziam para a turma uma alegria,
Depois nos campos- várzeas, as peladas
A gente foi feliz, disso eu sabia.

Agora uma barriga que é burguesa
Se lembra das lombrigas e cupins.
A mãe chamando a turma para a mesa,

Café com broa, pão, doce de leite.
Bermudas de Tergal, nada de jeans.
Viver era tão bom: doce deleite...

MARCOS LOURES

EM PLENITUDE

EM PLENITUDE

Meu verso se encontrou em plenitude
Dizendo simplesmente todo o sonho
De ter sempre o bom senso e juventude
No que se fez completo e bem risonho.

Que o tempo nos impele e nos ilude.
Um mundo bem melhor: eu sempre sonho.
Decerto em outros templos tudo mude
Porém quero um viver menos tristonho.

E digo deste modo,o que pressinto
Sorvendo todo o mel que me permites.
Concedes teu prazer, desejos, sinto.

E quero ser só teu. Em todo verso
Demonstro sentimento sem limites
Vencendo o duro medo de ir disperso.

MARCOS LOURES

PERDIDO...

PERDIDO...

Caminhante perdido sem ter trilhos,
Desconforto gigante em impotentes
Passos que se fazem andarilhos
Buscando outro caminho, outras vertentes.

Encontro na verdade os empecilhos
Comuns da miopia que sem lentes
Confunde seus amigos com caudilhos
E rosna pra quem ama, unhas, dentes...

A sonda que lancei, sem ter resposta
Sonares se perderam neste mar.
Porém pele curtida cria crosta

E aos poucos se transforma na couraça
Que penso proteger do que encontrar...
Só resta uma saudade e a vida passa...

MARCOS LOURES

PROCURANDO TUA ALMA

PROCURANDO TUA ALMA

A minha alma ecoando busca a tua,
Nessas fráguas, as mágoas queimam, tanto...
Amiga, me permita teu encanto,
Talvez, um dia, venhas bela e nua

Nas noites que imagino, minha lua...
Respiro seus venenos, lentos, pranto...
Amor divino, cego, louco, santo,
A cada dia, a dor vem, continua...

O vento e madrugada, nova dança;
Nas estradas, atalhos d’esperança
Levam ao nada, nada, simples nada...

Caminhemos distintos caminhares,
Naveguemos por mares, por vagares
Que, afinal, voltarão por essa estrada...

MARCOS LOURES

ESPERANÇA...

ESPERANÇA...

Caminho Santiago, Compostela,
Nas rotas dos romeiros Juazeiro.
Nos raios deste sol, ventos e vela.
No mundo dos migrantes, um luzeiro...

Nas rezas nas oradas, na capela,
Amor que se derrama verdadeiro.
Esperança que sangra se revela,
No pátio deste mundo sorrateiro...

Aparecida traz seu santuário,
Os homens agradecem, procissão...
Nas rias das urgências estuário...

No medo se comprova a devoção.
As tristezas guardadas num armário,
Esperança acalenta um coração...

MARCOS LOURES

MEU SONHO

MEU SONHO

Caminho sobre urtigas, urze, erica...
Meus passos se perdendo neste pasto.
Fulvos, os meus desejos, vida rica,
Nos peitos delirantes, sonho casto...

Não posso nem pedir, mas sei que fica
O gosto da saudade, amor bem gasto
As luvas dos meus sonhos, sei pelica,
Nos versos, minha vida já contrasto...

Nas pedras, corredeiras, seixo e lodo...
Os caules dos arbustos espinhosos;
Pairando sobre mim, um triste engodo...

Nas fontes exauridas, mato a sede...
Perfumes que pensei ter; olorosos,
Meu sonho? Estar deitado em uma rede...

MARCOS LOURES

FADAS E GNOMOS

FADAS E GNOMOS

Fadas e gnomos, frágeis criaturas
Siderais te acompanham, nem percebes...
As delicadas bênçãos e ternuras
Estão a cada passo que concebes...

Nuvens, borrões celestes, nas alturas,
Observando teus passos nessas sebes,
Lacrimejam-se plenas, ficam puras,
Trazendo as doces águas que recebes...

Sedenta de carinhos, livre lebre,
Saltando por meus sonhos, nas campanhas,
Ardendo teu amor em louca febre,

Os olhos que te querem... pirilampos;
Nas altas cordilheiras, nas montanhas,
Procuro teu amor por belos campos...

MARCOS LOURES

AMORES E SAUDADES

AMORES E SAUDADES

Cadáveres carrego, bem pesados...
Amores e saudades sempre voltam
Nos sonhos, pesadelos, sinas, fados...
Tantas horas perdidas me revoltam

Pés cansados, imersos, afogados
Em plena comunhão, vultos escoltam...
Nas mantas, meus temores abrigados
Precisam de tais nuvens que se envoltam.

A vida foi passando de viés,
Saudades e esperanças; o que eu trago.
O mundo que pensei atou meus pés

Carrego minhas dores – turbilhões...
Todos os meus cadáveres; afago.
Cansaço de quem leva multidões!

MARCOS LOURES

CANTILENAS

CANTILENAS

Cantilenas da frota
Corsário sem sentido,
Saudade que me corta
Noutras noites, olvido

Senda que segue torta
Sonho que vai perdido
Felicidade morta
Não ouviu meu pedido.

Escarpa? Eu não pulei
Meu barco naufragado
Mar que não naveguei

Canto desesperado
Amor que foi minha lei
Deixando-me de lado...

MARCOS LOURES

ESCUTAVA O TEU CANTO

ESCUTAVA O TEU CANTO

Escutava o teu canto, longas noites...
E não tinha sequer as evidências
Lograva tais insanas penitências
Penetrantes, ardentes; feito açoites...

Não queria, mas vinhas... Vis pernoites
A cada instante; mágoas sem clemências,
A cada canto lúbricas demências...
Cantavas, procurando quem te acoites...

Nada mais me restou, zero ambulante
Os meus dedos, crivados por teus dentes
O que me sobra? Andar qual mendicante.

Farrapos que se seguem, de dementes
Sem amanhã; sem nada vou adiante?
Sem ironia, diga-me o que sentes.

