quarta-feira, 28 de abril de 2010

31101 até 31350

31341

Já não posso nem olhar
O que tantas vezes quis
E se agora um infeliz
Vê da terra este luar,
Onde posso mergulhar
Se o meu mar é sempre gris
O teu nome escrito a giz
Outra senda a se mostrar
Sobre os sonhos entre cantos
E se agora são quebrantos
Noutros dias ilusões,
Quando vejo esta vereda
Farta luz que se conceda
Ao contrário do que expões.

31342


Neste céu feito em estrelas
Sem as nuvens num clarão
Tão sobeja exposição
Como é bom poder revê-las
E se quando em envolvê-las
O meu canto é de emoção
Já não quero outra versão,
Quero ao menos recebê-las
E bebendo a claridade
Onde o sonho ora me invade
Vias tantas céu imenso,
Mas depois nada se vê,
Outro mundo sem por que,
Da miragem me convenço...

31343

Onde a sorte em sombras dita
O que tanto quis diverso
Sinto inútil cada verso
Outro rumo em tez aflita,
E a verdade ora maldita
Traduzindo este universo
Em cenário tão perverso,
A minha alma ainda grita
E se é vago o caminhar,
Nada tendo céu e mar,
Lua morta há tantos anos,
Onde pus o meu cavalo,
No vazio me avassalo,
Recolhendo os desenganos...

31344

Na alvorada abrem caminhos
Sóis imensos e em seus clarões,
Novos sonhos e verões
Novos dias, velhos ninhos,
Já não somos mais sozinhos
Nem tampouco em divisões
As heranças que tu pões
Os melhores, nobres vinhos
São apenas momentâneos
Caminhares instantâneos,
Mas lavando assim minha alma,
Pelo menos num segundo
Noutro mundo me aprofundo
E esta cena enfim me acalma.


31345

Flutuando com o vento
A saudade diz do quando
Outro tempo se formando
Mesmo agora ainda tento
E se nega este alimento
Esperança em leva e bando,
O caminho desaguando
Noutro tanto sem provento,
Risco assim o nosso nome
E se ainda ao longe some
Alegria num tropel,
A seara se avermelha,
A minha alma sem centelha
Não mais crê no fogaréu...

31346

Com as ramas entre tantas
Folhas secas do arvoredo
Neste outono me concedo
Desengano desencantas
Desacatas, tomas mantas
E se o frio diz segredo,
Onde posso e retrocedo,
No vazio te adiantas,
Sendo assim mutável vida
Quando a sorte está perdida
Despedida pouco vale,
Neste inverno mais sombrio,
Ao beber o intenso frio,
Esperança traz o xale...

31347

Vejo a foto sei do monte
Onde tantas vezes fui,
O que ainda não influi
E nem toma este horizonte
Quando em mim já desaponte
Este sonho então se pui
O riacho se polui
E não tendo mais a ponte
Ao vencer a corredeira
A alma pária e parideira
Vai bebendo da ilusão,
Mas se vendo mais sozinha,
Nada cria e se avizinha
Das veredas do senão.

31348

Eriçando em arrepio
Pêlos fartos, falta ver
O que nada dá prazer
Mal gerando algum rocio,
E se posso ter no fio
O caminho a percorrer
Acendendo sem saber
Da mortalha este pavio,
Estopins em tiros certos,
Os meus dias são desertos,
Mas abertos tais portais,
Nada vem e nem podia,
Sendo fútil poesia
Onde estão nossos cristais?

31349

Quem virá depois do todo
Onde nada fora em vão
Ao saber sonegação
Resta apenas mero lodo,
E mergulho quando vejo
Do cometa esta fagulha,
Ao sentir quanto se orgulha
Das agruras do desejo,
Carcomido peito exposto
Entre faca, foice e adaga
Este incêndio não se apaga
Vou seguindo sempre oposto
Ao que tanto mais se tece
Quando o sonho uma alma esquece...

31350


Perguntando como e aonde
Outro tempo se fizesse
Muito mais que mera prece
Não sei tanto o que se esconde
Neste mundo em cada fronde
Do arvoredo que enobrece,
Mas deveras me enlouquece
Perguntar? Ninguém responde.
Hoje fora a minha sorte
Amanhã decerto a tua
E se a morte continua
A ditar assim o norte,
Vejo apenas o final
Num cenário sempre igual...


31331

Tanto que te quero agora
E não queres meu querer
Poderia conhecer
Quem teu sonho ora decora
Nada vejo e vou embora
Procurando amanhecer
Lua enorme pude ver,
Mas a sombra que a devora
Desvalido caminhar
Nada resta sobre o mar,
Nem o sonho dentro em mim,
Poesia fora atroz
E sem ter sequer a voz,
Retornando de onde eu vim...

31332

A esperança traz nas ramas
Dias tantos fartos sóis
E se ainda sem faróis
Na verdade não me chamas,
Quando a vida diz dos dramas
Entre vários contra e próis
Vou cevando caracóis
Imergindo em fúteis lamas,
Bebo a sorte mesmo ingrata
E se tanto se maltrata
Quem decerto te quis bem,
Eu prefiro a solidão
Nada tendo nem o não,
Nem este ermo ainda vem...


31333


Sobre o mar prata da lua
Espalhando poesia,
Mas deveras nada cria
Quem jamais sonha e flutua
Quando a sorte alheia atua
E desvela a fantasia
Ao verter tanta ironia,
Não encontro nem a rua,
E esta nua maravilha
Que decerto tanto brilha
Plena e rara sobre nós,
Mas ausente de esperança
A minha alma não se lança
Nem mais solto a minha voz.


31334


O corcel ganha horizonte
Entre vales e montanhas
Ao saber das suas sanhas
Novo tempo em que se apronte
Nova mina, mesma fonte,
As partidas, velhas sanhas,
Esperanças em barganhas,
Nada sabem, rota a ponte.
Vasculhando o meu vazio
Outro tanto em tom sombrio
Nada além do que pudera,
Mas a lua esta cigana
Sobre todos soberana
Aplacando esta quimera...


31335


Faca presa na cintura
Coração saltando à tona
A verdade me abandona
Sendo inútil tal procura
E se tanto em vão perdura,
A palavra é minha dona,
Esperança já ressona
E a saudade se amargura,
Bebo o vinho sonegado
Resta a sombra do passado
Onde ainda tento e trilho,
O meu peito se escondendo
Noutro sonho enaltecendo
Da ilusão somente o brilho...

31336


O luar sobre a varanda
Violeiro coração
Ao tentar outra canção
Vai pesando e assim de banda,
Toda a sorte já desanda
Outros dias não terão
O que fora solução
Noutra voz, nova ciranda
Mergulhando no que fora
Alma nobre encantadora
Dos encantos, mais nenhum,
Todo sonho que pudesse
Já não tendo não se esquece
O que fora ao menos um.

31337


Ao sentir em cada pêlo
Tanto frio quanto gozo,
O meu mar maravilhoso
Noutros tempos pesadelo,
E percebo que a envolvê-lo
Um luar tão majestoso,
Onde fora prazeroso,
Envolvido em tal novelo
Sem desvelo, zelo tanto
E decerto ainda canto
Procurando outro sinal,
Após tanta calmaria
Enfrentar já não queria
Este novo vendaval...


31338


Prata sobre azul escuro
Lua rara bela senda
E também desejo atenda
Neste quanto já procuro
Novo amor onde me curo
E se tanto fosse lenda,
Outro rumo se desvenda,
Muito além do solo duro,
Risco quando se executa,
Mesmo a sanha da cicuta
Vale a pena sem pensar,
Assim sendo a poesia,
Neste tom mergulharia
Braços pratas do luar...


31339


Se esta sorte é mais profana
Se este mundo é tão cruel
Vou cumprindo o meu papel
Demarcado por cigana
E a verdade não engana,
Bebo farto e raro fel,
E se pude em carrossel
Nova senda, uma alma ufana
Fora apenas o começo
E se tanto foi tropeço
Bem mereço este final
Vaga sorte em vagos dias,
São mortalhas onde guias
Naufragando qualquer nau.


31340

Vou mirando a cada instante
Procurando algum alento,
Mas somente o sofrimento
Aos meus braços se adiante,
No que tange ao diamante,
Não consigo tal provento
E se ainda teimo e tento,
Outro engano torturante.
Ante a face do não ser
Ante o risco do jamais,
Não percorro siderais
Nem mergulho no prazer
Bebo assim da carestia
Onde a taça se esvazia...



31321

O amor que se fizera uma oração
Domina o pensamento e nos redime,
Porquanto tanto sonho raro estime
Traçando nossos passos na amplidão,
Vivendo com ternura este verão,
Passado com terror atroz de um crime,
Agora neste encanto tão sublime
Delírios sem igual se mostrarão
E tantas vezes quis esta promessa
E nela toda a vida já se expressa
Nesta beleza rara em bela senda,
Assim ao me sentir aprisionado
Nas teias deste encanto, enamorado,
Um novo tempo em vida se desvenda...

31322

O quanto valeria ser atroz
Se tudo o que talvez mesmo inda queira
Expressa nesta senda a verdadeira
Unindo nossos passos, mesmos nós,
E assim ao me entregar encontro a voz
Mais bela e com certeza a derradeira
Do amor que se mostrara em luz inteira
Deixando no passado ânsia feroz.
Vencendo assim os medos de quem sonha
E sabe ser a sorte ora tristonha
Bebendo finalmente a água tão pura
E nela com desejos saciados,
Vivenciando dias bem amados,
Sedento de prazer, rara ternura...

31323

A vida desvendando em dores fartas
As tropas entre sonhos e corcéis
Bebesse finalmente além dos féis,
As horas que deveras tu descartas
E sinto sobre a mesa então as cartas
Decifro dos desejos seus papéis
E sendo que vivera mais cruéis
Momentos onde ainda em medos, partas,
Deixando tão somente o que hoje sou
Escombro que decerto ora restou
Sofrível criatura em tez sombria,
A sorte é traiçoeira disso eu sei
E quando invade em fúria a nossa grei,
Felicidade aos poucos se perdia...

31324


Tanto quanto procurara
Em caminhos mais diversos,
Tendo apenas os meus versos
Arma frágil se declara,
Mas se quando imaginara
Nos teus braços, meus imersos,
Hoje os rumos são dispersos,
E jamais a noite é clara,
Bebo as sobras do abandono
E me vejo em tanta dor,
Onde pode sedutor,
Tolo amor, não mais adono
E mergulho neste instante
Neste charco degradante...



31325


Tantos sonhos com intrigas
São por certo enfim perdidos,
Novos sonhos pressentidos
E bem sei que não mais ligas,
As palavras inimigas
E entre rumos desvalidos,
Os meus dias percorridos,
E deveras desabrigas
Quem se fez amante e agora
Quando a noite toma e aflora
Tão somente sabe o fim,
Rara luz onde pudera
Reviver a primavera
Que está morta dentro em mim...


31326


Pensamento quando ordena
E jamais eu obedeço
Na verdade a dor eu teço
E não mundo nem a cena,
Vez em quando sinto pena
E se tanto me enlouqueço,
Vou virando assim do avesso
Nova manhã me serena,
Pude mesmo acreditar
Na beleza de um luar
Mesmo em noite tão brumosa.
A saudade determina
Renascer a velha mina
Que esta vida já não glosa...


31327

Dos meus sonhos, a rainha
Dos meus passos, a esperança
Mas agora alma se cansa
E já vê: nunca foi minha
A verdade se continha
No vazio desta dança
Ao romper velha aliança
Nova vida se avizinha,
E o que fora só tristeza
Hoje em viva correnteza
Poderá beber na foz,
A alegria de um encanto
E se tanto ainda canto
Quem escuta a minha voz?


31328


Passo os dias tão confuso
Procurando pela senha
Antes que o terror já venha
E tomando com abuso
Cada sonho, mesmo obtuso
Entre a sombra se desdenha
A verdade que contenha
Este amor ora em desuso,
Sendo amargo o meu caminho,
Sendo assim sempre sozinho
Senda nova poderia
Ajudar ao andarilho,
Mas se em nada inda palminho,
Minha noite é sempre fria...


31329


Quando outono dita abril
Os meus olhos se entorpecem
Os meus dias já se esquecem
Deste sonho em que se viu
Um caminho mais gentil
E as ternuras não mais tecem,
Nem os dias obedecem
O que tanto amor previu,
Frialdade tomando alma
Nem a música me acalma
Nada aclara o meu viver,
E se tanto noutro tempo
Não houvesse contratempo,
Neste mundo, o meu prazer...


31330


Estelar conformação
Constelares ilusões
E se tanto ainda opões
Ao caminho e à direção
Sem saber de algum timão
Enfrentando furacões,
Os meus dias turbilhões
Esperança dita o não,
Risco tanto, tanto arisco
E se nada mais confisco
Um corsário em mar deserto,
O meu peito sempre aberto,
Mas amor novo eu arrisco,
Ao te ver, sonho eu desperto...



31311

Ultrapasso cada muro
Procurando este quintal
Onde amor se divinal
Clareasse o tão escuro
Caminhar em que perduro,
Entre dores, no degrau
Vejo a queda sempre igual,
Sobre o solo, árido e duro.
Percebendo o que talvez
Já decerto tu não vês
Encontrei a solidão
E se tanto ainda insisto,
Neste amor, nunca desisto,
Mesmo ausente a direção...


31312

Quantas vezes tu revelas
O que tanto eu quis ouvir,
Mas falando sem sentir
Feito um barco sem as velas
Ao abrires as janelas
Eu pensando no porvir
E se tento resistir,
Nada apenas inda selas
E se as celas costumeiras
Entre tantas, verdadeiras
Derradeiro dia meu
Enfrentando a dura fera,
O que tanto inda se espera,
Neste nada se perdeu.

31313


Meu olhar deveras pasmo,
Entre fúrias e terrores,
Ao seguir por onde fores
Por resposta este sarcasmo,
Vou seguindo e mesmo pasmo,
Nada tendo além das dores
Cultivando em mim as flores,
Recolhendo este marasmo,
Nada vejo e nada sinto
Tanto amor agora extinto
Um velório dentro em mim,
O que pude adivinhar
Sem ter tréguas, nem lugar,
Transcorrendo rumo ao fim...

31314


Eu mantenho a multidão
De desejos que não vês,
Sem delírios e porquês
O que resta é negação,
Vejo apenas neste não
Tanto amor que se desfez
Ao gerar a estupidez
Nega a sorte e a redenção.
Bebo assim deste veneno
E se tanto não sereno
Coração em face escusa;
Dos sonhares fascinantes
Os meus dias mais distantes
A minha alma mera intrusa...

