sábado, 19 de junho de 2010

37761 até 37780

1

Antigos claustros trago dentro em mim
Vazios entre as trevas se compondo,
O todo aonde o medo não escondo
Tomando este cenário trama o fim,
Pudesse adivinhar aonde eu vim
E quando novo passo em mim repondo
Os ermos da existência eu teimo e sondo
Uma colônia imensa, este cupim,
O fato de tentar nova vivência
Sabendo do meu mundo em decadência
Esta excrescência viva que alimento,
Do todo imaginário já me afasto
E vendo este cenário turvo e gasto,
A sorte não traduz qualquer fomento.

2

Aonde se vendera por verdade
A falsa imagem feita em dor e luz,
Negando a consistência desta cruz,
E nela se ausentando a liberdade,
O quanto se percebe e já degrade,
Por isso neste instante agora opus
Do todo iridescente vejo em pus
A mais cruel e torpe realidade.
Ausente de esperança sigo além
Do quanto em sacristias se contém
Nem éden nem inferno, somente ocaso,
Meu corpo se entregando em tal festança
Orgástico delírio agora avança
Reparte-se o total em ledo acaso.

3

Procuras recompensa após a morte?
Ignaro caminheiro do vazio,
O quanto a cada ausência desafio
Sem ter sequer o brilho em que comporte,
Ao ter neste não ser um claro aporte
O olhar não é decerto mais sombrio,
Perdendo com o fim, um frágil fio,
Sem ter alento ou dor que me conforte.
Nem céus ou penitências; nada além
Do corpo decomposto sei tão bem
Gerando nova forma em ares tantos,
Diversidade dita esta verdade
No quanto após o fim já se degrade,
Nem alegrias frágeis, desencantos.

4


Em caudalosos rios fogo e lava,
Ou mesmo em vozes mansas e manás,
O quanto na verdade nada traz
E nisto o meu caminho nega a trava,
Apenas o vazio sente a clava
E nela outros delírios, guerra e paz,
Invento em proteção tal satanás
E como recompensa alma se lava.
Adentro os teus diversos patrimônios
E mato sem perdão torpes demônios
Risíveis caricatos e nefastos,
Ao ver estes cenários já bem gastos,
Herética mentira em providência
Gerando a penitência e a própria sorte,
Transcende a falsa imagem de uma morte,
E teima noutro rumo em vã clemência.

5

Os monges, padres, ritos e pastores,
Rebanhos bebem falsas luzes quando
O templo na verdade se montando
Tentando dirimir imensas dores,
E sei quanto mais forte tu te opores
O mundo te olhará com ar infando,
É necessário sim, o contrabando
Deste perdão após os dissabores.
Vacância eterna e dura pestilência
Representando assim a tua ausência,
Não tendo outro momento senão esse
É como premiar tola criança
E quando mais a vida em fúria avança
É como se os terrores, esquecesse.

6

O campo dito santo na verdade,
Resume-se em cadáveres somente,
E ali se vê brotando outra semente
No corpo quando o mesmo se degrade.
Assim ao se vender à humanidade
A falsa sensação que ora desmente
Realidade torpe onde apresente
Gestando a mais devassa falsidade.
Não creio no perdão como se fosse
O pote delicado em raro doce,
Aonde algum infante se sacia,
Dos mortos tão somente escaravelhos
Deixando sem resposta os evangelhos
E neles vejo a vaga hipocrisia.

7

A morte não traz glória nem perdão,
Apenas terminando a leda história
Jogada pelos ermos da memória
Buscando inutilmente a direção
E quando me adentrar putrefação
Aí se concebendo toda a glória
Renova-se decerto com vitória
O tempo que se fora amargo e vão.
Jogado sob a terra, em tez sombria,
O todo pouco a pouco se esvazia
E os ossos testemunham o que fora,
Um ser já dominado em esperança
E agora quando o nada enfim alcança
Silenciando a senda sonhadora.

8

Pudesse recorrer à eternidade
Teria um lenitivo, não mais quero
O mundo sendo atroz, feroz e austero
Negando com ternura a falsidade,
No corpo que este tempo já degrade,
O olhar impaciente, mas sincero
Aonde noutro tanto destempero
A morte dita o fim em trave e grade.
O passo rumo ao sonho? Mera imagem
Do quanto é tão venal esta engrenagem
Que sempre se alimenta da esperança.
Religiosidade? Tolo mal,
A morte se repete e sempre igual
Quando o cadáver gera a comilança.

9

Guardando neste claustro nada vês
E teimas ter decerto uma razão,
E nela com terrível solução
Do nada ainda geras altivez,
No quanto do vazio tu já crês
E bebes desta fúria feita em não,
Esconde-se da vida e não virão
Momentos onde o mundo enfim se fez.
Um ser opaco ausente, quase fútil,
Uma existência turva mera e inútil,
Tentando redimir o que não sabe,
Sonhando com banquetes, claro céu,
Mal vê que na verdade é seu papel
Servir como repasto aonde cabe.

10

Habito a eternidade em discordância,
Ao menos quero ter novos momentos?
E sei dos mais diversos provimentos
E neles cada passo em discrepância,
O fato de viver sem abundância
Garantiria após claros proventos?
Levado pelo infausto em torpes ventos
Cordeiro se adestrando desde a infância.
Ao aceitar assim sem mais respostas,
As horas, dias, vidas são depostas
E nelas nada resta senão isto,
Ossada em decomposta e mais sombria.
O pouco que tu foste se esvazia
Após o meu final ainda existo?

11

Uma alma se findando com a morte
Negando algum cenário mais diverso,
E quando na ilusão prossigo imerso
Procuro alguma luz que inda conforte.
Na ausência consistente de algum norte,
Um nada não se vê sacro ou perverso,
Apenas deste mundo me disperso
Somente o ermo vazio ora comporte,
Quem tanto perguntara ou aceitara
Das dúvidas e dívidas tal vara
Gerada nos escombros da esperança,
A mão que me punira ou que me afaga,
Não traz sequer a luz tampouco a chaga,
Após o derradeiro o nada alcança.

12

Resumo na masmorra o meu final,
E sei sem quem socorra o quanto busco,
Num ato nem venal, audaz ou brusco,
O tempo não se mostra triunfal,
Naufrago no vazio a velha nau
E tento procurar em lusco fusco
O quanto me ilumino ou já me ofusco,
Ausência de outro tempo original,
O todo que hoje sou é meu legado,
Não temo e nem escondo algum pecado,
Se tanto até perdôo e não me omito
Não é porque na glória eu acredito,
Somente por total mero egoísmo,
Prefiro a paz suave de um sorriso
A ter um mais diverso paraíso,
Ou mesmo este temível; ledo abismo.

13

A vida esta miséria que se espalha
E gera novos deuses cada esquina
Enquanto a massa rude se domina
Na ponta mais cruel desta navalha,
Ausente dos meus olhos tal batalha,
A sede de vingança não fascina,
Somente uma alegria pequenina
Enquanto a sorte além a paz atalha.
Retalhos entre tais retaliações
Em várias discrepantes direções,
Não quero algum alento nem presentes,
Tampouco esta sangria entre meus dentes,
Demônios querubins, falsas imagens
E nelas vejo espúrios torpes pajens.

14

Batalhas entre deuses e diabos
Os santos são imagens demoníacas
E nelas outras formas tão maníacas
Dos tantos dias vários meros cabos,
E quando presencio asas, rabos,
Paisagens discordantes e cardíacas
Geradas por venais afrodisíacas
E nelas entre fomes e nababos,
Ourives da palavra o sacristão,
Vendendo bem mais caro algum perdão,
Vivendo do pecado é mais sutil,
E tanto esta vendeta se previu,
Gerando mais riquezas que promessas.
E assim mal tu caminhas, já tropeças.

15

Apenas vejo agora este espetáculo
Gerado pela insânia de um vivente,
Aonde noutro mundo segue crente
Tentando adivinhar em tolo oráculo,
O corte se aproxima do tentáculo
E bebe cada gole da aguardente
E nele se inebria plenamente
Compondo em desserviço um tabernáculo.
Existe alguma forma após a forma?
Não creio e não preciso deste alento,
Se à terra servirei como provento
Não posso me negar a tal desejo,
E sei que da mortalha que me cobre,
Um ato tanto vil ou mesmo nobre,
Que enfim, sem serventia eu já prevejo.

16

Miséria se espalhando sobre lodos
E nesta fantasia em paz futura
A vida com terror já se amargura
E envolve em imprudência tais engodos,
Macabra realidade? Nada disto,
Existo e tão somente me sacia
Verdade sem venal hipocrisia
Até quando no fim, em paz desisto,
Refeito a velha senda aonde agora
Do ser que imaginara estar inerme
Apenas um banquete e cada verme
Com fúria incontrolável já devora,
O que pensara andara e até sonhara,
Agora a cada instante nova escara.

17

Não quero mais a velha juventude
Nem mesmo a mocidade em tola face,
Porquanto meu final aos poucos trace
Não mais suporto o gozo que me ilude,
E quanto mais ainda a vida mude
E trame com terror o que desgrace
Do tolo caminheiro, nada nasce,
Apenas a matéria se transmude.
E sei do quanto posso ou mesmo deve
A cena sendo rápida e tão breve
A decomposta carne em serventia,
Talvez redima assim um ledo engano
Quem nesta podre vida fora dano
Agora em tal cenário serviria.

18

Dos sóis da juvenil face deposta
Não levo mais sinais e nem os quero,
Assim ao ser deveras mais sincero
Apenas retalhado em fina posta,
A morte noutra face diz proposta
Embora te pareça torpe ou fero
Destino em luz sombria até venero,
Perguntas encontrando em tal resposta
A verdadeira luz que ora se espalha
E tanto neste campo de batalha
Já derrotado e sei que nada vem,
Repasto para a vida que ressurge
O tempo noutro tempo enfim já urge
E após o nada ser serei alguém.

19

Dos frutos renováveis sobre a terra,
A morte me permite a redenção,
E quando mais entranho a podridão,
Destino mais sutil ora descerra,
No pouco ou na semente que se enterra
Percebo a mais perfeita floração
Servindo como tal adubação
Enfim desconhecendo paz e guerra,
Dos ódios, pódios, néscios caminhares
Encontro sob o solo os meus altares
E neles sem saber ou ter o senso,
Aquele que foi parco e inexistente
Agora noutra face se apresente
Num prato delicado em contra-senso.

20

Desolação traduz o meu futuro,
E sei do quanto posso e não renego,
O passo no vazio quase cego,
Do nada aonde teimo me asseguro,
E sei do quanto vago em mundo escuro,
E nada do que penso não navego,
Às ânsias da Natura então me entrego
E assim noutro formato eu já perduro,
Regalo para vermes e bactérias,
Assim ao refazer torpes matérias
E nelas outra forma se moldando,
Abençoado rito aonde entranho,
O jogo finalmente sendo ganho,
Num ato tão voraz, audaz e brando.

37741 até 37760

1

Aonde em gelidez eu poderia
Apenas aportar, mas sou conciso,
Na ausência de improvável paraíso
Minha última morada, eterna e fria,
No quanto fui feliz ou não seria,
A sorte se acumula ou prejuízo
Ao fim tudo se perde, e mais preciso,
O passo rumo ao nada se desfia.
Não quero nem lamentos ou as cenas
Aonde muitas vezes envenenas
Com sórdidas lembranças de um ausente
A cruz eu a carrego aqui comigo
Quem sabe no final um manso abrigo
A quem se fez na vida um penitente.

2

Nesta única razão para os meus versos
Aprendo a cada instante um pouco mais,
E sinto os meus dezembros funerais
E neles os meus rumos são dispersos,
Pudesse acreditar em universos
Quem sabe; um derradeiro, manso cais.
Porém ao crer decerto no jamais,
Após somente os ossos sendo imersos.
Não bebo da esperança, nem talvez
Ainda mesmo quando se desfez
Minha última estratégia e me perdi,
Afasto qualquer sombra de ilusão
Jogado sob as pedras, ledo chão,
O quanto inda restara vejo ali.

