27783
“E à palidez das fotosferas mortas!”
A viuvez de uma alma em dores feita,
E quando a realidade se deleita
Diversos os caminhos em que aportas,
Abrindo do passado velhas portas
A sorte nunca sendo satisfeita
A morte se aproxima enquanto deita
As garras nestes sonhos que ora exortas.
Medonho caricato, nada trago
Somente algum resquício de um afago
Mordaz de quem jamais amor me dera,
À sombra do vazio sigo imerso
E usando com terror último verso,
Bebendo a solidão, amiga e fera.
27784
“Reverta à quietação da treva espessa”
Os meus anseios toscos e imbecis
Nefastos pensamentos tão servis
Rondando e dominando esta cabeça,
Mas antes que deveras me enlouqueça
Pudesse ter nas mãos o que desdiz
Caminho de um estúpido infeliz
Vislumbro em minha morte o que eu mereça.
Percalços, espinheiros e falácias
Aonde não devia, vãs audácias
Perfazem os caminhos mais atrozes,
E o túmulo me espera, como abrigo,
Deleite se expressando num jazigo
Cessando estes tormentos; meus algozes...
27785
“Até que minha efêmera cabeça”
Perceba qualquer luz que ainda possa
Rever este conceito: morte e fossa,
Bem antes que o destino não me esqueça.
A sorte se mostrando sempre avessa
A algum sorriso mesmo que inda adoça
Negando o que seria simples troça,
Porém não vejo voz que se obedeça.
Tropeço num tropel de escuros sonhos
E sei o quão se mostram mais medonhos
Marcando a ferro e a fogo a minha pele;
O corte se aprofunda a cada instante
E o que pensara outrora deslumbrante
Somente se antevê quando repele.
27786
“Há de ferir-me as auditivas portas,”
O som das tempestades que me invadem
Por mais que os medos toscos já degradem
Caminhos mais terríveis me comportas
Apego-me ao vazio que inda trazes
Carcaças de esperança apodrecidas
E delas renovando em morte o brilho
Que ainda perfazendo um andarilho
Revê no rebrotar de novas vidas.
Sou pária e nada mais eu poderia
Sabendo do vazio que me doma
Apenas divisão jamais fui soma,
Vagando como um nada em agonia
Nem sombras vou deixar quando partir,
A morte, belo porto, um elixir...
27787
“Trovejando grandíloquos massacres,”
Assisto aos meus momentos derradeiros,
Na pútrida expressão velhos canteiros
Momentos delicados morrem acres
Da sorte não desvendo nem mais enigmas
E bebo a sordidez dos verdadeiros
Caminhos entre pedras e espinheiros
Marcando minha pele, tais estigmas,
E as lavas derramando sobre mim,
Recôndita alegria se esfumaça,
A vida se mostrara vã trapaça
A morte me alentando traz o fim
E nele reproduzo o que já fora
Uma alma muitas vezes sonhadora.
27788
“E o turbilhão de tais fonemas acres”
Compondo a sinfonia derradeira,
Percebo desta morte a mensageira
Negando da esperança firmes lacres
E calo-me defronte aos temporais
E neles absorvendo simplesmente
A fúria que a verdade não desmente
Gerando o desacerto e nada mais.
Apetecendo a quem se fez palhaço
O fardo do viver imenso caos,
Aonde se pudessem novas naus
O porto em solilóquio já desfaço,
E traço meu caminho em morte e dor
Apodrecido sonho, meu louvor...
27789
“Da incoerência infernal daquelas frases”
Somente se percebe o fim no ocaso,
E quando não consigo em tal descaso
Viver além do quanto ainda trazes
Negando uma existência nos mordazes
Caminhos que deveras não me aprazo,
Mergulho no vazio e se me atraso
Pereço pouco a pouco em vãs tenazes.
Medonho caricato tenho ao fim
A sombra do que outrora se fez vida,
A morte sendo enfim assim urdida,
Permite ao caminheiro esta esperança
Trespassa no meu peito solitário
O canto derradeiro e temerário,
Qual fora uma mortalha em fria lança...
27790
“Chorando e rindo na ironia infausta”
Mesquinho este retrato especular
E nele sinto a ausência a me tomar,
Uma alma se mostrando enfim exausta
Ocaso da alegria em tez sombria,
O peso do não ser enverga as costas
Verdades em tragédias sendo expostas
Do nada que hoje sou o que se cria?
Verdugo de mim mesmo um suicida
Bebendo da loucura que me excita
A vida por si só sendo finita
Há tanto que percebo já perdida.
E o passo me levando para a morte,
Traduz o redentor sublime norte...
27791
” Era a canção da Natureza exausta,”
Tocando os meus sentidos e aspergindo
Momento que deveras sendo infindo
Transforma a solidão em luz mais fausta,
Caóticos caminhos desvendados,
Veredas entre espinho e pedregulho
E quando neste abismo enfim mergulho
Lançando sobre a mesa sortes, dados.
Erguendo o meu olhar busco o horizonte
Sabendo das neblinas mais ferozes,
Porém das alegrias torpes vozes
O novo amanhecer já se desponte.
Fadado ao nada ter por um instante,
Encontro um novo raio fascinante...
27792
“Prostituído talvez, em suas bases”
Meu pensamento nada encontra enfim
Somente este vazio dentro em mim,
Por mais que novas luzes inda trazes
A vida se perdendo em frágeis fases
Alheia a qualquer sonho traz no fim
Sedento e sem proveito o meu jardim
Cultivo dentro da alma tais antrazes,
E putrefeito sigo carniceiro
O fim se aproximando em derradeiro
Momento ao qual anseio dia a dia,
E bêbado de luz louca falena
Minha alma se fartando se envenena
E o fim já se aproxima e não se adia...
27793
“Na podridão do sangue humano imerso,”
Uma alma rapineira se sacia
E aonde poderia a fantasia
Caminho redentor logo disperso,
Na intrepidez terrível do meu verso
Apenas o retrato da agonia
Quem sabe renovasse a alegoria
Pudesse conhecer outro universo.
Só resta-me entretanto o vão final
E nele como fora um ritual
Carcaça da esperança assim desfila,
Na incrível solidão que enfim herdei
Da subserviência faço a minha lei
Enquanto a morte vem e me destila.
27794
“Era a elegia panteísta do Universo,”
A ausência de respostas medo e corte,
Aonde se fizesse enfim a morte
Sentido no vazio estando imerso,
São meros os caminhos e disperso
Somente uma ilusão que me conforte
Eternidade gera algum suporte
Prazer do após vazio mais diverso.
A vida se renova por si só,
Embora variável sua face
Da pútrida verdade ora se trace
Volvendo ao mesmo início: pó ao pó.
E os deuses que se trazem sob os olhos
Proliferando flores entre abrolhos.
27795
“A orquestra arrepiadora do sarcasmo”
Explode em dissonantes harmonias
E quando novas dores tu porfias
Somente nos meus ermos sigo pasmo,
E faço da mortalha meu abrigo,
Cansado do não ser e ter aquém
Do olhar este vazio que ora vem
Mostrando algum alento que persigo
Apodrecendo uma alma a cada dia
Esgotos que carrego tão nefastos,
Aonde se pensara dias castos
A morte sem desculpas já se adia.
E a redenção deveras procurada
Constrói em espinheiros minha estrada.
27796
“Executando, entre caveiras sujas,”
Um ato que redima meus pecados
Marcando com terror sinas e fados
Expondo-me quais fossem garatujas
Descrevo com terror cada palavra
Diversa do que tanto poderia
Esboça-se no fim esta agonia
Que a sorte tão maldita sempre lavra
Nas pústulas de uma alma imunda vejo
Sequer a redenção em novas luzes
E quando a minha face reproduzes
Encontro este terror, vago negrejo.
E quando me mostrando cadavérico
Renego o meu passado quase homérico...
27797
“Julgava ouvir monótonas corujas,”
Entre os espectros vários que ora enfrento
Estando em tal polêmica no centro
As dores se aproximam de lambujas
E sei destas desditas pelas cujas
Caminhos tão sombrios ora adentro
E quando na esperança me concentro
Paisagens se mostrando bem mais sujas.
Alardes dissonantes eclodindo
E o que pensara fosse mais infindo
Produz devassidão e dela traço
O fim de minha história sobre a Terra
Capítulo final que ora se encerra
A morte não concede algum espaço.
27798
“Na ânsia de um nervosíssimo entusiasmo,”
Perdera qualquer senso e me entregara
Cevando a via crucis tão amara
Gerada com momentos de sarcasmo,
E quando me mostrara em vão espasmo
A morte em plena vida se declara
Nem mesmo uma ilusão ainda ampara
O olhar ensimesmado e quase pasmo,
Morrer e ser feliz, o que me basta,
A sorte tão funesta outrora casta
Expressa esta agonia em limbos feita,
Demônios cultivados dia a dia
Ao infernal tormento a vida guia
E nele uma alma torpe se deleita.
27799
“Da luz da lua aos pálidos venábulos,”
Expressam-se os terrores de quem tenta
Vencer a noite amarga e tão sedenta
Usando os mais extremos dos tentáculos
Maculam-se os diversos caminhares
E geram tão somente dissidências
Ainda que fugisse às penitências
Vagando por terríveis lupanares.
Esgotam-se os caminhos sob a lua
E a crua realidade se expressando
Tornando o meu destino menos brando
Enquanto o sofrimento continua,
Afetam-me diversos dissabores
Negando o que seriam tais albores
27800
“Disse isto a Sombra. E, ouvindo estes vocábulos,”
Falando de uma eterna solidão
Os dias doloridos mostrarão
A imunda sensação, prisão e estábulos.
Pudesse conhecer a liberdade
Que, ausente dos meus dias não concebo
E quando morto em vida eu me percebo
Somente sob o olhar a imensa grade.
Pudesse ter ao fim a expectativa
De um tempo que bem sei não voltará
Algum sorriso ao menos mostrará
Que a luz mesmo sombria não me priva.
Porém ouvindo a sombra em seu lamento,
Deveras, sem meu sol, eu me atormento.
27801
“Em minha vida anônima de larval"
Apenas me restando alguma sombra
Realidade tanto fere e assombra
E expressa a solidão, terrível, parva
Pudesse ter a morte, já que inerme
E ver apodrecidas esperanças
Ao vago o pensamento então se lança
Traduz a realidade deste verme.
Medonho caricato, nada levo
Somente este vazio e nada mais,
As horas que me restam, terminais
Algum sorriso irônico inda atrevo.
Mas sei que no final eu nada sou,
Carcaça que sorriu, sofreu e amou.
PARA TANTOS, PRINCIPALMENTE MARCOS GABRIEL, MARCOS DIMITRI E MARCOS VINÍCIUS. MINHA ESPERANÇA. RITA PACIÊNCIA PELA LUTA.
sábado, 27 de março de 2010
27763 ATÉ 27782 HOMENAGEM A PAULO FENDER
37763
“Era dia de ver-te os indecisos”
Momentos entre medos, fantasias
E quando se concebe o que dizias
Os dias se mostraram imprecisos
Matizes tão diversos, mesma face,
Colorem-se meus dias dos vazios
E neles entranhados desafios
Causando neste todo algum impasse.
Imparciais caminhos, novas sendas
E nelas angustias quando mentes,
Somando nossos erros e sementes
Veredas mais diversas não desvendas
Confesso os meus enganos e talvez
Divirjo do que tanto ainda crês.
27764
“Tímidos olhos doces a me olhar”
Mudando a direção do que pensara
E sendo muito além da pedra rara
Que um dia imaginara lapidar.
Cercando-me das tantas ilusões
Nas quais e pela quais inda caminho,
Porquanto se fizesse mais sozinho
Deixando para trás outras versões,
Clamando por talvez novo momento,
Não poderia ainda que não fosse
A vida tão somente um agridoce
Cenário onde às vezes me atormento,
Mas tendo nos teus olhos o reflexo
Dos meus neste mosaico mais complexo.
27765
“Era dia de ver os teus sorrisos”
Entre as névoas comuns do desamor
E nesta maravilha a se compor
Percebo muito além os Paraísos.
E quando ainda escuto outros avisos
Falando do talvez, posso repor
Imerso nos anseios de um louvor
Por mais que em mim enfrente meus granizos.
Espúrias emoções, fardos constantes
E mesmo quando em fúria te agigantes
Ao fim somos idênticos não mais.
Acasos entrelaçam passos e ânsias
E neles se percebem discrepâncias
E enquanto gemelares, desiguais.
27766
“Era dia de ver-te suspirar”
E ter nas mãos a sorte decidida
Ao perfazer em trevas minha vida
Querendo novamente algum luar
Vivendo sem limite a me fartar
Aguardo a cada luz a despedida,
Uma existência sendo assim urdida
Nas torpes ilusões ganhando o mar
Espalho-me na areia movediça
Gerada pelas fúrias da cobiça
E trago ainda em flor esta esperança
Vestindo esta tão trágica carcaça
Enquanto a realidade se esfumaça
Minha alma ao descaminho em ti se lança.
27767
“Era dia de agrados e ternuras”
Insólitos caminhos percorridos
E neles expressando os meus olvidos
Enquanto em ti perpétuas as procuras
E quando do vazio me emolduras
Momentos entre perdas divididos
Escravizados sonhos percebidos
Gerados por angústias e canduras.
Nefastas noites somam desesperos
E deles meus terríveis destemperos
Causando dissabores entre trevas.
Só sei que mesmo tendo tais agrados
Os erros entre os erros consagrados
Traduzem o que ainda mesmo cevas...
27768
“Em teus braços de moça perfumada”
Delírios e desejos decifrados
Momentos e segredos desvendados
Seguindo sem perguntas flórea estrada
Deliciosamente em ti se vê
Suaves maravilhas, tenra luz
E à intensa sedução quando me expus
A vida teve enfim o seu por que.
Navego por teus mares, forjo um sonho
E teimo contra tantos medos meus
Os dias do passado, mais ateus
E agora a redenção em ti proponho.
Teus rastros seguirei até a morte,
Pois neles adivinho agora um Norte.
27769
“dias de sonhos e carícias puras”
Transcendo aos meus anseios e permito
Que tanto amor se mostre em raro e belo rito
Esplêndido momento de branduras
Acostumado às tantas desventuras
Ao crer neste desejo mais bonito
O velho coração atroz e aflito
Delira ao saciar velhas procuras.
Estás bem junto a mim, e isto me basta,
A sorte há tanto tempo em vão, nefasta
Agora se entregando a tais delírios
Percebe finalmente o imenso brilho
E envolto em tanta luz me maravilho
Deixando no passado vãos martírios...
27770
“ao teu convívio de mulher amada”
Sentir quanto é sublime a minha vida
E mesmo quando a sorte está perdida
Em ti felicidade desejada.
Alvissareiros dias, noites belas
Desejos saciados e profanos,
Já não comportam mais os desenganos
Vivendo em ti delírios que revelas.
As ânsias dos prazeres mais vorazes
Ensandecidos, fartos navegantes
Em mares tão divinos, deslumbrantes
Que a cada madrugada tu me trazes.
Saber-me timoneiro desta glória
Tornando a vida menos merencória...
2771
“era dia aprazado de dizer-nos”
O quanto nos queremos sem limites
E quero que tal fato não evites
Sabendo quão divino é poder ter-nos
Cadenciando os passos rumo aos céus
Que tanto adivinhamos quando juntos
Por mais que se desviem os assuntos
Amores nos recobrem com seus véus
E os veios que percorro são eternos,
Atalhos para eternos caminhares
Enquanto noutros mares navegares
Trazendo aos meus verões, duros invernos
Haverá sempre a luz deste farol,
Tomando em claridade este arrebol.
27772
“coisas belas – unidas pelas almas”
Servindo como laços que nos atam
E quando as fantasias nos maltratam
Tu vens e mansamente tudo acalmas.
Estranhas emoções por vezes tentam
Tornar a caminhada mais atroz,
Porém ao perceber mais fortes nós,
Os dias em teus braços nos alentam.
Peçonhas tão comuns, medos, ciúmes,
Jamais encontraria algum apoio
Sabendo separar trigo de joio
Tu trazes quando escuro, novos lumes.
E assim continuamos rumo ao sol,
Guiados pelo amor, raro farol...
27773
“era dia de dar-nos e de ter-nos”
Envoltos pelas ânsias de um prazer
E ainda tão somente posso ver
Momentos que percebo serem ternos
Eternidade feita em mil carícias
Delírios costumeiros, luzes fartas,
E quando dos meus braços tu te apartas
A vida preparando vãs sevícias,
O quase do abandono temporário
Transcende ao mais perfeito alento e traz
Distante dos meus olhos a alegria,
E a noite outrora intensa já se esfria
Levando para longe a minha paz.
Mas logo tu retornas e refaço,
A bela caminhada passo a passo...
27774
“perdidamente pelas horas calmas”
Andando em senda mansa encontro a ti
E quando teus anseios eu senti
No encontro fabuloso dessas almas
Momentos sem igual, carícias, gozos,
Suprindo nossos corpos em prazer
E os dias se mostrando fabulosos,
Vontade de poder estar e ser.
Servindo ao mais complexo servidor,
Escravo deste algoz que no sacia,
Nas delicadas fúrias da alegria
Diversidade feita em tanto amor.
Descrevo tais propósitos da sorte
Vivendo sem mais nada que me importe.
27775
“era dia de fuga no infinito”
Estrelas a vagar sem rumo e nexo,
Caminho tão diverso quão complexo,
O amor se torna aos poucos quase um mito.
Mesquinhas luzes negam refletores
E traçam solidão em dores tantas
E quando sob as sombras desencantas
Afastas da esperança seus fulgores.
Descrevo os pandemônios que se vêm
Angustiadamente nada existe
Somente esta visão nefasta e triste,
No fundo do cenário, mais ninguém.
E toma a minha mente o pesadelo,
Difícil, na verdade, inda contê-lo...
27776
“tendo as estrelas como lampadário”
Os céus dos meus desejos se tornando
Por vezes turbulento ou mesmo brando
Mudando com ternura o meu fadário,
Servindo de alimária no passado,
Histriônico algoz das esperanças
E nestas ilusões, as noites mansas
Retrato sem proveito, amarelado.
Ouvir vozes diversas, rumos falsos,
Falácias tão comuns de quem se traz
Envolto em treva farta, sou mordaz
E sinto a cada dia meus percalços.
Mas vendo constelares maravilhas
Percebo quão divina em mim tu brilhas.
27777
“dia de tudo quanto estava escrito”
Traçando os mais diversos temporais
E neles as imagens desiguais
Tramando um tempo atroz, demais aflito.
Esgueiram-se demônios tomam cenas
E reinam absolutos sobre a Terra
A vida neste instante já se encerra
Devastações diversas, torpes, plenas.
Acossam-me corsários, vidas frágeis
Esgotam-se esperanças, perco o rumo,
Da morte nas masmorras, bebo o sumo,
Os dedos entrelaçam forças ágeis.
E o peso sobre as costas não permite
Sonhar além de um vago e vão limite.
27778
“por mãos de deuses no seu calendário”
Espreito estes sinais que se adivinham
Os medos tão vulgares que continham
Os passos muitas vezes temerários.
