sábado, 7 de julho de 2012

SE PERDENDO SEM SENTIDO

SE PERDENDO SEM SENTIDO

Na doce podridão de cada beijo
Roubado nestes becos, nas entranhas.
No cheiro da cachaça e do desejo
Misturas de malícias e de manhas.

Na venda sem pudores, sem lampejo,
Tuas bocas abertas são tamanhas
Vibrando sem sorriso e sem latejo,
Nas procissões diversas, tão estranhas.

Os gritos simulados desta atriz
Deitada em tantas camas, seco o mel.
Fingindo finalmente ser feliz,

Deitada sob o peso desmedido
Brincando de princesa em carrossel,
Os olhos se perdendo, sem sentido...

MARCOS LOURES

AMOR NÃO PAGA AS CONTAS

AMOR NÃO PAGA AS CONTAS

Amor não paga as contas deste mês
Nem serve em garantia no boteco,
Amor vai se perdendo sem freguês
Depois inda promete repeteco.

Amor não se fez mais do que se fez
Quebrando qualquer asa, teco-teco,
Ainda exige sorte em toda vez
Que grita e não escuta sequer eco.

Amor bem que queria mar de rosas,
Quem sabe da lavanda o seu perfume.
Amor mentindo em versos mata prosas,

Encontra em tempestades porto e cais,
Movido totalmente por ciúme,
Perdendo até batalhas, das navais...

MARCOS LOURES

MEU BEM QUERER

MEU BEM QUERER

Meu bem querer chegando devagar
Em juras e perjuras sempre mais,
Entorna poesia a caminhar
Sem medo de mentir, assim, jamais.

Tornando nossa vida imenso lar
De beijos e desejos mais normais,
Enquanto meu querer que navegar
Por noites e carinhos imorais.

Meu bem querer bebendo cada gota
Se esgota e me amarrota mas disfarça.
Tomando o meu prazer, sua compota,

Recolho cada lágrima em meus lábios,
Depois corro depressa para a praça
Buscando maus conselhos, todos sábios...

MARCOS LOURES

SE NÃO HOUVESSE O AMOR...

SE NÃO HOUVESSE O AMOR...

Se não houvesse amor o que seria?
Amar é redimir nossos pecados,
Vivendo esta tristeza em agonia
Ouvindo o coração e seus recados

Tornando todo o sonho em alegria
No sofrimento imenso, lanço os dados.
Vivendo uma esperança a cada dia
Dos olhos tão queridos, desejados...

A dor vale o sorriso, uma emoção.
O sim é poderoso e cura o não.
No prato em maravilha, riso e gozo.

No gesto sem sentido de um adeus,
Amor é sonho sempre perigoso,
Mas nos leva mais próximos de Deus...

MARCOS LOURES

SEM JUÍZO

SEM JUÍZO

Minha cabeça roda sem juízo
Bebendo cada boca diferente.
Em todas, procurei o paraíso,
Que na verdade estava até bem quente

Mais parecendo inferno onde sem siso,
Descubro que valeu ser penitente.
No toque mais veloz e mais preciso,
A boca me mordia, de repente.

Se necessário, amada, beijo os pés,
Molambo desarmado e sem vergonha.
Vivendo quase sempre de viés

No jogo da esperança e da incerteza
Onde quer que essa sorte me componha,
Me deixarei levar na correnteza...

MARCOS LOURES

NÃO TEMAS ESTE ABISMO

NÃO TEMAS ESTE ABISMO

Não temas este abismo, tempo/vida.
Retorno depois disto, amada minha.
Buscando em precipício outra saída
Do amor que tão estranho nos aninha.

No poço de ternuras dor perdida
Um ave migratória, uma andorinha
Vagueia prometendo despedida,
Mas logo se calando, vai sozinha.

Então guardo de ti perfume raro
Em tantos jasmineiros e roseiras.
Persigo cada passo pelo faro

Encontro-te calada; nas estradas,
Protegida das dores feiticeiras,
Nas mãos as belas flores orvalhadas...

MARCOS LOURES

EM TANTAS CORES

EM TANTAS CORES

O céu em tantas cores sempre borda
Teu rosto, nuvem clara, amada amiga.
Atando o pensamento em forte corda
A vida não se marca e nem periga.

Depois de sono breve já se acorda,
Forrando minha sorte em forte liga,
Tropeço o sentimento nesta borda
E caio nos teus braços, fonte e viga.

Na linha de teus olhos, horizonte.
Na fonte dos desejos, me inebrio.
Não deixe que este mundo te desconte

E leve nosso amor em vaga sorte.
Matando o que se fora tão sombrio
Trazendo este universo bem mais forte...

MARCOS LOURES

O RESTO PODRE DA MAÇÃ

O RESTO PODRE DA MAÇÃ

Eu sou o resto podre da maçã
Que foi abandonado em praça pública.
Um quase sem ter nexos, amanhã
Jogado nem sou bola nem sou búlica.

Apenas vago o mundo, vida cã,
Nesta quaresma a esmo, perco a túnica
Despido do que fosse uma manhã
Nos trâmites, trambiques da república.

Sedado se fui dado ou se fugido
Não vivo mais em buscas estrambóticas.
Exóticas verdades tenho tido,

Há sido o que bem ácido, contei.
As ilusões que tenho são as de óticas.
Perdido no que fui nem quem sou sei...

MARCOS LOURES

CIÚMES

CIÚMES

Ciúmes são perfume de uma flor,
Maiores quanto mais queremos bem.
Vivendo em nosso caso, tanto amor,
Não quero te perder para ninguém!

Eu sei quanto é bobagem; o temor,
Tu és toda a certeza que se tem
De um mundo mais suave e sedutor.
Mas sei que tens ciúmes sim, também...

É claro que te tenho confiança,
Não nego que jamais desconfiei.
O amor entre nós dois, forte aliança

É mais do que pensei ter algum dia.
Por mais que tantas vezes disfarcei,
Minha alma, mil loucuras, fantasia...

MARCOS LOURES

ENTRE MEUS DEDOS

ENTRE MEUS DEDOS

Entre meus dedos, passa o tempo todo,
Brincando com a sorte, louco ri.
Permite tanto engano, tonto engodo,
Depois, finge que nunca esteve aqui.

Moleque solitário não dispensa
A gargalhada firme depois disso.
Por mais que tolamente, a recompensa,
Se mostra numa flor, quase sem viço.

O tempo é companheiro predileto
De uma saudade feita em mil lembranças.
Por vezes tão vazio, outras repleto
Matando devagar as esperanças.

Agora que se foi o bonde e o trem,
Amor fora do tempo, sinto, vem...

MARCOS LOURES
SIMPLESMENTE

Muitas vezes brincaste, simplesmente
De forma leviana e tão venal.
Uma alma que se faz tão tola e mente
Não deixa nem resquícios no final.
Errante, sem sentidos, tolamente
Se coloca em distante pedestal.

Depois de tanto tempo percebi
O quanto fora estúpido, querida.
Em toda esta alegria que há em ti
O brilho mais sensível desta vida.
Sorriso de menina que perdi
Jogado em algum canto, em despedida.

Nesta amargura insana, o meu caminho,
Trilhado entre mil pedras, tanto espinho...

MARCOS LOURES

FRUTA AMADURECIDA

FRUTA AMADURECIDA

Os meninos brincando... o ribeirão...
Delícias de uma fruta amadurada...
Peixes fisgados.. o luar... o chão...
A vida prometendo longa estrada.

Meninos traduzindo este sertão.
A viola tocando, enluarada.
Frágeis dedos repletos de emoção.
Estrada, depois, dicomotizada.

Patrãozinho partiu, voltou doutor.
O outro está trabalhando na fazenda...
Os dedos que tocavam já não sabem.

Agora numa enxada, sol, calor.
Os seus dedos? Cortados na moenda...
O riacho e a saudade? Não mais cabem...

Em Homenagem a Fernando Brandt

MARCOS LOURES

TANTAS VEZES ERREI

TANTAS VEZES ERREI


Tantas vezes errei... Mas isso eu reconheço
Tudo em minhas mãos queria num segundo;
Se as falhas que carrego invadem nosso mundo,
O teu olhar mordaz, eu bem sei que mereço.

Às vezes perturbando, ao me virar do avesso,
Jogando-me num mar tão negro e mais profundo
Aprofundas assim o meu erro, o tropeço
Enquanto me encontrasse aonde em dor me inundo

Gerando tempestade em simples copo d’água;
Sem perceber, querida, isso me trará mágoa.
Peço-te a caridade, enfim de perdoar.

Perdendo pouco a pouco, o nosso amor sem paz.
Eu não quero verdugo e nenhum capataz.
Perdendo, em julgamento, o tempo que é pr’a amar!

MARCOS LOURES

VELÓRIOS E VARIZES

VELÓRIOS E VARIZES

Em minha alma, velórios e varizes
Recebe tantas gotas de veneno.
Teus lábios; dois sedentos infelizes
Bebendo todo o sangue num aceno.

Mas peço, se vieres logo avises
Num tiro ou explosão, ou algo ameno.
Carinhos penetrantes, lutas, crises,
Em todos, estou certo, eu me enveneno.

Coberto por mentiras, t’as mantilhas,
Não restam deste amor sequer mobílias.
Apenas tanta dor em procissão.

Remendos não resolvem o fiasco,
Tu sabes, não preciso de sermão.
Se a boca que me beija é meu carrasco...

MARCOS LOURES

FORMIGAMENTOS DA SAUDADE

FORMIGAMENTOS DA SAUDADE

Trazes formigamento da saudade.
Por isso é que, querida, eu não te esqueço.
Das dores, muita vez, a liberdade.
O teu amor? eu sei que não mereço.

Espero que tu venhas num tropeço
Da sorte, isso trará felicidade.
Amor que ando errado no começo
Por certo não terá tranqüilidade.

Nas tramas que eu enredo, meus enganos.
Espúria sensação de falsos planos.
Meus erros? Se eu os tive não recordo.

Apenas te direi meias verdades
Daquilo que se foi, só veleidades...
Mas quero o teu amor, comigo, a bordo...

MARCOS LOURES

MEU CADÁVER

MEU CADÁVER

Expondo o meu cadáver em visagem
As cenas se refazem bem confusas,
Aberrações explícitas difusas
Complicam mansidão desta viagem.

Teu gesto de vingança, tão selvagem,
Em cenas violentas, tu abusas
E cospes no cadáver, tira as blusas
Deixando este festejo todo à margem.

Histrionicamente continuas
Neste desfile aberto pelas ruas
Até chegar ao fim, sem ter mistério.

No riso que disfarças, gozo frio
Mostrando que esse amor, por ser sombrio,
Resiste à solidão de um cemitério.

MARCOS LOURES

A NATUREZA HUMANA

A NATUREZA HUMANA

Cansado de ser verme, um ser humano,
Exposto a hipocrisia e pedantismo.
Refém da podridão de um egoísmo
Achando ser o ser mais soberano.

Espalho o desencanto e o desengano
Cortando minhas veias sem lirismo.
Matando quem passeia neste abismo
Na fúria que me embala sou insano.

Andando calmamente pelas ruas,
Vomito em fedorentos esmoleres.
Ao mesmo tempo quero todas nuas,

E ataco sem motivos mil mulheres
Meu corpo está pendido em fino arame,
Assassino depois quem já reclame.

MARCOS LOURES

MINHA AMIGA

MINHA AMIGA

Negaste cada sonho, minha amiga,
Usando os subterfúgios mais banais.
Quem sabe se depois em nova intriga
Transforme calmaria em vendavais.

Permita-me então que eu já te diga
De todos os meus medos colossais
Mas saiba que talvez; em nobre liga,
O tempo enfim vislumbre amor e paz.

Das preces que fizeste, das quermesses,
Confesso meu perdão, mesmo sem crer.
O corpo em sacrifício me ofereces,

Mas nada disso importa em ter prazer.
Dos sonhos que tiveste, o nada teces,
É tudo o que consigo te dizer.

MARCOS LOURES

ME ARRESPONDA

ME ARRESPONDA

Seu moço, te pregunto, me arresponda
Pruquê tem tanta inveja nesse mundo.
Se a lua lá no céu brilha redonda
Crareia toda a terra num segundo.

Murdido por corar ou anaconda
O corte do invejoso é bem profundo.
Pru mais qui o rabo grande ele inda esconda
A cauda apareceno nesse fundo.

Qui Deus nos dê a sorte merecida,
Sem vê pros lado, fico mais contente.
A Bunda se demais aparecida

Dá logo um resfriado para a gente;
Inveja que faz mal pru toda a vida,
Dexano esse caboco, ansim, duente...

