sábado, 31 de julho de 2010

43501 até 43600

001


Esse caminho é tão diverso e posso
Mesmo acreditar em discordâncias
Aonde se apresentem discrepâncias
E nelas imagino o quanto é nosso
Errático sinal aonde endosso
Com toda virulência as inconstâncias
Do encanto que procura por estâncias
Se tanto me renego ou mesmo adoço
Meu mundo em variante sincronia
Talvez já não pudesse ou mai teria
Um canto em tom suave ou mesmo atroz
Expresso a solidão porquanto pude
Vencer com sortilégios magnitude
Mantendo mais distante a minha voz.

002

Dos tantos roseirais que este canteiro
Traduz em cores raras e espinhentas
Assim também a vida que apresentas
Num rito tão disperso e costumeiro
E quando deste sonho em vão me esgueiro
E sigo as mais dispersas e sangrentas
Noções por onde tento ou mesmo atentas
Singrar além do encanto derradeiro
Ausculto algum delírio onde eu tente
Vencer o meu tormento inconseqüente
Sagrando qualquer canto aonde eu tenha
Somente este desejo e nele viva
Minha alma na verdade esta cativa
Mantém desta esperança a frágil lenha.

003

Augustas flores trago em primavera
Embora muitas vezes seja assim
A vida se transforma e em meu jardim
A morte tão somente o que inda espera
Espreito atocaiado; a velha fera
E sei que no final; pobre de mim,
A sorte desdenhosa chega ao fim
E o nada a cada instante destempera
Resisto embora saiba inutilmente
O quanto do passado ainda mente
E trama outra mortalha neste instante,
Apenas o final já se garante
E bebo deste fel duro inclemente
Até que num momento deslumbrante
Eu sorva cada gota alucinante.


004


Acantos onde quis lírios e rosa
Assim o meu canteiro em formas várias
Ao mesmo tempo cores necessárias
Traçando uma ilusão mais belicosa,

Num sempiterno lume, esta jocosa
Realidade diz das temerárias
Loucuras entre dores, luminárias
A vida se desnuda caprichosa

E tento desvairada e tenramente
Beber cada veneno que apresente
Gerando após a curva outra e fatal,

Esparsos dias tento após a queda
E sei quando o caminho em vão se enreda
Traçando este delírio terminal.


005


Encontro em meu caminho as ânsias todas
E nelas ou por elas me entranhara
Gerando a cada passo nova escara
Ainda que procure loucas bodas

As sombras na verdade quando tramas
Expressam delicadas formas turvas
E quando a cada passo tu mais curvas
Os dedos entre fúrias, fráguas, chamas

Expondo a realidade aonde eu possa
Traçar o meu delírio imerso em fogo
Não adianta mais penúria ou rogo
A dor disto eu sei será só nossa

Repare nesta estrela a veja bem
O quanto do vazio a vida tem.


006


Da tua alma bebo cada gole
E sei o quanto posso acreditar
No todo aonde um dia ao navegar
O mar aos poucos toma e tudo engole
E sinto quando a vida mesmo bole
E transcorrendo assim mais devagar
O todo se anuncia e diz do mar
Que há tanto se revela e já me assole;
Expondo cada face do infinito
Aonde na verdade eu necessito
Apenas tão somente o ancoradouro
Bebendo deste néctar mais conciso
O quanto deste eu inda preciso
E nele em sol diverso teimo e douro.


007

Aonde na nascente deste rio
Encontro os meus anseios mais vorazes
E quando teus caminhos; também trazes
Condeno-me ao completo desvario

O quanto do desejo desafio
E bebo a solidão em várias fazes
Porquanto dos meus dias tu desfazes
Enfrento a cada passo o que desfio.

E sinto abandonado desde quando
Aos poucos noutro tanto me entranhando
Esboço reações; as mais diversas

E sei do quão inútil prosseguir
Embora ainda creia no porvir
Até se noutro rumo tu dispersas.


008


Ao sonho me avizinho quando tento
Vencer os mais comuns dos erros quando
Esboço reações e sonegando
O quanto poderia estar atento

Jogado sem destino encontro o vento
E nele em todo passo desolando
O rumo que pudera e o destroçando
Encontro finalmente o desalento,

Aonde mais pudera acreditar
Nas ânsias deste sonho a me levar
Por mares tão distantes e sombrios

Os erros cometidos e são tantos
E neles no final os desencantos
Somente são torturas e desvios.


009


Enquanto em néscio rumo vejo a dita
Perdendo a cada passo um razão
Meus olhos adentrando este senão
Traduzem o que esta alma necessita

Assim ao me entregar, mera desdita
O todo se transforma nesta opção
Gerando a mesma ausência desde então
Traçando a cada passo esta alma aflita

Pudesse acreditar noutro cenário,
Mas sei quanto é difícil e temerário
Acreditar nos ermos mais complexos

E sendo desta forma o dia a dia,
O nada no final se sorveria,
Mostrando desta vida os seus reflexos.


010


Pecados tão tacanhos; os cometo
E nada mais impede o quanto eu pude
Viver em todo engodo a plenitude
E neste desenhar eu me arremeto

Tentando discernir num só soneto
O quanto a própria vida nos ilude
E tendo no final em magnitude
Os erros onde tanto me prometo.

Esboços mal traçados de uma lida
Dispersa entre os terrores, nesta urdida
Loucura contumaz e tão freqüente,

No quanto possa ser bem mais diverso
Se tanto no vazio eu já disperso
Meu dia mesmo quando a paz se tente.


011


Adentra meu espírito a incerteza
De um novo caminhar; aonde eu sinta
A força tantas vezes quase extinta
E tente contornar a correnteza,

A vida tem em si tal natureza
E nela a realidade já se pinta
Moldando a fúria expressa e quando minta
Perfaz um novo engodo com destreza,

Expresso meu delírio quando tento
Vencer com alegria o alheamento
Que sei ser tão somente uma constante

Porquanto me defenda desta forma,
E quando a realidade me deforma
O sonho se apresente ao mesmo instante.


012


Do abismo deste mar aonde um dia
Pudesse ainda crer em soluções
Devera tantas vezes tu me expões
Além do que minha alma poderia,

E crendo nesta infausta fantasia
Eu verto em mais dispersas direções
E sinto as desejadas erupções
Aonde o meu caminho seguiria

Talvez a consonância possa até
Salvar ou dirimir por ser quem é
Quem tanto pode mesmo me ajudar

Num êxtase complexo se percebe
Este delírio intenso e dita a sebe
Domando esta inconstância feita em mar.



013


Por sobre as ondas vejo a face humana,
E nesta variável forma creio
O quanto se permite em devaneio
E ao mesmo tempo a vida nos engana,

Porquanto a realidade é tão profana
E nela cada passo mesmo anseio
Vagando aonde sei e tento alheio
Seguir por onde o nada tanto dana.

Esboços variados poderiam
Agir da mesma forma onde teriam
O sonho como um dito mais audaz,

Ferrenha e desmedida esta ilusão
Aonde se programa o mesmo não
E nele a fantasia satisfaz.


014

Encontrando o pensamento
Onde tanto mais pudera
Encontrar a mesma fera
Neste vasto sentimento
Se por vezes bebo o vento
E a tempesta não se espera
Outra vida degenera
O fatal alheamento,
Sem perder a direção
Os caminhos danarão
E o meu ego já se aflora,
Quem procura e sei quando acho
Na verdade mero facho
De esperança sem ter hora.


015


Coração; tento e liberto
Nos meus ermos mais profanos
E se tantos fossem danos
O caminho estando aberto
No final já me desperto
E desvendo vários anos
Onde beba os desenganos
E o silêncio ora por perto,
Restaurando o que pudesse
Na verdade sei da prece
Que desdenha o fim e anseio
Tão somente alguma luz
Do meu canto sigo alheio
Quando o vago reproduz.

016


A brisa que sonega
Algum alento a quem buscara
Resgatando a dor amara
Entre tantos segue cega,
E o vazio de uma entrega
Resumindo esta seara
No passado se escancara
Onde o tanto não trafega.
Sei medonho o meu futuro
E se tento sobre o muro
Esta queda a vida rege,
O meu peito sem sentido,
O meu canto desvalido,
O meu verso, quase herege.


017


No fundo dos meus olhos
Abrigarei tua alma...
E em sonhos viverei este amor
Que envolve-me em ternura e calma!
Anseio pelos teus carinhos a me arrepiar...
Por tuas palavras sussurradas ao ouvido
Inflamando a chama deste desejar.
Que a nós, só importe o agora
Este lindo e mágico momento...
Que este sonho de amor e desejo
Eternize-se nas asas do tempo!

HELENA GRECCO


O tempo que eterniza
O sonho em voz imensa,
Quando a vida recompensa
Transformando o vento em brisa,
Outro encanto aromatiza
E tomando em luz intensa
O caminho já compensa
A quem tanto em paz matiza
Um desenho antes grisalho
E se a voz além espalho
Consonante maravilha
Traduzindo em verso e glória
Revelando à nossa história
O delírio onde se trilha.


018


O meu canto bebe a lua
E se encharca em claridade
Do luar que agora invade
A minha alma até flutua
E vagando sobre a rua
Sabe inteira esta cidade,
No sertão felicidade,
Mas aqui também atua
E desnuda em céu imenso
Quanto mais na lua eu penso
Mais compensa a caminhada
Nesta noite em luz intensa
Coração sempre convença
Da alma sempre enluarada.

019


O vento missionário
Dos anseios mais vorazes
Entoando quando trazes
Novo tempo temerário
Bebo o canto imaginário
E se tento novas fases
Entre as tantas que desfazes
O caminho este corsário
Expressando a realidade
Onde o sonho ainda invade
Faz das tripas; coração
O meu verso se perdendo
Num caminho onde remendo
Cordas do meu violão.


020


Proponho um dialeto
Onde o verso se pudesse
Não traria qualquer prece
Nem meu canto onde o completo
E se tanto me repleto
Da vontade onde se tece
O meu peito já se esquece
Do seu rumo predileto,
Beijo o vento e sigo à vida
Procurando uma saída
Onde sei que não existe,
O passado pouco importa
A saudade bate à porta
E me encontra quieto e triste.



021


Nada mais eu poderia
E se tanto inda pudera
A vontade destempera
E gerando a fantasia
Novo tempo não traria
Nem sequer a primavera
Onde a morte ainda espera
Traiçoeira em agonia,
Gero após o mesmo não
E procuro a direção
Onde nada se apresenta
A verdade é sempre igual,
O caminho virtual
O que bebe esta tormenta.


022

O cenário mais macabro
A verdade não esconde,
Meu caminho eu não sei onde
Nem tal porta mais eu abro,
E se tento um descalabro
A saudade não responde
Tanto quanto corresponde
Noutra cena ao candelabro
Em tais fogos, jogos, medo
E no fim inda concedo
Qualquer luz mesmo sombria,
Quando outrora vi a face
Mais temível onde grasse
Esquecera a poesia.


023


Nos meus âmagos diversos
Nos meus antros mais profundos
Vagarei por velhos mundos
Ousarei em tantos versos
E se os faço mais perversos
Ou deveras vagabundos
Onde quis bem mais fecundos
Os meus dias vãos e imersos.
Resistindo ao quanto pude
E se tento outra atitude
Esta queda não se evita,
Onde quis a liberdade
Tão somente ainda invade
A verdade, esta desdita.

024

Não me deixe no abandono
Nem tampouco quero o riso,
Na verdade eu me batizo
Neste fogo onde me adono,
Do passado em desabono
E do dia mais preciso,
O caminho diz juízo
E o meu manto em ledo sono.
Aprendendo quando errático
O desejo nunca é prático
Tão somente caricato,
Quantas vezes me perdendo
Eu me vejo mais horrendo
E deveras me desato.


025


Expressões diversas; tento
Quando muito diz do pouco
E gritando feito um louco
Sigo em pleno alheamento,
A verdade diz provento
E o terror se faz de mouco
O meu canto eu já treslouco
E nisto o meu divertimento,
O passado diz presente
E o que tanto ainda sente
Não desmente o que vivi,
Se a saudade bate à porta,
Na verdade a semimorta
Vem falando então de ti.


026


O meu prazo determina
O final da minha lida,
Tantas vezes presumida
E se exima desta mina,
Onde o tanto não fascina
Precedendo uma saída
Outra tanta é construída
E deveras mais ladina
Expressão já dividida.
Restaurando o passo aonde
O meu mundo não responde
Nem tampouco poderia,
A poeira toma tudo
E se tanto ainda iludo,
Na verdade uma utopia.


027

Por amar mais do que pude
Ou talvez acreditar
Nas loucuras de um amar
Eu perdera a juventude.
E se ainda o sonho mude
Marca a pele a tatuar
Permitindo navegar
Neste mar que tanto ilude.
Expressões diversas têm
Quem procura por alguém
E não vê, senão se esvai,
A incerteza de outro passo,
Quando muito eu me desgraço,
Outro instante a vida trai.