Aprendo a discernir temor e glória
E castro os meus anseios tão profanos,
Os velhos e terríveis desenganos
Tomados por momentos em vanglória
Esboçam relativas emoções
E volto a crer em ninfas e regatos,
Por mais que se reneguem novos fatos,
Incríveis as tormentas que me expões.
Arcádico momento num neon
Diversidade reina em vário tom.
27779
“era dia de amar-nos e no entanto”
Sabias disfarçar os sentimentos
Gerando com ternura mais tormentos
E deles o vazio que ora canto.
Penetro os arrebóis mais corriqueiros
E singro os oceanos mais vorazes
Nos olhos tais temores que em trazes
Impedem novas flores nos canteiros.
Amar e ter nos olhos sensações
Diversas do que seja uma alegria
E quando no futuro se descria
Ao menos posso ver fortes verões.
Assino com meu sangue o nada ter
E mesmo em braços fortes, me perder...
27780
“como se equivocou meu coração”
Ao ter imagem tosca da verdade
Por mais que o meu cantar te desagrade
Realidades tantas mostrarão
Sinais das desventuras que trafego
E carcomidas cenas mais presentes
E nelas com terrores tu pressentes
O dia que virá mortal e cego,
Apego-me ao não ter como pudesse
Saber dos meus engodos e tentar
Ainda que distante deste mar
Dos sonhos mais felizes, ter a messe.
E tudo não passando de uma farsa
Que a vida desmascara e não disfarça.
27781
“pois esse dia em que te esperei tanto”
Trazia por si só dor e alegria,
Gerando tão feroz dicotomia,
Ao mesmo tempo luz, medo e quebranto.
Perigos são constantes, disso eu sei,
E tendo nos meus olhos luzes várias,
Sonego mesmo em pranto as luminárias
Sabendo escuridão em minha grei,
Fomento tempestades, bebo a chuva
E teimo contra todas desventuras
E quando noutro plano me procuras
Percebes que do amor se faz viúva.
Ecléticos tormentos se anunciam
Enquanto os dias morrem, se esvaziam...
27782
“era o dia da minha solidão”
E tudo se pudesse ser assim
Matando inútil flor, seco jardim,
Eternizando a seca em meu verão,
E o corte se aprofunda dentro da alma
O que mais desejara se desdiz,
Cevando tão somente a cicatriz
Nem mesmo a solidão ainda acalma.
Perfaço a mesma estrada sem saber
Se ainda poderia ver o porto,
E quando me imagino quase morto
Encontro o que pensara ser prazer
Era dia de ser feliz, ao menos,
Mas como se em ti bebo só venenos...
Homenagem a Paulo Fénder ERA DIA.
“Era dia de ver-te os indecisos”
Momentos entre medos, fantasias
E quando se concebe o que dizias
Os dias se mostraram imprecisos
Matizes tão diversos, mesma face,
Colorem-se meus dias dos vazios
E neles entranhados desafios
Causando neste todo algum impasse.
Imparciais caminhos, novas sendas
E nelas angustias quando mentes,
Somando nossos erros e sementes
Veredas mais diversas não desvendas
Confesso os meus enganos e talvez
Divirjo do que tanto ainda crês.
27764
“Tímidos olhos doces a me olhar”
Mudando a direção do que pensara
E sendo muito além da pedra rara
Que um dia imaginara lapidar.
Cercando-me das tantas ilusões
Nas quais e pela quais inda caminho,
Porquanto se fizesse mais sozinho
Deixando para trás outras versões,
Clamando por talvez novo momento,
Não poderia ainda que não fosse
A vida tão somente um agridoce
Cenário onde às vezes me atormento,
Mas tendo nos teus olhos o reflexo
Dos meus neste mosaico mais complexo.
27765
“Era dia de ver os teus sorrisos”
Entre as névoas comuns do desamor
E nesta maravilha a se compor
Percebo muito além os Paraísos.
E quando ainda escuto outros avisos
Falando do talvez, posso repor
Imerso nos anseios de um louvor
Por mais que em mim enfrente meus granizos.
Espúrias emoções, fardos constantes
E mesmo quando em fúria te agigantes
Ao fim somos idênticos não mais.
Acasos entrelaçam passos e ânsias
E neles se percebem discrepâncias
E enquanto gemelares, desiguais.
27766
“Era dia de ver-te suspirar”
E ter nas mãos a sorte decidida
Ao perfazer em trevas minha vida
Querendo novamente algum luar
Vivendo sem limite a me fartar
Aguardo a cada luz a despedida,
Uma existência sendo assim urdida
Nas torpes ilusões ganhando o mar
Espalho-me na areia movediça
Gerada pelas fúrias da cobiça
E trago ainda em flor esta esperança
Vestindo esta tão trágica carcaça
Enquanto a realidade se esfumaça
Minha alma ao descaminho em ti se lança.
27767
“Era dia de agrados e ternuras”
Insólitos caminhos percorridos
E neles expressando os meus olvidos
Enquanto em ti perpétuas as procuras
E quando do vazio me emolduras
Momentos entre perdas divididos
Escravizados sonhos percebidos
Gerados por angústias e canduras.
Nefastas noites somam desesperos
E deles meus terríveis destemperos
Causando dissabores entre trevas.
Só sei que mesmo tendo tais agrados
Os erros entre os erros consagrados
Traduzem o que ainda mesmo cevas...
27768
“Em teus braços de moça perfumada”
Delírios e desejos decifrados
Momentos e segredos desvendados
Seguindo sem perguntas flórea estrada
Deliciosamente em ti se vê
Suaves maravilhas, tenra luz
E à intensa sedução quando me expus
A vida teve enfim o seu por que.
Navego por teus mares, forjo um sonho
E teimo contra tantos medos meus
Os dias do passado, mais ateus
E agora a redenção em ti proponho.
Teus rastros seguirei até a morte,
Pois neles adivinho agora um Norte.
27769
“dias de sonhos e carícias puras”
Transcendo aos meus anseios e permito
Que tanto amor se mostre em raro e belo rito
Esplêndido momento de branduras
Acostumado às tantas desventuras
Ao crer neste desejo mais bonito
O velho coração atroz e aflito
Delira ao saciar velhas procuras.
Estás bem junto a mim, e isto me basta,
A sorte há tanto tempo em vão, nefasta
Agora se entregando a tais delírios
Percebe finalmente o imenso brilho
E envolto em tanta luz me maravilho
Deixando no passado vãos martírios...
27770
“ao teu convívio de mulher amada”
Sentir quanto é sublime a minha vida
E mesmo quando a sorte está perdida
Em ti felicidade desejada.
Alvissareiros dias, noites belas
Desejos saciados e profanos,
Já não comportam mais os desenganos
Vivendo em ti delírios que revelas.
As ânsias dos prazeres mais vorazes
Ensandecidos, fartos navegantes
Em mares tão divinos, deslumbrantes
Que a cada madrugada tu me trazes.
Saber-me timoneiro desta glória
Tornando a vida menos merencória...
2771
“era dia aprazado de dizer-nos”
O quanto nos queremos sem limites
E quero que tal fato não evites
Sabendo quão divino é poder ter-nos
Cadenciando os passos rumo aos céus
Que tanto adivinhamos quando juntos
Por mais que se desviem os assuntos
Amores nos recobrem com seus véus
E os veios que percorro são eternos,
Atalhos para eternos caminhares
Enquanto noutros mares navegares
Trazendo aos meus verões, duros invernos
Haverá sempre a luz deste farol,
Tomando em claridade este arrebol.
27772
“coisas belas – unidas pelas almas”
Servindo como laços que nos atam
E quando as fantasias nos maltratam
Tu vens e mansamente tudo acalmas.
Estranhas emoções por vezes tentam
Tornar a caminhada mais atroz,
Porém ao perceber mais fortes nós,
Os dias em teus braços nos alentam.
Peçonhas tão comuns, medos, ciúmes,
Jamais encontraria algum apoio
Sabendo separar trigo de joio
Tu trazes quando escuro, novos lumes.
E assim continuamos rumo ao sol,
Guiados pelo amor, raro farol...
27773
“era dia de dar-nos e de ter-nos”
Envoltos pelas ânsias de um prazer
E ainda tão somente posso ver
Momentos que percebo serem ternos
Eternidade feita em mil carícias
Delírios costumeiros, luzes fartas,
E quando dos meus braços tu te apartas
A vida preparando vãs sevícias,
O quase do abandono temporário
Transcende ao mais perfeito alento e traz
Distante dos meus olhos a alegria,
E a noite outrora intensa já se esfria
Levando para longe a minha paz.
Mas logo tu retornas e refaço,
A bela caminhada passo a passo...
27774
“perdidamente pelas horas calmas”
Andando em senda mansa encontro a ti
E quando teus anseios eu senti
No encontro fabuloso dessas almas
Momentos sem igual, carícias, gozos,
Suprindo nossos corpos em prazer
E os dias se mostrando fabulosos,
Vontade de poder estar e ser.
Servindo ao mais complexo servidor,
Escravo deste algoz que no sacia,
Nas delicadas fúrias da alegria
Diversidade feita em tanto amor.
Descrevo tais propósitos da sorte
Vivendo sem mais nada que me importe.
27775
“era dia de fuga no infinito”
Estrelas a vagar sem rumo e nexo,
Caminho tão diverso quão complexo,
O amor se torna aos poucos quase um mito.
Mesquinhas luzes negam refletores
E traçam solidão em dores tantas
E quando sob as sombras desencantas
Afastas da esperança seus fulgores.
Descrevo os pandemônios que se vêm
Angustiadamente nada existe
Somente esta visão nefasta e triste,
No fundo do cenário, mais ninguém.
E toma a minha mente o pesadelo,
Difícil, na verdade, inda contê-lo...
27776
“tendo as estrelas como lampadário”
Os céus dos meus desejos se tornando
Por vezes turbulento ou mesmo brando
Mudando com ternura o meu fadário,
Servindo de alimária no passado,
Histriônico algoz das esperanças
E nestas ilusões, as noites mansas
Retrato sem proveito, amarelado.
Ouvir vozes diversas, rumos falsos,
Falácias tão comuns de quem se traz
Envolto em treva farta, sou mordaz
E sinto a cada dia meus percalços.
Mas vendo constelares maravilhas
Percebo quão divina em mim tu brilhas.
27777
“dia de tudo quanto estava escrito”
Traçando os mais diversos temporais
E neles as imagens desiguais
Tramando um tempo atroz, demais aflito.
Esgueiram-se demônios tomam cenas
E reinam absolutos sobre a Terra
A vida neste instante já se encerra
Devastações diversas, torpes, plenas.
Acossam-me corsários, vidas frágeis
Esgotam-se esperanças, perco o rumo,
Da morte nas masmorras, bebo o sumo,
Os dedos entrelaçam forças ágeis.
E o peso sobre as costas não permite
Sonhar além de um vago e vão limite.
27778
“por mãos de deuses no seu calendário”
Espreito estes sinais que se adivinham
Os medos tão vulgares que continham
Os passos muitas vezes temerários.
Aprendo a discernir temor e glória
E castro os meus anseios tão profanos,
Os velhos e terríveis desenganos
Tomados por momentos em vanglória
Esboçam relativas emoções
E volto a crer em ninfas e regatos,
Por mais que se reneguem novos fatos,
Incríveis as tormentas que me expões.
Arcádico momento num neon
Diversidade reina em vário tom.
27779
“era dia de amar-nos e no entanto”
Sabias disfarçar os sentimentos
Gerando com ternura mais tormentos
E deles o vazio que ora canto.
Penetro os arrebóis mais corriqueiros
E singro os oceanos mais vorazes
Nos olhos tais temores que em trazes
Impedem novas flores nos canteiros.
Amar e ter nos olhos sensações
Diversas do que seja uma alegria
E quando no futuro se descria
Ao menos posso ver fortes verões.
Assino com meu sangue o nada ter
E mesmo em braços fortes, me perder...
27780
“como se equivocou meu coração”
Ao ter imagem tosca da verdade
Por mais que o meu cantar te desagrade
Realidades tantas mostrarão
Sinais das desventuras que trafego
E carcomidas cenas mais presentes
E nelas com terrores tu pressentes
O dia que virá mortal e cego,
Apego-me ao não ter como pudesse
Saber dos meus engodos e tentar
Ainda que distante deste mar
Dos sonhos mais felizes, ter a messe.
E tudo não passando de uma farsa
Que a vida desmascara e não disfarça.
27781
“pois esse dia em que te esperei tanto”
Trazia por si só dor e alegria,
Gerando tão feroz dicotomia,
Ao mesmo tempo luz, medo e quebranto.
Perigos são constantes, disso eu sei,
E tendo nos meus olhos luzes várias,
Sonego mesmo em pranto as luminárias
Sabendo escuridão em minha grei,
Fomento tempestades, bebo a chuva
E teimo contra todas desventuras
E quando noutro plano me procuras
Percebes que do amor se faz viúva.
Ecléticos tormentos se anunciam
Enquanto os dias morrem, se esvaziam...
27782
“era o dia da minha solidão”
E tudo se pudesse ser assim
Matando inútil flor, seco jardim,
Eternizando a seca em meu verão,
E o corte se aprofunda dentro da alma
O que mais desejara se desdiz,
Cevando tão somente a cicatriz
Nem mesmo a solidão ainda acalma.
Perfaço a mesma estrada sem saber
Se ainda poderia ver o porto,
E quando me imagino quase morto
Encontro o que pensara ser prazer
Era dia de ser feliz, ao menos,
Mas como se em ti bebo só venenos...
Homenagem a Paulo Fénder ERA DIA.
27749 ATÉ 27762
27749
‘leves e alvas à plaga ocidental”
Seguindo entre procelas mais ferozes
Vencendo os mais terríveis vãos algozes
Num ato quase insano e triunfal,
Percorrem minhas naus num ritual
Superno entre momentos mais atrozes
Ouvindo das sereias doces vozes,
Vorazes em delírio sensual,
E quando se percebe ao longe o cais,
Momentos muitas vezes magistrais
O velho timoneiro coração
Vagando entre tempestas, direção
(Sabendo desde sempre tanto infausto,)
Esboça alguma luz que inda redima
Após as variantes desta vida
Que embora nos seduza, traz perdida
A senda feita em vário e insano clima...
27750
“as nuvens vão: seja por onde for”
Neblinas entre céus soberbos, faustos,
E bebo dos terríveis holocaustos
Aonde a sorte inglória a se propor
Traduz as velhas perdas do passado
E molda no futuro tanta treva,
Ainda que esperança tola ceva
O mundo não trará bom resultado.
Vencido pelos medos mais fugazes,
Esculpo do vazio a garatuja
Imensa e tão atroz, por vezes suja
Que em mãos tão poluídas tu me trazes.
Demônios recriados dia a dia,
E neles se estampando esta agonia.
27751
“Sorri o céu, como o humano labor”
Gerado em inconstante vendaval,
Aonde se quisera sempre igual,
Percebo a cada instante imensa dor.
E quando novo tempo irei propor
Vencido pelo vão descomunal
Não vejo ser possível num degrau
Chegar ao mais supremo e raro amor.
Assisto às derrocadas dos meus passos,
E quando ainda teimo em novos traços
Espaços mais diversos reproduzem
Momentos torturantes e venais,
Ausente dos meus olhos portos cais,
Aos naufrágios tempestas me conduzem...
27752
“saúda o sol, benigno, triunfal”
Momentos maviosos, mas fugazes
As dores expressando em tais tenazes
Angústias corriqueiras, ar venal.
Pudesse ter a paz que não mais vejo,
Seria muito bom, um lenitivo,
Mas quando tão cansado, sobrevivo
Percebo quão insólito o desejo
E dele não se vê sequer a sombra
Do que pensara outrora ser capaz,
O mundo num tormento se desfaz
E a vida tão somente cobra e assombra,
O velho marinheiro agora lasso,
O rumo se perdendo já desfaço...
27753
“em mil flechas desponta a catedral”
E tendo nos meus olhos o fatídico
Momento aonde às vezes sendo ofídico
Veneno que ora sorvo em alto grau
Esculpo os meus delírios mais constantes
E deles cada gota me transtorna,
Satânica paisagem que ora adorna
Em fatos tão comuns, meros farsantes
Divergem do que tanto proclamara
Em vozes dissonantes, vida e morte
Devastações sonegam o suporte
Criando da ferida imensa escara.
Escassas ilusões vestes puídas
As sortes sem escusas sendo urdidas...
27754
“e santos de ouro e rosado fulgor”
Jogados sobre falsos patamares,
Gerando os mais soberbos, vis altares
E neles um satânico vigor.
O caos em pandemônios se denota
E o corpo ensangüentado exposto em cruz
De um mártir feito em glória reproduz
O que se poderia além da cota
Ser toda esta inclemência mais vulgar,
Medonhas labaredas, santo ofício,
Aonde se moldara um precipício
Na pútrida impressão a se mostrar
Aquém da santidade de um bom Deus
Traído pelos próprios filhos seus.
27755
“radia então a Hosana e há o rumor”
Em tons por vezes díspares e terríveis,
Matando a redenção em tantos níveis
Deixando em trevas todo o Seu louvor.
A venda sem princípios de um amor
Tornando os Seus clamores inaudíveis
Prostituindo os cantos mais plausíveis
Numa aridez temível, lavrador
Das pútridas quimeras disfarçadas
Em luzes por um Pai abençoadas
Carpindo este cadáver feito em cruz,
Assim a humanidade desvirtua
Uma alma que se fez tão bela e nua,
Satanizando enfim Pobre Jesus...
27756
“dos falcões, este alívolo coral”
Deitado em mar deveras turbulento
Alçando num mergulho em desalento
A natureza explana em forma desigual,
E nesta mais sublime realidade
Diversidade traça as uniões
E nesta maravilha contrapões
Caminhos dissonantes liberdades
E grades de uma imóvel vida, audazes
Estradas entre luzes, trevas, medos,
Assim se decifrando tais segredos
Desvendas e deveras mesmo trazes.
Nos ares e profundos abissais
A vida em suas faces magistrais.
27757
“assim, depois que amor – riso de calma_
Perfez suas vontades mais insanas
Deveras tantas vezes soberanas
Traçando as variedades diversa alma
Expressa maravilhas no não ser
E traça etéreas sanhas porfiando
Temporais num templo atroz e brando
Terríveis dissonâncias de um prazer.
Abrolhos entre flores, plantações
Lavradas com estercos sempre iguais
E quando resultados desiguais
Momentos maviosos tu me expões
No todo feito em nada, realizas
Os vendavais convivem com as brisas...
27758
“nuvens rasgou que me agravaram tanto”
O céu entregue em cores grises, claras
E nelas os anseios que declaras
Gerando muitas vezes desencanto,
Portanto nos meus ermos se porfio
Adentro os mais profundos de minha alma,
Procura que deveras já me acalma
Tornando o meu viver bem menos frio.
E o sol rasgando nuvens me permite
Acreditar num belo amanhecer,
Depois de dentro em mim tanto chover
Uma esperança atinge seu limite
Ascendo aos mais diversos fins sabendo
Que o fim será terrível e estupendo.