31315


Meu corcel galopa em céus
Tão diversos, versos vãos
E se vejo falsos grãos
Fomentando fogaréus
Os meus dias, velhos léus
Enfrentando sempre os nãos
Ao cevar os duros chãos,
Rotos vejo torpes véus,
Nada tenho e não teria
Se somente a fantasia
Habitasse o que ora existe,
Resta apenas deste todo,
Charqueada em pleno lodo,
Coração amargo e triste.

31316

Dos meus sonhos os soldados
Em trincheiras, ilusões
E se tanto negações
Ditam sortes, lançam dados
Os caminhos mais errados
Com terror e treva expões
Entre tantas decepções
A mortalha é meu legado,
Vida sendo assim exposta,
Retalhando em fina posta
O que fora uma esperança
Contra o vento e a tempestade,
Onde pode a claridade
Se em horror a vida lança?

31317


Os meus dias mais doridos
Entre quedas e tropeço
Na verdade eu reconheço
São presentes merecidos,
Em caminhos divididos
Sem saber este endereço
A mortalha um adereço
Sonhos vejo destruídos,
Nada tendo do que um dia
Outra voz demonstraria
A não ser tolo lirismo,
E se bebo este vazio
Jaulas novas sempre crio
E em tormentas tantas cismo...

31318


Os meus sonhos são corcéis
E seguindo sem ter rumo,
Todo engodo quando assumo
Disparando tais tropéis
Os medonhos carretéis
Entre medos, farto sumo,
Cada noite assim me esfumo
Em temíveis carrosséis,
Gira mundo, gira a vida,
Roda sempre na contrária
Direção que é temerária
E decerto agora agrida
Quem pensara ser feliz,
E a verdade contradiz...

31319

Cada passo dado à frente
Poderia ser diverso
Do que tanto ainda imerso
Coração não mais contente,
Procurando, este indigente
Pelo menos o universo
Onde não se vê perverso
O caminho que se tente.
Sendo assim já não consigo
E não tendo algum abrigo,
Bebo imenso temporal,
A saudade dita a sorte
E por certo vejo a morte,
Adentrando o meu quintal.


31320


Fiz dos sonhos oratórios
E dos dias ansiosos
Onde outrora majestosos
Hoje apenas vis e inglórios
Meus olhares merencórios
Em tormentos tenebrosos,
Nada tendo; desejosos
Outros prados sempre flóreos,
Resta apenas o vazio
A semente se gorara
A verdade desafio,
Mundo amargo sorte amara,
O que resta nega o rio,
Nem o sonho mais me ampara...



31301

Condenando o meu caminho
Ao que tanto se negara
Minha sorte sendo amara
Onde encontro algum carinho?
Se decerto eu sou sozinho
A verdade dobra a vara
E a saudade se escancara
No vazio enfim me aninho,
Busco a luz que não existe
Andarilho sempre triste
Nada encontra em espinheiros
Os meus dias são iguais
Se os meus erros são fatais,
Os meus sonhos verdadeiros...

31302


Não consigo e não desisto
Percebendo inutilmente
O que agora já se ausente,
Mas se vê o quanto insisto,
A minha alma quer Mefisto,
Mas meu corpo sem semente
Procurando quem atente
Contra o quadro que ora assisto,
Vendo o fim se aproximando,
Neste nada desde quando
Quantas vezes bem mais quis,
E se nada resta em mim,
Esperança é qual cupim,
Dos destroços, cicatriz...

31303

Sem ter nada que socorra
Quem caminha sem alento,
Enfrentando apenas vento,
Adentrando esta masmorra
Antes que esperança morra,
Outro rumo ainda tento,
Mas decerto virulento
Mergulhar aonde ocorra
Tão somente a vil desgraça
Que deveras tanto grassa
Dominando o dia a dia,
Nada sou e nada resta,
Do que outrora fora festa
Hoje apenas poesia...

31304


Meu amor é carcereiro
E das chaves o segredo
Com certeza não procedo
Nem se vê noutro canteiro
O cenário aventureiro
De quem busca novo enredo
E se tanto me concedo
Já me dando por inteiro
Nada resta do que fui
E a saudade agora influi
Dominando cada passo,
Na verdade a vida passa,
E deveras em desgraça
Como a vida eu me esfumaço...

31305


Transitando sobre o nada
Caminhando entre os espinhos
Tanta pedra nos caminhos,
Sem futuro a minha estrada,
Onde o sonho fez morada,
Os meus dias são sozinhos
E se nada traça os ninhos,
No vazio uma pousada,
Morte chega e, de repente
Noutro prumo o que se sente,
Um alívio sem igual,
Onde quis a festa imensa
Todo dia me convença
Só restando o funeral.


31306


Angustia-me saber
Do vazio que virá
E se tudo desde já
Transcendendo ao nada ser
Como posso conceber
O que nunca brilhará
Sol deveras negará
Novamente o amanhecer,
Das senzalas, de soslaio
Meu olhar simples lacaio
Já não vê mais liberdade,
Alforria sonegando
O que tanto procurando
Hoje resta esta saudade...

31307

As chaves do sentimento
Ninguém sabe e ninguém vê
O caminho sem por que
O viver sem ter alento
Onde mora o sofrimento
Eu procuro, mas cadê?
A saudade sempre há-de
Fomentar o ferimento,
Sendo assim inusitado
O que tanto fora errado,
Mais errado se apresenta,
Sem ter nada que conforte,
Conformado com a sorte,
Bebo enfim dor e tormenta...


31308


Perfilando tais madeiras
Onde faço o meu barraco,
Cada sonho aonde atraco
Barco velho sem bandeiras,
Sortes sempre passageiras,
O meu canto amaro e fraco,
Com terror não contra-ataco
As palavras derradeiras,
Nada tendo senão isto,
Na verdade eu não desisto,
Mesmo sendo solitário,
Navegar sempre é preciso,
Mas de tanto prejuízo
Quero um novo itinerário...

31309

O meu passo se excessivo
Nada tem da realidade
E se tanto não agrade
Do meu canto não me privo,
Morro em vida, e semi-vivo
Nada além de uma saudade
Dita o rumo em que esta grade
Desnudara em tom altivo,
Cada vez me procurando
E jamais quando encontrando
Poderia acreditar
No passado revivido,
O meu mundo sem sentido
Vai distante do luar...


31310

Ao andar sempre descalço
Nas entranhas do espinheiro
Ferimento é corriqueiro
Assim como o cadafalso
E se vejo algum percalço
Nada temo e vou inteiro
Sendo o amor mais verdadeiro
Diamante nunca falso,
O que posso ainda ver
Sombras deste bel prazer,
Mas na essência sempre o fim,
Sonegando melhor sorte,
Sem ter nada que conforte,
Prosseguindo mesmo assim...


31291

Procurando uma esperança
Onde tanto nunca havia
Não bebendo a fantasia
A verdade não alcança
Quando a vida em temperança
Transbordando em alegria
Nossa sorte mudaria,
E se quando ao não se lança
Esta voz seguindo alguém
Que decerto nunca vem
E jamais poderei ver,
Nas searas do abandono,
Do caminho em que me adono,
Vou bebendo o desprazer.


31292


Eu queria num canteiro
Entre rosas e jasmins,
Encontrar da vida os fins,
E pudesse mensageiro
Do que tanto é corriqueiro,
Mas percebo estes chupins
E deveras nos jardins
Outro tempo o tempo inteiro.
Morte sela qualquer trama
E se a luz inda reclama
É brumosa esta alvorada,
Das roseiras, aridez
Jasmineiro se desfez
Deste sonho sobrou nada.

31293


Ao mover assim o olhar
Sem ter nada no horizonte
Passos traço e se desponte
Novo rumo ou caminhar
Poderia desvendar
O que tanto nega a fonte,
E sem ser estrada ou ponte,
Nada posso desejar,
E somente sendo assim
O princípio dita o fim
E a verdade se esclarece
Joio apenas, morre trigo
E se tanto não prossigo,
Nem o sonho me obedece...


31294


Tão audaz por vezes sinto
O meu passo mais atroz,
Mas deveras quieta a voz,
Quando o sonho eu vejo extinto
Adentrando o labirinto
Rio imenso sem a foz,
Não encontro laços, nós
Tanto amor e ainda minto...
Pude em meio às incertezas
Desvendar as correntezas,
Mas meu barco sem o leme
Nada tem nem porto ou cais
E se bebo os vendavais,
A saudade invade e algeme...

31295

Esquecimento é terrível
Nada resta do que outrora
Nesta sala só decora
Esta foto que implausível
Hoje trama em impossível
Caminhar o que devora,
Sendo sempre e desde agora
Outro rumo percebível.
Noite amarga em leda sorte
Condenado à torpe morte
Nada sou nem mesmo um resto
Do que tanto desejara,
Mas a vida se escancara
De esperança? Nenhum gesto...


31296


Entre os ódios e os amores
Vida passa e nada trama
A não ser o drama
Muda apenas suas cores,
E se tanto tentadores
Os olhares de quem clama
A mortalha feita em lama
Traduzindo enfim as dores,
Pude outrora acreditar
Neste raio de um luar
Que jamais se fez tão cheio,
E se eu sou o que inda leva
A saudade dita em treva,
Dos meus sonhos, vou alheio...

31297


Percebendo as velhas rezas
E entre tantas hoje eu peço
E decerto eu não me impeço
De correr onde tu prezas
Os momentos entre as luzes
Mais diversas que pudesse
E se tendo em mim a prece
Novos cantos reproduzes,
E se ainda não pudera
Contornar cada tropeço
Bem diverso já mereço
Solidão, velha quimera
Onde tanto poderia
Ser além de fantasia.


31298


Ao dobrarem estes sinos
Eu me lembro do que fora
Alma nobre e redentora
Desde os tempos de meninos,
Hoje os dias desatinos
Hoje a sorte promissora
Noutra face sofredora
Lastimando estes destinos,
Sinos dobram para quem
Nos meus sonhos inda vem
E transcende à própria vida,
Morte não existe quando
O meu sonho emoldurando,
Até logo é despedida?

31299

A morte trançando o rio,
Suas curvas são venais,
Onde quis os divinais
Caminhares desafio,
E podendo ser estio
Estes tantos vendavais
Nosso amor dita o jamais
E se perde em arrepio
O que um dia desejara
Ser deveras bem mais rara
Sorte imensa em tom suave,
Porém nada do que fomos
Vai ditando o que ora somos,
Cada dia mais se agrave...

31300


Condenando assim a sorte
De quem sempre poderia
Acreditar na poesia
Que decerto nos conforte,
Nada tendo deste aporte
Vou moldando em heresia
A mortalha que tecia
O caminho para a morte,
Nada além do amor imenso,
Em que tanto ainda penso
E jamais fora tão meu,
O desejo vira aborto,
O meu sonho agora morto,
Minha sorte se perdeu...



31286

Participo do passado
Como fosse a redenção
Vindo da putrefação
O caminho deslumbrado
Onde a sorte, em seu recado
Dita norma e solução
Já não vejo salvação
Pensamento diz pecado,
Resto alheio a cada passo
E se tanto não pudesse
Na verdade esta benesse
Representa o que não faço
Nem pudera se é profundo
Abissal; em treva, inundo.

31287


Procurando a vastidão
Entre azuis, verdes e grises
Ondas tantas e deslizes
Onde nada além do não
Percebendo ser em vão
Os caminhos em que dizes
Se deveras cicatrizes
São a minha proteção,
Nada além do que colhesse
E talvez mesmo pudesse
Ser assim alheio a tudo,
Se a fornalha incandescente
É promessa, o que se sente,
Não condiz se ainda iludo.

31288


Vou sulcando em terra agreste
Com meus pés esta cratera
Onde a sorte não se espera
Muito aquém do que me deste,
E se o mundo assim investe
No que fora esta quimera,
Novo tempo atroz e essa era
Do passado se reveste,
Sendo assim ou nada sendo,
O perdido dita a norma
Cada passo se deforma
Nada resta e não se vendo
Do farol a menor luz,
Meu orgasmo é meu obus.


31289


Procurando a cada espaço
Qualquer greta, fresta ou fenda
Onde a sorte se desvenda
No vazio em que ora grasso,
Resta além deste cansaço
E não tendo mais a lenda
Quem deveras não atenda
Dos cigarros maço a maço,
Pegajosa criatura
Em tentáculos sutis,
Vai metendo o seu nariz
E decerto já não cura,
Tanta incúria que se veja,
Morte? Eu sirvo na bandeja...

31290


Onde tudo devassara
Rastros novos, dias velhos,
Entre nós escaravelhos
Corpos mortos, noite clara,
Bala à solta, senda rara
Dos olhares meus espelhos
Ao dobrar nossos joelhos,
Nada além do que pensara
Procurando algum juízo
Onde vejo este impreciso
Navegar por entre as ondas
E tu sabes muito bem
Que somente quando vem
Solidão, tu já te escondas...



31281

Trabalho com o tempo do viver
E tento controlar o incontrolável,
Vivendo muito além deste improvável
Caminho sem ter nexo e prazer.
Querer o que pudesse e nunca ter
Salário de uma vida vulnerável
Pudesse ser o tempo palatável
E o tanto do que eu possa perceber,
Mas roço a solidão a cada instante
E faroleiro vago sem sentido,
Bebendo cada gota, ledo olvido,
E tanto se pensara doravante,
Porém sempre retorno ao mesmo atol
E quando vejo a sombra de outro tanto
Igual ao se vestir com torpe manto,
Ausente do que um dia fosse sol,
Ilhado dentro em mim, tento arquipélago
E morro em meu abismo, imenso pélago...

31282


Nem quando espero a morte escancarada
Escárnios entre farsas, ódios, vícios,
Cavando com meus nãos os precipícios
A queda em todo vão preconizada,
E quase se percebe ainda o nada,
E dele os meus diversos edifícios
Gerados pelos ossos dos ofícios
E a fonte há tanto tempo abandonada,
Resisto ao que talvez trouxesse ainda
O tempo de sonhar. Se a dor infinda
Brindando com o fato de jamais
Saber de vinhos brancos, tintos. Tino,
Levando ao que deveras assassino,
Meu corpo entre os abutres, funerais...

31283

Servindo de bandeja esta esperança
A carne exposta ao fio da navalha,
Enquanto semeara e se retalha
A fúria do que tenta nos alcança,
E nada resistindo em aliança
Mantendo a tosca brasa em vil fornalha
Assim ao se entreter decerto espalha
O resto que inda trago na lembrança
Do tempo aonde quis felicidade,
Apesar do futuro e da verdade
Sondando cada réstia do que fora
Há tempos redenção, mas hoje vem
Refere-se ao jamais, e quando alguém
Ainda teima; a luz: desoladora...

31284

Contemporaneidade dita a marca
Do quanto nada tendo, vale tanto,
E sei do mais complexo se, entretanto,
A vida noutra vida não abarca
O quando poderia sendo parca
A sorte que sem nexo ainda canto,
Vivenciando o medo, eu me agiganto,
E o corte do passado não mais arca
Com vários entrepostos vida e morte,
E navegando assim exposto ao corte,
Serpenteando a vida entre os penedos,
Não posso conceber se há soluções
Nem mesmo se deveras os verões
Encontram-se ao alcance dos meus dedos...


