sábado, 24 de março de 2012

Não mais que meros dias entre tantos

Não mais que meros dias entre tantos
Os olhos percebendo esta emboscada
E a senda há tanto tempo desgraçada
Marcada por temíveis desencantos,

Os versos prenunciam ledos cantos
E o sonho se desfaz não deixa nada
Ao menos restaria outra alvorada
E dela com certeza novos prantos,

As lutas e batalhas costumeiras
E nelas o que tanto agora esgueiras
Espelham as bandeiras do passado,

No pó desta lembrança o que se faça
Apenas resumindo esta trapaça
De um jogo tantas vezes desolado...

Loures...

As cores verdadeiras que trouxeste

As cores verdadeiras que trouxeste
Num prisma mais audaz; já diluídas
Expressam com certeza nossas vidas
No tempo mais feroz em luta agreste,

O tanto que se queira nos empeste
E marque sem saber velhas saídas
Estradas que passara, despedidas,
E o mundo noutro tom em vão reveste,

Os templos entre ocasos e fatais
Momentos que contemplo sempre iguais
Traduzem nos altares falsas luzes,

E sei que a cada engano mais recebo
O sonho feito fosse algum placebo
Que inútil e sem proveito, reproduzes...

Loures

Não mais que tantas vezes do neon

Não mais que tantas vezes do neon
Em festas se fez vida e nada além
Do mundo que deveras já não vem
Trazendo o quanto fora outrora um dom,

Ouvindo o mais distante e tosco som,
Lembrando na verdade de ninguém
E quando se espelhasse sem ter quem
Acreditasse enfim num claro tom,

Agonizando acordes noite afora,
A sombra do que fomos me devora
E amenizando a queda apenas vejo

Acenos de um passado mais sombrio,
E quando novo encanto desafio,
Ao longe se percebe o vago ensejo...

Loures

Idolatrando erráticos conceitos

Idolatrando erráticos conceitos
Dos tantos que me trazes noite afora,
O medo quando invade e me apavora
Traduz os meus anseios satisfeitos,

Não quero mais sentir os tais efeitos
Dos termos quando a luta já devora
Apascentando o todo que ora ancora
E nisto dita a morte em seus preceitos,

Eu quero na verdade o que não pude
Trazer a cada engano em plenitude
E mostro tão somente a falsa cena,

Da farsa feita em glória e convencido
Do quanto deveria e já perdido,
A luta tão somente me condena...

Loures

Não creio nos meus próprios passos quando

Não creio nos meus próprios passos quando
O mundo se desenha em tons sublimes
E mesmo quando além de tudo estimes
O verso noutro tom irei moldando,

Ainda quando possa me entregando
Vencer o que de fato me redimes
Encontro meu passado envolto em crimes
E neles o retrato mais infando,

Ousasse perceber alguma culpa
Do quanto na verdade se desculpa
E gera a mesma luta ora incessante,

Não pude e não devesse ser assim
Iniciando a velha história pelo fim
No quanto poderia e em vão garante...

Loures

Meus parabéns querida!

Meus parabéns querida! Em cada verso
Que faço te louvando, agradecido
Afasto um sentimento mais perverso
Por tantas vezes duro e ensandecido.
Moeda tem dois lados, no reverso
Do canto em que vieste repartido
O sonho mergulhando no universo
Em dores mais cruéis pensei vencido.
Porém ao conhecer tua amizade
O sol a rebrilhar mostrou presença
Trazendo para mim a recompensa
Que é feita a cada dia e na verdade
Não deixa que retorne a solidão
Dourando em alegria o coração!

Um sonho que vagasse renascido

Um sonho que vagasse renascido,
Entoa maravilhas no meu peito,
De todos os caminhos, o meu pleito
É ter este momento enternecido
Dos pântanos ferozes, florescido,
Bebendo este veneno, satisfeito,
Rondando em solidão, vai do seu jeito
Perdendo qualquer rumo; desvalido.
Nos olhos de quem amo dor e prece,
Sorrisos mitigando o sofrimento.
Lúbricas transparências delicadas,
No seio que se mostra e se oferece
Os lábios vão sugando em louco alento
Orgásticas manhãs são vislumbradas...

Partícipe da festa em que louvamos

Partícipe da festa em que louvamos
O dia em que nasceste; anjo sublime,
No canto que te faço que se estime
O tanto quanto, amiga já te amamos.
Desejos e vontades; entoamos
Carinhos que tu trazes nos suprime
E mostram perfeição que não deprime
Alento para os dias que passamos.
No teu aniversário eu te bendigo
Só peço que permitas ser amigo
De quem em amizade fez a vida.
Permita que agradeça, pois, querida,
O fato de poder compartilhar
Caminhos com quem sempre soube amar...

Meu soneto traduz meu sentimento

Meu soneto traduz meu sentimento,
Num vértice profundo e mais preciso,
Repele o que tortura, num momento;
Enfim vai transmudando dor em riso...
Soneto que persigo em pensamento,
Na calma desse porto que, enfim, viso,
Nos versos que insistente, tanto tento,
Levar, minha alma, sempre ao paraíso...
Se choro, já nem sinto bem por que.
Meu canto, transgredindo meu silêncio,
Nas rimas, vou vivendo por viver.
Atravesso essas dores, ponte pênsil,
Passando pelo mundo, tento ler,
O que mimeografai, no meu estêncil...

Na fonte da amizade me inebrio

Na fonte da amizade me inebrio
E bebo gota a gota até o fim,
Vencendo o que vivera mais sombrio
Agora o sol renasce dentro em mim.
Um mundo alucinante; fantasio
E vejo renascer em meu jardim
A flor desta amizade neste estio
Que aquece o que foi neve; num festim
Aonde ser feliz é o que me importa
Abrindo da alegria sala e porta
Aporto cada verso neste cais
Vivendo neste belo ancoradouro
Sabendo que encontrei raro tesouro,
Nos braços da amizade, eu quero mais!

Mulheres, tantas tive, tão diversas...

Mulheres, tantas tive, tão diversas...
Negras, louras, mulatas e morenas.
Todas as formas, gordas, magras, pequenas...
Muitas ganhei, perdi, simples conversas.
Brasileiras, latinas, russas, persas.
Mulheres não faltaram. Açucenas,
No meu jardim plantei, colhi apenas
As que plantei, nenhuma foi às pressas...
Desses amores falsos, nada resta,
Nem me permitirei falar de festa,
Pois sei desses amores, tudo em vão!
Mulheres, sem pensar, tantas troquei...
Eu, na verdade, tantas encontrei;
Mas não a que detém meu coração...

Desfraldo esta bandeira dos meus sonhos

Desfraldo esta bandeira dos meus sonhos,
Saudades emergindo a cada curva,
Do rio em transparência, água tão turva
Em noites mais ardentes, cais bisonhos.
Nas galeras perdidos, vão tristonhos
Depois da dura estrada vem a chuva
Capotando minha alma, torta, curva,
Moldada em carrilhões velhos medonhos.
Nas hostes fugitivas da esperança
Apenas os sinais tão sanguinários.
Momentos mais felizes? Temerários...
O nada em simples olhos já me alcança
Causando a mais cruel temeridade
Deixando como rastro esta saudade...

O quanto em ilusão amor perfuma

O quanto em ilusão amor perfuma.
Vagando por estrelas belas, claras,
Curando as chagas, pragas, as escaras,
Evaporando um sonho que se esfuma,
Bebendo o maremoto em alva espuma,
Escunas se perdendo em noites raras,
Sorvendo as velhas dores tão amaras,
Matando em louco viço, amor espuma.
Sidéreas emoções, palavras vis,
Amargas sensações, sonhos febris,
Essencialmente louco e formidável.
Noctâmbulo desejo em doce espera,
Amar é renovar-se em primavera
Trazer dentro de si, o inalcançável...

Jamais se faça a vida de tal forma

Jamais se faça a vida de tal forma
Que tudo quanto possa nos transcreva
A sorte mesmo além bem mais longeva
No todo dita a fúria em leda norma,

Ao quanto se pudesse e nos transforma
O tanto que se veja e se descreva
A morte se aproxima e já se atreva
Travando com seu corte o que deforma,

Não quero e não pudera ser diverso
Do sonho que deveras mais disperso
Ousado lavrador deste jardim

Que a morte cultivara mansamente
E o todo dito na alma não desmente
Traduz o que de resto existe em mim...

Loures

Nos rastros que deixaste pela vida

Nos rastros que deixaste pela vida
Em tantas galerias entrelaces
E os dias que puderam desenlaces
Encontram faces rudes, despedida,

E quando a luta agora se decida
E nisto com certeza o rumo traces
Vagando pelos cais aonde passes
Os olhos sem pensar no que me acida,

Restando muito pouco ou quase nada
A lua há tanto tempo desdenhada
E o verso em serenata já morreu,

Meu mundo se perdera no vazio
E quando noutro instante o desafio,
Apenas o que resta não é meu.

Loures

A TURMA DO CHUPÃO.

A TURMA DO CHUPÃO.

Na beira do São João tu me garantes
Existe campeonato de mosquito
Um grande outro maior, eu acredito,
Pois sei destes insetos tão gigantes.
Um bicho que mordendo o pobre Abrantes
Secando todo o sangue deixa aflito
Não adianta, é certo, nem um grito,
Parecem voadores elefantes!
Pernilongos gorduchos; te garanto,
Calamidade igual; só conheci
Em terras mais distantes, eu confesso.
Bebendo todo o sangue, tanto, tanto
Em gula sanguinária tem ali,

A música tocando, traz saudade...

A música tocando, traz saudade...
Partiste em um aborto tão insano...
Deixaste tanta coisa, frágil plano;
A vida se perdeu... Diversidade,
Contraste entre a mentira e a verdade...
A música tocando, tanto engano...
Os restos de poeira que eu espano
Do coração, darão a liberdade!
Maliciosamente me deixaste,
Sabias que jamais te esqueceria...
A alegria banal que tu roubaste,
Deixou esse embornal de sofrimento...
A música tocando, traz Maria,
As notas espalhadas pelo vento...

Saudade latejando no meu peito

Saudade latejando no meu peito
Rasgando a minha carne se entranhando
Matando devagar, e deste jeito
O sonho deste amor, amortalhando.
Saudade é como a morte em frio leito
Aos poucos coração vai se invernando
No mofo de minha alma, insatisfeito
Saudade em louca insânia trucidando.
Acordos, desacordos, cortes, sangue,
Mortalha que se fez em podre mangue
Deixando tão somente este vazio.
O corpo que sonhara vai exangue
Secando em nascedouro fonte e rio,
Meu verso vai sem brilho e tão sombrio..

Esgotos conheci em farto gozo

Esgotos conheci em farto gozo,
Ferindo minha pele em tanto espinho.
Latejam minhas carnes, mar jocoso
Jogando tempestade em meu caminho.
Sombrios olhos vento furioso
Lambendo minhas pernas, vou sozinho.
Recebo a podridão mais carinhoso
E faço deste aborto sonho e ninho.
Arranco os doces versos, os vomito,
E faço desta angústia senda e rito,
Lanhando meus costados, cego e mudo.
Falando do que sou, não mais resisto,
Eu sinto que em verdade não existo,
Apenas um penedo frio, agudo...

Sinto-me frágil, ágil, imbecil.

Sinto-me frágil, ágil, imbecil.
Impropérios, carinhos que me dizes...
Na certa, pensará: fomos felizes,
Amor, quando inconstante, é muito vil...
Não tentes enganar, não sou servil,
Descoramos portanto esses matizes...
Eu apenas ganhei mais cicatrizes,
Nas ondas que perdemos, dor pariu...
Caçoas dos meus versos, sou estúpido,
Não quero mais sorver, nem restar cúpido...
Apenas navegar, pois é preciso...
As bocas escancaras, nada sinto...
Embriaguez igual, nem com absinto!
Nem venha sugerir que dramatizo!

Caudalosas tempestas fazem rombo

Caudalosas tempestas fazem rombo
No que, deveras, tive e não mais tenho...
Martírios me percorrem como um trombo,
Das mais vazias noites, eu me emprenho...
Latejam tuas mãos, cortando o lombo.
Derrotas meus amores, nem me empenho,
Pois sinto já teus pés, prevejo o tombo...
Nas tonturas longínquas donde venho,
Resgato, essa completa solidão...
Carpindo procurando, teu perdão;
Esqueço, velozmente, teu passado...
Notícias que busquei pela internet,
Dizem-me que jamais vida repete;
Ouve-me? Nem escutas o meu brado!

Patrão, eu te garanto que essa moça

Patrão, eu te garanto que essa moça
Não foi embora apenas por querer,
Verdade se quebrando feito louça
Não deixa a realidade perceber.
Dos olhos de quem chora forma a poça
Molhando a vida inteira, o meu sofrer.
Na solidão terrível da palhoça
Apenas velha lua eu posso ver.
Cheguei neste sertão faz tanto tempo,
A seca não passou de contratempo
Os olhos não pararam de chorar.
Eu peço um só momento de atenção,
Escute estes meus versos meu patrão
Os derradeiros que eu irei cantar...

