sábado, 24 de julho de 2010

42801 até 42900

1
Não tendo amor que se implora,
Nem tampouco quem me dera
Um amor em primavera
Traduzido desde agora
Nada resta ou se demora,
Tempestade, o tempo gera
Mantendo viva a fera
Que aos poucos me devora.
Pois amar sem ser amado
É consumir em pecado,
Numa ardência já sem fim,
Conhecendo o inferno em vida
Tão somente a despedida
Inda existe viva em mim.
2
Nem tendo vida que atina,
Nem sorriso que talvez
Mudaria o que tu vês
E deveras desatina,
Cambiando a minha sina
Quem me dera a lucidez
Ao invés da insensatez
Que esta sombra determina,
Caminhando peito aberto
Procurando e não desperto
Mais vontades em ninguém
O meu passo se perdendo,
Sou agora este remendo
Que saudade e a dor contêm.
3
A minha viola clama
Por quem foi e não voltou,
O que agora me restou
Na verdade mero drama,
O caminho desta trama
Noutro tanto desfiou
Quase nada do que eu sou,
Traduzindo em fátua chama,
Incertezas tomam tudo,
E se ainda tento e iludo
O meu coração se cala,
Procurando algum detalhe,
Antes que a sorte atrapalhe,
Da saudade a alma é vassala.
4
Tanto medo sem motivo
Tanta história pra contar
Sob as tramas do luar,
Pelo menos sobrevivo
E prossigo e não me privo
E consigo até sonhar,
Quem me dera imaginar,
Mas apenas sou cativo.
O meu rumo representa
Solidão, medo e tormenta
Nada além deste vazio,
E quando procuro a paz
Outro engano então se faz
E meu passo eu não recrio.
5
Eu garanto pro senhor,
Pra senhora e pra platéia
Coração mudou de idéia
Já não quer saber de amor,
Outro dia, num favor
A minha alma quase atéia
Noutro tempo esta plebéia
Esperando o redentor
Caminhar que me permita
Uma vida mais bonita
E quem sabe até pudesse
Fosse um dia mais feliz,
Mas o mundo isto não quis,
Mesmo em reza, jura e prece.
6
Que, por mais que esteja aqui
Na verdade nunca veio,
O seu passo segue alheio,
Tanto amor eu concebi,
Desde o dia em que parti
Noutro rumo e devaneio
No meu sonho me incendeio,
Mas a sorte eu nunca vi.
Sigo assim na solidão,
Pelas tramas do sertão
Sem ninguém que inda me queira,
O meu canto, um passarinho,
Vai morrendo e busca um ninho
Com a amada companheira.
7
Nunca mais incomodou
Quem decerto já sabia
Desta estrada tão vazia
E do rumo que tomou
Quem num sonho clareou
E pensou ser novo dia,
Quando enfim a hipocrisia
Nos meus braços mergulhou,
Nada resta nem o sonho,
E se tanto eu me proponho,
No final não sobra nada,
A serpente dando bote,
Coração já se desbote
E não veja outra alvorada…
8
A gente tem, com certeza
A vontade de chegar,
Passo sigo devagar,
Enfrentando a correnteza,
Vez por outra com destreza
Morte tentando enganar,
No final nada a encontrar
Neste mundo sem surpresa.
Resumindo em verso e canto
O que busco e te garanto
Jamais pude ter coragem,
De seguir conforme dito
Este sonho no infinito,
Cada dia outra miragem.
9
Um pé atrás; sigo em frente,
Enfrentando de mansinho
Qualquer tombo no caminho
Ou delírio que apresente,
Neste rumo incontinente
Vou tentando e com carinho
Encontrar e me avizinho
Deste sonho mais contente,
Na verdade nada havia
Era só bijuteria
O que um dia pensei jóia,
A minha alma segue em vão,
E conhece a solidão,
No vazio, vaga e bóia.
10
Mas, em toda esta vontade
De seguir eu não consigo
Encontrar um braço amigo,
Só terror que me degrade,
Vou sonhando com saudade
E talvez mesmo comigo
Eu não tenha nem abrigo
Nem noção; digo a verdade.
O meu rumo está perdido,
Se este amor não faz sentido,
Como posso caminhar,
Sendo a vida solitária
Busco minha luminária,
Resta apenas o luar.
11
Vivendo a vida tão prosa
Sem paragem nem sossego,
Qualquer coisa diz apego
Nesta sina caprichosa,
A palavra é perigosa,
Tanta coisa eu não renego,
Ando feito um cabra cego
Numa estrada pedregosa,
Procurando algum remanso,
Mas jamais paro e descanso,
Sigo assim desde menino,
O caminho é traiçoeiro,
Num amor feito espinho
Desarvora o meu destino.
12
Tendo esse olhar mais perdido
Nas estâncias mais distantes
Onde quer e tu garantes
Já não faz qualquer sentido,
O meu passo decidido
Entre pedras e brilhantes,
Ruas belas e inconstantes,
No segredo distorcido,
A ventura desta vida
Preparando a despedida
De quem tanto quis; e nada.
Outro dia poderia,
Mas a noite segue fria,
Sem a lua, em vão, nublada.
13
De menino, ele assombrava,
Coração sem ter juízo
Acumula prejuízo
Na esperança mal se lava,
Cada passo vira trava
Onde tento ser preciso,
No final perdendo o siso,
Nada mais eu encontrava,
Tão somente a dor imensa,
Sorte amarga não compensa
E se tento algum alento,
No final de cada queda,
Noutro rumo se envereda,
Nele um novo sofrimento.
14
Quem passasse no caminho
De quem tanto quis a vida
Ao sentir bala perdida
Da esperança feita espinho,
Percebendo quão daninho
O cenário desta lida,
Preparando a despedida
Sem ternura e sem carinho,
A viola desconsola
A saudade entra de sola
E no fundo, sigo assim,
O meu peito não descansa
Guarda apenas na lembrança
Um amor que sei sem fim.
15
Nunca que ele quis verdades,
Esquecendo desta sorte,
No final sem ter seu norte,
Erra em tolas falsidades,
E deveras quando invades
E talvez algo o conforte,
Com certeza não comporte,
Vive atrás de suas grades,
Coração de um sertanejo,
Tanto sonho enfim desejo
E se perco a minha estrada,
Vago à noite sem destino,
Qualquer coisa eu me fascino,
No final não resta nada.
16
Mesmo que andasse distante
Do luar onde eu te vi
Todo amor que existe aqui
Noutro rumo, doravante,
No que tanto já me espante,
O cenário eu percebi
Traiçoeiro e me perdi,
Cada passo noutro instante.
A verdade é dolorida,
Mas assim a minha vida
Passa além do que eu sonhara,
Noite escura já sem lua,
Perambulo pela rua,
A manhã não será clara.
17
Criado por quem não dera
Um segundo de atenção,
Nas cordas do violão,
Minha vida se tempera,
Lua cheia na tapera,
Na janela ou no portão,
Onde haja coração,
A saudade degenera.
O ponteio destas cordas,
É melhor quando te acordas
E me ouvindo noite afora,
Serenata em lua cheia,
Esta noite se recheia
E a saudade vai embora.
18
Sem ter noção do pecado
Nem dos erros que eu pudesse,
Nem por reza, nem por prece,
Procurando outro legado,
Se o meu mundo segue errado,
Coração nunca obedece,
Outro rumo já se tece
Noutro passo, um novo fado.
A morena na janela
O meu peito se revela
Sonhador e não tem jeito,
Solitário aventureiro
Dos canteiros jardineiro,
Mas sozinho quando deito.
19
Qualquer coisa que se apronta
Nessa vida tem a paga,
A saudade nunca apaga
Do passado dando conta,
O que a vida não desconta,
Nem temor, rancor ou praga,
Aumentando sempre a chaga
Alma segue quase tonta,
Nas histórias mal contadas
Outras tantas inventadas
Vou levando o meu caminho,
Roseiral já não brotando,
O que vejo vez em quando
Só me traz pedra ou espinho.
20
Nem adivinha o futuro
O cigano coração,
Vai errando a decisão
Que decerto inda procuro,
Se nos erros eu perduro,
E não vejo solução
Cada passo diz do não,
Neste chão que é sempre duro,
Meu arado não se cansa,
Mas decerto uma esperança
Já não mata minha fome,
A colheita sem proveito
Tão sozinho quando deito,
A saudade me consome.
21
Sendo feito de garrucha,
A verdade que me deste,
O meu canto vira peste
Esperança toma ducha,
A saudade, velha bruxa
Toda noite me reveste,
Deste amor demais agreste
Para o fim deveras puxa,
E o caminho que eu pintara
Com a cor suave e clara
Hoje fica mais escuro,
Tanto brilho que eu queria,
Mas inútil poesia
Já não traz o que eu procuro.
22
A caneta que escrevia
Neste campo, feito enxada,
Cada nova terra arada
Produzindo a poesia,
Nesta lida dia a dia,
Do começo da alvorada
Até noite anunciada,
Nada vale quem porfia.
O meu canto traiçoeiro,
O meu mundo, meu canteiro,
Na colheita sem proveito,
E o final da vida eu vejo
Bem distante do desejo,
Solidão aro em meu peito.
23
Se esfregando na saudade
Na procura de quem possa
Cultivar a mesma roça
Num caminho em liberdade,
Nada trago na verdade,
Outro passo não se endossa,
No final restando a fossa
Onde sonho ainda invade
Na certeza deste fato,
Vai secando o meu regato
Só resgato solidão,
O meu canto não se cansa
De trazer nesta lembrança
Dia triste; amargo e vão.
24
Pele dura acostumada
Com os calos da lavoura
Neste sol que tanto doura
E nos eitos de uma enxada,
Vou seguindo a minha estrada
O rastelo, uma tesoura,
Outra pedra além se estoura
Abrindo nova empreitada,
Incerteza de outro dia,
Cada passo não fazia
Nem por conta do viver,
Sol a sol, cigarro e palha,
Esperança então se espalha
No horizonte a se perder.
25
Sem medo de bala ou faca
Nem tampouco de conversa,
A verdade desconversa,
Mas a fome não se aplaca,
Coração quando se empaca
A saudade é mais perversa,
A cachaça, a dor dispersa,
Mas a vida não emplaca.
Resumindo a minha história
Num momento sem vitória
Desalento não tem fim,
Onde a vida poderia
Já trazer outra alegria,
Nem florada no jardim.
26
Sem temer Deus nem diabo
Prosseguindo vida afora,
A saudade se devora,
Dela jamais dando cabo,
Pouco a pouco então desabo,
Neste chão que desarvora,
Tristeza não vai embora
O passado mostra o rabo,
E eu me perco na labuta,
Quanto mais a gente luta,
Nada tem no fim do mês,
A viola abranda a dor,
Mas que vale um sonhador
Quando o mundo se desfez?
27
Fincando o chão com a estaca
Da esperança que inda resta,
Aproveito qualquer fresta,
Mas a dor já vem e ataca,
Meu olhar ali se empaca,
A saudade nunca presta,
Aparando alguma aresta,
Esta vida, uma bruaca.
Na cumbuca mais vazia,
Outra mão já se metia
Procurando no palheiro,
Mas no fundo espeta o dedo,
Este amor quando o concedo,
Perco o rumo por inteiro.
28
De vivente resta nada,
Onde teve a sorte assim,
Do começo vejo o fim,
Nesta curta e vaga estrada,
A manhã ensolarada,
A esperança em meu jardim,
Mas no fundo, de onde eu vim,
Preparei a derrocada.
O saber e não poder,
O querer e sem prazer
Dita a vida de quem sonha,
Na saudade da morena,
Esta vida me envenena,
Vai passado, então, medonha.
29
Foi moleque temerário
O danado coração,
Dando voltas no portão
Deste sonho imaginário,
Muitas vezes necessário
Encontrar a decisão,
Mas em mim a solidão
Toma conta deste armário,
Na viola e nesta lida,
Vou levando a minha vida
Bem distante de um amor,
Mas se a noite traz a lua
A minha alma então recua,
Volta em mim o sonhador.
30
Dono de todo o sertão
Onde a lua já descansa,
Meu olhar ao longe avança,
Mas encontra a solidão,
Na incerteza desde então,
Outra vida bem mais mansa,
Resta apenas na lembrança,
Nas cordas do violão,
Disparando o peito agita
Uma história tão bonita
Já não tendo quase nada,
Resta apenas este olhar
Sem ter nada a procurar
Numa longa e dura estrada.
31
Não precisava honorário,
Nem tampouco alguma renda
Só queria aquela prenda
Num momento imaginário,
Amor dita itinerário
E a certeza se desvenda
Quando vivo nesta tenda
Este sonho necessário,
Violeiro e repentista,
Coração já não desista
E procura novamente
Quem dê conta deste encanto
E por isto mesmo eu canto,
Mas a vida me desmente.
32
Nem tampouco gratidão
Esperei de quem um dia
Num momento em fantasia
Dominou meu coração,
A incerteza desde então
Nada mais eu poderia,
A não ser na melodia
Ou num canto mesmo em vão,
Encontrar quem tanto quis
E quem sabe ser feliz,
Num instante abençoado,
Mas o mundo não se faz
Deste jeito e sem ter paz,
Sigo só e desolado.
33
A morte feito lazer
Prá quem tanto amou e nada,
A incerteza demarcada
Nos anseios do querer,
Onde pude até saber
Qual o fim da dura estrada,
Coração não fez morada,
E perdeu o seu prazer,
A verdade dói demais,
E se fala em nunca mais
Os meus olhos enchem d’água
Onde havia uma esperança
Este amor também se cansa,
Resta então a dor e a mágoa.
34
Não precisava pagar
Desse jeito, com promessa,
Quando a vida já tropeça
E não deixa caminhar,
O que resta então? Sonhar.
Coração bate depressa
Na procura de um lugar
Onde possa descansar,
Mas saudade se confessa.
Navegando em mar bravio,
O que tenho? Um triste rio
Que não sabe sua foz,
O meu mundo se transforma
Vai sem regra, perde a forma,
Ninguém ouve a minha voz.
35
Não queria nem saber
Do futuro ou de outro dia,
Só bastava a fantasia,
Nela algum manso prazer,
O que tenho por viver
Já nem mesmo caberia
Nos quintais desta alegria,
Tão cansado de sofrer.
Madrugada, noite e lua,
Eu caminho pela rua
E não vejo mais ninguém,
O meu canto sem resposta,
A minha alma se desgosta
Nem um sonho mais contém.
36
Tinha prazer no matar
A saudade de quem ama,
Mas no fundo a velha chama
Já não posso adivinhar,
Incerteza a me tomar,
O passado dita o drama
Quando deito em minha cama,
Sob os raios do luar,
Vejo além o olhar de quem
Tantas vezes quis tão bem
E decerto nunca veio,
Meu amor se nunca vem,
Procurando um novo alguém,
Mas o mundo segue alheio.
37
Pouca gente duvidava
Do cantar de quem se dera
Numa dura e triste espera,
O meu peito explode em lava,
A minha alma, tua escrava,
Aguardando a primavera,
Mas deveras destempera
E o passado então me trava.
Risco o nome do caderno,
No vazio eu já me interno
E procuro algum sinal,
Nada resta do meu sonho
E se um novo até proponho,
O caminho é sempre igual.
38
De toda essa valentia
Tão cansado já não quero
E decerto eu sou sincero
No falar do dia a dia,
Quem decerto assim porfia,
Tendo o mundo duro e fero,
Noutro passo destempero,
E me esqueço o que podia.
Recebendo na verdade
Cada tapa da saudade
Encontrando este vazio,
O meu barco perde o porto,
Meu amor mais triste e morto
Naufragando no teu rio.
39
Sua fama é traiçoeira,
O danado não descansa
E matando uma esperança
Dá no sonho uma rasteira,
Este amor, qualquer maneira
De lutar com faca e lança
No final resta a lembrança,
Derradeira companheira.
Nada quero nesta vida,
Já percebo a despedida
E num verso mais feliz,
Encontrar algum momento
Onde o sonho até invento,
Nele eu tenha o que mais quis.
40
Pelo sertão, percorria
A vontade de colheita,
A verdade não se aceita
Quanto mais a fantasia.
O meu canto não podia
Sem certeza numa espreita
Procurar quando se deita
Escapar desta agonia.
Eu tentei e não mais vira
Senão traço de mentira
Neste olhar de quem promete,
Outra vez a solidão,
Toma o rumo e a decisão,
E o vazio se repete.
41
Mas, na semana passada,
Depois de outra traquinagem
O meu peito fez bobagem
E caiu noutra cilada,
Onde houvera outrora nada,
Ao mudar a paisagem
Novo amor fez ancoragem
Nesta alma destroçada.
O que faço desta vida
Não encontro uma saída
Nem dou jeito no danado,
Vou levando o barco assim,
Naufragando até o fim,
Coração enluarado.
42
Um fato então lá se deu
Nas paragens mais sofridas
Onde tantas ermas vidas,
Neste escuro imenso, breu,
O caminho que era meu
Não achando mais saídas,
Noutras sortes decididas
Também ele se perdeu.
Ao sentir em cada estrela
A vontade de sabê-la
Mesmo ausente dos meus braços,
Os meus olhos rasos d’água
Solidão vem e deságua,
Nestes passos, tristes, baços.
43
Nas matas do meu sertão,
Lua cheia reina em prata,
O seu brilho desacata
A danada solidão,
E se tenho um violão,
A vontade me arrebata
Mesmo a moça sendo ingrata,
Eu encontro a direção,
Serenata em madrugada,
A janela está fechada,
Mas o peito sempre aberto,
O meu canto vaza a noite,
Mesmo o frio que me açoite
Deste sonho eu não deserto.
44
Onde o capeta nasceu
Nem capim nem tiririca
A vontade não se explica
E o desejo que era meu,
Noutro instante se perdeu,
Moça bela, nova e rica
O meu peito se complica,
Novo verso mereceu,
E depois desta besteira
A verdade é traiçoeira
Dá rasteira no meu sonho,
A viola não me larga,
Mesmo quando a voz embarga,
Outra moda; então componho.
45
Tocaiaram o sentimento
Deste velho trovador
Já cansado de um amor,
Noutro fato não mais tento,
Mas sem jeito logo invento,
E de novo sonhador,
Noutros braços, sem pavor,
Um delírio eu alimento.
Quem me dera sentinela
Que me desse algum juízo,
Mas amor quando revela
E não deixa descansar,
Para inferno ou paraíso,
Qualquer dia me levar.
46
Deram três tiros de sobra
Nos meus olhos, num olhar
Onde fui então parar,
Neste ninho em pura cobra
A saudade já recobra
O que tanto quis achar,
E se busco outro lugar,
Meu caminho se desdobra,
Resolvendo desde então,
Desfilar o coração
Nas veredas deste sonho,
Violão trago de jeito,
No cantar eu faço o pleito
Deste amor não me envergonho.
47
Fora esse envenenamento
Deste olhar tanto guloso
Prometendo dor e gozo,
Quando o sonho eu alimento,
No final, o sofrimento
Velho amigo doloroso,
Tantas vezes caprichoso
Toma todo o sentimento,
Mas não canso e novamente
Novo encanto se apresente
No horizonte; esta morena.
Pude então falar da sorte
Que deveras não comporte
Quem jamais peito serena.
48
Da mordida deste bicho
Que não cansa na tocaia,
Pois ao ver rabo de saia,
Grudo fosse um carrapicho,
Num olhar comprido espicho
E se logo a vista traia