MARCOS LOURES

A MÃE NATURA

A MÃE NATURA

Não poderei ouvir o canto desta mata,
Nos frutos que preparo, as mãos da deusa Flora.
Nas hastes desta flor, no véu desta cascata,
A mãe natura em vão, ao homem tanto implora.

A lua traz decerto o brilho desta prata.
Percebo essa promessa, a natureza chora.
Quem ama não destrói, namora em serenata.
Quem sabe não discute agora, faz a hora.

Vestígios de queimada, anseios de vingança.
A fonte da vitória afoga essa esperança.
O mote que me deste enfeito nesta trova.

A mão que te tortura, um peso amargo e triste
O fogo te devora e mais tudo que existe.
Um homem não repara e cava a própria cova!

MARCOS LOURES

NO CANTO DO CANÁRIO

NO CANTO DO CANÁRIO

No canto deste canário,
Encantos dum bem te vi
Natureza traz cenário
Beleza igual nunca vi.

Tristeza deixei n’ armário
Essa dor já esqueci...
Amor bom é solidário
Amor que nunca perdi.

No canto do trinca ferro,
A saudade deu um berro
Eu fiquei triste e tão só.

Cantando esse passarinho
Saudades tem do seu ninho.
Meu amor é curió...

MARCOS LOURES

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

CANTO MÁGICO

CANTO MÁGICO

Os anjos que me beijam, compassivos;
Nas trevas e tabernas, tabernáculos...
Nas horas, orações, hordas, oráculos...
Deitados, languidez, os faz lascivos...

Os anjos, com seus seios, meus cativos...
Eu tento novo intento, seus tentáculos!
Eu espero espreitando os espetáculos.
Carinhos, meus caminhos decisivos.

Os anjos se guardando para a festa,
Idílio, novo exílio, quero a fresta
Por onde todo amparo faz-se trágico.

Os anjos penetrando os sentimentos,
São banjos, seus arranjos, meus momentos.
Encantos de esperança, canto mágico!

MARCOS LOURES

CAMINHANDO PELAS RUAS

CAMINHANDO PELAS RUAS

Quando vou caminhando pelas ruas,
Muitas vezes me sinto machucado.
As pedras do caminho, duras, nuas,
Adentram pouco a pouco em meu calçado

Quantas vezes, sofrendo dores cruas
Nas curvas do caminho. Vou de lado.
Depois de ter perdido este solado,
Ó pomba, quanta inveja, pois flutuas.

Quando vejo mulheres, tão bonitas,
Calçando um improvável bico fino;
Ao bom Deus, pergunto: como acreditas;

Ser possível tamanho desatino,
Espremendo assim demais, arrebitas
Os cinco pobres dedos, num só pino...

MARCOS LOURES

VERDUGO

VERDUGO

Mirraste tantas mãos que acaricias,
Verdugo que delira em crueldade.
Devoras sem temer, as fantasias...
Prazeres histriônicos, maldade...

Chacinas, aos teus olhos são orgias,
Despertas violências... Ansiedade
Demonstras quando vês torturas frias...
A morte que revelas cedo ou tarde!

Nas páginas sangrentas do jornal,
Ao delírio te levam tais notícias
Carnificinas trazes no bornal...

És pântano sedento de sevícias...
Abutre que deseja tanta morte
Aprofundando sempre imenso corte...

MARCOS LOURES

PROMESSAS

PROMESSAS

Viajando ao terreno das promessas,
Não posso me furtar a ver teu rosto.
Nas fontes que bebi, em todas essas,
Não sorvi senão dores e desgosto...

Erraste, bem sei, louca me confessas,
Mas nunca mais terei um novo agosto,
Vencidos os venenos, pra que pressas?
Rei morto vem trazendo um novo, posto!

Amor, cadê teus olhos? Não os vejo...
Minha porta entreaberta não disfarça;
Se foste rato, sempre fui o queijo.

A peça que se finda, velha farsa;
As noites que perdi, cego desejo,
Deixaram, tão somente, esta carcaça!

MARCOS LOURES

O FOGO DA PAIXÃO

O FOGO DA PAIXÃO

O fogo da paixão que tanto ardia
Moldando uma esperança onde prevejo
Virá com mais ardor nosso desejo
Alçando um novo tempo em alegria.

Apenas em carinhos se previa
Um mundo mavioso e tão sobejo,
Levando ao desencanto, o seu despejo,
Pois num canto se irmana a cada dia.

Nas chamas atrevidas, mais audazes,
Os lábios tão gulosos são capazes
De tantas peripécias num momento.

Enamorados vamos pela vida,
Reféns da fantasia que incontida,
Domando nos encharca o pensamento...

MARCOS LOURES

HERANÇA

HERANÇA

Carrego estas tristezas no bornal
Herança que virou um duro fardo.
Nos caminhos que passo, tanto cardo,
Vagando em solidão, mar abissal.

Toda noite o vazio dá sinal,
O mundo nebuloso, um sonho pardo.
As dores desfilando em festival.
Solidão companheira, triste fado.

Meus males- as malas que carrego-
Não sei porto algum nem descarrego
A saudade que insistindo se avizinha.

Pesado; mal caminho e sigo triste,
Um sonho pirilampo não resiste...
Tanta dor neste mundo... Sempre minha...

MARCOS LOURES

TARDE DE VERÃO

TARDE DE VERÃO

No braseiro da tarde de verão,
Adormecida sonha com luares.
Delírios inconstantes, turbilhão,
Alcançam ferozmente seus sonhares...

Desgrenhados cabelos, multidão
De desejos transbordam nos altares
Escondidos no casto coração...
Cáusticos martírios loucos ares...

A mão que percebia sobre o seio,
Os dedos acalmando tal braseiro.
O mundo se desfaz em devaneio.

Nos rastros das estrelas, tanta sede.
A vida é um retrato na parede,
O sol tão penetrante, companheiro...

MARCOS LOURES

NOSSOS SONHOS

NOSSOS SONHOS

Nossos sonhos, qual torres protegidas
Pelos deuses d’amor e pensamentos,
Se elevam levam livres movimentos
Carreiam cordilheiras, nossas vidas...