31285


Aonde o tempo audaz jamais se cansa
E trama sem segredos nova queda
Por quanto não concebo outra moeda
Tentasse discernir uma esperança,
Somático caminho em temperança
Erguendo a própria seda que inda veda
E nela a leda sorte já se arreda
Deixando para trás esta aliança,
Teimando contra tudo e contra todos,
Adentro com ternura poços, lodos
Invento um Eldorado, um Xangrilá
Sabendo que talvez ainda minta
Mesmo se esta vontade agora extinta
De novo em luz temível nascerá.


31276

Aonde se fizesse a redentora
Paisagem entre prados, sonhos raros,
Os dias se mostrassem bem mais claros
Do quanto no passado sempre fora
A vida noutro tanto, sonhadora,
E nela meus momentos mais amaros
Ainda que enfrentasse desamparo
Mantendo esta figura protetora,
Ausência dita agora este seara
E quando a solidão já se escancara
A escara aprofundada, imensa chaga,
Somente a poesia me consola,
E quando a fantasia ceva a mola
Ainda em noite escusa vem e afaga.

31277


Amante dos meus ermos e vazios
Não pude desvendar qualquer segredo
E quando alguma vez inda procedo
Tentando redimir os vários fios
Persisto e me enredando em desafios
Ao quanto tanto espero e me concedo,
Sabendo decifrar o belo enredo
Deixando para trás invernos frios.
Se eu falo de um amor onde eu pudesse
Sentir além do vento promissor
O canto de um momento em que este amor
Trouxesse e redimisse como a prece,
Que há tanto se perdera em turva cena,
Aonde uma alma audaz assim serena?

31278


Tem dias em que penso quanto eu pude
Errar e ter somente a dimensão
Dos erros cometidos, todos vãos
Matando com terror a juventude,
É claro que mudando uma atitude
Eu possa ter ainda a redenção
E vendo no horizonte a direção
Porquanto cada infausto se transmude,
Ainda assim carrego estes sinais
Marcados com terrores sempre iguais
E deles nada vejo nem pudera,
O porto se refaz, embora tarde,
Eu sei que o meu final não se retarde,
Porém aos poucos mato esta quimera.


31279

Abarrotando o sonho com promessas
E delas outros sonhos renascendo,
E quando novo mundo agora acendo
As horas mais diversas recomeças
E perco vez em quando a dimensão
Do todo feito em partes tão miúdas
E quando com ternura tu me ajudas
Eu sei que noutros tempos mostrarão
A sorte abençoando cada trama
E tendo esta certeza não mais teme
Quem sabe ter sob os olhos vela e leme
E tanto quanto pode também ama,
Viver esta seara ora bendita,
Caminho que emoção deveras dita.


31280

Dos méis e féis a vida se abarrota
E quando vejo assim já se retrata
Em mim a sorte amarga ou quando grata
Vencendo ou se perdendo noutra cota,
Paixão que tantas vezes nos embota,
Partindo do que fora a sorte se ata
Na sorte de quem tenta e desacata,
Porém quando no sonho se rebrota
A vida noutra vida, diz do quando
Amor em novo amor se transformando
Em ciclos repetidos, mas diversos
Assim valendo a pena cada dia,
E desta forma louvo a poesia
E tento me expressar em poucos versos...


31271

Somente ao dominar o populacho
Eternizando assim este demônio
Vendido como fosse um patrimônio
E nele cada fonte trama um facho
Da etérea desventura de um arcanjo
E assim ao se vender a torpe idéia
Fazendo um pandemônio na platéia
Demonstra com terror o podre arranjo,
Não vejo esta figura caricata
Idêntica ao senhor em barbas fartas
E quando sobre as mesas vejo as cartas
O quanto no vazio se desata
A cena se repete e já transforma,
Os dois em tão igual, terrível forma.

31272

Diversos os transtornos que ora enfrento
E vejo se perder qualquer caminho
Aonde semeara algum espinho
O amor já se perdendo solto ao vento,
E quando algum alento ainda tento,
Atento caminheiro vou sozinho
E sigo o que pudesse ser carinho,
Mas quando me aproximo, outro tormento,
Negar a face escura da verdade
E tanto se moldar a velha grade
No quanto desagrade quem porfia,
Mereço pelo menos o descanso
E quando ao léu meu verso ainda lanço,
Mergulho na área torpe e mais sombria...

31273

Cadáveres que ainda tenho em mim
De medos, velhos traumas, do menino
Aonde se pudesse cristalino
Nefando caminhar dita o jardim,
E podre certidão diz de onde vim,
O corte do que fora algum destino,
E tento disfarçar quando fascino
No olhar tão degradado, o mar sem fim.
Pecado após pecado, orçando a conta
O tanto que se vê jamais desconta
O fardo contumaz e tão pesado,
Não tendo mais deveras solução
Ainda sigo a tola procissão
Rumando inutilmente ao meu passado.


31274

A farpa que entre escarpas tu deixaste
E assim me consumiste sem perdão,
Moldando a nova queda onde estão
Fadados os meus dias, vão desgaste,
E quando se rompendo qualquer haste
O peso transformando a direção
Morrendo sem saber da redenção
Na qual e pela qual tu sonegaste,
Apenas caminhando e nada mais,
Alçando meus diversos funerais
Renasço a cada instante noutra face,
Porquanto a poesia me alimenta,
E nela se percebe esta tormenta
Aonde o meu vazio já se trace...


31275


Divago sobre a fúria e quando oponho
Meu rumo aos que tanto preferiste,
Mantendo o teu olhar agora em riste,
Negando assim decerto cada sonho,
O fardo se mostrara aonde eu ponho
E tanto não me queres e feriste
Na vastidão aonde se persiste
O mundo em tez temível, sou medonho.
Opaca noite em brumas, perco a lua
E tanto quanto ausente continua
Enquanto vida houver neste que tanto
Bebera do passado em juventude
E agora noutra senda se transmude,
Rasgando a sordidez de um tosco manto...


31266

Amar e ser feliz é simplesmente
O que se quer na vida e nada mais,
Medonhas faces ditam temporais
Enquanto dominando frágil mente
A face demoníaca, serpente
Bebendo nos sanguíneos rituais
E quando se percebem mais venais,
Maior a caradura, vil semente.
Partindo do princípio que meu Pai
Também é meu Irmão e tanto quero
O Seu amor tão puro e mais sincero,
Jamais quem tanto adora a Cristo trai,
Mas quando nos banquetes constantinos
Eu vejo em podres faces desatinos.


31267


Levando a minha vida à ferro e fogo
Jamais eu jogarei esta toalha,
A sorte dominando não espalha
Sequer alguma coisa além do rogo,
E quando desta vida é feito um jogo
A morte se mostrando em cordoalha,
Aos poucos a sanguínea face talha
E tudo se resume no não ser.
Não quero ter nas mãos qualquer poder,
Apenas perdoar e tanto amar,
Não quero outro holocausto e neste tanto,
O fausto se mostrando em cada canto,
Amor sem ter medidas: MEU ALTAR!


31268


Pudesse te ensinar meu caro filho
O quanto se mostrara nesta vida,
Do amor que quando expõe sem despedida
Caminho mais fantástico onde eu trilho,
E quando vejo o Pai me maravilho,
E quem conhece bem jamais duvida
Do amor e da verdade, redimida
E nela cada passo que palmilho,
Somente assim eu posse te dizer
Verás o verdadeiro e bom prazer
Que a igreja se mostrando em dimensão
Superna seja exposta, creia em mim,
Tu és herdeiro mesmo do Jardim,
E o altar seja somente o CORAÇÃO.


31269


Não deixe de pensar no quanto a luz
Emana-se daquele que, cordeiro
Um dia se fizera por inteiro
E morto, vivo está sem ter a cruz,
À redenção deveras nos conduz,
E nele todo o amor, mais verdadeiro,
Sabendo ser Senhor, Irmão, canteiro
Cevado com ternura, em Ti Jesus.
Amar quem nunca quis o teu amor,
E perdoar sem mesmo te pedirem,
Porquanto teus olhares sempre mirem
O olhar de quem se fez o REDENTOR,
Assim sem perguntar sequer por que,
Viver o que nossa alma apenas, crendo vê.




31270

Semeio o amor em Cristo e nada mais,
Perdoem se me exalto, mas não perco
O rumo me sabendo sempre o esterco
Menor entre os menores, busco o cais,
Respostas entre tantos vendavais
Em Teu olhar, o quanto já me acerco
E sei da podridão que é feita em cerco,
Por tantos que se pensam magistrais.
O Rei que em sua vida foi mendigo,
Escuta cada frase que ora digo
Sabendo ter de mim o imenso amor,
Embora seja nada vezes nada,
Minha alma em Ti, Senhor, iluminada,
Seguindo- Te deveras onde eu for.



31261

Aonde posso buscar luz e messe
Adentro cruzes e percebo o não
Que tanto nego se eu mergulho em vão
Vazia senda o meu olhar já tece
E tanto pude imaginar em prece
A luz em glória dominando o chão
Mergulho agora neste sol, clarão
E nele o brilho que o terror esquece
Mortalhas vivas abandono e medo
Pudesse enfim reconhecer o ledo
Devastação ao propagar vazios
E tanto vejo este cenário aonde
O mundo tétrico e feroz se esconde
Ao sonegar o que pudesse estios.


31262


Eu quero ter a luz aonde sorte molde
O mundo em glória e seduzida a mente
Pudesse ter no olhar o que já não desmente
Quem tanto sempre quis e com certeza é molde
De um novo tempo aonde imensidão produz
Momento raro e posso acreditar quem sabe
Bem antes mesmo que isto ainda em vão desabe
Ao sonegar em mim o que transcenda à luz
O peso do viver ao se mostrar tamanho
E nele tento a sorte ainda que se tardia
Vencendo em paz esta dor e a agonia
Aonde o tempo mostre além de qualquer ganho
A sorte benfazeja e nela tal ventura
Perpetuando assim o que deveras cura...


31263

Não quero acreditar nestes demônios
Vendidos sob a face mais cruel
Se tanto quem me vende o podre céu
Apenas aumentando patrimônios
Ditados pelas ânsias dos hormônios
Bebendo deste amargo e fero fel,
Medonha face escrota no papel
Gerando a cada esquina pandemônios,
Prefiro acreditar em Jesus Cristo,
E assim a cada verso mais insisto
Na pura maravilha de um amor,
Diverso deste que fora vendido
E tanto se mostrou prostituído
Satânico e terrível provedor.


31264


Jazigo da esperança, esta aleluia
Vendida numa igreja sem vergonha,
Por quanto este Menino decomponha,
Passando sem temor a turva cuia,
Entulhos entre escombros, vis escórias
E nelas só se vê a caricata
Faceta deste ser que já maltrata
Matando com terror, as doces glórias,
Não pude acreditar neste barbudo
Sentado neste trono perolado,
Demônio num senhor mal disfarçado
Aonde com certeza não me iludo,
Eu amo tão somente o carpinteiro
Que em liberdade fez-se este cordeiro.

31265


Pedófilas vontades tomam bancos
E quando se mostrando mais venais,
Demônios entre vários rituais,
Deveras não se vêm olhares francos,
E tanto poderiam ser diversos
Não fosse a gulodice de quem senta
No trono do demônio em violenta
Faceta transfigura tais perversos,
E o nexo se perdendo desde quando
O Cristo se mostrando em plena cruz
Não pode reagir e vendo o pus
Tomando este cenário mais nefando.
A comunhão não deve ser assim,
Nem quero este profano e vão jardim...


31256

Segredos desvendados ou nem tanto,
Misteriosamente a vida dita o rumo,
E quando esta figura amara assumo
Bebendo desta sorte em turvo canto,
Não nego esta existência em desencanto,
Mas tento perfilar o quanto em prumo
Bebesse desta inglória todo o sumo
E assim vencido em medo me quebranto.
Resido no talvez e quantas cenas
Medonhos dias tramam outro engodo,
E imerso tão somente neste lodo,
Acordo quando tanto me envenenas
E teimo em perecer nestas partilhas
Aonde preparaste as armadilhas...

31257


Desequilíbrio toma cada passo
De quem se fez funâmbulo e poeta
Aonde se noctâmbulo completa
O quanto noutro tanto me desfaço,
Residualmente teimo em pouco espaço
Cevar esta delícia predileta
Enquanto ao nada ser amor deleta
A sorte desvairada aonde eu traço
Um pândego demônio que alimento
E sendo saciado em tal tormento
Perigos adivinho a cada curva,
A vida se transforma em dor e treva,
Mas quando a fantasia ainda leva
Alego-me perdido em tez tão turva.


31258


Minha alma em rotatórias ilusões
Carrosséis percorridos, pensamento
E tantas vezes morro sem o ungüento
Apático caminho em que propões
A fuga das diversas sensações
Bebendo cada gota, não agüento
E tanto quanto posso inda lamento,
O mundo se mostrando em vis versões,
Avesso ao que pudesse a fantasia
Não tendo sequer sombra em que traria
A charqueada intensa dentro em nós,
A morte se aproxima e tal legado
Deixando cada resto do passado
Amortalhando em vida a própria foz.


31259


Aonde se pudesse torpe libra
Gerando desafeto e desconforto,
A sorte proclamada num aborto,
Enquanto esta mortalha me equilibra
O passo noutro nada sempre vibra
Reféns deste vazio aonde é morto
O que pudesse outrora ser o porto
É ponto de chegada e o sonho dribla,
Restando do que pude o nada além
Embargo cada passo e assim descrente
Do mundo que se mostre mais urgente,
Apenas mero luto me convém
Sombras entre sobras, cobras, serpes,
Minha alma se infectando em mágoas herpes...

31260


As dores que percebo simultâneas
Tomando a alma pequena de quem fora
Outrora em senda amarga e perdedora,
Além de virulências espontâneas
As horas de alegria, momentâneas
E nelas as angústias; redentora
Imagem de outra sanha sonhadora,
Agora não se vêm, pois instantâneas.
Ao peso se envergando o meu futuro,
E tanto quanto posso inda perduro
Perfuro a minha pele e em cada agulha
O corte dessedenta a tanta fúria
E assim ao se mostrar somente injúria
Minha alma neste inferno já mergulha...



31251

O sofrimento dita o dia a dia
E nada impede a sorte feita em pranto
Pudesse preservar ainda o encanto
E dele alimentar a poesia,
Mas quando a vida molda esta ironia
Alimentando a dor, farto quebranto
Eu tento disfarçar, mas sempre canto
O medo que deveras já me guia,
Macabra face aonde se compõe
A podre sensação em que propõe
A porta se fechando atrás de mim,
Não tendo outro caminho, sigo assim
Medonho tal espectro que mergulha
E traça a cada audácia um verme, um pulha...