Ou decerto se distraia
Outra vez este capricho.
Já tou velho pra esses sonhos,
E se são bem mais risonhos
Minha queda é bem pior,
Esta história enfim conheço,
Novo amor, velho tropeço,
Rumo eu sei até de cor.
49
Cascavel que deu o bote
Num momento em distração,
Vai causando confusão,
Sem ter nada que rebote,
Sem ter doce inda no pote,
Eu quebrei na imprecisão
E de novo ouvindo o não
Sem fungada no cangote.
Passo o tempo deste jeito,
E maltrato o velho peito
Já cansado desta lida.
A beleza da mulata,
O meu sonho desacata,
A alma fica distraída...
50
Mas um cabra sertanejo,
Esse velho repentista,
De repente “está na pista”
Procurando algum desejo,
Cada perna que inda vejo,
Coração já não resista,
Vou bancando o equilibrista,
Mas a queda enfim prevejo.
Não desisto nem que morto,
Inda encontro qualquer porto
Mesmo velho e já banguela,
Um pé mesmo tão cansado
Num sapato amarrotado
Seu destino ali se sela.
51
Resistindo até a morte
Não me canso mesmo quando
No meu peito desabando
Qualquer coisa que suporte
O meu mundo traz o corte,
Mas também já vai curando
Noutro canto, ponteando
A viola que conforte,
Jamais pude acreditar
Nas veredas do enganar,
Cavaleiro sem paragem,
As estrelas em tropel,
Caminhando lá no céu,
No meu peito uma estalagem.
52
Na desgraça dando um jeito
Já não pude mais sentir,
As estradas do porvir
Nem decerto quando deito,
E se tanto assim aceito
O que tenho por seguir,
O meu passo a refletir
O caminho do meu peito,
Nada mais tenho na vida
E não quero a despedida
Carpideira? Nem pensar,
Bebo as gotas do luar
E seguindo contra o vento,
Libertando o pensamento.
53
Mas, para azar do destino
Quando quis a liberdade
A danada da saudade,
Neste troço eu me azucrino,
Vou voltando a ser menino,
Onde quis tranqüilidade
Outra vez o amor invade,
Sossegando o peregrino.
Andarilho das estrelas
Se eu não posso mais contê-las
O que faço nesta noite?
A esperança me socorre,
Mas eu sinto que já morre,
E me corta feito açoite.
54
Dessa ele não escapou
Coração moleque arteiro,
No momento derradeiro,
Novamente desandou,
A morena conquistou
E se bate mais ligeiro
Desta forma; aventureiro,
Novamente se estrepou.
Arriscando assim a queda,
No caminho onde se enreda
A incerteza diz a regra,
A verdade galopando
Neste céu tomando quando
O cenário desintegra.
55
Foi-se embora tal menino
Sem ter eira nem mais beira,
Onde quis a verdadeira
Provisão do meu destino,
O meu passo descortino
Procurando uma bandeira,
Mas encontro esta ladeira
Noutro tombo determino.
Caminhante sem paragem,
Ao fazer nova viagem
Capotagem eu percebo,
Mas que faço deste vício,
Este amor em precipício
Novamente, enfim, eu bebo.
56
Que a desgraça não se cansa
De chegar numa arruaça,
Este amor tanto trapaça
Quanto mata uma esperança,
O passado não avança
E se trama na fumaça
Viciando esta cachaça
Deixa a vida ao menos mansa.
Ao sonhar com a morena,
Se a saudade me envenena,
A lembrança me faz bem,
Outro beijo, outro carinho
E não vou mais tão sozinho,
Quando o meu amor já vem...
57
Por cima das tempestades
Meu olhar procura um sol,
Nada encontra no arrebol,
A não ser estas saudades,
E se tanto ainda invades
Com notícias do farol,
Recolhido caracol,
Não quero saber verdades.
Entoando uma cantiga,
Dessas tristes, mais antiga
Eu revivo o meu passado,
Beijo a boca da promessa,
Mas a sorte me endereça
Ao caminho abandonado.
58
Que a vida madrasta leva
Coração de quem procura,
Pela mata mais escura
Adentrando medo e treva,
Renegando qualquer ceva,
O desejo me tortura,
No final, nova amargura
No sertão do peito neva.
Outro estio num verão,
E de novo a solidão
Dita as cartas sobre a mesa,
Já não luto, pois cansado,
O meu mundo tão pesado
Não suporta a correnteza.
59
Esquecendo as malvadezas
Desta vida sempre ingrata,
O meu sonho já desata
E se perde sem surpresas,
Na verdade somos presas
Deste amor, dura cascata,
Que decerto me arrebata
Com as garras das destrezas,
Violeiro e repentista,
No final minha alma assista,
Este tombo costumeiro,
Não mais quero a primavera,
Neste inverno o que se espera
Diz agosto e não janeiro.
60
Que falam sempre de mim,
Já cansado de saber
Não procuro o bem querer,
Nem desejo o mal assim,
E se tento dentro em mim
Esperar algum prazer,
A lembrança não faz ver
Nem mais flores no jardim,
Esgotando o meu caminho,
Eu me dano e vou sozinho
Nada brota em solo agreste,
O delírio feito em verso,
Vai mudando este universo,
E o vazio me reveste.
61
Na verdade era um garoto
Quando o sonho me falava
Desta vida mesmo em trava
Preparando um tempo roto,
Do total não restou coto,
A palavra não mais dava
Garantia nem mostrava
Qualquer coisa além do esgoto,
E se tanto quero ter
Nesta vida um bem querer,
Não encontro uma saída,
Onde espero nada vem
E prossigo sem ninguém
Que me dê no amor, guarida.
62
Morte sempre esteve perto
De quem vive desta forma,
Meu caminho se transforma
Pouco a pouco num deserto,
Esperança não desperto,
Nem a vida mesmo informa
O meu tempo se deforma,
Mas o peito é sempre aberto,
Nos desmandos da paixão,
Outro dia novo não
Nova noite sem luar,
Quando tento alguma sorte,
Novamente vejo a morte
Na tocaia a me espreitar.
63
Da sorte só tem notícia
Quem se deu ao grande amor,
E se eu sou tal sonhador,
Nada resta da carícia
Quando o mundo com malícia
Vai traçando em seu rancor
O caminho feito em dor,
Na tortura e na sevícia.
Resultado disto tudo,
Eu por fim já nem me iludo,
Sigo só e isto me basta,
A corda do violão
Mesmo até a do bordão,
No final eu vejo gasta.
64
Inté que um dia sem ninho
Sabiá já não queria
Nem saber da cantoria,
E deixou bem mais sozinho,
Foi embora o passarinho
E levou minha alegria,
Quando a tarde é mais sombria,
Só restando então meu pinho.
Chora notas de saudade
Deste amor que inda me invade
E também já me deixou,
Na verdade a solidão
Faz nevar neste verão,
Meu caminho em dor; nublou.
65
Na casa antiga, de telha,
O meu canto ainda está.
Coração ficou por lá
A esperança, uma centelha
Ferroando feito abelha,
Mas o mel quero provar,
E de novo mergulhar
Onde a sorte em aconselha,
Resumindo em verso e canto,
O que busco e desencanto
Digo assim do meu passado
Nesta casa, num sobrado,
O meu tempo foi feliz,
Porém vida o contradiz.
66
Rede posta na varanda
Lua beija a minha face,
A saudade ainda grasse
Coração então desanda,
Danço ao longe uma ciranda
O meu tempo já não passe,
Meu olhar então se embace
Fruta fresca na quitanda,
Verdureiro da esperança
Onde um dia fui criança
Não verdeja nem um sonho,
Rede posta no meu peito,
Se sozinho enfim me deito,
Nada mais eu me proponho.
67
Roupa quara no varal
Na saudade mãe e pai,
Mas o tempo sempre trai
Bicho doido irracional,
Esperando o meu final,
No cenário o pano cai,
Qualquer coisa não distrai
Quem espera o funeral,
Resta em mim outro vazio
A seca tomando o rio,
No final nem a nascente,
Onde quis amor profundo,
Na lembrança então me inundo,
Nada tenho que apascente.
68
Amor traz forte memória
De quem foi e não mais veio,
O meu mundo em devaneio
Repetindo a mesma história,
Lua ausente ou merencória
O meu canto segue alheio,
De saudade, o meu recheio,
Do que eu fui, sequer escória.
Resta apenas a vontade
E se tanto o peito brade
Nada escuta e ninguém vem,
O resumo desta vida
Nesta forma sendo urdida,
Um caminho em dor; desdém.
69
Trazendo a lua vermelha
Nos olhares de quem chora,
Refletindo vai embora
E não deixa nem centelha,
A saudade me aconselha
E deveras já devora,
Noutro tempo desarvora
O meu mundo ora se engelha
Nestas cãs tão prematuras,
A verdade que asseguras
Já não deixa mais se ver
Sequer sombra do que fomos,
Da laranja vários gomos,
Desunindo em desprazer.
70
Fazendo brilhar o sol
Na manhã bem mais bonita,
A minha alma necessita
Deste encanto, o seu farol,
E tomando este arrebol,
A morena em sua chita,
Outra vez não acredita
Neste canto em girassol,
Corro atrás do vento quando
O meu mundo se nublando
Não me deixa mais escolha,
O caminho diz da bolha
A redoma onde eu me vendo,
Sinto apenas um remendo.
71
Da felicidade ativa
Quem me dera poder ter
Um momento onde o prazer
Na verdade sobreviva
O meu passo, a vida priva,
E não deixa mais se ver
Nem querer algum querer
Onde o sonho se cultiva,
Resumindo neste fato
O que tanto aqui retrato,
Num ingrato caminhar,
O tropel ditando estrela
Minha amada, aonde vê-la
Nesta noite constelar?
72
Dos meus olhos o horizonte
Borrifando uma inverdade
O que trama esta saudade
Noutro fato já desponte
E decerto desaponte
Quando o tempo se degrade,
No vazio que me invade,
Seca a vida em qualquer fonte;
Restaurando a minha sina
Onde o medo determina,
Polvilhando esta esperança,
O meu canto não se ouvindo,
Num cenário outrora lindo
A tristeza enfim me alcança.
73
Um dia a mais, noutra sorte
Poderia desvendar
Cada passo em seu lugar,
No caminho onde comporte
Semeando bem mais forte
O que tanto quis cevar,
Noutro rumo me entranhar
Sem pensar em medo ou morte,
O restante deste tempo
Passo em tanto contratempo
Que no fim nada me resta,
Ao abrir o peito ao vento,
O que sinto e não mais tento,
Não traduz nem dança ou festa;
74
Noutro tempo fui sozinho
Hoje sigo assim também,
O caminho diz desdém
A tristeza forra o ninho,
E se fosse mais mesquinho,
Mas no fundo nada vem,
Da esperança sou refém,
Roseiral virou espinho.
Tramo um dia mais feliz,
Quando a sorte nada diz,
Eu prefiro crer na dita,
Mas bem sei que deste jeito,
Nada encontro e não aceito
A minha alma teima e grita.
75
Doendo a vida de quem
Procurava pelo menos,
Dias calmos e serenos
E em verdade nada tem,
Caminhando busco alguém
Que não trague mais venenos,
Quando vejo além acenos
Outro dia sem ninguém,
Mergulhando neste espaço
Um desejo apenas traço,
Galopando em noite clara,
Meu corcel dito esperança
Na verdade já se cansa,
Mas amor não se escancara.
76
A quem tempo diz contrário
E não sabe nem merece
O que tanto quis benesse
E pensava necessário,
Tempo sendo um adversário
No vazio onde se esquece
O caminho ainda desse
Outro novo itinerário.
Resumindo a minha sina
Na palavra que domina
E não deixa nem sinal,
Entro em pânico somente,
Quando o amor decerto mente,
Mas eu sei que isto é normal.
77
No meu tempo de moleque
Caminhando sem pensar,
Tanto sol a mergulhar
No desejo que não seque,
Traquinagem de quem peque
Nas veredas a buscar
O delírio de sonhar,
A esperança abrindo o leque,
No final, o que me gera
É a sorte em tal quimera,
Vasculhando cada canto,
Meu tormento não se cansa
E se trago uma lembrança
Vendo quem sou; hoje, espanto.
78
Foi solitária agonia
Companheira de quem tenta
Enfrentar a violenta
Noite em dura fantasia,
O meu passo mudaria
E bebendo da tormenta,
No final a sorte alenta
Quem espera novo dia,
Mas a vida se repete
E sem festa e sem confete,
O retrato é traiçoeiro,
Meu olhar em triste espreita
No vazio já se deita
Só encontra outro vespeiro.
79
Que me fez perder o rumo
Quando tanto precisava,
A minha alma não se lava
Nem sequer bebendo o sumo,
Se deveras eu assumo
O caminho feito em trava,
A saudade logo entrava
E em vazios me resumo.
Tento assim nova viagem
E mudando esta paisagem
Talvez veja um horizonte.
Quando a noite se aproxima,
E mantendo o mesmo clima,
Nada tem que ao novo aponte.
80
Que me trouxe solidão
Cada verso aonde eu pude
Mergulhar a juventude
Sem saber da indecisão,
Nem dos dias que virão,
Ao manter esta atitude
Nada mesmo ainda mude
Persistindo esta estação.
Das estâncias do passado,
O caminho demarcado
Por tormentas e por medo,
Quando busco nova senda,
A verdade se desvenda,
E ao temor eu me concedo.
81
Nunca sim, somente não,
Esta vida me condena
E não vejo quem acena
Com caminho e decisão,
Outros dias mostrarão
Com certeza a mesma cena,
Sem consolo ou qualquer pena,
Vou buscando esta amplidão,
Lua cheia, noite clara,
Coração então dispara
E procura alguma estrela
Solitário nesta mata,
O meu peito em serenata,
Não consegue sequer vê-la.
82
Naufragando a poesia
Onde tanto quis um riso,
Vou somando em prejuízo
Aumentando dia a dia,
O meu sonho, a vida adia,
E se tenho algum juízo
Do que tanto mais preciso,
Pelo menos a alegria,
Resta pouco ou quase nada,
No final a mesma estrada
Transcorrendo em dor e medo,
Quando tento alguma sorte,
O meu passo sem suporte,
No vazio eu me enveredo.
83
Vai meu mar amar maré
E buscar a maré cheia
Quando a vida me incendeia
Sem saber mesmo o que é,
O caminho dita a fé
Cada passo devaneia,
E buscando outra sereia,
Quero apenas cafuné,
O restante desta história
Já me foge da memória
Ou não posso aqui contar,
Eu só sei que após a lua,
Minha sina continua
Entranhada no luar.
84
Maresia mar e sina,
No marulho da esperança
Quando a noite assim avança
E decerto me fascina,
Beijo a boca da menina
Coração nunca se cansa
E se volto a ser criança
A ciranda me domina,
Encontrei linda morena,
Nesta rua em diamantes
Ladrilhada e me garantes,
Na verdade a vida acena
Com o bosque aonde este anjo
Num prazer ousando esbanjo.
85
Amando amar e Marina
Verso versa em diversão
E bebendo da amplidão,
Nova sorte determina,
O que o tempo sempre ensina,
E aprendi esta lição
Quando é sim, às vezes não,
O contrário me alucina.
Resumindo cada fato
Neste amor quando o resgato
Traço um rumo mais audaz,
O desejo impertinente
Sem ter nada que o contente
Toda a noite o sonho traz.
86
No meu mar, morreu a sorte
De quem tenta navegar
Contra a fúria a se mostrar
E não tendo mais seu norte,
Nada mais dita o transporte
De quem tenta desvendar
Os caminhos do luar
Que esta nuvem logo aborte.
Resultado desta queda
Onde o tempo se envereda
E se enreda a solidão,
Nada além do que pudera
Acalmar qualquer quimera
Nem as chuvas que virão.
87
Nadava contra a corrente,
Mas no fundo bem sabia
Que deveras cansaria,
Não tem quem mesmo isto agüente,
No meu passo imprevidente
Bebo cada gota fria
Da saudade dia a dia,
Sem ter nada de repente.
Consistência variada,
A saudade já velada
Não permite novo passo,
E se tento ou me aprofundo,
No vazio deste mundo,
Tal e qual eu me desfaço.
88
Fui tragado em movediça
Praia quando quis sereia,
No final a noite alheia
Na incerteza nunca viça,
Meu olhar; pura cobiça
Teu olhar sempre rodeia,
Mas deveras incendeia
A palavra que me atiça.
Fico aquém do que sonhava,
Onda forte, dura e brava,
A procela não se cansa,
E meu mundo em seu final,
Enfrentando o temporal
Já não vê qualquer bonança.
89
Que cantando leve a vida,
Inda entendo, mas não vejo
Outra forma de um desejo
Que não seja a despedida,
Minha sorte sendo urdida
Neste rumo malfazejo
Já dizia o realejo
Desta sina corroída
Pelas tramas da ilusão
Dominando o coração
Deste tolo trovador,
Volta e meia em meia volta
A minha alma se revolta,
Mas de novo busca amor.
90
Que prendeu numa corrente
Este andejo sentimento,
Quantas vezes; busco e tento,
Mas não tendo quem sustente,
O meu canto de repente
Solto e livre bebe o vento
Resta apenas sofrimento,
Onde outrora fui contente.
Resumindo a minha sina
Na palavra que domina
E alucina quem se traz
Num momento em dor e canto,
O que busco e te garanto,
Pelo menos, qualquer paz.
91
Nem por reza ou por favor,
Nada além do que inda trago
Seja a vida mero afago
Seja o mundo em desamor
Sou apenas refletor
Na pureza deste lago
Cristalino se me alago
Ou me perco em nova cor,
Resumindo a minha dita
No que tange e necessita
Outro passo se prevendo,
O meu canto sem remédio
Espantando em mim o tédio,
Vai cerzindo este remendo.
92
Cessou brasa, que incendeia
Coração enamorado,
Deixa a vida no passado
E procura quem rodeia
Novo tempo e nele creia
Ou desfaça este traçado,
Onde o sonho mareado
Já não traz sequer sereia.
Vejo assim a minha dita
E se tanto se acredita
No que pode ainda vir,
O tormento se aplacando
Neste dia desde quando
Esperança, um elixir.
93
O meu verso se mostra em vária forma
E tenta discernir qualquer momento
Enquanto com meu sonho sigo atento,
A vida noutro instante me deforma,
O peso do viver, a sorte informa,
E o quanto poderia num provento
Cerzir sem tanto medo e sofrimento
Obedecendo à métrica, esta norma.
O canto se transcorre em dor e riso,
E sei que mesmo assim não sou preciso,
Vacantes emoções; não reconheço
E tento vez por outra ser diverso
Invado mesmo assim novo universo,
Incerto caminhar sem endereço.
94
Espalho ao vento o sonho aonde eu pude
Cerzir com letras algo que inda sinto,
E mesmo quando em mim morrendo, extinto
Carrego deste a leda juventude.
O quanto imaginar além me ilude,
E neste desvendar o mero instinto
Por vezes, com certeza teimo e minto,
O sonho me permite esta atitude.
Alheio ao que deveras eu descrevo,
Porquanto ser diverso; mesmo devo
Não me desnudaria inteiro, sabes disto.
Um mero retratista e nada mais,
Invento calmarias, vendavais,
Ainda quando os sinto, não existo.

