sábado, 26 de maio de 2018

Plantasse uma esperança, porém na horta
A sorte se perdeu faltando o adubo,
Se às vezes noutro espaço ainda subo
A fantasia agora segue morta,

E quando em vários ritos sonho aporta
Mergulho no passado, um velho tubo,
Mudando cada aspecto, prisma ou cubo,
A boca que me beija não me importa,

Serpentes entre farpas e fagulhas
No entanto sem defesas tu te orgulhas
Da faca que entranhaste no meu peito.

E as fontes variáveis do prazer
Podendo a cada instante me perder,
Por sobre finas lanças eu me deito...

MARCOS LOURES


As bocas entre as carnes, lacerantes,
Sentindo cada dente que se entranha,
O verso se moldura na montanha
Aonde me perdera por instantes,
Os velhos predadores são gigantes
E a sorte que sonhei e que me estranha
Deixaram a mortalha como sanha
De quem não poderia ser feliz,
Acerca da mentira que me diz
Quem fosse destroçando o que inda resta,
Nos velhos arvoredos frias caças,
E quando sorridente; ainda passas,
Invés do meu velório; queres festa...


MARCOS LOURES

Versos de amor? Findando tal etapa
O quase se mostrara renitente
Por mais que algum sorriso ainda alente
Não quero mais usar a escura capa.

O sol que cada nuvem chega e tapa
Pudesse ser deveras bem mais quente
Sem ter nada que ainda me faz crente
Das pedras quero apenas fria lapa,

Negando desde sempre esta existência
Apelo para quem com inocência
Ainda crê possível Paraíso.

No cerne da questão, a vida e a morte,
Enquanto a fantasia já se aborte,
Ao menos não terei mais prejuízo...

MARCOS LOURES

A dor que exprimo em versos me deforma
A cada novo tempo mais audaz,
Estrada sem descanso se perfaz
Mudando a cada instante, nova forma.

Não quero obedecer à velha norma
Espero no final algo mordaz,
Bebendo este veneno que me traz
Aquela que propunha uma reforma.

Informo-me dos tempos onde existe
No crivo do passado, sigo triste
E mato esta esperança que me tolhe.

Uma alma em transparência; não percebo,
E quando me entregando ainda bebo
Os restos que minha alma em vão recolhe...

MARCOS LOURES

Minha alma não reprime os desalentos
Se deles os meus versos são a fonte,
Percebo quando escuro este horizonte
Aonde mergulhar em fartos ventos.

Os dias se passando, os pensamentos,
No quanto se podia crer em ponte,
Sentindo que a verdade desaponte
Não posso mais prever novos proventos.

Apenas os mesmíssimos fadares
Por mais que tão distante navegares
Verás que o verso é feito de emoção.

Entrego algum sorriso e em troca tenho
A podre solidão, cruel empenho
De quem se fez amante e volta ao chão...

MARCOS LOURES

Tangesse dentro da alma a harpa sombria
Aonde se moldasse um vasto mar,
E bêbedo de luz a caminhar,
Por mais que toda a vida seja fria.

Aonde se derrama o que seria
Do verso se não fosse o bem de amar,
Perdendo desde agora o meu pomar,
Do quanto quis e nada mais teria.

Assaz glorificante a morte exata
No fundo não seduz e não maltrata
Malogros enfrentando dizem vida.

Asquerosa figura se desnuda
Sem ter quem me condene sonego a ajuda
Prefiro a solidão da doce ermida...


MARCOS LOURES

Qual fosse destas sombras mais sinistras
O mártir que se entrega sem defesas,
Aonde poderiam as belezas
Diversas ilusões já não ministras.

Percorro tão somente em vagas listras
Medonhas emoções, diversas presas,
Carcaça carcomida sobre as mesas,
Das ondas mais vorazes, loucas cristas.

Estrídulos; escuto e nada faço
Somente me regendo este cansaço
Da vida que não vale quase nada,

Mesquinharias toscas, o presente
Que tanto se quisera e se pressente
Matando desde sempre essa alvorada..

MARCOS LOURES



Qual fora um ser que ainda em vão medite
Buscando a solução que não virá,
Servindo desde sempre, sei que já
Não terei nem sequer o que acredite.

Não deixo me levar, qualquer palpite
A sorte vez em quando negará
E o tempo na verdade mostrará
Que tudo que eu queria tem limite.

Obesas ilusões são mais cruéis
E delas imagino fúria e féis
Arcando com os enganos dos meus dias.

Aonde se fizera tentação
Não sendo deste amor, decoração,
Conforme imaginaras e querias...

MARCOS LOURES

Os mares mais distantes eu transponho
Usando como barco, este vazio
Que embora seja simples desafio
É tudo que em verdade inda componho.

O tempo se moldara assim medonho
A vida que deveras eu desfio
No mar que em tempestades já desvio
Enquanto um cais suave; inda proponho.

Repondo as minhas coisas no lugar,
Às vésperas da morte, nada temo,
Primando pelo gozo, como um demo

Vergando-me ao diverso mergulhar
Mereço por acaso esta vergasta
Que a mão feita em carinhos não afasta.

MARCOS LOURES

Aonde imaginara a mansidão
Somente encontro aqui a mesma escarpa
Nas mãos que se sonegam, faca e farpa
O tempo se mostrara em solidão.

Vergando sob o peso da emoção,
Já não escuto mais sequer uma harpa
Minha alma tão pacífica qual carpa
Mergulha no vazio ribeirão

E morto sem saber o que fizera
Aonde inda tentara a primavera
A neve se tornando mais comum,

De todos os engodos a carcaça
Apenas tão somente quando passa
Responde em ladainha: sou nenhum...

MARCOS LOURES

No olhar de quem prepara um simples crime
A fúria desmedida diz que tudo
Não passa deste tempo em que me iludo
Aonde uma verdade não se estime,

A morte sem ventura me redime,
Seguindo em descaminhos, sempre mudo,
No vasto do vazio quando grudo
O verso mergulhado em dor oprime.

Nas carnes decompostas, o prazer,
Se eu tenho vampirescas ilusões,
Os ventos se transformam, turbilhões,

E neles possa ainda mesmo ver
Que nada se fará conforme eu quis;
Porém bisonhamente eu peço bis...

MARCOS LOURES

Quem fora nesta vida messiânico
Paspalho se desnuda em versos frios,
Recebo como herança tais vazios
E o olhar ora cristão, porém satânico.

Não quero nem reparo se houve pânico
Apenso meu destino em vagos brios,
Espectros que me seguem sendo esguios
O mote que perfaço, quase orgânico.

- É carma. Tu dirias, mas sei bem
Que o nada quando em nada se contém
Expressa fielmente o que me resta.

A boca se escancara e traz nos dentes
Os vermes que deveras não pressentes,
Matando o quanto havia alma funesta...


MARCOS LOURES

O amor quando se faz barro ou argila
Moldando uma figura em vasos vários,
Além dos dias falsos, meus fadários
Sem ter sequer quem dores; aniquila,

Esqueço do passado; arcaica fila
Aonde os meus destinos visionários
Escondem as loucuras nos armários
E o fogaréu da fúria inda destila.

Esvaem-se em segundos tudo o que
Pensara e na verdade não se vê
Sequer a velha sombra do que fora.

Misturo os meus fantasmas e fantoches,
Por mais que dos meus medos já deboches
Minha alma sem remédios, sonhadora...


MARCOS LOURES

Exércitos de farsas e mentiras
Em turbilhões diversos versos verso
O peso do passado vai disperso
Nas balas que deveras já me atiras,

E quando nos vergões inda prefiras
O tempo se moldando no universo,
Seguindo a poesia e nela imerso
Ainda busco em vão belas safiras.

E o fogo não se cansa e me devora
Afloram-se desejos desde agora
Causando no meu peito o descalabro,

E quando a fantasia enfim eu abro,
Descubro a solidão que me decora
No riso da verdade, mais macabro...


MARCOS LOURES

Não pude suportar o teu sorriso
Imaculadamente um falso gozo,
E sendo sem candura, pedregoso,
Mergulho no vazio; mais preciso.

E tudo o que pensara ser um guizo
No fundo outro caminho que ardiloso
Moldaste com audácia, caprichoso,
E quanto mais refúgio, mais eu biso.

Frisasse alguma frase eu poderia
Sentir quem sabe ao fundo, a fantasia,
Mas nada me poupando já clareia,

E a carne se apodrece em vãos pedaços,
Ainda do passado, queimo os laços
A lua nunca mais se fez tão cheia...

MARCOS LOURES

Cantasse pelo menos a esperança.
Mortalhas que inda trago; não esqueço
Bem sei que este final; quero e mereço
Enquanto a sorte ao largo já se lança.

Pudesse ter previsto uma mudança,
Ao menos se tivesse outro endereço
Tortura não seria este adereço
Que aos poucos entre as carnes vai e avança;

Meu verso amortalhado só traduz
O que me falta ainda, porto e luz.
Desabrigado sonho perpetua

O fogo que não cessa um só momento,
E quanto mais voraz eu me atormento
Deitando sob o incêndio de uma lua...


MARCOS LOURES
Desfilam-se cadáveres e restos
Aonde poderia crer que a vida
Por mais que se mostrasse dolorida
Já não trouxesse ritos tão funestos,

Em meio aos furacões, loucos incestos,
Medonha e sem desculpas a ferida,
Que entre meus pesadelos fora urdida,
Moldando com terror antigos gestos.

Escrevo em toscos versos o que embora
Pareça bem mais mórbido se aflora
E toma todo o corpo, invadindo a alma,

Somente o gozo amargo deste fel
Que tanto produziste, é teu papel,
Depois de tantas fúrias, inda acalma...

MARCOS LOURES

Mergulho na lagoa dos engodos
Aonde se apodrecem esperanças
E quando entre nenúfares me laças
Encontro tão somente podres lodos.

Escudo-me nos vermes, sei-os todos
Jamais esperaria temperanças
Nem mesmo arcando enfim com tais lembranças
Nas mãos velhas vassouras, toscos rodos,

E tudo não se limpa, putrefeitos
Medonhos caricatos foram feitos
Do barro em que o demônio defecara.

Assim, nos olhos vagos do profeta,
O verso incoerente de um poeta
Descobre de Satã o corte e a vara.

MARCOS LOURES

Não quero esta versão que heroicamente
Fizeste para a sorte que não veio,
E sendo assim por certo banqueteio
Fazendo do mesquinho, uma semente.

O beijo que me deste, sempre mente
E o peso do passado de permeio
Moldando este caminho que receio,
No barco que naufrague novamente.

Os pés quando amputados salvação
De quem ao se perder na podridão
Ainda busca a vida, mesmo parca.

E tendo a poesia como amiga,
Por mais que no vazio inda prossiga
A sorte noutros cantos desembarca...