31252


Do quanto nada sou e tu sorris
Vencido pelos ermos que carrego
O traço dominante do meu ego
Resulta nesta face do infeliz
Ser que se mostra a nu, mero aprendiz
Do tanto aonde não mais tento e apego
O parto em que decerto me sonego,
Traduz a sorte podre, a meretriz.
Arrasto-me qual serpe sobre o solo,
E sendo mesmo vão e inerte o dolo,
O corpo se esvaindo em podre face,
Não tendo um só momento de ternura
O que resta de mim já se afigura
No quanto a própria vida me desgrace...


31253


De tantas heresias, podre forma
Enigmas desvendados pela morte,
E quando poderia noutra sorte
Realidade doma e me deforma,
Nem mesmo a fantasia me transforma
E bebo do que outrora fora corte,
E tanto sem ter nada que comporte
A pestilência em mim ditando a norma,
Ainda se pudesse acreditar
No quanto nada pude e trafegar
Caminhos onde a vida se apazigúe,
Porém o que resume esta verdade
Transcende ao que decerto desagrade
E todo este universo se desligue.

31254


Do quanto sou apenas mero verme
E sigo sem ter forma, inutilmente,
A morte me bendiz enquanto mente,
E traça novo rumo ao ser inerme,
Pudesse transcorrer esta epiderme
Noutro cenário ao menos mais contente,
E quando este vazio se apresente,
O corte se aprofunda e toma a derme,
Não quero ser apenas vilania,
Nem mesmo hipocrisia dita o rumo,
E quando este demônio em mim assumo,
Entregue a tal faceta eu poderia
Vencer esta satânica mortalha
Que a cada novo dia nunca falha.

31255

Dos cosmos entre mortos, vivos, vícios
Exponho meu recôndito vazio,
E tanto quanto posso me recrio
Beirando sempre os mesmos precipícios
Em dias mais suaves, só fictícios
Eu tento imaginar e até desfio
O que se não pudesse em desafio,
Gerando este fantasma, vis ofícios.
Restando a face amarga da incerteza
E nela toda a sorte que se preza
Atropelando em mim o que inda resta,
A face agora muda e se deforma
Ainda do demônio tenho a forma,
E sei quanto esta face é mais funesta...



31246

Estrela d’alva toma este cenário
E doma com ternura o que pudesse
Além da maravilha feita em messe
Momento muitas vezes temerário
E sei deste sucesso temporário
No quanto a vida nunca se obedece
E bebo cada sorte em que se tece
A fúria dominando o itinerário
Erários entre risos e procelas
Assim entre tumores tu revelas
A cancerígena figura aonde
O amor não se propaga e já se esconde
Vencido pela dor em que se espalha
Incêndio de um terror por sobre a palha.


31247


Estrela errante toma assim o céu
Parafernália tanta se escondeu
Aonde outrora fora apenas breu
E agora incendiário fogaréu,
Liberto o coração tolo corcel
Galopa insanamente onde perdeu
O rumo que pensara fosse meu
E agora se mostrando sempre ao léu.
Amortalhando assim o meu momento,
A vida aonde em dor eu me apresento
Num palco iluminado em poesia,
Pudesse transcorrer em plena cena,
Porém se o sentimento não serena
A glória a cada infausto mais se adia...


31248


Pagando cada ingresso este espetáculo
Em trevas e neblinas vai expondo
O quando no passado recompondo,
A morte apresentando algum tentáculo,
Visão de um improvável tabernáculo
Aonde o mundo vejo decompondo
O quadro noutro tanto já se opondo,
Traçando com terror um novo oráculo,
E sei da podridão porquanto eu viva
E tendo uma alma alheia e não cativa,
O verso sendo assim itinerante,
Não posso ver se tanto em versos fiz
Cenário aonde a sorte torpe atriz
Apresentada em face degradante...


31249


O quanto do que pude no final
Fazer outro tormento aonde havia
Somente a noite amarga esta heresia
E tanto se mostrasse este degrau
Por onde o meu caminho bem ou mal
Não sabe do que pode ou poderia
Viver ou se fartar desta agonia
E nela se mostrar mais desigual.
O pantanal extenso aonde eu traço
O mundo se perdendo noutro espaço
Merece pelo menos outra chance,
Risível tal bufão tolo palhaço,
Aonde cada sonho em mim desfaço
Nem mesmo alguma luz ainda alcance.


31250


Lutara mais que tanto quis ou quando
Reside dentro em mim um sol apenas,
E quando se quisesse noutras cenas
O parto novamente se negando,
Beber à me fartar e destinando
O passo ao quanto negas ou serenas,
Medonha caricata me envenenas
E bebo deste sonho tão nefando,
Acordo e quando vejo esta carcaça
Enquanto tudo ainda teima e passa
A morte me escolhera como presa,
E nada tendo além do que inda existe,
Apenas um fantoche amargo e triste...



31241

Dançando sobre os palcos da ilusão
A sorte em motes vários transcendendo
Ao quanto poderia percebendo
Momentos em terrível diversão,
Cadáveres dos sonhos, podridão
Em ar nefando vejo este estupendo
Terror entre mortalhas se tecendo,
Negando qualquer sorte ou solução.
Assisto ao que pudesse ser assim,
A morte se aproxima e traz seu gim
Aonde me embebedo e neste brinde
Do todo que perdi e não conservo
Apenas o vazio dita o servo
Aonde a solidão já se deslinde...


31242

Pudesse talvez mesmo te saudar
Após os espetáculos venais
E tanto que se quiser bisar ou mais
O quanto se mostrasse a degradar
A face exposta aonde este luar
Bendito não suporta tais cristais
Brindando aos mais vorazes animais
Medonha face exposta a divagar,
E quando dilapido cada sonho
E tanto poderia se tristonho
Não fosse este cenário que me deste
Arrisco-me deveras entre as jaulas
De morbidez, sadismo tu dás aulas
E geras com sorriso dor e peste.


31243


Tu queres que eu aplauda a caricata
Figura escrota em rito demoníaco
O amor quando se fez afrodisíaco
Bebera cada gole e se hoje mata
Não posso me negar quando maltrata
A sorte se mostrando em amoníaco
Cadáver de um bisonho e vão maníaco
Resume a minha sorte torpe e ingrata.
Legados que recebo do que outrora
Ainda noutra cena se decora
E traz a bela atriz, mesquinha face,
Carcaças espalhando sobre a cena,
E tanto quanto pude mais amena
A forma com que tanto amor desgrace.


31244


Troféus dissimulando gozos, risos,
Dos ritos costumeiros consumira
A sorte que deveras perde a mira
E torna meus prazeres, prejuízos
E assim ao se mostrarem indecisos
Os passos contra os quais a vida atira
E tanto quanto a terra mesmo gira,
Ansiedades domam velhos sisos.
Recursos desta cênica aventura
E quando a própria morte já não cura,
Não resta nem um cais, podre vereda,
Aonde se mostrara em raro brilho,
O parto se tornara um empecilho,
Mortalha ora tecida em rara seda...


31245


A noite se mostrara mais brumosa
E tanto quis viver felizes dias,
Mas sei destas veredas mais sombrias
E quanto a noite rompe e é pegajosa,
Do luto que me deste, a sorte goza
E tantas vezes sempre desafias
Bacante serenata, diz orgias
E toda a forma seja majestosa,
Desnuda a velha e torpe tosca atriz
Que quando se calando já me diz
Do todo aonde um dia me fiz nada,
Arranco este demônio que me veste,
E sobre o meu cadáver já se investe
A sombra desta noite em vão nublada...



31236

Puro amor, puro prazer
Vida feita em galhardia
Se deveras poesia
Tantas vezes pude crer
Num momento em que saber
Vale mais que valeria
Tão somente uma agonia,
E decerto eu passo a ver
O meu mundo com o olhar
De quem sabe e quer amar,
Nada tendo que me impeça
A certeza dita o rumo
E se tanto quanto assumo
Não se faz mera promessa...


31237


A beleza por essência
Dominando o pensamento
E se quando eu me apresento
Muito além de uma clemência
Não querendo a providência
Nem tampouco o sofrimento,
Só desejo no momento
Ter no olhar clarividência
Que permita desvendar
Das searas que conheço
Onde amor traz o endereço
Onde eu possa mergulhar
Sem temer qualquer espinho
E não mais seguir sozinho...


31238

Não fadiga quem caminha
A vontade de encontrar
Qualquer lua, algum lugar
Onde já não mais sozinha
Alma encontre aonde alinha
Pensamento a divagar,
E se tanto pude amar,
Esperança se avizinha
E se tanto minha sorte
Cicatriza aonde corte
Solidão, eu chego a ti,
Tantas vezes procurara
Jóia bela, intensa e rara
Que num sonho outrora eu vi.


31239

Se por ti eu posso crer
No futuro feito em paz
Tanto amor será capaz
De mostra farto prazer,
Caminhando sem saber
Se a verdade ainda audaz
Poderá sendo tenaz
Desvendar quanto querer
Concebido nos teus olhos,
Muito embora dos abrolhos
Eu conheça cada espinho,
Na verdade meu canteiro
Sendo em ti é verdadeiro
Em teus braços eu me aninho.

31240


Dos meus olhos não se afasta
Quem deveras já se adona
Quem decerto se abandona
No prazer em cena basta
Ao que tanto outrora em gasta
Face nunca veio à tona,
Mas por certo sendo a dona
Se profana, audaz ou casta,
Seja sempre a companheira
Onde a sorte não se esgueira
E se mostra inteiramente,
Quem deseja novo encanto,
Bebe a luz e seca o pranto,
Dominando inteira, a mente


31231

Da beleza que tu tens
Tantas vezes redenção
E se vejo a direção
Deste encanto em raros bens,
Não concordo com desdéns
Nem tampouco se verão
Nos meus olhos desde então
Os anseios, pois tu vens
E se quando noutros tempos
Em terríveis contratempos
Minha sorte se perdia,
Hoje ao ter esta certeza
Teu amor, rara clareza,
Dominando a poesia...


31232

Noutro rumo já não creio
Quando estás aqui comigo
Se eu concebo em ti o abrigo
Para que qualquer receio?
Minha vida, sem anseio
Já não vendo mais perigo
Tão somente em ti persigo,
Este fogo em que me ateio,
Nada além de uma ilusão?
Novos dias mostrarão
A razão que é soberana,
Mas enquanto isto não vem,
Vou seguindo cada bem
Onde amor em ti se emana.


31233


Já não vejo sobre a Terra
Nada quanto quis um dia,
Mas amor já me traria
Novo tempo em que se encerra
Com ternura venço a guerra
E deveras fantasia
Mergulhada em alegria
Cada tempo onde descerra
Este pano sobre a cena
Minha vida se serena
Tão somente por ti ter
E sabendo deste fato,
No teu eu se me retrato
Herdarei pleno prazer...


31234


Sem ter dúvida, a certeza
Dominando o pensamento
Quando em ti, amor alento
Prosseguindo a correnteza
Sendo fera e sendo presa
Nada quero no momento
Só distar o sofrimento
E beber de tal pureza
Água mansa e cristalina
Deste corpo, doce mina,
Satisfaz este andarilho
Entre estrelas, luas, sóis
Teus olhares meus faróis
Com certeza também brilho.


31235


Quando a sorte se desterra
E o caminho já não vês
Onde outrora a lucidez
Dominava toda a terra,
Semeando não se encerra
É preciso a sensatez
E também a insensatez
Tez diversa, mesma serra,
Colho agora o que plantei
E se tendo bela grei,
Com certeza a plantação
Ditará divinamente
O que tanto foi semente
Hoje em plena floração!


31226

Ao viver no eterno ardor
Onde tanto poderia
Ter somente a fantasia
Mas adentro o mal do amor,
E mudando cada cor
Do que outrora se traria
E bebendo esta alegria
Num jardim imerso em flor
Primavera se volvendo
E se assim vejo envolvendo
Cada dia em paz e glória
Ao amar e ser feliz,
Tudo aquilo que eu bem quis
Renascendo em nova história...


31227


Aspirando à grande sorte
Que talvez eu não mereça
Mesmo quando se tropeça
Tendo alguém que me conforte,
Vou mudando assim meu norte
Onde a paz já me endereça
E se tanto em nova peça
Vida traça o que me aporte
Sem temor vivendo assim,
Tanto amor que existe em mim,
Das mortalhas do passado
Nada resta e nada tendo,
Só teu corpo me envolvendo,
Pouco a pouco, lado a lado...

31228

Aspirando à plenitude
Faço o verso em que talvez
Tanto amor ou lucidez
Não se trace em atitude
E se ainda mesmo eu mude
No que tange ao que tu vês
Outro tanto se desfez
E se bebo assim amiúde
Desta sorte mais feliz,
Tanto quanto pude e quis
Nada colho senão rosas
Noites claras, dias fartos,
Nossos sonhos mesmos quartos
Em que tanto ris e gozas...

31229


Do infinito de onde veio
Farto amor que ora nos toma,
Muito além de simples soma
Caminhando sem receio,
Novo mundo já rodeio
E bebendo a sorte doma
Coração que em paz retoma
Dos prazeres rumo e veio,
Sigo alheio aos temporais
E te quero sempre mais
Não calando dentro em mim
Esta fúria em doces sonhos,
Onde outrora mais medonhos,
Hoje em flores, meu jardim..


31230


Ao te ver, tua nudez
Dominando este cenário
Tanto amor é necessário
Nele além do que tu crês,
Nosso mundo, insensatez,
Neste mesmo itinerário,
Ao seguir tal lampadário
Toda a treva se desfez,
Mergulhando dentro em nós
Vejo assim em mesma foz,
Os diversos afluentes
Sendo assim nada segura
Onde planta-se a fartura
As colheitas, mais contentes...



31221

Meu espírito agitado
Não sossega um só instante
Muitas vezes degradante
Novo rumo de um passado
Se portanto fora errado
Hoje busco irradiante
Mundo aonde me agigante
Noutro ser já desmembrado,
Resistindo ao que pudesse
Mesmo quando não me desse
Nem sequer qualquer sorriso,
Se inda tenho este retrato
Onde apenas desacato
O meu passo mais preciso.


31222


Quando em ti eu me fizera
Mais disperso ou mesmo atroz
Quando ouvindo a mesma voz
Onde a sorte regenera
O passado dita a fera
O futuro se é feroz
Quando posso em novos nós
Resistir, mas quem me dera
Sou diverso do que tento
E bebendo o desalento
Ventos soltos, velhas casas,
Ardentias não consigo
E se tanto em desabrigo,
Mesmo assim pisando em brasas...