MARCOS LOURES

HISTÓRA CUMPRICADA

HISTÓRA CUMPRICADA

Históra que me assombra, eu vô contá.
Dos tar de lubisome, bicho fei,
Que aparece nas noite de luá,
Mordeno todo o povo sem ter frei.

Um dia passeano num lugá
Dispois de tanto tempo, eu encontrei
Um bicho ansim piludo, de assustá;
Pois quage que, te juro, eu desmaiei.

A sorte foi que Juca de Maria,
Um cabra desses bão, trabaiadô,
Com espingarda em punho apreparô

O bote contra o bicho disgramado,
E bão de mira em boa pontaria
Dexô esse mostrengo ansim, capado...

MARCOS LOURES

TEUS OLHOS

TEUS OLHOS

Teus olhos cintilantes e venais
São partes inerentes, mas descarto,
Da dor que me promulgas, estou farto
E deixo teus olhares para trás

Se fomos não deixamos de ser mais
Assim tu pensarias, mas reparto
Os sonhos desde sempre, e sempre parto
Em busca do silêncio d’outro cais.

Alagas com teus risos minhas sendas.
E mordes com irônicas moendas,
Fazendo minha vida terebrante.

Mostrando-te meus cântaros vazios
Tocando assim teus nervos, olhos, fios
Cortando a nossa vida, num rompante!

MARCOS LOURES

VESTIDO DE SAUDADES

VESTIDO DE SAUDADES

Meu sonho vai vestido de saudades;
Invade tantas noites sem descanso
E mesmo se sereno, não alcanço
O manto que vestia, veleidades;

Entranho podres flores com maldades
Maleitas e defluxos, meu ranço,
No rancho deste tempo quando tranço
Os pés se distanciam das verdades.

Amor armado mostra-se sem nexo
E verte meus desejos no infinito.
Sem mar que me dê formas em reflexo,

Deformas esplendores e metais.
Alegre não consegues ver meu rito
Em doces e profanos festivais...

MARCOS LOURES

MEUS ERROS

MEUS ERROS

Meus erros, da fortuna derivados
Trazendo a perdição em vil serpente.
Em látegos caminhos, num repente,
Por sombras e fantasmas desviados.

O rosto da verdade, deturpado
Por vezes tão voraz e incoerente.
Recebo teus ciúmes calmamente,
Embora, de queixumes, vá cansado.

Usaste as ferramentas mais profanas
Fingindo a salvação que não me deste.
Carícias mentirosas, desumanas

São contas que pagamos da vingança.
O canto que demonstra a que vieste
Levando o que me resta de esperança!

MARCOS LOURES

EM PLENA GRAÇA

EM PLENA GRAÇA

Ao ver-te caminhando em plena graça,
Rainha de meus sonhos, sedutora.
No véu de uma beleza que esvoaça,
Te quero, minha amada; vem agora.

Tesouro que buscara, não disfarça
Em brilhos redentores, sem demora,
O tempo do teu lado nunca passa,
Minha alma, te deseja e tanto adora...

Murmuro em cada verso esta esperança
De ter essa mulher sempre comigo.
Vivendo nossa vida, eterna dança,

Vibrando sem temores, esta emoção,
Do amor no qual navego e tenho abrigo,
Carinhos em feitio de oração...

MARCOS LOURES

AOS PÉS DA MINHA AMADA

AOS PÉS DA MINHA AMADA

Ajoelhado aos pés de minha amada,
Pedindo que ficasse mais um dia.
A noite que chegava, enluarada,
Montada num corcel, plena magia.

Trilhando pelos céus a bela estrada,
Num fulgor todo pleno em fantasia.
Estrelas constelares, mãos de fada,
Além de sonho que podia...

Distantes dos teus olhos, sem carinho...
Espero tua volta, estrela/lua.
Perdendo a noite clara, vou sozinho

O teu colo, os teus seios, um veludo...
Tua presença amada, bela e nua,
Agora sem amor, morrendo mudo...

MARCOS LOURES

BENDITO SEJA

BENDITO SEJA

Bendito seja o vento que te trouxe
Em meio a tempestades que passei.
Tua presença calma e sempre doce;
O mundo em que vieste me fez rei.

Tu trazes teu sorriso como fosse
A glória de quem ama, como amei.
Com força de quem quer já que remoce
A sorte que se fora em dura lei.

Te quero, benfazeja e mais serena,
Amiga amada, luz que enfim rebrilha.
Menina que sonhei; a vida acena

E traz uma esperança, maravilha,
De ter em cada dia em rara cena,
Uma alegria imensa em bela trilha...

MARCOS LOURES

MINHAS FANTASIAS

MINHAS FANTASIAS

Tu freqüentas as minhas fantasias
Povoas madrugadas sonho e glória.
Nas noites solitárias, antes frias,
Mudaste todo o rumo desta história.

Revelas esperanças tantos dias,
A vida já não passa merencória.
Que bom se me quisesses, me dirias
Do amor que se perdeu, triste memória...

Eu quero que tu penses; necessito.
Tu és a redenção de minha vida.
Meu sonho mais gostoso e mais bonito,

Um rito de alegria em salvação,
Depois de tanto tempo, alma perdida,
Me encontro em tuas asas; Ah! Paixão!

MARCOS LOURES

A NOITE NOS TOMANDO

A NOITE NOS TOMANDO

A noite nos tomando, verão pleno,
Na cama em que dormimos, sempre alertas.
Depois de termos tido amor ameno,
Sonhamos bem debaixo das cobertas...

Talvez eu não perceba um novo aceno
Que mostre tuas pernas mais abertas.
Prazer que se transborda no veneno
No fogo em que te escondes não despertas...

Mas sinto que preciso de teus seios
E quero o recomeço mais audaz.
Perdido nestes velhos devaneios

Te busco por instantes, mas não vejo.
O frio que esta noite sempre traz
Adormecido, inerte, sem desejo...

MARCOS LOURES

NO PEITO SOLITÁRIO

NO PEITO SOLITÁRIO

Qual fosse uma esperança que adormece
No peito solitário de quem ama.
A vida se irrompendo em uma prece
Calando o que restara desta chama.

Um coração vadio que obedece
À voz que não percebe, mas reclama.
Futuro desdenhoso que se tece
Nas hostes de quem sabe a mesma trama.

Tudo o que mais quiseres eu faria
Em veras fantasias mais profanas.
Sangrando sem desculpas cada dia,

Morando nos teus olhos, velha chaga.
Se amares for demais, tanto me enganas,
Sorriso que me mordes, logo afaga...

MARCOS LOURES

TRAZENDO SUAS FLORES

TRAZENDO SUAS FLORES

Primavera trazendo suas flores...
As cores divinais da primavera
Prenúncios naturais destes amores
Da natureza em cio sem espera.

Assim também seguimos nossa vida,
Em fase diferente a mesma lua.
A sina necessita ser cumprida,
Estrada tão comprida, continua...

Crisálidas renascem borboletas
As flores já granando geram frutas.
Distantes viajantes, os cometas

Retornam e embelezam todo o céu.
Delicadeza em jóias, gemas brutas,
Do pólen da esperança um doce mel...

MARCOS LOURES

DUROS PESADELOS

DUROS PESADELOS

Em duros pesadelos, noite passa
Expondo estas verdades que eu carrego.
No dia, a claridade já disfarça
E oculto de mim mesmo, mudo e cego.

Porém o que fazer? Expor-me em praça
Pública? Meus temores, quando os nego,
Guardados na gaveta, exposta à traça;
Em falsa sensação à qual me apego,

Ressurgem toda noite a me assombrar.
Latentes, estas dores latejantes
Explodem num gelado e imenso mar.

Tomada sem ter tréguas por terror
Minha alma nas procelas perturbantes
Demonstra-se refém deste pavor...

MARCOS LOURES

QUEM DERA...

QUEM DERA...

Quem dera se, de lágrimas isento,
Passasse a minha vida sem saber
Do verdugo voraz deste prazer
Que mina e já demanda sofrimento.

Amores quando soltos, bebem vento
E dormem envolvidos em lazer.
Procuro, nos teus seios, acender
O fogo que sossegue o pensamento.

Quem sabe a recompensa mais completa,
Cobiças e delírio tão dileto.
A vida remoçando em nova meta.

Desejos explodindo! Assim, repleto,
Marcado por Cupido, em doce seta
Renasço em teus carinhos, tanto afeto...

MARCOS LOURES

NO SONHO

NO SONHO

No sonho ressuscito uma criança
Que há tempos adormece dentro em mim.
Tomando-me de assalto vem assim
Na placidez da noite que se avança.

Cabeça vai rodando, o tempo dança
E traz do meu passado, flor, jardim,
Futuro se aproxima e sem ter fim
A roda se confunde, louca e mansa.

É nele que refaço a minha vida
Em dias que vieram e virão.
Voando sem tirar os pés do chão

Prevejo a própria vida a ser cumprida
E sou o que não fui e não serei,
Cativo, marinheiro, deus ou rei.

MARCOS LOURES

QUANDO EU ESPERAVA

QUANDO EU ESPERAVA

Quando, faz tanto tempo, eu esperava
Amores que enganavam, nunca vinham.
As cores de tristeza sempre tinham
As horas mais certeiras, e chorava.

Sem versos e tão débil me lavava
Nas ondas deste mar onde se aninham
As dores mais terríveis que se alinham
No coração entornam frio e lava.

Quem já se viu contente não prospera
Em penas desfazendo manso canto.
Rodando nos espaços, qual esfera

Repara que viveu só no mormaço.
Sabe que amor se encanta com seu pranto,
E dorme, desleixado, no seu braço...

MARCOS LOURES

AO VÊ-LA

AO VÊ-LA

Ao vê-la se revela o mais velado
Sonho em que me transponho, nave insana.
Farturas de ternuras, cada cardo
Deixado nos caminhos, não me engana.

Vislumbro precipício onde me enfado
E fujo em alva lua, uma cigana
Que vaga pelo espaço iluminado
E morre nos meus braços, soberana.

Prevejo o que não quis ver os meus olhos,
Agudos pedregulhos, meu antolhos,
Impedem a clareza necessária.

Qual fossem mil corcéis, estrelas vagam
Imersas entre nuvens que as apagam.
Noite em látego açoite, temerária...

MARCOS LOURES

ENVOLTO EM TREVAS

ENVOLTO EM TREVAS

Envolto em triste treva, tão sombria,
No corte da navalha e do machado,
Um canto quase inerte, amargo brado
Estúpida loucura que se erguia

Das turbas sanguinárias, vaga e fria
A mão que me tocara em triste enfado
Ressurge novamente aqui ao lado
Na nebulosa tarde que surgia.

Minha alma, no passado, era canora,
Em liberdade, encantos, passarinhos.
Que uma gaiola em farpas mostra agora

Qual cicatriz e sombras de outros ninhos
Guardados no suplício aonde aflora
A temerária senda, meus caminhos...

MARCOS LOURES

PROSSIGO

PROSSIGO


Entre viços, estrelas e perfumes,
Meus sonhos tolos, líricos; prossigo.
Viajo em cordilheiras, altos cumes,
Sem medo de aventuras e perigo.
Sem asas que me levem, que me aprumem
Em nuvens delirantes peço abrigo.

Meus olhos destemidos e proféticos,
Abrandam o calor das altas plagas
Os ideais distintos, hipotéticos
Prosseguem incansáveis ledas sagas
Em meio a tempestades olhos céticos,
Abrandam tuas mãos enquanto afagas

Obuses que derramas em meus passos,
Em pedras e em espinhos forjas laços.

MARCOS LOURES

AMAR MARIA

AMAR MARIA

Maria se não fosse quem amava
Talvez eu não amasse mais Maria,
Maré quando depressa a mim chegava
Mostrava em fina areia que amaria

Quem mares sem temores maltratava
Tratava de saber minha agonia.
A faca penetrando em veia cava
Cavando quem amor não cevaria.

Calvário de quem ama, serpenteia
Na sala disfarçada de perfume.
A lua que não veio, maré cheia,

Estende o rubro pano das promessas.
Maria vê se deixa de ciúme
Pecados sei de ti e não confessas...

MARCOS LOURES

EM NOITE FRIA

EM NOITE FRIA

Abarcando o teu barco em noite fria
Em peixes, calabares e sargaços
Os aços penetrando quem devia
Abrindo no meu peito seus espaços.

Confesso que talvez uma alegria
Motiva a cada dia tantos passos,
Mas veja, quem talvez não mais queria
Deitar em minha cama, nos meus braços.

Aquela que regalo com cometas,
Em língua percorrendo céu e boca.
Os erros que te peço que cometas

São meros instrumentos do prazer.
Sentindo que tu queres, quase louca,
Começo cada canto revolver...

MARCOS LOURES

TRAQUINAS

TRAQUINAS

Moleque mais travesso e tão traquinas,
Criado em liberdade, sem juízo.
Olhando para as pernas das meninas,
Promessas de encantados paraísos.

