sábado, 5 de março de 2011

O amor que denotasse qualquer lume
E desta sensação já nos tomando
Na imensa provisão ou desde quando
Por vezes entre enganos se acostume.

Vivendo o que pudera em tal costume
O sonho noutro sonho desenhando
A força de um momento se expressando
Sentindo da esperança o seu perfume.

Não quero e não pudera ser diverso
Ainda quando sigo em universo
Além do que se fez em minha senda,

O amor sem ter limites nem fronteiras
Traduz toda a verdade enquanto queiras
E nesta maravilha nos atenda...


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Durante a minha vida imaginara
Poder ao menos hoje descansar
Depois da inconsistência do lutar
Sem ter sequer a sorte em tal seara,

A vida que se fez audaz e clara
A morte se aproxima devagar
E desenhando além do imenso mar
A sorte aonde o brilho se escancara,

E quanto mais deveras tu constróis
Belezas sem igual tomam faróis
E geram outras tantas: ilusões?

Só sei que na verdade em tal vergel
O mundo não seria mais cruel
E nele outros cenários tu me expões.

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Não mais me caberia outro momento
Senão aquele mesmo onde pensasse
Vencer e ter nas mãos além do impasse
O que deveras busco e fútil tento,

Ainda quando muito sigo atento
Depois do que talvez não mais tentasse
Transido pelo incenso onde esfumasse
A vida tão somente em sofrimento.

Refém do que já fora e não sentisse,
Profetizando após esta mesmice
A senda se repete em magnitude

Idêntica à que deixara em descaminho
E sei que na verdade ao ser sozinho,
Matasse qualquer sombra em juventude.



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sexta-feira, 4 de março de 2011

Bom dia, meu amigo. A vida não sossega
E deixa que se veja a sorte mesmo cega
Vagando noite e dia aonde não pudera
Vencer a tempestade, até sendo sincera.

“Bom dia companheiro, a gente em vão navega”.
Decerto que isso possa ainda se carrega
Traçar outro sentido em luta mesmo austera
Marcando o que tentasse em nova primavera.

“Eu soube num jornal, desses que mais indiscretos
Dos termos do divórcio, em fatos que concretos
Permitam-me saber somente da falência

Aonde te envolveste?” Eu sem qualquer ciência
Daquela que se fez amiga e companheira
Agora pelo ralo, expõe a vida inteira.

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Em Lara concebera a minha redenção;
“O amor é mesmo assim, início dita o não”.
É. Mas de que adiante acreditar se o nada
Expressa com certeza a rude madrugada

E dela o que se bebe imerge em solidão?
“ Talvez se aprenda enfim o rumo da ilusão...”
Percorro a velha trama exposta nesta estrada
E a lua me iludindo, há pouco iluminada,

Nos bares entre luz diversa e inebriante,
“Porém somente o ocaso, a vida nos garante”.
Amei e sei destarte a vida sem sentido,

E quando a dissecando, agora dilapido
O que fora esperança. “É fato contumaz,
Aonde adentra o amor, esquece-se da paz.”


---


Vamos sentar um pouco; a noite mal começa.
“Perdoe-me, querido, eu tenho tanta pressa...”
Mas não te custaria ouvir por um momento
Quem sabe a minha história expressa em desalento

Podendo te ensinar aonde se tropeça
E nisto cada engano, enfim já se confessa,
“Quem vê no amor o rastro audaz de algum fomento,
Encontrará decerto a dor e o sofrimento,

Eu fico aqui contigo. Há tanto o que te ouvir,
E assim também aprendo o quanto corrigir”.



De Lara, lembras bem, ou mesmo que confusa
A imagem da mulher que vindo se entrecruza
Com toda a maravilha expressa num olhar
E nele este poder de tanto inebriar.

“Sinceramente amigo, a imagem se recusa
A ter além da sombra, às vezes mais obtusa
De algum sorriso ou mesmo um passo a divagar
Sentada noutra mesa aqui ou noutro bar”.

Pois bem, mas pouco importa; isso não necessita
Apenas vou dizer do quanto era bonita,
A perfeição no rosto exposto em maquiagem

Promessa de quem sabe a magistral viagem,
Baladas noite afora, e até discretamente
Divina criatura, a sílfide envolvente.




Um dia, num domingo, em Ipanema, eu acho,
Apresentei-te sim. “Apenas mero facho
De uma lembrança ou outra, e nada mais além”,
Mas pouco importa agora, o quanto resta e tem.

Só sei que num instante, a vida este diacho
Descera numa enchente adentrando o riacho,
E o que pudesse ser talvez de mais ninguém
Olhava para mim, irônico desdém...

“O amor que tanto engana apresentando enfim
Dicotomia tanta e nela o que há em mim
Explicará quem sabe, ou mesmo tentará

Traçar uma resposta, aqui além ou lá.”
Mas quando se apaixona, um imbecil se torna
Tentando imaginar mais quente a noite morna.


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Um ano ou pouco mais, semana após semana
Aí é que se vê o quanto a gente engana,
Um dia em dança e festa, outro momento em glória
E construindo assim a nossa mesma história,

Bebendo da esperança enquanto não se dana
A própria sensação audaz e desumana
Do que hoje me deixara, um resto, alguma escória,
A vida se reflete e sei tão merencória.

“Garçon, outra cerveja”. Um gole de conhaque.
E assim se preparava a vida para o baque,
Entre motéis e sonho, apenas o vazio.

“Não posso te dizer do amor em desvario
Somente o que me resta é ouvir-te e nada mais,
Um barco sem timão enfrenta os vendavais?”.



Até de casamento, um dia eu a falei
Só sei que na verdade, ao fundo eu nada sei.
“A gente aprende assim, a cada nova queda,
O passo no vazio, expressa aonde enreda

E trama o que pudesse e nisto mergulhei
Até que decifrasse, a vida em tola lei”.
Jamais tive tal sorte e sei desta moeda
Que tanto nos ferindo ao dia além nos veda.

Em juros vou pagando o quanto fui otário,
E vejo sem sentido algum o itinerário
Do prazo que termina, a noite em rara neve,

No tropical cenário, aonde isso se atreve
Marcando de uma vez o que deveras vês
Trazendo tão somente a espúria estupidez.



Durante certo tempo acreditara em Deus.
“Mas o que tem a haver alhos com tais bugalhos?
Os erros com certeza, amigo, foram teus.”
Os passos sem sentido eu sei quanto são falhos,

Nem Hércules pudera envolto em tais trabalhos
Saber da sutileza em tais penduricalhos
Deixando qual saída apenas este adeus,
Levando para sempre os sonhos que eram meus.

“Mulher é complicada. Eu sei e não renego”,
Porém quando bonita, alimentando este ego,
Também é perigosa, e sei quanto mimada”.

Um dia nos diz tudo e noutro quase nada,
Invariavelmente, um ser quase hormonal,
A boca traz o doce, e amarga em fel e sal.


9

Mas deixemos de Lara. A vida como vai?
“O passo que me traz, também o que me trai.
Um novo amanhecer pudesse noutro instante,
Mas sei que no final, o nada me garante

E a poesia agora ilude e me distrai,
Talvez, não te garanto, eu seja um novo pai.”
Quem é esta sortuda? O mundo é provocante,
Enquanto em minha queda aos pouco te agigante.

Durante um ano e meio eu quis a rara sorte
De ter com quem amasse o bem que me conforte,
E nada no final, estéril? Talvez seja,

Ou tenha em Lara a sorte atroz e malfazeja.
Bebamos com fartura, um brinde cai tão bem
É tudo o que decerto agora nos convém.


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Porém com espumante. A vida se apresenta
Em rara fantasia após qualquer tormenta,
O início após o fim renova esta esperança,
E o tempo noutro instante além agora avança;

“Não quero chatear”. Amigo, se acrescenta
A luz aonde possa e nisto me apascenta.
Tornando bem mais suave e até ousando mansa
A doce sensação que agora nos alcança.

Rogério, companheiro, eu vejo tanto brilho
No teu olhar amigo, e nisto compartilho
Tanta felicidade, aonde redimisse

O sofrimento atroz, vencendo esta mesmice,
De um mundo sem sentido que sinto desde aqui,
Após lacrimejar, minha alma ora se ri.


“Já são três horas querido, e a vida seguirá,
Preciso com certeza e sinto desde já
Necessidade imensa, apenas de um descanso.
O dia foi corrido e quando agora alcanço

Certeza que por certo o tempo mostrará
De um renascer em sol, e nisto brilhará
No olhar de quem sofrendo encontrará remanso
Aonde se verá o tempo em tom mais manso.”

Agradecendo então a bela companhia,
Permita que te abrace e até já poderia
Fazer algum pedido que tanto me alentasse,

Que quando esta criança mostrasse a sua face
Em nome da certeza de um grande e bom carinho
Eu pudera do petiz, quem sabe ser padrinho?



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Não. Não divido a conta, é toda minha, amigo,
Por ter me ouvido e sei do quanto hoje consigo
Ao menos descansar depois de tantas horas
Aonde não sabia enquanto agora ancoras

E sei do quanto pude acreditar e sigo
Vencido pelo nada em pleno desabrigo,
O término do sonho e nisto agora afloras
Trazendo tão somente a paz onde demoras.

“Não há de quê parceiro, e siga a vida em paz,
O vento que me trouxe agora é bem capaz
De nos levar além do quanto poderia

E assim ao fim de tudo ao ver a fantasia
Rondando o nosso sonho e nisto mergulhando
Num mundo mais diverso, às vezes rude ou brando.




Cena 2


Num quarto de hotel com uma decoração típica destes “motéis” de beira de estrada. São três horas da tarde e um casal deitado seminu na cama conversa com um misto de prazer satisfeito e ansiedade.

“Rogério, então Ricardo ainda não desconfia
De nada, mas é bom saber que qualquer dia
A direção do vento em novo rumo possa
Mudar este caminho e aí o que foi troça

Numa explosão qualquer mudando a cercania
Trazendo tão somente o que inda me agonia
Gerando sem sentido o medo, a dor e a fossa
E nisto o que se traz em nada nos apossa.

Cuidado companheiro, eu sei que na verdade
A sorte se traçando enquanto nos degrade
Exploda e já no fim, o todo se apresente,

Não se esquecendo amor o quanto que é doente
Quem faz do sentimento além de algum apoio
Bem mais que a sensação imensa de um comboio.”



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Não se preocupe Lara, eu tenho tais cuidados
E sei dos dias tais aonde enamorados
Pudemos desvendar de nós estes segredos
E cada vez que eu vejo a fúria dos enredos

Em passos mais sutis e neles desenhados
Futuros entre os quais olhando para os lados,
Deixando no caminho os ermos bem mais ledos
Na profusão da sorte envolta em nossos dedos.

“Eu acredito amigo, o amor não tem juízo,
Mas neste nosso caso eu sei também preciso
Vencer o descaminho e ser bem cuidadoso,

Ricardo poderia e sei quando antegozo
Expressa outro cenário e nisto a nossa sorte
Talvez nos encaminhe enfim até à morte”.

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É só ter paciência e prosseguir após
Vencer a discordância e sei que em mesma foz
A vida não pudera trazer outro caminho
Vivendo sem sentido aonde eu já me alinho

No amor em providência e nisto sei que em nós
O tempo se mostrasse além de um fato atroz
Gerando o que inda possa e nisto me avizinho
Da imensa sensação de dor, temor carinho.

“ Mas mesmo assim querido, é preciso saber
Do quanto a sorte traz angústias no prazer
E escancarando o sonho, a vida se desnuda

E nisto com certeza uma expressão de ajuda
Presume alguma luz e nela a claridade
Que tanto nos seduz, embora nos degrade”.

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Porém eu não consigo e não quero viver
Distante de quem tanto ensina que o prazer
Permite novo passo ao claro sentimento
Aonde o que inda tenho encontro enquanto invento

Ainda que se veja um duro alvorecer
A noite vale a pena e sei do teu querer.
“Amado não se esqueça e nem por um momento
Que quanto mais feliz, o sonho onde me alento

Permite a caminhada em luzes bem mais fortes
E a cada novo dia assim tu me confortes
Gerando esta esperança e dela me alimento,

Vivendo em alegria e em luz todo momento”.
Lutemos, pois por isto e seja como for,
Sabendo que ao final vibramos neste amor.


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“De qualquer forma querido, é bom seguir atento,
A direção do dia a dia expressa o vento
E nessa vida eu vejo a vária conformação
Da lua imensa e bela em diversa sensação.”

Uma hora da tarde? “Eu sei”. Novo cenário invento
E nisto se aproxima o que possa o pensamento
Moldando cada momento e nesta satisfação
A vida já se prestando ao que possa desde então;

Amanhã? Talvez quem saiba? Eu te ligo amada,
A sorte se transforma e muda a caminhada
E nisto se apresenta agora e doravante

Cuidado sempre é pouco, o resto se garante
Ainda mais se sabe o quanto agora vês
Na incerta, mas sublime espera na gravidez.


Cena 3

Ricardo sentando na sala de casa, em ambiente à meia luz, vestindo um pijama e deitado no sofá.

( ensimesmado)

A vida realmente expressa variáveis
Da sorte. Enquanto alguém encontra os mais prováveis
Caminhos para a paz, e nisto se permite
Pensar além de tudo em superar limite

Em encontros mais vis, os tempos demonstráveis
Expressam o vazio e nele intermináveis
Cenários onde o todo em dor já delimite
O quanto muito aquém e embora necessite

Viver cada momento enquanto poderia
Traçar o ensinamento aonde em alegria
A luta demonstrasse alguma nova senda,

Porém sem ter a sorte aonde se desvenda
O brilho da esperança em cada olhar que aponte
Mudando a direção, além deste horizonte.

18

Já nada mais concebo e vivo a solidão
Sabendo que em verdade a luta fora em vão.
Em tal dicotomia o quanto não mais vejo
Sequer do que pudera em ânsias de um desejo

Tramar outro momento em nova embarcação
Ou mesmo novo amor e ter a dimensão
Exata do que eu tenha a cada raro ensejo
E ter nesta ilusão, um dia benfazejo.

Produzo do que fora um tempo mais feliz
A sombra perseguindo e nisto tanto eu quis
Embora saiba bem o quanto me restara

Deixando mais obscura enfim esta seara
Após a negação da minha fantasia
E a morte se aproxima em dor e em ironia.


Porém quem sabe um dia eu possa mergulhar
Nos braços do futuro e ter onde ancorar
O barco sem destino em louco timoneiro
Vencendo o quanto resta, um peito aventureiro

Depois de imensamente adentrar cada mar
Aonde imaginara o tempo a se mostrar
Desnudo e sem cansaço, ou mesmo por inteiro
Ousando neste cais, quem dera o derradeiro.

E agora que encontrara a tal felicidade
E Lara se mostrasse enquanto tanto agrade
Tramando na verdade o infausto de um momento

E nisto esta mortalha enreda o pensamento,
E nada do que eu pude agora se presume,
E deixa dentro da alma, apenas vago ardume.


Um dia até quem sabe a sorte modifique
O quanto ainda tenho e nada mortifique
O sonho de um espúrio e louco trovador
Imerso no caminho atroz de um raro amor.

A vida-inundação agora estoura o dique
E a minha embarcação encontro sempre à pique
Matando pouco a pouco o quanto fora ardor,
Secando em meu jardim, amortalhando a flor.

Mas Lara há de pensar e ver no que passamos
Os dias mais gentis, a sorte em claros ramos
Frondosa esta esperança e nela outro momento

E nele todo o sonho ainda hoje fomento,
Só sei que no final, o que me restará
Depende do que eu viva e sinta desde já.



( toca a campainha)

Não irei atender. Mas poderá ser Lara.
Enquanto a dor adentra e a morte se prepara
Um lenitivo ou mesmo alguma novidade
Que possa me trazer ao fim a claridade,

Destarte o que se vendo aos poucos escancara
A sorte desigual e nisto eu sinto amara
A força sem limite e o quanto agora invade
O preço a se pagar reduz a liberdade.

Mas deixa que se sinta o vento mais suave
Enquanto a solidão, deveras já se agrave
E o verbo no passado expressa o que inda vejo,

Marcado pela angústia atroz deste desejo
E se já fui feliz, quem sabe não se importa,
Mas quem será, meu Deus, que está na minha porta?