27759
“pode exsurgir à luz do sol minha alma”
Enfrentando as neblinas costumeiras,
Por mais que na verdade ainda queiras
Carrego desde sempre antigo trauma
E o peso de uma vida sem limites
Ainda qual vergasta me açoitando,
O velho coração em contrabando
Além do que talvez inda acredites
Levando a minha sorte ao nada ter
Traçando com terrível galhardia
O quadro que pensara alegoria
Descora e pouco a pouco posso ver
A vastidão imensa deste sol,
Vencendo qualquer nuvem no arrebol...
27760
“e lhe sorri multiplicando o santo”
Momento feito em luz e tempestade,
Assisto à fantasia que me invade
E quando me percebo ainda canto.
Gerasse algum tormento em desencanto
Talvez bebesse ainda a realidade,
Mas longe do que sei tranqüilidade,
Também não vou trazer no olhar, o pranto.
Separam-se de mim os meus albores
Deixando prosseguir por onde fores
Os medos mais banais que inda cultivo.
E tendo no vazio a sensação
Dos dias que decerto mostrarão
Motivo pelo qual eu sobrevivo.
27761
“ideal da existência é uma harmonia”
E dela perfazendo o meu caminho
Deveras tantas vezes mais sozinho
Usando como voz a poesia.
Servir aos meus propósitos enfim,
E crer noutra manhã mesmo nublada,
A sorte muitas vezes não diz nada
Tampouco se permite boa ou ruim.
A chuva inevitável jamais tarda
E o peso ainda verga o caminheiro,
As flores se murchando no canteiro
A vida sonegando roupa e farda.
Enfadonhas cantigas ouço além
E sei que junto delas, nada vem...
27762
“o pensamento. E o sentimento é um canto”
E nele se decifram dores, risos,
Às vezes outras não; sinto concisos
Os passos rumo ao belo, ao desencanto.
Adentro tais mistérios e me vejo
Precocemente mesmo, embrutecido,
Pudesse ter apenas num olvido
A morte do que fora algum desejo.
O céu que azulejara em esperança
Negreja-se em terrível tempestade,
E quando se tornou insanidade
Em meio às turbulências sempre avança.
Vivendo da ilusão posso compor
A vida feita em sol e em tanto amor...
‘leves e alvas à plaga ocidental”
Seguindo entre procelas mais ferozes
Vencendo os mais terríveis vãos algozes
Num ato quase insano e triunfal,
Percorrem minhas naus num ritual
Superno entre momentos mais atrozes
Ouvindo das sereias doces vozes,
Vorazes em delírio sensual,
E quando se percebe ao longe o cais,
Momentos muitas vezes magistrais
O velho timoneiro coração
Vagando entre tempestas, direção
(Sabendo desde sempre tanto infausto,)
Esboça alguma luz que inda redima
Após as variantes desta vida
Que embora nos seduza, traz perdida
A senda feita em vário e insano clima...
27750
“as nuvens vão: seja por onde for”
Neblinas entre céus soberbos, faustos,
E bebo dos terríveis holocaustos
Aonde a sorte inglória a se propor
Traduz as velhas perdas do passado
E molda no futuro tanta treva,
Ainda que esperança tola ceva
O mundo não trará bom resultado.
Vencido pelos medos mais fugazes,
Esculpo do vazio a garatuja
Imensa e tão atroz, por vezes suja
Que em mãos tão poluídas tu me trazes.
Demônios recriados dia a dia,
E neles se estampando esta agonia.
27751
“Sorri o céu, como o humano labor”
Gerado em inconstante vendaval,
Aonde se quisera sempre igual,
Percebo a cada instante imensa dor.
E quando novo tempo irei propor
Vencido pelo vão descomunal
Não vejo ser possível num degrau
Chegar ao mais supremo e raro amor.
Assisto às derrocadas dos meus passos,
E quando ainda teimo em novos traços
Espaços mais diversos reproduzem
Momentos torturantes e venais,
Ausente dos meus olhos portos cais,
Aos naufrágios tempestas me conduzem...
27752
“saúda o sol, benigno, triunfal”
Momentos maviosos, mas fugazes
As dores expressando em tais tenazes
Angústias corriqueiras, ar venal.
Pudesse ter a paz que não mais vejo,
Seria muito bom, um lenitivo,
Mas quando tão cansado, sobrevivo
Percebo quão insólito o desejo
E dele não se vê sequer a sombra
Do que pensara outrora ser capaz,
O mundo num tormento se desfaz
E a vida tão somente cobra e assombra,
O velho marinheiro agora lasso,
O rumo se perdendo já desfaço...
27753
“em mil flechas desponta a catedral”
E tendo nos meus olhos o fatídico
Momento aonde às vezes sendo ofídico
Veneno que ora sorvo em alto grau
Esculpo os meus delírios mais constantes
E deles cada gota me transtorna,
Satânica paisagem que ora adorna
Em fatos tão comuns, meros farsantes
Divergem do que tanto proclamara
Em vozes dissonantes, vida e morte
Devastações sonegam o suporte
Criando da ferida imensa escara.
Escassas ilusões vestes puídas
As sortes sem escusas sendo urdidas...
27754
“e santos de ouro e rosado fulgor”
Jogados sobre falsos patamares,
Gerando os mais soberbos, vis altares
E neles um satânico vigor.
O caos em pandemônios se denota
E o corpo ensangüentado exposto em cruz
De um mártir feito em glória reproduz
O que se poderia além da cota
Ser toda esta inclemência mais vulgar,
Medonhas labaredas, santo ofício,
Aonde se moldara um precipício
Na pútrida impressão a se mostrar
Aquém da santidade de um bom Deus
Traído pelos próprios filhos seus.
27755
“radia então a Hosana e há o rumor”
Em tons por vezes díspares e terríveis,
Matando a redenção em tantos níveis
Deixando em trevas todo o Seu louvor.
A venda sem princípios de um amor
Tornando os Seus clamores inaudíveis
Prostituindo os cantos mais plausíveis
Numa aridez temível, lavrador
Das pútridas quimeras disfarçadas
Em luzes por um Pai abençoadas
Carpindo este cadáver feito em cruz,
Assim a humanidade desvirtua
Uma alma que se fez tão bela e nua,
Satanizando enfim Pobre Jesus...
27756
“dos falcões, este alívolo coral”
Deitado em mar deveras turbulento
Alçando num mergulho em desalento
A natureza explana em forma desigual,
E nesta mais sublime realidade
Diversidade traça as uniões
E nesta maravilha contrapões
Caminhos dissonantes liberdades
E grades de uma imóvel vida, audazes
Estradas entre luzes, trevas, medos,
Assim se decifrando tais segredos
Desvendas e deveras mesmo trazes.
Nos ares e profundos abissais
A vida em suas faces magistrais.
27757
“assim, depois que amor – riso de calma_
Perfez suas vontades mais insanas
Deveras tantas vezes soberanas
Traçando as variedades diversa alma
Expressa maravilhas no não ser
E traça etéreas sanhas porfiando
Temporais num templo atroz e brando
Terríveis dissonâncias de um prazer.
Abrolhos entre flores, plantações
Lavradas com estercos sempre iguais
E quando resultados desiguais
Momentos maviosos tu me expões
No todo feito em nada, realizas
Os vendavais convivem com as brisas...
27758
“nuvens rasgou que me agravaram tanto”
O céu entregue em cores grises, claras
E nelas os anseios que declaras
Gerando muitas vezes desencanto,
Portanto nos meus ermos se porfio
Adentro os mais profundos de minha alma,
Procura que deveras já me acalma
Tornando o meu viver bem menos frio.
E o sol rasgando nuvens me permite
Acreditar num belo amanhecer,
Depois de dentro em mim tanto chover
Uma esperança atinge seu limite
Ascendo aos mais diversos fins sabendo
Que o fim será terrível e estupendo.
27759
“pode exsurgir à luz do sol minha alma”
Enfrentando as neblinas costumeiras,
Por mais que na verdade ainda queiras
Carrego desde sempre antigo trauma
E o peso de uma vida sem limites
Ainda qual vergasta me açoitando,
O velho coração em contrabando
Além do que talvez inda acredites
Levando a minha sorte ao nada ter
Traçando com terrível galhardia
O quadro que pensara alegoria
Descora e pouco a pouco posso ver
A vastidão imensa deste sol,
Vencendo qualquer nuvem no arrebol...
27760
“e lhe sorri multiplicando o santo”
Momento feito em luz e tempestade,
Assisto à fantasia que me invade
E quando me percebo ainda canto.
Gerasse algum tormento em desencanto
Talvez bebesse ainda a realidade,
Mas longe do que sei tranqüilidade,
Também não vou trazer no olhar, o pranto.
Separam-se de mim os meus albores
Deixando prosseguir por onde fores
Os medos mais banais que inda cultivo.
E tendo no vazio a sensação
Dos dias que decerto mostrarão
Motivo pelo qual eu sobrevivo.
27761
“ideal da existência é uma harmonia”
E dela perfazendo o meu caminho
Deveras tantas vezes mais sozinho
Usando como voz a poesia.
Servir aos meus propósitos enfim,
E crer noutra manhã mesmo nublada,
A sorte muitas vezes não diz nada
Tampouco se permite boa ou ruim.
A chuva inevitável jamais tarda
E o peso ainda verga o caminheiro,
As flores se murchando no canteiro
A vida sonegando roupa e farda.
Enfadonhas cantigas ouço além
E sei que junto delas, nada vem...
27762
“o pensamento. E o sentimento é um canto”
E nele se decifram dores, risos,
Às vezes outras não; sinto concisos
Os passos rumo ao belo, ao desencanto.
Adentro tais mistérios e me vejo
Precocemente mesmo, embrutecido,
Pudesse ter apenas num olvido
A morte do que fora algum desejo.
O céu que azulejara em esperança
Negreja-se em terrível tempestade,
E quando se tornou insanidade
Em meio às turbulências sempre avança.
Vivendo da ilusão posso compor
A vida feita em sol e em tanto amor...
HOMENAGEM A GIOSUÈ CARDUCCI
01
‘leves e alvas à plaga ocidental”
Seguindo entre procelas mais ferozes
Vencendo os mais terríveis vãos algozes
Num ato quase insano e triunfal,
Percorrem minhas naus num ritual
Superno entre momentos mais atrozes
Ouvindo das sereias doces vozes,
Vorazes em delírio sensual,
E quando se percebe ao longe o cais,
Momentos muitas vezes magistrais
O velho timoneiro coração
Vagando entre tempestas, direção
(Sabendo desde sempre tanto infausto,)
Esboça alguma luz que inda redima
Após as variantes desta vida
Que embora nos seduza, traz perdida
A senda feita em vário e insano clima...
02
“as nuvens vão: seja por onde for”
Neblinas entre céus soberbos, faustos,
E bebo dos terríveis holocaustos
Aonde a sorte inglória a se propor
Traduz as velhas perdas do passado
E molda no futuro tanta treva,
Ainda que esperança tola ceva
O mundo não trará bom resultado.
Vencido pelos medos mais fugazes,
Esculpo do vazio a garatuja
Imensa e tão atroz, por vezes suja
Que em mãos tão poluídas tu me trazes.
Demônios recriados dia a dia,
E neles se estampando esta agonia.
03
“Sorri o céu, como o humano labor”
Gerado em inconstante vendaval,
Aonde se quisera sempre igual,
Percebo a cada instante imensa dor.
E quando novo tempo irei propor
Vencido pelo vão descomunal
Não vejo ser possível num degrau
Chegar ao mais supremo e raro amor.
Assisto às derrocadas dos meus passos,
E quando ainda teimo em novos traços
Espaços mais diversos reproduzem
Momentos torturantes e venais,
Ausente dos meus olhos portos cais,
Aos naufrágios tempestas me conduzem...
04
“saúda o sol, benigno, triunfal”
Momentos maviosos, mas fugazes
As dores expressando em tais tenazes
Angústias corriqueiras, ar venal.
Pudesse ter a paz que não mais vejo,
Seria muito bom, um lenitivo,
Mas quando tão cansado, sobrevivo
Percebo quão insólito o desejo
E dele não se vê sequer a sombra
Do que pensara outrora ser capaz,
O mundo num tormento se desfaz
E a vida tão somente cobra e assombra,
O velho marinheiro agora lasso,
O rumo se perdendo já desfaço...
05
“em mil flechas desponta a catedral”
E tendo nos meus olhos o fatídico
Momento aonde às vezes sendo ofídico
Veneno que ora sorvo em alto grau
Esculpo os meus delírios mais constantes
E deles cada gota me transtorna,
Satânica paisagem que ora adorna
Em fatos tão comuns, meros farsantes
Divergem do que tanto proclamara
Em vozes dissonantes, vida e morte
Devastações sonegam o suporte
Criando da ferida imensa escara.
Escassas ilusões vestes puídas
As sortes sem escusas sendo urdidas...
06
“e santos de ouro e rosado fulgor”
Jogados sobre falsos patamares,
Gerando os mais soberbos, vis altares
E neles um satânico vigor.
O caos em pandemônios se denota
E o corpo ensangüentado exposto em cruz
De um mártir feito em glória reproduz
O que se poderia além da cota
Ser toda esta inclemência mais vulgar,
Medonhas labaredas, santo ofício,
Aonde se moldara um precipício
Na pútrida impressão a se mostrar
Aquém da santidade de um bom Deus
Traído pelos próprios filhos seus.
07
“radia então a Hosana e há o rumor”
Em tons por vezes díspares e terríveis,
Matando a redenção em tantos níveis
Deixando em trevas todo o Seu louvor.
A venda sem princípios de um amor
Tornando os Seus clamores inaudíveis
Prostituindo os cantos mais plausíveis
Numa aridez temível, lavrador
Das pútridas quimeras disfarçadas
Em luzes por um Pai abençoadas
Carpindo este cadáver feito em cruz,
Assim a humanidade desvirtua
Uma alma que se fez tão bela e nua,
Satanizando enfim Pobre Jesus...
08
“dos falcões, este alívolo coral”
Deitado em mar deveras turbulento
Alçando num mergulho em desalento
A natureza explana em forma desigual,
E nesta mais sublime realidade
Diversidade traça as uniões
E nesta maravilha contrapões
Caminhos dissonantes liberdades
E grades de uma imóvel vida, audazes
Estradas entre luzes, trevas, medos,
Assim se decifrando tais segredos
Desvendas e deveras mesmo trazes.
Nos ares e profundos abissais
A vida em suas faces magistrais.
09
“assim, depois que amor – riso de calma_
Perfez suas vontades mais insanas
Deveras tantas vezes soberanas
Traçando as variedades diversa alma
Expressa maravilhas no não ser
E traça etéreas sanhas porfiando
Temporais num templo atroz e brando
Terríveis dissonâncias de um prazer.
Abrolhos entre flores, plantações
Lavradas com estercos sempre iguais
E quando resultados desiguais
Momentos maviosos tu me expões
No todo feito em nada, realizas
Os vendavais convivem com as brisas...
10
“nuvens rasgou que me agravaram tanto”
O céu entregue em cores grises, claras
E nelas os anseios que declaras
Gerando muitas vezes desencanto,
Portanto nos meus ermos se porfio
Adentro os mais profundos de minha alma,
Procura que deveras já me acalma
Tornando o meu viver bem menos frio.
E o sol rasgando nuvens me permite
Acreditar num belo amanhecer,
Depois de dentro em mim tanto chover
Uma esperança atinge seu limite
Ascendo aos mais diversos fins sabendo
Que o fim será terrível e estupendo.
11
“pode exsurgir à luz do sol minha alma”
Enfrentando as neblinas costumeiras,
Por mais que na verdade ainda queiras
Carrego desde sempre antigo trauma
E o peso de uma vida sem limites
Ainda qual vergasta me açoitando,
O velho coração em contrabando
Além do que talvez inda acredites
Levando a minha sorte ao nada ter
Traçando com terrível galhardia
O quadro que pensara alegoria
Descora e pouco a pouco posso ver
A vastidão imensa deste sol,
Vencendo qualquer nuvem no arrebol...
12
“e lhe sorri multiplicando o santo”
Momento feito em luz e tempestade,
Assisto à fantasia que me invade
E quando me percebo ainda canto.
Gerasse algum tormento em desencanto
Talvez bebesse ainda a realidade,
Mas longe do que sei tranqüilidade,
Também não vou trazer no olhar, o pranto.
Separam-se de mim os meus albores
Deixando prosseguir por onde fores
Os medos mais banais que inda cultivo.
E tendo no vazio a sensação
Dos dias que decerto mostrarão
Motivo pelo qual eu sobrevivo.
13
“ideal da existência é uma harmonia”
E dela perfazendo o meu caminho
Deveras tantas vezes mais sozinho
Usando como voz a poesia.
Servir aos meus propósitos enfim,
E crer noutra manhã mesmo nublada,
A sorte muitas vezes não diz nada
Tampouco se permite boa ou ruim.
A chuva inevitável jamais tarda
E o peso ainda verga o caminheiro,
As flores se murchando no canteiro
A vida sonegando roupa e farda.
Enfadonhas cantigas ouço além
E sei que junto delas, nada vem...
14
“o pensamento. E o sentimento é um canto”
E nele se decifram dores, risos,
Às vezes outras não; sinto concisos
Os passos rumo ao belo, ao desencanto.
Adentro tais mistérios e me vejo
Precocemente mesmo, embrutecido,
Pudesse ter apenas num olvido
A morte do que fora algum desejo.
O céu que azulejara em esperança
Negreja-se em terrível tempestade,
E quando se tornou insanidade
Em meio às turbulências sempre avança.
Vivendo da ilusão posso compor
A vida feita em sol e em tanto amor...
Homenagem a Giosuè Carducci
SOL E AMOR
VERSÃO DE C. Tavares Bastos
‘leves e alvas à plaga ocidental”
Seguindo entre procelas mais ferozes
Vencendo os mais terríveis vãos algozes
Num ato quase insano e triunfal,
Percorrem minhas naus num ritual
Superno entre momentos mais atrozes
Ouvindo das sereias doces vozes,
Vorazes em delírio sensual,
E quando se percebe ao longe o cais,
Momentos muitas vezes magistrais
O velho timoneiro coração
Vagando entre tempestas, direção
(Sabendo desde sempre tanto infausto,)
Esboça alguma luz que inda redima
Após as variantes desta vida
Que embora nos seduza, traz perdida
A senda feita em vário e insano clima...
02
“as nuvens vão: seja por onde for”
Neblinas entre céus soberbos, faustos,
E bebo dos terríveis holocaustos
Aonde a sorte inglória a se propor
Traduz as velhas perdas do passado
E molda no futuro tanta treva,
Ainda que esperança tola ceva
O mundo não trará bom resultado.
Vencido pelos medos mais fugazes,
Esculpo do vazio a garatuja
Imensa e tão atroz, por vezes suja
Que em mãos tão poluídas tu me trazes.
Demônios recriados dia a dia,
E neles se estampando esta agonia.
03
“Sorri o céu, como o humano labor”
Gerado em inconstante vendaval,
Aonde se quisera sempre igual,
Percebo a cada instante imensa dor.
E quando novo tempo irei propor
Vencido pelo vão descomunal
Não vejo ser possível num degrau
Chegar ao mais supremo e raro amor.