Nos andores, condores, despedidas,
Flutuam no sonhares meus tormentos,
Queixando-me, percebo tantos mentos
Tremendo, indo temendo as recaídas...

Nossos sonhos, discípulos, Morfeu,
Penetram nas penumbras, nos umbrais,
Deixando leve, breves festivais;

Por onde ondeavam maremotos,
Motivos e matrizes, modos, motos,
Remotos nossos sonhos, sorvem breu...

MARCOS LOURES

O BRILHO DO LUAR

O BRILHO DO LUAR

O brilho do luar que já fulgia
Nas ondas deste mar demonstram Deus...
Na corte desses deuses resplendia
Nos sublimes altares fosse Zeus...

Delirando com néctar e ambrosia,
Os amores tivemos tão ateus...
Nos Olimpos nos Édens cercanias.
O brilho que roubaram, olhos teus...

Amada se não vejo teu sorriso,
De que me servirão meus pobres versos...
Não pude conhecer no paraíso,

Nas várias vastidões dos universos.
Nos campos e galáxias mais dispersos.
Não há nada no mundo mais preciso.

MARCOS LOURES

BRINDO OUTRA VEZ

BRINDO OUTRA VEZ

Brindo outra vez, teimando no martírio,
Bem sei que me fugiste, sem perdão...
Busquei-te nas campinas como a um lírio.
O que causava inveja a Salomão...

Não mais esquecerei, nem em delírio,
As mãos que me afagavam, com paixão...
Não resta em meu altar sequer um círio
Qual fosse o coração, ateu, pagão...

Não mais quero tratar amor tão tétrico,
Nem quero percorrer teu céu sem lua.
Nas minhas serenatas, assimétrico,

O canto repetido te faz nua.
Meu verso vai quebrado, não é métrico.
Por isso tão distante alma flutua.

MARCOS LOURES

A DOR SE ANUNCIA

A DOR SE ANUNCIA

A dor se anuncia bruta,
Dor cruel que me destrata
A vida merece essa luta
Os brilhos desta cascata

Do meu peito colho a juta
Que plantaste, dor ingrata.
Tuas mãos, triste batuta,
Embrenham na minha mata.

A dor que fora primeira
Fez descanso no meu peito
Minou minha vida inteira

Não restou nem o direito
De buscar a companheira
Que me deixe satisfeito...

MARCOS LOURES

BUSCAR A CLARIDADE

BUSCAR A CLARIDADE

Buscar a claridade em cada noite...
Ser vão e companheiro da verdade.
A noite perspicaz me traz açoite
O vento de meus sonhos, u’a saudade...

Não posso conviver com tanto engano,
Nem posso me deixar ao desatino...
O medo renovando torpe plano,
O canto da sereia é meu destino...

A minha alma procura por saída,
Nos teus braços remansos e delícias...
Venerando total e leda vida,

Já busquei por teus passos, nada encontro...
Desfrutei liberdades e malícias,
Nossa vida é completo desencontro...

MARCOS LOURES

MANHÃS

MANHÃS

Pútridas as manhãs
Às vésperas da morte
Sem vida ou amanhãs
Dispenso toda a sorte.

Vidas. Prá que; se vãs;
Vasculho cada corte.
Dores em noites cãs
Raios de duro porte.

Esqueço estas palavras
Forjo minha cantiga
Morte que traz em lavras

A companheira antiga.
Quem dirá que são parvas
As urzes da caatinga...

MARCOS LOURES

CABELO AO VENTO

CABELO AO VENTO

No meu cabelo ao vento, quero pente,
Na minha mão sedenta, peço luva.
Como é cruel sentir a dor de dente,
Choveu mas esqueci meu guarda chuva...

Mordendo, teu veneno de serpente,
Quando passas, renovas passas, uva...
Como enxergo? Dos óculos és lente,
Nas baladas, embala enquanto groova.

Nem versos meus, conversas jogo fora...
Na partida parida pela guerra.
Se tanto quis outrora, quero agora.

Não sei bem certo, tudo que me encerra.
Só sei que no teu corpo – amada - aflora
O templo mais gostoso desta terra...

MARCOS LOURES

TRAZENDO EM ESPERANÇA

TRAZENDO EM ESPERANÇA

Amor que em tanta luta estende o braço em prece
Trazendo em esperança um breve pensamento
Amor nos atormenta e salva em um momento.
Um coração se mostra enquanto lhe obedece.

Se amor ao nos tocar, aviso já nos desse
Talvez assim já fosse a vida um só tormento
Amor não se prediz, é livre como o vento,
Seu passo pela vida, a própria sorte tece.

A quem amor se mostra? A quem está sujeito
A toda esta benesse: um sonho mais perfeito.
Não deixe que este amor que agora enfim te toca

Se vá insaciado, isto seria trágico.
Pois somente ele nos mostra um mundo novo e mágico
Aonde a claridade apraz e se retoca...

MARCOS LOURES

FALANDO DESTE AMOR

FALANDO DESTE AMOR

Falando deste amor tão docemente
Em termos mais felizes, namorados.
Andando em liberdade, alcanço os Fados
E deixo que este sonho me avivente

Quem anda tão distante qual demente
Não sabe destes laços bem atados
Tampouco destes sonhos desfraldados
Que invadem seduzindo nossa mente.

Amar é ser feliz e ser honesto,
É ter solicitude, estando presto,
Voar sem ter as asas milagrosas.

Amar é ter engenho, saber arte,
Estar em pensamento em toda parte
Aonde recender olor de rosas...

MARCOS LOURES

QUEM SABE DESTA VIDA

QUEM SABE DESTA VIDA

Quem sabe desta vida, o seu engenho
Percebe quão são duras as andanças
Embalde tantas vezes, esperanças
Resumem, no final, de onde eu venho.

Se toda uma alegria assim mantenho
Pensando nas noturnas, boas danças,
Percebo que talvez as temperanças
Demonstrem ou resumam o que eu tenho.

Embora tantas marcas dos desgostos
Uma esperança ainda resta na alma.
Promessa de talvez, tranqüilidade...