Com ar de surpresa.
Entra Rogério

Rogério. Tudo bem? E as coisas como estão?
Perdoe aquela noite eu me excedi, mas não
Pudera sem defesa outro caminho ver
Senão esta vontade estúpida: morrer.

Quem sabe no final, eu tenha uma razão
E nela me alimente e beba a imensidão
Do céu ora desnudo e nisto possa crer
Quem sabe que inda reste algum alvorecer.

Mas sei quanto esta vida expressa em quem sonhou
E ao fim desta jornada apenas encontrou
A mesma ingratidão, deveras tão comum,

Dos sonhos mais gentis, não restando nenhum,
Somente esta incerteza e nela me alimento,
Tornando à flor da pele o imenso sofrimento.


“Não tem de quê, amigo. Eu entendo a revolta
A vida se repete e traz em nova volta
O quanto já se viu e nada mais pudesse
Senão tal refletir em leda e vaga messe

Minha alma também vejo enquanto além se solta
Talvez necessitasse, o sonho de uma escolta
E o tempo sem juízo ao nada ora obedece
E sei do que talvez sem rumo nos esquece.”

Só te agradeço o fato e te prometo amigo
Não mais falar do quanto a luta em desabrigo
Neste invernoso mundo audaciosamente

Apenas o vazio e o fim ora apresente,
Mas tenho esta certeza e não irei sozinho,
E a morte que me ronda em Lara terá ninho.


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“Não fale desse jeito, amigo e camarada;
Quem sabe no final, surgindo nova estrada
A velha se esquecendo e vendo que não vale
A pena o sofrimento e nisto o quanto exale

Presuma o quanto veio e na sorte enredada
Ainda veja além a noite enluarada,
Cobrindo a natureza, a deusa com seu xale,
Mostrando esta beleza e nisto a dor já cale”.

Não vejo de tal forma, o tempo se esgotando,
O mundo que desejo aos poucos desde quando
Jamais se poderia ousar onde me aprumo,

Bebendo da esperança ainda inteiro o sumo
Matando quem me mata, eu possa ser feliz,
E nisto o quanto quero, a sina não desdiz.


25


“Ricardo, de tal forma a luta não teria
Uma esperança além e sem qualquer valia,
O fim anunciado em dores, terremotos
Trazendo em tuas mãos anseios mais remotos,

Gerando o que se queira e nisto em agonia
A luz de cada olhar, apenas ironia,
Olhando na gaveta ainda vejo as fotos
Juventude liberta acelerando as motos”.

Eu sei que também tive um tempo mais feliz,
Agora o quanto resta apenas contradiz
Futuro que não veio, olhar sem mais sentido,

E na verdade eu tento enquanto dilapido
O vento da esperança, ou mesmo de outra sorte.
Porém o que me resta, amigo traz a morte.

“Bom, de qualquer forma irei me retirar”
Ainda é cedo amigo, “irei, mas vou voltar
E pense com cuidado; evite tal besteira”
Esteja mais tranquilo, a noite é conselheira,

Quem sabe noutro dia eu possa libertar
E ter no amanhecer em meio à luz solar
Certeza de outro fim, e nisto a verdadeira
Noção do que virá mostrando uma roseira

Arranque este espinheiro e deixe o meu caminho
Bem mais tranquilo e calmo e nisto eu me avizinho
De uma verdade em paz, e consiga saber

Que após a tempestade, eu beba o amanhecer
E renovando a estrada encontre enfim o brilho
E nele calmamente a luz refaça o trilho.


Rogério sai e deixa Ricardo no mesmo cenário. Pensativo...


Ainda que pudesse ao fim desta conversa
Acreditar na sorte enquanto a mesma versa
Pousando num jardim em tom primaveril,
O tempo se anuncia e sei do quanto viu

Na sorte imensamente em nada ora submersa
E esta incerteza mostra apenas a perversa
Ingratidão de um ser amargamente vil
Deixando no passado o que jamais sentiu.

Mas é melhor pensar na forma como agir
E sem deixar sinais, enfim já decidir
O que me torturando agora não permite

Viver e acreditar além de algum limite
E socialmente aceito expresse a mansidão
Embora tal vingança, enfim jamais verão.


Preciso disfarçar e até desconversar
Rogério por aqui? Dá pra desconfiar.
Jamais me visitou. Qual interesse tem?
Mera suspeita? Até pudesse sem desdém,

Mas quanto mais procuro aonde me apoiar
Somente o que inda encontro expondo a divagar
Promete alguma luz e nisto quando alguém
Reflete outro caminho aonde não convém

Mudando esta expressão e nela o que se veja
Vagando sem proveito em senda malfazeja.
Melhor investigar, eu posso estar errado,

Porém por que teria ao fim tanto cuidado?
Pura imaginação; imagem doentia?
“Esmola quando é muita; o santo desconfia...”.


Depois de certo tempo a gente se acostuma
E bebe o que vier enquanto a vida apruma,
Mas nada na verdade expressa realmente
O quanto em traição a sorte se apresente

Somando parte a parte a solução: nenhuma,
E a luz de cada olhar ao fim ora se esfuma
Deixando qual resquício em dura e vaga mente
Depois do quase tudo, apenas o somente;

Quem sabe um detetive? É fácil conseguir,
E nisto o que suspeito eu possa redimir
E ter tranquilidade, o que mais necessito.

Já não mais dormiria, estando assim aflito,
Anúncios num jornal? Talvez a solução
Assim ou durma em paz, ou beba o furacão.


Levanta-se e faz uma procura nos classificados de um jornal até encontrar o que procura e liga então para uma agência de detetives.


Procuro um detetive. Um caso até banal,
Problema corriqueiro, até meio usual
Preciso descobrir se existe traição
Ajuda no compor de uma separação?

Sim, é na verdade um fato conjugal,
Às três da tarde vens? Pra mim está legal
Aguardo com certeza espero a ligação,
É só o que eu preciso. Uma confirmação.

Abraços até logo. Ah, seja sigiloso,
O tempo com certeza é sempre precioso.
( desliga o telefone)
Em pratos limpos, pois agora eu quero ver

Aonde em que cumbuca eu dei de me meter,
O resto é cá comigo, e o que a verdade sele
De Lara eu não queria estar na sua pele...


Cena 5


Mesmo ambiente Ricardo está vestido socialmente e olha ansiosamente para o relógio são três e dez da tarde quando toca a campainha.
Levanta-se para atender e adentra a sala o detetive esperado; ao contrário do que Ricardo esperava adentra uma figura inexpressiva, magra com olhar estúpido e uma imagem que lembra qualquer coisa, menos um detetive.


Sente-se; por favor, eu só precisaria
Ter a confirmação do que no dia a dia
Está me perturbando, embora nada mude
Apenas necessite enfim de uma atitude

E nisto a minha vida em paz eu poderia
Trazê-la novamente em plena sintonia,
Eu sei que na verdade há muito ela me ilude
Só necessito mesmo é ver a magnitude.

“Pode ficar tranquilo, irei investigar
E assim que houver resposta eu venho te contar
Fotografia, filme e tudo o que eu puder

Seguindo qual sabujo os passos da mulher
É minha profissão, minha aparência ajuda,
Depois é sempre assim, no fim um deus-me-acuda...”


Eu tenho uma suspeita e creio que isto possa
Trazer mais claramente a verdade que apossa
Embora corriqueiro eu sei quanto é dorido
Perder no mesmo instante amor já construído

E fique entre nós dois; a vida traz na fossa
A imensa dor da perda aonde fora nossa
A sorte de um momento há tanto revolvido
Deixando para trás o que já não lapido.

Não posso te negar Rogério foi amigo
Durante um certo tempo e agora mal consigo
Andar que me siga e venha com “apoios”

E aonde não se visse ainda alguns arroios
Palavras e conselho, o que estranho decerto
Este interesse brusco aonde houve deserto.


Relembro quando um dia apresentei-o a Lara
A sorte de tal forma assim já se escancara
E diz que não se lembra ou muito pouco traz
A imagem da mulher aonde fora audaz,

Falando de tal jeito e nisto se declara
Realidade além da que inda desampara
O olhar assustadiço e digo até mordaz
Que tanto me transtorna enquanto se desfaz

Numa inconstante face e nela outro momento
Gerado em consistência enquanto o que fomento
Explode em dimensão diversa da que eu vira,

Deixando-se antever apenas tal mentira
E nela o que me resta, esta desconfiança
Mudando a direção matando uma esperança.


“Mas não se preocupe; o que haverá verás
E ao fim de certo tempo, a vida volta à paz,
E sei que deste jeito, a gente se renova,
Deixando no passado a vida em dura prova

Amadurecimento? Assim é que se faz
E nisto o quanto possa ainda ser capaz
Estorvo gera ao fim do amor a amarga cova,
Porém ao renascer a vida se comprova

E trama, esteja certo, apenas outro instante
E nele o que vê decerto já garante
Somente algum sorriso, e até tranquilidade”.

Esta certeza, amigo. É o que ora em paz invade.
E assim seguindo o barco, eu tentarei viver,
Sabendo após a noite, um novo amanhecer.


34


O detetive se levanta e se despede.

Sozinho na cena Ricardo volta a conversar consigo mesmo.


Vingança é o que inda espera esta cadela imunda
E sei do quanto possa e assim o que me inunda
Trará com tal prazer o gosto em mel e fel
No olhar já sem sentido, ou mesmo até cruel,

A sorte de tal forma expressa quão fecunda
A vida onde buscara a parte mais rotunda
Da luta sem sentido em frágil carrossel
Depois de tanto andar sem rumo ao torpe léu,

E agora ao fim da vida, onde outonal me vejo
Eu bebo calmamente o quanto malfazejo
Explode este cenário em rota sensação

Trazendo da vingança a imensa previsão
Da morte sem defesa, esquartejando o sonho
E nele tão somente o quanto em luz componho.


35

Saber da traição já não me bastaria,
Eu sei do quanto vale enfim esta sangria
E trago nestas mãos a fúria que consiste
No olhar já sem temor ou mesmo quando em riste

Trazendo a cada passo a imensa fantasia
Que trague após a morte apenas a alegria
E de tal forma a dor ainda já despiste
Tornando alegre a vida aonde fora triste,

E nada mais terei, e nada além mais quero
Eu posso até dizer que sou sempre sincero
Falando deste jeito enquanto a sorte trace

Depois de certo tempo e nisto sem impasse,
Na furiosa senda, o que me apascentando
Talvez até pareça a alguém um ar infando.

36


Selvageria? Nunca. Apenas o prazer
De quem tanto queria e sabe irá perder
Razão da própria vida em existência vaga,
Sinceramente olhando a ponta desta adaga

A luz que refletisse agora eu possa ver
Tramando deste escuro um nobre amanhecer,
A mão que te tortura, amada a que te afaga
Palavra de ternura, às vezes roga a praga

E traz no fim de tudo a velha fantasia
Aonde o que se visse; e nada mais teria
Somente esta alegria e nela a redenção

Da vida inteiramente exposta em podridão,
Velhice feita em paz e sinto que inda viva
Bem mais do que pudera ainda se cativa.

37


E quanto a ti Rogério, apenas a incerteza
Da morte ou traição daquela que em beleza
Tomasse o pensamento e nada mais se visse
Sequer o que pareça até mera crendice,

Seguindo contra toda a amarga correnteza
E sendo do vazio, apenas mera presa
Ainda que acredite o mundo contradisse
E qualquer desafeto, expressa esta tolice,

Jogado pela vida em praias tão diversas
Olhando para trás, ao fim já desconversas
E nada mais teria inesquecível fato

Aonde o que inda tenha, eu sei e até constato
Pousando neste caos em dúvida venal,
A morte sem defesa, ou engodo banal?



O prazo determina o fim da leda história
Do raro amor que sinto, apenas vaga escória
E nada mais pudesse além deste vazio
E quando o meu caminho expressa o desafio

De quem traz inda vivo em luz brilho e memória
Aonde se quisesse imaginar vitória
Talvez já se mostrasse um ledo desvario,
Porém o que viria enfim eu desafio.

Amortalhando o verso e a solidão atroz
Gestando tão somente o olhar do mero algoz
Num ato mais insano, o corte se aprofunda

E gera do que fora uma alma vagabunda
Insânia ou mesmo até a vida em louca senda
O quanto inda me resta à solidão atenda.


39


No caso que em questão pudesse desvendar
Misteriosamente o tanto a se mostrar
Conforme o que já quis e nisto eu acredito
No canto sem sentido e nele o mais bonito

Resumo de um passado expresso a divagar
Bebendo em luta e tédio os raios de um luar
Há tanto sob a bruma e sei que necessito
Vencer o dia a dia apenas mais aflito,

Escrevo outra expressão e nada mais teria
Senão a mesma face espúria da agonia
Envolto pela sombra e nela me entranhando,

O que pudera ser e deveria; brando
Agora explode em noite amarga em plena treva
E o que inda se fez brilho, ao fim somente leva.

Negar a minha sorte e ter no olhar o fato
Aonde o que inda possa e sei já não constato
Senão a mortandade e nela o que resume
Tornando nauseabundo o caos deste perfume,

Mergulho no vazio e ali sempre retrato
O meu olhar vadio e sei do que resgato
Até que no final, ainda vivo aprume
Depois da negação, e nisto sempre rume,

Não deixarei sequer um rastro, isto eu garanto,
Cobrindo cada parte ainda com seu manto
Espúrio e sem proveito, em turbulência, feito

Sabendo que a vingança é mais que meu direito,
E o todo que perdi já não me importaria,
Apenas o que possa expressando a sangria.

41


De amores vida afora, apenas a certeza
Da turbulência aonde eu fora mera presa
A faca, uma pistola, à bala, a jugular
Rasgando pouco a pouco o que inda a se mostrar

No todo sem sentido a leda correnteza,
A morte não traria ainda sobre a mesa
Deixando para trás o que se fez altar
Satânica vontade e nela me entranhar.

Talvez minha alma agora ainda tenha a luz
E nela o que pudesse embora; eu sei, conduz
Às tramas infernais e delas não mais fuja,

A sorte deixa aquém a cena amarga e suja
Da garatuja viva, ou mesmo do imbecil
Canalha que se faz em tom amargo e vil.

Não mais me caberia acreditar aonde
Fortuna mais ditosa enquanto além se esconde
E traça sem sentido o fim da mesma senda
Enquanto no final a vida já se estenda

Perdi, tenho certeza, há muito o velho bonde
E o corte se moldando e nisto o que responde
Presume tão somente amor conforme lenda
A fúria de quem sabe e nisto ora se atenda

Tola senilidade enquanto se desnuda
A ponta da ilusão deveras mais aguda
Esfacelando assim o que inda poderia,

Ousar noutro momento em nome da alegria,
E apresentar quem sabe, a clara persistência.
Mas sei do meu final em leda consistência.


- toca o telefone.

Já sei o que será e de tal forma espero
Ainda que se mostre um tempo mais sincero
Falando da verdade e nada mais me importa,
Somente Lara exposta agora nua e morta;

Do amor que me salvasse apenas este fero
Retrato distorcido e nele o que mais quero
Pudesse traduzir apenas nova porta
Aberta ao meu futuro; a vida tanto corta

Um porre noutro bar, um gole de conhaque,
Talvez amenizasse enfim o imenso baque.
(atende ao telefone)
Alô, mas é Rogério. Amigo que saudade

Não tenha tal temor, a vida tanto agrade
A quem se fez liberto e sabe muito bem
Do quanto possa o sonho e tudo o que contém.

Há muito desisti de Lara e desta história,
Não resta nem a sombra ainda na memória,
Eu sei quanto o viver supera qualquer dor,
Amor com novo amor, e um dia redentor.

Minha alma já não é, decerto, merencória
Preparo-me afinal e beberei a glória
De ter sempre comigo a imagem de um louvor
No olhar que talvez seja enfim o refletor

E no horizonte o sol renasce com firmeza
Na aurora da esperança eu tendo tal certeza
Podendo caminhar sem medo vida afora,

Apenas o futuro ainda vem decora.
Passado? Há muito é morto, e possa ter no olhar
O dia que virá e em fartura brilhar.


(despede-se e desliga o telefone)

45

Estúpido idiota, assim se entrega mais,
Apenas percebendo o quanto inda me trais,
Eu seguirei diverso e nisto não verás
O olhar de quem se fez atroz e tão tenaz,

Audaciosamente emerso em lamaçais
Terás como resposta os lúdicos cristais;
E no final de tudo eu sei que tanto faz,
Ninguém duvidará do quanto eu quis a paz.