Meu velho companheiro de desditas

Meu velho companheiro de desditas,
As noites que rolamos bar em bar
Prenúncios destas luas tão malditas
Trazendo esta vontade de chorar.
As nossas poesias mais aflitas
São feitas destes raios de luar
Palavras maltratando, velhas criptas
Aonde um dia iremos descansar.
Amores que perdemos nada são,
Apenas andorinhas num verão
Que voltam para a casa nos deixando,
Amores pela vida descartando
Restando tão somente esta amizade
Que é feita na aguardente da verdade...

Pretendo te dizer nestes rabiscos

Pretendo te dizer nestes rabiscos
O quanto sou feliz por te saber
Embora já pareçam mais ariscos
Vêm nesta data; amiga te dizer
Do quanto é necessário correr riscos
Decerto irá valer qualquer prazer.
Na mesa se espalhando mil petiscos,
Porém o que me importa é o bem querer.
No teu aniversário, companheira
Que a vida venha exata e verdadeira
Trazendo as alegrias que puder.
O medo não impeça a caminhada,
Pois tens a vida inteira iluminada
Do jeito e da maneira que quiser...

Nas espirais do tempo

Nas espirais do tempo amores esquecidos...
A vida prega peça em quem não tem memória.
Viver um grande amor é se render à glória.
A vida é festival dos amores vividos...
Lembro-me, adolescente, em tempos ermos, idos.
No começo do sonho em que resume a história
D’homem envelhecido, essa dor peremptória
Da saudade cruel de amores vãos, perdidos...
Morava na cidade, a mais doce menina
Que tinha, com certeza, a boca mais divina
Entre todas. Rainha, a mais bela da vila...
Em plena juventude, instintos incontáveis.
O beijo não sacia, as noites memoráveis.
No centro do meu mundo em gozo, amor destila..

Quero-te totalmente! Eu quero ser teu fardo.

Quero-te totalmente! Eu quero ser teu fardo.
Eu sei que, na verdade, escondeste de mim
O que te deixou triste. Eu sei que mesmo assim,
O amor sempre tem sido imagem dura, um cardo.
Desculpe se não sou, um vate nem um bardo,
O manto que te cobre espelha meu jardim,
A cor da bela rosa, o cheiro do jasmim.
Cupido me acertou, dos céus, o fino dardo.
Meu verso vai capenga, e quase desvalido,
Buscando teu abraço, um beijo, assim, partido.
Exuberante lua, aguarda teu sorriso.
No cimo da montanha, o reflexo do sol,
A brisa, quase mansa, a cama, o meu lençol;
Só falta te encontrar pr’a ser o paraíso!

“Não sei por que te quero tanto, tanto.” SOL FIGUEIREDO e marcos loures

“Não sei por que te quero tanto, tanto.” SOL FIGUEIREDO e marcos loures

Não sei por que te quero tanto, tanto...
Nem saberia dizer ao menos o porquê,
Estampado e todo mundo já vê,
Este amor é sincero, nem sei o quanto!

No passado, tudo era sim só pranto,
Ser feliz agora, espero assim viver...
Bastaria só um segundo para morrer,
Outro p'ra dizer: te amo tanto, tanto!

Coração pulou como num espanto,
Tão forte e descompassado a bater,
Ficaria sim sem bater, só por te ver...
Por te querer tanto, ora então canto!

Por teu amor assim, já me encanto,
Querendo-te junto a mim, portanto!

© SOL Figueiredo
23/03/2012 – às 19:16h


O quanto feito em cada sonho traz
O tanto que se queira em perfeição
Refeito do meu medo- solidão-
O canto se mostrara mais audaz

E não deixando nada para trás
Os dias que deveras moldarão
O mundo na mais rara compleição
Eclode num momento em gozo e paz,

Ausente do passado aonde a dor
Marcasse com espinhos cada flor
Presumo novas cores num alento

E sigo cada olor que tu exalas
Perfume de esperança adentra as salas
E nova fonte em brilhos alimento...

Eu quero que tu saibas minha amiga

Eu quero que tu saibas minha amiga
Do quanto és importante para mim.
De todos os meus passos, forte viga,
A flor que justifica meu jardim.
Que a vida sempre em paz, assim prossiga
Trazendo esta alegria que, sem fim,
Permite que este sonho em que se abriga
Amor que tu espalhas; sempre assim.
Por isso nesta data tão festiva
Eu venho tão somente agradecer
A sorte que se mostra mais altiva
Em toda a perfeição que pude ver
Nas mãos desta mulher tão compreensiva
Certezas de carinho e bem querer!

No corte mais profundo da navalha

No corte mais profundo da navalha,
Nas trevas que surgiram neste céu,
A vida sendo um campo de batalha,
Uma amizade mostra-se qual mel,
Adoça simplesmente quem batalha
E torna este viver menos cruel,
Nos braços carinhosos se agasalha
Trazendo a divindade em seu papel.
Enquanto uma esperança resistir
Deixando o sofrimento para trás,
O vento da amizade sempre traz
A força que ninguém vai impedir.
Tornando na verdade mais capaz
Aquele que aprendeu a repartir...

O peso da saudade me esmigalha

O peso da saudade me esmigalha,
Transforma a minha força em simples pó
Restando-me somente esta mortalha
Lembrando-me, cobrindo, que estou só.
Não tendo o refrigério da navalha
O mundo me tragando, duro mó,
Não quero que tu sintas nem mais dó,
Nem mesmo a morte vem e me agasalha
Meus olhos embotados, na verdade,
Apenas refletindo a mocidade
Perdida há tanto tempo, no passado.
Refém de uma ilusão; sinto saudade
Do pouco que bebi da liberdade
Deixando-me p’ra sempre, embriagado..

Nos bares da cidade em noite clara

Nos bares da cidade em noite clara,
Olhares são trocados, sexo e riso.
Amores que em motéis a noite ampara
Vivendo num momento, o paraíso.
Os corpos desnudados, cara a cara
O beijo se tornando mais preciso;
Nas raves, nas baladas, se dispara
O mar extasiante sem aviso.
Nas coxas das meninas, olhos fixos,
Fetiches e loucuras, sangue e gozo.
Amando em profusão qual fossem bichos
Rolando pelas ruas, os desejos,
Sorvendo mil prazeres, caprichoso
O mundo transtornado, sem ter pejos...

Não me queira dizer de seus pecados...

Não me queira dizer de seus pecados...
São mansas borboletas que revoam.
Os olhos que rebuscam, desmanchados
Em pleno precipício não destoam...
Vagamos por espasmos desmaiados,
Os erros cometidos se perdoam
No mesmo instante em que se forjam. Dardos
Jogados simplesmente a esmo, voam...
Não pecamos se somos alvo e flecha,
Acordos irmanados pedem sangue.
A mesma mão que abriu, depressa fecha
A boca que cuspiu já se deseja.
A praia que vivemos, morre mangue.
A tinta que enegrece, é a que me alveja...

Por vezes espalhastes as demências

Por vezes espalhastes as demências
Arcanjo que se fez em tentação,
Nas coxas, nas virilhas, as ardências,
Abrindo em teus segredos, sedução.
Nos lábios se buscando em inclemência
A simples e cruel constatação
De mares inundados, florescência
Formando na borrasca esta explosão
De corpos retorcidos, na luxúria;
Nas tépidas insânias, fome e fúria
Asteróides vagando em livre espaço.
Nas sendas maviosas, belas, flóreas
Misturas de prazeres peremptórias
Batalhas entre furnas, lanças, aço....

Um sonho amortalhado, insanidade,

Um sonho amortalhado, insanidade,
Algozes e verdugos me tomando.
Na ausência da esperança ou claridade
Castelos de ilusões vão desabando;
O medo de viver que agora invade
Não deixa nem sequer saber mais quando
Eu poderei saber tranqüilidade,
O mundo em névoas turvas se embrenhando.
As aves se perdendo de seus ninhos
Tempestas sem bonanças, malfazejas,
Reféns do pesadelo, descaminhos
Enquanto a morte em mote tu desejas...
Apenas pesadelo e nada mais,
Um beijo à realidade enfim, me traz...

O sol vem mansamente na manhã

O sol vem mansamente na manhã
Trazendo em raio manso e mais gentil
Felicidade imensa, meu afã
Aquece de maneira tão sutil
O céu que emoldurado em raro anil
A barca dos meus sonhos, temporã,
Que em noite enluarada descobriu
A possibilidade de amanhã.
Quem sabe encontrarei felicidade
Depois da temporada em solidão.
Podendo acreditar ser de verdade
O sol que iluminou esta amplidão,
Bafejo de um amor, mesmo ilusório,
Mudando o meu destino merencório...

Há dias que nos tornam mais contentes

Há dias que nos tornam mais contentes
E neles percebemos esperanças.
Transmudam os caminhos que entrementes
Fizeram dos meus céus tristes andanças.
De tantos descaminhos, penitentes
Meus passos alcançando estas mudanças
Permitem que outros dias envolventes
Afoguem as tristezas, as lembranças.
Ao ter tua presença aqui comigo,
Amiga que encontrei em áurea senda
O mundo em alegria se desvenda
Afasta totalmente um vão perigo,
Apascentando enfim, qualquer contenda,
Trazendo finalmente um manso abrigo..

Aniversariante, eu te desejo

Aniversariante, eu te desejo
Querida, a festa plena desta vida.
Futuro mais feliz; quero e prevejo
Deixando qualquer dor em despedida.
Um mundo mais gentil; decerto almejo
Perceba o quanto, amiga, és tão querida,
Aproveitando então o feliz ensejo
Minha alma; eu vou te expondo desabrida.
Por mais que seja dura uma batalha
Não deixe esmorecer tua vontade.
Uma esperança vem e te agasalha
Vencendo com louvor a tempestade.
Que o brilho desta data se repita
E a luz desta esperança te reflita.

Por vezes te pareço até acídico

Por vezes te pareço até acídico,
Deveras me detenho em tantos ermos...
Os erros que cometo, nem causídico
Defenderia. Tétricos, enfermos,
Desejos se transbordam. Pico, ofídico.
Embora tanto amor assim não termos,
Bem sabes que pretendo ser fatídico.
Palavras tão venais são simples termos...
Sobre este amor, sincero, meu tripúdio.
Empáfias e falácias, simples medo...
Bem sei quanto me dói o teu repúdio!
A dor de amar demais é meu segredo,
Sou qual sonata morta no prelúdio.
Amor, em teu carinho, meu degredo...

Em loucas ventanias

Em loucas ventanias, bacanais
Bebendo o teu prazer que não se esgota,
A cama em seus lençóis; fogos anais
Tocando cada gruta, gota a gota.
Ouvindo os teus desejos: - Vem e bota.
Penetro com vontade e quero mais.
Corcel que galopado, não mais trota,
Insana montaria, leites, sais...
Cavalo que tu queres garanhão
Potranca que se entrega sem pudores,
Farturas de desejos, tentação.
Na cama, numa esteira, rede ou chão
No jogo onde ganhar é se perder,
Volúpias de paixão, puro prazer...

No canto que preparo em teu louvor

No canto que preparo em teu louvor
Escuto tua voz sempre presente
Uma amizade feita em pleno amor,
Permite ser feliz, andar contente.
Trazendo para a vida tal calor
Que mostra em novo rumo, de repente
Um mundo tão gostoso de compor
Tramando uma emoção pra toda a gente.
Poder que uma amizade mostra e tem
De transformar a vida num momento,
Tocando bem mais forte o sentimento
Permite se sentir: temos alguém
Com quem contamos mesmo quando o frio
Da solidão penetra mais sombrio...

Quero o sabor da manhã

Quero o sabor da manhã,
Vicejando nos teus olhos,
Percebendo teu elan,
Mergulhando nos Abrolhos.
Vagueando vida vã,
Que tão louca vai, engole-os
Todos sonhos, cortesã
Desfiando tantos óleos,
No corpo e mente senis,
Nos meus desejos tão vis,
No que pudera ser tão,
Nem tampouco são servis,
O que nunca fora chão,
Sempre cora, coração...

Bagunça o meu coreto, esta saudade

Bagunça o meu coreto, esta saudade,
Moleca sem limites não percebe
O quanto é necessária a claridade
E nega todo amor que enfim recebe.
Fazendo de meu sonho dura sebe
Mudando o meu caminho, na verdade
Saudade nunca pensa e nem concebe
Que o que eu mais quero é ter felicidade.
Sarrando minha cara, gozadora,
Saudade faz das suas e inda ri,
Trazendo o que eu jurava que perdi
Parece que não quer mais ir embora,
Cadáveres perdidos; compartilha,
Achando o sofrimento, maravilha...