MARCOS LOURES

Paixão que represento em sacrifício
Cortando a minha pele, a fina adaga
A boca da serpente quando afaga
Fazendo da peçonha o seu ofício,

Trazendo nos seus olhos, precipício,
Enquanto a violenta onda me traga
Fugindo de mim mesmo em fria plaga
O quarto é como outrora fora. Visse-o.

Aspergindo os demônios que me deste,
Agruras são sorrisos, gozo é peste,
E o tempo não decifra os meus anseios.

Morrer em podres fardos, árduo rito
Alçando o meu caminho ao infinito,
Já não suportaria mais rodeios...

MARCOS LOURES

Dos restos que hoje sou eu me alimento
Estômago; intestino, eviscerado
Arquétipo do errôneo e vão passado,
A cada novo tempo ainda tento,

Mas sei que na verdade mesmo atento,
Vazio será sempre o meu legado,
Percorro os descaminhos, cada prado,
Não traz sequer a paz, tampouco alento.

E beijo apodrecidos dedos; fardo
Que carregando ainda em plena vida,
Invés da quaresmeira; agora o cardo

Aquilo que decerto ainda sou,
A sorte num momento sendo urdida
Demonstra tão somente o que restou...


MARCOS LOURES

A vida se transcorre em tal rancor
Que nada sossegando o peito aflito
Por mais que na verdade seja um rito
Aonde abarco um cais em plena dor.

Negar a própria sorte muda a cor?
Meu tempo é muito pouco e ser finito
Transforma qualquer verso num só grito
Jamais verei um mágico sol-pôr.

Quebrando estas correntes; me liberto,
Por mais que meu futuro seja incerto
O certo é que não tenho muitos dias.

E a morte se aproxima velozmente
O frio que eternal a alma pressente
Deveras o que sempre tu querias...

MARCOS LOURES
Os monstros que carrego dentro da alma
Medonhas criaturas que decoram
De vez em quando loucas já se afloram
Causando tão somente medo e trauma.

Da angústia reconheço dorso e palma
E os vermes que deveras me devoram,
Apenas tão somente comemoram
E a cena na verdade ainda acalma.

Quisera ter no fim algum momento
Aonde pelo menos me apascento
Ausência de mentiras e sarcasmos.

Os olhos se esvaziam, se esfumaçam
Enquanto os meus demônios se disfarçam
Os dias seguem vãos, deveras pasmos...

MARCOS LOURES


A vida, esta maldita fantasia
Que tanto nos domina e depois disto
É como se em verdade não existo
A morte se apodera e a paz se cria,

Lateja dentro da alma esta agonia
Por vezes, idiota até insisto
No gozo que deveras sem ser visto
Apenas é longínqua melodia.

Assassinando os sonhos, não me resta
Senão tal desvendar de tolos mitos,
Percorro devagar os infinitos

E vejo o grão que sou nesta floresta
Poeta que, iludido já se cansa
Matei esta quimera, uma esperança...

MARCOS LOURES

Um verso violento em mar bravio
Perpetuando a dor que me legaste,
A porta que deveras tu trancaste
E em loucas sensações já desafio,

Mergulho no passado em que desfio
Rasgando qualquer sonho. Sou desgaste
Do tempo que se deu algum contraste
Descrevo tão somente o medo e o frio

Aonde não pudera ter preciso
O mundo que devoras, fera escracha,
Minha alma se desmancha e não mai acha

O rumo entre tempestas e procelas,
Mesquinharias são muito freqüentes
E sabes quão mordazes os dementes

Momentos em que nua te revelas...


MARCOS LOURES
A voz da violência que se espalha
Por toda a minha casa, não consigo
Vencer o meu fantasma em desabrigo
A vida se mostrara tão canalha

No fio, o desafio da navalha
E a carne apodrecida, tosco artigo
Vendido em livrarias, mas não ligo,
Apenas a verdade me atrapalha.

Pereço paulatina e friamente
E enquanto a realidade não desmente
Sou mero caricato do que fora,

Servido de bandeja num banquete
Soneto em despedida, este bilhete
A morte enfim seria redentora...


MARCOS LOURES

Apenas entre insetos sou inseto
Numa metamorfose em perda e dor,
A pútrida emoção a se compor
Diversa do que outra eu quis dileto.

No verso mais feliz, o predileto,
Ainda poderia ter louvor,
Agora me entranhando este rancor
No qual sem preconceitos me completo.

Ascendo ao meu martírio com ternura,
E sei que na verdade a morte cura
Aquele que em tristezas e ilusões

Bebera deste cálice sagrado,
Agora segue sendo destroçado,
Exposto às asquerosas refeições...

MARCOS LOURES

Procuro tão somente o suicídio
E bebo esta cicuta que me dás,
Assim quem sabe, enfim, encontre a paz,
Depois de tanto tempo em vão dissídio

O verso que pudesse em manso vídeo
Na vítrea passarela sendo audaz
Devorando os escombros é mordaz
Meu mundo se perdendo após. Agride-o.

A raiva se estampando nos meus olhos,
Ferrolhos impedindo uma saída,
E a morte se moldando diz da vida,

Somente entre espinheiros, meus abrolhos,
Atóis que imaginara não existem,
E os ventos mais sombrios já persistem...

MARCOS LOURES
Aonde imaginar poder crer
E ter dentre dos sonhos horizontes,
Devastas com a fúria minhas pontes
Matando o que podia amanhecer

Nas mãos trazes poderes, mastodontes
E bebes do meu sangue até verter
Roubando a fantasia, toma o ser
E secas da esperanças, parcas fontes.

Assim é que se mostra o quanto queres
E mesmo que deveras interferes
No quase que eu herdei e não consigo,

Dos charcos onde encontro a placidez,
Somente o que me resta em lucidez
Transmite ao andarilho algum abrigo...

MARCOS LOURES

Se ao largo da ventura a paz prefiro
E nada conseguindo eu me permito
Além do que talvez fosse infinito
O corte mais profundo em que me firo,

Apenas dos teus olhos vejo o tiro
E nele está o prazer do ser aflito
Que embalde sortilégio seja dito
Às voltas com vazios, inda giro.

Aprendo a cada dia ser assim,
Nefasta poesia que há em mim,
O pão que me sonegas, distribuis,

Embora virulenta criatura,
Na morte ou na esperança que me cura,
Deveras já não vagas nem influis...

MARCOS LOURES

Olhando com firmeza e nitidez
Percebo que deveras não sou nada,
Vestígio do que andara noutra alçada
Aos poucos minha vida se desfez,

E nesta mais completa estupidez
A sorte foi há muito, destroçada,
Por mais que inda tentasse uma guinada
Não quero ter mortalha em que se fez

A sanha dos poetas e dos loucos,
Se os gritos são embalde, seguem roucos
A porta que trancaste, não arrombo;

Não vejo outra saída nem preciso,
O beijo sem caráter, um aviso
Que preconiza agora a queda e o tombo...

MARCOS LOURES

Aspectos tão diversos, mesma face,
A mortalha que deste, um vão presente
Por mais que uma saída ainda tente
Não posso superar qualquer impasse.

Embora a realidade me desgrace,
Jamais dela seria assim, ausente,
E o quanto do vazio uma alma sente
Permite o mais sombrio desenlace.

Acaso sem saída, morto o sonho,
Nos antros mais escusos, decomponho
Apêndices de um velho trovador,

Que outrora em versos mansos quis a vida,
E agora esta sarcástica ferida
Envolve-me num rito e num louvor...


MARCOS LOURES

Observando deveras os mais altos
Montes onde encontrei alguns sinais
Dos dias que passamos; anormais,
Degraus enormes, sempre tais ressaltos.

Os dias que pensara serem lautos
Agora em vãos momentos, transformais,
O quanto se buscara foi demais
Os passos traduzindo os mais incautos

Caminhos onde a sorte se fez tanta
E ao mesmo tempo a morte se levanta
E ri-se desta orgástica loucura.

Já não comporto mais mesquinharias
Diverso deste mundo que querias,
A morte mansamente me procura...

MARCOS LOURES

Apenas do que fui, mera parcela
Que tanto me maltrata e me magoa
Enquanto o pensamento segue à toa
O barco se perdendo, rota a vela,

A boca que é mordaz já me revela
A vaga sensação que ainda aproa
Naufrágio se prepara enquanto voa
O sentimento em paz jamais se atrela.

Agora o fim de tudo se apresenta,
E apenas o vigor de uma tormenta
Nefastas ilusões, que as leve embora.

O gosto tão amargo que deixaste,
No amor que me disseste, simples traste
Pantera numa espreita me devora...

MARCOS LOURES


Imagem quase informe do que fui,
Passado se mostrando em fria cena,
Enquanto a realidade ainda apena
O bêbedo desnudo ainda flui

Rondando esta esperança que ora rui,
Não quero nem vestígios de uma pena,
A boca que beijara me envenena
E o podre a cada dia mais influi.

E vá-te procurar noutra vereda
Aquele que deveras te conceda
Um gozo mais atroz, velha profana.

Se eu sou este cadáver insepulto,
Não quero nem a sombra do teu vulto,
Canalha que deveras desengana...

MARCOS LOURES

Restando do total pequenas partes
Ainda não consigo crer na morte,
Que sei ser desta vida sempre o Norte
E mesmo que conceda tais apartes,

Não verso sobre as formas nem das artes
Eu quero a sensação de algum suporte,
Não tendo uma alegria que se aporte
Resisto bravamente a tais enfartes

E quase não retenho mais os medos,
Aonde se fizeram meus degredos
Os dedos gangrenados não importam.

Se ao menos permitisse algum respeito,
Porém neste vazio em que me deito
Os dias como facas finas, cortam...


MARCOS LOURES

De dores e terrores são compostos
Os dias em que teimo resistir,
Sabendo do vazio do porvir
As dores são decerto, meus impostos,

E os dedos pouco a pouco decompostos,
Os tempos não serão como há de vir
O canto que não pude mais ouvir
E os ossos cada dia mais expostos.

Na macilenta imagem que ora vejo,
Especulares formas do desejo
Outrora insaciável e hoje morto.

Não tendo outra saída, e ancoradouro,
Nos braços da mortalha em que me douro
Imaginando ainda um frágil porto...

MARCOS LOURES
Deveras exageras proporções
Dos sentimentos tantos que vagueias
Aonde imaginara praia e areias
No fundo são somente provações.

E sei que quanto mais louca incendeias
E tramas outros rumos, direções,
Acendes com loucura os furacões
Entranhas pelas casas, nas ameias.

Escravo do vazio que legaste,
Ao menos ser gentil, não há desgaste
E o peso se tornando um empecilho.

Abrindo os tumulares descaminhos
Envolvo-me deveras nos espinhos
A solução; aos poucos engatilho...

MARCOS LOURES
Olhando pelo imenso telescópio
Talvez divise estrelas, nebulosas,
Perfeitas maravilhas, fabulosas,
Delírio comparável mesmo ao ópio.