Cavalo no galope, soltas crinas,
Na boca iluminando um bom sorriso,
Debaixo dos lençóis as mãos tão finas
No toque mais gostoso, assim, preciso.

Menino que cresceu em águas claras,
Morrendo na velhice sem remédio.
Feridas se transformam em escaras,

As horas de prazer, amigo, raras,
De noite a mocidade faz assédio,
A vida em contraponto é puro tédio...

MARCOS LOURES

SAUDADE, VELHA FACA...

“Beijei a ponta da faca”
Me disse certa menina,
No peito, cravada a estaca,
Da saudade; uma assassina!


Saudade como faca penetrando
Rompendo o que se fora carapaça.
Aos poucos sem que eu veja, me tomando,
Uma agonia imensa que não passa.

O tempo corre lento, se arrastando,
Toda alegria morre e se esfumaça,
O mundo que sonhara desabando,
O que restou de mim, a dor esgarça...

Talvez essa saudade inda se cure,
Chegando um novo amor. É, pode ser...
Por mais que o mundo caia e me torture

Um dia, no meu peito, nova dança,
Que possa me encontrar e me trazer
O vento tão suave da esperança...

MARCOS LOURES

sexta-feira, 6 de julho de 2012

IMAGENS CLARAS

Espalhas entre nós imagens claras,
E nelas expressões que possam dar
Além do quanto busque em céu e mar
Palavras que mais mansas tu declaras.

E quando na verdade tu preparas
A sorte que pudera desejar
Vagando sobre o tempo a se entregar
Tramando muito além de tais aparas.

Restituindo o sonho, bebo a luz
E todo esse detalhe me conduz
Ao quanto pude ver e não teria.

Meu mundo não teria qualquer sorte
Não fosse esta expressão que tanto aporte
Deixando para trás a fantasia.

MARCOS LOURES

NAS FORMAS DE LUARES, CRISTALINAS

NAS FORMAS DE LUARES, CRISTALINAS

Nas Formas de luares, cristalinas,
As sendas mais felizes que se dão
Ouvindo esta precisa dimensão
Que tanto sem temores alucinas

E sei desta expressão quando fascinas
E tramas noutro rumo a direção
Trazendo com certeza a solução
E nela novas fontes; determinas.

Durante muito tempo procurei
Saber do que tentara e não achei
Sequer a menor sombra da esperança.

Meu verso sem segredos ou degredo
Enquanto em fantasia me concedo,
Ao mais etéreo sonho ele me lança.

MARCOS LOURES

QUE FAÇO SE PROCURO...

QUE FAÇO SE PROCURO...

Que faço se procuro e não me calo,
Embora saiba: amor, uma mentira
Na qual por ilusão, eu tanto falo.
A doce solidão fazendo mira
Trazendo em minha vida, o seu regalo.
Amor sem ter limites, morta a lira?

Bem sei que não. Amor é corriqueiro
E morre mal começa no meu peito.
Um sonho assim imaterializado
Em nada se mostrando satisfeito,
Matando toda flor de simples prado
Desmente-se sem nexo em cada preito,
Resquícios de emoções do meu passado.

Amor quando demais, da dor o fulcro
Prepara em ironias, meu sepulcro!

MARCOS LOURES

UM PASSARINHO...

UM PASSARINHO...

Pousando no meu peito um passarinho
Aos poucos, devagar, me dominando
Formando com carinhos, o seu ninho,
Ardendo em mansa chama, em fogo brando.
Mudando assim meu rumo, com carinho;
Aos Céus e ao Paraíso desviando.

A mão deste menino me guiava
Aos braços da mulher que Deus me deu,
Quem tanto quis e nunca mais contava
Em tantas alegrias converteu
O gelo, a neve em chama, brasa e lava;
Fornalhas que incendeiam todo o breu.

Nas mãos desta criança, fui ferido,
Pelas setas certeiras de Cupido.

MARCOS LOURES

ESTRELAS DESLUMBRANTES

ESTRELAS DESLUMBRANTES

Estrelas deslumbrantes, leves plumas,
Desfilam pelo etéreo em liberdade,
Nas nebulosas mágicas espumas
Serenas expressões de claridade.

Nos versos delicados, tu perfumas
Os astros que clareiam a cidade.
Brancuras esvaecem-se em neblinas
Em plúmbeas ilusões, em duras fases

Distantes de emoções alabastrinas
Na angústia do vazio quando fazes
Dos sonhos pesadelos, me alucinas.

Matando as esperanças mais vivazes.
Que faço se metade em dor destrói
Enquanto outra metade, amor constrói?

MARCOS LOURES

DOURADO SONHO

DOURADO SONHO

Dourado sonho dominando tudo...
Os olhos esquecidos adormecem...
Risonhas esperanças que se tecem
No canto divinal em que me iludo.

Não posso compreender, porém, contudo,
Que as noites que vieram se parecem
Distantes deste sonho e se padecem
Fazendo um coração já tartamudo.

Amor interagindo com saudade
Matando, sem querer, felicidade.
Nos braços que me entrego, em fantasia.

Agora o que fazer? Eis meu dilema
Se toda noite amor ainda teima
Além do que quisesse ou poderia...

MARCOS LOURES

BEM SEI QUANTO ME ODEIAS

BEM SEI QUANTO ME ODEIAS

Eu bem sei que me odeias. Tenho pena,
Pois pensava que fosses mais gentil.
De tudo o que vivemos; nada viu,
Nem sombra de saudade ainda acena.

Tua alma é tão vazia e tão pequena
Guardando um sentimento tolo, vil.
Matando toda a cor de um belo abril
Artista que destrói a tela, a cena.

Nas cores e nas folhas espalhadas,
Outono onde tu foste a minha luz.
Nas folhas dos cadernos arrancadas

Depois de tanto lume, tanta briga.
Sereno sentimento vira cruz.
Um coração menor; quanto ódio abriga!

MARCOS LOURES

FEBRE

FEBRE

Febre ardendo... Saudades... Solidão.
Tua distância trama tantas dores.
Mas, porque te esqueceste do perdão?
Opacos; em teus olhos morrem cores.

Angústia se tornando meu refrão.
Não posso compreender. Cadê as flores
Que cismamos plantar noutro verão?
Morreram em tristezas, dissabores

O palco desta vida, peça pobre,
Num melodrama trágico termina...
Amar é, na verdade ser mais nobre.

O céu já se recobre, negros nimbos...
A vida sem esperas, determina:
Cada qual viverá seus próprios limbos...

MARCOS LOURES

SEM CUIDADOS

SEM CUIDADOS

O tempo vai passando e sem cuidados,
Demonstra nos castigos; os meus erros.
Rasgando as ilusões vai, aos bocados,
Cortando as minhas costas, frios ferros.

Meu destino arrojado em teu destino,
Secando uma nascente, mata o rio.
Polui um lago outrora cristalino,
Já não prossigo mais e nem confio.

Contento-me com pouco, esteja certa.
Não quero nem pedidos de desculpa;
A lua em negras nuvens encoberta
Demonstra obscuridade em tua culpa.

Amor que se fez tonto, sem enredo,
Morrendo e maltratando desde cedo.

MARCOS LOURES

ABORTO UM ROSEIRAL EM PRIMAVERA

ABORTO UM ROSEIRAL EM PRIMAVERA

Aborto um roseiral em primavera.
Na fera que me toca, numa espreita,
A lua enegrecida nada espera
E foge desta noite, contrafeita.

Espinho e vergalhão, a dor desperta
Coroando um caminho com senões.
A porta que nem sempre fica aberta
De tantos e diversos corações.

Vestígios destes tempos me decoram.
Andorinhas perdendo a migração
Os dias de esperança já se foram
Tomados pela turva solidão.

Sem primaveras, flores, roseirais;
Apenas paladares canibais...

MARCOS LOURES

INSANO SOFRIMENTO

INSANO SOFRIMENTO

Insano sofrimento ano que vem
Se vem não desanimo, mas não quero
Se quero não devendo ser sincero
Espero se vieres ir também.

Se sofro não te minto mais, meu bem.
Omito tanto queimo quanto fero
E vago sem sentidos no que gero.
O tempo em tempestade tempo tem.

Ao ver-me, por sinal, tão iracundo,
Não sabes dos ganidos do meu peito
Que sempre se ferindo vai fecundo

E taciturno cala sobre o mundo
Devendo tanto amor como um direito
De amores dos teus mares já me inundo.

MARCOS LOURES

TEU LAMENTO

TEU LAMENTO

Recebo estas palavras; teu lamento,
Deixando-me sem voz. E assim, afônico,
O mundo em que vivera vai agônico
Sem ter de salvação sequer um vento.

Desculpe meu amor, mas eu lamento
Que tudo se perdeu, amor distônico,
Sem ter uma alegria como tônico
Investido de dor e sofrimento.

Saudade? Esteja certa, nada apaga.
Sobrando uma lembrança, mesmo vaga.
É tudo o que percebo que inda resta.

Daquilo que pensava ser granito
Em lamas se desfez, amor finito
Morrendo e me trazendo tanta festa.

MARCOS LOURES

CONVIVAS

CONVIVAS

Nas festas que sangramos, dois convivas.
Nas orgias bacantes, feiticeiros.
As carnes que cortamos, foram vivas,
Os olhos que comemos, costumeiros...

As pernas amputadas mais altivas,
Em dentes que mastigam brasileiros
Durante as madrugadas sem esquivas,
Os penhascos saltamos, verdadeiros...

Nesta festa dançavam velhos ogros,
Devoravam crianças sempre rindo...
Mortos mães, pais seus filhos e seus sogros,

A porta da desgraça sempre abrindo..
Os restos da família dei aos cães.
Repartindo, solícito, tais pães!

Em homenagem às elites tão atenciosas deste País

MARCOS LOURES

PERDOE-ME SE TE DIGO

PERDOE-ME SE TE DIGO

Querida me perdoe se te digo,
Da vida que negaste, sem amor.
Sozinha, tu procuras por abrigo,
Morrendo sem perfume, a bela flor.

Ao lado do que sonho; vou, prossigo,
Meu passo traduzindo destemor.
Pudesse sempre estar enfim contigo,
Quem sabe viverias esplendor...

Porém a vida nega a quem se nega,
Saudade dolorosa do vazio.
Um peito que sem barcos não navega

O nada restará por companheiro.
Depois, na noite negra, resta o frio,
De quem não se entregou, não foi inteiro...

MARCOS LOURES

UM SORRISO PERMANENTE

UM SORRISO PERMANENTE

Tu trazes um sorriso permanente
Que envolve-nos depressa, meu amor.
Sorriso que se dá tão inocente,
Inunda-nos o peito sonhador.

De toda a sorte grande que se sente
Quem te conhece sabe o teu valor.
No brilho de teus olhos, de repente,
A vida assim se mostra, com fulgor.

Sorriso todo pleno de esperança
Que faz de cada dia um novo sonho.
Qual fosse uma menina, uma criança,

Que expõe toda alegria com franqueza.
Em tua imagem santa já componho
Um mundo mais feliz, rara beleza...

MARCOS LOURES

TÃO DISTANTE CLARIDADE

TÃO DISTANTE CLARIDADE

Trazendo nos meus lábios, o vazio,
Morrendo tão distante claridade.
Roubando da esperança um vento frio.
Perdendo o que me resta, mocidade,

O coração que fora tão vadio,
Agora se embrenhando na saudade...
Do nada que recebo, nada crio
Somente uma distante realidade....

O sol que me queimava já não veio,
A luz que iluminava, se perdeu.
Meu mundo se esvazia, perde esteio,

Qual borboleta inútil, morta a sorte
Crisálida abortada, amor morreu.
Somente esta amizade fez-se norte...

MARCOS LOURES

SANGRANDO SEM PARAR

SANGRANDO SEM PARAR

O vento vai sangrando sem parar,
Tocando a velha porta e seu batente.
No desespero sempre a me mostrar,
O mundo que se vai, velho e doente...

A noite tão escura sem luar,
O canto que eu escuto, mais plangente,
Mostrando como é triste o tanto amar,
Morrendo o que se fora assim, contente...

Desculpe-me chorar, meu bom amigo,
A vida não permite outra esperança.
Passo titubeante que prossigo,

Levando ao quase nada. Eis a verdade,
Por isso é que te peço a temperança
Da força sem limites, a amizade...

MARCOS LOURES

OLHANDO O RABO ALHEIO

OLHANDO O RABO ALHEIO

Macaco olhando o rabo do vizinho
Mal vê seu próprio rabo fedorento.
Deixando outro macaco em seu cantinho,
Talvez fosse mais simples, sem tormento.