Arcando com meu sonho mais constante

Arcando com meu sonho mais constante
Vagando pelo corpo ensandecido
Bebendo desta fonte deslumbrante
Meu passo sempre ereto e decidido.
Amor em louca entrega num instante
Ao fogo do desejo recendido
Vertente das vontades, triunfante
O vencedor por ele foi vencido.
Delícias neste karma desejado,
Alvíssaras, augúrios e festejos.
No poderoso rei, um delicado
Momento em que decerto vou entregue,
Na calmaria intensa relampejos,
Na luz que se deseja, sempre cegue..

Meu amor, quem me dera ser teu elo

Meu amor, quem me dera ser teu elo,
Atar-me ao infinito por teus laços;
Ouvindo um doce canto, violoncelo.
Perder-me sem ter medo em teus compassos...
Dançar contigo, amor que tanto velo,
Nas noites ao luar, junto a teus braços...
Saveiros cortam mares; tão singelo
O brilho dos faróis, desenha traços...
Quem me dera poder ter a certeza,
De que um dia, virás bailar comigo,
Seria ter tão bela realeza.
Ser mais que teu amante, teu amigo;
E flutuando, audaz em tal leveza,
Ser muito mais feliz do que te digo...

Encontro no teu corpo mil bemóis

Encontro no teu corpo mil bemóis
Dedilho meus prazeres nos arpejos,
Bebendo a plenitude destes sóis
Acendo em noite insana meus desejos,
Altares emolduras, teus atóis,
Nas tramas ensandeces relampejos
E sob a maciez, nossos lençóis,
De tua carne bela, meus solfejos.
Na lira que se expõe, desnuda e rara,
A pérola que entranha insensatez.
Do cálice, um absinto, embriaguez,
No ópio de teu corpo, amor se ampara
Numa alucinação etéreas sendas,
Enquanto aos borbotões, tu me desvendas...

Em todos os estúpidos altares

Em todos os estúpidos altares
Voando em asas falsas, alvos anjos,
Nas hóstias todas brancas, lupanares.
Nos olhos de quem trama seus arranjos
Distintos elementos nos olhares.
Ao perceber terríveis desarranjos
Apodrecendo as frutas dos pomares.
Nas cítaras, violas, liras, banjos
Uníssona canção para entoares.
Nas serpes os venenos são iguais,
Assim também encantos e louvores
Não devem distinguir nem raça ou cores,
Embora estes meus versos tão banais
Pressentem esta dura insensatez
Levando a diferenças pela tez...

Andando pelas ruas da cidade

Andando pelas ruas da cidade
Encontro um descaminho a cada esquina,
Nos bêbados alguma sanidade
Bem mais do que este amor que me domina,
A par do que buscara na verdade
O medo de viver cedo alucina,
Sarjetas espelhando a falsidade
Formada nos olhares da menina.
Nas danças, contradanças, contra-sensos,
Em conta-gotas bebo este prazer.
Morrendo em dias frios, tristes, tensos,
Retalhos; aprendi a recolher.
Quem sabe alguma amiga dê a mão
Mudando, de repente, este refrão...

Tu trazes nos cabelos, a Medusa

Tu trazes nos cabelos, a Medusa
Que ri em ironia dos meus atos,
Poluis com teus sorrisos tais regatos
E mostras seios fartos sob a blusa.
A boca que te morde vai confusa
E come do prazer, os mesmos pratos,
Retalhos se mostrando nos retratos,
A mão que acaricia já me acusa.
E manco, coração vai mais pesado,
Pisado pelas fartas podridões
Exposta em meu caminho, procissões
Possessos relembrando o meu passado.
Nas trevas que encontrei; debulho o sonho,
E a morte com sarcasmo, eu te proponho...

Traíste cada sonho que foi teu

Traíste cada sonho que foi teu
E o verso sem sentido ou serventia,
Rondando cada engodo que porfia
E ao fim deste momento feneceu,

O rumo que de fato se perdeu,
A sombra do que fora fantasia
Agora noutro todo moldaria
Matando o que de fato se esqueceu.

Escusas não seriam mais aceitas
Tampouco quando além sempre deleitas
Espreitas e preparas na tocaia

O salto mais audaz e mesmo atroz
Deixando o caminheiro já sem voz
E nisto novamente sei que traia...

Marcos Loures

Ungidas as palavras que disseste

Ungidas as palavras que disseste
Nas tramas e nos ermos desta sorte
Que tanto se pudesse e quando corte
Enfrenta o meu cenário mais agreste,

O tempo que decerto propuseste
O fim se anunciando sem suporte,
Ao menos o vazio me conforte
E a soma se resume em medo e peste,

Alheia aos meus intentos nada vês
E segues com terrível altivez
Usando da expressão mais que ferina,

A luta se mostrara sempre fútil
O passo se traduz em rota inútil
E o todo noutro tom não me ilumina...

Loures

Tentasse ao menos ver algum sinal

Tentasse ao menos ver algum sinal
Do fim que se aproxima e nada sinto
Senão a mesma rota em turno extinto
E o verso se desdenha desigual,

A luta se fizera bem ou mal,
O tanto quanto queira e não desminto
Vestindo a sensação do quanto minto
Insisto mesmo sendo irracional,

Procuro alguma chance e nada veio,
O rio se perdendo noutro veio
E as afluências ditam nova foz,

Resisto ao quanto venha em tempestades,
E sei que na verdade o que degrades
Eclode sem sentido dentro em nós...

Loures

Erupções REGINA CNL POESIAS marcos loures

Erupções REGINA CNL POESIAS marcos loures

São tantos os caminhos nesse espaço
Indo sempre no rumo da estrela guia
Sigo enamorada em busca do abraço
Fui percebendo que há muito sentia

Vejo-me apertando o peito lasso
Levo comigo esperança e fantasia
Receitando-me passo a passo
Viver esse amor a cada dia

Não fosse o peito lasso
Cheio de fantasia
Não ganharia nem espaço

Nem com estrela guia sonharia
Como reunir num abraço
O que quero com o que seria?

Regina cnl Poesias

Alçando com meus passos teu espaço
E nele me expressando em claridade,
Ousando acreditar na liberdade
Vencendo o quanto possa meu cansaço,

E a cada novo verso que ora traço
O sonho mais feliz em paz invade
E sei da mais sutil felicidade
Enquanto o mundo trama imenso laço,

Imerso nos teus braços adormeço
E sei do grande amor, seu endereço,
Vagando noite imensa em emoções

Sublimes fantasias que me trazes
E nisto faço os versos mais audazes
Vivendo sem temores erupções...

Tua luz me seduz! SOL FIGUEIREDO E marcos loures

Tua luz me seduz! SOL FIGUEIREDO E marcos loures

Tua luz me seduz a todo instante,
A cada teu versar que então produzes,
Com teu amor, tu assim me seduzes,
Ofereço-te meu calor tão constante!

Passaria a noite inteira, tua amante,
Seria toda tua de qualquer maneira,
Amando-te, bem ao lado da lareira,
Sonhando teu sonho, eternamente!

Fazendo contigo todas as besteiras,
Sob a luz daquele luar, ternamente...
Deixando para trás, completamente,
Tudo, para ser a tua companheira!

Por te amar assim, já me seduziste,
Iria contigo até o fim, me possuíste!

© SOL Figueiredo


Seduzes com teus versos quem um dia
Em meio aos mais diversos caminhares
Encontra os mais dispersos dos sonhares
Marcando o quanto possa em alegria,

Promessas que esperança me traria
E nela novo rumo tu moldares
Viceja dentro da alma mil altares
Lugares onde encontre a poesia,

Vestindo esta alegria de ser teu
Meu mundo no teu mundo percebeu
O quanto se é possível ser feliz,

Vivendo cada fato em luz tão plena
Enquanto esta emoção amor serena
Eu tenho junto a ti tudo o que eu quis...

Vagando pelas brumas

Vagando pelas brumas, meu desejo
Esvai-se em tempestades belas, raras,
Ardentes explosões, fino cortejo
De estrelas em convulsas noites claras.
Desnudas emoções; sempre prevejo
Roubando de teu sexo estas tiaras
Arcando com pecados num molejo,
Adentro tua loca e me anteparas.
Nos fúlgidos raiares, lua imensa,
Noctâmbulos algozes nos dosséis
Fartando-se de insânia, gozo e méis,
Sangrando em mil orgasmos, recompensa.
Expostas as vontades e loucuras,
Envoltos em quimeras e ternuras...

Na tarde tenebrosa uma saudade

Na tarde tenebrosa uma saudade
Fartando-se de mim lembra este amor
Que tantas vezes chega e quando invade
Destrói o que restou do sonhador.
Arcando com as dores, na verdade,
Murchando inapelável, mata a flor,
Procuro quem me diga, mas quem há de
Lograr este meu peito em tanta dor.
Amor que às vezes tive em alta estima
Agora por anzóis ferozes, prima
E marca meu futuro em chaga e riso.
Viver o mar que tanto naveguei
Alçando o que tentara e não mais sei,
Percebo que sonhar inda é preciso...

Não temo e não entendo por que mentes

Não temo e não entendo por que mentes
Sabendo do que sabes já de mim.
Desejos de amizade são prementes,
Porém triste vazio segue enfim
Os olhos que se foram quais dementes
Secando quaisquer flores do jardim,
Mentindo-me, decerto crava os dentes
Rasgando a minha pele até o fim...
Nas ondas que distinguem a amizade
Talvez percebas inda este marulho.
Rastejas sobre um frágil pedregulho,
Mas tens um não sei que de qualidade
Que faz com que eu perdoe este falsete,
Embora não te lance mais confete...

O canto da saudade

O canto da saudade, eu já percebo
Trazendo em minha noite este granito,
Quem teve seu passado, penso Febo
Agora morre traumas. Nada fito
E vejo tão somente o meu reflexo
Jogado pelos céus sem holofotes,
Perdido sem saber sequer se há nexo,
Mortalha dos meus sonhos vem em bote
E morde o que sobrara de meu peito,
Um assassino beijo de quem fora
E há tempos já partiu, e deste jeito,
Levou o que restou, somente agora
Meu canto de saudade vai liberto
Embora tão distante, cego, incerto...

Ao ler teus versos soltos pela casa

Ao ler teus versos soltos pela casa,
Arsênico, eu bebi em cada frase,
Embora tantas vezes, dura brasa,
Não vejo mais motivos que me apraze
O tempo na verdade não se atrasa
Nem mesmo me permite que me abrase
Tentando disfarçar que na tua asa
A morte não permite que se atrase.
Nas vespas de teus lábios, meu remédio,
Nas térmitas que invadem meu jardim,
Amor que se tornou imenso tédio,
Afoga uma esperança e traz no fim
O beijo da serpente, num sorriso,
Fazendo deste inferno, um paraíso...

Não quero que tu saibas destas crenças

Não quero que tu saibas destas crenças
Que trago dentro da alma, falsos credos,
No quanto; tantas vezes, logo pensas,
Não temo demonstrar velhos segredos.
Distâncias se tornando, então imensas,
Omissos os meus olhos mostram medos,
As horas vão passando duras, tensas,
Secando em sede intensa, os arvoredos.
Quem teve alguma fonte de esperança
Percebe quanto o amor cego, secou.
Na corda que me enforca se balança
O quando nada tive nem mais sou.
Amor vai gargalhando esta aliança
Cruel caricatura, o que restou...

Segredos espalhados pelos cantos

Segredos espalhados pelos cantos,
Nos cofres da esperança um verso fútil
Versando sobre medos, desencantos
Meu canto se tornando quase inútil.
Não posso mais ousar sequer um sonho,
Aguço meus sentidos e não vejo
Sequer o quanto tive de medonho
Matando numa tarde o meu desejo
De ser além do cais distante e frio,
Marcado pelas pústulas desta alma
Que segue em procissão mundo vazio.
Nem mesmo um falso amor inda me acalma.
Nos traumas que carrego, cego e vago
Apenas da serpente sinto afago...

Brincando de emoção, simples criança

Brincando de emoção, simples criança
Que faz deste barquinho de papel
Aonde uma alegria sempre alcança
Motivos de sorrir, chegar ao céu.
No seu aniversário uma lembrança
De um dia sem igual, no carrossel
Do tempo que decerto vai, avança
Mas sonha docemente com o mel
Da infância que se foi, não voltará,
Festejos que marcaram seu passado,
Estrela que decerto brilhará
A cada novo sonho desfraldado,
O menino renasce e vem mais forte,
Trazendo para o velho algum suporte...

Um sonho em esperança aberto em mim

Um sonho em esperança aberto em mim,
Divina sensação do quanto eu tive,
Rasgando este lençol, puro cetim,
Moldura uma alegria que revive
Aguando cada flor do meu jardim,
Relembra os tantos mundos onde estive,
Falando deste amor que eu sei, no fim,
Morrendo novamente já me prive.
Mas salgo meus olhares nos abrolhos
Janelas dos meus dias em ferrolhos
Fechando o que rasteja na minha alma.
Os cardos que encontrei deixaram trauma,
A lama nos meus pés fez moradia,
Amor que ressurgiu matou o dia...