028


Esbarrando neste engano
Novamente me perdi,
E se tento agora e aqui
Eu de novo já me dano,
Esboçando novo plano
O terror; não presumi,
Mas deveras eu sorvi
O que tanto foi profano,
Esquecendo o verso quando
O meu mundo se negando
Não permite qualquer luz
Carregando a vida em mim,
Bebo até chegar ao fim
O que ainda te propus.


029



Ao falar deste momento
Onde nada tenho ou quis
O meu sonho em chamariz
Bebe logo inteiro o vento,
E se tenho algum lamento
Reviver o que não fiz
Sigo além e se condiz
Minha vida em sofrimento,
Resgatando qualquer erro
Vejo além deste desterro
O retrato de quem ama,
A certeza toma o prumo
E se engano logo assumo,
Não fazendo qualquer drama.


30

Ouço a voz do vento quando
Meu amor já não veria
Nem sequer em fantasia
Noutra face se mostrando,
A saudade desvairando
Quem deveras só queria
Um momento de alegria
E o caminho se negando,
Inda busco algum alento
Mesmo sendo tão distante
Do caminho que adiante
E penetre o pensamento
Como fosse uma mortalha,
Mas que invade e logo espalha...


031


Não é sem fundamento a vida quando
Esbarra na inconstância de quem luta
E sabe desta sorte tão astuta
Noutra forma num momento desatando
Os nós que na verdade desolando
Pressentem o furor da força bruta,
E o passo quando muito se reluta
E tenta novo rumo em contrabando.
O peso de viver vergando quem
Tentara prosseguir e nada tem
Senão as velhas marcas do passado;
Errático delírio toma a cena
E quando a realidade se faz plena
O mundo se transforma; destroçado.


032


Pois foi o meu desejo o caminhar
Por entre as tantas dores e temendo
O dia após a queda neste horrendo
Desenho aonde nada a se encontrar
Somente me arremeto ao torpe mar
E tento novo dia me prendendo
Nos elos mais cruéis e concedendo
Caminho sem ter nada em seu lugar;
Acerto os meus ponteiros com a morte
E sei deste delírio que comporte
O passo muito além do quanto pude,
Assino o derradeiro e vão contrato
Enquanto com certeza ora constato
Ausência do que tento e sigo rude.

033

As setas mais suaves de um amor
Arrancam sem perguntas, consciência
E quando deste fato com ciência
A vida não permite mais a flor,
E esboço sem saída e sem rancor
O quanto do meu canto em afluência
Gerando dentro em mim a imprevidência
Matando pouco a pouco e vão rancor.
Estraçalhando esta alma mais atroz
Do quanto poderia haver em foz
Meu estuário agora sinto exausto,
E o resto que inda possa perceber
Tragando a cada instante todo o ser,
Prevendo como alento este holocausto.


034


O peito se ferindo enquanto luto
E vejo o meu retrato vez em quando
Num outro desenhar se desdenhando
E bebo cada passo, atroz e bruto,
Vestindo esta ilusão até reluto
E sei do meu delírio me tornando
Ausente do real, um mero infando
Ousando num caminho, nada escuto.
Ressaltos são comuns e disto eu sei,
Assim ao perceber nefasta grei
O pranto derramado não condiz
Com quem um dia fora mais leal
E agora num instante terminal,
Percebe ser ainda um aprendiz.


035

Ferindo o velho peito deste a quem
A vida trouxe em cãs realidades,
E quando noutra face tu me invades
Olhando para o espelho, nada vem,
Somente este desenho em tal desdém
Marcando com furor as ansiedades
A vida não teria as qualidades
E sigo da esperança muito aquém.
Fartando-me do sonho aonde eu possa
Traçar qualquer momento a vida endossa
Engodo costumeiro de quem tenta
Sentir a placidez de um novo dia,
Mas bebe tão somente esta heresia
Gerada pela tez vaga e sangrenta.


036


Quem ama e não consegue se livrar
Do sonho em desventura e mesmo assim
Procura algum instante e sabe o fim,
Depois de tanto tempo em vão lutar,
Aonde se bebesse este luar
E nele se trouxesse o carmesim
Dos lábios que sonhei e sei enfim
Jamais eu poderia imaginar.
Resulto deste enorme e vago solo,
E quando na ilusão tola me assolo,
Escassas noites trazem sonhos, pois
O mundo sem sentido nada dita
Senão a própria dor e se acredita
Na salvadora senda do depois.


037

Tivesse em minhas mãos este poder
E dele desenhar um novo fato
Aonde com certeza já resgato
O tanto que aprendera a conhecer
Assim a própria sorte toma o ser
E neste caminhar tanto desato
Enquanto noutro escasso eu me retrato
Um fruto pouco a pouco, apodrecer.
Esgoto qualquer chance de mudança
E o tempo sem descanso logo avança
E marca com as garras mais audazes
Adentra e não concebe qualquer luz
E quando na verdade ainda opus
Meu passo, com terrores nada fazes.


038


Aonde triunfara a sorte imensa
De quem se procurou e não soubera
A cada novo instante esta quimera
Vibrando com provável recompensa
E quando a solidão já me convença
Do duro caminhar em longa espera
A sorte se transforma e não pudera
Vencer qualquer temor ou desavença.
Respiro quando tento uma saída
A vida noutra face sendo urdida
Presume qualquer fim e nisto sigo
Vagando sem destino e sem proveito
A queda se aproxima e se eu a aceito
Ao menos no final, um ledo abrigo.

039


Da sua ingratidão já nada levo
Senão a mesma face desdenhosa
De quem se mostra irônica e já goza
De um tempo mais atroz, duro e longevo.
O passo quando muito ainda cevo
Guardando dentro em mim esta penosa
Loucura muitas vezes caprichosa
E tanto quanto posso ainda atrevo.
Quisera desvendar alguma luz
E nela o meu caminho reproduz
A mesma falsa e lúdica expressão,
Sonego este destino quando tento
Vencer em calmaria o forte vento,
Bebendo as tempestades que virão.

040


O quanto inda forjei de uma ilusão
Tentando acreditar ainda em vida,
A morte tantas vezes presumida
Transforma a cada passo a direção,
E bebo deste imenso e intenso não
A messe noutra face resumida
A parte que me cabe destruída
E o risco se apresenta desde então,
Nefasta face afasto dos meus dias
E quando mais procuro calmos ritos,
Os dias se transformam em malditos
Diversos dos que tanto em paz querias.



041


Jamais procuraria alguma fonte
Aonde se pudesse novamente
Voltar ao que passei; tanto inclemente
Delírio e nele o nada já se aponte,
O quanto desdenhosa a velha ponte
E todo este temor que esta alma sente
Jogado pelos cantos, na aparente
Loucura e nela ausente um horizonte,
Aprendo com a queda e nada além
Do mesmo caminhar e nele vem
O tempo desairoso em mocidade,
Prefiro o agrisalhar dos meus cabelos,
Ainda que isto molde os pesadelos
E este terror intenso que me invade.


042


O fim da minha pena se aproxima
E o manto em luto feito se desnuda,
A sorte tantas vezes tão miúda
Medonha e caricata toma o clima,
E nada que em verdade me redima,
Tampouco necessito desta ajuda,
A morte me conforte e já me acuda
E nela com certeza uma obra-prima.
Deixando para trás sequer um rastro
Há tanto navegando sem o lastro
As âncoras perdidas, o astrolábio
Já tanto se tornara quase inútil.
Perfaço o descaminho e, mesmo fútil
Da estúpida quimera sinto o lábio.



043


Na mesma proporção que a vida dita
A sorte desairosa e mais cruel,
Eu bebo em tua boca o farto fel
Além do que minha alma necessita,
Aonde se tentara e não palpita
Senão a própria vida em seu papel,
Adentro com temor, ledo tropel
Aonde se presume uma desdita.
Acenos tão diversos; rude passo
E nele cada dia eu me desfaço
Errático e medonho ser vazio,
O quanto poderia acreditar
E ter em minhas mãos mesmo o luar,
Condeno-me ao terror e ao desvario.


044


Enquanto crescem loucos os prazeres
A manta se desnuda em tez sombria
O quanto do meu canto poderia
E nele tantas vezes teus quereres,
Mas quando me percebe e sinto teres
Nos olhos expressão de uma agonia,
A face se espelhando, mais vazia
Explode no vazio de tais seres.
Repare cada estrela e veja bem
Apenas o passado me contém
E dele não me livro, leva à morte.
O quanto inda pudera ser feliz,
E o nada na verdade contradiz,
Negando qualquer sonho que o suporte.


045


A minha aflição reinando sobre o fato
E tanto quis apenas um caminho,
Mas quando me percebo mais sozinho,
Apenas a mortalha enfim constato,
E bebo do vazio onde resgato
O quanto imaginara ser um ninho,
Meu passo para o nada, tão mesquinho,
O risco de sonhar, ledo retrato,
E tento acreditar na fantasia
E nisto se percebe o que podia
Talvez me redimir, mas me sonegas,
E sigo desairoso sem destino,
Vagando pelo céu e determino
O passo sem caminho sempre às cegas.



046


O mesmo amor que tanto em paz quisera
Agora não se mostra em evidência
A vida se transforma; imprevidência
Gerando a cada passo a dura espera,
O meu delírio apressa o salto e a fera
Não tendo nem sequer qualquer clemência
Bebendo com terrível virulência
A sorte de quem tanto degenera.
O medo é meu parceiro e até me criva
Permite que deveras sobreviva
Às tantas intempéries do viver,
Pudesse acreditar, ah se eu pudesse,
Mas como se é tardia esta benesse
Matando em galhardia o meu querer.


047


Enchendo de prazer e de alegria
O sonho mais audaz que tanto quis
O risco de viver, a cicatriz
O tempo na verdade não adia
A morte consonante com sangria
O olhar deste fantoche, um aprendiz,
O quanto da esperança contradiz
E a sorte com certeza eu não veria.
Viceja dentro em mim algo diverso
E quando para o nada ainda verso
Complexos os meus danos, meus engodos,
Presumo tão somente esta mortalha
Aonde a ventania ora se espalha
Trazendo para mim os mangues, lodos.


048

Cobrindo de profunda e imensa chaga
Já nada mais comporta quem delira,
A vida se expressando em tal mentira
O tempo na verdade dita a adaga,
E o quanto do caminho já se traga
E nele cada passo que interfira
Gerando outro demônio, ora retira
O passo de seu rumo, e em dor alaga.
O medo de sonhar é costumeiro
Assim como aridez no meu canteiro
As urzes e o meu canto mais atroz,
Urdindo dentro em mim uma esperança
A vida na verdade ao nada lança
Calando desde sempre a minha voz.


049


Atroz melancolia toma o sonho
De quem se fez ausente da esperança
E quando o coração ao nada lança
O mundo na incerteza o decomponho,
E o risco se tornando mais medonho,
No olhar de quem desejo, fúria e lança
Apenas percebendo tal mudança
As rotas mais atrozes eu enfronho.
Acordo solitário e sendo assim
O dia persistindo até o fim
Sem nada que se possa acreditar,
Somente a mesma espúria realidade
E nela este terror agora invade
Não deixa quem anseia, caminhar.

050


Unindo e procurando então ficar
Após as variantes desta vida,
Ao ver nos teus olhares a saída
Encontro dentro em mim algum lugar,
O amor quando se vendo em patamar
Transforma a sorte outrora mal urdida
E vejo nova história construída
Nas tramas delicadas de um sonhar.
Mas tudo com certeza é sempre em vão
Ouvindo novamente este senão
Sedento caminheiro do vazio,
Aprendo com ternura e já me adono
Do mundo que inda vira em abandono
E o sonho, se inda existe, o desafio.


051

O meu peito violeiro
Não se esquece de quem tanto
Desejara e por enquanto
Mostra o risco verdadeiro
De quem tanto diz canteiro
E cevando o desencanto
Gera aquém a dor e o pranto,
Meu caminho derradeiro
Infortúnios desta lida
Onde a face destruída
Da verdade se deforma,
Caminhante do vazio
Vou vivendo em pleno estio,
Coração; vive em reforma.

052


Aprendendo ou mais tentando
Vou seguindo sem descanso
E se tento e não alcanço
O caminho desde quando
Outro tanto destroçando
Onde quis qualquer remanso
Na verdade já me canso,
Mas prossigo e vou lutando.
Entre dores e sorrisos
Os momentos indecisos
A saudade dita a regra,
Mas aos poucos eu sei bem
O que resta, e pouco tem,
Com o tempo desintegra.


053

Ao sentir o vento em mim
Na verdade, um vendaval
Antes fosse tão igual
Ao delírio que sem fim
Escumando eu sinto enfim
Um medonho e irracional
Desenhar em tom venal
O mergulho de onde vim,
Esgarçando em verso a voz
De quem tanto foi atroz
E hoje morre sem sentido,
Meus demônios apascento,
Mas o mundo virulento
Não permite um só gemido.


054

Ecológica vereda
Onde entranho o pensamento
E se tanto ainda tento
Sem ter nada que conceda
O meu mundo quis em seda,
Mas em pleno alheamento
Novo passo ainda invento
Onde a sorte não proceda
Resumindo o caso em si
O que tenho e já perdi
Traduzisse bem diverso
Caminhar por entre pedras
E se tanto agora medras
O meu passo ainda verso.