O bote se prepara e em venenos diversos
Jamais imaginando os tons dos universos
Aonde penetrasse a faca, a foice e o tiro,

Vingança em calmaria? Assim é que eu prefiro,
Depois é só seguir a vida em mansidão,
Ninguém mais falará sequer da traição.


46


E Lara apodrecida ou mesmo entorpecida
Jogada sobre um canto entregue e já sem vida
Memória aonde eu vejo o fim de quem traindo
Terá o seu caminho, apenas morto e findo,

E quanto mais a sorte assim sem rumo acida,
A imagem desta vaca eu vejo além perdida,
Do sonho pouco a pouco irá sempre esvaindo,
Remendo torpe horrendo, um futuro mais lindo,

Já pouco caberia ainda por resposta
Até que no final a vida decomposta
Pudesse ter bem mais que mera dimensão

E nisto novo tempo expresso num verão
Trazendo com certeza a luz após a treva
E nisto o meu caminho a vida em glória ceva.

47


Avanço simplesmente e nada temeria
E mostro o quanto trague além de uma agonia
Risonhamente expondo o dia que virá
Marcando o que pudesse e mesmo desde já

No todo que se creia e nisto em novo dia
A vida se desenha em clara fantasia
Rendendo o que se queira e sempre poderá
Trazer a plenitude aonde brilhará

Depois da tempestade o sol enormemente
E a lenta caminhada aonde a paz se sente
Vivendo a liberdade e dela me alimento,

Ainda quando enfrente imenso e tosco vento,
A senda em tal clarão mostrando novo rumo,
Enquanto calmamente em paz ora me aprumo.


48


O telefone toca novamente.

Ah. É o detetive. E enfim traz a resposta.
A face da verdade assim ao ser exposta
Trará talvez quem sabe ao fim a redenção
Mostrando claramente a luz da traição,

Mesmo que no final eu perca alguma aposta,
O quanto se apresenta além da mera crosta
Desenhando a verdade em rude sensação
Que trace com certeza esta libertação,

À tarde, então que seja. Importa-me deveras
Saber ora somente as faces de tais feras
E nelas realidade exposta nua e crua

E assim a vida segue e tudo continua,
Cortante eu sei quanto é a luz que me esclareça,
Mas tenho que manter mais firme esta cabeça.

49


Dentro de pouco tempo as cartas sobre a mesa
A sorte já lançada e sem qualquer surpresa?
Preciso tão somente o sangue bem mais frio,
Evitando decerto um torpe desvario

Seguindo o dia a dia e nisto com firmeza
A vida sempre traz a imensa fortaleza
E quando em desengano ao fim eu desafio
Inverto a direção e sigo o novo rio.

Vencendo a tempestade e mesmo a cachoeira
A sorte de tal forma explode em verdadeira
Faceta o que no fim gerasse claramente

Marcando o quanto queira e nada mais desmente,
Trazendo o respirar em nova vida e eu sei
Da honesta liberdade ao desnudar tal grei.

50

Loucura? Liberdade! E esta vingança feita
Marcando o quanto a vida em paz depois se deita.
Envilecido verme? Um velho sonhador
Exposto sem defesa ao mal chamado amor,

Ainda que a verdade aos poucos já se aceita
Minha alma mais tranquila, enquanto além se deita,
Deixando este caminho e nele nova cor
Gerando em transparência um fato e aonde for

Presumo ao fim do dia, apenas o que possa
Trazer esta alegria aonde já se apossa
A imagem de um futuro expresso em mansidão,

E o preço que se paga, enfim por traição,
Mortalha? Nada disso, apenas o sorriso
De quem em plena vida alcança o Paraíso...


FIM DO PRIMEIRO ATO




SEGUNDO ATO

Cenário – A SALA DA CASA DE RICARDO

Cena 1
RICARDO E O DETETIVE SENTADOS NO SOFÁ.


Conforme imaginei. Então estava certo.
Em fotos, filmes, tudo. O caminho ora aberto
Permitirá divórcio e seguirei em paz,
Muito obrigado amigo, o fato que me traz

Deveras abrirá neste imenso deserto
Saída que eu busquei quando agora desperto
Depois de tanto sofrer deixando para trás
Futuro que virá será menos mordaz.

Viver tranquilamente o que me resta, amigo
Somente a mansidão, doravante eu persigo.
Do passado nem rastro e nem sequer pegada

Saudade se abandona e vivendo nova estrada
Seguirei o que resta em digna solidão
A vida acostumou outra vez, mesmo não...


O detetive se levanta e se despede. Ricardo sozinho em cena conversa com a platéia.


52

Agora é ter cuidado e seguir o meu plano,
Para não cometer decerto novo engano
É melhor ficar quieto e preparar o bote
É necessário, pois que ninguém sequer note

Lara ou Rogério vem nem que demore um ano,
Aí é mansamente estraçalhar o pano,
Verdade talvez seja o quanto já derrote
Na tocaia o que importa é matar o garrote

Cuidando que ninguém perceba este momento
Depois ir devagar; poeira tome assento
E a vida siga em frente, a vingança alimenta

Depois de tanto tempo aplacando a tormenta
Quem sabe encontrarei esta paz que procuro
Perceber claridade em pleno tempo escuro.


Aí possa decerto após a turbulência
Noutra felicidade ou mesmo ter ciência
Da vida mais tranquila em plena liberdade
Enquanto esta agonia além fugindo evade,

Sem medo do que seja ainda uma ingerência
Da tempestade atroz sabendo da incumbência
Desta sorte tão vária em nova realidade
Gerando a paz que tento ao romper velha grade;

Onde quisera amor encontrei traição
E os dias que se vêm em plena solidão
Com certeza trarão enfim a calmaria

Ainda que isto trace outro rumo outro dia
Nada mais pedirei, ao encontrar a paz
Nem que venda minha alma a Deus ou Satanás.


Agora é conceber o que possa fazer
Tanto ressentimento e afinal meu prazer
Apenas poderá apascentar quem tanto
Sofrendo sem parar vencendo este quebranto

Onde toda a vida trouxe a vontade de morrer,
Mas na morte de Lara o meu amanhecer,
E se possa ora dizer olhando em todo canto
Já não trago no olhar a incerteza do espanto

Vou seguir meu caminho em manso passo além
Fazendo o que preciso e deveras me convém
Sem saber da dor ou medo, apenas na vingança

Moldando a claridade aonde o passo avança
E encontrar finalmente a paz que procurava
E mesmo em ferro e fogo, ao eclodir na lava.


55

O quanto noutro dia eu poderia crer
Na espera sem limite ou mesmo apetecer
Pousando mansamente em ares triunfais
Sabendo desde quando, ó Lara tu me trais,

A sorte desenhada agora passo a ver
Negando qualquer luz, matando o amanhecer
E gera entre sutis temores desiguais
Jorrando em tal sangria os dias terminais.

Espero e dado o bote o quanto me faria
Somente com certeza o bem se mostraria
Sangria com sorriso e gozo vencedor

Deixando para trás as travas deste amor
Se louco estou querida? A vida é mesmo assim
Começo dita a sorte início dita o fim.


Jogado nalgum canto apenas já cansado
Do tanto que lutei e fora abandonado
Sem eira e sem proveito, a vida de quem luta
Decerto a cada passo, o todo já reluta

E traça tão somente as tramas de um passado
Andando com a morte e nela lado a lado
Apenas o vazio ou mesmo a dor escuta
No olhar a transparência em força torpe e bruta.

As brumas desta tarde, a imensidão da noite
A vida traz nas mãos apenas tal açoite
E cada vergastada apresentando a sorte

Que tanto poderia e sei que molda a morte
No fim somente vejo o olhar da espúria Lara,
Vingança que; exemplar, fortuna ora prepara.

-Toca o telefone.


Ó que coincidência; estava em ti pensando,
Amada e doce Lara, o tempo está mudando,
Eu sei que na verdade eu penso em amizade,
Tu sabes muito bem o quanto em claridade

A vida se desenha e nisto desde quando
O rumo noutro rumo a sorte desenhando.
Só quero que perceba a imensa liberdade
Do sonho que se dá, e nele o quanto agrade

A quem se fez além de mera companheira,
E sei do quanto amor presume a verdadeira
Vontade de viver, e seja de tal forma

Que nada mais impeça. O tempo se conforma,
Só sei que te agradeço e sigo o meu caminho,
E não estou decerto; amiga, mais sozinho.


Refaço a minha estrada a cada novo dia
E bebo em sutileza o quanto caberia
Da vida sem surpresa ou mesmo penitência
Iria te ligar, e dando tal ciência

Falar do meu futuro e nele esta alegria
Que possa dominar a sorte em fantasia,
Marcando com carinho a nova convivência
Da vida sem temor ou mesmo em inclemência,

Só quero ora te ver e te falar amiga
Da sorte que mudando em paz ora prossiga,
Segredos na verdade eu quero te contar,

Além do que tu tens aqui e vens buscar
Seguir em calmaria o dia em plenitude,
O mundo se apresenta e nada desilude.

Aguardo-te decerto às nove da manhã?
Não tem problema algum, tu vens, pois amanhã?
Sim, eu separarei deveras teus pertences
Estou feliz amiga, até mais do que penses.

Se a vida já me fora um dia tão malsã
Agora o que ora vejo explode noutro afã
Por certo a claridade e nela te convences
Enquanto em novo amor, que a sorte, a recompenses.

Um beijo então querida, e seja sempre assim,
O todo se renova e viva dentro em mim
Na imensa liberdade aonde te encontrei,

Vivendo a plenitude e nela a bela grei
Depois da tempestade a sorte sempre alcança
O quanto se procura, amiga em tal bonança.

60

Desliga o telefone e olhando para a platéia.

Agora é preparar o bote e sem saída
A luta se aproxima enquanto se decida
O quanto, o quando e como eu possa me vingar
E ter a paz que busco inteira em meu olhar,

Já nada mais se vendo e nada mais duvida
Quem bebe de tal sorte e nela decidida
Bem cedinho amanhã, é só saber atar
Um nó em novo nó até que ao sufocar

Não deixe qualquer rastro, a morte se aproxima
E mudará decerto o duro e ledo clima,
Sabendo que em verdade eu livro-me dos dois,

O resto é perceber o que virá depois,
E quieto, sem temor, viver sem mais problema
Rompendo de uma vez o que por certo algema.


Pensei que demorasse um pouco mais, é certo,
Mas quando se aproxima e vejo bem mais perto
A solução de tudo, agora só me resta
Olhar pela janela e ver do brilho a fresta,

Estou até feliz, e nisto já desperto
O coração que atroz aonde foi deserto
Imensidade traz enquanto a paz que gesta
Prepara tão somente ao fim a imensa festa.

Vou descansar um pouco e o tempo me trará
Nesta armadilha a presa e sei que desde já
O bote preparado ao fim se anunciando,

Marcando com firmeza o passo desde quando
Sem deixar nem um rastro, apenas prosseguindo
Enquanto este terror; agora o vejo findo.


Cena 2


A campainha toca e o dia já amanhecera, conforme era esperado, Lara adentra a sala e Ricardo a recebe com toda a cortesia possível e tranquilamente a pede para sentar.


Amiga como estás? “Vou bem, sem novidades.”
A vida nos prepara enfim outras verdades,
Há poucos dias tive uma bela notícia,
A sorte que maltrata a mesma que em carícia

Permite que caminhe em meio às tempestades,
Pois Clara, telefona e fala em novidades
E olhando para trás, revendo uma delícia
Do amor que renasceu após tanta sevícia.

Eu sei que com certeza o mundo sorrirá
E te trará o sonho e nisto ali ou lá
O todo se transforma e gera novo dia,

Enquanto o que importasse ao fim renasceria,
Gerando com firmeza um tempo bem suave
Sem nada que a maltrate e nem sequer agrave.

“Eu fico mais tranquila, eu sei que tu mereces
Felicidade e Deus ouvindo as minhas preces
Permitiu meu amigo um novo caminhar
Após o temporal um claro tom solar

Gerando do sofrer o mundo aonde teces
O quanto poderá viver em nobres messes,
Sabendo na verdade o quanto irás tocar
E Clara em claridade irá te abençoar.

Só sei que no final, a gente então se ajeita,
E fico com certeza até mais satisfeita,
Olhando no horizonte e vendo outro caminho,

Estou só, mas feliz, pois não estás sozinho,
As minhas coisas levo; e deixo para trás
Somente esta certeza: amigo é bela a paz.”


Eu separei e sei que tudo está conforme
O jeito que deixaste e esta saudade enorme
Depois de certo tempo, a gente sempre esquece
A vida tem seu fluxo e assim já se obedece

Do modo que se quer e em paz enfim se dorme,
A casa que caiu, a sorte ora reforme
Ladeira quando sobe após a gente desce
Também tenha a certeza estás na minha prece.

Aguarde só um pouco, eu tenho aqui comigo
Uma lembrança minha e quero estar contigo
Qual fosse simplesmente espécie de amuleto

E toda a boa sorte, anseio e te prometo
Em doação te passo o carro que comprei
E sei que gostas tanto. Espere, eu voltarei.


Deixa sobre a mesa a documentação de um automóvel, um papel em branco . Lara sentada aguarda calmamente.
Quando de súbito ele por trás se aproxima e com uma caneta na mão direita entrega-a e pede que assine.

65

Aqui, eis a caneta e assine; por favor,
Qual fosse uma lembrança a mais do raro amor
Que um dia fora nosso e nele esta certeza
Da vida renovada e nesta tal surpresa

Aceite com ternura e nisto a te propor
Somente o que pudesse em claro e qual louvor
Jogando mansamente a carta sobre a mesa,
O tempo vence tudo e nesta correnteza

O fim que imaginaste agora se transforma
E bebo do futuro a vida em grande forma,
Ousando ser feliz em plena liberdade.

Porém o que te deixo, amiga de verdade
Traduz merecimento e nada mais se veja
Somente sua vaca, a sorte malfazeja.

- aproxima com a mão esquerda um revólver da fronte de Lara que o olha assustada e percebe que caíra em uma armadilha.

66

“Então é deste jeito o teu presente, cão?”
É o quanto já merece o preço em traição
Pagando com desconto o quanto preparaste
Demônio, vagabunda, encontra o que deixaste

Escreva nesta porra em toda a dimensão
O que te dito agora e sem qualquer senão,
Depois pode seguir e vai sem ter desgaste
Viver a tua vida enquanto assim te afaste

Do meu olhar vadia e siga em tua vida
O quanto mereceste e sei da desprovida
Verdade que te ronda espúria traiçoeira

Que seja a tua sorte amarga e derradeira,
Logrando num instante encontrar afinal
Em Rogério decerto um rumo amargo e igual.


67

Escreva vagabunda: - eu quero te dizer
Que a vida me levando ao próprio bel prazer
Permitindo pensar com toda calma agora
Expressa o que por certo aos poucos já se aflora

E faz depois de tudo a quem eu fiz sofrer
Negando melhor sorte e mesmo o alvorecer,
Para evitar problema, a consciência ancora
Em sonho tão diverso e faz que sem demora

Eu possa doravante apenas resumir
A vida noutro sonho e nisto redimir
Engano aonde um dia o coração tocara

Voltando para além, na original seara
Deixando para trás o quanto em sofrimento
A vida transformara, e sei em desalento.


Rogério, meu amado, o tempo nos ensina
Que tudo começando um dia já termina
E sei que na verdade o quanto se aproxima
Aos poucos modifica e gera um novo clima,

A imagem que retenho; ainda cristalina
Traduz a imensa sorte e nela a nossa mina,
Porém o quanto vale apenas tal estima?
O amor que se perdeu ou novo onde se esgrima

Expressa tão somente o fim em dor e medo,
E quanto ao meu futuro, é certo tal degredo,
Perdoe cada mágoa ou mesmo esta agonia

Enquanto a luz trouxera o todo que viria,
Vejo este iridescente aspecto, mas no fim,
O colibri domina inteiro o meu jardim.