95
As sórdidas lembranças, ledos fatos,
E os dias são iguais, velha rotina,
O verso noutra face determina
O renascer de vários, vãos regatos,
E mesmo quando os sinto ou não ingratos
Apenas por sonhar, a alma fascina
E bebe em privilégio a rara mina
Também vê iguaria em finos pratos,
Ascende-se ao que tanto imaginar,
Sem freios nem arreios, galopar
Entre tropéis de estrelas, ou no abismo,
O quanto do falsário existe em mim,
Omite ou mesmo mente e sendo assim
De variada cor eu já me prismo.

96
Legar o quanto posso a quem quiser
Ouvir alguma voz em acalanto,
Por vezes esperança eu tento e canto,
Embora sei que a vida é um vão qualquer
Mergulho quantas vezes eu puder,
E tento adivinhar o farto encanto
Vencendo qualquer medo, e sem espanto
Palavra tinge o sonho que vier.
Inovo e até renovo ou mesmo invento,
E quando novo passo em alimento
Neologismos traço e mesmo assim,
A liberdade dita norma e lei,
E quantas vezes tolo eu me enganei,
Negando ou travestindo o que há em mim.

97
Escassos sonhos ditam poesias?
Não sei e não consigo perceber
O quanto da verdade há de conter
Naquilo que me dizes ou tu crias?
As noites são de lua, mas sombrias
E o vento traz o gozo ou desprazer,
E tanta vez eu tento parecer
Diverso do meu verso em agonias.
A porta escancarada e libertária
Ousando usar da voz qual luminária
Vasculha qualquer canto da alma humana,
Profético ou talvez um sonhador,
Poeta, repentista ou trovador,
Decerto ao te jurar, também se engana.

98
Repare nesta estrela e veja bem
O quanto em magnitude é tão diversa
Daquela que em verdade não mais versa
E nesta discrepância a vida vem,
Gerando enormemente algum desdém,
Sonega até se o rumo desconversa,
E quando nesta falsa luz imersa
O olhar noutro momento se detém.
Assim dos sortilégios e benesses
Enquanto ao teu prazer tu obedeces
A vida presencia em inconstância
O passo mesmo firme titubeia
A sorte preparando em si a teia
Traduz desde a riqueza à mendicância.

99
Apreços e desprezos, variantes
De quem se faz também igual; aquém
Do todo que decerto já contém
Aquele a quem renegas por instantes,
No fundo nada sabes nem garantes,
A vida te mantendo qual refém
Prepara com prazer farto desdém
Ou mesmo te lapida em diamantes.
Em firmes cinzeladas se envereda
Prenunciando este auge após a queda
E vagamente tens qualquer noção,
Mas nada se aproxima do real,
Tolo maniqueísmo, bom ou mau
Na mesma alma se vê a imprecisão.

100
Determinar o fato antes; cigana,
Astróloga e diversa profecia,
Assim também se faz a poesia
Enquanto na verdade tanto engana,
A liberdade plena e soberana
Há tanto que a desejo e mostraria
A vida na sutil dicotomia
Excêntrica vontade em face humana.
Qual fosse um alquimista, a panacéia
Gerando do passado nova idéia,
Arrisco a cada verso, quando invento,
Mas sei que na verdade estou liberto,
E mesmo se o caminho enfim deserto,
Ninguém cerceará meu pensamento.

42701 até 42800

1

Encontrei rara beleza
Nesta que se fez deidade
E decerto esta saudade
Toma forma e senta à mesa
E em diversa natureza
Pouco a pouco chega e invade,
Vendaval felicidade,
Com ar frio de tristeza,
Beijo a boca, toco a pele
Tal presença me compele
E não posso saciar
Meu delírio feito sonho,
Raro mar onde me ponho
E não posso navegar.

2


Carregada de lembranças
A minha alma se esquecendo
Do que agora revivendo
Num instante tu me lanças
E perdendo as esperanças
Transformada em tal remendo
Pouco a pouco se perdendo
Onde além queres e avanças,
Dias claros; noites frias
E se tanto poderias,
Nada fazes, só aumentas
Sem saber ou mesmo atroz,
Ao mudar do rio, a foz,
Geras águas turbulentas.


3

De tanta dor ou bem mais
Do que pude um dia ter
Ao saber e recolher
Entre flores, siderais
Ervas frias e venais
Onde quis o meu prazer
Pude aos poucos perceber
Que este amor dita o jamais.
Bem quisesse ser diverso
E se teimo em todo verso
A falar de quem não vem,
Os meus olhos no horizonte
Sem luar, sol que desponte,
Outro dia sem ninguém.

4

Beleza igual ao luar
Derramando sobre a terra
A beleza onde se encerra
O meu vasto navegar,
Procurando divagar
Sobre vale, monte e serra
Meu olhar além descerra
O que tanto fez sonhar,
E se nada mais pudera
A saudade, esta quimera
Adentrando no arrebol,
Rouba a cena, traz a bruma,
E decerto assim se esfuma
O que houvesse, enfim de sol.

5

O luar do sonho meu
Entre estrelas, prateado,
Como um traço do passado
Que decerto se perdeu,
Onde está ou se escondeu?
Trago apenas ao meu lado
Um viver turvo e nublado,
Vivo imerso em tanto breu.
Procurando alguma estrela
E pudesse enfim, revê-la
Num instante ao menos, quando
O meu mundo renascendo
O que fora algum remendo
Num véu claro transmudando.


6

Já com toda esta emoção
De quem foi além do cais
E procura muito mais
Do que simples direção,
Outros tempos mostrarão
O que a vida tem; cristais
Em momentos magistrais
Em perfeita imensidão.
Percorrendo os descaminhos,
Os meus dias tão mesquinhos
No passado, mera ausência,
Ao saber que tu vieste
Este solo outrora agreste
Hoje em paz, luz e clemência.

7


Não consigo me esquecer
Dos meus erros, desenganos,
Ao mostrar terríveis danos
Procurando algum prazer,
Destroçando o que em meu ser
Poderia em soberanos
Pressupostos, novos planos
Sinto além esmorecer.
O caminho se transforma
E deveras torpe forma
Toma toda esta amplidão,
Onde houvera plenitude,
Hoje o nada, e já nem pude
Ver ainda a solução.


8

Tão bela quanto pudesse
A rainha do meu sonho,
Neste tanto onde componho
Minha vida em tal benesse,
Mas se o nada me oferece
Meu caminho que enfadonho
Percebendo mais bisonho
Solidão somente tece.
Onde tanto houve promessa
Ao vazio se endereça
Cada passo, dia a dia,
E o que fosse além, superno,
Hoje em duro e triste inverno
A seara tomaria.

9


Minha vida faz sentido
Quando sente o teu sentir,
E se nada há no porvir
Todo o tempo foi perdido,
Condenando ao vil olvido
Este amor que ao presumir
Aprendera a repartir,
Mas agora; destruído.
Dos escombros nada levo,
O que tanto quis longevo
Não durou sequer um mês,
Deste amor somente a sombra
Quando a noite vem e assombra,
Bruma, o tempo não desfez.


10


Somente se for assim,
Um momento mais audaz,
E se quero e tento a paz,
É preciso disto em mim,
Teu amor, princípio e fim
Tanto dói e satisfaz,
E não deixa para trás
Nem a sombra de onde eu vim,
Vasculhando meus pedaços
Encontrando sempre os traços
De quem foi bem mais e tanto,
Num instante, num mergulho
As entranhas eu vasculho
E ao te ver enfim me encanto

11

Quem, comigo, for verá
O que trago em cada espaço
Novo tempo onde desfaço
Meu caminho aqui ou lá
E ultrapasso se virá
Outra queda, novo passo,
Rua, vila, senda ou paço
O meu canto vibrará
Na esperança de outro dia
Onde tanto poderia
E jamais eu pude então,
Nos meus olhos dores fartas
E se agora tu te apartas
Os caminhos se errarão.


12


Senão, meu mundo em sinais
Tão diversos, porém uno
Quando além já coaduno
Procurando muito mais
Do que meros festivais
Cada parte onde reúno
O delírio; ao fim me puno
Ao quebrar os meus cristais,
E não tendo outro começo,
Da esperança um vão tropeço
Num tropel feito em torturas,
Ao sentir no teu olhar
Novo tempo eu perco o mar
Sem saber tu me amarguras.


13


Perde todo e qualquer brilho
Meu olhar quando o horizonte
Sem o sol sequer aponte
Desencanto em turvo trilho,
O sonhar deste andarilho
Já não tendo mais a fonte
Neste solo duro apronte
Tão somente o que polvilho,
Dor e medo em tez sombria
Se eu pudesse noutro dia
Pelo menos ter a paz,
Mas sangria após sangria
Onde tanto poderia
Solidão, a vida traz.

14


O azul dos olhos dela
Refletindo o imenso céu,
Como fosse um claro véu
Onde o belo se revela,
Ao tecer em mim tal tela
O meu sonho outrora incréu
Muda agora o seu papel
E um futuro em paz se sela.
Mas o amor é tão mutável
E o que fora antes tocável
Hoje é mera fantasia,
Neste azul onde estivera,
Vejo a marca dura e fera
De quem nunca me queria.

15

Que, quem dera, fossem meus,
Os momentos mais felizes
Onde os medos; contradizes
E permites apogeus,
Ao sentir somente o adeus
Após tantos vãos deslizes
Cumulando tantas crises
Em delírios vis e ateus,
Resta apenas na memória
Este escombro e em tal inglória
Caminhada; nada resta,
O meu passo noutro rumo
E deveras me consumo
Numa noite mais funesta.

16

Seriam a salvação
Os momentos mais suaves,
Os meus dias sem as traves
Nos meus passos: direção,
Ouço a voz do mesmo não
E deveras mais agraves
Os anseios e os entraves
Outro tempo desde então,
O vagar em noite fria,
Esta ausente poesia,
A vontade de partir.
Nada tendo no porvir,
O que tanto poderia
Não se deixa mais sentir.

17

Pediria, por perdão
Se eu pudesse desde o instante
Onde o mundo se adiante
E transforme a direção,
Num errático verão
Outro tempo doravante,
Mas percebo este constante
Em terrível solidão.
Arcos vários, íris fartas
E deveras já descartas
Cada sonho que eu te trago,
Nada resta, pois no fim,
Deste amor que existe em mim
Nem sequer algum afago.


18


Esses teus olhos cruéis,
São deveras caprichosos
Onde houvera maviosos
Caminhares entre méis,
Hoje vejo em carretéis
Os distantes, melindrosos
Procurando desejosos
Dias calmos e fiéis.
Já não trago mais em mim,
O delírio chega ao fim
E a vontade não sacia,
Onde quis a plenitude
Tão somente a dor que ilude,
Demarcando o dia a dia.

19

Sou natural das Gerais
E por isso tão somente
O meu sonho está presente
Em montanhas e cristais,
Onde escuto os vendavais
O meu passo previdente,
Outro tempo se apresente
Já não tendo mar ou cais.
Esperando qualquer sorte
E quem sabe me conforte
Um belíssimo horizonte,
No final da caminhada,
Mesmo quando dá em nada,
Esperança sempre aponte.


20

Da terra mais seca eu trago
Este olhar que já não chora,
A vontade de ir embora,
Outro dia sem afago,
Sem amor em duro estrago
A verdade desancora
O meu passo se apavora,
Mas no fim ainda indago
Se a verdade diz vazios
Onde quis outrora rios,
Hoje vejo esta aridez,
O meu sonho se esvazia
Perco o rumo a cada dia,
Sou o escombro que tu vês.


21

E, da vida, quero paz.
Depois desta luta intensa
Que bem sei não mais compensa,
Pois vazio sempre traz,
O meu passo quis audaz,
A verdade não convença
Quem deveras luta e pensa
Deixa tudo para trás,
Ao seguir a cada instante
O caminho se garante,
Mas no fundo nos maltrata,
O mergulho dentro da alma
Quando muito nos acalma,
Mesmo em vida tão ingrata.

22

Tudo que a sorte me diz
Pode ser diverso ou não
Do caminho e direção
Procurando ser feliz,
O meu tempo não se quis
Não encontro a provisão
E sem ter a solução
Outro dia amargo e gris,
Nos teus olhos, meu destino
Neste verde me fascino,
Mas bem sei o quanto ilude
Este amor já não sacia
Mostra a vida amarga fria,
Num caminho atroz e rude.

23

Eu guardo em meu embornal
O que sobra da esperança,
O vazio já me lança
Entre o medo e o mais venal
Perco o rumo em sol e sal,
E navego na lembrança
Quando o tempo em dor avança
O terror é ritual,
Nada tenho e tento até
Mesmo quando em guerra e fé
Desvendar outro desenho,
Mas o corte se percebe
E a saudade desta sebe
Diz do nada que contenho.


24


Vivendo então da saudade
De outros tempos velhas eras
O que tanto não esperas
Na verdade se degrade,
Ao romper enfim a grade,
Vejo ali as mesmas feras
E não tendo primaveras
O vazio toma e invade,
No caminho em tão sofrida
Desdenhosa e dura vida,
A seara se apresenta
Frágeis sonhos de um poeta,
Onde nada se completa
Numa dita vã, sedenta.

25

Percebendo a solidão
Onde quis outro caminho
E percebo ser daninho
Nada resta desde então,
O meu passo diz do não
E se tento ou me avizinho
Do teu rumo, mesmo espinho
Não impede a floração,
Este adeus a cada olhar,
A vontade de ficar
E a certeza do não ter,
Passo o tempo desta forma,
Cada ausência em deforma,
A vontade é de morrer.

26


Companheira nessa luta
A verdade não me traz
Um momento só de paz,
Quando tenta ou mais reluta
Outro dia, a força bruta
O caminho se desfaz
Quero ser bem mais audaz,
Mas ninguém enfim me escuta,
Deste passo rumo ao nada,
A certeza demonstrada
Diz do quanto acreditava
Noutro tempo mais feliz,
Porém tudo contradiz
Alma feita em fúria e lava.


27

Onde errante, cedo ou tarde,
O meu passo foi além,
O caminho não contém
O que tanto ainda aguarde,
No final já se retarde
O desenho deste bem
Quando enfim eu sou refém
Sem ter nada que resguarde,
O desejo diz do gosto,
O meu passo sendo exposto
Em momentos mais doridos,
Ouço a voz do que pudera
Já não ser somente a fera
E domar os meus sentidos.


28

Procurei felicidade
Onde outrora poderia
Pelo menos novo dia,
Só restou esta saudade
Que maltrata de verdade
Deixa a vida mais sombria
E decerto sempre adia
O que fora ansiedade,
Risco o nome de quem quero,
Mas não sendo tão sincero
Neste instante, o guardo aqui,
No final a noite vem
E sozinho sem ninguém,
Vejo então: não te esqueci!


29

Nada tive, vou sozinho
E o que resta é quase nada,
A saudade desnudada
Gera apenas outro espinho,
O meu mundo é mais daninho,
Leva à mesma dura estrada
Onde outrora a caminhada
Demonstrara este ar mesquinho,
Aliado ao pensamento
Cada instante ainda eu tento
Vislumbrar uma esperança,
Mas meu passo se contrai
E a verdade então me trai
No vazio que me alcança.

30

Buscando nova certeza
Onde nada havia outrora,
O que tento e me devora
Gera apenas a tristeza,
O meu passo sem surpresa,
No vazio já se ancora,
O meu medo quando aflora
Deixa vaga a minha mesa,
Se eu pudesse ser diverso
E se tanto inda disperso
O meu rumo pela vida,
Nada vejo e nada sinto,
Este amor agora extinto
Não encontra uma saída.


31

Partindo pelas estradas
Sem estrelas a guiar
Onde quer que enfim parar
Só verei os mesmos nadas,
Procurara em alvoradas
Quem pudesse caminhar
E talvez até sonhar,
Mas as mãos são calejadas
Não encontro mais ninguém
E o que resta, ou me provém
Solitária vida errática
O temor de ser tão só,
Deixo atrás apenas pó
Quando a dor se faz enfática.

32

Nas noites enluaradas,
Onde há claridade imensa
O vazio se compensa
Adentrando as madrugadas,
Nas estâncias desoladas,
Esta lua me convença
Do que tanto quer e pensa
Mesmo as sortes debandadas.
Nada houvera e nada existe,
Mas se há lua, menos triste
Violão faz companhia
E em acordes tento ainda
A ilusão que se deslinda,
Mesmo quando nada havia.