3

Desolação somente aonde um dia
Talvez houvesse chance de mudança,
Porém quando ao vazio a vida lança
Um fardo que decerto se alivia.
O tanto quanto pude e não teria
Sequer ao fim da tarde uma esperança,
E quanto mais a noite em treva avança
Maior a imagem turva e mais sombria.
Recônditos diversos de minha alma,
Nem mesmo a fantasia vã me acalma,
E bebo com total sofreguidão
Da insânia e da verdade em turbulência
Em pouco só serei a mera ausência
Num corpo em farta e espúria podridão.

4

Sonhando em vida, às vezes comprometo
Cenário derradeiro e sei funesto,
Assim a cada ausência onde me empresto
Motivo para um novo e vão soneto.
Ao corte derradeiro me arremeto,
E tento novamente em louco gesto
Vencer e não ser só um vago resto,
Porém é novo engano que cometo.
Do quanto fora ou não, nada mais valho,
O tempo não perdoa e toma o atalho
Neste assoalho imerso eternamente,
A carne decomposta um ar sombrio,
Mais nada não concebo ou desafio,
Definitivamente estou ausente.

5

Deitando sob o solo em voz suave,
O quanto do vazio tenho em mim,
Ao adubar a terra, outro jardim,
No pasto onde o repasto já se trave,
O corpo decomposto, mera nave,
E nele entranham seres, ledo fim,
Até que da ossatura surja enfim
O derradeiro passo e nada agrave.
O fardo de uma vida se esgotando,
Cenário tanto brando quão nefando,
Dos restos desolados, nada resta,
A voz silenciada; o tempo passa,
Do todo meramente esta carcaça
Que ao máximo gozo assim se empresta.

6

A cura derradeira e mais gentil,
Apressa-se decerto no abandono,
E quando do meu canto enfim me adono
A mais do que decerto se previu,
O solo muitas vezes; quieto, ouviu
O vento perturbando eterno sono,
Um ermo solitário encontra o dono,
Num átimo esta cova em paz se abriu.
E assim neste mergulho em terra pobre,
Somente esta mortalha me recobre,
E adeus após adeus, apenas isto,
Aonde no passado houvera brilho,
Agora sem sequer um empecilho
Tranqüilo e sem esboço algum, desisto.

7

A Terra recebendo o que me dera,
Num ciclo aonde apenas se repete
O nada novamente me arremete
E assim se determina o fim de uma era,
Floradas de outra nova primavera
E nela nada meu inda remete
Ao vago que deveras me compete,
Somente um ermo solo o que inda espera.
Cratera aberta em lúbrico lugar,
A plaga derradeira e acolhedora,
Vivendo do que tanto um dia fora,
E agora enfim consigo desvendar,
A treva toma espaço e nada mais,
Do quanto imaginara outrora em cais.

8

As flores que me levas nada são,
O tempo não se conta mais, apenas
Retalhos de outras épocas amenas
Ausência eterna em mim de algum verão,
A morte não traduz desolação,
Apenas faces calmas e serenas
E nelas outras tantas; vejo plenas
E sinto a calmaria em meu timão;
Não tendo outro lugar, apenas morro.
E quando me entranhando sem socorro
Na leda solidão deste vazio,
O olhar sem horizonte a mente alheia,
A terra toma tudo e me rodeia,
Sem mais anseio, medo, angústia e frio.


9

A lua se derrama em erma plaga
E nada se transforma neste instante,
No quanto em vagos lumes me garante
Nem mesmo a fantasia ainda afaga,
Tampouco o sentimento, dura chaga,
A insólita e nefasta se adiante
E toda a inusitada doravante
Traduz o que talvez moldasse a draga.
Perpetuando o nada que ora adentro,
Nos ermos solitários, sendo o centro
Deste banquete aonde os vermes fartam,
Destroços do que um dia até pensara,
E incrível que pareça já sonhara,
E agora meras sombras não se apartam.

10

Despojos simplesmente de outras sendas,
Resumo de tais mortes, que alimento
E cíclico delírio de um tormento
Aonde novamente em vão atendas,
No corte em podridão logo desvendas
O quanto caberia em provimento,
E tanto quis apenas um alento.
Os ritos pós funéreos geram lendas.
Esgoto o meu caminho sobre a Terra
E quando sob o solo decomposto,
O verdadeiro ser agora exposto,
Já não permite mais outra mudança
Silente ermida resta para mim,
Da flórea expectativa, uma ilusão,
Adentro sem perguntas, ledo chão,
E chego plenamente ao vago fim.

11

Não alimento mais o sentimento
E tendo a solidão por companheira
A face mais escusa, e derradeira,
Do todo ou do vazio algum provento.
O ciclo costumeiro eu alimento,
E tendo a sorte ausente já se esgueira
O corpo noutra face, a verdadeira,
Do nada ao nada volto em vão provento.
Adentro estas vacâncias deste solo,
E assim deste vazio ora me assolo
E mera sombra ausente, nada leva,
O quanto poderia haver após,
Negando da esperança qualquer voz,
Gerando tão somente a eterna treva.

12

Escárnios do passado? Mera ausência,
O risco de viver já não procede,
E quanto mais o corpo à fúria cede
Maior dos vermes sinto esta inclemência,
Não tendo outro caminho, a coerência
À própria fantasia agora excede
E farto comensal já não se impede
De um ser tão soberano, esta excrescência.
O parto transformado em mero aborto,
Negando a quem se vai um cais e um porto,
Silêncio dominando este cenário.
A vida após a morte? Nada disto,
Apenas o vazio e nele existo
Um traste em tom nefasto e necessário.

13

Vinganças? Meramente em tal fastio,
Aonde o que se fez já não concebe,
O solo em paz superna me recebe
E assim entre as mortalhas, nada crio
Somente a provisão que ora desfio
E nesta realidade se percebe
A pútrida visão onde se embebe
O corpo num eterno e torpe frio.
O tanto em ares nobres não existe,
Apensa esta face ausente em riste,
Nem mesmo triste ou sórdida. Fumaça,
O corpo em podridão gerando o ocaso,
Refeito em novas formas, ao acaso,
E assim noutro cenário a vida passa.

14

Uma alma se inda existe após o fim?
Não posso conceber tal heresia
O nada após o nada se desfia
Etéreo caminhar? Jamais em mim.
O sórdido vazio ou nada enfim,
O todo deste pouco não recria
A face mais nefasta ou vã, sombria
Apenas os silêncios de um jardim,
Ausente esta esperança sigo o rumo
E quando terminar, em paz me esfumo
E nada do que fora resistindo,
O pó reinando inteiro sob a terra,
E assim capitulado o tempo encerra,
Em ares mais dispersos eu me findo.

15

A eternidade é mero desvario,
O corpo se transforma e nada mais.
Mortalha rege os ritos funerais
E o tempo noutra face não recrio.
Demônios, deuses, sonhos? Esvazio.
Nem tempestades, brisas, vendavais,
Os ermos são decerto atemporais,
Eterno dentro em mim, somente o estio.
Eclodo em podres ermos e desfaço,
Assim o derradeiro e ledo espaço
Jogado sob o solo escuridão.
O quanto fui ou nada, não importa,
Após ter se fechado última porta,
Apenas nos silêncios, solidão.

16

Teus deuses e demônios não me bastam,
Os riscos de sonhar? Já não carrego.
Apenas ao vazio se me entrego,
Os passos destes vagos, pois se afastam,
E quando novamente se desgastam,
Deixando para trás o quanto em ego,
Pudesse transformar, e nada emprego
Senão os tantos nadas que se gastam.
O parto repatria na partida
E traz outro vazio, mesma ermida
Do pó ao pó retorno e sem memória.
Assim ao completar a minha história
Sem dívidas nem juros, dividendo,
Ao solo esta carcaça se entregando,
Os vermes e bactérias, torpe bando
Em última festança me cedendo.

17

Quisera o lenitivo que tu trazes,
Seria mais tranqüilo, ou não seria?
A cena refletindo esta heresia
E nela se permitem duras fases,
Ainda se em mortalhas tão mordazes,
Assolas com teu medo as sacristias,
Demônios entre deuses logo crias
Somente após o todo te desfazes.
As bases desta tal religião,
São frágeis e tu sabes mesmo disto,
Existo e tão somente inda resisto,
Sabendo no final a negação
Herméticos delírios? Falsos mitos
Assim quais paraísos e infinitos.

18

Edênicas serpentes? Ilusões...
Os cortes e os teus prêmios, nada valem,
Bem antes que teus sonhos já se calem,
Deveras em fatais exposições,
Não tendo nada além desolações
Herméticos desejos nada falem,
Apenas outras eras que avassalem
Os teus caminhos, torpes direções.
Não tento conseguir qualquer alento,
Nem mesmo esta ignorância eu alimento
Já basta o que recebo e não mais quero,
Um ledo caminhar ou turbulência
Deidade não se mostra em ingerência
Nem mesmo outro delírio manso ou fero.

19

Não quero mais promessas sei que falsas
Infernos, edens, riscos, rota face
Aonde esta venal figura grasse
Tentando no futuro tolas balsas,
As almas são finitas, e tu calças
O quanto na verdade te desgrace
Ou mesmo se ofereça além do impasse,
Sonhando com terrores entre valsas.
As sórdidas mortalhas? Nada são,
Nem mesmo a tão feliz premiação
Banquete, na verdade és sobre a mesa.
Do quando nada tens e não terás,
O sórdido caminho não se faz
Apenas do vazio esta certeza.

20

Desolação é mera fantasia?
Mais fácil acreditar e dá conforto,
Ao ver o meu resgate após já morto
Retrato feito em dor e hipocrisia,
Do nada ao mesmo nada se recria
Negando na verdade qualquer porto,
Eu sei que sou somente um mero aborto,
Morrendo sem resgate, ou agonia.
Não tendo mais sequer prêmio e castigo,
O velho deus morrendo em desabrigo,
Apenas um ignaro bebe o vinho,
E inebriado segue sem temer,
A morte é derradeiro escurecer
Levando ao mais silente ermo, sozinho.

37721 até 37740

1

Talvez imaginasse outro caminho
Em meio a tal cenário, deslumbrante
Aonde esta verdade se agigante
E mude um mundo vão, tolo e mesquinho.
No quanto muitas vezes vá sozinho
Ao procurar quem sabe algum instante
No pouco ou quase nada que garante
Um resto pelo menos de carinho.
Abandonando assim à própria sorte,
Sem nada que deveras me conforte
Arranco dos meus olhos a esperança,
Amortalhada cena se apresenta
Enquanto a vida segue mais sedenta
E o tempo sem perguntas, sempre avança.

2

Aos raios tão sobejos do luar
Deitando imensidões em tal encanto,
Cobrindo cada leito com seu manto
Argêntea maravilha a se entregar.
Por vezes imagino o meu sonhar
E nele cada passo eu adianto
Buscando esta alegria sem quebranto
Vencendo mansamente, devagar.
Afasto-me decerto da ilusão
E sei dos novos dias que virão
Depois da tempestade passageira,
Porém ao ver a lua em raro brilho,
Além desta esperança agora eu trilho
Nas fráguas do infinito, esta fogueira.

3

Subindo entre as estrelas e o luar,
Meu sonho adentra espaços grandiosos
E os dias do passado, tenebrosos,
Agora noutro rumo, deixo entrar
Iridescente lume a me guiar
E nele tempos novos, majestosos,
Mesmo que sejam tolos e andrajosos
Delírios de quem tenta flutuar,
Um pária se adentrando em ardentias
Diverso deste quando outrora vias
Sedento caminheiro do vazio,
Um passo rumo ao tanto em brilho farto,
Os erros do passado eu já descarto
E novo amanhecer; sem brumas, crio...

4


Tomando este cenário cintilante
Num átimo o corcel do pensamento
Vagando sem destino, bebe o vento
E assim a cada instante se agigante,
No todo onde talvez já não me espante,
Bebendo desta sorte, eu me alimento
Do brilho incandescente e num momento
Um raro e belo sol luar garante.
Penetro tantas sendas tão divinas
E enquanto mansamente me fascinas
A lua se derrame sobre nós,
Dois corpos dessedentam as vontades
Os anjos atravessam nossas grades
Fazendo da esperança a mansa foz.