Tratar o semelhante com carinho
É coisa que aprendi e me contento,
Melhor ir caminhando de mansinho
Do que deixar o rabo exposto ao vento.

Tão grande é o rabão deste macaco
Que nada percebeu por tanta sobra;
Ataca e com tacada toma taco.

De tudo o que percebo, rabo pleno,
Cuidado, meu amigo, com veneno,
Esse rabo que tens? Não vês? É cobra...

MARCOS LOURES

SEGUINDO AS ILUSÕES

SEGUINDO AS ILUSÕES

De um mundo tão amargo, um viajante
Seguindo as ilusões em seus primores,
Recolhe dos canteiros, suas flores,
Em busca de carinho e de emoção.
Achando um sentimento mais ameno,
De todos os que sei, sempre o primeiro,
Abrindo sem limite o coração,
Percebe que na vida, a sensação
De ser feliz precisa por inteiro,
De um braço mais leal e companheiro
Que traga, com certezas mais perfume.
E seja responsável pelo lume
Que traz à nossa vida, claridade.
Segredos que desvenda na amizade...

MARCOS LOURES

QUERER SER ALÉM

QUERER SER ALÉM

Babando tanta baba, um babador
Queria ser além de simples arca,
Quem sabe se sonhasse com amor,
Seria babador menos babaca.

Faria ao mundo, assim grande favor,
Na lama em que se esgota, finca estaca
E faz de todo pobre sonhador
A carne que devora, achando fraca.

Mal sabe este panaca sem juízo,
Que o bom da nossa vida é ser feliz.
Apedrejando assim o paraíso

Maltrata quem não sabe ser servil
Ao mundo que deseja, e sempre quis,
Distante de quem ama. Porco vil...

MARCOS LOURES

CANTORIA

CANTORIA

Moleque, mal sabia das proezas
Dessa moça escondida no quintal.
Seus olhos me comiam feito presas
De uma arapuca assim, fenomenal.

Depois fui perceber as tais belezas
Das pernas revirando o matagal.
As tardes se passavam mais acesas
Debaixo deste sol, suor e sal...

A moça disfarçada em clara estrela
Pulando uma janela já sabia
Que a noite iria ser louca e vadia.

Sem pejos de tentar ir convencê-la,
Um assobio simples bastaria
Dos grilos e dos sapos, cantoria...

MARCOS LOURES

REFÉNS DA ESTUPIDEZ

REFÉNS DA ESTUPIDEZ

As bombas explodindo aos borbotões,
Reféns da estupidez, meninos mortos,
Caminhos desvalidos, loucos, tortos
Futuros que se perdem, erupções

Devastando. Miséria em plantações
O nada se aproxima em frágeis portos,
Mulheres trucidadas, mil abortos;
Do sangue que se escoa, podridões...

Refaz-se numa flor uma esperança
Criada sobre o podre de uma guerra.
Tão bela e maviosa, uma criança

Se faz da podridão, adversidade...
Por que será preciso que esta terra
Ensangüentada adube a liberdade?

MARCOS LOURES

VICISSITUDES TANTAS

VICISSITUDES TANTAS

Vicissitudes tantas, alma morta,
Exposto aos turbilhões de carniceiros,
Na súcia das mortalhas que me aporta
Extingo meus desígnios traiçoeiros.
Nem mesmo um vão sorriso me conforta
Nas mãos destes vorazes feiticeiros.

Sobrando um vago olhar sobre a carniça
Daquilo que já fui, paisagens toscas.
Olhar que me destrói, pura cobiça
Ao tempo em que me beijas, já em emboscas.
Formando inextinguível, dura liça
Cobrindo o meu cadáver, tantas moscas...

Vomitas sobre os restos, meus destroços,
Devoras, sem ter pena; até meus ossos...

MARCOS LOURES

RUDIMENTAR VERME

RUDIMENTAR VERME

Um rudimentar verme, apodrecida
Carne em putrefação, sem esperança,
Tomando o que restou de simples vida,
Comendo sem limites, à fartança,
Esgueira as ironias, ressentida,
Em gula, violenta, intemperança

Num banquete inconteste, loucos risos.
Orgásticos delírios, sem ter nexo.
Teus dentes pontiagudos e concisos
Penetram no meu cerne, amor e sexo.
Vagando labirintos imprecisos,
Num passo temeroso e mais complexo

Daquilo que sonhei e se perdeu,
No amor que tanto sei, nunca foi meu...

MARCOS LOURES

SEXTINA 31 OCEANO DE PRAZER

SEXTINA 31 OCEANO DE PRAZER


Mergulho no oceano de prazer
E bebo cada gota feita em mel
Ao ter esta alegria de viver,
Percebo ao fim da tarde um claro céu
Mostrando quanto é belo o bem querer,
Montando em liberdade este corcel.

Alçando um infinito, o meu corcel
Em cada novo trote um bom prazer
Guiado pelas rédeas do querer
Espalha em alegria farto mel,
Ganhando pouco a pouco o vasto céu
Ajuda e revigora o meu viver.

Sabendo da emoção de assim viver,
O pensamento livre qual corcel
Singrando com vontade, rasga o céu
E espalha em nosso amor tanto prazer.
A vida vai provando deste mel
Renova a cada passo, o meu querer.

Se tanto desejei o teu querer,
É nele que procuro o bem viver
Certeza de alegria em tanto mel,
Minha esperança audaz feito um corcel
Espalha sobre mim todo o prazer
Reflete em cada nuvem, imenso céu.

Olhando firmemente para o céu
O firmamento trama este querer
Moldando meu caminho em teu prazer
Fazendo bem mais livre o meu viver,
Voando libertário num corcel
Amor se lambuzando doce mel.

Na boca de quem amo sinto o mel
Penetro e calmamente chego ao céu,
Desejos me tomando, sou corcel
Entregue às fantasias do querer
Aprendo a maravilha de viver
Sabendo me fartar em teu prazer.

Sentindo o teu prazer, delícia em mel,
Só quero enfim viver, ganhar teu céu
Nos braços do querer, sou teu corcel.

MARCOS LOURES

DESDÉM

DESDÉM

Percebo em teu sorriso tal desdém
De quem se mostra assim, superior.
Buscando uma resposta, mas ninguém
Sabe dizer por dádiva ou favor.
Do nada em que surgiste, nada vem,
Nem mesmo uma mortalha a me compor.

Perguntas, ( ironia?) por que choras?
Não vês o meu amor, que é tão imenso?
Demoram-se distantes, ledas horas;
O dia transcorrendo seco e tenso.
Vitrais das esperanças quando estouras
No corte que provocas, mal intenso,

Recebo em estilhaços, fundos cortes,
Sabores variados têm as mortes...

MARCOS LOURES

SEM QUALQUER EMOÇÃO

SEM QUALQUER EMOÇÃO

Viver sem ter sequer uma emoção
Matando, em nascedouro, o sentimento.
Tomando de agonia o pensamento,
Rasgando sem dar trégua, o coração.

Assim depois dos cortes da paixão,
Vencido; sem defesas, no momento
Na busca pela paz do esquecimento,
Pedindo em toda forma de oração;

Aos deuses mais distantes e diversos,
Em sonhos, pesadelos mais dispersos,
A salvação que nunca chegará.

Meus últimos suspiros de esperança
Já fazem com a morte, uma aliança
Que, creio, desta vez, me vencerá!

MARCOS LOURES

QUEM VEIO DE OUTRAS ERAS

QUEM VEIO DE OUTRAS ERAS

Quem veio de cismar em outras eras
Num lírico desejo inatingível,
Aguarda a solução de primaveras
Que tragam novo dia mais tangível.

As dores, minha herança, mais severas
Se fazem quase um muro intransponível.
A sorte em passarela, noutro nível,
Com garras afiadas de panteras

Deixando o meu olhar incerto e vago.
Invejo a placidez de um manso lago,
Espero que a tempesta chegue ao fim.

Mas nada do que vejo me traz calma,
Vazios se sucedem em minha alma,
As lágrimas porejam dentro em mim...

MARCOS LOURES

quinta-feira, 5 de julho de 2012

INSANA COMPANHEIRA

INSANA COMPANHEIRA

A poesia, insana companheira
Espalha em simples versos, emoções.
Transmuda, num segundo, as ilusões,
Nas mãos desta terrível feiticeira.

Às vezes diversão como bandeira,
Em outras; sofrimentos e paixões,
Loucuras em gigantes proporções;
Tocha que nos perdendo nos inteira.

Amarguras e risos se sucedem,
Em tresloucada estrada, maestrias.
Os versos muitas vezes não concedem

Senão estas verdades incompletas,
Alquímicas palavras, mil magias
Nos dedos tão sensíveis dos poetas...

MARCOS LOURES

OLHOS ESTRANHOS

OLHOS ESTRANHOS

Olhos estranhos, sôfregos, abertos
Ocupam neste quarto, seus espaços,
No gelo que transmitem; frios aços,
Indefinidas formas de desertos.

Quais fossem, distraídos, descobertos,
Arranham na parede sombras, traços,
Perfilam negritudes, ocos, baços,
Vigiam cada sonho, estão despertos.

Maculam minha noite solitária,
Acendem as tristezas, meus delírios,
Apenas os amores, quais colírios

Transformam esta forma temerária.
Mas sinto que persisto ledo, pária
Restando ao meu cadáver, cravos, lírios...

MARCOS LOURES

AS MARCAS QUE RESTAM

AS MARCAS QUE RESTAM

Nos espinhos que sangram, inocência,
As marcas das tristezas, injustiças.
Quem bebe da esperança, florescência
Buscando em noites duras, movediças.
As mãos erguidas pedem por clemência
Mas naquilo que dizes, tu me atiças

E os odientos dias são heranças
Que deixas espalhadas pelo chão.
Semeias em verdade, com pujanças
Futuro de vergonha e podridão.
Nas crápulas, vazias, alianças
Demonstras o que queres: servidão.

Passeias pelas ruas inclemências
Granando assim incúrias e demências...

MARCOS LOURES

TEU OLHAR

TEU OLHAR

Teu olhar causa inveja ao próprio sol
Em rara formosura e claridade.
Transmite a sensação de majestade
Por sobre a negritude do arrebol.

Estrelas te perseguem, qual um rol
Formando purpurínica beldade.
Prisioneiras da antiga mocidade
Fugidia. Distante girassol,

Procura pelo brilho e fausto acerto
No verde de esperanças em que me olhas,
Revelando em veredas belas folhas,

Ao vento fustigando por completo
Fomentas meus anseios mais recônditos
Desejos que transmites, são indômitos...

MARCOS LOURES

UM SONHO MANSO E SENSUAL

UM SONHO MANSO E SENSUAL

Qual vento que lambendo os arvoredos
Refaz um sonho manso e sensual,
Nas águas que se encharcam deste sal
Lacrimado na angústia de meus medos,

Percebendo aspereza dos penedos
Marchetados por gotas de cristal,
A vida se mostrando desigual
Abarca, sem limites, meus enredos.

Em versos que jamais foram refeitos,
Meus erros acumulo em tensos preitos,
Farsantes sensações; saudade e bem,

As mãos em cicatrizes dolorosas,
Recebem das perfídias; mortas rosas,
Nascidas nos desejos de outro alguém...

MARCOS LOURES

ENVOLTO NOS TEUS BRAÇOS - sextina 30

ENVOLTO NOS TEUS BRAÇOS - sextina 30


Envolto nos seus braços, vou seguindo,
Procuro no teu colo, um acalanto,
Amor feito disforme é sempre lindo,
Rebenta em emoção, inunda em pranto,
Na lábia do menino, vou fluindo,
Entregue sem limites, amo tanto.

A força em que se emana amor que é tanto
Deixando rastros que eu irei seguindo
E o dia nos teus braços vai fluindo
Toando no meu peito este acalanto,
Secando em riso franco qualquer pranto
Mostrando alvorecer divino e lindo.

No rosto desta deusa, calmo e lindo,
Certeza de que um sonho se faz tanto.
Reféns de uma amargura feita em pranto
Estrela que esparrama, irei seguindo
No canto mais sublime um acalanto
Aos poucos dia-a-dia está fluindo.

O rio mansamente assim fluindo,
Descendo para o mar divino e lindo,
Cascatas vão cantando em acalanto
Nos sons que imaginei e quero tanto
As margens deste rio estou seguindo
Atrás de cada gota do meu pranto.

O medo de viver formando em pranto
Estrelas constelares que, fluindo
Espalham tantas luzes, vou seguindo
Caminho que enobrece raro e lindo
Depois de procurar decerto tanto
Encontro a paz em forma de acalanto.

Ouvindo o vento em forma de acalanto
Deixando esmorecer antigo pranto
Esqueço o sofrimento que foi tanto
Envolto na esperança, assim fluindo
Encontro finalmente amor tão lindo
E cada passo seu quero ir seguindo.