33

Vou voando, passarinho.
Procurando algum remanso,
O vazio; ainda alcanço
E persisto assim sozinho,
Meu delírio eu adivinho
Onde outrora quis um manso
Caminhar e já me lanço
Neste prado em pleno espinho,
Outro dia é tudo igual,
O vazio um ritual
Freqüentado pelo sonho,
O meu rumo em solidão,
Só respondes, mesmo não,
Ao que inútil te proponho.

34

Menina me dê licença
Que este coração não cala
A vontade me avassala,
O caminho não compensa,
Onde quis a recompensa
Nada tenho; tento amá-la
E a verdade toma a sala
Nesta solidão imensa.
Quantas vezes; imagino
Os desmandos do destino
Dominando cada passo,
E se tento alguma dita,
A saudade não permita
Novo rumo que inda traço.

35


Ao contar meu dia a dia
Feito em tantas noites vãs,
Sem saber destas manhãs
Onde o sonho, o tempo adia,
A saudade domaria
Em tormentas que malsãs
Produzindo novas cãs
Em terrível agonia,
A certeza toma a cena
A mortalha já se acena
Como fosse uma promessa.
O meu vago caminhar
Sem certeza de chegar,
No vazio ora tropeça.


36

Enquanto a cabeça voa
Procurando uma razão
Outro dia, outro senão
Pensamento segue à toa,
Uma vida muito boa
Com fartura e precisão,
Não percebo e não virão
Novos dias; nada ecoa.
Risco o nome de quem dera
Revivesse a primavera
Que se foi há tantos anos,
Nos meus olhos invernais
Tão somente o nunca mais
Destruindo os parcos panos.


37

Vou falando de memória
Coisas tantas que passei,
Num mergulho imaginei
Nova sorte feita em glória,
Mas a vida é merencória
Dita a norma e manda a lei
Do que tanto não terei
Nem sinal, somente escória.
Sem escoras, sou aresta
Na verdade o que me resta
É um sonho e nada mais,
Onde houvera luz e paz,
Hoje a vida se desfaz
E destroça em mim o cais.

38

Nasci nas terras do nada
Onde a sorte já não guia,
Mergulhando em fantasia,
Procurando nova estada
O final regendo a estrada
Espalhando esta agonia,
Onde tanto mais queria,
Minha noite mais nublada,
Resoluto caminheiro
Entre espinhos eu me esgueiro
E mergulho neste caos,
O meu mundo então sombrio,
Quando em versos eu desfio,
Dias turvos, ledos, maus.

39

Lá pras bandas deste sonho
Nada mais eu pude então
A saudade diz do não
Onde tento e me proponho,
Mas um dia que enfadonho
Perde rumo e direção
E sabendo que verão
Meus olhares, o bisonho
Navegar em mar sombrio,
Cada dia eu desafio
E inda tento melhor sorte,
Mas sem ter quase esperança
Ao vazio já me lança
Quem deveras não conforte.

40

Saudade quando cutuca
E não deixa mais em paz,
É pior que Satanás,
Vai fungando em nossa nuca,
Meto a mão nesta cumbuca
E já sei o que ela traz
O desenho tão mordaz
Que deveras nos machuca,
Mas é bom lembrar que um dia
Noutra forma se faria
Não partisse quem eu quis,
Mesmo ausente e no abandono,
Quando da saudade adono;
Num instante eu fui feliz.


41

Maltrata meu coração
O saber que já não vens
E percebo em tais desdéns
O que toma a direção
Desta mesma negação
Onde sei que são reféns
Emoções e a solidão
Procurando e nada tens
O sorriso de esperança
No vazio já me lança
E percebo este cenário
Pelo menos poderia
Numa noite menos fria,
Um prazer imaginário.

42

Minha mãe foi benzedeira,
Mas não pode me curar
Deste mal de tanto amar
Onde a vida não se inteira,
Quer além do que mais queira
Invadindo céu e mar
A procura a disfarçar
Já não traz sequer bandeira,
O meu canto segue ausente
E por mais que ainda tente
Nada tenho senão isto
O vazio dentro em mim,
Solidão ganha no fim,
Mas decerto ainda insisto.

43

A melhor que havia lá
Das estrelas que podia
Transformar a noite em dia,
Mas meu sonho negará
E jamais, pois brilhará
Dentro em nós a fantasia,
Onde tanto mais queria
A certeza não mais há.
Vou cerzindo esta mortalha
Nela o tempo já se espalha
E traduz a noite em vão,
Sem estrelas nem luar,
O que tenho para amar
Traduzindo em solidão.

44

Curava qualquer saudade
Novo amor se inda viesse,
Mas não tendo esta benesse
A tristeza doma e invade,
O meu passo na verdade
Nem o sonho ainda tece,
O caminho já se esquece
E padece em falsidade,
Liberdade; para que?
O que sei e enfim se vê
Não permite qualquer luz,
O meu erro foi sonhar
Com talvez cada luar,
Onde nada se produz.

45


Qualquer doença se cura
Nos acordes da paixão
Mesmo quando há solidão
Novo tempo diz ternura,
Onde a sorte se assegura
Noutro rumo ou direção,
Adentrando o coração
A saudade nos tortura,
Mas a vida que promete
Muitas vezes não repete
O seu passo rumo ao farto,
E se ausenta este destino,
A tristeza eu determino
É pior do que o infarto.

46

Com a fé de quem rezava
Todo o dia um novo terço,
Meu amor eu sei de berço
Que em verdade esta alma escrava
Só traduz e quando quer
Outro rumo mais decente,
Onde amor já se apresente
Nos olhos desta mulher,
A vitória representa
Pelo menos um alento,
E se toma o pensamento,
Aplacando esta tormenta,
Quem sabe fará um sol,
E eu me faça girassol.

47

Dia inteiro, se preciso;
Na labuta deste sonho,
E se a vida eu te proponho
Qualquer passo mais conciso,
Na verdade eu me matizo
E procuro ser risonho,
Mesmo quando decomponho
O meu passo em prejuízo,
A viola que ponteio,
O luar estando cheio
Traz em mim felicidade,
Mas se tanto quero bem
Quem deveras nunca vem,
Cada acorde diz saudade.


48

Tanto mal ela curava,
A paixão por quem me quis,
Mas agora a cicatriz
Transformando o sonho em lava,
A verdade dita a trava
E o meu rumo se desdiz,
Se no fundo fui feliz,
A minha alma foi escrava,
Liberdade? Não conheço
Só percebo outro tropeço
E caído, não levanto,
Neste amor que já não veio,
Meu olhar diz do receio,
Meu caminho é desencanto.


49


E tá lá, no Paraíso.
Ou no inferno, tanto faz,
Quem se fez assim mordaz,
Neste solo, duro eu piso
E percebo no granizo
O meu ermo mais voraz,
A saudade quando traz
Outro sonho, o engano eu biso.
Esquecendo do passado,
O meu passo desolado
Só me traz o mesmo engodo,
Onde quis esta colheita,
A minha alma agora deita
Sobre o esgoto, o limo e o lodo.

50

Foi embora, a dor é tanta,
E já brota outra esperança
Onde o passo não alcança
Minha voz mais se levanta,
E se tanto quer e espanta
A verdade em tal fiança
No futuro não me lança
Fica presa na garganta.
Bem pudesse ser diverso
Do que tanto digo em verso
A temida solidão,
Mas que faço se não posso,
E se nada mais é nosso
Nem sequer a gratidão?

51

Se eu carrego a minha cruz
E decerto isto me cansa,
A saudade nunca é mansa
E também só reproduz
O que um dia se fez jus
E tramando outra aliança
O meu peito não avança
Mesmo quando o sonho eu pus.
Resoluto caminheiro
Entre tantos, o espinheiro
Fez de mim sua coberta
A verdade me maltrata
Se esta vida é sempre ingrata
Solidão nunca deserta.

52

Morreu sorte feito encanto
E decerto nada mais
Entre tantos, tu me trais
Esperança então espanto.
O meu passo eu não garanto
Espalhado em vendavais
Onde a vida diz jamais,
Eu coleto o medo e o pranto,
Canto diz do meu passado
E deveras desolado
Nada resta pro futuro,
E num vago caminhar
O que tento ser luar,
No final é ledo e escuro.

53

Mesmo dia que partiste
E levaste o coração,
Nada resta desde então
Só meu canto amargo e triste,
Se a saudade em mim persiste
Traduzida em negação,
É inútil o violão,
Passarinho sem alpiste,
Riscos tantos, noites frias
E contigo levarias
O melhor que existe em mim,
O caminho se perdendo,
Noutro rumo, e este remendo
Aproxima-se do fim.

54


Lá no Céu teve festança
Quando a vida se escancara
Ao mudar nossa seara
E trazendo uma esperança
Coração em brilho avança
E se bebe a noite clara
Na verdade se prepara
Para ver esta mudança,
Passo firme rumo ao quanto
Desejava e te garanto
Nada impede esta chegada,
Nova fresta em festa feita,
Quando amor já se deleita
Renovando a velha estrada.

55

Movida a muito forró
Minha luta me faz bem,
Quando amor amores tem
Já não sou tão triste e só,
Não mereço mais a dó
De quem sei traz em desdém
O que tanto lhe convém
A saudade vira pó,
Estradeiro coração,
Busca nova direção
Neste abraço mais singelo,
E se tanto sou assim,
Farto amor que existe em mim,
Dia a dia eu te revelo.

56

Teve prenda e teve dança,
Teve brilho na quermesse
Onde o peito em paz se tece
E promete uma mudança,
Quando a vida em luz avança
E se trama e já se esquece
Do vazio o sonho em prece
Gera nova confiança.
Um mineiro desconfia
E deveras noutro dia
Abre a porta e brinda à vida,
Quando vejo esta chegada
Esquecendo o pó da estrada
Bebo à sorte ressurgida.

57

Teve tudo o de melhor
Que pudesse ter na vida,
Quem prepara a despedida,
Se o caminho eu sei de cor,
No final é bem maior
A saudade distraída
Noutra face percebida,
Mas nos faz tanto pior.
O meu rumo em novo prumo
Quando quero amor e assumo
A vontade de querer,
Pouco a pouco tudo muda,
Esta estrada tão miúda
Já não traz qualquer prazer.

58

O meu peito sertanejo
Já não cansa de tentar
Encontrar algum lugar,
Olho em volta e nada vejo,
Tantas coisas o desejo
Ensinou a procurar,
Cada raio do luar
Aproveitando este ensejo.
O meu barco sem um cais,
Minha vida em temporais,
Sorte apenas longe, légua,
A saudade impertinente,
Cada dia mais se sente
Não sossega e não dá trégua.

59

Lavrador com muito orgulho,
Das palavras, minha enxada,
Ouso até na nova estrada
Onde em paz busco e mergulho,
Sem fazer muito barulho,
Vou cevando a madrugada
Na viola ponteada
Coração busco e vasculho,
A certeza à minha frente
Do caminho que apresente
Rumo certo em precisão,
Mas depois de tanta luta
Minha voz ninguém escuta
O meu canto é sempre em vão.

60

Lutando com tanto medo
Que carrego deste outrora,
A verdade me apavora,
Mais um passo eu já concedo
E fazendo um novo enredo
Onde o velho desancora,
O meu peito tempo afora
Desvendando este segredo,
O resumo desta vida
Traz enfim a despedida
Que também diz da saudade,
No caminho sem saída,
Sorte alheia e vã, perdida,
Cada passo desagrade.

61

Viveu sem fazer alarde
Nem tampouco se notava
A presença feito em trava
De quem nada mais aguarde,
O meu mundo já retarde
O caminho onde se lava
Tanto tempo se passava,
Mas a vida veio tarde,
O final se aproximando
E deveras desde quando
Eu nasci, foi sempre assim,
O começo enfim dizia
Do que agora esta agonia
Traduziu em vago fim.

62

A morte também, destino,
De quem tenta melhor sorte
Na verdade até conforte
E decerto determino
Deste os tempos de menino
Sem certeza e sem suporte,
Noutro rumo não aporte
O meu canto em desatino,
Cada cena mais atroz
Aumentando a sua voz
Diz do nada e nele sinto
O que outrora era esperança
No vazio andando trança
Este rumo agora extinto.

63

Levou meu sonho adiante
E se fez realidade,
Mas agora só saudade
Cada passo me garante,
Noutro rumo doravante
Procurar felicidade
E saber tranqüilidade,
Nada disto neste instante.
O desejo do moleque
Mesmo quando a sorte breque
Não traduz o que inda existe,
Do meu fardo tão pesado,
Sinto o corte no lanhado
Coração que tolo insiste.

64

Deixando, tal desatino
Como fosse qualquer rastro,
No vazio eu já me alastro
Nem um passo mais domino,
Onde outrora fui menino,
A lembrança traz no lastro
O caminho feito um mastro,
Mas o tombo eu determino,
No desejo mais atroz
No caminho feito em nós
E o delírio de não ter,
Ardorosa claridade
Resta apenas na saudade,
No meu mundo em desprazer.

65

Que, da lembrança jamais
Poderia imaginar
O que tanto quis amar,
E não veio nunca mais,
A verdade em dias tais
Impedindo algum luar,
No que possa machucar
Transbordando em temporais,
Nada além ainda resta
Nem sequer a menor fresta,
Nem aresta que se aponte,
O meu manto já puído,
O meu canto, este ruído
Ninguém ouve no horizonte.

66


Fiquei sozinho na lida
E não canso de tentar
Mesmo à toa acreditar
Na incerteza desta vida,
Encontrar uma saída
Onde eu possa caminhar
Sem temer me maltratar
Sem ausência e despedida,
Mas a sorte não se faz
Pra quem tenta a vida em paz
E não sabe mais o passo,
Incerteza; eu sei da tanta
E a verdade não me espanta,
No vazio eu me desfaço.

67

Sem mulher ou companheira,
Sem certeza pela frente,
O meu canto descontente,
O temor dita a bandeira
Onde quer queira ou não queira
O jamais já se apresente
E não mostre a mais contente
Decisão, a mais certeira.
O meu passo descompassa
Dos meus sonhos nem fumaça
Resta apenas a vontade,
E o sabor que agora trago,
Sem ninguém sem ter afago
Diz o gosto da saudade.

68

Tudo que tenho na vida
Já não vale esta incerteza
Dos meus sonhos, sou a presa
A palavra é despedida,
Noutro tempo em velha lida
Quem me dera uma surpresa,
Mas no fundo esta vileza
Traduzindo uma partida,
Quantas vezes percebi
Que jamais havia em ti
Nem metade do que eu sinto,
Onde havia qualquer luz
Mera cinza se produz
Qual vulcão agora extinto

69

É a viola e a varanda
Ao luar em serenata,
O que cura e que maltrata
Coração tolo desanda,
E pesando vou de banda
Nas searas desta mata,
Onde a sorte é mais ingrata
E a verdade diz demanda.
Nada tenho dentro em mim,
Tão somente de onde eu vim
Uma sombra meramente,
O meu canto não diz sorte
E jamais quem me conforte
Sinto aqui, perto ou presente.

70

Tenho o sol como meu guia,
Como fosse um helianto
E se tanto quero e canto,
Busco nova melodia,
Mas deveras a alegria
Já não passa e te garanto
De um cenário em medo e pranto,
Gira o sol em fantasia,
O resíduo de quem antes
Procurava por instantes,
Mas o brilho não mais vinha,
A certeza diz do nada,
Na manhã triste e nublada
A saudade é toda minha.


71

A lua por namorada,
Vem trazendo em raios belos
Os meus sonhos e castelos
A saudade desenhada
Noutro rumo, noutra estrada,
Onde os versos são rastelos
E os meus dias, seus anelos
Dizem desta rara estada
No caminho mais feliz
O cenário aonde eu quis
O desejo mais audaz,
Depois vejo a realidade
E a lembrança quando invade,
Não me deixa mais em paz.

72

Vou cantando todo dia
Procurando algum momento
Sem os tons do sofrimento,
Numa luz que se irradia
E traduz em poesia
O que sinto em desalento,
Se outra dita ainda tento,
O meu passo ludibria,
Sou errático andarilho
Quando inútil senda eu trilho
Nada encontro neste instante,
O meu sonho mais audaz,
O caminho já desfaz
Solitário doravante...


73

Canto só, sem ter paragem
Num delírio em tom maior,
Se este rumo eu sei de cor,
Já cansado da viagem
Não encontro quem acolha
Nem também inda me queira,
Sorte dura e derradeira,
Não me deixa mais escolha.
Resumindo a minha vida
No vazio que me deste,
O meu canto mais agreste
Não desvenda uma saída
Esquecendo o que inda resta,
Tento ao menos uma fresta.

74

Não quero cantar tristeza,
Nem tampouco solidão,
Mas meus dias desde então
Descem nesta correnteza,
E se tanto sou a presa
De quem diz somente não,
Revelando a ingratidão
Com terror e com destreza,
Nada além de mero verso,
Onde tento e sigo imerso,
Resta pouco ou quase nada,
A certeza de outro dia
Na verdade não havia,
Nem tampouco nova estrada.

75

Nem tampouco outra emoção
Adianta o passo quando
Dentro da alma vai nevando
Renegando este verão,
Os meus olhos não verão
Outro dia alegre ou brando,
O meu rumo se tornando
Tão somente em negação,
Tento além qualquer momento
E se busco ou mesmo invento
Nada resta do que eu busco,
O meu sol já não veria
Nem sequer um novo dia,
Mesmo arisco, tosco ou brusco.


76

Vou cantando sem destino
Estas mágoas que carrego,
O meu mundo num nó cego
Noutra face não domino,
O que outrora cristalino
Hoje turvo e já não nego
O delírio onde navego
Não vê cais, num desatino.
Arriscando um passo além
Na verdade nada vem,
A semente não germina,
O caminho perde o norte,
E sem ter quem me comporte,
Solidão é minha sina.


77


A beleza do sertão
Tão florido na invernada,
Mas a sorte desolada
Diz dos dias de verão,
Meu estio é solidão
E se traz decerto o nada,
Onde outrora a chuvarada
Vejo agora a ingratidão,
Risco o nome de quem amo,
Este sonho que inda tramo
Já não fala de ninguém,
Teu olhar ditando o norte
Traduzindo dor e morte,
Só penumbra em vão, contém.


