sábado, 2 de abril de 2011

23

Pondo as coisas no lugar
Tendo o meu olhar mais firme
O que possa desejar
Neste ponto se confirme,
O que tento adivinhar
Noutro passo reafirme
O cenário a se mostrar
Onde possa conduzir-me
Nos temores corriqueiros
Meus anseios se repetem
Outros dias, mais ligeiros
Tempos novos já refletem
E os momentos em meneios
Encaixando, se completem.

24

A verdade não sonega
O que o tempo perfilara
A palavra mesmo cega
Traz a sorte da seara,
E o meu mundo não navega
Onde nunca mais se ampara
Deste mínimo hoje mega
O meu canto desprepara.
Esbarrando nos anseios
De quem tanto quis além
Ouço apenas, novos meios
Do que possa e já não tem
Sem saber dos devaneios
Com certeza sou ninguém.

25

Nada mais tive nas mãos
Nem sequer alguma sorte
Os meus olhos ermos chãos
O meu tempo diz da morte,
E se possa em rumos vãos
Outro sonho que comporte
Quem me dera, dos irmãos
O que tente em bom suporte.
Nas entranhas do infinito
Cada passo é condizente
Com o quanto mesmo grito
Noutro tom o que apresente
O meu mundo em novo rito.

26


Nada mais pudesse ver
Do que tanto desejei
O meu canto a se perder
Noutro espaço, noutra grei
O cenário a se verter
No que um dia procurei
Outro mundo eu passo a ter,
Num anseio me encontrei.
Novo dia em tom diverso
Universos que inda possa
Traduzindo noutro verso
A verdade já nos roça
E transcende ao mais disperso
Desejar aonde imerso.

27


O meu tempo se aproxima
E do todo imaginário
Outro sonho em ledo clima
No momento necessário
Movimento que redima
O que possa e sou corsário
Navegar nos aproxima
Num caminho solidário.
Vagamente lembro a sorte
Tantas vezes maltratada
E se bebo o que comporte
Expressão já desenhada
Busco enfim um novo norte
Ou talvez não veja nada.

28


Na palavra dita em paz
O que reza traz no olhar
Onde o mundo satisfaz
Sem saber o que vai dar,
O cenário se é capaz
De outro sonho retratar
Mesmo quanto mais tenaz
Expressasse algum luar;
Embrenhando no horizonte
O que possa ter no fim,
Onde o sonho sempre aponte
Vicejando dentro em mim
Construindo a clara ponte
Que desponte, sempre assim.

29


Jamais pude imaginar
Qualquer sonho aonde um dia
Pude mesmo desejar
O que tanto se queria
Noutro rumo em claro mar
E se tanto moldaria
O caminho a desnudar
Onde a vida em poesia.
Nada mais se vendo além
Do que tanto quis atento
O meu mundo quando vem
Espalhando além, no vento.
E o que possa ainda tem
Novo dia em pensamento.

30

A saudade não traduz
O que tanto desejaste
E se possa contra a luz
Ter no olhar raro contraste
Onde o todo se produz
Noutro canto se desgaste
O momento que seduz
Reduzindo ao nada o traste.
O meu verso sem sentido
O sentido mais perverso
Onde vejo resumido
O cenário aonde eu verso,
Tanto sonho traduzido
Quantas vezes o disperso.

31

Nas tormentas costumeiras
Nas palavras doloridas
Entremeia nas roseiras
As verdades concebidas
E se tanto em corriqueiras
Luzes tu não mais dividas
Mesmo quando tanto queiras
Não verás o quanto agridas.
E vivazes dias trazes
Entre enganos e retalhos
Procurando nessas fases
Os caminhos em atalhos
Mesmo quando são audazes
Os anseios, mesmo falhos;


32


Mergulhando no vazio
Onde o tempo não promete
O que tanto hoje recrio
Na verdade compromete
E gerando novo estio,
Desvendando o que reflete
O momento em desvario
No corte do canivete.
Conivente com a sorte
De tal forma desolada
Aonde o nada me comporte
Renegando uma alvorada
Meu anseio perde o norte
No final não sobra nada.

33


Aprendendo a cada engano
Outra vez pudesse ter
Onde apenas eu me dano
Sem sentir nem perceber
Do vazio cada plano,
E concebo sem saber
A versão em tom profano
Desenhando o desprazer.
Poderia pelo menos
Encontra alguma paz
Em momentos mais amenos.
Mas meu Pai, o Satanás
Entremeia em seus venenos
O que a vida ora desfaz.

34

Na carniça apodrecida
A rapina banqueteia
O que fora outrora vida.
Pouco a pouco noutra teia
Vendo apenas despedida
Onde a sorte devaneia
Na palavra ensandecida
Arrancando cada veia;
E o cadáver entre os vermes
Olhos pútridos e inermes
Renascendo em bela flor.
Restitui uma esperança.
Quando a morte nos alcança
Noutra forma o recompor.

35


Morto quem vivera em trevas
Nada mais esperaria
Do cadáver que hoje cevas
Esta cena ora sombria.
Esperanças. Ledas levas
Cada dia apodrecia
Larvas, vermes onde nevas
E jamais amanhecia.
Neste inferno que me deste
Sentimento feito em peste
Desta pútrida verdade.
Decomposto pouco a pouco,
Resta o quanto me treslouco
Sordidez em luto invade.

36

Cadavérica figura
Expressando o que nos rege
A verdade que tortura
No sorriso deste herege.
Numa irônica brandura
Falsamente nos protege
E o que possa em amargura
Dentro da alma ora lateje;
E no caos, a tua herança
Sem saber aonde alcança
Viperina face escusa,
Só a morte me redime,
Num momento onde sublime
Esperança se recusa.