O som que vou seguindo, um acalanto
Deveras raro e lindo, seca o pranto
E nele vai fluindo amor que é tanto...

MARCOS LOURES

VESTIDA DE NENÚFARES

VESTIDA DE NENÚFARES

Quando a vi, sustenidos e bemóis
Ressoando na casa iluminada
Por vários tons, matizes de mil sóis
Trafegando degraus em escalada.
Ascendendo lances logo após
As marcas que encontrava; todas... cada.

Vestida de nenúfares sabia
Que a cada novo passo vaporoso
Tornava-me refém da fantasia
De ter e ser além de simples gozo.
Nos sons que com certeza, entranharia;
Mostravas seu perfil tão belicoso.

Numa alucinação febril, insana,
A lua desfilava soberana...

MARCOS LOURES

AMOR - sextina 29

AMOR - sextina 29

Amor que em amizade sustentava
Felicidade plena bendizia,
Uma esperança a mais sempre abrigava,
Trazendo claridade para o dia,
Meu mundo no teu colo se entregava
Formando uma ilusão em poesia.

Encanto magistral da poesia
O sonho mais feliz já sustentava
A lua em maravilha se entregava
No verso que esperança bendizia
Prevendo amanhecer em novo dia
Aonde uma alegria se abrigava.

Meu corpo que em teu corpo se abrigava
Tocado pelas mãos da poesia
Raiando em mansidão formoso dia
Um sonho mais audaz se sustentava
No amor que tão sereno bendizia
Prazer que mansamente se entregava.

O rumo de meus braços entregava
Certeza de que amor cedo abrigava
O canto divinal que bendizia
A vida na sublime poesia;
A cada novo passo sustentava
Certeza de raiar um belo dia.

Renova-se esperança a cada dia
Ao qual felicidade se entregava
E o passo com mais força sustentava
No colo que decerto me abrigava
Forrado pelos dons da poesia,
Encanto que quem ama bendizia.

Meu verso te buscando bendizia
A glória de poder saber um dia
Tocado pelas mãos da poesia
Mostrada neste olhar que se entregava
Àquela que em seu peito me abrigava
E amor intensamente sustentava.

Amor que sustentava e bendizia
Na luz que se abrigava forma um dia
Aonde se encontrava a poesia.


MARCOS LOURES

FOTOGRAFIA

FOTOGRAFIA

Desenhos do teu rosto em cada canto,
Fotografia clara da esperança
Que toma minha vida em tal encanto,
De um amor que a saudade ainda alcança.
Na nossa casa simples, de amianto,
O que restou servindo de fiança.

Qual rio que, em nascente, já secou,
Só deixando o vazio em suas margens,
Assim também aqui tudo ficou
Lembranças que parecem mais miragens.
Tomando todo o quarto e o que inda sou.
Gigantes, discrepantes defasagens...

Mostrando que já fui feliz um dia,
Lembrando que existi: fotografia...

MARCOS LOURES

NUM TURBILHÃO

NUM TURBILHÃO

Febril, num turbilhão, em seus volteios,
Tocando minha mão suavemente,
Na intumescência bela de teus seios,
À boca se permitem, alvos, quentes.
Quadris vão prometendo bamboleios
Em tantos devaneios, mais urgentes.

Prazeres se transformam em incúrias,
O corpo desejado logo açodo,
Envolto em mil pecados, em luxúrias,
Retorce-se em delírios como um todo.
Os lábios transbordando loucas fúrias
Bebendo em fina taça todo o lodo.

E assim na nossa dança sensual
A noite vai passando, colossal!

MARCOS LOURES

É BOM DEMAIS!

É BOM DEMAIS!

Percebo quando o olhar, querida, cerras,
Em doces convulsões vai se tomando,
Nas nossas aventuras, paz e guerras,
Ternuras que nos lambem, devorando.
Gemidos incontidos, quase berras,
Relances que se mostram sempre quando
A noite se faz rara, o supra-sumo,
Vertigens e delitos, louca estrada
Aonde nosso caso encontra o rumo
E pede que tarde uma alvorada.
Tomamos desta fruta todo o sumo
Com sede, alma voraz, alucinada.
Olhares tão sedentos querem mais,
A dose se repete: é bom demais!

MARCOS LOURES

QUANTO INCOMODA

QUANTO INCOMODA

É triste perceber quanto incomoda
A roda que se faz em alegria.
Na mão sinto a tesoura de quem poda
O sol que não sabia e não queria.

Desculpe se um perfume bom açoda
E traz para as narinas, a magia.
Poeta que se fez fora de moda
Eu canto amor, amigo todo dia.

Nos leves bruxuleios, lamparina,
Vestidos de cetim, rios e riso,
Na saia tão bonita da menina

Vislumbro a perfeição do paraíso.
Um velho coração que descortina
Amor que me tirou, decerto, o siso...

MARCOS LOURES

TEU DIREITO

TEU DIREITO

Amiga não se esqueça da bonança
Que toda tempestade já promete.
Um laivo de alegria e de esperança
Na história que pra sempre se repete.

Cansaço que surgir depois da dança
Deixando na cabeça só confete,
A noite sem parar, depressa avança,
Mas que isso nunca fira nem afete

O gosto do prazer que tens agora,
Quem sabe guardarás raro confeito,
Se toda uma alegria não demora,

Durante certo tempo satisfeito,
Teu mundo na saudade revigora,
Amar será pra sempre, teu direito!

MARCOS LOURES

A CADA NOITE

A CADA NOITE


Percorro a cada noite, a vastidão
Que nos separa, amada; ganho o astral
Montado no cavalo/coração
Estrelas recolhendo em meu bornal.

Tocando a bela lua em sedução
Até chegar a ti, quando afinal
Me entrego, sem temores à paixão;
Matando esta saudade que é fatal.

Os raios da alegria, trago-os eu
Teu mundo, neste instante, é todo meu,
Num cofre delicado da ternura.

Distâncias não me importam, pois sou teu,
E bebendo desta água que é tão pura,
Esqueço a minha sede de amargura...

MARCOS LOURES

PAÇO DO LUMIAR

PAÇO DO LUMIAR

Paço do Lumiar, talvez um sonho,
Cravado no Brasil, nascido em luz;
Com nome tão brilhante e tão risonho,
A claridade na alma reproduz...

No mundo dentre trevas, injustiças,
Medonhas discrepâncias e quimeras.
Crivado de maldades e cobiças,
As ruas, capital, entregue às feras.

De repente, uma luz chama atenção...
Surgida na palavra, na cidade,
Que em si nos demonstrando a solução
Quem sabe de viver felicidade...

A vida sempre está no limiar.
O sonho neste paço, Lumiar...

MARCOS LOURES

PELAS RUAS

PELAS RUAS

Preciso que me entornes pás de cal,
Jogando meu cadáver pelas ruas,
Sugando cada vez mais, afinal
As horas que passamos foram tuas.
Um verme tão arcaico e ancestral
Não pode perceber, estrelas, luas...
E prestes a morrer, fétido, espúrio,
Se adorna em versos loucos e bizarros.
De lírios e de cravos, sem antúrio
Coberto pelas lamas, pelos barros.
Quem fora procurar por um augúrio
Encontra em boca aberta, só catarros.
Dissolvo-me em pedaços, a feder
Apenas só me resta, então, viver...

MARCOS LOURES

JOGADO NAS SARJETAS

JOGADO NAS SARJETAS

Jogado nas sarjetas, quase informe,
Devoro o que restou de fino prato,
Uma esperança morta já não dorme,
Apenas esboçando o meu retrato.
Quem teve um sonho breve, quase enorme
Só vive destes restos que hoje, eu cato.
Elementares ordens que quebrei,
Fomentos de vinganças descabidas.
A morte simplesmente, traça a lei
Invalidando sempre nossas vidas.
Do pouco que não quis nem esperei
As sobras vão embalde, repartidas.
Na paixão de viver, tão violenta,
Do aborto em que nasci, restou placenta...

MARCOS LOURES

CAMINHO QUE BUSQUEI

CAMINHO QUE BUSQUEI

Embora tantas vezes bem escuro,
Caminho que busquei foi sem espanto.
Além desta verdade que procuro
Em cada novo dia, novo canto.
O chão que sem promessas se fez duro
Agora não suporta mais meu pranto.
Enquanto simples rumo que eu trilhava
Mostrava mais percalços que alegria,
Inútil meu olhar se ensangüentava
Na sombra mais cruel do dia a dia,
Vulcão que se perdeu sem ter nem lava
Não deixa fumegar a poesia.
Minha alma incandescente vai, soturna,
Embrenha sem ter rumo em negra furna...

MARCOS LOURES

AO TE VER

AO TE VER

Ao te ver na distante e tão risonha serra,
O meu olhar te procura, em sonhos derradeiros.
Amargor da saudade em volta dos ribeiros.
Na trilha desta serra a marca d’uma guerra.

A noite sem ter sonho é triste, e me desterra...
Esperas, qual princesa, os bravos cavaleiros.
Eu só posso te dar, amores verdadeiros.
O teu belo castelo, está em outra terra.

A natureza rara, em alegrias, canta.
O pássaro que voa a quem escuta, encanta.
Só Deus nunca me escuta, embalde minha prece...

A nuvem, escondida, aguarda; trará chuva.
A mão que me tortura esmera-se na luva.
A tarde vem caindo, a noite me envelhece...

MARCOS LOURES

QUEM AMA NOS ENSINA

QUEM AMA NOS ENSINA

Quem ama nos ensina que na vida
A falha cometida no passado,
Se noutras vezes, sempre repetida,
Mostra que quase nada foi guardado.

Etapa por etapa assim cumprida,
Capítulo bem visto e encerrado,
Lição já decorada e aprendida,
O resto: bem melhor deixar de lado...

Acendendo uma vela que clareie,
Iluminando o rumo tão escuro;
Permite que o futuro não receie

Aquele que aprendeu esta lição:
“Pensando neste brilho que procuro
Eu deixo assim de lado, escuridão...”

MARCOS LOURES

O CANTO QUE EM MINHA ALMA SE DERRAMA

O CANTO QUE EM MINHA ALMA SE DERRAMA

O canto que em minha alma se derrama
Trazido pela voz de quem sonhara.
Dizendo mansamente que, enfim, me ama,
Numa emoção profunda cara e rara.

Ao longe, quem adoro já me chama
Meus sonhos mais felizes ela ampara
Com doce sensação em nossa trama
Da flor que no jardim me perfumara.

Amada, não permita que a saudade
Nos tome por reféns e nos magoe.
Amar é ter noção da liberdade

Nas asas que criamos com carinho.
Por isso neste canto sempre voe
Amor que se inspirou num passarinho...

MARCOS LOURES

TIRA-GOSTO

TIRA-GOSTO

Por mais que esteja longe, Minas há.
Depois de tantos montes, esquecida...
Nos vôos, pensamentos, chego lá
Bebendo em procissão, a fé na vida.

Na febre que não passa, mãe, pai, chá,
Qual fosse uma esperança adormecida
No canto desta estrada, voltará
No campo, na lavoura, em nossa lida.

Na Minas dos amores, das Igrejas
Dos cemitérios, luzes e luares.
Dos goles de cachaça, das cervejas

Nos bares da saudade, lembro o rosto
Daquela que eu amei, doces pomares
Dos beijos e carinhos... Tira-gosto...

MARCOS LOURES

ENTREGAR-ME COMPLETAMENTE

ENTREGAR-ME COMPLETAMENTE

Eu quero me entregar completamente;
Vibrando dentro em ti toda a loucura
Gostoso sentimento, de repente,
Que traz todo o desejo da procura...

Verter o meu delírio com que sonhas,
Rodar minha cabeça, ficar tonto,
Perdemos os pudores, as vergonhas,
Querida; vem agora, pois 'stou pronto

P’ra te fazer feliz, perder o nexo,
E te levar comigo, ao infinito
Onde somente amor, tesão e sexo
Permitem que se cumpra o nosso rito

De sermos num momento um só ser
Gostosa sensação, santo prazer...

MARCOS LOURES

JÁ TE TRARÁ FELICIDADE

JÁ TE TRARÁ FELICIDADE

Castelos e sereias, a princesa...
O corte tão profundo já levou.
De toda a fantasia que ficou,
Um gosto tão amargo da tristeza...

Mas a tarde trará nova certeza,
Mesmo que o sol que veio não brilhou
Outro virá trazendo o que sonhou.
Enfim te cercará de tal beleza

Que nunca lembrarás do antigo sol.
A vida te promete este farol
Que sempre te trará a claridade!

E tudo que parece tão distante
Muda-se, de repente, num instante,
O amor já te trará felicidade!

MARCOS LOURES

SE TENTAS ME FERIR...

SE TENTAS ME FERIR...

