51771
Uma alma tantas vezes sonhadora
Mergulha neste caos gerado em vida
E quando a sorte vejo resumida
Procuro noutra senda aonde fora,
Imagem da mulher que, redentora,
Por vezes trás no olhar a despedida,
E ao mesmo tempo sana uma ferida,
Na pálida expressão mais sedutora.
Ocasos entre quedas e temores
Seguindo sem pergunta aonde fores
Alcanço assim teus rastros pelas ruas,
Porém num certo tempo não mais vejo
O sonho mais audaz claro e sobejo,
Depois é que percebo que flutuas.
51772
Um bardo que pudesse, enamorado
Tramar em versos, sonhos, serenatas
E quando te aproximas e maltratas
Mudando num instante o ledo fado,
E assim tal paraíso; em vida, invado
Gerando dentro da alma estas cascatas
Diversas noites, vasto amor resgatas
Desvendo após o caos supremo prado.
Amar e ter certeza de também
Viver cada momento aonde tem
A luz que se irradia a todo instante,
Meu mundo se apresenta mais gentil
E o todo noutro tom se permitiu
Vibrar em harmonia consonante.
51773
Teu riso em primavera dita o sonho
E nele mergulhando sem temores,
Ainda bebo os raros bons sabores
Enquanto amor intenso eu te proponho.
O mundo tantas vezes enfadonho
Sem nada nem talvez aonde pores
As sortes mais diversas, teus pudores,
Num ato em precisão, claro e risonho.
Erguendo o meu olhar além do fato
A imensidão de um todo onde constato
A sorte sem igual de ser feliz.
Depois de tanto tempo em solidão,
As horas desenhadas desde então
Traduzem o que tanto em paz eu quis.
51774
Pudesse em paz a sorte
Negar a solidão
Teria desde então
Alguém que me conforte,
Vagando rumo ao norte
Dos tempos, precisão,
A luta sem senão
O manto que comporte
O brilho em teu olhar
Além do imenso mar
Vontades tão diversas
E quando em ilusões
O amor audaz; expões
Nos infinitos versas.
51775
Beber os teus perfumes
E crer noutro momento
Aonde em paz me alento
E neste intento rumes,
Galgando raros cumes
Vencendo o imenso vento
E nisto me provento
Na luz amor resumes.
O passo além do todo
A vida após o engodo
Refaz cada esperança
E o verso que lançara
Além da noite clara,
Aos poucos já te alcança.
51776
Seguindo cada passo
Que deixas quando vais,
Os dias magistrais
Caminhos onde traço
O tempo aonde eu faço
As sortes tantas quais
Pudessem sempre mais
Vencer qualquer cansaço.
Apresentando o sonho
E nele quando enfronho
Meu verso ou a atitude,
A noite se aproxima
Num manso e doce clima,
Bem mais do quanto eu pude.
51777
O quanto pensativo
O sentimento toma
E mais que mera soma,
De ti serei cativo,
Porquanto sobrevivo
A vida traz o coma
E o peito não se doma,
Reluta, e não me privo.
O ser e o tentar ver
Ainda amanhecer
Depois da queda imensa,
Amar e ter nas mãos
O solo, os sonhos, grãos
E a sorte que convença.
51778
A face predileta
De quem se fez bem mais
Que meros vendavais
E a luta se completa
Apraza-me a dileta
Manhã em dias tais
E neles teus cristais
A sorte dita a seta.
O manto nos cobrindo
O tempo audaz e lindo
Quem dera, se em verdade
Apenas solidão
Do todo em expressão
Agora em dor me invade.
51779
Um sonho vaporoso,
Um termo em dor e pranto,
E sei onde me encanto
Num dia feito em gozo,
O marco caprichoso,
A queda noutro canto,
A sorte em desencanto
Meu rumo pedregoso.
Afasto-me de ti
E quando me perdi
Não tive outra saída
Senão a mesma luta
E nisto não se escuta
A voz enternecida.
51780
A lânguida beleza
Deitada nesta sala,
Enquanto me avassala,
Sublime correnteza
No quanto me faz presa
E nada mais nos cala
O sonho que me embala
Já não trará surpresa,
E sendo de tal sorte
A vida não comporte
Apenas o que tento,
Alheio ao quanto pude
Meu mundo outrora rude,
Agora em manso vento.
PARA TANTOS, PRINCIPALMENTE MARCOS GABRIEL, MARCOS DIMITRI E MARCOS VINÍCIUS. MINHA ESPERANÇA. RITA PACIÊNCIA PELA LUTA.
sábado, 4 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
51761/70
51761
O quanto solitário
Em noite desigual
O passo sem o qual
Perdesse o necessário
Caminho e itinerário
Vencendo outro degrau
O dia atroz e mau
No tosco itinerário.
Audaz e mesmo assim
Pressinto o quanto enfim
Pudesse discernir
No verso sem razão
Na vida em direção
Ao quanto inda há de vir.
51762
Na sorte mais sensata
Ou mesmo em tais matizes
Aonde já desdizes
O quanto nos maltrata
A luta mais ingrata
Os dias todos grises
Os olhos infelizes
A sorte não constata
Sequer o que inda havia
E nisto esta agonia
Expressa a negação
Dos erros costumeiros
Adentro os derradeiros
Caminhos que virão.
51763
O medo ou mesmo o traço
Aonde a sensação
Pudesse ser então
O quanto teimo e faço
No vasto do cansaço
A luta sempre em vão
O olhar sem emoção
O rústico embaraço.
Escondo dentro da alma
A vida aonde a calma
Pudesse adivinhar
Resumos outros erros
E neles vendo os cerros
Imaginara o mar.
51764
Não pude ter a sorte
De quem tentasse a vida
E nesta vã ferida
Sem nada que suporte
O medo dita o corte
A luta traz a lida
E sendo dividida
A vaga não comporte,
No ocaso de uma história
Apenas merencória
A senda se desenha,
E quanto mais pudera
Expresso esta quimera
Fortuna se desdenha.
51765
Não pude e nem quisera
Saber do quanto trago
Apenas como afago
E gesto a leda fera,
O passo destempera
E traça onde divago
O corte mesmo vago
A noite em turva esfera;
Ocasos entre quedas
E logo me enveredas
Em ermos sem sentido,
Depois de cada engano
O todo onde me dano,
Aos poucos logo olvido.
51766
Momento mais atroz
E nele a sorte dita
A morte se acredita
Unindo em mesma foz
O quanto houvesse em nós
Ainda que maldita
Na luta onde se grita
O passo logo após.
Esqueço e nada vendo
Apenas sou remendo
E tramo o descompasso,
Depois de tantos anos,
Em cortes mais profanos,
Sem rumo eu me desfaço.
51767
Sucumbo ao que pudesse
Trazer mera esperança
E o quanto em vão se lança
Apenas nada tece,
O mundo ora se esquece
E o corte sempre avança
Marcando em tal fiança
Ainda em leda prece.
O marco que divisa
O tempo feito em brisa
E abrigos mais diversos
Os olhos num instante
Aonde a paz se espante
E negue os tolos versos.
51768
Reparo cada engano
E bebo mais um gole
Aonde o corte esfole
E nisto assim me dano,
Mergulho em tom profano
O tempo ledo engole
E sei do quanto bole
Com todo desengano.
Esqueço alguma luz
E o quanto reproduz
Acena com o fim,
Depois de certos dias
Apenas me trarias
A sorte morta enfim.
51769
O tempo sem perdão
A lua já não vinha
E a sorte mais daninha
Em vaga direção,
Os dias moldarão
A luta onde continha
A vida não se alinha
E marca a imprecisão,
Descrevo uma esperança
E sei do quanto cansa
Sonhar sem ter proveito,
Depois de tanto ocaso,
Aos poucos já me atraso
E em nada mais me deito.
51770
Amar e ser amado
Ou mesmo sem saber
Do quanto em tal prazer
O mundo é desejado,
Assim o quanto invado
As rendas do querer,
Pudesse amanhecer
No todo ou noutro fado.
Esqueço cada passo
E vejo enquanto traço
Apenas o vazio,
A sorte se aproxima
Do turvo e ledo clima
Aonde eu me recrio.
O quanto solitário
Em noite desigual
O passo sem o qual
Perdesse o necessário
Caminho e itinerário
Vencendo outro degrau
O dia atroz e mau
No tosco itinerário.
Audaz e mesmo assim
Pressinto o quanto enfim
Pudesse discernir
No verso sem razão
Na vida em direção
Ao quanto inda há de vir.
51762
Na sorte mais sensata
Ou mesmo em tais matizes
Aonde já desdizes
O quanto nos maltrata
A luta mais ingrata
Os dias todos grises
Os olhos infelizes
A sorte não constata
Sequer o que inda havia
E nisto esta agonia
Expressa a negação
Dos erros costumeiros
Adentro os derradeiros
Caminhos que virão.
51763
O medo ou mesmo o traço
Aonde a sensação
Pudesse ser então
O quanto teimo e faço
No vasto do cansaço
A luta sempre em vão
O olhar sem emoção
O rústico embaraço.
Escondo dentro da alma
A vida aonde a calma
Pudesse adivinhar
Resumos outros erros
E neles vendo os cerros
Imaginara o mar.
51764
Não pude ter a sorte
De quem tentasse a vida
E nesta vã ferida
Sem nada que suporte
O medo dita o corte
A luta traz a lida
E sendo dividida
A vaga não comporte,
No ocaso de uma história
Apenas merencória
A senda se desenha,
E quanto mais pudera
Expresso esta quimera
Fortuna se desdenha.
51765
Não pude e nem quisera
Saber do quanto trago
Apenas como afago
E gesto a leda fera,
O passo destempera
E traça onde divago
O corte mesmo vago
A noite em turva esfera;
Ocasos entre quedas
E logo me enveredas
Em ermos sem sentido,
Depois de cada engano
O todo onde me dano,
Aos poucos logo olvido.
51766
Momento mais atroz
E nele a sorte dita
A morte se acredita
Unindo em mesma foz
O quanto houvesse em nós
Ainda que maldita
Na luta onde se grita
O passo logo após.
Esqueço e nada vendo
Apenas sou remendo
E tramo o descompasso,
Depois de tantos anos,
Em cortes mais profanos,
Sem rumo eu me desfaço.
51767
Sucumbo ao que pudesse
Trazer mera esperança
E o quanto em vão se lança
Apenas nada tece,
O mundo ora se esquece
E o corte sempre avança
Marcando em tal fiança
Ainda em leda prece.
O marco que divisa
O tempo feito em brisa
E abrigos mais diversos
Os olhos num instante
Aonde a paz se espante
E negue os tolos versos.
51768
Reparo cada engano
E bebo mais um gole
Aonde o corte esfole
E nisto assim me dano,
Mergulho em tom profano
O tempo ledo engole
E sei do quanto bole
Com todo desengano.
Esqueço alguma luz
E o quanto reproduz
Acena com o fim,
Depois de certos dias
Apenas me trarias
A sorte morta enfim.
51769
O tempo sem perdão
A lua já não vinha
E a sorte mais daninha
Em vaga direção,
Os dias moldarão
A luta onde continha
A vida não se alinha
E marca a imprecisão,
Descrevo uma esperança
E sei do quanto cansa
Sonhar sem ter proveito,
Depois de tanto ocaso,
Aos poucos já me atraso
E em nada mais me deito.
51770
Amar e ser amado
Ou mesmo sem saber
Do quanto em tal prazer
O mundo é desejado,
Assim o quanto invado
As rendas do querer,
Pudesse amanhecer
No todo ou noutro fado.
Esqueço cada passo
E vejo enquanto traço
Apenas o vazio,
A sorte se aproxima
Do turvo e ledo clima
Aonde eu me recrio.
51751/60
51751
Habito as tempestades
E vago em ermos quando
O mundo desenhando
Apenas traz as grades
E sei que desagrades
O tempo em contrabando
Mergulho me inundando
Aonde agora evades.
O caos invés do cais
Os dias desiguais
Errático cenário.
Negar a previsão
Saber do mesmo não
Dos sonhos, o inventário.
51752
Lutando em parcimônia
Com tantas heresias
E o quanto me trarias
Negasse a cerimônia
Jardim morta a begônia
As horas, agonias
As sortes que verias
Trazendo além a insônia.
Esqueço o que ventura
Pudesse e se assegura
No infausto deste nada,
A noite se aproxima
Insuportável clima
Adentra a madrugada.
51753
Não tenho mais saída
E nem que inda pudesse
Vencer a dor em prece
A luta sempre acida,
O todo se duvida
E a sorte em vão se tece,
Apenas obedece
A leda despedida.
Incauto sonhador
Nas ânsias de um amor,
A provisão sonega
Esqueço alguma sorte
E o todo não comporte
A vida amarga e cega.
51754
Um verso além do sonho
Pudesse me trazer
O claro amanhecer
Num mundo mais medonho,
E quando eu me proponho
Tentando algum lazer
Meu canto a se perder
E nada ao fim componho.
A luta não permite
Sequer qualquer limite
Aonde poderia
Cerzir em leda teia
O quanto me rodeia
Em noite amarga e fria.
51755
Ausento do que um dia
Pudesse ser maior
E sei que no redor
Do sonho nada havia,
A luta mais sombria
Cenário sei de cor
O quanto fui pior
Já nada me traria.
Numa expressão dorida
Perdendo a minha vida
Ou mesmo o que inda resta.
Bastando para tal
Um gesto em ritual
Que ao nada enfim se empresta.
51756
Escuto a voz de quem
Há tanto não se traz
Nem mesmo a leda paz
Que sei jamais convém
E nisto o quanto tem
Pudesse mais tenaz
Num erro contumaz
Não sou bem sei, ninguém
Uma expressão inerte
Meu passo se converte
Na turva penitência
Do quanto houvera em nós
Apenas vejo a foz
Completa incoerência.
51757
Apenas meu jazigo
O que inda restaria
Em torpe fantasia
O quanto em vão persigo,
E assim tanto prossigo
Vagando a cada dia
No todo em heresia
Expresso o desabrigo.
E o medo traz além
Da luta quando vem
Em plena sordidez
Assumo os meus enganos
E sei dos frágeis planos
E nada mais se fez.
51758
O mundo desafia
A luz que não recebo
E o quanto sou placebo
Jamais dita a alegria,
A voz não poderia
Trazer onde percebo
O tempo onde eu concebo
A luta a cada dia.
Não tendo outra saída,
A sorte dividida
A parte que me cabe
Expressa o sem futuro
Caminho que inseguro
Aos poucos já desabe.
51759
Não tenho mais o quanto
Desejo e até mereça
A sorte que apeteça
O sonho onde me espanto,
E vivo assim, portanto
Ainda que enlouqueça
Só peço que me esqueça
Ou rasgue o turvo manto.
Escória tão somente
Aonde quer que eu tente
Não vejo outra saída,
Apenas me desdenho
E sei deste desenho
Marcando a despedida.
51760
No prazo aonde um dia
O sol inda brilhasse
Gerando o mesmo impasse
E nele se traria
A sorte em agonia
Mergulho aonde embace
E o nada se moldasse
Bem mais do que teria.
Esquivo camarada
Na luta aonde evada
Meu passo em tal fastio
Não tendo o recomeço
Ausento e no tropeço
Meu tempo em desvario.
Habito as tempestades
E vago em ermos quando
O mundo desenhando
Apenas traz as grades
E sei que desagrades
O tempo em contrabando
Mergulho me inundando
Aonde agora evades.
O caos invés do cais
Os dias desiguais
Errático cenário.
Negar a previsão
Saber do mesmo não
Dos sonhos, o inventário.
51752
Lutando em parcimônia
Com tantas heresias
E o quanto me trarias
Negasse a cerimônia
Jardim morta a begônia
As horas, agonias
As sortes que verias
Trazendo além a insônia.
Esqueço o que ventura
Pudesse e se assegura
No infausto deste nada,
A noite se aproxima
Insuportável clima
Adentra a madrugada.
51753
Não tenho mais saída
E nem que inda pudesse
Vencer a dor em prece
A luta sempre acida,
O todo se duvida
E a sorte em vão se tece,
Apenas obedece
A leda despedida.
Incauto sonhador
Nas ânsias de um amor,
A provisão sonega
Esqueço alguma sorte
E o todo não comporte
A vida amarga e cega.
51754
Um verso além do sonho
Pudesse me trazer
O claro amanhecer
Num mundo mais medonho,
E quando eu me proponho
Tentando algum lazer
Meu canto a se perder
E nada ao fim componho.
A luta não permite
Sequer qualquer limite
Aonde poderia
Cerzir em leda teia
O quanto me rodeia
Em noite amarga e fria.
51755
Ausento do que um dia
Pudesse ser maior
E sei que no redor
Do sonho nada havia,
A luta mais sombria
Cenário sei de cor
O quanto fui pior
Já nada me traria.
Numa expressão dorida
Perdendo a minha vida
Ou mesmo o que inda resta.
Bastando para tal
Um gesto em ritual
Que ao nada enfim se empresta.
51756
Escuto a voz de quem
Há tanto não se traz
Nem mesmo a leda paz
Que sei jamais convém
E nisto o quanto tem
Pudesse mais tenaz
Num erro contumaz
Não sou bem sei, ninguém
Uma expressão inerte
Meu passo se converte
Na turva penitência
Do quanto houvera em nós
Apenas vejo a foz
Completa incoerência.
51757
Apenas meu jazigo
O que inda restaria
Em torpe fantasia
O quanto em vão persigo,
E assim tanto prossigo
Vagando a cada dia
No todo em heresia
Expresso o desabrigo.
E o medo traz além
Da luta quando vem
Em plena sordidez
Assumo os meus enganos
E sei dos frágeis planos
E nada mais se fez.
51758
O mundo desafia
A luz que não recebo
E o quanto sou placebo
Jamais dita a alegria,
A voz não poderia
Trazer onde percebo
O tempo onde eu concebo
A luta a cada dia.
Não tendo outra saída,
A sorte dividida
A parte que me cabe
Expressa o sem futuro
Caminho que inseguro
Aos poucos já desabe.
51759
Não tenho mais o quanto
Desejo e até mereça
A sorte que apeteça
O sonho onde me espanto,
E vivo assim, portanto
Ainda que enlouqueça
Só peço que me esqueça
Ou rasgue o turvo manto.
Escória tão somente
Aonde quer que eu tente
Não vejo outra saída,
Apenas me desdenho
E sei deste desenho
Marcando a despedida.
51760
No prazo aonde um dia
O sol inda brilhasse
Gerando o mesmo impasse
E nele se traria
A sorte em agonia
Mergulho aonde embace
E o nada se moldasse
Bem mais do que teria.
Esquivo camarada
Na luta aonde evada
Meu passo em tal fastio
Não tendo o recomeço
Ausento e no tropeço
Meu tempo em desvario.
51741/50
51741
A vida persistindo mesmo à parte
Do quanto acreditei e nada vinha,
Verdade se desenha mais daninha
E o sonho sem proveito não reparte,
A cada novo passo este descarte
E nele nada mais inda convinha
Aquém da poesia, desalinha
Matando o que pudera ser uma arte.
A lenda atravessando o tempo e o caos
Momentos tão diversos, rudes, maus
E o tramitar do sonho em tal ocaso
Há tanto que buscara a dimensão
Dos erros onde os passos se darão
Depois de tanto engano enfim me atraso.
51742
Expondo desde agora o quanto pude
Traçando num momento a minha sorte
Ainda que deveras não conforte
A vida se apresenta em magnitude.
O canto aonde o todo não mais mude
Incauto caminhar diverso norte,
Apresentando o sonho que deporte
E mostre o rudimento e tanto ilude.
Não quero e nem pudera ser diverso
Beber o todo expresso no universo
Versando sobre o caos onde me vejo,
Ao fim de certo tempo nada houvera
Sequer a menor flor e a primavera
mostrasse a claridade de um desejo.
51743
A vida desenhando em nova aurora
O quanto acreditara e sendo assim
Num canto desfiando o ledo fim
A sorte sem destino desancora
E o prazo com certeza me apavora
Traduz o quanto resta vivo em mim,
No néscio caminhar enquanto eu vim
A face sem ternura desarvora.
Voláteis emoções, em turbulência
Pudesse ter ao menos consciência
Do engano mais freqüente e mais tenaz.
O erro se traduz a cada passo
E neste delirar o quanto eu traço
Já não mais deixaria a vida em paz.
51744
O todo dita a sorte
E traz entre duelos
Momentos que entre anelos
Jamais ora conforte
A luta não comporte
Sequer momentos belos
Rompendo velhos elos
O tempo esquece o norte.
Ausento do que pude
Cerzindo em passo rude
Apenas o vazio
Não mais conseguiria
Nem mesmo uma alegria
Aonde em vão desfio.
51745
Jogado sobre o solo,
Somente nada trago
Sequer o mundo vago
Aonde eu vejo o dolo,
E quando em vão me assolo,
Retiro o velho afago
E sei quando divago
Buscando um mero colo.
Esqueço o quanto houvera
E nisto a mesma fera
Impávida traduz
Negasse algum caminho
E Sinto-me sozinho
Ausente qualquer luz.
51746
O vento noutro traço
A senda mais fugaz
O quanto se desfaz
E nada além eu faço
Havendo algum espaço
O resto queda atrás
E o manto não me traz
Sequer um mero laço,
A cruz e a leda espada
Aonde o tanto já se evada
E deixe muito aquém
A face descoberta
Da luta onde deserta
Amor que não mais vem.
51747
Jogado nalgum canto
Porões que conheci
Os trago ainda aqui
E nisto o fim garanto.
Pudesse sem espanto
Viver a paz e cri
Viceja o que perdi
E traço a dor e o pranto.
Completo e me disperso
Vagando este universo
Ainda que pudesse
Meu mundo não conhece
E nisto o quanto verso
Aquém de uma benesse.
51748
Não tenho a menor sorte
Nem mesmo poderia
Ousar numa alegria
Ou ter o que conforte
Seguindo sem meu norte
A morte ditaria
A luta em agonia
E o passo não comporte.
Errático momento
Dizendo o quanto tento
E vejo noutro passo
Irônica verdade
A sorte se degrade
E o nada ainda traço.
51749
Escassas noites frias
Espúrias emoções
E quando além me expões
As sortes não terias,
Sequer as mais vazias
E turvas expressões
Gerando sensações
E nelas utopias.
Apenas nada sou
E o quanto enfim restou
Traduz realidade,
Espero alguma luz
E o quanto reproduz
Sem nexo ora se evade.
51750
Blindar cada passada
Com erros mais sutis
E quanto mais eu quis
A vida trouxe o nada
Ausência anunciada
Aonde eu me desfiz,
Somente este aprendiz
A sorte em derrocada.
Ocasos entre quedas
E quando alheia sedas
Adormecendo o sonho.
Do tempo já perdido
Meu canto desprovido
Traduz o mais bisonho.
A vida persistindo mesmo à parte
Do quanto acreditei e nada vinha,
Verdade se desenha mais daninha
E o sonho sem proveito não reparte,
A cada novo passo este descarte
E nele nada mais inda convinha
Aquém da poesia, desalinha
Matando o que pudera ser uma arte.
A lenda atravessando o tempo e o caos
Momentos tão diversos, rudes, maus
E o tramitar do sonho em tal ocaso
Há tanto que buscara a dimensão
Dos erros onde os passos se darão
Depois de tanto engano enfim me atraso.
51742
Expondo desde agora o quanto pude
Traçando num momento a minha sorte
Ainda que deveras não conforte
A vida se apresenta em magnitude.
O canto aonde o todo não mais mude
Incauto caminhar diverso norte,
Apresentando o sonho que deporte
E mostre o rudimento e tanto ilude.
Não quero e nem pudera ser diverso
Beber o todo expresso no universo
Versando sobre o caos onde me vejo,
Ao fim de certo tempo nada houvera
Sequer a menor flor e a primavera
mostrasse a claridade de um desejo.
51743
A vida desenhando em nova aurora
O quanto acreditara e sendo assim
Num canto desfiando o ledo fim
A sorte sem destino desancora
E o prazo com certeza me apavora
Traduz o quanto resta vivo em mim,
No néscio caminhar enquanto eu vim
A face sem ternura desarvora.
Voláteis emoções, em turbulência
Pudesse ter ao menos consciência
Do engano mais freqüente e mais tenaz.
O erro se traduz a cada passo
E neste delirar o quanto eu traço
Já não mais deixaria a vida em paz.
51744
O todo dita a sorte
E traz entre duelos
Momentos que entre anelos
Jamais ora conforte
A luta não comporte
Sequer momentos belos
Rompendo velhos elos
O tempo esquece o norte.
Ausento do que pude
Cerzindo em passo rude
Apenas o vazio
Não mais conseguiria
Nem mesmo uma alegria
Aonde em vão desfio.
51745
Jogado sobre o solo,
Somente nada trago
Sequer o mundo vago
Aonde eu vejo o dolo,
E quando em vão me assolo,
Retiro o velho afago
E sei quando divago
Buscando um mero colo.
Esqueço o quanto houvera
E nisto a mesma fera
Impávida traduz
Negasse algum caminho
E Sinto-me sozinho
Ausente qualquer luz.
51746
O vento noutro traço
A senda mais fugaz
O quanto se desfaz
E nada além eu faço
Havendo algum espaço
O resto queda atrás
E o manto não me traz
Sequer um mero laço,
A cruz e a leda espada
Aonde o tanto já se evada
E deixe muito aquém
A face descoberta
Da luta onde deserta
Amor que não mais vem.
51747
Jogado nalgum canto
Porões que conheci
Os trago ainda aqui
E nisto o fim garanto.
Pudesse sem espanto
Viver a paz e cri
Viceja o que perdi
E traço a dor e o pranto.
Completo e me disperso
Vagando este universo
Ainda que pudesse
Meu mundo não conhece
E nisto o quanto verso
Aquém de uma benesse.
51748
Não tenho a menor sorte
Nem mesmo poderia
Ousar numa alegria
Ou ter o que conforte
Seguindo sem meu norte
A morte ditaria
A luta em agonia
E o passo não comporte.
Errático momento
Dizendo o quanto tento
E vejo noutro passo
Irônica verdade
A sorte se degrade
E o nada ainda traço.
51749
Escassas noites frias
Espúrias emoções
E quando além me expões
As sortes não terias,
Sequer as mais vazias
E turvas expressões
Gerando sensações
E nelas utopias.
Apenas nada sou
E o quanto enfim restou
Traduz realidade,
Espero alguma luz
E o quanto reproduz
Sem nexo ora se evade.
51750
Blindar cada passada
Com erros mais sutis
E quanto mais eu quis
A vida trouxe o nada
Ausência anunciada
Aonde eu me desfiz,
Somente este aprendiz
A sorte em derrocada.
Ocasos entre quedas
E quando alheia sedas
Adormecendo o sonho.
Do tempo já perdido
Meu canto desprovido
Traduz o mais bisonho.
51731/40
51731
Procuro tão somente alguma aragem
Depois da queda aonde nada havia
Nem mesmo a sensação em utopia
Traçando com terror leda voragem,
A sorte se denota e sem coragem
Morrendo tão somente eu poderia
Viver o quanto a sorte me traria
E nisto me perdendo em tal visagem.
O espúrio sentimento traça o canto
E sei do quanto possa e não garanto
Sequer algum alento aonde é rude
Meu passo sem sentido ou direção,
Ousando noutros ermos sei que é vão
O sonho enquanto a vida desilude.
51732
Mal posso acreditar noutro momento
E sei do quanto é frágil tal caminho
E quando do vazio me avizinho
O mundo se apresenta em tal lamento,
E o vasto delirar em sofrimento
Expressa tão somente cada espinho,
E sendo de tal forma um ser mesquinho
O verso abre o peito e bebe o vento.
Esculturando em formas variadas
As sortes noutras tantas deformadas
Arcando com meus erros contumazes.
Apenas ser servil e nada mais,
Exposto entre os diversos vendavais
Aonde a solidão; decerto trazes.
51733
No prazo demarcado, a queda ronda
O tempo se traduz aquém do quanto
Pudesse e na verdade não garanto
Sequer o que pudesse em mera sonda,
A luta se traduz e não esconda
Meu prazo aonde o nada inda canto,
Vestíbulos do sonho que, entretanto,
Traçasse ao quanto a vida corresponda.
Dos lutos que carrego na minha alma
Apenas a mortalha não me acalma
Vagando entre diversos ledos ermos,
E quanto mais pudera ser disperso,
Meu mundo noutro passo eu desconverso
E busco em desafio a paz revermos.
51734
O verso sem proveito a voz calada
A noite que pudera ser alheia
A lua que tentara imensa e cheia
No fundo já não diz mais quase nada,
A porta se trazendo em vão trancada,
O corte noutra face se permeia
E a luta sem descanso me rodeia,
A carne apodrecida, a sorte evada;
Não pude acreditar noutro horizonte
E tendo o meu caminho onde desponte
Somente o que se sente sem valia,
O resto dos meus sonhos sem proveito,
Ainda quando inválido eu me deito
A morte traduzisse uma utopia.
51735
Se eu tento caminhar sobre estas brasas
Ainda que pudesse nada resta
Sequer o que apresenta em mera fresta
Ou mesmo na verdade não embasas,
As horas dominando e quando atrasas
Somente este non sense nos atesta
O rústico cenário onde se empresta
Destrói das esperanças velhas casas.
Ouvindo algum sonido em noite escusa
A sorte se traduz e sempre abusa
Da imensa sensação do nada ter.
Ainda que pudesse ser diverso,
Ao menos neste rumo quando verso,
Enfrento o descaminho em desprazer.
51736
Já pouco restaria de quem sonha
E nada mais se traz além do engano
Aonde com certeza assim me dano
Vivendo o quanto pude em tez bisonha,
A luta tantas vezes enfadonha
O marco desdenhando cada plano
O corte aonde fora soberano
O beijo sem sentido em voz medonha.
Alhures vejo a sombra do que fora
Imagem tantas vezes sedutora
Que o tempo transformara em caos e medo.
O quanto pude ver e não sabia
Sorvendo a mais diversa fantasia
Ao nada a cada engodo eu me concedo.
51737
Um átimo, num ato sem sentido
Errático caminho em luta e fel
Ao menos poderia noutro véu
Ter todo o meu cenário resumido.
E quando se percebe desunido
Cenário aonde o medo dita ao léu
O canto se moldara mais cruel
E o preço noutro engodo, desvalido.
Aonde em liberdade vi meu mundo
E neste caminhar tanto aprofundo
Nascendo a cada instante em voz diversa,
A luta sem descanso me atormenta
E o todo quando traça a turbulenta
Manhã somente marca em tez sangrenta.
51738
Ao ver o quanto pude num instante
O medo se moldara mais além
Do todo que desenha e sempre vem
Num ato tantas vezes penetrante,
A morte a cada passo não garante
Sequer o quanto a vida teima e tem,
Vestindo a fantasia sou refém
Do prazo que se finda doravante,
O libertário gosto da esperança
Ainda quando manso nos alcança
Presume nova rota em nossas mãos,
Meus dias entre tantos já perdidos,
Os olhos noutros erros resumidos
Cevassem sem certeza toscos chãos.
51739
Imprecisas palavras ditam formas
E tramam simples queda e nada a mais,
Aonde se pudesse e já te esvais
Os erros noutros passos tu deformas,
As ondas entre vagas e reformas,
As sortes são deveras mais venais,
Erráticos cometas, em sinais
Entranham outros tantos, moldam normas.
Ascendo ao quanto pude em voz macia,
E o nada no final não mostraria
Sequer algum alento aonde eu pude
Trazer em consonância a vida agreste
E quantas vezes sinto que vieste
Matando o que me resta em juventude.
51740
Recomeçar do nada e crer no fato
Aonde a vida molda num resgate
O quanto poderia e se maltrate
Destarte no final nada resgato,
A luta se desenha em desacato
E o prazo aonde o sonho se arrebate
E o canto no final, quando debate
Expressa o que pudesse e não constato.
Arcar com meus enganos, prosseguir
Volvendo ao quanto pude resumir
De um tempo sem sinal algum de paz.
O marco em dissonância, o verso frio,
O sonho aonde o nada ora desfio
E a sorte que jamais me satisfaz.
Procuro tão somente alguma aragem
Depois da queda aonde nada havia
Nem mesmo a sensação em utopia
Traçando com terror leda voragem,
A sorte se denota e sem coragem
Morrendo tão somente eu poderia
Viver o quanto a sorte me traria
E nisto me perdendo em tal visagem.
O espúrio sentimento traça o canto
E sei do quanto possa e não garanto
Sequer algum alento aonde é rude
Meu passo sem sentido ou direção,
Ousando noutros ermos sei que é vão
O sonho enquanto a vida desilude.
51732
Mal posso acreditar noutro momento
E sei do quanto é frágil tal caminho
E quando do vazio me avizinho
O mundo se apresenta em tal lamento,
E o vasto delirar em sofrimento
Expressa tão somente cada espinho,
E sendo de tal forma um ser mesquinho
O verso abre o peito e bebe o vento.
Esculturando em formas variadas
As sortes noutras tantas deformadas
Arcando com meus erros contumazes.
Apenas ser servil e nada mais,
Exposto entre os diversos vendavais
Aonde a solidão; decerto trazes.
51733
No prazo demarcado, a queda ronda
O tempo se traduz aquém do quanto
Pudesse e na verdade não garanto
Sequer o que pudesse em mera sonda,
A luta se traduz e não esconda
Meu prazo aonde o nada inda canto,
Vestíbulos do sonho que, entretanto,
Traçasse ao quanto a vida corresponda.
Dos lutos que carrego na minha alma
Apenas a mortalha não me acalma
Vagando entre diversos ledos ermos,
E quanto mais pudera ser disperso,
Meu mundo noutro passo eu desconverso
E busco em desafio a paz revermos.
51734
O verso sem proveito a voz calada
A noite que pudera ser alheia
A lua que tentara imensa e cheia
No fundo já não diz mais quase nada,
A porta se trazendo em vão trancada,
O corte noutra face se permeia
E a luta sem descanso me rodeia,
A carne apodrecida, a sorte evada;
Não pude acreditar noutro horizonte
E tendo o meu caminho onde desponte
Somente o que se sente sem valia,
O resto dos meus sonhos sem proveito,
Ainda quando inválido eu me deito
A morte traduzisse uma utopia.
51735
Se eu tento caminhar sobre estas brasas
Ainda que pudesse nada resta
Sequer o que apresenta em mera fresta
Ou mesmo na verdade não embasas,
As horas dominando e quando atrasas
Somente este non sense nos atesta
O rústico cenário onde se empresta
Destrói das esperanças velhas casas.
Ouvindo algum sonido em noite escusa
A sorte se traduz e sempre abusa
Da imensa sensação do nada ter.
Ainda que pudesse ser diverso,
Ao menos neste rumo quando verso,
Enfrento o descaminho em desprazer.
51736
Já pouco restaria de quem sonha
E nada mais se traz além do engano
Aonde com certeza assim me dano
Vivendo o quanto pude em tez bisonha,
A luta tantas vezes enfadonha
O marco desdenhando cada plano
O corte aonde fora soberano
O beijo sem sentido em voz medonha.
Alhures vejo a sombra do que fora
Imagem tantas vezes sedutora
Que o tempo transformara em caos e medo.
O quanto pude ver e não sabia
Sorvendo a mais diversa fantasia
Ao nada a cada engodo eu me concedo.
51737
Um átimo, num ato sem sentido
Errático caminho em luta e fel
Ao menos poderia noutro véu
Ter todo o meu cenário resumido.
E quando se percebe desunido
Cenário aonde o medo dita ao léu
O canto se moldara mais cruel
E o preço noutro engodo, desvalido.
Aonde em liberdade vi meu mundo
E neste caminhar tanto aprofundo
Nascendo a cada instante em voz diversa,
A luta sem descanso me atormenta
E o todo quando traça a turbulenta
Manhã somente marca em tez sangrenta.
51738
Ao ver o quanto pude num instante
O medo se moldara mais além
Do todo que desenha e sempre vem
Num ato tantas vezes penetrante,
A morte a cada passo não garante
Sequer o quanto a vida teima e tem,
Vestindo a fantasia sou refém
Do prazo que se finda doravante,
O libertário gosto da esperança
Ainda quando manso nos alcança
Presume nova rota em nossas mãos,
Meus dias entre tantos já perdidos,
Os olhos noutros erros resumidos
Cevassem sem certeza toscos chãos.
51739
Imprecisas palavras ditam formas
E tramam simples queda e nada a mais,
Aonde se pudesse e já te esvais
Os erros noutros passos tu deformas,
As ondas entre vagas e reformas,
As sortes são deveras mais venais,
Erráticos cometas, em sinais
Entranham outros tantos, moldam normas.
Ascendo ao quanto pude em voz macia,
E o nada no final não mostraria
Sequer algum alento aonde eu pude
Trazer em consonância a vida agreste
E quantas vezes sinto que vieste
Matando o que me resta em juventude.
51740
Recomeçar do nada e crer no fato
Aonde a vida molda num resgate
O quanto poderia e se maltrate
Destarte no final nada resgato,
A luta se desenha em desacato
E o prazo aonde o sonho se arrebate
E o canto no final, quando debate
Expressa o que pudesse e não constato.
Arcar com meus enganos, prosseguir
Volvendo ao quanto pude resumir
De um tempo sem sinal algum de paz.
O marco em dissonância, o verso frio,
O sonho aonde o nada ora desfio
E a sorte que jamais me satisfaz.
51721/30
721
Não tento e não pudera ser assim,
Meu verso se perdera em luta e medo,
E quando no final eu me concedo
Presenciando quieto o ledo fim.
O mundo se desenha e traz a mim
O tanto quanto pude noutro enredo
E o vago caminhar dita o segredo,
Já nada mais resiste, morro enfim.
As turbulentas águas deste rio,
Aonde o meu momento eu desafio
Tentando nova ponte ou travessia.
A foz se aproximando, a correnteza
Minha alma da esperança mera presa
Aos poucos sem defesas se perdia.
722
No quanto tanta vida poderia
Traçar qualquer momento após a luta
E o verso se desenha em força bruta
Matando o quanto resta em sintonia,
Ausente de um olhar a fantasia
Gerada pelo engano, sempre astuta,
O grito sem descanso não se escuta
Somente a noite nua, vã, sombria.
Ocasos dentre tantos que comigo
Carrego enquanto ao sonho desabrigo
Ouvindo este tormento sem sentido,
O mundo se desenha em tom venal
Vagando por cenário desigual,
Meu canto sem destino, o dilapido.
723
Não mais comportaria uma esperança
O caos tomando conta, nada resta
Somente a mesma imagem desonesta
E nela o meu passado em vão se lança,
A face mais atroz nega a mudança
Tampouco alguma luz ao fim atesta,
No quanto poderia e nada presta
A morte se gerando em temperança.
Poupando meus enganos, erros tais
Espalho o velho canto e tu me trais
Negando melhor sorte a quem se dera,
Depois de certo tempo, nada tendo,
Dos sonhos tão somente algum remendo
Alimentando em mim a rude espera.
724
Já não comportaria outra saída
Nem mesmo algum sinal em redenção,
O tempo se moldando desde então
A luta noutra face desprovida,
E quanto mais se quer já se duvida
Dos dias mais diversos que virão,
Apresentando a mesma direção
Na face sem sequer qualquer medida.
Um ato em tantas dores, medos, sortes
E nestes antros todos, não comportes
Além da mera história em fantasia.
O canto sem final e sem emenda,
A luta na verdade não atenda
Nem mesmo o que minha alma inda queria.
725
Espero qualquer dia em novo rito
Um mar aonde o nada pude ver,
Desdenha cada instante o amanhecer
E nele novamente necessito,
O pranto traduzindo enquanto grito
Vestígios de minha alma a se perder,
No caos aonde tento perceber
O mundo num cenário mais bonito.
O resto dos meus dias? Solidão...
A luta com tamanha imprecisão
Presume o que talvez não fosse minha
Aposso-me do quanto poderia
E nisto se desenha em rebeldia
O corte quando o nada se adivinha.
726
A marca destas garras, minha pele,
O tempo dita o tanto quanto pude
Sabendo ser alheia a juventude
Ao nada cada engano me compele,
Vestindo o que deveras nos repele
E gera o quanto possa mesmo rude
Necessitando sempre da atitude
E nela o que pudesse sempre sele.
Acossam-me vontades desiguais
E os dias repetindo rituais
Expressam tão feroz melancolia,
Aprendo com meus erros, cortes, medos
E sei dos meus anseios e degredos
Deixando no caminho a poesia.
727
Itinerários vários, noite afora
O marco mais audaz pudesse ver
Ainda quanto tento esvaecer
O risco a cada instante mais se aflora,
Meu mundo se desdenha desde agora
E tendo tão somente o que verter
Nas ânsias de um vazio entorpecer
O prazo determina e comemora.