Ao ver serenidade em alguns rostos,
E pressentindo um sonho que me acalma
Encontro lenitivo na amizade...

MARCOS LOURES

FUTURO INCERTO

FUTURO INCERTO

Sabendo que o porvir é tão incerto
Que às vezes se fará em triste frio,
Se disso, companheira, eu desconfio,
Meu passo nos teus braços eu acerto.

Por mais que o mundo traga desconcerto
As águas turbulentas deste rio
Se acalmam noutras margens, noutro estio.
Oásis salvador de tal deserto

Tua amizade paira, deslumbrando,
Tornando meu futuro de outro jeito
Promessa que se faz e sem demora

Demonstra na verdade, aonde e quando
O dia nascerá mais satisfeito,
Na força da palavra redentora...

MARCOS LOURES

FELIZ ANIVERSÁRIO

FELIZ ANIVERSÁRIO

Desejo a ti: feliz aniversário
Que a vida te sorria mansamente.
O mundo tantas vezes temerário
Talvez se modifique totalmente

O sino rebimbando, o campanário
Está comemorando, pois pressente
Que este dia trará ao calendário
A marca de mudança e de repente

Se o homem perceber que nesta data
Alguém já poderá nos mitigar
A dor que se demonstra todo dia,

Assim a vida mostra e me arrebata
Trazendo mil motivos pra brindar
Com toda uma emoção, tanta alegria...

MARCOS LOURES

MATURIDADE

MATURIDADE

Maturidade chega com a tarde,
Os meus cabelos brancos são emblemas.
A vida vai passando sem alarde
Não posso me esquecer de velhos temas...

Nas dores que vivemos, fui covarde,
Agora que envelheço, em outros lemas.
Por mais que sempre tente não retarde
O tempo não tem pena das algemas.

Nessa melancolia, meu retrato...
Ansiedade louca sem remédio.
A morte aproximando-se é um fato.

O mundo vai murchando pouco a pouco...
Não posso resistir ao duro tédio
Maturidade chega e fico louco...

MARCOS LOURES

VELHOS RAPINEIROS

VELHOS RAPINEIROS

Quem dera se tivéssemos o canto
Que já foi esquecido pelo povo...
Justiça envergonhada fecha o manto,
Os velhos rapineiros estão de novo

Tentando exterminar dentro deste ovo
Abortam simplesmente todo encanto,
Pois tentam ressurgir com velho estorvo,
Espoliando tudo, nosso espanto...

Quem foi tão massacrado, noite escura;
Às vezes se esquecendo o que passou,
Juntando-se aos servis da ditadura,

Que fazem? Por que tanto se lutou?
Procuram na doença a sua cura,
Esquecem do dragão que a causou...

MARCOS LOURES

FOI PRO MAR

FOI PRO MAR

Cadê minha Tereza, foi pro mar...
Quem era ventania, virou brisa,
A morte traz medida mais precisa.
Quem fora majestade? Sem altar...

Depois dessa viagem, foi parar
Onde toda maré se torna lisa...
Tereza, bem distante, o mar avisa,
Que nunca poderei mais te encontrar...

Perdoe se não pude nem sentir
O que pensei doesse. Vou pedir
A Netuno que nunca mais te veja...

É tudo que minh’alma mais deseja,
Tua cabeça traga na bandeja;
Nem quero teu cadáver prá carpir.

MARCOS LOURES

INEVITÁVEL

INEVITÁVEL

Jamais conceberei ser evitável
O cancro que me invade por inteiro.
Na pútrida matéria descartável,
Exposta a várias cores do tinteiro;

Encontro meu destino inconsolável.
Vagando por amor tão “verdadeiro”,
As marcas deste rumo maleável,
Fagulhas que me queimam, vil braseiro...

Vestiste de pureza, podre atriz.
Nos ritos dos amores, foste vã.
Horrenda e tão profunda cicatriz...

És verme que minha alma creu divina,
Escondias pendores, cafetã
Disfarçada nos ares de menina...

MARCOS LOURES

VICISSITUDE

VICISSITUDE

Toda vicissitude que carrego,
Fomentos de uma algia na lembrança
Performaticamente já me alcança
Mostrando um duro algoz: caminho cego;

Tantas boçalidades. Não relego
A um plano inferior, mas mudança
Se faz como instrumento de esperança,
Quem sabe me trará paz e aconchego.

A palavra é meu único instrumento,
Porém tem fino corte de navalha.
Precedendo a qualquer um movimento

Ascendendo ao poder de uma batalha.
E tenho em ti, amigo um aliado
Na luta que perfaço amortalhado...

MARCOS LOURES

TEUS LÁBIOS

TEUS LÁBIOS

Teus lábios neste cálice de vinho,
Mostram sensualíssimos desejos...
Tua boca cintila loucos beijos,
Resplandecente flâmula, meu ninho..

Belas cores carnais, rosas, espinho...
Constelarei delírios e traquejos,
Perpetuarei tais matas e verdejos.
Embora, tantas vezes vá sozinho...

Travam em meus ouvidos, cantos mis,
Quando harmoniosamente estrelas giram;
Eternos carrosséis, loucos, febris...

Sonhadores formatos da natura...
Meus olhos tresloucados... Sim, deliram...
Eu respiro em teu hálito a loucura...

MARCOS LOURES

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

À PRAIA DOS MEUS SONHOS

À PRAIA DOS MEUS SONHOS

O mar que em tempestade me transporta
À praia dos meus sonhos, dor imensa.
Deixando sem tramelas, minha porta,
Quem sabe em minha morte, a recompensa...

A negritude da alma, tão imensa,
Nem mesmo um sonho vem e me conforta,
Estrada em que passei, antiga e torta,
Na tosca solidão, cruel e densa

Encontro esta tristeza que se soma
Ao medo de viver em sofrimento.
O mar que na loucura de um tormento,

Em ondas movediças tudo toma.
Seu canto me transporta em agonia
Deixando este sabor de maresia...