Levanto o meu olhar; venezianas

Levanto o meu olhar; venezianas
Abertas do meu peito sonhador.
Mortalhas do que fomos, doidivanas,
Acendem meu desejo e no calor
Das noites tão gostosas e sacanas,
Enveredo em teu mar, navegador
Dos sonhos nesta luz cotidiana,
Desfraldo nos meus olhos, puro amor...
Fazendo da paisagem, minha tela
A par do que vivemos, vou em frente.
Estremecendo em gozo já se sente
A nau que enfim partiu, levanta a vela
E vai nesta aquarela desejosa
Colher no teu jardim perfume e rosa..

Nas vozes de meus sonhos, tão diletas

Nas vozes de meus sonhos, tão diletas
Escarras com escárnio mais feroz,
Teu riso na verdade é meu algoz
E corta em profundezas, finas setas.
Sombrios teus desejos, frias metas,
Cortantes, perfurando, nega a foz
Do quanto percebera, vou veloz
E as horas; em verdugos sais, completas.
Encardes com teus cardos alvos linhos
Fantoches do que fomos; vão incertos,
Atingem meus segredos pelos flancos,
Apodrecendo agora velhos ninhos
Prometes tão somente tais desertos
Turvando estes quereres antes francos...

Quando, pelas ruas tu caminhas

Quando, pelas ruas tu caminhas
Deixando um rastro amável pelo chão,
Palavras de cobiças, tontas, minhas
Alçando a tempestade em furacão.
Vestígios que procuro, tuas vinhas
Inebriadamente a tentação
Que chega quando vejo que tu vinhas
Tornando cada passo um alçapão.
Ruidoso coração dispara insano,
Num sofrimento atroz e desumano,
Catando estas estrelas que derramas.
Nas juras de um amor que eu quero eterno,
Do Céu cedo mergulho para o inferno
No fogo desabrido destas chamas...

Ao sentires um vento bem macio

Ao sentires um vento bem macio
Chegando devagar, roçando o rosto,
Lambendo tuas pernas, bem vadio,
De desejo e carinho assim composto,
Um vento que incendeie o quente estio.
Deixando o teu querer bem mais exposto,
Molhando devagar, doce rocio,
Provando em tua boca, todo o gosto.
Ao sentires o vento te tocar,
Audaz já levantando a tua saia.
Sorvendo de teu corpo, devagar,
Verás que enfim cheguei, minha morena.
Sorriso no teu rosto não te traia,
Que a vida em mil prazeres nos acena...

Contigo, meu amor, por onde fores

Contigo, meu amor, por onde fores;
Trilhando por estradas, sendas, ruas.
Palavras carinhosas como as tuas;
Amenizando sempre minhas dores.
O campo do teu lado em belas flores,
Revivem esperanças antes nuas,
Da forma em que me encantas quando atuas
Trazendo novos sonhos sedutores.
A mão da solidão, triste e sombria
Distantes dos carinhos, todos meus,
Refazes em meu mundo uma alegria.
Presença divinal que vejo enfim,
Contigo estou mais perto do Bom Deus,
Amor que renasceu dentro de mim...

Nos momentos ferozes desta vida

Nos momentos ferozes desta vida
Em que nos percebemos solitários
Algozes preparando a despedida
Tornando os nossos dias temerários.
Os braços da amizade, solidários
Permitem perceber uma saída
Depois de tantas curvas, estuários
Deixando a solidão já de partida.
Encontro as soluções que bem queria
E vejo que talvez possa dizer
De tudo o que vivera em agonia
Refaço o meu caminho com prazer
Nos laços da amizade, a cada dia,
Concebo o mais sublime amanhecer!

Dementes, insensatos e terríveis

Dementes, insensatos e terríveis
Os dias sem te ter aqui comigo.
Legado ao desespero e desabrigo,
Meus passos são bizarros, impossíveis.
Meus olhos seguem vagos, impassíveis
Percebem nesta ausência, tal perigo
Que torna os velhos sonhos incabíveis
Matando estes desejos que persigo.
A solidão penetra no meu cerne,
Verão a permitir que já se inverne
E o peito transtornado na nevasca
Que toma meus sentidos totalmente
Sonhando com amor que se pressente
Virá: bonança após dura borrasca...

Por mais que estejas só, teu passo manso,

Por mais que estejas só, teu passo manso,
Não penses que são torpes ou inúteis.
Na vida não há marchas que são fúteis
Todas elas nos levam ao remanso.
Com teus passos, caminhos se abrirão,
Portanto nunca penses em parar.
Na vida é necessário caminhar.
Pois não há nesse mundo, nada vão.
Alguém te seguirá, tenha certeza.
Deslinda teu caminho em tal beleza
Que quando perceberes, claridade!
Meu caro companheiro, vá em frente!
A vida com certeza não desmente
Aquele que lutar com liberdade!

Quando criança eu tinha tanto medo

Quando criança eu tinha tanto medo
Da escuridão que sempre me assustava.
A noite dolorosa me traçava
Um grave e tenebroso mau enredo...
Agora a solidão faz o degredo
De quem sempre, em criança, imaginava,
Que a luz que nunca vinha não brilhava.
Amor é tempestade e traz segredo
E tanto procurei a solução
Que trago mais vazio o coração.
A luz que me transmites me apavora.
A vida sem teus braços mansa e calma.
Pois toda escuridão sempre me acalma,
O brilho deste olhar já me devora!

Procuras paraíso em coisas tão incríveis

Procuras paraíso em coisas tão incríveis
Rara preciosidade, amor que nunca chega,
Na louca liberdade e no barco que navega
Um mar em tempestade, os ventos invencíveis!
Procuras a beleza em sonhos invisíveis,
Na fortuna e prazer. A dor, tonta, trafega
Na luz que tanto brilha e quase sempre cega.
Nos sonhos de vingança, as noites mais terríveis...
Procuras ser feliz nas roupas e nas jóias.
O mundo que maltrata esquece-se das bóias,
A Terra que jamais sonhaste repartida
Traz-nos o paraíso em simples e banais
Aspectos: na atitude, em formas naturais,
Na fonte, na nascente, o paraíso em vida!

De todos os momentos que sentira

De todos os momentos que sentira
Perdera todo o senso, sem saber
Que a mão que acaricia enquanto atira
Às vezes causa dor, outras prazer.
Embora a sede louca já prefira
O corte feito em gozo por saber
Que a carne que se expõe no amor que gira
Em carrossel transmuda o bem querer.
Mas nada mais me resta, risco e rastro,
Arisco busco o canto em que me ofusco,
Somente adormecendo em lusco-fusco
O brilho de teus olhos, mágico astro.
De todos os momentos, rostos e entes,
No amor que me demites e em que mentes..

Quando partiste, amor, me deixaste perdido...

Quando partiste, amor, me deixaste perdido...
Minha manhã vazia, a vida em desatino...
Maldisse a vida tanto, o mundo e meu destino...
Seria bem melhor, é certo, ter morrido!
Nessa ferida aberta, um pranto desvalido,
Um lamento cruel, coração assassino!
A morte, em plena vida, um canto em desafino...
Como se para a treva, em vida, tivesse ido...
Mas hoje, ao ver distante, o templo desta dor,
Amor que fora gelo, agora me traz flor
Brotada desse adubo: a morte da quimera!
Do frio deste inverno, a solidão, surgiu
Florida e perfumada. A vida que era vil,
Se transforma, um segundo, em bela primavera!

Dos sonhos, dos amores; catedrais!

Dos sonhos, dos amores; catedrais!
Altares de ilusões, templos senis.
Recebo as tempestades ancestrais
E finjo qual em guizo, ser feliz.
Mortalhas que me deste, peço mais,
Dos cânceres floridos quero o bis.
Emergindo do nada invado o cais
E lambo tuas pústulas gentis.
Nos gládios e nas foices riso e tento.
Na cama cada ogiva em explosão
Verter a fantasia ainda tento
Mas nada além dos templos enganosos.
O lábio congelado em podridão
Gargalhas inclemente nossos gozos...

Já não me caberia outra vontade

Já não me caberia outra vontade
Senão a mesma luta sem proveito
E quando na verdade o que ora aceito
Expressa o quanto cabe em falsidade,

Vencer o que se faz tranquilidade
E ser o quanto tente e assim rejeito,
Vagando sem saber qualquer direito
Ao menos o vazio enfim me invade,

O marco sem sentido e dimensão
Os erros mais comuns se mostrarão,
Nos termos mais audazes e fugazes,

Não quero ser além do quanto resta
Tampouco ter a face mais funesta
Do que procuro em vão e tu me trazes.

Loures

Restando o caminhar deste que um dia

Restando o caminhar deste que um dia
Prostrado em ruas vagas se fizera
Apenas o que possa quase fera
Matando a sorte atroz e mais vadia,

Não posso e na verdade não teria
A sorte mais fiel e até sincera,
Moldando o quanto fora e destempera
Na luta mais feroz, na noite fria,

E toda a poesia se perdendo,
A vida não passando de um adendo
Retendo outros cenários dentro da alma,

Ao fim de certo tempo o que inda sinta
Expressa o quanto possa e a luta extinta
Deveras noutro engodo não me acalma...

Loures

Não mais que novas rotas, mesmo fim,

Não mais que novas rotas, mesmo fim,
Os vergalhões adentram cada parte
Do tanto que de fato se comparte
E vejo a morte em vida dentro em mim,

Apenas poderia e sei que assim
O mundo se mostrara e sem tal arte
Do marco mais distante se reparte
O manto que deixaste enquanto vim,

A marca de teus lábios, teu sorriso,
O quanto desejara e mais preciso
Esbarra nos meus ócios e degredos,

Os dias são somente em ilusões
Os medos que deveras recompões
Vivendo o quanto possa em vis segredos.

Loures

Esperanças do quanto nada houvera

Esperanças do quanto nada houvera
E sei da velha face que desnuda
A luta tão frequente sem ajuda
E o medo numa frase mais austera,

O tempo relegando a primavera
O tanto que se queira e não se acuda
A farsa quando agora se amiúda
Expressaria o todo que viera,

Não mais que meramente a mente traça
O tanto poderia e sendo escassa
A sorte não teria novo prumo,

Enganos costumeiros e sombrios,
Os olhos procurando desafios,
E o tempo noutro instante em vão esfumo.

Loures

Quisera quanta vez vida diversa

Quisera quanta vez vida diversa
Loucura feita em sonhos mais audazes,
E sei do que deveras tu me trazes
Enquanto o meu caminho ao nada versa,

A senda mais além sendo dispersa
Os erros cometidos, novas fases,
E tanto se tentara e mais tenazes
As lutas expressando a voz perversa,

O mundo se refaz e nada trago
Senão a mesma farsa em rude estrago
Estantes do que fomos e quedaram,

Os dias sem sentido e os erros tais
Demonstram os meus passos desiguais
E os dias entre nada se moldaram...

Loures

A merencória lua em noite pálida

A merencória lua em noite pálida
Deitando em seus luares bela prata,
Amor que se fazendo de crisálida
Nascendo novamente, o sonho mata.
Beleza tão sutil, intensa e cálida
Calada, nada mostra e me arrebata,
A noite que se fora assim, inválida,
Tomando por refém palavra ingrata
Noctâmbula alegria se desfaz,
Esperança tropeça e quase cai,
Prazer que em vago rio já se esvai
E nada do que fomos, noite trás
Apenas o vazio deste cálice
Mostrando o derradeiro e fino cale-se!

Singrando em liberdade, vou etéreo

Singrando em liberdade, vou etéreo
Nevando dentro da alma a tatuagem,
Marcada pelo medo do mistério
Naufragando bem antes da viagem,
Roçando este impossível mar sidéreo
Ancoradouro pinta-se miragem
Restando a solidão de um cemitério
Na cimitarra o corte em doce aragem.
Numa crescente orgia em meus sentidos,
Os vergalhões adentram minha pele,
Amor que em harmonia já repele
Sangria que perfuma desvalidos
Momentos onde algozes formam santos,
Trazendo em teu sarcasmo, teus encantos

Despudoradamente e mente caça

Despudoradamente e mente caça
A perna torneada da morena
Andando pela rua, pela praça
Desejo juvenil ao velho acena
E o quanto quando sendo me ameaça
E faz quase não sabe, finge a cena.
O tempo não parece mais que passa
E o velho renovado em coxa plena.
Que faço se não traço mais a pausa
E agora antigo lobo em andropausa
Invade a minissaia, pensamentos...
Os olhos vão famintos, sem pra que,
Procuro por meus guias, mas cadê?
Quem dera se estes dias fossem lentos..

Coração, um terrível capataz

Coração, um terrível capataz
Que deixa mais cativo o pensamento
Chicote me lanhando satisfaz
Gozando amor intenso num momento
Quem dera se eu pudesse ser capaz
De ter assim somente o doce vento
Um sonho de moleque, de rapaz
Vencendo a solidão traga o tormento
E bebe até não mais a mocidade,
Na juventude exposta nesta sala,
Deitada no sofá, a moça fala
Um diamante falso, na verdade,
Mas tem este poder de engalanar
Navega com sarcasmo o velho mar...