78


A vida deu regalia
A quem tanto se fez mau,
O meu tempo em ritual
Traz somente a tez sombria,
E decerto a ventania
Expressando este venal
Delirar e, sempre igual,
Nada faz e nada cria,
Onde quis a liberdade
Incerteza ora degrade
E o meu canto em tal tristeza
Já não serve como alento,
E decerto ainda tento,
Numa fútil incerteza.

79

E tomou, sem perguntar,
Minhas mãos, esta temida
Sem saber de alguma vida
Foi levando devagar,
A certeza de chegar
O caminho em despedida.
Na seara então perdida
Sem ter nada nem lugar.
Visto as cores do abandono
E se tenho eu desabono
No meu ermo e vago passo,
Sendo assim e nada mais,
Quando sonho são banais
Os desenhos que inda traço.

80

Se era isso o que eu mais quis
Na verdade até não sei
A saudade dita a lei
E não deixa ser feliz,
Quase tive por um triz
Este amor que desenhei,
Mas depressa eu apaguei
Neste quadro escrito a giz,
O meu mundo sem partilha
O vazio compartilha
A tristeza e nada traz,
Sigo ausente de mim mesmo,
Quando muito me ensimesmo
Num momento em dor e paz.

81

Mas não posso reclamar
Quando a noite traz a chuva
A saudade; esta viúva
Não se cansa do luar.
Quero o sonho mais feliz,
Mas não pode ser assim,
Do começo sei o fim,
Muito além do que já quis,
O resumo desta história
Noutra história se envereda
E a verdade diz da queda
Mesmo quando é merencória,
Sendo assim nada mais tenho
A não ser mero desenho.

82

Foi Deus quem me deu o dom
De sonhar e não perder
A vontade de querer
Mesmo ausente qualquer som,
Ao manter na vida o tom
Quem sabe possa colher
Depois disto algum prazer,
Que não seja de neon,
O meu verso em paz procura
Mesmo quando em amargura
Qualquer sonho que me alente,
O senão a cada passo
Nele o rumo se eu refaço
Já me deixa mais contente.

83


Dessa viola tocar
Ao sentir a solidão,
Vou mudando a direção
E procuro divagar,
Vendo os raios do luar,
E bebendo a imensidão,
Vejo só e desde então
Quanto é bom poder sonhar.
Ter nas mãos tantas estrelas
E somente por contê-las
Dentro em mim já vale a pena
Mesmo até quando sozinho,
Sem ninguém, sem ter carinho,
Cada acorde me serena.


84

Quando dela me aproximo
Imagino novos dias,
E se tanto em agonias
Este mundo traz o limo,
Nos teus olhos me redimo
E deveras me trarias
Pelo menos fantasias,
E esta dor mato e suprimo.
O caminho se transforma
E trazendo a bela forma
Da mulher que eu quero tanto,
Mesmo quando está distante
Pensamento me adiante
E já traz em mim teu canto.

85

Canto sem pestanejar
Nada mais pode conter
O meu tanto bem querer
Mesmo quando a divagar,
O cenário a se mostrar
Noutra forma toma o ser
E se trama amanhecer
Bebo então a luz solar,
Mas a sorte é tão diversa
Prá princípio de conversa
Versa sobre a solidão,
E no fim da minha estada
Já não tendo quase nada,
Outros sonhos se verão?



86

Não quero amar a ninguém,
Já cansado deste sonho
Que deveras enfadonho
Só saudade ao fim contém,
Da esperança; ser refém
Um caminho tão medonho,
Outro rumo eu me proponho
Mesmo quando nada vem,
Resumindo a minha lida
Nesta história mal tecida
Novamente sigo alheio
Ao que passa e que rodeio,
Gestação dizendo aborto
Solidão domina o porto.

87


Nem me prender a Maria
Nem tampouco a quem vier,
Neste sonho outro qualquer
A saudade tomaria
E dizendo o dia a dia,
Nos anseios se puder
Outro rumo e nem sequer
O que tanto mais queria.
Versejando sobre o fato
Com tristeza me maltrato
E persisto vez em quando,
Mas cansado desta luta,
O meu passo já reluta,
Outro rumo; estou tomando.

88


Preciso de ter um bem
Que também queira sincero
Esperar o quanto espero
Deste mundo e não convém
Procurar e ver ninguém,
Num terror, momento fero
O caminho eu degenero
E mergulho no desdém,
Solitário aventureiro
Vou cevando o meu canteiro
Com cuidado e com denodo,
Mas aonde quis plantio
Só restou o duro estio
Ou então granizo e lodo.


89


Que a mim, não pertencia
Teu amor, eu já sei bem,
A saudade quando vem
Maltratando todo dia
Vai matando a poesia
E dos sonhos; ser refém
Condenado a tal desdém
Onde o verso mudaria.
Nada faço senão isto
Caminhar e não desisto
Cada passo diz do sonho,
Repentista abandonado
Incerteza diz enfado,
Mas ao novo eu me proponho.

90


Pois somente assim, menina,
Depois desta noite intensa
Todo sonho já compensa
Onde o passo determina,
A vontade diz da sina
E se tanto me convença
Deste amor em recompensa
Nada mais, ora fascina,
A certeza de outra esfera
Onde a paz, amor tempera
E mistura esta esperança
Num alento sem igual,
Deste prato comensal
Sem temor algum avança.


91

Ainda quando pude acreditar
Nas várias ilusões que a vida trama
Sabendo a cada queda, novo drama,
Tentando tão somente navegar,
Neste incomensurável ledo mar
O quanto do passado inda reclama
E dita com tristeza quando chama
Vontade neste abismo, mergulhar.
Os dias se repetem; solitários,
Os passos são deveras quais corsários
Saqueiam emoções e nada faço,
Somente o caminhar em meio às rocas
E quando alguma luz inda provocas,
Do todo que sonhara, um mero traço.


92

Não pude com certeza ter em mim
A sorte que deveras procurara
A vida na verdade é mais amara
E tento sem sucesso este jardim,
Aonde se pudesse ter enfim
A manhã esperada, bela e clara,
Mas quando a solidão vem e declara
O rumo se perdendo já sem fim.
Respaldos para sonhos? Nenhum tenho,
Do quanto desejei, frágil desenho
Imerso nos vazios de minha alma,
Somente a poesia traz ainda
Beleza nesta senda agora finda
E nesta voz suave, a vida acalma.

93

Esgarço-me porquanto tento ver
Algum relance aonde eu nada trago
Sequer a mera sombra, sinto o estrago
Causado pela vida em desprazer,
O quanto poderia então conter
E quando solitário, à vida indago
O corte se apresenta invés do afago
E a morte passo enfim a perceber.
Resumo neste nada a minha história
E sei desta senzala merencória
Aonde me adentrando sem saída,
Esgoto as minhas forças, sigo alheio
E quando ainda a luz, tolo rodeio
Percebo no vazio a minha vida.

94

Escombros de uma vida, tão somente
O fim do velho drama se aproxima,
E a sorte desditosa dita o clima
E nada; nem a sombra se apresente,
O quanto poderia estar contente
E a dita noutro rumo não estima,
A solidão impera e a dor me oprima
Deveras neste fardo impertinente.
Escusas procurando no abandono,
Quem sabe noutro mundo de algo adono
E possa ter um dia feito em paz,
Mas quanto mais procuro, esta verdade
Transformada insalubre diz e invade
E o sonho num instante se desfaz.

95

Meu verso se transborda em dor deveras
No fato de seguir em dor e medo,
Do todo que imagino; um arremedo
E tão somente negas; destemperas,
E quando noutro espaço sonhos geras
Expondo cada verso onde procedo
Ousando caminhar, sei do degredo
Atocaiando em mim diversas feras,
E os ritos se transcorrem tão iguais,
Os dias se aproximam e letais
Não deixam qualquer chance para quem
Tentando alguma messe desta vida
Percebe esta desdita e distraída
Mortalha se tecendo me contém.

96

Não posso me calar perante o fato
De ter apenas isto e nada além,
O quanto do vazio me contém
Resume na verdade o que resgato
E quando até quem sabe me maltrato
Ousando ver a face do desdém
A cena se repete e sem ninguém
O mundo se mostrara mais ingrato,
Restando para mim somente o não
Toando e refletindo a solidão,
Antiga companheira em desventura,
A marca penetrando em tatuagem
Do sonho que buscara; uma miragem
Que apenas na esperança vã, perdura.

97

Ouvindo a voz de quem se fez ausente
Depois de tantos anos, quem me dera
Pudesse renascer em primavera
Aonde inverno e frio se apresente,
O medo neste olhar duro e descrente
Enquanto a solidão ainda gera
E gesta cada passo em tola espera
Sem ter quem pelo menos dessedente,
Amante caminheiro do passado,
Um andarilho agora em tolo enfado,
Acende alguma luz noutra manhã;
Mas quando esta neblina doma o sol,
Agrisalhando em mim todo o arrebol,
Percebo a minha história, vil, malsã.

98

Perdidamente insano, nada vejo
Senão a mera sombra do que um dia
Talvez inda pudesse em fantasia
Gestar qualquer momento em novo ensejo,
O meu caminho eu sei ser malfazejo,
Já não comporta mais a sintonia,
E o tempo sem perdão jamais adia
E a morte a cada passo mais desejo.
Arisco o sonho foge e quando escapa
Tentando clarear a cinza capa
Expressa o que não tenho e nem terei,
Do tanto quanto quis e nada vinha,
Somente a solidão, eu sei que é minha,
Assim como vazia é minha grei.


99

Não pude com os olhos da clemência,
Eu não suportaria este sarcasmo,
O tanto quanto andara; agora pasmo,
Expressa neste olhar e impertinência.
O sonho com sofrível ingerência
Transforma vez em quando este marasmo,
Mas quando enfim me encontra, sempre pasmo,
O nada se situa em referência.
Fugazes sombras; vejo de uma sorte
Que morre sem ter fonte nem aporte,
Gerando esta aridez presente em mim,
O fato de sonhar já não ajuda
À vida na verdade tão miúda
Que vejo pouco a pouco ter seu fim.

100

Não quero mais saber da noite fria,
Tampouco desta estrela que não veio,
O meu olhar prossegue e mesmo alheio,
Rodeia o que minha alma fantasia,
O tempo se aproxima e a cada dia
O medo na verdade um devaneio
Expressa a solidão, mas não receio
A queda inevitável, agonia.
Semblante calmo eu sigo rumo à morte,
E nada mais se traça em ledo norte
Senão esta constância em solidão,
O manto em azulejo? Vago sonho,
O quanto mais ausente eu me proponho,
Mais fácil encarar a solução.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

42601 até 42700

001

Nessa curva da saudade,
Coração em capotagem
Já não segue mais viagem
E perdeu felicidade
Vivo tanta ansiedade
Do passado mero pajem
E se quero outra paisagem
A de outrora vem e invade.
Não consigo caminhar
Nem tampouco desenhar
Outra imagem no futuro,
O meu céu já não tem cor,
Revivendo o velho amor,
Algum novo; em vão procuro.

002

Encontrei meu bem querer
Nestas curvas do caminho
E não sigo mais sozinho,
Rumo ao claro amanhecer
Tanto amor me fez crescer
E esquecer o velho espinho,
Novo canto eu adivinho
Nas estâncias do prazer,
Vivo em ti esta certeza,
Sigo em mansa correnteza
Deixo além a solidão,
Nos desejos mais felizes
Superando velhas crises
Novos dias se verão.

003

Procurei algum remanso
Nos caminhos de minha alma,
Conhecendo cada palma
O vazio sempre alcanço,
Quando o dia fosse manso,
Nos meus olhos, tanta calma
Se este amor decerto acalma,
Nos seus braços me esperanço,
Volta e meia quero mais
E saber dos desiguais
Caminhares deste rio.
Um lugar bem mais suave,
Onde em paz já nada agrave,
É o que tento e desafio.


004

A razão para eu sonhar
Nos olhares da morena,
Ao sentir a noite amena,
A viola a pontear
Na varanda este luar
O desejo já se acena,
A saudade que envenena
Faz o sonho delirar,
Quero apenas um momento
Onde amor e encantamento
Possam sempre estar comigo,
Sorte diz ao coração
Dos acordes, violão
Na seresta, em paz, prossigo.

005

Mas, me deixaste sozinho,
Depois disso nada faço,
Tanto amor pedindo espaço
Passarinho perde o ninho,
O meu mundo de mansinho
Noutro mundo teimo e traço,
Nos meus olhos o cansaço
No teu canto eu já me aninho.
Vicejando a primavera,
Mas a solidão tempera
O que tanto pude ver,
E sabendo da verdade,
A tristeza vem e invade
Dominando o bem querer.

006


Coração tão sem juízo
Aprontando assim das suas,
Entre céus, estrelas nuas
Vejo o sonho em paraíso
Todo o amor que mais preciso
E deveras continuas
Como em ti houvesse luas
Transtornando em mim o siso.
Festejando esta alegria
De quem tanto poderia
Ter ao menos um momento,
Onde a paz viesse inteira,
Mas a noite companheira,
É decerto o meu alento.


007


Foste buscar n’outros braços,
Este amor que eu tanto quis,
E se sou tão infeliz
Os meus dias seguem lassos,
Os cigarros, tantos maços,
O meu passo por um triz
Coração de um aprendiz
Carregando os seus cansaços,
Visto o sonho e nada vejo,
O meu tempo malfazejo
Azulejos; não permite,
O que tanto quis um dia
Morre em noite amarga e fria,
O meu canto é meu limite.


008


Aquilo que eu quis te dar
E jamais pudesse então,
Ao mostrar a direção
De um diverso caminhar,
Leva às tramas do luar
Escurece o meu sertão
E no fundo o coração
Já não sabe mais amar,
O meu velho companheiro
Que se fez um caminheiro
Sem saber desta paragem,
Ao beber desta saudade
Morre aos poucos, na verdade
Já cansado da viagem.


009

Meus olhos ficando tristes
Sem ter nada nem ninguém,
A saudade quando vem
E lembrando que inda existes,
No caminho onde persistes
Já não vejo qualquer bem,
Tão somente este desdém
Por vazios onde insistes,
Lua mansa em noite clara,
A saudade se declara
E projeta outro momento,
Algum cais bem mais tranqüilo,
Nos meus sonhos eu desfilo,
Mas somente, em dor invento.


10


Silêncio no meu cantar
Nada além deste vazio,
O meu sonho eu desafio
Adentrando céu e mar,
Onde outrora fui buscar
As certezas deste rio,
Encontrando um ar sombrio,
Já não pude mais sonhar,
O meu verso se perdendo,
O meu canto algum remendo,
Outro passo eu necessito,
Venço as curvas do caminho
E prossigo em vão, sozinho,
Rumo ao caos neste infinito.

11


Já negaste a redenção
E me deste como luz
O que tanto se produz
Nesta turva imensidão
O meu verso desde então
Na verdade em contraluz
Transformado em dor e cruz,
Novos sonhos, canto em vão,
E se tento alguma sorte
O que sempre me conforte
Já não serve para nada,
A saudade é dolorida,
Mas regendo a minha vida
Retornando à mesma estrada.

012

Por que foste tão cruel?
Bastaria dizer não,
Eu bebendo a solidão
Costumeiro e cinza véu,
No que posso sempre ao léu
Sem ter rumo ou direção,
Passageiro da ilusão
Tão distante de algum céu.
Sigo vago e tenho em mim,
A certeza deste fim,
E não posso mais saber
Dos momentos mais felizes
Onde tudo contradizes
Sonegando algum prazer.


013

Quis te dar minha amizade
Num momento até pensei
Que de tanto em vão sonhei
Encontrara a claridade,
Mas decerto agora invade
A tristeza, dura lei
E do todo onde passei
Nem a sombra da verdade.
O vazio no meu peito,
O meu mundo insatisfeito,
Meu choroso coração,
Noutros dias poderia
Ter apenas fantasia,
Uma chuva de verão.

014

Nem o olhar quiseste bem
E se tanto nada sou
O que agora me restou
Dita as normas do desdém,
O passado quando vem
Demonstrando aonde vou
O caminho se entranhou
Nas angústias, vivo aquém.
O meu passo rumo ao nada
A certeza de outra estrada
Poderia haver no peito
De quem sabe caminhar
E cansado de lutar
E jamais vai satisfeito.


015

Para falar deste amor
Que doendo traz em mim,
A certeza de algum fim
Pobre e triste cantador,
Nos meus sonhos, dissabor,
A verdade diz enfim
Da incerteza do jardim
Que não sabe mais da flor,
Esperança é colibri
E se tanto eu te segui
Nada tive, nem lembranças
E se ainda quero agora
O que tanto se demora
Ao vazio tu me lanças.


016


Eu preferia morrer
Ao saber da solidão
Teu olhar de ingratidão
A vontade de querer
E não tendo este prazer,
A mortalha é solução
O meu canto sempre em vão
No vazio a percorrer,
Olho em volta e nada vejo,
O meu sonho benfazejo
Na verdade uma mentira,
O que a vida me daria
Novamente a fantasia
Pouco a pouco já retira.


017

A viver sem teu carinho
É melhor eu ir embora,
A saudade quando aflora
Produzindo novo espinho,
E o meu mundo mais daninho
Pouco a pouco desarvora
E se tanto quero agora,
Do vazio eu me avizinho,
Bebo um gole da saudade
E o que tanto ainda invade
Já não deixa mais espaço,
O meu mundo tu destróis
E sem ter os teus faróis,
Esperança já não traço.

018

Meu coração vagabundo
Já cansado de sofrer
Procurando um bem querer
Vasculhando todo o mundo,
No vazio me aprofundo
E no fundo sem saber
Onde existe o meu prazer
Do vazio eu já me inundo.
Resistindo ao quanto pude,
Na distante juventude
Não encontro nem a sombra
De quem tanto desejava,
A minha alma sendo escrava
No não ser ora se assombra.

19


A vida segue doendo,
Não consigo mais parar
A sangria a me tomar,
Meu amor, mero remendo,
O que tanto percebendo
Já não posso adivinhar,
Onde existe algum lugar
Mais bonito ou estupendo,
Caminhando no vazio,
A certeza em desvario
Rio seco, alma também,
E o meu canto sem destino,
Na verdade não domino,
Quando a noite, triste, vem.