31223



O nada do quanto em nada
Novo tanto se fizesse
Muito mais do que benesse
Moldaria a velha estrada
Nela asilo a madrugada
E bebendo do que tece
O passado se merece
E a presença degradada
Do que pude crer em paz
E tampouco satisfaz
Se é mordaz o caminheiro,
O carinho nada diz
Quando o sonho de infeliz
Já me toma por inteiro.


31224

Este sopro criador
Que gerou dicotomia
Quantas vezes a alegria
Transcendendo à própria dor,
Gera em si espinho e flor,
E se for monotonia
O que tanto se recria
Muitas vezes nega amor.
Pude crer em cada falso
E se ainda cadafalso
Vou criando sem saber,
O meu cálice partido,
Novo tempo já perdido,
E deveras desprazer.


31225


Há de crer no que não sei
Quem deseja ser além
E se ainda não convém
O que fora outrora a lei,
Se no vago eu mergulhei,
Este nada me contém
E bebendo sem desdém
O que pude, esquecerei
Atitude mais complexa
Onde a sorte desconexa
Anexando o que talvez
Poderia ser igual,
Mas diverge e essencial
Novamente nada vês...


31216

Mergulhando neste espelho
Retratado em helianto
Ao sorver de ti o encanto
No teu corpo me aconselho
E se tanto em ti engelho
O meu mundo riso e pranto,
Prato exposto, mesmo canto,
Dos teus eus eu me assemelho,
Destes dois somos um só,
Mas diverso cada pó
No futuro até quem sabe
Possa ser num corpo apenas
As dispersas novas cenas
Onde tudo num só cabe.

31217

O meu ser quando em teu ser
Sombra mesmo do que sou
Mergulhando aonde eu vou
Encontrando o teu prazer
Participo do poder
Entre quanto se pensou
O que agora nos restou
Caminhar sem nada ver,
Versões tantas deste quando
Fardo ameno dividido,
O carinho em que o sentido
Pouco a pouco nos domando
Dominando o pensamento
Nele enquanto acolho eu tento...

31218

Indistintos caminhares
Entre sendas mais diversas
Convergindo em tais conversas
Somos feitos sempre aos pares
Mas se tanto ora notares
Quando em mim tu também versas
Almas antes tão dispersas
Hoje somos gemelares
Ritos, riscos, rastros vejo
Do que tanto em ti desejo
E desejas tanto em mim,
No contexto em que diverges
Também quando aqui converges
Rios vários mesmo fim...


31219


Envolvidos por membrana
Tão igual e diferente
Quando em ti sou eferente
Outro ser a vida ufana
E mergulho nesta gana
Onde o todo se pressente
E se tanto já se sente
Nova vida nunca empana
A que fora no passado
Companhia de outro tanto
E se agora em ti me encanto
Noutra senda é decifrado
Cada enigma do que sou,
Ou decerto o que restou...


31220


Quando a vida nos envolve
E se traz mesmo caminho
No teu eu se ora me aninho
Este amor também devolve
E se ainda ao quanto volve
De quem fora mais sozinho,
Mesma cena ou mesmo ninho,
O passado não revolve,
E resolvo de ora em diante
Novo tanto que adiante
Sobre o quanto nunca fomos,
E por sermos sempre assim,
Eu te vejo dentro em mim,
Mesma fruta vários gomos...



31211

Montado num cavalo avermelhado
Ganhando céus imensos, doce sonho,
E tanto quanto pude me proponho
Viver o dia a dia sempre ao lado
De quem se fez em gozo demonstrado
Momento delicado e mais risonho,
Assim ao te sentir, contigo eu ponho
O mundo noutro tanto deslumbrado,
Amar e ter decerto este caminho
E sendo que jamais volvo sozinho
Aos velhos dissabores de outros dias,
Residem no meu peito as emoções
E quando em tua nua pele expões
Delírios galopando em poesias...

31212


Ao querer a vida em paz
Mergulhei nos braços teus
Sem temor de algum adeus
Caminhando satisfaz
O que tanto fora audaz
Hoje embrenha em sonho meus
Velhos dias, himeneus
Deste encanto em que se faz
Tanto amor quando pudera
Ao gerar a primavera
Nesta flórea maravilha,
Um liberto coração
Bebe as sendas do verão
Luz imensa, agora trilha.


31213


Acredito enquanto eu viva
Na esperança após a morte
E se tanto tento um norte
Onde a sorte sobreviva
A minha alma não cativa
Tendo a glória em raro aporte,
Na alegria que suporte
A presença mais esquiva
Da tortura de outros dias,
Dores fartas e heresias
Em destinos mais cruéis,
Mas ao ver a libertária
Alma nobre e necessária
Ganham céus os meus corcéis.


31214

Quando ao sonho já se eleva
Coração sem ter correntes
Onde tanto tu pressentes
A minha alma em plena treva
Ao contrário dita a ceva
E se mostra entre indigentes
Caminhares penitentes
Sem inverno jamais neva,
E se faço com meu verso
Outro tanto onde mergulho,
Não suporto um pedregulho
Noutro rumo sigo imerso,
Percebendo enfim a luz
Onde o sonho reproduz...

31215


À deriva o meu saveiro
Sem saber de cais ou porto,
Quando outrora quase morto
Noutro sonho de um canteiro
Este amor que é verdadeiro
Dele faço meu conforto
Muito embora seja torto
Dos meus sonhos mensageiro
Verso dita o meu futuro
E se tanto inda procuro
Pelo menos vejo em ti
Tudo aquilo que eu buscara
Sendo a sorte agora rara
Belo sonho enfim sorvi.


31206

Cantando dentro da alma americana
Caribes entre sambas, rumbas, mambos
Os pés adentram dias morrem bambos
E tanto quanto a fome não se engana
Profética ilusão se faz profana
E tento desvendar velhos mucambos
As ancas das morenas, nossos Rambos,
E assim eu me percorro em voz mundana,
Dos planos e planícies, vícios, bócios
Delírios entre rotos passos e ócios
Beócios ditam bossas, baços sonhos.
Dos braços destes rios, afluentes
As podres frutas ganham bocas dentes
Risonhos os mendigos mais bisonhos.

31207

Na argila deste Pai hebraico Deus
Expondo cada face em semelhança
O quando nada mais pudesse alcança
Prepara novamente algum adeus,
E vejo quantos dias foram meus
E neles nova trama já se lança
Macabra sensação dita a lembrança
Bacantes heresias de europeus.
O quarto de dormir, esteira e rede,
A fome interminável mesma sede
Na sede deste orgulho americano,
Peçonha virulenta republica
A face da medonha tia rica
No olhar deste deus nu e quase humano.

31208



Impérios entre farpas, fadas, fodas,
E natalícias datas dos heróis
O quanto destroçaram deuses sóis
Facadas entre bocas, velhas rodas,
Das sanhas e montanhas toscas modas,
Rasgando os meus olhares, sem faróis
Dolosos caminheiros de arrebóis
Diversos entre estupros ditam bodas.
Da corja acorda a corda mais sutil
E bebe deste sangue em que ser vil
Serviu-se com fartura em diamantes,
E tanto poderia ser diverso
Cristão olhar de um mundo tão perverso
Satânicos e putos navegantes.

31209


As armas de cristal, olhar e risco,
E quanto mais atroz a fera humana,
Burguesa face exposta já profana
Enquanto no pensar cabeça arrisco,
Também amortalhando até petisco
O gozo da mulata em que se engana
A fome de sonhar e assim se empana
A face mais bonita em tom arisco.
Ditames desde as velhas Tordesilhas,
Aonde nada além destas partilhas
Bebendo dos sanguíneos desalmados,
Escravos entre mortos violência
Com ares de bondade e de clemência
Milhões destes Jesus já trucidados.


31210



O sangue que se vende numa esquina
Eterna cena em velha face expondo
O quanto deste sonho decompondo
Enquanto a realidade determina,
A face mais bonita da menina
E nela cada abutre vai se pondo
E até com salvadora tez compondo
Teatro em farsa rude e assim ladina,
Latrina de européias fomes; vejo
A América vermelha em podre face,
E quando noutro impasse diz desejo
O gozo do barbudo lá dos céus,
Enquanto um desbarbado se desgrace
Barbarizando aqui em fogaréus...


31201

O vento dominando este planalto
Aonde em feras, lutas, cordilheiras
As sortes desfraldaram as bandeiras
Gerando quedas, fontes num ressalto
E quando novo mundo já me assalto
Traçando com temores corriqueiras
Manhãs entre os termômetros me queiras
Numa alma feita em dor, terror basalto,
No cristalino sonho do condor
Na carne apodrecida, no louvor
Na manta feita em pus obus e guerra,
E sendo assim a dor do continente
Mortalha se mostrando esta indigente
Figura aonde o medo e o risco encerra.

31202

Sangrentos caminhares lua e verso,
E trágicos sinais em guerra e paz,
O fogo se espalhando se é mordaz
Toando bem distante este universo
Pudesse noutro tanto estar imerso
E o quadro muitas vezes satisfaz
O peso do carinho em que se faz
Gestando risco alheio e mais disperso.
Pudesse ser a América do sonho
O corpo lacerado e até medonho
Criança exposta à bala na viela
Participando assim do seu acaso,
Negando com ternura rumo e prazo
Uma esperança acesa me revela...

31203


Empunha-se o veneno faca adaga
E posso ser venal mesmo sorrindo,
E tanto se pudesse sendo infindo
O corte que decerto já me afaga
Enquanto a realidade doma e alaga
O tempo não se mostra claro e lindo
O peso do viver sempre esvaindo
Sanguíneo caminhar em lua maga.
Opaco, mas medonho ocaso vem
Se acaso tu vieres com perguntas
Ainda que por certo sigam juntas
Alheias às vontades vou aquém
Do quanto poderia em quadro e tela,
Enquanto a realidade rasga e sela.

31204


Das copas entre flores e arvoredos
Estranhas criaturas martirizam
E tanto quando posso aromatizam
Matizes entre cortes e segredos,
Negando tais fatias entre enredos
Dos cortes e dos sonhos sempre bisam
Os solos mais diversos quando pisam
Luares entre sobras ditam medos,
Escórias do que foste em pária sonho
Num ar quase devasso e até bisonho
Dos cárceres comuns do continente
O olhar tolo mendiga e do indigente
Resquício do que fora faca e fúria
Resultam desta amarga e vil incúria.

31205


Não posso recordar o que ninguém
Gerara após o pântano comum
Sabendo do que sou sem ser algum
E nessa noite apóio este desdém.
O quanto nada tenho e me convém,
Vencido pelo fato de ser um
A mais na multidão e ser nenhum
Seguindo passo a passo onde contêm
As almas entre cortes, sortes medos,
A faca se afiando em cada pele
Ao charco que nos resta me compele
Sabendo preservar velhos segredos,
A morte na penúria bar em bar
América em mortalha mais vulgar.



31196

Um feliz manancial
Lua cheia em noite amarga
A saudade quando larga
Traz diverso ritual
Bebo assim o mel e o sal
Quando a voz ainda embarga
A saída sendo larga
Outro engodo traz degrau
Leva à queda e nada tendo
Tempo cobra com seus juros
E se tanto ainda apuros
Onde quis ter estupendo
Cada escara se apresenta
Onde a sorte não alenta...

31197

Entre as ervas, cevas sonho
Entre os trajes novas rotas
E se tanto me amarrotas
Outro fardo recomponho
Bebo o gole mais bisonho,
Revivendo velhas frotas
Das fragatas novas cotas
E no fim sigo tristonho.
Pude ver neste cenário
Outro canto necessário
Se corsário ainda sou
Das bandeiras sigo alheio
E se tanto inda receio
Nada mais de mim restou.

31198


Pacifico enquanto luto
Semeando vento e guerra
Paz deveras já se encerra
Quando em trevas não reluto
E se tanto fora arguto
Caminhante sobre a terra,
Novo encanto não descerra
Quem bebera cada luto,
Brados outros, ditos feitos
E são tantos os efeitos
E os defeitos muito além
O que nada dita o rumo,
Se não fosse sempre esfumo
Quando a morte ainda vem...

31199

Sou burguês, mas nada resta
Do que tanto era medonho
Nesta cena mato o sonho
Podridão sendo indigesta
Não suporto qualquer festa
E decerto me envergonho
Do que nada inda componho
Adentrando qualquer fresta,
A funesta tempestade
O formato que degrade
A proposta sendo injusta,
Nada tendo do que fui
O caminho ainda pui
O que ainda em vida custa.


31200


Destes rios, as artérias
Sangue em cores palidez
O caminho em que se fez
Decompostas as matérias
Riscos tantos em misérias
Se deveras já não vês
Ao contrário insensatez
Em veredas frias, sérias
Não serias hematófago
E se crês neste sarcófago
Num momento em sacrilégio,
Reges com terror o quando
Transitando no nefando,
Gera burguês privilégio.


31191

Arvoredos estendendo
Entre ramos e raízes
Se talvez já contradizes
O que tanto em dividendo
Poderia ser adendo
Mas momentos infelizes
Ao gerar as cicatrizes
Novo tempo se esquecendo?
Surreais alentos tento
No que possa o pensamento
Mesmo atento ou quase nada
Ao beber a tempestade
Nada tendo que me agrade
A minha alma enluarada...

31192


Se num vale majestoso
Cordilheiras adivinho
Ao beber do amargo vinho
Inda tendo qualquer gozo
Dia opaco ou perigoso
Não se tente sem que o ninho
Seja ainda algum caminho,
Mesmo em solo pedregoso.
Riscos tantos sendas várias
Sortes quando necessárias
Árias ouço em tons diversos,
Mas se posso ser discreta
A alma tola de um poeta
São inúteis todos versos.

31193


Das aranhas teias fartas
Falsos dias luzes vagas
Entre as tantas dores tragas
E as medalhas já descartas
Cartas soltas, farpas, partas
E se tanto ainda estragas
As mortalhas em que adagas
Cortes tantos que repartas,
Medo ou tédio, sonho ou sanha,
Deste vale outra montanha
Nova rota, aranhas, teias
E se um dia fosse noite
Frágua em lua que me acoite
Nesta cena em que incendeias...


31194

Caminhando em sedas feitas
Arvorando o que não pude
Não se vê mais juventude
Entre as horas que deleitas
E se nada ainda aceitas
Mais diversa nunca mude
O que pode em atitude
Se deveras te endireitas
Nos vergões e nas vergastas
Dias horas sendo gastas
Restam poucos descaminhos,
Em searas mais dispersas
Se não sabes quando versas,
São inúteis os carinhos...


31195

Raios límpidos, cristais
Ondas fortes tempestades
E se ainda desagrades
Os que pude bebo mais
Resvalando os magistrais
Nem pudessem mais as grades
E o caminho que ora invades
Meus desejos ancestrais,
Bares bebo em bises sonho
E se neste não componho
O medonho que me espera
Não resumo num castelo
O que tanto não revelo,
Sobra espaço na tapera....