Assisto às derrocadas dos meus passos,
E quando ainda teimo em novos traços
Espaços mais diversos reproduzem
Momentos torturantes e venais,
Ausente dos meus olhos portos cais,
Aos naufrágios tempestas me conduzem...
04
“saúda o sol, benigno, triunfal”
Momentos maviosos, mas fugazes
As dores expressando em tais tenazes
Angústias corriqueiras, ar venal.
Pudesse ter a paz que não mais vejo,
Seria muito bom, um lenitivo,
Mas quando tão cansado, sobrevivo
Percebo quão insólito o desejo
E dele não se vê sequer a sombra
Do que pensara outrora ser capaz,
O mundo num tormento se desfaz
E a vida tão somente cobra e assombra,
O velho marinheiro agora lasso,
O rumo se perdendo já desfaço...
05
“em mil flechas desponta a catedral”
E tendo nos meus olhos o fatídico
Momento aonde às vezes sendo ofídico
Veneno que ora sorvo em alto grau
Esculpo os meus delírios mais constantes
E deles cada gota me transtorna,
Satânica paisagem que ora adorna
Em fatos tão comuns, meros farsantes
Divergem do que tanto proclamara
Em vozes dissonantes, vida e morte
Devastações sonegam o suporte
Criando da ferida imensa escara.
Escassas ilusões vestes puídas
As sortes sem escusas sendo urdidas...
06
“e santos de ouro e rosado fulgor”
Jogados sobre falsos patamares,
Gerando os mais soberbos, vis altares
E neles um satânico vigor.
O caos em pandemônios se denota
E o corpo ensangüentado exposto em cruz
De um mártir feito em glória reproduz
O que se poderia além da cota
Ser toda esta inclemência mais vulgar,
Medonhas labaredas, santo ofício,
Aonde se moldara um precipício
Na pútrida impressão a se mostrar
Aquém da santidade de um bom Deus
Traído pelos próprios filhos seus.
07
“radia então a Hosana e há o rumor”
Em tons por vezes díspares e terríveis,
Matando a redenção em tantos níveis
Deixando em trevas todo o Seu louvor.
A venda sem princípios de um amor
Tornando os Seus clamores inaudíveis
Prostituindo os cantos mais plausíveis
Numa aridez temível, lavrador
Das pútridas quimeras disfarçadas
Em luzes por um Pai abençoadas
Carpindo este cadáver feito em cruz,
Assim a humanidade desvirtua
Uma alma que se fez tão bela e nua,
Satanizando enfim Pobre Jesus...
08
“dos falcões, este alívolo coral”
Deitado em mar deveras turbulento
Alçando num mergulho em desalento
A natureza explana em forma desigual,
E nesta mais sublime realidade
Diversidade traça as uniões
E nesta maravilha contrapões
Caminhos dissonantes liberdades
E grades de uma imóvel vida, audazes
Estradas entre luzes, trevas, medos,
Assim se decifrando tais segredos
Desvendas e deveras mesmo trazes.
Nos ares e profundos abissais
A vida em suas faces magistrais.
09
“assim, depois que amor – riso de calma_
Perfez suas vontades mais insanas
Deveras tantas vezes soberanas
Traçando as variedades diversa alma
Expressa maravilhas no não ser
E traça etéreas sanhas porfiando
Temporais num templo atroz e brando
Terríveis dissonâncias de um prazer.
Abrolhos entre flores, plantações
Lavradas com estercos sempre iguais
E quando resultados desiguais
Momentos maviosos tu me expões
No todo feito em nada, realizas
Os vendavais convivem com as brisas...
10
“nuvens rasgou que me agravaram tanto”
O céu entregue em cores grises, claras
E nelas os anseios que declaras
Gerando muitas vezes desencanto,
Portanto nos meus ermos se porfio
Adentro os mais profundos de minha alma,
Procura que deveras já me acalma
Tornando o meu viver bem menos frio.
E o sol rasgando nuvens me permite
Acreditar num belo amanhecer,
Depois de dentro em mim tanto chover
Uma esperança atinge seu limite
Ascendo aos mais diversos fins sabendo
Que o fim será terrível e estupendo.
11
“pode exsurgir à luz do sol minha alma”
Enfrentando as neblinas costumeiras,
Por mais que na verdade ainda queiras
Carrego desde sempre antigo trauma
E o peso de uma vida sem limites
Ainda qual vergasta me açoitando,
O velho coração em contrabando
Além do que talvez inda acredites
Levando a minha sorte ao nada ter
Traçando com terrível galhardia
O quadro que pensara alegoria
Descora e pouco a pouco posso ver
A vastidão imensa deste sol,
Vencendo qualquer nuvem no arrebol...
12
“e lhe sorri multiplicando o santo”
Momento feito em luz e tempestade,
Assisto à fantasia que me invade
E quando me percebo ainda canto.
Gerasse algum tormento em desencanto
Talvez bebesse ainda a realidade,
Mas longe do que sei tranqüilidade,
Também não vou trazer no olhar, o pranto.
Separam-se de mim os meus albores
Deixando prosseguir por onde fores
Os medos mais banais que inda cultivo.
E tendo no vazio a sensação
Dos dias que decerto mostrarão
Motivo pelo qual eu sobrevivo.
13
“ideal da existência é uma harmonia”
E dela perfazendo o meu caminho
Deveras tantas vezes mais sozinho
Usando como voz a poesia.
Servir aos meus propósitos enfim,
E crer noutra manhã mesmo nublada,
A sorte muitas vezes não diz nada
Tampouco se permite boa ou ruim.
A chuva inevitável jamais tarda
E o peso ainda verga o caminheiro,
As flores se murchando no canteiro
A vida sonegando roupa e farda.
Enfadonhas cantigas ouço além
E sei que junto delas, nada vem...
14
“o pensamento. E o sentimento é um canto”
E nele se decifram dores, risos,
Às vezes outras não; sinto concisos
Os passos rumo ao belo, ao desencanto.
Adentro tais mistérios e me vejo
Precocemente mesmo, embrutecido,
Pudesse ter apenas num olvido
A morte do que fora algum desejo.
O céu que azulejara em esperança
Negreja-se em terrível tempestade,
E quando se tornou insanidade
Em meio às turbulências sempre avança.
Vivendo da ilusão posso compor
A vida feita em sol e em tanto amor...
Homenagem a Giosuè Carducci
SOL E AMOR
VERSÃO DE C. Tavares Bastos
HOMENAGEM A CERVANTES
01
“da umbrosa noite no silêncio, quando
Encontros os meus temores frente a frente
O mundo se transforma e de repente
O sonho ora percebo desabando,
Aonde se quisera bem mais brando,
A fúria devastando, tão ardente,
Por mais que uma esperança se apresente
A vida se pressente torturando.
Mas resta alguma luz na madrugada
Qual fora simplesmente luminária
E a sorte que percebo procelária
Deveras noutra face transmudada.
Resisto, tão somente e nada mais,
Umbrosa noite em fartos vendavais...
02
“meigo sono refaz os mais viventes”
Anseios que inda guardo dentro em mim,
Podendo ser feliz, quem sabe assim,
Os dias serão claros e envolventes,
Por mais que novos rumos inda tentes
Percebo raras flores no jardim
Que tanto cultivara e sei que enfim
Os dias não serão mais penitentes.
Assisto ao meu momento benfazejo
E um novo tempo agora já prevejo
Nascendo dentro da alma esta esperança.
Revigorando o passo pelo qual
Consigo alçar a paz que, triunfal
No peito enamorado adentra e avança.
03
“só eu vou meus martírios inclementes”
Nefastas madrugadas solitárias
Aonde se esconderam luminárias
Seguindo sem ninguém, tolas sementes
No solo aonde em glórias mais ausentes
Plantara com paixão, mas temerárias
Manhãs como terríveis procelárias
Cevaram tantas urzes entrementes.
Percorro os descaminhos contumazes
E neles só tristezas tu me trazes
Deixando cicatrizes mais profundas.
E assim ao perceber a invalidez
Do sonho que deveras se desfez
E agora com terror sem paz, inundas...
04
“aos céus e à minha (Diva) numerando”
Perpétuas emoções volvendo à tona,
A sorte dos meus sonhos já se adona
As dores se afastando em tosco bando.
Meu corpo deste sonho se adornando,
A dor que dominara me abandona
Uma alma em paz agora enfim ressona
Enquanto se percebe se alentando.
Vestígios das torturas do passado,
Futuro com prazeres vislumbrado
Enamorado encontro o que decerto
Durante a vida inteira procurara
Manhã se torna bela, imensa e clara
E o medo dia a dia, mais deserto.
05
“quando o dia os seus raios vem mostrando”
Bebendo desta luz que me inebria
Deixando adormecida uma agonia
O coração em paz se demonstrando.
Acerco-me das luzes mais intensas
E bebo desta rara maravilha,
Minha alma por espaços belos trilha
Enquanto neste amor que sonho, pensas.
Ao me entregar sem medo e sem pudores
Jamais me imaginara tão feliz,
E tendo o que deveras sempre quis
Podendo usufruir perfumes, flores,
Matizes de um amor puro e sincero,
Traduzem nesta vida o que mais quero.
06
“dentre as rosas d’aurora auriesplendentes”
A luz iridescente deste olhar
Suprema maravilha a me tocar
Na imensa claridade que apresentes.
Fugazes emoções? Já não as quero,
Desejo ter em ti esposa e amante,
O dia se mostrando deslumbrante
Traduz o que ora sinto e sou sincero.
Percorro eternidade nos teus braços
E vago por sidéreas ilusões
Entranham-se diversas seduções
E assim vão se estreitando nossos laços.
A par deste desejo tens em mim,
Da vida o seu princípio, meio e fim...
07
“com suspiros e lágrimas ferventes”
Expões sublimes rotas pela vida
Não vejo e nem pretendo despedida
No amor que tanto queres, somos crentes.
Apego-me aos desejos e delírios
E deles traço o rumo do viver,
Aonde se encontrasse tal prazer
Deixando para trás velhos martírios.
Sedentos caminheiros vida afora
O amor que a cada instante se demora
Permite um tempo em paz, suave e manso.
Contigo muito além desta emoção
Momentos de ternura e de paixão
Eternos e sublimes eu alcanço...
08
“vou as teimosas queixas renovando”
E tendo nos meus olhos a certeza
De um dia feito em trevas e tristeza
A sorte a cada dia destroçando
O que pensara outrora em bem querer
E vejo a tempestade no horizonte,
Por mais que outro caminho já se aponte
Somente encontrarei o desprazer.
Esgarçam-se ilusões, morrendo aos poucos
O dia a dia passa e nada vem,
Ao perceber a vida sem ninguém
Momentos de alegria? Agora loucos.
Renovo minhas queixas, ninguém vê
Procuro uma emoção, porém, cadê?
09
“se doura o sol a prumo o térreo assento”
E toma este arrebol no qual insisto
Vivendo esta alegria se benquisto
Caminho se expressando em pleno vento.
Não posso me negar a ter nas mãos
Realidade aonde se mostrasse
Além do que se fora algum impasse
Tormentos do passado, amargos, vãos.
E sendo traiçoeira a leda sorte,
Procuro eternizar felicidade
E mesmo que este mundo se degrade
Mantenho neste amor, um vivo aporte.
E quero renovada esta esperança,
Por mais que a dor insista na lembrança...
10
“não me dissipa as trevas da agonia”
O dia a dia feito em dor e pranto,
E quanto mais atroz sinto o meu canto
Felicidade então se faz esguia.
Pudesse ter nos olhos a alegria
Somente o que se mostra, desencanto,
Tocando com terror temível manto,
O luto em plena vida se porfia.
Vasculho pelos ermos de minha alma
Procuro qualquer luz que traga a calma
E nada se mostrando, sigo assim.
Espectro do que fora viva plena,
A morte sorridente já me acena,
Trazendo como alento então meu fim...
11
“dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos”
E nada poderia me trazer
Algum vestígio mesmo de um prazer
Se os dias demonstraram-se perdidos.
O fardo do viver se torna imenso,
Agônica expressão de uma tristeza
Lutando contra a fúria em correnteza
No amor que já perdi ainda penso,
E sei que no final não restaria
Sequer a cicatriz que ora cultivo,
Dos sonhos mais atrozes, vou cativo
Numa explosão de dor, farta agonia.
Quisera ter nos olhos, tolos meus
Aquela que se foi em triste adeus...
12
“volve a noite, e eu com ela ao meu lamento”
Jamais se poderia imaginar
Momento mais feliz a se encontrar
Exposto ao mais terrível sofrimento.
Não pude discernir luz de sombria
Imagem delicada que pensara
Ser sempre iluminada bela e clara
E agora se transforma em fantasia.
Medonhos os caminhos de quem ama,
Terrificantes noites solitárias,
As horas quais nefastas procelárias
Apagam o que fosse mansa chama,
E trago bem aberta em mim a chaga
Somente a morte enfim inda me afaga.
13
“ai! Que sorte! Implorar de noite e dia”
Pelo amor de quem tanto desejara
A sorte se mostrando quase rara
O sofrimento ao longe não se via,
Assim a minha história transcorria
Deixando para trás a dor amara
Enquanto esta ilusão voraz me ampara
Encontro nos teus braços a alegria.
Mas tudo tem seu fim, disso eu bem sei,
Não fomos exceção à dura lei
E a queda deste império então se fez.
Aonde houvera brilho, escuridão,
Inverno dominando este verão
Restando tão somente a insensatez.
14
“ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos”
É tudo o que ora clamo em fim de vida,
A sorte se mostrando já perdida,
Os dias em negrume decididos,
Momentos maviosos esquecidos,
Aguardando em silêncio a despedida
Cultivo sem remorsos a ferida
Risonhos campos nunca percebidos.
E atrozes as manhãs em névoas feitas
Enquanto além do amor tu te deleitas,
Nefasta realidade se traduz
Dos píncaros aos grandes abissais
A vida me responde nunca mais,
E sigo sem saber se existe luz!
HOMENAGEM A MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA
TRADUÇÃO DE VISCONDES DE CASTILHO E AZEVEDO.
“da umbrosa noite no silêncio, quando
Encontros os meus temores frente a frente
O mundo se transforma e de repente
O sonho ora percebo desabando,
Aonde se quisera bem mais brando,
A fúria devastando, tão ardente,
Por mais que uma esperança se apresente
A vida se pressente torturando.
Mas resta alguma luz na madrugada
Qual fora simplesmente luminária
E a sorte que percebo procelária
Deveras noutra face transmudada.
Resisto, tão somente e nada mais,
Umbrosa noite em fartos vendavais...
02
“meigo sono refaz os mais viventes”
Anseios que inda guardo dentro em mim,
Podendo ser feliz, quem sabe assim,
Os dias serão claros e envolventes,
Por mais que novos rumos inda tentes
Percebo raras flores no jardim
Que tanto cultivara e sei que enfim
Os dias não serão mais penitentes.
Assisto ao meu momento benfazejo
E um novo tempo agora já prevejo
Nascendo dentro da alma esta esperança.
Revigorando o passo pelo qual
Consigo alçar a paz que, triunfal
No peito enamorado adentra e avança.
03
“só eu vou meus martírios inclementes”
Nefastas madrugadas solitárias
Aonde se esconderam luminárias
Seguindo sem ninguém, tolas sementes
No solo aonde em glórias mais ausentes
Plantara com paixão, mas temerárias
Manhãs como terríveis procelárias
Cevaram tantas urzes entrementes.
Percorro os descaminhos contumazes
E neles só tristezas tu me trazes
Deixando cicatrizes mais profundas.
E assim ao perceber a invalidez
Do sonho que deveras se desfez
E agora com terror sem paz, inundas...
04
“aos céus e à minha (Diva) numerando”
Perpétuas emoções volvendo à tona,
A sorte dos meus sonhos já se adona
As dores se afastando em tosco bando.
Meu corpo deste sonho se adornando,
A dor que dominara me abandona
Uma alma em paz agora enfim ressona
Enquanto se percebe se alentando.
Vestígios das torturas do passado,
Futuro com prazeres vislumbrado
Enamorado encontro o que decerto
Durante a vida inteira procurara
Manhã se torna bela, imensa e clara
E o medo dia a dia, mais deserto.
05
“quando o dia os seus raios vem mostrando”
Bebendo desta luz que me inebria
Deixando adormecida uma agonia
O coração em paz se demonstrando.
Acerco-me das luzes mais intensas
E bebo desta rara maravilha,
Minha alma por espaços belos trilha
Enquanto neste amor que sonho, pensas.
Ao me entregar sem medo e sem pudores
Jamais me imaginara tão feliz,
E tendo o que deveras sempre quis
Podendo usufruir perfumes, flores,
Matizes de um amor puro e sincero,
Traduzem nesta vida o que mais quero.
06
“dentre as rosas d’aurora auriesplendentes”
A luz iridescente deste olhar
Suprema maravilha a me tocar
Na imensa claridade que apresentes.
Fugazes emoções? Já não as quero,
Desejo ter em ti esposa e amante,
O dia se mostrando deslumbrante
Traduz o que ora sinto e sou sincero.
Percorro eternidade nos teus braços
E vago por sidéreas ilusões
Entranham-se diversas seduções
E assim vão se estreitando nossos laços.
A par deste desejo tens em mim,
Da vida o seu princípio, meio e fim...
07
“com suspiros e lágrimas ferventes”
Expões sublimes rotas pela vida
Não vejo e nem pretendo despedida
No amor que tanto queres, somos crentes.
Apego-me aos desejos e delírios
E deles traço o rumo do viver,
Aonde se encontrasse tal prazer
Deixando para trás velhos martírios.
Sedentos caminheiros vida afora
O amor que a cada instante se demora
Permite um tempo em paz, suave e manso.
Contigo muito além desta emoção
Momentos de ternura e de paixão
Eternos e sublimes eu alcanço...
08
“vou as teimosas queixas renovando”
E tendo nos meus olhos a certeza
De um dia feito em trevas e tristeza
A sorte a cada dia destroçando
O que pensara outrora em bem querer
E vejo a tempestade no horizonte,
Por mais que outro caminho já se aponte
Somente encontrarei o desprazer.
Esgarçam-se ilusões, morrendo aos poucos
O dia a dia passa e nada vem,
Ao perceber a vida sem ninguém
Momentos de alegria? Agora loucos.
Renovo minhas queixas, ninguém vê
Procuro uma emoção, porém, cadê?
09
“se doura o sol a prumo o térreo assento”
E toma este arrebol no qual insisto
Vivendo esta alegria se benquisto
Caminho se expressando em pleno vento.
Não posso me negar a ter nas mãos
Realidade aonde se mostrasse
Além do que se fora algum impasse
Tormentos do passado, amargos, vãos.
E sendo traiçoeira a leda sorte,
Procuro eternizar felicidade
E mesmo que este mundo se degrade
Mantenho neste amor, um vivo aporte.
E quero renovada esta esperança,
Por mais que a dor insista na lembrança...
10
“não me dissipa as trevas da agonia”
O dia a dia feito em dor e pranto,
E quanto mais atroz sinto o meu canto
Felicidade então se faz esguia.