Se tentas me ferir, querida amiga
Acaba por ferires mesmo a ti.
Não percamos mais tempo e que prossiga
Passo a passo esta estrada que vivi
E que vivemos sempre em forte liga;
Tu sabes que estarei tal qual te vi
Seguindo nossa sorte sem tardança
Nas curvas mais difíceis, laço forte,
Parceiros nas tristezas e nas danças,
Lançada há muito tempo nossa sorte,
Bebemos destas mesmas esperanças
Até quando chegar final ou morte.
Incríveis nossos passos par em par,
Janela que insistimos destrancar.

MARCOS LOURES

RIQUEZA INCOMPARÁVEL

RIQUEZA INCOMPARÁVEL

Riqueza incomparável de ouro e prata
Tornando em diamante nossas vidas.
Na força maviosa da cascata
Redime nossas horas já perdidas.
Um norte que nos toma e arrebata
Achando em labirintos, as saídas...
Num mar que se permite em tantas ondas,
- A vida – transformando em calmaria
As tormentas que fazem suas rondas
Deixando muita dor em agonia.
Riqueza que se encontra na verdade,
No rosto companheiro, num sorriso.
Quem tem este tesouro, uma amizade,
Por certo já tem tudo o que é preciso...

MARCOS LOURES

UM BELO CORPO

UM BELO CORPO

Galgando no teu corpo um belo porto,
Aonde eu descobri mapa e tesouro.
Depois de tanto amor, vou quase morto,
Brilhando de suor, eu encontro o ouro.

Fazer amor, delícia de desporto
No gozo detonando um belo estouro.
Delírio que me deixa sempre torto,
Mas sempre benfazejo, um bom agouro.

Servir e ser servido em abundância,
Molhando tua boca na enxurrada,
Deitar tua nudez com elegância,

Vagando nossa noite iluminada,
Nos ápices profanos, chafariz,
No lago, imensidão, eu sou feliz...

MARCOS LOURES

TORTURA

TORTURA

Amor que maltratando; me tortura,
Trazendo a solidão como estandarte.
Busquei a vida inteira por ternura,
Distante do saber desta fina arte.

Na luta por paixão e por candura,
Pensei que amor se encontra em toda parte.
Realidade mostra-se tão dura,
A vida não cedeu sequer aparte...

Se toda gente assim, de amor soubesse,
E como é doloroso um bem querer,
Que o coração teimoso já padece

Distante de quem sonha conviver...
Sabendo quanto custa o querer bem,
Não queria, jamais gostar de alguém...

MARCOS LOURES

CEIFEIROS

CEIFEIROS

Ceifeiros, os meus sonhos te procuram,
Arando uma esperança a cada verso.
Distantes de teus olhos me torturam,
Semeiam ilusões pelo universo.
Nos dedos tão macios, sensuais,
As mãos de quem adoro me chamando.
Formando com estrelas, festivais,
Em brilhos, pelos céus, vão desfilando...
Transcendem tanta paz pelos espaços,
Mostrando o bom caminho que me guia.
Estreitam mais fortes, nossos laços,
Além do que, talvez, se poderia...
Deitar em tuas pernas, sonho e cais,
Meus sonhos te buscando... Nunca mais...

MARCOS LOURES

VORAZES

VORAZES

As dores me entranhando são vorazes
Inoculando, amargas, as peçonhas.
Cortantes, vigorosas, tais tenazes,
Traçando minhas noites tão medonhas.
Algozes dos meus sonhos, bem mordazes,
Garatujas irônicas, risonhas.
Por mais que seja um rígido rochedo,
Meu peito se demonstra destroçado.
No gosto de teus lábios acre, azedo,
Resumo de um destino malfadado.
Em hediondos ritos, os enredos;
Se perdem neste céu negro, nublado...
A sorte abandonada num cassino,
Derrotas que acumulo. Meu destino...

MARCOS LOURES

DISTINTAS ILUSÕES

DISTINTAS ILUSÕES

Fomentas nos meus antros cerebrais
Distintas ilusões sobre o futuro
Às vezes simplificas os banais
Tormentos que me tornam bem mais duro;
Por outras deturpando os mais boçais
Medos, onde sempre me emolduro.
Meus dias, quando negros, temerários,
Encharcam a minha alma, podre lama.
Os rogos que me trazes, tão sectários
Invadem ilusões em cada trama.
Desejos que predizes, mercenários,
Açodam minha boca em negra chama.
Minha alma em tão sutil putrefação
Aguarda depois disso, a solidão...

MARCOS LOURES

CRUDELÍSSIMO CARRASCO

CRUDELÍSSIMO CARRASCO

Saudade, crudelíssimo carrasco
Formada em tão terríveis vendavais,
Veneno que se entorna em frio frasco,
Sem nada construir, tão contumaz.
Reduz a minha vida a um fiasco.
Resseca todo o sonho, mata a paz.
As bocas que beijei, ledo passado,
Sorrindo e penetrando outros desejos.
Recado recebido e disfarçado
Em forma de ironias ou de beijos.
Felicidade nunca foi meu Fado,
Os dados mal jogados, os despejos.
Meus dias vãos passando; cegos, tensos.
Os vales da saudade são extensos...

MARCOS LOURES

O GOZO DO TEU RISO

O GOZO DO TEU RISO

Quando sinto o gozo de teu riso
Que é para a vida doce mantimento,
Vibrando em tal delícia, o pensamento,
Se faz sem mais delongas, paraíso...
No amor que assim cedo diviso,
A força em que me guio e me sustento.
Um sentimento nobre e tão profundo
Que invade sem escusas, excelente,
Tomando sem juízo, uma aguardente,
Que inebria, sincero, onde me inundo.
Trazendo um claro estio, sempre quente.
Aonde mergulhando me aprofundo.
Mulher querendo sempre merecê-la
Eu trago uma alegria feita estrela...

MARCOS LOURES

O GOZO DO TEU RISO

O GOZO DO TEU RISO

Quando sinto o gozo de teu riso
Que é para a vida doce mantimento,
Vibrando em tal delícia, o pensamento,
Se faz sem mais delongas, paraíso...
No amor que assim cedo diviso,
A força em que me guio e me sustento.
Um sentimento nobre e tão profundo
Que invade sem escusas, excelente,
Tomando sem juízo, uma aguardente,
Que inebria, sincero, onde me inundo.
Trazendo um claro estio, sempre quente.
Aonde mergulhando me aprofundo.
Mulher querendo sempre merecê-la
Eu trago uma alegria feita estrela..

MARCOS LOURES

OS VÉUS QUE TE COBRIAM

OS VÉUS QUE TE COBRIAM

Os véus que te cobriam, alvas neves,
Em sonho imaculado de grinaldas.
Além do que desejas não atreves
Amores eu bem sei já não desfraldas,
Nos olhos maculados me descreves
As noites que passaste em doces caldas...

Guardando para si tais dissabores
Das chamas que envolveram teu passado,
Refletes noutras camas, despudores
Fingindo num sorriso disfarçado,
Trazendo nos teus dentes puras flores
Magias de loucuras e pecado.
O mundo agora traz diversas cores,

Te sinto estremecer logo ao me ver,
Resquícios deste tempo de prazer...

MARCOS LOURES

UMA ALMA TRISTE

UMA ALMA TRISTE

Carrego dentro em mim uma alma triste,
Afeita a tantas dores, agonias.
Porém o coração teimoso insiste
E chove em tempestades nos meus dias.
Parece que ilusão, não sei, existe.
Contaram-me em sonho as fantasias...

Por que viver assim, Senhor Meu Deus?
Permita que eu te implore meu descanso.
Embora em meu olhar pressinta adeus,
O sol volta a brilhar quebra o remanso.
Quem dera se estes olhos tão ateus,
Pudessem vislumbrar, mas não alcanço.

Ó vento da saudade, seja forte
Presenteando então com minha morte...

MARCOS LOURES

DISFORME

DISFORME

A força que me doma está disforme
Em pútrida garganta se regala,
Estúpida esperança que não dorme,
Espreita silenciosa em minha sala.
Um coração afeito a coliforme
Em látegos castigos, nada fala

Errantes emoções, podre destino,
Num abissal e tétrico sorriso,
Revirando minha alma em desatino,
Prenúncios esgarçados num aviso.
No vago de teus olhos me alucino
E louco, a dor espúria, logo biso.

No centro de meu mundo uma discórdia
Somente uma mentira, vai, acode-a...

MARCOS LOURES

AMO AMAR VOCÊ - Sextina 28

AMO AMAR VOCÊ - Sextina 28


Amor que, tantas vezes, me acompanha
Em noites solitárias, esperanças...
Bebendo em tua boca amor me entranha
Roubando das estrelas luzes mansas,
Vontade de te ter, sede tamanha,
Revendo em cada sonho, nossas danças.

Meus sonhos prometendo novas danças
Tanta alegria sempre se acompanha
Da força deste amor que sei tamanha
Trazendo ao coração tais esperanças,
As mãos que se procuram calmas, mansas
No fogo da paixão que vem e entranha.

A luz que em noite imensa já se entranha
Vislumbra em plenilúnio belas danças,
As horas vão passando bem mais mansas
Olhar enamorando te acompanha
Brilhando, transbordando em esperanças
Forjando esta alegria assim, tamanha.

Vontade de te ter em luz tamanha
Na claridade imensa amor se entranha
Forrando o meu caminho em esperanças,
As forças da natura em belas danças
Tocadas pelo olhar que te acompanha
Bonança sem tempestas noites mansas,

Palavras que seduzem sendo mansas
Permitem fantasia, enfim tamanha,
O canto em emoção que te acompanha
Nos âmagos dos sonhos quando entranha
Fomenta tal festejo em tantas danças
Espalha sobre nós tais esperanças.

Trazendo para a vida as esperanças
Amor mostrando sendas sempre mansas
Transporta em sintonia velhas danças
E a sorte de te amar se faz tamanha
E a tentação infinda assim se entranha
No rastro deste amor que te acompanha.

Amor quando acompanha as esperanças
No fogo que se entranha em noites mansas
Mostra em glória tamanha nossas danças...

MARCOS LOURES

ESMOLERES DA ESPERANÇA

ESMOLERES DA ESPERANÇA

Transformações estúpidas que traço
Em todas as facetas da matéria.
Na ebulição do sonho em que me faço.
Apátridas poções, negra miséria.
Nas hordas que dominam cada espaço
Os homens se parecem com bactéria.

Na podridão da fome que se espalha,
Devoram as crianças recém natas.
Sórdida proteção de uma batalha
Permite que se esgarcem casas, matas.
No corte tão cruel de uma navalha,
Guerreiros e soldados, casamatas...

Nas mãos dos esmoleres da esperança,
Ganância e servidão voraz, avança...

MARCOS LOURES

MEU AGASALHO

MEU AGASALHO

Qual fúnebre mortalha, um agasalho,
Viagem, sortilégio derradeiro.
À campa em que descanso e me agasalho,
Forrado pelo amor mais verdadeiro.
Distante do prazer e do trabalho,
Meu corpo se entregando, vai inteiro...

Amantes delicados e vorazes,
Nos lábios decompostos um sorriso,
Cortantes os insetos, as tenazes,
Minha alma tão longínqua, me hipnotizo,
Estranhas sensações que são fugazes,
Visões que percebi do paraíso...

Do corpo que perdi, a liberdade
Do sonho de viver eternidade...

MARCOS LOURES

NA DOCE MANSIDÃO DE MINHA MORTE

NA DOCE MANSIDÃO DE MINHA MORTE

A mão que te procura não se atreve
A mendigar carinhos, orgulhosa.
Quimera que me toma em alva neve,
Perdendo o bom perfume, nega a rosa,
Que o tempo que passamos não preserve
Sequer a tua luz, maravilhosa.

Sou aspas e parênteses, um til,
O resto do que foi um sonho lindo.
A morte tão voraz e mais sutil,
Aos poucos minha porta vai abrindo.
No toque delicado é bem sutil,
E em passos quase rápidos, vem vindo...

Sonego uma esperança, nego a sorte,
Na doce mansidão de minha morte..

MARCOS LOURES

MUITO ALÉM DO QUE EU MEREÇO

MUITO ALÉM DO QUE EU MEREÇO

Se sonho muito além do que mereço,
Talvez seja ilusão, querida amiga.
Um passo bem maior eu obedeço,
Impede que esta dor assim prossiga.

A vida se fazendo em um tropeço,
Não deixa que meu canto crie liga,
Porém se um verso novo eu enalteço,
Meu mundo num segundo trama a viga.

Se faço o dia a dia em esperança,
Traçando a cantoria mais risonha,
No fim da noite espero pela dança

Além de todo o bem que se proponha,
Meu peito de menino, de criança,
Não pára de querer, por isso sonha...