Não fale com Ricardo, eu já me despedi,
Ele nem percebera o quanto houvera aqui,
Levando o que pertence a quem se fez a amante
E nisto o que puder a trama mais constante

Encontra no cenário o quanto mereci,
Se eu sigo solitária eu vivo amado em ti,
Só peço não procure e deixe doravante
Que eu siga em mansidão a vida que adiante

O passo após o passo em rumo à liberdade
Talvez ainda encontre após a tempestade
A minha calmaria, uma bonança aonde

O tempo sem temor ao todo corresponde,
Um beijo meu amado, e esteja disto certo,
Cansada da batalha, em paz ora eu deserto.


70

Vamos, assine logo e depois podes ir.
Dinheiro; tens aqui e possas prosseguir
Ao teu torrão natal em plena liberdade,
Apenas não te quero aqui nesta cidade,

O mundo se anuncia em teu novo porvir,
Quem sabe num puteiro ou onde decidir
A vida prosseguindo em plena claridade,
Porém eu só exijo enquanto a sorte evade

Que deixes todo mundo em paz e simplesmente,
E se pensar voltar, aviso não invente,
Aí perco estribeira, e caço-te no inferno,

Nem olhes para trás, aonde fui tão terno
Serei tenha a certeza o mais venal possível
E nisto o que verás não parecerá crível.


Ela assina o papel, e se levanta, pegando suas coisas e olhando para Ricardo responde iradamente.

“Agora satisfeita esta vontade espúria
Já não mais restará deveras tal incúria,
Entendo tua fúria, mas saiba que no fim,
O estio tomará inteiro o teu jardim,

E não venha sequer com tons de uma lamúria
Nem mesmo suportando a dor de tal injúria,
No fundo o que se faz e sei dentro de mim,
A consciência limpa expressa tudo assim,

Rogério? De quem fala? Eu não conheço, mas
Só sei que seguirei a minha vida em paz,
Voltando para os meus ou mesmo noutro rumo,

O quanto ainda tenha, eu bebo inteiro o sumo,
Espero francamente algum momento aonde
O que virá decerto ao fim já te responde.”


72

“ Eu tenho a consciência em plena mansidão
E sei que na verdade os dias que virão
Serão em liberdade aonde quer que eu vá
E não suportaria o que vivera cá,

Qual fosse com certeza a amarga escravidão,
Vivendo dia a dia com esta sensação
Da amarga fantasia e nela o que virá
Expressa tão somente o que jamais fará

Tal sorte eu merecia? Apenas por amar
Quem tanto um dia fora e não soube lidar
Com raro sentimento em nobre caminhada

Depois de tanto tempo o duro é ver que nada
Valeu, somente o frio em cada olhar sem nexo,
O que houve entre nós dois? Nem mesmo anseio e sexo.”

73

“ Verdade eu sei que dói, mas viva a tua vida,
E deixa que o meu passo, em paz ora decida,
Viceje a primavera aonde fora estio
E beba o que deseja a sorte em desafio,

O olhar quando em temor, deveras sempre acida
Preparo sem pudor a minha despedia,
E depois disso tudo, eu sigo por um fio,
Descendo calmamente as margens de tal rio,

O carro? Nunca o quis, tampouco o teu dinheiro,
O amor de minha parte, eu sei foi verdadeiro
E seja como for, o que vier eu traço,

Meu mundo noutro rumo eu sigo em novo passo
Não deixe a sordidez marcar o teu destino,
Nem mesmo o quanto venha em brilho cristalino.”


Então não me traíste? Espere um pouco e veja
As fotos? Eis aqui, safada e malfazeja
Quem é esta vadia? Acaso não conheces
Prepare sua vaca a maldição das preces

E saiba que cansei e a paz que se deseja
Merece muito mais do quanto ora se almeja
Repare cada foto, e veja não esqueces
Terás ao fim de tudo a sorte que mereces.

Encontro finalmente o fim da nossa história
E nada mais levando ainda na memória
Apenas o que um dia imaginara além

Do quanto tanto pude e sei que me convém
Vivendo a plenitude e nela sem limites
A tua liberdade? Eu sei e necessites.


Olhando para as fotos, ela assusta-se e responde titubeante.

“Mas não sou eu, querido, as fotos não são minhas,
Aonde quer que vás, percebas que as daninhas
Imagens que aqui vês impedirão de fato
O sonho – ser feliz, que em ti vejo e retrato,

Enquanto noutro rumo, eu sei que ainda vinhas
E mesmo em solidão, percebas quanto espinhas
O tempo noutro rumo eu vejo-o mais ingrato
E após a tempestade, o que sei e constato

Expressa finalmente o quanto se desenha
Deixando no caminho apenas já convenha
Seguir outro cenário e sendo sempre assim,

A nossa bela história eu luto até o fim,
Quem te mandou? Foi Clara. E veja que bobagem
Qualquer computador faria tal montagem.”


76

É bem possível, creio até que talvez possa
Viver tranquilamente a vida sendo nossa
E nela se desenha apenas o futuro,
Querida quanto a quero e sei, ou mesmo juro

Felicidade enfim, aos poucos já se apossa
E bebo minha sorte enquanto a vida endossa
O todo que virá e nisto eu me asseguro
Do tempo aonde o todo assim eu configuro

Vencendo qualquer medo, e de tal forma siga
Sabendo que em ti vejo além da grande amiga
A senda preferida, o rumo desejado

E nisto com certeza o paraíso invado
Bebendo a claridade e tendo noutro passo
O todo que se anseia e o rumo aonde o traço.

E celebrando a vida espero que tu venhas
Singrando este oceano e nele já contenhas
O tanto quanto eu amo e sei que ora virias
Bebendo com beleza a sorte em poesias,

O amor sendo o braseiro o desejo diz lenhas
Mantendo aceso o fogo e nisto agora empenhas
Vibrando em consonância encontro fantasias
E nelas o que possa e sei tanto querias,

Amada me perdoe, e vamos vida afora,
Deixando para trás o quanto desancora
A sorte em rumo tolo ou mesmo sem sentido,

E quanto mais te quero amor ora lapido
Vivendo em plenitude o tanto que te quis
Quem sabe de tal forma eu seja mais feliz?


78

“Decerto eu te farei sentir esta verdade,
O amor quando demais, ainda mais já brade
Tomando sem defesa a vida que se quer
Irei com mais firmeza e sendo esta mulher

Que tanto te permita além da liberdade
Viver o que se quer farta felicidade,
E vindo o quanto possa e mesmo o que vier,
Não deixo para trás o quanto foi sequer

A sombra de um tormento em dura senda, fria,
Marcando o que inda possa em novo dia a dia,
E tendo em teu olhar, a vida que desejo,

Amado prosseguindo e tendo em azulejo
O céu hoje brumoso e tenso, pois que saiba
Que toda esta beleza em nós deveras caiba.”

79

Beijando-a, mansamente, acariciando-a...

O quarto nos convida; uma saudade imensa
E nisto o quanto quero e nisto se compensa
A vida sem tormento ou mesmo em desigual
Caminho que pudesse além do triunfal,

Eu quero e não se esqueça o amor em voz intensa
E nele cada gozo expressa a recompensa
De um tempo que se vendo; expressa magistral
A sorte desenhada intenso e raro astral,

Beijando mansamente esta suave pele,
Ao todo que se quer, desejo nos compele,
E tendo desta sorte o quanto mais queria,

Deixando para trás a noite amarga e fria,
Revivo num instante, a glória em perfeição,
E bebo em tua boca, a doce sensação.


80

E por te amar demais, já não conheço a dor,
Somente o que virá em paz, raro louvor,
Desvendo este segredo e bebo calmamente
Tocando com ternura o quanto se desmente,

Vivendo francamente além do que propor,
O rumo benfazejo, expressa cada flor
E nisto o que se quer, ainda se apresente
Tomando num instante, o corpo esta alma, a mente

E numa sensação sobeja em tom profundo,
Nos ermos de teu mar, deveras me aprofundo,
E beijo tua boca, os seios, na nudez

Do amor que sem temor a gente sempre fez
E neste caminhar encontro o que perdi,
Tocado com fervor no imenso frenesi.


81

“Vontade não retarde e venha dominando
O quanto te desejo amado desde quando
Um dia conhecera a sorte benfazeja
De quem tanto se anseia e sabe o que deseja,

O mundo no teu mundo aos poucos entranhando
A bela fantasia aos poucos nos tocando,
E quanto mais se quer encontro o que se almeja
Uma alma se desnuda enquanto em paz traqueja

Ousando na esperança e dela novo rumo,
O quanto te desejo e sei sempre consumo,
Decerto uma surpresa enfim irei dizê-la

E talvez redimindo em magistral estrela
A noite em tempestade aonde se afigura
Deixando para trás, a sorte amarga e escura.”


“Amor nos premiando após tanto desejo
Expressa o que virá e sei que agora vejo
Há tanto, pois queria e agora posso até
Falar que realizo o sonho feito em fé.

Um mundo sem igual, encontro quando almejo
Enquanto no passado houvera medo e pejo,
A sorte se desenha e sei já por quem é
A vida se apresenta e dita na maré

Cenário tão diverso e nele se percebe
Diversidade imensa ousando em mesma sebe
Do todo que se quer e traça novo encanto

Mudando desde agora o que eu anseio tanto,
E nesta maravilha agora quando a vês
O bom Deus me permite enfim a gravidez!”

83

À parte.

Confirma, vagabunda o que no fim sabia...
Mudando de tom, olhando-a carinhosamente.
Motivo para festa e em rara fantasia
O mundo se apresenta e traz novo detalhe
Aonde o que puder decerto ora se espalhe

Notícia sem igual e nela se veria
O sonho desejado e brindo em alegria
Sem nada que atormente ou mesmo agora falhe
O amor em profusão trazendo onde batalhe

Gerando devagar o todo que se quer
Marcando o dia a dia, o corpo da mulher
Que tanto desejei e agora em raro brilho

Virá depois de tudo, um nosso e belo filho,
Felicidade tanta eu sei que não mereço,
E todo o bem da vida encontrou endereço!


84


Vamos comemorar; amada, esta notícia
E nisto se prepare, e sei que com malícia
O corpo desejado, anseio sem igual,
Gerando esta vontade além do ritual.

Eu tenho um espumante. E com tanta carícia
Podemos desfrutar; enfim esta delícia
Prepare a camisola e nesta magistral
Vontade consumida, a sorte triunfal.

Espere-me no quarto, irei me preparar
Nascer crescer e após, vamos multiplicar
Aonde fomos dois, agora somos três

Bendita minha amada, a tua gravidez,
Espere que decerto o tanto que te quero
Trará neste momento o brilho mais sincero.

“Amado saiba bem do quanto quero e mais
Vencer a tempestade e mesmo os vendavais,
Vibrando em consonância agora e vida afora
O todo que se quer e nisto já se ancora

O barco da esperança e em ti encontro o cais
Depois de perceber os tantos temporais,
A sorte se desenha e nisto amor aflora,
Já nada mais impede o amor que nos devora,

E sei que no final, tanta felicidade
É tudo o que se aguarde e sei o quanto invade
O sonho de uma vida há tanto sem sentido,

E o passo que se dá presume o decidido
Caminho aonde o todo expressa o que virá,
Amor se traduzindo em nós como um maná.”


“ Irei tomar um banho, aguarde meu amado,
E o quanto em nosso quarto, anseia este esperado
Momento em raro brinde à vida que contenho
E nela com certeza uma expressão do empenho

Do amor que em raro amor se faz abençoado
Deixando o sofrimento à margem, no passado,
O pranto sem sentido, o medo que desdenho,
A vida em claridade, imenso e nobre cenho,

Na gravidez que trago a sorte se aproxima,
Mudando devagar, o duro e torpe clima,
Trazendo em plenitude o amor que se deseja

E assim a nossa vida, agora benfazeja
Trará em plena voz a sorte mais diversa
E nisto o que passou o tempo desconversa...”


87

Eu sei que na verdade uma explosão em glória
É tudo o quanto eu quero e sei desta vitória
Mudando a direção dos ventos que virão
E nisto se presume a rara sensação

Deixando para trás a sorte merencória
Traçando o dia a dia em nobre e bela história
Marcando o que virá sem ter a solidão
Que desde sempre fora um vil diapasão,

Mergulho num instante e vejo em cada abraço
Amada o que eu desejo e o tempo em paz eu traço
Numa expressão divina, o mundo modifica

Tramando o que em verdade apenas glorifica
Brilhando num momento um horizonte em paz
E nisto esteja certa uma alma satisfaz.


Aguarde-me querida, então no nosso quarto,
O amor que se deseja enfim ora reparto
E bebo em mansidão a vida que virá
Deixando para trás o medo aqui ou lá,

A dor do meu passado; agora, enfim descarto
E sei do quanto possa e mesmo estando farto
Renovação em vida, aos poucos mostrará
O todo que desejo e nisto se verá.

Durante tanto tempo o quanto mais sonhei
Agora se apresenta e quase como um rei
A vida em meu castelo expressa a magnitude

E nada que virá decerto desilude
O coração sem medo e nele esta certeza
Moldando o que virá em nobre fortaleza.


89

Deixando para trás a sorte sem sustento
No amor que se desenha além do sofrimento,
No renovar do passo, o quanto se queria
Tramando com certeza apenas a alegria,

E saiba que decerto o tanto que ora tento
Expressa o quanto venha e nisto sem tormento,
A luta se desenha enquanto se anuncia
A sorte noutro rumo em plena fantasia,

Amada, sei da glória e dela meu futuro
Encontra em nosso filho o porto mais seguro,
Já nada mais se vendo, apenas a certeza

Do encanto que se faz e nisto sou a presa
Do amor multiplicado e nele esta expressão
Gerando o que virá em nobre gestação.

90

“Então; amor, o espero, e sei o quanto anseio
Deixando para trás o quanto em devaneio
A vida em plenitude agora se expressara”
Amada então aguarde, um pouco mais ó Lara

“Decerto então querido, o mundo sem receio
Prepara tão somente a sorte enquanto veio
Traçando no final a bendita seara,
E nela o meu caminho em paz já se escancara.

Seguindo sem temor, olhando para frente
O todo que se queira agora se apresente
Marcando com ternura o passo que virá,

E desta boa sorte o amor renasce e já
Presume o que se quer enfim neste momento,
E o sonho sem limite, agora em ti fomento.”


Ela se levanta e segue casa adentro ouve-se o barulho de um chuveiro ao longe.


91


Nisto o telefone toca.

Rogério? Como estás? Lara? Esteve aqui
Não sei por onde foi. Ao fim me despedi
Deixou, acho uma carta e nela me avisando
Que não mais voltaria, e iria não sei quando,

Não. Não fala quase nada apenas no que li,
Retornando à família, acho que em Miraí
Parentes tendo lá, outro rumo tomando
Apenas com certeza enfim já demonstrando

Vontade de seguir seu passo mundo afora
Depois te mostro a carta, e sei que sem demora
Somente em despedida e nada mais senão

Pegando sua tralha em nova direção
O mundo deixa ver o quanto em fantasia
A sorte se desenha e nada mais traria


Perdoe meu amigo, é tudo que ora posso
Dizer e na verdade o mundo fora nosso
E sei que tão somente o fim ditando a sorte
Restando para mim a dor, o medo e a morte,

Mas sei que no final apenas me remoço
E vivo coletando em mim vário destroço
E de tal forma sigo enquanto me conforte
A solidão no peito, e sendo bem mais forte,

Caminho eu refarei e nele com certeza
Vencendo a solidão em tal clara destreza
Podendo imaginar o que me resta ainda

História de um amor que agora sei já finda
E bola para frente a vida não termina,
Apenas outra fase expressa nova sina.

Despede-se e desliga o telefone.

E dirige-se para a platéia.


93

Não me resta mais nada, apenas a verdade
E dela o que se vê trazendo a liberdade
Depois do sofrimento, esta confirmação
Da gravidez de fato e nela outra expressão,

O tempo se conforma enquanto a dor invade
Gerando após o lodo a nova tempestade,
Quem dera se isto fosse a chuva de um verão,
Vulcânica loucura expressa esta explosão.

E o vento que anuncia a imensa noite em bruma
A sorte quando a quis agora enfim se esfuma
E segue este caminho e nada mais consola

Apenas neste herege anseio que me assola,
O fim se aproximando e a vida agora traz
Imagem mais sutil deste final em paz.

Durante muito tempo, o amor fora meu rumo,
E quando pouco a pouco em novo passo esfumo
Encontrarei somente o quanto mereci?
Só sei que do que sei o mundo vejo aqui.