Pudesse ter nos olhos a alegria
Somente o que se mostra, desencanto,
Tocando com terror temível manto,
O luto em plena vida se porfia.
Vasculho pelos ermos de minha alma
Procuro qualquer luz que traga a calma
E nada se mostrando, sigo assim.
Espectro do que fora viva plena,
A morte sorridente já me acena,
Trazendo como alento então meu fim...
11
“dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos”
E nada poderia me trazer
Algum vestígio mesmo de um prazer
Se os dias demonstraram-se perdidos.
O fardo do viver se torna imenso,
Agônica expressão de uma tristeza
Lutando contra a fúria em correnteza
No amor que já perdi ainda penso,
E sei que no final não restaria
Sequer a cicatriz que ora cultivo,
Dos sonhos mais atrozes, vou cativo
Numa explosão de dor, farta agonia.
Quisera ter nos olhos, tolos meus
Aquela que se foi em triste adeus...
12
“volve a noite, e eu com ela ao meu lamento”
Jamais se poderia imaginar
Momento mais feliz a se encontrar
Exposto ao mais terrível sofrimento.
Não pude discernir luz de sombria
Imagem delicada que pensara
Ser sempre iluminada bela e clara
E agora se transforma em fantasia.
Medonhos os caminhos de quem ama,
Terrificantes noites solitárias,
As horas quais nefastas procelárias
Apagam o que fosse mansa chama,
E trago bem aberta em mim a chaga
Somente a morte enfim inda me afaga.
13
“ai! Que sorte! Implorar de noite e dia”
Pelo amor de quem tanto desejara
A sorte se mostrando quase rara
O sofrimento ao longe não se via,
Assim a minha história transcorria
Deixando para trás a dor amara
Enquanto esta ilusão voraz me ampara
Encontro nos teus braços a alegria.
Mas tudo tem seu fim, disso eu bem sei,
Não fomos exceção à dura lei
E a queda deste império então se fez.
Aonde houvera brilho, escuridão,
Inverno dominando este verão
Restando tão somente a insensatez.
14
“ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos”
É tudo o que ora clamo em fim de vida,
A sorte se mostrando já perdida,
Os dias em negrume decididos,
Momentos maviosos esquecidos,
Aguardando em silêncio a despedida
Cultivo sem remorsos a ferida
Risonhos campos nunca percebidos.
E atrozes as manhãs em névoas feitas
Enquanto além do amor tu te deleitas,
Nefasta realidade se traduz
Dos píncaros aos grandes abissais
A vida me responde nunca mais,
E sigo sem saber se existe luz!
HOMENAGEM A MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA
TRADUÇÃO DE VISCONDES DE CASTILHO E AZEVEDO.
27735 até 27748
27735
“da umbrosa noite no silêncio, quando
Encontros os meus temores frente a frente
O mundo se transforma e de repente
O sonho ora percebo desabando,
Aonde se quisera bem mais brando,
A fúria devastando, tão ardente,
Por mais que uma esperança se apresente
A vida se pressente torturando.
Mas resta alguma luz na madrugada
Qual fora simplesmente luminária
E a sorte que percebo procelária
Deveras noutra face transmudada.
Resisto, tão somente e nada mais,
Umbrosa noite em fartos vendavais...
27736
“meigo sono refaz os mais viventes”
Anseios que inda guardo dentro em mim,
Podendo ser feliz, quem sabe assim,
Os dias serão claros e envolventes,
Por mais que novos rumos inda tentes
Percebo raras flores no jardim
Que tanto cultivara e sei que enfim
Os dias não serão mais penitentes.
Assisto ao meu momento benfazejo
E um novo tempo agora já prevejo
Nascendo dentro da alma esta esperança.
Revigorando o passo pelo qual
Consigo alçar a paz que, triunfal
No peito enamorado adentra e avança.
27737
“só eu vou meus martírios inclementes”
Nefastas madrugadas solitárias
Aonde se esconderam luminárias
Seguindo sem ninguém, tolas sementes
No solo aonde em glórias mais ausentes
Plantara com paixão, mas temerárias
Manhãs como terríveis procelárias
Cevaram tantas urzes entrementes.
Percorro os descaminhos contumazes
E neles só tristezas tu me trazes
Deixando cicatrizes mais profundas.
E assim ao perceber a invalidez
Do sonho que deveras se desfez
E agora com terror sem paz, inundas...
27738
“aos céus e à minha (Diva) numerando”
Perpétuas emoções volvendo à tona,
A sorte dos meus sonhos já se adona
As dores se afastando em tosco bando.
Meu corpo deste sonho se adornando,
A dor que dominara me abandona
Uma alma em paz agora enfim ressona
Enquanto se percebe se alentando.
Vestígios das torturas do passado,
Futuro com prazeres vislumbrado
Enamorado encontro o que decerto
Durante a vida inteira procurara
Manhã se torna bela, imensa e clara
E o medo dia a dia, mais deserto.
27739
“quando o dia os seus raios vem mostrando”
Bebendo desta luz que me inebria
Deixando adormecida uma agonia
O coração em paz se demonstrando.
Acerco-me das luzes mais intensas
E bebo desta rara maravilha,
Minha alma por espaços belos trilha
Enquanto neste amor que sonho, pensas.
Ao me entregar sem medo e sem pudores
Jamais me imaginara tão feliz,
E tendo o que deveras sempre quis
Podendo usufruir perfumes, flores,
Matizes de um amor puro e sincero,
Traduzem nesta vida o que mais quero.
27740
“dentre as rosas d’aurora auriesplendentes”
A luz iridescente deste olhar
Suprema maravilha a me tocar
Na imensa claridade que apresentes.
Fugazes emoções? Já não as quero,
Desejo ter em ti esposa e amante,
O dia se mostrando deslumbrante
Traduz o que ora sinto e sou sincero.
Percorro eternidade nos teus braços
E vago por sidéreas ilusões
Entranham-se diversas seduções
E assim vão se estreitando nossos laços.
A par deste desejo tens em mim,
Da vida o seu princípio, meio e fim...
27741
“com suspiros e lágrimas ferventes”
Expões sublimes rotas pela vida
Não vejo e nem pretendo despedida
No amor que tanto queres, somos crentes.
Apego-me aos desejos e delírios
E deles traço o rumo do viver,
Aonde se encontrasse tal prazer
Deixando para trás velhos martírios.
Sedentos caminheiros vida afora
O amor que a cada instante se demora
Permite um tempo em paz, suave e manso.
Contigo muito além desta emoção
Momentos de ternura e de paixão
Eternos e sublimes eu alcanço...
27742
“vou as teimosas queixas renovando”
E tendo nos meus olhos a certeza
De um dia feito em trevas e tristeza
A sorte a cada dia destroçando
O que pensara outrora em bem querer
E vejo a tempestade no horizonte,
Por mais que outro caminho já se aponte
Somente encontrarei o desprazer.
Esgarçam-se ilusões, morrendo aos poucos
O dia a dia passa e nada vem,
Ao perceber a vida sem ninguém
Momentos de alegria? Agora loucos.
Renovo minhas queixas, ninguém vê
Procuro uma emoção, porém, cadê?
27743
“se doura o sol a prumo o térreo assento”
E toma este arrebol no qual insisto
Vivendo esta alegria se benquisto
Caminho se expressando em pleno vento.
Não posso me negar a ter nas mãos
Realidade aonde se mostrasse
Além do que se fora algum impasse
Tormentos do passado, amargos, vãos.
E sendo traiçoeira a leda sorte,
Procuro eternizar felicidade
E mesmo que este mundo se degrade
Mantenho neste amor, um vivo aporte.
E quero renovada esta esperança,
Por mais que a dor insista na lembrança...
27744
“não me dissipa as trevas da agonia”
O dia a dia feito em dor e pranto,
E quanto mais atroz sinto o meu canto
Felicidade então se faz esguia.
Pudesse ter nos olhos a alegria
Somente o que se mostra, desencanto,
Tocando com terror temível manto,
O luto em plena vida se porfia.
Vasculho pelos ermos de minha alma
Procuro qualquer luz que traga a calma
E nada se mostrando, sigo assim.
Espectro do que fora viva plena,
A morte sorridente já me acena,
Trazendo como alento então meu fim...
27745
“dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos”
E nada poderia me trazer
Algum vestígio mesmo de um prazer
Se os dias demonstraram-se perdidos.
O fardo do viver se torna imenso,
Agônica expressão de uma tristeza
Lutando contra a fúria em correnteza
No amor que já perdi ainda penso,
E sei que no final não restaria
Sequer a cicatriz que ora cultivo,
Dos sonhos mais atrozes, vou cativo
Numa explosão de dor, farta agonia.
Quisera ter nos olhos, tolos meus
Aquela que se foi em triste adeus...
27746
“volve a noite, e eu com ela ao meu lamento”
Jamais se poderia imaginar
Momento mais feliz a se encontrar
Exposto ao mais terrível sofrimento.
Não pude discernir luz de sombria
Imagem delicada que pensara
Ser sempre iluminada bela e clara
E agora se transforma em fantasia.
Medonhos os caminhos de quem ama,
Terrificantes noites solitárias,
As horas quais nefastas procelárias
Apagam o que fosse mansa chama,
E trago bem aberta em mim a chaga
Somente a morte enfim inda me afaga.
27747
“ai! Que sorte! Implorar de noite e dia”
Pelo amor de quem tanto desejara
A sorte se mostrando quase rara
O sofrimento ao longe não se via,
Assim a minha história transcorria
Deixando para trás a dor amara
Enquanto esta ilusão voraz me ampara
Encontro nos teus braços a alegria.
Mas tudo tem seu fim, disso eu bem sei,
Não fomos exceção à dura lei
E a queda deste império então se fez.
Aonde houvera brilho, escuridão,
Inverno dominando este verão
Restando tão somente a insensatez.
27748
“ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos”
É tudo o que ora clamo em fim de vida,
A sorte se mostrando já perdida,
Os dias em negrume decididos,
Momentos maviosos esquecidos,
Aguardando em silêncio a despedida
Cultivo sem remorsos a ferida
Risonhos campos nunca percebidos.
E atrozes as manhãs em névoas feitas
Enquanto além do amor tu te deleitas,
Nefasta realidade se traduz
Dos píncaros aos grandes abissais
A vida me responde nunca mais,
E sigo sem saber se existe luz!
“da umbrosa noite no silêncio, quando
Encontros os meus temores frente a frente
O mundo se transforma e de repente
O sonho ora percebo desabando,
Aonde se quisera bem mais brando,
A fúria devastando, tão ardente,
Por mais que uma esperança se apresente
A vida se pressente torturando.
Mas resta alguma luz na madrugada
Qual fora simplesmente luminária
E a sorte que percebo procelária
Deveras noutra face transmudada.
Resisto, tão somente e nada mais,
Umbrosa noite em fartos vendavais...
27736
“meigo sono refaz os mais viventes”
Anseios que inda guardo dentro em mim,
Podendo ser feliz, quem sabe assim,
Os dias serão claros e envolventes,
Por mais que novos rumos inda tentes
Percebo raras flores no jardim
Que tanto cultivara e sei que enfim
Os dias não serão mais penitentes.
Assisto ao meu momento benfazejo
E um novo tempo agora já prevejo
Nascendo dentro da alma esta esperança.
Revigorando o passo pelo qual
Consigo alçar a paz que, triunfal
No peito enamorado adentra e avança.
27737
“só eu vou meus martírios inclementes”
Nefastas madrugadas solitárias
Aonde se esconderam luminárias
Seguindo sem ninguém, tolas sementes
No solo aonde em glórias mais ausentes
Plantara com paixão, mas temerárias
Manhãs como terríveis procelárias
Cevaram tantas urzes entrementes.
Percorro os descaminhos contumazes
E neles só tristezas tu me trazes
Deixando cicatrizes mais profundas.
E assim ao perceber a invalidez
Do sonho que deveras se desfez
E agora com terror sem paz, inundas...
27738
“aos céus e à minha (Diva) numerando”
Perpétuas emoções volvendo à tona,
A sorte dos meus sonhos já se adona
As dores se afastando em tosco bando.
Meu corpo deste sonho se adornando,
A dor que dominara me abandona
Uma alma em paz agora enfim ressona
Enquanto se percebe se alentando.
Vestígios das torturas do passado,
Futuro com prazeres vislumbrado
Enamorado encontro o que decerto
Durante a vida inteira procurara
Manhã se torna bela, imensa e clara
E o medo dia a dia, mais deserto.
27739
“quando o dia os seus raios vem mostrando”
Bebendo desta luz que me inebria
Deixando adormecida uma agonia
O coração em paz se demonstrando.
Acerco-me das luzes mais intensas
E bebo desta rara maravilha,
Minha alma por espaços belos trilha
Enquanto neste amor que sonho, pensas.
Ao me entregar sem medo e sem pudores
Jamais me imaginara tão feliz,
E tendo o que deveras sempre quis
Podendo usufruir perfumes, flores,
Matizes de um amor puro e sincero,
Traduzem nesta vida o que mais quero.
27740
“dentre as rosas d’aurora auriesplendentes”
A luz iridescente deste olhar
Suprema maravilha a me tocar
Na imensa claridade que apresentes.
Fugazes emoções? Já não as quero,
Desejo ter em ti esposa e amante,
O dia se mostrando deslumbrante
Traduz o que ora sinto e sou sincero.
Percorro eternidade nos teus braços
E vago por sidéreas ilusões
Entranham-se diversas seduções
E assim vão se estreitando nossos laços.
A par deste desejo tens em mim,
Da vida o seu princípio, meio e fim...
27741
“com suspiros e lágrimas ferventes”
Expões sublimes rotas pela vida
Não vejo e nem pretendo despedida
No amor que tanto queres, somos crentes.
Apego-me aos desejos e delírios
E deles traço o rumo do viver,
Aonde se encontrasse tal prazer
Deixando para trás velhos martírios.
Sedentos caminheiros vida afora
O amor que a cada instante se demora
Permite um tempo em paz, suave e manso.
Contigo muito além desta emoção
Momentos de ternura e de paixão
Eternos e sublimes eu alcanço...
27742
“vou as teimosas queixas renovando”
E tendo nos meus olhos a certeza
De um dia feito em trevas e tristeza
A sorte a cada dia destroçando
O que pensara outrora em bem querer
E vejo a tempestade no horizonte,
Por mais que outro caminho já se aponte
Somente encontrarei o desprazer.
Esgarçam-se ilusões, morrendo aos poucos
O dia a dia passa e nada vem,
Ao perceber a vida sem ninguém
Momentos de alegria? Agora loucos.
Renovo minhas queixas, ninguém vê
Procuro uma emoção, porém, cadê?
27743
“se doura o sol a prumo o térreo assento”
E toma este arrebol no qual insisto
Vivendo esta alegria se benquisto
Caminho se expressando em pleno vento.
Não posso me negar a ter nas mãos
Realidade aonde se mostrasse
Além do que se fora algum impasse
Tormentos do passado, amargos, vãos.
E sendo traiçoeira a leda sorte,
Procuro eternizar felicidade
E mesmo que este mundo se degrade
Mantenho neste amor, um vivo aporte.
E quero renovada esta esperança,
Por mais que a dor insista na lembrança...
27744
“não me dissipa as trevas da agonia”
O dia a dia feito em dor e pranto,
E quanto mais atroz sinto o meu canto
Felicidade então se faz esguia.
Pudesse ter nos olhos a alegria
Somente o que se mostra, desencanto,
Tocando com terror temível manto,
O luto em plena vida se porfia.
Vasculho pelos ermos de minha alma
Procuro qualquer luz que traga a calma
E nada se mostrando, sigo assim.
Espectro do que fora viva plena,
A morte sorridente já me acena,
Trazendo como alento então meu fim...
27745
“dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos”
E nada poderia me trazer
Algum vestígio mesmo de um prazer
Se os dias demonstraram-se perdidos.
O fardo do viver se torna imenso,
Agônica expressão de uma tristeza
Lutando contra a fúria em correnteza
No amor que já perdi ainda penso,
E sei que no final não restaria
Sequer a cicatriz que ora cultivo,
Dos sonhos mais atrozes, vou cativo
Numa explosão de dor, farta agonia.
Quisera ter nos olhos, tolos meus
Aquela que se foi em triste adeus...
27746
“volve a noite, e eu com ela ao meu lamento”
Jamais se poderia imaginar
Momento mais feliz a se encontrar
Exposto ao mais terrível sofrimento.
Não pude discernir luz de sombria
Imagem delicada que pensara
Ser sempre iluminada bela e clara
E agora se transforma em fantasia.
Medonhos os caminhos de quem ama,
Terrificantes noites solitárias,
As horas quais nefastas procelárias
Apagam o que fosse mansa chama,
E trago bem aberta em mim a chaga
Somente a morte enfim inda me afaga.
27747
“ai! Que sorte! Implorar de noite e dia”
Pelo amor de quem tanto desejara
A sorte se mostrando quase rara
O sofrimento ao longe não se via,
Assim a minha história transcorria
Deixando para trás a dor amara
Enquanto esta ilusão voraz me ampara
Encontro nos teus braços a alegria.
Mas tudo tem seu fim, disso eu bem sei,
Não fomos exceção à dura lei
E a queda deste império então se fez.
Aonde houvera brilho, escuridão,
Inverno dominando este verão
Restando tão somente a insensatez.
27748
“ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos”
É tudo o que ora clamo em fim de vida,
A sorte se mostrando já perdida,
Os dias em negrume decididos,
Momentos maviosos esquecidos,
Aguardando em silêncio a despedida
Cultivo sem remorsos a ferida
Risonhos campos nunca percebidos.
E atrozes as manhãs em névoas feitas
Enquanto além do amor tu te deleitas,
Nefasta realidade se traduz
Dos píncaros aos grandes abissais
A vida me responde nunca mais,
E sigo sem saber se existe luz!
“Era dia de ver-te os indecisos”
Momentos entre medos, fantasias
E quando se concebe o que dizias
Os dias se mostraram imprecisos
Matizes tão diversos, mesma face,
Colorem-se meus dias dos vazios
E neles entranhados desafios
Causando neste todo algum impasse.
Imparciais caminhos, novas sendas
E nelas angustias quando mentes,
Somando nossos erros e sementes
Veredas mais diversas não desvendas
Confesso os meus enganos e talvez
Divirjo do que tanto ainda crês.
24
“Tímidos olhos doces a me olhar”
Mudando a direção do que pensara
E sendo muito além da pedra rara
Que um dia imaginara lapidar.
Cercando-me das tantas ilusões
Nas quais e pela quais inda caminho,
Porquanto se fizesse mais sozinho
Deixando para trás outras versões,
Clamando por talvez novo momento,
Não poderia ainda que não fosse
A vida tão somente um agridoce
Cenário onde às vezes me atormento,
Mas tendo nos teus olhos o reflexo
Dos meus neste mosaico mais complexo.
25
“Era dia de ver os teus sorrisos”
Entre as névoas comuns do desamor
E nesta maravilha a se compor
Percebo muito além os Paraísos.
E quando ainda escuto outros avisos
Falando do talvez, posso repor
Imerso nos anseios de um louvor
Por mais que em mim enfrente meus granizos.