37

Jamais tive algum alento
Mero espectro vida afora
O que possa em sofrimento
Pouco a pouco me devora.
Quem me dera isolamento
De uma morte sem demora
Nela o raro acolhimento
Desejado desde agora.
Nesta fétida presença
De quem tanto me convença.
Vale a pena algum descanso,
E da tétrica verdade
Onde houvesse o que degrade
Meu caminho seja manso.

38

E gargalhas, rapineira
Quando vês a morte em mim.
Redimindo a vida inteira
No bendito e podre fim,
A palavra derradeira
Transmudando agora enfim.
O que fora cordilheira
E hoje morre torpe assim.
A mortalha não te cabe,
Nem tampouco qualquer luto.
Quando sórdido desabe
Eu te peço e não reluto,
Noutra rota ou patrimônio
Compartilhes co’o demônio.

39

As esferas infernais
Aguardando esta chegada
De quem viva em temporais
Esta estrada desolada
E presumo quando esvais
Numa imensa derrocada
Teus carinhos, tão venais
Cada beijo uma estocada;
Peço apenas ter em paz
Meus momentos derradeiros
Se de tudo for capaz
Corpo esterca outros canteiros
Teu sorriso tão mordaz
Dita os termos corriqueiros.

40

Escarraste no meu rosto,
Em sofrível noite vã
E o cadáver decomposto
Não verá nova manhã
Satisfeito assim teu gosto
Nesta sorte tão malsã
Inda sentirás o gosto
Desta pútrida maçã;
Da visão que cultivaste
Sou apenas este traste
Que decerto perambula
Sem sentido vida afora
E o que tempo já devora
Morbidade dita a gula.

41


Olho o corpo ensangüentado
Sobre a cama e identifico
O que fora meu passado
Onde a morte eu edifico,
E se tento ter ao lado,
O caminho enquanto fico
Tanta vez; mortificado,
E o meu sonho; o contra-indico.
Conseguiste o teu intento,
A palavra sempre rude
Expressando o que ora tento
E deveras nunca pude
Desenhar em sofrimento
No apogeu, na plenitude.

42

Das vergastas que ora estalas
Neste corpo moribundo
As palavras avassalas
O meu tempo noutro mundo,
E se possa em tuas salas
O que tanto agora inundo
A minha alma já não calas,
Coração prossegue imundo.
A vergonha que estampasse
Num esgar da tosca face
Que se fez bela e sombria.
Vejo em ti diversas gralhas
E; portanto se gargalhas
Neste riso há ironia.


43

Nada mais se vendo enquanto
Outro tempo prostitui
O que possa e se me espanto
No vazio constitui.
O meu tempo em desencanto
Outro tanto agora rui,
E o versejo quando canto
Tão somente me polui.
A verdade não se visse
Mesmo quando em tal tolice
Apresenta a podridão.
De quem sabe e se alimenta
Desta sorte tão sangrenta
Em total ebulição.

44

Pouco resta para tanto
E se possa ser assim
O mergulho neste pranto
Traz o quanto existe em mim,
Sordidez a cada canto
Dominando este jardim,
O meu mundo em desencanto
Outra voz traduz o fim;
Esperasse algum momento,
Mas palavra solta ao vento
Não teria algum valor,
Dos caminhos preferidos
Outros tais, empedernidos
Tramam farto dissabor.

45

Bastaria algum instante
Ou talvez; quem sabe, a luz
E o que possa e se garante
Ao vazio me conduz,
Mesmo quando o sonho espante
Geração traz e reluz
O que tanto desencante
A verdade aonde a pus.
Resumindo o meu anseio
Neste ponto enquanto veio
Esta equânime vontade
O meu canto desengana
A palavra mais profana
Traduzisse realidade.

46

Apresento o meu olhar
Nas tramóias da existência
E pudesse descansar
Sem a dura convivência
Do que pude desejar
Sem sequer ter a ciência
Deste rude caminhar
Com temor e incoerência.
Vejo as tramas e enalteço
A verdade em tal tropeço
E me entrego ao que não veio,
Perseguindo o quanto resta
Desta vida tão funesta
Pouso em solo atroz e alheio.

47

Meu momento se resume
No que possa e não se vê
Nem sequer o rude cume
E talvez viver o que
Permitisse algum perfume
No que possa e não se crê
Numa história e se acostume
E jamais a luz revê.
O meu mundo se desbota
E se possa em nova nota
Traduzir o que se faz
E o meu canto semeasse
Outra vida em desenlace
Desenhar o que é mordaz.

48


Nada mais eu pude ter
Onde o mundo se adivinha
No caminho a se perder
Pouso em paz e a sorte minha
Traduzindo sem querer
O que possa e não continha
Sem o prazo a se tecer
A palavra mais daninha;
O verdugo traz no olhar
O cenário sem proveito,
A verdade a divagar
Na incerteza deste pleito
Onde eu pude imaginar
Tenho em canto o quanto aceito.

49

Nada mais se vendo após
O que trago sem sentido
O caminho traz em nós
O cenário dividido,
Tantas vezes destes pós
Outros tantos; dilapido
E o que possa presumido
Traz a viva e dura voz,
E seduz o que talvez
Não viesse e se desfez
Num momento mais sutil
Entremeio o que se veja
Na palavra onde a peleja
Sem sentido algum se viu.

50

A verdade não se trama
Nos anseios mais tenazes
O que possa além do drama
Tantas vezes tu me trazes
E se possa em cada rama
Desenhar o que não fazes
O momento traz e clama
Outros dias mais mordazes.
Nada mais pudesse ter
Ouro, prata, dor e tédio.
Permaneço sem querer
Ou saber qualquer assédio
Do caminho a enaltecer,
Esperança, um vão remédio...

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