055


Lua nova condizente
Com o sonho que renovo,
E se tanto ainda aprovo
Meu delírio se apresente
Onde quer nada consente
O desejo quando o provo
Quando agora me renovo
Ou me mostro indiferente,
Caminhar enquanto pude
Sendo sempre tolo e rude,
Ilusões acumulando,
A mortalha se resume
No meu passo rumo ao cume,
Avalanche me tomando.


056


Acredito ser talvez
O que tanto quis um dia,
Mas a dor, leda agonia
Noutra face contrafez
O caminho aonde vês
E reinando uma utopia
O meu passo se esvazia
Numa tola insensatez,
Resultado disto tudo,
O delírio onde transmudo
O fascínio me amortalha
Mansamente ainda tento
Mesmo quando contra o vento
Já perdida esta batalha.

057


Quando caprichosamente
A verdade se fez farta
O caminho já se aparta
Do que busco, um indigente
Noutro passo se apresente
A saudade me descarta
E se tanto se reparta
O que enfim a gente sente,
No final seguindo só
Dos meus dias, nem o pó
Após quedas costumeiras,
Entre os dias mais cruéis
Vejo além em carrosséis
Destruídas, tais bandeiras.

058


Acredito embora seja
O meu canto mais audaz
No vazio que se faz
Quando esta alma é malfazeja
E se tanto se verdeja
Quem procura pela paz,
O meu canto morre atrás
Do caminho que deseja.
Nada tenho nem pudera
Extraindo em mim a fera
O que sobra? Indiferença;
Na verdade sendo assim,
O meu canto chega ao fim,
Sem sequer quem o convença.


059


Apresento estas desculpas
E no fundo que se dane
Sentimento vive em pane
Mesmo quando ainda esculpas
Noutras faces tantas culpas
E refaça o que profane
O meu canto não ufane
Até quando tu me culpas,
Sem escusas nem recuos
Percebendo velhos duos
Outros tantos; pude então,
Na verdade o que interessa
E se tenho tanta pressa
Meus caminhos não virão.

060

Aproveito então a dica
E não deixo sem respostas
Quando as sortes são expostas
E ninguém ainda explica
O meu passo contra-indica
E se gostas ou não gostas
Vou perdendo tais apostas,
A minha alma se complica,
No final já tanto faz
Sigo sempre o tempo atrás
Do que o tempo poderia,
Mas gastando o meu latim,
Se inda resto dentro em mim,
Eu sou mera fantasia.



061


Fui concebido para tão somente
Acreditar nos ermos de minha alma
Verdade que gerando dor e trauma
Também das alegrias a semente,
No quanto a minha vida se apresente
E nela qualquer fúria não se acalma,
O risco de sonhar adentra a palma
E o tempo se mostrara impertinente,
Recebo em discordância a voz de quem
Há tanto desejara e nunca vem,
Aquém do que pudesse em tal ventura,
Meus dias entre tantas tempestades
E quando com terror também degrades
A sorte noutro instante se procura.


062

Tentando olhar, sentir alguma luz
Aonde se pudesse desvendar
Beleza sem igual, raro luar
E nele novo fato reproduz
O quanto me entranhara em leda cruz,
Ousando na esperança algum altar
Depois de tanto tempo procurar,
Apenas a verdade me conduz,
Não quero nem saber de qualquer farsa
No quanto este cenário em vão disfarça
Dispersa qualquer messe que viria,
E tendo às minhas mãos a claridade
Somente este tormento agora invade,
A vida sem defesa atroz e fria.


063


Entranho no deserto sentimento
E nele qualquer fonte poderia
Trazer alguma luz, mesmo alegria
Quem sabe no final, qualquer alento,
E quando novo rumo em mim fomento
Bebendo a me fartar desta sangria
No corte a mais dorida hemorragia
No olhar apenas medo e sofrimento,
Resplandecente sonho já não vira
E o medo se aproxima da mentira
Sedento navegante em tom sombrio,
O quanto resta em mim de um tempo aonde
O mundo na verdade não responde
E a sorte tão somente já se adia.

064


A vida em cada rude caminhar
Expressa a solidão e nela eu vejo
Reflexos desdenhosos do desejo
E enfrento sem saber o imenso mar,
Quem dera nos teus braços naufragar
Seria um fim suave e benfazejo,
Mas quando mais distante deste ensejo
Só resta esta ironia a me tomar,
Esgoto cm meus versos o que pude
E vendo a tua face em atitude
Voraz já não concebo outra saída,
E a morte se aproxima sorrateira,
Ainda que deveras não a queira
Domina e toma toda a tênue vida.


065


Eu procuro através da noite insana
Um porto aonde possa estar seguro,
E quanto mais distante em vão perduro,
A vida noutra face já se dana.
Mergulho nesta luta vã, profana
E tento novo dia, mas eu juro
O fim se aproximando, em tom escuro,
O risco de viver já não me traz
Sequer algum momento em plena paz,
Mortalhas tão diversas; minha herança
E tento, mesmo inválido cometa
Aonde cada passo se prometa
E a vida sem sentido ao fim se lança.


066

Consolo entre os afetos; poderia
Trazer ao meu olhar quer ou não queira
Além da mera face onde a poeira
Espreita e me domina dia a dia,
Alheio ao quanto pude em fantasia
A morte se aproxima, mais ligeira
E o salto leva à fria corredeira
Na tez tão desolada quão sombria
Esparso caminhante do vazio,
O quanto a cada risco desafio
Gerando dentro em mim tal tempestade,
Neste enlutado passo rumo ao fim,
O mundo se transforma e sei que assim
Apenas o terror, temor, me invade.


067


Os olhos que se fecham quando há dor
Não merecendo ao fim um horizonte,
O quanto do meu mundo desaponte
E mostre esta inconstância em frio albor,
Pudesse adivinhar com tal pudor
O riso mesmo até traçando a fonte
E nela todo o canto que desponte
Tramando um novo dia em bel favor,
Ao enfrentar a fúria da tempesta
O pouco do meu sonho que inda resta
Não deixa qualquer marca no futuro,
E assim ao me entranhar na solidão,
Bebendo esta terrível emulsão
A cada novo gole, eu me amarguro.


068


Quedando quase inútil quando posso
Vencer os meus fantasmas com o sonho,
E quando a vida além eu recomponho
Tentando restaurar mero destroço,
O todo noutra face não endosso
E vejo o meu olhar tosco e medonho
E quantas vezes pude e até me oponho
Ao quanto imaginara ser só nosso
O dia mais feliz que nunca veio,
A sorte sem ter base nem esteio
Derruba qualquer messe desde quando,
Neste infernal caminho me percebo
E ali sem fantasias eu me embebo
Do tétrico delírio desabando.

069


Talvez dentro do ser possa sentir
Alívios entre dores tão nefastas
E quando dos meus dias tu te afastas
Permites qualquer sonho no porvir,
O mundo sem saber mais discernir
As horas entre tantas, loucas, gastas
E gestações dispersas quando emplastas
Trazendo a quem sonhara um presumir,
Ao denegrir errôneo caminhante,
O quanto se apresenta e me garante
Expondo o que inda resta em verso e luz,
Espalho a minha voz aos quatro ventos,
Tentando dirimir os sofrimentos
Que a própria desventura reproduz.


070

Jamais algum soluço aonde um dia
Pudesse acreditar em nova face
De um mundo tão cruel por onde passe
Além da mera dor e hipocrisia,
O tempo com certeza não seria
O mesmo quando a vida em tal impasse
Ao transcorrer dolosa ainda grasse
Marcando com terror esta ironia,
O manto se desnuda e mostra quem
Talvez ainda um dia venha e trague
Um mar onde esperança enfim deságüe
Depois da tempestade que inda vem,
Assim ao merecer pleno castigo,
O verso se desanda e em vão prossigo.


071

Caminhos tão diversos quando os vejo
E tento alguma chance pelo menos,
De dias mais suaves e serenos
E nada se aproxima deste ensejo,
O quanto do meu mundo não se dera
Senão em tanto medo, em agonia,
Presumo com ternura o que viria
E neste desenhar, mato a quimera,
Aonde o coração teimando esconde
No fundo a vida passa mais confusa,
O olhar inebriante da Medusa
E o mundo sem saber sequer nem onde,
Apresentando o fim a cada perca,
O mundo se transforma em fria cerca.


072


Diversos roseirais aonde um dia
Tentara tão somente algum momento
E quando a voz se torna em sacramento
Maior do que decerto eu poderia
O marco se transforma e a poesia
Morrendo sem saber de algum alento
Um verso mais tranqüilo eu teimo e tento;
Mas tudo quanto enfrento é sofrimento,
Repare no vazio deste fosso
E vendo o meu caminho em mero esboço
Restauro com terror o que pudesse,
E sei que no final não restará
Sequer onde meu passo tocará
Deixando no passado uma benesse.


073


As folhas outonais caindo ao chão,
Expressam a mais dura realidade
E a cada novo dia mais degrade
O mundo que julgara e sei que não.
Apenas outros tantos me trarão
O corte aonde o mundo ainda invade
E morto sem saber felicidade,
O corpo se apresenta em podridão,
Uma alma tresloucada investe em medo
E tanto quanto pude não concedo
Sequer um novo alento a quem porfia,
Inverno se aproxima rigoroso,
Meu mundo na verdade este andrajoso
Delírio se perdendo a cada dia.


074


Amigos? Leda voz que não se escuta
E a vida não promete solução
Meu passo segue alheio e sempre em vão,
Quem sabe possa até nesta cicuta
O privilégio em morte aonde a bruta
Realidade nega a provisão,
Meus dias se perdendo desde então,
Caminho e já não quero mais a luta,
Escombros de outros tempos, gládio farto
Do quanto fora outrora enfim me aparto
E bebo este veneno em grandes goles,
E quando me percebes desolado,
Apenas ironia segue ao lado,
Também ao ver-me assim, logo me engoles.


075


Por tantas vezes tento outra saída
E nada mais do todo que pensara
Apenas o vazio na seara
E o olhar se entregue à rude despedida,
Arcando com o corte, outra ferida,
O manto se puindo me escancara
A face tão escusa e se declara
A morte mesmo quando em tênue vida.
Resgato os meus cantares derradeiros
E bebo virulentos e certeiros
Caminhos entre pedras, farto espinho.
Depois de ter no olhar esta certeza,
Do quanto mais queria, mera presa,
Persisto e sei que eu sou tolo e daninho.


076

Nas aflições diversas, tanta vez
Olhando para antanho percebi
O olhar que na verdade estava aqui
E nele o quanto agora tu já vês,
O manto da esperança se desfez
E dele cada corte eu conheci,
Vagando sem destino rumo a ti,
E o passo se perdendo, insensatez,
Apenas a mortalha inda me resta,
A mão que na verdade ao mal se empresta
Esgarça com firmeza o quanto deve,
E sei desta agonia doravante,
E nela cada passo se adiante,
Mas sei também que a morte virá breve.


077


O quanto não salvaste quem tentara
Seguir um novo rumo mais tranqüilo
E quando entre as mortalhas eu desfilo,
A sorte se desnuda mais amara,
O corte a cada passo aprofundara
A morte me permite e assim destilo
O forte caminheiro, num vacilo
Penetra este vazio e nada ampara.
O marco desdenhoso diz do quando
O mundo noutro tanto deformando
Gerando esta medonha dor em mim,
O todo se aproxima do tão pouco
Um velho quase esquálido eu treslouco
E bebo a sordidez do amargo fim.

078


Vingará no futuro a queda aonde
O tempo não mais deixa quem quisesse
E mesmo quando o sonho se obedece
A sorte noutro rumo já se esconde,
O amor quando ao terror se corresponde
Impede qualquer força, nega a prece
E a queda insofismável vem e tece
Tampouco alguma voz, mansa responde,
E sinto este outonal caminho em fúria,
Bebendo sem saber a forte incúria
E nela se encerrando a minha história
Minando cada passo rumo ao quanto
Apenas o final que inda garanto
Traçando a face escusa desta escória.


079

A dura empresa faz com que se tente
Vencer o descaminho costumeiro
E sei o quanto posso em derradeiro
Delírio aonde o mundo se apresente,
Ainda que pudesse incontinente
Cerzir com mais denodo o verdadeiro
Cenário e se deveras eu me inteiro
No canto se mostrando impertinente.
E resolutamente nada tenho
Somente o medo atroz, duro e ferrenho,
Num átimo o viver se torna rude
E assim o meu caminho em dor e treva
Apenas ao vazio o canto leva,
E a sombra da ilusão tanto me ilude.


080

Quero agradar a quem também me queira,
Mas nada se permite além do sonho,
O meu olhar atroz, quase bisonho
Encontra a solidão tão corriqueira
E quando entre as entranhas já se esgueira
E neste caminhar eu não me oponho,
Sedento navegante eu te proponho
Erguendo da esperança esta bandeira.
O marco mais audaz de minha vida,
Expressa a cada passo a dividida
História entre totais dicotomias,
E cevo com terror o quanto pude
E mesmo a solidão ainda ilude
Quem tenta quanto mais tu desafias.