5

Olhando para além deste horizonte
Aonde bebo imensa incandescência
A lua com sobeja providência
Tramando novo tempo onde se apronte
O passo procurando a viva fonte
E nela se mostrando em tal potência
A vida noutra face diz clemência
E logo amanhecer em mim se aponte.
Deixando no passado qualquer marca
Porquanto a realidade agora embarca
Nos sonhos mais fecundos onde dizes
Dos raros e diversos provimentos
Tocando com ternura os sentimentos
Sanando quaisquer medos, cicatrizes.

6

Reveste-se em dourado o pensamento
Bebendo deste sol maravilhoso,
E quando num caminho pedregoso
A vida se provém em manso alento,
Um novo sentimento teimo e tento,
Vagando sobre um céu tão majestoso,
Deixando para trás o caprichoso
Delírio que tivera em sofrimento.
Não posso mais calar frente à beleza
Estonteante lume dá certeza
De um novo e tão fantástico caminho,
Dos ermos do passado à plenitude
E a cada novo dia mais se mude
Gerando este apogeu que eu adivinho.




7

Deitando além o canto em ares tais
Gestando a maravilha aonde tenho
O olhar fantasioso, e mais ferrenho
Sedento por loucuras e cristais,
Os dias não seriam mais iguais
E quando tanto brilho já retenho,
Vibrando com o sonho hoje contenho
Momentos tão diversos, magistrais.
Ourives da esperança o sol domina
E quando mais além dourada mina
Explode em cores fartas sobre nós,
O amor um prisma raro em tons sutis,
Vivendo muito além do quanto eu quis
Ditando esta alegria em clara voz.

8

Ressoa em mim o farto da manhã
Aonde dessedento o meu anseio,
O sol por entre brumas cedo veio,
E cumpre mavioso o raro afã,
A divindade exposta em tal élan
Tesouro aonde eu sigo e não receio,
Das mais sobejas luzes me rodeio,
E sei da vida outrora vil, malsã.
Aprendo a desvendar o seu segredo
E cada passo um pouco mais concedo
Até que em plenitude já se creia
Depois de tanto tempo, cega e alheia
A vida se transforma em luz e assim
Encontro este Eldorado dentro em mim.

9

Em orações formosas, céu sublime
Dourando com seu sol a minha vida,
Aonde se pensara sem saída
O brilho em arrebol tudo redime,
Assim além do quanto já se estime,
A glória se moldando não duvida
Nem mesmo a tempestade vem e acida
Deidade com ternura ora se exprime.
Suprimo dentro em mim a dor, deveras,
E tento renovar as primaveras
Distantes deste inverno que pressinto.
Talvez seja um lampejo derradeiro,
Mas quando deste sonho um mensageiro
Traduz felicidade, enfim a sinto.

10

Adentrando os diversos mares onde
A vida se renova e traz formosa
A sensação suprema desta rosa
E nela toda a força já responde
E bebo da ilusão em rara fronde
E toda a fantasia generosa
Enquanto a vida molda caprichosa
A turbulência além; eu sei, se esconde.
Cevando este luzeiro dentro em mim,
Adentro com brandura tal jardim
Sentindo em cada flor, o seu perfume,
Assim ao penetrar em rara senda
Apenas a alegria enfim se acenda
Dourando com ternura cada lume.

11

Das sombras do passado, nada trago,
O olhar se propicia em rara luz,
E quando ao mais sublime me conduz
Deixando para trás o medo e o estrago,
As sendas da ilusão, tocando afago,
E tento novo passo em contraluz,
A fúria deste brilho já seduz
Num átimo este céu imenso e mago,
Ourives da emoção, um sol divino
E quando vislumbrando, eu me alucino
Cevando com brandura uma esperança,
Depois das tempestades, a bonança
Um tempo mais suave e cristalino
Aonde o meu olhar ora se lança.

12

Buscava dentre as flores a mais bela,
Tentando procriar felicidade,
E quando no romper da noite invade
A lua desenhada em clara tela
O todo mais fantástico revela
E assim conheço a paz, tranqüilidade,
E nela se concebe a realidade
Aonde a fantasia já se atrela,
Mudando a direção do pensamento,
Um novo e belo rumo eu alimento
Nas doces ilusões de quem se faz
Por vezes cavaleiro sem destino,
E quando nos seus raios me fascino,
Percebo o meu corcel bem mais audaz.

13

Buscava esta presença desde quando
O mundo desenhara em novas cores
Sem nada nem talvez sequer mais dores
O tempo de uma vez se clareando,
E nunca mais em mim se fez nevando
Nem ritos tão cruéis nem dissabores,
E quanto mais audaz ainda fores
O todo neste instante se formando.
Bebendo cada gota deste tanto
Aonde com ternura eu já me encanto
E sei deste cultivo feito em festa,
Do quanto em mim havia e não mais trago
O pensamento gera em manso afago
Caminho aonde o sol, a lua gesta.

14

Vagando neste brilho onde celeste
Pudesse imaginar outra saída
A messe não se vendo repartida
Apenas o caminho onde me deste
O sensual delírio nos reveste
E tanto quanto possa a já sofrida
Manhã por vezes dita a despedida,
E agora noutro rumo ora se investe.
Aprendo na constância da emoção
Vibrando com as luzes desde então
Sabendo o que talvez possa sanar
Das dores costumeiras e fatais,
Beijando os olhos gotas de cristais
Em cada raio imenso do luar.

15

Sabendo-te tão bela e em tal pureza
Não tenho mais sequer outro destino
E quando no teu lado me alucino
Entregue sem lutar à correnteza,
Vibrando por poder ser tua presa
E neste caminhar nada domino,
Apenas vejo o céu mais cristalino,
Minha alma das tempestas fora ilesa.
Decoro cada passo rumo a ti,
E tanto deste sonho eu me embebi
Que agora já não posso mais seguir
Sem tê-la junto a mim no dia a dia,
E quando em raro lume se fazia
Um sol enorme dita o meu porvir.

16

Ouvindo a tua voz, macia e breve,
Percorro este momento em ar suave,
Sem nada que deveras nos agrave
Aonde a corredeira em paz me leve,
O todo neste instante a vida ceve
E como libertária e frágil ave
Supero em plenitude qualquer trave
Não tendo sob os olhos; frio ou neve.
Aprendo a caminhar por entre flores,
E sei aonde vais, e sempre fores
Reinando em absolutas maravilhas
E quando desfilando pelas ruas
Além do passo manso em que flutuas
Diversos lumes raros tu polvilhas.


17

Porquanto no passado em ansiedade
E vida se notara em dor e medo,
Agora com ternura já procedo
Sorvendo esta brandura que me invade,
No tanto quanto tive em tempestade
O dia a dia amargo e mesmo ledo,
Percebo da alegria este segredo,
E gero após o não; felicidade.
No quanto posso mesmo acreditar
E sem temor algum, pois mergulhar
Nas ânsias dos anseios violentos,
Inebriado sonho aonde entranha
Minha alma em tão sobeja e grã montanha
Tocada por diversos, raros ventos.

18

A antiga desventura eu já não vejo,
E teimo com a doce fantasia
E dela meu passado não sabia,
Num ar fantasioso e até sobejo,
Aproveitando assim diverso ensejo
Encontro o que buscara em alegria,
E tendo em meu olhar tal ousadia
O coração desfila em azulejo.
Cedendo aos meus delírios, nada peço,
E quando aos teus desejos me endereço
Refaço a caminhada em luz tranquila,
E o coração em plena liberdade
Adentra e se concebe em claridade,
E a paz neste cenário se desfila.

19

Estando nos teus braços, acolhido
Não tenho outro momento mais feliz,
Vivendo muito além do que mais quis,
A dor se perde em vão, num vago olvido,
Quem sabe e reconhece, não duvido,
Percebe deste encanto um aprendiz
Olhando mansamente nada diz
Apenas apurar cada sentido,
Jorrando dentro em mim tanta pureza,
A vida se desnuda e com clareza
Encontro a realeza em cada passo,
E nisto dessedento a minha fúria
E bebo sem temor, rancor, lamúria
Este caminho raro que ora traço.

20

Minha alma neste instante logo anseia
O todo em plenitude que me dás,
A vida que ceifara em mim a paz,
Agora noutra face me rodeia,
E sinto esta beleza, clara e cheia,
Risonha fantasia mais audaz,
E nada de uma dor atroz, mordaz,
A sorte abençoando ora campeia
E toma todo o espaço e num segundo
Nas sendas mais divinas me aprofundo
Erguendo o meu olhar neste horizonte
Aonde todo o brilho se traduza
E mesmo sendo a vida tão confusa
Um novo rumo em paz à luz aponte.

37691 até 37720

1

E tudo se desaba
Conforme o prometido
Amor já resolvido
O tempo cedo acaba
Palácio, casa ou taba
Eu tento o repartido
Delírio revivido
Noutra vida se gaba,
Eu fui e tento até
Saber se dava pé
A quem tenta outro cais,
Depois dos dias falhos
Os erros sem atalhos
Encontro temporais.

2

Amor da minha vida
Aonde pude crer
No fato de saber
Da história dividida
Estando de partida
Ainda posso ver
As sombras do querer
Na leda despedida,
Vislumbro enquanto eu posso
O corpo, este destroço
Jogado nalgum canto,
Depois de certos dias
Deveras tu recrias
E nada mais garanto.

3


Teus olhos tão sobejos
Momentos que se dão
E neles direção
Adentram os desejos,
Não tendo mais os pejos
Nem mesmo outro verão
Os cortes moldarão
Além de tais ensejos.
Resumos de um passado
Aonde destroçado
Espero algum alento,
Mas quanto mais procuro
O chão deveras duro,
No fim nega o provento.

4

A vida não me deixa
Nem mesmo pude crer
No quanto em desprazer
Aos poucos se desleixa
Ouvindo a velha queixa
Eu passo mesmo a ver
O todo a se perder
E nada dita a deixa
Pereço enquanto luto
E sendo mais astuto
O tempo logo engana
A morte se aproxima
Domina todo o clima,
Rainha soberana.

5

Quem fora amor mordendo
Os ritos em frangalhos
Procuro por atalhos
E finjo novo adendo,
O todo se perdendo
E nada em vis trabalhos
Buscando em assoalhos
O rito mal cedendo,
O passo trama em luz
E tudo em contraluz
Resume esta verdade
O prazo se extermina
Aonde houvera mina
Agora nada invade.

6

Ajoelhado estou
Aos pés da Santa Cruz
Amor nunca faz jus
A quem o desejou
E o pouco que restou,
Pensando em contraluz
Aos poucos se me opus
No fundo nada sou.
Adentro os meus engodos
E meto os pés nos lodos
Um pantanal em mim,
E tento nova lua,
Mas sempre continua
História não tem fim.

7

Se imaginasse assim
O mundo não seria
A terra tão bravia
E tento até o fim
Chegar ao meu jardim
Em noite ausente e fria
O quanto em melodia
Desvia o que há em mim,
Resulto deste insulto
E quando sem tumulto
O culto não se faz
A gente até pressente
No quanto em vão freqüente
Alguma leda paz.

8

Por certo preferia
A porta sem saída
E quando não duvida
Sequer do novo dia,
Ausente fantasia
Há tanto preterida
No corte e na ferida
O mundo renascia
Vergando sobre tudo
O corte onde me iludo
E mudo o meu caminho
Recebo em contratempo
O amor, qual passatempo
E volto a estar sozinho.

9

Vagando pelas ruas
Sem nada por fazer
Tentando o bem querer
Aonde não cultuas
Nem mesmo continuas
Procuro então não ver
O que pudesse crer
Em ânsias belas, nuas.
Rescindo este contrato
E logo me maltrato
Ingrato camarada,
A morte me deforma
E toma a dura forma
Do etéreo e frágil nada.

10

Lambendo estes teus passos
Erguendo o meu olhar
Aonde te buscar
Sequer em meros traços,
Rasgando estes espaços
E neles mergulhar
Sem medo de tocar
Os dias velhos lassos.
Soubesse disto tudo,
Mas quando em vão eu mudo
Sentido e direção
O parto sonegado
O dia maltratado
Os ermos se verão.