31186

Palavra lavra arvoredo
Entre letras frases sonhos
Senhas em sinais bisonhos
Nada além de quem procedo
E se tento ou tanto cedo
Frondes entre ares risonhos
Aspas crases e tristonhos
Mergulhares no segredo
Da palavra que se lavra
Na aridez de uma palavra
Larva gerando crisálida
Natureza sempre cálida
Sendo assim rastro deixara
Lua cheia em plena cara...


31187

Das auroras boreais
Dos instantes entre luzes
Cruzo céus e reproduzes
Os diversos vendavais
Entre as roupas nos varais
Entre os dedos, unhas, urzes
No caminho em que conduzes
Quero dias magistrais
Resta em mim a poesia
E se tanto poderia
Beber cada iridescente
Amanhecer sem ter promessa
Onde a vida recomeça
Toda a dor de mim ausente.


31188

Entre cenas e sementes
Entre os dentes os punhais
Noites finas em cristais
Mortes certas, facas, dentes
E se tanto incoerentes
Os meus versos são banais
Ao beber em desiguais
Destas tantas aguardentes
Novos rumos, sumos feitos
Onde outrora quis aceitos
E se a sorte não podia
Merecer o que se vê
Sem saber se tem por que
Ou se resta em fantasia...

31189

Há doçura em cada verso
Gestos tantos reproduzem
Os momentos que conduzem
Ao caminho mais diverso
Se deveras sigo imerso,
Onde os fatos se produzem,
Novos rumos não reluzem
Entre fardo que é perverso.
Traço ainda em traiçoeiro
Caminhar cada canteiro
Noutra senda cultivado,
Bebo assim desta cicuta
Quando a voz já não se escuta
Revigora o já passado...

31190

A manhã se fez tão quieta
Entre flores e jardins,
Entre sonhos querubins
A senzala predileta
Coerência sendo a meta
Entre engodos vejo fins,
E se nunca tive afins
Caminhares não se veta
O que pode ser alheio
Sem temer o que não veio
E pudesse ser eterno,
Nada vejo nem teria
Se não fosse a poesia
Fato amargo, claro e terno



31181

Soluçando quem pudesse
Soluções tantas me dar
Na incerteza do luar
Nesta luz que a noite tece
Quando a solidão se esquece
E penetra devagar
Sem ter onde inda buscar,
Nem tampouco tendo a prece
Messes tantas nada vejo
Nem a sombra do desejo
Que se fez inigualável,
Fogo intenso, noite fria
Excitante poesia,
Solo em lua ora mutável.

31182


Já não tendo vento e cais
Calmaria nega a vela
E distante caravela
Preferia os temporais,
Nada aquém ou nada mais,
Sorte aonde já se atrela
Solução atroz ou bela,
Em momentos desiguais
Ronda a lua noite afora
Rondas tantas, fases vêm,
Mas nas rondas sem ninguém
Gira a vida enquanto aflora
Dentro em mim sofreguidão,
Mas retorno à solidão...


31183

Gira, gira, girassol
Cataventos, ventanias
E se tanto poderias
Cada dia sendo em prol
Nada resta ao caracol
Onde tanta dor porfias
E se agora desafias
Nada vejo nem farol,
Olho atento no horizonte
Sem ter lua que desponte
Nua noite em tempestade,
Rondo a sorte que não veio,
Da morena cada seio,
Nem a sombra ou tom me invade.

31184


Sobre a carne de quem sonha
Sobre o sonho de quem ama,
A saudade dita a trama
Vez por outra tão medonha,
E se a sorte já se enfronha
Não concebo o mero drama
E tampouco se reclama
Da verdade em que se oponha
Cavaleiro em luas feito
O meu canto insatisfeito
Sem ter jeito sigo em frente,
Sem momento de ternura
A esperança que amargura,
Mesmo assim sonho pressente...


31185


Tenebrosa cada aurora
Entre brumas tão somente
O que tanto se apresente
Cada vez mais dor aflora
E se a vida se demora
Sem ter hora nem semente,
Vai granando em minha mente
Solidão ditando a flora,
Risco arisco arrisco o fim
E se pude mesmo assim
Ser enfim quem mais quisera,
Sendo opaco o que me aplaca
O meu peito em dor empaca,
E se volta contra a fera...


31176

Moreno sentimento tropical
Delírio feito em pernas, coxas, rumos
E quando se entranhando nestes fumos
Desejo sem limites, sensual,
E tanto poderia desigual
Caminho entre diversos, mas dos sumos
Bebendo gota a gota, meus insumos
Gerando esta vontade em ritual,
Rigores de um verão entre sóis, luas
As deusas, divindades seminuas
E as ruas entre festas, lutas, risos,
E assim nestas veredas, balas, fome,
Mas quando se embebeda a sombra some
E vejo tão somente os Paraísos...


31177


Sementes de diversas flores cevo
E tento resistir nesta aridez
Aonde cada sonho se desfez
Não posso acreditar ser mais longevo
O tempo que deveras teimo e levo
E dele cada cena em que tu vês
Anseios campesinos num burguês
Em ares tropicais, por vezes nevo.
E sei da variedade de matizes
Enquanto a cada engodo queres, bises
E beijas podres frutas do quintal,
O parto sonegado da esperança,
A bela redenção de uma criança
E a lua se desnuda em pleno astral...


31178


A lua deita cores e matizes
Avermelhando a noite em mil neons
E quando da esperança noutros tons
As sortes se prometem em deslizes,
Se somos como dizes, aprendizes
Momentos entre dores, luas, bons,
Diversa profusão, confusos sons
Depois da mocidade: as cicatrizes.
Esquálida figura da criança
Andando em madrugadas, nua em ruas
E assim quando distante continuas
A sorte mais alheia logo avança
E rapineiro gozo prometido,
Satisfazendo assim torpe sentido...

31179


Entre álamos, carvalhos e veredas
Ascendo ao que talvez fosse ou pedisse,
Viscosa realidade sem mesmice
E nela com terror logo enveredas,
E quando alguma paz inda concedas
Eu penso ser decerto uma tolice
No quanto da verdade nunca ouvisse
Enquanto de outros sonhos embebedas.
Cardápios variados, noite afora,
A lua em fráguas prata já decora
O quanto em tais momentos diamante.
E sendo assim tal fato pontual
Subindo a velha escada num degrau
Apodrecido, um sonho degradante...


31180

Vieste muito tarde, mas vieste
Negando a tua ausência mais constante
O rastro do que fora se adiante
E toda a solidão puindo a veste,
E tanta poesia te reveste
Na farda que rasgara em tom farsante
Por quase conceber o que se plante
A sorte nada colhe e segue agreste.
Mas lua desce em raios e mendiga
Bebendo deste cálice este vinho,
E quando me percebo então sozinho,
O tanto que deveras forje a liga
Não deixando volver quem não viera,
Matando a incipiente primavera...




31171

Valha-me Deus amigo e companheiro
Que tantas vezes tive sempre em mim,
Não vejo a mera imagem, querubim
Nem mesmo simplesmente um mensageiro
Dos tantos descaminhos se me inteiro,
E quando me procuro em Ti, enfim,
À semelhança encontro e sendo assim
Além de simplesmente um jardineiro,
Percebo o amigo e o irmão, além de tudo
Em paz e em mansidão se eu me transmudo
Não me deixo levar pelo temor,
Sabendo- Te Senhor entre os senhores,
Além de quem cultiva, tens as flores
Na mágica explosão do imenso Amor...



31172


Procuro ter ciência dos enganos
E busco mesmo quando a noite é fria
Do amor intensa glória e fantasia
E tentando absorver os tantos danos,
Comuns aos que se dizem tão humanos
Guardando dentro em mim a rebeldia,
E dela cada passo onde se guia
Usando em variados tons os panos
Dos quais mesmo puídos, rotos, faço
Um mundo onde pretendo desfilar
Minha alma que repleta de luar
Adentra sem limites todo o espaço
E tendo esta certeza de outro tempo,
O amor vencendo em paz um contratempo...


31173

Ao mestre que entre os mestres se fez mor,
Durante a própria vida um libertário
Ensina quanto o Amor é necessário,
E dentre tantos seres, o melhor,
Aquele que se fez o Pai e o Filho,
E nisto se mostrara em perfeição
Na magnitude expressa no perdão,
Aonde com ternura tento e trilho,
Buscando ter meu canto em liberdade,
Negando qualquer forma de corrente,
Por tanto dos meus olhos já se ausente
Desejo incontrolável que degrade,
Eu faço este soneto em reza e prece
Enquanto o meu futuro em paz se tece...


31174

Enquanto se ensinasse ter além
Do medo que devora este que tenta
Vencer em mansidão qualquer tormenta
Sabendo do vazio aonde vem
A noite após a tarde e sem ninguém,
Porquanto a solidão me desalenta,
Não tendo outro caminho a morte atenta
E bebe com terror o imenso bem
Do qual se faz a vida em plenitude,
Negando com temor a juventude
Que ainda resta em mim, nada mais vejo
Sequer a menor sombra do que fora,
E tanto ao penetrar desoladora
Seara agora escusa de um desejo.

31175

O quanto poderia num estilo
Diverso do que tento e ainda cismo,
Vagando no beiral de algum abismo,
O amor que nunca tive em vão desfilo,
Enquanto a dor se mostra e já destilo
Somente a cada ausência o pessimismo,
Gerando a cada instante o cataclismo
A queda se prevê: tolo, eu vacilo.
E sei que não podia acreditar
Sequer numa esperança e a divagar
Caminho sobre os restos deste sonho,
E tanto poderia ser diverso,
Mas vejo inutilmente cada verso
Gestando o que vê venal medonho...




31166

Minha alma encontra alento aonde um dia
Pudesse ser diverso do que fora
A sorte muitas vezes genitora
Do medo onde a glória se esvaia,
Recendo ao que pudesse fantasia
E tanto navegando em sonhadora
E tola claridade ou promissora
Manhã que na verdade não havia,
Eu quero acreditar e também tento
Vencer os meus temores com o atento
Olhar em busca mesmo do que possa
Fazer de tanta dor, alguma paz,
E quando nada disso a vida traz,
Nem mesmo a fantasia me remoça...


31167


Porquanto estéreis sejam os meus sonhos
Por onde muitas vezes enfronhara
A senda que jamais inda notara
Trazendo além dos dias mais medonhos
Fartando com terror fatos bisonhos
Termina a minha vida e quando a escara
Penetrando minha alma desampara
O que pudessem ser dias risonhos,
Não vejo solução nem mesmo quando
O mundo se pudesse transformando
O dia mais atroz em calmaria,
Mas nada se mostrasse desta forma,
E quando a própria vida nos deforma,
O medo noutro tanto se faria...


31168

Prodigiosas noites do que outrora
Pintara com suave e bom matiz
O que hoje toda a vida contradiz
E ainda em dor e medo teima e ancora,
O corte mais temível me devora
E o gesto em que me exponho um aprendiz
Resulta inevitável cicatriz
Aonde a podridão reina e decora,
Percorro os descaminhos, ermos meus,
E sinto necessário cada adeus
Porquanto possa crer noutra ventura,
Mas sei que inutilmente nada trago,
O mundo que se mostra sem afago
Prepara no final outra tortura...


31169


A dor que me enlutara desde quando
Não pude mais sentir o teu perfume
Portanto noutro rumo me acostume
Que quanto mais procuro, se negando.
Ressentimentos trago e sei nefando
Caminho aonde o mundo não se aprume,
E tento acreditar possível lume
Na noite a cada instante se turvando.
Nefasta realidade, nada mais.
E tanto poderia... Vendavais
Retratam o que agora é cataclismo,
Aonde quis o sonho nada veio,
Apenas este mundo em vão anseio
E dele tão somente imenso abismo...


31170


Herdando deste amor cicuta e taça
Não tenho sob os olhos o horizonte
Aonde qualquer luz ainda aponte
Enquanto o meu caminho em dor se traça
E assim desta emoção mera fumaça
Rompendo e destruindo qualquer ponte
Secando desde já nascente e fonte,
A vida sem prazer, somente passa.
E vejo retratado neste ocaso,
O amor que na verdade tanto aprazo,
Que tão significante fora outrora,
Mas tudo não passara de mentira
E quando a fantasia turva a mira
O parto da esperança sempre gora...


31161

Apenas um estúpido organismo
Que tanto se propõe a ser superno
E quanto mais nos sonhos eu me interno
Beirando com terror o imenso abismo,
Por vezes solitário ainda cismo
Tentando me esquivar do meu inferno
Aonde a cada dia mais externo
O templo em que gerei meu cataclismo,
Percebo ser tão frágil o argumento
E sei da inútil farsa que inda tento
Vencer com emoções a dura face
Do amor sendo plausível que se trace
Com mais denodo e sorte outro cenário,
Aonde este terror desnecessário...


31162


Dançando pensamentos no meu crânio
Devastações diversas, novos dias,
Audazes ilusões e poesias
Atômica explosão, sobejo urânio,
E tanto poderia em momentâneo
Caminho em que decerto tu me guias,
Matando com ternura as heresias,
Mas sei que efeito mostra este instantâneo
Retrato e nada além, mergulho em nada,
E traço com meus erros o que sinto,
E sendo o coração somente instinto,
Razão há tanto vejo abandonada,
E rasgo o que pudesse ser bom senso,
Somente do não sou eu me convenço.


31163

Uma alma em fráguas tantas, fogaréus,
Riscando estes momentos nada leva
E sabe que se perde em torpe ceva
Usando a falsidade destes véus,
Mergulho nesta insânia e rasgo os céus,
Somente em meu caminho medo e treva,
O amor quando demais sorte longeva,
A vida se mostrando em vagos léus,
E quase acreditei num só alento,
Mesquinho desvendar do que inda tento
Transcende à própria vida e me carrega,
Ao túmulo deveras meu abrigo,
E quando a minha morte assim persigo
A sorte já se fez há tempos cega...

31164

Tombando à imensa força deste não
Percebo quanto fora amarga a sanha
De quem ao ter a vida agora entranha
Seara da terrível ilusão
Expondo a cada instante outro senão,
Ainda se avistando esta montanha,
O corte mais profundo a noite ganha
E o mundo já sem nexo e direção,
Atrocidades vejo e se eu me calo,
Também eu participo, conivente,
Vacância dentro da alma é o que se sente
Quando se vê tal cena e sem abalo,
Restando-me seguir para este inferno
Aonde pelo menos sou eterno...


31165


Instintos dominando uma razão,
Ao ver assim a terra consumida
Nos ódios e terrores minha vida
Esboça a mais espúria reação,
E quando percebendo tudo em vão
A sorte muitas vezes destruída,
Aonde poderia estar urdida
Quem sabe pelo menos salvação.
Eu sinto e me aproximo do medonho
No espelho vejo o quanto eu decomponho
Em face dolorosa, rugas, medos,
E assim ao se esconder dentro de mim,
O mundo se mostrando em triste fim,
Meus sonhos abortados, torpes, ledos...