A luta sem descanso, o manso rio,
O passo aonde o todo eu desafio
E gero dentro da alma a solidez.
Negar esta evidente sensação
Tramando sem sentido a direção
Diversa da que tanto agora vês.
728
Já não mais pude ver qualquer alento
E nisto o que se fez não mais traria
Sequer o quanto posso em agonia
Bebendo além do mero e tosco vento.
E quando novo rumo em paz invento,
A noite se aproxima mais sombria,
A luta se desenha e sempre guia
Meu passo num vazio em vão tormento.
Cerzir com teias leves o meu sonho,
Traçando o que decerto inda componho
Tentando noutro fato a claridade,
Ainda quando possa ser diverso
Ousando ter meu mundo mais disperso
Sabendo o quanto disto desagrade.
729
São frágeis os caminhos de quem sonha,
A luta não sossega um só segundo
E quando nos meus erros me aprofundo
O todo se transforma em voz medonha,
Ainda que deveras me proponha
Seguindo o quanto pude neste imundo
Cenário sem certeza, ledo mundo,
Derrota sem batalhas envergonha.
E o prazo se findando nada deixa
Somente o mesmo olhar em turva queixa
Gerado pelo fato do não ser.
E mesmo sendo assim, um ledo cão,
A sorte se desenha em solidão,
E nega o quanto possa renascer.
51730
Alheio ao que inda pude no passado
Seguindo os descaminhos mais audazes,
E quando novos dias tu me trazes
O rumo noutro passo desdenhado,
A sorte me acompanha e se a degrado
Esqueço cada luta aonde fazes
Das dores tão somente novas fases
Tentando adivinhar sobejo prado.
Escusas não resolvem, nem mais quero
Além do que pudesse mesmo fero
Trazer a dimensão real da vida,
Sem nexo sem juízo em descaminho,
Sabendo ser deveras mais daninho,
Mortalha sobre a pele já tecida.
Não tento e não pudera ser assim,
Meu verso se perdera em luta e medo,
E quando no final eu me concedo
Presenciando quieto o ledo fim.
O mundo se desenha e traz a mim
O tanto quanto pude noutro enredo
E o vago caminhar dita o segredo,
Já nada mais resiste, morro enfim.
As turbulentas águas deste rio,
Aonde o meu momento eu desafio
Tentando nova ponte ou travessia.
A foz se aproximando, a correnteza
Minha alma da esperança mera presa
Aos poucos sem defesas se perdia.
722
No quanto tanta vida poderia
Traçar qualquer momento após a luta
E o verso se desenha em força bruta
Matando o quanto resta em sintonia,
Ausente de um olhar a fantasia
Gerada pelo engano, sempre astuta,
O grito sem descanso não se escuta
Somente a noite nua, vã, sombria.
Ocasos dentre tantos que comigo
Carrego enquanto ao sonho desabrigo
Ouvindo este tormento sem sentido,
O mundo se desenha em tom venal
Vagando por cenário desigual,
Meu canto sem destino, o dilapido.
723
Não mais comportaria uma esperança
O caos tomando conta, nada resta
Somente a mesma imagem desonesta
E nela o meu passado em vão se lança,
A face mais atroz nega a mudança
Tampouco alguma luz ao fim atesta,
No quanto poderia e nada presta
A morte se gerando em temperança.
Poupando meus enganos, erros tais
Espalho o velho canto e tu me trais
Negando melhor sorte a quem se dera,
Depois de certo tempo, nada tendo,
Dos sonhos tão somente algum remendo
Alimentando em mim a rude espera.
724
Já não comportaria outra saída
Nem mesmo algum sinal em redenção,
O tempo se moldando desde então
A luta noutra face desprovida,
E quanto mais se quer já se duvida
Dos dias mais diversos que virão,
Apresentando a mesma direção
Na face sem sequer qualquer medida.
Um ato em tantas dores, medos, sortes
E nestes antros todos, não comportes
Além da mera história em fantasia.
O canto sem final e sem emenda,
A luta na verdade não atenda
Nem mesmo o que minha alma inda queria.
725
Espero qualquer dia em novo rito
Um mar aonde o nada pude ver,
Desdenha cada instante o amanhecer
E nele novamente necessito,
O pranto traduzindo enquanto grito
Vestígios de minha alma a se perder,
No caos aonde tento perceber
O mundo num cenário mais bonito.
O resto dos meus dias? Solidão...
A luta com tamanha imprecisão
Presume o que talvez não fosse minha
Aposso-me do quanto poderia
E nisto se desenha em rebeldia
O corte quando o nada se adivinha.
726
A marca destas garras, minha pele,
O tempo dita o tanto quanto pude
Sabendo ser alheia a juventude
Ao nada cada engano me compele,
Vestindo o que deveras nos repele
E gera o quanto possa mesmo rude
Necessitando sempre da atitude
E nela o que pudesse sempre sele.
Acossam-me vontades desiguais
E os dias repetindo rituais
Expressam tão feroz melancolia,
Aprendo com meus erros, cortes, medos
E sei dos meus anseios e degredos
Deixando no caminho a poesia.
727
Itinerários vários, noite afora
O marco mais audaz pudesse ver
Ainda quanto tento esvaecer
O risco a cada instante mais se aflora,
Meu mundo se desdenha desde agora
E tendo tão somente o que verter
Nas ânsias de um vazio entorpecer
O prazo determina e comemora.
A luta sem descanso, o manso rio,
O passo aonde o todo eu desafio
E gero dentro da alma a solidez.
Negar esta evidente sensação
Tramando sem sentido a direção
Diversa da que tanto agora vês.
728
Já não mais pude ver qualquer alento
E nisto o que se fez não mais traria
Sequer o quanto posso em agonia
Bebendo além do mero e tosco vento.
E quando novo rumo em paz invento,
A noite se aproxima mais sombria,
A luta se desenha e sempre guia
Meu passo num vazio em vão tormento.
Cerzir com teias leves o meu sonho,
Traçando o que decerto inda componho
Tentando noutro fato a claridade,
Ainda quando possa ser diverso
Ousando ter meu mundo mais disperso
Sabendo o quanto disto desagrade.
729
São frágeis os caminhos de quem sonha,
A luta não sossega um só segundo
E quando nos meus erros me aprofundo
O todo se transforma em voz medonha,
Ainda que deveras me proponha
Seguindo o quanto pude neste imundo
Cenário sem certeza, ledo mundo,
Derrota sem batalhas envergonha.
E o prazo se findando nada deixa
Somente o mesmo olhar em turva queixa
Gerado pelo fato do não ser.
E mesmo sendo assim, um ledo cão,
A sorte se desenha em solidão,
E nega o quanto possa renascer.
51730
Alheio ao que inda pude no passado
Seguindo os descaminhos mais audazes,
E quando novos dias tu me trazes
O rumo noutro passo desdenhado,
A sorte me acompanha e se a degrado
Esqueço cada luta aonde fazes
Das dores tão somente novas fases
Tentando adivinhar sobejo prado.
Escusas não resolvem, nem mais quero
Além do que pudesse mesmo fero
Trazer a dimensão real da vida,
Sem nexo sem juízo em descaminho,
Sabendo ser deveras mais daninho,
Mortalha sobre a pele já tecida.
51711/20
51711
Buscar as diretrizes de uma vida
Marcada por enganos e temores,
Destarte prosseguindo sem te opores
A luta ora se mostra decidida.
E quanto noutra face tudo acida
Minha alma se entranhando em tais rancores,
Os ermos do caminho, nossas dores,
A sorte há tanto tempo enfim se olvida.
Aprendo com a queda e sei tão bem
Dos ermos que deveras tudo tem
Traçados mais diversos, ledos passos;
Os brilhos onde vejo uma esperança
Apenas ao vazio a sorte lança
E os dias mais felizes, tão escassos.
51712
Em tuas mãos está o teu futuro
E dele se presume o ser feliz
Ousando muito além do que se diz
Um porto não se faz sempre seguro.
Porém nesta ilusão, quando perduro
Eternamente sendo este aprendiz
Realço do passado a cicatriz
Deixando para trás o caos, o escuro.
Assim sou timoneiro desta nau
E sinto o que pudesse em bem ou mal
Gerar outro momento ou novo cais,
Amar e perdoar em liberdade,
Ainda que deveras nos degrade
A sorte imersa em raios, vendavais.
51713
Negar o quanto possa e mesmo assim
Ascendo ao que sentisse em noite clara,
A luta noutro tempo se prepara
Ditando a solidão mais viva em mim
Resulto deste todo e sei que vim
Vagando sem sentido e não notara
A imagem mais sombria e mesmo amara
matando em rude estio o meu jardim.
Porém amanhecer em novo tom,
Ousando harmonizar num sonho bom,
E florescer numa alma a eterna luz.
O quanto poderia ser melhor
A vida feita em dor, medo e suor
Supera em calmaria a dura cruz…
51714
Em ti vejo as respostas que procuras
A vida se permite ser assim,
O início determina o meio e o fim,
Somando dias bons com amarguras.
E quando em tal cenário configuras
O passo que pudesse ter enfim
Gestando o caminhar, aonde eu vim
Vielas afastadas, mesmo escuras.
Depois no amanhecer se redimisse
O todo ultrapassando esta mesmice
Abrindo o coração, velha porteira.
A luz tocando a pele mansamente
Ainda que pudesse ou mesmo tente
Expressa o quanto a vida mesmo queira.
51715
Não fujas dos problemas, pois somente
Quem luta no final terá tal sorte
E tendo quem deveras nos conforte
O passo a cada instante se fomente,
Um sonho que se mostre pertinente
A luta sem descanso não comporte
Somente a solidão e gera o corte,
Porém dele se vê nova semente.
O renascer nos traz a perspectiva
Ainda quando o sonho se cultiva
Marcando com ternura ou mesmo paz
O passo que o futuro nos deslinde
Bem antes que esperança em novo brinde
Ousasse demonstrar o que se faz.
716
Há tanto o que fazer e de tal forma
A vida não nos traz outro destino
Senão ao quanto possa e determino
Mostrando a sorte atroz que nos transforma.
Presumo a cada instante onde se informa
Legado de outro tempo cristalino
E quando me percebo e me alucino
A vida não grassasse essa reforma.
Participar do medo e ter além
O quanto não pudesse e quando vem
Desenha a face escusa da mentira.
Apenas ilusório; um vão bufão
Os dias noutros tantos moldarão
Somente o que a verdade nos retira.
717
Havendo o que pudesse me trazer
Num átimo o momento mais feliz,
Expresso o quanto possa e se desdiz
A luta sem ter nada a se esconder.
Ainda quando pude enaltecer
Seguindo a velha estrada, nada quis
Senão a mesma luz e por um triz
Deixara uma alma escusa apodrecer.
Renego cada passo rumo ao vago
E nisto enquanto tolo, aquém divago
Marcando com a luta o dia a dia,
A sorte noutro passo não conflui
E o risco demonstrando o quanto rui
Do sonho aonde a paz ora erigia.
718
Cansado desta luta aonde um dia
Apenas conheci o medo e a treva
O nada dentro da alma nada ceva
E o corte a cada ausência mostraria
A face dolorosa da agonia
E sei quanto o vazio agora neva
E quando imaginara mais longeva
Morrera sem sequer uma alegria.
Não tento acreditar em novo traço
Nem mesmo se pudesse aonde o faço
Meu mundo sorrateiro em tom mordaz.
essencialmente bebo o fim do sonho
E quando algum momento além proponho,
A vida novamente se desfaz.
719
Jamais acreditei noutra verdade
E sinto o que pudesse desabar
No passo sem destino a desenhar
cenário aonde o encanto nos degrade.
Ausento-me do quanto em claridade
O mundo poderia em luz solar
Trazer o quanto possa desfrutar
E nisto se desenha a claridade.
A luta não produz um resultado
Sequer quanto pudesse, ainda invado
Os restos deste caos, ruínas minhas.
Espero o que não há e nem houvera
Aprendo com a vida, leda fera
imerso entre as verdades mais daninhas.
720
Não pude e nem teria qualquer chance
De crer noutro momento ou mesmo além
O tanto quanto possa e não convém
Ao longe com certeza já me lance.
E vendo a minha vida num relance
O corte se anuncia e sei também
Da noite que decerto sempre vem
E nisto o som somente o nada alcance.
Nuances deste fato em ironia
O quanto na verdade poderia
Usar da magnitude ou mesmo a luta
Agrides com palavras quem te apóia
E neste desenhar a ausente bóia
Renega cada sonho e se reluta.
Buscar as diretrizes de uma vida
Marcada por enganos e temores,
Destarte prosseguindo sem te opores
A luta ora se mostra decidida.
E quanto noutra face tudo acida
Minha alma se entranhando em tais rancores,
Os ermos do caminho, nossas dores,
A sorte há tanto tempo enfim se olvida.
Aprendo com a queda e sei tão bem
Dos ermos que deveras tudo tem
Traçados mais diversos, ledos passos;
Os brilhos onde vejo uma esperança
Apenas ao vazio a sorte lança
E os dias mais felizes, tão escassos.
51712
Em tuas mãos está o teu futuro
E dele se presume o ser feliz
Ousando muito além do que se diz
Um porto não se faz sempre seguro.
Porém nesta ilusão, quando perduro
Eternamente sendo este aprendiz
Realço do passado a cicatriz
Deixando para trás o caos, o escuro.
Assim sou timoneiro desta nau
E sinto o que pudesse em bem ou mal
Gerar outro momento ou novo cais,
Amar e perdoar em liberdade,
Ainda que deveras nos degrade
A sorte imersa em raios, vendavais.
51713
Negar o quanto possa e mesmo assim
Ascendo ao que sentisse em noite clara,
A luta noutro tempo se prepara
Ditando a solidão mais viva em mim
Resulto deste todo e sei que vim
Vagando sem sentido e não notara
A imagem mais sombria e mesmo amara
matando em rude estio o meu jardim.
Porém amanhecer em novo tom,
Ousando harmonizar num sonho bom,
E florescer numa alma a eterna luz.
O quanto poderia ser melhor
A vida feita em dor, medo e suor
Supera em calmaria a dura cruz…
51714
Em ti vejo as respostas que procuras
A vida se permite ser assim,
O início determina o meio e o fim,
Somando dias bons com amarguras.
E quando em tal cenário configuras
O passo que pudesse ter enfim
Gestando o caminhar, aonde eu vim
Vielas afastadas, mesmo escuras.
Depois no amanhecer se redimisse
O todo ultrapassando esta mesmice
Abrindo o coração, velha porteira.
A luz tocando a pele mansamente
Ainda que pudesse ou mesmo tente
Expressa o quanto a vida mesmo queira.
51715
Não fujas dos problemas, pois somente
Quem luta no final terá tal sorte
E tendo quem deveras nos conforte
O passo a cada instante se fomente,
Um sonho que se mostre pertinente
A luta sem descanso não comporte
Somente a solidão e gera o corte,
Porém dele se vê nova semente.
O renascer nos traz a perspectiva
Ainda quando o sonho se cultiva
Marcando com ternura ou mesmo paz
O passo que o futuro nos deslinde
Bem antes que esperança em novo brinde
Ousasse demonstrar o que se faz.
716
Há tanto o que fazer e de tal forma
A vida não nos traz outro destino
Senão ao quanto possa e determino
Mostrando a sorte atroz que nos transforma.
Presumo a cada instante onde se informa
Legado de outro tempo cristalino
E quando me percebo e me alucino
A vida não grassasse essa reforma.
Participar do medo e ter além
O quanto não pudesse e quando vem
Desenha a face escusa da mentira.
Apenas ilusório; um vão bufão
Os dias noutros tantos moldarão
Somente o que a verdade nos retira.
717
Havendo o que pudesse me trazer
Num átimo o momento mais feliz,
Expresso o quanto possa e se desdiz
A luta sem ter nada a se esconder.
Ainda quando pude enaltecer
Seguindo a velha estrada, nada quis
Senão a mesma luz e por um triz
Deixara uma alma escusa apodrecer.
Renego cada passo rumo ao vago
E nisto enquanto tolo, aquém divago
Marcando com a luta o dia a dia,
A sorte noutro passo não conflui
E o risco demonstrando o quanto rui
Do sonho aonde a paz ora erigia.
718
Cansado desta luta aonde um dia
Apenas conheci o medo e a treva
O nada dentro da alma nada ceva
E o corte a cada ausência mostraria
A face dolorosa da agonia
E sei quanto o vazio agora neva
E quando imaginara mais longeva
Morrera sem sequer uma alegria.
Não tento acreditar em novo traço
Nem mesmo se pudesse aonde o faço
Meu mundo sorrateiro em tom mordaz.
essencialmente bebo o fim do sonho
E quando algum momento além proponho,
A vida novamente se desfaz.
719
Jamais acreditei noutra verdade
E sinto o que pudesse desabar
No passo sem destino a desenhar
cenário aonde o encanto nos degrade.
Ausento-me do quanto em claridade
O mundo poderia em luz solar
Trazer o quanto possa desfrutar
E nisto se desenha a claridade.
A luta não produz um resultado
Sequer quanto pudesse, ainda invado
Os restos deste caos, ruínas minhas.
Espero o que não há e nem houvera
Aprendo com a vida, leda fera
imerso entre as verdades mais daninhas.
720
Não pude e nem teria qualquer chance
De crer noutro momento ou mesmo além
O tanto quanto possa e não convém
Ao longe com certeza já me lance.
E vendo a minha vida num relance
O corte se anuncia e sei também
Da noite que decerto sempre vem
E nisto o som somente o nada alcance.
Nuances deste fato em ironia
O quanto na verdade poderia
Usar da magnitude ou mesmo a luta
Agrides com palavras quem te apóia
E neste desenhar a ausente bóia
Renega cada sonho e se reluta.
51701/10
51701
Pudesse adivinhar o melhor passo
Ou mesmo alguma luz aonde o nada
Trouxesse a mesma imagem desolada
Enquanto o meu cenário diz cansaço.
Meu verso se desnuda e quando o faço
Numa expressão há tanto abandonada,
Vencendo o que pudesse em vaga estrada
O rastro se demonstra em tempo lasso.
Escassamente vejo atemporais
Momentos entre tantos, desiguais
E nisto sou deveras o que tanto
Pudesse e não teria nova sorte,
Ainda quando o muito não comporte
O prazo determina como e quanto.
51702
Herméticas palavras? Nada disso.
Apenas nas ultrizes noites vãs
Espero redimir novas manhãs
Enquanto ao menos paz; teimo e cobiço.
A luta se apresenta em raro viço
E as horas com certeza são malsãs,
Já não comportariam meus afãs
Nem mesmo o quanto pude ou fosse omisso.
Legar a quem virá mesmos enganos
E os tantos caminhares, novos danos,
Escarpas encontrando no caminho.
Mas nada se aproxima do real
E vejo o mesmo engodo em pontual
Cenário aonde em queda, desalinho.
51703
Não quero ter a sorte mais fugaz
Do que se dera além e não soubera
Da sórdida expressão, leda quimera
Aonde o quanto quis já se desfaz.
Cravando o peito em cena mais mordaz,
O preço a se pagar me desespera
E trama a mesma face aonde a espera
Deixasse qualquer sonho para trás.
Vibrando em consonância: vida e morte
O tanto quanto apenas me conforte
Expressa melodias ou apenas
Esgota cada passo por si mesmo
E quando na verdade me ensimesmo
Ao longe, sem motivos, me envenenas.
51704
Abraçaria o mundo se pudesse
E ter além do cais um novo dia
Aonde mergulhando em poesia
A vida abençoando nova messe;
Ainda quando a sorte me obedece
E apraz o quanto tento e poderia,
Vestindo a mesma face: hipocrisia,
O nada noutro engodo se oferece.
Ocasos entre passos e vazios,
Apenas visto a sorte em tais estios
E bebo em goles fartos, a cicuta.
E quanto a mão se expressa em tom atroz
Já nada mais sossega o sonho após
E a morte num instante se executa.
51705
Não mais suportaria outro momento
Idênticas imagens repetidas
Geradas pelas tramas noutras vidas
E nelas o que tanto em dor fomento.
O prazo sem sequer discernimento
No etéreo caminhar onde duvidas
Das ânsias mais ferozes, desprovidas
Do quanto poderia em sentimento.
A luta sem saber do quanto traça
Apenas insensato vejo a caça
Aquém do quanto quis e não viera.
Depois de certo tempo a vida nega
E segue este caminho, enquanto cega
Esbarra nas entranhas desta fera.
51706
O quanto se revela sob a imagem
Já distorcida mesmo de quem tenta
Vencer a sorte atroz e turbulenta
Criando noutro instante uma miragem.
Ainda que pudesse em tal viagem,
Aragens mais diversas; nada alenta
E o corte mais audaz que se apresenta
Não mais se conteria em tal barragem.
O pranto, o prazo o caso, o caos e o medo
Que a vida represara inutilmente
Num ato sem defesas, num repente
Eclode enquanto em luta assim procedo,
Desnuda-se deveras num instante
E a face que se vê, tão degradante.
51707
No instante aonde a vida dita o quanto
Do passo poderia ou não trazer
A quem se dera além de algum prazer
O marco aonde o nada enfim garanto,
A luta se mostrasse noutro tanto
E o prazo renegando o amanhecer
Gerasse tão somente o não querer
E nisto outro momento em desencanto.
Numa áspera e diversa fantasia,
O quanto deste caos nos tomaria
Gestando o que pudera além do aborto.
O frágil caminheiro sem destino,
Um erro tão fugaz quão cristalino
Expressa olhar vazio e semimorto.
51708
Qual fosse um caminhar em solidão,
Levando as direções em estuário
Comum ao que pudesse, e temerário
Tramasse além da mera escuridão,
Os dias noutros tantos moldarão
O tempo muitas vezes necessário
E o corte num assento duro e vário
Trapaças tomam toda esta emoção;
Lacônica verdade, em tom sutil.
O mar que tanto tempo não se ouviu
Agora em nova praia se desfaz,
Ainda quando pude acreditar
Nas tramas mais diversas, sem luar,
A vida não traria mais a paz.
51709
O quanto da injustiça cala o sonho
De quem pudera crer na liberdade,
Negando ao sonhador a claridade,
Apresentando um ato mais bisonho.
E quando noutro passo me proponho
Levado sem sentir o que degrade
O passo sem destino ora se evade
E trama o que pudesse e não componho.
Ouvir a voz do tempo e prosseguir
Apreciando o quanto inda há de vir
Num ato refletido em tom suave,
Mas quando na miséria a vida traça
Apenas o que dita em luz escassa,
O passo noutro rumo ora se entrave.
51710
Pensar além do passo que se dera
Tentando revelar o quanto pude,
Sentindo esta expressão em atitude,
Matando o que renega em velha esfera,
Palácio transformado na tapera
O sonho mais audaz, restando rude,
E o canto aonde o medo se amiúde
Apenas outro tanto degenera.
Escancarando a luta em tom mordaz
Somente o que tentara queda atrás
E o prazo determina o fim de tudo.
Depois de certo tempo em vaga luta,
A força tantas vezes bem mais bruta
Expressa o caminhar onde transmudo.
Pudesse adivinhar o melhor passo
Ou mesmo alguma luz aonde o nada
Trouxesse a mesma imagem desolada
Enquanto o meu cenário diz cansaço.
Meu verso se desnuda e quando o faço
Numa expressão há tanto abandonada,
Vencendo o que pudesse em vaga estrada
O rastro se demonstra em tempo lasso.
Escassamente vejo atemporais
Momentos entre tantos, desiguais
E nisto sou deveras o que tanto
Pudesse e não teria nova sorte,
Ainda quando o muito não comporte
O prazo determina como e quanto.
51702
Herméticas palavras? Nada disso.
Apenas nas ultrizes noites vãs
Espero redimir novas manhãs
Enquanto ao menos paz; teimo e cobiço.
A luta se apresenta em raro viço
E as horas com certeza são malsãs,
Já não comportariam meus afãs
Nem mesmo o quanto pude ou fosse omisso.
Legar a quem virá mesmos enganos
E os tantos caminhares, novos danos,
Escarpas encontrando no caminho.
Mas nada se aproxima do real
E vejo o mesmo engodo em pontual
Cenário aonde em queda, desalinho.
51703
Não quero ter a sorte mais fugaz
Do que se dera além e não soubera
Da sórdida expressão, leda quimera
Aonde o quanto quis já se desfaz.
Cravando o peito em cena mais mordaz,
O preço a se pagar me desespera
E trama a mesma face aonde a espera
Deixasse qualquer sonho para trás.
Vibrando em consonância: vida e morte
O tanto quanto apenas me conforte
Expressa melodias ou apenas
Esgota cada passo por si mesmo
E quando na verdade me ensimesmo
Ao longe, sem motivos, me envenenas.
51704
Abraçaria o mundo se pudesse
E ter além do cais um novo dia
Aonde mergulhando em poesia
A vida abençoando nova messe;
Ainda quando a sorte me obedece
E apraz o quanto tento e poderia,
Vestindo a mesma face: hipocrisia,
O nada noutro engodo se oferece.
Ocasos entre passos e vazios,
Apenas visto a sorte em tais estios
E bebo em goles fartos, a cicuta.
E quanto a mão se expressa em tom atroz
Já nada mais sossega o sonho após
E a morte num instante se executa.
51705
Não mais suportaria outro momento
Idênticas imagens repetidas
Geradas pelas tramas noutras vidas
E nelas o que tanto em dor fomento.
O prazo sem sequer discernimento
No etéreo caminhar onde duvidas
Das ânsias mais ferozes, desprovidas
Do quanto poderia em sentimento.
A luta sem saber do quanto traça
Apenas insensato vejo a caça
Aquém do quanto quis e não viera.
Depois de certo tempo a vida nega
E segue este caminho, enquanto cega
Esbarra nas entranhas desta fera.
51706
O quanto se revela sob a imagem
Já distorcida mesmo de quem tenta
Vencer a sorte atroz e turbulenta
Criando noutro instante uma miragem.
Ainda que pudesse em tal viagem,
Aragens mais diversas; nada alenta
E o corte mais audaz que se apresenta
Não mais se conteria em tal barragem.
O pranto, o prazo o caso, o caos e o medo
Que a vida represara inutilmente
Num ato sem defesas, num repente
Eclode enquanto em luta assim procedo,
Desnuda-se deveras num instante
E a face que se vê, tão degradante.
51707
No instante aonde a vida dita o quanto
Do passo poderia ou não trazer
A quem se dera além de algum prazer
O marco aonde o nada enfim garanto,
A luta se mostrasse noutro tanto
E o prazo renegando o amanhecer
Gerasse tão somente o não querer
E nisto outro momento em desencanto.
Numa áspera e diversa fantasia,
O quanto deste caos nos tomaria
Gestando o que pudera além do aborto.
O frágil caminheiro sem destino,
Um erro tão fugaz quão cristalino
Expressa olhar vazio e semimorto.
51708
Qual fosse um caminhar em solidão,
Levando as direções em estuário
Comum ao que pudesse, e temerário
Tramasse além da mera escuridão,
Os dias noutros tantos moldarão
O tempo muitas vezes necessário
E o corte num assento duro e vário
Trapaças tomam toda esta emoção;
Lacônica verdade, em tom sutil.
O mar que tanto tempo não se ouviu
Agora em nova praia se desfaz,
Ainda quando pude acreditar
Nas tramas mais diversas, sem luar,
A vida não traria mais a paz.
51709
O quanto da injustiça cala o sonho
De quem pudera crer na liberdade,
Negando ao sonhador a claridade,
Apresentando um ato mais bisonho.
E quando noutro passo me proponho
Levado sem sentir o que degrade
O passo sem destino ora se evade
E trama o que pudesse e não componho.
Ouvir a voz do tempo e prosseguir
Apreciando o quanto inda há de vir
Num ato refletido em tom suave,
Mas quando na miséria a vida traça
Apenas o que dita em luz escassa,
O passo noutro rumo ora se entrave.
51710
Pensar além do passo que se dera
Tentando revelar o quanto pude,
Sentindo esta expressão em atitude,
Matando o que renega em velha esfera,
Palácio transformado na tapera
O sonho mais audaz, restando rude,
E o canto aonde o medo se amiúde
Apenas outro tanto degenera.
Escancarando a luta em tom mordaz
Somente o que tentara queda atrás
E o prazo determina o fim de tudo.
Depois de certo tempo em vaga luta,
A força tantas vezes bem mais bruta
Expressa o caminhar onde transmudo.
51691/51700
691
Jamais se tentaria nova sorte
Aonde o que se mostra não permite
A vida sem saber de algum limite
Que tanto nos aporte e nos conforte.
Quem tem uma esperança como um norte
Deveras noutros tempos acredite
E mesmo quando a vida necessite
De um tempo mais suave, faz-se forte.
Os erros tão comuns da humanidade,
A falta de perdão, medos diversos
Ausência de alegria em turvos versos
E o quanto a cada passo desagrade
Quem tenta caminhar em lamaçais
Secando de um amor, mananciais.
692
Ouvindo ao longe o som dos campanários
Numa expressão diversa e dolorida,
Ausência traduzindo uma erma vida
Em ritos tantas vezes temerários.
Os olhos buscam tons imaginários
E a sorte de tal forma desprovida
Enquanto o dia a dia já se acida
Os sonhos de outros sonhos, estuários.
Expresso a desventura em verso e canto,
O traço mais puído; eu não garanto
E sigo sem saber de algum alento.
Porém o que pudesse ser além
Nos ermos de meu mundo, nada vem
Sequer esta expressão que, tolo, eu tento.
693
Aromas, tão diversos: primavera
E o prazo se transforma em leda fase
Ainda que pudesse e já me atrase
O todo na verdade não se espera.
O fato mais audaz se degenera
E o corte mais profundo cessa a base,
O canto denotando nova fase,
No olhar de quem pensasse; escusa fera.
Somáticas essências do não ser
E nisto presumindo o envilecer
De uma alma sem saber de qualquer porto.
Depois de tanto tempo solitário,
O mundo se desenha em santuário,
E o que inda resistisse agora é morto.
694
Aos velhos e temíveis caminhares
Depois de certo ocaso, uma alma dita
A luta que pudera em nova grita
Gerar outros dispersos, vãos altares.
E quando ao fim de tudo tu notares
A imagem refletida se permita
Ousando noutra luz rara e bendita
Ou mesmo nestas hordas, lupanares.
Expresso o quanto pude em redenção
As sombras do passado me trarão
Apenas o que resta e nada mais.
E sei do caprichoso pensamento
Aonde o que pudera, eu já não tento
E sinto que deveras, tu te esvais.
695
Serenas e dispersas vastidões
Tocando o meu olhar, belo horizonte
Ainda quando a sorte aquém desponte,
Aos tantos sem destino tu me expões
Os ventos em diversas dimensões,
Apenas poderia haver a fonte
Gerando o que talvez não mais aponte
E mostre as variantes, direções.
O caos tomando parte deste engano,
E quanto mais procuro e em vão me dano,
Errático cenário se traduz,
No pouco que pudesse ser bem mais
Enquanto bebo os velhos rituais
O mundo perde a cor, ausente luz.
696
Sineiros entre sons diversos. Tramas.
O mundo se transforma a cada instante
E o nada noutra face se adiante
Gerando o que talvez deveras clamas.
No espúrio caminhar por entre as chamas
A face mais cruel e degradante
No todo poderia doravante
Vencer os mais doridos, ledos dramas.
Arcar com erros tantos e sentir
O todo noutra faca a se eximir
Dos dias onde pude acreditar
Nas sortes variadas e complexas
As noites solitárias e perplexas
Buscando sem sucesso algum luar.
697
Legados que inda trago de outras eras
Mergulhos dentro da alma, mesmo quando
O tanto se pudera transformando
Meus ermos em diversas vãs esferas.
E quando noutro rumo destemperas
A sorte não prevendo e desabando
Escusa realidade em ledo bando
O nada se desenha aonde esperas.
Enclausurando o sonho em tal masmorra
Sem nada que suporte ou me socorra
Negar o quanto pude e não teria
Vibrando em consonância ou mesmo aquém
Do passo aonde o nada me detém
E nisto outro cenário em fantasia.
698
Plangentes noites vagas, frágeis vozes
Num vórtice meu sonho se aproxima
Do quanto se perdera em auto-estima
Gestada pelos ermos, meus algozes.
Ainda que buscasse mais velozes
Caminhos onde a sorte dita o clima,
No fundo a solidão não nos redima
Nem mesmo trace ritos tão atrozes;
Expresso a minha ausência quando tento
E sigo em linha escusa o pensamento
Vivenciado em todo vão instante.
No ocaso desta vida, anoitecendo,
O todo se provê neste remendo
A um tempo tão sutil quão provocante.
699
Lacunas que deixaste em viva chaga
A senda mais audaz não poderia
Traçar além do caos, em heresia
A noite aonde o passo em vão divaga.
A sorte noutra face não me traga
Sequer o que pudesse ou tentaria,
Vencido pela fúria em agonia
Meu passo se perdendo em louca vaga.
Espectros do passado? Ainda os vejo
E sei do quanto possa algum desejo
Numa expressão diversa e caprichosa.
E vândalos momentos dizem tudo,
E quando no final me desiludo,
A sorte se desdenha, e o sonho glosa.
51700
Já não me caberia discutir
Nem mesmo imaginar algo diverso
E quando aquém do todo em luta eu verso
O marco se demonstra a traduzir.
Não tendo na verdade o que seguir,
Gerando dentro da alma este universo
Mergulho no passado e me disperso
Bebendo até meu sonho se esvair.
Ocasos finalmente em expressão
Diversa de outros tempos que virão
Grassando em tais anseios já sem rumo.
O preço a se pagar, não mais compensa
A vida desdenhada amarga e tensa
E nisto ao mesmo tempo em vão me esfumo.
Jamais se tentaria nova sorte
Aonde o que se mostra não permite
A vida sem saber de algum limite
Que tanto nos aporte e nos conforte.
Quem tem uma esperança como um norte
Deveras noutros tempos acredite
E mesmo quando a vida necessite
De um tempo mais suave, faz-se forte.
Os erros tão comuns da humanidade,
A falta de perdão, medos diversos
Ausência de alegria em turvos versos
E o quanto a cada passo desagrade
Quem tenta caminhar em lamaçais
Secando de um amor, mananciais.
692
Ouvindo ao longe o som dos campanários
Numa expressão diversa e dolorida,
Ausência traduzindo uma erma vida
Em ritos tantas vezes temerários.
Os olhos buscam tons imaginários
E a sorte de tal forma desprovida
Enquanto o dia a dia já se acida
Os sonhos de outros sonhos, estuários.
Expresso a desventura em verso e canto,
O traço mais puído; eu não garanto
E sigo sem saber de algum alento.
Porém o que pudesse ser além
Nos ermos de meu mundo, nada vem
Sequer esta expressão que, tolo, eu tento.
693
Aromas, tão diversos: primavera
E o prazo se transforma em leda fase
Ainda que pudesse e já me atrase
O todo na verdade não se espera.
O fato mais audaz se degenera
E o corte mais profundo cessa a base,
O canto denotando nova fase,
No olhar de quem pensasse; escusa fera.
Somáticas essências do não ser
E nisto presumindo o envilecer
De uma alma sem saber de qualquer porto.
Depois de tanto tempo solitário,
O mundo se desenha em santuário,
E o que inda resistisse agora é morto.
694
Aos velhos e temíveis caminhares
Depois de certo ocaso, uma alma dita
A luta que pudera em nova grita
Gerar outros dispersos, vãos altares.
E quando ao fim de tudo tu notares
A imagem refletida se permita
Ousando noutra luz rara e bendita
Ou mesmo nestas hordas, lupanares.
Expresso o quanto pude em redenção
As sombras do passado me trarão
Apenas o que resta e nada mais.
E sei do caprichoso pensamento
Aonde o que pudera, eu já não tento
E sinto que deveras, tu te esvais.
695
Serenas e dispersas vastidões
Tocando o meu olhar, belo horizonte
Ainda quando a sorte aquém desponte,
Aos tantos sem destino tu me expões
Os ventos em diversas dimensões,
Apenas poderia haver a fonte
Gerando o que talvez não mais aponte
E mostre as variantes, direções.
O caos tomando parte deste engano,
E quanto mais procuro e em vão me dano,
Errático cenário se traduz,
No pouco que pudesse ser bem mais
Enquanto bebo os velhos rituais
O mundo perde a cor, ausente luz.
696
Sineiros entre sons diversos. Tramas.
O mundo se transforma a cada instante
E o nada noutra face se adiante
Gerando o que talvez deveras clamas.
No espúrio caminhar por entre as chamas
A face mais cruel e degradante
No todo poderia doravante
Vencer os mais doridos, ledos dramas.
Arcar com erros tantos e sentir
O todo noutra faca a se eximir
Dos dias onde pude acreditar
Nas sortes variadas e complexas
As noites solitárias e perplexas
Buscando sem sucesso algum luar.
697
Legados que inda trago de outras eras
Mergulhos dentro da alma, mesmo quando
O tanto se pudera transformando
Meus ermos em diversas vãs esferas.
E quando noutro rumo destemperas
A sorte não prevendo e desabando
Escusa realidade em ledo bando
O nada se desenha aonde esperas.
Enclausurando o sonho em tal masmorra
Sem nada que suporte ou me socorra
Negar o quanto pude e não teria
Vibrando em consonância ou mesmo aquém
Do passo aonde o nada me detém
E nisto outro cenário em fantasia.
698
Plangentes noites vagas, frágeis vozes
Num vórtice meu sonho se aproxima
Do quanto se perdera em auto-estima
Gestada pelos ermos, meus algozes.
Ainda que buscasse mais velozes
Caminhos onde a sorte dita o clima,
No fundo a solidão não nos redima
Nem mesmo trace ritos tão atrozes;
Expresso a minha ausência quando tento
E sigo em linha escusa o pensamento
Vivenciado em todo vão instante.
No ocaso desta vida, anoitecendo,
O todo se provê neste remendo
A um tempo tão sutil quão provocante.
699
Lacunas que deixaste em viva chaga
A senda mais audaz não poderia
Traçar além do caos, em heresia
A noite aonde o passo em vão divaga.
A sorte noutra face não me traga
Sequer o que pudesse ou tentaria,
Vencido pela fúria em agonia
Meu passo se perdendo em louca vaga.
Espectros do passado? Ainda os vejo
E sei do quanto possa algum desejo
Numa expressão diversa e caprichosa.
E vândalos momentos dizem tudo,
E quando no final me desiludo,
A sorte se desdenha, e o sonho glosa.
51700
Já não me caberia discutir
Nem mesmo imaginar algo diverso
E quando aquém do todo em luta eu verso
O marco se demonstra a traduzir.
Não tendo na verdade o que seguir,
Gerando dentro da alma este universo
Mergulho no passado e me disperso
Bebendo até meu sonho se esvair.
Ocasos finalmente em expressão
Diversa de outros tempos que virão
Grassando em tais anseios já sem rumo.
O preço a se pagar, não mais compensa
A vida desdenhada amarga e tensa
E nisto ao mesmo tempo em vão me esfumo.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
51681/90
681
Nasci em liberdade e sigo assim
Sem medo das amarras nem algemas
E quando na verdade ainda temas
O mundo trago inteiro e até o fim.
Resumo em todo passo de onde eu vim
Os velhos caminhares, ledos temas,
Traduzo o que sinto em meus poemas,
E trago dentro da alma este motim.
Já não me caberia novo engodo
Tampouco o que pudesse ser diverso
Do todo desenhado em cada verso,
E mesmo retratando a lama e o lodo,
A face mais sensata não viria,
Jamais se compartilha em poesia.
682
Um ato sem sentido ou precisão,
A poesia dita o quanto crê
No mundo aonde o tempo sem por que
Já não demonstraria a direção.
Os erros cometidos moldarão
O todo aonde o nada inda se vê
Vestígios de uma luta e se revê
O farto desenhar em passo vão.
Escuras noites dizem do abandono
E quando no final me desabono
Apresentando o passo em tom disperso.
Ainda quando pude acreditar
No engano desdenhoso a divagar
Apenas para o nada agora eu verso.
683
Pudesse acreditar num novo fato
E nisto desenhasse alguma fonte
Do quanto poderia e sempre aponte
Moldando o que tentara e não resgato.
O templo aonde o tempo em vão constato,
O rústico cenário em leda ponte,
Ainda polvilhando no horizonte
O tanto que pudera ser mais grato.
Não vejo sequer sombras do que fora,
Esta alma mais sensata e sonhadora,
Gestando cada passo rumo ao fim.
Ao embasar meu sonho no passado
Enquanto em solidão, eu já me evado
Traduzo o que inda resta dentro em mim.