081

O sonho se é real tanto me alenta
E gera novo sonho mais suave
E quando a própria vida ora se agrave
Gestando dentro em si leda tormenta,
Sonhar tão meramente me apascenta
E impede que este passo a vida entrave
E o quanto em liberdade como uma ave
A vida se mostrasse em paz, sedenta.
Restando a quem deseja um pouco mais
Que os dias consonantes e banais
Alçando a libertária fantasia,
E o tanto que se possa ou se mereça
A sorte dominando esta cabeça
Um novo amanhecer em luzes cria.


82

E eu vivo deste raro provimento
E nele saciando qualquer medo,
Ainda quando além teimo e concedo
O todo dentro em mim eu alimento,
Exposto o coração ganhando o vento
Na face mais feliz, sem ter segredo
Desenho o meu porvir em claro enredo
E tomo com ternura o sentimento,
Invisto enquanto insisto na verdade
E marco com brandura o quanto agrade
A quem se faz comparsa e companheira,
Numa avidez sobeja me alegrando,
Embora se perceba desde quando
A vida noutra vida não se inteira.


83


Apronta-se o cenário e vendo a peça
Olhando das coxias, o que tento
Seguir sem ter sequer alheamento
Nem mesmo outro caminho que isto impeça
A vida noutra vida recomeça
E o beijo se traçando solto ao vento
Permite que se tenha num momento
O rumo aonde a glória se obedeça
O tempo não discute, apenas passa,
E o quanto da esperança é vã fumaça
Embota o meu olhar, sem horizonte
Não tendo mais a sorte que procuro,
O dia na verdade é tão escuro,
E nele nem a vida em paz se apronte.

84


O tempo em discordância gera infausto
E nele cada engodo prolifera
E sinto bem mais viva esta quimera,
E o corpo não tem forças, segue exausto,
O amor não mais seria um holocausto
Tampouco qualquer curva dita a espera
E quando no final se destempera
O sonho, mero sonho, vira um fausto.
Rescaldos de momentos mais ferozes,
E deles ouço ainda as várias vozes
Nesta confusa e sórdida loucura,
O medo de seguir regendo o passo,
E assim quando do nada um nada faço
Simples presença amarga me tortura.

85


No seu lugar vazio, na platéia,
O ritmo alucinante desta vida
Produz outro cenário e na partida
O olhar se torna apenas vaga idéia,
O quanto de minha alma fora atéia
E o tempo se transforma e sem saída
A morte a cada passo sendo urdida,
Como se fosse assim, a panacéia.
Reparo os meus enganos e no fundo,
O coração em mágoas eu inundo
Deságuo neste tétrico caminho,
E sórdido fantoche, meramente
A sorte na verdade não desmente
E sigo sempre alheio e mais sozinho.


86

Ansioso pela festa que não vem,
O coração esboça algum sorriso
E quanta fantasia foi preciso
No fundo me percebo sem ninguém,
A morte precedendo com desdém
O quanto se procura em Paraíso,
E sei do meu caminho e o prejuízo
Que a própria persistência tanto tem,
Negar algum momento em alegria
É mesmo que matar a fantasia
Deixando apodrecida a velha imagem
De quem se fez audaz, e agora em nada,
Presume a farsa logo demonstrada
Tentando converter em nova aragem.


87


Repimpa-se a alegria quando vê
O olhar tanto feliz quando sobejo,
Porém noutro sentido nada vejo
Na vida sem saber sequer por que,
O tanto que pudera e nada crê
Sequer na fantasia em um lampejo,
O mar que tanto quis em azulejo
Nem mesmo ardente praia o amor revê.
Escuto a voz em tons diversos quando
O mundo noutro instante desabando
Formando esta figura caricata
Amante sem destino, meu passado
Expondo o ser deveras maltratado
Que ainda sem paragem, desacata.


88

Arqueio as sobrancelhas quando vejo
O olhar de quem buscara e nunca veio
Meu canto se presume e neste alheio
Delírio morre aquém de um mero ensejo,
E quando noutra face já dardejo
E busco cada estrela que rodeio,
O manto em temido devaneio
O corte se aprofunda em tons de pejo.
Escombro de um escombro um mero pária
A sorte tantas vezes necessária
Resume em verso e dor o quanto trago,
E sei que na verdade eu já me esfumo,
E quando procurara enfim o prumo,
Apenas vislumbrando um mero estrago.


89

Tendenciosamente a vida traz
Momentos discordantes e por isto,
A cada nova queda não insisto
E sigo o meu caminho vão, mordaz,
O amor quando demais, ausente a paz,
O corte se aproxima e quando visto
Revela o mais dorido, mas persisto
E tento outra vertente e sou capaz,
Marcando em virulência cada verso,
Assim vagando à toa no universo
Criado pelo sonho em fantasias,
E nesta dor que trago dentro em mim,
A vida se aproxima já do fim,
E nada do que levo me darias.

90


Embasbacado vejo a minha face
Especular reflexo da alma fria
E neste pouco espaço colheria
O quanto do vazio me desgrace,
A sorte noutro rumo ainda grasse
E gere tão somente a hipocrisia,
Aonde quis um dia a poesia
E nada mais se mostre, mero impasse,
Resulto desta frágil noite em vão
E sei dos meus tormentos e virão
Apenas as manhãs em tais neblinas,
Vitrais já se embaçando dentro em mim,
Fechadas persianas ditam fim
E neste delirar, tudo exterminas.




91

Quisesse como fosse a luz do dia
O amor que tantas vezes sonegaste
Perdendo do viver a frágil haste
O manto se desnuda em tez sombria,
O quanto deste sonho eu poderia
Enquanto num momento me alentaste.
Mas quando a solidão, cruel contraste
Transforma o meu caminho e me agonia,
Amena noite suave e constelar
Jamais eu poderia imaginar
Se apenas o vazio ainda ronda,
Quem tenta acreditar e nada vendo
O mundo se transcorre e mais horrendo,
O mar já me sonega qualquer onda.


92

Invoco então teu nome, mas sequer
Um som ainda ouvindo diz do quando
O amor em nova face se mostrando
Talvez ainda trague o que se quer,
O rústico delírio diz qualquer
E nega outro caminho o deformando,
O beijo tão nefasto me arranhando
Ausente dos meus braços a mulher
Que tanto desejei e nunca veio,
Seguindo sem destino, em devaneio,
Apenas mergulhando neste mórbido
Delírio aonde um dia se fez sórdido
E quando se aproxima o fim da vida,
Não resta dentro em mim uma guarida.

93

O céu em sombras tantas nada traz
Senão a velha face em tal desvelo,
E bebo a cada sonho o pesadelo,
E um risco se mostrara mais tenaz,
Além do quanto quis; ausente paz,
Momento de alegria? Jamais vê-lo
E o canto se perdendo sem contê-lo,
Na frágil fantasia, o som mordaz,
O suicídio é sim, o meu remédio,
E quando o fim tocando em doce assédio
A força geratriz deste infinito
Após leda mortalha, o que me resta
Abrindo deste espaço a mera fresta
É tudo o que deveras necessito.

94

Minha alma se exaltando tanto chama
Quem foi e jamais volta. Desalento.
E quando alguma sorte; ainda tento
O velho caminhar reflete o drama,
A morte com certeza, nobre dama,
Expondo quem vivera em vão relento
Ao mais suave encanto; alheamento
De tudo o que deveras inda clama;
Restando muito pouco sei que nisto
Existe esta esperança e agora avisto
A face mais atroz em luto e treva,
O medo de seguir? Não mais contendo,
O manto da alegria, mero remendo,
Em solidão minha alma apenas neva.


95


O tempo me levando para além
Dos sonhos onde pude; incerto dia
Acreditar no quanto não viria,
Sabendo que o vazio me contém,
Restando muito pouco para alguém
Que tantas vezes sorte merecia,
Mas sabe desta dura hipocrisia
E nela se adentrando sem desdém,
Refém do passo enquanto nada tenho,
Somente da ilusão mero desenho
E vasto o meu temor, porquanto existe
Ainda algum resquício de esperança
Aonde o derradeiro verso lança
O coração embalde amargo e triste.

96

Tu foste para mim a estrela guia,
E agora em tantas nuvens te perdi,
Procuro e sei que nada existe aqui
Somente a noite em trevas, dura e fria,
Pudesse ainda crer nesta ardentia
Que um dia infelizmente eu conheci,
E quando em desvario eu percebi
O quanto na verdade não valia,
Mesquinho caminhante no abandono,
Da morte a cada dia mais me adono
E sei que no final, tal sortilégio
A sombra de quem vive, para mim,
Traçando o meu destino em manso fim,
Será somente enfim, um privilégio.

97


Tu eras na verdade a poesia
Que um dia acreditei ser mais plausível,
Mas quando o som do amor se fez terrível
O tempo novamente não traria
Sequer a mais temida melodia,
E o vento num terror quase invencível
Gerara dentro em mim a dor incrível
Marcando com a fúria, esta agonia.
Apresentando agora o quanto pude
Viver embora saiba ser tão rude
O mundo que me assiste em ledo fim,
Ascendo ao mais sofrível pesadelo,
E tanto regozijo por contê-lo,
Resquício de uma vida ainda, em mim.

98


Jamais pude igualar meu canto ao teu
E sei do quanto fora quase insano
O verso aonde eu sinto que me dano,
E o mundo no vazio se perdeu,
Apenas este risco, agora meu
Traduz a imensidão de um louco plano,
E o verso mais atroz, mesmo mundano,
No quanto de meu mundo pereceu,
Amargo esta saudade; mas sei bem
Que nada na verdade ainda tem
Quem ama e se entregando sabe disto.
E quanto mais reluto; mais me entrego
Apenas maltratando e em passo cego,
Durante a tempestade, não desisto.

99


O teu contentamento me atordoa,
E sinto em teu sorriso esta ironia
Gerando dentro em mim o que agonia
Minha alma segue alheia e quase à toa,
Meu canto sem respostas inda ecoa,
E bebe da terrível fantasia
Sabendo que deveras poderia
Morrer; felicidade onde se escoa
O mar que na verdade desconheço,
E a cada caminhada outro tropeço,
Resvalo no vazio de meu ser
Ascendo ao mais dorido dentro em mim,
E bebo cada gota até o fim
E sei que no final; melhor morrer...


100

Pudesse me envolver neste momento
Nos laços bem mais firmes deste anseio
E quando a tempestade; em mim rodeio
Persisto o caminhar em desalento
E solto a minha voz imerso em vento
Traçando com terror o quanto alheio
Ao mundo sem defesa e sem esteio
Ainda algum sorriso, mero, eu tento.
Prenunciando a queda no horizonte
De quem se transformara e já desponte
Tal como uma temida tempestade,
A furiosa noite me tocando,
O vento incontrolável desde quando
A sorte noutra face se degrade.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

43401 até 43500

001

Que o horror quando o carregue purifique
Esta alma desolada entre as demais
E sendo desejados funerais
A morte pelo menos já me explique
O quanto cada passo modifique
E tente dentre tantos outros mais,
Erguendo o meu olhar entre os fatais
Delírios onde nada mais complique
O passo desairoso de quem sonha
E sabe desta vida que enfadonha
Repete os mesmos trâmites, porquanto
A cada novo engodo nova queda,
E ao fim qualquer saída já se veda
Cobrindo as ilusões com turvo manto.


002

Minha alma a cada engodo se aproxima
Do quanto mais de humano existe em mim,
Até se decompor traçando o fim
Negando qualquer forma vã de estima,
O passo que somente assim se prima
No errático delírio de onde vim
E trame na verdade o quanto enfim
Gerasse na tempesta que sublima
O canto mais feliz quando se visse
Além do corriqueiro e da mesmice
Por vezes companheira ou aliada
Depois de tantos erros, nada vejo
Somente este terror por mais sobejo
E dele no final, vislumbro o nada.


003


Os anjos deste Deus que tu criaste
Humana criatura em tez voraz,
No quanto tão somente satisfaz
A furiosa senda em vão contraste,
Roubando a cada passo alguma haste
E nisto a solidão tanto compraz
Enquanto na verdade se é capaz
Do que na realidade não notaste.
Espúrio passageiro do abandono,
Enquanto deste encanto eu já me adono
Presumo esta fatídica loucura
Aonde dessedento a minha vida
Na face decomposta e carcomida
E nela encontrarei a paz e a cura.

004


Levando-me ao que vejo como espelho
E tendo aproximado o meu retrato
Apenas o meu eu bebo e resgato
E nele com terror eu me aconselho,
O quanto deste tempo agora engelho
Trazendo uma aridez, ledo regato,
Impávido eu termino e me desato
Atravessando em mim um mar Vermelho,
Escondo-me das feras que alimento,
E quando exposto ao fim, vago tormento
A insanidade doura cada passo,
Aleatoriamente um sonhador
Entranha nos anseios, medo e dor
E a cada novo dia me desgraço.