20

Eu, na vida, solitário
Sem saber de alguma chance
Onde o passo não alcance
Meu caminho sempre é vão
Ouço sempre o mesmo não,
E meu canto se balance
Quando além já não alcance
Nem sequer a solução.
Resistindo ao quanto pude
A verdade, em atitude
Tão somente nos liberta,
Meu destino já sem rumo,
Na verdade toma o prumo
Desta vida mais incerta.


21

Na vida, sigo sozinho
Sem paragem e descanso
Quando além do sonho alcanço
O meu mundo eu adivinho,
Se deveras sou daninho
Na verdade sem remanso
O meu passo não avanço
E percorro o descaminho,
Onde quis algum momento
De alegria este tormento
Não me deixa mais sonhar,
De que vale a noite bela,
Se o meu peito não revela
Nenhum raio do luar?

22

E ninguém, de mim falando
Nem pensando ou mesmo até
A saudade diz da fé
De outro dia, ao menos brando,
Mas amor; não sei nem quando
Eu encontre mesmo a pé
O delírio por quem é
A verdade desenhando.
O meu canto noutro tempo
Sem temor ou contratempo
Já dizendo da alegria,
Mas se nada trago em mim,
Onde levo até o fim,
Esta estrela que não guia?


22

Quero somente te ver
E jamais eu consegui,
Meu amor que existe em ti
Já não sabe mais colher
O que tanto quis prazer
E jamais eu prossegui
E sabendo desde aqui
O caminho do sofrer,
Não pretendo outra viagem
O meu canto em homenagem
Ao desejo mais feliz,
Tanto tempo sem colheita,
A saudade insatisfeita
Vai fazendo o que bem quis.


23

Não consigo te esquecer
Nem tampouco quero mais,
Entre tantos temporais
Esta dor tomando o ser,
O meu canto a se perder
Nos caminhos desiguais,
Se eu pudesse, mas jamais
Conheci qualquer prazer,
A certeza do vazio,
O meu canto; assim desfio
E percebo que ao final,
Das promessas recebidas,
Foram tantas despedidas,
Neste mundo sempre igual.


24

Marcada por essa sina
De lutar e não sentir
As vitórias no porvir,
O desejo determina
A verdade me alucina
Nela eu posso presumir
O que tanto perseguir
Onde o mundo já termina,
Ondas tantas, mares fortes,
E se nada mais suportes,
Por que vens aqui comigo?
O meu tempo se perdendo
No final, eu sou remendo
Nem descanso eu mais consigo.


25

Minha vida não tem graça
Nem teria algum alento
E se tanto ainda tento
O caminho em dores passa,
Do meu canto só fumaça
E também o pensamento
Vive a dor e o sofrimento
No terror onde se faça
A verdade diz do quanto
Eu procuro e desencanto,
Nada canto, solidão.
O meu mar já não tem peixe,
A saudade não me deixe
Respirar o coração.


26


Sem saber, és assassina,
De quem tanto amou na vida
E sem ter mais a saída
O final já determina,
Onde a vida me alucina
Vejo a história em vão perdida,
Resumindo a minha lida
Nesta mesma, desatina.
Entre as cores mais bonitas
Eu sei quanto necessitas
Do brilhar de uma esperança,
Mas meu verso sem estilo
Caminhando mais tranqüilo,
Nos teus braços já se lança.

27

Culpada por este engano
Esta esperança danada,
Já não deixa minha estrada
Vai mudando cada plano,
No final sei que me dano,
E não vejo outra alvorada
O luar sobre a calçada
Ouço ao longe algum piano,
O meu verso em desenredo
Tanto amor eu te concedo
E no fundo não me escutas,
As saudades tomam tudo,
E se tento ou já me iludo,
Elas são bem mais astutas.

28

Que se abate sobre mim
A incerteza de um futuro
Onde meu amor procuro,
Sem florada o meu jardim,
O tivesse dentro em mim,
O meu porto mais seguro,
Na verdade em chão tão duro
O plantar me diz do fim,
Moça bela na janela
O meu peito enfim revela
A beleza que queria,
Mas a noite sem a lua
E a saudade continua,
Noite a noite, dia a dia...

29


Não sabes que és tão venal
Quando dizes sempre não,
O meu rumo e direção
Esbarrando sempre igual,
Num desejo magistral,
Mas no fundo eu sei que é vão,
Não pudesse ser senão
Dos amores, nem sinal,
Enveredo a mesma estrada
Alameda dando em nada
A colheita já perdida,
Sendo assim o tempo todo,
Do meu passo em pleno lodo,
Traduzindo a minha vida.

30

Meu amor, por caridade,
Não maltrate quem te quer
Nos teu corpo, sem sequer
O que tanto em claridade,
Poderia e não invade
Neste anseio de mulher
Que deveras se quiser
Toma toda esta saudade,
A verdade é que te quero
E se eu sou bem mais sincero
O meu verso te procura,
Mas no fundo não mais vens
Só encontro vãos desdéns.

001

Nessa curva da saudade,
Coração em capotagem
Já não segue mais viagem
E perdeu felicidade
Vivo tanta ansiedade
Do passado mero pajem
E se quero outra paisagem
A de outrora vem e invade.
Não consigo caminhar
Nem tampouco desenhar
Outra imagem no futuro,
O meu céu já não tem cor,
Revivendo o velho amor,
Algum novo; em vão procuro.

002

Encontrei meu bem querer
Nestas curvas do caminho
E não sigo mais sozinho,
Rumo ao claro amanhecer
Tanto amor me fez crescer
E esquecer o velho espinho,
Novo canto eu adivinho
Nas estâncias do prazer,
Vivo em ti esta certeza,
Sigo em mansa correnteza
Deixo além a solidão,
Nos desejos mais felizes
Superando velhas crises
Novos dias se verão.

003

Procurei algum remanso
Nos caminhos de minha alma,
Conhecendo cada palma
O vazio sempre alcanço,
Quando o dia fosse manso,
Nos meus olhos, tanta calma
Se este amor decerto acalma,
Nos seus braços me esperanço,
Volta e meia quero mais
E saber dos desiguais
Caminhares deste rio.
Um lugar bem mais suave,
Onde em paz já nada agrave,
É o que tento e desafio.


004

A razão para eu sonhar
Nos olhares da morena,
Ao sentir a noite amena,
A viola a pontear
Na varanda este luar
O desejo já se acena,
A saudade que envenena
Faz o sonho delirar,
Quero apenas um momento
Onde amor e encantamento
Possam sempre estar comigo,
Sorte diz ao coração
Dos acordes, violão
Na seresta, em paz, prossigo.

005

Mas, me deixaste sozinho,
Depois disso nada faço,
Tanto amor pedindo espaço
Passarinho perde o ninho,
O meu mundo de mansinho
Noutro mundo teimo e traço,
Nos meus olhos o cansaço
No teu canto eu já me aninho.
Vicejando a primavera,
Mas a solidão tempera
O que tanto pude ver,
E sabendo da verdade,
A tristeza vem e invade
Dominando o bem querer.

006


Coração tão sem juízo
Aprontando assim das suas,
Entre céus, estrelas nuas
Vejo o sonho em paraíso
Todo o amor que mais preciso
E deveras continuas
Como em ti houvesse luas
Transtornando em mim o siso.
Festejando esta alegria
De quem tanto poderia
Ter ao menos um momento,
Onde a paz viesse inteira,
Mas a noite companheira,
É decerto o meu alento.


007


Foste buscar n’outros braços,
Este amor que eu tanto quis,
E se sou tão infeliz
Os meus dias seguem lassos,
Os cigarros, tantos maços,
O meu passo por um triz
Coração de um aprendiz
Carregando os seus cansaços,
Visto o sonho e nada vejo,
O meu tempo malfazejo
Azulejos; não permite,
O que tanto quis um dia
Morre em noite amarga e fria,
O meu canto é meu limite.


008


Aquilo que eu quis te dar
E jamais pudesse então,
Ao mostrar a direção
De um diverso caminhar,
Leva às tramas do luar
Escurece o meu sertão
E no fundo o coração
Já não sabe mais amar,
O meu velho companheiro
Que se fez um caminheiro
Sem saber desta paragem,
Ao beber desta saudade
Morre aos poucos, na verdade
Já cansado da viagem.


009

Meus olhos ficando tristes
Sem ter nada nem ninguém,
A saudade quando vem
E lembrando que inda existes,
No caminho onde persistes
Já não vejo qualquer bem,
Tão somente este desdém
Por vazios onde insistes,
Lua mansa em noite clara,
A saudade se declara
E projeta outro momento,
Algum cais bem mais tranqüilo,
Nos meus sonhos eu desfilo,
Mas somente, em dor invento.


10


Silêncio no meu cantar
Nada além deste vazio,
O meu sonho eu desafio
Adentrando céu e mar,
Onde outrora fui buscar
As certezas deste rio,
Encontrando um ar sombrio,
Já não pude mais sonhar,
O meu verso se perdendo,
O meu canto algum remendo,
Outro passo eu necessito,
Venço as curvas do caminho
E prossigo em vão, sozinho,
Rumo ao caos neste infinito.


11


Já negaste a redenção
E me deste como luz
O que tanto se produz
Nesta turva imensidão
O meu verso desde então
Na verdade em contraluz
Transformado em dor e cruz,
Novos sonhos, canto em vão,
E se tento alguma sorte
O que sempre me conforte
Já não serve para nada,
A saudade é dolorida,
Mas regendo a minha vida
Retornando à mesma estrada.

012

Por que foste tão cruel?
Bastaria dizer não,
Eu bebendo a solidão
Costumeiro e cinza véu,
No que posso sempre ao léu
Sem ter rumo ou direção,
Passageiro da ilusão
Tão distante de algum céu.
Sigo vago e tenho em mim,
A certeza deste fim,
E não posso mais saber
Dos momentos mais felizes
Onde tudo contradizes
Sonegando algum prazer.


013

Quis te dar minha amizade
Num momento até pensei
Que de tanto em vão sonhei
Encontrara a claridade,
Mas decerto agora invade
A tristeza, dura lei
E do todo onde passei
Nem a sombra da verdade.
O vazio no meu peito,
O meu mundo insatisfeito,
Meu choroso coração,
Noutros dias poderia
Ter apenas fantasia,
Uma chuva de verão.

014

Nem o olhar quiseste bem
E se tanto nada sou
O que agora me restou
Dita as normas do desdém,
O passado quando vem
Demonstrando aonde vou
O caminho se entranhou
Nas angústias, vivo aquém.
O meu passo rumo ao nada
A certeza de outra estrada
Poderia haver no peito
De quem sabe caminhar
E cansado de lutar
E jamais vai satisfeito.


015

Para falar deste amor
Que doendo traz em mim,
A certeza de algum fim
Pobre e triste cantador,
Nos meus sonhos, dissabor,
A verdade diz enfim
Da incerteza do jardim
Que não sabe mais da flor,
Esperança é colibri
E se tanto eu te segui
Nada tive, nem lembranças
E se ainda quero agora
O que tanto se demora
Ao vazio tu me lanças.


016


Eu preferia morrer
Ao saber da solidão
Teu olhar de ingratidão
A vontade de querer
E não tendo este prazer,
A mortalha é solução
O meu canto sempre em vão
No vazio a percorrer,
Olho em volta e nada vejo,
O meu sonho benfazejo
Na verdade uma mentira,
O que a vida me daria
Novamente a fantasia
Pouco a pouco já retira.


017

A viver sem teu carinho
É melhor eu ir embora,
A saudade quando aflora
Produzindo novo espinho,
E o meu mundo mais daninho
Pouco a pouco desarvora
E se tanto quero agora,
Do vazio eu me avizinho,
Bebo um gole da saudade
E o que tanto ainda invade
Já não deixa mais espaço,
O meu mundo tu destróis
E sem ter os teus faróis,
Esperança já não traço.

018

Meu coração vagabundo
Já cansado de sofrer
Procurando um bem querer
Vasculhando todo o mundo,
No vazio me aprofundo
E no fundo sem saber
Onde existe o meu prazer
Do vazio eu já me inundo.
Resistindo ao quanto pude,
Na distante juventude
Não encontro nem a sombra
De quem tanto desejava,
A minha alma sendo escrava
No não ser ora se assombra.

19


A vida segue doendo,
Não consigo mais parar
A sangria a me tomar,
Meu amor, mero remendo,
O que tanto percebendo
Já não posso adivinhar,
Onde existe algum lugar
Mais bonito ou estupendo,
Caminhando no vazio,
A certeza em desvario
Rio seco, alma também,
E o meu canto sem destino,
Na verdade não domino,
Quando a noite, triste, vem.

20

Eu, na vida, solitário
Sem saber de alguma chance
Onde o passo não alcance
Meu caminho sempre é vão
Ouço sempre o mesmo não,
E meu canto se balance
Quando além já não alcance
Nem sequer a solução.
Resistindo ao quanto pude
A verdade, em atitude
Tão somente nos liberta,
Meu destino já sem rumo,
Na verdade toma o prumo
Desta vida mais incerta.

21

Na vida, sigo sozinho
Sem paragem e descanso
Quando além do sonho alcanço
O meu mundo eu adivinho,
Se deveras sou daninho
Na verdade sem remanso
O meu passo não avanço
E percorro o descaminho,
Onde quis algum momento
De alegria este tormento
Não me deixa mais sonhar,
De que vale a noite bela,
Se o meu peito não revela
Nenhum raio do luar?

22

E ninguém, de mim falando
Nem pensando ou mesmo até
A saudade diz da fé
De outro dia, ao menos brando,
Mas amor; não sei nem quando
Eu encontre mesmo a pé
O delírio por quem é
A verdade desenhando.
O meu canto noutro tempo
Sem temor ou contratempo
Já dizendo da alegria,
Mas se nada trago em mim,
Onde levo até o fim,
Esta estrela que não guia?


22

Quero somente te ver
E jamais eu consegui,
Meu amor que existe em ti
Já não sabe mais colher
O que tanto quis prazer
E jamais eu prossegui
E sabendo desde aqui
O caminho do sofrer,
Não pretendo outra viagem
O meu canto em homenagem
Ao desejo mais feliz,
Tanto tempo sem colheita,
A saudade insatisfeita
Vai fazendo o que bem quis.


23

Não consigo te esquecer
Nem tampouco quero mais,
Entre tantos temporais
Esta dor tomando o ser,
O meu canto a se perder
Nos caminhos desiguais,
Se eu pudesse, mas jamais
Conheci qualquer prazer,
A certeza do vazio,
O meu canto; assim desfio
E percebo que ao final,
Das promessas recebidas,
Foram tantas despedidas,
Neste mundo sempre igual.


24

Marcada por essa sina
De lutar e não sentir
As vitórias no porvir,
O desejo determina
A verdade me alucina
Nela eu posso presumir
O que tanto perseguir
Onde o mundo já termina,
Ondas tantas, mares fortes,
E se nada mais suportes,
Por que vens aqui comigo?
O meu tempo se perdendo
No final, eu sou remendo
Nem descanso eu mais consigo.


25

Minha vida não tem graça
Nem teria algum alento
E se tanto ainda tento
O caminho em dores passa,
Do meu canto só fumaça
E também o pensamento
Vive a dor e o sofrimento
No terror onde se faça
A verdade diz do quanto
Eu procuro e desencanto,
Nada canto, solidão.
O meu mar já não tem peixe,
A saudade não me deixe
Respirar o coração.


26


Sem saber, és assassina,
De quem tanto amou na vida
E sem ter mais a saída
O final já determina,
Onde a vida me alucina
Vejo a história em vão perdida,
Resumindo a minha lida
Nesta mesma, desatina.
Entre as cores mais bonitas
Eu sei quanto necessitas
Do brilhar de uma esperança,
Mas meu verso sem estilo
Caminhando mais tranqüilo,
Nos teus braços já se lança.

27

Culpada por este engano
Esta esperança danada,
Já não deixa minha estrada
Vai mudando cada plano,
No final sei que me dano,
E não vejo outra alvorada
O luar sobre a calçada
Ouço ao longe algum piano,
O meu verso em desenredo
Tanto amor eu te concedo
E no fundo não me escutas,
As saudades tomam tudo,
E se tento ou já me iludo,
Elas são bem mais astutas.

28

Que se abate sobre mim
A incerteza de um futuro
Onde meu amor procuro,
Sem florada o meu jardim,
O tivesse dentro em mim,
O meu porto mais seguro,
Na verdade em chão tão duro
O plantar me diz do fim,
Moça bela na janela
O meu peito enfim revela
A beleza que queria,
Mas a noite sem a lua
E a saudade continua,
Noite a noite, dia a dia...

29


Não sabes que és tão venal
Quando dizes sempre não,
O meu rumo e direção
Esbarrando sempre igual,
Num desejo magistral,
Mas no fundo eu sei que é vão,
Não pudesse ser senão
Dos amores, nem sinal,
Enveredo a mesma estrada
Alameda dando em nada
A colheita já perdida,
Sendo assim o tempo todo,
Do meu passo em pleno lodo,
Traduzindo a minha vida.

30

Meu amor, por caridade,
Não maltrate quem te quer
Nos teu corpo, sem sequer
O que tanto em claridade,
Poderia e não invade
Neste anseio de mulher
Que deveras se quiser
Toma toda esta saudade,
A verdade é que te quero
E se eu sou bem mais sincero
O meu verso te procura,
Mas no fundo não mais vens
Só encontro vãos desdéns.

31


Amor com loucura e cautela,
Nosso delicioso segredo,
Que jamais seja degredo;
Sinto-me a mais desejada donzela
A singrar os mares de tua emoção,
Luz, calor, erupção...
REGINA COSTA

Tanto amor, mas sem cautela
Sem pudores, sem temor
Quanto mais em teu sabor
O meu gozo se revela,
A vontade já se atrela
No delírio multicor
Traduzindo o pleno amor,
Noite clara, intensa e bela,
Navegando em cada instante
No teu corpo se garante
A alegria mais ardente,
Neste jogo tão audaz,
Que deveras satisfaz
E nos toma plenamente.