Enquanto num incrível microscópio
Mais diversas bactérias perigosas
E criaturas vagas, caprichosas
E o mundo desde o nano ao macroscópio

Permite-se vagar em formas várias.
Assim ao refazer a própria vida,
Jamais conhecerás real ermida,

Porém almas errantes, meras párias
Envoltas nos mistérios dos degredos
Em fátuas ilusões, vários segredos...

MARCOS LOURES

Sonhasse com diversa maravilha
Não fossem os meus versos realistas
As mãos de insuperáveis, bons artistas
Apenas fantasia, o canto trilha.

Nefastas ilusões, não sendo uma ilha
Apenas o mordaz inda conquistas
E quando noutros rumos tu me avistas
Minha alma sem fulgor, já não mais brilha.

E o ocaso se fazendo mais freqüente
Ainda é que o em verdade se pressente
Depois de não valer sequer a prece.

O peso que se impõe sobre estas costas,
É tudo o que decerto ainda apostas
E a morte salvadora se oferece...

MARCOS LOURES

Tal qual se imaginara assim medonha,
Imagem refletida neste espelho,
Deveras bebo o gozo que aconselho
Enquanto uma alma tola ainda sonha.

Escrevo sem ter medo nem vergonha
Apenas não suporto e me ajoelho
Defronte ao paraíso em que me espelho
Além do que este verso te proponha.

Ao menos uma paz que necessito
Não mostre ser diverso deste rito
O canto que encenara o fim dos dias.

Mereço pelo menos caridade,
Por isso não desejo nem saudade
No inferno que deveras me querias...


MARCOS LOURES

Apenas do que fora, simples fumo
Aonde se fizera força, o vago,
E quando a minha morte ainda afago,
Eu bebo da tristeza todo o sumo.

Os erros do passado se eu assumo
Procuro pelo menos mais um trago
Da vida que se perde em cada bago,
E a cada novo dia me consumo.

Perdesse algum momento e não teria
Sequer o que pudesse em alegria
E tu escarras sempre com teu ódio.

Repúdios que me deste são comuns,
Os dias mais felizes, se inda alguns
Meu corpo apodrecido enfim. Açode-o...


MARCOS LOURES

Expondo dos meus sonhos simples fósseis
Mesquinhas emoções herança dada,
O corte que se mostra enquanto enfada
Momentos que pensara bem mais dóceis

No fundo se permitem mais indóceis
A sorte que deveras me degrada
A boca que me beija nauseada
E os vermes sãos os mesmo que inda roceis.

Efêmeros prazeres; não mais quero
O gozo deste pútrido ser fero
Não satisfaz a quem se fez mortalha.

E quando a faca brilha em tuas mãos,
Jogando nestes solos, vagos grãos,
A senda dos senões a morte espalha...

MARCOS LOURES

Aonde se fizeram toscas crenças
Somente o não se mostra mais completo,
E quando deste vago me repleto
Não posso suportar as desavenças

Por mais que disto tudo; já convenças
Das várias convenções; se inda deleto
O tempo mais complexo, predileto,
Dirá dos descaminhos e doenças.

Naufrágios são comuns em quem procura
A noite sem estrelas tão escura
Nesta obscuridade o meu degredo,

Aonde se moldara alguma luz,
O tempo sem ter tempo me conduz
Ao quanto se perdera desde cedo...


MARCOS LOURES

Buscando alguma forma quando e como
Pudera desvendar segredos vários,
Os dias entre nuvens, temerários,
O tempo com vigor diverso eu tomo,

E bebo do prazer enquanto domo
Os medos onde escondo meus fadários
Revelo os dias tolos, seus horários
E tudo o que pudera; simples pomo.

Assenta-se a poeira e o tempo passa,
Aonde imaginara uma fumaça
Apenas leve brasa e nada além.

O quadro se repete vez em quando,
E vejo o mundo inteiro desabando
Olhando de viés, tanto desdém...


MARCOS LOURES

De minhas podres mãos a sorte arranca
Pedaços entre facas, canivetes
E tudo o que deveras me prometes
Somente este vazio te desbanca.

Aonde se mostrara uma carranca
Os olhos; coniventes, arremetes
E teimas com escuros e competes
Enquanto a vida atroz devora e espanca.

Não pude mais conter sequer o quanto
Decerto se mostrasse em desencanto
O pranto não sossega, mas prefiro

Metânica explosão em fátuo fogo
Do que poder mostrar em algum rogo
A bala prenuncia a morte e o tiro...


MARCOS LOURES


Qual fora de carneiros, um rebanho
Seguindo o seu pastor, podre promessa,
A história noutra senda recomeça
E o jogo que pensara ainda ganho

Deveras não permite o que inda entranho
Mesquinhos os temores, já confessa
Uma alma que perdida em vão tropeça
Causando o mais profundo corte e lanho.

A perda dos sentidos, convulsão
Esgueiro-me entre as urzes; proteção
Não tenho e nem pretendo, sou assim,

Martírios de mim mesmo vergastadas
As portas do futuro estão cerradas
A vida se prepara para um fim...

MARCOS LOURES

Bebendo desta estrela matinal
O raio que se entranha me diz: trai.
O quanto sem enganos já distrai
O rosto se mostrando mais venal.

O berço deste encanto sideral
Moldando o que deveras alma esvai
No berço aonde outrora quis um pai
Apenas a vergonha toma o sal.

E quando se mostrasse a face escura
Do quase que me leve em tal loucura
Vital essência; eu busco no vazio.

E tendo em minhas mãos a morte insana,
O quanto do meu mundo se profana,
Responde pelo quanto me esvazio...

MARCOS LOURES
Se a cada novo instante ainda assomo
A imagem tresloucada deste inferno
Aonde se fizesse ainda eterno
O fogo que deveras não mais domo.

Descomunal figura sabe como
O mundo não teria um vento terno
Se em meio aos teus rancores eu hiberno
Vivendo a profusão de um longo inverno

A vida dividida em cada tomo.
Asperges os teus tétricos fulgores
E quando novo tempo; recompores

Verás quão frágil sonho se apresenta
A quem aquém do todo é sempre escasso.
E quando nos intentos eu fracasso
A vida se propõe mais violenta...

MARCOS LOURES

Vislumbro minha vida com clareza
E sei que nada fui e nem seria
O tolo que se envolve em poesia
Morrendo num momento, velha presa,

E quando a mão desfere a seta, tesa
Esconde o que restara da alegria,
Não posso ser cruel, mesquinharia
Só tendo a minha morte por defesa.

Aonde se escrevesse uma emoção,
Deveras encontrei a negação
E afagos desta fera envilecida.

Assim melhor seguir a minha estrada
Que mesmo só levando ao mesmo nada
Traduz mais fielmente o que foi vida...


MARCOS LOURES

A podridão que aos poucos já me invade
Por mais que ainda seja bem sutil,
No fundo tanta imagem permitiu
Enquanto a vida em farsas se degrade.

Apego-me aos valores da saudade
E sei que na verdade isso faz vil
Quem tantas vezes teve e repartiu
Buscando sem perdão saciedade.

Apego-me aos valores mais venais
Enquanto em vilipêndio transformais
Os riscos que pensara serem vagos.

Os beijos desta pútrida quimera
Causando desde sempre a louca espera
Seriam das mortalhas seus afagos...

MARCOS LOURES

Nas vozes do além túmulo as verdades
Que não sonegaria, pois credito
Aos vermes o melhor de cada rito
Bebendo sem pudor as veleidades.

Enquanto apodrecendo me degrades
Terminas com meu tempo que é finito
E o rosto decomposto exposto aflito
Ainda vê distantes velhas grades.

E sendo sempre assim, a vida e a morte,
Não posso sufocar; negar a sorte
E o verso se aprofunda nos vazios.

Aonde se moldasse uma esperança
Mortalha enegrecida, já se lança
Das velas, acendendo os seus pavios...


MARCOS LOURES

Na mesma proporção que a dor aumenta
O frio dentro da alma já progride,
Enquanto a realidade sempre agride,
Na forma mais audaz e violenta

Nem mesmo a solidão ora apascenta
Aos tempos mais felizes, vã regride
E o passo a cada dia se decide
Bebendo do vazio que alimenta.

O escasso caminhar não leva mais
Aos dias que pensara sempre iguais
No fundo são deformando o que buscara

Carinho sendo escárnio me acompanha
Forjando da aguardente este champanha
Fazendo da ferida, imensa escara...


MARCOS LOURES

Niilista tantas vezes quis respostas
E as velhas negações, versões diversas,
Acima dos enganos e conversas,
As mesas entre corpos sendo postas,

Se gostas do que escrevo ou se não gostas,
Verdades sobre as quais também não versas,
Esgoto nos anseios, sendo imersas
Palavras que devoras; nunca expostas.

Apenas os postais de antigos medos,
Aonde se trancaram meus segredos
Sem chaves, estes cofres nada são

E perco-me deveras, desvarios,
Semeio quando colho os desafios
E trago em cada sim a negação..

MARCOS LOURES

Não quero discernir morte de gozo
Se todos os caminhos, mesma foz,
Aonde se mostrara algum algoz
O dia sendo assim maravilhoso.

O peso do passado, desastroso,
E o canto que me embarga e cala a voz
Perpetuando o resto que há em nós
Decerto o meu destino é caprichoso.

Caleidoscópios dizem do que sou,
Mosaico que disforme não se expõe
Enquanto a minha sorte decompõe

O preço que se paga é muito caro.
Escrevo tão somente vagas linhas
E nelas com certeza me adivinhas

Putrefação de uma alma eu escancaro...

MARCOS LOURES
Espécies tão diversas que me habitam
Bactérias, vermes, vírus entre helmintos
E mesmo quando exponho meus instintos
As forças animais já se habilitam.

Mais fortes do que a mente quando gritam
Rompendo da ilusão diversos cintos,
Os ânimos que outrora quis extintos
Deveras muitas vezes inda excitam.

O berço se transforma neste túmulo,
E chego mansamente ao cume e cúmulo
Perpetuando o podre ser humano,

Nos ascos que me tens, asas me dás,
E quando se mostrasse mais voraz
Maior o meu delírio vão, profano...

MARCOS LOURES

Na mesma proporção em que me entrego
E vejo destruído cada sonho
O fim da longa história, eu te proponho,
Por mares mais ferozes já navego.

E o quanto se fizera louco e cego,
Ainda em versos frios decomponho
O medo que nos medos eu reponho
Invés de procurar, me desapego.

Bastando ser bastardo e ter por fardo
Abrolho, pedregulho espinho e cardo
Ardentes emoções são falsas tramas.

Esgueiro-me entre ratos neste esgoto,
Da vida devorando o tenro broto,
Aspiro deste incêndio brasa e chamas...

MARCOS LOURES
Cantasse alguma música e talvez
Pudesse crer na tal eternidade,
Mas tendo a fantasia que degrade
Não teimo e perco logo a minha vez.

O quanto em alegrias se desfez
Caminho que pensara em claridade
Agora mais distante a liberdade
No fundo o me resta: insensatez;

O berço em que nasci, apodrecido,
O dia muitas vezes esquecido
O gozo insuperável do não ter.