Meu sonho sem convés perdeu a rota

Meu sonho sem convés perdeu a rota,
Mulher que foi perfeita timoneira
Desaba da mais alta ribanceira
Deixando o que sonhei além da cota.
Galopo uma ilusão, o peito trota
Rasgando da emoção rota bandeira
Fazendo deste amor qualquer besteira
Roubando o pensamento, alma remota.
Cabeceira dos rios da esperança
Mortalhas avizinham num sarcasmo,
Mordendo e me cortando num orgasmo
A moça me enxovalha e não se cansa
Do quanto que não fui e não seria,
Alçando em bofetão uma alegria...

A rosa desabrocha em podridão

A rosa desabrocha em podridão
Molhando o meu jardim em sangue e riso,
Bebendo do veneno provo o não
E vejo a morte vindo em cada aviso.
O toque em gargalhada é mais preciso
Na garatuja feita coração.
Porém amor prendendo em alçapão
Não deixa nem resquícios, vai conciso
E fere em fero corte, crava as garras,
Mas vejo em suas mãos doces amarras,
Respiro suas águas bebo o mar,
Salgando esta delícia dos desejos
Luxúrias em carícia esqueço os pejos
E vejo a maravilha de te amar...

Amiga, em paisagens diferentes

Amiga, em paisagens diferentes
No furta-cor dos olhos, céu e breu,
Tu sabes quantas vezes já pressentes
O mar do amor imenso que perdeu
Navego pelas fozes que entre dentes
Destino sem cadência enfim mordeu.
Prazeres nesta vida são urgentes
Demente, o meu olhar procura o teu.
Apunhalando a sorte de não ser
Açodo o doce açude da ilusão
Olhando de soslaio posso ver
O quanto é necessária esta emoção
Que mata, tão somente por prazer
E molda na amizade a solução...

Saudade vem prender respiração

Saudade vem prender respiração
E marca com sorrisos velhos sismos
Provoca num incréu mil cataclismos
Travando a mais total revolução;
Saudade é renegar de novo o não
E mergulhar sem asas nos abismos,
Saudade é remoer em reumatismos
Momentos que se foram. Negação!
Saudade é ser o sal que tanto adoça
Espelho desfigura em água, poça.
Desabrochando a flor mais temporã.
Saudade é vicejar o já desfeito,
Bater retroagindo, o velho peito,
Embora muitas vezes, vaga, vã...

Deslizo nos seus braços, amizade,

Deslizo nos seus braços, amizade,
Atravessando mares, vilarejos.
Anseio recordar felicidade
Distante dos meus olhos, meus desejos.
Deixando para trás a tempestade
Não vejo nesta vida mais os pejos
Que outrora concebera na saudade
E agora são apenas relampejos.
Afago com carinho meus prazeres
E trago nos meus dias afazeres
Que possam permitir uma bonança
Nos laços da amizade um velho encanto,
Mudando no meu mundo o triste canto
Trocado pelo manto da esperança...

Meu sonho preparando uma modinha

Meu sonho preparando uma modinha
Cantiga que morreu, tão antiquada,
Sentado neste banco, na pracinha
Apenas encontrei a bandidada
A moça que sonhei e nunca vinha
Agora faz programa na calçada,
Coreto dos meus sonhos já definha
A pele na mortalha, agasalhada.
Meus olhos encontrando o que não foi,
Lagoa dos meus dias, sapo boi
Fazendo uma arruaça me atrapalha,
Não beijo o que não tenho nem pretendo
A morte do meu sonho estou vendendo
No corte extasiante da navalha...

Amor me fez moleque sem proveito

Amor me fez moleque sem proveito
Sonhando com quintais que não alcanço
Levando a minha vida deste jeito
Eu guardo do passado o velho ranço
De nunca me sentir mais satisfeito,
Nem mesmo quando orgasmo, enfim, alcanço,
Felicidade morta e sem direito
De ter o que queria, algum remanso.
Remando contra as ondas, a maré,
Caminho eternidade, vou à pé
E nada me promete uma ternura.
Moleque que não teve nem jardim
A rosa vai matando e dentro em mim
Somente uma ilusão inda me cura...

Amor que esta saudade proibia

Amor que esta saudade proibia
Depois da tempestade sem bonança,
Vertendo em ilusão o que seria
Um último suspiro da esperança.
Vasculho em cada canto a pedraria
Que não lapidaria esta aliança
O quase que não tive nem teria
Depois de certo tempo inda me alcança.
Verdugo de meus sonhos, coração
Vazio e vagabundo vai ao léu.
Rasteja simplesmente, bebe o mel
Do quando inda se quis ser emoção.
Mas vendo a mesa inteira sendo posta,
Minha alma sem amor seguindo exposta...

Quando ao correr da pena sou mais ágil

Quando ao correr da pena sou mais ágil,
Não quer dizer que faço algum falsete,
Por ser o português, assim bem frágil
Repito algumas vezes um verbete
Não quero na verdade o teu sufrágio
Tampouco que me faças teu valete
Um verso que se escreve e se repete
Não quer dizer que seja sempre plágio.
Plagio tão somente o cabeçalho
No título que dou aos meus rabiscos,
Confesso que isto dá muito trabalho,
Além da confusão que traz mais riscos.
Agora, me permita te dizer
Do plágio que eu acabo de fazer...

Amigo, eu sei que é dura uma saudade

Amigo, eu sei que é dura uma saudade
O amor nos conduzindo, muitas vezes
Nos rouba sem saber, felicidade
Por dias, por semanas ou por meses...
Eu também já passei por dissabores
Bem sei quanto é cruel a solidão!
A vida vai chegando aos estertores
A morte nos parece solução!
Amar demais traz sempre este tormento,
Cortando em nosso peito, a desventura.
Sangrando vilãmente em sofrimento
A vida nos parece uma tortura.
Porém não desanimes, companheiro,
Um novo amor virá, mais verdadeiro

Rasgar meu peito, expor meu sentimento

Rasgar meu peito, expor meu sentimento;
E mostrar cada amor que tanto dói.
Levar meu barco livre do tormento
Da dor cruel que; insana, me corrói...
Deixar assim, viver cada momento
Em paz; Profunda paz que se constrói
Com amores, jamais com meu lamento.
Rasgando o peito mostro quem destrói.
Meu coração exposto, vai ao léu
Que fora minha estrela, mar e céu.
Andando nua pela sala aberta;
Vestida em minhas lágrimas, desperta.
Caminha bem solene sem paragem...
Fantasma que reflete minha imagem..

Conheci-te, por certo, em outras eras...

Conheci-te, por certo, em outras eras...
Andávamos dispersos pelo mundo.
Perdidos conhecendo tais quimeras
Que tornam nosso amor cão vagabundo...
Expostos, conhecemos tantas feras...
Turbilhão miserável, giramundo...
Nos palácios, mansões, grutas, taperas
Rodamos universos... Eu me inundo
Do destino cruel que nos separa.
A rosa que plantamos nos jardins,
Em outras terras surge, rosa rara...
Os anjos que escutamos, querubins...
As horas que passamos tristes fins.
Na noite que dormimos sós nevara!

A força do desejo pulsa forte...

A força do desejo pulsa forte...
Cabe-nos simplesmente não temer.
Se a vida nos promete um novo corte,
É necessário, sempre, perceber
Pelas ruas dos sonhos; que se aporte
O novo; meus desejos vão vencer!
Quem fora crueldade perca a sorte,
Que nunca mais respire um bem querer!
Nas margens violentas desses rios
Canções abençoadas viram hinos.
Não se permitam tétricos desvios.
Que a coragem de todos os meninos,
Seja a força maior. Seus desafios
Nos tragam novos dias, cristalinos!

Meus olhos decifrando teus problemas

Meus olhos decifrando teus problemas,
Decoro minhas tendas com mentiras.
As ruas que iluminas, velhos temas.
As cancerosas bocas que me atiras.
Nas melindrosas luas, meus poemas.
As trevas que me deste, velhas tiras.
Nos medos que segredas torpes lemas.
Nos teus tantos dilemas já me estiras...
Adormeço nas guerras que me fazes,
Iluminando o brilho do meu túmulo.
Nas vezes que fingiste; surdas pazes.
O começo e final, tu és o cúmulo!
As forças que roubaste fazem falta.
A noite dos amores dorme incauta!

Recebi a mensagem que esperava!

Recebi a mensagem que esperava!
Agora poderei dormir em paz!
A sombra perseguia quem amava,
A noite tenebrosa, nunca mais...
Nosso tempo, passando, se contava
Em séculos ,milênios... Sou capaz
De perceber as mortes que encontrava...
Nas portas dos castelos ancestrais!
Recebi teu recado companheira...
Não tardas em beijar a triste face.
Nas horas que te quis fugiste inteira,
Teimavas em usar velhos engodos
Agora que tu vens e és derradeira,
Permita que eu mergulhe nos teus lodos.

No ápice dos desejos, em luxúria

No ápice dos desejos, em luxúria,
Libidinosos corpos que se entranham,
Fomentos de delírios e de fúria
Em gozos, dois bacantes já se banham.
Exércitos de estrelas buscam sol,
Na convulsão febril, maravilhosa.
Hormônios vão servindo de farol,
E a gente se treslouca enquanto goza.
No vai e vem fantástico, uma explosão
Suores e gemidos confundidos,
Na furna delicada, inundação,
Tremores em loucura percebidos.
Na fálica imersão, mel abundante
Tocando o paraíso num instante...

Enveredei por braços, pernas, bocas...

Enveredei por braços, pernas, bocas...
Nas camas das bacantes e vorazes...
Gargalhadas histéricas tão loucas,
De sonhos e penumbras são capazes!
Conheci nas orgias, tantas tocas,
Nas noites sensuais e mais falazes...
Nos delírios carnais, tontos, que enfocas,
Perdido me encontrei nas mãos audazes!
As mulheres, fagulhas sensuais,
Incendiavam todos os meus dias...
Nas festas formidáveis, bacanais,
As pernas misturadas nas orgias!
As horas que passei não voltam mais.
Noites outrora em brasa, são tão frias!!!

Os dias mais felizes vou levando

Os dias mais felizes vou levando
Ao lado de quem tem abalizada
Palavra que me traz, apascentando
A vida que, deveras, foi marcada
Por dias tão difíceis. Vislumbrando
Depois da tempestade anunciada,
O dia que já chega iluminando
A Terra que em angústias fez-se nada.
Nas sendas da amizade, fina seta
Tocando em pleno amor que já sofria.
A porta da alegria, agora aberta,
Permite perceber que o novo dia
É feito em harmonia e lealdade,
Poderes que se emanam da amizade.

Na pálida tragédia irresistível!

Na pálida tragédia irresistível!
Penhasco insensatez e tempestade.
A força que devora, é invencível
Arrasta toda pedra da cidade...
Nas trevas amazônicas, possível,
Nos olhos das serpentes qualidade...
Não cabem nem comportam tal desnível.
As luzes que roubamos, claridade...
Invade, arrebentando me arrebata!
Não sobra nem migalha arquitetônica
Enchentes que transbordam emoções...
Paixão assim, quem dera se platônica,
Cortante me tortura, é vil chibata!
Sem medo se constrói em explosões!

Pomba branca da saudade

Pomba branca da saudade
Apascentes meu sofrer
Quem já fora vaidade
Nunca mais vou esquecer
Vivendo sem poder ter
Da lua; luz, claridade.
Quando poderei viver
Minha plena liberdade
Quando me vi tão sozinho,
Lembrei-me que fui feliz
Eu vi perdido meu prumo,
Chegava devagarzinho,
Procurei por meu aprumo,
O que menti, nunca fiz!

Não quero ter teus olhos tão perdidos...

Não quero ter teus olhos tão perdidos...
Não deixe que a saudade te maltrate
Amores que perdemos, desvalidos,
Não deixam que a maldade enfim me enfarte,
Não trafegues por mares sem sentidos
A vida imitará sempre com arte.
Os cantos sem sossego, vão vencidos,
De todos bons momentos, somos parte.
Não quero teus olhares assim vagos,
Não quero mergulhar profundos lagos,
Apenas posso dar-te meus segredos...
Ouvindo as incertezas que me dás,
Não quero conceber teus vários medos.
Preciso deste amor perfeito, em paz..

Em tuas mãos macias, afiladas

Em tuas mãos macias, afiladas,
Carinhos são mensagens divinais.
Tuas mãos, meu destino, são traçadas...
As portas que me deste, meus umbrais!
Tuas mãos são certezas alcançadas,
Companheiras dos velhos carnavais.
Obras primas por Deus imaginadas,
Esplendores dos Céus... Universais!
Em tuas mãos, riachos e nascentes,
Os mares, oceanos se envergonham
Por não terem beleza que compare...
Tuas mãos carinhosas, envolventes.
As ondas que vivemos vem e voltam,
Peço que em tuas mãos a vida ampare!