684
Apascentar em frágil lucidez
O muito que abandono e não veria,
Apenas desenhando em tal sangria
O que a cada passo se desfez.
Meu verso se desfaz e nada vês
Somente a mera face, hipocrisia,
O todo desenhado em poesia
Aproximando a vera insensatez.
Ao ver o meu retrato noutra senda
Somente o que inda possa se desvenda
Marcando com constância a liberdade.
Um pária simplesmente e nada além,
O canto na verdade quando vem
Expressa o que decerto não agrade.
685
Podendo acreditar no amor eterno
E ter a sensação de ser só teu
Ainda quando o mundo se perdeu,
Criando este momento amável, terno.
O sonho de poder ser mais fraterno
E o manto que em belezas já se deu
Moldando o coração além do breu
Trazendo a primavera em pleno inverno.
O renovar das forças permitindo
Um dia mais suave, e mesmo infindo
Neste infinito feito em puro amor.
Vibrando este vital pressentimento
Aonde o que pudesse teimo e tento
Seguindo com firmeza aonde for.
686
A vida em tais facetas se diverge
Do passo aonde o todo não tramara
Além do que pudesse em tal seara
O canto mais feliz em paz emerge,
E nisto a fantasia enquanto imerge
Expressa a claridade audaz e rara,
No todo desenhado se escancara
Etéreo caminhar jamais se asperge.
O caos após o caos traduz novel
Cenário aonde o mundo traz o véu
E dele se desenha algum futuro,
O ocaso dentre tantas heresias
Aonde os meus tormentos tu verias
Num ato tão atroz onde perduro.
687
Num único momento a vida trama
O todo desenhado desde quando
O mundo noutro passo se tornando
Além do que pudesse em medo ou drama.
Apenas a verdade de quem ama
Traduz um sentimento imenso e brando,
Em consonância segue, pois vibrando
A sorte que deveras se reclama…
O prazo delimita o quanto pude
E sei da mais diversa plenitude
Aonde o meu desejo se permite.
No caos gerado após a tempestade
O tanto quanto possa se degrade
Jamais ultrapassando algum limite.
688
Levando para além o olhar vazio
Depois das noites frágeis, ilusões
Ainda quando tanto não me expões
O vasto caminhar, nunca o recrio.
O prazo determina o desvario
E os ermos dentre tantos, expressões
Moldando ainda várias dimensões
Do mar aonde o passo eu desafio.
Na sólida faceta de uma vida
Cansado de lutar em dura ermida,
Vagando pela noite em tal segredo,
Ainda que pudesse nada tenho,
Senão a garatuja, o vão desenho
Aonde sem defesas me concedo.
689
Libertas que serás também liberto
E gere noutro dia a sorte imensa
De quem num vago instante, recompensa
O todo aonde apenas me desperto.
E o longo caminhar em campo aberto,
Na noite aonde aflora a luz intensa
Gestando esta emoção aonde tensa
A sorte não viria a descoberto.
Ascendo ao que pudesse em pensamento,
E o tanto quanto quero e não lamento
Expressa a dignidade de quem sonha,
Das ramas mais diversas do arvoredo
O quanto m novo rumo eu me concedo
Permite uma verdade mais bisonha.
690
Não mais me caberia qualquer fato
Sequer acreditar no quanto pude,
Vestindo a solidão, numa amplitude
Diversa da que agora em mim constato.
Apresentando o rústico retrato
Açoda-me beber em plenitude
Realidade tantos nos ilude
E o mundo se servindo em raso prato.
Hipócritas burgueses pelas ruas,
As deusas sem escrúpulos; cultuas
E bebes cada gota deste fel
Depois aquém do todo onde pudera
Detalha em cada passo a velha fera
Num ato tão venal quanto cruel.
Nasci em liberdade e sigo assim
Sem medo das amarras nem algemas
E quando na verdade ainda temas
O mundo trago inteiro e até o fim.
Resumo em todo passo de onde eu vim
Os velhos caminhares, ledos temas,
Traduzo o que sinto em meus poemas,
E trago dentro da alma este motim.
Já não me caberia novo engodo
Tampouco o que pudesse ser diverso
Do todo desenhado em cada verso,
E mesmo retratando a lama e o lodo,
A face mais sensata não viria,
Jamais se compartilha em poesia.
682
Um ato sem sentido ou precisão,
A poesia dita o quanto crê
No mundo aonde o tempo sem por que
Já não demonstraria a direção.
Os erros cometidos moldarão
O todo aonde o nada inda se vê
Vestígios de uma luta e se revê
O farto desenhar em passo vão.
Escuras noites dizem do abandono
E quando no final me desabono
Apresentando o passo em tom disperso.
Ainda quando pude acreditar
No engano desdenhoso a divagar
Apenas para o nada agora eu verso.
683
Pudesse acreditar num novo fato
E nisto desenhasse alguma fonte
Do quanto poderia e sempre aponte
Moldando o que tentara e não resgato.
O templo aonde o tempo em vão constato,
O rústico cenário em leda ponte,
Ainda polvilhando no horizonte
O tanto que pudera ser mais grato.
Não vejo sequer sombras do que fora,
Esta alma mais sensata e sonhadora,
Gestando cada passo rumo ao fim.
Ao embasar meu sonho no passado
Enquanto em solidão, eu já me evado
Traduzo o que inda resta dentro em mim.
684
Apascentar em frágil lucidez
O muito que abandono e não veria,
Apenas desenhando em tal sangria
O que a cada passo se desfez.
Meu verso se desfaz e nada vês
Somente a mera face, hipocrisia,
O todo desenhado em poesia
Aproximando a vera insensatez.
Ao ver o meu retrato noutra senda
Somente o que inda possa se desvenda
Marcando com constância a liberdade.
Um pária simplesmente e nada além,
O canto na verdade quando vem
Expressa o que decerto não agrade.
685
Podendo acreditar no amor eterno
E ter a sensação de ser só teu
Ainda quando o mundo se perdeu,
Criando este momento amável, terno.
O sonho de poder ser mais fraterno
E o manto que em belezas já se deu
Moldando o coração além do breu
Trazendo a primavera em pleno inverno.
O renovar das forças permitindo
Um dia mais suave, e mesmo infindo
Neste infinito feito em puro amor.
Vibrando este vital pressentimento
Aonde o que pudesse teimo e tento
Seguindo com firmeza aonde for.
686
A vida em tais facetas se diverge
Do passo aonde o todo não tramara
Além do que pudesse em tal seara
O canto mais feliz em paz emerge,
E nisto a fantasia enquanto imerge
Expressa a claridade audaz e rara,
No todo desenhado se escancara
Etéreo caminhar jamais se asperge.
O caos após o caos traduz novel
Cenário aonde o mundo traz o véu
E dele se desenha algum futuro,
O ocaso dentre tantas heresias
Aonde os meus tormentos tu verias
Num ato tão atroz onde perduro.
687
Num único momento a vida trama
O todo desenhado desde quando
O mundo noutro passo se tornando
Além do que pudesse em medo ou drama.
Apenas a verdade de quem ama
Traduz um sentimento imenso e brando,
Em consonância segue, pois vibrando
A sorte que deveras se reclama…
O prazo delimita o quanto pude
E sei da mais diversa plenitude
Aonde o meu desejo se permite.
No caos gerado após a tempestade
O tanto quanto possa se degrade
Jamais ultrapassando algum limite.
688
Levando para além o olhar vazio
Depois das noites frágeis, ilusões
Ainda quando tanto não me expões
O vasto caminhar, nunca o recrio.
O prazo determina o desvario
E os ermos dentre tantos, expressões
Moldando ainda várias dimensões
Do mar aonde o passo eu desafio.
Na sólida faceta de uma vida
Cansado de lutar em dura ermida,
Vagando pela noite em tal segredo,
Ainda que pudesse nada tenho,
Senão a garatuja, o vão desenho
Aonde sem defesas me concedo.
689
Libertas que serás também liberto
E gere noutro dia a sorte imensa
De quem num vago instante, recompensa
O todo aonde apenas me desperto.
E o longo caminhar em campo aberto,
Na noite aonde aflora a luz intensa
Gestando esta emoção aonde tensa
A sorte não viria a descoberto.
Ascendo ao que pudesse em pensamento,
E o tanto quanto quero e não lamento
Expressa a dignidade de quem sonha,
Das ramas mais diversas do arvoredo
O quanto m novo rumo eu me concedo
Permite uma verdade mais bisonha.
690
Não mais me caberia qualquer fato
Sequer acreditar no quanto pude,
Vestindo a solidão, numa amplitude
Diversa da que agora em mim constato.
Apresentando o rústico retrato
Açoda-me beber em plenitude
Realidade tantos nos ilude
E o mundo se servindo em raso prato.
Hipócritas burgueses pelas ruas,
As deusas sem escrúpulos; cultuas
E bebes cada gota deste fel
Depois aquém do todo onde pudera
Detalha em cada passo a velha fera
Num ato tão venal quanto cruel.
51671/680
671
O tom nefasto quando em versos dita
A sorte sem proveito ou distorcida
Gerando o que pudera e sempre acida
Na luta se moldando em tal desdita,
O quanto na verdade se limita
E sangra após expressa esta ferida
No caos determinando o quanto agrida,
Um coração em pânico palpita.
Escárnios são comuns aos ignorantes
E neles outros tantos que agigantes
Ao dar ouvido a quem já nada escuta,
E quando se aproxima da verdade
A morte transcendendo à claridade
Espelha em seu olhar a face bruta.
672
Desintegrando o sonho em mil pedaços,
A corja acorda e corta a cordoalha
Ainda quando finda a vida espalha
Entranha por momentos mais devassos.
Os olhos traduzindo meros passos
Ou nada mais pudera em tal batalha,
Já não suportaria esta cangalha
Nem mesmo os ermos dias sempre lassos.
Na frialdade feita em heresia
O passo noutro engodo se faria
E o cérebro vazio do imbecil
Ultrapassando assim qualquer barreira
Somente se entranhando aonde queira
E nada este amaurótico ora viu.
673
Já não me caberia a decisão
De ter além da face mais sombria
O passo aonde o todo moldaria
A vida sem sentido ou precisão.
Esgoto meu caminho e desde então
A sorte no final não preveria
Sequer o quanto pude e não teria
Marcante dentro em pouco esta ilusão.
Acordo em meio ao nada e sendo assim,
O pouco que reside dentro em mim
Expressa o vandalismo do insensato,
E quando me entranhando noutra senda
Meu verso noutro canto já desvenda
O que pudesse ser ou é ingrato.
674
Deliberar apenas o que possa
Trazer algum alento ou mesmo até
Gerar outro momento e por quem é
A vida não seria mera fossa.
O quadro aonde o pouco já se endossa
E tenazmente o templo marca a fé
E gera o quanto pude e no sopé
Adivinhando além do que se apossa.
A fase mais audaz não se permite
E gesta tão somente este limite
Aonde se acredite noutro sonho.
E o pântano que adentro sem defesas,
A vida traz em si tais incertezas
E apenas meu vazio ora componho.
675
As místicas imagens confundindo
Os passos entre tantos desenhados,
Os olhos quando traçam novos brados
O mundo se mostrasse agora findo.
Não pude disfarçar nem me oprimindo
Resolveria todos os enfados,
As noites entre passos degradados
Cenário se aproxima e não deslindo.
Um pânico tomando cada voz
E o quanto ainda se ousa logo após
Ao restaurar apenas o vazio,
Dos ermos mais audazes ou sutis,
O fato na verdade contradiz
E o espúrio navegante, desafio.
676
Em flóreas ilusões a vida traça
O marco mais audaz e sem proveito,
E quando na verdade nada aceito
A sorte se desenha em vã fumaça;
Ao mesmo tempo o todo dita e passa
Gerando o quanto pude contrafeito,
Mergulho neste instante e me deleito
Tentando onde não há a mera graça.
Caminhos mais diversos dizem tanto
Do pânico gerado em desencanto
Amordaçando sempre o pensamento.
A imagem mais atroz do desvalido
Não faz, tenho certeza, algum sentido
Embora em direção diversa, eu tento.
677
No imenso caminhar em noite vaga
A luta prosseguindo nega a paz
E o quanto poderia ser capaz
Apenas no vazio tudo draga,
A marca penetrante desta adaga,
Engodo com certeza contumaz,
O mar aonde o prazo não se faz
Meu pensamento além tenta e divaga.
Escolto-me nos erros e presumo
A sorte sem defesas, mero sumo
Aonde mergulhasse em tom inerte
Meu mundo sem sentido ou direção
Esgota neste imenso turbilhão
E o canto em tom sombrio se converte.
678
Aonde consagrasse algum caminho
Na busca pelo quanto ainda resta
Imagem distorcida nunca atesta
O quanto poderia além do espinho.
O mundo se moldando tão mesquinho
A luta em tom sombrio é desonesta
E o todo noutro engodo tenta a fresta
E nela se avizinha o mero ninho.
Isolo-me decerto e desta forma
O canto quando muito mal informa
O passo que jamais houvera dado,
Assíduo sonhador, por ser poeta
A vida noutra vida não completa
E o tempo num fastio, desolado.
679
Gementes ilusões, toscos ditames
E nada mais pudera acrescentar
Quem tanto quis da sorte o desenhar
E nisto novos erros, teus enxames
Ainda quando muito busques, clames
O passo num disfarce a modular
O quanto poderia me entranhar
Gerando do vazio tais reclames.
Os antros onde a súcia se escondia
No submundo asqueroso, a poesia
Expressa a dimensão desta impudência
E o fato de saber ou não só rege
A tez mais obsoleta de um herege
Distante do que fora consciência.
680
Um denso nevoeiro em noite amarga
Expressa a realidade que vivemos,
A via se perdendo sem os remos
Apenas o caminho em vão se alarga.
A voz já sem sentido algum se embarga
E aos poucos novos sonhos que queremos
Desenham tão somente toscos demos
Mal suportando a sorte em dura carga.
Arcaico caminhante do não ser
Ainda que pudesse amanhecer
No ousado caminhar em vasta fonte.
Sem nada que pudesse traduzir
Meu mundo se aproxima e sem sentir
Somente a cada engano desaponte.
O tom nefasto quando em versos dita
A sorte sem proveito ou distorcida
Gerando o que pudera e sempre acida
Na luta se moldando em tal desdita,
O quanto na verdade se limita
E sangra após expressa esta ferida
No caos determinando o quanto agrida,
Um coração em pânico palpita.
Escárnios são comuns aos ignorantes
E neles outros tantos que agigantes
Ao dar ouvido a quem já nada escuta,
E quando se aproxima da verdade
A morte transcendendo à claridade
Espelha em seu olhar a face bruta.
672
Desintegrando o sonho em mil pedaços,
A corja acorda e corta a cordoalha
Ainda quando finda a vida espalha
Entranha por momentos mais devassos.
Os olhos traduzindo meros passos
Ou nada mais pudera em tal batalha,
Já não suportaria esta cangalha
Nem mesmo os ermos dias sempre lassos.
Na frialdade feita em heresia
O passo noutro engodo se faria
E o cérebro vazio do imbecil
Ultrapassando assim qualquer barreira
Somente se entranhando aonde queira
E nada este amaurótico ora viu.
673
Já não me caberia a decisão
De ter além da face mais sombria
O passo aonde o todo moldaria
A vida sem sentido ou precisão.
Esgoto meu caminho e desde então
A sorte no final não preveria
Sequer o quanto pude e não teria
Marcante dentro em pouco esta ilusão.
Acordo em meio ao nada e sendo assim,
O pouco que reside dentro em mim
Expressa o vandalismo do insensato,
E quando me entranhando noutra senda
Meu verso noutro canto já desvenda
O que pudesse ser ou é ingrato.
674
Deliberar apenas o que possa
Trazer algum alento ou mesmo até
Gerar outro momento e por quem é
A vida não seria mera fossa.
O quadro aonde o pouco já se endossa
E tenazmente o templo marca a fé
E gera o quanto pude e no sopé
Adivinhando além do que se apossa.
A fase mais audaz não se permite
E gesta tão somente este limite
Aonde se acredite noutro sonho.
E o pântano que adentro sem defesas,
A vida traz em si tais incertezas
E apenas meu vazio ora componho.
675
As místicas imagens confundindo
Os passos entre tantos desenhados,
Os olhos quando traçam novos brados
O mundo se mostrasse agora findo.
Não pude disfarçar nem me oprimindo
Resolveria todos os enfados,
As noites entre passos degradados
Cenário se aproxima e não deslindo.
Um pânico tomando cada voz
E o quanto ainda se ousa logo após
Ao restaurar apenas o vazio,
Dos ermos mais audazes ou sutis,
O fato na verdade contradiz
E o espúrio navegante, desafio.
676
Em flóreas ilusões a vida traça
O marco mais audaz e sem proveito,
E quando na verdade nada aceito
A sorte se desenha em vã fumaça;
Ao mesmo tempo o todo dita e passa
Gerando o quanto pude contrafeito,
Mergulho neste instante e me deleito
Tentando onde não há a mera graça.
Caminhos mais diversos dizem tanto
Do pânico gerado em desencanto
Amordaçando sempre o pensamento.
A imagem mais atroz do desvalido
Não faz, tenho certeza, algum sentido
Embora em direção diversa, eu tento.
677
No imenso caminhar em noite vaga
A luta prosseguindo nega a paz
E o quanto poderia ser capaz
Apenas no vazio tudo draga,
A marca penetrante desta adaga,
Engodo com certeza contumaz,
O mar aonde o prazo não se faz
Meu pensamento além tenta e divaga.
Escolto-me nos erros e presumo
A sorte sem defesas, mero sumo
Aonde mergulhasse em tom inerte
Meu mundo sem sentido ou direção
Esgota neste imenso turbilhão
E o canto em tom sombrio se converte.
678
Aonde consagrasse algum caminho
Na busca pelo quanto ainda resta
Imagem distorcida nunca atesta
O quanto poderia além do espinho.
O mundo se moldando tão mesquinho
A luta em tom sombrio é desonesta
E o todo noutro engodo tenta a fresta
E nela se avizinha o mero ninho.
Isolo-me decerto e desta forma
O canto quando muito mal informa
O passo que jamais houvera dado,
Assíduo sonhador, por ser poeta
A vida noutra vida não completa
E o tempo num fastio, desolado.
679
Gementes ilusões, toscos ditames
E nada mais pudera acrescentar
Quem tanto quis da sorte o desenhar
E nisto novos erros, teus enxames
Ainda quando muito busques, clames
O passo num disfarce a modular
O quanto poderia me entranhar
Gerando do vazio tais reclames.
Os antros onde a súcia se escondia
No submundo asqueroso, a poesia
Expressa a dimensão desta impudência
E o fato de saber ou não só rege
A tez mais obsoleta de um herege
Distante do que fora consciência.
680
Um denso nevoeiro em noite amarga
Expressa a realidade que vivemos,
A via se perdendo sem os remos
Apenas o caminho em vão se alarga.
A voz já sem sentido algum se embarga
E aos poucos novos sonhos que queremos
Desenham tão somente toscos demos
Mal suportando a sorte em dura carga.
Arcaico caminhante do não ser
Ainda que pudesse amanhecer
No ousado caminhar em vasta fonte.
Sem nada que pudesse traduzir
Meu mundo se aproxima e sem sentir
Somente a cada engano desaponte.
51650/60
651
Há tanto o que fazer e nada possa
Vencer a mesma hipócrita expressão
Moldando a cada nova gestação
O quanto sem destino trama a fossa,
E quando do vazio o ser se apossa
Tramando sem sentido ou direção
Apenas vendo os ermos que trarão
A luta aonde o todo não se endossa.
Negar qualquer afeto e ver além
Do prazo que em verdade nunca vem
E dita incontestáveis heresias,
Assim ao se mostrar mais intratável
O ser que, desprezível é notável
Expressa apenas vagas ironias.
652
Não tento desvendar alguma luz
Envolta tão somente no não ser,
Ainda que pudesse parecer
Cenário sem vestígios não produz
Sequer o quanto tento e jamais pus
Neste âmbito diverso do viver,
Ousando tantas vezes perceber
Somente sem saber se faço jus.
A cada instante volto e me percebo
Bem mais do que talvez quando o concebo
Expressa a voz sem nexo ou provimento.
A leda poesia morre vaga
E quando a sensação aquém divaga
Dos tantos que não pude, eu me alimento.
653
No quadro mais agudo, a sorte trama
O quanto da mortalha se apresenta,
Depois de tanto engodo, a virulenta
Noção dicotomiza e nada clama.
O mundo se mostrara em resto e lama
Vestindo a face turva e mais sangrenta,
Apenas no final se me atormenta
A luta não seria o quanto exclama.
Cerzindo o meu passado, sem ter nexo,
O medo se moldara e mais perplexo
Apenas escolhendo alguma voz
Não tendo a sensação de liberdade
Tampouco quando a sorte agora evade
O resto se anuncia dentro em nós.
654
As uvas estão verdes; com certeza
O quanto mostra ser um incapaz
O ser que no final já nada traz
Desfaz de quem desenha com firmeza,
Assim ao me moldar e com franqueza
Sentido se presume mais audaz,
E quanta coisa eu deixo para trás
Tentando o que pudesse em sobremesa.
Ignorância não traz sequer a face
De um espúrio caminhante que já trace
Seu passo sem sentido, cego e roto,
Vociferando o quanto não conhece
Traduz o que não pode ou não soubesse
Num cérebro que lembra imenso esgoto.
655
O ser atemporal nos mostraria
Esta imutável face do que trama
A luta se mostrasse além da lama
E assim se imortaliza a poesia.
O tétrico boçal não saberia
O quanto se desvenda após o drama,
E quando na verdade faz da grama
Repasto desejado a cada dia.
Lutar contra evidência, onde se visse
Além de simplesmente uma burrice
Expressa a farta imagem do incapaz,
Ao ter em suas mãos outro sentido,
Apenas se condena ao ledo olvido,
E nada, com vileza, enfim nos traz.
656
É duro conviver com a arrogância
Dos imbecis disformes, caricatos,
E quando se mostrassem tais retratos
O pensamento em plena mendicância,
A sorte na verdade traz distância
E molda com certeza velhos atos,
Matando esta nascente e sem regatos
A vida traz em si tal discrepância.
E o ser ou mesmo até o querer ser
E não ter a menor capacidade
Enquanto o pensamento foge, evade
E o mundo se mostrando a apodrecer,
O tolo se permite; estupidez,
O que não saberia, já desfez.
657
São poucos os que pensam. Na verdade,
O mundo só se faz para imbecis,
E o quanto do que tenta ou contradiz
Presume a mais atroz realidade,
A cada novo canto o sonho brade,
Mas vejo tão somente por um triz
Uma arrogância espúria do infeliz
Que pensa ter alguma qualidade.
A luta se fazendo a cada dia
Não deixa libertária a fantasia
Nem mesmo nos permite o pensamento,
E quando vejo a face mais bisonha
Do cego ou insensato, se proponha
Caminho aonde; em trevas, só lamento.
658
Jogado nalgum canto do passado
O velho sem sentido mesmo algum,
Matando o que seria mais comum
E o todo noutro rumo abandonado,
A sorte desdenhosa, outro recado,
Do tanto quanto eu quis restou nenhum,
Mesmo que para ver aumente zoom
O olhar deste imbecil é desfocado.
O caos gera do caos continuísmo
E o prazo determina o quanto cismo
Vagando em teimosia, mesmo além
Da estúpida figura carcomida
Que tanto se mostrara e até duvida
Do prazo que em verdade não detém.
659
Legado de um passado milenar
Soneto faz, decerto, a diferença
E o quanto já se crê ou mesmo pensa
Permite à poesia o seu altar.
Ainda que se visse a desenhar
Diversa formação em nova crença
O tosco com certeza não convença
Quem sabe e tem firmeza ao desenhar.
O barco naufragado dita o sumo
Aonde a estupidez eu não consumo,
Ousando ter um cérebro capaz.
Enquanto o ser ignaro este idiota
Ao mesmo tempo quando nada nota
Somente este vazio já nos traz.
660
Eu não me julgo sábio nem poeta
Apenas eu não sou este imbecil
Que tantas vezes tenta e nunca viu
A face mais sublime e predileta,
Aonde o verso apenas se completa
De forma mais suave e até gentil,
O tanto quanto possa se sentiu
Além de meramente espúria meta.
Vistosa maravilha, a poesia
Expressa com audácia o que traria
E nessa condição reinando esta arte
Não cabe nas palavras, pensamento
E quando bebo a sorte ou mesmo tento,
Beleza sem igual, já se comparte.
Há tanto o que fazer e nada possa
Vencer a mesma hipócrita expressão
Moldando a cada nova gestação
O quanto sem destino trama a fossa,
E quando do vazio o ser se apossa
Tramando sem sentido ou direção
Apenas vendo os ermos que trarão
A luta aonde o todo não se endossa.
Negar qualquer afeto e ver além
Do prazo que em verdade nunca vem
E dita incontestáveis heresias,
Assim ao se mostrar mais intratável
O ser que, desprezível é notável
Expressa apenas vagas ironias.
652
Não tento desvendar alguma luz
Envolta tão somente no não ser,
Ainda que pudesse parecer
Cenário sem vestígios não produz
Sequer o quanto tento e jamais pus
Neste âmbito diverso do viver,
Ousando tantas vezes perceber
Somente sem saber se faço jus.
A cada instante volto e me percebo
Bem mais do que talvez quando o concebo
Expressa a voz sem nexo ou provimento.
A leda poesia morre vaga
E quando a sensação aquém divaga
Dos tantos que não pude, eu me alimento.
653
No quadro mais agudo, a sorte trama
O quanto da mortalha se apresenta,
Depois de tanto engodo, a virulenta
Noção dicotomiza e nada clama.
O mundo se mostrara em resto e lama
Vestindo a face turva e mais sangrenta,
Apenas no final se me atormenta
A luta não seria o quanto exclama.
Cerzindo o meu passado, sem ter nexo,
O medo se moldara e mais perplexo
Apenas escolhendo alguma voz
Não tendo a sensação de liberdade
Tampouco quando a sorte agora evade
O resto se anuncia dentro em nós.
654
As uvas estão verdes; com certeza
O quanto mostra ser um incapaz
O ser que no final já nada traz
Desfaz de quem desenha com firmeza,
Assim ao me moldar e com franqueza
Sentido se presume mais audaz,
E quanta coisa eu deixo para trás
Tentando o que pudesse em sobremesa.
Ignorância não traz sequer a face
De um espúrio caminhante que já trace
Seu passo sem sentido, cego e roto,
Vociferando o quanto não conhece
Traduz o que não pode ou não soubesse
Num cérebro que lembra imenso esgoto.
655
O ser atemporal nos mostraria
Esta imutável face do que trama
A luta se mostrasse além da lama
E assim se imortaliza a poesia.
O tétrico boçal não saberia
O quanto se desvenda após o drama,
E quando na verdade faz da grama
Repasto desejado a cada dia.
Lutar contra evidência, onde se visse
Além de simplesmente uma burrice
Expressa a farta imagem do incapaz,
Ao ter em suas mãos outro sentido,
Apenas se condena ao ledo olvido,
E nada, com vileza, enfim nos traz.
656
É duro conviver com a arrogância
Dos imbecis disformes, caricatos,
E quando se mostrassem tais retratos
O pensamento em plena mendicância,
A sorte na verdade traz distância
E molda com certeza velhos atos,
Matando esta nascente e sem regatos
A vida traz em si tal discrepância.
E o ser ou mesmo até o querer ser
E não ter a menor capacidade
Enquanto o pensamento foge, evade
E o mundo se mostrando a apodrecer,
O tolo se permite; estupidez,
O que não saberia, já desfez.
657
São poucos os que pensam. Na verdade,
O mundo só se faz para imbecis,
E o quanto do que tenta ou contradiz
Presume a mais atroz realidade,
A cada novo canto o sonho brade,
Mas vejo tão somente por um triz
Uma arrogância espúria do infeliz
Que pensa ter alguma qualidade.
A luta se fazendo a cada dia
Não deixa libertária a fantasia
Nem mesmo nos permite o pensamento,
E quando vejo a face mais bisonha
Do cego ou insensato, se proponha
Caminho aonde; em trevas, só lamento.
658
Jogado nalgum canto do passado
O velho sem sentido mesmo algum,
Matando o que seria mais comum
E o todo noutro rumo abandonado,
A sorte desdenhosa, outro recado,
Do tanto quanto eu quis restou nenhum,
Mesmo que para ver aumente zoom
O olhar deste imbecil é desfocado.
O caos gera do caos continuísmo
E o prazo determina o quanto cismo
Vagando em teimosia, mesmo além
Da estúpida figura carcomida
Que tanto se mostrara e até duvida
Do prazo que em verdade não detém.
659
Legado de um passado milenar
Soneto faz, decerto, a diferença
E o quanto já se crê ou mesmo pensa
Permite à poesia o seu altar.
Ainda que se visse a desenhar
Diversa formação em nova crença
O tosco com certeza não convença
Quem sabe e tem firmeza ao desenhar.
O barco naufragado dita o sumo
Aonde a estupidez eu não consumo,
Ousando ter um cérebro capaz.
Enquanto o ser ignaro este idiota
Ao mesmo tempo quando nada nota
Somente este vazio já nos traz.
660
Eu não me julgo sábio nem poeta
Apenas eu não sou este imbecil
Que tantas vezes tenta e nunca viu
A face mais sublime e predileta,
Aonde o verso apenas se completa
De forma mais suave e até gentil,
O tanto quanto possa se sentiu
Além de meramente espúria meta.
Vistosa maravilha, a poesia
Expressa com audácia o que traria
E nessa condição reinando esta arte
Não cabe nas palavras, pensamento
E quando bebo a sorte ou mesmo tento,
Beleza sem igual, já se comparte.
ESPIRAL DE SONETOS
ESPIRAL DE SONETOS PARTE 01
Quem teve uma esperança como guia,
Adentra o mar imenso feito em luz,
O vento da mais pura poesia
Beleza de teus olhos reproduz.
De todo sonho, o bem que eu te propus,
Semblante extasiado em alegria,
O canto feito em glória me conduz
Aos braços deste amor que me enfim me queira.
Somemos nossos cantos, primavera,
Ergamos belas taças de cristal
Ao bem que se mostrando sem igual
Amor fazendo amor, prazeres gera.
Em minhas mãos contendo a maravilha
Um novo alvorecer, meu canto trilha.
2
Um novo alvorecer meu canto trilha
Seguindo cada rastro que deixaste,
Abrindo no meu peito uma escotilha
Amor faz com tristezas um contraste,
Minha alma que antes fora uma andarilha
Bebendo esta esperança que legaste
Os uivos das saudades em matilha
Não rompem da alegria esta dura haste.
Eu vou seguindo a vida simplesmente,
Levado pela luz numa torrente
Chegando depois disso aos braços teus.
Encanto em profusão, nossa aliança
Entorna sobre nós rara esperança
Deixando à solidão, somente o adeus.
3
Deixando à solidão somente o adeus
Vencemos nossos medos, simplesmente,
Tocado pela luz dos olhos teus
Meu rumo se transforma totalmente.
Não quero mais seguir rumos ateus,
Ao ver amor tão puro claramente
Não quero ser vassalo nem ser deus,
Vontade de te amar se faz urgente.
Sentindo o sol brilhando sobre nós,
Não temo o que virá depois, após,
Contendo em minhas mãos esta esperança;
Quem ama de verdade não se cansa
Sabendo transformar a dor em riso,
Adentro ao mais sublime paraíso.
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Adentro ao mais sublime paraíso,
Teu corpo iluminando a nossa cama.
Amor que veio vindo sem aviso
Acende em brasa imensa, a velha chama.
Meu verso se tornando mais conciso
A cada nova estrofe sempre exclama,
Falando deste amor calmo e preciso,
Negando a dor solene, amargo drama.
Tendo a minha sina nos teus passos,
O coração imerso em belos paços
Fartura de esperança e de emoção.
Toada de um caboclo enamorado,
Nos raios deste céu iluminado
Vivendo, com certeza esta paixão.
5
Vivendo com certeza, esta paixão,
Eu sigo cada rastro que tu deixas,
Sentindo este perfume, sedução,
Não tenho mais na vida quaisquer queixas.
Tocado pelo amor, louco tufão,
Afago com carinho esta madeixas
Jamais em minha vida digo o não,
Decifro teus desejos, tuas deixas.
A par do sonho raro que vivemos,
O amor toma nas mãos o leme, os remos,
Levando para a praia o meu saveiro.
Quem tem dentro de si amor profundo,
Já sabe conquistar, decerto o mundo,
Olhares num só brilho, verdadeiro...
6
Olhares num só brilho, verdadeiro,
Seguimos pareados pela vida;
Usando em mesma cor, nosso tinteiro
A sorte derradeira e prometida.
O mundo se mostrando alvissareiro
Percebo, neste amor, uma saída
Matando o medo algoz e feiticeiro
Entorno uma esperança tão querida.
Martírios que vivi já não concebo;
Carinhos mais gentis; dou e recebo
Vagando a noite, imerso nos teus braços,
Estrelas multiplicam farto brilho,
Não vendo mais sequer um empecilho
Entrego-me, cativo, nestes laços...
7
Entrego-me, cativo, nestes laços,
Sentindo a brisa mansa me tomando,
Aos poucos, infinito penetrando
Bem firmes meus caminhos e meus passos.
Nos céus de nosso amor, claros espaços
Meu barco nos teus mares navegando,
Não quero e nem pergunto aonde e quando,
Só quero em minha noite os teus abraços.
Verdugo de meus dias, solidão,
Deixada para trás no rés do chão,
Jogada na gaveta do passado,
Numa esperança viva, ela agoniza,
Manhã vem renascendo em mansa brisa,
Sentindo esta presença aqui do lado.
8
Sentindo esta presença aqui do lado,
O vento me levando para a areia
Ouvindo o canto belo, enamorado,
Percebo com clareza uma sereia
Pensara que já fora derrotado,
Ao ver a claridade em lua cheia
Amor vem devagar e me incendeia
Mostrando ao fim da estrada um raro prado
Enchentes de florais na primavera
Teu néctar vou sorvendo com vagar,
Agora que encontrei o bem de amar.
Esqueço a solidão, temível fera,
Já tendo uma esperança como guia,
Entrego-me a mais bela fantasia.
9
Entrego-me a mais bela fantasia
Ao ter o teu perfume junto a mim,
O mundo num instante me diria
Do quanto é mavioso o meu jardim.
Nas mãos de quem adoro; a poesia
É meu princípio, trama, rumo e fim.
De tudo o que mais sinto; o que eu queria
Encontro aqui, contigo, amor enfim.
Uma esperança feita em fortaleza,
Derrama sobre nós farta beleza
Vagando nos meus sonhos, nos meus versos.
Atando nossos nós, irei contigo,
Recolho cada rastro que persigo,
Sentimentos perfeitos e diversos...
10
Sentimentos perfeitos e diversos,
Um louco viajante encontra o lume
Depois de dias duros e perversos,
Adentra o infinito em seu perfume.
Não deixa que esperança assim se esfume
Em vagas ilusões, cantos dispersos,
Permite que meu passo, enfim se aprume
Trazendo algum sentido pr’os meus versos.
A dor que latejara no meu peito,
Ao ver o seu caminho contrafeito
Nos olhos da esperança vai vencida.
O frio em minhas mãos, tremores tantos,
Sintomas que demonstram tais encantos
Prenúncios de prazer em minha vida.
11
Prenúncios de prazer em minha vida,
Deixados no caminho em que prossigo,
Quem sabe tanto amor nunca duvida,
Andando passo a passo, estou contigo.
A dor em esperança convertida
Prepara ao fim da noite o nosso abrigo,
Minha alma se encontrava, antes perdida
Agora até sorrir em paz, consigo.
Teu corpo a mais divina das molduras,
Repleto de prazeres e ternuras
Espelha esta beleza sem igual.
Tentáculos da sorte nos tocando,
O dia em alegria vem raiando
No lume deste amor fenomenal.
12
No lume deste amor fenomenal
Teus olhos espelhando a claridade,
Desejo mais profundo e sensual,
Recebo deste olhar, felicidade.
Uma esperança em paz, mansa e vestal
Promete para amor, fertilidade,
Subindo calmamente este degrau
Aos céus vai penetrando e logo invade.
Galopa em liberdade o meu corcel,
Bebendo nesta boca o doce mel,
Sentindo uma esperança aqui chegar,
Brindando à nossa glória fartamente,
Amor mudando o rumo, de repente,
Adentra num momento a praia e o mar.
13
Adentra num momento a praia e o mar
Quem faz da claridade o seu poema,
Sabendo quanto é bom, decerto amar,
Não vê mais no caminho algum problema,
Não tendo mais sequer qualquer algema
Recolhe cada fruto do pomar,
Mostrando em paz profunda um raro tema
Espreita esta alvorada a debruçar.
No sol que nos bendiz quando ilumina,
Felicidade imensa descortina
Uma esperança imersa em nosso peito.
Vivendo o nosso amor, raro e profundo,
Permito ao coração ser vagabundo
Fazendo do luar seu claro leito.
14
Fazendo do luar seu claro leito,
Espreito o teu sorriso de menina,
Vivendo plenamente satisfeito,
Beleza sem igual se descortina.
Adoro com certeza esse teu jeito
Rainha que tão mansa, me domina
A sina de ser teu; agora aceito
E bebo o meu prazer na doce mina.
No quanto que te quero e nunca nego,
Ao bem de tanto amor, eu já me entrego,
Não tendo em minha vida urze nem cruz
Minha esperança afeita ao teu abraço
Numa explosão extrema em cada passo,
Adentra o mar imenso feito em luz.
15
Adentra o mar imenso feito em luz
O sonho de quem ama e te deseja
A brisa da esperança é benfazeja,
No beijo que alegria reproduz.
Nos corpos que se tocam quando nus,
Felicidade e gozo, amor almeja
Não tendo vencedores na peleja
Ao bem supremo, amor sempre conduz.
No quanto nada somos sem amor,
Cerzindo um céu imenso em claridade
Negar o nosso amor, não há quem há-de
Em jade e diamante a se compor,
Unida solução feita em contraste
Seguindo cada rastro que deixaste.
16
Seguindo cada rastro que deixaste
Adentro ao paraíso num instante,
Teu canto; com encanto, me mostraste
Num doce seduzir inebriante
Desejo louco, insano, tu legaste
A quem se fez comparsa mais constante
O tempo não nos deu qualquer desgaste
A vida continua deslumbrante.
Meu mundo no teu mundo se entranhou
Tu vens comigo, amada aonde vou
Sabendo o que mais queres, claramente.
Unidos encontramos o infinito
Fazendo deste amor, divino rito,
Vencemos nossos medos, simplesmente.
17
Vencendo nossos medos, simplesmente
As dores se tornando mais escassas,
Persigo os rastros claros quando passas,
Estrela que domina plenamente.
De todo este prazer que a gente sente
Fluindo meu desejo enquanto abraças
Bebemos com prazer nas mesmas taças,
Vontade se fazendo mais urgente.
Estrelas, companheiras de viagem,
Ao ver tua nudez, uma miragem
Tomando em claridade, vem e chama
Num sonho delicado e mais profano,
Um astro que se mostra soberano,
Teu corpo iluminando a nossa cama.
18
Teu corpo iluminando a nossa cama
Estrela que surgiu em forma humana,
Fulgura divinal, perfeita chama,
Rainha de meus dias, soberana.
Tocado pelo brilho desta trama,
Amor quando em meu peito já se ufana
Permite vislumbrar divina e insana
Mulher que a fantasia sempre aclama.
Tua beleza rara, diamantina,
Decerto, esse cenário já domina,
Derrama sobre mim negras madeixas.
Qual fora um viandante sem destino,
No coração uma alma de menino,
Eu sigo cada rastro que tu deixas.
19
Eu sigo cada rastro que tu deixas
Estrela que se deita sobre o mar,
Nos sonhos que trouxeram outras gueixas
Mergulho, simplesmente, e quero amar.
Não ouço mais antigas, duras queixas
Pois tenho com quem possa já contar,
Entendo meu amor quando tu queixas
Se o pensamente eu deixo divagar
Mas volto a mais sublime realidade
E sei que em tanto amor que agora invade
Está decerto a sorte perseguida.
E vamos, sem temores mundo afora,
Já tendo uma alegria que se aflora
Seguimos pareados pela vida.
20
Seguimos pareados pela vida
Buscando a maravilha deste cais,
Percebo o quanto estás mais decidida
Sabendo que te quero assim, bem mais.
Por mais que a solidão peça guarida
No peito de quem ama os temporais
Aos poucos já se vão para jamais
Vencidos pela paz embevecida.