E quanto mais procuro algum caminho
Somente vislumbrando fogo e espinho,
Vontade de fugir ou de morrer...

MARCOS LOURES

Entre aves de rapina, o bote é certo
E o corpo apodrecido sobre a mesa
Deveras com fartura, a sobremesa
Mudando de repente este deserto.

E sendo pelos medos descoberto,
Não tendo mais sequer medo ou defesa
Exponho-me sabendo ser a presa,
Em campo na verdade sempre aberto.

Somente estes fantasmas que inda levo
Por mais que imaginara ao fim longevo
Escombro de um passado, vil escória

Que morta em plena vida nada diz,
Amortalhando o risco, um infeliz
Perdido sem vigor e sem memória...

MARCOS LOURES

As cores que pensava serem várias
Agora se agrisalham e me afastam,
Os dias na verdade já se bastam
Encontro as vagas noites perdulárias

No céu em abandono procelárias
Os répteis de minha alma que se arrastam
Enquanto nos escuros já contrastam
Com todas as defesas visionárias.

Apego-me ao não ser e tenho nisso
O fogo que em verdade ainda viço
Bastando-me saber da morte em gozo.

O pântano do qual desvendo feras
Expressa as ilusões, falsas quimeras
No espelho me retrato, desairoso...


MARCOS LOURES

Mudando desde já velhas roupagens
Aonde se moldaram risos tantos
Envolto pelos riscos, desencantos
Esqueço as mais felizes paisagens,

E enquanto me entregando às engrenagens
Ao menos não vertendo falsos prantos,
Deveras embarcando em sonhos bantos
Arcaicas melodias e visagens.

Fazendo da esperança uma senzala
A voz que tantas vezes nada fala
Emite em sons sombrios meus lamentos,

E quando em fantasias arrebatas
Sentindo em minhas costas as chibatas
Aonde quis a paz, ganho tormentos...

MARCOS LOURES

Pudesse ter nos olhos os segredos
Que ainda não consigo decifrar
Bebendo as alegrias do luar,
Não posso sonegar velhos enredos.

Se eu tenho o meu futuro entre meus dedos,
Os dias que virão podem falar
Do quanto me acalenta o teu gostar
E mostro-me deveras sem os medos

Que outrora consumiam os desejos
E tendo nos meus sonhos tais lampejos
Despejo em luzes fartas, poesia;

O quadro se mostrando mais sutil,
Permite que entre versos céu anil
Azulejando em paz um manso dia...


MARCOS LOURES

Em flores tão soberbas, Natureza
Expõe na primavera seus primores
E vendo as alamedas multicores
Entregue sem medidas à beleza

E quando se permite tal leveza
Uma alma mais suave em seus pendores
Proclama a maciez de tais amores,
Mostrando fielmente esta grandeza.

Não posso me furtar a tal cenário,
E tendo em minhas mãos o gozo vário
Estendo-me nos versos e agradeço

A sorte de poder ter em delírio
Além do que pensara ser martírio
Das belas fantasias o endereço...


MARCOS LOURES

Por sermos, na verdade sempre assim,
O ser humano em ritos temerários
Destrói a cada dia o seu jardim
E busca para tal seus honorários.

Também a podridão chegando a mim
Destila seus terrores que sei vários
Do mundo simplesmente vejo o fim
Neste holocausto, estúpido fadário.

A morte que em mais mortes já se alastra
Futuro a cada dia mais se castra
E o novo não verá provavelmente

O que ainda resta de esperança
Amortalhada espécie ao vão se lança
Embora tal verdade se apresente


MARCOS LOURES

Por mais que se mostrasse em ordinários
Caminhos, a verdade não se nega
E a humanidade segue sendo cega
Procelas, terremotos: mostruários.

Os versos se entregando aos relicários
Revivem ilusões, o hoje sonega
E quanto mais ao velho já se apega
Futuros são ocasos visionários.

Nefasta criatura à qual se deu
Poder de transformar a luz em breu,
E nisto se produz destruição.

Pensando-se divina, tal canalha
Desfaz este planeta abutre gralha,
Pergunto: quem fará a recriação?


MARCOS LOURES

A sorte que busquei, despedaçada
Angústias devorando o ser humano
Enquanto se mostrando mais profano
Ao mesmo tempo entoa o mesmo nada.

Da outrora presa fácil na caçada
Agora um ser terrível, soberano,
Invés da fantasia traz no dano
A marca da pantera disfarçada.

Serpente que devora outra serpente
E quando se desnuda traz peçonhas
Se com paz no futuro ainda sonhas,

O medo do viver que ora se sente
Traduz a realidade em cores mortas,
Por isso em vãos prazeres, tu te aportas...


MARCOS LOURES

Apenas tão somente o sortilégio
Seguindo cada passo que tu dás,
A fera que, medonha é mais voraz
Mantendo seu poder, etéreo e régio.

O fraco sem ter alguém que inda protege-o
Vagando pelas ruas, pede paz,
O quanto de amargura a vida traz
Sombrias as ruínas, mundo egrégio.

Acreditar na força da esperança
É ter nas mãos ainda a luz que lança
E mesmo entre fantasmas reproduz

A imagem do que outrora se fez belo,
Porém na podridão que ora revelo,
Não bastaria apenas uma Cruz...


MARCOS LOURES

O sonho de esperança desmorona
E trama a solidão, cruel resgate
Após a nossa vida, duro embate
A solidão e a morte, nossa dona.

Enquanto se profana e se abandona
Por mais que uma ilusão já se arremate
O mundo sanguinário ou escarlate
Fingindo nada ver, dorme e ressona.

Assim não poderia ter sequer
O gozo de um prazer que já se quer
E o tempo não seria tão ruim.

Neblinas e fumaças, turvos dias,
Enquanto a fantasia tu parias
A seca toma todo este jardim...


MARCOS LOURES

Aonde se fizeram risos, ritos,
Histriônico mundo se moldara
O corte profanado vira escara.
Os medos se transformam; infinitos.

E quando se mostrassem torpes gritos
Aonde a poesia se declara,
Não vejo a solução; pois desampara
A sorte dos ingênuos, tolos mitos.

Assisto aos terremotos e desta era
Apenas não concebo a primavera
Que espera interminável, vagamente.

Enquanto em parricídio segue a vida
Imagem do Senhor sendo vendida,
Igreja se transforma; incoerente...

MARCOS LOURES

Procuro nas ruínas velhas tralhas
E teimo em me fazer inda poeta
A vida que na vida se completa
Não sabe do terror de tais navalhas.

Apenas no silêncio em que trabalhas
Encontro a fantasia como meta,
Mas sei que a realidade é fria seta
Trazendo ao sonhador, restos, migalhas.

E o pântano aonde se fez pura
A imagem devastada da cultura
Apodrecendo em gozos segue hedônica.

Mecânicas sombrias ditam normas
E quando mal percebe; tu deformas
Fazendo do vazio, eterna tônica...

MARCOS LOURES


Viajo por mim mesmo entristecido
Vencendo os meus rancores mais profundos, 
Em sentimentos torpes, vagabundos
Há muito me sentindo envilecido.

O quanto não conheço inda duvido, 
E bebo dos dejetos tão imundos
Os sonhos se mostrando moribundos
Apenas o vazio é percebido.

Escrevo por tentar saber se posso
Ainda acreditar que alguém perceba
E desta realidade já se embeba

Fazendo do que é meu e teu, o nosso.
Assim numa corrente; entrelaçados, 
A sorte não se lance em meros dados...


MARCOS LOURES

Ao respeitável público, o espetáculo
Começa a qualquer hora, e não tem fim,
Deveras apresento um querubim
Que tem invés de mãos, cada tentáculo!

A sorte adivinhada neste oráculo
Cigana diz que o mundo está chinfrim
E o fogo se espalhando no Jardim,
Invés de proteção; tente outro sáculo.

E Baco desfilando com baquetes
Diabo com as suas diabetes
O Padre vai cantar no trio elétrico

Assim a vida passa e tudo bem,
E quando o Apocalipse diz que vem
O rufar dos tambores se faz tétrico...


MARCOS LOURES

Vagando pelos vastos do Universo
Versões de tempos outros? Inda creio
Não posso me furtar e banqueteio
Usando para tal somente o verso.

E quando noutro tanto sigo imerso,
Não peço e nem tampouco algum receio
Usando a fantasia em que permeio
O templo sobre o qual ainda verso

Mundanas expressões, fundo funesto,
E enquanto aos meus descasos eu me empresto
Adestro o coração, gauche caminho,

Esquadros entre tês, prédio medonho,
Se o todo neste pouco eu te proponho,
Deveras o que resta, desalinho...

MARCOS LOURES

Não veja como fato o que descrevo
E mesmo se pudesse não faria
Se o medo se desmancha noutra orgia
Ainda caminhar sozinho, devo.

E quando nos meus dedos levo o trevo
A sorte na verdade mudaria,
Acervo da ilusão; já não me atrevo
A crer ser mais possível novo dia.

Ardendo nesta febre de consumo,
Eu bebo a poesia e nela esfumo
As pontas de cigarros sobre o chão.

E invento novo vento em tempestade
Por mais que amar demais te desagrade,
Não posso e nem suporto mais perdão...


MARCOS LOURES

Enquanto ainda peço e me estremeço
Enveredando rotas mais diversas,
Não quero mais dos sonhos o endereço,
Nem mesmo conhecer sobre o que versas.

Apenas os desvios, reconheço,
E na verdade aceito estas conversas
Que sei ser muito além do que conheço,
Mas sinto a cada dia, mais dispersas.

Perpetuar a dúvida é talvez
O que melhor na vida já se fez,
A verdade absoluta, uma ignorância.

Não quero ser estúpido e por isso
Da mesma forma em que meu sonho, atiço
Retorno novamente à minha infância...

MARCOS LOURES


As bases do que outrora quis verdade
São frágeis e desabam, pois no fundo
Nas sendas destes vagos, me aprofundo
E tudo se transforma, em realidade.

O que pensara ser variedade
Traduz um sentimento vagabundo
E; quantas vezes teimo em novo mundo
Propondo o que talvez nem tanto agrade.

Orgásticas loucuras vão e vêm
Depois de certo tempo mais ninguém
Lembrando-se das festas tão profanas.

E sabes muito bem que quando eu digo
Do amor eu só pretendo ter abrigo,
Se pensas só em risos, tu te enganas...


MARCOS LOURES

Nos tantos que são poucos eu pretendo
Acerca dos engodos ter certezas,
Se expões as tais emendas sobre as mesas,
Não quero ser retalho, nem adendo.

Escondo-me debaixo do que vendo
Não poderia crer tantas belezas,
As bocas demonstrando firmes presas,
A cicatriz somente um dividendo.

Atento aos teus domínios nada faço
E quero só poder em pouco espaço
Abrir as minhas asas e voar.