MARCOS LOURES

VAZIO E TRISTE

VAZIO E TRISTE

Jamais irei viver alvorecer
Em paz, leve sorriso eu já não tenho.
Quem teve da alegria o seu empenho
Percebe quanto é duro perceber

Que a sorte abandonada, de onde venho,
Deixando bem distante o meu prazer.
Apenas sofrimento, enfim, retenho,
No sonho uma vontade de morrer...

Perdida, bem distante, a mocidade,
Um resto de esperança esvai agora.
A dor que no meu peito já demora

Resume o que senti na realidade.
Meu canto, sem sorrisos, não resiste...
E morro devagar, vazio e triste...

MARCOS LOURES

EM CINZAS

EM CINZAS

Meu ser que se fez cinzas de um cipreste
Que outrora sombreava calmamente,
Nas dores por herança que me deste
A vida se perdendo tolamente.

Somente a solidão inda me veste
E aos poucos me transforma em vão demente.
O não quando meus olhos o puseste
Em vendas tudo nega, cegamente.

Revejo nos meus dias, juventude,
Um rosto de belíssimo fulgor.
Não sei e nem concebo como pude

Perder o manto claro deste amor.
A mão desta saudade, fria e rude,
Matando, sem ter pena, um sonhador...

MARCOS LOURES

MESMO VENENO

MESMO VENENO

Nas bocas que beijei; mesmo veneno.
Na luz de cada dia, um novo amor.
Nas cordas que se partem, tombo pleno
Amor cortando em faca, sonho e dor.

Sem brilhos, mas tenaz, eu já te aceno.
Prometo tão somente o meu torpor.
Talvez por ser tão manso e tão sereno
Não brotam as sementes, sem calor.

Mesmo assim ao sentir um ato falho
Parece que das bocas que beijei
Alguma poderá ficar comigo.

Sem temperos, faltando sal, sem alho;
Amor que te proponho pede abrigo
Em sonhos tão vazios, temperei...

MARCOS LOURES

NÃO TEMO A SORTE

NÃO TEMO A SORTE

Não temo a sorte, corte; quiçá trevas.
As neves,tuas preces, nem teu rogo.
Espero, espreito, oculto, sei teu jogo...
Nos rios, ritos, sinto quando nevas
Nas almas, dores, flores, tudo levas...
Teimando em glosas, queimas, cessa o fogo;
Embora tão distante, és desafogo..
Na tua mansidão a todos cevas,
Esperando, espreitando, na tocaia,
Tocas, retocas, sabes dar o bote...
N’hora certa, entoando o velho mote...
De ti, cada momento, que se espraia,
É como navegar , teu rumo, norte...
Nossa boda infalível... Velha Morte!

MARCOS LOURES

BASES FRONDOSAS

BASES FRONDOSAS

Bases frondosas: árvore esperança...
Grinaldas buquês, festas, despedidas...
Alabastrinamente vão vestidas
O que restará dessa contradança?
O que tenho melhor- amor - avança;
As tardes que deixei estão perdidas...
Nos meus dedos, meus medos são feridas.
Nas bodas, tuas bodas, a criança
Morta, ressurge, tímida, reclama...
Perco-me, cego, morde a dor que inflama
Te perder foi atroz, mal tumular...
Escadarias, luzes, enlutado...
Tais esperas, festejos, triste fado...
Quem me dera jamais poder amar!


MARCOS LOURES

NOS BOTECOS DA CIDADE

NOS BOTECOS DA CIDADE

Nos botecos da cidade
Eu me sentindo em Havana
Cativa sinceridade
Quem conhece não se engana.

Maria da Soledade
Minha Musa soberana
Entranhada na saudade
Transformando noite insana,

Aguardente que me traga
A noite nunca tem fim.
Boneca de porcelana

Nos seus dentes de marfim,
Rosário de perna abana
E me engole feito draga...

MARCOS LOURES

PACATO CIDADÃO

PACATO CIDADÃO

Pacato cidadão espera quieto,
Assim mudança é traça no Congresso.
Calado, permanece morto o feto,
Medalha nunca mostra o seu reverso.

Quem cala é que por certo está repleto
Quem vive desunido paga o preço,
Pois rã que não se move quer inseto?
Quem diz que da política é avesso

Permite por terrível omissão
Que dê sustento ao crápula quando erra
Deixando o mais humilde pelo chão.

A noite do cochilo cria e emperra
Pois oportunidade faz ladrão,
E o bom cabrito, amigo, sempre berra!

MARCOS LOURES

BOM DIA! quanta saudade...

BOM DIA! quanta saudade...

Bom dia, meu amor, quanta saudade!
Faz tempo que não sinto seu carinho...
Ao seu lado, porém, se estou sozinho
O seu sol me inundando em claridade

Quem dera se pudesse, na verdade,
Falar do nosso amor, o pobrezinho,
Como aconchego mágico de um ninho,
Talvez fosse um bom dia de verdade.

Bem sei que amor transforma-se depressa,
Que aos poucos não nos resta nem conversa.
Fica monossilábico, calado.

Não passa do bom dia sem sentido.
O vento que nos trouxe está perdido,
Num canto dessa casa, abandonado...

MARCOS LOURES

FIQUE À VONTADE

FIQUE À VONTADE

Lembro-me da visita que fizeste
À casa dos meus pais. Era menino.
Do brilho alucinante que trouxeste,
Parecias um sol... Perdi meu tino.

O tempo foi passando e não vieste,
Um homem triste surge. É meu destino?
Viver passou a ser eterno teste.
A sombra de teus passos... Desatino...

Lembro-me da visita, a porta aberta.
O medo bem distante. Que saudade!
Agora novamente, já desperta

A vida traz visita, ainda incerta
Será que encontrarei felicidade?
Mas entre aqui, Amor. Fique à vontade...


MARCOS LOURES

ENVOLTA EM TANTA LUZ

ENVOLTA EM TANTA LUZ

Envolta em tanta luz, na noite mais espessa
Nas fimbrias desta lua, adormece em martírios.
O vento descobrindo impede que se aqueça
Mostra para quem ama e trama os seus delírios

Beleza que não tem quem não mais obedeça
E siga já buscando em procissão de círios
Mulher tão magistral, embora a sorte avessa
Impede que eu consiga a cura dos colírios.