A vida me negando o todo em podre sumo,
Caminho tão diverso e agora já resumo
O que mais desejei e sei quanto perdi
Meu mundo sem sentido, é mais que percebi,

Um filho? Vagabunda! O que queres de mim?
Cavaste na mentira o ledo e torpe fim,
Esta odiosa face espúria se revela

Na sordidez do fato, eu vejo esta cadela
E o crápula o canalha? É caso pra depois,
A vida moldará a morte destes dois.

95

Um tempo se anuncia em nova dimensão
E sei que no final as horas moldarão
Sem medo do que venha a face mais sutil
Do quanto desejei e sei que não se viu,

E pacientemente eu vejo a direção
Aos poucos este inverno entranha em tal verão
Deixando para trás o rumo atroz e vil,
A carta em minhas mãos conforme se previu.

Restando muito pouco, apenas este bote
E nada mais se vendo ou mesmo se denote,
Amigos, a verdade ao fim, pois reinará

A casa em tom brumoso, a sala este sofá,
O vento na janela o tempo em meus umbrais
Notícia desta vaca? Eu sei que nunca mais.


96

Durante muito tempo, o amor fora meu guia
E ser feliz, somente, o tanto que eu queria,
Um tiro ou mesmo dois, e a sorte me liberta
A porta do futuro agora estando aberta

Já nada mais transcorre além da fantasia
E sigo sem temor, ou mesmo uma agonia
A fúria que domino; anseio já desperta
A direção se faz e mostra o quanto é certa

A dimensão do todo enquanto se anuncia
Bem mais que meramente as faces da agonia,
E após o quanto resta encontro finalmente

O todo que desejo e vejo em minha frente
Rompendo do passado, apenas esta grade,
Olhando em meu futuro a imensa liberdade.

98

Se eu fui feliz um dia? Aposto até que sim,
Nem sempre fora estio atroz em meu jardim,
Aroma da esperança ou mesmo de uma rosa
Tornando a minha vida até mais caprichosa,

Mas tudo que começa, eu sei tendo o seu fim,
A morte há muito tempo está dentro de mim,
Aquela que já fora a deusa majestosa
Agora se desnuda em senda pedregosa,

(Ouve-se o desligar do chuveiro.)

Já terminou seu banho. A sorte então me assola
(falando em voz alta)
Coloque minha amada, a bela camisola
Aquela transparente e avise, por favor,

Quero comemorar, contigo imenso amor
Beleza sem igual, amada onde se fez
Bendita seja então a tua gravidez...


99

Uma voz surge em resposta.


“Espero-te querido, agora estou aqui
E vejo finalmente em doce frenesi
Esta beleza farta em raro e grande amor,
E nisto com certeza encontro tal louvor

Depois de cada sonho aonde me perdi,
No amor de minha vida, o quanto o colibri
Em plena primavera oscula a sua flor
E sabe superar no sonho este louvor;

Perfume delicado, o corpo em ânsias tais
Momentos onde possa em tons tão magistrais
Viver sem ter sequer a dor da solidão,

Renasce nossa vida, e nela este verão,
Em plena maravilha a doce fantasia,
Do amor que se promete além do que eu queria.”

100

Entrando numa porta lateral, ouve-se apenas o som enquanto sobe uma cortina de fumaça sobre a sala.

Querida; estás sublime e sinto o teu perfume,
Permita que desnude enquanto em ti me aprume,
O amor quando nos une e traz novo futuro,
O passo já vencendo o tempo amargo e escuro,

Nisto se ouve um grito e sons de tapas e murros.

E tome sua vaca, esgoto podre estrume,
Que todo o teu caminho em merda se resume
Rogério no final eu sei e até te juro
Também o seu quinhão terá; eu asseguro.

E dane-se vadia, o filho que carregas
Daquele vagabundo, ainda quando negas
Eu sei que eu merecia até pior a sorte,

Mas irás descansar, e após a tua morte,
Também em plena paz eu seguirei querida,
E te vendo partir, recuperar a vida!

Ouve-se o estampido de uma bala, outro tiro após

E FECHA O PANO.

FINAL DO SEGUNDO ATO E DA PEÇA.

quarta-feira, 2 de março de 2011

1
A vida se traduz aonde nada resta
Somente o que buscara em leda e frágil fresta
Restando a voz sofrida embalde sonhadora
De quem tanto se fez e quando além já fora

Mergulha no que possa e tenta alguma festa
Do medo quando a luz encontra a mais infesta
Vontade de vencer a sorte sofredora
E nisto se deslinda a luta tentadora,

Não pude ser feliz e nada mais traria
Sequer o que buscasse em luz e fantasia
E o verso adentra a noite embalde e sem proveito,

E mesmo quando audaz o passo se desfaz
Gerando o que inda busca e deixa para trás
Apenas o que tento e nem sequer aceito.


2

Já nada caberia ao passo mais veloz
De quem de uma alegria expressa a louca voz
Marcada pelo incêndio em dores mais sutis
Deixando para trás o que deveras quis,

No corte que se vê o mundo segue após
E tenta sem sentido o mesmo canto, algoz
Do marco que pudera em atos mais gentis
Seguindo sem defesa apenas por um triz.

O prazo determina o fim de cada verso
E nisto se pudesse ainda quando imerso
Nas tramas deste engano apenas contumaz.

Vestindo o que me coube, apenas um bufão,
Olhando para trás sem rumo e dimensão,
O pouco que inda sobra o tempo ora desfaz.


3

Amigo me perdoe, estúpido poeta
Que tanto falastrão gerara a mais completa
Insensatez e atroz bebesse este vazio
Aonde o que inda possa espúrio desafio

Marcando o que inda tenho e nada mais repleta
Nos ermos da esperança apenas mera seta,
E nisto o que pudera atravessando o rio
Imerso neste passo ainda que sombrio,

Reveste cada engano em ledas farsas, sonho.
E no final do dia o que trago e decomponho
Gerasse tão somente a ausência de outro porto;

Embora sem saber dos dias que virão
O todo se desnuda e sem a dimensão
Do quanto imaginei, prossigo semimorto.



4


Não pude acreditar e nem mesmo o quisera
Sabendo desta vida em luta amarga e fera
Galgando imprecisões e nada mais se vendo
Somente o que se fez apenas o remendo,

O mundo se pudesse em voz clara e sincera
Marcando o quanto vejo em noite mais austera,
Depois de caminhar em rumo tão horrendo
O verso sem sentido aos poucos recorrendo

Do infausto sonhador em leda temperança
A vida sem sentido invade e já me alcança
Brumosa noite escusa em meio aos temporais

As rosas que busquei, mortalha em duro estio,
O tempo se anuncia e nele o corte espio
E vejo tão somente o mesmo tom: jamais.


5


Angustiadamente o quanto se percebe
Sem nexo ou sem proveito em cada dura sebe
Vestindo a hipocrisia e nada mais tramando
Somente o mesmo passo atroz enquanto infando,

E o vento em minha face, amor teima e recebe.
Mas quando da ilusão sem nexo agora bebe
O verso se presume e tenta anunciando
Um rumo em desvario e sempre desabando

Depois do mero caos em noite tenebrosa
Ousando em duro espinho adivinhar a rosa
Ecoas sem saber o quanto dói em mim

Viver o que inda possa e ter além do fim
O mundo mais sutil ou mesmo em plena paz.
Sabendo o que me espera: a mão de Satanás...


6


O verso sem juízo invade a tempestade
E bebe o que inda resta, ao menos liberdade
E nada do que possa ainda se apresenta
Vencendo a vaga noite imersa em tal tormenta,

Voando muito além do quanto queira e agrade
O mundo se anuncia e nele a ansiedade
Enquanto se decifra o todo que alimenta
A morte noutro passo e nisto me apascenta.

O prazo terminando e o canto sem proveito
Toando dentro da alma o quanto não aceito
E mesmo redimisse enganos costumeiros,

Apresso cada passo e busco os derradeiros
Momentos onde eu possa agora ser feliz
Deixando para trás o quanto o contradiz.


7

Nascendo nas Gerais em meio ao desafeto
Prenunciando a vida aonde me depleto
Nos ermos mais banais desta alma solitária
Viceja outro jardim na noite imaginária.

E quando noutro rumo o passo ora completo
O sonho determina o prazo em ledo veto,
E nada mais pudesse a sorte solidária
Sabendo do que resta em noite amarga e vária.

Mas tendo na esperança além da mera sombra
Que tanto quanto ajuda às vezes nos assombra
Encontro o meu caminho imerso noutro engano,

E sei do que pudera e quando assim me dano
No pranto sem sentido e o tempo sem provento
Esqueço o que sofri; ao menos isto eu tento...


8

A vida em sortilégio expressa o que inda tento
E brindo com meu sonho ao claro provimento
De quem se fez além de mero desencanto
E tramo novo dia embora em vão quebranto,

E quando me aproximo e nisto agora invento
O prazo se extermina e sigo contra o vento
Depois do que viria e nada além do canto
Regendo o pensamento e o fim ora garanto.

Não tendo o que pudesse ainda me acalmar
O medo se apresenta após raro luar
Deixando como herança um raio mais sutil,

Porém inutilmente o todo se prevendo
Ousando ser bem mais que mero e vão remendo
Do quanto desejara e nada mais se viu...

9

Deixando para trás as tantas inclemências
Porquanto acreditar além das penitências
Gerasse no meu sonho a rubra fantasia
E nela o que pudesse e mesmo até teria

Erguendo sem temor a vida em ingerências
Diversas do que trago em lutas, consciências
Matando o quanto vejo em leda alegoria
E nada mais se vê; apenas a agonia.

Pudesse até voar e fosse bem distante
Do quanto se desenha e nada mais garante
Na imensa liberdade em canto ou esperança;

Porém quem tanto quis e nada conseguira
Expressa a realidade enquanto a vida gira
E tanto que quisera, ao fim pára e se cansa.


10



No prólogo da vida a peça se encenando
Em rumos mais sutis e nisto desde quando
O todo não pudera em expressão diversa
Falar do que em verdade o tempo desconversa

Castelo de ilusões? Percebo-o desabando
E o vento noutro rumo aos poucos entornando
O quanto se quisera e agora se dispersa
Enquanto em pesadelo a sorte nega e versa.

Resulto deste vão e nada mais teria
Senão este caminho em busca da alegria
Utópica senhora, em luz ou na penumbra

E o quanto se quisera a sorte mal vislumbra
Deixando para trás a luta sem final,
Vestindo esta esperança em rústico sinal...


11

Acordo e nada vendo além desta geleira
Que tomando a janela expressa a derradeira
Vontade do que fora e nunca mais voltara
Deixando eterno inverno em toda esta seara

Matando o quanto pôde a sorte verdadeira
E nem sequer presumo ainda uma lareira,
Somente a solidão e nela se prepara
A morte a cada ausência e a luta não prepara

Apenas diminui a chance de quem sonha
Numa expressão mordaz, atroz quanto medonha
Vestindo na medida a justa sensação

Do fim que se aproxima em clima dolorido
E o quanto inda me resta, ao fim de tudo olvido
E bebo sem sentido, a viva podridão...

12

Ausente juventude e a noite se transborda
E nada do que pude ainda segue à borda
Do sonho mais feliz que nunca fora meu
E o que deveras trago aos poucos se perdeu.

Minha alma solitária estúpida recorda
Do quanto imaginara e nada mais acorda
Somente a dor do vento e nele o imenso breu
Gerando o que tentara e há tanto se escondeu.

Pousando mansamente em sonhos noutro cais,
Esqueço num instante os rudes vendavais
E bebo da esperança, espúria companheira

E o verso sem sentido e mesmo em dor e tédio
A vida se presume e mostra sem remédio
E pelos dedos sinto enquanto além se esgueira...



13


Quem sabe a morte seja a sorte que prometes
As gotas desta chuva atrozes canivetes.
E neste vil cenário o rumo se desenha,
Ainda que eu pudesse em leda brasa e lenha

Tentar seguir o passo; a sorte comprometes
E deixa para trás as dores quais vedetes
Da festa que ilusão ainda que a convenha
Encontra num resumo o quanto não mais tenha.

O tempo não prepara e traz a velha queda
E o pranto noutro pranto aos poucos já se enreda
Deixando no passado apenas a ilusão

Restando dentro em nós a verdade cruel
E dela o que anuncia expressa o seu papel
Matando sem sentir os dias que virão.

14

Porquanto a vida fora espúria e sem juízo
Na solidão que adentro e sei quanto matizo
Os bares noite afora, um pária e nada mais
Expresso o que buscasse além dos temporais;

Acumulando enfim diverso prejuízo
E nada mais pudera ao ser sempre impreciso
Braseiro da esperança, em dias desiguais
Responde no final, em mesmo tom: jamais...

Um dia a mocidade ou mesmo o sortilégio
Gerasse noutro encanto um tempo em privilégio
E o vago deste sonho encontra o fim de tudo.

Negaceando o passo em volta do vazio
E quando sem sentido algum deveras crio
Apenas se apresenta o quanto desiludo...

15

Em noite mais bravia a sorte desandara
E quanto mais dorida a vida atroz e amara
Traçando sem proveito o verso mais sutil,
O mundo desabando aonde o vão previu.

E nada do que possa agora se prepara
Vencendo em destemor a sorte que se ampara
No corte mais dorido e sei decerto vil,
Deixando para trás o todo que não viu

Senão a tempestade e nela o que se espera
Apenas o vazio em bote da quimera
E o prazo determina o fim de uma ilusão

Quem dera ser feliz, ou mesmo acreditar
Que em meio à farta bruma ainda algum luar
Trará em turvo olhar, ao menos um clarão.


16

Perder o que se tem, decerto é dolorido
A vida perde o chão e o tempo dita o olvido
E resta tão somente o fim que não previra
Traçando a tempestade aonde adentre e fira.

Porém o que hoje sinto em passo resumido
Não traz esta verdade e toma este sentido,
O prazo que findara, apenas é mentira
A Terra ora caminha e sei do quanto gira,

Mas quando na verdade o fim fora mostrado
Bem antes do começo e dele não me evado
Vestindo a carapuça em lágrimas, terror.

Aonde não sentira as tramas de um amor
Acordos entre nãos e mortes tão somente
O quanto se anuncia e sei que se apresente.

17


Da lua e dos sertões, imagens distorcidas
A seca de minha alma ainda dita as vidas
E nelas o que penso ou mesmo poderia
Não mais me permitindo o sonho e a fantasia.

Do quanto em vendaval as horas resumidas
E delas o que vejo em noites consumidas
Na busca pelo cais que nunca mais veria
Felicidade? Eu sei... Apenas utopia.

Mas quando se presume o fim sem qualquer chance
De ter noutro momento a paz que nos alcance
A dor se multiplica e gera o imenso caos.

Os dias sem proveito e neles outros graus
Vicejam no vazio ainda que se tente
Mudar o descaminho, atroz e imprevidente...

18


O fim se aproximando; e nada mais consigo
Somente o quanto é rude a vida em desabrigo
E tento caminhar lutando contra a fúria
Da vida sem proveito e mesmo em tal lamúria

O canto se apresenta e nele outro perigo
O verso sem segredo o mundo onde persigo
E embora se anuncie ao fim tanta penúria
A luta se aproxima e nisto a velha incúria

De quem se fez poeta e tanto quis o brilho,
Sabendo a solidão que agora em vão palmilho
Expresso o que não veio e nunca mais virá

Tentando descobrir o mundo desde já
Diverso do que a vida apenas me traria
Matando o que restasse ainda em fantasia.

19


O caos de quem se fez em noite mais brumosa
Enquanto a sorte vem e nisto se antegoza
A morte em solidão e nada mais se visse
Senão a mesma dor e nela esta tolice

Deixando a minha estrada espúria e pedregosa
Matando em tanto espinho a amena e bela rosa,
O prazo determina além de uma crendice
Vagando sem sentido aonde se não revisse

Sequer uma esperança, ou mera juventude,
E tanto que pudera ainda quanto ilude
O velho sonhador sem eira, beira e cais,

Acende-se a fogueira e nesta mansa frágua
O todo que viera, agora em vão deságua
Traçando apenas isso: anseios desiguais.

20

Meu medo se anuncia após o que não veio
E sei do que pudesse e neste vão receio
Anseio sem saber o quanto ainda resta
Da vida sem sentido ou mesmo atroz, funesta,

O canto que se fez em ledo devaneio
O prazo que termina e nisto outro permeio
Gerando do vazio além do que se empresta
Matando pouco a pouco e sei quanto detesta.

