sábado, 19 de junho de 2010

37621 até 37640


1

Nos ermos escrevi
O quanto desejava
Quem tanto não se dava
E sendo estando ali
Do quanto mereci
Apenas medo e lava,
A presa que se crava
E assim eu me perdi,
Vencido pelo medo
Ou mesmo num enredo
Diverso do que outrora
Pensara num instante
O passo doravante
Deveras não ancora.

2

Nos olhos criminosos,
Nos passos para o além
No quanto não contém
Momentos majestosos,
E os sonhos andrajosos
Do mundo muito aquém,
E quando em tal desdém
Olhares belicosos,
Risonhos navegares
E enquanto tu sonhares
Talvez ainda veja
O todo, mas vazio
O coração sombrio
Maldito ainda seja.

3

Na festa dos amores
As horas entre tantas
E quando desencantas
Por onde quer que fores,
Ainda em dissabores
Deveras te levantas
E cedo não garantas
Sequer jardins e flores
Em cores mais sombrias
Assim as poesias
Já não traduzem paz,
Eu tive dentro em mim
O amor que chega ao fim
E nada, eu sei que traz.

4

Nos braços, minha amada
A sorte no horizonte
E aonde quer a fonte
Já tanto desolada,
Resumo em quase nada
O dia que desponte,
E bebo enquanto aponte
Decerto noutra estrada.
Escravo da emoção
Os dias não serão
Deveras desta forma,
O amor que quero tanto
E agora em desencanto
Em nada se transforma.

5

Fortuitos sentimentos
Delírios deste amor
Aonde quer a flor
Encaro vários ventos,
E sem pressentimentos
Adentro o dissabor,
E sei que tentador
Encanto em provimentos
Já fora há muito tempo
Maior que contratempo
Ferida em plenitude.
Mas quando mergulhava
Num mar imenso em lava,
Vazio em mim, eu pude.

6

São facas que machucam
Olhares entre sonhos
E quanto mais medonhos
Os tempos não educam.
Eu quis e não podia
Vencer os desafetos
Os dias prediletos
E neles a heresia
Moldada à face e forma
Da velha cicatriz,
Se o tempo contradiz
E o risco me deforma,
Bebendo deste vago,
A morte enfim afago.

7

As mãos que acariciam
Também maltratam tanto,
E quando inútil, canto
As sortes propiciam
As dores que viciam
Deveras desencanto
E tento, e até garanto
Que nada mais trariam,
Na fútil fantasia
A morte se daria
Em passo mais veloz,
Bebendo esta cicuta
A vida não reluta
E cala a minha voz.

8

Amor que não se esmera
Delírio em voz sombria,
E quando enfim previa
A viva primavera
A morte degenera
E trama esta vazia
Noctívaga heresia
E dela bebo a fera,
Resisto o mais que posso,
E sei que nunca é nosso
O sonho que foi meu,
Meu rumo sem mais nexo
O passo mais perplexo
Assim já se perdeu.


9

Os cantos que não trazes
O dia segue alheio
E tento enquanto veio
Apenas as tenazes
Verdades tão mordazes
Gerando outro receio,
E quando em vão recreio
Os cortes volves, fazes,
Eu teimo em despedida
Perdendo a minha vida
Na curva após o tempo,
Depois do nada haver
Apenas o querer
Não basta, é contratempo.

10

Meus dedos não procuram
Sequer saber por onde
Amor não me responde
Nem ânsias teimam, curam,
Encontro o nada em mim
E sorvo cada gota
A morte, a face rota,
O nada de onde eu vim,
O parto sonegado
O canto em desvario
Assim eu desafio
E tento outro legado,
Mas nada resta e enfim
A morte vejo em mim.


11

As ruas mais silentes
Olhares sem noção
Aonde mostrarão
As armas entre os dentes
Ainda que pressentes
No todo esta ilusão
O porte da emoção
Tramando em dias quentes,
Gestando em pleno inverno
Gerando este granizo
Aonde eu me matizo
E sei quanto me interno
Na entranha da mesmice
Diversa do que eu disse.

12

Nas noites dos meus sonhos
Palavras levam vento,
E tento outro momento,
Porém são enfadonhos
Os riscos de viver
Vontades discordantes
Bem antes que levantes
Já posso em ti rever
A praga mais cruel,
O fardo insuportável
Aonde quis arável
O solo é feito em fel,
E o todo se transforma
No nada, e me deforma.

13

Singelos meus defeitos
Se eu tento e não consigo
Ainda em desabrigo
Ali faço meus leitos,
E sei dos poucos feitos
E neles não prossigo,
Rasgando o que há comigo
Ouvindo velhos pleitos
Riscando do meu mapa
O todo que se encapa
Arcando com enganos,
Esbarro no passado
E bebo deste enfado,
Mudando velhos planos.

14

Completam-se nos erros
Os dias mais temidos,
Aonde em vãos gemidos
Pensara meus desterros,
Ascendo aos tantos cerros
E busco permitidos
Caminhos dos sentidos
E neles sei aterros.
Pensara mais diverso
Do quando ainda verso
No nada que redime,
Porém a noite esboça
Somente o medo e a fossa,
Cenários de outro crime.

15

Amores são meus pratos
Aonde mato a fome,
E quando o sonho some,
Dos dias velhos atos,
Pudessem ser mais gratos
A quem tanto consome
Ou nada do que dome
Permita meus regatos,
Marcando a ferro e fogo
Há tanto perco o jogo
E rogo pelo fim,
Mascaro esta vontade
Procuro a liberdade
E bebo tudo em mim.

16


Embalde nesta vida
Procuro algum amparo,
O passo que declaro
Não vendo outra saída
Senão a mesma urdida
No corte em despreparo,
O mundo nunca é claro,
A sorte mal cumprida,
Cenários mais diversos
E neles perco os versos
Enveredando o nada.
Pudesse pelo menos
Em dias mais amenos
Saber de outra alvorada.

17

Violas quando à noite
Em serenatas ouço,
Revivo o calabouço
Do amor em franco açoite,
Esgueiro e da janela
A cena se repete,
A lua se reflete
E o sonhador revela.
Mas logo o tempo passa
E tudo sem destino
Aonde me alucino
Perdendo qualquer graça,
O parto num aborto
O sonho há muito morto.

18

Nas guerras e nas camas
Cenários de batalhas
Aonde logo espalhas
Ternura, medo e chamas,
E quando me reclamas
Ou logo nas navalhas
As velhas cordoalhas
Invadem nossas tramas.
Eu bebo deste nada
E quando é destinada
A sorte noutro rumo,
Os meus caminhos frágeis
Os sonhos são mais ágeis
Ao nada me acostumo.


19

Meus medos são remédios
E sanam qualquer dor
No quanto recompor
Após dias em tédios,
Diversos tais assédios
E neles sonhador,
Buscando mansa flor
Porém cimento e prédios.
Não tive qualquer chance
Ainda que me lance
Aos ermos da ilusão
Meu dia a dia escorre
A vida é mesmo um porre,
O verso é negação.

20

Por vezes me percebo
Distante ou mesmo ausente
E ainda que se tente
Do amor, velho placebo
O nada que recebo
Ou mesmo se apresente
No quanto não invente
Vazio? Não me embebo.
Eu quis e não sabia
Da mera fantasia
Aonde se gerara
A noite mais sombria
E agora se esvazia
Procura outra seara...

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