32


Ao vestir-me com tua pele,
Bebes em mim
Puro néctar,
Sabor de minha flor
A te saciar com amor,
Olor de tesão e furor,
Força que nos compele..
Regina Costa

Saciando o meu prazer
Neste teu prazer também
Nosso caso sabe bem
Da delícia de um querer,
Que jamais esquece o ser
E decerto quando vem
Dos delírios um refém,
Tão gostoso de viver.
Num orgasmo refletido
O que tanto da libido
Expressara com ternura,
Toda noite, sem juízo
Redimido em Paraíso
O meu corpo te procura.

33


Velejando em Você

Velejar é uma arte como a arte de amar...
Iniciar uma vida no mar de amar
Requer instrumentos básicos, por assim dizer,
Lastro para que tenha bom equilíbrio
(saúde emocional...)

Vela Mestra para auxiliar no equilíbrio e
Direção do barco
Trabalhando em conjunto com o leme e
Contra peso dos tripulantes
(saber o que se quer...)

Vela Buja, uma vela menor,
Mas não menos importante,
Responsável pela potência ou tração do veleiro,
Por natureza é um acelerador,
Mas quando mal regulada
Funciona como um freio,
(amor embotado pelo ciúme ou egoísmo...)

Em conjunto as duas são usadas
Para navegar contra o vento,
“Orçar”,
Voltar-se para o lado do vento,
Servindo-se de leme
(sabedoria e generosidade...)

Vela Balão, geralmente é uma vela colorida,
Exige muita coordenação dos tripulantes,
Principalmente nas manobras
(sonhar com os pés no chão e o coração nas nuvens)

Leme para dar a direção
(maturidade e autonomia...)

Biruta destinado a indicar a direção dos ventos
(respeito à individualidade...)

Nossa regata é da classe Optimist
(meninos a navegar...)

Considerada o ponto de partida para o esporte
(...de chegada para sempre se deliciar...)

Vivemos com o coração no mar porque é lá
Que lavamos nossa alma;
Um sonho transcendental
Tendo o mar
Como testemunha e
Ninguém mais;
Vamos com o contra-vento,
Retornamos com o vento a favor;
Velejando em você nessa amplidão
O sol nasce e se põe
Levando-nos da realidade a ficção.

REGINA COSTA
Nota:
Classe Optimist de Vela: composta por velejadores de 7 a 15 anos, é considerada o ponto de partida para o esporte. É um barco seguro, não afunda e é fácil de montar.

Nos caminhos, mares, céus
Tantas vezes me entregando
Ao delírio desde quando
Adentrara em fogaréus
Ilusões, diversos véus
Neles vejo desnudando
Direção se encaminhando
Ao unir os dois ilhéus,
Arquipélagos em sonho,
O que em ti eu me proponho
Traduzir navegação,
Timoneiro ou comandante,
Nosso caso doravante
Tem por norte o coração.

34


De tanto escrever na areia
A saudade de quem tenta
Na vontade mais sedenta
Noutro encanto já rodeia
Se a minha alma devaneia
Enfrentar qualquer tormenta
Nos teus braços apascenta,
Mas a vida segue alheia,
O teu nome o mar carrega,
Esta dita eu sei que é cega
E traduz o quanto quero,
Deste amor que nada cessa,
Muito além de uma promessa,
Movediço, mas sincero.

35


O teu nome, minha amada,
Nas estrelas encontrei
Procurando em toda grei
Onde houvesse uma alvorada
Esta sorte desenhada
Nos caminhos que trancei
No delírio me entranhei,
Muitas vezes sem ter nada,
Outro tempo necessito,
E se quero este infinito
Dentro em mim belo ditame
O desejo mais feliz
Nele o canto em paz eu fiz,
Reclamando quem já me ame.

36

E, depois, na maré cheia,
A saudade foi embora
Neste corpo onde se aflora
O desejo que incendeia
A minha alma segue alheia
No teu corpo ora decora
O delírio onde se ancora
A vontade devaneia,
Resistindo o quanto pude
Não tomando outra atitude
Sou só teu e nisto alcanço
O melhor lugar; garanto
E não tendo dor ou pranto,
No teu colo o meu remanso.

37

Não sobrar, dele sequer
Um sinal em sofrimento
Desamor gera o tormento,
Mas redime se vier
Noutra face esta mulher
Onde o sonho eu alimento
E se tanto quero atento
O desejo onde puder.
Saciada a minha fome
Neste bem que nada dome,
O delírio mais audaz,
Coração insaciável
Num cenário imaginável
Encontrando enfim a paz.

38


De tanto sonhar contigo,
Esqueci de o meu sonhar,
Onde possa navegar
E não veja mais perigo,
O que tanto quero e sigo
Sem vontade de parar,
Ânsias raras, claro mar,
Coração audaz e antigo
Resumindo esta promessa
Onde tudo recomeça
Sem ter pressa, sigo assim,
Vou além do que pudera
Renascendo em primavera
Reflorindo este jardim.

39

Buscando teu colo amante
O meu canto mais feliz
Na verdade sempre diz
Do desejo delirante
E se faz a cada instante
Sem temor ou cicatriz
O que o tempo agora quis
E seguindo doravante
Num desejo sem igual,
O caminho magistral
Entre estrelas e luar,
Aprendendo sem temor
Num delírio sem pudor
Como é bom poder te amar.


40

De tanto querer em vão
Pelo menos um segundo
Onde tanto me aprofundo
Nos ermos do coração,
Vago em noite imensa e o chão
Como fosse vagabundo
Cabe além de todo o mundo,
Nesta imensa dimensão,
Esgotando em verso e luz
O que tanto reproduz
Em vontade mais sublime,
No passado este vazio,
Hoje imenso e claro rio
Neste amor que me redime.


41

Eteral Amor

Você é da dimensão
Do sutil,
Do sensual e
Do sensorial
Te olhar e olhando...
Perco a noção do tempo.
Te tocar e tocando...
Perco a noção do espaço.
Te ouvir e ouvindo...
Perco a noção do audível.
Te falar e falando...
Perco a noção do vocábulo.
Te querer e querendo...
Perco a noção do certo e errado.
Te penetrar e penetrando...
Perco a noção de tudo.
Te sentir e sentindo...
Me perco achando-me em todos os sentidos.
Regina Costa


Amor ganhando espaço plenamente
Traduz o que deveras mais anseio,
Sentindo a maciez de cada seio,
Penetro os teus caminhos, lentamente,
E quanto mais desejo a gente sente,
A vida se traduz e sem receio
A cada novo passo mais permeio
Com todo este delírio imensamente.
Vagando sem destino e sem fronteira
Aonde quer que mais se pense ou queira
Não tendo mais pudores, sou só teu,
Meu mundo no teu mundo se envereda
Pagando com prazer, mesma moeda,
A plenitude em ti se conheceu.


42

Poder ter teu pensamento
Junto ao meu e nada além
Do carinho que contém
Alegria em tal momento,
E se dele me alimento
O que sei e sinto bem
Na verdade sei também
No teu corpo o meu alento,
Cada instante mais e mais
Quero os sonhos fascinais
E percebo ser assim,
Nosso caso em puro amor,
Onde a vida sem rancor
Transcorrendo até o fim.


43


Vasculhando todo o chão
Semeando com ternura
O que tanto se procura
Muitas vezes dita o grão,
Outro tempo num verão
Nossa sorte me assegura
A verdade diz brandura
E deveras sedução,
Sendo teu e não me canso,
Encontrando em ti o manso
Delirar onde o poeta
Sabe bem o que mais quer,
Sem ter dúvida sequer
Do que tanto me completa.

44


Em busca d’um só desejo
Onde possa desvendar
Cada gozo do luar
Em momento mais sobejo,
Quando em ti estrelas vejo
Neste belo desenhar
O caminho a se traçar
Desenhado em azulejo,
Num mergulho sinto o abraço
E o desenho em paz eu traço
Deste amor, raro delírio,
A saudade do passado,
Noutro tempo desenhado,
Mera sombra de um martírio.

45

Podendo estar a teu lado
Não me canso um só segundo,
Nos teus ermos me aprofundo
Coração enamorado,
Onde outrora desolado,
Na verdade hoje me inundo
E seguindo em novo mundo
Tenho rumo abençoado,
Versejando um sertanejo
No luar agora eu vejo
Cada raio dos teus olhos,
Das floradas, primavera,
Meu amor recolhe e gera
Tantas flores, ricos molhos.


46

No final de cada verso
A vontade é de rimar
Com delírio o nosso amar
E gerar novo universo,
Onde outrora fui diverso
Do que tento ao caminhar,
Hoje aos raios do luar,
Tanta luz também disperso,
Vago solto em cada trilha
E decerto o sonho brilha
E produz a iridescente
Maravilha de ser teu
Que meu canto concebeu
Neste amor já se apresente.

47

Por acreditar em ti
A certeza me tomando
O coração mais brando
Traz o quanto percebi,
Ao sentir amor previ
Novo mundo desenhando
Outro mundo desde quando
Tanta luz eu mereci,
Ao saber e ter certeza
Desta forte correnteza
Onde embarco o coração,
Sei que os dias são assim,
Mergulhando dentro em mim,
Vejo em ti a direção.


48

Por não crer mais, nem em mim,
Tão cansado da batalha
Onde o nada já se espalha
Sem sequer algum jardim,
Meu amor princípio e fim
Do caminho onde a navalha
Traz no fio o corte e entalha
O delírio dentro em mim,
Meu amor já não sabia
Da beleza deste dia
Onde o sol inteiro eu vejo,
Nos teus braços adormeço
E conheço este endereço
Nele mora o meu desejo.

49

No que fui, tanto sabia
E deveras não mais tenho
Senão vejo este ferrenho
Caminhar em poesia,
Minha sorte todo dia
Muda logo o desempenho
E se agora não desdenho
O que outrora conhecia,
O meu verso em nova sorte
Traduzindo já comporte
Este porto dentro em nós,
O meu rio busca o mar,
E bem sei onde encontrar
Nos teus braços, minha foz.

50


Queimando a dor no meu peito,
A saudade do meu bem
E decerto quando vem,
Nos seus braços inda deito,
Vou fazendo de meu leito
O que tanto sei também
Deste sonho sou refém,
Mas no amor vou satisfeito,
Tanto tempo sem te ter,
Tanto quero te querer
E jamais me cansaria
De poder imaginar
Teu regaço é meu lugar,
Nele ancoro a poesia.


51

Juízo

Aonde?
Onde foi esquecido
Aquele que sempre foi o fiel?
Perdi, nem percebi!
E, agora?
Mente desregulada,
Coração tendencioso,
Atitude precipitada!
O que faço?
O perigo nunca me atraiu;
Boa menina,
Aferida...
Identidade atordoada!
Onde foi que (me) perdi?
Vou confessar,
Que eu demore
Um pouco mais
Para (me) achar!
Regina Costa

Perdido nos teus braços eu me achei
E sei que nada mais quero da vida
Senão a sorte agora concebida
E nela este prazer ditame e lei,
Vencendo os meus pudores entranhei
Na senda mais audaz e sem saída,
O gozo em cada messe repartida
Traduz o quanto quero e quererei.
No tanto que desejo os teus anseios,
Delírios entre coxas, pernas, seios,
Caminhos para a benção mais sublime,
Tentáculos e línguas procurando
Vagando sem destino desde quando
O templo mais perfeito o tempo estime.

52


Tua flor

Sinta a suavidade,
A beleza e o aroma da minha flor
Que prá você sempre se abre
Em ardor sem pudor...
Beba na minha taça
O néctar que por ti
Derramou;
Morda os lábios de desejo,
Feche os olhos e
Sinta meu beijo...

REGINA COSTA

Sentindo este delírio em corpos nus,
Os néctares atraem colibris
E gozos mais audazes e gentis,
No quanto nosso amor faz sempre jus,
Ao tanto sem limites me propus
Após esta erupção eu peço o bis,
E todo o meu caminho sempre quis
Gerar o que deveras fosse luz
Guiando o pensamento, qual falena,
Meu corpo no teu êxtase serena
E sabe desvendar cada segredo,
Ao penetrar suave cada furna,
O quando deste anseio me afortuna
Recebo na medida em que concedo.


53



Eu digo sim!
Não gosto de morno,
Se for prá ser quente
Que seja fervendo;
Na primeira loucura
Vale tudo!
Só se for agora,
Rápido,
Sem demora;
Meu corpo está em chamas,
Vem assoprar as brasas...
Regina Costa

No incendiário beijo em fúria e gozo,
Desvendo os teus anseios mais profanos,
E os corpos entre ritos soberanos,
Desfrutam deste toque majestoso.
O canto se fazendo mavioso,
Os erros do passado, os desenganos,
Retalhos esquecidos, ledos panos
Caminho agora sinto caprichoso,
A deusa, a santa, a dama e a cortesã
A noite adentra em fogo esta manhã
E continua até que saciados,
Dois corpos lassos bebem deste sol,
Refletem tal beleza, qual farol,
Hedônicos portais abençoados.

54

Acordar ao teu lado
Seria como despertar num sonho
Prá viver uma realidade encantada,
Tão sonhada quanto desejada;
O café seria o mais gostoso de
Nossas vidas, com sabor
De nudez, sexo e avidez...
REGINA COSTA

Delírios de manhã, em avidez,
Os corpos tão famintos e sedentos,
Recebem dos prazeres os proventos
E tudo o que foi feito se refez,
Enquanto estás desnuda, insensatez
Tomando a direção, rosa dos ventos,
Bebendo cada gota os sentimentos
Aonde sem meu leme tu me vês,
Adentro porto manso e furioso
E assim se prometendo novo gozo,
O desjejum prossegue pelo dia,
E a fome na verdade só aumenta
E quanto mais em ti minha alma atenta,
Vontade que jamais nada sacia.


55


Vieste...
Com água na boca,
Com língua e saliva,
Com mãos atrevidas,
Com olhos iridescentes;
Ouvi ao longe:
Amo-te e te quero...
Te recebi com meu corpo desnudo,
Minh’alma despojada,
Minha pele dourada,
Minha flor umedecida e latente...
Em sonho vieste...
Regina Costa

Desejo desvendado a cada toque,
Na umedecida foz, suavemente
O quanto da vontade mais se sente,
O amor já não se guarda num estoque
O tempo com furor sempre desloque
Os dedos, lábios, língua no envolvente
Anseio que se mostra mais premente
A cada vez que roça e se provoque,
Na tépida loucura em tropicais
Caminhos entre estrelas, quero mais,
E sinto extasiada a fêmea enquanto
O sol adentra o quarto e nos revela
Ao clarear inteira esta janela
Meu corpo o teu, cutâneo manto.

56

Ultrapasse a Faixa Amarela

Vem...
Você, eu permito,
Mas sem demora,
Há risco do juízo voltar,
Estou num ponto que ainda
Dá pra recuar se o medo
Me (re)tomar;

Vem...
Com você eu quero,
Vamos viver o que nunca vi, vivi,
Entrega, mistura de corpos em
Ebulição, combustão, erupção
Numa explosão de desejo,
Sonho, impedimento, esperas;

Vem...
Comigo
Prá vivermos essa paixão
Inseminada por versos,
Gestada de afetos;

Vem...
Já é tempo de (re)nascer,
Romper a ‘bolsa’,
Já não cabe nem uma gota
De suor, saliva, fluido;

Vem...
Vamos!

Regina Costa

Deliciosamente sem fronteiras,
As nossas bocas seguem em tal fúria,
E os corpos sem temor, medo ou lamúria
Do jeito que te quero e tanto queiras,
Vontades sempre lúbricas, bandeiras
Do que pareça mesmo alguma incúria,
O gozo não suporta uma penúria,
Fartando-se nas horas corriqueiras,
E quero mais que o mero gozo teu,
Repetes outros tantos no apogeu
Em múltipla explosão, em farta lava,
Meu corpo se embebeda do rocio
E neste derramar me propicio
Também outra explosão, a alma se lava...


57

Eu quero a santa, a deusa uma vadia
Numa explosão conjunta e multicor
Razão para viver o farto amor
Que tantas vezes busco e se irradia,
Profana a divindade esta bacante,
Num ato mais audaz, seios e pernas,
As noites entre nós são bem mais ternas
E nelas cada instante é provocante,
Ao saciar assim cada vontade,
Sem medos ou fronteiras nem pudores
Do jeito e da maneira sem te opores
O mel que tu me dás também te invade,
O jogo não tem fim e recomeça
Numa ânsia tão fantástica e sem pressa.

58

Quero viver um segundo,
Deste pouco que me falta
Na verdade quando exalta
Coração domina o mundo,
O meu sonho, um giramundo,
No sacrário ou nesta malta
O desejo que me assalta
Nele tanto me aprofundo,
Vou bebendo cada gole
Da saudade quando bole
Machucando devagar
E de noite cada noite,
O teu corpo já me açoite
Neste louco navegar.

59

Em ti, o meu novo rumo
Onde perco a direção,
Vou buscando a solução
E o prazer eu quero e assumo,
E sorvendo inteiro o sumo,
No teu corpo já me aprumo
E encontrando o meu verão,
Neste tanto, pois virão
Os meus sonhos em resumo.
Eu te quero e não me canso,
O teu porto, calmo e manso
Aguardando o marinheiro,
Que se fez em vis procelas
E se amor tu me revelas,
Naufragando por inteiro.

60

São palavras que lamento
As saudades e a distância
O meu canto em discrepância
Solto vaga pelo vento,
Mas quando vejo e me atento
No caminho em elegância
Tanto sol em paz. Alcance-a
Neste mesmo pensamento.
Meu desejo em teu anseio
Quanto mais eu devaneio
Mais encontro a solução,
Esboçando este sorriso,
Adentrando o Paraíso
Acordando o coração.

61



Neste louco navegar
Sensações das mais diversas
Absorta sem conversas
Vou tentando mergulhar
No prazer da descoberta
E o teu corpo mapear...

Nas volúpias das carícias
Meu prazer é me entregar
Me perder nas mil delícias
Junto a ti, poder estar.

Ana Maria Gazzaneo

O meu corpo te procura
E deseja mais ainda
O que a noite já deslinda
Desenlaces da loucura,
Tanta luz rara ternura
Quando amor, amores brinda
E saudade já se finda
Nestes laços em brandura.
Ao tecer teu corpo ao meu
Enalteço e no apogeu
Eclosões num mar profundo
De teus méis maravilhosos
Em delírios, vários gozos
Eu também ora me inundo.