Poeta tem um quê de fantasia
Que medra quando vê o que se urdia
Nas tramas dos desmandos de um amar...


MARCOS LOURES

Verdade que deveras turbilhona
O rumo onde embaraça uma emoção,
Degrada desde sempre em podridão
Abaixa dos meus circos, velha lona.

E o pétreo coração não se abandona
E deixa borbulhante sensação
Aonde se fizera alguma ação
A doação sem fé já não me abona.

Se eu quero ou se desfaço, finjo farsas,
Enquanto vez em quando tu disfarças
E mostras gargalhares imbecis.

Não pude condenar quem tantas vezes
Pastor ao desviar as tolas reses
Mostrara seus propósitos mais vis...


MARCOS LOURES


Amor que em fases fazes diferenças
Trazendo em seu lazer dor e promessa
Enquanto a cada tempo recomeça
Provoca tantas vezes desavenças.

Por mais que destes fatos te convenças
O beijo se disfarça e já tropeça
Na boca amordaçada esta compressa
Diversa do que versam tolas crenças.

Não posso discernir meu ir do teu,
Perpetuando o amor que se perdeu
Eu teimo em transformar água no vinho

Aonde inebriado, me torturo,
Porém do quanto fora tão impuro
Saudade cruelmente eu adivinho...


MARCOS LOURES


Desmoronando assim vasta montanha
Entre as neblinas fartas, meu mergulho
De cada sensação, só pedregulho
Cascalho que minha alma agora ganha.

Não posso descrever inútil sanha
Se fútil inda faço meu orgulho
Ao longe do teu mar quero o marulho
Sereia tão dispersa já se assanha.

Nas ondas entre pranchas, tubarões,
Barões entre viscondes e condessas,
Entrego de bandeja tais cabeças,

Na cova aonde havia tais leões
Fazendo do meu verso liberdade,
Palavra até sem nexo me invade...


MARCOS LOURES


Amortalhando o dia que vivemos
Esqueço-me do quanto não se tem
E penso que a saudade diz alguém
Que agora, com certeza já não temos.

Não quero santos falsos, veros demos
Não valem na verdade algum vintém
E tudo o que meu verso diz desdém
Temática disforme quebra os remos.

Exímios nadadores? Nada disso,
O peso do passado rouba o viço
E o compromisso é feito com a morte.

Assentando a poeira, sou atroz,
Meu verso do meu mundo sendo o algoz,
Não há quem me acalente ou me suporte...

MARCOS LOURES

Vontade de meu medo estrangular
Destroçar e deixar em mil pedaços
Acendo o meu cigarro e fumo maços,
Rasgando a minha própria jugular.

Imagem que; prismática e angular
Transforma poesias em abraços,
Os dias se passando sempre lassos,
O medo continua singular.

Agarro os meus desgarros e detenho
O tenho nada diz se não pudera
Aonde não contenho mais a fera

Assanho os seus cabelos, fecho o cenho
Detento deste amor que tento tanto,
Invento um vendaval; me desencanto...

MARCOS LOURES

No júbilo, do jugo me esqueci
E julgo que pensei ter asa própria.
Por mais que a vida mostre ser imprópria
A senda que desvenda o que há em ti.

Metrópoles diversas poles certas
Do pólen, colibris, abelhas, levam
E quando as asas livres se relevam
As bocas beijam méis e me desertas.

Partindo do concreto, concretizo
O tremular que emulas entre as velas,
E sendo o que talvez inda revelas

Ao fundo a tempestade diz granizo.
Sementes da semântica; disperso
Enquanto canto tanto em cada verso...

MARCOS LOURES

Saltava sobre a lava em vão vulcão
Aonde o bonde perde o senso crítico,
Não sendo o que seja este analítico
Caminho leva ao vinho e à viração.

Concreta poesia diz o não
A morte tema homérico quis mítico
Eclético fantoche quase elíptico
Olímpico ser vil sem servidão.

Afasto do nefasto; faustos falsos,
E falo destes fartos cadafalsos
No encalço do meu verso mais perfeito.

Traduz ir-se na luz que não conduzo
Num traduzir-se tanto ou mais confuso
Cafuzo ou mameluco me deleito...


MARCOS LOURES

Canhestro estro ou ostra no ostracismo
Cismando cataclismos cato o vento
Se o menos ou somenos aparento
Aonde houver verão ainda cismo.

E sinto se pressinto o mesmo achismo
Não quero ser o quanto para-vento
Invento uma aversão, dela o provento
No prédio assédio e tédio causam sismo.

Momento onde; mormente adentra infausto
Jamais a mais demais meu holocausto
Jornais ditam notícias, cios, ócios

Extrema unção ação dita a serpente
Ser crente ou coerente ente que mente
Divinos hinos sinos, bons negócios...

MARCOS LOURES

Apenas sou matéria e nada mais,
Mas quando eu fizer em fátuo fogo,
Não tendo mais sequer a reza e o rogo,
Meu verso entre os diversos, frágil cais.

Esboço alguma tola solução
E tento ter a sorte fugidia
De quem em outros mundos fantasia
Sabendo dos vazios que virão.

Não quero e nem pretendo tais lauréis
A poesia é morta e já faz tempo;
Se fosse pelo menos passatempo,
A vida modifica seus papéis.

Aonde outrora houvera alguma luz,
Agora tão somente pedra e cruz..

MARCOS LOURES

Só sei que nada sou e disto faço
Apenas a verdade e nada além
O quanto desejara a sorte o bem,
Restando disto tudo um vão pedaço;

Seguindo cada rastro; ganho o espaço
Enquanto o mesmo nada me contém
Hermético fantasma; sigo aquém
Do quanto imaginara e em sonhos traço.

Murmuro o que pensara ser resposta
E quando vejo uma alma assim exposta
Não tenho outra saída e teimo em crer

Que ainda poderia ter a sorte,
Mudando com certeza o antigo norte
E poderia, enfim, deveras ser.

MARCOS LOURES


Somente do passado um velho entulho
Semente dos escombros que me deste
O nada que do nada se reveste
Demonstra a cada passo, o pedregulho.

E quando; os meus segredos desembrulho
Percebo tão somente o frio e a peste
E a dor na qual o sonho ainda investe
Deveras como fosse algum marulho

Distante dos teus mares, navegar
Enquanto em tal desdita sei do mar
Ouvindo a voz medonha do futuro,

Que tanto amaldiçoa quem espera
A sorte que deveras me faz fera
Atocaiada em solo árido e duro...

MARCOS LOURES
Qual fora nas pirâmides da vida
O vértice deveras almejado
O templo que julgara no passado,
Agora a sorte morta é vã, perdida.

Aonde imaginara enternecida
Sacrílego demônio enclausurado
O beijo que me dei emocionado
Demonstra esta ilusão vaga e perdida.

Se agora eu apodreço pouco a pouco
E mostro-me aos teus olhos quase um louco,
Amontoando em mim velhas carcaças,

Ao largo desta estúpida quimera,
Sem ter sequer piedade, uma pantera
Seguindo o teu caminho, agora passas...

MARCOS LOURES

Aonde quis o sonho, a realidade
Sem ter nem mais escrúpulos; desnuda
A face aonde outrora quis ajuda
E a morte se mostrou sem falsidade.

Por mais que uma esperança ainda nade
O tempo a cada instante sempre muda,
Nem mesmo a caridade que inda iluda
Permite que se creia em liberdade.

Esgarço-me em neons e brilhos falsos,
Audazes os modernos cadafalsos,
Disfarces entre pernas e sorrisos,

A pútrida verdade é feito em gozo,
O mundo se mostrando caprichoso
No Inferno os aparentes Paraísos..


MARCOS LOURES
Desmoronando enfim os meus castelos
Aonde em vãos orgulhos fiz meu mundo,
E quando no vazio me aprofundo
Não restam nem sequer sonhos mais belos.

Espero alguma sorte que não vindo
Desmancha o que pensara ser mais doce,
É como se deveras inda fosse
O mundo mais suave e mais infindo.

Apresso-me a negar os descaminhos
Por onde eu andaria em fogo e lava,
Minha alma que nas trevas se entregara
Buscando solitários, velhos ninhos,

Agora se desfaz em podre esfera
E apenas o final, ainda espera...

MARCOS LOURES

Pensara poder ter além do todo
Alguma explicação mais convincente
E tudo o que minha alma ainda sente
Expressa na verdade podre e lodo,

A vida por si só, um grande engodo
E neste mundo, apenas penitente
Por mais que outro caminho ainda tente
Já não conheço mais paz nem denodo.

E quando tento um ar mais respirável,
Ou fonte que se mostre enfim potável
A mesma putrefeita solidão.

E esvaio em farsas tantas como um pária,
Minha alma muita vez incendiária
À vida apresentando esta aversão...


MARCOS LOURES
O quanto do passado construíra
E desde então somente o nada levo,
Aonde me entreguei; já não me atrevo
Castelo em esperanças, pois ruíra.

Não trago mais no peito ainda uma ira
Tampouco este rancor terrível, cevo
Nem creio num amor que se, longevo
Ainda outro caminho exposto, mira.

Erijo dos meus ermos este sonho
E morto quando em tréguas recomponho
O mundo feito em fera e mais atroz,

Não quero ter somente o vão tormento,
E quando noutros braços me apascento,
Tornando mais suave a minha voz...


MARCOS LOURES
Se exalto o antigo sonho em que talvez
A minha vida enfim teria paz,
Não posso me sentir mais incapaz
Se o amor em tanto amor já se desfez;

Mortalha vem tomando em altivez
Aquilo que pensara mais audaz,
A morte se aproxima e nisto traz
O fúnebre fantasma que tu vês.

Esqueço a cada dia do que outrora
Ainda poderia sem demora
Vivenciar em tempos mais felizes,

Não sei se eu poderei sanar as dores,
Só penso em te pedir para repores
O que em alegrias já desdizes...

MARCOS LOURES
A dor que agora invade e assombra o sonho
Aonde poderia ter um dia
No qual com tanta fé mergulharia
E a cada bordoada, decomponho.

O que se mostraria tão medonho
Não sei se valeria a fantasia
Na qual uma alma tola ainda urdia
Um verso que pudesse ser risonho.

Insepultas verdades me açodando,
O quase se desnuda desde quando
O tempo demonstrou vago final,

Aonde poderia ter um porto
Não quero, pois me encontro quase morto
Além do meu espúrio funeral...


MARCOS LOURES

A estrada em que decerto inda palmilho
Não tendo mais um ponto em que eu consiga
Apenas a palavra mais amiga,
Um velho coração de um andarilho

Fazendo da esperança amargo trilho,
Ainda que deveras já prossiga
A cada nova curva mais periga
E mesmo entre os humildes, eu me humilho.

Arcando com os meus tantos desacertos,
Vencendo os desafios e os apertos,
Não posso me furtar ao meu ocaso,

E galgo as mais tranqüilas ilusões,
Por mais que sejam curtos os verões
O pouco já me basta, e nisto aprazo...