Não tive qualquer sorte e sei do destempero
O mundo sem caminho expressa o desespero
Deste que fora aquém do quanto desejara,

A luta cansa e mata e nada mais se vendo
Senão a mesma face em tom diverso e horrendo
Abrindo no meu peito; imensa e funda escara.


21

Espectro de um passado ainda me rondando
E o tempo modifica? Apenas duro e infando
Meu mundo se perdera em bares e sarjetas
As sortes mais gentis, somente são cometas,

E quando noutro caos o todo transformando
A luta sem cansaço, o amor em contrabando
E ainda quando em riso o que ora me prometas
Prepara; a vida em dor, somente tais falsetas.

Não posso mais negar o quanto desejei
Tentando adivinhar diversa e calma grei,
Porém mera ilusão e nisto o que se vê

Não deixa que perceba ainda algum por que
Ou mesmo novo rumo em senda confortável,
O todo que sonhei? Alheio e degradável...

22

Escuto a voz do tempo e nada mais o cala
A morte se aproxima e toma inteira a sala,
O verso sem proveito, o canto desvalido
E quando só me deito, o todo enfim o olvido,

Porém a solidão ao ver alma vassala
Não deixa mais a paz e quanto mais escala
Andaimes da lembrança ausente algum sentido
O corte se aprofunda e ao nada enfim regrido.

Espectros do passado, ou mesmo a mera ausência
De uma esperança toma inteira a consciência
E mata o que pudesse em expressão sutil

Dizer do quanto quis e o tempo repartiu
Vagando sem destino em vida virulenta
Quem sabe esta mortalha, ao fim já me apascenta?


23


Falar do amor? Mas, como... A vida fora ingrata
E nada do que tento a sorte em paz constata
Invisto o passo quando a luta em tal contenda
Não traz o que inda queira ou mesmo se desvenda

A mão que se anuncia a mesma que maltrata
E traz a imensidão aonde a dor retrata
No prazo que se quis amor conforme lenda
Perdido em descaminho, a sorte sem emenda,

O nada após o nada e o fim ditando o tudo,
O canto que inda venha; imerge enquanto iludo
O coração sombrio e até mesmo patético

Resumo do que outrora ainda quis eclético
E vejo se perdendo em tramas desiguais
Deixando como rastro os dias mais venais.


24


Platéia? Para que? A luta se desenha
Sem nada que aproveite e mesmo o que contenha
Expressa a solidão de um vago marinheiro
Num mar onde pensara apenas mensageiro

Do todo sem juízo em clara e mansa ordenha,
Porém a mendicância alcança quem desdenha
Da sorte mais sutil, no verso derradeiro
Matando o que se viu, qual verme em hospedeiro

Rascunho da esperança, o verso sem proveito
E tanto quanto pude ainda ser aceito
No tempo mais fugaz ou mesmo imaginário,

O canto se anuncia e traz feito um corsário
O pânico a quem tenta apenas calmaria
E sabe muito bem, que enfim nunca a veria.

25


Perdoe se desnudo a face mais vulgar
De quem pudesse além apenas caminhar
Sem tanto vão tropeço em paz e calmamente
Ainda quando muito o sonho ora se ausente

E deixe sem sinal algum o que expressar
No pranto derradeiro aonde sem luar
A luta se moldara e nada mais consente
Quem tanto quis o dia em tom iridescente.

Nas ermas ilusões, apenas o vazio
E quanto mais reluto, em vão, pois desafio
O verso sem proveito, a noite em vaga luz

O quanto que pudera ainda sem descanso
Demonstra este sombrio espaço aonde avanço,
E sei da sorte feita em tédio, medo e cruz...

26


Quisera ser diverso em verso e dia a dia
No tanto que pudera a vida me traria
Apenas a verdade e nada mais ou menos
Dos dias entre sonho ou passos mais amenos.

Seria no final a amarga fantasia
Que tanto fere atroz e marca em utopia
Fazendo da esperança os duros vãos venenos
Tentando do bem pouco; instantes quase plenos.

Mas sei do quanto é rude a vida de quem ama
E nisto o que pudesse além da mera chama
Viver em fogaréu ou mesmo em clara paz,

Agora no final, apenas não compraz
Quem tanto quis o brilho e nada mais se vira
Somente a luta atroz expressa em vã mentira.


27

Durante muito tempo ainda acreditei
No amor como se fosse a sorte imensa, a lei
E o verso se mostrara em tom bem mais gentil,
Castelo de ilusão, aos poucos me traiu

E o que pensara ser quem sabe mesmo um rei
Agora se anuncia aonde não terei
Sequer outro caminho, ainda quando vil,
Vagando sem saber do quanto se previu

Jogado neste mar imerso em solidão,
O verso se aproxima e dele se verão
Ausências mais sutis e o nada dita a voz

Do quanto se queria, ou mesmo logo após
Naufrágio da esperança o canto sem provento,
O medo se anuncia imenso e torpe vento...


28


Já não pudesse mais vencer os meus enganos
E sei que acumulando a vida em tantos danos
Resumo cada verso em sonho e nada mais,
Ainda quando vejo o quanto vens e trais

Não tento caminhar em ermos desumanos
E nem modificar da sorte os duros planos
Restando apenas crer em dias desiguais
Deixando para sempre os cantos magistrais

Se a carne dilacera e nada mais permite
O verso se anuncia e sem qualquer limite
Embarco no vazio e nada mais possuo

O quanto solitário um dia quis ser duo
E trouxe esta mentira a mais em sofrimento,
Cansado desta luta, agora nada tento...

29


Ah! Noite sem estrela, apenas turbulência
Da vida sem sentido em louca penitência
Vagando noite afora ocasionando a queda
Apenas ao sombrio o passo se envereda

E o quanto se quisera em nova providência
Matando em nascimento ou trazendo a demência
A quem se tanto quis agora a sorte veda
Marcando o quanto trouxe em podre e vil moeda.

Jamais pude entender o sonho em esperança,
Pois sei que a cada dia o fim sempre se avança
E toma plenamente o que quisera crer

Na turva escuridão, buscar o amanhecer?
No olhar de quem sonhasse eu vejo algum farol,
Mas sei quanto é distante o dia em belo sol.

30


Liberto cada espectro em leda fantasia
E sei do quanto posso e nada mais teria
Senão este vazio aonde me adentrara
Marcando com temor a leda e vã seara,

O corte se apresenta e não mais me traria
Sequer o que procuro e mesmo até queria
No quanto a cada queda a sorte desampara,
Deixando sem sentido a senda que quis clara,

E navegando ao léu no carrossel das dores,
Aonde com certeza eu sei que já propores
Vestir em ilusão meu passo em rutilância,

Porém aumenta assim a imensa discrepância
Do quanto pude e tenho e o todo que busquei
Tornando sem sentido a turva e opaca grei.


31

31

Não pude constatar sequer uma esperança
Após a minha vida em meio ao nada
Depois do que tentara apenas a alvorada
O canto sem proveito ao fim ora se lança

E trespassando o peito, a solidão em lança
Deixando para trás a luta desenhada
No quanto se aproveita da sorte emaranhada
Nas tramas do vazio aonde o verso alcança.

Sombrias noites vejo e delas cada verso
Expressa o que em verdade apenas mal disperso
E vendo sem caber o quanto pude crer

No tanto que inda resta ou mesmo conceber
O canto sem proveito e o fim se aproximando
Marcando o que se fez em ar duro e nefando...

32

Cadenciando a vida, um dia imaginei
Vencer o descaminho embora fosse a lei
Mais costumeira e rude aonde o nada tive
Semente do passado e nela me retive.

E caprichosamente o todo que busquei
Expressa a solidão e nele mergulhei
Ainda quando em dor a sorte mal convive
Trazendo o que somente agora já me prive

Do verso e da alegria, embora nada veja
Somente o que pudera e quando em malfazeja
Verdade sem sentido e mágoa sem razão,

Os dias que puder e neles se verão
Ausência de esperança ou mesmo em amplitude
O quanto desejei e sei que desilude...


33

Perdoe a persistência em verso sem proveito
Da vida que decerto ainda dita o leito
Do velho sonhador embora sem saber
Do quanto se anuncia ou marca algum prazer,

No vento onde se entranha o rústico que aceito
Talvez a morte seja o derradeiro jeito
E nela o que se cresse ainda possa ver
No caos após a queda o fim em desprazer.

Gerando dentro em pouco apenas tempestade
O mundo em ilusões deveras já se evade
E marca com terror o verso mais sutil,

Ainda quando o quis, o todo não previu
Sequer uma saída ou mesmo em alegria
Senão esta mortalha imensa em agonia...

34


Apresentado à dor enquanto fosse assim
A vida que pudera esvai e toma o fim
Marcando em nebulosa a noite sem progresso
E nisto o quanto quero ainda em vão confesso

Tentando descobrir as flores de um jardim
Há tanto amortalhado ou morto dentro em mim,
E sei do que percebo em luta e retrocesso
Vestindo o quanto pude e em cada passo meço.

O rumo desta história apenas se perdendo
No tétrico caminho e nele em dividendo
Potencialmente a queda e dela sei do nada

Invisto cada sonho e tento a caminhada
Em meio ao que inda vejo e sei do final quando
Meu mundo sem sentido; o vejo desabando.

35


Insisto, mas sei bem do quanto nada resta
Sabendo aproveitar a mera e leda fresta
Por onde poderia ao menos ver a sorte
Diversa da que trago e tanto desconforte.

Ainda que pudesse a vida já não gesta
Sequer a fantasia audaz e mesmo honesta
Marcando com ternura alguma o duro norte
Prepara a cada instante apenas para a morte.

Nefasta imagem vejo e nada mais me abriga
Somente a solidão, embora turva amiga
Esqueço o que vivi apenas por instantes

Sabendo desde já o quanto mal garantes
Vencido caminheiro em busca da esperança
Quem tanto procurava agora enfim se cansa...


36

O vento explode e traz consigo o sofrimento
Um náufrago somente ainda busco e tento
Sentir os pés no chão e sei que não terei
A sorte de seguir em paz a mansa grei,

Meu verso se completa em puro desalento
E sei do que pudera enquanto esteja atento,
Mas nada do que entranha a vida moldarei
Quisera a sensação que nunca mais verei

Do tempo em plena paz ou mesmo mais suave
E quando na verdade o verso em dor agrave
O pranto, busco aonde o templo em raro altar

Trazendo o quanto pude apenas desenhar
Na sórdida expressão sem rumo e sem sentido
Enquanto o verso atroz somente o que lapido.


37

Através da janela a imagem do meu sonho
Morrendo pouco a pouco, em passo que medonho
Expressa tão somente o quanto me restasse
Mostrando sem sentido a dura e amarga face

Do preço que se paga enquanto mal componho
O tempo sem destino e sei quanto enfadonho
Ainda que decerto o prazo não findasse
Regresso do vazio e bebo o que marcasse

Em carne viva a vida, apenas sem sentido
E o todo sem destino enquanto mal olvido
O verso em tom cruel atroz realidade,

E o prazo determina o quanto ora se evade
Do manto já rasgado e mesmo inutilmente
O que mais desejara ao nada se apresente.

38

Pergunto a quem quiser ou mesmo por clemência
Ainda me escutasse à luz da coincidência
O quanto se desenha em tom surdo e venal
Deixando como herança apenas temporal,

O medo se transcende e gera a imprevidência
A luta se anuncia e dela a consciência
Rasgando o quanto pude em tom consensual
Vestir da hipocrisia um gesto mais banal,

E sei do que decerto a vida não prepara
Deixando a cada passo apenas esta apara
E quando penetrando a pele de quem sonha

A chaga que anuncia embora tão medonha
Talvez seja o que reste a quem se fez aquém
Da luta sem sentido enquanto a morte vem.

39


Convido-te a brindar, um gole ou pouco mais
Embora no final; eu sei quanto me trais,
E canto sem razão a luta onde se avança
Deixando no passado a mera temperança

E quando se anuncia a vida em ermos tais
Os dias que se vêm decerto são mortais
E trespassando o sonho, apenas esta lança
Tentando acreditar no fim numa mudança.

Mas todo o meu anseio expressa a solidão
E dela novos cais deveras não verão
Saveiro mansamente após a tempestade,

Naufrágios que conheço e sei do que degrade
Matando sem defesa o sonho que me deste
E agora o que me resta expressa a dor e a peste.


40


Já não me caberia ousar em novo canto
E sei que se aproxima apenas desencanto
Depois do novo dia em luz turva e diversa
Meu passo sem sentido ao teu teimando versa.

E quantas vezes fui apenas o quebranto
O fim do sofrimento? Eu sei que não garanto.
A vida se renega e nisto desconversa
Ainda quando muito ao fim já se dispersa.

Semeio a tempestade e bebo o vendaval
Apenas para a morte ao menos um degrau
E nele se vislumbra o ocaso da viagem,

E quando no horizonte encontro a paisagem
Em trevas, nada mais, o tempo se anuncia
Num traço mais voraz em dor e em agonia...


41

Espectro do passado ainda me atormenta
E traz em frenesi a vida tão sangrenta
Enquanto a paz tentara em nova provisão
Da sorte mais audaz ou mesmo em dimensão

Diversa da que vejo e não mais apascenta
Quem sabe muito bem da sorte violenta.
E embora sem sentido, os dias que virão
Deveras sem caminho envolto em solidão

Restando muito pouco ou mesmo quase nada
Da noite que julguei um dia enluarada,
Cansado desta luta e nela sem proveito

O quanto desenhei e sei que quando deito
Fantasma do que outrora em vão a vida lança
Matando o quanto resta ainda de esperança.


42


Jamais pude viver ao menos o sorriso
De quem ao desejar pudesse mais preciso
O passo sem sentido imensa tempestade
E nisto o que se vê apenas desagrade.

O mundo em tal tormenta enquanto ora matizo
Meu verso solitário e nele o mais conciso
Cenário se traduz além da realidade,
Cruel e desvalida exposta ao que me invade.

Não pude acreditar nem mesmo em novo tempo
A vida se expressando imenso contratempo,
Verdugo de mim mesmo, o canto se resume

E tento acreditar ainda em algum lume,
Mas sei desta sombria e imensa solidão
Tornando o dia a dia atroz, sem solução.

43

Ousasse ser feliz enquanto mais provável
Caminho se anuncia em tempo ora intragável
Vestindo em ironia o quanto se quisera
Depois de atravessando a sorte atroz e fera.

O quanto da esperança agora indecifrável
Marcara o quanto quis em noite indisfarçável
Seguindo o descaminho em luta mais sincera
Deixando sem sentido a sorte noutra esfera,

O canto sem proveito e o mundo sem juízo,
Das vendas da ilusão apenas prejuízo
E o prazo terminando expressa o que não veio,

Resulto deste caos e sei do quanto alheio
Meu mundo me traindo esgota alguma luz
Deixando para trás cenário que eu propus.

44

Encontro tão somente as marcas do que fui
Depois de tanto tempo, ainda a dor influi
E gera sem sentido o passo aonde tento
Vencer o quanto pude e sei do desalento,

Ainda quando muito o canto não conflui
O todo que desejo aos poucos queda e rui
Deixando como marca apenas sofrimento
E nisto o quanto tenho expressa este lamento.

Enfrento o dia a dia e nada mais se vendo
Somente este retrato e sei o quanto horrendo
O mundo na verdade expondo cada estorvo

E quanto mais crocita a noite feito um corvo
Presságios tão sutis em morte ou tempestade
Negando uma esperança aonde o vão invade.


45

A vida se pudesse ainda me trazer
A sombra do que fui envolto num prazer
Ainda que talvez somente imaginário
Mudasse num instante o velho itinerário

E o corte se anuncia aonde eu possa ver
Restando dentro da alma algum mero querer
E nada mais vencesse o risco temerário
De quem se fez feliz ou mesmo apenas vário,

Não tento acreditar na redenção de um sonho
E quanto mais mergulho, em vão eu me proponho
Na luta que não cessa e dela tento o encanto,

Porém o que se vê traduz velho quebranto,
E o frágil sonhador envolto no vazio,
Ainda quando muito a solidão recrio.