Espúrias emoções, fardos constantes
E mesmo quando em fúria te agigantes
Ao fim somos idênticos não mais.
Acasos entrelaçam passos e ânsias
E neles se percebem discrepâncias
E enquanto gemelares, desiguais.
26
“Era dia de ver-te suspirar”
E ter nas mãos a sorte decidida
Ao perfazer em trevas minha vida
Querendo novamente algum luar
Vivendo sem limite a me fartar
Aguardo a cada luz a despedida,
Uma existência sendo assim urdida
Nas torpes ilusões ganhando o mar
Espalho-me na areia movediça
Gerada pelas fúrias da cobiça
E trago ainda em flor esta esperança
Vestindo esta tão trágica carcaça
Enquanto a realidade se esfumaça
Minha alma ao descaminho em ti se lança.
27
“Era dia de agrados e ternuras”
Insólitos caminhos percorridos
E neles expressando os meus olvidos
Enquanto em ti perpétuas as procuras
E quando do vazio me emolduras
Momentos entre perdas divididos
Escravizados sonhos percebidos
Gerados por angústias e canduras.
Nefastas noites somam desesperos
E deles meus terríveis destemperos
Causando dissabores entre trevas.
Só sei que mesmo tendo tais agrados
Os erros entre os erros consagrados
Traduzem o que ainda mesmo cevas...
28
“Em teus braços de moça perfumada”
Delírios e desejos decifrados
Momentos e segredos desvendados
Seguindo sem perguntas flórea estrada
Deliciosamente em ti se vê
Suaves maravilhas, tenra luz
E à intensa sedução quando me expus
A vida teve enfim o seu por que.
Navego por teus mares, forjo um sonho
E teimo contra tantos medos meus
Os dias do passado, mais ateus
E agora a redenção em ti proponho.
Teus rastros seguirei até a morte,
Pois neles adivinho agora um Norte.
29
“dias de sonhos e carícias puras”
Transcendo aos meus anseios e permito
Que tanto amor se mostre em raro e belo rito
Esplêndido momento de branduras
Acostumado às tantas desventuras
Ao crer neste desejo mais bonito
O velho coração atroz e aflito
Delira ao saciar velhas procuras.
Estás bem junto a mim, e isto me basta,
A sorte há tanto tempo em vão, nefasta
Agora se entregando a tais delírios
Percebe finalmente o imenso brilho
E envolto em tanta luz me maravilho
Deixando no passado vãos martírios...
30
“ao teu convívio de mulher amada”
Sentir quanto é sublime a minha vida
E mesmo quando a sorte está perdida
Em ti felicidade desejada.
Alvissareiros dias, noites belas
Desejos saciados e profanos,
Já não comportam mais os desenganos
Vivendo em ti delírios que revelas.
As ânsias dos prazeres mais vorazes
Ensandecidos, fartos navegantes
Em mares tão divinos, deslumbrantes
Que a cada madrugada tu me trazes.
Saber-me timoneiro desta glória
Tornando a vida menos merencória...
31
“era dia aprazado de dizer-nos”
O quanto nos queremos sem limites
E quero que tal fato não evites
Sabendo quão divino é poder ter-nos
Cadenciando os passos rumo aos céus
Que tanto adivinhamos quando juntos
Por mais que se desviem os assuntos
Amores nos recobrem com seus véus
E os veios que percorro são eternos,
Atalhos para eternos caminhares
Enquanto noutros mares navegares
Trazendo aos meus verões, duros invernos
Haverá sempre a luz deste farol,
Tomando em claridade este arrebol.
32
“coisas belas – unidas pelas almas”
Servindo como laços que nos atam
E quando as fantasias nos maltratam
Tu vens e mansamente tudo acalmas.
Estranhas emoções por vezes tentam
Tornar a caminhada mais atroz,
Porém ao perceber mais fortes nós,
Os dias em teus braços nos alentam.
Peçonhas tão comuns, medos, ciúmes,
Jamais encontraria algum apoio
Sabendo separar trigo de joio
Tu trazes quando escuro, novos lumes.
E assim continuamos rumo ao sol,
Guiados pelo amor, raro farol...
33
“era dia de dar-nos e de ter-nos”
Envoltos pelas ânsias de um prazer
E ainda tão somente posso ver
Momentos que percebo serem ternos
Eternidade feita em mil carícias
Delírios costumeiros, luzes fartas,
E quando dos meus braços tu te apartas
A vida preparando vãs sevícias,
O quase do abandono temporário
Transcende ao mais perfeito alento e traz
Distante dos meus olhos a alegria,
E a noite outrora intensa já se esfria
Levando para longe a minha paz.
Mas logo tu retornas e refaço,
A bela caminhada passo a passo...
34
“perdidamente pelas horas calmas”
Andando em senda mansa encontro a ti
E quando teus anseios eu senti
No encontro fabuloso dessas almas
Momentos sem igual, carícias, gozos,
Suprindo nossos corpos em prazer
E os dias se mostrando fabulosos,
Vontade de poder estar e ser.
Servindo ao mais complexo servidor,
Escravo deste algoz que no sacia,
Nas delicadas fúrias da alegria
Diversidade feita em tanto amor.
Descrevo tais propósitos da sorte
Vivendo sem mais nada que me importe.
35
“era dia de fuga no infinito”
Estrelas a vagar sem rumo e nexo,
Caminho tão diverso quão complexo,
O amor se torna aos poucos quase um mito.
Mesquinhas luzes negam refletores
E traçam solidão em dores tantas
E quando sob as sombras desencantas
Afastas da esperança seus fulgores.
Descrevo os pandemônios que se vêm
Angustiadamente nada existe
Somente esta visão nefasta e triste,
No fundo do cenário, mais ninguém.
E toma a minha mente o pesadelo,
Difícil, na verdade, inda contê-lo...
36
“tendo as estrelas como lampadário”
Os céus dos meus desejos se tornando
Por vezes turbulento ou mesmo brando
Mudando com ternura o meu fadário,
Servindo de alimária no passado,
Histriônico algoz das esperanças
E nestas ilusões, as noites mansas
Retrato sem proveito, amarelado.
Ouvir vozes diversas, rumos falsos,
Falácias tão comuns de quem se traz
Envolto em treva farta, sou mordaz
E sinto a cada dia meus percalços.
Mas vendo constelares maravilhas
Percebo quão divina em mim tu brilhas.
37
“dia de tudo quanto estava escrito”
Traçando os mais diversos temporais
E neles as imagens desiguais
Tramando um tempo atroz, demais aflito.
Esgueiram-se demônios tomam cenas
E reinam absolutos sobre a Terra
A vida neste instante já se encerra
Devastações diversas, torpes, plenas.
Acossam-me corsários, vidas frágeis
Esgotam-se esperanças, perco o rumo,
Da morte nas masmorras, bebo o sumo,
Os dedos entrelaçam forças ágeis.
E o peso sobre as costas não permite
Sonhar além de um vago e vão limite.
38
“por mãos de deuses no seu calendário”
Espreito estes sinais que se adivinham
Os medos tão vulgares que continham
Os passos muitas vezes temerários.
Aprendo a discernir temor e glória
E castro os meus anseios tão profanos,
Os velhos e terríveis desenganos
Tomados por momentos em vanglória
Esboçam relativas emoções
E volto a crer em ninfas e regatos,
Por mais que se reneguem novos fatos,
Incríveis as tormentas que me expões.
Arcádico momento num neon
Diversidade reina em vário tom.
39
“era dia de amar-nos e no entanto”
Sabias disfarçar os sentimentos
Gerando com ternura mais tormentos
E deles o vazio que ora canto.
Penetro os arrebóis mais corriqueiros
E singro os oceanos mais vorazes
Nos olhos tais temores que em trazes
Impedem novas flores nos canteiros.
Amar e ter nos olhos sensações
Diversas do que seja uma alegria
E quando no futuro se descria
Ao menos posso ver fortes verões.
Assino com meu sangue o nada ter
E mesmo em braços fortes, me perder...
40
“como se equivocou meu coração”
Ao ter imagem tosca da verdade
Por mais que o meu cantar te desagrade
Realidades tantas mostrarão
Sinais das desventuras que trafego
E carcomidas cenas mais presentes
E nelas com terrores tu pressentes
O dia que virá mortal e cego,
Apego-me ao não ter como pudesse
Saber dos meus engodos e tentar
Ainda que distante deste mar
Dos sonhos mais felizes, ter a messe.
E tudo não passando de uma farsa
Que a vida desmascara e não disfarça.
41
“pois esse dia em que te esperei tanto”
Trazia por si só dor e alegria,
Gerando tão feroz dicotomia,
Ao mesmo tempo luz, medo e quebranto.
Perigos são constantes, disso eu sei,
E tendo nos meus olhos luzes várias,
Sonego mesmo em pranto as luminárias
Sabendo escuridão em minha grei,
Fomento tempestades, bebo a chuva
E teimo contra todas desventuras
E quando noutro plano me procuras
Percebes que do amor se faz viúva.
Ecléticos tormentos se anunciam
Enquanto os dias morrem, se esvaziam...
42
“era o dia da minha solidão”
E tudo se pudesse ser assim
Matando inútil flor, seco jardim,
Eternizando a seca em meu verão,
E o corte se aprofunda dentro da alma
O que mais desejara se desdiz,
Cevando tão somente a cicatriz
Nem mesmo a solidão ainda acalma.
Perfaço a mesma estrada sem saber
Se ainda poderia ver o porto,
E quando me imagino quase morto
Encontro o que pensara ser prazer
Era dia de ser feliz, ao menos,
Mas como se em ti bebo só venenos...
Homenagem a Paulo Fénder ERA DIA.
43
‘leves e alvas à plaga ocidental”
Seguindo entre procelas mais ferozes
Vencendo os mais terríveis vãos algozes
Num ato quase insano e triunfal,
Percorrem minhas naus num ritual
Superno entre momentos mais atrozes
Ouvindo das sereias doces vozes,
Vorazes em delírio sensual,
E quando se percebe ao longe o cais,
Momentos muitas vezes magistrais
O velho timoneiro coração
Vagando entre tempestas, direção
(Sabendo desde sempre tanto infausto,)
Esboça alguma luz que inda redima
Após as variantes desta vida
Que embora nos seduza, traz perdida
A senda feita em vário e insano clima...
44
“as nuvens vão: seja por onde for”
Neblinas entre céus soberbos, faustos,
E bebo dos terríveis holocaustos
Aonde a sorte inglória a se propor
Traduz as velhas perdas do passado
E molda no futuro tanta treva,
Ainda que esperança tola ceva
O mundo não trará bom resultado.
Vencido pelos medos mais fugazes,
Esculpo do vazio a garatuja
Imensa e tão atroz, por vezes suja
Que em mãos tão poluídas tu me trazes.
Demônios recriados dia a dia,
E neles se estampando esta agonia.
45
“Sorri o céu, como o humano labor”
Gerado em inconstante vendaval,
Aonde se quisera sempre igual,
Percebo a cada instante imensa dor.
E quando novo tempo irei propor
Vencido pelo vão descomunal
Não vejo ser possível num degrau
Chegar ao mais supremo e raro amor.
Assisto às derrocadas dos meus passos,
E quando ainda teimo em novos traços
Espaços mais diversos reproduzem
Momentos torturantes e venais,
Ausente dos meus olhos portos cais,
Aos naufrágios tempestas me conduzem...
46
“saúda o sol, benigno, triunfal”
Momentos maviosos, mas fugazes
As dores expressando em tais tenazes
Angústias corriqueiras, ar venal.
Pudesse ter a paz que não mais vejo,
Seria muito bom, um lenitivo,
Mas quando tão cansado, sobrevivo
Percebo quão insólito o desejo
E dele não se vê sequer a sombra
Do que pensara outrora ser capaz,
O mundo num tormento se desfaz
E a vida tão somente cobra e assombra,
O velho marinheiro agora lasso,
O rumo se perdendo já desfaço...
47
“em mil flechas desponta a catedral”
E tendo nos meus olhos o fatídico
Momento aonde às vezes sendo ofídico
Veneno que ora sorvo em alto grau
Esculpo os meus delírios mais constantes
E deles cada gota me transtorna,
Satânica paisagem que ora adorna
Em fatos tão comuns, meros farsantes
Divergem do que tanto proclamara
Em vozes dissonantes, vida e morte
Devastações sonegam o suporte
Criando da ferida imensa escara.
Escassas ilusões vestes puídas
As sortes sem escusas sendo urdidas...
48
“e santos de ouro e rosado fulgor”
Jogados sobre falsos patamares,
Gerando os mais soberbos, vis altares
E neles um satânico vigor.
O caos em pandemônios se denota
E o corpo ensangüentado exposto em cruz
De um mártir feito em glória reproduz
O que se poderia além da cota
Ser toda esta inclemência mais vulgar,
Medonhas labaredas, santo ofício,
Aonde se moldara um precipício
Na pútrida impressão a se mostrar
Aquém da santidade de um bom Deus
Traído pelos próprios filhos seus.
49
“radia então a Hosana e há o rumor”
Em tons por vezes díspares e terríveis,
Matando a redenção em tantos níveis
Deixando em trevas todo o Seu louvor.
A venda sem princípios de um amor
Tornando os Seus clamores inaudíveis
Prostituindo os cantos mais plausíveis
Numa aridez temível, lavrador
Das pútridas quimeras disfarçadas
Em luzes por um Pai abençoadas
Carpindo este cadáver feito em cruz,
Assim a humanidade desvirtua
Uma alma que se fez tão bela e nua,
Satanizando enfim Pobre Jesus...
50
“dos falcões, este alívolo coral”
Deitado em mar deveras turbulento
Alçando num mergulho em desalento
A natureza explana em forma desigual,
E nesta mais sublime realidade
Diversidade traça as uniões
E nesta maravilha contrapões
Caminhos dissonantes liberdades
E grades de uma imóvel vida, audazes
Estradas entre luzes, trevas, medos,
Assim se decifrando tais segredos
Desvendas e deveras mesmo trazes.
Nos ares e profundos abissais
A vida em suas faces magistrais.
51
“assim, depois que amor – riso de calma_
Perfez suas vontades mais insanas
Deveras tantas vezes soberanas
Traçando as variedades diversa alma
Expressa maravilhas no não ser
E traça etéreas sanhas porfiando
Temporais num templo atroz e brando
Terríveis dissonâncias de um prazer.
Abrolhos entre flores, plantações
Lavradas com estercos sempre iguais
E quando resultados desiguais
Momentos maviosos tu me expões
No todo feito em nada, realizas
Os vendavais convivem com as brisas...
52
“nuvens rasgou que me agravaram tanto”
O céu entregue em cores grises, claras
E nelas os anseios que declaras
Gerando muitas vezes desencanto,
Portanto nos meus ermos se porfio
Adentro os mais profundos de minha alma,
Procura que deveras já me acalma
Tornando o meu viver bem menos frio.
E o sol rasgando nuvens me permite
Acreditar num belo amanhecer,
Depois de dentro em mim tanto chover
Uma esperança atinge seu limite
Ascendo aos mais diversos fins sabendo
Que o fim será terrível e estupendo.
53
“pode exsurgir à luz do sol minha alma”
Enfrentando as neblinas costumeiras,
Por mais que na verdade ainda queiras
Carrego desde sempre antigo trauma
E o peso de uma vida sem limites
Ainda qual vergasta me açoitando,
O velho coração em contrabando
Além do que talvez inda acredites
Levando a minha sorte ao nada ter
Traçando com terrível galhardia
O quadro que pensara alegoria
Descora e pouco a pouco posso ver
A vastidão imensa deste sol,
Vencendo qualquer nuvem no arrebol...
54
“e lhe sorri multiplicando o santo”
Momento feito em luz e tempestade,
Assisto à fantasia que me invade
E quando me percebo ainda canto.
Gerasse algum tormento em desencanto
Talvez bebesse ainda a realidade,
Mas longe do que sei tranqüilidade,
Também não vou trazer no olhar, o pranto.
Separam-se de mim os meus albores
Deixando prosseguir por onde fores
Os medos mais banais que inda cultivo.
E tendo no vazio a sensação
Dos dias que decerto mostrarão
Motivo pelo qual eu sobrevivo.
55
“ideal da existência é uma harmonia”
E dela perfazendo o meu caminho
Deveras tantas vezes mais sozinho
Usando como voz a poesia.
Servir aos meus propósitos enfim,
E crer noutra manhã mesmo nublada,
A sorte muitas vezes não diz nada
Tampouco se permite boa ou ruim.
A chuva inevitável jamais tarda
E o peso ainda verga o caminheiro,
As flores se murchando no canteiro
A vida sonegando roupa e farda.
Enfadonhas cantigas ouço além
E sei que junto delas, nada vem...
56
“o pensamento. E o sentimento é um canto”
E nele se decifram dores, risos,
Às vezes outras não; sinto concisos
Os passos rumo ao belo, ao desencanto.
Adentro tais mistérios e me vejo
Precocemente mesmo, embrutecido,
Pudesse ter apenas num olvido
A morte do que fora algum desejo.
O céu que azulejara em esperança
Negreja-se em terrível tempestade,
E quando se tornou insanidade
Em meio às turbulências sempre avança.
Vivendo da ilusão posso compor
A vida feita em sol e em tanto amor...
Homenagem a Giosuè Carducci
SOL E AMOR
VERSÃO DE C. Tavares Bastos
57
“da umbrosa noite no silêncio, quando
Encontros os meus temores frente a frente
O mundo se transforma e de repente
O sonho ora percebo desabando,
Aonde se quisera bem mais brando,
A fúria devastando, tão ardente,
Por mais que uma esperança se apresente
A vida se pressente torturando.
Mas resta alguma luz na madrugada
Qual fora simplesmente luminária
E a sorte que percebo procelária
Deveras noutra face transmudada.
Resisto, tão somente e nada mais,
Umbrosa noite em fartos vendavais...
58
“meigo sono refaz os mais viventes”
Anseios que inda guardo dentro em mim,
Podendo ser feliz, quem sabe assim,
Os dias serão claros e envolventes,
Por mais que novos rumos inda tentes
Percebo raras flores no jardim
Que tanto cultivara e sei que enfim
Os dias não serão mais penitentes.
Assisto ao meu momento benfazejo
E um novo tempo agora já prevejo
Nascendo dentro da alma esta esperança.
Revigorando o passo pelo qual
Consigo alçar a paz que, triunfal
No peito enamorado adentra e avança.
59
“só eu vou meus martírios inclementes”
Nefastas madrugadas solitárias
Aonde se esconderam luminárias
Seguindo sem ninguém, tolas sementes
No solo aonde em glórias mais ausentes
Plantara com paixão, mas temerárias
Manhãs como terríveis procelárias
Cevaram tantas urzes entrementes.
Percorro os descaminhos contumazes
E neles só tristezas tu me trazes
Deixando cicatrizes mais profundas.
E assim ao perceber a invalidez
Do sonho que deveras se desfez
E agora com terror sem paz, inundas...
60
“aos céus e à minha (Diva) numerando”
Perpétuas emoções volvendo à tona,
A sorte dos meus sonhos já se adona
As dores se afastando em tosco bando.
Meu corpo deste sonho se adornando,
A dor que dominara me abandona
Uma alma em paz agora enfim ressona
Enquanto se percebe se alentando.