MARCOS LOURES
Quisera a minha vida mais augusta
Aonde se pudesse crer na sorte
Que tantas vezes trama a minha morte,
E o pouco do que resta inda degusta.

A voz dos meus espectros não me assusta,
Mas tendo tão somente o fundo corte
E a ausência da esperança que conforte
A vida, mesmo parca tanto custa.

Quem dera algum lampejo de alegria
Enquanto a poesia se esvaia
Deixando a solidão por companheira,

Integro os mais profanos bandos, párias.
Aonde imaginara luminárias
A luz por entre as trevas, vã, se esgueira...

MARCOS LOURES
Se tudo o que pretendo foi negado,
Em cântaros esqueço cantorias
Os sonhos na verdade sempre adias
E mandas com silêncio, o teu recado.

O prazo descumprido e nunca dado,
As horas que entre os dedos escorrias
Deixando como marca tais sangrias
O corpo exangue além abandonado.

Esqueceste de tudo, mas talvez
Ainda me restando a lucidez
Eu possa refazer a caminhada.

Porém neste funéreo beijo amargo,
A voz que ainda teimo; logo embargo
A vida de uma vez, esfacelada.


MARCOS LOURES

Ainda se pudesse ter saída
No imenso labirinto feito em urzes,
Enquanto no passado vira cruzes
Agora desconheço a própria vida.

A sorte abandonada, ou esquecida
Jamais eu poderia ver as luzes
Por trevas mais obscuras me conduzes
Sabendo que o rancor ainda agrida

Quem vive do passado tão somente
Sonega para o chão; o grão, semente
E tudo não passando de um aborto,

Aonde se pudesse crer na paz
Apenas o vazio já se traz
Negando ao navegante qualquer porto...

MARCOS LOURES

Encontro os meus espectros nos ermos
Envoltos em neblinas, noite escura
A cova que me deste em terra dura,
Convida ao que talvez em outros termos

Ainda gostaria de podermos
Arcar com as angústias da procura
E enquanto o pesadelo já perdura
Sem nada que sonhar até bebermos

Do fel evaporado deste espaço,
Aonde o ar se mostre mais escasso
Pedaços do que fomos, e ainda sou.

Nesta fantasmagórica ilusão
A morte se desenha em aversão,
Porém foi na verdade o que restou...

MARCOS LOURES
As belas iguarias; banqueteias
E rapineira sombra já me ronda,
Enquanto este fantasma agora sonda
Entranho sem saber em tuas teias.

Por mais que uma alma tola ainda esconda
Tu sabes desvendar artérias, veias
E bebe todo o sangue que saqueias
E a voz em alto brado como estronda...

Estrídulos diversos, murmurantes
Espelhas o que tanto desejaras,
E quando nos meus pântanos a clara

Visão de tolos dias, tu vens antes
E tramas com deveras competência
A morte sem perdão nem indulgência...

MARCOS LOURES

Festins aonde encontro estas rapinas
Esbaldam-se com pútridos manjares
E bebem desejosas, como em bares
O sangue em que se escorrem tuas sinas,

Pudesse perceber quanto fascinas
Abutres e chacais, seres vulgares,
Os vermes te elevando aos vãos altares
Da negra podridão, fazem-te minas.

E assim em tais orgásticas loucuras
Por entre estas neblinas, já perduras
Eternizado em pérolas sombrias.

Esgota-se deveras num instante
No riso mais audaz e delirante
Das tétricas e horrendas confrarias.


MARCOS LOURES

E quando dos meus olhos se apagarem
O que se fez penumbra e escuridão
Voltando a fecundar o velho chão
Enquanto os vãos das terras me tomarem,

Resgates que deveras ao cobrarem
Mergulharei na treva e solidão,
Na marcha em que se faz putrefação
Somente estas ossadas, se buscarem.

O fardo de uma vida se faz leve,
Momento que julgara amargo é breve
E o túmulo servindo qual remanso,

As lágrimas aos poucos se esquecendo,
O dia noutro dia renascendo
A paz que tanto quis, enfim alcanço...


MARCOS LOURES

Pudesse ter nas mãos a garantia
De um novo amanhecer em luz tranqüila,
Porém a solidão venal destila
A fúria pela qual perceberia

A turva caminhada. Mereci-a.
Se o homem quando feito desta argila
Retorna à própria terra. Ao descobri-la
Verás vermes famintos numa orgia.

São pertinentes fatos; pó ao pó,
Por isso ao percorrer a vida só,
Desvendo dela mesma os seus anseios.

E quando a voz silente se fizer
O rumo; preconizo onde puder
Saber destas entranhas, ledos veios...


MARCOS LOURES

Do verso se fazendo eternidade
Aonde vários bardos se impuseram,
Os dias invernosos compuseram
O que se fez em dor, leda saudade.

E quando a solidão tenaz invade
Além destas tristezas que se esperam
Poemas com cuidado mais se esmeram,
Na dor alheia o vento que te agrade.

Esboço alguma frágil reação
E crendo que outros tempos não virão
Mergulho no vazio, ensimesmado.

Pudesse ter a sorte de prever
E até quem sabe, o rumo reverter
Revendo os meus enganos do passado...

MARCOS LOURES

O tempo se renova e não consigo
Ainda crer que tudo se desfez no dia a dia
Aonde ainda houvera poesia
A sorte que; distante inda persigo,

Procuro algum refúgio ou mesmo abrigo
Enquanto o mundo inteiro desfazia
A minha história. Triste então, eu vi-a
Expressa num tormento; meu amigo.

Aonde eu quis um mundo mais liberto
O passo a cada tempo desacerto
E incerto bebo as mágoas, nostalgias.

E embora me perceba mais ausente,
O quanto de mim mesmo inda se sente
Revivo em belos sonhos, melodias.

MARCOS LOURES

sexta-feira, 25 de maio de 2018


À terra devolvido, nada temo
Sequer a solidão dos ermos solos,
Aonde eternamente terei colos,
Medonhas tempestades, louco Demo,

Quem sabe na verdade, barco e remo
Sem ter as velhas chagas, tristes dolos,
Assim o meu futuro entre tais pólos
No qual a cada dia mais me algemo.

Ou mesmo este vazio e turvo nada
Dizendo do que outrora fora a vida,
E sendo pouco a pouco já perdida,

Entre sendas diversas maltratada
A pútrida e venal realidade
No terror infernal, ou claridade...


MARCOS LOURES

Verdade midriática em lividez
Assim vejo o futuro inexorável,
Angústia a cada tempo renovável
Num misto de loucura e lucidez.

O quanto do que outrora se desfez
Mergulho num abismo inabitável
E tento ter um mundo que, improvável
Noutro caminho belo se refez.

Excêntricos prazeres e ternura,
A morte traz na morte a própria cura
E o beijo desta terra, o derradeiro.

Semântica somente e nada mais?
Romântico delírio diz de um cais
Quiçá pudesse crer ser verdadeiro...


MARCOS LOURES

A mãe de todos nós; Natura em chamas,
Aonde se pudesse crer no sonho
O barco se perdendo, não reponho
A vida destroçada em tolas tramas.

E quando à realidade tu me chamas
O tétrico sorriso em que me exponho
Define o quão amargo, um ser medonho
Destrói a própria vida em mansos dramas.

Apátrida e vazia insensatez
Espalha-se o terror em cores mórbidas
E as criaturas vis, venais e sórdidas

Num matricídio insano como vês
Expõe-se vaga e pútrida figura
Na auto-destruição já se emoldura..

MARCOS LOURES

A morte se mostrando em cores vivas
Arguta e temerária; nada poupa
É como se coubesse noutra roupa
A imagem que em demônios loucos, crivas.

Adoto os meus enganos, são deveras
Os filhos da amargura que acompanha
A vida que se fez em risco e manha
Envolta nos anseios destas feras

Que habitam o meu eu e não sossegam,
E quando se permite algum descuido,
Esgueira-se a esperança, frágil fluido
E as sortes e desejos se sonegam.

Assim na eterna dúvida, desfio
A eternidade expressa-se em vazio?

MARCOS LOURES
Após o que se fez em dor e morte
Navegaremos mares mais tranqüilos?
Aonde se encontrasse a paz. Segui-los;
Os vastos desencontros desta sorte?

Não tendo a expectativa que conforte
Aguardo mansos prados. Consegui-los
No imenso turbilhão e prossegui-los
Depois de anunciado o medo e o corte.

E célere tentar outras vertentes,
No quanto me querias e consentes
Esconde-se a verdade mais atroz.

Não temo o meu final, até o anseio,
E nele imaginando o vago, ou veio
O que será de nós, momento após?


MARCOS LOURES

Amando além da vida, eternamente
Se houver eternidade, nela juntos
Embora para os outros, dois defuntos
Unidos pelo amor, nova semente

Gerada por si mesma, eterno moto
Moldando no amanhã o que se faz
Hoje e se transformando em rara paz
No amante caminha que em sonho adoto.

E quando em viuvez, etérea chama
Mantida com o fogo da emoção,
Mas noutros caminheiros que virão
O amor se refazendo já te chama

E aquilo que pensara ser eterno,
Transborda à própria morte, num Inferno...

MARCOS LOURES

Na multifacetária vida eu vejo
Os ramos de arvoredos mais diversos,
E teimo nas angústias destes versos,
Moldados com furores do desejo.

Aonde se fizera em azulejo
Os céus entre mil nuvens vão dispersos,
E os templos erigidos de universos
Distantes tramam mais do que prevejo.

Ainda se pudesse navegar
Entre as estrelas, luas e galáxias
Por mais que na verdade procure; ache-as

E enfim tu poderás verter luar
Por todos os teus poros, velho nauta,
A sorte de quem sonha, é sempre incauta...


MARCOS LOURES

Desfilo estes escombros onde restas
Efervescência outrora, diz o nada,
Aonde se mostrara iluminada
Nos ermos mais escuros das florestas

E quando aos desencantos tu te emprestas
Moldura já dispersa e desgraçada
A vida envilecida abandonada,
Em meio às fantasias mais funestas.

Assim o tempo passa e modifica
Uma alma que pensara nobre e rica
Desfeita nas veredas, feita em pus.

Por mais que te entretenham tais belezas
Entranharás depois as incertezas
Difícil carregar a própria cruz...

MARCOS LOURES

Andasse entre montanhas, rios, vales,
E tantas flores belas no caminho,
E enquanto do final eu me avizinho
Só peço que deveras nada fales,

E se puderes sonhos inda embales
Por mais que eu te pareça, então, sozinho,
Um trêmulo fantoche vão; me aninho
Nas ânsias de um desejo em que regales

Uma alma transtornada e tão pequena,
Apenas tua voz já me serena
E basta como um manso lenitivo,

Embalde envelhecido em podres formas,
Sonhando com o encanto em que tu formas
Um mundo aonde em paz, eu sobrevivo...