46

O vendaval espalha as cinzas da esperança
E quanto mais atroz em vão a vida lança
O mundo que eu quisera e agora já não há
Nem mesmo a menor sombra e sinto o que virá

Em tanta tempestade o quanto sem pujança
A vida traiçoeira explode em tal vingança
Marcando o quanto resta e sei que inda trará
O todo que deixei aqui ou mesmo lá;

Meu verso inutilmente ainda busca a paz
E sei da solidão enquanto o nada traz
Somente esta desdita em dor e turbulência

Ainda quando bebo a amarga consciência
Da vida inutilmente envolta no vazio
E opaca fantasia o quanto em vão recrio.


47


Tentando acreditar no dia que não veio
Seguindo neste ocaso em dor e devaneio.
Incauto camarada a sorte não traria
Sequer o quanto possa em nós a fantasia.

O mundo sem juízo o corte em vão recreio
Persisto e me encontrando aquém e mesmo alheio
Não vejo nosso amor qual fosse uma utopia.
Sabendo que ao final, mera melancolia,

O canto se espraiando aonde o nada existe
O olhar imaginário agora vejo triste
E nada que se fez permite acreditar

Num rastro magistral envolto num luar,
Somente esta semente aborto inevitável
No solo da esperança atroz e nunca arável.

48


Das trevas escoltado ainda pela dor
Vencido sem destino. Olhar dita o pavor
E nada mais se visse além deste sombrio
Caminho aonde tento e mesmo desafio

Ultrapassar o medo, embora em tal andor
A sorte se desenha em luto e desamor,
Não tendo outro caminho, apenas já desfio
O tempo em verso rude e sei do quanto esguio.

Reparo cada estrela e sei que não terei
Sequer a menor sorte nada dita a lei
Do caos que mais sutil apenas a lembrança

Do amor que tanto quis e nunca mais teria
Vestindo esta tormenta imersa na agonia
O rumo tanto rege o passo que ora cansa.

49

Não pude acreditar apenas no que vejo
E sei do meu caminho em luto e malfazejo,
Cabendo muito pouco a quem quisera mais
Sobrando tão somente em rudes vendavais

O medo sem sentido e a luz onde prevejo
O fim da dura vida; em tétrico trovejo
E o prazo se findando ainda em dias tais
Sem rumo e qualquer nexo imerso em tons venais.

Pudera acreditar num ato consistente,
Mas nada do que vejo ainda se apresente
Somente a morte em vida e o canto sem proveito,

E quando em solidão, imensa ora me deito
Espero sem saber o que jamais viria
O amor ou mesmo a paz, inútil fantasia.


50


Ao terminar este ato aonde me desnudo,
Encontro o desacato em tom atroz e agudo
Um velho timoneiro envolto em tal procela
A vida não sossega e nada mais revela,

Findando sem partilha o sonho quieto e mudo,
Porém sem ter destino, eu vejo e já me iludo
O barco na tormenta exposto em frágil vela
Do quanto poderia a sorte dita a cela,

Teria outro caminho? Eu sei que mesmo em vão
Tentasse acreditar nas sortes que virão
Trazendo ou não a praia, a mansidão cobiça

Ainda quando seja apenas movediça;
Em solilóquio sigo expondo-me deveras
Aonde se veria a sorte em rudes feras...



SEGUNDO ATO

51

Talvez meu nome importe, ainda mesmo assim
Encontro no caminho as marcas de onde vim
E sei que na verdade importam muito mais
De tanta cicatriz aos atos mais banais.

História tem começo, e aguardo agora o fim
Marcando em dissonância o que inda resta em mim.
Quem sabe percebendo o quanto tu me trais
Quebrando o que mais quis, inúteis meus cristais.

Durante esta incerteza aonde a vida rege
Transborda no meu peito o mar atroz e herege
Vestindo a solidão, quem sabe de tal forma

Ainda que sutil se veja esta reforma
Por vezes desejada e nunca concebida,
Mudando a dimensão fugaz da tosca vida.

52

Imerso no vazio aonde me criara
A solidão decerto há tanto já rondara
A casa em desencanto e o sonho prepotente
De quem não tendo nada, ainda quer e sente.

Ensina-me a pescar, mas sem ter isca ou vara
Apenas ao final a vida me prepara,
O sol de uma esperança adentrando o poente,
O fato de tentar ao menos, indigente,

Vestir a fantasia espúria da esperança,
Bufão que em noite vã, sem rumo ora se lança,
Depois de tanto tempo em busca de um sinal

Que possa permitir um novo ritual,
Encontro-me decerto em sorte vaga e fria
Matando o que inda resta ou mesmo poderia...


53


Depois de certo tempo imaginara a sorte
Diversa da que vejo envolta no vazio
E quando; sem saber, o mundo eu fantasio
Ainda que talvez o sonho me conforte,

Ao fim somente tenho o aspecto em dor e morte
Sem nada que pudesse ou mesmo a luz comporte,
Descendo inusitado em rude desvario,
A noite não traria as margens deste rio.

Amar é conceber ao menos num momento
A placidez do canto, a mansidão de um vento
Levando para frente o barco, o meu saveiro,

E neste delirar me entrego e vou inteiro.
Semente que abortada em solo não arável
Traduz realidade em sonho temerário...

54


Fortuna se apresenta em face mais diversa
Daquela que busquei aonde o sonho versa
Senão a rubra luta, a velha fantasia
Que tanto imaginei e sei que não teria.

O tempo com o tempo, aos poucos desconversa
E sei da vida tosca até rude e perversa
Matando em nascedouro a mera poesia
Que se produz do nada em clara autofagia.

O ser ou não poeta, o ser ou não feliz
Trazendo tão somente o que a vida desdiz
E gera em contra-senso este vazio na alma,

A bruma ronda a casa e a noite em gelidez
Expressa com certeza o quanto agora vês
E incrível que pareça, isto afinal me acalma...


55


Depois de cada ausência ou mesmo em tom austero
A vida temperando o quanto não mais quero
E vendo a cada queda a luta se perdendo
Num rústico cenário, espúrio e quase horrendo,

O fato de sentir o tom mais insincero
Transcende ao que pudera e nisto o que venero
Jamais se moldaria além de mero adendo,
E o traje em rota luz não passa de um remendo.

Assim também o amor, que tanto desejei,
Mudando a cada dia, expressa em torpe lei
O vago sem sentido algum de uma esperança

E quando no sombrio engodo ora me lança
Avança sem sentido, em tom diverso e rude
Falando do que sei amar quanto me ilude.


56


Meus olhos no horizonte estúpido ou funesto,
Dizendo da sombria estada aonde atesto
O fim de uma ilusão, mergulhos neste caos,
E sei dos dias vãos em rústicos degraus.

Do quanto imaginara apenas trago o resto
E bebo gole a gole o quanto já não presto,
Meus dias moldarão decerto rudes, maus
Anseios sem sentido ao naufragarem naus

E nada mais contendo além da espúria voz
De quem sonhara ouvir o dia logo após
Melindres mais sutis ou mesmo hipocrisia.

Daquela que se fez e bem mais poderia
Não fosse a prepotência em tétrica visão,
Deixando como rastro, apenas solidão.

57


Aos olhos de quem vê a cena repetida
Como se fosse o fim do que chamara vida
Não tendo mais saída, o beco se fechando
E nele o que se crê trazendo em ar infando

A luta sem proveito enquanto dilapida
A morte a cada instante eu vejo sendo urdida,
Deixando para trás o que pudera quando
A vida se diverge em paz se desenhando,

Porém ao se mostrar sutil e melindrosa
Cevando em espinheiro o que pensara rosa
Trazendo em sortilégio o verso mais atroz,

Calando pouco a pouco o brilho dentro em nós
Escuto como fosse a voz de quem se fora,
Uma alma sem juízo, apenas sonhadora...

58


Agradecendo aos Céus somente por poder
Vencer algum ditame e crer nalgum prazer
Ainda que isto seja a velha fantasia
Da vida em paz imensa e mesmo em sincronia,

Rondando pouco a pouco, adentrando o meu ser
O todo se permite e faz sobreviver
O vento da emoção que tanto se queria
Agora se perdendo em rara hipocrisia.

Das melodias vãs ao fim que programaste
A queda se anuncia e sei quando em desgaste
Já nada me trouxera além deste sombrio

Caminho em treva e dor, gerado pelo ocaso,
E vendo tal cenário, atento me defaso,
Porém sobreviver é mais que um desafio.


59


Fechando este caminho aonde eu tento além
Do que pudera sempre e sei que nada vem,
Vestindo a mesma luta e sendo de tal forma
A vida se mostrando enquanto não conforma

E traça tão somente o olhar com tal desdém
Enquanto continuo e sei que vou aquém
Do prazo que tentara apenas como norma
Vencido este andarilho e nele amor deforma.

O vento que batendo em fúria nos umbrais
Os sonhos mais sutis e neles desonrais
Palavras, versos, luz; e nada mais restara

Senão a solidão comum em tal seara
Charnecas dentro da alma; e a sorte não mais clama
Deixando como rastro; o lodo, a cruz e a lama.


60


Cessasse de sonhar, quem sabe, eu poderia
Trazer ao meu olhar a luz de um novo dia,
Ou mesmo em amaurose o passo sem sentido
O tanto quanto quero e mesmo dilapido

Transcende ao que virá em mera fantasia
E nisto o quanto vejo explode em agonia,
Nos ermos do caminho, ainda a vã libido
Procura inutilmente o rumo já perdido.

Esfacelando o sonho envolto nos retalhos
Os dias com certeza ainda serão falhos,
E a morte até redima o quanto me negou,

Deixando para trás quem sabe aonde vou
Enfrente temporais e creia noutro porto,
Melhor do que seguir, deveras, semimorto.


61

61


Sob o furor do vento em franca tempestade
O passo que inda possa o tempo já degrade
E deixe tão somente as velhas cicatrizes
E nelas o que vês e não mais contradizes

Expressam muito bem a dura realidade
De quem se fez aquém da amável claridade,
Em céus diversos vis, ou mesmo apenas grises
Os sonhos não trarão senão as hemoptises

Eviscerando a sorte em sórdidos remendos,
Os olhos sem porvir, os dias mais horrendos
Espectros de uma vida imersa em podridão,

Os dias que se vêm apenas mostrarão
O fim de cada verso inútil companheiro
No canto que se ouvindo, atroz e derradeiro.


62




Os olhos que venais procuram cada olhar
E nisto a sorte toma e marca este lugar
Apenas no sentido espúrio da emoção
Logrando melhor sorte em frágil dimensão,

Por vezes já cansado até mesmo lutar
Ainda poderia e nada a me tocar,
Mas quando no horizonte as noites que virão
Trarão a marca atroz da intensa solidão,

Jogado sobre o caos inusitadamente
O verso sem proveito, o quanto ora se ausente
Do mundo em sofrimento e nada mais se visse

Senão a luta agreste, ou mesmo em tal crendice
Vacante sensação do amor que nunca veio
Olhando para além em puro devaneio.


63


Monólogo que em dor desfio em poucos versos
Falando da incerteza em dias mais perversos,
Disperso sonhador em noite inusitada
Depois de certo tempo apenas trago o nada.

Criando em fantasia os vários universos
Bebendo os mais sutis caminhos que diversos
Trariam para mim, ao menos uma estrada
Aos poucos já perdida e turva e desolada.

Não quero compreender nem mesmo ouvir a voz
Daquela que se foi sem nada além e após
Deixando tão somente a marca da pantera

Incrustada em meu peito e sei quanto insincera
Moldara a face escusa e sem qualquer alento
Num ato tão venal enquanto desatento...


64


Ouvindo a noite intensa em ritos mais doridos
Os prazos que se vão, em rústicos sentidos
Das lágrimas desta alma há tanto sem proveito,
O quanto no final, em dor apenas deito,

Meus versos sem certeza apenas construídos
Nos atos duros vis, e neles consumidos
Seguindo de tal forma; atroz e contrafeito,
Pensara ser feliz qual fosse algum direito.

Negaceando a sorte e nada mais trazendo
Sabendo da verdade e nisto em tom horrendo
A sorte melindrosa em rústico cenário

Produz ao fim de tudo o mesmo e temerário
Caminho em tom mordaz ausência de sinal
Que inda pudesse crer num mundo mais igual.

65

Ao ter, reparem bem, a face em fartas cãs
Depois da noite rude; as vagas vozes vãs
Expressam a verdade e nada mais consigo
Sequer o que pudera ainda ser o abrigo,

Penetro vida adentro e sei destas manhãs
Aonde o que se fez em lutas tão malsãs
Traduzem com certeza o tom de tal perigo,
Restando dentro da alma o sonho mais antigo.

Meu passo eu cadencio e sei que não viria
Saber do quanto resta ao menos, poesia
E ver ao fim da festa a face mais atroz

De quem se fez verdugo e gera sobre nós
Apenas a influência agônica e insensata
Do que decerto traz a dor que nos maltrata...


66

Não posso partilhar uma amizade rude
Sequer o que talvez ainda nada mude
E mesmo que mudasse o tom seria vão,
Moldando em invernal a rude sensação

Do prazo que se dá e nada mais ilude
Senão a solidão da antiga magnitude
Do verso que decerto os dias não verão
Deixando no caminho a luta em solidão.

Batalhas, guerras. Medo e o fim se aproximando
O mundo se apresenta então bem mais nefando
Cortantes noites vãs e sem qualquer motivo

Do todo que desejo agora ora me privo
E visto esta mortalha, apenas, nada mais…
Enquanto se prepara além meus funerais.


67


Tanta melancolia e nada por fazer,
Somente a nebulosa expressão do querer
Jogada sobre o cais em meio às vis borrascas
Dos sonhos mais sutis não restam sequer lascas,

Ainda que eu pudesse ao menos merecer
Enfim depois da noite um belo amanhecer
As sortes são venais e delas meras cascas
Enquanto cada tiro, errática tu mascas.

Já não comportaria a sólida expressão
Do vento em minha casa, ou mesmo se verão
Cenários onde a festa apenas começara

Deixando em desespero a sórdida seara,
A morte me redime e nisto vida expressa
O quanto se queria e a dor só recomeça.


68


Durante tanto tempo uma alma se expressando
Nos tons diversamente aonde quis a paz,
Excêntrico caminho a vida não mais traz
Sabendo o quanto custa e nisto como e quando.

O tanto se redunda e nisto desabando
O coração pesando em rude contrabando
O verso sem sentido ou mesmo até fugaz
A luta sem defesa em nada se desfaz.

Perdoem a insistência e nada mais faria
Senão qualquer sorriso ainda hipocrisia
Ou pura estupidez; ou cupidez de um nada

Jogado nesta praia há tanto, desejada
E o vento sem limite, ao longe ainda espalha
Fazendo do meu sonho um campo de batalha.


69

Só posso oferecer a ti a minha morte
E nisto talvez haja o quanto te conforte
Depois da negação em atos repetidos
Os sonhos do passado em nada refletidos,

O verso se adivinha e nisto bebo a sorte
No canto já jogado em dor que desconforte
Capaz de imaginar os erros resumidos
Nas tramas mais venais espúrias dos sentidos.

Encontro cada rastro e nisto sigo além
Do quanto poderia e sei que não convém
Vivendo em discordância, e nisto o que cobiço

Expressa este cenário incerto e movediço;
Tempestuosamente a vida não traria
Sequer o quanto quis em mera fantasia.


70


Se eu ouso te dizer do quanto quis e nada
Pudesse adivinhar além da velha estrada
Jogado sobre o vão em noites desiguais
Sabendo simplesmente a dor quando me trais;

Senhores; vejam bem, bandeira desfraldada
A senda sem sossego há tanto abandonada
E os ermos de meu peito em rudes rituais
Mostrando por acaso os erros mais venais.

Não tive melhor sorte e nada impediria
De crer até possível a vida em alegria,
Cicatrizando o corte o verso num sorriso,

Mas quando me percebo em gris tom me matizo
E faço do meu canto apenas um protesto
E cada dia em sonho; expresso o que contesto.


71

Difícil acreditar num tempo mais suave,
A vida a cada instante ainda toma e agrave
O rumo sem proveito imerso em tais procelas
Aonde sem saber apenas me revelas

Inútil se tentar somente como uma ave
Ousando o pensamento, espécie de uma nave
Vencendo escuro céu enquanto agora selas
As sortes em corcéis, porém já desatrelas.