Eu quero estar contigo em plena chuva,
Amor que nos servindo feito luva
A cada amanhecer nos decorando,
Do vento que fez um furacão
Prevejo em calmaria esta emoção,
Sentindo a brisa mansa me tomando.
21
Sentindo a brisa mansa me tomando
Entrego-me à total felicidade.
O dia mansamente vem raiando
Trazendo o suave encanto, liberdade.
No céu as andorinhas formam bando
E o amor aos poucos chega e já me invade,
O sol que no horizonte vem raiando
Transborda a mais completa claridade.
Ser teu é o mais quero; o que pretendo,
Sentir o teu abraço me envolvendo,
Envolto com prazer em tua teia
Sereia que domina com encanto,
Tocado pelo belo do teu canto,
O vento me levando para a areia.
22
O vento me levando para a areia
Nas ondas mais sutis do sentimento,
Amor que em fogaréu, contigo ateia
Delícia me invadindo o pensamento.
Eu amo-te demais, por isso creia
Não deixo de querer um só momento
O manso acalentar que em minha veia
Transfunde esta emoção e toma assento.
Dos fardos que carrego do passado,
O medo de te amar, abandonado,
Agora que percebo amor sem fim,
Canteiro de esperanças vou aguando
E um novo amanhecer me transformando.
Ao ter o teu perfume junto a mim.
23
Ao ter o teu perfume junto a mim
Estendo o coração nesta varanda,
Na boca o mais suave carmesim,
Meu peito enamorado anda de banda.
O vento se espalhando traz em fim
Amor que em tanto amor já não desanda
Na dança mais sublime sinto enfim,
O gosto de dançar nossa ciranda.
Além do que quisera há tanto tempo,
Não tendo mais, na vida, um contratempo,
Não trago nem sequer algum queixume,
Na noite tão escura que enfrentara
Ao ver maravilhosa jóia, rara,
Um louco viajante encontra o lume.
24
Um louco viajante encontra o lume
Nos olhos de quem ama, o seu farol,
Amar, além de tudo, um bom costume,
Trazendo para tantos, belo sol,
Nos braços deste sonho atinjo o cume
Seguindo qual um manso girassol,
Não deixe que este encanto, enfim se esfume,
Pois trazes farta luz para arrebol,
Eu quero estar contigo, esteja certa,
A porta se mostrando sempre aberta,
Vislumbra a maravilha feita abrigo.
Persigo cada rastro que deixaste,
Nos brilhos com os quais iluminaste,
Deixados no caminho em que prossigo.
25
Deixados no caminho em que prossigo
Os passos de quem sinto ser além
Do simples desejar, do querer bem,
Seguindo o tempo inteiro aqui comigo.
O medo se esvaindo, sem abrigo,
Eu sinto que enfim, encontro alguém
E o vento da esperança, manso vem,
Felicidade imensa, eu já consigo.
Vislumbro na penumbra raro brilho,
Falena enamorada, agora eu trilho
Demonstro, num momento ansiedade.
Faróis iluminando o negro céu,
Das nuvens tenebrosas surge o véu,
Teus olhos espelhando a claridade.
26
Teus olhos espelhando a claridade
Refletem num lampejo uma esperança,
Amor que se moldando em liberdade,
Lega o gozo pleno como herança.
Tomado por hedônica vontade
Quem ama, com certeza não se cansa,
Contra o bem do amor não há quem nade,
Pois sabe imensidão que logo alcança
Aquele que se mostra decidido,
Deixando a solidão em triste ouvido.
Meu corpo te procura em piracema,
Desejo triunfante feito em glória
Já muda num momento a sua história
Quem faz da claridade o seu poema.
27
Quem faz da claridade o seu poema
Escreve com firmeza uma emoção,
Da pedra preciosa, rara gema
Transita no meu peito, a sedução.
No céu de nosso amor, um diadema
Nos brilhos constelares da paixão,
Amor é nosso sonho, um caro emblema
Portando em sua sina a redenção.
Afasto qualquer pedra e sem espinhos,
Deitando meu prazer em teus carinhos,
O amor que me conquista e me domina.
Olhando de soslaio, de tocaia,
Em meio a tantas luzes nesta praia.
Espreito o teu sorriso de menina
28
Espreito o teu sorriso de menina
Sentindo o bom bafejo da esperança,
De todos os meus sonhos, bela mina,
Na fonte desejosa, clara e mansa.
Esta alquimia chega e me domina,
Formata a vida feita em aliança
Sabendo ser só teu, a minha sina,
A perfeição completa enfim alcança.
Transmudo, num segundo o pensamento
E galgo eternidade no momento
Em que me entrego fundo à fantasia.
Sentindo-me tão manso a me roçar,
Em meio ao doce encanto do luar,
O vento da mais pura poesia.
29
O vento da mais pura poesia
Trazendo a sensação de liberdade,
O quanto e tanto bem que se queria,
Transforma toda dor em amizade.
A brisa matinal abranda o dia
Promessa de total tranqüilidade,
Tua alma de minha alma, senhoria,
Contigo vencerei a adversidade.
Saber quanto é possível ser feliz,
Tramando a luz suprema que se quis
Mudando num repente antiga trilha.
Depois da tempestade uma bonança.
E o vento bem mais forte da esperança
Abrindo no meu peito, uma escotilha
30
Abrindo no meu peito uma escotilha
Acendo da esperança, o fogo intenso.
Na sina que se fez uma andarilha,
No vago logo após às vezes penso,
Carrego dentro em mim tanta mobília,
Escombros do que fui. Mergulho tenso
E nada se percebe além da trilha
Vazia que sobrou de um mar imenso.
Erguendo um brinde à vida, morro aos poucos,
Os gritos incontidos saem roucos
Prenunciando apenas um adeus.
Porém ao ver de novo o meu porão,
Vislumbro a derradeira solidão,
Tocado pela luz dos olhos teus.
31
Tocado pela luz dos olhos teus
Penumbras adentrando noite afora,
Esqueço destas trevas, ganho os breus,
E o quanto desejei, o nada implora.
Preparo a cada instante o meu adeus,
Vontade de partir, seguir agora
Na busca dos anseios tolos meus,
Na areia movediça o pé se escora
Esvaio em cada verso que te faço,
Traçando o meu destino a cada passo
Soçobro em tempestades de granizo
Naufrago nesta luta tão inglória,
Mascando o meu revólver, muda a história
Amor que veio vindo sem aviso.
32
Amor que veio vindo sem aviso
Na lousa escreve a dor em claro giz,
Do quanto desejei e nada fiz,
Apenas um irônico sorriso.
Promessas se perdendo em solo liso
O chão caracachento corta e diz
Que o tempo que passamos impreciso
Não serve como apoio, é por um triz.
Veleja o pensamente e chega ao nada,
A praia dos meus sonhos isolada,
Repete o tempo inteiro a negação.
Mas sigo qual falena em plena luz,
Carrego em minhas costas, leda cruz
Sentindo este perfume, sedução.
33
Sentindo este perfume, sedução
Aproximo meus olhos de teus olhos,
Estendo o meu tapete em urze, abrolhos
E bebo o teu veneno, lambo o chão.
Às turras entre beijo e bofetão
Janelas arrombadas sem ferrolhos,
As flores e os insetos vêm nos molhos
Ferrenhas tais batalhas, turbilhão.
E somos duas faces da moeda,
Amparo enquanto empurro para a queda,
Tramamos a vingança o tempo inteiro.
Se eu somo e já divido, vários elos,
Seguimos nossos rumos paralelos
Usando em mesma cor, nosso tinteiro.
34
Usando em mesma cor, nosso tinteiro
Fazemos multicor uma esperança
No barco a se perder, o timoneiro
Durante a tempestade não avança;
Sorriso tantas vezes tão matreiro
Esconde no bornal uma aliança
E o tempo necessita temperança
Mas nada do que tive é verdadeiro.
No moto que perpétuo nunca morre,
Beijo sanguinolento não socorre
E segue dia-a-dia nos matando.
Se eu quero o que tu negas, vou em frente
E o passo que se busca, num repente,
Aos poucos, infinito penetrando.
35
Aos poucos, infinito penetrando
Rompendo a nossa carne expondo entranhas
Quem sabe e reconhece suas manhas
Não deixa mais o inverno vir chegando.
Amor quando em desordem segue em bando
E foge para terras mais estranhas,
Não quero nem saber se tu me ganhas,
Apenas não irei mais desabando.
Resíduos espalhados, meus escombros,
O peso que carrego nos meus ombros
Já deixo por aí, abandonado.
Esqueço vez em quando o meu destino,
E sigo enquanto amor eu descortino
Ouvindo o canto belo, enamorado.
36
Ouvindo o canto belo, enamorado
Escuto em tua voz um eco a mais
Do quanto percebi no meu passado
A ausência pura e simples deste cais.
O fardo que carrego é tão pesado
Nadando entre procelas, temporais,
Entendo e decifrando o teu recado
Percebo a liberdade do jamais.
Parceiros deste jogo, perco e ganho,
Não quero mais saber do bem tamanho
Vendido sempre à parte- fantasia.
Se amor é na verdade um ledo abismo
Forrado pelo fogo em fanatismo,
O mundo, num instante me diria.
37
O mundo num instante me diria
De todo o sentimento que represo,
A vida muitas vezes solta o peso,
E mata quem dourava a fantasia.
O medo se transforma em agonia,
Eu tento prosseguir, e vou ileso,
O fogo da esperança segue aceso
E nisso vou singrando um novo dia.
Mimetizando assim o sentimento,
Numa metamorfose o pensamento
Adentra por caminhos tão diversos.
Eu quero prosseguir de peito aberto,
Aguando de ilusões este deserto,
Depois de dias duros e perversos.
38
Depois de dias duros e perversos
Vagando pelas noites, botequins,
Aguando com saudade os meus jardins,
Sangrando plenamente em frios versos,
Olhares sem destino, vãos, dispersos,
Buscando dias calmos, noites cleans
Vestindo uma esperança feita jeans
Jazendo nos caminhos tão diversos
Eu calo a melodia que não fiz,
Meu pranto feito imenso chafariz
Banhando em sortilégio a nossa vida,
Amor que não se aprende no colégio,
Ditando o mais sublime privilégio,
Quem sabe tanto amor nunca duvida.
39
Quem sabe tanto amor nunca duvida
Do sentimento imerso em águas calmas,
Porém ao carregar antigos traumas,
Esboço nos teus braços, a saída.
Montando esta esperança tão querida,
Entrego o coração, buscando as almas
Saveiro que em tempesta logo acalmas,
Palavra entre remendos dividida.
Esgarça os meus olhares, firmamento,
No cálice dos sonhos, pensamento
Galgando espaço livre, sideral.
Tua nudez, delito insano e claro,
Sentindo o teu perfume, eu já disparo
Desejo mais profundo e sensual.
40
Desejo mais profundo e sensual
Roçando o nosso corpo, devagar,
Não tendo sequer pressa de chegar
Adentro este caminho sem igual.
Quem dera se pudesse um imortal
Tivesse eternidade a me tocar,
Voando em liberdade até chegar
O gozo mais perfeito, triunfal.
Sementes espalhadas pelo chão,
Causando ao reflorir, revolução,
Tomando num momento, céu e mar.
Arando com carinho cada lavra,
Usando o dom do sonho e da palavra
Sabendo quanto é bom, decerto, amar.
41
Sabendo quanto é bom, decerto, amar
Eu quero ter o gozo feito em glória,
Mudando novamente a minha história
Eu singro uma esperança com vagar.
Nas ondas que eu pretendo navegar
Esqueço do que fui, simples escória.
Amor virá pagando a promissória
Depois de tantos olhos a mirar.
As farpas que trocamos, corte fundo,
A bêbada esperança deste mundo
No canto em que me encanto, o mais perfeito.
Os ossos fraturados dos meus sonhos,
Em meio a risos francos e medonhos,
Vivendo plenamente satisfeito.
42
Vivendo plenamente satisfeito
Lambuzo com meu mel tua esperança
Não tendo solução nem mais fiança
Eu sigo o meu caminho do teu jeito.
Lembrando de teus olhos quando deito
Um fardo sem limites não me alcança,
Na mão carrego seta, flecha, e lança
E faço de um prazer, antigo pleito.
No canto cada ritmo se faz tétrico
Distante do que forma encanto métrico
O verso sem caminhos já me abduz
E mesmo que não saibas do que falo,
O gozo deste fogo em nosso embalo
Beleza de teus olhos reproduz.
43
Beleza de teus olhos reproduz
O encanto do divino amanhecer
Roubando da alvorada a plena luz
Espalhas no arrebol raro prazer.
O sonho duradouro que propus
Entranha em perfeição, meu bem querer,
Se a noite irá voltar, eu não me opus,
Apenas tua boca a me beber.
Não quero na verdade amor apático
Tampouco refletir um automático
Caminho que me leve a tal desgaste.
Somando cada passo, vamos longe
Bacante misturando-se com monge
Amor faz com tristezas um contraste.
44
Amor faz com tristezas um contraste
Reflui e volta sempre à mesma mesa;
Comendo no princípio a sobremesa
Já tem a força toda de um guindaste.
Na carta de alforria que negaste
Senti o gosto frio da incerteza
Amor que com saudade se reveza
Não preza e morre aos poucos, afunda a haste.
Afundaste meus barcos. Morto o cais,
Eu volto o meu olhar para o jamais
E vejo errôneo passo em minha frente.
Conhecendo de perto quem amei,
Perversamente sinto o quanto errei,
Meu rumo se transforma totalmente.
45
Meu rumo se transforma totalmente
Depois de cada chuva em tempestade,
O bêbado nas ruas da cidade
Vagando sem destino, qual demente,
Intrépida jornada pela mente,
No quanto que não tive e já me invade
A trama se perdeu em quantidade
E o fim do nosso caso se pressente.
Mas tendo o teu corpinho assim desnudo,
Chamando para a festa, vou com tudo,
Adentro o festival, macia a cama,
Os planctos e as sementes, plantas, gozo,
Do emaranhado louco e caprichoso,
Acende em brasa imensa, a velha chama.
46
Acende em brasa imensa, a velha chama,
Macabros versos solto em profusão,
Fazendo a mais completa confusão,
Na combustão dos sonhos, minha trama,
Não sendo teu escravo ou teu patrão,
Irmanado contigo, céu e lama,
Quem ama, na verdade não difama,
Nem mesmo que repita a negação.
Patrolas estas rotas podres, rotas,
Carinho que me dás em conta-gotas
Deixando vez em quando o que não deixas,
Soprando sobre nós o mesmo vento,
Usando esta cangalha, o sentimento,
Não tenho mais na vida, quaisquer queixas.
47
Não tenho mais na vida, quaisquer queixas
E cato os meus cavacos espalhados,
Carpindo os risos tolos, desfraldados,
Encontro em ti, à noite, divas, gueixas.
Soubesse te dizer, faria endechas
Em versos tão sutis, transfigurados,
Porém ao vislumbrar terríveis prados,
Recebo de teus olhos novas deixas.
Havendo o que não tive e sem tempero,
Acendes toda noite o meu isqueiro
Na chama da fornalha repartida.
Repatriando antigos firmamentos,
Eu sinto pelo menos por momentos
A sorte derradeira e prometida.
48
A sorte derradeira e prometida
Jogada nos beirais desta janela,
No suicídio salvo a minha vida,
E tramo uma esperança sem tramela.
Quem ama na verdade se congela,
Escravo desta inglória mais querida,
Acendo toda noite a mesma vela
Capaz de incendiar qualquer saída.
Marco o corpo inteiro em tatuagem,
Sorvendo com prazer qualquer bobagem
Capacho em garatujas; erros crassos,
Divido o que somei há tanto tempo,
E mesmo que me entregue ao contratempo,
Bem firmes meus caminhos e meus passos.
49
Bem firmes meus caminhos e meus passos,
Pegando uma carona no cometa,
Vagando por satélite e planeta
Arranco as maravilhas, risco os traços.
Prazeres na verdade são escassos,
A cada novo engano que eu cometa
Espero corrigir errônea seta
Juntando os cacarecos, meus pedaços.
Minha alma mergulhada no mecônio
Coração fustiga em tanto hormônio
Vai preso e necessita desta teia.
Num instantâneo mar, qual mergulhão
Parido pelo bom da tentação.
Percebo com clareza uma sereia.
50
Percebo com clareza uma sereia
Alcoólatra e sedenta de prazeres,
Desnuda nessa cama me incendeia
E como este banquete em mil talheres.
Sorrisos derramando a lua cheia
Divindades em forma de mulheres,
Quem vaga pelas tramas não receia
E sabe na verdade o que mais queres.
Em todos os momentos magistrais
Roubando o bom perfume dos rosais
Eu sinto uma explosão de amor em mim.
No rum que tu destilas todo dia,
Respostas à pergunta que sabia
Do quanto é mavioso o meu jardim.
51
Do quanto é mavioso o meu jardim
Em pétalas diversas, coloridas,
Recebo o benfazejo vento em mim,
E as horas sempre passam distraídas.
As cordas se rompendo até o fim,
Farturas em palavras decididas,
Nas cores tão diversas, vou assim,
Somando as nossas contas divididas.
E esboças num sorriso com fartura,
Um gesto em sincronia, uma ternura,
Fazendo com que a vida, enfim, se arrume.
No cume deste olhar tão emblemático,
O gozo do prazer cego e temático
Adentra o infinito em teu perfume.
52
Adentra o infinito em teu perfume
O quanto decidira no passado,
Não tendo a vaidade por costume,
Eu sinto o vento imenso, adocicado,
De tudo o que transporto do passado,
Ainda levo aqui, teu claro lume
E mesmo que se perca de ciúme
Caminho o tempo inteiro lado a lado.
Esgarço os meus lençóis, rasgo o meu peito,
E vamos prosseguindo desse jeito
Sabendo que virá qualquer perigo.
Minha alma que é da tua siamesa,
Refoga com tempero uma tristeza,
Andando passo a passo, estou contigo.
53
Andando passo a passo, estou contigo
E venço um medo arcaico, envelhecido.
Toando a fantasia num sentido
Diverso do que fora o que persigo,
Dizendo o que deveras nunca digo
Eu vejo o meu futuro descabido.
Sorriso por ventura desabrido
Não mostra o quanto eu quero, tão antigo.
Partimos para o nada, o tempo inteiro,
Apenas não vou ser mais corriqueiro,
Querendo a tão sublime variedade
Não sentes o que eu sinto e nem percebes,
No jeito como miras estas sebes,
Recebo deste olhar, felicidade.
54
Recebo deste olhar, felicidade,
Eclipsando os temores que eu sentia,
Na prática esperando um novo dia
Que mostre ser plausível liberdade.
Saprófita ilusão vaga a cidade
Nas barbas da cruel melancolia.
À noite embriagado em falsidade
Estendo o meu tapete da ironia.
Capacho que derruba, de tocaia,
Olhando para cima sob a saia
Encontro um diamante em rara gema.
E a mesa quando posta não se nega,
A fome de prazer falsária e cega
Não vê mais no caminho algum problema.
55
Não vê mais no caminho algum problema
Quem teve um par de esporas como guia.
O merencório gozo de uma orgia
Transforma-se decerto num emblema.
Amor que se inundou em piracema,
Vagando pelos mares da agonia
Espera transformar o que eu queria
Em algo que não seja um velho tema.
Só sei que te tocando com carinho,
O medo não faz troça nem quer ninho,
Apenas bebe o riso da menina,
E sabe que a nudez traz evidências
E envolta nas suaves transparências,
Beleza sem igual se descortina.
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Beleza sem igual se descortina.
Fazendo reboliço em minha mente,
Não tendo na verdade uma semente
Não posso mais plantar, eis minha sina.
O quanto que se quer quem extermina
O vergalhão penetra de repente
E corta o pé mais frágil, nada sente
Quem tem estupidez como cortina.
Assim não adiantam mais palavras
Esqueces o que fiz de antigas lavras,
Escorre em tua boca um doce pus.
Desconhecendo um gesto de amizade,
Ignoras com total sinceridade,
De todo sonho, o bem que eu te propus.
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De todo sonho, o bem que eu te propus
Ferrenhas emoções vão me inundando,
Não tendo mais sentido quanto e quando
Eu sigo os rastros teus e chego à luz.
Fartura que ao divino amor conduz
Faturas de esperanças vêm cobrando,
Fraturam estruturas, desabando
O canto mais audaz se reproduz.
Acácias espalhadas na alameda
Dos sonhos, um divino bulevar
Almíscares invadem, ganham o ar
Permitem que alegria então se ceda
Mostrando em tons sutis tal maravilha.
Minha alma que antes fora uma andarilha
58
Minha alma que antes fora uma andarilha
Vagando bar em bar pela cidade,
No grito solitário da novilha
Espreita o fim da tarde com saudade.
O par que se perdeu renova a trilha
E vence com carinho, a tempestade.
Andando nos espaços cada milha
Seguindo busca a tal felicidade.
Parceira dos detalhes que negaste,
Entalhes nestas pedras, no desgaste
Diário molda a noite em vários breus.
Depois de ser vencido, sigo só,
Voltando novamente ao ledo pó
Não quero mais seguir rumos ateus.
59
Não quero mais seguir rumos ateus
Que façam das mentiras, a bandeira,
Deitando uma ilusão sobre a liteira
Escondo os meus olhares já dos teus.
Nos arremedos todos, teus e meus,
Vendidos em barracas nesta feira
A morte talvez seja corriqueira
Ribeiras encarnando nosso adeus.
Barrancas de minha alma desabando
Enchentes inundando em turbilhão,
O parto em que geraste foi em vão
Os olhos da esperança, o mesmo bando
Tocando na ferida mais preciso,
Meu verso se tornando mais conciso.
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Meu verso se tornando mais conciso
Batuca no teu peito sem parar,
Vertendo em nossa cama traz luar
Na manta feita em puro paraíso.
Eu quero cada gota e sempre biso
Bebendo a vida em goles, farto mar,
Serpentes vão chegando devagar
Venenos em fartura sem aviso.
Vou ávido de ti prazer insano,
Transformo a brisa calma em minuano,
E a tempestade vira furacão.
Cabelos esvoaçam, cavalgadas,
Vagando mil estrelas, madrugadas,
Tocado pelo amor, louco tufão.
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Tocado pelo amor, louco tufão,
Meu barco segue em mar tempestuoso
Às vezes malfadado e belicoso,
Vagando segue o rumo da paixão.
No peito um berimbau dá a marcação
E o porto mais distante e perigoso,
Olhar se mostra quase bilioso
E volta assim depressa pro porão
Porém ao porem freio nos meus sonhos,
Os dias talvez sejam mais risonhos,
E o tempo enfim se acalme mais ligeiro.
Na caça em que me faço tua presa,
Ao fim deste safári, com surpresa,
O mundo se mostrando alvissareiro
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O mundo se mostrando alvissareiro
Traz em tabaco e álcool risos tantos,
Quadris multiplicando os teus encantos
Transfundem para o peito cada cheiro.
Dos sonhos mais sutis, gentil parteiro
Espalha a fantasia pelos cantos,
Não vejo mais peçonhas ou quebrantos.
Amor que é da alegria o meu viveiro.
Um peito tartamudo não se cansa
De ver ao fim da curva uma esperança
Cigarros, vou tragando em fartos maços,
Prazeres que me encharcam em monções
Sublimes temporais, revoluções,
Nos céus de nosso amor, claros espaços
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Nos céus de nosso amor, claros espaços
Abrindo em leque imenso, as esperanças.
Nos olhos penetrantes, frios aços,
Licores inebriam. Festas, danças.
As penitências geram feras mansas,
Os olhos se tornando bem mais baços,
Enquanto os altos cumes; cedo alcanças
Os corpos remoídos deitam; lassos.
Os laços que nos unem sendo frágeis,
Embora em plena fuga sejam ágeis,
Rompendo no momento mais azado,
Permitem que eu me esgueire pelas ruas,
E vendo estas paredes negras, nuas,
Pensara que já fora derrotado.
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Pensara que já fora derrotado
Depois da luta intensa, resta o nada,
O vaso em que esperança foi plantada
Está em algum canto, abandonado.
Não quero descobrir se no meu fado
Estrela se tomou em derrocada,
No tumor que cultivo, uma tragada
Espelha o rio inerte do passado.
Nos cárceres privados dos meus sonhos,
Olhares que me miram são bisonhos
Matando uma alvorada em agonia.
Um resto de esperança soerguida
Permite vislumbrar alguma vida
Nas mãos de quem adoro; a poesia
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Nas mãos de quem adoro; a poesia
Exprime a mais fantástica emoção,
Guardada fielmente a proporção
É nela que se entranha, estrela guia.
Numa partenogênese, a magia
Explode num momento, evolução,
Erguendo o patamar, retorna ao chão
Revolta o mar em plena fantasia.
Meu desjejum é feito nos teus lábios,
Marujo; encontro em ti meus astrolábios
E bebo cada gota de perfume.
A força tão feroz e delicada,
Tramando um intenso, na alvorada
Não deixa que esperança assim se esfume
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Não deixa que esperança assim se esfume
Bafejo de teus sonhos sobre mim,
À parte coletando o teu perfume
Recebo estas essências de jasmim,
Voando em liberdade um vaga-lume
Holofote entranhado no jardim.
Os sons da noite aumentam seu volume
E a vida se derrama sempre assim.
As térmitas formando mil casais,
A terra já molhada e acolhedora,
Nos jogos sedutores, sensuais,
Renovação à vista segue a vida,
E sinto neste instante, desde agora,
A dor em esperança convertida
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A dor em esperanças convertida
Batalha por um riso mais audaz,
O vento que nos toca e satisfaz
Permite vislumbrar a nova vida.
Levando a solidão já de vencida
O quanto te desejo a noite traz
Caminho repartido volta atrás
O jogo decidido de saída.
Mas tenho uma reserva de alegria,
Jogando para longe a fantasia,
O prazo não se vence, é sempre igual.
Teimosa, vai seguindo sem cansaço
No verso em desafio logo traço
Uma esperança em paz, mansa e vestal
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Uma esperança em paz, mansa e vestal
Apascentando a fera que me doma,
Renascendo alegria outrora em coma,
Eu vejo depois disso, o carnaval
Dos sonhos que cultivo, sol e sal,
Quebrando o que já fora uma redoma,
Colando nossos corpos nesta goma
Trazendo mil estrelas no embornal.
Assim, a liberdade vem e toma,
Fazendo de dois corpos mais que soma,
Reverso da medalha é nosso tema.
Depois de aprisionados pelos sonhos
Futuros com certeza mais risonhos,
Não tendo mais sequer qualquer algema
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Não tendo mais sequer qualquer algema
Iremos mais libertos pelas ruas,
Enquanto tantas vezes já flutuas
Distante da mentira e sem problema
Eu faço da alegria o meu emblema
Estendo na varanda várias luas,
Estrelas vão surgindo belas; nuas
Não há nem mais fantasmas que se tema.
Tu és de toda a glória, a responsável
No amor que é muito mais que imaginável
Sabendo da esperança o seu trejeito.
Feitio deste terno? Desde cedo
Guardado sob a forma de segredo:
Adoro com certeza esse teu jeito.
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Adoro com certeza esse teu jeito
Fazendo tempestade em copo d’água,
Felicidade imensa quando trago-a
Expondo sem temores, o meu peito.
O que vier de ti, decerto aceito,
Não guardo mais a dor sequer a mágoa
Meu lago se inundando com tanta água
O rio ultrapassando qualquer leito.
E nesse temporal meu barco segue,
Minha alma transparente já consegue
Saber vencer o medo e a agonia.
Depois de tanta luta; braços lassos,
A vida rememora em mansos traços,
Semblante extasiado em alegria
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Semblante extasiado em alegria
Esplêndida explosão que assim nos toca,
A maquiagem da alma se retoca
Esconde a corriqueira fantasia.
Nos olhos lagrimados a agonia
Uma esperança viva não se estoca,
Saudade vai saindo de uma toca
E espalha sobre nós a noite fria.
Imagem que ficou no meu passado,
O tempo ganha o jogo, lança o dado
Mostrando em meu olhar, duro contraste,
Restando tua foto na parede,
Eu mato vez em quando a minha sede
Bebendo esta esperança que legaste.
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Bebendo esta esperança que legaste
Entorno os sentimentos aos teus pés,
Atado com prazer, doces galés,
Colhendo o que decerto semeaste.
Não quero ser somente qual um traste
Pesado que tu levas de viés,
Enfrento qualquer forma de revés
Fazendo na alegria o meu contraste.
O jeito de te amar me faz assim,
Metade te adorando até o fim
Enquanto outra metade já reclama,
Disparatado jeito de querer,
A vontade final de poder ter
A cada nova estrofe sempre exclama
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A cada nova estrofe sempre exclama
O coração decerto doentio,
Ao suportar o duro e forte frio
Procura no teu corpo, acesa chama.
Cobrindo minha pele com a lama
Na chuva que anuncia um novo estio,
Não vejo nosso amor mais por um fio,
Sabendo que o carinho já nos chama.
Mergulho cada beijo em tua pele,
A sensação do gozo me compele
A ter o teu amor mais plenamente.
O rumo se extravia, mas retorna
Meu coração de ti nunca se entorna
Ao ver amor tão puro, claramente.
74
Ao ver amor tão puro, claramente
Esboço um movimento de defesa
Por mais que não consiga e sempre tente
Eu quero esta nudez de sobremesa.
Carcaças que me invadem, corpo e mente,
Contrastam plenamente com pureza,
O parto em que se fez farta torpeza
Merece um novo rumo, mais contente.
Dementes caminheiros, noite afora,
Sem hora de saber ou ir embora,
Não ouvem mais delitos nem tais queixas
Preâmbulo da festa continua,
Enquanto aguardo a pele inteira e nua,
Afago com carinho estas madeixas
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Afago com carinho estas madeixas,
Ronronas como gata em pleno cio,
Olhar bem mais guloso, até vadio,
Enquanto se acarinho e nada queixas.
Prometo de mansinho, mas não deixas.
A noite vai passando em pleno frio,
O amor que a gente sente por um fio,
Prometes e me negas, ninfas, gueixas.
A roupa transparente chama à festa,
Maldosa, tu me fechas qualquer fresta
Fingindo, tudo mostra; distraída.
Eu quero ter prazer; a gata mia,
E num momento feito em poesia
Percebo, neste amor, uma saída.
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Percebo neste amor, uma saída
Que possa permitir sobrevivência,
Não tendo nesta vida coincidência,
Minha alma já não segue distraída.
Invado tua praia mais querida
E bebo tua boca em transparência,
Amor que represando uma demência
Fascina enquanto trama a despedida.
Às vezes me pergunto sem respostas,
Se as mesas do banquete foram postas
Ao ver tua presença iluminando.
Por mares nunca dantes explorados,
Com olhos e sorrisos mais safados,
Meu barco nos teus mares navegando.
77
Meu barco nos teus mares navegando
Enfrenta os temporais com gargalhadas,
As mãos que foram sempre bem atadas
Agora em liberdade acarinhando.
Às vezes pelos cantos hibernando
Esqueço que possuo tais escadas
E perco o rumo em meio a barricadas
Enquanto a solidão vem nos tocando.
Marchando para os braços de quem amo,
Do quanto que perdi já não reclamo,
Pois sinto o teu amor em minha veia.
Assim se a noite chega amarga e fria,
O coração depressa já se estia
Ao ver a claridade em lua cheia
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Ao ver a claridade em lua cheia
Serpenteando brilhos na calçada,
Quem veio de um vazio e traz o nada,
Ao ver tanta beleza se incendeia.
Eu quero ter o verso em que se creia
Deixando a solidão ali, jogada,
Porém uma saudade disfarçada
Invade em ondas tantas, minha areia.
Matando o que não fora proveitoso,
O céu se mostra menos tenebroso,
O tempo passará em vinho e gim.
E tendo o que pretendo e sempre penso
Amor que se mostrando forte e denso
É meu princípio, trama, rumo e fim.
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É meu princípio, trama, rumo e fim
O muito que transportas num olhar,
O quanto te desejo, sempre assim,
Divina transparência a nos tocar.
Artemísias, gerânios, meu jardim
Na febre que transtorna a se entregar
Bailando uma esperança sobre mim
Em ondas gigantescas, belo mar.
Navego tua pele, solto as velas,
Desenho o paraíso em aquarelas
E traço a fantasia com meus versos,
Jogado em tempestade o meu saveiro,
Percebe o sonho livre e derradeiro,
Em vagas ilusões, cantos dispersos.
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Em vagas ilusões, cantos dispersos
Galgando a liberdade sem igual,
Na cama, um verdadeiro festival
Permite estrelas tantas. Universos...
Desejos em desejos quando imersos
Transbordam num divino ritual
Sem ter um vencedor, a triunfal
Beleza contagia assim os versos.
Românticas sonatas noite afora,
O corpo que se entrega e me decora
Fartura de emoções vivo contigo.
E o gozo repetido em glória insana,
Na voz uma deidade soberana,
Prepara ao fim da noite o nosso abrigo.
81
Prepara ao fim da noite o nosso abrigo
O gozo da alegria sem limites.
Eu peço meu amor, jamais evites
O franco riso intenso que persigo.
Às vezes quando negas, nada eu digo,
Apenas aceitando os teus palpites
Embora a culpa inteira me debites
Não vejo neste jogo mais perigo.
Transformas brisa em forte tempestade,
Distante da mais pura realidade,
Suporto, com certeza, a falsidade.
Deixando para trás fatalidade,
Eu sinto que este riso, na verdade
Promete para amor, fertilidade.
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Promete para amor, fertilidade
A mansidão gentil de quem afaga,
Não pedindo carinho como paga
Estende sua mão, dá liberdade
Usando de total sinceridade
Não quero a tua boca feita em draga,
Água demais? A planta já se estraga
E morre sem saber felicidade.
Porém quem se mostrando eficiente
Não teme a chuva forte ou inclemente
Depois de certo tempo é desfrutar
A mão que acaricia e nunca cobra,
Não tendo uma procela, não soçobra,
Recolhe cada fruto do pomar.
83
Recolhe cada fruto do pomar
Quem sabe cultivar com maestria,
Um jeito agricultor trama alegria,
Decerto colherá o bem de amar.
Arando então a terra com vagar,
Cevando pouco a pouco e todo dia,
Usando de toda arte que sabia
Chegaste à minha vida, devagar.
Depois de certo tempo eu percebi
O quanto eu necessito assim de ti,
De todos os prazeres, bela mina.
Redimes com carinho, os erros tolos,
Nos gestos sempre calmos, aras solos,
Rainha que tão mansa, me domina
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Rainha que tão mansa me domina
Já sabe conquistar, não necessita
Da força muitas vezes mais maldita
Na qual todo o prazer se desatina.
Numa alma transparente e feminina
Beleza sem igual, rara pepita
No olhar que mansamente assim me fita
Uma certeza firme determina
O rumo que se busca em nossa vida,
A cada novo dia, uma saída,
Trazendo à tempestade, calmaria.
Apascentando enfim, qualquer batalha,
Bafeja em calma brisa que não falha
O vento da mais pura poesia.
85
O vento da mais pura poesia
Tocando a minha face faz a festa,
De tudo o que já tive nada resta
Senão alguma gota de ironia.
Quem sabe e reconhece não confia,
Fugindo o mais depressa da floresta,
Se a queda agora corta, amor testa
E mente muito bem: eu não queria.
Depois que foste embora, que partiste,
Eu juro não fiquei tampouco triste
A vida transformada em maravilha.
Porém se a lua vem em noite bruta
Ao longe, bem de longe, inda se escuta
Os uivos das saudades em matilha
86
Os uivos das saudades em matilha
Adentram minha casa invadem quarto
Mesmo que eu tente, deles não me aparto
Entranham cada cômodo ou mobília.
A noite preparando uma armadilha,
Deixando quem amou decerto farto,
Refaz em agonia, antigo parto
Um fugitivo busca nova trilha...
Cansado de viver tanta tristeza,
Distante de uma fera nego a presa,
Apenas vou tentando sem adeus
Amor que seja leve e companheiro,
Sabendo deste sonho, por inteiro:
Não quero ser vassalo nem ser deus!
87
Não quero ser vassalo nem ser deus,
Apenas navegarmos lado a lado,
Reflexos que se espelham teus e meus,
Num sonho que se faça delicado.
Não posso mais ouvir falar de adeus,
Já tendo aqui comigo um raro fado
Carinhos desfrutados, todos teus,
No olhar que é pelo amor abençoado.
A melodia invade a nossa casa,
Saudade, nunca mais. A vida abrasa
E mostra ser mais crível, paraíso.
Eu tenho que dizer quanto eu te quero
No canto mais sublime que venero,
Falando deste amor calmo e preciso.
88
Falando deste amor calmo e preciso.
Não quero me perder sem teu carinho,
Aguardo cada gota deste vinho
E bebo em calmaria o paraíso.
Amor que tocou fundo e sem aviso
Fez do meu peito agora, rumo e ninho,
Chegando toda noite de mansinho,
Eu dele quero sempre e até repriso.
Cevando a vida inteira, na colheita
A vida em harmonia quando é feita
Provoca a mais suave convulsão.
Eu quero recolher felicidades
E mesmo que inda venham tempestades,
Jamais em minha vida digo o não.
89
Jamais em minha vida digo o não
E caço a noite inteira estrela e lua,
Deitando em minha cama a deusa nua,
Provoca a mais completa perdição.
O vento que se faz em turbilhão
Abrindo uma janela expõe a rua,
Minha alma transparente assim flutua
E bebe a tempestade, o furacão.
Chegando de mansinho, fez estrago
O turbilhão tomando o calmo lago
Promete um gosto bom, queima o cinzeiro.
Chacoalham-se quadris, louco balanço
Prazer vem galopante quando avanço,
Matando o medo algoz e feiticeiro
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Matando o medo algoz e feiticeiro
Apegos bem mais firmes, nosso jogo,
Queimando sem juízo, acende o fogo
E mostra este desejo por inteiro.
Do quanto que te quero, sinto o cheiro
E tramo esta ventura em que me jogo,
Da forma mais sutil quando me afogo
Eu vejo que este amor é verdadeiro.
Penetro tais defesas, abro frestas,
Aparam-se sutis velhas arestas
E o tempo sem limites, vai passando.
Na rua, na calçada ou no motel,
Ao desvendar vestígios deste céu,
Não quero e nem pergunto aonde e quando.
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Não quero e nem pergunto aonde e quando
Somente vou mais fundo no mergulho,
Não temo mais espinho ou pedregulho,
As matas deste amor, sigo explorando.
Se a terra vai depressa desabando
Apenas vou falar do meu orgulho
De ter bem junto a mim concha e marulho
Delicias que eu prossigo desvendando.
No mote repetido muitas vezes,
Os olhos caçadores viram reses
No pão bela fornada que se anseia.
Chegando à minha cama, soberana
No vento que depressa a chama abana
Amor vem devagar e me incendeia
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Amor vem devagar e me incendeia
Não deixa mais sobrar sequer defesa,
Comendo com vontade a sobremesa,
Aranha decidida faz a teia.
A lua que nos cobre sempre é cheia,
Maré que inunda e cala esta tristeza,
O bem do amor em forte correnteza
Adentra em reboliço minha veia.
Na cheia destes rios piracema,
Deixando para trás qualquer problema
Nas mãos da timoneira poesia,
O barco de meus sonhos se repete
Sabendo navegar já se acomete
De tudo o que mais sinto; o que eu queria
FINAL DA PRIMEIRA PARTE
Creio ser essa a primeira ESPIRAL DE SONETOS publicada na História da Literatura Universal já que, ao contrário da COROA de sonetos que se encerra no primeiro verso do primeiro soneto, esta prossegue no segundo, depois no terceiro até chegar ao último verso.
Espero que gostem.
ESPIRAL DE SONETOS PARTE 02
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De tudo o que mais sinto; o que eu queria
É ter o teu sorriso aqui comigo,
O resto na verdade, nem mais ligo,
Apenas eu desejo uma alforria
Libertação se faz a cada dia
Cevando a poesia joio e trigo
Misturas que demonstram que o perigo
Às vezes bem mais perto que podia.
Persisto com meu passo, sem descanso,
Não me importando, juro, se eu alcanço
Ou perco a flor, matando o seu perfume,
Porém ao pôr meu peito mais exposto
O esgar que se demonstra no meu rosto
Permite que meu passo, enfim se aprume.
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Permite que meu passo, enfim se aprume,
O verso mais liberto e sem conchavos,
Mil mares naveguei, calmos e bravos,
Se eu tenho ou se não trago mais queixume
Não me deixo levar por teu ciúme,
Apenas coletando estes centavos
Carrego em minha morte, lírios, cravos
Até que com meu cheiro se acostume
Aquela que se fez a companheira,
Legando a solidão mais corriqueira,
Sabendo o quanto livre é minha vida.