005

Pai meu, que estás nos céus após as brumas
E vês com Teu furor a face escusa
Do ser que na verdade tanto abusa
Enquanto tu derramas tais escumas,
E logo noutra face tu já rumas
Sabendo da seara mais confusa
E nela com terror ousando abusa
E bebes sanguinárias, vis espumas.
Sedento de vingança, o ser humano
Forjara em Ti o quanto em podridão
Expõe a cada ausência e não verão
Meus olhos o perdão que propalaste
E assim num dia a dia mais atroz,
Ninguém entenderia a Tua voz
Ousando ter humana a base, esta haste.


006


O quanto inda sou teu e não mais queres
E nisto meu delírio se consome,
Ao perceber da glória ausência e fome,
Os dias não terão sequer talheres
Da sobeja iguaria entre as mulheres,
Realidade aos poucos; vejo e some
E o todo do final imagem tome
Até que no não ser tanto interferes.
E resolutamente sigo em frente
Ousando acreditar noutro momento,
Aonde se entregando ainda tento
Um dia que deveras me contente,
Resumo o meu delírio em novo fato
E quando a velha cena; aqui resgato
Futuro mai diverso ainda tente.


007


Ainda a perseguir cada pedaço
Do quanto poderia e não mais vendo,
O fato tão cruel, portanto horrendo
Aonde me retrato e me desfaço,
Condeno a caminhada em torpe passo
E a queda a cada instante estou prevendo,
Da parte que me cabe, sou remendo
E neste espúrio mar, já nada atendo.
Cansado de lutar contra a maré,
O quanto ainda tenho e sigo até
Vencer ou ser vencido, não me importa,
Apenas resta em mim a solução
De ver além da frágil amplidão
A porta após a porta, após a porta...


008

Nalgum lugar sagrado ao pensamento
O meu ego se presume em vento frio,
E quanta vez eu teimo e desafio
Embora me perceba desatento
Porquanto navegar; deveras tento
E sei que no final este ar sombrio
Tomado pela angústia e desvario
Audaciosamente em sofrimento.
Restauro os meus caminhos, sigo aquém
E vejo noutra face o que não tem
Nem mesmo a imprevisão de um passo quando
O tanto que pudera não mais creio,
E o mundo se perdendo em devaneio
Da vida pouco a pouco me afastando.


009


O quanto inda me quer a morte quando
Desnuda a sua face amortalhada,
Depois desta batalha resta o nada,
E o mar que agora adentro é mais nefando,
O manto desta forma desnudando,
A fonte já tanto mesmo desolada,
E o corte se anuncia e nega a estrada
Meu rumo sem destino, destroçando
Acasos entre erráticos sorrisos,
Acumulara apenas prejuízos
E a bala, a faca a adaga vejo aqui,
Resumo minha história no vazio
E quando qualquer sonho eu desafio,
Eu sei que desde o início eu já perdi.


010


Tentando levantar-me enquanto ousado
O cântico feroz de alguma sombra
Deveras no tormento mais assombra
E gera as velhas dores do passado,
Por vezes imagino alguma luz
E sei que na verdade pouco resta
Senão a mesma face mais funesta
Aonde o meu olhar se reproduz,
Do pouco ou quase nada que inda tenho
O medo de seguir não mais permite
E o todo se perdendo em vão limite
O quanto deste sonho mais ferrenho
Num ermo sem sentido se perdendo
Deixando este fantoche, agora horrendo.

011


O quanto se ergueria além do chão onde me vejo
Perdido em tais rancores sem saída,
A sorte muitas vezes sendo urdida
Adentra o coração e neste ensejo
Desenho dentro em mim; algum negrejo
E bebo sem saber a despedida,
O errático e medonho em despedida,
Apenas o vazio enfim prevejo
E sei do quanto pude e nada tenho
Aonde o caminhar fora ferrenho
Agora ensimesmado nada resta,
Senão a mesma audácia em desventura
E o quanto deste sonho inda perdura
Não deixa da esperança qualquer fresta.



012


Quem é que ao despedir já não me vê
E toma entre seus braços o destino
Que um dia imaginara cristalino
E agora se aproxima sem por que,
O quanto aprenderia e não mais crê
Uma alma aonde o medo determino,
E quando meus resumos; examino
Eximo-me da sorte onde se lê
Desdita tão comum a quem mais sonha,
A face dolorosa ou enfadonha
Expressa o que talvez ainda tente,
Vestindo esta inclemência aonde um dia
Pudesse imaginar e não teria
Sequer o que me faça mais contente.



011


O quanto se ergueria além do chão onde me vejo
Perdido em tais rancores sem saída,
A sorte muitas vezes sendo urdida
Adentra o coração e neste ensejo
Desenho dentro em mim; algum negrejo
E bebo sem saber a despedida,
O errático e medonho em despedida,
Apenas o vazio enfim prevejo
E sei do quanto pude e nada tenho
Aonde o caminhar fora ferrenho
Agora ensimesmado nada resta,
Senão a mesma audácia em desventura
E o quanto deste sonho inda perdura
Não deixa da esperança qualquer fresta.



012


Quem é que ao despedir já não me vê
E toma entre seus braços o destino
Que um dia imaginara cristalino
E agora se aproxima sem por que,
O quanto aprenderia e não mais crê
Uma alma aonde o medo determino,
E quando meus resumos; examino
Eximo-me da sorte onde se lê
Desdita tão comum a quem mais sonha,
A face dolorosa ou enfadonha
Expressa o que talvez ainda tente,
Vestindo esta inclemência aonde um dia
Pudesse imaginar e não teria
Sequer o que me faça mais contente.

013


Enquanto da impaciência a vida traça
Ao esvair em sonhos cada engodo
Mergulho no passado e sei do lodo
Aonde o meu caminho toma a praça
E o quanto se esvaindo em tal fumaça
Persiste deste pouco ver o todo
E quando nestes passos eu me enlodo
Apenas solidão, meu canto grassa.
Nefastos dias reinam desde quando
O tempo noutro tanto se inundando
Esgota o que inda fosse mais atroz,
Resulto no que finda e tangencia
Erguendo a minha mão com ironia
Negando o quanto houvera ainda em nós.


014


A manhã rasga a tarde e molda além
A mesma desventura e nisto sinto
Apenas o que rege cada instinto
E nisto o meu vazio me provém,
O quanto em discordância a vida tem
E trama outro cenário e quando minto
O que julgara apenas vago e extinto
Revela o meu caminho muito aquém.
Queixar-me dos meus erros e tentar
Ainda acreditar nalgum lugar
Diverso deste aonde nada resta
Senão a mesma face que enfadonha
Permite a cada ausência o que se exponha
Imagem tão confusa adentra a fresta.

015


No instante aonde escapo ou mesmo vejo
Ardentes sensações ou iras fartas
Enquanto na verdade tu descartas
Esboças com ternura este azulejo,
O dia se aproxima e benfazejo
A sorte dita além das meras cartas
Bem antes que talvez ao longe partas
O tanto se aproxima de um lampejo,
Esgoto uma esperança quando tento
E vejo alheio a mim o sentimento
E audaciosamente eu sinto a queda,
Pagar com desconforto e despreparo
O quanto do meu mundo ora deparo
E nisto outra saída além se veda

016


Em frases que o terror esboça quando
Expondo outra verdade não descerra
O olhar que ora se entranha sobre a terra
Na mesma e vã mirada desvendando
Errôneos os ditames e sedando
O prazo pouco a pouco enfim se encerra
Aonde perfilasse paz e guerra
Ainda dentro em mim sigo invernando.
Quando ocasionalmente a vida traz
Um risco mais audaz e impertinente
E quanto tento além o nada sente
E mostra a mesma face então mordaz,
Rescaldos de momentos do passado,
Vislumbro a multidão, sofrido gado.


017


Perdidos, se exaurindo a cada passo
No quanto pude mesmo acreditar
Na sorte desenhada em vão lugar
Por vezes enfadonho ou mesmo baço,
O tanto que inda resta e já não traço
O manto bem mais claro de um luar
Aonde pude mesmo mergulhar
Seguindo cada dia neste espaço,
Aprisionado verso desde então
Aguarda a mais querida solução
E nada se apresenta neste fato,
Medonha face exposta num espelho,
O quanto ainda tento e me aconselho
Traduz este desejo e enfim resgato.

018

Mensageiros nefastos de outras eras
Os pesadelos dizem desamores
E sem que inda consiga além propores
Os dias noutros tantos; degeneras
E sigo sem saber de tais esperas
E bebo a ingratidão em duras cores
Errático demônio sobre as flores
Matando as improváveis primaveras,
Canteiros da esperança, meu jardim
Que há tanto desconheço dentro em mim
Crisântemos, verbenas, violetas
E os sonhos são decerto de tal forma
Aonde a própria vida nos deforma
Diverge deste bem que inda prometas.


019


As duras e revoltas tempestades
Comuns a quem se fez além do sonho
Por vezes tão sofrível e enfadonho
E nele com terror tanto os degrades
A vida ao me mostrar diversidades
Esbarra neste canto onde proponho
Um claro amanhecer bem mais risonho
Deixando no passado adversidades
E sinto em teu canteiro o florescer
Do amor que tanto quis e ao perceber
A rara maravilha em multicor
Entendo as variantes da emoção
Bebendo sem temor à exaustão
A doce essência rara de um amor.

020


O casto em alvos sonhos se deslinda
Na bela criatura que foi minha,
E quando esta saudade desalinha
O encanto que deveras já se finda,
O amor quando no amor cevando brinda
Expressa a solução que jamais vinha
E assim se presumindo a mesma vinha
A safra mais perfeita vem; ainda,
Servir-vos e sentir em vossos dias
As raras e sobejas fantasias
Enveredando além dos mares quando
No encanto sem igual de amor sobejo
Encontro cada anseio e mais desejo
O tempo num delírio desnudando


021

Pálidas, ao luar as noites nossas
E nelas me enfronhando sem defesas
Os sonhos são supernas sobremesas
E delas pouco a pouco tu te apossas,
E quando os meus caminhos também roças
O amor com suas garras; mansas presas
Adentra sem perguntas correntezas
E nele nossos passos tu endossas
Vasculho cada ponto e sei em ti
O quanto deste encanto eu descobri
Ou mesmo adivinhei quando queria
Apenas e somente qualquer marca
E nisto o meu desejo já se em barca
Promete até quem sabe um novo dia.

22


A vida em gargalhadas zomba quando
Olhando para mim percebe a face
Aonde este sarcasmo ainda grasse
E o todo noutro instante me tomando,
De amores e de medos, contrabando
Ainda quando a sorte me desgrace
Quem sabe noutro dia ainda trace
Um céu bem mais suave adivinhando
Representando enfim o quanto pude
E tendo além sobeja magnitude
Vencendo os meus temores costumeiros,
Alçando muito mais do quanto eu quis,
Podendo ser talvez inda feliz
Cuidando com denodo meus canteiros.


23


Lábios onde o sonho verdejara
Trazendo em carmesim nova esperança
A vida quando a ti, querida avança
Trançando com ternura esta seara
O passo novamente já me ampara
E nele se firmando esta aliança
Gerando onde se quis tal confiança
O encanto que esta vida desenhara,
Restauro de um passado mais sofrido
O amor onde o mesmo é consumido
Como iguaria rara em farta mesa,
E sinto após a queda em tenebrosa
Seara; o florescer em lírios e rosa
Qual fosse ao fim da vida uma surpresa.


24


Carícias sensuais da vida enquanto
Realidade turva toma tudo
E quando neste tanto enfim me iludo,
Sorvendo da esperança um doce canto,
O meu amor que um dia fora espanto
Entoa dentro em nós e se inda ajudo
No todo quando fora até miúdo
Imenso delirar que ora agiganto.
Invisto o pensamento e sei que neste
Delírio o quanto posso concedeste
Gerando num esplêndido fulgor
Ansioso entardecer onde em clarões,
O tanto que te quero e já me expões
Traduz o mais sublime e raro amor.



25

As rosas mais sanguíneas em desejos
Ardores e paixões refletem isso
E quanto além do todo já cobiço
A vida em seus sublimes, bons ensejos,
Encontro nos meus céus os azulejos
E neles refletindo cada viço
Do tempo mais feliz e não mortiço
Traduzem meus momentos benfazejos.
Realço com os versos e palavras
Os dias onde as sortes também lavras
Colhendo no futuro a mais sublime
Colheita onde se traça algum futuro
Aonde na verdade o que procuro
De todos os meus erros me redime.


26


Amarelando em mim as amarguras
Estanco o meu caminho onde pudesse
Talvez imaginar qualquer benesse
Embora novos tempos já procuras
E sei das nossas noites mais escuras
Enquanto o coração o sonho tece
Esbarro no que a vida reconhece
E gero após as guerras, tais canduras;
Existo e tão somente por saber
Dos tantos vis meandros do prazer
Entoando em meu peito esta alegria
Na qual e pela qual ainda possa
Viver a fantasia toda nossa
A dor ao longe e agônica morria.