MARCOS LOURES

Procuro calmamente novos trilhos
Por onde poderia crer possível
Um tempo onde feliz pudesse crível
E os dias não seriam andarilhos.

Mas quando percebendo os empecilhos
A sorte tão cruel quanto factível
O mundo em vagos rumos. Porém, vive-o
E mostre outro caminho para os filhos.

Quem sabe ao perceberem que se fez
Completa a mais total estupidez
Em nome de uma falsa liberdade,

Assim o sol virá bem mais tranqüilo,
Diverso da neblina que destino
Na fúria da procela, o nada invade...

MARCOS LOURES

Encontro soluções tão diferentes
Em vários e complexos descaminhos
A poesia doura velhos ninhos
E os dias se transformam quando mentes.

Religiões diversas, claras mentes
Confusas emoções, paixões e vinhos
Assim entre sabores vagos, são sozinhos
Os templos e os tormentos, quais vertentes

Erguidas sobre túmulos diversos
Aonde pensamentos vão imersos
Reflexos desta angústia que nos guia.

Em meio às tantas formas e cenários
Fizemos as pirâmides, templários
Pergunta sem respostas; agonia...


MARCOS LOURES

Sementes que espalhaste pela Terra
Jamais perecerão, eternizadas
Nas ânsias muitas vezes demonstradas
No encanto que esta vida mesmo encerra.

E quando ouvir distante a voz da guerra
Entre os destroços todos, algemadas
As luzes que querias libertadas
O imenso sortilégio desenterra

Os velhos e profanos insensatos,
Assim no decorrer dos mesmos fatos
A vida é garimpada entre funéreos

Caminhos em que a sorte nada traz
Senão a sensação venal e audaz
Dos grãos das esperanças. Pois, enterre-os...


MARCOS LOURES

Enquanto os tantos astros desfilaste
Deixando tua herança em sonhos feita,
Meu coração; amarga sina aceita
Embora, na esperança um vão contraste.

Desfias os meus ermos, pois notaste
O quanto a fantasia se deleita
No amor que para mim, é quase seita,
Coluna que sustenta é como uma haste

Por sobre a qual ergui os meus castelos,
Aonde imaginara dias belos
E a tempestade atroz, tudo devora.

A morte se aproxima e se revela
Destino para quem minha alma apela
Despetalada flor percebe esta hora...


MARCOS LOURES


Manhã dos meus anseios, rutilante
O sol entremeado por neblinas
E enquanto o pensamento tu dominas
A vida se transborda neste instante.

Pudera prosseguir e sempre adiante
Nas líricas paisagens cristalinas,
O quanto não percebes e fascinas,
Semente que o amor deveras plante

E façam-se de luzes os meus dias;
Mas sei que na verdade me iludias
E tudo não passou de um desengano,

A solidão batendo à minha porta,
O frio penetrando, atroz, me corta
E em farsas; desespero e assim me dano...


MARCOS LOURES

A noite se desnuda e assim, pagã
Delírios entre rotas sem fronteira,
Enquanto ela se dá e vem inteira
O Amor se permitindo em novo afã.

Até beber os raios da manhã
A madrugada audaz, a derradeira,
Loucuras entre corpos e a bandeira
Dos sonhos não se mostra mais tão vã.

Assim um sonho é feito em luzes fartas,
Mas quando em realidade tu te apartas,
Vazios adentrando o velho quarto.

O solitário e arcaico sonhador,
Sem nada mais se cansa de propor
E esquece-se num canto, amargo e farto..


MARCOS LOURES

A noite sob estrelas, bela e lírica
Traduz os sentimentos de quem ama,
E sabe que se envolve em louca trama
A sorte se fazendo quase empírica.

Não pude revelar o quanto eu quero
O teu amor que sei jamais teria,
Amar e ser feliz? É fantasia,
Perdoe se estou sendo mais sincero.

Não posso acreditar no mar que trazes
Ainda descortino do passado,
O Amor como um destino malfadado
Embora tenha mesmo tantas fases.

Mergulharia até se não soubesse
Das teias que este insano sempre tece...


MARCOS LOURES

Do amor tantas mentiras e loucuras
Levaram ao vazio em que percebo
Além da fantasia em que me embebo
As horas são terríveis, me torturas

Vivendo do passado, as amarguras
Que em meio a tais anseios eu recebo,
Aonde imaginara ser um Phebo
Realidade mostra tais agruras.

E enquanto não sossego o coração,
Recebo o desafeto da ilusão
E beijo as vãs estrelas que me deste.

Por vezes poderia até pensar
Que existe um belo raio de luar,
Porém a vida traz na dor, seu teste...


MARCOS LOURES

O amor deixando escrito pelos astros
As sendas mais audazes; nada disse
O verso em que buscara a paz, tolice
Não restam do passado sequer rastros,

A vida se permite em vários lastros
O mundo em que a verdade se desdisse,
Na luz esta esperança em que se vice
Mantendo-se em firmeza, fortes mastros,

Seguindo em mar aberto, naufragando
Nas ondas e procelas desde quando
Ouvira o canto mago da sereia,

Amar e ser feliz... Ah! Quem me dera,
A sorte se desfaz, fria quimera,
Enquanto a fantasia me incendeia...

MARCOS LOURES

Amor trazendo em si, glória e pecado
Aonde imaginara um dia calmo,
Apenas solidão deveras salmo
E busco da esperança algum recado,

Percebo quanto em vão, lutei e sinto
Que tudo não passou de um breve engano,
Mergulho nos espaços e me dano
Bebendo esta aguardente, qual um absinto

E quando descobri que não pudera
Vencer os descaminhos, nada eu fiz
Somente cultivando a cicatriz
Das marcas destas garras, vil pantera.

Amar e ter a sorte companheira
É tudo o que na vida, mais se queira...

MARCOS LOURES

Aberta entre meus dedos, a esperança
Avança sobre os restos do que fomos,
E toma; num momento, sumos, gomos
E neste mar sombrio, ela se lança

Aonde se pensara em temperança
Desunião marcando o que hoje somos,
Diversos na verdade, vários tomos
Da vida sobre a qual já não se alcança

Sequer os leves rastros e pegadas,
A lua se derrama nas calçadas
Cadeiras e conversas. Nada vem

Senão esta neblina que se entorna
E a morte que apascenta inda contorna
Deixando um leve traço, raro bem...

MARCOS LOURES

Aonde se pensara num enredo
Diverso do que tantas vezes vi,
Sonhando com desejos vejo em ti
A marca da vontade e do degredo,

E mesmo quando insano inda concedo
Percebo: não estás; amor, aqui
E voltando ao início, te perdi
Num sonho que se fez atroz e ledo.

Nas flores e nos pântanos resumos
Do encanto que se vai; são frágeis fumos
E nada mais consegue enfim contê-los.

Relembro cada dia, um doce afeto,
E quando nos delírios me completo
Sentindo ainda aqui os teus cabelos...


MARCOS LOURES

As cores se espalhando no canteiro
Perfumes mais diversos, mil matizes,
Aonde no passado, mais felizes
Pensara num amor tão verdadeiro,

E agora quando sinto ainda o cheiro
De teus cabelos, logo me desdizes
Deixara tão somente em cicatrizes
O tempo sem o qual sou derradeiro.

Já não me martirizo, mas percebo
Nas dores e granizos que recebo
O fim de um sonho alegre e transparente.

Pudesse retornar ao dia manso,
Mas sei que é tudo em vão, desesperanço
Por mais que ainda sonhe, o fim se sente...

MARCOS LOURES

Meus olhos seguem frios; vão extáticos
Aonde poderia ter o brilho
As sendas mais atrozes ora trilho
Momentos de terror, finais apáticos.

Se os sonhos de quem ama; são lunáticos
O coração se veste de andarilho
E encontra a cada passo um empecilho
Os dias não serão jamais tão práticos.

Assim ao perceber que a solidão
Apossa-se de um torpe coração,
Escondo-me deveras na saudade,

Aonde imaginara algum verão,
A neve se derrama sobre o chão,
Apenas sinto em mim a frialdade...


MARCOS LOURES

Poemas que jamais alguém lerá,
Sonetos se perdendo com o vento
Aonde imaginara um só momento
Esqueço o que vivemos, desde já

O tempo com certeza mostrará
Que todo sonho morre e me atormento
Vivendo sem carinho, afeto e alento
O templo que contemplo ruirá.

E o fim de nossa história será nada
A casa que se fez abandonada
Deixada ao deus dará, já desabou.

E vejo neste espelho em rugas feito
O amor cujo final; em paz aceito
Comendo cada resto que sobrou...

MARCOS LOURES

Não são tão simplesmente dolorosos
Os dias em que bebo a solidão,
A sorte noutro rumo e direção,
Os ventos sempre são mais caprichosos.

Aonde se pudera em pedregosos
Caminhos, perseguir a solução,
Envolto pelas tramas da ilusão
Pensara em vãos momentos, mas formosos.

Agora que não tenho outra saída,
Percebo quão valeu a nossa vida,
Do nada ao nada eterna e friamente

Vasculho nos armários da lembrança
E o tempo sem perguntas sempre avança
E o Amor em solidão, a dor consente


MARCOS LOURES...
Olhar que quando estás já se serena
Mudando num momento o brilho opaco,
Aonde se mostrara sempre fraco,
O Amor revigorando trama a cena

E a sorte transmitindo em tarde amena
O cais em que deveras chego e atraco
Após a tempestade e em paz estaco
Uma haste que permita a luz mais plena.

Havendo desde então no ancoradouro
O sol de intenso brilho onde me douro
Aspectos mais suaves e felizes,

Já não comporto a dor de ser tão sozinho,
E quando da esperança eu me avizinho
Esqueço do passado, os vãos deslizes...


MARCOS LOURES

Enigmas que me trazes neste olhar
Que embalde, tantas vezes perguntei,
Aonde se escondera, em rara grei
Por onde poderia procurar

Quem sabe e tanto encanta ao se entregar
Mudando desde então; em ti vaguei
Num mar de azul sereno mergulhei
Jamais eu pensaria em naufragar

Seguindo a calmaria deste alento
Bebendo a mansidão em que apascento
Borrascas que deveras fora atroz

Agora que me trazes mansidão
Contando sempre as horas que virão,
Escuto como um canto a tua voz...

MARCOS LOURES

Na fleuma deste encanto que derramas
Enquanto; estrelas mostras neste olhar
Aonde poderia te encontrar
Vivendo intenso amor em tuas tramas,

Deixando no passado medos, dramas,
Apenas neste lago mergulhar
Nas águas cristalinas decifrar
Desejos e vontades que reclamas,

Expresso nestes versos tal desejo
E sei que no final serei feliz,
Se a sorte que deveras eu prevejo

Tramando com ternura o meu futuro,
Nem mesmo a fantasia contradiz
O bem que nos teus olhos, eu procuro...