MARCOS LOURES

ÁGUAS PASSADAS

ÁGUAS PASSADAS

Viver amor passado novamente,
Parece uma loucura, minha amiga.
Depois de tanto tempo, mais descrente,
Caminhos que passamos, não prossiga.

Porém comida fria que requente,
Talvez matar a fome inda consiga.
No caso, nova chuva se pressente,
Molhando nossa casa tão antiga.

Um tronco que cortado, brotará,
Quem sabe novos frutos surgirão?
Na chuva intermitente de verão

Sementes já lançadas nascerão.
Granando uma esperança colherá
O resto deste amor florescerá?

MARCOS LOURES

O MEDO DE MORRER

O MEDO DE MORRER

O medo de morrer que me tocava
Causando em minha vida um fundo corte,
Transmuda-se em desejo bem mais forte
De um jeito que jamais imaginava.

Estúpido; nas ruas ,quando andava
Nas madrugadas frias, cheiro forte
Da podridão de uma alma que recorte
Os sonhos em que, tolo, eu me banhava.

Nos goles da aguardente, confissões,
Esparsas cicatrizes se acumulam,
Invés de porta aberta, paredões;

Em troca de um sorriso, cusparadas.
Somente as podres bocas que me osculam
Se mostram mais amigas, camaradas...

MARCOS LOURES

ESTÚPIDO REFÉM

ESTÚPIDO REFÉM

Sou mais do um simples prisioneiro
Perdido nestas pérfidas batalhas,
O mundo que se mostra carniceiro
Invade com as fétidas navalhas
Rasgando o coração, sangrando inteiro
Pois quando tu me beijas, me retalhas.

Sorrisos que encontrei nestas hienas
Que gozam do martírio de quem sofre,
São máscaras que mostras quando acenas,
Tomando minhas dores, vem de chofre,
No regozijo espúrio finge penas
Teu perfume recende ao próprio enxofre.

Mas nada do que fazes me retém
Da vida sou estúpido refém!

MARCOS LOURES

SENDAS TENEBROSAS

SENDAS TENEBROSAS

Tais sendas que percorro, tenebrosas,
Apenas esperanças inda alvejam
Tentamos espalhar perfeitas rosas
Porém somente cardos já vicejam.
Em mãos que se apresentam, belicosas,
Meus dias, tempestades os negrejam...

Sentindo-me mais frágil e impotente
Lavado em sujas águas, sem destino.
Fingindo tantas vezes ir contente,
Mentindo sobre um céu alabastrino;
Meu barco carregado por corrente
Que leva ao suicídio, desatino...

Roseirais apodrecidos no jardim,
O nada, simplesmente , dentro em mim...

MARCOS LOURES

PROFUNDA SENSAÇÃO DE FUNDO CORTE

PROFUNDA SENSAÇÃO DE FUNDO CORTE

Profunda sensação de fundo corte
De adaga putrefata ainda ecoa.
Promessa benfazeja de uma morte
Que vem silenciosa e não perdoa.
Quem dera se tivéssemos a sorte
De um barco abalroado em plena proa.

Talvez não rastejasse esta saudade
De um tempo em não fui simples cativo.
Desilusões perpétuas, dura grade
Moldando minha vida em forte crivo.
Dos sonhos que morreram sem alarde,
Até desta vontade já me privo.

E rondo qual falena,à morte um lume,
Sem lágrimas, sem medos, sem queixume...

MARCOS LOURES

PÉRFIDO SORRISO

PÉRFIDO SORRISO

Beijando ao mesmo tempo me assassinas
Com pérfido sorriso, tão medonha.
Mal sabes, sendo assim tu me fascinas
Na sensação estranha e tão bisonha
Contaminando assim belas boninas
Na fétida alegria que me enfronha.

De todas as surpresas, fatigado,
Encaro estas estradas mais poentas.
Maldigo a cada instante este meu Fado
Buscando outras histórias bolorentas
Que tirem minha vida deste enfado
Das luzes e penumbras violentas.

O solo movediço em que, assim, piso,
Servindo como alerta, como aviso...

MARCOS LOURES

INFERNO EM PARAÍSO

INFERNO EM PARAÍSO

Meus passos fraquejando vão trementes.
Vazios, os meus olhos, vou cansado.
Na boca que me beija uma serpente
Esconde seu veneno que instilado
Domina todo o corpo e toda a mente,
Vagando o tempo todo do meu lado...

Seu beijo que me toca, me incendeia
E forma uma ilusão que, cedo, passa.
Tomando tal veneno em minha veia
Tonteiras e fascínios, viro caça.
A mão que me acarinha, esbofeteia,
Caminho sem ter tréguas à desgraça.

Estou preso à loucura suave e doce,
Inferno em paraíso, como fosse...

MARCOS LOURES

ADOÇANDO A VIDA?

ADOÇANDO A VIDA?


Não falo mais de mel nem de doçura,
Querida, o diabetes aumentou.
Cansado de beber cachaça pura,
Apenas este fel, o quer restou.

Retrato nesta sala, sem moldura,
Nem mesmo a solidão ele curou.
Uma água mole bate até que fura,
Quebrantos sem sentidos, me deixou.

Preciso deste amor, jamais neguei,
É fato que te quero a cada instante.
Não sabes quanto a ti me dediquei,

Não sou, como tu pensas, um farsante.
Porém em tanto amor me adociquei,
Que a vida já passou, sem adoçante...

MARCOS LOURES

FALAR DO SONETO? perder tempo...

FALAR DO SONETO? perder tempo...

Falar-te de sonetos e de rimas,
Parece ser inútil, companheira.
Se zombas de quem sabe e discriminas
Mostras uma ignorância verdadeira.

Não quero nem desejo t’as estimas.
Palavra tão ferina, uma besteira.
Desiludida sempre, quando afirmas,
A causa se demonstra assim, inteira.

Quem guarda tanto fel por estandarte
Maltrata quem não quis te magoar.
Atira sem saber, em qualquer parte,

Berrando, vocifera, sem motivos.
Difícil te entender e perdoar,
Soberba nos teus olhos mais altivos...

MARCOS LOURES

MEUS SONHOS

MEUS SONHOS

Meus sonhos, belas dálias no meu peito,
Eflúvios da paixão indefinidos.
Num átimo buscando ser eleito
De amore que se fazem dos olvidos.

Num límpido segredo,satisfeito,
Eu adormeço a paz de ter sentido
Em esplendor raríssimo e perfeito
Todo o temor que houvera, resolvido.

Caminho pelas sendas florescidas,
Buscando pelas fontes sempre frescas,
Montanhas, cordilheiras gigantescas,

Não ousam impedir as nossas vidas.
No sonho em que esse amor já me enternece
Eu agradeço a Deus, louvor e prece...

MARCOS LOURES

DIAS FRIOS

DIAS FRIOS

Os dias se passando tão gelados,
As nuvens da tristeza vão se abrindo,
Lembranças de outros dias prateados
Teu rosto mais bonito me sorrindo...

Os sonhos que me tomam são alados
Mas logo a realidade me ferindo,
Secando tantas fontes, morrem prados.
Meu mundo que se fora belo, lindo...

Tua pele macia, em alva neve,
Num delírio feliz, num vôo breve,
Qual fosse uma ilusão que se levanta

Alçando meu desejo ao infinito...
Distante deste olhar, meigo e bonito,
Nem mesmo uma esperança leda; encanta...

MARCOS LOURES

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A SOLIDÃO MALTRATA MUITO MAIS

A SOLIDÃO MALTRATA MUITO MAIS

Por mais que o amor maltrate um sonhador,
A solidão machuca muito mais.
Amiga, neste mundo; o desamor,
Acaba com sorriso, e mata a paz.

Se teimo em cada verso, um amador,
A dor já me feriu, e por demais.
Do tempo em que vivia sem calor,
Não quero recordar. Viver jamais...

Por isso minha cara companheira,
Não deixe de querer amar alguém.
Uma esperança, eterna jardineira,

Um dia te fará bela surpresa.
Amor, por mais distante, sempre vem,
Cobrindo a tua vida de beleza....

MARCOS LOURES

MAL CONSIGO DORMIR

MAL CONSIGO DORMIR

Mal consigo dormir se não estás
Deitada do meu lado, brasa acesa.
Ardendo em vera chama, amor se faz,
Depois de toda a festa em sobremesa.

Sorvendo assim de ti, sou bem capaz,
De receber o vento que me tesa,
Fazendo tanto amor, querendo mais,
Navego nos teus mares de princesa.

No jogo que incendeia a nossa cama,
Brincando em flamejantes tentações.
Insisto em te querer, fogosa trama,

Nas asas tentadoras das paixões.
Amor em seus matizes, toda a gama,
Explodindo em milhares de emoções...

MARCOS LOURES

AMOR VERDADEIRO

AMOR VERDADEIRO

Transita o vero amor, matéria fina,
Que, gerado em deslumbres de carinhos,
Retendo a qualidade de bons vinhos,
Em tempo o seu valor se determina.

Calcado em tanta paz, alabastrina,
Valora-se em detalhes, raros linhos,
Mesmo quando defronta com espinhos
Transborda em limpidez, tão cristalina.

Início que se fez luxúria e gozo,
Retoma em mansidão, mais carinhoso,
Um sentimento quase de mormaços.

No doce badalar de calmos sinos,
Depois das tempestades, desatinos,
Toda a suavidade de teus braços...

MARCOS LOURES

EM TEU RASTRO

EM TEU RASTRO

No rastro de teus mágicos perfumes
Espreito no caminho em que prossigo
O resplendor dos passos feitos lumes,
Nas lutas que prevejo, um santo abrigo.

Seguindo qual falena vou aos cumes
Mais tenebrosos plenos de perigo.
Percebo-te voraz em teus queixumes,
Além do que pretendo e não consigo.

Cupido em seus delírios; lança as setas,
Aufere seus desejos, suas metas
E em febre me atingindo, me aquebranta.

Aquém do que sonhara um ermitão,
Tomado por loucuras da paixão,
Um coração tão frágil já se encanta...

MARCOS LOURES

TOSCA SENSAÇÃO

TOSCA SENSAÇÃO

Na tosca sensação de vaga mente,
Refém de lerdos sonhos em volteios.
Sem tréguas que refaçam meus esteios,
Entrego-me aos teus olhos de serpente.

Veneno me inoculas, ás ardente
Na sôfrega ilusão de meus anseios.
Arrefecendo os sonhos, ledos freios,
Agônico, mergulho em lagos quentes.

Tua sensualidade, doce fúria,
Fomenta nossa noite mais espúria,
Tornando meu desejo tão disforme.

A noite semimorta já não dorme,
Tomada por luxúria, insensatez...
No gozo venenoso em que se fez...

MARCOS LOURES

GUARDADO EM CATEDRAIS

GUARDADO EM CATEDRAIS

Guardado em catedrais que sei imensas,
Um coração se faz em duras datas,
Na vívida lembrança de outras crenças,
Nas hostes doloridas, velhas matas,
As sensações passadas, mais intensas,
No aluvião das dores insensatas...

Focado por mistérios sensuais,
De tempos que se foram, seus enganos.
No olhar vazio, mares abissais
Negando a novidade de outros planos.
Os dias que se foram, nunca mais,
Regendo o seu futuro, soberanos...

Que faço se este amor, um temporão,
Infausta novamente, o coração?

MARCOS LOURES

TEMOR

TEMOR

Temor que me invadindo, formidável
Transborda em solidão, velha quimera.
Abrindo no meu peito uma cratera
Na fome e no vazio interminável.
Além do que julgara miserável,
Mordendo devagar, teimosa fera.
Espero a solução que nunca veio,
Envolto nesta treva, sem destino.
Frágil lembrança, tosca de um menino,
Na noite solitária, um vão receio.
O medo ressurgindo, vem a pino;
Nos passos de um amor que inda rastreio.
A boca abandonada se apedreja,
Sonhando com os lábios que não beija...

MARCOS LOURES

À AMIZADE - SEXTINA 27

À AMIZADE - SEXTINA 27





Os dias sem te ter vão penitentes,
As horas já não passam; tristes, duras,
Teus braços como raios envolventes
Garantem caminhadas mais seguras,
Teus olhos que me guiam, reluzentes,
Banhando cada passo com ternuras.

Buscando tão somente tais ternuras
Depois de noites tristes, penitentes
Encontro meus caminhos reluzentes
Amaciando estradas frias, duras
As mãos se tornam fortes e seguras
Trazendo estes carinhos envolventes.

Palavras que me dizes, envolventes
Tão plenas de carícias e ternuras
Mostrando soluções bem mais seguras
Redimem almas, velhas penitentes
Embora tantas vezes sejam duras
Permitem alvoradas reluzentes.