Agora que encontrei mais claro o rumo,
Os erros cometidos eu assumo:
Minha alma se encontrava, antes perdida
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Minha alma se encontrava, antes perdida
Beijando qualquer boca no caminho,
Bebendo com vontade amargo vinho,
Vencido pela sorte distraída
De toda esta ilusão foi abstraída
Até morrer sem dó, ledo e sozinho.
Chicote me cortando de mansinho,
A noite sem vigia está perdida.
No pé de manacá eu me estrepei,
Verrugas quando estrelas apontei,
Amor deu seu sorriso mais boçal.
Despido dos desejos meu prazer
Agora é tão somente já me ver
Subindo calmamente este degrau.
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Subindo calmamente este degrau
Eu vejo que encontrei a cobertura,
Na boca feita em mel, uma amargura
Fazendo a gente sempre passar mal.
Da tua capoeira o berimbau,
O manto que te cobre não me cura,
Volumes de um compêndio sem brochura
Gaivota disfarçada em bacurau.
No matagal de versos me perdi,
Em incontáveis vezes abstrai
E vi o quanto a vida é ruim sem lema
Na cama uma donzela em reboliço,
Acende o coração renova o viço,
Mostrando em paz profunda um raro tema.
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Mostrando em paz profunda um raro tema.
A fonte não se esgota e traz de novo,
Veneno tão gostoso quando provo
Uma ambrosia rara, bela gema.
Querida; só te peço: nunca trema,
Senão a gente quebra a casca do ovo
E o verso que sair trazendo estorvo
Decerto causará qualquer problema.
Não quero baboseiras tão românticas,
Nem teorias tolas, meras, quânticas,
Apenas o que sirva ao meu proveito.
Demônios recebidos fui Mefisto,
Sabendo que ao amor nunca resisto,
A sina de ser teu; agora aceito.
98
A sina de ser teu; agora aceito
E falo da vontade de te ter,
Recendes à ventura e ao bel prazer
Deitando bela e nua sobre o leito.
O jogo que começa a ser refeito
Regido pelas fontes do querer
Somando não concebe mais perder
E vive sem limites dá seu jeito.
Depois das ratoeiras espalhadas,
As caças passam ser ludibriadas
Jogando para as traças, fantasia.
Não sendo mais sequer um velho príncipe
Apenas me entregando, um vil partícipe,
Aos braços deste amor que me queria.
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Aos braços deste amor que me queria
Que fazem do meu corpo o seu joguete,
Não quero nesta vida mais confete
Apenas destruir esta agonia.
A noite vai passando em mão vazia
E o tempo ao qual amor já me arremete
Fazendo o que bem quer logo promete
Manhã que tão distante não viria.
Aborto de ilusões, a noite vaga,
A boca que me morde enquanto afaga,
Uma draga pedindo que eu me afaste,
Mas mesmo com sarcasmos, sigo rindo
Nem mesmo as tempestades prosseguindo
Não rompem da alegria esta dura haste
100
Não rompem da alegria esta dura haste
As dores e as tristezas reunidas.
Andando sem tropeço, nossas vidas
Não têm, eu te garanto, mais desgaste.
Amor quando se mostra num contraste
Revela e não releva mais saídas,
Num toque delicado, um novo Midas
Não deixa que de ti eu já me afaste.
Barganhas que fizemos no passado,
Jogadas neste canto malfadado
Não são sequer problemas para gente.
Eu vejo que nasci quando te vi
Ao matar a memória eu percebi:
Vontade de te amar se faz urgente.
101
Vontade de te amar se faz urgente
E forma rara plêiade de sonhos,
Repartem pensamentos mais risonhos
E ganham todo o espaço num repente.
O quanto em puro amor já se pressente
Dias melhores onde houve tristonhos,
Não quero perseguir gozos bisonhos,
Apenas que prossiga o amor da gente.
Um velho caminheiro sem descanso,
Fazendo da esperança o seu remanso
Num ato benfazejo, sempre exclama
E mostra ser possível liberdade
Enquanto cultivar felicidade,
Negando a dor solene, amargo drama.
102
Negando a dor solene, amargo drama
Avanço sem temores, ganho o cais,
Estrelas derramadas, sensuais,
Decoram todo o quarto, nossa cama.
Desejo que atendamos quando chama
Em movimentos loucos, divinais,
Não quero te perder, amor, jamais,
À noite uma vontade nos inflama
E o jogo continua sem descanso,
Depois a calmaria de um remanso
Sentindo o bom perfume das madeixas
Que tocam o meu rosto- tentação,
E entregue a tais desígnios da paixão,
Decifro teus desejos, tuas deixas.
103
Decifro teus desejos, tuas deixas
E sigo em noite insana. Madrugada
Em meio a tempestades, velhas queixas,
Já deixam perceber uma alvorada
Além do quanto queres, mas não deixas.
Ao ter em sol imenso nossa estada,
Rainha se desnuda invoca as gueixas
E molda uma vontade disfarçada.
Nos seixos espalhados, mesmo rio,
Encontro em cachoeiras, desafio
E sigo peneirando o bem da vida.
E tendo esta nudez maravilhosa,
Ao perceber perfumes desta rosa
Entorno uma esperança tão querida.
104
Entorno uma esperança tão querida,
Caminho entre estas fontes deslumbrantes
E penso em paraísos por instantes,
Minha alma enamorada e distraída...
Há tanto que buscara nesta vida
E nunca percebera interessantes
Momentos sensuais e provocantes,
Na força desta sanha concebida
Açoda-me a alegria, eu alço os céus
E a noite derramando raros véus,
Estende-se em luar, regendo os passos
De um venho caminheiro apaixonado,
E agora que te tenho aqui do lado,
Só quero em minha noite os teus abraços.
105
Só quero em minha noite os teus abraços.
Que servem de acalanto e proteção,
Vencido pela força em sedução
De quem eu procurei seguir os passos.
Recolho minhas luzes nos teus braços
E vejo ao fim do túnel, redenção.
Agora que encontrei a solução,
Não quero cometer mais erros crassos.
Sou teu e tudo eu faço para ter
Felicidade boa de beber
Seguindo cada rastro abençoado
Que deixas quando passas por aqui
Sentindo o puro amor que descobri,
Mostrando ao fim da estrada um raro prado
106
Mostrando ao fim da estrada um raro prado
Prossegue a companheira de viagem,
Amar é uma eterna aprendizagem,
Às vezes é melhor ficar calado.
Enfrento a calmaria e mesmo o enfado
Sabendo que virá em nova aragem
O dia desejoso e tão sonhado,
Prazer tendo em teu corpo uma estalagem.
Se díspares buscamos mesmo senso,
Diverso do que queres quando penso,
Procuro coordenar até o fim
Sabendo ser possível a unidade
Vivendo plenamente em amizade,
Encontro aqui, contigo, amor enfim.
107
Encontro aqui, contigo, amor enfim.
E bebendo desta água eu não me canso,
O vento vem trazendo em seu balanço
O jeito de viver gostoso assim.
Tu és o que melhor existe em mim,
Certeza que apascenta o meu remanso
E traz em gesto alegre, vivo e manso
O cheiro da esperança. Quero assim
A vida que se dá pra quem se deu,
Estrela em fantasia se verteu
E trama em minha noite os universos
Longínquos de meus olhos, mas à mão.
No amor que é todo nosso, a comunhão
Trazendo algum sentido pr’os meus versos.
108
Trazendo algum sentido pr’os meus versos
Enfrento vigorosas tempestades,
Ouvindo plenamente tais verdades
Os dias com certeza vão dispersos...
De todos os meus sonhos, os seus berços
Cobertos pelas flores das saudades
Promete ao final, tranqüilidades,
Em gozos e prazeres mais diversos.
Nas mãos eu trago espinhos, pedregulhos,
Mas tendo a sensação de outros mergulhos
Afasto qualquer forma de perigo.
Depois que conheci amor perfeito
Matando a tempestade, e desse jeito,
Agora até sorrir em paz, consigo.
109
Agora até sorrir em paz, consigo,
Sabendo que enfrentei revoluções,
Os duros temporais, mil furacões,
Dormindo em mais completo desabrigo.
Colhendo bem mais joio do que trigo
Deixando para trás as plantações.
Nos olhos do amanhã, feras, leões
Na curva sempre em forma de perigo.
Amiga, amante, irmã e companheira,
Na mão que agora ampara mais ligeira
A paz toma lugar da tempestade.
A brisa costumeira que me acalma
Tomando num momento o corpo e a alma,
Aos céus vai penetrando e logo invade.
110
Aos céus vai penetrando e logo invade
Tomando cada rua e cada beco,
Arrebenta as represas e ganha eco
Espalha-se depressa na cidade.
Toando em explosão, felicidade,
Alaga um coração outrora seco,
E neste emaranhado, eu quero e peco
Bebendo até total saciedade.
No intenso fogaréu, uma esperança
Avança e não se cansa desta andança
Que trama um gosto raro; adentra o mar
Derrama no infinito tanta luz,
E o sol que farto brilho reproduz,
Espreita esta alvorada a debruçar.
111
Espreita esta alvorada a debruçar
Por sobre as flores todas do jardim,
O sol ao ver beleza, vai enfim
Deitar a maravilha sobre o mar.
Em cores tão diversas, decorar
O mundo que guardei dentro de mim,
Na tela que se mostra, sigo assim,
Sentindo o quanto é raro e belo amar.
Quarando uma esperança no varal,
O riso delicado e sensual
Convida e a festa, eu sei, nunca termina.
Na dança que se faz revolução
Eu verto sobre ti, com devoção
E bebo o meu prazer na doce mina.
112
E bebo o meu prazer na doce mina
Depois da dura seca que passei,
Agora que este oásis encontrei
Vontade de um mergulho me domina
E sigo no teu corpo a minha sina
De ter farto prazer que eu já busquei
Em terras tão diversas, só eu sei...
A lua em fantasias me alucina
E mostra novamente as nossas flores
Com pétalas diversas, multicores,
Suave melodia, sonhos gera.
O quanto eu te desejo, assim confesso
Emoldurado em luz, em versos peço:
Somemos nossos cantos, primavera,
113
Somemos nossos cantos, primavera,
Estrela que se fez em céu e mar.
Ao aprender o gosto de te amar,
Apascentei a dor, temível fera.
De tudo o que sonhei, em farta espera,
Percebo que encontrei sob o luar
O brilho que me embebe devagar
E em louca sedução vem e tempera.
Tocado por estrelas tão diversas,
Vagando pelo mar luzes dispersas
Sentindo uma alegria qual torrente.
Do céu aos mais profundos abissais,
Do mar aos infinitos sóis astrais,
Eu vou seguindo a vida simplesmente.
114
Eu vou seguindo a vida simplesmente.
Fazendo meus repentes sobre amor,
O coração se mostra sonhador
E deita sobre um sonho inconseqüente.
Aos borbotões palavras em torrente
Nadando neste mar: computador,
Às vezes passam ágeis, com vigor,
Brotando em turbilhão desta vertente.
Nascentes e cascatas, fontes tantas,
Palavras são profanas, mesmo santas
E fazem deste amor, caminho e foz.
As frases vão girando na ciranda,
Deitando o meu lirismo na varanda,
Sentindo o sol brilhando sobre nós.
115
Sentindo o sol brilhando sobre nós
Percebo quanto é boa a nossa vida.
Na boca sinto o gosto da bebida
Roubada num desejo mais feroz.
Mantendo bem distante a dor algoz,
A solidão há tempos esquecida
Jogada n’algum canto, envelhecida,
Autofágica morre em frios nós.
Assim, dois andarilhos tão unidos,
Destinos e desejos parecidos,
Tramando nesta vida comuns traços
Já sabem do prazer de tanto amar,
Eclipsando o meu sol em teu luar
Tendo a minha sina nos teus passos.
116
Tendo a minha sina nos teus passos
Esqueço o que passei, ergo a cabeça,
O sonho de viver já recomeça
Deixando os medos pálidos e lassos.
Respeito teus caminhos, teus espaços,
Mas peço, meu amor nunca me esqueça
Não tendo mais na vida tanta pressa
Caminho par a par; estreitos laços.
Somando o que nós somos, eu vejo um,
Não quero te perder de jeito algum
No barco da existência nossos remos
Unidos demonstrando que união
Permite que se encontre a solução
A par do sonho raro que vivemos.
117
A par do sonho raro que vivemos
Sentindo todo o visgo deste amor,
Percebo este poder transformador
E vago pelo rumo que escolhemos.
De toda a luz que em glória recebemos,
Mosaico de alegrias a compor
Um mundo mais sublime ao meu dispor
Além do céu imenso que nós vemos.
Ao ter nos olhos brilho da esperança
A gente vai dançando a mesma dança
No brilho que te entrego e que recebo
Dos olhos desta bela namorada,
História que passei; abandonada,
Martírios que vivi; já não concebo.
118
Martírios que vivi; já não concebo
Nem deixo mais a dor me conquistar,
Tristezas vão em bando, volto ao mar,
No fogo do prazer que ora recebo.
Um novo amanhecer, enfim percebo
Depois de tanto tempo a divagar,
Aflora no meu peito o bem de amar,
Teu néctar mavioso; agora bebo.
Quem fora simplesmente um sonhador,
Ao ver amanhecer a recompor
Estrada que trazia o mesmo não,
Não pode mais deixar de agradecer
Ao ver em belos dias perecer,
Verdugo de meus dias, solidão.
119
Verdugo de meus dias, solidão
Do sofrimento faz sua alegria,
Matando pouco a pouco, a cada dia
Impede que se veja a redenção.
Repete eternamente o mesmo não,
Trazendo a tão voraz melancolia,
Não tendo do meu lado quem queria
O vento transformado em furacão.
Porém ao ter comigo esta presença
Que traz nas mãos consigo a recompensa
Depois de tanto tempo assim de espera.
Teus olhos me remetem ao futuro
E sinto que virão do céu escuro,
Enchentes de florais na primavera.
120
Enchentes de florais na primavera
Certeza de um perfume inesquecível,
Amor quando se mostra indivisível
Já torna bem mais mansa a louca fera.
Deitando o seu luar sobre a tapera
A lua traz no amor o seu fusível
E mostra, na verdade ser possível
O sonho que se quer e que se espera.
Temperos que encontrei nos lábios teus,
Adoçam ilusões, matam adeus
E põem tal fartura em nossa mesa.
De tanto que te quis e te esperei
Agora grito ao mundo que encontrei
Uma esperança feita em fortaleza.
121
Uma esperança feita em fortaleza
Não pode ser calada ou destruída,
Pois sendo a cada dia, construída
Expressa com vigor, farta beleza.
Nos olhos de quem amo tal grandeza
Ao ver uma esperança refletida,
Percebo que encontrei em minha vida
Depois da negação, esta certeza
De ter já concebido o meu futuro
Moldado em sentimento bem mais puro,
Depois da dura queda estou refeito;
Ao ter uma alegria como cais
Eu sinto que se foi pra nunca mais
A dor que latejara no meu peito.
122
A dor que latejara no meu peito
Aos poucos se esvaindo lentamente,
Ao ver que posso amor tão plenamente
O meu prazer em ti; querida, eu deito.
Vanglória que me ufana a cada feito,
Invade com desejos minha mente,
Entorno esta vontade que é da gente
E tudo o que fizeres é perfeito.
Na sílfide divina e colossal,
O riso desejado e sensual
Encharca de vontades e ternuras...
Uma escultura rara em puro encanto
Permite-me dizer que eu quero tanto
Teu corpo; a mais divina das molduras.
123
Teu corpo; a mais divina das molduras
Espalha em minha cama mil prazeres,
Ao ter a mais perfeita das mulheres
Esqueço antigas dores, amarguras.
Enquanto a noite é plena de ternuras
Marcada pelo gozo dos quereres
Misturas que se fazem de dois seres
Promessas mais sublimes de loucuras.
No encanto que irradias; sol profano,
O tempo de viver vai soberano,
Permite vislumbrar, da terra o Céu.
E sinto o quanto quero o teu querer,
Enovelando os corpos, posso ver:
Galopa em liberdade o meu corcel!
124
Galopa em liberdade o meu corcel
Sentindo este bafejo da esperança,
Nas mãos que se procuram já se alcança
O gozo da ventura em carrossel.
Vertendo em tua boca puro mel,
A noite vaga intensa em louca dança,
A dor ludibriada enfim se cansa
A fantasia cumpre o seu papel.
E vejo, depois disso, renascer
O dia claro, envolto no prazer
Que a cada novo toque em gozo mina.
Imerso na beleza desta trama
A vida em profusão; sinto, se inflama
No sol que nos bendiz quando ilumina.
125
No sol que nos bendiz quando ilumina
Persigo cada rastro que deixaste,
O brilho que eu bem sei, tu entornaste
Há tempos com certeza, me fascina.
Desfilas o sorriso de menina
Que traz tanta pureza por contraste,
Sabendo das ternuras que encontraste
No amor em perfeição, sublime mina.
Perdoe se te falo num soneto
Que em ti, e tão somente eu me completo,
Não quero caminhar sozinho e cego.
Apenas que me escutes, eu te quero
Desejo tresloucado mostra esmero
No quanto que te quero e nunca nego.
126
No quanto que te quero e nunca nego
Eu moldo o meu futuro antes incerto,
Pois tendo o teu carinho aqui por perto
Um mar de imensos sonhos eu navego.
À vida refazendo antigo apego
Trazendo uma esperança em meu deserto
Carinhos e desejos que eu te oferto
E a cada poesia; amor, entrego.
Eu tento disfarçar, mas não consigo,
No quanto eu te desejo e tenho abrigo
Apenas no teu corpo sensual.
Numa homenagem justa ao deus amor,
Num brinde à poesia a te propor
Ergamos belas taças de cristal.
127
Ergamos belas taças de cristal
Iremos, depois disso ao infinito,
Fazendo da emoção o nosso rito,
Navego espaço aberto, sideral.
O beijo que transforma, sem igual,
Ao ter o teu carinho, o céu eu fito,
Derretes a dureza do granito,
Tu és da minha vida, sol e sal.
Eu tenho os olhos tristes de quem teve
A vida num inverno feito em neve,
Porém a primaveras se pressente
Ao ver nos olhos claros, meu farol,
Tocado dentro da alma, um girassol
Levado pela luz numa torrente
128
Levado pela luz numa torrente
Invado o amanhecer de uma esperança.
Traçando o meu futuro, na lembrança
Passado vai morrendo, felizmente.
Por mais que a solidão, audaz, já tente,
Eu tenho uma alma livre de criança
Fazendo com meus sonhos a aliança
Que sempre me permite estar contente.
Farrapos esquecidos, nem resquícios,
Consigo ultrapassar os precipícios,
Pois tenho o pensamento mais veloz
Saltando simplesmente, ignoro o muro
Trazendo o coração sincero e puro
Não temo o que virá depois, após.
129
Não temo o que virá depois, após
O tempo em que passamos tão distantes,
O rio se perdendo em variantes
Diversas do que fora, outrora, a foz.
O pensamento livre é mais veloz,
Mas segue por caminhos inconstantes.
Alvoreceres vários já garantes,
Porém a solidão se torna algoz.
Revendo os erros todos cometidos
Vontades vão roçando os meus sentidos
E entrego-me na força de teus braços
Sabendo que depois de tanto tempo
Encara novamente um contratempo,
O coração imerso em belos paços
130
O coração imerso em belos paços
Invade qualquer rua ou quarteirão,
Nos jogos tão difíceis da paixão
Errando, muitas vezes, perco os passos.
Desejos e prazeres mais devassos
Enfurnam-se no fogo em sedução,
Causando enfim, em nós, revolução,
Adentra as nossas carnes. Firmes aços.
Partindo do que fomos – seres sós,
Nas asas deste sonho, mais veloz,
No intenso vendaval que recebemos;
Depois de conhecermos o naufrágio,
Qual velho timoneiro, sábio e ágil,
O amor toma nas mãos o leme, os remos.
131
O amor toma nas mãos o leme, os remos
Enfrenta os vendavais, cabeça erguida.
Mudando assim o norte em nossa vida
No quanto em dor, prazer; nós recebemos.
Nos céus quando nublados, percebemos
A luz que, eu sei, virá mais decidida
A dor em esperança convertida
E nela, amanhecer que inda teremos.
Vagando em turbilhão, nos apascenta,
Na calmaria plena e violenta
De um gêiser refrescante aguardo e bebo
Ancoro uma alegria em turbulência
Tomado pelo doce efervescência
Carinhos mais gentis; dou e recebo.
132
Carinhos mais gentis; dou e recebo
Embora muitas vezes tenha o não
Como resposta a tal proposição,
Um dia bem melhor, sempre concebo.
Do imenso sentimento eu já percebo
O seu poder maior: transformação.
E mesmo quando encontro a negação,
O gozo da esperança eu quero e bebo.
Nos olhos de um amigo, de um amor,
Eu creio em outro dia a se compor
Deixando no passado, a solidão.
Querendo deste bem à saciedade
Amor vem soerguendo a liberdade
Deixada para trás no rés do chão.
ESPIRAL DE SONETOS PARTE 03
133
Deixada para trás no rés do chão
Rasteja pela casa a vil serpente,
Do quanto que se fez tão envolvente,
Morrendo pouco a pouco, a solidão.
Ao ter em novo amor, a redenção,
Um dia mais feliz já se pressente
E o corpo entregue ao lume incandescente
Do fogaréu imenso da paixão.
Sentindo em teu perfume esta evidência,
Na tua tez morena, a transparência
Do gozo sem limites, desfrutar.
Qual colibri que voa enamorado,
Chegando mansamente do teu lado,
Teu néctar; vou sorvendo com vagar.
134
Teu néctar; vou sorvendo com vagar
Até sentir-me pleno e saciado,
Do amor que tu me entregas, lambuzado,
Vontade de invadir e de ficar
Posseiro de teu corpo a me embrenhar,
Meu barco nos teus portos, ancorado
No mar do amor imenso, naufragado
Viagem sem limites e sem par.
Sem cercas ou fronteiras, somos um,
No gozo que se explode, um bem comum,
Não tendo qualquer forma de defesa
A lua dos amantes, sem juízo,
Ao pratear insano paraíso
Derrama sobre nós farta beleza,
135
Derrama sobre nós farta beleza
Constelação de cores mais diversas,
Unindo sensações antes dispersas,
Traz raras iguarias para a mesa.
E o quarto se transborda em correnteza,
Voando o pensamento em belos persas
Tapetes maviosos, gozos versas
E deitas fabulosa uma certeza
De ter as soluções nos frágeis frascos
Quebrando dos temores os seus cascos,
Eu sigo em tal magia, satisfeito,
A solidão distante e já sem prumo,
Sem norte ou direção, perdendo o rumo
Ao ver o seu caminho contrafeito
136
Ao ver o seu caminho contrafeito,
A dor em solidão nos abandona,
De todos os desejos és a dona,
Domando a rebeldia que em meu peito
Tornara em rumo incerto e insatisfeito
O vago que voltando sempre à tona
Enquanto a fantasia inda ressona
Incorpora a tristeza enquanto deito.
As farpas que trocamos vez em quando
Deixaram cicatrizes. Mas voltando
Os olhos para estrelas bem mais puras
Pudemos vislumbrar, com alegria
Um novo amanhecer que enfim seria
Repleto de prazeres e ternuras.
137
Repleto de prazeres e ternuras.
Que encontro tão somente em ti, querida,
Alvíssaras invadem nossa vida
Tramando o doce alento das loucuras.
Cerzindo com belezas emolduras
Em nós a maravilha pressentida
No quanto a luz se fez e foi vertida
Nas plêiades, fantásticas molduras.
Qual fora um beija-flor enamorado,
Vagando flor em flor, sinto ao meu lado
Depois de tanto vôo, cego, ao léu
Permito-me dizer do quanto é belo
Este mundo noviço que revelo,
Bebendo nesta boca o doce mel.
138
Bebendo nesta boca o doce mel
Que traz uma fartura feita em gozo,
O tempo de viver é caprichoso
E às vezes nos parece mais cruel.
Sentindo esta vontade em fogaréu,
No mar que se faz farto e melindroso
De uma tranqüilidade sou esposo
Galgando em tua pele ascendo ao céu.
A vida prosseguindo assim, suave
Não tendo mais tristeza que me entrave
Embarco nos teus sonhos de menina
Castelos que criamos. Fantasias,
E um mundo todo pleno em alegrias,
Felicidade imensa descortina.
139
Felicidade imensa descortina
Sorvendo cada gota de prazer,
O canto em que me sinto embevecer,
A cada novo instante determina
O rumo ao qual amor já nos destina,
Um deslumbrante e clara alvorecer.
No corpo enlanguescido eu posso ver
Beleza sem igual, diamantina.
Decifro os teus sinais e sigo os rastros,
No amor que me extasia tenho os lastros
E com toda certeza, assim trafego
Sem medo de encarar quaisquer tempestas,
Sabedor dos caminhos – curvas, frestas,
Ao bem de tanto amor, eu já me entrego.
140
Amor fazendo amor, prazeres gera
E nisso se refaz nova esperança,
No trilho que prossigo a cada andança
Acalmo toda dor, esmago a fera.
No peito de quem sofre; uma cratera
Destrói em solidão a confiança
Apenas no amor, tenho a fiança
De ver nascer mais forte a primavera.
Entrego cada passo, rumo certo,
Aguando em alegria o meu deserto,
Tocado pelo intenso vendaval.
Felicidade imensa se revela
Quando minha alma calma já se atrela
Ao bem que se mostrando sem igual.
141
Ao bem que se mostrando sem igual
O coração se faz doce e cativo,
Nas tramas deste sonho eu sobrevivo
E bebo cada gota, triunfal
O amor faz da alegria um ritual,
Do quanto sou feliz jamais me privo,
Erguendo o meu olhar, prossigo altivo
Já sei desta aventura o seu final.
Após perambular a vida inteira
Na busca sem limites, verdadeira
Cansado da mesmice de um adeus,
Depois de conhecer o duro inverno,
Atravessei os pórticos do inferno,
Chegando depois disso aos braços teus.
142
Chegando depois disso aos braços teus
Após os erros todos cometidos,
Enganos que já foram esquecidos
Percebo o quanto é triste um vago adeus.
Alegrias se dão em himeneus
Deixando os meus terrores destruídos,
Os dias mais felizes pressentidos
Invadem os sentidos, nossos, meus...
A par do que sentimos nada temo,
Nem toda a aleivosia, nem o Demo,
O mal adormecido não me alcança.
Ao ter tanta certeza aqui comigo,
No passo mais audaz sempre prossigo
Contendo em minhas mãos esta esperança.
143
Contendo em minhas mãos esta esperança
Menina bem travessa faz a festa,
O quanto que eu já tive, a vida gesta
Deixando o bom sabor de uma festança.
Uma esperança a mais amor alcança
E adentra qualquer pântano ou floresta
Loucuras de prazer, amor atesta
E a noite se permite vir mais mansa.
Joguete dos sentidos, riso e pranto,
Do quanto necessito, eu não me espanto
Escravo consciente da paixão.
Na força imorredoura deste sonho,
A cada novo verso eu te proponho
Fartura de esperança e de emoção.
144
Fartura de esperança e de emoção
Coloco a fantasia em cada verso,
Não quero mais saber de andar disperso,
Encontro finalmente a direção
Cansado de enfrentar o mesmo não
Eu quero abrir o peito ao universo,
Nos braços de quem quero, vou imerso,
E a vida agora mostra a perfeição.
Depois de tanto tempo, sendo frágil,
Após colecionar queda e naufrágio,
Encontro o meu destino verdadeiro.
Singrando os oceanos da loucura
Percebo o fim de toda esta procura
Levando para a praia o meu saveiro.
145
Levando para a praia o meu saveiro
Encontro no teu corpo, ancoradouro,
O derradeiro porto, o meu tesouro,
Meu sol de intenso brilho, alvissareiro.
Muito além de um prazer mais corriqueiro
Nas ondas de teus mares eu me douro,
E sinto finalmente o bom agouro
Roçando os meus lençóis, meu travesseiro.
Estampas num sorriso o quanto queres
Além deste desejo que conferes
A quem se fez cativo destes laços
Eternidade feita em atitude
Eu sinto renovar-me em juventude,
Vagando a noite, imerso nos teus braços.
146
Vagando a noite, imerso nos teus braços
Adentro pelas praias da loucura,
Estendo o meu navio na procura
De ter a plenitude dos espaços
Deixados no caminho, sigo os passos
De quem se fez distante da amargura,
Numa explosão sem par, farta ternura
Amenizando a vida, cala os aços.
Não quero mais amor em solilóquio
Seja em Paris, em Roma, Rio ou Tóquio
Eu quero estar contigo lado a lado.
Melancolia outrora uma vizinha,
Abandonada morre tão sozinha
Jogada na gaveta do passado.
147
Jogada na gaveta do passado
Lembrança que se fez um duro algoz,
A noite vem trazendo a sua voz
Deixando o coração desesperado.
O grito da esperança em alto brado
Socorre o pensamento e vem veloz,
De novo uma promessa traz os nós
Do amor que em pleno se fez atado.
De sentimentos frios e servis,
Marcando em ferro frio, a cicatriz
Não deixa uma alegria transbordar.
Porém ao ter aqui tua presença
Espero finalmente a recompensa
Agora que encontrei o bem de amar.
148
Agora que encontrei o bem de amar
A par do que sentimos vou em frente.
Meu peito ao se mostrar assim contente
Já sabe do prazer que irá chegar.
Partilha tão gostosa de tramar
Ao ter quem com carinho nos alente
Num toque mais suave a gente sente
O mundo em esperanças mergulhar.
Na dança a contradança se garante
E tudo se transforma ao mesmo instante
Em que nossos sentidos vão imersos
Trazendo à flor da pele a sensação
De quem já descobriu a direção
Vagando nos meus sonhos, nos meus versos.
149
Vagando nos meus sonhos, nos meus versos
Palavras multiplicam sensações,
Estrelas mergulhando aos borbotões
Medos vagalumeiam, vãos, dispersos.
Não quero mais rancores tão perversos
Nem mesmo em minha vida os turbilhões,
Bebendo da alegria tais poções
Adentro os mais incríveis universos
A sorte está lançada nestes dados,
Mudando com certeza, velhos Fados,
Prenúncios de alegria em minha vida.
Tristeza tão amarga de tragar,
Sumindo no horizonte devagar,
Nos olhos da esperança vai vencida.
150
Nos olhos da esperança vai vencida
Amarga solidão, temível fera.
Ao ter quem tanto quis em larga espera
Percebo um novo tom em minha vida.
Por mais que a noite venha a ser doída
Tua presença agora me libera
Ao mesmo tempo a luz se regenera
Aponta ao fim de tudo, uma saída.
Olhando o meu reflexo no teu rosto
Eu vejo o quanto quero estar exposto
Nesta vitrine imensa e magistral.
Reluzes com raríssima ternura
E a vida ao se mostrar plena ternura
Espelha esta beleza sem igual.
151
Espelha esta beleza sem igual
O rosto da mulher que me encantou,
Reflete num sorriso angelical
Aquilo que o amor proporcionou.
Na boca tão carnuda e sensual
O beijo da alegria se entornou,
Bebendo o teu prazer suor e sal
Concebo o que meu sonho em ti buscou.
Na tua morenice mais matreira
Explorador perfaz sua bandeira
E sabe o que deseja desbravar.
Amor que não permite uma fronteira
Percebe uma alegria verdadeira
Sentindo uma esperança aqui chegar.
152
Sentindo uma esperança aqui chegar
Eu faço de meu verso um estandarte
Podendo mansamente enfim, amar-te
Tocado pelo sonho, invado o mar
E sinto que é preciso navegar
Além de um infinito irei buscar-te
Teus rastros; espalhaste em toda parte,
Pressinto a imensidão a me tocar.
Não temo mais batalhas, labirintos,
Vulcões da solidão eu sei extintos,
E sinto a calmaria quando deito
Trazendo em nosso amor esta certeza,
Vencendo em destemor qualquer surpresa:
Uma esperança imersa em nosso peito.
153
Uma esperança imersa em nosso peito
Aos poucos vai mudando o meu caminho,
Pois quando em teu amor eu já me alinho
Felicidade mostra-se um direito.
O rumo para a glória é bem estreito,
Não permite sequer sonhar sozinho.
Arranco com firmeza cada espinho
Enquanto o meu destino, agora aceito.
Luzindo no vigor de uma manhã
Encaro com destreza cada afã
E a doce fantasia amor conduz.
Vencendo os temporais que eu encontrar
A vida com certeza irá brilhar
Não tendo em minha vida urze nem cruz.
154
Não tendo em minha vida urze nem cruz
Estendo o coração neste varal,
Enfrento qualquer medo ou temporal,
Sabendo que contenho imensa luz.
Ao vento da saudade eu já me opus,
E desta luta insana, triunfal,
Fazendo do teu corpo a catedral
Que imensa fantasia reproduz.
Ao ver depois de tudo, um horizonte,
A vida vai cessando o seu desmonte
Depois de tanto tempo em dura espera
Renasço e vou feliz, sabendo disto.
Repito novamente – sempre insisto-
Amor fazendo amor, prazeres gera.
155
Amor fazendo amor, prazeres gera
Círculo vicioso e benfazejo,
Extrema sensação, louco desejo,
Aflora a insanidade da pantera.
Rasgando no meu peito a primavera
Entranha as maravilhas que eu almejo,
Floradas sem igual; quero e prevejo,
Sem ter o sofrimento feito espera.
Felicidade é feita a cada dia,
Tocando pelo vento que queria
Transforma a tempestade em brisa mansa.
Alucinadamente, eu me inebrio,
Vertendo em doce insânia, este pavio,
Encanto em profusão, nossa aliança
156
Encanto em profusão, nossa aliança
Pressupõe risos francos, fartos gozos,
Trafego por espaços prazerosos
E à terna fantasia, amor alcança.
Olhar enamorado por léguas trança
Invade os arvoredos mais frondosos
Grileiro enfrenta os riscos tenebrosos
Até chegar à senda bela e mansa.
Caminhos que desvendam meus segredos
Permitem vislumbrar novos enredos,
Pujantes esplendores da esperança.
Envolto pela luz em que tu brilhas,
Por mais que sejam duras nossas trilhas
Quem ama de verdade não se cansa.
157
Quem ama de verdade não se cansa
Decifra todos os signos que encontrar,
Não teme mais distância, enfrenta o mar
E segue, peito aberto, com pujança.
Nas ruas e luares, a lembrança
Permite o que se quer rememorar,
Fazendo de teu porto o meu altar,
Numa alegria imensa de criança.
O coração de um triste sertanejo,
Entregue à sensação – calmo desejo,
Escuta um canto amargo do passado,
Mas tendo o plenilúnio de um amor,
Compõe num verso breve e sonhador,
Toada de um caboclo enamorado.
158
Toada de um caboclo enamorado
Espalha no sertão um canto leve,
A lua extasiada já se atreve
E chega com fulgores ao seu lado.
Distante de outro verso rebuscado
Espalha uma emoção sincera e breve,
A cada novo acorde já descreve
O quanto é bom estar apaixonado.
Na lírica explosão dos sentimentos,
O coração liberto exposto aos ventos
Encarna a divindade num segundo,
O simples sertanejo sabe bem
Que todo este universo já contém
Quem tem dentro de si amor profundo.
159
Quem tem dentro de si amor profundo
É quase um semideus, conhece a glória,
Não sabe mais da dor tão merencória,
Permite-se num sonho, novo mundo.
De toda esta alegria eu já me inundo
E sinto vir no vento uma vitória,
Estrada antes deserta, agora é flórea
Secando o pantanal, outrora imundo.
A lúdica emoção de ser criança
Na qual a fantasia enfim descansa,
Amor não mais se perde, um andarilho.
E tendo o raro lume que me invade,
Numa bonança após a tempestade,
Estrelas multiplicam farto brilho.
160
Estrelas multiplicam farto brilho
Espalham sobre a Terra diademas
Nos olhos sonhadores, seus emblemas
Vencendo qualquer forma de empecilho.
Atalho meus caminhos, sigo o trilho
Deixando bem distantes os problemas,
Querida, não há nada que tu temas
Nas sendas deste amor que eu engatilho.
A solidão que fora duro algoz,
Ao ter a percepção dos nossos nós
Aos poucos se apascenta e vira brisa.
Varrida para sempre dos caminhos,
Vencida pela força dos carinhos,
Numa esperança viva, ela agoniza.
161
Numa esperança viva, ela agoniza,
E morre pouco a pouco, lentamente,
Quem fora sempre sórdida, inclemente,
Transforma-se num vento manso, em brisa.
Às vezes um sorriso mimetiza,
Retrato que se mostra opalescente,
Porém amor já deixa transparente
E o sentimento em paz à glória visa.
Ao vê-la padecendo, eu regozijo
De todos os temores já me alijo,
Recebo o bom frescor da primavera.
Ao ter do manso amor clara certeza,
Levado por divina correnteza,
Esqueço a solidão, temível fera
162
Esqueço a solidão, temível fera
Ao ter tua presença aqui, comigo,
O quanto que passara em desabrigo
Na espreita, de tocaia, numa espera.
Aberta no meu peito, uma cratera
Exposta a qualquer forma de perigo,
O sentimento amargo e tão antigo
Durante a vida inteira me tempera.
Porém ao perceber tua atitude
Vencendo assim qualquer vicissitude
Recebo o vento amável que persigo.
Refazes com carinho a juventude,
Desta alegria imensa, faz-se açude.
Atando nossos nós, irei contigo.
163
Atando nossos nós, irei contigo
Cercado pelos brilhos deste sonho,
O quanto eu te desejo e te proponho
Um mundo mais feliz; quero e consigo.
Teus passos pela vida, agora eu sigo
E vejo amanhecer calmo e risonho,
Não tendo mais segredo vil, medonho
Enfronho meu destino em nosso abrigo.
Durante o duro inverno que passamos,
Frondosas esperanças, fortes ramos
Mostraram mais possíveis tais encantos,
Mudando num momento esta estação
Aquece-se na força de um verão
O frio em minhas mãos, tremores tantos...
164
O frio em minhas mãos, tremores tantos,
Enrijece meus dedos, corta fundo.
Atravessando o tempo num segundo
Eu busco a primavera em seus encantos.
Procuro os teus sinais vasculho os cantos,
Vagando sem descanso pelo mundo.
Em vértices diversos me aprofundo
E colho tão somente, dores, prantos.
Quisera poder ter a claridade
De ter sempre comigo a liberdade
E nela o pleno amor já se entranhando.
E quando sinto enfim o teu sorriso,
Percebo como fora algum aviso
Tentáculos da sorte nos tocando.
165
Tentáculos da sorte nos tocando
Exprimem o que sempre desejei,
Fazendo deste sonho a nossa lei,
Eu sinto o nosso amor me libertando.
As dores e tristezas sempre em bando
Depois de certo tempo, naveguei,
Porém no amor imenso eu me entreguei
E o mundo de repente foi mudando.
Mundanas fantasias, fátuo fogo,
Agora em luz sublime já me afogo
E vejo um claro dia, de repente.
Fazendo a ti, querida, uma homenagem,
Meu peito vai se abrindo em nova aragem,
Brindando à nossa glória fartamente.
166
Brindando à nossa glória fartamente
Inebriado sonho ao qual me entrego,
Prazer que em fonte rara não renego,
Expressa o que desejo plenamente.
O quanto é necessário que contente
Um coração outrora vago e cego,
Permite-se dizer que em raro apego
A vida transbordada em tal torrente.
Sagrando cada verso que eu te faço
Ao novo amanhecer sem embaraço,
Nas águas da monção do amor me inundo.
Na bela alegoria em claro véu,
Eu toco num momento imenso céu,
Vivendo o nosso amor, raro e profundo.
167
Vivendo o nosso amor raro e profundo
Estendo as minhas mãos ao infinito,
Amolecendo em paz, duro granito,
O tempo vai mudando, giramundo.
Um coração que outrora vagabundo
Não tinha uma esperança como rito,
Ao ter o teu sorriso tão bonito
Transforma a sua sina em um segundo.
Agora ao perceber rara ventura,
A noite que virá não mais escura
Trará a eternidade a cada passo.
O vento transformado em mansa brisa
Audaz e com certeza mais precisa,
Minha esperança afeita ao teu abraço.
168
Minha esperança afeita ao teu abraço
Não quer desvincular-se nunca mais,
Agora que encontrou seu manso cais
Recebe o vento calmo a cada passo.
Atados lado a lado não desfaço
Os nós que nos uniram, magistrais,
Vencendo os precipícios abismais
Um novo alvorecer contigo, contigo eu traço.
Qual fora um privilégio inesquecível
A força que nos une, indestrutível
Impérios constelares segue e trilha.