Num átimo mesclasse luz e tédio

Num átimo mesclasse luz e tédio
Ousando acreditar em tais mentiras
E nelas o que possa e já retiras
Marcando com terror cada remédio,

O todo se fizera em tosco assédio
E quando me expressasse em várias tiras,
As farpas que em verdade tu me atiras
E o mundo destroçando cada prédio,

Ledos caminheiros sem destino,
O tanto que se queira mal domino
E bêbado do sonho tanto arrisco,

Vestindo a velha farsa contumaz,
O mundo se mostrara e nada traz
Senão a mesma luta em tolo risco...

Loures

Liberto dos enganos que cometa

Liberto dos enganos que cometa
Aprendo com a faca e o canivete
A cada novo engano se comete
O todo que não possa, mas prometa,

A vida se acenando onde arremeta
O medo que de fato se repete
Na frágil solidão que se reflete
O mundo sem certeza é vão cometa,

Um astro se perdendo em noite escusa,
O tempo se moldando enquanto abusa
Porfio sem sentido e já me canso,

O velho caminheiro do passado,
Agora imaginando o fim, o fado,
Enfados sem descanso, sem remanso.


Loures

Não esqueço tão somente o que não queira

Não esqueço tão somente o que não queira
A vida mata e marca cada fato
E nisto o que deveras mal retrato
Expressa a senda rude e costumeira,

A lenda se mostrara verdadeira,
O peso mais temido, o que constato,
Esbarra na verdade e assim me mato
Vagando sem sentido, eira nem beira.

Os ócios e os momentos mais diversos
Explicitando o quanto nestes versos
Pudesse traduzir a mera luta,

Não quero mais o movimento
De quem decerto sabe e mesmo tento
Embora a própria vida em vão, refuta.

Loures

Não quero outro momento e não pudera

Não quero outro momento e não pudera
Sentir ao menos tons diversos, quando
A luta no final se desenhando,
Expressa a sensação temida e fera,

A porta se entreabrindo e esta quimera
Aos poucos sem defesa me tomando,
No verso mais suave em contrabando
O tanto que em rudez a vida espera,

Não tento acreditar no que viria
Nem mesmo o que se torne em fantasia
Além da velha curva do caminho,

Seguindo sem sentido e sem proveito
O pouco que me resta agora aceito
E sigo sendo sempre o mais daninho...

Loures

Um verme que passeia pelas ruas

Um verme que passeia pelas ruas
Ver-me de tal forma consolida
A ausência do que fosse a torpe vida
Enquanto noutro rumo tu flutuas,

Os ermos que de fato tu cultuas,
Arcando com a sorte em despedida
O todo pouco a pouco dilapida
E bebo as esperanças rudes, cruas,

Vestígios do que fomos, ledos rastros,
As sombras do passado frágeis lastros
E o meu naufrágio dita este futuro.

Jamais imaginasse nova senda
E o tanto que me resta mal desvenda
O quanto sem sentido configuro...

Loures

Eu tanto que te quero e não te tenho

Eu tanto que te quero e não te tenho,
Não consigo vencer os meus temores,
Se vou te procurando, fecho o cenho,
Não quero ser jardim sem belas flores,
Não peço nada, perco o que não tenho,
A vida, transformada nos horrores
Da perda, dessa ausência, traz seu lenho,
Cortando, decepando meus amores...
Teimo em tentar saber felicidade,
Não me importa mais nada, solitário,
Não quero nem tentar outra cidade.
Nem ser motivo desse riso hilário,
O mundo vai passando sem alarde,
O tempo vai cortando o calendário...

No sítio destinado ao meu amor

No sítio destinado ao meu amor,
As nuvens transformadas em tormenta,
Em raios despencando, o meu pavor,
Quem ama simplesmente não agüenta.
E sofre sem ter nada a seu favor.
A chuva desabando me atormenta
Dando-me a sensação de desamor.
Aumenta a solidão, é morte lenta...
A dor tão violenta, já se atreve
Erguendo sua voz, nada mais teme.
Nos olhos transbordados, tanta neve...
Parece que isso, há tempos, foi escrito
Por mãos mais infelizes. A alma geme
No vento. Cada raio, mais um grito!

Nas funéreas saudades desse amor...

Nas funéreas saudades desse amor...
A letárgica noite s’abatendo
Trôpega caminhando, convertendo
O que fora jardim me nega a flor...
Os resquícios dolentes, onde for,
Pelo que resta, gestos, cada adendo,
Irão comigo. Sigo me perdendo,
Nos fugidios ciclos, sofredor...
Cadáver insepulto, que carrego,
Vagueio vão, vazio, visceral!
Cego; renego afago, me nego
Ao negar, sonegar que inda te espero...
Sei, estupidamente te venero,
És princípio, primaz e principal...

Amigos que em momentos mais diversos

Amigos que em momentos mais diversos
Encontram-se nas ruas e nos bares,
Mesmo que tão distantes ou dispersos
Fazendo da amizade seus altares,
Afastam sentimentos mais perversos,
Alçando a liberdade vão aos ares.
Por isto, companheira, nos meus versos,
Felicidades chegam, vêm aos pares.
Não deixe que esta ausência nos destrua,
Decerto em ti percebo a claridade.
A nossa convivência continua
Mesmo que tão somente em pensamento.
Buscando o teu apoio num momento
Eu percebo o valor desta amizade...

De mármore; coluna trabalhada

De mármore; coluna trabalhada
Na sala e no teu quarto, mansa espalha...
A manhã ao chegar traz, orvalhada,
O gosto desse dia de batalha,
No gesto que me mostra a caminhada,
No corte e nesse fio da navalha...
Vou amar-te e no fim não terei nada,
A não ser essa mágoa que me orvalha...
Rocio se anuncia um novo dia.
Nas areias o mar, onda se espraia.
Quem me dera viver da fantasia.
Da morena, ventando erguendo a saia,
Tesouros espalhados, poesia...
Nosso amor invadindo toda a praia...

No peito de quem chora

No peito de quem chora, tanto samba
Batuque que não passa, sofrimento.
Amor que lá batia já descamba
E faz a tempestade num momento.
Amor é traficante e traz muamba
Deixando na caçamba, este tormento,
Quem dera se eu pudesse ser um bamba,
Teria o teu amor, teu sentimento.
Vinganças e mentiras, faca e fogo,
Levando o meu sorriso deixou nada.
A cama sem lençol desarrumada
Testemunha sacana deste jogo
Aonde na verdade, deu empate,
Dois imbecis: amor não é combate...

Nosso amor nasceu da mesma laia

Nosso amor nasceu da mesma laia,
Não pode mais saber de uma ventura,
Toda noite atordoa na gandaia,
O chicote amarrado na cintura.
Venenos que roubamos da lacraia
Não matam e só sangram com brandura
Levanto com urgência blusa e saia
Depois a brasa acesa, uma loucura.
Não posso te chamar de minha gata,
Nem são meus os desejos que me escondes,
Brincando de rainha, queres condes,
O riso de ironia não maltrata
Mineiro que se preza compra bondes
Depois? Vou engolindo esta cascata...

Não adianta, amiga, este burburinho...

Não adianta, amiga, este burburinho...
A gente se queimando em tanta lava
Trazendo a lua cheia por carinho,
Nos olhos da saudade já se lava
Quem sempre desejou beber o ninho.
Porém que esperança namorava,
Agora se permite andar sozinho
Deixando para trás a velha trava.
Navego por teus mares mais diversos
Andando tão somente em sempre não.
Fazendo falcatruas dos teus versos,
Destruo o que constróis com emoção.
Parecem os meus atos mais perversos,
Mas saiba que eles trazem salvação...

Não quero mais palavras piedosas

Não quero mais palavras piedosas,
Nem tampouco mereço condolências.
Se eu tive no canteiro podres rosas,
Que danem-se meus versos. Inclemências!
As horas que se foram; de saudosas
Agora se transformam: indecências.
Estradas tão divinas, luminosas,
Capotam no final, impaciências...
Um resto de perfume na amizade
Que um dia cultivei em outra senda.
Talvez inda me traga a liberdade
Que nem esta saudade mais desvenda.
Viver e conhecer felicidade?
É na verdade, apenas, simples lenda...

Lembrando do pomar e da mangueira

Lembrando do pomar e da mangueira
Fazendo sombra no quintal. Saudade...
A vida parecia brincadeira
Não havia nem sombra de maldade.
Nas mãos desta criança a atiradeira
Matando sem saber da crueldade.
Inocência perdoa esta besteira
Nas asas da perfeita liberdade.
No rio piracemas, tanto peixe....
Gravetos e fogão, na brasa e lenha,
Pedaços recolhidos, mesmo feixe.
Mugidos e namoros lá no pasto,
É pena que a velhice logo venha
E mate o coração, sacana e casto..

Por não temer qualquer um desabrigo

Por não temer qualquer um desabrigo,
Procuro a solidão que me tempera...
Não sei se vencerei mais um perigo,
A liberdade torna-se quimera...
Quem dera se pudesses vir comigo,
Em busca da verdade; uma nova era...
Nas franjas do caminho que persigo
Deixando para trás a besta fera.
Dessas virtudes que cultivas, bela,
A maior delas, mostra tua face.
Nos cavalos marinhos montar sela,
Esperanças dispersas, solidão...
Buscando tempestade que te enlace,
Procuro por abrigo, um coração...

Escrever simplesmente rebuscado

Escrever simplesmente rebuscado
De forma que pareça mais solene.
Não posso permitir que meu estado,
Pensamentos perdidos, me condene...
Não vi nem quero ver o meu passado
Exposto em galeria que me apene.
Rarefeito sentido passa ao lado,
Não vou mais por caminho que envenene.
Espero por fantasmas trás da curva
Decerto vão trazer o teu aval.
Visão que titubeia fica turva
As algas poluindo o vasto mar...
Desejo que não temo, pois carnal.
Nas ondas do teu corpo, navegar...

Meu corpo em podridão vasculha a casa

Meu corpo em podridão vasculha a casa
Do amor que se perdeu há tantos anos.
Na decomposição o sangue vaza
E deixa em mil pedaços velhos planos.
A morte sem juízo já se atrasa
E deixa tão somente os desenganos
Tomando o que resta em pouca brasa
Cadáveres de sonhos, desumanos.
Beijando a minha boca, a solidão,
Saudade deste amor, putrefação
De todos os sentidos. Renascer?
Quem dera se pudesse este prazer
De um último carinho quase inerme,
Nos lábios redentores deste verme...

Na lama que freqüentas triste cardo

Na lama que freqüentas triste cardo,
Difícil carregar tamanha pedra
Não posso transformar um triste fado,
Que em doce juventude cedo medra,
Em rosa que se esquece dos espinhos
Não sabe nem conhece solidário
Prefere destruir os próprios ninhos.
Ao morrer levará sol solitário...
Vereda que destroça por inveja
Decerto na queimada, os inocentes,
Com medo das palavras que troveja
Não sabem decidir os próprios passos.
Os gritos de tal fera são dementes.
Na mão esconde garra atrás dos laços..

A vida nos trazendo uma estranheza

A vida nos trazendo uma estranheza
Que toma em desespero a nossa mente,
Embora tantas vezes com presteza
Remonte a velhos dias, lentamente.
Nos mares esquecidos, correnteza,
Nos rios da esperança esta corrente.
Que mostra num momento a realeza
De uma amizade feita plenamente.
E tanto quanto eu canto, já sabia
Dos cardos e das curvas, pedregulhos.
Nas ondas dos amores, meus mergulhos
Terminam tão somente em água fria.
Juntando tantos cacos, meus entulhos,
Apenas a amizade ainda me guia...

Apenas me restasse o quanto vejo

Apenas me restasse o quanto vejo
Após cada momento em tal fastio,
O fim em todo instante prenuncio
E a morte se moldando em novo ensejo,

O tanto quanto possa não almejo
E perco a direção em torpe rio
Necessitando sempre um desafio,
O céu jamais seria em azulejo,

Prevejo nova queda e nada além
Da sorte que deveras me convém
Matando os descaminhos num só erro,

O mundo desabando a cada instante
E o fim do meu anseio mal garante
O tempo que perdera em vão desterro.

Marcos Loures

As sarnas te dominam triste cão...

As sarnas te dominam triste cão...
Ladrando esperarás ser conhecido.
Os vermes que passeiam pelo chão,
Assustas com certeza em teu latido.
No fundo se prestares atenção
Gargalham de teu mundo mais sofrido.
Imerso em teu fantasma fanfarrão
Deserto te perece tão comprido...
De cinzas e de luto é feito o pelo
Do cão que conheci, enfim de perto.
No frio em que delira pede gelo.
A vida mal permite esse concerto,
Enquanto vai passando meu camelo,
O pobre vai ladrando no deserto!