11

Não maltrate quem te ama,
Nem mesmo quem te odeia
A lua sempre cheia
Seria um velho drama,
Acende e apaga a chama
O todo que rodeia
Aonde a vida alheia
Pudesse e não reclama,
Assim neste infinito
Enquanto eu acredito
Carpindo cada ausência
Encontro em teu olhar,
O mundo a divagar
Gerando esta inclemência.

12

A vida sem amor
O mundo inusitado
O cômodo recado
O passo em dissabor,
Não quero te propor
Sequer outro legado
O nunca adivinhado
Resume onde me por.
Estradas mais sutis
E nelas bem que eu quis
Tentar a direção,
Meu rumo não se vendo
Apenas já desvendo
Ausência de verão.

13

É rio que se toma
Em luas e desejo
E quando assim te vejo
Entorpecido doma
O todo que se soma
No tempo este lampejo
O quanto mais almejo
No parto feito em coma,
O pássaro revoa
A vida segue à toa
E tento outra partida,
No quarto não domina
Sequer a velha mina
Marcando em ferro a vida.

14

Não precisa gritar
Nem mesmo me permite
Além deste limite
O que possa encontrar
Sedento bebo o mar
E nele se acredite
O todo já palpite
Ao menos devagar.
Resisto e até talvez
Ainda nada vês
Depois da procissão.
Medonho e caricato,
O passo onde retrato
Diverge da emoção.

15

Nem tudo nesse mundo
Promete ser além
Do quanto não convém
E nisto me aprofundo
Quem sabe algum segundo
Resumo de outro bem,
E busco por alguém
Que seja em tom agudo
O toque delirante
Aonde se garante
O dia que virá,
No pouco que me resta
Adentro esta floresta
E o sol não brilhará.

16

Minha princesa eu vivo,
Apenas sem castelo
O tempo fora belo?
Agora sou cativo,
Tentara e disto privo
A mão noutro rastelo
E quando nele atrelo
O parto em que me crivo
Ferrenha fantasia
Aonde não havia
Sacia ou dessedenta.
Pudesse ter no olhar
Além deste luar
A fúria da tormenta.

17

Por certo nunca soube
Quem tanto quis um dia
Vencer a fantasia
Aonde nada coube,
Ainda que se roube
Do sonho que se cria
O parto não traria
O que jamais se arroube.
Olhando para trás
Eu vejo e quero audaz
O vento mais feroz,
E sei que sem destino
Enquanto em alucino
Perdendo a minha voz.

18

No mundo que vivemos
Talvez seja feliz
Quem tanto ou mais já quis
Vencer os vários demos
E sei dos velhos remos
E neles aprendiz
Tentara por um triz
O quanto não sabemos,
Rondando a minha vida
A porta em despedida
O corte em tom suave,
E a cada fantasia
O quanto caberia
Aos poucos já se agrave.

19

O resto do reinado
Ainda se desnuda
Na face mais miúda
E dá o seu recado,
O peso do legado
A sorte nunca muda
Nem mesmo já se iluda
Em passo disfarçado,
Resumo em verso e paz
O quanto fui tenaz
E agora já não tento,
Sentindo esta presença
E nela se convença
Da fúria noutro vento.

20

Fingindo ser verdade
O quanto pude ver
Depois de merecer
A sorte onde degrade
O passo dita a grade
E nela pude crer
O todo do querer
No pouco que me invade,
A tempestade e o medo,
O sonho amargo e ledo
Concedo em pouco espaço,
Vazio o meu caminho
E quando me adivinho
Nem mesmo um passo eu traço.

21

O tempo que vivemos
Aonde quis saber
Do todo a se perder
Ou nada mais faremos,
Cansado deste fato
Ou mesmo até quem sabe
O todo se desabe
E nisto me destrato
Ousando muito além
Do quanto poderia
Vencer em agonia
Ou nada mais convém
A quem se fez assim
Início meio e fim.

22

O manto que te cobre
O medo onde se assusta
A vida sendo justa
O corte gera o dobre
O peso se recobre
Enquanto não se ajusta
E tanto quanto custa
O dia mero e nobre
Eu tento um novo passo
E quando me desfaço
Realço a ventania
E nela bebo um pouco
Até que quase louco
O mundo me diria.

23

O peito de quem ama
E sabe da mesmice
Aonde se desdisse
O passo em nova trama,
O corte dita o drama
E sei desta tolice
Aonde nada visse
Talvez a velha chama,
Resumo do meu mundo
E quando me aprofundo
Imensa cicatriz,
Teimando nesta forma
O todo já deforma,
Além do que eu mais quis.

24

Fagulhas incendeiam
Os olhos de quem tenta
Vencer esta tormenta
E ainda ali se alheiam
No todo que receiam
Ou mesmo desalenta
Quem pensa e se apascenta
Nos vagos que rodeiam.
Beber deste mistério
E a vida sem critério
Não trama soluções
E assim se tanto quero
Ou possa ser sincero
Divirjo em direções.

25

Remates e remendo
Procuro cadafalsos
E dias sendo falsos
Já neles me perdendo
Aonde em estupendo
Caminho sem percalços
Olhares vão descalços
Dos medos me perdendo.
E tento desvendar
Segredos do luar
E nisto sei aonde
O amor em explosão
Tomando a direção
Depressa me responde.

26

O tempo que passamos
O dia onde se ancora
A luz que sem demora
Deveras desvendamos
E assim quando pensamos
No corte que devora
No quando em tempo e hora
De tudo desfrutamos.
E sendo inteiro teu
No quanto se prendeu
A marca tatuada
Arrisco uma resposta
A noite sem proposta
Traduz-se em quase nada.

27

Talvez tenha mudado
O passo e a direção
E nada fora em vão
Nem mesmo o meu passado
Agora por legado
Enfrento outro verão
E os dias desde então
No sonho desenhado
Resumem o caminho
Aonde já me aninho
E bebo esta mortalha,
Prendendo cada trama
E nisto a voz que chama
Clamando em paz se espalha.

28

Os corações embalde
Não deixam que se veja
O quanto mais sobeja
A vida que se esbalde
E tanto se desfralde
O pensamento seja
Entregue de bandeja
E nada mais rescalde
Somente a fantasia
Aonde poderia
Quem sabe ser feliz,
O todo se apresenta
E nada dessedenta
Quem tanto ou nada quis.

29

Olhando para o céu
Buscando algum alento,
No tolo pensamento
Desvendo o velho véu,
E vejo quão cruel
O duro sofrimento
De quem busca o momento
Alheio em carrossel,
Rasgando qualquer trilho
O peito do andarilho
Jamais descansa em paz,
Assim pudesse além
Do todo que contém
Um novo, mais audaz.

30

Estrela de sobeja
Intensa claridade
No quanto já me invade
E sei mais que deseja
O todo ora lateja
E vive esta verdade
Diversa realidade
Aonde sempre seja
Assim até o fim
O corte dentro em mim,
Amortalhada cena,
No passo dado enquanto
O nada até garanto
E nisto me serena.

37661 até 37690

1


Respostas não ouvi
Aonde quis bem mais,
Sonhos atemporais?
Nem lá e nem aqui,
Se o todo já perdi
Em meio aos vendavais
Ou dias sempre iguais
O prato eu repeti.
O manto se transforma
Mortalha toma a forma
E nada mais se faça
Senão meu velho engano
E nele já me dano
A sorte? Uma trapaça...

2

A fórmula, por certo
Não mais existe e creio
No tempo sem receio
No canto em que deserto
O amor sempre por perto
E deixo por recreio
O meu olhar alheio
Ao quanto não desperto,
Mergulho em vago mar
E tento desvendar
Mistérios que não sei,
Resumo o pouco tempo
Em dor e contratempo
Depois eu deixo a grei.

3

Nem eles mesmos sabem
Dos dias onde outrora
A sorte não decora
Nem mesmo sonhos cabem,
Pudesse ser diverso
Do quanto agora sou
E bebo o que passou
No todo quando verso
Resumo em agonia
O todo quanto pude
Mudando de atitude
O nada não seria
Senão este vazio
Que em vão tento e desfio.

4

Amar essa mulher
E crer num novo passo
Aonde desenlaço
O tempo se vier,
E nada se quiser
Deveras dita o laço
E sei do meu cansaço
Da morte que aprouver,
Resumo o dia a dia
Em dor e fantasia
E gero a tempestade
No pouco que me resta
A sorte mais funesta
Aos poucos me degrade.

5

Deus existe? Questão
Aos poucos sem resposta
Recolho cada posta
Dos dias que virão
E sem a solução
Ainda se proposta
No todo decomposta
As mortes mostrarão
O dia dita o rumo
E quando me consumo
Alheio à eternidade,
O quanto ainda teimo
E sei quando me queimo
Em viva falsidade.

6

Invariavelmente
O corte se profana
A vida gera e dana
Tomando corpo e mente
No todo que se ausente
No pouco onde me engana
A morte é soberana
E gera a dor demente.
Ouvindo a ladainha
E sei ser tanto minha
A luz que não domino,
Um velho se extermina
E bebe a cristalina
Certeza e morro a pino.

7

Por vezes imagino
Um dia mais tranqüilo
E quando assim desfilo
O corte em desatino,
O medo não domino
O passo sem estilo
O engano outro vacilo
Em nada me alucino,
Bebera deste absinto
E sinto quase extinto
O gole aonde um dia
Sorvendo em virulência
Gerando inconseqüência
Invés de fantasia.

8

Por outras me respondo
Se o nada dita a regra
O tempo desintegra
E nele me repondo
Enquanto ali me escondo
Ou mesmo ainda integra
O sonho não me alegra
E o tempo o decompondo.
A morte se consagra
E tanto fora amarga
Enquanto não embarga
Imagem tola e magra
Da torpe fantasia
Que aos poucos se esvaia...

9

Ateu, de vez em quando
Ou mesmo quase crente
No tanto que se ausente
Um deus se procurando
As ânsias noutro bando
O corte mais presente
A morte se apresente
Como um cenário brando.
Lacunas? Dunas, ruas...
Bebendo às tantas luas
Enquanto ainda houver
O cerco se fechara
A porta se escancara
E seja o que vier.

10

Escrevo tanta vez
Quanto me der vontade
Sem ter algema ou grade
O todo não se fez,
Ainda em lucidez
Ou mesmo quando invade
A sorte que degrade
Na qual já não me vês,
Esboço a minha lavra
E tento na palavra
Ousar ou não fiel,
Vasculho meus recantos
E assim desvendo os mantos
E tento alçar o céu.

11

Nas noites que não durmo,
Nos dias que não como
Não sei talvez nem como
Com sonho não enturmo.
Acasos são ocasos
E prazos não mais quero,
Se eu sou louco ou sincero
Já não suporto atrasos.
E beijo a tempestade
Adoro o vendaval,
A morte é triunfal
Nem pouco desagrade
Realço em verso e lua
A dama bela e nua.

12

O frio me trazendo
O tanto quanto pude
Além desta atitude
O corte em dividendo
O nada vou prevendo
E nisto já se ilude
Quem tanto quer e mude
O pouso se revendo.
Num reverendo toque
Amor não tem estoque
Nem mesmo serventia
Se a noite não prometa
Que se dane a ninfeta
E morra a poesia!

13

O medo me refaz
E traz os meus demônios
Aos velhos patrimônios
Aonde tanto faz
Pudesse ser audaz
Vencendo os pandemônios
Ditados por hormônios
Num toque mais tenaz,
Porém se quero ou tento
Ainda em movimento
Envolvimento ou não,
O certo é que me dano
E bebo o desengano
Sobeja diversão.

14

Que tantas vezes vem
Fazer falsa promessa
E tudo recomeça
No olhar, pleno desdém
O fato é que convém
A quem tem tanta pressa
Ousar queda e compressa
No fundo sou ninguém.
Alhures sigo o rastro
E quando assim me alastro
Também me perco um pouco,
O verso se transforma
E toma qualquer forma
A minha me fez louco.


15

Não quero imaginar
Senão nova vertente
Ainda que apresente
A noite sem luar
O tanto a me entregar
Ou ser mais previdente
No fundo é quase urgente
Vencer e até sonhar.
Eu pude num instante
Saber do degradante
Caminho aonde eu sigo,
Mas no final da rota,
Amor já se desbota
E bebo este perigo.