27


Arroxeados dias em torturas
E neles os meus passos não mais vendo
Sequer o que pensara algum adendo,
Expressam dentre tantos tais loucuras,
E quando noutro rumo tu perduras,
O todo se apresenta mais horrendo
Do amor que imaginara não retendo
Senão mesmos retalhos, vil remendo.
E enquanto dos farrapos tento a sorte
Diversa que talvez inda comporte
A rara plenitude de um anseio,
Estúpido porquanto sonhador,
Encontro em discordância o bem do amor
E neste amanhecer nada rodeio.

28


Meus olhos fogueados quando a vê
E sabem quanto em ti podem sonhar
Ausente dos meus dias o luar
A vida já não tem qualquer por que,
Cansado de lutar sem nada e crê
Na sorte que jamais há de voltar,
Marcando a minha vida a cada olhar
Distante deste aonde nada revê
Quem fora sonhador e nada leve
Senão esta alegria, frágil, breve
De uma esperança feita em tom mais claro,
Amante inconsolável nada tendo
Apenas o vazio; em mim desvendo
E em versos solidão que ao fim declaro.


29


Amando os roseirais encontro espinhos
E tanto pude ver apenas cores,
Mas quando desenhando aonde fores
Dicotomias tantas nos caminhos,
Por vezes os meus passos são daninhos
E neles se percebem tais horrores
Acumulando medos, dissabores
Tentando em tua boca raros vinhos,
Aprendo a discernir os meus destinos,
E quando no dobrar dos velhos sinos
A morte anunciada dita enfim
O sonhador que agora já partindo
Procura mesmo além do tempo findo
O quanto levo em paz dentro de mim;


30


Por serem tão tristonhos, mas tão belos
Os sonhos onde encontro quem queria,
A noite se presume em alegria
Gerando tantas vezes seus castelos,
Porém na impavidez de vãos anelos
Os rumos onde a paz se cerziria
Encontram a total melancolia
Ousando com até velhos rastelos.
Arando esta aridez um solo agreste
No quanto a realidade não reveste
O meu caminho em tons diversos quando
O marco se desenha em tom sombrio,
O sonho desde então somente adio,
Enquanto vejo o céu além nublando.


31

Por ser a flor somente e nada além
Já bastaria para esta nobreza
Aonde uma alma entregue sem surpresa
Encontra o quanto quer e rumos tem,
O manto multicor trazendo o bem
No olhar envolto em rara sutileza
Desejo sem igual servido à mesa
Traduz tanta beleza que contém,
Meu canto enamorado em primavera
Exala este perfume que recebe
E quando adentra em paz a flórea sebe
Retém o quanto quer e mais espera,
Assim ao me entregar ao teu jardim,
Floresce um novo tempo dentro em mim.



32

Na angústia enquanto enfermo procurava
O olhar de quem bem sei já não veria,
A morte se transborda em agonia
E o coração adentra a fria trava,
O passo onde deveras, pois se lava
Trazendo com ternura um claro dia,
E nele este cenário poderia
Tramar além do quanto se esperava,
Após a cura vejo esta doença
De uma paixão superna enquanto imensa
Gerando até quem sabe a redenção,
Mas quando me percebo e não estás
O quanto desejara enfim em paz,
Somente mera chuva de verão.

33


Gorjeia dentro em mim esta esperança
E nela se refaz uma alvorada,
A sorte noutra senda desenhada
Agora sem defesas já me alcança
O amor quando demais gera a aliança
E nela se percebe a mesma estrada
Porquanto tanto tempo desejada
Trazendo a noite agora bem mais mansa.
Ao assumir meus erros, pude então
Sentir em tons sutis diapasão
Harmonizando o quanto ainda existe
De vida aonde outrora nada havia
E assim em mais sobeja sincronia
A sinfonia ainda ora persiste.

34


Numa noite em lua desenhada
A sorte se transcende à própria prata
Dourando com ternura me arrebata
Tomando com furor a bela estrada
Promessa há tantos anos; desejada
E sei o quanto a luz invade a mata
Deixando-se antever esta cascata
Guardada nesta senda então cerrada,
Ao perceber assim esta beleza,
O coração adentra a Natureza
E segue sem defesas até quando
O sol com sua força magistral
Tomando este arrebol trama afinal
O dia sobre tudo dominando.


35



Tão delicada e triste uma alma tenta
Ao menos um descanso após a guerra
E quando na verdade só descerra
Após a tempestade outra tormenta,
A vida muitas vezes virulenta
Esboça o caminhar e ali se encerra
A sutileza imensa em tosca terra
Na qual toda a beleza se apresenta,
Vestir a fantasia de quem sonha
E vendo a face atroz, mesmo medonha
De quem se fez além de mero traço,
O tanto que a desejo e não me quer,
O risco de sonhar, hoje sequer
Expressa um bom caminho e o nada eu traço.


36

Aroma em castidade e em tez profana
A dama se vestindo em meretriz,
Assim como se fosse alguma atriz
Enquanto a minha vida além se dana,
A imagem tantas vezes soberana
E nela a própria cena contradiz
E ser feliz é tudo o quanto eu quis,
Mas sei que a sorte amarga desengana.
Restando muito pouco em minha história
A sorte que destarte é merencória
Expondo este retrato envelhecido
Das rugas, minhas cãs tão prematuras
O quanto do vazio me asseguras
Não faz e não fará qualquer sentido.

37


A tua boca expressa em rubro tom
O quanto de um desejo já florescia
Adentro a cada instante esta alegria
E sei que amor detém o raro dom
Do encanto mais que um simples, vão neon
E é muito além do quanto eu merecia,
Assim ao se espalhar a poesia
O canto mais augusto traz num som
Suave e delicado, o meu desejo,
Embora na verdade não prevejo
Senão a própria queda incontrolável,
Meu mundo se insensato já se fez
No fundo resta apenas timidez
E o manto noutro espaço, impenetrável.


38


O rosto que me faz sonhar e traz
A plena maravilha deste anseio
Enquanto constelar em devaneio
Permite ao sonhador um canto em paz,
O quanto nesta vida fui mordaz
E tantas quedas dizem de um alheio
Cenário aonde a sorte ora permeio
Gerando o que à verdade satisfaz,
Escassos dias quando pude então
Viver a imensidade e sei que não
Encontraria a sorte após a queda
O mergulhar no vago de teus braços
Expõe os dias mesmo quando baços
E a sorte noutro rumo já se enreda.


39


As pétalas da rosa em meu canteiro
Trazendo algum alento a quem sombria
Verdade noutra face mostraria
O mundo num cenário costumeiro,
E quando no teu canto já me inteiro
Prenunciando a glória de outro dia
Imerso na mais clara fantasia
O amor bebendo em paz deste tinteiro.
Primaveris delírios são constantes
E neles cada passo que adiantes
Forrando com matizes meus caminhos,
Embora saiba bem dos roseirais
E neles entre tantos magistrais
Delírios também haja seus espinhos.


40


Quem sabe nesta neve de um inverno
Feroz se prenuncie um calmo dia,
Mas quando a primavera surgiria
Tomando com ternura o duro inferno,
O amor que ainda trago, mas o interno
Numa eclosão fantástica traria
A bela e tão sonhada melodia,
Enquanto em solidão, agora hiberno,
Vestindo esta promessa nada além
Dos dias que virão e neles têm
A glória presumida deste fato,
Aonde com firmeza mergulhara
Tornando sempre flórea esta seara
E nela toda a dor; hoje eu resgato.



41


Um astro que vagueia sem destino
Espaços consonantes e diversos
Galgando por tamanhos universos
E neles; meu caminho eu determino
Aonde fui deveras um menino
E bebo os meus venenos mais perversos,
Encontro os meus temores e os dispersos
E neste mergulhar eu me alucino,
Agrisalhado céu onde pudera
Apenas discernir a dura espera
De quem se fez poeta e quis além
Do pouco que inda resta no seu peito,
E mesmo quando em pedras eu me deito,
A poesia invade e a paz contém.

42


Repouso nestas trevas onde um dia
Quisera tão somente algum descanso,
E quando o meu caminho sem remanso
Buscara tão somente a fantasia
Fortuna novamente eu não veria
Apenas no vazio enfim me lanço
E assim às teimo e me esperanço
Rondando o que inda resta de alegria.
O peso de viver já não concebe
E a escuridão domina inteira a sebe
Cerzindo este abandono dentro em mim,
Meu verso sem defesas; segue alheio
Satélite sem rumo o vão rodeio
Alimentando o inferno de onde vim.


43


O quanto o mundo é frio e nada posso
Após tentar alguma luz e sinto
O coração entregue ao vento extinto
E neste caminhar sou qual destroço,
Desejo que pensara ser tão nosso
Agora noutra face enfim o tinto,
Vergando este terror que agora eu sinto
Enquanto busco sorte, eu me remoço,
Mas sei do fato sórdido vindouro
E quando imaginara algum tesouro
Ouro de tolo; apenas adivinho,
E bebo cada gole do vinagre
Qual fosse a redenção que me consagre
Espúrio em acidez horrendo vinho.


44


Apenas lividez aonde um dia
Quisera o brilho imenso e constelar,
Aonde se moldara algum luar
Brumosa noite enfim me apetecia,
Restando tão somente a poesia
E nela ainda cismo num vagar
Distante do que pude imaginar
Morrendo pouco a pouco, dia a dia,
Esgoto os meus domínios no vazio
E quando algum momento eu desafio
Ousando para tal ter a esperança
E resta dentro em mim apenas isto,
E o fim se aproximando enquanto insisto
E o olhar sem horizonte ao longe avança.


45

Inunda-se esta noite em solidão,
E aprendo com meus erros tão somente
O quanto do vazio já se sente
Transforma num inverno o meu verão,
A morte talvez seja a solução
De quem se fez decerto impertinente
E quando outro caminho mesmo tente
Os dias se repetem. Tudo em vão,
Mesquinharias ditam o que há tanto
Pudera acreditar e não garanto
Somente este vazio dentro em mim,
Ausenta-se do olhar o brilho raro
E quando novo mundo eu escancaro
Encontro o meu delírio e o sei sem fim.


46


Da fria noite em névoas sinto ainda
Apenas a temida turbulência
A vida se perdera em sua essência
E o nada além do nada se deslinda,
Enquanto a sorte em dor, a vida brinda
E nisto se percebe uma ingerência
Do marco mais atroz a imprevidência
Que tanto se desnuda enquanto finda
A sorte não pudera ser assim,
O fátuo caminhar persiste em mim
E o manto já puído da esperança
Apenas levemente se revendo
Traduz este cenário agora horrendo
Aonde o meu caminho em vão se lança;


47


O gume desta adaga penetrando
O corpo mais atroz e nada veio
Somente o mesmo passo em devaneio
E o manto noutro tom se destroçando
O véu das esperanças desnudando
Meu canto deste todo segue alheio
E quanto mais a sorte em vão anseio
O mundo se mostrara quase infando,
Resumo no vazio o que inda trago
E bebo em grandes goles este estrago
Recomeçando a vida aonde um dia
O tempo não pudera ser assim,
Marcando toda a dor dentro de mim,
O encanto sem resposta o tempo adia.

48


Sinistra esta montanha em tez brumosa
Aonde na verdade nada tendo
Senão este desenho vago e horrendo
Invés da mais sublime e majestosa,
O olhar sem mais sentido ainda glosa
A face que pudesse me envolvendo
E o todo se perdera já descrendo
Da sorte muitas vezes caprichosa.
Aprendo com meus erros, mas enquanto
A vida se transforma e desencanto
Meu verso sem sentido e sem razão,
O mundo imaginário não existe,
Retrato este delírio agora triste
Tramando dias frios que virão.


49



Um sonho sem igual ainda tento
E vejo a discordância em tom venal
Meu rumo tantas vezes desigual
Prepara para o medo e o desalento,
Aonde se pudesse em provimento
Beber este delírio sensual,
O risco de sonhar expondo o mal
E nele só presumo o alheamento.
O quanto tantas vezes teimo e busco
Embora o meu caminho em lusco fusco
Já não permitiria qualquer brilho,
E quando alguma luz; ainda vejo
Apenas um delírio do desejo
E a morte sem saber tanto estribilho.

50


Luar se banha em sonhos prateados,
E o canto em tantas noites mais dorido
Agora se mostrando num sentido
Diverso dos meus dias desolados,
Expresso em fantasia meus herdados
Caminhos variados; mas sofrido
Um trovador entoa neste olvido
Momentos sem iguais, abandonados.
Resumo em poucos ditos; o que quero
E sendo sem defesas, mais sincero
O amor já não condiz com o meu sonho,
Velhusco caminheiro em desatino,
Tentara num segundo ser menino,
Porém especular rosto é bisonho.



51


As lavas da montanha em erupção
Traduzem a paixão que me domina
E quando da emoção percebo a mina
Momentos em total fúria virão
Nessa alucinação vejo a paixão
Aonde o próprio passo determina
Vulcânica loucura que alucina
Desenha neste céu tanta amplidão
E sei dos meus delírios onde eu possa
Trazer a sensação que a quero nossa
Num fumegar intenso rara frágua
No amor quando no amor teima e deságua
Fomentos sem igual; resumo a vida
E nela nova face desenhada
A messe dominando a minha estada
Impede que se beije a despedida.