MARCOS LOURES

Bailando os meus sentidos nesta busca
Aonde a sorte molda um dia claro,
Amor que tantas vezes eu declaro
Nem mesmo a solidão ainda ofusca

E quando a realidade se faz brusca,
Encontro em teu olhar um manso amparo,
O sonho desfiando um dia raro
Aonde a poesia não rebusca

E traz em versos simples, rimas pobres,
Momentos que se fazem bem mais nobres
Descobres os desejos mais sutis.

E quando em tal mergulho salvador
Penetro a fonte calma em que este amor
Desvendo estes mistérios. Sou feliz...

MARCOS LOURES

Pudera imaginar fúlgidos raios
Desfiles de belezas entre tantas,
E quando, maviosa tu me encantas
A lua simulando vãos desmaios,

Meus sonhos de teus sonhos são lacaios,
Moldando a fantasia quando cantas
Divina e fabulosa és entre as santas
Os medos que dominam; esmagai-os

Servindo ao nosso amor, não poderia
Vivenciar tamanha maravilha
Que tantas vezes busco enquanto trilha

Os mais sublimes prados, a alegria,
Esplêndida e sublime me fascinas
Trazendo ao peito ateu, luzes divinas...


MARCOS LOURES

Bailando sobre os sonhos, luzes várias
Encontram a perfeita sincronia
E enquanto o coração dita alegria,
As dores vão embora, procelárias.

À sombra do passado o Amor se cria
E traz nos seus olhares luminárias
Das fontes que julguei celibatárias;
O gozo mais audaz se propicia.

E quando mergulhado em águas mansas
Num êxtase supremo, cedo alcanças
A etérea sensação de ser completa.

Assim a nossa vida em fogo intenso,
Nas labaredas fartas, recompenso
A dor de ser apenas um poeta...


MARCOS LOURES

Erguendo as minhas mãos, em prece eu peço
A sorte que deveras desconheço,
Se a cada novo passo, outro tropeço
Palavras com cuidado, sempre meço

E teimo em ter nas mãos a fantasia
Que tanto me maltrata e me diz bem,
E quando a noite chega e não contém
Sequer o que; talvez, se merecia

Não deixo me abalar, prossigo em frente
E mesmo na completa solidão
Envolvo em esperança o coração
Por mais que o medo e o vago ele freqüente.

Assim, da vida sou coadjuvante,
Da glória e do prazer, vivo distante...

MARCOS LOURES

O meu soneto é feito em dor e pranto,
Na vida, apenas fui um passageiro,
O encanto que trouxeste; derradeiro
Agora tão somente um desencanto,

Mas teimo e na ilusão ainda canto
E sinto o vento audaz e lisonjeiro,
Mordaças; já não trago e verdadeiro
Usando da esperança o verde manto

Escrevo em cada verso, uma palavra
Que possa transformar árida lavra
E trazer por colheita, uma alegria.

Assim a poesia sempre traz
Ao velho guerrilheiro, imensa paz
No mundo em que; feliz, já fantasia...


MARCOS LOURES

Não posso destruir o sentimento
Que ainda me habitando traz a dor,
Aonde se pensara salvador
Apenas no final, medo e tormento,

Se dele, na verdade me alimento,
E tenho outro momento ao teu dispor
Podendo novamente recompor
O que jamais deixou meu pensamento.

Vibrantes emoções? Já não espero
O olhar que se reflete agora fero
Não tendo as alegrias que sonhara.

Mas creio ser possível novo dia
Aonde a sorte em vida se recria
Deixando em noite escura, a lua clara...


MARCOS LOURES

Enlouquecido teimo em fantasias
Apontam-me deveras o vazio,
Que em cada verso em vão, eu já desfio
Diverso do universo que querias,

Mendigo algum carinho em noites frias
E o medo se tornando um desafio,
Aonde imaginara o mar que crio,
Areias movediças, agonias.

Espreito num instante a fera sorte
E sei que no final somente a morte
Será de minha história, a redenção.

Enquanto houver a força que me ilude
As águas derramadas deste açude,
Jamais trariam paz e inundação...


MARCOS LOURES

Deste mundo venal nós zombaremos
Enquanto houver a força que me impele
Sentindo no frescor de tua pele
O sonho que deveras escrevemos.

Não posso me furtar ao mar risonho
E nesta fantasia mergulhando
Procuro um tempo aonde seja brando
O imenso sentimento que proponho.

Vencer os mais diversos dissabores
E mesmo quando em dores, ter nas mãos
A fecundar a histórias, mansos grãos
Seguindo cada passo aonde fores,

E florescendo a paz neste canteiro,
O amor que tanto eu quis é verdadeiro...

MARCOS LOURES

Brindemos, pois à gloria de saber
Que mesmo na amargura conseguimos
Vencer os mais complexos, frios limos
Vivendo esta ventura do prazer.

E tomando deveras todo o ser,
O amor no qual decerto prosseguimos,
Um tempo mais amável descobrimos
E nele nós iremos reviver

A eternidade, sendo uma promessa
No amor sem ter limites recomeça
Trazendo a quem sofreu; a redenção

E serenando assim, a luz revela
A calmaria após qualquer procela,
Negando desde sempre a negação.


MARCOS LOURES

O fel que dos teus lábios conheci
Num amargor imenso, fria fera,
Aonde imaginara a paz, quimera,
O sonho se perdendo todo em ti.

E quando mergulhara descobri
Abismo que em abismos dores gera
Nem mesmo a mansidão da longa espera
Acalma esta sandice em que vivi

Postergo a solução dos meus problemas,
Sabendo da verdade que inda temas
Medonhos precipícios aos teus pés.

O barco naufragado já diz tudo,
Nas ânsias deste encanto não me iludo,
Arranco estas correntes, vis galés...

MARCOS LOURES

A turba se envolvendo em néscios dias
Ilusões mesquinhas nos tomando
A corja se prepara, ataca em bando
A morte insofismável que previas

Macabras emoções, alegorias
O mundo a cada instante destroçando
O quanto tu pensaras bem mais brando
Peçonha das rapinas que tu crias.

Assíduos frenesis, espasmo tanto,
Deveras não prossigo mais meu canto
Agora em alto brado a voz se emana,

Perpetuando o medo em que baseias
O sangue que mal corre em tuas veias
Imagem de uma deusa vã, profana...


MARCOS LOURES

Pudesse ter ainda em fátuo brilho
Real soberania sobre os atos
Talvez já não trouxesses nestes fatos
Além do que somente um empecilho.

E quando noutras sendas, teimo e trilho,
Pudesse desvendar claros regatos,
Tomando o meu destino, desacatos,
Os quais; corcéis soberbos; não encilho.

Ainda poderia crer nas lendas,
Mas quando os desenganos tu desvendas,
Não posso conceber sequer que cedas

E volto-me ao clamor de um peito audaz
Demonstra-se na fúria até capaz
De incendiar sem dó tuas veredas...


MARCOS LOURES

A liberdade acende a imensa luz
Que enquanto for a guia nos permite
Viver sem ter sequer algum palpite
Enquanto o próprio lume nos conduz.

A sorte que na sorte reproduz
Não sabe na verdade de um limite,
E enquanto houver a força que palpite
A história sem demora, em paz reluz.

Mas quando nos grilhões, nosso futuro,
Ao largo da alegria, não depuro
E teima-se em venal satisfação

Vergastas entre açoites e correntes,
Por mais que o amanhecer; inda pressentes
Neblinas em terror é que virão...


MARCOS LOURES

A sorte pela qual eu tanto zelo,
Não deixa que se creia no vazio,
Enquanto a tempestade eu desafio,
O amor em luzes claras, frágil, belo

Em tramas mais suaves eu revelo,
Enovelados dias eu desfio
Moldando com denodo o bem que crio,
Destino em teu destino já não selo.

E sigo em libertária caminhada,
Uma alma sem temor; quando ilibada
Não deixa qualquer dúvida e se entrega;

Por mais tempestuoso o que virá,
Gerando a calmaria desde já,
A sorte não será, deveras, cega...


MARCOS LOURES
Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente

O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.

Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama

Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama…

MARCOS LOURES
Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente

O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.

Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama

Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama...

MARCOS LOURES

Jamais reconhecendo a própria morte
Buscando qual hedônico, o prazer,
Deixando muitas vezes de viver
Ao léu se entrega a vida, leda sorte.

Sem ter sequer a força que comporte
Imensidão do mundo, eu posso crer
No quão insuperável é o ser
Por mais que já sonegue a luz e o aporte.

Do trágico futuro, nada falo,
Os olhos embotados de um vassalo,
Uma avassaladora e vil verdade.

Enquanto a humanidade se distrai,
O pano sobre a cena, aos poucos cai,
Demônio em súcia atroz, a Terra invade...


MARCOS LOURES

Não quero ser o mártir que sonhaste
Tampouco irei fugir à realidade,
No quanto a própria vida nos degrade
A morte se aproxima em tal desgaste,

E quando percebeste tal contraste
Verás então que a solidariedade
Caminho mais tranqüilo, na verdade
Impede que o viver se torne um traste.

Sondando estes oráculos confusos,
E os búzios entre cartas e ciganas,
Por vezes quando pensas; já te enganas

Os dias que virão bem mais obtusos
Trarão à tona todo este dilema
Também a solução, pois nada tema...


MARCOS LOURES

A chama mesmo sacra ainda teima
E devasta toda a sorte de esperança
Aonde a solidão cruel avança
O tempo na verdade já se queima,

Em meio aos constelares diademas
As nebulosas tomam o cenário,
O amor que sempre fora necessário
Agora se prendendo em vãs algemas.

Por mais que nada temas, inda crês
Nos dias mais atrozes e venais,
E enquanto procuravas por um cais
A vida se perdendo num talvez

A nossa embarcação, naufrágio à vista,
Sem ter sequer um bote que inda a assista...


MARCOS LOURES

Enquanto em rubro sangue borrifada
A vida que profanas, guerra e saque,
Aguardo este momento; em duro baque
E temo que afinal não reste nada.

Por mais que a fantasia ainda estaque
Nos olhos de quem ama a vã estrada
Uma alma pelo sonho abandonada
Usando um corroído e podre fraque

Permite-se que veja atrás do muro
Um tempo aonde em vagos eu procuro
Ao menos um momento feito em paz,

Mas sei que após a chuva, nada vem,
E quando perceber, talvez alguém
Em cujos olhos brilho ainda traz.

MARCOS LOURES

O mundo que em verdade nos esmaga
E traz em suas mãos a faca e o corte,
Aonde se pudesse ver a sorte
Apenas vejo o brilho desta adaga.

A boca vocifera em louca praga
Preparo a caminhada para a morte,
Sem ter jamais o sonho que conforte
Distante dos meus olhos, bela plaga.

Afagos de uma mórbida loucura
Durante a vida inteira, isto perdura
E traz como castigo a dor venal.

Assim ao descobrir algum farol,
Procuro pela paz qual girassol
Naufrágios esperando a pobre nau...


MARCOS LOURES