16

Amor que não concebo
Nem mesmo poderia
Sabendo a fantasia
Que tanto ali recebo,
Se bebo ou se não bebo
O sonho me inebria,
A noite sendo fria
Calor então percebo,
Arranco do não ser
O que pudesse ter
E creio mesmo assim,
Após diverso rumo
No quanto me acostumo
Buscando dentro em mim.

17

Rainha dos meus sonhos
A bêbada ilusão
Num dia de verão
Em ares enfadonhos
Bebera dos medonhos
Caminhos sem senão
Que tanto negarão
Finais bem mais risonhos.
Afasto o que pudera
Vencer a primavera,
Mas no final inverno.
A soma desta vida
Em outra dividida
Traduz um vivo inferno.

18

Quando acordar te encontro
Depois do vendaval
Num rito bem ou mal,
Apenas desencontro.
Realço um passo em falso
E a queda se anuncia
Aonde há poesia
Também há cadafalso,
Legados de outro sonho
E nada mais se quer
Assim sendo qualquer
Olhar mesmo medonho
Produz a falsa imagem
Da paz nesta engrenagem.

19

Beleza que não tem
Nem fuga nem promessa
Aonde já tropeça
Os pés de um novo alguém
Olhando sou refém
Do quanto a vida meça
E tudo recomeça
Aqui ou muito além,
Viceja a rosa quando
O dia se tornando
Em ar primaveril,
Mas logo a ventania
Do outono me dizia
Do que o peito não viu.

20

Passeia pela sala
A deusa seminua.
Depois vai, continua
E quase até me fala
Do peso que avassala
Do pranto aonde atua
A sorte que flutua
E nada mais a cala
Pudesse ser assim
O amor início e fim
Provento de uma vida,
Mas quando vejo o fato
O passo dado, ingrato
Até disto duvida.

21

É fogo que se espalha
No meio da floresta
Assim o quanto empresta
No fundo uma batalha,
O fio da navalha
O foco não mais gesta
E quando fora festa
O peso me atrapalha.
Eu tento e até quem sabe
No fundo já não cabe
Senão a fantasia,
Eu via o teu retrato
E nele me desato
Da sorte em agonia.

22

É pássaro que canta
O sonho mais sutil,
Aonde se previu
A dor quando se espanta
No pouco a velha manta
Enquanto se puiu
Resgata o que não viu
Nem mesmo se adianta,
Eu tive e fora minha
A sina mais daninha
E nada se transforma,
O pensamento é leve
E sei quanto se atreve,
Jamais conhece norma.

23

Doçura tal? Achei
Nos ermos de minha alma
E quando gera o trauma
A fúria desta lei,
Pudesse e me entranhei
No quanto inda me acalma
Conheço cada palma
Da vida que neguei.
Olhando para trás
O tanto quanto faz
E agora já desfeito
Transcende à realidade
E quando ainda brade
Alhures eu me deito.

24

Meu Deus, eu necessito
De um dia feito em paz,
Não quero este mordaz
Olhar frio granito
E nem o mesmo grito
Se tanto fez ou faz,
Gerando o Satanás
Que trago em infinito.
Resumos de passados
Em dias delegados
Aos ermos do vazio,
Mas sem merecimento
Bebendo até me invento
E o canto enfim recrio.

25

Me dizes onde andaste
Nos antros da promessa
Vencendo e se endereça
Ao quanto sou mais traste
E vejo este contraste
Aonde se tropeça
E nada mais se teça
Senão velho desgaste.
Morrendo em poucos dias,
Além do que podias
Entranho este legado,
Arranho em poesia
A sorte que eu queria
Um sonho desolado.

26

O que é que faço Pai?
Não posso com a fúria
Gerada pela incúria
De quem os sonhos trai
E logo se contrai
Em dor, medo e lamúria
Gestando tal penúria
E nela o mundo cai.
Resumo em verso e fumo
O tempo que me resta
Não tendo nova aresta
Aos poucos me consumo,
Bebendo cada farsa
Procuro uma comparsa...

27

Amores quando os tenho
Procuro soluções
E quando não me expões
Em ar quase ferrenho,
Não tento em desempenho
Diverso diversões
Nem mesmo as seduções
Aonde teimo e venho,
Pereço enquanto traço
O canto noutro passo
Perdendo o prumo e rumo.
Jogado em algum canto
No fundo não me espanto
E até já me acostumo.

28

As brigas e discórdias
Os dias são iguais
Venenos rituais
Em duras vãs mixórdias
E quando vejo a cena
Assim se repetindo,
O olhar com que deslindo
No fundo sente pena.
O parto sonegado
O amor em voz sombria
Ausente melodia
O corte prolongado,
No fardo do viver,
Matando algum querer.

29

Voando meus talheres
Anseios e vontades
Aonde tudo invades
Além do que puderes
Se nada mais tiveres
Encontram realidades
E nelas as verdades
Redundam, se vieres.
Olhando de soslaio
No quanto inda me traio
Procuro algum relance
Aonde eu possa ao menos
Ter dias mais amenos
Na sorte em que se lance.

30

A casa se transforma
E tudo não passando
De um tempo mais nefando
Tomando a justa forma
Queria como norma
O amor sem contrabando
As ilusões em bando
O todo se deforma.
Pudesse ter no olhar
Um grande e bom luar
Deitado na varanda,
Mas quando a noite vem
E nada, nem ninguém,
O mundo se desanda.

37641 até 37660

1


Mas quase não conheço
Qualquer caminho a mais
E bebo os tão iguais
Sabendo este endereço
O amor, velho adereço
Em dias divinais
Agora em terminais
Delírios, enlouqueço.
Eu pude acreditar
Num raio de luar
Em minha juventude,
Porém o tempo passa
E tudo se desgraça
E nada mais ilude.

2

Quem dera ser assim
Um mero passageiro
Do sonho aventureiro
Na noite que é sem fim,
Tramando de onde vim
Destino derradeiro
E quanto mais me esgueiro
Encontro dentro em mim
As sombras do que fui
E nada mais influi
Somente a amiga morte,
No peso de sonhar,
O quanto mergulhar
Sem nada que conforte.

3

É coisa que não quero
Saber e nem insisto
Se eu tanto já desisto
O tempo sendo fero
O corte mais sincero
Pensando sempre nisto
Decerto não resisto
E mundo e destempero,
Vagando por vazios
Olhares desafios
E o tempo de viver
Perdido e sem alcance
Ainda quando avance
A morte a se tecer.

4

Batuca no meu peito
Uma saudade imensa
E quando nela pensa
O mundo insatisfeito
Além dos sonhos deito
E nada mais compensa
Nem mesmo a fúria intensa
Perdida em raso leito,
Apátrida caminho
E nele sou sozinho
Jamais quis outra sorte,
Apenas desvendando
No olhar se penetrando
Entranhas desta morte.

5

No fundo não me cabe
Saber mesmo se é certo
O mundo onde deserto
Ou nada mais se sabe,
Ainda que desabe
O pranto onde desperto,
Seguindo já me alerto
Do quanto agora acabe,
O fardo não suporto
O peso em desconforto
O aborto da esperança,
Quem tanto assim porfia
Um pouco a cada dia,
Ao nada enfim se lança.

6

A noite se refresca
Em ventos mais suaves
Enquanto tanto agraves
E o sonho nada pesca,
Adentro este ribeiro
E o quanto não percebo
Do todo que concebo
Apenas traiçoeiro
Desejo se desvenda
E nada mais se vê
O mundo sem por que
O amor é mera lenda.
Quimera onde estraçalho
O corte, o vão trabalho.

7

O manto das estrelas
Em céus iridescentes,
Mas logo te apresentes
E negas poder vê-las
Quisera algum momento
Aonde num segundo
Vagasse pelo mundo
Levado pelo vento,
Não posso acreditar
Na ausência de horizonte
Aonde se desponte
Sem máculas, luar
Mas quando acordo e só,
Dos sonhos, nem o pó.

8

Nos versos dessa amada
Entranho sem defesa,
E quando sou a presa
A sorte é demonstrada
Na força da alvorada
E nela em correnteza
Bebendo da incerteza
Por vezes desolada,
O pânico sem nexo
O rumo mais perplexo
Anexo ao nada ser,
Eu risco o nome enquanto
Ainda me levanto
Preparo um bom morrer.

9

Meus erros se acumulam
E sei que os dias são
Conforme a sensação
Aonde se maculam
Os versos dissimulam
E trazem a emoção
Sabendo desde então
As cores que estimulam
O passo rumo ao nada
A morte em cada escada
Degrau após degraus,
Depois de toda a sorte
Apenas me conforte
Saber do etéreo caos.

10

Desculpe se machuco
Ou mesmo se maltrato
O passo mais ingrato
Ditame deste eunuco
O nada se provoca
O férreo desejar,
A morte sem lutar
O corte toma a toca,
O peso do viver
Não posso mais e tento
Enquanto em pensamento
Pudesse recolher
As sobras do que sou
E aonde, teimo e vou.

11

Amores do meu jeito,
Olhando de mansinho
E quando me avizinho
No vago sonho eu deito
E tento ser perfeito
Aonde sou espinho,
Quem dera por vizinho
Tivesse um manso pleito,
Restando o quanto pude
De tola juventude
Num ato mais cruel,
E assim sem nada ser
Apenas recolher
Da vida o torpe véu.

12

Das águas surge bela
A ninfa que desejo
E quando num lampejo
A vida em sonhos sela,
O passo se revela
E nele sou sobejo
Quem dera em azulejo
Tivesse a turva tela.
O pântano onde piso
O corte mais preciso,
O rito desigual,
Vencido pelo medo,
Condeno-me ao degredo
Intenso vendaval.

13

Seus olhos refletindo
O mar que não havia
Apenas fantasia
Em tempo claro e lindo
E quando ao nada brindo
Encontro esta heresia
E dela repartia
O mundo que ora findo,
Acordos dissonantes
Momentos, vãos instantes
E tudo nada diz,
O quadro se desola
O peso não consola
E sigo um aprendiz.

14

Das festas e dos cantos
Sisudos dias traço
E perco cada passo
Aonde vis quebrantos
Gerando desencantos
Olhar dita o cansaço
E sigo além e lasso,
Bebendo os erros tantos.
Não pude acreditar
Sequer neste luar
E quem sem horizonte
Mergulha no vazio
Enquanto desafio
Sem nada que me aponte.


15

Beleza que emoldura
Em telas mais sombrias
Enquanto me trazias
A vida não se cura,
E bebo desta escura
Montanha em noites frias,
Sorvendo em agonias
O quanto se procura.
Perpetuando o fim
Bebendo tanto em mim
O medo sem remédio,
Não posso mais seguir
E sem sequer porvir,
Adentro o medo e o tédio.

16

Ao vê-la, o coração
Não sabe mais conter
O quanto do prazer
Eu sei ser sempre em vão
Apenas negação
Do todo que sem ver
Pudesse amanhecer
Sem ser neste porão,
Recado recebido
O tempo dividido
O nada se transforma,
E bebo do vazio
Enquanto desafio
O mundo vai sem norma.

17

Dispara como fosse
Um vento em tempestade
O quanto se degrade
Em sonho que agridoce
Permite ou não atenda
O todo feito em lua
A sorte não cultua
E gera após a lenda,
Resisto ao descaminho
E bebo a luz sombria,
Deveras poderia,
Porém sei ser mesquinho
E brindo nesta taça
À velha e fútil traça.

18

No corpo dessa amada
As sendas sensuais
E quero cada cais,
Porém não tenho nada,
Aonde decorada
Em luas virtuais
Desejos desiguais
Transformam esta estrada
E bebo cada gota
Aonde fora rota
Assim já não se crê
No passo rumo ao pouco
E se ora me treslouco
Procuro algum por que.

19

Amores e promessas
Divinas cercanias
E logo poderias
E tanto em vão tropeças
Enquanto te endereças
Às várias fantasias
E cevas heresias
E nelas recomeças
Vagando sem destino
No quanto me alucino
Bebendo o inusitado,
O pólen da esperança
Aos poucos toma e avança
Deixando-a no passado.