Sentindo finalmente esta magia:
O quanto a vida em paz já se anuncia
Em minhas mãos contendo a maravilha.
169
Em minhas mãos contendo a maravilha
De um dia mais feliz que procurara
Deixando bem distante a senda amara,
Adentro o puro amor, e sigo a trilha
Da luz que tantas vezes, andarilha
A minha redenção desamparara.
Cortando bem mais fundo, em dura escara,
Fechando dos meus sonhos a escotilha.
Em cântaros meus olhos se verteram,
Até que finalmente perceberam
Estrela matutina que se alcança
Apenas num segundo, em pensamento,
E o brilho desta estrela num momento,
Entorna sobre nós rara esperança
170
Entorna sobre nós rara esperança
O brilho em carrossel do amor que trazes,
Não tendo mais palavras sequer frases,
Apenas este amor que agora alcança
Minha alma que guardara na lembrança
Distantes ilusões, longínquas fases
De dias tão doridos quanto audazes
Matando o que restou de uma criança.
Das farpas que trazia em ironia,
A mansidão na voz demonstraria
A força deste amor, claro e preciso.
Mulher maravilhosa, bela e sábia
Trazendo na doçura, tanta lábia,
Sabendo transformar a dor em riso.
171
Sabendo transformar a dor em riso
As tuas mãos mitigam sofrimento,
A vida vai tomando enfim assento
Trafego esta ilusão, vou sem aviso.
Metamorfoseado eu me matizo,
Seguindo até o fim, nego o tormento,
Enquanto estou contigo eu me apascento
E em cada novo dia, mais conciso.
Por vezes me escondera e numa espreita
Sentindo uma alma livre e satisfeita,
Eu quis estar contigo lado a lado,
Sorvendo cada gota da esperança
Que imerso em pleno amor, a glória alcança
Nos raios deste céu iluminado.
172
Nos raios deste céu iluminado
Eu vejo refletido um raro sol,
Inunda em claridades o arrebol
Deixando um rastro imenso e bem traçado.
O pensamento audaz prossegue alado,
Seguindo cada brilho, girassol,
Refém da magnitude do farol
De toda esta beleza, enamorado.
Quem sente a maravilha de poder
Decifrar os enigmas do prazer
Adentrando o nirvana num segundo,
Ao ter a força imensa de um amor
Não é mais tão somente um sonhador,
Já sabe conquistar, decerto o mundo.
173
Já sabe conquistar, decerto o mundo
Aquele que se mostra por inteiro,
Amor que é benfazejo e verdadeiro,
Um sentimento raro e tão profundo.
Nos braços deste sonho eu me aprofundo
E sinto o vento manso e lisonjeiro
Que trama num sorriso, mais matreiro,
Atando um coração que é vagabundo.
Adentro as doces sendas da emoção,
Tocado pelo lume em sedução,
Amor dispara assim, o seu gatilho.
E tendo a claridade que sonhara,
Meu passo com firmeza já se ampara,
Não vendo mais sequer um empecilho.
174
Não vendo mais sequer um empecilho
Afasto os pedregulhos do caminho,
Adorno em fantasias este trilho,
Priorizando a rosa, mato o espinho.
Não quero a solidão de um triste exílio,
Por isso no teu colo – amor – me aninho
Das tramas da esperança, como um filho
Eu bebo cada gota, esgoto o vinho.
Meus olhos procurando o firmamento
Percebem nos teus olhos este ungüento,
E a sorte num momento já me avisa
Do quanto eu sou feliz em te querer
Raiando em bela aurora – eu posso ver -
Manhã vem renascendo em mansa brisa.
175
Manhã vem renascendo em mansa brisa
Depois da tempestade que passamos.
Das árvores do amor, quebrando ramos,
O sol que agora nasce nos avisa
Do quanto é necessária a mão precisa
Na qual, felicidades encontramos,
Ao mesmo tempo em que nos aparamos
A dor vai fugidia, assim desliza
Por entre os descaminhos; solitária,
Palavra benfazeja é necessária
E mostra ser possível novo dia.
Assim iremos juntos, solidários
Decerto não seremos solitários
Já tendo uma esperança como guia.
176
Já tendo uma esperança como guia
Enfrento a solidão com destemor,
O quanto se faz claro que este amor
Derrama sobre nós a poesia.
Da voz que tanto tempo me dizia
Que a cada novo obstáculo a transpor
O sentimento encontra mais vigor,
Mostrando em plena paz tanta alegria
Eu sinto o toque calmo e soberano,
Cerrando para sempre o desengano,
Condenado ao eterno desabrigo.
Qual lavrador que um sonho cultivara,
Numa colheita amena, bela e rara
Recolho cada rastro que persigo.
177
Recolho cada rastro que persigo
Deixado pelos cantos da cidade.
Separo na colheita joio e trigo,
Encontro o que mais quero; a liberdade.
Partilha que se faz leva consigo
Princípios da total fertilidade,
Além de simplesmente ser amigo
Eu quero o teu amor, eis a verdade.
Num átimo percorre o pensamento,
Levando para longe num momento,
Invade sem porteiras, outros cantos,
Nas mãos frias, suadas, passo a ter,
E aos poucos já começo a perceber
Sintomas que demonstram tais encantos.
178
Sintomas que demonstram tais encantos
Diagnosticam amores incontidos,
Sussurros misturados com gemidos,
Sorrisos invadindo calam prantos.
Dos corpos que se buscam feitos mantos
Temores são deveras já vencidos
Numa explosão sem par, nossos sentidos
Entregues à loucura sem espantos.
Numa explosão divina, pois atômica,
A intensa confusão se faz harmônica
Revolução do gozo, insano bando.
E em meio a tanta insânia, alucinante,
Surgindo em claridade deslumbrante,
O dia em alegria vem raiando.
179
O dia em alegria vem raiando
Invade com seus brilhos nossa casa,
Fagulhas antevendo intensa brasa
Que aos poucos todo o sonho vem tomando.
Sinais que amor nos mostra, decifrando
A sorte nos sorri e não se atrasa
O pensamento, enfim vai criando asa
E não pergunta mais aonde e quando.
Apenas se deixando navegar,
O velho timoneiro adentra o mar
E o gozo da alegria já pressente.
Captando a luz intensa deste sol,
Seguindo o brilho insano de um farol,
Amor mudando o rumo, de repente.
180
Amor mudando o rumo, de repente
Por mares poucas vezes navegados,
Recebe da alegria os seus recados
E sabe convergir completamente.
Atalha por um rumo diferente
E imerso em maravilhas, calmos prados
Olvida num momento os duros brados
E o vento em mansidão, agora sente.
Liberto das algemas que trouxera,
Refaço a mais sublime primavera
De toda a calmaria enfim, me inundo.
Ao ter tal percepção, águo o deserto
Depois de tanto tempo e já liberto,
Permito ao coração ser vagabundo.
181
Permito ao coração ser vagabundo
Vagando, colhe estrelas, rasga o céu,
Galopa sem limites meu corcel
Persegue em pensamentos, novo mundo.
Destinos tão diversos que confundo
Estradas sem destino, vou ao léu,
A vida vai girando em carrossel,
E a cada nova volta me aprofundo.
Invado as negritudes abissais,
Em meio a teus carinhos sensuais
Desenho o meu desejo traço a traço,
Minha rosa dos ventos eu perdi,
Mas bebo do prazer que achei em ti
Numa explosão extrema em cada passo.
182
Numa explosão extrema em cada passo
Caminho entre os espinhos, pedregulhos,
Ouvindo nas marés, loucos marulhos,
Meu peito vai se abrindo e cede espaço
Um novo amanhecer, agora eu traço,
Deixando para trás velhos entulhos,
Enterro o que guardara, meus orgulhos
Fortalecendo assim, os nossos laços.
Aprendo estas lições que me ensinaste,
Contendo uma erosão, cessa o desgaste,
Atada em nossos pés a mesma anilha.
Fomento uma alegria renovada,
Depois da dura e fria madrugada,
Um novo alvorecer, meu canto trilha.
183
Um novo alvorecer, meu canto trilha
E espalha além do amor, boa vontade,
Chegando a cada canto da cidade
Na voz da poesia, uma andarilha.
Depois de consertar, do barco, a quilha,
O pensamento abarca e agora invade
O quanto eu desejara em liberdade,
Não quero ser na vida, simples ilha.
Unindo nossos versos, companheira,
Da vida, a mais perfeita mensageira
Formada pelos brados, teus e meus.
Na força da amizade, amor se insere
Portando amanhecer que um sonho gere,
Deixando à solidão, somente o adeus.
184
Deixando à solidão, somente o adeus
Estendo o meu olhar ao infinito,
Alçando em liberdade, solto o grito
E encontro os teus sorrisos sobre os meus.
Nos sonhos embolados, dois Morfeus,
Decifram cada sonho já descrito
Toando em comunhão, no mesmo rito
Do amor que nos transporta e leva a Deus.
Nas mãos entrelaçadas, igual prece,
Aos meandros do amor já se obedece
E nisso o caminhar se faz preciso,
Pareado contigo eu não me canso,
E enquanto a cada dia assim avanço,
Adentro ao mais sublime paraíso.
185
Adentro ao mais sublime paraíso,
Constelações; encontro a cada passo
O pensamento alçando o livre espaço
Espalha em meu caminho, o teu sorriso.
A sorte que se fez sem um aviso
Espelha no teu rosto cada traço
E a cada amanhecer de novo eu faço
Andanças tão fantásticas que biso.
Com toda esta esperança, aberto o peito,
Felicidade plena, agora espreito,
Prossigo sempre nesta direção.
Recolhendo as estrelas que espalhaste
Percebo quanto em mim tu perfumaste
Vivendo, com certeza esta paixão.
186
Vivendo, com certeza esta paixão
Eu sinto que terei num novo dia
O bem que na verdade já queria
Trazendo à nossa vida uma emoção.
Cansado de encontrar a negação
Pensara tão distante uma alegria,
Porém ao me embrenhar na fantasia
Percebo a mais total transformação.
Uniformes vontades junto iremos
Chegando ao que sonhamos e queremos,
Nas tramas deste amor que é feiticeiro
Vislumbro um belo e claro amanhecer,
No espelho da esperança eu posso ver
Olhares num só brilho, verdadeiro...
187
Olhares num só brilho, verdadeiro
Norteiam com amor a direção
Além do que prediz uma ilusão,
Recolho raras flores no canteiro
Recebo o teu perfume, sei teu cheiro
Afago os teus cabelos, tentação.
Mergulho no teu corpo em cada vão,
Persigo cada rastro, vou inteiro.
Enquanto a noite chega e a vida passa
A lua com seus raios nos abraça
E eu sinto o teu calor, quero teus braços.
Unidos adentramos madrugada,
Durante esta fantástica caçada
Entrego-me, cativo, nestes laços...
188
Entrego-me, cativo, nestes laços
Qual fora na caçada, a tua presa,
Sem medos, sem pudores ou defesa
O peito exposto aos loucos, firmes aços
Recolho cada qual dos meus pedaços
Hipnotizado, imerso em tal beleza;
Quem sabe desta sorte sempre a preza
E deixa-se prender pelos teus braços.
Uma alegria é rara nesta vida,
A sorte se mostrando decidida
Permite um novo tempo, renovado
Felicidade plena agora vejo
Sorvendo cada gota do desejo
Sentindo esta presença aqui do lado.
189
Sentindo esta presença aqui do lado
De quem eu procurei a vida inteira,
Eu sinto uma alegria alvissareira
E deixo bem distante o meu passado.
Um dia que se faz iluminado
Ao ter o puro amor como bandeira
Ao ver esta alegria verdadeira
Encontra o rumo certo e procurado.
Sabendo desta glória, agora sigo
Aberto o coração junto contigo,
Recebo o doce alento em poesia
E tendo esta certeza vou em paz
Vivendo esta ilusão que amor nos traz
Entrego-me a mais bela fantasia.
190
Entrego-me a mais bela fantasia
Deixando-me levar, caminho ao léu
Conheço em teus carinhos claro céu
Vislumbro a maravilha em novo dia.
A vida vai rodando em carrossel
Às vezes com tristeza ou alegria
Renova-se decerto com magia
Por vezes benfazeja ou mais cruel.
Quem ama na verdade sente medos,
Conhece dos prazeres os segredos
E perde-se em caminhos mais dispersos.
Se a nada ou a ninguém ele obedece
Amor velho travesso sempre tece
Sentimentos perfeitos e diversos...
191
Sentimentos perfeitos e diversos
Dominam minha vida de poeta,
Escrevo de maneira mais direta,
Sem ter mirabolantes, raros versos.
Adentro os mais distantes universos
Andando em linha quase nunca reta,
Felicidade plena é minha meta
Porém os meus caminhos são dispersos.
Amor faz molecagem com meu peito
Às vezes vou feliz e satisfeito,
Mas vendo uma palavra distraída
Num vício que me fez ser trovador
Eu sinto nestas letras, MEU AMOR,
Prenúncios de prazer em minha vida.
192
Prenúncios de prazer em minha vida
Encontro nas manhãs de primavera,
O vento que me toca vem e gera
De todo labirinto, uma saída
A mão que se permite decidida
Enfrenta em destemor amarga fera,
Se eu tenho uma alegria que tempera
A dor de vez em quando, já duvida.
Fazendo um reboliço sem limites,
Às vezes não quer mais quaisquer palpites
E bate na janela, em temporal.
Porém escuridão não mete medo,
Sabendo usufruir, sei o segredo
No lume deste amor fenomenal.
193
No lume deste amor fenomenal
Vejo tuas pegadas, sigo cada.
Depois de perceber a derrocada
Enfrentei mais temível vendaval.
Às vezes me estrepei fui muito mal
Em outras a vitória anunciada
Não deu depois de tudo, quase em nada.
Porém agora eu sigo; triunfal,
Os rastros dos teus olhos fonte rara
Da luz de uma esperança, forte e clara,
Capaz de toda história transformar,
Meu barco que se fez sem timoneiro,
Tocado pelo vento mais ligeiro,
Adentra num momento a praia e o mar.
194
Adentra num momento a praia e o mar
Saveiro dos meus sonhos, triunfante,
Caminha por um rumo mais constante
Até que em manso cais possa chegar.
Eu quero em calmaria naufragar
Ao ver tanta beleza num instante,
Vencer a correnteza provocante
Beber até o dia clarear.
Chamando para a festa esta incansável
Parceira que se mostra mais amável
Deitando o seu carinho no meu peito.
O rio que decerto me convinha
No peito sonhador, logo se aninha
Fazendo do luar seu claro leito.
195
Fazendo do luar seu claro leito,
Meu verso se entregou a tanto encanto,
Ouvindo em espiral o belo canto,
De todos os meus sonhos, satisfeito.
A cada novo dia eu me deleito
E vejo o claro amor por todo canto,
Se assim, somente assim, agora eu canto
Encontro rara estrela quando deito
No teu sorriso manso de criança
Um acalento eterno da esperança
Em toda magnitude reproduz
O brilho deste amor que nos inflama,
Causa revolução enquanto em chama
Adentra o mar imenso feito em luz.
MARCOS LOURES
Quem teve uma esperança como guia,
Adentra o mar imenso feito em luz,
O vento da mais pura poesia
Beleza de teus olhos reproduz.
De todo sonho, o bem que eu te propus,
Semblante extasiado em alegria,
O canto feito em glória me conduz
Aos braços deste amor que me enfim me queira.
Somemos nossos cantos, primavera,
Ergamos belas taças de cristal
Ao bem que se mostrando sem igual
Amor fazendo amor, prazeres gera.
Em minhas mãos contendo a maravilha
Um novo alvorecer, meu canto trilha.
2
Um novo alvorecer meu canto trilha
Seguindo cada rastro que deixaste,
Abrindo no meu peito uma escotilha
Amor faz com tristezas um contraste,
Minha alma que antes fora uma andarilha
Bebendo esta esperança que legaste
Os uivos das saudades em matilha
Não rompem da alegria esta dura haste.
Eu vou seguindo a vida simplesmente,
Levado pela luz numa torrente
Chegando depois disso aos braços teus.
Encanto em profusão, nossa aliança
Entorna sobre nós rara esperança
Deixando à solidão, somente o adeus.
3
Deixando à solidão somente o adeus
Vencemos nossos medos, simplesmente,
Tocado pela luz dos olhos teus
Meu rumo se transforma totalmente.
Não quero mais seguir rumos ateus,
Ao ver amor tão puro claramente
Não quero ser vassalo nem ser deus,
Vontade de te amar se faz urgente.
Sentindo o sol brilhando sobre nós,
Não temo o que virá depois, após,
Contendo em minhas mãos esta esperança;
Quem ama de verdade não se cansa
Sabendo transformar a dor em riso,
Adentro ao mais sublime paraíso.
4
Adentro ao mais sublime paraíso,
Teu corpo iluminando a nossa cama.
Amor que veio vindo sem aviso
Acende em brasa imensa, a velha chama.
Meu verso se tornando mais conciso
A cada nova estrofe sempre exclama,
Falando deste amor calmo e preciso,
Negando a dor solene, amargo drama.
Tendo a minha sina nos teus passos,
O coração imerso em belos paços
Fartura de esperança e de emoção.
Toada de um caboclo enamorado,
Nos raios deste céu iluminado
Vivendo, com certeza esta paixão.
5
Vivendo com certeza, esta paixão,
Eu sigo cada rastro que tu deixas,
Sentindo este perfume, sedução,
Não tenho mais na vida quaisquer queixas.
Tocado pelo amor, louco tufão,
Afago com carinho esta madeixas
Jamais em minha vida digo o não,
Decifro teus desejos, tuas deixas.
A par do sonho raro que vivemos,
O amor toma nas mãos o leme, os remos,
Levando para a praia o meu saveiro.
Quem tem dentro de si amor profundo,
Já sabe conquistar, decerto o mundo,
Olhares num só brilho, verdadeiro...
6
Olhares num só brilho, verdadeiro,
Seguimos pareados pela vida;
Usando em mesma cor, nosso tinteiro
A sorte derradeira e prometida.
O mundo se mostrando alvissareiro
Percebo, neste amor, uma saída
Matando o medo algoz e feiticeiro
Entorno uma esperança tão querida.
Martírios que vivi já não concebo;
Carinhos mais gentis; dou e recebo
Vagando a noite, imerso nos teus braços,
Estrelas multiplicam farto brilho,
Não vendo mais sequer um empecilho
Entrego-me, cativo, nestes laços...
7
Entrego-me, cativo, nestes laços,
Sentindo a brisa mansa me tomando,
Aos poucos, infinito penetrando
Bem firmes meus caminhos e meus passos.
Nos céus de nosso amor, claros espaços
Meu barco nos teus mares navegando,
Não quero e nem pergunto aonde e quando,
Só quero em minha noite os teus abraços.
Verdugo de meus dias, solidão,
Deixada para trás no rés do chão,
Jogada na gaveta do passado,
Numa esperança viva, ela agoniza,
Manhã vem renascendo em mansa brisa,
Sentindo esta presença aqui do lado.
8
Sentindo esta presença aqui do lado,
O vento me levando para a areia
Ouvindo o canto belo, enamorado,
Percebo com clareza uma sereia
Pensara que já fora derrotado,
Ao ver a claridade em lua cheia
Amor vem devagar e me incendeia
Mostrando ao fim da estrada um raro prado
Enchentes de florais na primavera
Teu néctar vou sorvendo com vagar,
Agora que encontrei o bem de amar.
Esqueço a solidão, temível fera,
Já tendo uma esperança como guia,
Entrego-me a mais bela fantasia.
9
Entrego-me a mais bela fantasia
Ao ter o teu perfume junto a mim,
O mundo num instante me diria
Do quanto é mavioso o meu jardim.
Nas mãos de quem adoro; a poesia
É meu princípio, trama, rumo e fim.
De tudo o que mais sinto; o que eu queria
Encontro aqui, contigo, amor enfim.
Uma esperança feita em fortaleza,
Derrama sobre nós farta beleza
Vagando nos meus sonhos, nos meus versos.
Atando nossos nós, irei contigo,
Recolho cada rastro que persigo,
Sentimentos perfeitos e diversos...
10
Sentimentos perfeitos e diversos,
Um louco viajante encontra o lume
Depois de dias duros e perversos,
Adentra o infinito em seu perfume.
Não deixa que esperança assim se esfume
Em vagas ilusões, cantos dispersos,
Permite que meu passo, enfim se aprume
Trazendo algum sentido pr’os meus versos.
A dor que latejara no meu peito,
Ao ver o seu caminho contrafeito
Nos olhos da esperança vai vencida.
O frio em minhas mãos, tremores tantos,
Sintomas que demonstram tais encantos
Prenúncios de prazer em minha vida.
11
Prenúncios de prazer em minha vida,
Deixados no caminho em que prossigo,
Quem sabe tanto amor nunca duvida,
Andando passo a passo, estou contigo.
A dor em esperança convertida
Prepara ao fim da noite o nosso abrigo,
Minha alma se encontrava, antes perdida
Agora até sorrir em paz, consigo.
Teu corpo a mais divina das molduras,
Repleto de prazeres e ternuras
Espelha esta beleza sem igual.
Tentáculos da sorte nos tocando,
O dia em alegria vem raiando
No lume deste amor fenomenal.
12
No lume deste amor fenomenal
Teus olhos espelhando a claridade,
Desejo mais profundo e sensual,
Recebo deste olhar, felicidade.
Uma esperança em paz, mansa e vestal
Promete para amor, fertilidade,
Subindo calmamente este degrau
Aos céus vai penetrando e logo invade.
Galopa em liberdade o meu corcel,
Bebendo nesta boca o doce mel,
Sentindo uma esperança aqui chegar,
Brindando à nossa glória fartamente,
Amor mudando o rumo, de repente,
Adentra num momento a praia e o mar.
13
Adentra num momento a praia e o mar
Quem faz da claridade o seu poema,
Sabendo quanto é bom, decerto amar,
Não vê mais no caminho algum problema,
Não tendo mais sequer qualquer algema
Recolhe cada fruto do pomar,
Mostrando em paz profunda um raro tema
Espreita esta alvorada a debruçar.
No sol que nos bendiz quando ilumina,
Felicidade imensa descortina
Uma esperança imersa em nosso peito.
Vivendo o nosso amor, raro e profundo,
Permito ao coração ser vagabundo
Fazendo do luar seu claro leito.
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Fazendo do luar seu claro leito,
Espreito o teu sorriso de menina,
Vivendo plenamente satisfeito,
Beleza sem igual se descortina.
Adoro com certeza esse teu jeito
Rainha que tão mansa, me domina
A sina de ser teu; agora aceito
E bebo o meu prazer na doce mina.
No quanto que te quero e nunca nego,
Ao bem de tanto amor, eu já me entrego,
Não tendo em minha vida urze nem cruz
Minha esperança afeita ao teu abraço
Numa explosão extrema em cada passo,
Adentra o mar imenso feito em luz.
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Adentra o mar imenso feito em luz
O sonho de quem ama e te deseja
A brisa da esperança é benfazeja,
No beijo que alegria reproduz.
Nos corpos que se tocam quando nus,
Felicidade e gozo, amor almeja
Não tendo vencedores na peleja
Ao bem supremo, amor sempre conduz.
No quanto nada somos sem amor,
Cerzindo um céu imenso em claridade
Negar o nosso amor, não há quem há-de
Em jade e diamante a se compor,
Unida solução feita em contraste
Seguindo cada rastro que deixaste.
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Seguindo cada rastro que deixaste
Adentro ao paraíso num instante,
Teu canto; com encanto, me mostraste
Num doce seduzir inebriante
Desejo louco, insano, tu legaste
A quem se fez comparsa mais constante
O tempo não nos deu qualquer desgaste
A vida continua deslumbrante.
Meu mundo no teu mundo se entranhou
Tu vens comigo, amada aonde vou
Sabendo o que mais queres, claramente.
Unidos encontramos o infinito
Fazendo deste amor, divino rito,
Vencemos nossos medos, simplesmente.
17
Vencendo nossos medos, simplesmente
As dores se tornando mais escassas,
Persigo os rastros claros quando passas,
Estrela que domina plenamente.
De todo este prazer que a gente sente
Fluindo meu desejo enquanto abraças
Bebemos com prazer nas mesmas taças,
Vontade se fazendo mais urgente.
Estrelas, companheiras de viagem,
Ao ver tua nudez, uma miragem
Tomando em claridade, vem e chama
Num sonho delicado e mais profano,
Um astro que se mostra soberano,
Teu corpo iluminando a nossa cama.
18
Teu corpo iluminando a nossa cama
Estrela que surgiu em forma humana,
Fulgura divinal, perfeita chama,
Rainha de meus dias, soberana.
Tocado pelo brilho desta trama,
Amor quando em meu peito já se ufana
Permite vislumbrar divina e insana
Mulher que a fantasia sempre aclama.
Tua beleza rara, diamantina,
Decerto, esse cenário já domina,
Derrama sobre mim negras madeixas.
Qual fora um viandante sem destino,
No coração uma alma de menino,
Eu sigo cada rastro que tu deixas.
19
Eu sigo cada rastro que tu deixas
Estrela que se deita sobre o mar,
Nos sonhos que trouxeram outras gueixas
Mergulho, simplesmente, e quero amar.
Não ouço mais antigas, duras queixas
Pois tenho com quem possa já contar,
Entendo meu amor quando tu queixas
Se o pensamente eu deixo divagar
Mas volto a mais sublime realidade
E sei que em tanto amor que agora invade
Está decerto a sorte perseguida.
E vamos, sem temores mundo afora,
Já tendo uma alegria que se aflora
Seguimos pareados pela vida.
20
Seguimos pareados pela vida
Buscando a maravilha deste cais,
Percebo o quanto estás mais decidida
Sabendo que te quero assim, bem mais.
Por mais que a solidão peça guarida
No peito de quem ama os temporais
Aos poucos já se vão para jamais
Vencidos pela paz embevecida.
Eu quero estar contigo em plena chuva,
Amor que nos servindo feito luva
A cada amanhecer nos decorando,
Do vento que fez um furacão
Prevejo em calmaria esta emoção,
Sentindo a brisa mansa me tomando.
21
Sentindo a brisa mansa me tomando
Entrego-me à total felicidade.
O dia mansamente vem raiando
Trazendo o suave encanto, liberdade.
No céu as andorinhas formam bando
E o amor aos poucos chega e já me invade,
O sol que no horizonte vem raiando
Transborda a mais completa claridade.
Ser teu é o mais quero; o que pretendo,
Sentir o teu abraço me envolvendo,
Envolto com prazer em tua teia
Sereia que domina com encanto,
Tocado pelo belo do teu canto,
O vento me levando para a areia.
22
O vento me levando para a areia
Nas ondas mais sutis do sentimento,
Amor que em fogaréu, contigo ateia
Delícia me invadindo o pensamento.
Eu amo-te demais, por isso creia
Não deixo de querer um só momento
O manso acalentar que em minha veia
Transfunde esta emoção e toma assento.
Dos fardos que carrego do passado,
O medo de te amar, abandonado,
Agora que percebo amor sem fim,
Canteiro de esperanças vou aguando
E um novo amanhecer me transformando.
Ao ter o teu perfume junto a mim.
23
Ao ter o teu perfume junto a mim
Estendo o coração nesta varanda,
Na boca o mais suave carmesim,
Meu peito enamorado anda de banda.
O vento se espalhando traz em fim
Amor que em tanto amor já não desanda
Na dança mais sublime sinto enfim,
O gosto de dançar nossa ciranda.
Além do que quisera há tanto tempo,
Não tendo mais, na vida, um contratempo,
Não trago nem sequer algum queixume,
Na noite tão escura que enfrentara
Ao ver maravilhosa jóia, rara,
Um louco viajante encontra o lume.
24
Um louco viajante encontra o lume
Nos olhos de quem ama, o seu farol,
Amar, além de tudo, um bom costume,
Trazendo para tantos, belo sol,
Nos braços deste sonho atinjo o cume
Seguindo qual um manso girassol,
Não deixe que este encanto, enfim se esfume,
Pois trazes farta luz para arrebol,
Eu quero estar contigo, esteja certa,
A porta se mostrando sempre aberta,
Vislumbra a maravilha feita abrigo.
Persigo cada rastro que deixaste,
Nos brilhos com os quais iluminaste,
Deixados no caminho em que prossigo.
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Deixados no caminho em que prossigo
Os passos de quem sinto ser além
Do simples desejar, do querer bem,
Seguindo o tempo inteiro aqui comigo.
O medo se esvaindo, sem abrigo,
Eu sinto que enfim, encontro alguém
E o vento da esperança, manso vem,
Felicidade imensa, eu já consigo.
Vislumbro na penumbra raro brilho,
Falena enamorada, agora eu trilho
Demonstro, num momento ansiedade.
Faróis iluminando o negro céu,
Das nuvens tenebrosas surge o véu,
Teus olhos espelhando a claridade.
26
Teus olhos espelhando a claridade
Refletem num lampejo uma esperança,
Amor que se moldando em liberdade,
Lega o gozo pleno como herança.
Tomado por hedônica vontade
Quem ama, com certeza não se cansa,
Contra o bem do amor não há quem nade,
Pois sabe imensidão que logo alcança
Aquele que se mostra decidido,
Deixando a solidão em triste ouvido.
Meu corpo te procura em piracema,
Desejo triunfante feito em glória
Já muda num momento a sua história
Quem faz da claridade o seu poema.
27
Quem faz da claridade o seu poema
Escreve com firmeza uma emoção,
Da pedra preciosa, rara gema
Transita no meu peito, a sedução.
No céu de nosso amor, um diadema
Nos brilhos constelares da paixão,
Amor é nosso sonho, um caro emblema
Portando em sua sina a redenção.
Afasto qualquer pedra e sem espinhos,
Deitando meu prazer em teus carinhos,
O amor que me conquista e me domina.
Olhando de soslaio, de tocaia,
Em meio a tantas luzes nesta praia.
Espreito o teu sorriso de menina
28
Espreito o teu sorriso de menina
Sentindo o bom bafejo da esperança,
De todos os meus sonhos, bela mina,
Na fonte desejosa, clara e mansa.
Esta alquimia chega e me domina,
Formata a vida feita em aliança
Sabendo ser só teu, a minha sina,
A perfeição completa enfim alcança.
Transmudo, num segundo o pensamento
E galgo eternidade no momento
Em que me entrego fundo à fantasia.
Sentindo-me tão manso a me roçar,
Em meio ao doce encanto do luar,
O vento da mais pura poesia.
29
O vento da mais pura poesia
Trazendo a sensação de liberdade,
O quanto e tanto bem que se queria,
Transforma toda dor em amizade.
A brisa matinal abranda o dia
Promessa de total tranqüilidade,
Tua alma de minha alma, senhoria,
Contigo vencerei a adversidade.
Saber quanto é possível ser feliz,
Tramando a luz suprema que se quis
Mudando num repente antiga trilha.
Depois da tempestade uma bonança.
E o vento bem mais forte da esperança
Abrindo no meu peito, uma escotilha
30
Abrindo no meu peito uma escotilha
Acendo da esperança, o fogo intenso.
Na sina que se fez uma andarilha,
No vago logo após às vezes penso,
Carrego dentro em mim tanta mobília,
Escombros do que fui. Mergulho tenso
E nada se percebe além da trilha
Vazia que sobrou de um mar imenso.
Erguendo um brinde à vida, morro aos poucos,
Os gritos incontidos saem roucos
Prenunciando apenas um adeus.
Porém ao ver de novo o meu porão,
Vislumbro a derradeira solidão,
Tocado pela luz dos olhos teus.
31
Tocado pela luz dos olhos teus
Penumbras adentrando noite afora,
Esqueço destas trevas, ganho os breus,
E o quanto desejei, o nada implora.
Preparo a cada instante o meu adeus,
Vontade de partir, seguir agora
Na busca dos anseios tolos meus,
Na areia movediça o pé se escora
Esvaio em cada verso que te faço,
Traçando o meu destino a cada passo
Soçobro em tempestades de granizo
Naufrago nesta luta tão inglória,
Mascando o meu revólver, muda a história
Amor que veio vindo sem aviso.
32
Amor que veio vindo sem aviso
Na lousa escreve a dor em claro giz,
Do quanto desejei e nada fiz,
Apenas um irônico sorriso.
Promessas se perdendo em solo liso
O chão caracachento corta e diz
Que o tempo que passamos impreciso
Não serve como apoio, é por um triz.
Veleja o pensamente e chega ao nada,
A praia dos meus sonhos isolada,
Repete o tempo inteiro a negação.
Mas sigo qual falena em plena luz,
Carrego em minhas costas, leda cruz
Sentindo este perfume, sedução.
33
Sentindo este perfume, sedução
Aproximo meus olhos de teus olhos,
Estendo o meu tapete em urze, abrolhos
E bebo o teu veneno, lambo o chão.
Às turras entre beijo e bofetão
Janelas arrombadas sem ferrolhos,
As flores e os insetos vêm nos molhos
Ferrenhas tais batalhas, turbilhão.
E somos duas faces da moeda,
Amparo enquanto empurro para a queda,
Tramamos a vingança o tempo inteiro.
Se eu somo e já divido, vários elos,
Seguimos nossos rumos paralelos
Usando em mesma cor, nosso tinteiro.
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Usando em mesma cor, nosso tinteiro
Fazemos multicor uma esperança
No barco a se perder, o timoneiro
Durante a tempestade não avança;
Sorriso tantas vezes tão matreiro
Esconde no bornal uma aliança
E o tempo necessita temperança
Mas nada do que tive é verdadeiro.
No moto que perpétuo nunca morre,
Beijo sanguinolento não socorre
E segue dia-a-dia nos matando.
Se eu quero o que tu negas, vou em frente
E o passo que se busca, num repente,
Aos poucos, infinito penetrando.
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Aos poucos, infinito penetrando
Rompendo a nossa carne expondo entranhas
Quem sabe e reconhece suas manhas
Não deixa mais o inverno vir chegando.
Amor quando em desordem segue em bando
E foge para terras mais estranhas,
Não quero nem saber se tu me ganhas,
Apenas não irei mais desabando.
Resíduos espalhados, meus escombros,
O peso que carrego nos meus ombros
Já deixo por aí, abandonado.
Esqueço vez em quando o meu destino,
E sigo enquanto amor eu descortino
Ouvindo o canto belo, enamorado.
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Ouvindo o canto belo, enamorado
Escuto em tua voz um eco a mais
Do quanto percebi no meu passado
A ausência pura e simples deste cais.
O fardo que carrego é tão pesado
Nadando entre procelas, temporais,
Entendo e decifrando o teu recado
Percebo a liberdade do jamais.
Parceiros deste jogo, perco e ganho,
Não quero mais saber do bem tamanho
Vendido sempre à parte- fantasia.
Se amor é na verdade um ledo abismo
Forrado pelo fogo em fanatismo,
O mundo, num instante me diria.
37
O mundo num instante me diria
De todo o sentimento que represo,
A vida muitas vezes solta o peso,
E mata quem dourava a fantasia.
O medo se transforma em agonia,
Eu tento prosseguir, e vou ileso,
O fogo da esperança segue aceso
E nisso vou singrando um novo dia.
Mimetizando assim o sentimento,
Numa metamorfose o pensamento
Adentra por caminhos tão diversos.
Eu quero prosseguir de peito aberto,
Aguando de ilusões este deserto,
Depois de dias duros e perversos.
38
Depois de dias duros e perversos
Vagando pelas noites, botequins,
Aguando com saudade os meus jardins,
Sangrando plenamente em frios versos,
Olhares sem destino, vãos, dispersos,
Buscando dias calmos, noites cleans
Vestindo uma esperança feita jeans
Jazendo nos caminhos tão diversos
Eu calo a melodia que não fiz,
Meu pranto feito imenso chafariz
Banhando em sortilégio a nossa vida,
Amor que não se aprende no colégio,
Ditando o mais sublime privilégio,
Quem sabe tanto amor nunca duvida.
39
Quem sabe tanto amor nunca duvida
Do sentimento imerso em águas calmas,
Porém ao carregar antigos traumas,
Esboço nos teus braços, a saída.
Montando esta esperança tão querida,
Entrego o coração, buscando as almas
Saveiro que em tempesta logo acalmas,
Palavra entre remendos dividida.
Esgarça os meus olhares, firmamento,
No cálice dos sonhos, pensamento
Galgando espaço livre, sideral.
Tua nudez, delito insano e claro,
Sentindo o teu perfume, eu já disparo
Desejo mais profundo e sensual.
40
Desejo mais profundo e sensual
Roçando o nosso corpo, devagar,
Não tendo sequer pressa de chegar
Adentro este caminho sem igual.
Quem dera se pudesse um imortal
Tivesse eternidade a me tocar,
Voando em liberdade até chegar
O gozo mais perfeito, triunfal.
Sementes espalhadas pelo chão,
Causando ao reflorir, revolução,
Tomando num momento, céu e mar.
Arando com carinho cada lavra,
Usando o dom do sonho e da palavra
Sabendo quanto é bom, decerto, amar.
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Sabendo quanto é bom, decerto, amar
Eu quero ter o gozo feito em glória,
Mudando novamente a minha história
Eu singro uma esperança com vagar.
Nas ondas que eu pretendo navegar
Esqueço do que fui, simples escória.
Amor virá pagando a promissória
Depois de tantos olhos a mirar.
As farpas que trocamos, corte fundo,
A bêbada esperança deste mundo
No canto em que me encanto, o mais perfeito.
Os ossos fraturados dos meus sonhos,
Em meio a risos francos e medonhos,
Vivendo plenamente satisfeito.
42
Vivendo plenamente satisfeito
Lambuzo com meu mel tua esperança
Não tendo solução nem mais fiança
Eu sigo o meu caminho do teu jeito.
Lembrando de teus olhos quando deito
Um fardo sem limites não me alcança,
Na mão carrego seta, flecha, e lança
E faço de um prazer, antigo pleito.
No canto cada ritmo se faz tétrico
Distante do que forma encanto métrico
O verso sem caminhos já me abduz
E mesmo que não saibas do que falo,
O gozo deste fogo em nosso embalo
Beleza de teus olhos reproduz.
43
Beleza de teus olhos reproduz
O encanto do divino amanhecer
Roubando da alvorada a plena luz
Espalhas no arrebol raro prazer.
O sonho duradouro que propus
Entranha em perfeição, meu bem querer,
Se a noite irá voltar, eu não me opus,
Apenas tua boca a me beber.
Não quero na verdade amor apático
Tampouco refletir um automático
Caminho que me leve a tal desgaste.
Somando cada passo, vamos longe
Bacante misturando-se com monge
Amor faz com tristezas um contraste.
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Amor faz com tristezas um contraste
Reflui e volta sempre à mesma mesa;
Comendo no princípio a sobremesa
Já tem a força toda de um guindaste.
Na carta de alforria que negaste
Senti o gosto frio da incerteza
Amor que com saudade se reveza
Não preza e morre aos poucos, afunda a haste.
Afundaste meus barcos. Morto o cais,
Eu volto o meu olhar para o jamais
E vejo errôneo passo em minha frente.
Conhecendo de perto quem amei,
Perversamente sinto o quanto errei,
Meu rumo se transforma totalmente.
45
Meu rumo se transforma totalmente
Depois de cada chuva em tempestade,
O bêbado nas ruas da cidade
Vagando sem destino, qual demente,
Intrépida jornada pela mente,
No quanto que não tive e já me invade
A trama se perdeu em quantidade
E o fim do nosso caso se pressente.
Mas tendo o teu corpinho assim desnudo,
Chamando para a festa, vou com tudo,
Adentro o festival, macia a cama,
Os planctos e as sementes, plantas, gozo,
Do emaranhado louco e caprichoso,
Acende em brasa imensa, a velha chama.
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Acende em brasa imensa, a velha chama,
Macabros versos solto em profusão,
Fazendo a mais completa confusão,
Na combustão dos sonhos, minha trama,
Não sendo teu escravo ou teu patrão,
Irmanado contigo, céu e lama,
Quem ama, na verdade não difama,
Nem mesmo que repita a negação.
Patrolas estas rotas podres, rotas,
Carinho que me dás em conta-gotas
Deixando vez em quando o que não deixas,
Soprando sobre nós o mesmo vento,
Usando esta cangalha, o sentimento,
Não tenho mais na vida, quaisquer queixas.
47
Não tenho mais na vida, quaisquer queixas
E cato os meus cavacos espalhados,
Carpindo os risos tolos, desfraldados,
Encontro em ti, à noite, divas, gueixas.
Soubesse te dizer, faria endechas
Em versos tão sutis, transfigurados,
Porém ao vislumbrar terríveis prados,
Recebo de teus olhos novas deixas.
Havendo o que não tive e sem tempero,
Acendes toda noite o meu isqueiro
Na chama da fornalha repartida.