62


Gostaria de ter o poder de
)))Equalizar Você(((

Roubar,
Possuir tua tutela,
Insana e despudoradamente,
Alheia a qualquer convenção moral,
Apenas ligada, comprometida com o desejo,
Vencendo o medo,
Rompendo a castidade,
Pelo menos uma vez na vida...
Ser tua mulher, deidade, rainha, cortesão...
Irresponsável, louca,
Dona e fora de mim mesma;
Vem...
Conhecer, desvendar, usufruir
Do meu “manual de instruções”.
REGINA COSTA

Dessedento esta vontade
Nos acordes de um desejo
E aproveito cada ensejo
Onde vejo a divindade
Que desnuda tanto agrade,
E no encanto agora eu vejo
O meu mundo benfazejo,
Sem saber mais da saudade,
Profanando em tal delícia
O teu corpo com malícia
Sobre sedas e cetins,
A desnuda fera então
Num momento de tesão
Acedendo os estopins.

63


No meu corpo o teu se atrela
Deliciosa sensação
Bem grudado se enovela
Lá se vai nossa razão
Tanta fome se revela
Sem qualquer mediação
A não ser sabida, aquela
Que acalma essa tensão.

Ana Maria Gazzaneo

Em teu corpo dessedento
A vontade mais feroz,
E juntando em firmes nós
Cada vez mais incremento
O delírio de um momento
Que pensara mais atroz,
Sendo teu escravo e algoz,
Este encanto em alimento,
Bebo à farta e quero mais,
Em suores, gozos sais
Penetrar este templário
Onde a deusa já desnuda
No meu corpo atrela, gruda,
Neste encanto imaginário.

64

Não paro de te desejar,
de querer viver na pele
tudo com você,
o que sonhamos
Navegando por mares de emoções,
amor, ternura, paixão, excitação...
Regina Costa

Por um mar feito emoção
Em desenhos mais felizes,
Ao sentir o que me dizes
Tantos gozos se farão
E decerto esta amplidão
Muito além das cicatrizes
Sem as nuvens tristes grises,
Maravilhas tecerão
Meu desejo é teu anseio
E adentrando cada veio
Descobrindo toda loca,
O teu corpo ensandecido,
Num instante, num gemido,
Majestoso me provoca.

65

São verdades que não digo,
Nem tampouco me interessa
Quando amor nega a promessa
Sonegando algum abrigo,
Já não sigo mais contigo
Nem sequer eu tenho pressa,
Minha vida se endereça
Muito além deste castigo,
Encontrando em ti o rumo,
No que tanto me acostumo
Bebo fartos goles quando
O desejo se transforma,
E deveras toma a forma
Deste sonho me inundando.


66


Tanto ardor, tanto tormento,
Tanto medo trago em mim,
De sentir agora o fim
Numa ausência, num lamento,
Quando em paz eu já fomento
Este amor e quero assim
Caminhar e ter enfim
Paz sem medo e sofrimento,
Resoluto navegante
Onde o mundo me garante
Tanto brilho a cada passo,
No meu âmago percebo
Quanto amor de ti recebo,
E o futuro em luz eu traço.


67

Vida correndo sem medo
Do que possa vir após,
Coração entende a voz
E decifra este segredo
Onde tanto me concedo
Sem saber do vento, algoz,
Renascendo agora em nós
O que cerzi novo enredo,
Nos cinzéis que trago na alma
A beleza já me acalma
Esculpindo esta promessa,
Deste amor que tanto quero,
Mais presente e menos fero,
Onde a vida recomeça.

68

Minha sede nesta fonte
Saciada a cada dia,
Nela toda a fantasia
Com certeza já desponte
E transforme este horizonte
Muito além do que eu veria,
Nesta farta alegoria,
Onde o mundo em paz aponte,
Quero estar sempre contigo
E deveras eu persigo
Esta sorte todo instante,
No meu mundo em tez mais clara,
Toda a glória se declara
Neste amor que me agigante.

69


Matando mais que vontade
Seduzindo o coração
Tantas noites mostrarão
O que eu busco de verdade,
Quando além mais alto brade
E perceba esta amplidão
Devaneio, imensidão
Mato em ti qualquer saudade,
Venço os medos e proponho
Muito além de mero sonho,
Um real caminho e agora
O que tanto quero e penso
Num delírio quase imenso,
Num instante vem e aflora.

70


Ao sentir duas beldades
Belas ninfas neste rio,
Um delírio em desafio
Onde em sonho tu me invades,
Bebo assim felicidades
Em completo desvario,
Neste instante ora desfio
Mais que raras divindades,
Êxtase supremo eu vejo
Num anseio do desejo,
Como fosse o próprio Zeus,
E ao sentir tal fantasia,
A carícia propicia
Entre tantos; apogeus.


71

Delicie-se somos fadas,
Absolutamente tuas, a
Saciar teus desejos,
Cobrir-te de beijos e gracejos
Nesse rio de amor!
Regina Costa

Sendo um sol com duas luas
Em superna natureza
Adentrando com destreza
Duas deusas belas, nuas
E deveras tu flutuas
Dos anseios sou a presa,
E se tanto a correnteza
Trama as sortes, raras, duas.
Encantado cavaleiro
Neste canto enluarado
Ao sentir a cada lado
A presença de um luzeiro,
Entranhando-se de luz
Também luzes reproduz.

72

Foi embora, mas, fiquei
Esperando a sua volta,
O meu peito sem revolta
Aguardando em mansa grei
O que tanto desejei
Novo sonho sem escolta
Se esta mão a minha solta,
Nunca os nós eu desatei.
Ao partir também levando
O que fora calmo brando,
Mas restando uma esperança
O meu sonho te acompanha,
Por planície, mar, montanha,
Logo, logo já te alcança.

73


Esperando te encontrar
Depois destas ilusões
Onde tanto amor expões
E me trazes teu luar,
Bebo sempre a me fartar
Das diversas emoções
E juntando corações
Permitindo o bem de amar,
Visto o sol que tu me deste,
Mesmo em tempo mais agreste
A colheita é garantida
Se o amor nos traz em festa
O cenário agora gesta
Produzindo nova vida.


74

Dessas dores do passado
Já não quero mais notícias
Minha vida em tais delícias
Novo tempo desenhado,
Onde o sol claro e dourado,
Sem temor e sem sevícias
Adentrando estas carícias
Noutro rumo demonstrado,
Sendo assim somente teu,
Este amor já se escondeu
Entre as brumas dos teus braços,
E os momentos mais audazes
Com delírio tu me trazes,
Mesmo em dias meros, baços.

75


Não consigo nem lutar
Contra as dores de quem tenta
Ao vencer a virulenta
Noite fria sem luar,
Ao caminho me entregar
E saber desta sangrenta
Tempestade violenta
Dominando todo o mar,
Quem me dera se eu pudesse
E tivesse esta benesse
De contigo estar agora,
Mas a noite solitária,
Dura e mesmo temerária
Em neblinas já se aflora.


76

Quero afinal, meu descanso,
Depois desta luta insana
Coração eu sei se dana
Quando nada mais alcanço
E se tento algum remanso
A saudade tanto engana,
O meu peito se profana,
No vazio enfim me lanço,
Prepotente tarde vã
Com certeza tão malsã
Já não diz de lua cheia,
A semente se perdendo,
No meu corpo este remendo
De outro nada se permeia.


77



A brilhar e saltitar
Numa dança bela e lúdica
Enleamos em pleno gozo
Nossas juras mais profanas,
E quando o dia se fez noite,
Lua e Estrela cobrem o Sol
Com um envolvente manto.

REGINA COSTA

Encontrando a claridade
Em tais astros redentores,
Aprendendo os mil sabores
Deste amor que nos invade,
Neste fogo em tempestade,
Renascendo multicores
Caminhares onde fores
E decerto sempre agrade,
A quem tanto quis o dia
Com a lua em plenitude,
Desejar mais do que pude
E deveras me traria
Uma tríade divina
Que deveras me fascina.

78

No mais sagrado remanso
Onde tudo começara,
Transbordando esta seara
No caminho em paz me lanço
E se tanto me esperanço
Quando a vida se escancara
A saudade desampara
O calor em ti alcanço,
Mas a vida tem seus erros
E condena aos vis desterros
Quem se fez um sonhador,
Nas diversas magnitudes
Tu seduzes, mas iludes,
Gera espinho e traz a flor.



79


Teimando em nunca temer
Os erráticos caminhos
Procurando pelos ninhos
Onde eu pude perceber
A beleza do teu ser
E se tanto são daninhos
Os momentos mais mesquinhos,
Negam todo o bem querer,
Ao sentir esta vontade
Um desejo sem igual,
No teu corpo sensual,
Ir até saciedade
Respirando um ar tranqüilo
Nos teus braços me perfilo.

80


Achando, sem valentia,
Quem pudesse ser diverso
E bebendo cada verso
Novo tempo poderia,
E saber desta sangria
Onde vive este universo,
O meu canto segue imerso
Procurando a poesia,
Resumindo em ti a vida,
Minha sina é presumida
Num alento e tão somente,
Até mesmo onde não pude
Vejo a rara magnitude
Deste amor que se apresente.


81


Deitado aprecia nossa dança,
Encanto e movimento a se atrelar,
Fascinado sente e sorve o
Doce orvalho matinal,
A se deliciar com fluidos e olores,
Feromônios a embriagar, oralidade,
Sedução, torpor,
Tríade de amor!
Regina Costa

Numa louca maravilha
Caminhando em mesmo passo,
Com anseio sigo e traço
Onde lua em sol palmilha,
Outra estrela também trilha
E sobejo encanto enlaço
Revigora cada espaço
Deste céu que farto brilha,
Os hormônios, as libidos
Entremeiam-se gemidos
Explosões em nebulosas,
Pois ao ver tanta beleza
Mesmo a própria natureza
Também goza quando gozas.


82

Onde encontrar meu querer,
É também lá que estarei
No delírio desta grei
Aprendi a conhecer
As delícias de um prazer
E se tanto mergulhei
Neste encanto desenhei
Outro mundo a merecer
Um caminho em claridade
Neste sol que agora invade,
Nossa vida se transforma,
E deveras noutra forma
Com sublime magnitude
O meu mundo se transmude.

83


Seja noite ou seja dia,
Nada impede o passo quando
A vontade dominando
Gera a glória em fantasia
Muito mais do que podia
Outro tempo desenhando
Novo rumo se mostrando
No caminho em poesia,
Um cenário multicor
Traduzindo em tal torpor
Esta imensa liberdade
E se tento com firmeza
O caminho em tal destreza
Trace os rumos da verdade.

84

Montado nesse alazão
Num tropel já constelar
Bebo as tramas do luar
Vejo as sanhas da ilusão
E se tanto em direção
Ao delírio caminhar
Poderia me entranhar
No teu corpo desde então,
Em sortidas cores vejo
O que tanto benfazejo
Versifica uma alma nobre,
E o cenário em cores fartas
Dele nunca mais te apartas,
Rara luz já te recobre.

85

Nunca mais saber teu nome
Nem sequer onde escondeste
Meu amor desde que deste
Caminhar já não mais dome,
Tantas vezes nos consome
O delírio e concebeste
Um delírio e percebeste
Que este amor sempre se some,
Transformando em magna luz
O que tanto reconduz
Ao mais farto desejar
Onde tanto se promete
Coração trama e arremete
À vontade de sonhar.

86

Nem querer te conhecer
O meu peito poderia
Fosse a vida em agonia
E no rumo perceber
O desenho a se tecer
Produzindo a fantasia
Nela rara alegoria
Eu pudesse conceber
Ao te ver enamorada,
Outra sorte desejada
Num momento mais feliz,
Eu te quero e não mais nego
E se tanto amor carrego
Tenho tudo o quanto eu quis.

87


Preferia, assim, talvez
Encontrar sem medo ou tédio
Neste amor santo remédio
Onde a glória mor se fez,
O meu mundo em tanto brilho
Seduzido e sedutor
Nos anseios de um amor
Neste tanto maravilho
O meu passo rumo a ti
E se pude então em paz
O caminho já se faz
E esta glória eu percebi
Ao sentir tanta fartura
Que decerto hoje perdura.


88


Delícia em dobro,
Sonhada e realizada
Consteladas no céu de tua boca,
Perdemo-nos nessa viagem sensorial
Entre sussurros e gemidos
Ecoa o teu bramido...
Regina Costa

O delírio de um momento
Em composta luz prismática
Colocando assim na prática
O que quer o pensamento,
E se agora em ti me invento
No delírio da temática
Ao mudar a matemática
Dois mais um, raro incremento
E deveras isto explica
Em tal cena bela e rica
Passo a ver e necessito:
Multiplicações diversas
Entre orgásticas conversas
Ao chegar ao infinito.


89

Sabendo que tudo ensina
Quem se fez mais que perfeito
No teu passo eu me deleito
Modifico a minha sina
Uma história antes ladina
Hoje o rio muda o leito
E se faz em raro pleito
Estuário que fascina,
Sendo teu e nada além
O que tanto me convém
Com certeza também quis
Na verdade em consonante
Caminhar sempre adiante
Deixa a gente mais feliz.


90

Vivendo amor sem fronteiras
Onde tanto quero e vens
Nossos sonhos, fartos bens
E decerto também queiras
Entre nós as verdadeiras
Esperanças já conténs
E se eu sigo sem desdéns
Sou refém destas bandeiras
Meu amor eu reconheço
Já sabendo do endereço
Desta deusa feita humana,
Não se cansa de buscar
Mesmo em furioso mar
O prazer que nos ufana.



91



Ao brincar de par ou ímpar,
Minha escolha é par
Para senti-lo ajustado a mim,
Sendas, mãos e corações
Sem divisões como um ímã
Unindo nossos desejos e emoções...
Regina Costa

O meu corpo atado ao teu
Neste insano desenhar
Um mosaico a se entranhar
Demonstrando este apogeu,
Quando o rumo se perdeu
E bebeu do farto mar,
No desejo de tocar,
O que é teu também é meu.
Passageiros e parceiros
Nas floradas dos canteiros
A certeza deste fruto,
Coração bate agitado
Num caminho desenhado
Onde dou, ganho e desfruto.

92

Nem escolhendo parada
Nem tampouco qualquer dita
A minha alma necessita
Desta tua iluminada
E seguindo mesma estrada,
Onde a sorte se acredita
Na beleza que infinita
Perpetua esta alvorada.
Transportando o coração
A quem possa desde então
Encontrar o que procuro,
Meu caminho pela vida
Só encontra esta saída
No teu porto, o mais seguro.


93

Devorando a madrugada
Olhos fixos neste caos
Em delírios, os degraus
Desta mesma e longa escada,
Sorte imensa que ancorada
Traz em si os bens e os maus,
Novos dias, nossas naus
Vencem vento em vã lufada.
Resumindo nossa sorte
Onde tanto se comporte
Da maneira mais sutil,
Versos calmos, dia manso
No teu corpo já descanso
Onde o porto em paz se abriu.

94

Da poeira, companheiro,
Solitário navegante
Sabe quanto doravante
No teu corpo já me inteiro,
E se fosse jardineiro
No momento radiante
Ao cuidar eu me adiante
E perceba o jasmineiro
Recebendo o teu perfume
Minha sorte em ti se aprume
E desenhe este momento,
Onde possa ser feliz,
E se tanto bem o quis,
Neste encanto enfim me alento.


95


Pudera acreditar aonde um dia
O tempo se mostrara mais diverso
E quando cada passo em vão disperso
Tentando desfrutar da fantasia
Aonde na verdade poderia
Gestar dentro de nós um universo
E quando para ti, amada eu verso,
Eu sei da noite amarga e mais sombria,
Restando quase nada do que outrora
Ainda vez em quando desarvora
E gera outro tormento ou na tempesta
Que a vida se integrara sem sentido,
O tempo noutro tempo diz olvido,
E apenas a saudade à dor se empresta.


96

Egresso de uma indócil caminhada
Por tantas vis searas, vida afora,
O quanto do terror ainda aflora
E deixa a minha vida desolada,
A morte noutra face desenhada
O corte se aproxima e revigora
A fúria do abandono e desde agora
Percebo que ao final não terei nada,
Funâmbulo quedado sobre o solo,
Das dores e temores se me assolo
Eu visto a hipocrisia quando tento
Sentir alguma luz onde se vê
A vida sem sentido e nem por que,
Parindo a cada ausência o sofrimento.

97


Errático percorro sem talvez
Saber qualquer paragem senão esta,
A solidão deveras mais funesta
E nela o que resumo ainda vês,
Tomado por total insensatez
O pouco desta sorte que me resta
Esbarra no vazio e em cada aresta
Expressas a temida estupidez.
Alheio aos meus diversos fátuos sonhos
Os passos que inda tento são bisonhos,
Desprezos entre ausências, sigo assim,
No quanto imaginário fosse o canto,
Apenas no vazio eu desencanto
E vejo bem mais próximo o meu fim.

98


Em solilóquio tento uma resposta
E sei que nada vem senão mentiras,
E quando dos meus olhos tu retiras
A cena noutra cena decomposta,
Reparo cada face com a exposta
Verdade em dores fartas, tantas tiras
Embora com certeza tu prefiras
O que bem sei agora me desgosta.
Expresso em verso o sonho mais audaz,
E quando nada além me satisfaz
Pereço turbulento caminheiro,
Vagando sobre as pedras do caminho,
O quanto sei que sou ora daninho
Refaz o meu jardim em espinheiro.

99

Ao ver o teu retrato eu percebi
Que tudo fora mesmo uma ilusão
Os olhos tão vazios, na amplidão
Distantes do que outrora havia aqui,
E assim neste momento eu conheci
A chuva mais voraz de algum verão
E novos dias logo mostrarão
A falsa garatuja exposta em ti.
Aprendo com a vida, mas também
O sonho quando inútil nos convém
Ilude quem caminha sem sentido,
O teu retrato exposto na parede
Demonstra a solidão em leda sede
No ocaso finalmente resolvido.

100

Estáveis noites tento mesmo quando
Eu sei que na verdade vou sozinho,
E quando do teu sonho me avizinho
O mundo noutro esgar se transmudando,
Resumos desta vida em ar infando,
O vértice se mostra então daninho
E o corte prenuncia este caminho
Aonde no verão sinto nevando.
Orgásticas loucuras do passado,
Agora noutro instante estou calado
E sigo o que me manda a consciência,
Do amor quando se fez em magnitude
Apenas este olhar que tanto ilude
Causado pela imensa prepotência.