20

Pergunto aos deuses como
Pudera acreditar
Em quem por tanto amar
Agora já não domo,
O resto teimo e somo
Bebendo devagar
Pudesse adivinhar
A vida em cada cromo
Não tenho outro momento
E sigo contra o vento
Tentando algum descanso,
Mas quando nada alcanço
Um cais ainda invento
E me desesperanço.

37621 até 37640


1

Nos ermos escrevi
O quanto desejava
Quem tanto não se dava
E sendo estando ali
Do quanto mereci
Apenas medo e lava,
A presa que se crava
E assim eu me perdi,
Vencido pelo medo
Ou mesmo num enredo
Diverso do que outrora
Pensara num instante
O passo doravante
Deveras não ancora.

2

Nos olhos criminosos,
Nos passos para o além
No quanto não contém
Momentos majestosos,
E os sonhos andrajosos
Do mundo muito aquém,
E quando em tal desdém
Olhares belicosos,
Risonhos navegares
E enquanto tu sonhares
Talvez ainda veja
O todo, mas vazio
O coração sombrio
Maldito ainda seja.

3

Na festa dos amores
As horas entre tantas
E quando desencantas
Por onde quer que fores,
Ainda em dissabores
Deveras te levantas
E cedo não garantas
Sequer jardins e flores
Em cores mais sombrias
Assim as poesias
Já não traduzem paz,
Eu tive dentro em mim
O amor que chega ao fim
E nada, eu sei que traz.

4

Nos braços, minha amada
A sorte no horizonte
E aonde quer a fonte
Já tanto desolada,
Resumo em quase nada
O dia que desponte,
E bebo enquanto aponte
Decerto noutra estrada.
Escravo da emoção
Os dias não serão
Deveras desta forma,
O amor que quero tanto
E agora em desencanto
Em nada se transforma.

5

Fortuitos sentimentos
Delírios deste amor
Aonde quer a flor
Encaro vários ventos,
E sem pressentimentos
Adentro o dissabor,
E sei que tentador
Encanto em provimentos
Já fora há muito tempo
Maior que contratempo
Ferida em plenitude.
Mas quando mergulhava
Num mar imenso em lava,
Vazio em mim, eu pude.

6

São facas que machucam
Olhares entre sonhos
E quanto mais medonhos
Os tempos não educam.
Eu quis e não podia
Vencer os desafetos
Os dias prediletos
E neles a heresia
Moldada à face e forma
Da velha cicatriz,
Se o tempo contradiz
E o risco me deforma,
Bebendo deste vago,
A morte enfim afago.

7

As mãos que acariciam
Também maltratam tanto,
E quando inútil, canto
As sortes propiciam
As dores que viciam
Deveras desencanto
E tento, e até garanto
Que nada mais trariam,
Na fútil fantasia
A morte se daria
Em passo mais veloz,
Bebendo esta cicuta
A vida não reluta
E cala a minha voz.

8

Amor que não se esmera
Delírio em voz sombria,
E quando enfim previa
A viva primavera
A morte degenera
E trama esta vazia
Noctívaga heresia
E dela bebo a fera,
Resisto o mais que posso,
E sei que nunca é nosso
O sonho que foi meu,
Meu rumo sem mais nexo
O passo mais perplexo
Assim já se perdeu.


9

Os cantos que não trazes
O dia segue alheio
E tento enquanto veio
Apenas as tenazes
Verdades tão mordazes
Gerando outro receio,
E quando em vão recreio
Os cortes volves, fazes,
Eu teimo em despedida
Perdendo a minha vida
Na curva após o tempo,
Depois do nada haver
Apenas o querer
Não basta, é contratempo.

10

Meus dedos não procuram
Sequer saber por onde
Amor não me responde
Nem ânsias teimam, curam,
Encontro o nada em mim
E sorvo cada gota
A morte, a face rota,
O nada de onde eu vim,
O parto sonegado
O canto em desvario
Assim eu desafio
E tento outro legado,
Mas nada resta e enfim
A morte vejo em mim.


11

As ruas mais silentes
Olhares sem noção
Aonde mostrarão
As armas entre os dentes
Ainda que pressentes
No todo esta ilusão
O porte da emoção
Tramando em dias quentes,
Gestando em pleno inverno
Gerando este granizo
Aonde eu me matizo
E sei quanto me interno
Na entranha da mesmice
Diversa do que eu disse.

12

Nas noites dos meus sonhos
Palavras levam vento,
E tento outro momento,
Porém são enfadonhos
Os riscos de viver
Vontades discordantes
Bem antes que levantes
Já posso em ti rever
A praga mais cruel,
O fardo insuportável
Aonde quis arável
O solo é feito em fel,
E o todo se transforma
No nada, e me deforma.

13

Singelos meus defeitos
Se eu tento e não consigo
Ainda em desabrigo
Ali faço meus leitos,
E sei dos poucos feitos
E neles não prossigo,
Rasgando o que há comigo
Ouvindo velhos pleitos
Riscando do meu mapa
O todo que se encapa
Arcando com enganos,
Esbarro no passado
E bebo deste enfado,
Mudando velhos planos.

14

Completam-se nos erros
Os dias mais temidos,
Aonde em vãos gemidos
Pensara meus desterros,
Ascendo aos tantos cerros
E busco permitidos
Caminhos dos sentidos
E neles sei aterros.
Pensara mais diverso
Do quando ainda verso
No nada que redime,
Porém a noite esboça
Somente o medo e a fossa,
Cenários de outro crime.

15

Amores são meus pratos
Aonde mato a fome,
E quando o sonho some,
Dos dias velhos atos,
Pudessem ser mais gratos
A quem tanto consome
Ou nada do que dome
Permita meus regatos,
Marcando a ferro e fogo
Há tanto perco o jogo
E rogo pelo fim,
Mascaro esta vontade
Procuro a liberdade
E bebo tudo em mim.

16


Embalde nesta vida
Procuro algum amparo,
O passo que declaro
Não vendo outra saída
Senão a mesma urdida
No corte em despreparo,
O mundo nunca é claro,
A sorte mal cumprida,
Cenários mais diversos
E neles perco os versos
Enveredando o nada.
Pudesse pelo menos
Em dias mais amenos
Saber de outra alvorada.

17

Violas quando à noite
Em serenatas ouço,
Revivo o calabouço
Do amor em franco açoite,
Esgueiro e da janela
A cena se repete,
A lua se reflete
E o sonhador revela.
Mas logo o tempo passa
E tudo sem destino
Aonde me alucino
Perdendo qualquer graça,
O parto num aborto
O sonho há muito morto.

18

Nas guerras e nas camas
Cenários de batalhas
Aonde logo espalhas
Ternura, medo e chamas,
E quando me reclamas
Ou logo nas navalhas
As velhas cordoalhas
Invadem nossas tramas.
Eu bebo deste nada
E quando é destinada
A sorte noutro rumo,
Os meus caminhos frágeis
Os sonhos são mais ágeis
Ao nada me acostumo.


19

Meus medos são remédios
E sanam qualquer dor
No quanto recompor
Após dias em tédios,
Diversos tais assédios
E neles sonhador,
Buscando mansa flor
Porém cimento e prédios.
Não tive qualquer chance
Ainda que me lance
Aos ermos da ilusão
Meu dia a dia escorre
A vida é mesmo um porre,
O verso é negação.

20

Por vezes me percebo
Distante ou mesmo ausente
E ainda que se tente
Do amor, velho placebo
O nada que recebo
Ou mesmo se apresente
No quanto não invente
Vazio? Não me embebo.
Eu quis e não sabia
Da mera fantasia
Aonde se gerara
A noite mais sombria
E agora se esvazia
Procura outra seara...

37601 até 37620

1

Não quero mais saber
Das ondas mares ecos
E sei quantos bonecos
Olinda possa ter
Nem mesmo o meu querer
Ou versos, repetecos
Ou tantos petelecos
Em nosso desprazer,
Um quadro de Dali
O amor que já perdi
A noite não espalha
Nem tento outro luar
Pudesse acreditar
Num campo de batalha?

2

Ou se encontra nos braços
Já tatuado ali
O quanto percebi
Em dias tantos baços
Acodem velhos traços
E tanto me perdi
Sabendo ou não de ti
Ocupando os espaços.
Resolvo o que pudera
Matando a primavera
Floradas não mais quero,
E sinto o ser não ser
Conforme o meu prazer
E nunca sou sincero.

3



P’ras dores deste mundo
Eu tento outro remédio
E sendo sem o tédio
No pouco me aprofundo
Ou gero em mim um prédio
E quanto não assédio
Eu tento vagabundo.
Macabra serenata
A lua se desata
E bebe do riacho,
As nuvens empoando
O tempo mais nefando
Mandando nada eu acho.

4

Nem quero mais ficar
Na espreita espera e foz,
O tempo sendo algoz
O corte há de mostrar
Nem sei do teu solar
Tampouco sei dos nós
Nem mesmo quero em nós
O resto a mergulhar,
Apenas sei do vento
E tento enquanto invento
Um bêbado caminho.
Seria muito bom,
Porém não tendo o dom
Do corte me avizinho.

5

Meus olhos vagamundos
Os passos são dispersos
E tento noutros versos
Olhar além dos mundos,
E sendo tão profundos
Ou mesmo mais perversos
Seriam, pois diversos
Meus cantos nauseabundos,
Abanando o vazio
Erguendo o velho estio
Num passo após a queda,
Servindo de alimária
A sorte é necessária?
Tampouco o tempo veda.

6

Vão vesgos vasculhando
O tempo em temporal
E sei do desigual
Amor em contrabando
Gestando e não gerando
Aborto ritual
Resumo no final
O corte, a morte, o bando.
Sou néscio e necessito
Do mesmo e velho mito
Senão não posso altar,
Bebera do veneno
E assim já me sereno
No quanto a vasculhar.

7

Embarco-me na toca
Ou toco um velho cais
Amor não quero mais
Nem mesmo se desloca
Aonde não se aloca
Tampouco em vendavais
Ou ditos imortais
O verso não se estoca,
Além do parto ou fico
O tempo me complico
No rico caminhar,
Bebera gole a gole
Até quando em engole
Vontade de outro mar.

8

Do mundo quero amor
Ou se possível paz,
Mas nada já se faz
Aonde pus o andor,
O quanto aqui não jaz
O corte ou seu calor,
A morte gera a dor,
Ou gesta o passo audaz?
Eu quero e não revelo
Aonde fora belo
O dia noutra luz,
Se o tempo já se esgota
Além de qualquer rota
Ao nada me conduz.

9

Aguardas que me perca
Ou mesmo já me dane,
Não tendo nova pane
O tempo pula a cerca
Ou quanto mais acerca
Ou logo já se empane
Ainda quando engane
Em nada ora se esterca.
Restando quase o fim,
Invado outro jardim
E planto uma daninha,
Acordo e não levanto
Ainda busco a paz
Aonde não se traz
Sequer qualquer encanto.

10

Te espero atrás da curva
Da vida após a sorte
E nada me conforte
Nem mesmo a morte turva
Eu tento novo rito
Ou tanto bebo o antigo
Se eu for e não prossigo
No fim não acredito
Nas horas sem ações
E tantas orações
Sem rumo e sem sentido,
O peso do sonhar
Começa a me envergar
No fundo, um desvalido.

11

Meus versos revelando
O tempo vagabundo
Gestando o velho mundo
Ou mesmo relevando
O todo desde quando
Pudesse enquanto inundo
Ou tanto me aprofundo
No olhar se transformando.
Gerara a farsa o engano
E tanto se me dano
Ou nada mais queria,
Somente beber tudo
E quanto mais me iludo
Explodo em poesia.

12

Vontade de viver
E tento a cada instante
O rito fascinante
Aonde possa haver
O rio sem verter
A queda radiante
O peso em diamante
Quilate a se tecer
Nas curvas do vazio
Ou tanto desafio
O tempo em vendaval,
Resumo o meu destino
Deságuo e me fascino
Buscando o mar e o sal.

13

Nas praças e nas poças,
Os tempos e os ardis,
Já fora e mais não quis
Além das doces moças,
E tanto fosse assim
O corte não se vendo
O tanto se perdendo
Além deste jardim,
A praça a moça a farsa
A sorte não queria,
Nem mesmo a fantasia
Agora já disfarça
E segue sem sentido
O rumo em velho olvido.