Estrelas que me entornas, reluzentes
Quais traços de amizades envolventes
Nas tramas bem mais firmes e mais duras
Tocadas pelos raios de ternuras
Protegem os que foram penitentes,
Passadas com certeza bem seguras.

Amiga com teus braços me seguras
Futuro mostra rotas reluzentes.
As pernas maltratadas penitentes
Atada nos grilhões mais envolventes
Depois de perceber tantas ternuras
Libertam-se das trevas, cruéis, duras.

As marcas mais profundas, sempre duras,
Guiadas por passadas mais seguras
Permitem vislumbrar raras ternuras,
Sentindo os claros brilhos reluzentes
Que chegam com seus raios envolventes,
Trazendo uma alegria aos penitentes.

Outrora penitentes noites duras,
Nos braços envolventes vão seguras
Nos trilhos reluzentes das ternuras...

Na flor do meu amor

Na flor do meu amor

Na flor do meu amor: maracujá
As tramas mais diversas envolvendo,
O tanto que se quis em dividendo,
O resto que decerto volverá,

Não quero e nem pudera desde já
Dardeja o que se mostra neste adendo,
E o corte pouco a pouco me envolvendo
Decerto o quanto posso e não virá.

Arroxeado sonho morre cedo,
Quantas vezes; desvendo e me concedo,
No beijo que jamais se fez presente,

Descendo corredeiras e riachos,
Dos nichos dos meus erros, fogos, fachos,
E a fina areia em meu deserto se apresente.

Marcos Loures

PLENILÚNIO

PLENILÚNIO

A noite em plenilúnio, mansa e pálida,
Deleita-se contigo, deusa nua.
Lúbrica fantasia de crisálida
Que em sonhos se entregando, já flutua.
Deitando num remanso, doce e cálida,
Temerosa pressente e enfim recua.

Amar é se entregar, louco sacrário,
Fazendo de outro corpo o seu altar.
No beijo que procura, senso vário,
Derrama-se em deleites ao luar.
Na cama ensangüentada, seu sudário,
A fome e saciedade a se buscar.

Refém deste desejo que a domina,
Mulher incandescendo uma menina...

MARCOS LOURES

SEXTINA 26 NÃO DEVERIA ACREDITAR...

SEXTINA 26 NÃO DEVERIA ACREDITAR...



Já não mais deveria acreditar
Nos erros de quem tenta nova luz
E o tempo se em verdade não soubesse
Vagando entre as estrelas, constelares
E sei do quanto pude em teus altares
Gerar o meu caminho em liberdade.

Ainda que vivesse a liberdade
E nela inda pudesse acreditar
As sombras mais suaves dos altares
Refletem dos meus sonhos tanta luz,
E sigo entre cenários constelares
Talvez outro momento inda soubesse,

O quanto se pudera e já soubesse
E dita o meu anseio em liberdade
Os dias entre os sonhos constelares
Ainda que eu pudesse acreditar
No canto se moldando em rara luz
Trazendo ao meu olhar raros altares,

A vida se traduz em teus altares
Ainda que em verdade não soubesse
Bebendo cada gota desta luz
E nisto se conhece a liberdade
Ainda que pudesse acreditar
Nos ritos mesmo sendo constelares.

E sei dos meus anseios; constelares
Ousando na esperança em meus altares
E tento a cada instante acreditar
Embora na verdade isto eu soubesse,
Tramando o que pensara em liberdade
E neste caminhar encontro a luz,

A noite semeando em rara luz
Explode nos resumos constelares
E nisto se sentisse a liberdade
Ferrenha no caminho entre os altares
Ainda que talvez mesmo soubesse
Do quanto poderia acreditar.

E sei que acreditar em cada luz
Dizendo o que soubesse em constelares
Momentos nesta luz em tais altares.

MARCOS LOURES

MEUS CADÁVERES

MEUS CADÁVERES

Arrasto os meus cadáveres e nada
Da face desenhada se apresenta,
A luta demonstrara esta sangrenta
Palavra mesmo em vão deteriorada,

A força que se molda dita estrada
O peso jamais traça ou me apascenta,
Negando qualquer sonho se inocenta
Batalha que se molde destroçada.

Não quero o novo tempo nem tampouco
O grito sem sentido, mero e louco,
Alucinadamente volto ao zero,

E sei da virulência do que vem,
Matando o que se mostre ainda aquém
Do quanto desenhei; e teimo, e quero.

Marcos Loures

OUTRA NOITE PERDIDA

OUTRA NOITE PERDIDA

Uma noite perdida neste imenso
E turvo caminhar cenário afora,
A fonte se desmancha e o nada aflora
Traçando outro momento em que não penso,

Espinhos sangram medos, me convenço,
Da mesma vergastada desde outrora
E quando me preparo, ao ir-me embora,
Ausente de meus dedos, qualquer lenço.

Respaldos procurados, não há viço,
Somente o mesmo solo movediço
Mortiça madrugada nega o dia,

E bêbado do quanto pude crer
Nefasta criatura eu passo a ver,
Aonde a mais serena buscaria.

Marcos Loures

A poesia em mim... SOL FIGUEIREDO e marcos loures

A poesia em mim... SOL FIGUEIREDO e marcos loures


Eu revivi tantos sentimentos,
Ao participar desse momento,
Fez-me encantar muito mais ainda...
Por ver a poesia sempre tão bem vinda!

Embriaguei-me com tantos versos,
Enveredei por rimas, o universo...
Da métrica, um duro estudo...
Com bela poética, contudo!

Eu pensei até que não era verdade,
Essa minha nova realidade,
Em escrever sempre mais poemas...

Será que tenho algum problema,
De só querer versejar um tema?
Expressando sem tais vaidades!

© SOL Figueiredo

Vivendo sem temer o que viria
Beijando a tempestade com fervor,
Deixando no passado alguma dor
Singrando os grandes mares, poesia,

A noite que passara amara e fria,
Renasce com ternura e sem temor
Sagrando cada verso redentor
Marcando com brandura o que haveria,

Momentos que eu vivera, antes nostálgicos,
Imersos em terrores, rudes e álgicos,
Agora renascendo em sutis versos,

Assisto ao mais sublime amanhecer
E nele em cada instante me embeber
Unindo antigos passos tão dispersos.

MEU VERSO

MEU VERSO

Meu verso, um velho cego e obsoleto,
Qual sombra do passado ledo e tolo,
Embora tantas vezes vá inquieto
Não serve nem sequer mais de consolo.
Esmago cada sonho, um vil inseto,
Semente que se aborta em seco solo.
Jogado sem defesa às duras feras
Em tal canibalismo que me assusta.
Refém das desditosas primaveras
Em látega vontade mais robusta.
Num precipício imenso, vãs crateras,
Além do que pensei; amar me custa.
Meu verso abandonado, pobrezinho,
Morrendo em rima e métrica, sozinho...

MARCOS LOURES

SOLIDÃO NOTURNA

SOLIDÃO NOTURNA

Na solidão noturna me recolho
E vejo tua sombra na parede;
Meu sonho mais esguio, sem ferrolho,
Na boca imaginária mata a sede.
Na sombra um brilho fosco reflete o olho
Num incêndio saudoso, a velha rede.
Procuro, sem sucesso, te tocar,
Apenas o vazio por herança.
Os raios portentosos do luar
Inflam, num momento esta esperança.
Mas nada encontrarei. Só, a brilhar,
Um rastro faiscante, uma lembrança.
No espelho de meu quarto, um vago senso,
Reflete o nosso amor que foi imenso....

MARCOS LOURES

IMERSO EM TANTAS ÂNSIAS

IMERSO EM TANTAS ÂNSIAS

Profundamente imerso em tantas ânsias,
Calejo uma emoção em corpo frágil.
Percebo, nos teus olhos repugnância
Na fuga que encetaste, bem mais ágil.
Nas dores que guardei em leda infância
A sorte que sonhara, simples plágio.
Ao ver-me assim, exposto a tais ruínas,
Do altar que imaginei, amor sincero,
Na luta que bem sei tu abominas
A solidão devora em gesto fero.
Numa ressurreição de antigas minas
Um resto de ilusão que ainda espero.
Os vermes pouco a pouco me tomando
Não sei se aguardarei nem até quando...

MARCOS LOURES

ALÉM DO QUE SONHEI

ALÉM DO QUE SONHEI

Além do que sonhei que já tivesse
Do encanto que se fez contentamento.
É como se deveras, numa prece,
Amor de dores fosse assim isento.
Porém o duro Fado não esquece
Sequer por um segundo ou um momento.

Às ordens deste amor, estou sujeito,
E assim se fazem cantos mais diversos.
Professo mesmo embalde o meu direito
Na busca da alegria nestes versos.
Tu queres e bem sabes que eu aceito
Oferecendo a ti meus universos.

Enganos proferidos sem descanso,
Teu mundo que procuro e não alcanço...

MARCOS LOURES

CANTANDO O PLENO AMOR

CANTANDO O PLENO AMOR

Cantando o pleno amor, tão docemente
Em termos que me fazem namorado
Da lua que se explana totalmente
Em brilho, com teu colo prateado.
Percebo uma ousadia mais presente
Num ato que se mostra delicado.

Na sutileza calma deste gesto
Invade meu jardim, clareia as rosas,
Senhora do meu sonho em que eu empresto
As mãos em seus carinhos, desejosas.
Quem veio de outro tempo tão funesto
Se esbalda com delícias perfumosas...

Procuro amada lua em qualquer parte,
Bem certo destes lumes em plena arte.

MARCOS LOURES

DOCE AMIGA DA SAUDADE

DOCE AMIGA DA SAUDADE

Tristeza, doce amiga da saudade,
Vestindo uma pobre alma penitente.
Ressoa desde a minha mocidade
Deitada em minha cama, enlanguescente.
Vivê-la é mais que só fatalidade
Que toca um velho peito tão descrente.

Condiz com cada sonho em minha vida,
Refém de longo tempo em vago riso.
Caminho por vereda mais florida
Ausente do perfume; perco o siso.
Na face em dor intensa, contraída;
Distante do que penso, um paraíso...

Aberto o coração não se renova
Aguarda simplesmente a sua cova...

MARCOS LOURES

Quem dera...

Quem dera...

Quem dera se pudesse outro pavio
Enquanto a cera espalha fogo e fúria
Na mesma solidão, resta a lamúria,
E o preço quando o pago, desafio.

Cevando em margens áridas, meu rio,
O tanto se perdendo em tal penúria,
E nada do que possa enfim, depure-a,
Marcando o que se ouvisse em tom sombrio,

Alheio aos descaminhos que me trazes,
Ainda quando luto por audazes
Anseios mergulhando no jamais,

Enfrento os desafetos, mas prossigo,
E tento mesmo em canto atroz e antigo
Vencer os ermos dias tão banais...

Marcos Loures

SILHUETA ESGUIA

SILHUETA ESGUIA

Ao ver a silhueta tão esguia
De quem sempre sonhei, imagem bela.
Percebo que em verdade eu já vivia
Na busca de quem deusa enfim, revela.
Relances maviosos da alegria
Onde um futuro em fausto, amor já sela.

Amor, um velho bruxo, feiticeiro;
Se faz pura magia e forte encanto.
Um sentimento nobre e verdadeiro
Emoldura beleza em breve canto.
Enfronha-se em palavras, sorrateiro,
Pegando de surpresa, um mago espanto.

Ao ver a silhueta tão esguia,
A noite mergulhando em fantasia...

MARCOS LOURES

MEUS DIAS

MEUS DIAS

Meus dias quando outrora alvissareiros,
Raríssimos troféus de uma esperança.
Promessas de vitória e seus loureiros,
Julgando bem mais forte uma aliança

Primor de velhos sonhos que, guerreiros,
Morreram sem resquícios na lembrança.
No lodo em que emergi, pr’a sempre imundo,
Charneca de meus olhos, falsidades,

No pélago vazio em que me inundo,
Distante de pureza e castidades,
Vagando sem ter rumo pelo mundo,

Apenas me restando tais saudades...
No crocitar de uma alma prisioneira
Somente a solidão é companheira.

MARCOS LOURES

TEU PERFUME DESEJADO

TEU PERFUME DESEJADO

Sentir o teu perfume desejado,
Tocando em tuas pernas, calmo mar.
Recebo pelo vento o teu recado,
Sentindo esta vontade de ficar.

A vida inteira sempre do teu lado,
E todo o teu carinho desfrutar.
Não vês como eu estou apaixonado?
Deitar o nosso amor sob o luar...

As nuvens passeando em nosso céu,
Formando uma paisagem delicada.
Galopo no teu corpo, qual corcel,

Voltando a ser de novo o teu rapaz,
Sorvendo cada gota iluminada
Que o brilho deste amor, pra sempre, traz...

MARCOS LOURES