52

Na lividez atroz onde se expressa
A vasta e tão temida incoerência
A sorte ao se mostrar nesta ingerência
O risco a cada passo se confessa
O amor que imaginara vã promessa
Transcende ao que seria prepotência
E vejo neste fato uma indulgência
De quem se fez amante e assim começa
A vida após a morte em dor e tédio,
O amar é com certeza um bom remédio
E extraio nestes versos meu futuro
O quanto pude mesmo acreditar
No encanto dentre tantos; desenhar
Cenário aonde a paz teimo e procuro.


53


Nesta paixão tamanha aonde eu creio
O mar adentra em mim e em paz me alaga
Curando do passado qualquer chaga
Enquanto dos temores vou alheio,
O tanto quanto posso e até rodeio
Da lua imaginária que se traga
Deixando no passado alguma adaga
Esconde-se ao luar que em paz anseio
Estendo o meu olhar noutro horizonte
E vejo quanto em paz o canto aponte
Transcende-se ao mais claro que há em mim,
O beijo delicado de quem ama
E a noite se estendendo em rara clama
Acende da esperança este estopim.


54


Vestido de ideais caminhos; tento
Seguir sem mais temores vida afora,
O amor quando demais decerto aflora
E bebe este delírio onde o freqüento,
E sei que mata até o alheamento
Enquanto em luzes claras me decora
O tanto quanto quero e desde agora
Expressa o mais sublime pensamento,
Depois de tanta luta e do fastio,
O canto onde deveras eu desfio
Meu único desejo, o ser em ti
Apresentando a luz como destino,
Assim a cada instante determino
O quanto mais sublime conheci.


55


Jamais na indiferença em gelidez
Eu pude discernir esta vontade
E quando uma ternura em paz invade
O amor tanto se envolve enquanto vês
Reinando sobre a tola insensatez
Moldando com brandura a realidade
E assim neste momento além se brade
O canto em mais sobeja lucidez.
Supera as desventuras costumeiras
E traz todo o desejo aonde queiras
Seguir com toda a pompa em rara gala,
Amar e ter nos olhos a certeza
Da vida em mais sutil, rara nobreza
Na voz que ninguém mais teimando, cala.

56


Escondem-se as paixões num dia manso
Aonde a tempestade diz bonança
E assim o meu olhar além alcança
O quanto desejara sem descanso,
O manto mais sublime, este remanso,
O dia em fúria e doce temperança
A sorte desvendada já se lança
E quando me percebo a ti avanço,
Resplandecente lume e nele tenho
O encanto mais voraz, mesmo ferrenho
E tento acalentar com minha luz
O quanto em discrepância dor e gozo
O amor se mostra então mais caprichoso
Enquanto sem defesas nos seduz.


57


No frio destas altas cordilheiras
Cenário sem igual em azulejo,
Assim também o amor quando te vejo
E dele sem notares tu te esgueiras
Ousando na esperança por bandeiras
E tendo a cada passo um novo ensejo
Resumo o meu caminho em teu desejo
E sonho que também tanto me queiras,
Embora paralelos os caminhos
E neles se percebam os mesquinhos
Desvios de quem; tanto quer e teme
Repare nas estrelas, são eternas,
E nelas a certeza das lanternas
Que a eternidade em luz, domine e algeme.

58


No cume das montanhas tanta vez
Uma águia faz seu ninho e assim protege
A vida que deveras gere e rege
Com todo este denodo que tu vês
Assim também neste ápice, talvez
O que pareça a ti um mero herege
Permita o caminhar onde se almeje
Além do quanto pode a sensatez,
Restando do meu canto solitário
Um sonho e decerto é necessário
Saber que mesmo quase que impossível,
O medo não impeça este caminho,
Porquanto nos pareça mais daninho
Tornando então palpável, mesmo incrível.

59


A lava que se oculta dentro da alma
Não deixa que se veja a déia diva
E quanto em ilusões o mundo criva
Transforma qualquer medo e nos acalma,
Repare quando a vida é feita em calma
E nisto a mansidão, imperativa
Gerando outra ternura que cativa
Negá-la é produzir inútil trauma,
A fúria de um anseio pode ser
Ou não um raro anseio de um prazer,
Mas quando em bases firmes, sentimento
Até se parecer um mero sonho,
E nele a derradeira força eu ponho,
Perdê-lo tão somente assim, ao vento?

60


Adentro estes vulcões aonde um dia
Apenas mera cinza se previra
E quando a lua imensa ora interfira
Traduz a mais perfeita poesia,
O tempo na verdade não seria
Somente lastimável quando a pira
Expressa a mansidão se a luz se atira
Trazendo à plena noite a fantasia.
O outono nada pede à primavera,
Mas quando a vê decerto regenera
Dos tons sombrios; rara florescência
Sorvendo este matiz inigualável,
Sonhar é necessário e o imaginável
Reduz da dura bruma esta inclemência.


61


Pudesse te falar do quanto sinto
E crer ser mais possível o que sei
Diverso do que possa em tosca lei
Dizendo muito mais que mero instinto,
Vulcão um dia morto ou semi-extinto
Agora noutra face o desenhei
Traçando num fulgor o quanto errei
E vejo novamente e assim desminto
A morte companheira de poema,
E nela tão somente não se algema
O rumo mais ditoso e nele eu vejo
Um dia após tempestas e temores,
Sabendo que buscando novas cores,
Entranho estes matizes do desejo.


62

Esconde friamente no passado
A imagem das geleiras onde um dia
Tentando transtornar a poesia
O mundo que imagino, desolado,
Agora ao perceber bem ao meu lado
O canto mais suave em alegria
Saudando muito além do que podia
Esboço reações; mudo o traçado,
Mas tanto quis o amor e nada importa
Somente o arrombar da velha porta
E nem a recompensa ao fim espero,
Aplaco o que pensara mais feroz,
E quando ainda escuto de ti a voz,
Transformo ora magnânimo o que é mero.

63


Sem que se trema a voz de quem delira
Jamais eu pude crer noutro cenário,
E sei do quanto é mesmo necessário
Ainda que isto seja uma mentira
O gosto de um poeta pela lira
Tornando o canto até mais temerário
Gerando este delírio, algo corsário
Aos mares mais diversos já se atira.
O risco eu sei deveras inerente
A quem noutro caminho sempre tente
Vencer os seus demônios, com astúcia,
Na doce maciez desta pelúcia
O riso de um amor mesmo que falso
Impede a solidão, vil cadafalso.

64


Mal sabes do desejo que me move,
E sei que nada disto mais te importa,
O sonho abrindo enfim a dura porta
No fundo tanta pedra se remove,
Não quero sequer mais prova dos nove
Sangria desatada não aborta
O velho caminheiro agora exporta
O verso noutro tanto e disto prove
Somente em ilusões, mas já me basta
Ainda se a resposta for nefasta
Um mero devaneio me alimenta,
Não quero uma certeza meramente,
O todo noutra face se apresente
E aplaca a solidão, cruel tormenta.

65


Paixão tanto palpita desde quando
O mundo na verdade se soubera
Depois de qualquer luz em primavera
Até mesmo se em mim está nevando,
O corpo com certeza se enrugando
A sorte na verdade é dura fera,
Mas quando em fantasias se tempera
O que fora feroz agora é brando.
Restauro com ternura a juventude
E até quando este fato falso ilude
Permito qualquer luz que inda desvendo,
E sei que neste espelho há em verdade
Um ser que a vida já degrade
Mostrando este cenário quase horrendo.


66


Quando louca e fremente a noite invade
Meus sonhos mais audazes; nada vindo
O quanto imaginara outrora lindo
Agora noutra face é tempestade,
Viver e acreditar felicidade
Aonde cada verso eu não deslindo
E bebo deste fel, no quanto findo
Caminho feito em vã temeridade.
Senzalas que inda trago dentro em mim,
Amortalhada sorte diz do fim
E dele nada vejo além desta ilusão
Vertendo a cada passo em tal delírio,
Apenas se presume no martírio
Os dias que decerto inda virão.


67



O sol quando se apruma no horizonte
Trazendo a imensa e rara claridade
Ao mesmo tempo enquanto nos invade
Deveras outro rumo ainda aponte
Deslinda-se sobejo sobre a fonte
E bebo deste encanto à saciedade,
Tentando discernir tranqüilidade
Aonde nada além veja e desponte.
Resumo o meu caminho em tais veredas
E sei que na verdade não concedas
Sequer algum alento a quem pudera
Durante tanto tempo ainda ver
Distante dos meus olhos o prazer
Deixando sepultada a primavera.


68

Aonde nos trigais desta emoção
Cevara com ternura e nada colho,
O quanto imaginara hoje é restolho,
Os dias são terríveis desde então,
E sei dos meus tormentos e verão
A fúria desenhada e neste molho
A morte tão somente; inda recolho
Traçada pela dor de cada dia,
E quando ainda busco quem traria
Somente um raio manso de luar,
A cena se repete e envelhecido
Cenário revolvendo o vago olvido
Deveras mata invés de me alentar.



69


O fulvo dos teus pelos sob o sol
Dourando a tua pele me transtorna,
E a vida outrora fria ou mesmo morna
Agora se transforma em tal farol,
E dominando tudo no arrebol,
A sorte desvairada já se entorna
E o quanto se perdera enfim retorna,
A vida segue mansa e sempre em prol,
Alheio as mais cruéis vicissitudes
Ainda que deveras; tanto iludes
Esgoto-me na fonte mais sublime,
E ao ver farta beleza em rara praia,
Por mais que tal miragem sempre traia,
Apenas por sabê-la eu me redime.


70


As horas mais sangrentas do passado
Aonde não pudera acreditar
Nem mesmo na vontade de tocar
O sonho tantas vezes delicado,
O risco de beber e inebriado
De anseios outro tanto mergulhar
Sem nada que pudesse me ancorar
O mundo dentro em mim já naufragado,
Respiro tão somente este desejo
E sei que quanto mais a ti almejo
Maior esta distância que separa
Meu sonho do real discernimento
E mesmo assim decerto ainda invento
A mais sublime luz nesta seara.

71


Vagando pelos ares, pensamento
Não tendo mais paragem nem sossego
Aonde se queria algum apego
Apenas novamente o desalento
E quando na verdade fora pego
Por quem noutro momento ainda tento
Tocar ao aplacar meu sofrimento
Não teve para tal menor emprego.
E peço arrego quando vejo assim
O amor que tanto quis longe de mim
Neste infindável sonho dito vida,
Enquanto nada levo dentro da alma
A solidão decerto, um duro trauma
A cada nova ausência mais urdida.


72


Flores que tanto eu quis desabrochadas
Agora num aborto nada vejo
E quanto mais audaz o meu desejo
Maiores os terrores, tantos nadas,
Percebo tão distantes alvoradas
E quando um velho tempo; inda revejo
Nas mãos o mesmo velho realejo
E as facas cada vez mais afiadas
Não tendo solução, meu ermo mundo
E nele como um mero vagabundo
Inundo-me de sonhos, mas prossigo
E sei que este vazio é o que inda resta
À morte o meu delírio em vão se empresta
Jogado pelo canto em desabrigo.

73



Douradas as espigas desde quando
O manto transcorrera em meus trigais
Agora noutros dias, vendavais
O tempo novamente descorando,
O quanto se perdera transformando
Os dias em momentos mais banais,
Pudesse acreditar e querer mais,
Jogado pelos cantos, nauseando.
Exposto aos doloridos dias; sigo
Refém do que talvez seja um abrigo
E tantas vezes; mostra a face escura
De quem emoldurando a sua sina
No quanto este vazio determina
A vida aonde o nada se procura.



74

Entre os perfis suaves onde um dia
Pudesse acreditar felicidade
Apenas a verdade que degrade
Matando o que minha alma fantasia
Gerando noutro tanto a hipocrisia
Jorrando em teu olhar a falsidade
Aonde procurei sinceridade
O nada com certeza; esperaria,
Marcando com a fúria do desdém
O amor quando jamais algo contém
Não deixa que se veja logo após
As fartas corredeiras do passado,
Um estuário enorme e tão sonhado,
Morrendo o rio sem sequer a foz.


75


Tudo é tranqüilo aonde pude ter
Nos olhos a esperança, mas sei bem
Que tanta fantasia não convém
A quem já se cansara de sofrer,
O quanto do meu mundo passo a ver
Dos sonhos e promessas muito aquém,
Resulto do passado e sem ninguém,
Colheita em solidão a se fazer.
Jogado pelos cantos desta casa
Apenas o vazio ainda embasa
O que inda resta vivo deste sonho,
Jocosa face dita com sarcasmo,
E a vida se repete num marasmo,
Deveras sem sentido e até medonho.