31156

Aonde a quis expondo em raras flores
Belezas cujo brilho transcendesse
Ao quanto se decerto merecesse
Além dos mais estúpidos pudores,
E nada do que vi em várias cores
Mudando o que talvez já se tecesse
E neste nada ser jamais se lesse
Além destes momentos tentadores,
Aprazo-me ao saber que noutra face
A sorte se desvenda sem impasse
E traça aonde nada eu conseguira
Amante dos meus sonhos se revela
E tanto quis criar a bela tela,
E a Terra com certeza roda, e gira...

31157


Semeias os carinhos que eu te dei
E tentas em colheitas o que outrora
Não pude conseguir e comemora
Assim fecundidade desta grei,
Enquanto no vazio eu mergulhei,
A sorte já se foi há tanto embora,
E ainda no meu pleito vejo e aflora
A morte que deveras eu tracei,
Assim um energúmeno fantoche
Exposto às heresias do deboche
Desabrochando o medo aonde um dia,
Pudesse ter canteiro mais florido,
O amor que se fez hoje um desvalido
Há tanto noutra face se perdia...


31158


Quem dera se eu pudesse abrir a porta
E crer noutro momento feito em sol,
Mas quando esta neblina do arrebol
Imagem tão sobeja enfim aborta,
O quanto do queria não comporta
O peso de viver sem ter farol,
Crisântemo sonhando em girassol,
A sorte num jazigo eu vejo morta.
Parceiros de momentos mais felizes
Agora tolamente tu desdizes
O que talvez pudesse ser um sonho,
Calado simplesmente sigo alheio
E quando do vazio eu me recheio,
Futuro solitário é o que proponho...

31159

Às horas mortas vejo e nada faço
Sequer eu poderia ter no olhar
O quanto cada amor quis sonegar
E apenas o vazio ocupa o espaço,
Se ainda mesmo quero o antigo passo,
E nele cada senda desvendar,
O mundo sinto aos poucos destroçar
E nada do que eu quero já refaço,
Atrozes desventuras: solidão,
E tanto quis o brilho de quem sabe
Bem antes que este sonho enfim desabe,
As horas mais felizes não virão
E posso acreditar jamais teria
Após a tempestade a calmaria...


31160


O céu se revestindo em astros tantos,
Sobeja luz adentra esta ilusão
Eternizando em mim qualquer verão
E nele com ternuras, teus encantos,
Procuro a cada instante nos recantos
Aonde novos dias poderão
Traçar já noutro rumo e direção
O que se demonstrara em podres mantos,
A morte se produz a cada instante
E tendo este cenário torturante
Não posso mais sonhar, e assim encerro
O ciclo sobre a terra, a cada ausência
Bebendo com terror a incoerência
Calando em amargura o grito, o berro...



31151

Tombando à força incrível do machado
O sonho de quem tanto desejara
A sorte em diversa luz e amara
Não deixa que se veja iluminado
Caminho onde se expondo o meu passado,
Jamais se encontraria a fonte clara
Na qual a juventude inda se ampara
E possa ser em paz ora traçado,
A pútrida faceta em que se vê
O mundo sem razões e sem por que
Não deixa que se creia em nova senda,
E assim sem ter ninguém que inda me acolha,
Outono derrubando cada folha,
Sem ter qualquer desejo que se atenda.

31152


Quem dera se pudesse a caridade
Domar os corações mais agressivos,
Os dias com certeza mais passivos
A sorte benfazeja nos invade,
E tendo a cada olhar felicidade
Os anjos em momentos decisivos
Com seus caminhos claros e incisivos
Não deixariam mais tortura e grade,
Ao ver esta ilusão em força intensa
A morte se mostrando em desavença
Apego-me ao que fora fantasia,
E tanto poderia hoje ter nexo
Um mundo sem sentido e vão, complexo,
Que a cada nova fase se recria...


31153



O quanto se mostrara mais infando
Atemporal desejo em luz sombria,
E assim ao se encontrar sem fantasia
O mundo noutro tanto se arrasando,
O peso do viver já me envergando
Ausente de meus olhos a alegria,
Gastando com palavras a ironia,
O pendular anseio se entornando.
Quimérica ventura de quem tanto
Penara sob a força da vergasta,
E quanto mais da vida o sonho afasta,
O gesto sonegando brilho e canto,
Resisto, mas bem sei quanto é medonho
O mundo sem prazer, audácia e sonho...


31154

Por toda a humanidade vejo a dor
Disseminando em cruzes e temores
Cenário mais propício para horrores
E sem saber sequer de um redentor
Caminho aonde o mundo a se propor
Mudasse num instante turvas cores,
E posso acreditar por onde fores
Terás a mesma imagem, dissabor.
Herético sonhar ditando a forma
E quando cada não mais me deforma
Ausente de esperança morro aos poucos,
Os dias que restarem nada dizem,
Porquanto sobre as pedras já deslizem
Os meus momentos rudes, tolos, loucos...


31155

A vida se arrastando deste jeito
E nada do que pude acreditar
Trazendo algum distante céu ou mar,
E o peso do viver, duro trejeito,
Resisto e quando mesmo assim aceito
Os erros tão comuns, passo a encontrar
Da morte em cena atroz, especular,
Um rito que se faz já putrefeito,
E nada me acolhendo, sigo ao nada,
E dele novo nada se concebe,
Assisto à derrocada da alma plebe
E um pária coração na madrugada
Fartando-se da treva em que se embrenha,
No fundo do prazer ausente a senha...



31146

A vida conferindo o mesmo brilho
A tanta forma embora mais diversa
Ao quanto cada sombra já se versa
E nela percebendo aonde eu trilho
Disperso caminhar, mesmo empecilho
E quando se mostrara assim imersa
A sorte pra começo de conversa
Permite noutra sorte este rebrilho
E assim perpetuando algum caminho
Por onde nunca estás ledo e sozinho
Compartilhando este ar com outro ser
A morte refazendo nova vida
E dela nova senda construída
Seara eternizada em dor, prazer...

31147


Desta alma que se vê noutro momento
Ainda quando eu sei ser tão complexo
O quanto poderia ter um nexo
E neste caminhar o meu invento,
E tanto quanto posso novo intento
E nele se mostrando amor ou sexo,
E sem saber do côncavo o convexo
Jamais pudesse ter seu complemento,
E sendo mesmo vária esta seara
Aonde a dor em vida se escancara
Gestando o que pudesse ser eterno,
E estando muito além de um mero quando,
A vida noutra vida desdobrando
Ausente de somente Céu e inferno...

31148


Aonde em rogativa peço a messe
De quem se faz maior e onipotente
Porquanto outro cenário em paz eu tente
Apenas um momento se agradece
E assim quando ilusão meu mundo tece
Na senda que se sonha, mais presente,
Aonde o sofrimento em vão se ausente
Quem tanto pede em prece ora agradece.
E vê ser tão possível claridade
Bem antes que este mundo se degrade
Sem gládio sem terror, somente paz.
E tudo poderia ser possível
Não fosse o ser humano tão terrível
A fera que se fez a mais capaz...


31149


Enquanto este caminho já se serra
Tocando com terror a plenitude,
A outrora sonhadora juventude
O mundo com temor agora cerra,
E sinto que se tanto já se emperra
A porta pela qual uma atitude
Permite que decerto ora se mude
Cenário degradante sobre a Terra,
Resisto a perceber tanta vileza
Naquela que já fora caça e presa
E agora dominando esta seara
Devora tanto quanto lhe apetece,
E assim se transformando em fúria tece
A morte que no olhar sempre escancara...

31150


Um ser terrivelmente duro e bronco,
Mortalha revestindo cada cena
Aonde se fizera mais serena,
Não deixa da esperança qualquer tronco,
E bebo o pesadelo, e já destronco
O olhar ao procurar quem já serena
A sorte desdenhada outrora amena
E agora não se ouvindo nem o ronco
Da outrora fera, o tigre, algum leão,
Felina hoje silente natureza,
Aonde a caça agora traça a presa
E nela por audácia ou diversão
Demonstra a sua fúria incomparável,
A vida no planeta ora extirpável.


31141

Diverso caminhar crença e ciência
Enquanto poderiam convergentes
E quando novos rumos apresentes
Porquanto não se vê coincidência
Do quanto se gerara em providência
E nela os quantos mares apascentes
Embora muitas vezes dissidentes
Mergulham com denodos e eloqüência
O quadro se mostrando bem mais claro
Do quanto em verso curto hoje declaro
E fato que se veja a luz de um sol
Aonde no passado dito em treva
A sorte não se faz branda e longeva
Tomada por um fútil, vão farol...


31142

Não sirva de empecilho ao sonhador
O canto mais atroz que ainda escuto
E quando na verdade afasto o luto
Gerado pela imensa e vaga dor,
Exploro o caminhar por onde for
E quando mergulhando não reluto
Encontro o que deveras quis astuto
Vencendo com ternura este amargor,
Pudesse novamente ter em mim
Que tanto amor domando o meu jardim
Traçasse no quintal bela esperança,
Mas quando nada vejo além do fardo,
E sinto ser possível quando o cardo
Aonde cada espinho nos alcança.

31143


Uma esperança quando já se corta
Traduz outro momento em dor e sei
O quanto se polui assim a grei
E disto nem o medo mais comporta
Abrindo com terror a imensa porta,
E dela todo rumo adivinhei
No fundo nada mais eu desvendei
Sabendo esta ilusão agora morta,
E tanto poderia acreditar
Nas cores mais sublimes sol e mar,
Razões para quem tenta outro caminho,
Mas sinto tanto frio e se um dia
A sorte noutro intento poderia
Traçar a cada passo onde eu sozinho...

31144

Aos poucos ao sentir minha velhice
Tomando este cenário aonde um dia
A luz da juventude percebia
E agora cada espelho já desdisse,
O mundo que passei mera tolice
E nele a face escusa e tão sombria
A cada nova ausência se atrevia
Ninguém deveras sabe ou mesmo visse
Momento em que pudesse ter o alento
E sei que a mocidade este provento
Não deixa mais a sombra além do nada,
E tanto quis viver embora saiba
Do pouco que inda resta onde me caiba
Terrível e brumosa madrugada...

31145


A sorte desditosa em alma dura
Não deixa qualquer sombra do que um dia
Vencendo com terror uma alegria,
Apenas a esperança uma armadura,
E quando se levasse em tal loucura
Amor gerando a dor em agonia
E tudo o que eu buscara não valia
Sequer qualquer momento de ternura,
E assim ao perceber o fim da estrada
Ainda que eu tentasse uma guinada
A porta se fechando atrás de mim,
Não vejo outro caminho, e o funeral
Ao fim será meu claro e triunfal
Momento onde venci, até que enfim...



31136

Voando ao procurar neste infinito
Qualquer momento aonde poderia
Vencer a mais sofrível heresia
Mantendo com certeza um duro rito,
E quando vez por outra ainda grito
A sorte noutra senda se esvazia
A morte se aproxima dia a dia
E sei que na verdade amor é mito,
Venenos se trocados matam quem
Sonhara muito mais do que convém
A quem procura a vida feita em paz,
E sendo sempre a vítima do fato,
Enquanto nas ilusões eu me retrato
O mundo noutra face se desfaz...


31137


Desperto dentro em mim o velho amargo
Que tantas vezes via o fim do sonho
E neste recordar, fato medonho,
O quanto da esperança enfim eu largo,
E quando no vazio a voz embargo,
O nada quando muito já proponho
E assim ao mesmo instante decomponho,
E incrível que pareça o mundo alargo,
Vencendo os meus temores abro o peito
E tanto poderia satisfeito
Traçar amanhecer aonde agora
Apenas o vazio toma a senda
E tendo quem meu sonho ainda atenda,
A sorte renascida revigora...

31138

Humana consciência dita a sorte
De quem não se concebe mais audaz,
E tanto quanto o pouco satisfaz
Ainda vejo em nada o que conforte,
O peso de viver desdenha o norte
E tão distante agora qualquer paz,
O que pudesse ser bem mais voraz
No fundo se perdendo sem suporte.
Assim neste ir e vir a vida passa
E quando se percebe esta fumaça
Pensando no que um dia quis e nada,
A porta estando assim sempre cerrada,
A morte a cada dia mais se traça
Tomando com terror a madrugada...

31139


Cintilando num céu de imensos astros
Vagando sem destino, este cometa
Porquanto cada luz já se prometa
Aonde não tendo mais os lastros
Percorro inutilmente e busco os rastros
No quanto a nossa sorte se cometa
Num divisível mar já se arremeta
Quebrando da ilusão sobejos mastros,
Medonha face exposta no vazio
E quando muitas vezes desço o rio
Chegando ao mar imenso vejo a vida
Que quando da nascente em ares fúteis
Depois entre cenários vis ou úteis
Até beber enfim leda saída...

31140


De um sol enorme vejo esta pujança
Fosforescentes sendas traçam rumo
E quando cada engano eu assumo
Renasce dentro em mim esta esperança.
Porquanto no vazio a voz se lança
Bebendo deste nada intenso sumo,
Ainda que se vê ausente o prumo,
O medo não permite a temperança
Rasgando o coração de um sonhador,
E nele se embrenhando em tal torpor
Restando para mim o desengano,
O mundo que desejo vejo além
E toda a solidão enquanto vem,
Mudando o que seria algum bom plano...





31131


Como se fosse assim encadeada
A sorte noutra sorte, sortes várias
E tanto poderiam procelárias
Levando ao mesmo vago e etéreo nada,
E quando se percebe na calçada
As horas entre estrelas temporárias
Enquanto noutra cena as necessárias
Manhãs se aproximando desta estrada,
Resisto ao perceber quantos caminhos
E neles os meus versos são sozinhos
Ao acolher os astros no meu céu,
Eu volto a perceber sinceramente
O quanto se propõe quando se mente,
Traçando em doce face espúrio fel.


31132


Seguindo cada passo deste mundo
Em sortilégio e medo transtornado,
A cada novo engano outro tornado
Entorna-se o terror imenso e imundo,
E quando nestes nãos eu me aprofundo,
Vencido pela dor, já desolado,
O peso de viver anunciado
Há tanto sonegando ao moribundo
Alguma chance em vão sobrevivência,
E tanto se conhece a penitência
De quem se fez atroz em plena vida,
E a morte anunciada com tal terror,
Sangrando intensamente a se compor
Gerando a cada instante a despedida...



31133




Seguindo cada rastro desta esfera
Satélite do sonho em que persiste
Num ar atrocidade gera o triste
Terror aonde vive a amarga fera,
E quando outro caminho não se espera
De quem jamais consente ou não desiste,
O fato de viver somente existe
E nada com mais nada se tempera,
Tapera da esperança já puída
A sorte desmembrando-se da vida
Mortalha vai tecida pelo medo,
E tanto poderia ser diverso,
Mas quando vejo fútil cada verso,
Nem mesmo uma alegria eu me concedo...