Espalho meus restolhos

Espalho meus restolhos, vou ao léu.
Não tendo outro caminho estou contente,
Minha alma se perdendo num bordel,
Meu mundo vai morrendo delinqüente.
O gosto do fantasma já se sente
No pântano que exponho, doce fel.
Eu te amo e nada disso é tão premente,
Apenas garatujas feitas mel.
Ao respeitar teus peitos, silicone,
Encontro em tuas pernas belo cone
Aonde misturando meus retalhos
Permito nosso amor sem atos falhos,
Em toda servidão em que me lavo,
Prossigo tão somente teu escravo...

Meus olhos nos desertos se lançavam

Meus olhos nos desertos se lançavam
Eternos sentimentos, poço e pólo
Deitando meu prazer busco teu colo
E apenas frios olhos me miravam.
Em nossas diferenças que saltavam
Aos olhos de quem vê além do solo,
Desejos e velórios misturavam
Receitas tão diversas mesmo bolo.
Fagulhas e farrapos, farpas, lumes,
A boca em podridão traz teus perfumes,
Mas mesmo assim prefiro essa halitose
No amor que me entranhou em pura osmose
Do vago que eu trazia, agora pleno,
Bebendo deste amor mel e veneno...

No visgo de teus olhos eu me prendo

No visgo de teus olhos eu me prendo,
És imã que me atrai todos os dias...
Ao ver-te, enamorando-me, pretendo
Fazer de teus olhares os meus guias.
Nas ruas que caminhas sigo tendo
As luas que me deste, poesias
À parte do que sei, sigo remendo.
Amores se perderam, cercanias...
As feras que conheço são de plástico.
Proclamo nossas dores não sou lógico.
Vivemos nosso amor, modo fantástico.
De tudo que passei não quero cântico.
As feras dos amores, no zoológico
Não posso me tornar assim, romântico...

Amigo; esta cadeira te pertence

Amigo; esta cadeira te pertence
É nela que escrevi meus versos duros.
O sonho de viver já não convence,
Os dias com certeza, mais escuros.
Por isso tantas vezes peço, pense
No quanto que enfrentamos altos muros.
Por mais que algum prazer nos recompense,
Não vale mais viver tantos apuros.
Mas deixo-te a cadeira como herança
Apenas um resquício de lembrança
De quem amou demais e não sabia
O quanto era importante o novo dia
Que é feito em harmonia, em esperança,
Palavras que esqueci, sem poesia...

Funâmbulo palhaço

Funâmbulo palhaço, equilibrista
Preâmbulos esquece e logo insiste,
Quem dera fosse arguto, mas vai triste
E morre sem remédio e sem conquista.
A vida em estertores, nega a pista
Aonde este infeliz sempre persiste
Amor não é somente um velho chiste,
Não há contra esta força quem resista.
Num frêmito palpita e descompassa,
Em solilóquio perde toda a graça
E mata num instante de emoção.
Que faço deste louco passageiro,
Mergulha num momento e vai inteiro,
Estúpido fantasma: coração!

Nestas flóreas estradas

Nestas flóreas estradas, um regato
Passeia lumbricóide entre as montanhas,
Nas águas cristalinas meu retrato
Distorce minhas lendas, minhas sanhas.
Ao ver caricatura eu me retrato
E vejo refletidas as entranhas
De quem não se mostrou, e deste fato
Eu perco estas batalhas, antes ganhas.
Do quanto imaginei, ledos quebrantos,
Não tenho mais a força que sonhara,
Apenas a saudade inda me ampara
E traz do meu passado, tais encantos
Mostrando que a minha alma, enfim perene
Resguarda uma esperança que me acene...

Castrados pela vida e pela espera

Castrados pela vida e pela espera,
Não sabem mais se vão ou permanecem...
Se submisso ao leão, finge-se fera
E os pobres dos cordeiros já padecem...
Desfolha totalmente a primavera
As rosas despetala e já fenecem...
Porém ao ver os tigres numa espera,
Baixando os olhos meigos obedecem...
Eunuco que se esconde, disfarçado,
Um gigante na audácia, mas anão
Os pobres que conhecem tal castrado,
Pisando, maltratando, este infeliz
Aos trancos e barrancos, bofetão,
No amor e na amizade, meretriz!

As noites que te viram?

As noites que te viram? Ah! Negadas...
Vazios noutros campos e paragens.
Em meio a tempestades e visagens,
Somente restam dores nas estradas.
Vagando pelas noites desgraçadas,
Não consigo entender estas miragens,
Meus rios sem vertentes vazam margens
E as fozes deste amor secas, paradas.
Os sonhos se foram – só besteiras.
Das matas e das luas tão brejeiras
Apenas o que resta, um simples não.
A noite com certeza voltará,
Depois da tempestade nascerá
O sol extasiando a multidão...

Deixarei suas curvas rio amado

Deixarei suas curvas rio amado,
De suas águas claras, vou ausente.
Formado em tanta lágrima, pressente,
Que a seca irá chegar sem dar recado.
De tanto que chorei desesperado,
As mágoas alimentam tal corrente
Que forma, de tristezas, a nascente
Do rio que deságua no passado.
Alimentado pela tua ausência,
O pranto da saudade nunca pára.
Viver sem te encontrar é penitência.
A lembrança de tua companhia
Jorrando nas cascatas, vida amara,
Salgando todo o mar de uma alegria...

Passando por estrelas

Passando por estrelas, embebido
Nos sonhos em que moldo um dia escuro,
Bebendo da ilusão perco o sentido
E trago esta paixão em verso duro.
Calando o que sentia, decidido,
Aguardo num momento o ar mais puro
Embora tanto medo já vivido
Não deixa o meu andar seguir seguro.
Somando o que nós fomos, resta o nada,
Meus olhos se perderam sem farol.
Minha alma vai sozinha ou rebocada
Sem nexo, vai sem brilho, cadê sol?
De tanto que apanhou, tomou porrada,
Apenas interroga, vira anzol.

Minha mansidão luta ferozmente

Minha mansidão luta ferozmente
Contra as dores cruéis. Minhas entranhas
Latejando; senil, vai minha mente
Buscando, temerária, tuas manhas.
Em muitas outras horas fui contente;
O preço? Em minhas costas; fundas lanhas.
Por outro lado, riso tão demente,
De todas as maneiras, sempre ganhas.
Fingindo ser mais forte do que creio,
De nada adiantou tanto disfarce,
Apenas apalpei, senti teu seio,
No teu lindo sarcasmo a demonstrar-se
Num sorriso sacana e sem receio,
Como se nele pudesses devorar-se

Pelas ruas caminho

Pelas ruas caminho; eu sou maníaco,
Procuro pelo amor de minha infância,
Deste-me tal destino, demoníaco,
Amar a quem me traz só repugnância!
Amor que maltratando faz cardíaco
Desejo de viver esta ignorância.
Bebendo de teu corpo este amoníaco
Demônios me tomando em discrepância.
Sem ter discernimento; vou em ruínas,
As águas que vomito; cristalinas,
Na porta dos castelos, crocodilos.
Não posso penetrar no teu palácio,
Incrusto o coração velho crustáceo
Que entoca teus sorrisos, teus estilos...

Tu falas que meus versos são herméticos

Tu falas que meus versos são herméticos
Talvez fossem melhor se fossem leves
Porém o que fazer se são genéticos
E as horas de viver decerto breves.
Os beijos que trocamos, tão herpéticos
No fundo me mostraram quanto atreves
A ver meus olhos mortos, apopléticos
Envolto em tempestades, frias neves.
Mas nada do que falas já me importa
Se aporto noutro porto, ancoradouro,
Quem fora, aberta a porta, meu tesouro,
Agora adormecendo velha e morta
Sorri de cada verso que eu fizer,
Mas decerto será minha mulher...

Nossas alucinantes cavalgadas

Nossas alucinantes cavalgadas,
Trocamos os suores e delícias,
As noites que passamos, madrugadas
Em meio a tantos beijos e carícias...
As nossas mãos e bocas vão atadas,
Neste desejo louco, mil malícias...
Sofreguidões das vidas acordadas...
Das amarguras, nunca mais notícias...
Um brinde tão feliz, nossa existência,
Na cama dos prazeres, que é redonda,
Encaixamos audaz coincidência
Nas cavalgadas, nunca penitência
Tristeza distancia-se hedionda,
Loucuras compartilham-se demência....

Um velho que menino foi na roça

Um velho que menino foi na roça,
Vivendo da caiana cana doce,
Olhando o seu olhar reflete a poça
Que há tempos na distância, amarga foi-se.
Ouvindo emocionado, a bela moça
Sentindo no seu peito, a fria foice
Do amor que, de repente já remoça
Na boca traz sorriso e mata a tosse.
Vestígios que deixara no caminho
Demonstram que inda pode ser feliz
Cansado de tentar andar sozinho
Ouvindo a voz macia que assim diz
Do amor que venho forte e temporão,
Adoça novamente o coração...

Nos nossos desafios homogêneos

Nos nossos desafios homogêneos
Unidade dispersa no caminho,
Os cortes que tivemos matam gênios
Cabelo solto ao vento em desalinho.
Se díspares destinos fossem gêmeos
Amores queimariam pobre ninho.
Porém pondo estes pés heterogêneos
Jamais iremos juntos. Vou sozinho.
Não posso escarnecer a humanidade
Nas vestes que me cobres; teus venenos.
Ofuscas o que resta em claridade,
No fundo não sabemos retumbância;
Meu mundo dividido é tão pequeno
Enquanto o teu, gigante em abundância.

Os dias são ferozes quando urgentes

Os dias são ferozes quando urgentes
E trazem falsidade tão mimosa,
Cravando bem profundos firmes dentes
A fera se disfarça em pura rosa,
Dezenas de desejos mais ardentes
São formas de matar enquanto goza.
Paixões quase comédias são dementes
E lambem minha carne venenosa.
Matando quem me mata, morro bem,
Sangrando com a foice quem sorri.
O quando nunca tive sempre vem
E nele, com certeza eu me perdi.
Procuro a escarradeira noutro alguém
E encontro tão profusa, assim, em ti...

Nasceste em meio a urzes decompostas

Nasceste em meio a urzes decompostas.
Esgoto que apodrece a céu aberto.
És serpe que envenena quando gostas.
Caminhas por latrinas, mar infecto..
A carne que te trai, devora em postas,
És aborto incompleto. Sei, decerto,
Das lanhas que já abriste em tantas costas.
Produzes com teus beijos, um deserto...
Meus dias ao teu lado, tristes lutos...
Descarnas os meus ossos com lambidas...
No pé, apodreceste tantos frutos.
Mataste vorazmente quem te quis...
As minhas mãos, em vão, vão decididas,
Cortar nossos destinos, infeliz!

Se teimo em te falar e não reclamo

Se teimo em te falar e não reclamo
Das pústulas marcando a minha pele,
Talvez seja por que, no fundo eu te amo,
Embora outro destino já me sele
E leve meu caminho, noutro ramo
Deste arvoredo cego que repele
E mostra a podridão em que me escamo
No riso de ironia que congele.
Teu cuspe de sarcasmo feito em beijo,
No corte de esperanças eu me aleijo
E mostro em gargalhada um imbecil.
Postulas cada pústula que destes,
Deixando nos meus olhos, óleos, pestes,
Sorrindo, mansamente tão gentil...

Num gesto companheiro e mais airoso

Num gesto companheiro e mais airoso,
Amigo, vou mostrar minha outra face
Depois de tanto tempo, belicoso,
Eu peço que esta foto já rechace
E deixe tão somente o mar gostoso
Aonde afogarei num novo impasse
O tanto que queria mais jocoso,
No olhar cego e perdido em que me embace
E trague finalmente algum sorriso
Sem marcas de ironia ou mágoa e dor
Maquiando decerto o paraíso.
Amigo, na verdade assim aviso
Do quanto é necessária a fina flor,
Mesmo com seu espinho protetor...

Não posso maldizer a primavera

Não posso maldizer a primavera,
Esta estação das flores e beleza..
Mas como vale e valerá a espera.
As flores te fizeram realeza,
Mas quando imaginava-se quimera;
Do calor outonal veio a certeza
De que nada seria mais cratera.
De todas fortalezas virei presa...
Menina como pode ser tão bela!
Não pude adivinhar tal formosura.
Nos sonhos meu cavalo perdeu sela...
Beleza igual traduz tantos fulgores...
No rosto emana brilhos e candura.
Outonal maravilha... Belas cores...

Olhando o teu angélico semblante

Olhando o teu angélico semblante
Percebo de onde vem todo o veneno,
Que mata e acaricia ao mesmo instante
Com fúria e com carinho em louco aceno.
Se eu fosse ou se eu pudesse ser amante
Talvez não mais mordesse, em gozo ameno
Viria me lamber. Interessante
Saber que nada sei, nem concateno.
Mas quase me enganaste mesmo assim.
Beijando a tua boca me espelhei
E vi no teu olhar, o quanto em mim
Amar e maltratar se torna a lei
Enquanto esta lambida carmesim,
É quase o mesmo mote que eu usei...

Eu levo esta mortalha sem sentido.