Pudesse eu mitigar a dor da solidão
Ao ter sempre comigo esta beleza rara.
Mas nada conseguindo, apenas me contento

De ter sua amizade. E conter ilusão
De um dia enfim poder, que o tempo nunca pára,
Ter seu amor pra mim. E ser – quem sabe- o vento...

MARCOS LOURES

UM ARVOREDO




Qual fora um arvoredo em fortes, vários galhos,
Moldando o meu caminho- estrada derradeira,
Em busca de- quem sabe- achar meus agasalhos
Nos braços de quem amo. Estrela costumeira

Vagando no meu céu. Porém em atos falhos
A vida se mostrando expondo esta canseira
Que é feita em cada passo, em colchas de retalhos
Talvez inda me traga a lua plena, inteira...

Bem sei que não terei sequer felicidade
O que dizer assim da longa eternidade
Que se promete dura, em trevas, sem descanso.

Porém me bastaria, uma falsa amizade
As sobras que virão em dura realidade
Já deixariam, sim, meu coração mais manso...

MARCOS LOURES

VOU A ESMO

VOU A ESMO

Qual triste borboleta, vou a esmo,
Nas gotas deste orvalho, sem paragem...
Amor que nunca mais será o mesmo,
Descansa, sem ter bálsamo. Miragem...

Nas promessas divinas, me quaresmo,
Não quero nem permito estar à margem.
Por vezes, tão calado, se ensimesmo
É medo de trocar, nova roupagem...

Crisálida que dorme não se esquece,
A dor deste fantasma que persegue
Não basta a conversão sequer a prece.

A mansa borboleta nunca nega,
Por mais que tantos mares eu navegue,
Como é pesado o fardo que carrega...

MARCOS LOURES

BRANDURA

BRANDURA

Ao dar-me a sensação de tal brandura
Erguendo-me, sutil, por longos ares
A noite se emoldura na ternura,
Trazendo a inconstância dos luares.

Tuas mãos amicíssimas. Candura
Que se harmoniza em todos os altares.
A mansidão que trazes, fina alvura,
Aumenta a sinonímia para amares.

Elfo; flutuas. Zéfiro, me acalmas...
Nas janelas abertas dos amores,
Acaricias, plena, mãos e palmas.

Emanas tal perfume que estas dores
Não restam sobrepondo aos velhos traumas.
Borboleta; revoas sobre as flores...

MARCOS LOURES

UM AMIGO VERDADEIRO

UM AMIGO VERDADEIRO

O medo de sofrer que me tomava
Morria ao perceber teu braço forte
Sabia que, decerto eu encontrava
Poder que nos transforma dando um norte.

A solidão que queima feito lava
Provoca dentro da alma um fundo corte.
Muitas vezes sozinho então cismava
Distante do que penso ser a sorte.

Em procelas,às vezes somos vítimas
Tempestades convulsas, más, marítimas
Tomando já de assalto o meu saveiro.

Mas tendo uma amizade timoneira
A calmaria volta costumeira.
Que bom ter um amigo verdadeiro...

MARCOS LOURES

SER GUERREIRO

SER GUERREIRO

Por vezes necessito ser guerreiro
É quando a tempestade já se assoma
E torna o meu destino prisioneiro
E o nada num segundo enfim me doma.

Porém ao ter abraço verdadeiro
A vida se refaz em nova soma
E o mundo se mostrando companheiro
Com toda força chega e assim nos toma.

Meu coração não teme mais arenas
Distante dos vorazes cães, hienas,
Abutres que nos bicam sem parar.

Na força, com certeza, da amizade,
Encontro todo apoio e na verdade
Consigo bem mais forte caminhar..

MARCOS LOURES

E A VIDA SE TRANSFORMA

E A VIDA SE TRANSFORMA

Descendo pela estrada tão umbrosa,
Hordas de passarinhos rumorejam.
As horas vão passando e se negrejam
Prevendo a noite imensa e tenebrosa.

Apenas pirilampos que vicejam
Tornado esta passagem luminosa
As cores tão distantes se desejam
Restando então espinhos, morre a rosa.

Solidão me encontrando em indolência
Moldando em meu caminho uma impotência
Capaz de não deixar restar mais nada.

Porém ao perceber tal soledade
Encontro todo apoio na amizade
E a vida se transforma, iluminada...

MARCOS LOURES

ANTES QUE A SOLIDÃO

ANTES QUE A SOLIDÃO

Antes que a solidão provoque o corte
Ao entalhar minha alma, inda ressoa
Uma esperança altiva que revoa
Poupando-me decerto, enfim da morte.

A vida é bem melhor p’ra quem é forte
Mostrando tantas vezes ser tão boa
Mudando, num segundo nossa sorte,
Trazendo a placidez de uma lagoa.

Porém quando em tempesta, é dura a vida,
Difícil vislumbrar qualquer saída
Se temos nossos dias infecundos.

Mas ao nos agregarmos com vontade
Nos laços bem mais firmes da amizade
Bastam para mudar poucos segundos...

MARCOS LOURES

ALUCINAÇÃO

ALUCINAÇÃO

Meu corpo com certeza irá esquálido
Levando o que restou de um ser patético.
O verso se mostrou bastante inválido,
Distante do que julgo ser poético.

Ausência de um verão que fosse cálido
Não vejo mais que um sonho e antiestético
Apodrecendo inerte, sigo pálido
Num paganismo intenso, sempre cético.

Quem ver-me, quase um verme sem valia
Não sabe que eu amei, sonhei, sofri.
Porém saudade mata uma alma fria

E nada sobrará decerto, aqui.
Apenas estrambótica visão
Do que só fora uma alucinação...

MARCOS LOURES

NADA RESTARÁ

NADA RESTARÁ

Qualquer que seja o fim desta batalha
Não restará semente sobre o chão.
No corte agonizante da navalha
A vida se mostrou simples senão.

A mão que me acarinha já retalha
Deixando em posta, pronta podridão.
As marcas desta algoz, a solidão
Apenas decepção, sempre amealha;

Um resto do que fui caminha a esmo.
De perto, reparando sou eu mesmo
Aquele que sonhara, em pesadelo

Levando uma saudade sem limites.
Enreda com vontade no novelo
Da morte que não quer sequer palpites...