14

Nos vales e nas vias
As ruas e florestas
Enquanto o nada gesta
Em nada convertias
Os olhos, alegrias
Namoro enquanto presta
A moça não detesta
Depois são heresias
Vagando em lua mansa
A sorte já se lança
E busca sempre o fim,
Mas quando avarandado
O dia enluarado
Adentra outro jardim.

15

Se vago nunca deixo
As frestas mais abertas
Porquanto tu desertas
E nunca sem desleixo
No quanto inda me queixo
Ou mesmo ainda alertas
Bebendo não despertas
Adentras rio e seixo.
correnteza do rio
Aonde me desfio
Procuro um novo alento
Águas mais cristalinas
E se nelas fascinas
Bebo em ti cada vento.

16

Vorazes véus velozes
Olhares para além
O todo não contém
Nem mesmo nossas vozes,
Pudessem mais audazes
Formosa madrugada
A senda enluarada
No peito sempre trazes,
E bebo a fantasia
Aonde a vida tece
Amor já se obedece
E nos renovaria,
Querências mais diversas
E nelas versos versas.

17

Amores que me moram
Adentram mansamente
Ainda ali se sente
As cores que decoram
Os medos que devoram
O rito plenamente
E nada se apresente
As horas se demoram.
Pudesse acreditar
No engodo do luar
Bebendo cada raio,
Mas quando me conduzo
Ao quanto e em farto abuso,
Ali eu já me traio...


18

Nos campos de batalha
Nas faces mais atrozes
Aonde quis as fozes
O corte já se espalha
A vida se atrapalha
Os olhos mais velozes,
Os rios, riscos, vozes
E tudo sem ter falha,
O parto sonegado
O corte desenhado
O prato exposto e enfim,
A face desdentada
Dizendo quase nada
Traduz o todo em mim.

19

Não vejo meus velórios
Dos sonhos já fadados
Aos museus desenhados
Adentram escritórios,
Aonde quis empórios
Vivessem velhos prados
E neles degradados
Os dias mais inglórios
Resumos, fumos, vagos
E tantos fossem lagos
As fartas cachoeiras,
A queda anunciada
A morte retratada
Palavras derradeiras.

20

Não tramo meus temores
Nem mesmo os tramaria
Houvesse a fantasia
Diversa da que pores
Na mesa entre estas flores
A farsa, a hipocrisia
O olhar em ironia
E nele dissabores,
Resumos de uma vida
E nela já cumprida
A parte que me cabe
Bem antes do meu fim,
Quem sabe existe em mim,
Um cais que não desabe?

37581 até 37600

1

Um resto deste brilho
O corte mais profundo
E quanto já me inundo
Do medo em estribilho
O nada onde palmilho
O tempo em novo mundo
O passo vagabundo
O tempo em que me humilho.
Vagando sem destino
Ausente ancoradouro
O amor, raro tesouro
Aonde me fascino
E bebo deste tanto
E nele me agiganto.

2

Nos raios, um incrível
Caminho a se seguir
Buscando o que há de vir
Ou mesmo mais falível
O passo em outro nível
O quanto te seguir
Ou tanto a repartir
O mundo mais plausível
No quanto não resulto
A vida gera o insulto
Insumos mais complexos
Procuro a claridade
E quanto mais degrade
Olhares tão perplexos.

3

Raios solares, vida
Após a tempestade
Ou nada em claridade
A sorte não cumprida
A morte percebida
No tanto que me invade
Irrompe pela grade
E trama outra saída,
Vencer o meu temor
E quanto mais me opor
Ainda posso ver
Desenho do vazio
E nele não desfio
Sequer o amanhecer.

4

Nos brilhos ardorosos,
O olhar além do cais
E tento muito mais
Em dias andrajosos,
Caminhos pedregosos
Ou venço e sei jamais
Em velhos desiguais
Momentos dolorosos,
Restando muito ou tanto
E quando desencanto
Ardente madrugada,
Pudesse ser assim
O mundo chega ao fim
Reflete o mesmo nada.

5


Pois todos os caminhos
Repetem mesma história
E quando sem memória
Bebera dos daninhos
Cevando descaminhos
E neles sem vitória
Revivo e sou escória
Ou bebo destes vinhos,
Acrescentando ao nada
A sorte desvendada
A morte precavida,
Resumo de um passado
Aonde este legado
Traduz outra saída.

6

E violentamente
Anseio a despedida
Ou sigo a minha vida
Enquanto o tempo mente
E tento novamente
A paz sendo cumprida
E nela não duvida
Quem tanto diz semente
O porto noutro cais
Os dias desiguais
Os riscos mais atrozes
E nada pude ver
Senão tal desprazer
Em velhas duras fozes.

7


Ardendo com possante
Olhar sem horizonte
E quanto mais aponte
Ao nada delirante
Ouvindo o que garante
A queda, o medo a fonte
E ainda mais desponte
Senão num novo instante
O corte, o peso o nada
A sorte já sangrada
O manto noutra face,
O peso que inda tome
No pouco onde se dome
Nem mesmo quando passe.

8

Penetra cada canto
Da casa aonde um dia
Em atos de ironia
Perdera algum encanto
Pudesse ter o manto
E nele a sintonia
Ao menos saberia
Vencer cada quebranto
Restando no vazio
O corte propicio
E tento outra jornada,
Depois de tanto tempo
Ao menos contratempo
Resposta anunciada.

9


Eflúvios de beleza
Eclético caminho
Aonde não me aninho
Nem mesmo sendo a presa
Quem dera se incerteza
Tomasse em novo ninho
O quanto desalinho
Ou vibro sobre a mesa.
Acordo o quanto pude
Ausente juventude
Delego o passo a quem
Já sabe do meu ermo
E nego a cada termo
Se nada me contém.

10


Minha vida, seus brilhos,
Jogados neste quarto
Do sonho já me aparto
E sigo em empecilhos
Mergulho em andarilhos
Caminhos e descarto
A sorte estando farto
Dos velhos torpes trilhos
Restando dentro em mim
O tanto aonde vim
E nada me trouxera,
Arcando com enganos
Os passos, medos, planos
A vida é uma quimera.

11

Procuro por teu raio
E tento deslumbrar
Além deste vibrar
O quanto não me traio
E mesmo quando caio
Vagando a relembrar
Tentando vislumbrar,
Porém sigo lacaio.
Ousando a prece quando
O porte transbordando
A bordo do vazio
Entoa esta verdade
E nela a realidade
Aos poucos não recrio.

12

Neste fototropismo
Procuro o teu olhar
E quando a divagar
Percebo o cataclismo
Se eu tento e nada abismo
Ou tanto pude amar
Resumo noutro mar
Amargo e tolo sismo.
Escracho vagabundo
Um pária segue e inundo
Com versos ermos meus,
E sei dos velhos ritos
Tentando mais aflitos
Os passos entre os breus.

13


Agitando, potente,
O parto sonegado
Olhando e sendo gado
Ainda quando tente
Vencer o penitente
Ou mesmo degradado
Mergulho no passado
E ainda o bebo e invente.
Rescaldos de minha alma
E neles nada acalma
Apenas não sacia.
Erguendo o farto prédio
Bebendo sem remédio
A tola fantasia.

14

Trazendo aos meus sonhares
Anseios mais diversos
E quanto em tolos versos
Bebera outros luares,
Adentro riscos, mares
E tento sem perversos
Olhares vãos e imersos
Por onde tu passares.
Arisco arrisco um pulo,
E tento enquanto engulo
O mundo sem fascínio,
Perdera a muito ou não
Meu barco sem timão
Fugindo do domínio.

15

Ó deus destes delírios
Cantares entre lodos
E gero os meus engodos
E neles os martírios
Resumem outros círios
Enquanto quero todos
Percebo olhares, rodos
Matando rosas, lírios.
Eclético cantor
O pasmo e louco amor
Orgasmos, ermos, sismo.
Cevando muito além
Do nada que contém
Ainda teimo e cismo.

16

Já busca por seus raios
Olhando para a queda
Aonde não se veda
Nem gera mais desmaios,
Os dias velhos, baios
O corte se envereda
E tento outra moeda
Abris invadem maios
E gero em pleno outono
A minha tempestade
E tanto quanto agrade
Ou tanto te abandono,
As flores; são de plástico
O amor medonho e drástico.

17

Nas horas complicadas
As armas empunhara
E tanto fora escara
Ou vivo tais estadas
Nefastas são negadas
Hedônica seara
E nada mais ampara
Nem vozes desoladas,
Abrindo o velho peito
Enquanto não me deito
Resumo outro fantoche
E tanto pude além
Do fato que contém
Temor, amor, deboche.

18

Comparsa e companheira
Aglutinando espasmos
E tento sem sarcasmos
Descer velha ladeira
Pudesse ser inteira
E nela sem os pasmos
Delírios em orgasmos
Ou mera traiçoeira
E se inda vou convulso
Seguindo o mesmo impulso
Avulso sonhador,
Erguera esta muralha
Aonde já se espalha
O medo, o caos e a dor.

19

Navegas por meus mares
E teimas muito além
Do parto que não vem
E nem mesmo o buscares,
Espreito tais luares
E sigo muito aquém
Do amor, velho desdém
E nele os teus altares
Profana caminhada
Aonde consagrada
A paz que nunca veio,
Seguindo em harmonia
Ou mesmo não traria
O olhar perdido e alheio.

20

Minha alma se emparelha
E segue passo a passo
Aonde noutro traço
Do nada e assemelha,
Assim segue vermelha
A lua que ora traço
Vencido por cansaço
O corte me ajoelha,
Centelha do passado
Ainda vislumbrado
Atrás na rara fresta
Aonde tudo eu posso
Ou nada sendo nosso,
Nem mesmo o pouco resta.

37561 até 37580

1

Assim também caminha
Quem tanto luta em vão
Sorvendo do senão
A lama, nossa e minha,
Restando mais sozinha
Sem prumo ou direção
Inúteis passos dão
À morte, esta daninha,
Quem sabe noutro mundo
E nele se me inundo
Do que jamais pudera
Eu possa ter descanso
Ou mesmo ao chão me lanço
Ou gero nova fera?

2

Vai buscando ecoar
Além do quanto tenta
A boca mais sedenta
O gosto a se mostrar
A terra irá salgar
A paz não se apresenta
A morte quando alenta
Sangrando devagar,
Punhal adaga e faca
O passo então se empaca
E o risco se acumula,
O parto sonegado
O medo desenhado
O gozo, o riso e a gula.

3

As luzes que surgiram
Neons entre os solares,
Adentro os teus sonhares
E neles permitiram
Senões onde interfiram
Por mais que tu lutares
Galgando tais lugares
E tanto não defiram
O passo ou contrapeso,
Pudesse ainda ileso
Chegar ao meu final,
Mas tento nova sorte
E nada mais importe,
O corte é magistral.

4

Exaladas da estrela
As luzes que me guiam
Enquanto poderiam
Seara posso vê-la
Beber da mesma luz
E tanto quis num canto
Ou mesmo não garanto
O quanto reproduz
De sonho e me tocando
Refaz a caminhada
E gera o novo nada
O amor em contrabando,
Abrando-me deveras
E cevo novas feras.

5


Florescendo na mata
O norte que procuro
O chão decerto duro
A sorte me maltrata
A porta mais ingrata
O corte neste escuro,
O gesto onde perduro
A farpa outra bravata.
Negociando o nada
Ainda vejo a estrada
E teimo contra o vento
Vagando aonde pude
Sangrando o velho açude,
Uma esperança eu tento.

6

Permitindo que tanto
Desejo seja mais
Do quanto são banais
Os erros que ora canto,
Vencido eu te garanto
Em atos desiguais
Buscando canto e cais,
Diverso meu recanto.
Aprendo ou mesmo ensino
E sei que este menino
Há tanto se perdera,
O nada após o todo,
O passo, o velho engodo
De tudo conhecera.

7

Embelezando etéreos
Caminhos para o além
E se inda me convém
Nos ermos mais sidéreos
Vibrasse nos venéreos
Delírios de outro bem,
Beleza segue e tem
Mesmo em sinais funéreos.
Resulto do noctâmbulo
Um ser quase sonâmbulo
Deambulando em vão,
Açoda-me o vazio
E quando o desafio
Retorno ao mesmo não.