Repatriando antigos firmamentos,
Eu sinto pelo menos por momentos
A sorte derradeira e prometida.
48
A sorte derradeira e prometida
Jogada nos beirais desta janela,
No suicídio salvo a minha vida,
E tramo uma esperança sem tramela.
Quem ama na verdade se congela,
Escravo desta inglória mais querida,
Acendo toda noite a mesma vela
Capaz de incendiar qualquer saída.
Marco o corpo inteiro em tatuagem,
Sorvendo com prazer qualquer bobagem
Capacho em garatujas; erros crassos,
Divido o que somei há tanto tempo,
E mesmo que me entregue ao contratempo,
Bem firmes meus caminhos e meus passos.
49
Bem firmes meus caminhos e meus passos,
Pegando uma carona no cometa,
Vagando por satélite e planeta
Arranco as maravilhas, risco os traços.
Prazeres na verdade são escassos,
A cada novo engano que eu cometa
Espero corrigir errônea seta
Juntando os cacarecos, meus pedaços.
Minha alma mergulhada no mecônio
Coração fustiga em tanto hormônio
Vai preso e necessita desta teia.
Num instantâneo mar, qual mergulhão
Parido pelo bom da tentação.
Percebo com clareza uma sereia.
50
Percebo com clareza uma sereia
Alcoólatra e sedenta de prazeres,
Desnuda nessa cama me incendeia
E como este banquete em mil talheres.
Sorrisos derramando a lua cheia
Divindades em forma de mulheres,
Quem vaga pelas tramas não receia
E sabe na verdade o que mais queres.
Em todos os momentos magistrais
Roubando o bom perfume dos rosais
Eu sinto uma explosão de amor em mim.
No rum que tu destilas todo dia,
Respostas à pergunta que sabia
Do quanto é mavioso o meu jardim.
51
Do quanto é mavioso o meu jardim
Em pétalas diversas, coloridas,
Recebo o benfazejo vento em mim,
E as horas sempre passam distraídas.
As cordas se rompendo até o fim,
Farturas em palavras decididas,
Nas cores tão diversas, vou assim,
Somando as nossas contas divididas.
E esboças num sorriso com fartura,
Um gesto em sincronia, uma ternura,
Fazendo com que a vida, enfim, se arrume.
No cume deste olhar tão emblemático,
O gozo do prazer cego e temático
Adentra o infinito em teu perfume.
52
Adentra o infinito em teu perfume
O quanto decidira no passado,
Não tendo a vaidade por costume,
Eu sinto o vento imenso, adocicado,
De tudo o que transporto do passado,
Ainda levo aqui, teu claro lume
E mesmo que se perca de ciúme
Caminho o tempo inteiro lado a lado.
Esgarço os meus lençóis, rasgo o meu peito,
E vamos prosseguindo desse jeito
Sabendo que virá qualquer perigo.
Minha alma que é da tua siamesa,
Refoga com tempero uma tristeza,
Andando passo a passo, estou contigo.
53
Andando passo a passo, estou contigo
E venço um medo arcaico, envelhecido.
Toando a fantasia num sentido
Diverso do que fora o que persigo,
Dizendo o que deveras nunca digo
Eu vejo o meu futuro descabido.
Sorriso por ventura desabrido
Não mostra o quanto eu quero, tão antigo.
Partimos para o nada, o tempo inteiro,
Apenas não vou ser mais corriqueiro,
Querendo a tão sublime variedade
Não sentes o que eu sinto e nem percebes,
No jeito como miras estas sebes,
Recebo deste olhar, felicidade.
54
Recebo deste olhar, felicidade,
Eclipsando os temores que eu sentia,
Na prática esperando um novo dia
Que mostre ser plausível liberdade.
Saprófita ilusão vaga a cidade
Nas barbas da cruel melancolia.
À noite embriagado em falsidade
Estendo o meu tapete da ironia.
Capacho que derruba, de tocaia,
Olhando para cima sob a saia
Encontro um diamante em rara gema.
E a mesa quando posta não se nega,
A fome de prazer falsária e cega
Não vê mais no caminho algum problema.
55
Não vê mais no caminho algum problema
Quem teve um par de esporas como guia.
O merencório gozo de uma orgia
Transforma-se decerto num emblema.
Amor que se inundou em piracema,
Vagando pelos mares da agonia
Espera transformar o que eu queria
Em algo que não seja um velho tema.
Só sei que te tocando com carinho,
O medo não faz troça nem quer ninho,
Apenas bebe o riso da menina,
E sabe que a nudez traz evidências
E envolta nas suaves transparências,
Beleza sem igual se descortina.
56
Beleza sem igual se descortina.
Fazendo reboliço em minha mente,
Não tendo na verdade uma semente
Não posso mais plantar, eis minha sina.
O quanto que se quer quem extermina
O vergalhão penetra de repente
E corta o pé mais frágil, nada sente
Quem tem estupidez como cortina.
Assim não adiantam mais palavras
Esqueces o que fiz de antigas lavras,
Escorre em tua boca um doce pus.
Desconhecendo um gesto de amizade,
Ignoras com total sinceridade,
De todo sonho, o bem que eu te propus.
57
De todo sonho, o bem que eu te propus
Ferrenhas emoções vão me inundando,
Não tendo mais sentido quanto e quando
Eu sigo os rastros teus e chego à luz.
Fartura que ao divino amor conduz
Faturas de esperanças vêm cobrando,
Fraturam estruturas, desabando
O canto mais audaz se reproduz.
Acácias espalhadas na alameda
Dos sonhos, um divino bulevar
Almíscares invadem, ganham o ar
Permitem que alegria então se ceda
Mostrando em tons sutis tal maravilha.
Minha alma que antes fora uma andarilha
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Minha alma que antes fora uma andarilha
Vagando bar em bar pela cidade,
No grito solitário da novilha
Espreita o fim da tarde com saudade.
O par que se perdeu renova a trilha
E vence com carinho, a tempestade.
Andando nos espaços cada milha
Seguindo busca a tal felicidade.
Parceira dos detalhes que negaste,
Entalhes nestas pedras, no desgaste
Diário molda a noite em vários breus.
Depois de ser vencido, sigo só,
Voltando novamente ao ledo pó
Não quero mais seguir rumos ateus.
59
Não quero mais seguir rumos ateus
Que façam das mentiras, a bandeira,
Deitando uma ilusão sobre a liteira
Escondo os meus olhares já dos teus.
Nos arremedos todos, teus e meus,
Vendidos em barracas nesta feira
A morte talvez seja corriqueira
Ribeiras encarnando nosso adeus.
Barrancas de minha alma desabando
Enchentes inundando em turbilhão,
O parto em que geraste foi em vão
Os olhos da esperança, o mesmo bando
Tocando na ferida mais preciso,
Meu verso se tornando mais conciso.
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Meu verso se tornando mais conciso
Batuca no teu peito sem parar,
Vertendo em nossa cama traz luar
Na manta feita em puro paraíso.
Eu quero cada gota e sempre biso
Bebendo a vida em goles, farto mar,
Serpentes vão chegando devagar
Venenos em fartura sem aviso.
Vou ávido de ti prazer insano,
Transformo a brisa calma em minuano,
E a tempestade vira furacão.
Cabelos esvoaçam, cavalgadas,
Vagando mil estrelas, madrugadas,
Tocado pelo amor, louco tufão.
61
Tocado pelo amor, louco tufão,
Meu barco segue em mar tempestuoso
Às vezes malfadado e belicoso,
Vagando segue o rumo da paixão.
No peito um berimbau dá a marcação
E o porto mais distante e perigoso,
Olhar se mostra quase bilioso
E volta assim depressa pro porão
Porém ao porem freio nos meus sonhos,
Os dias talvez sejam mais risonhos,
E o tempo enfim se acalme mais ligeiro.
Na caça em que me faço tua presa,
Ao fim deste safári, com surpresa,
O mundo se mostrando alvissareiro
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O mundo se mostrando alvissareiro
Traz em tabaco e álcool risos tantos,
Quadris multiplicando os teus encantos
Transfundem para o peito cada cheiro.
Dos sonhos mais sutis, gentil parteiro
Espalha a fantasia pelos cantos,
Não vejo mais peçonhas ou quebrantos.
Amor que é da alegria o meu viveiro.
Um peito tartamudo não se cansa
De ver ao fim da curva uma esperança
Cigarros, vou tragando em fartos maços,
Prazeres que me encharcam em monções
Sublimes temporais, revoluções,
Nos céus de nosso amor, claros espaços
63
Nos céus de nosso amor, claros espaços
Abrindo em leque imenso, as esperanças.
Nos olhos penetrantes, frios aços,
Licores inebriam. Festas, danças.
As penitências geram feras mansas,
Os olhos se tornando bem mais baços,
Enquanto os altos cumes; cedo alcanças
Os corpos remoídos deitam; lassos.
Os laços que nos unem sendo frágeis,
Embora em plena fuga sejam ágeis,
Rompendo no momento mais azado,
Permitem que eu me esgueire pelas ruas,
E vendo estas paredes negras, nuas,
Pensara que já fora derrotado.
64
Pensara que já fora derrotado
Depois da luta intensa, resta o nada,
O vaso em que esperança foi plantada
Está em algum canto, abandonado.
Não quero descobrir se no meu fado
Estrela se tomou em derrocada,
No tumor que cultivo, uma tragada
Espelha o rio inerte do passado.
Nos cárceres privados dos meus sonhos,
Olhares que me miram são bisonhos
Matando uma alvorada em agonia.
Um resto de esperança soerguida
Permite vislumbrar alguma vida
Nas mãos de quem adoro; a poesia
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Nas mãos de quem adoro; a poesia
Exprime a mais fantástica emoção,
Guardada fielmente a proporção
É nela que se entranha, estrela guia.
Numa partenogênese, a magia
Explode num momento, evolução,
Erguendo o patamar, retorna ao chão
Revolta o mar em plena fantasia.
Meu desjejum é feito nos teus lábios,
Marujo; encontro em ti meus astrolábios
E bebo cada gota de perfume.
A força tão feroz e delicada,
Tramando um intenso, na alvorada
Não deixa que esperança assim se esfume
66
Não deixa que esperança assim se esfume
Bafejo de teus sonhos sobre mim,
À parte coletando o teu perfume
Recebo estas essências de jasmim,
Voando em liberdade um vaga-lume
Holofote entranhado no jardim.
Os sons da noite aumentam seu volume
E a vida se derrama sempre assim.
As térmitas formando mil casais,
A terra já molhada e acolhedora,
Nos jogos sedutores, sensuais,
Renovação à vista segue a vida,
E sinto neste instante, desde agora,
A dor em esperança convertida
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A dor em esperanças convertida
Batalha por um riso mais audaz,
O vento que nos toca e satisfaz
Permite vislumbrar a nova vida.
Levando a solidão já de vencida
O quanto te desejo a noite traz
Caminho repartido volta atrás
O jogo decidido de saída.
Mas tenho uma reserva de alegria,
Jogando para longe a fantasia,
O prazo não se vence, é sempre igual.
Teimosa, vai seguindo sem cansaço
No verso em desafio logo traço
Uma esperança em paz, mansa e vestal
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Uma esperança em paz, mansa e vestal
Apascentando a fera que me doma,
Renascendo alegria outrora em coma,
Eu vejo depois disso, o carnaval
Dos sonhos que cultivo, sol e sal,
Quebrando o que já fora uma redoma,
Colando nossos corpos nesta goma
Trazendo mil estrelas no embornal.
Assim, a liberdade vem e toma,
Fazendo de dois corpos mais que soma,
Reverso da medalha é nosso tema.
Depois de aprisionados pelos sonhos
Futuros com certeza mais risonhos,
Não tendo mais sequer qualquer algema
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Não tendo mais sequer qualquer algema
Iremos mais libertos pelas ruas,
Enquanto tantas vezes já flutuas
Distante da mentira e sem problema
Eu faço da alegria o meu emblema
Estendo na varanda várias luas,
Estrelas vão surgindo belas; nuas
Não há nem mais fantasmas que se tema.
Tu és de toda a glória, a responsável
No amor que é muito mais que imaginável
Sabendo da esperança o seu trejeito.
Feitio deste terno? Desde cedo
Guardado sob a forma de segredo:
Adoro com certeza esse teu jeito.
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Adoro com certeza esse teu jeito
Fazendo tempestade em copo d’água,
Felicidade imensa quando trago-a
Expondo sem temores, o meu peito.
O que vier de ti, decerto aceito,
Não guardo mais a dor sequer a mágoa
Meu lago se inundando com tanta água
O rio ultrapassando qualquer leito.
E nesse temporal meu barco segue,
Minha alma transparente já consegue
Saber vencer o medo e a agonia.
Depois de tanta luta; braços lassos,
A vida rememora em mansos traços,
Semblante extasiado em alegria
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Semblante extasiado em alegria
Esplêndida explosão que assim nos toca,
A maquiagem da alma se retoca
Esconde a corriqueira fantasia.
Nos olhos lagrimados a agonia
Uma esperança viva não se estoca,
Saudade vai saindo de uma toca
E espalha sobre nós a noite fria.
Imagem que ficou no meu passado,
O tempo ganha o jogo, lança o dado
Mostrando em meu olhar, duro contraste,
Restando tua foto na parede,
Eu mato vez em quando a minha sede
Bebendo esta esperança que legaste.
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Bebendo esta esperança que legaste
Entorno os sentimentos aos teus pés,
Atado com prazer, doces galés,
Colhendo o que decerto semeaste.
Não quero ser somente qual um traste
Pesado que tu levas de viés,
Enfrento qualquer forma de revés
Fazendo na alegria o meu contraste.
O jeito de te amar me faz assim,
Metade te adorando até o fim
Enquanto outra metade já reclama,
Disparatado jeito de querer,
A vontade final de poder ter
A cada nova estrofe sempre exclama
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A cada nova estrofe sempre exclama
O coração decerto doentio,
Ao suportar o duro e forte frio
Procura no teu corpo, acesa chama.
Cobrindo minha pele com a lama
Na chuva que anuncia um novo estio,
Não vejo nosso amor mais por um fio,
Sabendo que o carinho já nos chama.
Mergulho cada beijo em tua pele,
A sensação do gozo me compele
A ter o teu amor mais plenamente.
O rumo se extravia, mas retorna
Meu coração de ti nunca se entorna
Ao ver amor tão puro, claramente.
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Ao ver amor tão puro, claramente
Esboço um movimento de defesa
Por mais que não consiga e sempre tente
Eu quero esta nudez de sobremesa.
Carcaças que me invadem, corpo e mente,
Contrastam plenamente com pureza,
O parto em que se fez farta torpeza
Merece um novo rumo, mais contente.
Dementes caminheiros, noite afora,
Sem hora de saber ou ir embora,
Não ouvem mais delitos nem tais queixas
Preâmbulo da festa continua,
Enquanto aguardo a pele inteira e nua,
Afago com carinho estas madeixas
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Afago com carinho estas madeixas,
Ronronas como gata em pleno cio,
Olhar bem mais guloso, até vadio,
Enquanto se acarinho e nada queixas.
Prometo de mansinho, mas não deixas.
A noite vai passando em pleno frio,
O amor que a gente sente por um fio,
Prometes e me negas, ninfas, gueixas.
A roupa transparente chama à festa,
Maldosa, tu me fechas qualquer fresta
Fingindo, tudo mostra; distraída.
Eu quero ter prazer; a gata mia,
E num momento feito em poesia
Percebo, neste amor, uma saída.
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Percebo neste amor, uma saída
Que possa permitir sobrevivência,
Não tendo nesta vida coincidência,
Minha alma já não segue distraída.
Invado tua praia mais querida
E bebo tua boca em transparência,
Amor que represando uma demência
Fascina enquanto trama a despedida.
Às vezes me pergunto sem respostas,
Se as mesas do banquete foram postas
Ao ver tua presença iluminando.
Por mares nunca dantes explorados,
Com olhos e sorrisos mais safados,
Meu barco nos teus mares navegando.
77
Meu barco nos teus mares navegando
Enfrenta os temporais com gargalhadas,
As mãos que foram sempre bem atadas
Agora em liberdade acarinhando.
Às vezes pelos cantos hibernando
Esqueço que possuo tais escadas
E perco o rumo em meio a barricadas
Enquanto a solidão vem nos tocando.
Marchando para os braços de quem amo,
Do quanto que perdi já não reclamo,
Pois sinto o teu amor em minha veia.
Assim se a noite chega amarga e fria,
O coração depressa já se estia
Ao ver a claridade em lua cheia
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Ao ver a claridade em lua cheia
Serpenteando brilhos na calçada,
Quem veio de um vazio e traz o nada,
Ao ver tanta beleza se incendeia.
Eu quero ter o verso em que se creia
Deixando a solidão ali, jogada,
Porém uma saudade disfarçada
Invade em ondas tantas, minha areia.
Matando o que não fora proveitoso,
O céu se mostra menos tenebroso,
O tempo passará em vinho e gim.
E tendo o que pretendo e sempre penso
Amor que se mostrando forte e denso
É meu princípio, trama, rumo e fim.
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É meu princípio, trama, rumo e fim
O muito que transportas num olhar,
O quanto te desejo, sempre assim,
Divina transparência a nos tocar.
Artemísias, gerânios, meu jardim
Na febre que transtorna a se entregar
Bailando uma esperança sobre mim
Em ondas gigantescas, belo mar.
Navego tua pele, solto as velas,
Desenho o paraíso em aquarelas
E traço a fantasia com meus versos,
Jogado em tempestade o meu saveiro,
Percebe o sonho livre e derradeiro,
Em vagas ilusões, cantos dispersos.
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Em vagas ilusões, cantos dispersos
Galgando a liberdade sem igual,
Na cama, um verdadeiro festival
Permite estrelas tantas. Universos...
Desejos em desejos quando imersos
Transbordam num divino ritual
Sem ter um vencedor, a triunfal
Beleza contagia assim os versos.
Românticas sonatas noite afora,
O corpo que se entrega e me decora
Fartura de emoções vivo contigo.
E o gozo repetido em glória insana,
Na voz uma deidade soberana,
Prepara ao fim da noite o nosso abrigo.
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Prepara ao fim da noite o nosso abrigo
O gozo da alegria sem limites.
Eu peço meu amor, jamais evites
O franco riso intenso que persigo.
Às vezes quando negas, nada eu digo,
Apenas aceitando os teus palpites
Embora a culpa inteira me debites
Não vejo neste jogo mais perigo.
Transformas brisa em forte tempestade,
Distante da mais pura realidade,
Suporto, com certeza, a falsidade.
Deixando para trás fatalidade,
Eu sinto que este riso, na verdade
Promete para amor, fertilidade.
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Promete para amor, fertilidade
A mansidão gentil de quem afaga,
Não pedindo carinho como paga
Estende sua mão, dá liberdade
Usando de total sinceridade
Não quero a tua boca feita em draga,
Água demais? A planta já se estraga
E morre sem saber felicidade.
Porém quem se mostrando eficiente
Não teme a chuva forte ou inclemente
Depois de certo tempo é desfrutar
A mão que acaricia e nunca cobra,
Não tendo uma procela, não soçobra,
Recolhe cada fruto do pomar.
83
Recolhe cada fruto do pomar
Quem sabe cultivar com maestria,
Um jeito agricultor trama alegria,
Decerto colherá o bem de amar.
Arando então a terra com vagar,
Cevando pouco a pouco e todo dia,
Usando de toda arte que sabia
Chegaste à minha vida, devagar.
Depois de certo tempo eu percebi
O quanto eu necessito assim de ti,
De todos os prazeres, bela mina.
Redimes com carinho, os erros tolos,
Nos gestos sempre calmos, aras solos,
Rainha que tão mansa, me domina
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Rainha que tão mansa me domina
Já sabe conquistar, não necessita
Da força muitas vezes mais maldita
Na qual todo o prazer se desatina.
Numa alma transparente e feminina
Beleza sem igual, rara pepita
No olhar que mansamente assim me fita
Uma certeza firme determina
O rumo que se busca em nossa vida,
A cada novo dia, uma saída,
Trazendo à tempestade, calmaria.
Apascentando enfim, qualquer batalha,
Bafeja em calma brisa que não falha
O vento da mais pura poesia.
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O vento da mais pura poesia
Tocando a minha face faz a festa,
De tudo o que já tive nada resta
Senão alguma gota de ironia.
Quem sabe e reconhece não confia,
Fugindo o mais depressa da floresta,
Se a queda agora corta, amor testa
E mente muito bem: eu não queria.
Depois que foste embora, que partiste,
Eu juro não fiquei tampouco triste
A vida transformada em maravilha.
Porém se a lua vem em noite bruta
Ao longe, bem de longe, inda se escuta
Os uivos das saudades em matilha
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Os uivos das saudades em matilha
Adentram minha casa invadem quarto
Mesmo que eu tente, deles não me aparto
Entranham cada cômodo ou mobília.
A noite preparando uma armadilha,
Deixando quem amou decerto farto,
Refaz em agonia, antigo parto
Um fugitivo busca nova trilha...
Cansado de viver tanta tristeza,
Distante de uma fera nego a presa,
Apenas vou tentando sem adeus
Amor que seja leve e companheiro,
Sabendo deste sonho, por inteiro:
Não quero ser vassalo nem ser deus!
87
Não quero ser vassalo nem ser deus,
Apenas navegarmos lado a lado,
Reflexos que se espelham teus e meus,
Num sonho que se faça delicado.
Não posso mais ouvir falar de adeus,
Já tendo aqui comigo um raro fado
Carinhos desfrutados, todos teus,
No olhar que é pelo amor abençoado.
A melodia invade a nossa casa,
Saudade, nunca mais. A vida abrasa
E mostra ser mais crível, paraíso.
Eu tenho que dizer quanto eu te quero
No canto mais sublime que venero,
Falando deste amor calmo e preciso.
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Falando deste amor calmo e preciso.
Não quero me perder sem teu carinho,
Aguardo cada gota deste vinho
E bebo em calmaria o paraíso.
Amor que tocou fundo e sem aviso
Fez do meu peito agora, rumo e ninho,
Chegando toda noite de mansinho,
Eu dele quero sempre e até repriso.
Cevando a vida inteira, na colheita
A vida em harmonia quando é feita
Provoca a mais suave convulsão.
Eu quero recolher felicidades
E mesmo que inda venham tempestades,
Jamais em minha vida digo o não.
89
Jamais em minha vida digo o não
E caço a noite inteira estrela e lua,
Deitando em minha cama a deusa nua,
Provoca a mais completa perdição.
O vento que se faz em turbilhão
Abrindo uma janela expõe a rua,
Minha alma transparente assim flutua
E bebe a tempestade, o furacão.
Chegando de mansinho, fez estrago
O turbilhão tomando o calmo lago
Promete um gosto bom, queima o cinzeiro.
Chacoalham-se quadris, louco balanço
Prazer vem galopante quando avanço,
Matando o medo algoz e feiticeiro
90
Matando o medo algoz e feiticeiro
Apegos bem mais firmes, nosso jogo,
Queimando sem juízo, acende o fogo
E mostra este desejo por inteiro.
Do quanto que te quero, sinto o cheiro
E tramo esta ventura em que me jogo,
Da forma mais sutil quando me afogo
Eu vejo que este amor é verdadeiro.
Penetro tais defesas, abro frestas,
Aparam-se sutis velhas arestas
E o tempo sem limites, vai passando.
Na rua, na calçada ou no motel,
Ao desvendar vestígios deste céu,
Não quero e nem pergunto aonde e quando.
91
Não quero e nem pergunto aonde e quando
Somente vou mais fundo no mergulho,
Não temo mais espinho ou pedregulho,
As matas deste amor, sigo explorando.
Se a terra vai depressa desabando
Apenas vou falar do meu orgulho
De ter bem junto a mim concha e marulho
Delicias que eu prossigo desvendando.
No mote repetido muitas vezes,
Os olhos caçadores viram reses
No pão bela fornada que se anseia.
Chegando à minha cama, soberana
No vento que depressa a chama abana
Amor vem devagar e me incendeia
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Amor vem devagar e me incendeia
Não deixa mais sobrar sequer defesa,
Comendo com vontade a sobremesa,
Aranha decidida faz a teia.
A lua que nos cobre sempre é cheia,
Maré que inunda e cala esta tristeza,
O bem do amor em forte correnteza
Adentra em reboliço minha veia.
Na cheia destes rios piracema,
Deixando para trás qualquer problema
Nas mãos da timoneira poesia,
O barco de meus sonhos se repete
Sabendo navegar já se acomete
De tudo o que mais sinto; o que eu queria
FINAL DA PRIMEIRA PARTE
Creio ser essa a primeira ESPIRAL DE SONETOS publicada na História da Literatura Universal já que, ao contrário da COROA de sonetos que se encerra no primeiro verso do primeiro soneto, esta prossegue no segundo, depois no terceiro até chegar ao último verso.
Espero que gostem.
ESPIRAL DE SONETOS PARTE 02
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De tudo o que mais sinto; o que eu queria
É ter o teu sorriso aqui comigo,
O resto na verdade, nem mais ligo,
Apenas eu desejo uma alforria
Libertação se faz a cada dia
Cevando a poesia joio e trigo
Misturas que demonstram que o perigo
Às vezes bem mais perto que podia.
Persisto com meu passo, sem descanso,
Não me importando, juro, se eu alcanço
Ou perco a flor, matando o seu perfume,
Porém ao pôr meu peito mais exposto
O esgar que se demonstra no meu rosto
Permite que meu passo, enfim se aprume.
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Permite que meu passo, enfim se aprume,
O verso mais liberto e sem conchavos,
Mil mares naveguei, calmos e bravos,
Se eu tenho ou se não trago mais queixume
Não me deixo levar por teu ciúme,
Apenas coletando estes centavos
Carrego em minha morte, lírios, cravos
Até que com meu cheiro se acostume
Aquela que se fez a companheira,
Legando a solidão mais corriqueira,
Sabendo o quanto livre é minha vida.
Agora que encontrei mais claro o rumo,
Os erros cometidos eu assumo:
Minha alma se encontrava, antes perdida
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Minha alma se encontrava, antes perdida
Beijando qualquer boca no caminho,
Bebendo com vontade amargo vinho,
Vencido pela sorte distraída
De toda esta ilusão foi abstraída
Até morrer sem dó, ledo e sozinho.
Chicote me cortando de mansinho,
A noite sem vigia está perdida.
No pé de manacá eu me estrepei,
Verrugas quando estrelas apontei,
Amor deu seu sorriso mais boçal.
Despido dos desejos meu prazer
Agora é tão somente já me ver
Subindo calmamente este degrau.
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Subindo calmamente este degrau
Eu vejo que encontrei a cobertura,
Na boca feita em mel, uma amargura
Fazendo a gente sempre passar mal.
Da tua capoeira o berimbau,
O manto que te cobre não me cura,
Volumes de um compêndio sem brochura
Gaivota disfarçada em bacurau.
No matagal de versos me perdi,
Em incontáveis vezes abstrai
E vi o quanto a vida é ruim sem lema
Na cama uma donzela em reboliço,
Acende o coração renova o viço,
Mostrando em paz profunda um raro tema.
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Mostrando em paz profunda um raro tema.
A fonte não se esgota e traz de novo,
Veneno tão gostoso quando provo
Uma ambrosia rara, bela gema.
Querida; só te peço: nunca trema,
Senão a gente quebra a casca do ovo
E o verso que sair trazendo estorvo
Decerto causará qualquer problema.
Não quero baboseiras tão românticas,
Nem teorias tolas, meras, quânticas,
Apenas o que sirva ao meu proveito.
Demônios recebidos fui Mefisto,
Sabendo que ao amor nunca resisto,
A sina de ser teu; agora aceito.
98
A sina de ser teu; agora aceito
E falo da vontade de te ter,
Recendes à ventura e ao bel prazer
Deitando bela e nua sobre o leito.
O jogo que começa a ser refeito
Regido pelas fontes do querer
Somando não concebe mais perder
E vive sem limites dá seu jeito.
Depois das ratoeiras espalhadas,
As caças passam ser ludibriadas
Jogando para as traças, fantasia.
Não sendo mais sequer um velho príncipe
Apenas me entregando, um vil partícipe,
Aos braços deste amor que me queria.
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Aos braços deste amor que me queria
Que fazem do meu corpo o seu joguete,
Não quero nesta vida mais confete
Apenas destruir esta agonia.
A noite vai passando em mão vazia
E o tempo ao qual amor já me arremete
Fazendo o que bem quer logo promete
Manhã que tão distante não viria.
Aborto de ilusões, a noite vaga,
A boca que me morde enquanto afaga,
Uma draga pedindo que eu me afaste,
Mas mesmo com sarcasmos, sigo rindo
Nem mesmo as tempestades prosseguindo
Não rompem da alegria esta dura haste
100
Não rompem da alegria esta dura haste
As dores e as tristezas reunidas.
Andando sem tropeço, nossas vidas
Não têm, eu te garanto, mais desgaste.
Amor quando se mostra num contraste
Revela e não releva mais saídas,
Num toque delicado, um novo Midas
Não deixa que de ti eu já me afaste.
Barganhas que fizemos no passado,
Jogadas neste canto malfadado
Não são sequer problemas para gente.
Eu vejo que nasci quando te vi
Ao matar a memória eu percebi:
Vontade de te amar se faz urgente.
101
Vontade de te amar se faz urgente
E forma rara plêiade de sonhos,
Repartem pensamentos mais risonhos
E ganham todo o espaço num repente.
O quanto em puro amor já se pressente
Dias melhores onde houve tristonhos,
Não quero perseguir gozos bisonhos,
Apenas que prossiga o amor da gente.
Um velho caminheiro sem descanso,
Fazendo da esperança o seu remanso
Num ato benfazejo, sempre exclama
E mostra ser possível liberdade
Enquanto cultivar felicidade,
Negando a dor solene, amargo drama.
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Negando a dor solene, amargo drama
Avanço sem temores, ganho o cais,
Estrelas derramadas, sensuais,
Decoram todo o quarto, nossa cama.
Desejo que atendamos quando chama
Em movimentos loucos, divinais,
Não quero te perder, amor, jamais,
À noite uma vontade nos inflama
E o jogo continua sem descanso,
Depois a calmaria de um remanso
Sentindo o bom perfume das madeixas
Que tocam o meu rosto- tentação,
E entregue a tais desígnios da paixão,
Decifro teus desejos, tuas deixas.
103
Decifro teus desejos, tuas deixas
E sigo em noite insana. Madrugada
Em meio a tempestades, velhas queixas,
Já deixam perceber uma alvorada
Além do quanto queres, mas não deixas.
Ao ter em sol imenso nossa estada,
Rainha se desnuda invoca as gueixas
E molda uma vontade disfarçada.
Nos seixos espalhados, mesmo rio,
Encontro em cachoeiras, desafio
E sigo peneirando o bem da vida.
E tendo esta nudez maravilhosa,
Ao perceber perfumes desta rosa
Entorno uma esperança tão querida.
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Entorno uma esperança tão querida,
Caminho entre estas fontes deslumbrantes
E penso em paraísos por instantes,
Minha alma enamorada e distraída...
Há tanto que buscara nesta vida
E nunca percebera interessantes
Momentos sensuais e provocantes,
Na força desta sanha concebida
Açoda-me a alegria, eu alço os céus
E a noite derramando raros véus,
Estende-se em luar, regendo os passos
De um venho caminheiro apaixonado,
E agora que te tenho aqui do lado,
Só quero em minha noite os teus abraços.
105
Só quero em minha noite os teus abraços.
Que servem de acalanto e proteção,
Vencido pela força em sedução
De quem eu procurei seguir os passos.
Recolho minhas luzes nos teus braços
E vejo ao fim do túnel, redenção.
Agora que encontrei a solução,
Não quero cometer mais erros crassos.
Sou teu e tudo eu faço para ter
Felicidade boa de beber
Seguindo cada rastro abençoado
Que deixas quando passas por aqui
Sentindo o puro amor que descobri,
Mostrando ao fim da estrada um raro prado
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Mostrando ao fim da estrada um raro prado
Prossegue a companheira de viagem,
Amar é uma eterna aprendizagem,
Às vezes é melhor ficar calado.
Enfrento a calmaria e mesmo o enfado
Sabendo que virá em nova aragem
O dia desejoso e tão sonhado,
Prazer tendo em teu corpo uma estalagem.
Se díspares buscamos mesmo senso,
Diverso do que queres quando penso,
Procuro coordenar até o fim
Sabendo ser possível a unidade
Vivendo plenamente em amizade,
Encontro aqui, contigo, amor enfim.
107
Encontro aqui, contigo, amor enfim.
E bebendo desta água eu não me canso,
O vento vem trazendo em seu balanço
O jeito de viver gostoso assim.
Tu és o que melhor existe em mim,
Certeza que apascenta o meu remanso
E traz em gesto alegre, vivo e manso
O cheiro da esperança. Quero assim
A vida que se dá pra quem se deu,
Estrela em fantasia se verteu
E trama em minha noite os universos
Longínquos de meus olhos, mas à mão.
No amor que é todo nosso, a comunhão
Trazendo algum sentido pr’os meus versos.
108
Trazendo algum sentido pr’os meus versos
Enfrento vigorosas tempestades,
Ouvindo plenamente tais verdades
Os dias com certeza vão dispersos...
De todos os meus sonhos, os seus berços
Cobertos pelas flores das saudades
Promete ao final, tranqüilidades,
Em gozos e prazeres mais diversos.
Nas mãos eu trago espinhos, pedregulhos,
Mas tendo a sensação de outros mergulhos
Afasto qualquer forma de perigo.
Depois que conheci amor perfeito
Matando a tempestade, e desse jeito,
Agora até sorrir em paz, consigo.
109
Agora até sorrir em paz, consigo,
Sabendo que enfrentei revoluções,
Os duros temporais, mil furacões,
Dormindo em mais completo desabrigo.
Colhendo bem mais joio do que trigo
Deixando para trás as plantações.
Nos olhos do amanhã, feras, leões
Na curva sempre em forma de perigo.
Amiga, amante, irmã e companheira,
Na mão que agora ampara mais ligeira
A paz toma lugar da tempestade.
A brisa costumeira que me acalma
Tomando num momento o corpo e a alma,
Aos céus vai penetrando e logo invade.
110
Aos céus vai penetrando e logo invade
Tomando cada rua e cada beco,
Arrebenta as represas e ganha eco
Espalha-se depressa na cidade.
Toando em explosão, felicidade,
Alaga um coração outrora seco,
E neste emaranhado, eu quero e peco
Bebendo até total saciedade.
No intenso fogaréu, uma esperança
Avança e não se cansa desta andança
Que trama um gosto raro; adentra o mar
Derrama no infinito tanta luz,
E o sol que farto brilho reproduz,
Espreita esta alvorada a debruçar.
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Espreita esta alvorada a debruçar
Por sobre as flores todas do jardim,
O sol ao ver beleza, vai enfim
Deitar a maravilha sobre o mar.
Em cores tão diversas, decorar
O mundo que guardei dentro de mim,
Na tela que se mostra, sigo assim,
Sentindo o quanto é raro e belo amar.
Quarando uma esperança no varal,
O riso delicado e sensual
Convida e a festa, eu sei, nunca termina.
Na dança que se faz revolução
Eu verto sobre ti, com devoção
E bebo o meu prazer na doce mina.
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E bebo o meu prazer na doce mina
Depois da dura seca que passei,
Agora que este oásis encontrei
Vontade de um mergulho me domina
E sigo no teu corpo a minha sina
De ter farto prazer que eu já busquei
Em terras tão diversas, só eu sei...
A lua em fantasias me alucina
E mostra novamente as nossas flores
Com pétalas diversas, multicores,
Suave melodia, sonhos gera.
O quanto eu te desejo, assim confesso
Emoldurado em luz, em versos peço:
Somemos nossos cantos, primavera,
113
Somemos nossos cantos, primavera,
Estrela que se fez em céu e mar.
Ao aprender o gosto de te amar,
Apascentei a dor, temível fera.
De tudo o que sonhei, em farta espera,
Percebo que encontrei sob o luar
O brilho que me embebe devagar
E em louca sedução vem e tempera.
Tocado por estrelas tão diversas,
Vagando pelo mar luzes dispersas
Sentindo uma alegria qual torrente.
Do céu aos mais profundos abissais,
Do mar aos infinitos sóis astrais,
Eu vou seguindo a vida simplesmente.
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Eu vou seguindo a vida simplesmente.
Fazendo meus repentes sobre amor,
O coração se mostra sonhador
E deita sobre um sonho inconseqüente.
Aos borbotões palavras em torrente
Nadando neste mar: computador,
Às vezes passam ágeis, com vigor,
Brotando em turbilhão desta vertente.
Nascentes e cascatas, fontes tantas,
Palavras são profanas, mesmo santas
E fazem deste amor, caminho e foz.
As frases vão girando na ciranda,
Deitando o meu lirismo na varanda,
Sentindo o sol brilhando sobre nós.
115
Sentindo o sol brilhando sobre nós
Percebo quanto é boa a nossa vida.
Na boca sinto o gosto da bebida
Roubada num desejo mais feroz.
Mantendo bem distante a dor algoz,
A solidão há tempos esquecida
Jogada n’algum canto, envelhecida,
Autofágica morre em frios nós.
Assim, dois andarilhos tão unidos,
Destinos e desejos parecidos,
Tramando nesta vida comuns traços
Já sabem do prazer de tanto amar,
Eclipsando o meu sol em teu luar
Tendo a minha sina nos teus passos.
116
Tendo a minha sina nos teus passos
Esqueço o que passei, ergo a cabeça,
O sonho de viver já recomeça
Deixando os medos pálidos e lassos.
Respeito teus caminhos, teus espaços,
Mas peço, meu amor nunca me esqueça
Não tendo mais na vida tanta pressa
Caminho par a par; estreitos laços.
Somando o que nós somos, eu vejo um,
Não quero te perder de jeito algum
No barco da existência nossos remos
Unidos demonstrando que união
Permite que se encontre a solução
A par do sonho raro que vivemos.
117
A par do sonho raro que vivemos
Sentindo todo o visgo deste amor,
Percebo este poder transformador
E vago pelo rumo que escolhemos.
De toda a luz que em glória recebemos,
Mosaico de alegrias a compor
Um mundo mais sublime ao meu dispor
Além do céu imenso que nós vemos.
Ao ter nos olhos brilho da esperança
A gente vai dançando a mesma dança
No brilho que te entrego e que recebo
Dos olhos desta bela namorada,
História que passei; abandonada,
Martírios que vivi; já não concebo.
118
Martírios que vivi; já não concebo
Nem deixo mais a dor me conquistar,
Tristezas vão em bando, volto ao mar,
No fogo do prazer que ora recebo.
Um novo amanhecer, enfim percebo
Depois de tanto tempo a divagar,
Aflora no meu peito o bem de amar,
Teu néctar mavioso; agora bebo.
Quem fora simplesmente um sonhador,
Ao ver amanhecer a recompor
Estrada que trazia o mesmo não,
Não pode mais deixar de agradecer
Ao ver em belos dias perecer,
Verdugo de meus dias, solidão.
119
Verdugo de meus dias, solidão
Do sofrimento faz sua alegria,
Matando pouco a pouco, a cada dia
Impede que se veja a redenção.
Repete eternamente o mesmo não,
Trazendo a tão voraz melancolia,
Não tendo do meu lado quem queria
O vento transformado em furacão.
Porém ao ter comigo esta presença
Que traz nas mãos consigo a recompensa
Depois de tanto tempo assim de espera.
Teus olhos me remetem ao futuro
E sinto que virão do céu escuro,
Enchentes de florais na primavera.
120
Enchentes de florais na primavera
Certeza de um perfume inesquecível,
Amor quando se mostra indivisível
Já torna bem mais mansa a louca fera.
Deitando o seu luar sobre a tapera
A lua traz no amor o seu fusível
E mostra, na verdade ser possível
O sonho que se quer e que se espera.
Temperos que encontrei nos lábios teus,
Adoçam ilusões, matam adeus
E põem tal fartura em nossa mesa.
De tanto que te quis e te esperei
Agora grito ao mundo que encontrei
Uma esperança feita em fortaleza.
121
Uma esperança feita em fortaleza
Não pode ser calada ou destruída,
Pois sendo a cada dia, construída
Expressa com vigor, farta beleza.
Nos olhos de quem amo tal grandeza
Ao ver uma esperança refletida,
Percebo que encontrei em minha vida
Depois da negação, esta certeza
De ter já concebido o meu futuro
Moldado em sentimento bem mais puro,
Depois da dura queda estou refeito;
Ao ter uma alegria como cais
Eu sinto que se foi pra nunca mais
A dor que latejara no meu peito.