MARCOS LOURES

QUANDO SÓ

QUANDO SÓ

Amor não se consola quando só,
Um par precisa sempre d’outra face.
Senão a vida volta ao velho pó,
Aí, ninguém dá jeito nem disfarce...
Eu quero o teu desejo; vem sem dó,
Permita, devagar que eu já te enlace.
Te trato, meu amor, a pão de ló
Mas faça-me feliz. Amor renasce
Na fúria e no delírio de uma noite.
Eu quero ser a caça e te caçar,
Mas venha com certeza, não se afoite
Pois tudo o que fizermos nos tempera
No gosto e no desejo de sangrar
O coração exposto à mansa fera...

MARCOS LOURES

EM MEIO ÀS BRUMAS

EM MEIO ÀS BRUMAS


Na bruma em que te escondes, Solidão,
Sentindo-me falena em busca ao lume,
Aguardo o seu carinho, uma ilusão,
Na cura que se mostra de costume...

Vagando sem ter rumo, na amplidão,
Espreito e vou imerso num queixume,
Às voltas com beleza; solução,
Da mulher que inocula o seu perfume....

Chegando para o náufrago qual bote,
Que salva da terrível tempestade,
Amor é muito mais que simples mote.

Essência de uma vida salutar.
Não posso conceber felicidade,
Sem lua que esparrama-se no mar...

MARCOS LOURES

POR MAIS QUE TE PAREÇA INSENSATEZ

POR MAIS QUE TE PAREÇA INSENSATEZ

Por mais que te pareça insensatez, amigo,
Eu faço da loucura a minha companhia
Permito-me sonhar e adoro a fantasia
Pois nela encontro sempre o meu maior abrigo

Uma defesa plena aliada comigo,
Por vezes imagino a dor que eu já teria
Não fosse insanidade em lúcida magia
Meu trem descarrilava em trágico perigo.

Desculpe se pareço um torpe vagamundo
Correndo sem parar, sorrindo do vazio
Um mundo imaginário, amigo eu sempre crio

E vivo dentro dele, e nele eu sempre inundo
Uma alma visionária, um coração sem rumo.
Amigo, na loucura, encontro paz e prumo...

MARCOS LOURES
SEMPRE COMIGO

Lua bela em teus raios de cristal
Encontro tal beleza, deslumbrante
Qual fora um mavioso diamante.
Dos astros tu és sempre a maioral.

Teu toque tão macio e sensual
Para quem ama mostra-se excitante
Por isso és a rainha de uma amante
Que deita sob a prata sem igual.

Ah! Lua, companheira e tão amiga,
Não permita que a dor assim prossiga
Na eternidade rara deste abrigo

Afaste a solidão do meu caminho,
Não deixe que eu me sinta mais sozinho,
Eu quero esta mulher sempre comigo!

MARCOS LOURES

BELEZA ENCANTADORA

BELEZA ENCANTADORA

Qual sílfide, delícia encantadora...
Trazes a languidez das brancas rendas.
Na boca carmesim tão tentadora,
Ardor pecaminoso invade as tendas

A noite em que chegaste, redentora,
Caminhos, espirais, dolentes lendas.
Sonora melodia sedutora
Lascivas, sensuais divinas sendas...

Sonatas e perfumes, canção, rosa....
Veludos, maciez; camurça e gozo.
A mão que te procura, carinhosa.

Palácios dos prazeres, catedrais.
Desejo de viver, voluptuoso,
Tua beleza rara, meus cristais...

MARCOS LOURES

domingo, 19 de agosto de 2012

SABIÁ LARANJEIRA

SABIÁ LARANJEIRA

Passarinho que canta na janela,
Sabiá laranjeira, companheiro...
Me responda se acaso o mundo inteiro,
Alguém pode falar onde está Bela?

Belinha, abelha, bela bel tinteiro
Das cores que roubei nada restou
Responda passarinho companheiro
Por quê que minha Bela me deixou?

Os fios da meada eu já perdi.
As chaves destes cofres eu não tenho
No medo de viver, assim morri

Somente amor imenso inda retenho.
Que faço, meu amigo passarinho,
Sem Bela nunca mais farei meu ninho...

MARCOS LOURES

ELA ME QUER?

ELA ME QUER?

Ela sempre retoca o seu batom
Não deixa nem sequer saber seu nome...
Viaja o pensamento, eleva o tom
O quadro que apresenta me consome,

São tantas as batalhas neste front
Meus olhos a procuram, e ela some
Eu sigo rastreando cada som.
Espero que me dê seu telefone

O bem que me quisesse nunca viu,
Perdi o meu caminho em bem-me-quer
Também a flor, decerto já mentiu

Pois sei que ela também se faz mulher
De coração volúvel, mesmo vil.
E sigo perguntando: ela me quer?

MARCOS LOURES

COM CONSTÃNCIA

COM CONSTÃNCIA

Uma amizade é feita aos poucos; com constância;
Ultrapassando sempre as curvas do caminho.
Mais forte na tristeza até que na abundância
Certeza de um apoio emana do carinho

Amizade se afasta onde entrar a ganância
Sincera proteção que faz valer o ninho
Mesmo que separado, amigo desde a infância
Eu sei que uma amizade é feita como o vinho

Que tem bem mais valor quanto maior o tempo
Vencendo a tempestade e o risco do azedume,
Lutando com tal força ao vencer um contratempo

Alimenta nossa alma e traz em seu perfume
Que vale bem, querido, o risco de um espinho.
Quem sabe o seu valor, jamais irá sozinho...

MARCOS LOURES

EM UM MOMENTO TRISTE

EM UM MOMENTO TRISTE

Amigo tantas vezes perguntei
À vida por que dores ela traz.
Em um momento triste, a dura lei
Mostrando do que a dor é mais capaz

Por um segundo, enfim, desanimei
Sofrendo tal tormenta, nada apraz;
Na morte, meu amigo, até pensei,
Por que viver se nada satisfaz?

