51701
Pudesse adivinhar o melhor passo
Ou mesmo alguma luz aonde o nada
Trouxesse a mesma imagem desolada
Enquanto o meu cenário diz cansaço.
Meu verso se desnuda e quando o faço
Numa expressão há tanto abandonada,
Vencendo o que pudesse em vaga estrada
O rastro se demonstra em tempo lasso.
Escassamente vejo atemporais
Momentos entre tantos, desiguais
E nisto sou deveras o que tanto
Pudesse e não teria nova sorte,
Ainda quando o muito não comporte
O prazo determina como e quanto.
51702
Herméticas palavras? Nada disso.
Apenas nas ultrizes noites vãs
Espero redimir novas manhãs
Enquanto ao menos paz; teimo e cobiço.
A luta se apresenta em raro viço
E as horas com certeza são malsãs,
Já não comportariam meus afãs
Nem mesmo o quanto pude ou fosse omisso.
Legar a quem virá mesmos enganos
E os tantos caminhares, novos danos,
Escarpas encontrando no caminho.
Mas nada se aproxima do real
E vejo o mesmo engodo em pontual
Cenário aonde em queda, desalinho.
51703
Não quero ter a sorte mais fugaz
Do que se dera além e não soubera
Da sórdida expressão, leda quimera
Aonde o quanto quis já se desfaz.
Cravando o peito em cena mais mordaz,
O preço a se pagar me desespera
E trama a mesma face aonde a espera
Deixasse qualquer sonho para trás.
Vibrando em consonância: vida e morte
O tanto quanto apenas me conforte
Expressa melodias ou apenas
Esgota cada passo por si mesmo
E quando na verdade me ensimesmo
Ao longe, sem motivos, me envenenas.
51704
Abraçaria o mundo se pudesse
E ter além do cais um novo dia
Aonde mergulhando em poesia
A vida abençoando nova messe;
Ainda quando a sorte me obedece
E apraz o quanto tento e poderia,
Vestindo a mesma face: hipocrisia,
O nada noutro engodo se oferece.
Ocasos entre passos e vazios,
Apenas visto a sorte em tais estios
E bebo em goles fartos, a cicuta.
E quanto a mão se expressa em tom atroz
Já nada mais sossega o sonho após
E a morte num instante se executa.
51705
Não mais suportaria outro momento
Idênticas imagens repetidas
Geradas pelas tramas noutras vidas
E nelas o que tanto em dor fomento.
O prazo sem sequer discernimento
No etéreo caminhar onde duvidas
Das ânsias mais ferozes, desprovidas
Do quanto poderia em sentimento.
A luta sem saber do quanto traça
Apenas insensato vejo a caça
Aquém do quanto quis e não viera.
Depois de certo tempo a vida nega
E segue este caminho, enquanto cega
Esbarra nas entranhas desta fera.
51706
O quanto se revela sob a imagem
Já distorcida mesmo de quem tenta
Vencer a sorte atroz e turbulenta
Criando noutro instante uma miragem.
Ainda que pudesse em tal viagem,
Aragens mais diversas; nada alenta
E o corte mais audaz que se apresenta
Não mais se conteria em tal barragem.
O pranto, o prazo o caso, o caos e o medo
Que a vida represara inutilmente
Num ato sem defesas, num repente
Eclode enquanto em luta assim procedo,
Desnuda-se deveras num instante
E a face que se vê, tão degradante.
51707
No instante aonde a vida dita o quanto
Do passo poderia ou não trazer
A quem se dera além de algum prazer
O marco aonde o nada enfim garanto,
A luta se mostrasse noutro tanto
E o prazo renegando o amanhecer
Gerasse tão somente o não querer
E nisto outro momento em desencanto.
Numa áspera e diversa fantasia,
O quanto deste caos nos tomaria
Gestando o que pudera além do aborto.
O frágil caminheiro sem destino,
Um erro tão fugaz quão cristalino
Expressa olhar vazio e semimorto.
51708
Qual fosse um caminhar em solidão,
Levando as direções em estuário
Comum ao que pudesse, e temerário
Tramasse além da mera escuridão,
Os dias noutros tantos moldarão
O tempo muitas vezes necessário
E o corte num assento duro e vário
Trapaças tomam toda esta emoção;
Lacônica verdade, em tom sutil.
O mar que tanto tempo não se ouviu
Agora em nova praia se desfaz,
Ainda quando pude acreditar
Nas tramas mais diversas, sem luar,
A vida não traria mais a paz.
51709
O quanto da injustiça cala o sonho
De quem pudera crer na liberdade,
Negando ao sonhador a claridade,
Apresentando um ato mais bisonho.
E quando noutro passo me proponho
Levado sem sentir o que degrade
O passo sem destino ora se evade
E trama o que pudesse e não componho.
Ouvir a voz do tempo e prosseguir
Apreciando o quanto inda há de vir
Num ato refletido em tom suave,
Mas quando na miséria a vida traça
Apenas o que dita em luz escassa,
O passo noutro rumo ora se entrave.
51710
Pensar além do passo que se dera
Tentando revelar o quanto pude,
Sentindo esta expressão em atitude,
Matando o que renega em velha esfera,
Palácio transformado na tapera
O sonho mais audaz, restando rude,
E o canto aonde o medo se amiúde
Apenas outro tanto degenera.
Escancarando a luta em tom mordaz
Somente o que tentara queda atrás
E o prazo determina o fim de tudo.
Depois de certo tempo em vaga luta,
A força tantas vezes bem mais bruta
Expressa o caminhar onde transmudo.
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