76


Olhando para trás e esta paisagem
Repete-se decerto quando eu tento
Vencer o meu terrível sofrimento
E ter após o medo nova aragem,
O amor quando se fez, leda miragem
Traçando tão somente o alheamento
E neste já não ser sem ter alento
A vida perde o prumo na engrenagem,
Seviciado sonho em tom cruel,
O amor quando se fez; perdido ao léu
Nem mera sombra existe do que um dia
Pudesse ser bem mais do que este vago
Caminho ande o mundo em dor alago
E o sonho sem seu cais, naufragaria.


77


Não vejo mais sequer o quanto em Deus
Ainda poderia ter a messe
Do sonho que em verdade já se esquece
Deixando tão somente um vago adeus,
Os dias onde outrora quis só meus
E neles o vazio ora se tece,
O risco de sonhar vida padece
E volta sem pensar, seus apogeus,
Na face desdenhosa da verdade,
Ausente dos meus olhos claridade
A liberdade escorre pelos dedos
E quando me imagino mais tranqüilo,
Apenas este fel venal destilo,
Em dias tão terríveis quanto ledos.



78


Quem possa imaginar alguma cena
Aonde já vencido o temporal
Apenas outro dia e sempre igual,
Minha alma tão sozinha quão serena,
Ainda que a quisesse ao menos plena
No fundo se prepara o funeral
De um sonhador escuso e tão banal,
Sem ter neste final o que o envenena.
Acordo e nada tendo, nem ninguém
Somente a solidão decerto vem
E neste infausto exposto ao vil marasmo,
Irônica verdade se desvenda
O sonho que alentara; mera lenda
Ou mesmo do viver, triste sarcasmo.


79


A delicada forma alabastrina
Gerada pelo sonho de um poeta
Agora no vazio se completa
E o fardo a cada passo determina,
Enquanto a realidade sempre mina
E a sorte na verdade não repleta
Esta alma dolorida e quase asceta
Nem mesmo algum nuance me fascina.
Vestindo esta dorida hipocrisia,
O quanto do meu canto é fantasia
Explode nesta ausência de futuro,
E quando me proponho uma mudança
Apenas vagamente o que me alcança
Reflete o caminhar em céu escuro.


80


No quanto se levara ao infinito
O sonho audacioso, mas vazio
De quem a cada passo desafio
E tento novo dia mais bonito,
E todo grande amor onde acredito
Gerando novamente em mim o estio,
Expressa o que se faz e em desvario
O risco se transforma em tolo rito.
É claro que sonhar é permitido,
Mas sei também do fato consumido
Amortalhando em mim qualquer detalhe
Por onde quis apenas uma luz
Sombria realidade se produz
E o sonho em mil pedaços se retalhe.



81

Perpasso sobre os dias mais atrozes
E vago tão somente por tentar
Ainda nova face desenhar
Aonde se percebem tão ferozes
Os dias entre os fartos, velhas vozes
Tomando cada fato em seu lugar
E sinto a minha imagem mergulhar
Aquém do que permitam tais algozes,
Velozes; vastos, vis, vagos; percorro
E quando na verdade sem socorro
Esqueço que talvez pudesse crer
Num tempo onde se visse a remissão
Dos erros costumeiros e do não
Eu posso novamente me rever.


82


Sombria alma grisalha diz da sorte
Terrivelmente exposta às mais doridas
Noções entre tormentas, tolas vidas
Sem nada que deveras me comporte,
O quanto imaginara e não suporte
As horas entre tantas já perdidas,
E até que noutro instante tu me agridas
Não mais trará decerto velhos nortes.
Estranhas noites; vago sem descanso
E o pouco que inda resta e não alcanço
Expõe a minha face caricata
O risco de sonhar? Apenas isto
E neste caminhar já não desisto
E tento embora frágil um remanso.


83


Procuro qualquer par, de tanto que uno
Cansei de vasculhar um devaneio
E quando a estrela rara hoje rodeio,
O passo sem sentir não coaduno,
E o mero caminhar onde desuno
Meu mundo sem saber do mundo alheio
Expressa a realidade e de permeio
Ao ver-me solitário, enfim me puno.
Esgoto cada verso em meu delírio
E tantas vezes; vejo este martírio
Qual fosse bendizer quem noutros tempos
Vestira uma ilusão e não sabia
Da vida como imensa fantasia
Imersa entre terríveis contratempos.


84

Namorados dos sonhos, dois amantes
Procuram ao luar um brilho além
E quando a realidade agora vem
E toma seus delírios por instantes
O quanto pareciam diamantes
No fundo se desenha este desdém
Amor quando do amor é muito aquém
Os erros na verdade são constantes,
Respaldos para as messes prometidas
Expressam ilusões e tomam vidas
Gerando no vazio outro cenário,
Porquanto para amar a farta entrega
Aonde em mar imenso se navega
É mais do que pensaste, necessário.


85


As frases deste amor imaginário
Talvez dissessem fases mais diversas
E quando sobre tudo ainda versas
Pensando num caminho temerário
Escuto muito além do necessário
E tento preservar velhas conversas,
E quando num instante desconversas
O manto se puindo em tom mais vário.
Esgoto o meu caminho noutro rumo
E sei que na verdade assim me esfumo
E sinto a discrepância desta sorte,
Gerando novamente a dor imensa,
No amor quando se quer ou mesmo pensa
O fim prenunciando a dura morte.



86



Uma criança apenas, nada mais
E sei do quanto pude crer no fato
Do amor onde meu mundo não resgato
Mergulho nos momentos terminais,
E quando se apresenta ainda um cais,
O peso de viver; eu desacato
E tento novamente o mesmo trato
Aonde os dias fossem mais iguais,
Resulto desta turva primavera
E dela tão somente o vão se espera,
Singrando estes vazios dentro em mim,
Medonha face escusa e caricata
A sorte na verdade não resgata
Matando última flor do meu jardim.


87


Um trecho do caminho aonde um dia
Pudesse desenhar novo destino
E quando este vazio eu determino
Realidade apenas isto adia,
Maior sendo decerto a fantasia
O nada vezes nada; toma o tino
E enquanto solitário eu me alucino,
Menino do passado morto agora
O barco sem o cais jamais ancora
E o medo de sonhar ainda doma
O quanto poderia haver em mim
Traduz o que deveras sei no fim,
Causando este torpor, um quase coma.



88



A tela mais suave aonde eu teça
O coração audaz de quem se tenta
Vencer com mansidão qualquer tormenta
E nisto esta verdade se obedeça,
Quem ama e deste fato não se esqueça
Já sabe como a vida é virulenta,
E o tanto que se mostra bem mais lenta
A vida no final jamais se aqueça;
Esgoto a realidade em tons venais
E tanto me entregara aos vendavais
Tentando pelo menos um lugar
Aonde poderia ser assim,
Florindo em alegrias o jardim
Que um dia quis exposto ao teu luar.


89


Um pedaço de terra aonde eu tente
Apenas o descanso após a luta
E quando a realidade se reluta
E nada mais se torne tão clemente
Olhando o meu passado este impotente
Cenário aonde vence a força bruta
A porta se fechando e nada escuta
Quem novo caminhar ainda invente.
Especular delírio aonde eu veja
A minha dura estada malfazeja
Resumo em tanta dor o que pudera
Talvez ser necessário mesmo quando
O mundo noutro infausto se formando
Adestra inevitável, vil pantera.

90


Abrindo o seio enorme aonde um dia
O coração batera sem juízo,
O amor acumulando em prejuízo
O quanto noutro tempo não sabia
Esgota a cada passo esta ironia
E vejo o meu delírio em impreciso
Desejo quando em sonhos me matizo
E morro pouco a pouco, em agonia.
Utópica manhã já não se acena
E o tanto que me resta diz da plena
Tormenta costumeira e sem saída,
Negando qualquer passo rumo ao sonho,
O todo noutra face decomponho
Marcando com furor a torpe vida


91

O coração ditoso caminheiro
Das trevas e dos céus iridescentes
No quanto farto amor deveras; sentes
Ou mesmo solitário companheiro
De errático delírio costumeiro
Entranho vez por outra em envolventes
Delírios onde também tu pressentes
A bela florescência de um canteiro,
Regendo cada verso em tom aonde
Nem sempre a própria vida corresponde,
Mas gera em fantasias muito além
Do quanto poderia ou mesmo até
Vivendo cada instante em rara fé
Dicotomias várias, pois contêm.


92

Ao conceber a vida desta forma
Em tantos e sublimes bons matizes
Além do que talvez queiras e dizes
A vida noutra vida se transforma
Numa incessante e nobre, bela norma
Mutáveis tons gerando outros matizes
E quando se percebem grandes crises
O que era costumeiro se deforma,
Assim do caricato surge o nobre
E do mais variado se descobre
Uníssono caminho ou mesmo vário,
A morte é redenção e dela a sorte
Diversa da que tanto dizem morte
Refaz outro desenho, necessário.


93


Podes contar comigo, sabes disto
Estarei sempre ao lado mesmo quando
O tempo se perceba então nublando
Jamais esqueça e até mesmo por isto,
Repito e na verdade eu quero e insisto
No quanto sigo e teimo revelando
Que o mundo traz em si a dor e o brando,
Mas libertário mesmo apenas Cristo.
O amar não tem medidas, incontido
Tua presença nele faz sentido
E gera a paz que tanto quero e deve
Mesmo na eternidade de um momento
Permite este desejo onde alimento
A vida mesmo quando eu sei-a breve.


94


Para olhar e tentar outro segredo
Enquanto muitas vezes fora assim,
O mundo se transforma e diz ao fim
O quanto deste sonho eu me concedo,
Amar é consumir-se num segredo
E dele ter certezas, mas enfim
Expresso venturoso este jardim
Porquanto em minha vida eu fora ledo.
Encontro os meus sinais a cada passo
E quando novo rumo ainda traço
Envolto nas escumas deste mar,
À praia volvo e sigo por entre as ondas
E mesmo quando além ainda escondas,
Um dia hei de talvez, pois te encontrar.



95

Ao adoçar a vida em mero canto
Quem sabe poderia acreditar
Nas tramas mais diversas de um luar
Erguendo sobre nós seu claro manto
E quando me proponho e sei do encanto
Aonde um timoneiro enfrenta o mar,
Disperso caminhante hei de voltar
Embora a vida ceve algum quebranto,
Envelhecido e nunca envilecido
O canto mais suave toca o ouvido
Qual fosse uma sirena e assim se escuta
A doce melodia e nela sinto
Bem mais que a sordidez de um mero instinto
O amor já lapidado em árdua luta.


96


A vida se depara a cada instante
Com tantos descaminhos, mas prossegue
E mesmo quando a sorte nos renegue
O passo se desenha doravante
E quando navegasse e se não sossegue
O mundo noutra face jamais negue
Desenho aonde a sorte se adiante
Mostrando a realidade mais audaz
E sinto o quanto amor deveras traz
A quem se fez bem mais que meramente
Num átimo o superno caminheiro
E quando da verdade não me esgueiro
O mundo num esgar jamais desmente.


97


Num oceano rude em ondas tantas
Expressa o quanto ainda aqui resiste
E o coração mostrado agora em riste
Explode enquanto em sorte me garantas

E nada do que tento me adiantas
Porquanto em cada passo a paz persiste
Na audácia demonstrando o quanto insiste
E traz momentos duros onde espantas

Mesmo na sorte amarga e quase ultriz
O tanto se perdendo a cada dia
Talvez um novo tempo; se ergueria

Traçando o que em verdades sempre quis.
E volto a caminhar entre espinheiros
Meus dias, com certeza, os derradeiros.



98


Arrojo-me entre os braços desta a que
A vida permitira mais que um sonho
E quando ao teu delírio eu me proponho
No todo desejado ora se crê.
E o quanto pude mesmo e sei até
Seguindo cada rastro onde passaste
De todo o meu desejo tu és a haste
E vivo na certeza por quem é
O canto mais audaz e delicado,
Desenhos em mosaicos, multicores
Seguindo sem sequer ainda opores
Presumo o meu destino sempre ao lado
De quem se tanto quero e já me quer,
Traduz bem mais que um simples, mero affaire.


99


Em toda a imensidade de um momento
Amplificando o passo rumo ao farto,
Desenho cada sonho e se o comparto
A vida segue em paz, raro incremento,
O todo dentro em nós quero e fomento
E quando me percebo e já não parto,
Apenas mergulhando não descarto
O dia que virá; raro alimento
Desta alma tantas vezes sonhadora
E quando se percebe ou mesmo fora
Somente um ledo encanto, sei que enfim
O quanto desejei e sinto ausente
Num átimo decerto se apresente
Traduza todo o bem que incide em mim.


100



Tábua de salvação? Não necessito,
Apenas um carinho bastaria,
Mas sei do quanto amor rege a agonia
Trazendo a gelidez deste granito,
E quanto mesmo creio mais bonito
O tempo se transforma em agonia
E o tanto quanto pude me daria
Além do mero sonho mais aflito,
Medonha face exposta de quem sabe
O quanto cada passo já desabe
E sinto-o desaguar em mar imenso,
Mas tudo que de antanho inda pudera
Agora me espreitando, torpe fera,
Já não traduz somente o que inda penso.