401
Vingar-me do vazio aonde o todo
Pudesse desenhar qualquer momento
E nisto quando o passo em desalento
O mundo se transforma em tal denodo
E quando no final um mero engodo
Traduz o quanto pude e não mais tento
Esculpo dentro da alma o alheamento
E vago sobre a lama e entranho o lodo,
Apresentando o passo ao quanto vira
Restauro sem sentido esta mentira
E o vago decifrar já nada traz,
O errático cenário se aproxima
E molda com terror o velho clima
Aonde o canto fosse mais mordaz.
402
Ofensas sem defesas, noites vãs
E os tempos sem valia eu aprofundo
Esqueço o coração de um vagabundo
Tentando adivinhar novas manhãs
E sei dos meus caminhos meus afãs
E nada do que possa num segundo
Gerasse após o todo o novo mundo
Na face cultivando as minhas cãs,
Espero após a morte a redenção
Quem sabe a paz em plena dimensão
Trazendo outro momento em leda fase,
Ainda que se tente novo prazo
O manto se desenha neste ocaso
E a luta tão somente agora atrase.
403
Amor traindo o sonho de quem tenta
Seguir outro cenário dentro em mim
Aproximando aquém do velho fim
Bebendo a vida inglória e turbulenta
O prazo na verdade não aumenta
Alimentando o engano e sempre assim
O corte traduzisse este motim
Na tez mais dolorida e até sangrenta,
Escrevo em versos sonhos e não posso
Traçar além de tudo este destroço
Marcando em tom venal o que inda resta
A morte não serena ou alivia,
Porém traçando a paz no dia a dia,
Seria na verdade mais honesta.
404
A vida descrevesse então tal arco
E nisto o quanto pude e não termino
Expressa o que em verdade diz destino
E nisto a solidão entranho e abarco,
O mundo se desenha e já demarco
O passo aonde outrora cristalino
Agora noutro rumo cedo e mino,
Nesta álgica loucura quando embarco,
O prazo se tornando parco e escasso
O nada dentro da alma apenas traço
E sigo sem saber de qualquer rota,
A luta se aproxima do final,
E o caos em tom audaz, atroz, geral
Expressa a sensação que nos derrota.
405
O tempo me ensinasse a caminhar
Em meio aos mais diversos espinheiros
E sendo estes caminhos derradeiros
Ainda são deveras mais daninhos,
E os cantos entre tantos são mesquinhos
Os medos se traduzem mensageiros
Dos dias entre infaustos, mais ligeiros
E os cortes se aprofundam, desalinhos.
Esqueço o quanto pude ou mesmo quis
E gero dentro da alma a cicatriz
Ousando na verdade em nada ser
O tempo se desnuda mais vulgar
E o quanto quero e posso imaginar
Não traz sequer em mim o amanhecer.
406
Cobiço pelo menos
A sorte que pudesse
Traçar além da prece
Momentos mais amenos
E sinto os dias plenos
E neles se obedece
A vida em rara messe
Ou traz novos venenos,
Apresentando o cais
E nisto o quanto trais
Expressa a solidão,
Esbarro no vazio
E neste desvario
Os dias não verão.
407
O peito se esparrama
E gera outro momento
E neste sofrimento
A vida em nova rama
A luta não se trama
E o prazo em tal tormento
Ainda eu alimento
Na frágil, tosca chama,
O caos dentro de mim
A morte traz enfim
O quanto se desenha
E nada mais servindo
O mundo aonde infindo
Expressa a vã resenha.
408
Amar, leda virtude
Apenas num desenho
Aonde sempre tenho
O corte que me ilude
Viver o quanto pude
E nisto em raro empenho
O manto onde desdenho
O nada em plenitude,
Escassa luz se expande
E o quanto fora grande
Expressa a pequenez
Do tanto que inda trago
Espero algum afago
E enfim nada se fez.
409
A vida defendia
O caos dentro do ledo
Caminho onde concedo
Apenas fantasia
E o manto não teria
Sequer qualquer segredo
Marcando em desenredo
A noite amarga e fria,
O preço a se pagar
O tempo a me mostrar
O fim de cada rota,
A luta não se encerra
E o medo traz a guerra
E a guerra esta derrota.
51410
A vida num galope
O tempo em provisão
Ausente direção
Ainda que se tope
E nada mais entope
Sequer a decisão
Dos dias que verão
O sonho que me dope,
Não tendo uma saída
A sorte sendo urdida
Nos ermos de meus sonhos
Os templos derrubados
Os dias desolados
E os passos mais medonhos.
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