31134

Seguindo na amplidão imensos céus,
E tendo este universo dentro em mim,
Do todo gigantesco início e fim
Trazendo cada sonho em raros véus,
E faço destes versos fogaréus
Traçando com augúrio meu jardim,
E sei que tanto posso querubim
Ou mesmo nos pequenos, vãos ilhéus.
Resido aonde a sorte se proponha,
E quando do passado a dor é fronha
Medonha face vejo em meu futuro,
Deveras nada tendo do que eu quis,
O amor se faz etéreo chamariz
Cavando com temor em solo duro...


31135


Abismos entre tantos que se abrindo
Sepulcros da esperança tais mortalhas
E quando contra as dores tu batalhas
O mundo num terror, imenso e infindo,
O quanto poderia ser mais lindo,
Mas nada do que busco ainda espalhas
Amores são incêndios sobre palhas,
E vejo fátua luz de ti saindo,
Etéreas manhãs ditam nossos sais,
Espaços que procuro desiguais
Em siderais tormentas, nebulosas,
E quanto mais em cores e matizes
Maior o desencanto se desdizes
Enquanto as noites foram majestosas...



31126

A vida como fosse a viatura
Que leva e quando traz em capotagem
Impede o prosseguir de uma viagem
Gerando a dor imensa que amargura
E nada se percebe em noite escura
Farol já se apagando e esta engrenagem
Sonega qualquer luz nesta paisagem,
Apenas o calor já se procura
E nada do que tanto desejei
Encontro em desvalida, amarga grei
E tudo não passando de promessa,
Assim ao me saber sem rumo e nexo,
O mundo se mostrando mais complexo
A sorte nunca vi nem recomeça...


31127


A bela dama nua e graciosa
Deitada em minha cama, quem me dera,
Enquanto um sonho bom minha alma espera
Jardim já destroçado perde a rosa,
E tanto poderia caprichosa
A sorte noutro tom, em primavera.
Mas quando se percebe degenera
E morre desta forma desairosa,
Sintetizando em versos minha vida,
Seara dolorosa e sem saída,
Restante que inda tenho nada vale,
E sei que sendo assim tão perigoso
Caminho feito em medo, torporoso,
Cobrindo qual mortalha, escuso xale...

31128


Morena tez de quem se fez a dona
Dos sonhos deste tolo aventureiro,
O amor que agora sei meu derradeiro
Aos poucos meu caminho já abandona,
E nada do que tento ainda clona
Passado entre delírios, do espinheiro
Gerado a cada não, se inda me esgueiro,
O todo que sofri volvendo à tona.
Resisto contra a fúria das marés
E sei que também foges, pois tu és
Reflexo do que tanto imaginara,
A sorte se bendita num momento
Em nova face agora já lamento,
Escura noite um dia fora clara...

31129


Das artes e dos sonhos, Musa e Diva,
Assim imaginara esta presença,
Mas quando a vida traça a desavença
A sorte que pensara ainda viva
Aos poucos em terrores já me criva.
E trama com temor o que convença
Que nunca mais sequer o sonho vença
A força desta dor, soberba e altiva.
Trilhando cada fardo que inda trago,
Na busca inútil tento algum afago,
Somente a solidão já se aproxima,
E pude no passado imaginar
Ainda a bela diva que ao luar,
Gerasse muito além de mera rima...


31130

Trepida sob os pés do caminhante
O solo em terremotos, quando a vida
Persiste na temível despedida,
E nada do que posso me adiante
A sorte que pudesse de um gigante
Vagando desde o ponto de partida,
E quando se prepara uma saída,
A cena que se vê tão degradante
Não deixa qualquer sombra do que um dia
Pudesse ser além da poesia
Realidade doce e bela quando
O tempo se mostrando mais suave,
Sem nada que deveras inda agrave
O templo dos amores se formando...





31121


Estando dos cuidados mais alheio
Não pude imaginar outro caminho
E sendo sempre assim torpe e sozinho
Momento mais feliz decerto anseio,
E quando da esperança perco o veio,
O mundo em que deveras eu me aninho
Mudando de cenário e sem carinho,
Gerando tão somente este receio.
Pudesse prosseguir em nova senda
E tendo esta alegria que me atenda
Sorver da imensidade de um afeto,
Mas como costumeiro solitário
O quanto que eu preciso e é necessário,
Num duro amanhecer não me completo.


31122


O amor que me deste sendo falso
Gestando a ingratidão trouxe este aborto
E quando imaginara semimorto
Imerso num dantesco cadafalso,
A cada novo engodo outro percalço
Distante de meus olhos qualquer porto,
Eu tento e com terror seguindo absorto,
Das dores e dos medos não me calço,
Resisto mesmo quando sei inútil,
O tempo se mostrando amargo e fútil
Espelha o que tu tens e se pressente,
O tanto poderia ser diverso,
Mas quando se percebe em cada verso
Amor que tu dizias, sempre ausente...


31123


Ao recobrar o senso e perceber
Que tudo não passara de mentira,
Aonde falso amor se fez a mira
A falta de alegria e de prazer,
Talvez se inda tivesse o alvorecer,
Mas quando esta esperança se retira,
Por tanto que em terror amor me fira,
A morte se anuncia em vão poder.
Risonho aventureiro que se fez
Em louca e mais completa insensatez
Mortalha que tecia não soubera,
E agora quando a noite se aproxima,
O mundo desabando cai em cima,
E tudo se transforma, angústia fera...

31124


Um velho navegante tão cansado
Depois de tantos mares e procelas
Os barcos se perderam, lemes velas,
O fim neste horizonte anunciado,
O mundo que sonhara destroçado
As horas mais felizes não revelas
E tanto poderia sem as celas
E nelas o terror, duro legado,
Resido no que fora o sentimento
Durante muitos anos, mais feliz,
E tudo se mostrando em cicatriz,
Criada pela dor e sofrimento,
Desesperado ausente mocidade,
Somente este terror que agora invade...




31125



Pudesse ter pernoite em calmas luzes
E não nestas sombrias que ora tenho,
E nada valeria algum empenho,
Somente conhecendo pedras e urzes,
Porquanto ainda ausente não produzes
O efeito necessário e se inda venho
Beber da solidão, eu já desdenho
O amor com seus temores, velhas cruzes.
Resisto vez em quando, mas não pude
Saber do quanto ausente esta atitude
Que sinto necessária neste instante,
E a cada novo não meu mundo cai,
E quando se percebe a sorte esvai,
Quem dera se eu pudesse ser mutante...



31116

Ao roubar o sentimento
Que deveras fora meu
Todo tempo escureceu
Invadindo o pensamento,
Não pudera um só momento
Tanto imerso neste breu,
Caminheiro se perdeu
Outro rumo ainda eu tento,
Mas alheio a cada passo
Não consigo e nem desfaço
Sofrimento que me deste,
Não concebo liberdade
Quando a dor agora invade,
Neste solo duro e agreste...


31117


Este amor infausto e frio
Que deveras tu me trazes
Se da lua sei as fazes
Perceber-te é desafio,
E se ainda em vão desfio
Sei do quanto são capazes
Os momentos em que fazes
Do meu mundo o mais sombrio,
Não concebo solução
Entre o rumo feito em não
E o amanhã que nunca vem,
Solitário caminhante
Inda mesmo que adiante,
Do futuro segue aquém.


31118


Recobrando os meus sentidos
Após tanto temporal,
Novo dia é ritual
Frente aos velhos desvalidos,
E se tendo permitidos
Novos sonhos, desigual
Caminhar traçando o astral,
Meus delírios pressentidos,
Num momento ainda vejo
Bem mais forte o meu desejo
Superando qualquer dor,
Trago em mim a primavera
E apascento assim a fera,
Neste sonho encantador...

31119


Enfrentando a quietude
De quem tanto quis um dia,
Novo tempo não traria
A perdida juventude,
Mas se tanto se transmude
O que fora fantasia,
Morto agora em agonia,
Esperando outra atitude,
São risíveis os momentos
Entre dores e tormentos
Desalentos, solidão
E se quero novo rumo,
Da esperança bebo o sumo,
Vejo as sendas que virão...

31120


Tanto amor um trem expresso
Os vagões felicidades,
Mas deveras se degrades
O que tanto te confesso,
Não podendo este regresso
De quem fora, tais saudades
Regeneram tolas grades,
E sonegam o progresso
Deste tanto coração
Que se perde em direção
Vasculhando cada ponto,
Nada resta do que fui,
E se em nada já se flui,
Teu caminho não aponto...



31111


Navegando pelos mares
Entre as ondas mais febris
O meu peito está feliz
Ao sentir quando sonhares
Com diversos bons lugares
E fazendo o que bem quis
Noutro tempo outro matiz,
E se tanto te entregares
Tu verás iridescente
Todo o encanto que se sente
Quando amor se faz enorme
Sem ter nada que inda impeça
Muito além de uma promessa
Quem porfia nunca dorme...



31112


Ao vencer as tempestades
Percebera finalmente
Tanta luz que se apresente
Quando o sonho tu invades
E não tendo mais as grades
Posso andar mais livremente
E se ainda me atormente
Ou se ainda desagrades
Noutra esfera o pensamento
Onde tanto enfim me alento
Eu encontro o meu caminho,
Não me vejo solitário
Se decerto solidário
Nos teus braços eu me aninho...



31113


Ao se erguer a fortaleza
Que deteve cada passo,
Novo rumo ainda traço
Mesmo em dura correnteza
Sei do amor, sua incerteza,
Sei também de cada espaço
E se tanto sigo lasso,
Teu amor me dá firmeza,
Percebendo assim a messe
Quando o sonho se obedece
Eu terei um novo dia,
Feito em glória em luz e festa,
Todo encanto que me resta
Encharcando a poesia...


31114


Quando a vida de quem tenta
E sabendo não ter alma,
Na verdade não se acalma
E deveras me atormenta,
Vida amarga e violenta
Não se vê do sonho a palma
E o carinho desalenta
Não permite quando inventa
Solidão, suave calma,
E se tanto não se dá
Eu percebo e desde já
Quanto inútil tal vereda,
Se decerto queres paz,
Tanta paz somente traz
Quem no amor já se conceda...

31115

Que não sirva de empecilho
A quem busca a paz em vida
E perceba uma saída,
Bem diversa da que eu trilho,
Onde ausente qualquer brilho,
Nada mais só despedida,
Quanto tanto se duvida
Só terrores eu empilho,
Ao sentir tanta inocência
Em quem busca por clemência
Deste amor feito em perdão
Dos diversos desafetos
Vejo os rumos prediletos,
Ao Senhor a direção...







31106

Percebendo esta amplidão
Onde o sonho penetrara
Vendo a lua sempre clara
A beleza de um verão,
Tento assim a redenção
Do que fora tão amara
Vida dura, desampara,
Mas no amor outra lição
Aprendida dia a dia
E com tanta poesia
Nossa vida se transforma
Tão sutis os medos quando
Outro rumo se tomando,
Na paixão se vê a forma...


31107

Caminhando pelos ares
Sonhadores pensamentos
Enfrentando medos, ventos
Deste sonho meus altares
E se tanto navegares
Por distantes elementos,
Os diversos sentimentos
Embebendo mal notares
A pureza de um cristal,
Um momento magistral
Novo alento em nossas vidas,
E estas dores do passado,
Num medonho e vão legado,
Pelos ermos já perdidas...

31108


Ao fitar teu corpo belo
Em nudez maravilhosa
A minha alma quer e goza
Penetrando este castelo
Quanto amor ali revelo,
Nesta senda fabulosa,
Nossa sorte caprichosa,
Neste instante em luzes selo,
Vencedor sendo vencido,
Caminhante sem olvido,
Nada resta do que fora,
A palavra redenção
Tendo tal definição
Na seara sonhadora...


31109


Onde outrora fora abismo,
Solitário caminhante
Ao seguir agora avante
Contra a fúria teimo e cismo,
Não comporto o cataclismo
E se tanto me agigante
Nosso sonho tão galante
Ao gerar tanto otimismo
Traça em luz a nossa sorte
E se a paz já nos comporte,
Recriando noutro tanto,
O que fora dor transmuda
Outra vida atroz, miúda
Nos teus braços me levanto.


31110

Onde outrora sepulcral
O cenário se apresenta
Com ternura e sem tormenta
Sonho sendo triunfal,
E decerto colossal
Caminhar já me apascenta
E não tendo quem lamenta
Desta dor o seu final,
Vejo a sorte noutra face,
E se tanto amor se trace
Navegando em mansidão,
Águas turvas apresentado,
Medo e caos do meu passado,
Novos dias não trarão...




31101


Seguindo passo a passo
A sorte derradeira
E me leva nesta esteira
Ao ganhar imenso espaço
Quando pode verdadeira
Com ternura sempre faço
Em carinho, amor e abraço,
Nossa história como queira
Das bandeiras de um amor
Tanta luz a se compor,
Caminhando em liberdade
Claridade nos tomando
Nosso amor imenso e brando
Com desejo agora invade...


31102


Tanto amor que sei sem fim,
Glória imensa pra quem tem,
E se quando a noite vem,
Caminhando sempre assim,
Bebo a sorte e sei de mim,
E deveras de outro alguém
Esperança diz tão bem
Do que vejo em tal jardim,
Cada flor em primavera
Toda sorte que se espera
Move o mundo num momento,
E em teus braços sou feliz,
Tendo tudo o que mais quis,
No meu canto não lamento...

31103


Esta senda azul, meu céu
Em que banha-me este sol
Dominando este arrebol,
Mundo atroz duro e cruel
Já não vejo e sigo ao léu
Como fosse um girassol
Procurando o teu farol,
Tanto amor ditando o véu
Que recobre enquanto traça
Novo dia sem fumaça,
Bruma ausente e estou em paz,
Ao saber de tanta glória
Renovando a minha história
Teu amor já me compraz...

31104


Esta sorte que se espera
Cada dia me transforma
E se amor é feito norma,
Gira em si a bela esfera
Tão ausente de cratera,
Ao manter a bela forma,
Nem ciúme mais deforma,
O que tanto agora se tempera
Com prazer com alegria
Com ternura e com encanto
E se tantas vezes canto
Mais amor já se irradia
Dominando este cenário
Noutros tempos temerário...

31105


Embalando cada sonho
A beleza de quem tanto
Se mostrando em claro manto
Trouxe um canto mais risonho,
E decerto eu me proponho
A viver tal raro encanto,
E se a sorte diz quebranto,
Nova luz eu recomponho,
Sigo ausente da tristeza
Nesta bela correnteza
Onde o mundo se faz bom,
A pureza de um olhar
Quando vejo enfim amar,
Modifica amargo tom...

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