8

Amor, também rebrilha
E trama o que talvez
Já tanto ora não vês
E nem sequer a trilha
Aonde se polvilha
Etérea insensatez
Teimando em lucidez
Quem tanto não se humilha.
Resumos de uma vida
Há tanto sendo urdida
Nas trevas e no medo,
E quando sigo assim,
Teimando até o fim,
Nem paz eu me concedo.

9

Tal qual uma princesa
A deusa que eu buscava,
Agora em medo e lava
Mudando a correnteza
Gerando esta incerteza
E tanto em mim nevava
O corpo segue a trava
A morte dita a mesa.
Não pude ter além
Do quanto nada tem
Ou mesmo se tivesse
Pudesse inda sorver
Até reconhecer
No fim velha benesse.

10

És dona dos mistérios
E reinas sobre tudo,
Porquanto inda me iludo
Em ritos sem critérios
Vagando em ermos tento
Vencer os meus temores,
E sei aonde fores
É lá meu gozo e vento.
Reparo cada passo
E tanto pude crer
No vago amanhecer
Que em sonho teimo e traço,
Resumos desta história
Em luz mais merencória.

11

A lua, nos teus olhos
O brilho noutro brilho
E quando este gatilho
Explode sobre abrolhos,
Daninhas se afastando
A flor em raro viço
O amor quanto o cobiço
E sei do gozo brando,
Mergulho nos teus laços
E tanto pude ver
Assim no florescer
Embora em tons mais baços
O raro deste encanto
Que em versos teimo e canto.

12

Ardendo muito mais
Que o verso poderia
Na noite mesmo fria
Exposta aos vendavais
E tento novo cais
E neles a heresia
Vagando noite e dia
Resvala em siderais
Mormaços, óleos vagos
E tanto pude além
Do nada ou mesmo vem
Em turvos olhos magos.
Perpetuando a farpa
Teimando noutra escarpa.

13

Transbordas de emoção
Ao ver o dia quando
Pudesse mais nevando
Negar outro verão,
Ainda não verão
O tempo transtornando,
O risco se formando
Gerando outra estação.
O peso de uma vida
Há tanto em despedida
Agora não consigo
Vencendo medo e gozo,
O rito pedregoso
Não traz qualquer perigo.

14

Cobrindo este universo
Em mantos divergentes
Porquanto ainda tentes
E nisto desconverso
Vagando em mar disperso
E neles indigentes
Olhares morrem crentes
Do quanto em ti não verso,
Abrindo o velho peito
O corte insatisfeito
O leito não permite
O risco além do lodo
E quanto mais no engodo
Menor o meu limite.

15

De estrelas coloridas,
A vida poderia
Houvesse sincronia
Entre as diversas vidas,
Mas logo descumpridas
As sortes, noutro dia,
A fonte se faria
Em luzes distorcidas,
Reparo e tento após
Do amor a mesma foz
Aonde em nada creio,
Olhando mansamente
O todo se apresente
E perde senso e veio.

16

Ao vê-la no castelo
Desnuda e bela cena
A vida se serena
O tempo bem mais belo
E assim nele me atrelo
A sorte se faz plena,
Mas logo se envenena
E o fim em mim já selo.
Pudera noutro tanto
Vibrar e te garanto
O mundo mostraria
Um riso invés de prece
E o nada que se tece
Gerasse a fantasia.

17

Um brilho em teu sorriso,
Um mar imaginário
O tempo este corsário
Num ato mais preciso,
Tomando sem aviso
O todo necessário
E além do temerário
Aonde aromatizo
Meu canto neste incenso
E quando em ti eu penso
Revolvo as mesmas luas
E sei das nossas trevas
E quando as luzes cevas
Também além flutuas.

18

Por vezes nesta luz
Aonde me entranhara
A vida bem mais clara
Ou tanto reproduz
O quanto não propus
E mesmo me calara
Vencendo cada apara
Cortando onde me pus.
Ousando novo passo
E nele o nada traço
Senão este vazio,
Recebo a punhalada
E a voz já tão cansada
Aos poucos desafio.

19

Meus olhos qual falenas
Vagando atrás do lume
Aonde se acostume
Em cenas raras plenas,
E quando concatenas
Com mares e perfume
O todo não se aprume
E sobrevivo, apenas.
Queria noutro tom
A vida no seu dom
Em majestade ou luto,
Mas quanto mais audaz
O passo nada traz
E assim inda reluto.

20

Escravos imploravam
Meus olhos ao olhar
De quem desejo amar
Ou nada mais douravam,
Enquanto penetravam
Além deste luar
O vago a caminhar
Por onde não achavam
Sequer outro desejo
E tanto mais prevejo
O fim da velha farsa,
A vida não se dá
E sei e desde já
O gozo onde se esgarça.

37541 até 37560

1

Nos teus níveos sorrisos,
Pudesse ainda ver
A fúria de um prazer
Diversos paraísos,
Em dias mais concisos
Alheios ao sofrer
Adentro o bem querer
E perco os raros sisos.
Mas logo te enfadonhas
E em horas mais tristonhas
Vagando noutros mares,
Pudesse imaginar
Ou mesmo penetrar
Aonde tu sonhares.


2

Sultana que escraviza
Reinando sobre o sonho,
O verso que componho
Na mansidão da brisa,
A voz quando me avisa
De um dia mais risonho,
Amor quando proponho
Das ânsias se matiza,
Aromatiza a vida
O incenso de tua alma,
E logo já me acalma,
Dos medos, saída.
Por isso é que eu te falo:
Que bom ser teu vassalo!

3

Meu mundo; transtornaste
E logo me dominas
Os sonhos, raras minas
O amor que me ensinaste
E quando mais me ensinas,
A vida em tal contraste
Deveras no desgaste
Amores; exterminas.
Legando ao meu futuro
Um tempo escuso e escuro
Ausência de esperança,
Quem tanto fora o brilho
Agora que eu palmilho
Em outro céu se lança.


4

Rastejo te implorando
Ao menos o perdão,
Os dias não verão
O meu olhar mais brando,
O amor em contrabando
O tempo sem razão
A vida segue em vão
O mundo se nublando,
Pudesse ter enfim
O sol neste jardim,
Dos sonhos o farol,
Tomando cada canto,
E eu teu helianto,
Apenas girassol.

5

Tantas vezes, a vida
Negando alguma luz
A quem não se conduz
Ou vaga em despedida,
Não tendo mais saída
Ao todo reproduz
E nunca mais me opus
À sina a ser cumprida,
Decerto um dia eu quis
Quem sabe, ser feliz
E ter esta certeza
Do amor que nunca veio,
Do mundo sem receio,
Suave correnteza...

6

É preciso encontrar
Quem possa neste instante
Num ato alucinante
Beber cada luar,
Singrando céu e mar
E assim jamais se espante
Ou mesmo me garante
O bem de tanto amar
O tempo já passou
E nada mais restou,
Somente esta esperança,
E nela o meu caminho
Decerto tão mesquinho,
Deveras já se cansa.

7

No meu flácido rumo,
No pálido destino,
O quanto não domino
Ou mesmo não me aprumo,
Porquanto eu me consumo
Em tanto desatino,
Pudesse ser menino,
Da fruta ver o sumo,
Do risco a cada instante
O passo que agigante
O medo queda atrás,
Mas velho e sem remédio
Apenas medo e tédio,
O fim da vida traz.

8

Que deixe de prestar
Ao menos à ilusão
Somente a direção
E nada a declarar,
Pudesse adivinhar
O dia sem o não,
Quem sabe esta emoção
Talvez soubesse amar.
Mas nada foi bastante
O passo se inconstante
Não deixa que se veja
Ao fim da caminhada
A reta de chegada
A quem tem alma andeja.

9

Não posso caminhar
Nem mesmo se eu tentasse
Vencer o medo e o impasse
Teria algum lugar
Aonde descansar
Ainda quando trace
O resto ou me desgrace
Na busca deste altar.
A vida se extermina
E seca então a mina
Aonde este regato
Formado em cachoeiras
Em curvas traiçoeiras
Enfim, morto resgato.

10

Não posso respirar
Este enfadonho e roto
Delírio em podre esgoto
Numa ânsia de buscar
Além, qualquer lugar
Da dor o imenso broto,
Do amor, sequer um coto,
Mais nada a se mostrar,
Somente então me resta
Da vida mais funesta
Ausente brilho, pois
De tudo o que eu quisera
A vida esta quimera
Só pensa no depois.

11

A vida não perdoa
Quem sabe e nada fala
A sorte esta vassala
Vagando sempre à toa,
Destroça esta canoa,
E quando a vida cala
Não resta nesta sala
Nem voz que ainda ecoa.
O tempo de viver
O quanto do prazer
É coisa tão banal,
Amor-libertação
Seara do perdão,
Momento triunfal.

12

Guardiã dos anseios
A lua enamorada
Enquanto abandonada
Por olhos mais alheios
Adentro novos veios
Embebe cada estrada
Da luz tão prateada
E doma sem receios,
Pudesse nesta lua
Uma alma clara e nua
Sem medo do futuro,
Mas quando se percebe
Uma alma em turva sebe
Bebendo o céu escuro.

13

De que vale, sem fruta
O pomar que eu cevara
Tentando na seara
A vida já sem luta,
No quanto não reluta
Quem tanto semeara
A vida bem mais clara,
E agora nada escuta
Senão a voz do vento
E em todo pensamento
Alheio ao que inda possa
Viver em raro brilho,
Porém logo palmilho
Em direção à fossa.

14

Sem jardim a vida
Em tanta dor já feita
E quando alma se deita
A estrada mais comprida
Em sonhos se cumprida
Uma alma ora deleita,
Mas quando noutra feita
Não vendo uma saída,
O desespero toma
E nada mais se doma,
A noite em pesadelo.
Meu rumo que se aponte
E beba este horizonte
Aonde eu possa vê-lo.


15

Nas origens da Terra,
Nos antros dos meus dias
Palavras, sintonias
O tempo já se encerra
E dentre paz e guerra
A dor e as harmonias
Em tantas agonias,
A sorte me desterra.
Vagando sem destino
Se eu tanto me fascino
Ou nada me entorpece,
O coração se esvai
Enquanto a noite cai
E o vazio se tece.

16

Absoluta, total,
Reinando muito além
Do quanto não convém
Ou gera um ritual
Diverso ou tão igual
Ao quanto mais contém
Seguindo sempre aquém
Do mar manso ou venal,
Eu tento e não desisto
Ainda quando insisto
Existo e tão somente
Percebo o fim da estrada,
A morta anunciada
Aos poucos se apresente.

17

Na treva verdadeira,
Sem holofote ou lua
Minha alma segue nua
E pelo vão se esgueira
Usando por bandeira
A sorte em que se atua
A curva, o medo e a rua,
Do nada; garimpeira,
Perdida em noite vaga,
Teimando tudo draga
E morre sem sentido,
O todo se esvaíra
Nas curvas da mentira
Nos turvos da libido.

18

Se confundindo qual
Pudesse ainda ver
Um manso amanhecer
Ou dia desigual,
Porém rotina é tal
Que nada possa ter
Nem dor sequer prazer
Estranho ritual.
O sonho gera o mito
E quando eu acredito
No dia mais tranqüilo,
O quanto se aproxima
E muda logo o clima
Em trevas eu desfilo.

19

Caminha no deserto
O olhar ensimesmado,
O tempo iluminado
O rumo sempre aberto,
E quando me desperto
Sem nada tendo ao lado,
Revivo este passado,
Por nuvens recoberto.
Pudesse ver o sol
E ter neste arrebol
O brilho iridescente,
Mas logo e mal acordo
Sem nada ter a bordo
Meu mundo já se ausente.

20

Sem ter sequer noção
Do quanto ou mesmo menos
Os dias são amenos
Ou perdem direção,
Nos medos que virão
Os ritos quase plenos,
Os olhos tão serenos,
O corte, a provisão.
Assim após as chuvas
Em nuvens de saúvas
A vida se refaz,
No canto abandonado,
No verso maltratado
Encontro enfim a paz.