Porém num dia calmo eu obtive
Uma resposta clara e verdadeira
A gente, com certeza, sempre vive

A vida na procura de um apoio,
E Deus em atitude alvissareira
Nos fez em plena dor, saber do joio...

MARCOS LOURES

EM HARMONIA

EM HARMONIA

O poder que traz uma amizade
Nos molda para a luta, esteja certo,
Escuridão valora a claridade,
Oásis se enobrece no deserto.

Apenas a distância mostra o perto,
Uma ilusão seduz realidade
Porém somente em plena liberdade
A gente reconhece um peito aberto.

Assim quando se faz a tempestade
A calmaria é tudo o que queremos,
Por ela nós lutamos e sabemos

Que nós temos na paz, finalidade,
E enfim poder contar com alegria
Vivendo nossa vida em harmonia...

MARCOS LOURES

EU BEM SEI

EU BEM SEI

Bem sei que me tomaste por cordeiro,
Quebrando em sacrifício o meu pescoço,
Causando em minha vida um alvoroço
Ciúme sem dar trégua, e costumeiro.

Quem dera fosse o tempo mais ligeiro,
Talvez inda restasse um simples osso
Inteiro. No começo: que colosso!
Amor me parecia alvissareiro...

Porém com incertezas sinalizas
Tomando com vigor o meu juízo,
Não passas sem ferir e martirizas

Fazendo com que perca logo o siso,
As mãos que me torturam, as divisas
Usadas por quebrantos, e agonizo...

MARCOS LOURES

SECANDO A FONTE

SECANDO A FONTE

Quebrando este telhado que te abriga
Do frio, da saudade e da tristeza;
A sorte que te fora sempre amiga
Abandonada, busca noutra mesa
Repasto. Tu quebraste a forte viga
Que tanto sustentou; qual fortaleza,
A relação mais forte e tão antiga
Onde eu não esperava tal surpresa...
Amiga... Já pressinto que a desdita
Virá te acompanhar no dia a dia...
A sorte que tu pensas ser maldita
Foi quem te iluminou por tanto tempo...
Matando toda a fonte da alegria,
A vida te trará só contratempo...

MARCOS LOURES

FUGINDO DESTA SOMBRA

FUGINDO DESTA SOMBRA

Fugindo desta sombra eu te encontrei,
Andando pelas ruas sem aprumo...
Depressa para a luz, quando levei,
Achei que te daria novo rumo...
Contigo muitas vezes caminhei
Te dando da esperança todo o sumo,
Um canto mais feliz imaginei,
Até te dei minha alma... Não perfumo
As mãos mais em teu corpo, minha amada.
Pois foste como estrela decadente
No final da tarde, sobrou nada
Senão uma saudade negra, escura...
Pensei fazer-te assim, bem mais contente.
A tua ausência agora me tortura...

MARCOS LOURES

BENDITO SEJA

BENDITO SEJA

Bendito seja amor que nos tortura,
Maltrata e nos corrói, depois redime.
Bendita essa mulher, que eu não estime
Outra, pois nela encontro minha cura.

Bendita seja a lua em sua alvura,
Que em seu louvor minha alma sempre prime.
Que meu verso em delírio sempre rime
Em toda essa altivez, toda brandura...

Bendito seja o sol, também a chuva,
Bendito seja o vinho, feito da uva
Imagem da mulher em fantasia

Bendito seja o cio que transtorna,
Cálice do prazer, no gozo entorna.
Bendito nosso orgasmo dia a dia...

MARCOS LOURES

BIJUTERIA

BIJUTERIA

Esmero esmeraldina sensação
Dos olhos da mulata que sonhei.
O verde que esperança em coração
Nas turmalinas vertem minha lei...

Das hortelãs e mentas, meu refrão...
Dos peixes que – menti – jamais pesquei
Qualquer piaba vira tubarão.
Com sereia postiça me encantei...

A sensação que nunca me alucina
Se faz em tempestade e é calmaria
A moça embriagada se faz fina,

A lua que brilhou traz pleno dia,
Amor sem ser morfina, me amofina
A pedra que te dei? Bijuteria...

MARCOS LOURES

A SOLIDÃO EM FLOR

A SOLIDÃO EM FLOR

A solidão em flor nasceu no meu jardim
E em seu perfume amargo, um gosto de saudade.
Neste momento insano, amor dentro de mim
Refeito da loucura; em incivilidade

Estorva meu caminho, e quase que no fim
Avança escuridão, matando a claridade.
Que faço se não posso amar demais assim.
Procuro uma resposta. Apenas inverdade.

Tal flor apodrecendo aqui no meu canteiro
Afasta o colibri, espanta a fantasia.
Seguindo um mundo falho em passo traiçoeiro

Eu busco em esperança, uma última aliada
Nos braços desta amiga, a sorte inda me guia
Somente ela resiste. E depois, sobra o nada...

MARCOS LOURES

CHEGANDO MANSA

CHEGANDO MANSA

A noite devagar, chegando mansa
Trazendo uma amargura, dentro em mim.
A dor desta saudade já me alcança
Penumbra vai caindo. É sempre assim.

A festa que se foi, sem sequer dança
Tramando uma tristeza que sem fim
Aos poucos no vazio já me lança.
Quem dera se restasse algum festim

E a vida não seria tão amarga,
Meu canto poderia ser mais belo.
À lua, feiticeira, eu não revelo

Os sonhos que perdi, há tantos dias.
A voz quase silente, inda se embarga,
Lembrando das passadas alegrias...

MARCOS LOURES

ANGÚSTIA

ANGÚSTIA

Angústia! O pensamento não disfarça
E esvai toda alegria que encontrara.
A sorte prometendo outra trapaça
Mostra a felicidade longe. Rara...

Uma ilusão que sobra já se esgarça
Qual fora um porto triste em vida amara,
A vida parecendo dura farsa
Abrindo no meu peito funda escara...

A solidão voraz que se propaga
Deixando tão somente um sonho atroz.
Meu barco se perdendo, em forte vaga,

Silêncio vai tomando a minha voz.
A luz que iluminava enfim se apaga,
E a dor vai invadindo, mais veloz...


MARCOS LOURES