Vestígios das torturas do passado,
Futuro com prazeres vislumbrado
Enamorado encontro o que decerto
Durante a vida inteira procurara
Manhã se torna bela, imensa e clara
E o medo dia a dia, mais deserto.
61
“quando o dia os seus raios vem mostrando”
Bebendo desta luz que me inebria
Deixando adormecida uma agonia
O coração em paz se demonstrando.
Acerco-me das luzes mais intensas
E bebo desta rara maravilha,
Minha alma por espaços belos trilha
Enquanto neste amor que sonho, pensas.
Ao me entregar sem medo e sem pudores
Jamais me imaginara tão feliz,
E tendo o que deveras sempre quis
Podendo usufruir perfumes, flores,
Matizes de um amor puro e sincero,
Traduzem nesta vida o que mais quero.
62
“dentre as rosas d’aurora auriesplendentes”
A luz iridescente deste olhar
Suprema maravilha a me tocar
Na imensa claridade que apresentes.
Fugazes emoções? Já não as quero,
Desejo ter em ti esposa e amante,
O dia se mostrando deslumbrante
Traduz o que ora sinto e sou sincero.
Percorro eternidade nos teus braços
E vago por sidéreas ilusões
Entranham-se diversas seduções
E assim vão se estreitando nossos laços.
A par deste desejo tens em mim,
Da vida o seu princípio, meio e fim...
63
“com suspiros e lágrimas ferventes”
Expões sublimes rotas pela vida
Não vejo e nem pretendo despedida
No amor que tanto queres, somos crentes.
Apego-me aos desejos e delírios
E deles traço o rumo do viver,
Aonde se encontrasse tal prazer
Deixando para trás velhos martírios.
Sedentos caminheiros vida afora
O amor que a cada instante se demora
Permite um tempo em paz, suave e manso.
Contigo muito além desta emoção
Momentos de ternura e de paixão
Eternos e sublimes eu alcanço...
64
“vou as teimosas queixas renovando”
E tendo nos meus olhos a certeza
De um dia feito em trevas e tristeza
A sorte a cada dia destroçando
O que pensara outrora em bem querer
E vejo a tempestade no horizonte,
Por mais que outro caminho já se aponte
Somente encontrarei o desprazer.
Esgarçam-se ilusões, morrendo aos poucos
O dia a dia passa e nada vem,
Ao perceber a vida sem ninguém
Momentos de alegria? Agora loucos.
Renovo minhas queixas, ninguém vê
Procuro uma emoção, porém, cadê?
65
“se doura o sol a prumo o térreo assento”
E toma este arrebol no qual insisto
Vivendo esta alegria se benquisto
Caminho se expressando em pleno vento.
Não posso me negar a ter nas mãos
Realidade aonde se mostrasse
Além do que se fora algum impasse
Tormentos do passado, amargos, vãos.
E sendo traiçoeira a leda sorte,
Procuro eternizar felicidade
E mesmo que este mundo se degrade
Mantenho neste amor, um vivo aporte.
E quero renovada esta esperança,
Por mais que a dor insista na lembrança...
66
“não me dissipa as trevas da agonia”
O dia a dia feito em dor e pranto,
E quanto mais atroz sinto o meu canto
Felicidade então se faz esguia.
Pudesse ter nos olhos a alegria
Somente o que se mostra, desencanto,
Tocando com terror temível manto,
O luto em plena vida se porfia.
Vasculho pelos ermos de minha alma
Procuro qualquer luz que traga a calma
E nada se mostrando, sigo assim.
Espectro do que fora viva plena,
A morte sorridente já me acena,
Trazendo como alento então meu fim...
67
“dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos”
E nada poderia me trazer
Algum vestígio mesmo de um prazer
Se os dias demonstraram-se perdidos.
O fardo do viver se torna imenso,
Agônica expressão de uma tristeza
Lutando contra a fúria em correnteza
No amor que já perdi ainda penso,
E sei que no final não restaria
Sequer a cicatriz que ora cultivo,
Dos sonhos mais atrozes, vou cativo
Numa explosão de dor, farta agonia.
Quisera ter nos olhos, tolos meus
Aquela que se foi em triste adeus...
68
“volve a noite, e eu com ela ao meu lamento”
Jamais se poderia imaginar
Momento mais feliz a se encontrar
Exposto ao mais terrível sofrimento.
Não pude discernir luz de sombria
Imagem delicada que pensara
Ser sempre iluminada bela e clara
E agora se transforma em fantasia.
Medonhos os caminhos de quem ama,
Terrificantes noites solitárias,
As horas quais nefastas procelárias
Apagam o que fosse mansa chama,
E trago bem aberta em mim a chaga
Somente a morte enfim inda me afaga.
69
“ai! Que sorte! Implorar de noite e dia”
Pelo amor de quem tanto desejara
A sorte se mostrando quase rara
O sofrimento ao longe não se via,
Assim a minha história transcorria
Deixando para trás a dor amara
Enquanto esta ilusão voraz me ampara
Encontro nos teus braços a alegria.
Mas tudo tem seu fim, disso eu bem sei,
Não fomos exceção à dura lei
E a queda deste império então se fez.
Aonde houvera brilho, escuridão,
Inverno dominando este verão
Restando tão somente a insensatez.
70
“ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos”
É tudo o que ora clamo em fim de vida,
A sorte se mostrando já perdida,
Os dias em negrume decididos,
Momentos maviosos esquecidos,
Aguardando em silêncio a despedida
Cultivo sem remorsos a ferida
Risonhos campos nunca percebidos.
E atrozes as manhãs em névoas feitas
Enquanto além do amor tu te deleitas,
Nefasta realidade se traduz
Dos píncaros aos grandes abissais
A vida me responde nunca mais,
E sigo sem saber se existe luz!
HOMENAGEM A MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA
TRADUÇÃO DE VISCONDES DE CASTILHO E AZEVEDO.
27711 até 27734
27711
Vestigios do que fora sentimento
Encontro vez em quando dentro em mim
Chegando mansamente vejo o fim,
Singrando tempestades sem alento.
Esqueço dos meus erros e permito
Algumas ilusões que sei constantes.
Às vezes em caminhos deslumbrantes
Na frialdade imensa do granito
Vencido por enganos, tantas farsas,
Seguindo minha sombra volto a ter,
Nos olhos a dormência de um prazer
Enquanto não me vês, mesmo disfarças.
Trapaças tão comuns de quem concebe
Estrada diferente noutra sebe...
27712
Percebo a cada dia o que talvez
Pudesse transtornar algum futuro,
Diverso do que ainda sei, procuro,
Ausência de mim mesmo, como vês.
E quando em altivez tudo desfaço,
Mudando a direção da caminhada
Após o tanto andar revejo o nada
E o quanto desejara, sinto escasso.
Perenes emoções? Mera trapaça;
A vida se renova a cada dia
Na sorte este cometa que me guia,
Realça-se fugaz, tal qual fumaça
O tempo foge então entre os meus dedos,
Mutáveis são decerto, seus enredos...
27713
Aprazíveis momentos onde outrora
Sentira a brisa mansa no meu rosto,
Agora à própria sorte sigo exposto,
E a vida me tortura e me devora.
Esgoto as minhas velhas provisões
E trago no bornal a mera essência,
E aonde se pudesse, vã demência,
Perpetuando amargas sensações.
27714
São turvas estas águas que ora bebo,
Incontáveis estrelas, as perdi;
Vagando sem sentido chego a ti,
O sonho se demonstra qual placebo.
Assisto às derrocadas mais freqüentes
Enquanto as horas morrem. Penitentes...
27715
Perpetuando a dor que ainda trago
Das velhas dissidências, desventura
A sorte tão somente me amargura
Aonde se queria um doce afago.
Espetáculos constantes, vida e morte,
Assíduo caminheiro em tais jornadas,
Aguardo com terror as alvoradas,
Não tendo qualquer sol que me conforte.
Crepúsculos numa alma sem destino,
Nublando cada passo rumo ao não
Estrelas tão distantes negarão
E em falsos candelabros me ilumino.
Assim na negritude do não ser,
Quem dera alguma luz pudesse ver...
27716
Enquanto sobre os campos irrompia
Solares maravilhas sobre verdes
Em vós quanto poder ao concederdes
Momento de suprema fantasia,
Adentro vários ritos milenares
Assomam-se terrores ancestrais
E quando percebendo os milharais
Deitados sob os raios constelares
Sabia desde então quanto possível
Vivenciar delírios mesmo quando
A noite sobre tudo desabando,
Contraste se moldando em forno incrível.
Da natureza em volta, no arrebol,
Noctívagas imagens dizem sol...
27717
Na pugna contra as minhas próprias pernas
Vesiculares restos do passado,
Aonde o sol houvera destroçado
Mesmo quando em frias vãs lanternas,
Percebo a palidez das noites ternas
E nelas novo tempo anunciado,
O gosto do viver emaranhado
Com todo o sofrimento quando invernas.
Na praxe costumeira de quem sonha,
A vida se mostrando até risonha
Enquanto se tornara amarga e fria,
Vestígios do que fora e não soubera
Deixando para trás a primavera,
Matando sem piedade a fantasia...
27718
Navegando entre as várias ondas tais
Que quando se percebe sou naufrágio
A vida se tornando quase adágio
Medonhas tempestades magistrais.
E assim ao ter decerto cais ausente,
Não temo e até preciso desta dor,
Qual fora suicida predador,
Que a própria desventura já pressente.
Augustas emoções? Cadê sentido?
Esgoto dentro em mim toda esta sorte,
A bússola da vida nega o Norte
E o corte se prevê, há tanto urdido...
Eclodem dentro em mim fogos diversos
E neles os meus sonhos vãos, imersos...
27719
Eu na alegria de não ter perdão,
Percebo a derrocada inevitável
E mesmo assim deveras esperável
Que os dia tão somente mostrarão,
Na vastidão do nada em que mergulho
Descendo aos abissais caminhos vejo
Insólito delírio de um desejo,
Até tocar no fundo, um pedregulho.
Assaz comum na vida de quem crê
Erráticas verdades, nãos imensos,
E os dias entre céus nublados, densos
Deveras sem certezas nem por que.
Destilo com prazer tantas peçonhas
Enquanto com prazeres tantos sonhas...
27720
As folhas deste outono em que penetro
Cobrindo todo o solo em cobre e gris,
Aonde se pensara ser feliz
A vida rouba logo qualquer cetro,
Incertos caminhares desviando
A rota dos meus passos, nada vem
Somente a solidão aonde alguém
Dissera sem pensar tampouco e quando,
Alheio aos meus dissídios mais constantes
Desvio a caminhada em meio à chuva
A sorte se percebe uma viúva
Pensando nos passados diamantes.
Esgarço cada parte da puída
Verdade traduzida em minha vida.
27721
Apego-me aos meus erros quando tento
Certezas que jamais pudera ter,
Escarpas por subir ou por descer
Imensa cicatriz, nefasto vento.
Aonde se fez lágrima deveras
Servindo na bandeja da ilusão
Já longe se percebe o meu verão,
O que falar então das primaveras?
E tendo tão somente a grande escara
Marcada em minha pele, tatuagem,
Vestindo de delírio busco a aragem
Que há tanto me abandona e desampara.
Escolho dentre os mais ledos enganos
Os que me causariam menos danos...
27722
Satânicas promessas reconheço
Nas tantas variantes da peçonha
Além do que uma insânia me proponha,
Sabendo das angústias o endereço.
Escravizando enfim em fartas cruzes
Opérculos abertos dentro em mim,
Na florescência escassa de um jardim,
Proliferando às tantas turvas urzes,
Escapo vez em quando, mas prossigo
Incauto passageiro do futuro,
E quando em cada engano me perduro,
Decerto espero ao fim, qualquer castigo.
Mestiças emoções, dor e prazer
Moldando em distorções o que eu quis ser...
27723
Talvez pela inconstância de um carinho
Marcando em minha face cada ruga,
E tendo uma esperança feita em fuga,
Das várias emoções eu me avizinho.
Fomento as ilusões mesmo sabendo
Que nada serviria ser assim,
Nas insondáveis sanhas, querubim
Usando do prazer qual dividendo.
Aprendo a cada dia um pouco ou tanto,
Percalços são comuns ao andarilho
E quando vez por outra maravilho,
Deveras encantado, forjo um canto.
Inerte num momento de fastio,
Caminhos mais audazes, teimo e crio.
27724
Sentindo em meu pescoço estas tenazes
Faltando muito pouco para o fim,
Esboço reações, mas sigo assim
Vagando por diversas, rotas fases.
Sacrílego momento se aproxima
E nele com certeza a redenção
De quem vivendo imerso num porão
Jamais se percebera em alta estima.
Apontam-se diversos horizontes
Melhores do que sei em tosca vida
E quando a solução é pressentida
Permito que o caminho, ainda apontes.
Senzalas reconheço desde o início,
A liberdade é feita em precipício...
27725
Iludido por falsas claridades
Medonhos abissais eu reconheço,
E quando me mostrando sempre avesso
Às mais comuns e toscas novidades,
Alheio ao que desejas, as vontades
São tantas e decerto desconheço
Da sorte o fundamento e o endereço
Ainda mesmo quando teimas, brades.
Bisonhos desdobrares de uma vida,
Há tanto sem destino e já perdida
Vencida desde quando iniciada,
Veredas de tal sorte mal cuidadas
Gerando os dissabores, vãs estadas
De quem se resumiu num mero nada...
27726
Perceba a sem valia resistência
De um tosco caminheiro sem paragem,
E mesmo que inda creia na miragem
Já sabe quão cruel tal inclemência,
Do todo se concebe a mesma ausência
Por mais que ainda creia noutra aragem
Fazendo do cantar mera bobagem,
A vida não teria uma anuência.
Esparsas nuvens vejo no horizonte,
E quando a lua ao longe enfim desponte,
A ponte se tornando inalcançável.
Terreno que baldio ora se fez
Tomado por terrível aridez
Jamais será decerto, enfim, arável...
27727
Demônios cultivados pela vida
Assistem ao final da tosca peça,
Sem nada que os proíba ou mesmo impeça
História desde sempre assim urdida.
Fagulhas traduzindo alguma sorte,
Restando o fogaréu do logo após,
O quanto se mostrara mais feroz,
Sem ter qualquer prazer que me comporte,
Exposto aos tédios tantos do viver,
Satíricos bufões, sonhos ingratos,
Aonde se pudessem meus regatos
A fonte sem provento a se perder.
Esperando o dobrar de um brônzeo sino,
Herdeiro do jamais, eu me alucino...
16
Angariando as dores contumazes
Essencialmente vejo o meu final,
E quando se mostrasse algum degrau
Levando para além do que me trazes
Seriam mais ferozes ou audazes
Os passos num diverso ritual,
A sorte sonegando algum aval
Traçando velhos erros noutras fases.
E assim ao perceber inútil fardo
Caminho entre os espinhos sei o cardo
E apego-me a qualquer nova esperança.
Porém minha mortalha se contrasta
E a vida se mostrando em fúria gasta
Somente no vazio já me lança...
27728
Avanço contra os mesmos desenganos
E sei ser tão banal caricatura
O que defronte o espelho se afigura
Causando inverossímeis perdas, danos.
E sendo derradeiros estes planos,
Ausente dos meus dias a procura
Gerando por si só qualquer loucura
Ganância dos meus ermos mais humanos.
Abandonado à sorte traiçoeira
Alçando do vazio esta bandeira
Banalizando a dor que agora entranho.
Pudesse pelo menos ter à frente
Momento aonde enfim já se desmente
Demente caminhar de um ser estranho.
27729
Contínuas tempestades tomam céus
E geram desacordos pelos quais
Nefastas emoções toscas, venais
Recobrem minha vida em foscos véus.
Os dias se perfazem mais incréus
Gerando os mais diversos vendavais
Por vezes realidades tão banais
Provocam sem defesa, fogaréus.
Esfumo-me nas ânsias de um vazio
E teimo enquanto luto e propicio
Ao nada este desértico caminho,
Aonde se quisera um arvoredo,
E quando de outra forma inda procedo
Percebo meu final, sempre sozinho...
27730
Pergunto aonde um dia se fez tanto
O quanto nada fora no passado,
Traduzo em viciado arcano dado
A sorte que demonstra o desencanto.
Por vezes falsamente me agiganto
E bebo do meu mundo degradado,
Nos cantos desta casa estou jogado
Aonde quis sorriso, só quebranto.
Adio cada plano que inda tenho
E mesmo se fazendo em tosco empenho
Jazigo da esperança; meu velório.
Apêndice de vida e nada mais,
Ocasos são deveras tão normais
Em quem sabe o futuro ser inglório...
27731
A morte se aproxima e me serena
Enquanto em tal cenário mais atroz,
Emergem-se demônios e ouço a voz
Da sorte finalmente mais amena.
O fardo tanto pesa enquanto acena
Rompendo sem defesas toscos nós
Mordazes ilusões encontram foz
Na imensidão que agora me envenena.
Vogando por seus mares, solidão,
Apenas os destroços se farão
Do pouco que inda resta em podre cerne.
E o medo traduzido num anseio,
Percorre cada poro, cada veio
Tomando toda sorte que o concerne.
27732
São pútridos caminhos os que traço
Carcaça que respira tão somente
Do solo mais estúpida semente
Cevando podridão a cada passo.
Crepusculares sonhos onde faço
Realidade dura e sei premente,
Apenas a mortalha se consente
Aonde uma esperança teve espaço.
Morrer e ter nos olhos a incerteza
Da eternidade feita em luz, beleza
Ou mesmo em infernais fogos terríveis.
Mas bem melhor garanto do que agora,
Aonde a solidão plena devora
Tornando os brados tantos inaudíveis...
27734
Perfaço em trevas toda a minha sanha
E sinto que os destroços já se espalham
Enquanto os desenganos estraçalham
O que restara ainda; e o nada banha.
Neblinas sonegando qualquer lua
E tendo como fundo intensa treva,
Aonde se pensara em mansa ceva
Nevasca nunca cessa e continua.
Descortinando apenas solidão,
Espero por alguém que ainda escute
Ou tente mesmo ouvir e não relute
Serpentes em mil botes preparados,
Resisto aos meus caminhos desbravados
Resultando na eterna negação.
Vestigios do que fora sentimento
Encontro vez em quando dentro em mim
Chegando mansamente vejo o fim,
Singrando tempestades sem alento.
Esqueço dos meus erros e permito
Algumas ilusões que sei constantes.
Às vezes em caminhos deslumbrantes
Na frialdade imensa do granito
Vencido por enganos, tantas farsas,
Seguindo minha sombra volto a ter,
Nos olhos a dormência de um prazer
Enquanto não me vês, mesmo disfarças.
Trapaças tão comuns de quem concebe
Estrada diferente noutra sebe...
27712
Percebo a cada dia o que talvez
Pudesse transtornar algum futuro,
Diverso do que ainda sei, procuro,
Ausência de mim mesmo, como vês.
E quando em altivez tudo desfaço,
Mudando a direção da caminhada
Após o tanto andar revejo o nada
E o quanto desejara, sinto escasso.