Eu levo esta mortalha sem sentido.
O raso de meus olhos pede espaço,
O pranto deste parto mal vivido,
Trazendo ao fim de tudo, este cansaço.
A morte eu quero minha e não divido,
Apenas bancarrota firma o laço,
O barco se abarrota e vai sorvido
Caindo mansamente em teu regaço.
Vestido de esperança, mato a brisa,
Se eu quero a ventania, não confesso.
A boca que devoro me hipnotiza.
Nascido pra fiascos, não resisto.
Delícia em morbidez assim professo,
No amor que tu me tinhas, sou Mefisto...

Amigo, a podridão já se descobre

Amigo, a podridão já se descobre
Debaixo deste amor que não mais quero,
Por mais que na verdade amor me sobre
No sabre que ela esconde, eu me tempero.
Amor que não valeu sequer um cobre,
Restou inerte e frio, cego e fero.
E enquanto resistindo, já me cobre
Cadáver insepulto que venero...
Amigo, como é bom saber que existes,
Meus dias não serão, decerto tristes
Existe a lealdade, isso é o que conta.
Os olhos que ela um dia tomou conta,
Ainda resistindo podem ver
Apoio que me faz sobreviver...

Quem sabe se talvez, já poderia

Quem sabe se talvez, já poderia
Falar desta amizade que nos leva
Trazendo para a vida a cantoria,
Deixando para trás terrível treva.
Agora que percebo esta alegria
Na luz desta amizade faço a ceva
Que me trará de novo em novo dia
Calor que não existe enquanto neva.
De todos os meus sonhos, eu garanto,
Felicidade é sempre o principal.
Cobrindo em amizade, calmo manto,
Embora o mundo seja desigual,
Aguardo com certeza todo o encanto
Do sentimento nobre, e maioral!

Palavras que disseste não refazem

Palavras que disseste não refazem
As noites que perdi te procurando,
As luzes se ofuscando já não trazem
Amores que se foram, me marcando.
Por mais que noutros braços inda abrasem
As horas num carinho, desfrutando,
Angústias do passado inda desfazem
Momentos em que tento ser mais brando.
Meu barco sem antigos astrolábios
Crivado por herpéticos sorrisos
Doridos, magoados os meus lábios
Em beijos torturantes, imprecisos,
Quem dera se pudessem ser mais sábios,
Os sonhos de um palhaço com seus guizos.

Erramos pelos ermos irreais

Erramos pelos ermos irreais,
Das fontes que bebemos, nem sinais,
Os medos se tornaram tempestades,
Os olhos procurando veleidades...
Nos pátios que irrompemos, vendavais,
Misturo teus venenos mais letais
Com as dores que trazem as saudades,
Encruzilhadas crivam as cidades...
Das cruzadas partícipe sem rumo,
Meu cavalo traz selas prateadas,
Minhas naves esperam novo prumo,
As almas me perseguem nas estradas,
Da morte sem sentir bebi o sumo...
As portas eu deixei escancaradas...

Quando passo e te vejo

Quando passo e te vejo, casualmente,
Decido por mentiras uma a uma...
Eu não posso esquecer-me de repente,
Das horas que tivemos sei nenhuma...
E me diz, com certeza e sei que mente,
A vida transtornada não se apruma...
Por vezes transfigura-se em demente,
A boca que me beija verte espuma...
Os olhos levantados; altivez,
Desértica saudade mata a sede...
O sol que me bronzeia, queima a tez
Descanso meus caminhos nessa rede...
Lembrança deste amor? Só na parede
Aonde o teu escárnio teve vez...

Nas ermas noites vagas, madrugadas,

Nas ermas noites vagas, madrugadas,
As tantas heresias e o meu cais
Aonde o que se faça dita mais
Que as sortes entre tantas degradadas

As cartas são decerto demarcadas,
Os dias emboçados e venais
Palavras mais esparsas e banais
Marcando sem sentido tais estradas

Em escaladas várias, queda à vista,
O mundo no final já não resista
Ao quanto ainda assista do que fora

Uma alma sem sentido ou privilégio,
O bando num momento em sacrilégio
Traçando a voz temida e sonhadora.

Loures

Não mais que qualquer sonho em tal sangria

Não mais que qualquer sonho em tal sangria
Esqueço versos velhos, dias rudes,
E quando noutro tanto tu me iludes,
A vida no final nada traria,

Sequer o que se faça em fantasia
Matando com temíveis atitudes
Momentos em supernas plenitudes
E o tanto que se traça em voz sombria,

O manto sempre roto da esperança
E o tanto onde derrota agora lança
Avança em noite espúria e sem proveito,

Ao menos pude ver o meu retrato
Na fonte aonde o nada ora constato
E sigo sem descanso e enfim me deito.

Loures

Os entes que carrego e não suporto

Os entes que carrego e não suporto,
As tramas enredadas e meu mundo
No caos enquanto em dores se me inundo,
Eclodem no caminho onde as comporto,

As tantas ilusões, o quanto importo
Do verbo mais audaz e mais profundo,
Seguindo sem sentido o mais imundo
Cenário aonde o rumo agora aborto,

Não tento outra saída que não tem
E sei do quanto pude sem ninguém
Nas tantas e dispersas ilusões,

Arcando com enganos sem vestígios
Dos termos entre enredos e litígios
Encontro em toda luz o que repões.

Loures

Não mais que qualquer tempo após o quanto

Não mais que qualquer tempo após o quanto
Do todo inda restasse e não trouxera
Palavra mais mordaz, mesmo sincera,
E nisto com certeza o desencanto,

Presumo no vazio do meu canto
A sólida expressão que não quisera
Marcando com ternura esta nova era
Que apenas acredito e não garanto,

Esqueço dos meus erros e procuro
Vagando pelos ermos deste escuro
Terror que nos tocasse em plena bruma,

O sonho em esperança se esvaíra
Semente soerguida da mentira
Aos poucos no não ser já me acostuma...

Loures

Lembro-me como fosse este moleque

Lembro-me como fosse este moleque
Correndo pelas ruas sem tropeço,
A vida vai se abrindo como um leque
Retorno, de repente, ao meu começo.
Lágrima não encontra quem a seque
Meu mundo se mudou, sem endereço
Na noite sem perdão não há quem peque
O tempo transformou velho adereço.
Lembro-me do moleque que corria,
Sem tropeço, depressa, pelas ruas.
A vida era fantástica, meus dias
Não tinham sofrimentos. Belas luas
Nas noites misturavam fantasias.
Vizinhas adormecem semi-nuas...

Esperança não pode ser atriz

Esperança não pode ser atriz,
Nem pode desfilar qual fosse astuta
Nos olhos do meu povo, a meretriz,
Não pode se esquecer de tanta luta...
Esperança não pode ser vendida,
Nem pode ser deixada sob a mesa.
Reflete tantas vezes, nossa vida,
Não pode ser envolta por tristeza...
Esperança acordando molemente,
É melhor que matar nosso futuro...
A vida se aproxima mansamente,
Esse chão que percorre é muito duro...
Esperança levanta calmamente,
Nosso céu inda está, por certo, escuro...
Mas a luz aparece devagar,
Não temos o direito de matar,
A esperança que acaba de acordar!

Por quanto tempo uma alma viveria

Por quanto tempo uma alma viveria
Sem saveiros, sem mares ou cavalos,
Quem sabe com certeza não diria
A sorte se escorrendo pelos ralos.
Passarei todo o tempo, em cada dia,
Perdido sem meus sonhos, vou buscá-los
Embora saiba até da zombaria
Minhas mãos necessitam destes calos.
Será que tenho tempo de voltar?
Rever a mocidade que se esgota,
Minha alma se perdendo, devagar,
Meu sangue se escorrendo além da cota,
Porém numa amizade a vislumbrar,
Quem sabe encontrarei, de novo, a rota?

Quem fez de tantas vidas zombaria

Quem fez de tantas vidas zombaria,
Quem riu-se da desgraça que me toca...
Não pode nem passar sequer um dia.
Teu pensamento chega e já provoca.
Quem passa pela vida numa orgia
Não sabe se conter; vem, me desloca
O merencório luto é fantasia,
O peixe se escondeu em outra loca...
O ramo da oliveira, a pomba branca,
Mensagens esquecidas numa agenda.
O sangue que hemorrágico se estanca;
A vida merecia nova tenda...
Não quero conhecer a mesma banca,
Amores sem perdão virando lenda...

No abandono que sinto em tua ausência

No abandono que sinto em tua ausência
Meus versos são tristonhos, magoados.
Às vezes te pedindo por clemência
Os sonhos, eu perdi, abandonados.
Bem sei que isso só foi coincidência
Que amores devem ser sempre louvados.
Porém, por tantas vezes vou sozinho
Na busca pelo sol da primavera
Um pássaro que luta por seu ninho,
Não vendo solução se desespera.
Que bom que tu vieste. Em teu carinho
Um mundo bem melhor do que se espera...
Assim, no vicejar de nosso amor,
Pretendo, minha sorte recompor...

Sentir teu corpo manso

Sentir teu corpo manso num momento
Numa ternura tanta desde o início,
Vivendo sem temer qualquer tormento,
E mergulhar inteiro... Precipício...
O dia vai passando, calmo e lento,
Eu desfrutando em ti, desejo e vício...
Apartamento, sala, cama e mesa.
Meu pensamento voa, uma navalha...
Dois gumes emolduram a princesa
Impedem totalmente qualquer falha.
Tu és a caçadora em viva presa
Que morde e que me cativa e já se espalha
Na cama que requer senso e castigo,
Nas pernas que me cobrem. Nosso abrigo...

Vem me buscar querida

Vem me buscar querida, estou aqui..
Faz tempo que desejo tua volta...
Às vezes me lembrando que perdi,
Meu coração se enluta, com revolta.
Se todo pensamento vai a ti,
Minha alma nunca mais, enfim, se solta.
Tu és o meu caminho... Concebi
A vida do teu lado, sem escolta
Da dor a nos rondar em versos tristes.
Do medo que consome uma alegria.
Eu peço meu amor, se inda resistes,
Não deixe agonizar nossa paixão.
Que foi tão de repente assim vadia,
E agora por um fio... Sem perdão.

Tu dormes do meu lado

Tu dormes do meu lado e quase ris,
Na tua placidez como de um lago
Eu tenho a percepção de ser feliz;
O amor que nos unindo é como um mago
Que mostra a vida sempre por um triz,
Permite que eu te faça um manso afago.
Sou prisioneiro terno dos teus braços,
Sentindo o teu respiro tão profundo.
Amada em minhas mãos, em meus abraços,
Me dás toda a certeza deste mundo
Bonito e tão amigo, nossos laços
Na eternidade imensa de um segundo...
As horas vão passando, a noite inteira...
Que bom que estás comigo, companheira...

Eu quero saciar os meus desejos

Eu quero saciar os meus desejos
No corpo desta deusa feita humana,
Cobrindo cada parte com mil beijos
Na tesa sensação da qual se emana
Vontades e carinhos, relampejos,
Fomentos desta noite louca, insana,
Deixando para trás antigos pejos,
Na doce sensação, feroz, sacana
De corpos misturados e entranhados,
Vorazes e sedentos, mais safados.
Até que venha audaz saciedade.
Sentidos eriçados e aguçados,
Desejos neste amor, realizados,
Na busca pela insânia e liberdade...

Enfrento os mares sem as velhas garras

Enfrento os mares sem as velhas garras
Que foram amputadas, morta a fera,
Livrei-me do passado e sem amarras
Tentando reviver a primavera
Profanos sentimentos quando agarras
Meus olhos em desejos sem espera...
Enlaço o teu pescoço, gargantilha
De braços e de lábios, somos um.
Paisagem pressentida em maravilha
Nosso desejo é senso mais comum.
Encontro-te despida em mágica ilha
Do quem já foi disperso, sou nenhum...
Sobreviventes; somos, do que fora,
Coral, areia e sonho nos decora...

Deitada em minha cama

Deitada em minha cama, assim desnuda,
Eu olho devagar, este cenário.
A pele tão macia, a boca gruda...
Exploro cada ponto qual corsário
Que ao sabor destas ondas logo muda
E vibra em teu amor, destinatário
Dos sonhos e desejos mais profundos,
Da viva sensação de ser cativo,
Minutos, horas, dias e segundos,
Contigo, meu amor, estarei vivo.
Destilo do teu mel, meus novos mundos,
De tudo o que há lá fora eu já me privo...
O teu perfume invade-me as narinas,
Descubro extasiado, tuas minas...

A terra que esperança já tolhia

A terra que esperança já tolhia
Tornada em frágil senda derrotada;
Nas ondas tão distantes da alegria
O canto se espalhando em dura estrada
Na vívida impressão do não havia,
Restando no meu peito o quase nada.
Nas asas do meu sonho, a poesia
A cada novo dia, renegada.
Amor já se afastando só me resta
Fazer desta saudade o meu refém.
Trazendo finalmente a voz de alguém
Que possa traduzir felicidade,
Depois deste vazio, alguma festa
Nos rastros tão sutis de uma amizade...