122
A dor que latejara no meu peito
Aos poucos se esvaindo lentamente,
Ao ver que posso amor tão plenamente
O meu prazer em ti; querida, eu deito.
Vanglória que me ufana a cada feito,
Invade com desejos minha mente,
Entorno esta vontade que é da gente
E tudo o que fizeres é perfeito.
Na sílfide divina e colossal,
O riso desejado e sensual
Encharca de vontades e ternuras...
Uma escultura rara em puro encanto
Permite-me dizer que eu quero tanto
Teu corpo; a mais divina das molduras.
123
Teu corpo; a mais divina das molduras
Espalha em minha cama mil prazeres,
Ao ter a mais perfeita das mulheres
Esqueço antigas dores, amarguras.
Enquanto a noite é plena de ternuras
Marcada pelo gozo dos quereres
Misturas que se fazem de dois seres
Promessas mais sublimes de loucuras.
No encanto que irradias; sol profano,
O tempo de viver vai soberano,
Permite vislumbrar, da terra o Céu.
E sinto o quanto quero o teu querer,
Enovelando os corpos, posso ver:
Galopa em liberdade o meu corcel!
124
Galopa em liberdade o meu corcel
Sentindo este bafejo da esperança,
Nas mãos que se procuram já se alcança
O gozo da ventura em carrossel.
Vertendo em tua boca puro mel,
A noite vaga intensa em louca dança,
A dor ludibriada enfim se cansa
A fantasia cumpre o seu papel.
E vejo, depois disso, renascer
O dia claro, envolto no prazer
Que a cada novo toque em gozo mina.
Imerso na beleza desta trama
A vida em profusão; sinto, se inflama
No sol que nos bendiz quando ilumina.
125
No sol que nos bendiz quando ilumina
Persigo cada rastro que deixaste,
O brilho que eu bem sei, tu entornaste
Há tempos com certeza, me fascina.
Desfilas o sorriso de menina
Que traz tanta pureza por contraste,
Sabendo das ternuras que encontraste
No amor em perfeição, sublime mina.
Perdoe se te falo num soneto
Que em ti, e tão somente eu me completo,
Não quero caminhar sozinho e cego.
Apenas que me escutes, eu te quero
Desejo tresloucado mostra esmero
No quanto que te quero e nunca nego.
126
No quanto que te quero e nunca nego
Eu moldo o meu futuro antes incerto,
Pois tendo o teu carinho aqui por perto
Um mar de imensos sonhos eu navego.
À vida refazendo antigo apego
Trazendo uma esperança em meu deserto
Carinhos e desejos que eu te oferto
E a cada poesia; amor, entrego.
Eu tento disfarçar, mas não consigo,
No quanto eu te desejo e tenho abrigo
Apenas no teu corpo sensual.
Numa homenagem justa ao deus amor,
Num brinde à poesia a te propor
Ergamos belas taças de cristal.
127
Ergamos belas taças de cristal
Iremos, depois disso ao infinito,
Fazendo da emoção o nosso rito,
Navego espaço aberto, sideral.
O beijo que transforma, sem igual,
Ao ter o teu carinho, o céu eu fito,
Derretes a dureza do granito,
Tu és da minha vida, sol e sal.
Eu tenho os olhos tristes de quem teve
A vida num inverno feito em neve,
Porém a primaveras se pressente
Ao ver nos olhos claros, meu farol,
Tocado dentro da alma, um girassol
Levado pela luz numa torrente
128
Levado pela luz numa torrente
Invado o amanhecer de uma esperança.
Traçando o meu futuro, na lembrança
Passado vai morrendo, felizmente.
Por mais que a solidão, audaz, já tente,
Eu tenho uma alma livre de criança
Fazendo com meus sonhos a aliança
Que sempre me permite estar contente.
Farrapos esquecidos, nem resquícios,
Consigo ultrapassar os precipícios,
Pois tenho o pensamento mais veloz
Saltando simplesmente, ignoro o muro
Trazendo o coração sincero e puro
Não temo o que virá depois, após.
129
Não temo o que virá depois, após
O tempo em que passamos tão distantes,
O rio se perdendo em variantes
Diversas do que fora, outrora, a foz.
O pensamento livre é mais veloz,
Mas segue por caminhos inconstantes.
Alvoreceres vários já garantes,
Porém a solidão se torna algoz.
Revendo os erros todos cometidos
Vontades vão roçando os meus sentidos
E entrego-me na força de teus braços
Sabendo que depois de tanto tempo
Encara novamente um contratempo,
O coração imerso em belos paços
130
O coração imerso em belos paços
Invade qualquer rua ou quarteirão,
Nos jogos tão difíceis da paixão
Errando, muitas vezes, perco os passos.
Desejos e prazeres mais devassos
Enfurnam-se no fogo em sedução,
Causando enfim, em nós, revolução,
Adentra as nossas carnes. Firmes aços.
Partindo do que fomos – seres sós,
Nas asas deste sonho, mais veloz,
No intenso vendaval que recebemos;
Depois de conhecermos o naufrágio,
Qual velho timoneiro, sábio e ágil,
O amor toma nas mãos o leme, os remos.
131
O amor toma nas mãos o leme, os remos
Enfrenta os vendavais, cabeça erguida.
Mudando assim o norte em nossa vida
No quanto em dor, prazer; nós recebemos.
Nos céus quando nublados, percebemos
A luz que, eu sei, virá mais decidida
A dor em esperança convertida
E nela, amanhecer que inda teremos.
Vagando em turbilhão, nos apascenta,
Na calmaria plena e violenta
De um gêiser refrescante aguardo e bebo
Ancoro uma alegria em turbulência
Tomado pelo doce efervescência
Carinhos mais gentis; dou e recebo.
132
Carinhos mais gentis; dou e recebo
Embora muitas vezes tenha o não
Como resposta a tal proposição,
Um dia bem melhor, sempre concebo.
Do imenso sentimento eu já percebo
O seu poder maior: transformação.
E mesmo quando encontro a negação,
O gozo da esperança eu quero e bebo.
Nos olhos de um amigo, de um amor,
Eu creio em outro dia a se compor
Deixando no passado, a solidão.
Querendo deste bem à saciedade
Amor vem soerguendo a liberdade
Deixada para trás no rés do chão.
ESPIRAL DE SONETOS PARTE 03
133
Deixada para trás no rés do chão
Rasteja pela casa a vil serpente,
Do quanto que se fez tão envolvente,
Morrendo pouco a pouco, a solidão.
Ao ter em novo amor, a redenção,
Um dia mais feliz já se pressente
E o corpo entregue ao lume incandescente
Do fogaréu imenso da paixão.
Sentindo em teu perfume esta evidência,
Na tua tez morena, a transparência
Do gozo sem limites, desfrutar.
Qual colibri que voa enamorado,
Chegando mansamente do teu lado,
Teu néctar; vou sorvendo com vagar.
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Teu néctar; vou sorvendo com vagar
Até sentir-me pleno e saciado,
Do amor que tu me entregas, lambuzado,
Vontade de invadir e de ficar
Posseiro de teu corpo a me embrenhar,
Meu barco nos teus portos, ancorado
No mar do amor imenso, naufragado
Viagem sem limites e sem par.
Sem cercas ou fronteiras, somos um,
No gozo que se explode, um bem comum,
Não tendo qualquer forma de defesa
A lua dos amantes, sem juízo,
Ao pratear insano paraíso
Derrama sobre nós farta beleza,
135
Derrama sobre nós farta beleza
Constelação de cores mais diversas,
Unindo sensações antes dispersas,
Traz raras iguarias para a mesa.
E o quarto se transborda em correnteza,
Voando o pensamento em belos persas
Tapetes maviosos, gozos versas
E deitas fabulosa uma certeza
De ter as soluções nos frágeis frascos
Quebrando dos temores os seus cascos,
Eu sigo em tal magia, satisfeito,
A solidão distante e já sem prumo,
Sem norte ou direção, perdendo o rumo
Ao ver o seu caminho contrafeito
136
Ao ver o seu caminho contrafeito,
A dor em solidão nos abandona,
De todos os desejos és a dona,
Domando a rebeldia que em meu peito
Tornara em rumo incerto e insatisfeito
O vago que voltando sempre à tona
Enquanto a fantasia inda ressona
Incorpora a tristeza enquanto deito.
As farpas que trocamos vez em quando
Deixaram cicatrizes. Mas voltando
Os olhos para estrelas bem mais puras
Pudemos vislumbrar, com alegria
Um novo amanhecer que enfim seria
Repleto de prazeres e ternuras.
137
Repleto de prazeres e ternuras.
Que encontro tão somente em ti, querida,
Alvíssaras invadem nossa vida
Tramando o doce alento das loucuras.
Cerzindo com belezas emolduras
Em nós a maravilha pressentida
No quanto a luz se fez e foi vertida
Nas plêiades, fantásticas molduras.
Qual fora um beija-flor enamorado,
Vagando flor em flor, sinto ao meu lado
Depois de tanto vôo, cego, ao léu
Permito-me dizer do quanto é belo
Este mundo noviço que revelo,
Bebendo nesta boca o doce mel.
138
Bebendo nesta boca o doce mel
Que traz uma fartura feita em gozo,
O tempo de viver é caprichoso
E às vezes nos parece mais cruel.
Sentindo esta vontade em fogaréu,
No mar que se faz farto e melindroso
De uma tranqüilidade sou esposo
Galgando em tua pele ascendo ao céu.
A vida prosseguindo assim, suave
Não tendo mais tristeza que me entrave
Embarco nos teus sonhos de menina
Castelos que criamos. Fantasias,
E um mundo todo pleno em alegrias,
Felicidade imensa descortina.
139
Felicidade imensa descortina
Sorvendo cada gota de prazer,
O canto em que me sinto embevecer,
A cada novo instante determina
O rumo ao qual amor já nos destina,
Um deslumbrante e clara alvorecer.
No corpo enlanguescido eu posso ver
Beleza sem igual, diamantina.
Decifro os teus sinais e sigo os rastros,
No amor que me extasia tenho os lastros
E com toda certeza, assim trafego
Sem medo de encarar quaisquer tempestas,
Sabedor dos caminhos – curvas, frestas,
Ao bem de tanto amor, eu já me entrego.
140
Amor fazendo amor, prazeres gera
E nisso se refaz nova esperança,
No trilho que prossigo a cada andança
Acalmo toda dor, esmago a fera.
No peito de quem sofre; uma cratera
Destrói em solidão a confiança
Apenas no amor, tenho a fiança
De ver nascer mais forte a primavera.
Entrego cada passo, rumo certo,
Aguando em alegria o meu deserto,
Tocado pelo intenso vendaval.
Felicidade imensa se revela
Quando minha alma calma já se atrela
Ao bem que se mostrando sem igual.
141
Ao bem que se mostrando sem igual
O coração se faz doce e cativo,
Nas tramas deste sonho eu sobrevivo
E bebo cada gota, triunfal
O amor faz da alegria um ritual,
Do quanto sou feliz jamais me privo,
Erguendo o meu olhar, prossigo altivo
Já sei desta aventura o seu final.
Após perambular a vida inteira
Na busca sem limites, verdadeira
Cansado da mesmice de um adeus,
Depois de conhecer o duro inverno,
Atravessei os pórticos do inferno,
Chegando depois disso aos braços teus.
142
Chegando depois disso aos braços teus
Após os erros todos cometidos,
Enganos que já foram esquecidos
Percebo o quanto é triste um vago adeus.
Alegrias se dão em himeneus
Deixando os meus terrores destruídos,
Os dias mais felizes pressentidos
Invadem os sentidos, nossos, meus...
A par do que sentimos nada temo,
Nem toda a aleivosia, nem o Demo,
O mal adormecido não me alcança.
Ao ter tanta certeza aqui comigo,
No passo mais audaz sempre prossigo
Contendo em minhas mãos esta esperança.
143
Contendo em minhas mãos esta esperança
Menina bem travessa faz a festa,
O quanto que eu já tive, a vida gesta
Deixando o bom sabor de uma festança.
Uma esperança a mais amor alcança
E adentra qualquer pântano ou floresta
Loucuras de prazer, amor atesta
E a noite se permite vir mais mansa.
Joguete dos sentidos, riso e pranto,
Do quanto necessito, eu não me espanto
Escravo consciente da paixão.
Na força imorredoura deste sonho,
A cada novo verso eu te proponho
Fartura de esperança e de emoção.
144
Fartura de esperança e de emoção
Coloco a fantasia em cada verso,
Não quero mais saber de andar disperso,
Encontro finalmente a direção
Cansado de enfrentar o mesmo não
Eu quero abrir o peito ao universo,
Nos braços de quem quero, vou imerso,
E a vida agora mostra a perfeição.
Depois de tanto tempo, sendo frágil,
Após colecionar queda e naufrágio,
Encontro o meu destino verdadeiro.
Singrando os oceanos da loucura
Percebo o fim de toda esta procura
Levando para a praia o meu saveiro.
145
Levando para a praia o meu saveiro
Encontro no teu corpo, ancoradouro,
O derradeiro porto, o meu tesouro,
Meu sol de intenso brilho, alvissareiro.
Muito além de um prazer mais corriqueiro
Nas ondas de teus mares eu me douro,
E sinto finalmente o bom agouro
Roçando os meus lençóis, meu travesseiro.
Estampas num sorriso o quanto queres
Além deste desejo que conferes
A quem se fez cativo destes laços
Eternidade feita em atitude
Eu sinto renovar-me em juventude,
Vagando a noite, imerso nos teus braços.
146
Vagando a noite, imerso nos teus braços
Adentro pelas praias da loucura,
Estendo o meu navio na procura
De ter a plenitude dos espaços
Deixados no caminho, sigo os passos
De quem se fez distante da amargura,
Numa explosão sem par, farta ternura
Amenizando a vida, cala os aços.
Não quero mais amor em solilóquio
Seja em Paris, em Roma, Rio ou Tóquio
Eu quero estar contigo lado a lado.
Melancolia outrora uma vizinha,
Abandonada morre tão sozinha
Jogada na gaveta do passado.
147
Jogada na gaveta do passado
Lembrança que se fez um duro algoz,
A noite vem trazendo a sua voz
Deixando o coração desesperado.
O grito da esperança em alto brado
Socorre o pensamento e vem veloz,
De novo uma promessa traz os nós
Do amor que em pleno se fez atado.
De sentimentos frios e servis,
Marcando em ferro frio, a cicatriz
Não deixa uma alegria transbordar.
Porém ao ter aqui tua presença
Espero finalmente a recompensa
Agora que encontrei o bem de amar.
148
Agora que encontrei o bem de amar
A par do que sentimos vou em frente.
Meu peito ao se mostrar assim contente
Já sabe do prazer que irá chegar.
Partilha tão gostosa de tramar
Ao ter quem com carinho nos alente
Num toque mais suave a gente sente
O mundo em esperanças mergulhar.
Na dança a contradança se garante
E tudo se transforma ao mesmo instante
Em que nossos sentidos vão imersos
Trazendo à flor da pele a sensação
De quem já descobriu a direção
Vagando nos meus sonhos, nos meus versos.
149
Vagando nos meus sonhos, nos meus versos
Palavras multiplicam sensações,
Estrelas mergulhando aos borbotões
Medos vagalumeiam, vãos, dispersos.
Não quero mais rancores tão perversos
Nem mesmo em minha vida os turbilhões,
Bebendo da alegria tais poções
Adentro os mais incríveis universos
A sorte está lançada nestes dados,
Mudando com certeza, velhos Fados,
Prenúncios de alegria em minha vida.
Tristeza tão amarga de tragar,
Sumindo no horizonte devagar,
Nos olhos da esperança vai vencida.
150
Nos olhos da esperança vai vencida
Amarga solidão, temível fera.
Ao ter quem tanto quis em larga espera
Percebo um novo tom em minha vida.
Por mais que a noite venha a ser doída
Tua presença agora me libera
Ao mesmo tempo a luz se regenera
Aponta ao fim de tudo, uma saída.
Olhando o meu reflexo no teu rosto
Eu vejo o quanto quero estar exposto
Nesta vitrine imensa e magistral.
Reluzes com raríssima ternura
E a vida ao se mostrar plena ternura
Espelha esta beleza sem igual.
151
Espelha esta beleza sem igual
O rosto da mulher que me encantou,
Reflete num sorriso angelical
Aquilo que o amor proporcionou.
Na boca tão carnuda e sensual
O beijo da alegria se entornou,
Bebendo o teu prazer suor e sal
Concebo o que meu sonho em ti buscou.
Na tua morenice mais matreira
Explorador perfaz sua bandeira
E sabe o que deseja desbravar.
Amor que não permite uma fronteira
Percebe uma alegria verdadeira
Sentindo uma esperança aqui chegar.
152
Sentindo uma esperança aqui chegar
Eu faço de meu verso um estandarte
Podendo mansamente enfim, amar-te
Tocado pelo sonho, invado o mar
E sinto que é preciso navegar
Além de um infinito irei buscar-te
Teus rastros; espalhaste em toda parte,
Pressinto a imensidão a me tocar.
Não temo mais batalhas, labirintos,
Vulcões da solidão eu sei extintos,
E sinto a calmaria quando deito
Trazendo em nosso amor esta certeza,
Vencendo em destemor qualquer surpresa:
Uma esperança imersa em nosso peito.
153
Uma esperança imersa em nosso peito
Aos poucos vai mudando o meu caminho,
Pois quando em teu amor eu já me alinho
Felicidade mostra-se um direito.
O rumo para a glória é bem estreito,
Não permite sequer sonhar sozinho.
Arranco com firmeza cada espinho
Enquanto o meu destino, agora aceito.
Luzindo no vigor de uma manhã
Encaro com destreza cada afã
E a doce fantasia amor conduz.
Vencendo os temporais que eu encontrar
A vida com certeza irá brilhar
Não tendo em minha vida urze nem cruz.
154
Não tendo em minha vida urze nem cruz
Estendo o coração neste varal,
Enfrento qualquer medo ou temporal,
Sabendo que contenho imensa luz.
Ao vento da saudade eu já me opus,
E desta luta insana, triunfal,
Fazendo do teu corpo a catedral
Que imensa fantasia reproduz.
Ao ver depois de tudo, um horizonte,
A vida vai cessando o seu desmonte
Depois de tanto tempo em dura espera
Renasço e vou feliz, sabendo disto.
Repito novamente – sempre insisto-
Amor fazendo amor, prazeres gera.
155
Amor fazendo amor, prazeres gera
Círculo vicioso e benfazejo,
Extrema sensação, louco desejo,
Aflora a insanidade da pantera.
Rasgando no meu peito a primavera
Entranha as maravilhas que eu almejo,
Floradas sem igual; quero e prevejo,
Sem ter o sofrimento feito espera.
Felicidade é feita a cada dia,
Tocando pelo vento que queria
Transforma a tempestade em brisa mansa.
Alucinadamente, eu me inebrio,
Vertendo em doce insânia, este pavio,
Encanto em profusão, nossa aliança
156
Encanto em profusão, nossa aliança
Pressupõe risos francos, fartos gozos,
Trafego por espaços prazerosos
E à terna fantasia, amor alcança.
Olhar enamorado por léguas trança
Invade os arvoredos mais frondosos
Grileiro enfrenta os riscos tenebrosos
Até chegar à senda bela e mansa.
Caminhos que desvendam meus segredos
Permitem vislumbrar novos enredos,
Pujantes esplendores da esperança.
Envolto pela luz em que tu brilhas,
Por mais que sejam duras nossas trilhas
Quem ama de verdade não se cansa.
157
Quem ama de verdade não se cansa
Decifra todos os signos que encontrar,
Não teme mais distância, enfrenta o mar
E segue, peito aberto, com pujança.
Nas ruas e luares, a lembrança
Permite o que se quer rememorar,
Fazendo de teu porto o meu altar,
Numa alegria imensa de criança.
O coração de um triste sertanejo,
Entregue à sensação – calmo desejo,
Escuta um canto amargo do passado,
Mas tendo o plenilúnio de um amor,
Compõe num verso breve e sonhador,
Toada de um caboclo enamorado.
158
Toada de um caboclo enamorado
Espalha no sertão um canto leve,
A lua extasiada já se atreve
E chega com fulgores ao seu lado.
Distante de outro verso rebuscado
Espalha uma emoção sincera e breve,
A cada novo acorde já descreve
O quanto é bom estar apaixonado.
Na lírica explosão dos sentimentos,
O coração liberto exposto aos ventos
Encarna a divindade num segundo,
O simples sertanejo sabe bem
Que todo este universo já contém
Quem tem dentro de si amor profundo.
159
Quem tem dentro de si amor profundo
É quase um semideus, conhece a glória,
Não sabe mais da dor tão merencória,
Permite-se num sonho, novo mundo.
De toda esta alegria eu já me inundo
E sinto vir no vento uma vitória,
Estrada antes deserta, agora é flórea
Secando o pantanal, outrora imundo.
A lúdica emoção de ser criança
Na qual a fantasia enfim descansa,
Amor não mais se perde, um andarilho.
E tendo o raro lume que me invade,
Numa bonança após a tempestade,
Estrelas multiplicam farto brilho.
160
Estrelas multiplicam farto brilho
Espalham sobre a Terra diademas
Nos olhos sonhadores, seus emblemas
Vencendo qualquer forma de empecilho.
Atalho meus caminhos, sigo o trilho
Deixando bem distantes os problemas,
Querida, não há nada que tu temas
Nas sendas deste amor que eu engatilho.
A solidão que fora duro algoz,
Ao ter a percepção dos nossos nós
Aos poucos se apascenta e vira brisa.
Varrida para sempre dos caminhos,
Vencida pela força dos carinhos,
Numa esperança viva, ela agoniza.
161
Numa esperança viva, ela agoniza,
E morre pouco a pouco, lentamente,
Quem fora sempre sórdida, inclemente,
Transforma-se num vento manso, em brisa.
Às vezes um sorriso mimetiza,
Retrato que se mostra opalescente,
Porém amor já deixa transparente
E o sentimento em paz à glória visa.
Ao vê-la padecendo, eu regozijo
De todos os temores já me alijo,
Recebo o bom frescor da primavera.
Ao ter do manso amor clara certeza,
Levado por divina correnteza,
Esqueço a solidão, temível fera
162
Esqueço a solidão, temível fera
Ao ter tua presença aqui, comigo,
O quanto que passara em desabrigo
Na espreita, de tocaia, numa espera.
Aberta no meu peito, uma cratera
Exposta a qualquer forma de perigo,
O sentimento amargo e tão antigo
Durante a vida inteira me tempera.
Porém ao perceber tua atitude
Vencendo assim qualquer vicissitude
Recebo o vento amável que persigo.
Refazes com carinho a juventude,
Desta alegria imensa, faz-se açude.
Atando nossos nós, irei contigo.
163
Atando nossos nós, irei contigo
Cercado pelos brilhos deste sonho,
O quanto eu te desejo e te proponho
Um mundo mais feliz; quero e consigo.
Teus passos pela vida, agora eu sigo
E vejo amanhecer calmo e risonho,
Não tendo mais segredo vil, medonho
Enfronho meu destino em nosso abrigo.
Durante o duro inverno que passamos,
Frondosas esperanças, fortes ramos
Mostraram mais possíveis tais encantos,
Mudando num momento esta estação
Aquece-se na força de um verão
O frio em minhas mãos, tremores tantos...
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O frio em minhas mãos, tremores tantos,
Enrijece meus dedos, corta fundo.
Atravessando o tempo num segundo
Eu busco a primavera em seus encantos.
Procuro os teus sinais vasculho os cantos,
Vagando sem descanso pelo mundo.
Em vértices diversos me aprofundo
E colho tão somente, dores, prantos.
Quisera poder ter a claridade
De ter sempre comigo a liberdade
E nela o pleno amor já se entranhando.
E quando sinto enfim o teu sorriso,
Percebo como fora algum aviso
Tentáculos da sorte nos tocando.
165
Tentáculos da sorte nos tocando
Exprimem o que sempre desejei,
Fazendo deste sonho a nossa lei,
Eu sinto o nosso amor me libertando.
As dores e tristezas sempre em bando
Depois de certo tempo, naveguei,
Porém no amor imenso eu me entreguei
E o mundo de repente foi mudando.
Mundanas fantasias, fátuo fogo,
Agora em luz sublime já me afogo
E vejo um claro dia, de repente.
Fazendo a ti, querida, uma homenagem,
Meu peito vai se abrindo em nova aragem,
Brindando à nossa glória fartamente.
166
Brindando à nossa glória fartamente
Inebriado sonho ao qual me entrego,
Prazer que em fonte rara não renego,
Expressa o que desejo plenamente.
O quanto é necessário que contente
Um coração outrora vago e cego,
Permite-se dizer que em raro apego
A vida transbordada em tal torrente.
Sagrando cada verso que eu te faço
Ao novo amanhecer sem embaraço,
Nas águas da monção do amor me inundo.
Na bela alegoria em claro véu,
Eu toco num momento imenso céu,
Vivendo o nosso amor, raro e profundo.
167
Vivendo o nosso amor raro e profundo
Estendo as minhas mãos ao infinito,
Amolecendo em paz, duro granito,
O tempo vai mudando, giramundo.
Um coração que outrora vagabundo
Não tinha uma esperança como rito,
Ao ter o teu sorriso tão bonito
Transforma a sua sina em um segundo.
Agora ao perceber rara ventura,
A noite que virá não mais escura
Trará a eternidade a cada passo.
O vento transformado em mansa brisa
Audaz e com certeza mais precisa,
Minha esperança afeita ao teu abraço.
168
Minha esperança afeita ao teu abraço
Não quer desvincular-se nunca mais,
Agora que encontrou seu manso cais
Recebe o vento calmo a cada passo.
Atados lado a lado não desfaço
Os nós que nos uniram, magistrais,
Vencendo os precipícios abismais
Um novo alvorecer contigo, contigo eu traço.
Qual fora um privilégio inesquecível
A força que nos une, indestrutível
Impérios constelares segue e trilha.
Sentindo finalmente esta magia:
O quanto a vida em paz já se anuncia
Em minhas mãos contendo a maravilha.
169
Em minhas mãos contendo a maravilha
De um dia mais feliz que procurara
Deixando bem distante a senda amara,
Adentro o puro amor, e sigo a trilha
Da luz que tantas vezes, andarilha
A minha redenção desamparara.
Cortando bem mais fundo, em dura escara,
Fechando dos meus sonhos a escotilha.
Em cântaros meus olhos se verteram,
Até que finalmente perceberam
Estrela matutina que se alcança
Apenas num segundo, em pensamento,
E o brilho desta estrela num momento,
Entorna sobre nós rara esperança
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Entorna sobre nós rara esperança
O brilho em carrossel do amor que trazes,
Não tendo mais palavras sequer frases,
Apenas este amor que agora alcança
Minha alma que guardara na lembrança
Distantes ilusões, longínquas fases
De dias tão doridos quanto audazes
Matando o que restou de uma criança.
Das farpas que trazia em ironia,
A mansidão na voz demonstraria
A força deste amor, claro e preciso.
Mulher maravilhosa, bela e sábia
Trazendo na doçura, tanta lábia,
Sabendo transformar a dor em riso.
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Sabendo transformar a dor em riso
As tuas mãos mitigam sofrimento,
A vida vai tomando enfim assento
Trafego esta ilusão, vou sem aviso.
Metamorfoseado eu me matizo,
Seguindo até o fim, nego o tormento,
Enquanto estou contigo eu me apascento
E em cada novo dia, mais conciso.
Por vezes me escondera e numa espreita
Sentindo uma alma livre e satisfeita,
Eu quis estar contigo lado a lado,
Sorvendo cada gota da esperança
Que imerso em pleno amor, a glória alcança
Nos raios deste céu iluminado.
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Nos raios deste céu iluminado
Eu vejo refletido um raro sol,
Inunda em claridades o arrebol
Deixando um rastro imenso e bem traçado.
O pensamento audaz prossegue alado,
Seguindo cada brilho, girassol,
Refém da magnitude do farol
De toda esta beleza, enamorado.
Quem sente a maravilha de poder
Decifrar os enigmas do prazer
Adentrando o nirvana num segundo,
Ao ter a força imensa de um amor
Não é mais tão somente um sonhador,
Já sabe conquistar, decerto o mundo.
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Já sabe conquistar, decerto o mundo
Aquele que se mostra por inteiro,
Amor que é benfazejo e verdadeiro,
Um sentimento raro e tão profundo.
Nos braços deste sonho eu me aprofundo
E sinto o vento manso e lisonjeiro
Que trama num sorriso, mais matreiro,
Atando um coração que é vagabundo.
Adentro as doces sendas da emoção,
Tocado pelo lume em sedução,
Amor dispara assim, o seu gatilho.
E tendo a claridade que sonhara,
Meu passo com firmeza já se ampara,
Não vendo mais sequer um empecilho.
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Não vendo mais sequer um empecilho
Afasto os pedregulhos do caminho,
Adorno em fantasias este trilho,
Priorizando a rosa, mato o espinho.
Não quero a solidão de um triste exílio,
Por isso no teu colo – amor – me aninho
Das tramas da esperança, como um filho
Eu bebo cada gota, esgoto o vinho.
Meus olhos procurando o firmamento
Percebem nos teus olhos este ungüento,
E a sorte num momento já me avisa
Do quanto eu sou feliz em te querer
Raiando em bela aurora – eu posso ver -
Manhã vem renascendo em mansa brisa.
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Manhã vem renascendo em mansa brisa
Depois da tempestade que passamos.
Das árvores do amor, quebrando ramos,
O sol que agora nasce nos avisa
Do quanto é necessária a mão precisa
Na qual, felicidades encontramos,
Ao mesmo tempo em que nos aparamos
A dor vai fugidia, assim desliza
Por entre os descaminhos; solitária,
Palavra benfazeja é necessária
E mostra ser possível novo dia.
Assim iremos juntos, solidários
Decerto não seremos solitários
Já tendo uma esperança como guia.
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Já tendo uma esperança como guia
Enfrento a solidão com destemor,
O quanto se faz claro que este amor
Derrama sobre nós a poesia.
Da voz que tanto tempo me dizia
Que a cada novo obstáculo a transpor
O sentimento encontra mais vigor,
Mostrando em plena paz tanta alegria
Eu sinto o toque calmo e soberano,
Cerrando para sempre o desengano,
Condenado ao eterno desabrigo.
Qual lavrador que um sonho cultivara,
Numa colheita amena, bela e rara
Recolho cada rastro que persigo.
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Recolho cada rastro que persigo
Deixado pelos cantos da cidade.
Separo na colheita joio e trigo,
Encontro o que mais quero; a liberdade.
Partilha que se faz leva consigo
Princípios da total fertilidade,
Além de simplesmente ser amigo
Eu quero o teu amor, eis a verdade.
Num átimo percorre o pensamento,
Levando para longe num momento,
Invade sem porteiras, outros cantos,
Nas mãos frias, suadas, passo a ter,
E aos poucos já começo a perceber
Sintomas que demonstram tais encantos.
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Sintomas que demonstram tais encantos
Diagnosticam amores incontidos,
Sussurros misturados com gemidos,
Sorrisos invadindo calam prantos.
Dos corpos que se buscam feitos mantos
Temores são deveras já vencidos
Numa explosão sem par, nossos sentidos
Entregues à loucura sem espantos.
Numa explosão divina, pois atômica,
A intensa confusão se faz harmônica
Revolução do gozo, insano bando.
E em meio a tanta insânia, alucinante,
Surgindo em claridade deslumbrante,
O dia em alegria vem raiando.
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O dia em alegria vem raiando
Invade com seus brilhos nossa casa,
Fagulhas antevendo intensa brasa
Que aos poucos todo o sonho vem tomando.
Sinais que amor nos mostra, decifrando
A sorte nos sorri e não se atrasa
O pensamento, enfim vai criando asa
E não pergunta mais aonde e quando.
Apenas se deixando navegar,
O velho timoneiro adentra o mar
E o gozo da alegria já pressente.
Captando a luz intensa deste sol,
Seguindo o brilho insano de um farol,
Amor mudando o rumo, de repente.
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Amor mudando o rumo, de repente
Por mares poucas vezes navegados,
Recebe da alegria os seus recados
E sabe convergir completamente.
Atalha por um rumo diferente
E imerso em maravilhas, calmos prados
Olvida num momento os duros brados
E o vento em mansidão, agora sente.
Liberto das algemas que trouxera,
Refaço a mais sublime primavera
De toda a calmaria enfim, me inundo.
Ao ter tal percepção, águo o deserto
Depois de tanto tempo e já liberto,
Permito ao coração ser vagabundo.
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Permito ao coração ser vagabundo
Vagando, colhe estrelas, rasga o céu,
Galopa sem limites meu corcel
Persegue em pensamentos, novo mundo.
Destinos tão diversos que confundo
Estradas sem destino, vou ao léu,
A vida vai girando em carrossel,
E a cada nova volta me aprofundo.
Invado as negritudes abissais,
Em meio a teus carinhos sensuais
Desenho o meu desejo traço a traço,
Minha rosa dos ventos eu perdi,
Mas bebo do prazer que achei em ti
Numa explosão extrema em cada passo.
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Numa explosão extrema em cada passo
Caminho entre os espinhos, pedregulhos,
Ouvindo nas marés, loucos marulhos,
Meu peito vai se abrindo e cede espaço
Um novo amanhecer, agora eu traço,
Deixando para trás velhos entulhos,
Enterro o que guardara, meus orgulhos
Fortalecendo assim, os nossos laços.
Aprendo estas lições que me ensinaste,
Contendo uma erosão, cessa o desgaste,
Atada em nossos pés a mesma anilha.
Fomento uma alegria renovada,
Depois da dura e fria madrugada,
Um novo alvorecer, meu canto trilha.
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Um novo alvorecer, meu canto trilha
E espalha além do amor, boa vontade,
Chegando a cada canto da cidade
Na voz da poesia, uma andarilha.
Depois de consertar, do barco, a quilha,
O pensamento abarca e agora invade
O quanto eu desejara em liberdade,
Não quero ser na vida, simples ilha.
Unindo nossos versos, companheira,
Da vida, a mais perfeita mensageira
Formada pelos brados, teus e meus.
Na força da amizade, amor se insere
Portando amanhecer que um sonho gere,
Deixando à solidão, somente o adeus.
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Deixando à solidão, somente o adeus
Estendo o meu olhar ao infinito,
Alçando em liberdade, solto o grito
E encontro os teus sorrisos sobre os meus.
Nos sonhos embolados, dois Morfeus,
Decifram cada sonho já descrito
Toando em comunhão, no mesmo rito
Do amor que nos transporta e leva a Deus.
Nas mãos entrelaçadas, igual prece,
Aos meandros do amor já se obedece
E nisso o caminhar se faz preciso,
Pareado contigo eu não me canso,
E enquanto a cada dia assim avanço,
Adentro ao mais sublime paraíso.
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Adentro ao mais sublime paraíso,
Constelações; encontro a cada passo
O pensamento alçando o livre espaço
Espalha em meu caminho, o teu sorriso.
A sorte que se fez sem um aviso
Espelha no teu rosto cada traço
E a cada amanhecer de novo eu faço
Andanças tão fantásticas que biso.
Com toda esta esperança, aberto o peito,
Felicidade plena, agora espreito,
Prossigo sempre nesta direção.
Recolhendo as estrelas que espalhaste
Percebo quanto em mim tu perfumaste
Vivendo, com certeza esta paixão.
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Vivendo, com certeza esta paixão
Eu sinto que terei num novo dia
O bem que na verdade já queria
Trazendo à nossa vida uma emoção.
Cansado de encontrar a negação
Pensara tão distante uma alegria,
Porém ao me embrenhar na fantasia
Percebo a mais total transformação.
Uniformes vontades junto iremos
Chegando ao que sonhamos e queremos,
Nas tramas deste amor que é feiticeiro
Vislumbro um belo e claro amanhecer,
No espelho da esperança eu posso ver
Olhares num só brilho, verdadeiro...
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Olhares num só brilho, verdadeiro
Norteiam com amor a direção
Além do que prediz uma ilusão,
Recolho raras flores no canteiro
Recebo o teu perfume, sei teu cheiro
Afago os teus cabelos, tentação.
Mergulho no teu corpo em cada vão,
Persigo cada rastro, vou inteiro.
Enquanto a noite chega e a vida passa
A lua com seus raios nos abraça
E eu sinto o teu calor, quero teus braços.
Unidos adentramos madrugada,
Durante esta fantástica caçada
Entrego-me, cativo, nestes laços...
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Entrego-me, cativo, nestes laços
Qual fora na caçada, a tua presa,
Sem medos, sem pudores ou defesa
O peito exposto aos loucos, firmes aços
Recolho cada qual dos meus pedaços
Hipnotizado, imerso em tal beleza;
Quem sabe desta sorte sempre a preza
E deixa-se prender pelos teus braços.
Uma alegria é rara nesta vida,
A sorte se mostrando decidida
Permite um novo tempo, renovado
Felicidade plena agora vejo
Sorvendo cada gota do desejo
Sentindo esta presença aqui do lado.
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Sentindo esta presença aqui do lado
De quem eu procurei a vida inteira,
Eu sinto uma alegria alvissareira
E deixo bem distante o meu passado.
Um dia que se faz iluminado
Ao ter o puro amor como bandeira
Ao ver esta alegria verdadeira
Encontra o rumo certo e procurado.
Sabendo desta glória, agora sigo
Aberto o coração junto contigo,
Recebo o doce alento em poesia
E tendo esta certeza vou em paz
Vivendo esta ilusão que amor nos traz
Entrego-me a mais bela fantasia.
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Entrego-me a mais bela fantasia
Deixando-me levar, caminho ao léu
Conheço em teus carinhos claro céu
Vislumbro a maravilha em novo dia.
A vida vai rodando em carrossel
Às vezes com tristeza ou alegria
Renova-se decerto com magia
Por vezes benfazeja ou mais cruel.
Quem ama na verdade sente medos,
Conhece dos prazeres os segredos
E perde-se em caminhos mais dispersos.
Se a nada ou a ninguém ele obedece
Amor velho travesso sempre tece
Sentimentos perfeitos e diversos...
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Sentimentos perfeitos e diversos
Dominam minha vida de poeta,
Escrevo de maneira mais direta,
Sem ter mirabolantes, raros versos.
Adentro os mais distantes universos
Andando em linha quase nunca reta,
Felicidade plena é minha meta
Porém os meus caminhos são dispersos.
Amor faz molecagem com meu peito
Às vezes vou feliz e satisfeito,
Mas vendo uma palavra distraída
Num vício que me fez ser trovador
Eu sinto nestas letras, MEU AMOR,
Prenúncios de prazer em minha vida.
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Prenúncios de prazer em minha vida
Encontro nas manhãs de primavera,
O vento que me toca vem e gera
De todo labirinto, uma saída
A mão que se permite decidida
Enfrenta em destemor amarga fera,
Se eu tenho uma alegria que tempera
A dor de vez em quando, já duvida.
Fazendo um reboliço sem limites,
Às vezes não quer mais quaisquer palpites
E bate na janela, em temporal.
Porém escuridão não mete medo,
Sabendo usufruir, sei o segredo
No lume deste amor fenomenal.
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No lume deste amor fenomenal
Vejo tuas pegadas, sigo cada.
Depois de perceber a derrocada
Enfrentei mais temível vendaval.
Às vezes me estrepei fui muito mal
Em outras a vitória anunciada
Não deu depois de tudo, quase em nada.
Porém agora eu sigo; triunfal,
Os rastros dos teus olhos fonte rara
Da luz de uma esperança, forte e clara,
Capaz de toda história transformar,
Meu barco que se fez sem timoneiro,
Tocado pelo vento mais ligeiro,
Adentra num momento a praia e o mar.
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Adentra num momento a praia e o mar
Saveiro dos meus sonhos, triunfante,
Caminha por um rumo mais constante
Até que em manso cais possa chegar.
Eu quero em calmaria naufragar
Ao ver tanta beleza num instante,
Vencer a correnteza provocante
Beber até o dia clarear.
Chamando para a festa esta incansável
Parceira que se mostra mais amável
Deitando o seu carinho no meu peito.
O rio que decerto me convinha
No peito sonhador, logo se aninha
Fazendo do luar seu claro leito.
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Fazendo do luar seu claro leito,
Meu verso se entregou a tanto encanto,
Ouvindo em espiral o belo canto,
De todos os meus sonhos, satisfeito.
A cada novo dia eu me deleito
E vejo o claro amor por todo canto,
Se assim, somente assim, agora eu canto
Encontro rara estrela quando deito
No teu sorriso manso de criança
Um acalento eterno da esperança
Em toda magnitude reproduz
O brilho deste amor que nos inflama,
Causa revolução enquanto em chama
Adentra o mar imenso feito em luz.
MARCOS LOURES
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