Perenes emoções? Mera trapaça;
A vida se renova a cada dia
Na sorte este cometa que me guia,
Realça-se fugaz, tal qual fumaça
O tempo foge então entre os meus dedos,
Mutáveis são decerto, seus enredos...
27713
Aprazíveis momentos onde outrora
Sentira a brisa mansa no meu rosto,
Agora à própria sorte sigo exposto,
E a vida me tortura e me devora.
Esgoto as minhas velhas provisões
E trago no bornal a mera essência,
E aonde se pudesse, vã demência,
Perpetuando amargas sensações.
27714
São turvas estas águas que ora bebo,
Incontáveis estrelas, as perdi;
Vagando sem sentido chego a ti,
O sonho se demonstra qual placebo.
Assisto às derrocadas mais freqüentes
Enquanto as horas morrem. Penitentes...
27715
Perpetuando a dor que ainda trago
Das velhas dissidências, desventura
A sorte tão somente me amargura
Aonde se queria um doce afago.
Espetáculos constantes, vida e morte,
Assíduo caminheiro em tais jornadas,
Aguardo com terror as alvoradas,
Não tendo qualquer sol que me conforte.
Crepúsculos numa alma sem destino,
Nublando cada passo rumo ao não
Estrelas tão distantes negarão
E em falsos candelabros me ilumino.
Assim na negritude do não ser,
Quem dera alguma luz pudesse ver...
27716
Enquanto sobre os campos irrompia
Solares maravilhas sobre verdes
Em vós quanto poder ao concederdes
Momento de suprema fantasia,
Adentro vários ritos milenares
Assomam-se terrores ancestrais
E quando percebendo os milharais
Deitados sob os raios constelares
Sabia desde então quanto possível
Vivenciar delírios mesmo quando
A noite sobre tudo desabando,
Contraste se moldando em forno incrível.
Da natureza em volta, no arrebol,
Noctívagas imagens dizem sol...
27717
Na pugna contra as minhas próprias pernas
Vesiculares restos do passado,
Aonde o sol houvera destroçado
Mesmo quando em frias vãs lanternas,
Percebo a palidez das noites ternas
E nelas novo tempo anunciado,
O gosto do viver emaranhado
Com todo o sofrimento quando invernas.
Na praxe costumeira de quem sonha,
A vida se mostrando até risonha
Enquanto se tornara amarga e fria,
Vestígios do que fora e não soubera
Deixando para trás a primavera,
Matando sem piedade a fantasia...
27718
Navegando entre as várias ondas tais
Que quando se percebe sou naufrágio
A vida se tornando quase adágio
Medonhas tempestades magistrais.
E assim ao ter decerto cais ausente,
Não temo e até preciso desta dor,
Qual fora suicida predador,
Que a própria desventura já pressente.
Augustas emoções? Cadê sentido?
Esgoto dentro em mim toda esta sorte,
A bússola da vida nega o Norte
E o corte se prevê, há tanto urdido...
Eclodem dentro em mim fogos diversos
E neles os meus sonhos vãos, imersos...
27719
Eu na alegria de não ter perdão,
Percebo a derrocada inevitável
E mesmo assim deveras esperável
Que os dia tão somente mostrarão,
Na vastidão do nada em que mergulho
Descendo aos abissais caminhos vejo
Insólito delírio de um desejo,
Até tocar no fundo, um pedregulho.
Assaz comum na vida de quem crê
Erráticas verdades, nãos imensos,
E os dias entre céus nublados, densos
Deveras sem certezas nem por que.
Destilo com prazer tantas peçonhas
Enquanto com prazeres tantos sonhas...
27720
As folhas deste outono em que penetro
Cobrindo todo o solo em cobre e gris,
Aonde se pensara ser feliz
A vida rouba logo qualquer cetro,
Incertos caminhares desviando
A rota dos meus passos, nada vem
Somente a solidão aonde alguém
Dissera sem pensar tampouco e quando,
Alheio aos meus dissídios mais constantes
Desvio a caminhada em meio à chuva
A sorte se percebe uma viúva
Pensando nos passados diamantes.
Esgarço cada parte da puída
Verdade traduzida em minha vida.
27721
Apego-me aos meus erros quando tento
Certezas que jamais pudera ter,
Escarpas por subir ou por descer
Imensa cicatriz, nefasto vento.
Aonde se fez lágrima deveras
Servindo na bandeja da ilusão
Já longe se percebe o meu verão,
O que falar então das primaveras?
E tendo tão somente a grande escara
Marcada em minha pele, tatuagem,
Vestindo de delírio busco a aragem
Que há tanto me abandona e desampara.
Escolho dentre os mais ledos enganos
Os que me causariam menos danos...
27722
Satânicas promessas reconheço
Nas tantas variantes da peçonha
Além do que uma insânia me proponha,
Sabendo das angústias o endereço.
Escravizando enfim em fartas cruzes
Opérculos abertos dentro em mim,
Na florescência escassa de um jardim,
Proliferando às tantas turvas urzes,
Escapo vez em quando, mas prossigo
Incauto passageiro do futuro,
E quando em cada engano me perduro,
Decerto espero ao fim, qualquer castigo.
Mestiças emoções, dor e prazer
Moldando em distorções o que eu quis ser...
27723
Talvez pela inconstância de um carinho
Marcando em minha face cada ruga,
E tendo uma esperança feita em fuga,
Das várias emoções eu me avizinho.
Fomento as ilusões mesmo sabendo
Que nada serviria ser assim,
Nas insondáveis sanhas, querubim
Usando do prazer qual dividendo.
Aprendo a cada dia um pouco ou tanto,
Percalços são comuns ao andarilho
E quando vez por outra maravilho,
Deveras encantado, forjo um canto.
Inerte num momento de fastio,
Caminhos mais audazes, teimo e crio.
27724
Sentindo em meu pescoço estas tenazes
Faltando muito pouco para o fim,
Esboço reações, mas sigo assim
Vagando por diversas, rotas fases.
Sacrílego momento se aproxima
E nele com certeza a redenção
De quem vivendo imerso num porão
Jamais se percebera em alta estima.
Apontam-se diversos horizontes
Melhores do que sei em tosca vida
E quando a solução é pressentida
Permito que o caminho, ainda apontes.
Senzalas reconheço desde o início,
A liberdade é feita em precipício...
27725
Iludido por falsas claridades
Medonhos abissais eu reconheço,
E quando me mostrando sempre avesso
Às mais comuns e toscas novidades,
Alheio ao que desejas, as vontades
São tantas e decerto desconheço
Da sorte o fundamento e o endereço
Ainda mesmo quando teimas, brades.
Bisonhos desdobrares de uma vida,
Há tanto sem destino e já perdida
Vencida desde quando iniciada,
Veredas de tal sorte mal cuidadas
Gerando os dissabores, vãs estadas
De quem se resumiu num mero nada...
27726
Perceba a sem valia resistência
De um tosco caminheiro sem paragem,
E mesmo que inda creia na miragem
Já sabe quão cruel tal inclemência,
Do todo se concebe a mesma ausência
Por mais que ainda creia noutra aragem
Fazendo do cantar mera bobagem,
A vida não teria uma anuência.
Esparsas nuvens vejo no horizonte,
E quando a lua ao longe enfim desponte,
A ponte se tornando inalcançável.
Terreno que baldio ora se fez
Tomado por terrível aridez
Jamais será decerto, enfim, arável...
27727
Demônios cultivados pela vida
Assistem ao final da tosca peça,
Sem nada que os proíba ou mesmo impeça
História desde sempre assim urdida.
Fagulhas traduzindo alguma sorte,
Restando o fogaréu do logo após,
O quanto se mostrara mais feroz,
Sem ter qualquer prazer que me comporte,
Exposto aos tédios tantos do viver,
Satíricos bufões, sonhos ingratos,
Aonde se pudessem meus regatos
A fonte sem provento a se perder.
Esperando o dobrar de um brônzeo sino,
Herdeiro do jamais, eu me alucino...
16
Angariando as dores contumazes
Essencialmente vejo o meu final,
E quando se mostrasse algum degrau
Levando para além do que me trazes
Seriam mais ferozes ou audazes
Os passos num diverso ritual,
A sorte sonegando algum aval
Traçando velhos erros noutras fases.
E assim ao perceber inútil fardo
Caminho entre os espinhos sei o cardo
E apego-me a qualquer nova esperança.
Porém minha mortalha se contrasta
E a vida se mostrando em fúria gasta
Somente no vazio já me lança...
27728
Avanço contra os mesmos desenganos
E sei ser tão banal caricatura
O que defronte o espelho se afigura
Causando inverossímeis perdas, danos.
E sendo derradeiros estes planos,
Ausente dos meus dias a procura
Gerando por si só qualquer loucura
Ganância dos meus ermos mais humanos.
Abandonado à sorte traiçoeira
Alçando do vazio esta bandeira
Banalizando a dor que agora entranho.
Pudesse pelo menos ter à frente
Momento aonde enfim já se desmente
Demente caminhar de um ser estranho.
27729
Contínuas tempestades tomam céus
E geram desacordos pelos quais
Nefastas emoções toscas, venais
Recobrem minha vida em foscos véus.
Os dias se perfazem mais incréus
Gerando os mais diversos vendavais
Por vezes realidades tão banais
Provocam sem defesa, fogaréus.
Esfumo-me nas ânsias de um vazio
E teimo enquanto luto e propicio
Ao nada este desértico caminho,
Aonde se quisera um arvoredo,
E quando de outra forma inda procedo
Percebo meu final, sempre sozinho...
27730
Pergunto aonde um dia se fez tanto
O quanto nada fora no passado,
Traduzo em viciado arcano dado
A sorte que demonstra o desencanto.
Por vezes falsamente me agiganto
E bebo do meu mundo degradado,
Nos cantos desta casa estou jogado
Aonde quis sorriso, só quebranto.
Adio cada plano que inda tenho
E mesmo se fazendo em tosco empenho
Jazigo da esperança; meu velório.
Apêndice de vida e nada mais,
Ocasos são deveras tão normais
Em quem sabe o futuro ser inglório...
27731
A morte se aproxima e me serena
Enquanto em tal cenário mais atroz,
Emergem-se demônios e ouço a voz
Da sorte finalmente mais amena.
O fardo tanto pesa enquanto acena
Rompendo sem defesas toscos nós
Mordazes ilusões encontram foz
Na imensidão que agora me envenena.
Vogando por seus mares, solidão,
Apenas os destroços se farão
Do pouco que inda resta em podre cerne.
E o medo traduzido num anseio,
Percorre cada poro, cada veio
Tomando toda sorte que o concerne.
27732
São pútridos caminhos os que traço
Carcaça que respira tão somente
Do solo mais estúpida semente
Cevando podridão a cada passo.
Crepusculares sonhos onde faço
Realidade dura e sei premente,
Apenas a mortalha se consente
Aonde uma esperança teve espaço.
Morrer e ter nos olhos a incerteza
Da eternidade feita em luz, beleza
Ou mesmo em infernais fogos terríveis.
Mas bem melhor garanto do que agora,
Aonde a solidão plena devora
Tornando os brados tantos inaudíveis...
27734
Perfaço em trevas toda a minha sanha
E sinto que os destroços já se espalham
Enquanto os desenganos estraçalham
O que restara ainda; e o nada banha.
Neblinas sonegando qualquer lua
E tendo como fundo intensa treva,
Aonde se pensara em mansa ceva
Nevasca nunca cessa e continua.
Descortinando apenas solidão,
Espero por alguém que ainda escute
Ou tente mesmo ouvir e não relute
Serpentes em mil botes preparados,
Resisto aos meus caminhos desbravados
Resultando na eterna negação.
27704/05/06/07/08/09/10
27704
Tremenda jogatina diz a sorte
Que tanto me polui quanto me engana
A poesia outrora soberana
Agora se condena à própria morte,
Sem ter sequer quem mesmo inda conforte
Uma arte que já fora soberana
Ao ser tão destroçada em voz profana,
Não tendo na verdade sequer norte.
Jogada pelas ruas só mendiga,
Morrendo em modernismos, mesmo antiga
Mal se percebe dela os velhos ossos,
Estúpidos espectros do presente,
Maltratam esta estúpida indigente,
Não restarão talvez meros destroços.
27705
Urdindo com palavras o que sinto,
Não deixarei calar quem tanto fez
Comigo e com a vida a estupidez
Gerando este vulcão agora extinto,
E quando de azulejo ainda pinto
O céu que na verdade mais não vês,
Palhaço, tosco e torpe já desfez
Avinagrado vinho, outrora tinto.
Assim a pobre Musa mendigando
Carinhos pela rua, quando em bando
A corja se mostrando mais audaz,
Desnuda a caricata criatura,
E ainda com torpeza me assegura
Que o verso feito ultraje inda é capaz.
27706
Na lápide escreveste a ferro em brasa
O quanto tu querias muito bem
Cadáver putrefeito sem ninguém
Nem mesmo quem deveras já se atrasa.
O enterro desta estúpida compraza
Enquanto outros abutres chegam, vêm
E comem cada resto que contém
A sorte desditosa, cortando a asa.
E agora em mil destroços vejo aquela
Que há tanto desde a Grécia se revela
A deusa mais perfeita e mais bonita,
Achincalhando assim a poesia
Quem tudo já destrói e nada cria
Ainda em redenção teima e acredita?
27707
Quem sabe faz agora e muito bem
Quem não, ao menos deixa a pobre em paz,
Pior do que se fosse Satanás
Abutres mais famintos sempre vêm
E comem cada parte desta que
Um dia se mostrara mais contente,
O fim da poesia se pressente
Somente um idiota nada vê.
Um crime, com certeza isso percebo
Usando algum remédio em falsa dose,
Ainda tem jumento que isto goze,
Matando quando quer com tal placebo,
Veneno a se fartar, tosca peçonha,
O que falta deveras é vergonha!
27710
Não vou ficar aqui calado e apático,
A sorte num momento se perdeu,
Não venha perturbar se sou ateu,
Problema todo meu, mesmo lunático
Direito de não ser sequer simpático
É tanto quanto teu, decerto meu,
Se até Bocage aqui já se fedeu
Melhor é traduzir em senso prático,
Chutando tantos anos de uma história
No mínimo é preciso ter respeito,
Soneto necessita ser bem feito,
Senão a coisa fica merencória,
Primeiro é conhecer a matemática
E o resto só se aprende é com a prática.
27708
Não deixe que consigam transformar
Demônio num querido querubim,
A praga se espalhando no jardim,
Depois vai destruir o teu pomar,
Deixando para trás qualquer luar,
Quem sabe reconhece, dando fim
A toda a palhaçada e mesmo assim,
Um idiota chega e quer brigar.
Liberdade? Direito, reconheço,
Porém não justifica no momento,
A falta mais completa de talento
Decerto merecendo outro endereço,
Perdoem minha tal sinceridade,
Quem sabe, pode vir, mas alto brade!
27709
Adormecida há muito esta quimera
Vencida pelas mãos mais agressivas,
Aonde imaginara ainda vivas
Estanca-se afinal a primavera.
E quando no vazio se tempera
As vozes devem ser bem mais ativas,
Plantando no canteiro sempre-vivas
Não quero só colher abrolho ou hera.
Jagunço das palavras; se preciso,
Não tenho na verdade algum juízo,
Defendo esta banal vaga senhora
Que a cada novo dia mais eu vejo,
Morrendo sem ter glória nem lampejo,
Somente opacidade inda a decora...
Tremenda jogatina diz a sorte
Que tanto me polui quanto me engana
A poesia outrora soberana
Agora se condena à própria morte,
Sem ter sequer quem mesmo inda conforte
Uma arte que já fora soberana
Ao ser tão destroçada em voz profana,
Não tendo na verdade sequer norte.
Jogada pelas ruas só mendiga,
Morrendo em modernismos, mesmo antiga
Mal se percebe dela os velhos ossos,
Estúpidos espectros do presente,
Maltratam esta estúpida indigente,
Não restarão talvez meros destroços.
27705
Urdindo com palavras o que sinto,
Não deixarei calar quem tanto fez
Comigo e com a vida a estupidez
Gerando este vulcão agora extinto,
E quando de azulejo ainda pinto
O céu que na verdade mais não vês,
Palhaço, tosco e torpe já desfez
Avinagrado vinho, outrora tinto.
Assim a pobre Musa mendigando
Carinhos pela rua, quando em bando
A corja se mostrando mais audaz,
Desnuda a caricata criatura,
E ainda com torpeza me assegura
Que o verso feito ultraje inda é capaz.
27706
Na lápide escreveste a ferro em brasa
O quanto tu querias muito bem
Cadáver putrefeito sem ninguém
Nem mesmo quem deveras já se atrasa.
O enterro desta estúpida compraza
Enquanto outros abutres chegam, vêm
E comem cada resto que contém
A sorte desditosa, cortando a asa.
E agora em mil destroços vejo aquela
Que há tanto desde a Grécia se revela
A deusa mais perfeita e mais bonita,
Achincalhando assim a poesia
Quem tudo já destrói e nada cria
Ainda em redenção teima e acredita?
27707
Quem sabe faz agora e muito bem
Quem não, ao menos deixa a pobre em paz,
Pior do que se fosse Satanás
Abutres mais famintos sempre vêm
E comem cada parte desta que
Um dia se mostrara mais contente,
O fim da poesia se pressente
Somente um idiota nada vê.
Um crime, com certeza isso percebo
Usando algum remédio em falsa dose,
Ainda tem jumento que isto goze,
Matando quando quer com tal placebo,
Veneno a se fartar, tosca peçonha,
O que falta deveras é vergonha!
27710
Não vou ficar aqui calado e apático,
A sorte num momento se perdeu,
Não venha perturbar se sou ateu,
Problema todo meu, mesmo lunático
Direito de não ser sequer simpático
É tanto quanto teu, decerto meu,
Se até Bocage aqui já se fedeu
Melhor é traduzir em senso prático,
Chutando tantos anos de uma história
No mínimo é preciso ter respeito,
Soneto necessita ser bem feito,
Senão a coisa fica merencória,
Primeiro é conhecer a matemática
E o resto só se aprende é com a prática.
27708
Não deixe que consigam transformar
Demônio num querido querubim,
A praga se espalhando no jardim,
Depois vai destruir o teu pomar,
Deixando para trás qualquer luar,
Quem sabe reconhece, dando fim
A toda a palhaçada e mesmo assim,
Um idiota chega e quer brigar.
Liberdade? Direito, reconheço,
Porém não justifica no momento,
A falta mais completa de talento
Decerto merecendo outro endereço,
Perdoem minha tal sinceridade,
Quem sabe, pode vir, mas alto brade!
27709
Adormecida há muito esta quimera
Vencida pelas mãos mais agressivas,
Aonde imaginara ainda vivas
Estanca-se afinal a primavera.
E quando no vazio se tempera
As vozes devem ser bem mais ativas,
Plantando no canteiro sempre-vivas
Não quero só colher abrolho ou hera.
Jagunço das palavras; se preciso,
Não tenho na verdade algum juízo,
Defendo esta banal vaga senhora
Que a cada novo dia mais eu vejo,
Morrendo sem ter glória nem lampejo,
Somente opacidade inda a decora...
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