-Ricardo- a vida traz uma esperança além
Do que deveras sinto e mesmo já provém
Uma alma sonhadora e nada em claridade,

Somente o que se busca e sinto ora degrade
Deixando como rastro as sombras do que um dia
Pudesse imaginar bem mais que uma utopia...

72


Das artes que buscara a poesia fora
Aquela que talvez pudesse desenhar
O rumo mais sutil e nele mergulhar
Esta alma sem proveito e tola, sonhadora.

A vida com certeza é mais que tentadora
E quando se imagina a luz mais redentora
As nuvens recobrindo as tramas do luar
Traduzem a verdade inteira a se mostrar.

Durante certo tempo, acreditei fortuna
E nada do que possa ainda em paz nos una
Senão a sensação espúria em desalento

Ainda quando mesmo após um rumo eu tento,
Negaceando o passo, a solidão se traz
E nisto o quanto resta expressa o tom mordaz.


73


A vida tão comum deste comum burguês
Que ainda em turva luz deveras sei que vês
Na sala carcomida, estas infiltrações
E nela a solidão enquanto ora me expões

Trazendo ao meu olhar a leda estupidez
E vez por outra mesmo, um ar de insensatez
Que impeça ao sonhador ao menos emoções
E nelas outro rumo e assim me decompões.

A chuva persistente invade noite afora
E o tanto que pudera apenas desancora
O barco e no naufrágio anunciada a morte

Negando o quanto eu quis, sonega algum aporte
Restando a quem se fez um mero expectador
Falar do que não sabe: as tramas deste amor.

74


O tempo carcomera os olhos mais brilhantes
E o quanto se quisera apenas por instantes
Deixando como marca opacidade imensa,
E quando na verdade uma alma se compensa

Apenas no vazio enquanto mal garantes
Os versos sem sentido e nisto me adiantes
O que pudera ser ainda a recompensa
Deixando a noite fria, ausente e mesmo tensa.

Cansado desta luta e nada por fazer
Somente perceber o tempo a percorrer
Os veios da saudade e neles me entranhando

Rumando sem sentido e apenas ruminando
O vento que não veio, a vida sem sentido,
Um gole de conhaque e o templo destruído...

75


Não quero que me escute e nem tampouco veja
A cena corriqueira e nela o que se almeja
Apenas a verdade e nisto o quanto resta
Não traz qualquer magia, a luz em leda fresta;

A sorte que se fez deveras malfazeja
Que tanto se reflita aonde quer que esteja
E assim do ledo fim, a vida ora me atesta
Deixando sem proveito a sorte que se empresta

Ocasionando a queda e nisto o que virá
Expressa tão somente o quanto e desde já
Legado de uma sombra atroz e costumeira,

Derrama o que inda tento e sei que além se esgueira
Fantoche de outro tempo, um eco do vazio,
Aonde quis a chuva encontro o mero estio...


76

Já não mais comportando o quanto pude crer
Depois de tanto tempo envolto em desprazer,
Amigos; vejam bem o que esta vida trama
Deixando tão somente o duro e mero drama,

Os velhos temporais, a vida aonde o ser
Esbarra no vazio e teima em conceber
Trazendo em cada olhar além do lodo e lama,
Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,

Resulto deste ocaso em vida sem proveito,
E o que vier decerto ainda mesmo aceito
Sem ter qualquer acento em luz ou esperança

E a noite dentro da alma enquanto rude avança
Encontra sem resposta o que inda mais eu quis,
Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.

77


Sentando nos sofás da sórdida lembrança
O que inda me restasse, aos poucos já me cansa
E a luta não termina e segue o seu destino,
Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,

O olhar de quem se foi qual fosse fria lança
Tocando dentro da alma, expressa sem pujança
O que pudera ser em vida o cristalino
Cenário onde buscara um tempo onde o domino.

Agora que esta sorte esbarra no vazio,
Seguindo em turbulência, apenas desvario,
Não pude ou poderia; amigos, com certeza

Vencer o quanto é rude e dura a correnteza
E quando me desnudo em vórtices atrozes
Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.


78


Depois de quase ter a sorte que buscara
Nas ânsias tão sutis da rústica seara,
O vento me levando além do que eu pudera
Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera

Empreende este caminho e rege noutra escara
O peso sob o sonho enquanto se escancara
A luta sem proveito e o tempo que se espera
Marcando em cicatriz a face da quimera

Depois de tanta perda, a vida não consola
E o quanto ainda tenho aos poucos não decola
Semente se abortando em árido jardim

O quanto mesmo quis agora morre em mim,
Negando algum momento em plena liberdade
E o que inda me traria, o tempo ora degrade.

79


Já vejo que se finda o tempo de existência
E de tal fato mesmo embora com ciência
Diversidade molda o fim sem benefícios
Apenas entre queda o quanto em precipícios

Mostrara o dia a dia em torpe penitência
Minha alma se desnuda e gera em consciência
Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios
Trazendo sem proveito os tétricos ofícios

E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo
E perco da esperança algum suave ensejo.
Minha alma agora traz no olhar a fantasia

Que em cena reproduz o quanto mais queria,
Embora me distando aos poucos deste todo,
O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.


80


Não quero acreditar sequer no que passasse
Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse,
Apresentando agora a vida de quem fez
Caminho sem sentido ou mera insensatez,

Transito no infinito e nada se tentasse
Gestando o que se visse em velha e rota face,
E melindrosamente, ainda quando crês
Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,

Encontrarás o sonho, aos poucos repartido.
E quando a minha história enfim eu dilapido
Arcando com engano e sei quanto é comum

Viver sem esperança ou mesmo tendo algum
Momento em consonância, estreita noite vã
Matando desde agora o quanto quis manhã.


81

Quando falo de amor. Vindo à cabeça Lara
Que há tanto já se foi e nada mais deixara
Somente este fastio e a turva noite eterna
Memória talvez seja ao fim turva lanterna

E dela se espalhando uma esperança rara
Domínios sem sentido e o corte desampara
Enquanto no sombrio a vida ora se interna
E bebo a solidão, por vezes sinto-a terna,

Mas nada além do sonho, as vozes se perdendo
Juntando o muito pouco encontro em tal remendo
As ânsias de quem fora um dia mais feliz

E agora já distante ausente do que eu quis
Esbarro em todo engano e nada se apresenta
Somente esta lembrança audaz, atroz, sangrenta...

82


Aonde houvera festa em noites claras... Sonho,
Apenas o fantasma enquanto decomponho
Anseios viscerais em versos sem sentido
E o pouco que me resta, ainda dilapido

Deixando-se antever um dia onde medonho
O passo se perdera e nisto o que proponho
Inválido momento e quanto mais urdido
Errático delírio, o corte resumido,

À bala ou num punhal, o tempo não permite,
Que com certeza eu diga o quanto em tal limite
Trouxera além do sangue exposto pela casa

O corpo lacerado, a vida não se embasa
No amor de quem traísse e mesmo assim viera
Trazendo num sorriso, a sarcástica fera.


83

Lara. Há quanto tempo. A vida não repete
O grande amor, portanto, aonde o vão reflete
Extasiada a mente em gozos e venturas
Depois de tanta dor, ainda em tais loucuras

O corpo apodrecido; envolvo e me compete
Falar desta fornalha imensa que complete
A solidão desta alma envolta em inseguras
Vontades mais venais enquanto me torturas.

E mesmo morta vens em noites turbulentas
Trazer o que pudera e sei nunca apascentas
Vestígios pela sala, a mancha no meu quarto,

E tenazmente traço enquanto mal comparto
Os últimos sinais daquela que se fez
O imenso e grande amor, enorme estupidez...


84

Há mais de um mês ou mesmo até quem sabe, um ano
A face desmedida e vaga deste plano
Sob as tábuas jogado o resto deste encanto,
E nisto o que inda possa e nisto eu me garanto

Traçar o desespero em ermo desengano
Do que restara enfim, do ser que fora humano
E agora em rude face expressa este quebranto
Quando medonhamente olhando em vão me espanto

Recebo por e-mail, a tétrica notícia
Que além de me envolver nas tramas da sevícia
Talvez me condenando ao que tanto busquei,

Deixando-me levar aos tribunais, à lei,
Cessando de uma vez o inverossímil caso
Tramando noutra face apenas meu ocaso.


85


Só resta muito pouco e nada mais faria,
Somente o que virá e sem hipocrisia
Entrego-me ao vazio e dele me propago
A morte talvez seja o derradeiro afago.

A imagem deste encanto, esta mulher esguia
O amor que tanto quis e enfim libertaria
Na pútrida expressão de um tempo rude e vago
No olhar já sem sentido o quanto agora trago

Dos erros de uma vida há tanto sem sentido,
E o corpo deste amor, agora apodrecido
Em tantas partes toma a casa por inteiro

O aroma nauseabundo, ainda onde me inteiro
Dos erros ou do acerto envolto em tais loucuras,
Deixando para sempre, as velhas amarguras.


86


Se um dia fui feliz? Bem sei do quanto o fui,
Porém tudo que um dia enorme ascende, rui,
E a queda se transforma em única lembrança
E quando a tempestade aos poucos nos alcança

Já nada do que tive agora toca e influi
Minha alma a cada instante em rota face pui,
E incrível que pareça, uma alma segue mansa
Condenação final; resiste em esperança

Deixando que termine esta agonia atroz
Amortalhado sono, a paz se vendo após
E o verme que caminha; envolto nos meus passos,

Depois de tanto engano, os sonhos são escassos
E apodrecendo ao fim, já nada reconheço
Somente o quanto vale a vida em adereço.


87


Restando quase um dia, ainda poderia
Fugir ou me esconder, porém uma alegria
Sem nexo e doentia adentra a minha mente
E o que virá redime o engano, plenamente,

O quanto me restasse em dor ou agonia,
Ou mesmo até no fim, numa imensa ironia
O passo que se desse e nisto se apresente
O fim somente em paz, de um ser tolo e doente

Tentando descansar, em alívio compondo
Ao quanto não restasse e nisto correspondo
Ao féretro de uma alma há muito apodrecida

Jogada pelos cais abandonando a vida
Encontrará enfim, a merecida paz
Que este verdugo, amor, já não fora capaz.


88


Chegada anunciada; há tanto que prevista
De quem me salvará, marcando enquanto avista
De Lara mero escombro ou restos pela casa
Ao redimir minha alma, acende fogo e brasa,

Não tendo mais martírio, o quanto aquém insista
O sangue como fosse a marca em clara pista.
Porém o que se quer e assim já se defasa
A cada instante mais, decerto ora se atrasa.

Minutos, horas. Tempo. E nada do que possa
Determinar enfim, a salvadora fossa
E nela este vazio, o desapego e o caos,

Olhando para trás, percebo tais degraus
E neles a emoção diversa e mesmo rude,
De quem a cada instante apenas desilude.

89

A noite ultrapassada e ao fim nova manhã
A luta se refaz na face mais malsã
Do pálido cenário em brumas repetindo,
O quanto imaginasse, enfim silente e findo,

Porém a vida traz a sorte amarga e vã
E nada do que tento expressa a voz do clã
Deixada no passado em ato refletindo
O todo sem sentido e o tempo se abstraindo,

Talvez algum engano, ou mesmo um incidente
Espero mais um pouco? O quanto se apresente
Traduz desta maneira a sombra do que venha

E a liberdade da alma, enfim possa e contenha,
Sabendo de tal fato, aguardo um pouco mais?
Ou bebo sem cansaço, os rudes vendavais?


90


76

Já não mais comportando o quanto pude crer
Depois de tanto tempo envolto em desprazer,
Amigos; vejam bem o que esta vida trama
Deixando tão somente o duro e mero drama,

Os velhos temporais, a vida aonde o ser
Esbarra no vazio e teima em conceber
Trazendo em cada olhar além do lodo e lama,
Mas quanto mais se sonha a solidão exclama,

Resulto deste ocaso em vida sem proveito,
E o que vier decerto ainda mesmo aceito
Sem ter qualquer acento em luz ou esperança

E a noite dentro da alma enquanto rude avança
Encontra sem resposta o que inda mais eu quis,
Quem dera se eu pudesse; ao menos ser feliz.

77


Sentando nos sofás da sórdida lembrança
O que inda me restasse, aos poucos já me cansa
E a luta não termina e segue o seu destino,
Enquanto a cada farsa enfim eu me amofino,

O olhar de quem se foi qual fosse fria lança
Tocando dentro da alma, expressa sem pujança
O que pudera ser em vida o cristalino
Cenário onde buscara um tempo onde o domino.

Agora que esta sorte esbarra no vazio,
Seguindo em turbulência, apenas desvario,
Não pude ou poderia; amigos, com certeza

Vencer o quanto é rude e dura a correnteza
E quando me desnudo em vórtices atrozes
Os sonhos que inda tenho, ao fim serão algozes.


78


Depois de quase ter a sorte que buscara
Nas ânsias tão sutis da rústica seara,
O vento me levando além do que eu pudera
Na noite sem sentido ou mesmo atroz e fera

Empreende este caminho e rege noutra escara
O peso sob o sonho enquanto se escancara
A luta sem proveito e o tempo que se espera
Marcando em cicatriz a face da quimera

Depois de tanta perda, a vida não consola
E o quanto ainda tenho aos poucos não decola
Semente se abortando em árido jardim

O quanto mesmo quis agora morre em mim,
Negando algum momento em plena liberdade
E o que inda me traria, o tempo ora degrade.

79


Já vejo que se finda o tempo de existência
E de tal fato mesmo embora com ciência
Diversidade molda o fim sem benefícios
Apenas entre queda o quanto em precipícios

Mostrara o dia a dia em torpe penitência
Minha alma se desnuda e gera em consciência
Somente os tantos vis, cruéis e ledos vícios
Trazendo sem proveito os tétricos ofícios

E ao fim da caminhada – a vida – eu nada vejo
E perco da esperança algum suave ensejo.
Minha alma agora traz no olhar a fantasia

Que em cena reproduz o quanto mais queria,
Embora me distando aos poucos deste todo,
O amor, se ao fim existe, é mero e duro engodo.


80


Não quero acreditar sequer no que passasse
Gerado pelo fim ou mesmo noutro impasse,
Apresentando agora a vida de quem fez
Caminho sem sentido ou mera insensatez,

Transito no infinito e nada se tentasse
Gestando o que se visse em velha e rota face,
E melindrosamente, ainda quando crês
Na estúpida emoção, ou nesta espúria tez,

Encontrarás o sonho, aos poucos repartido.
E quando a minha história enfim eu dilapido
Arcando com engano e sei quanto é comum

Viver sem esperança ou mesmo tendo algum
Momento em consonância, estreita noite vã
Matando desde agora o quanto quis manhã.

90

Tentando algum contato, algo que me explicasse
Vencendo com firmeza o que se fez impasse,
Depois de tanto sonho, aonde visse a paz,
Já nada me responde enquanto a vida traz

Retalhos deste fato e nele se moldasse
A solidão em vaga e rude, mera face
Trazendo o que se quer em forma mais tenaz
Cerzindo do vazio o fim que satisfaz,

Mas nada, nem resposta. E tento o telefone,
Já não suportaria a nova noite insone
Terminando esta peça, ao menos poderia

Viver tranquilamente o quanto inda teria;
Só restando esperar? O que possa fazer?
Ó Lara, não torture; eu fiz por merecer?


91

Procuro nos jornais. Ligo a televisão.
E nada do que eu busco encontro. O tempo é vão…
Dois dias, ledo atraso, um delírio se assoma
E o quanto ainda resta? O pânico me toma.

A voz deste passado, a luta, a imprevisão,
E quanto poderia e quantos mostrarão
O que deveras sei; e o coração não doma
E como num torpor e como em vivo coma

A vida se perdendo em rumos discordantes
E nada do que possa ainda me garantes
Somente a dor cruel do condenado à morte

Que busca sem sentido algo que inda o conforte,
Uma semana e; nada. O telefone mudo
E a cada nova ausência, apenas desiludo...


92


Em desespero escuto os passos pelas ruas
Esta incerteza torna as sendas bem mais nuas
As luas já se vão, e os sóis se arremessando
Num ermo aonde o sonho explode mais nefando,

Angustiadamente as noites seguem cruas
Semana após semana, agora já são duas,
E o cômodo caminho aos poucos se afastando,
Embora no verão, eu sinto-me nevando

Procuro uma resposta e nada se apresenta
Somente este silêncio, a sorte mais sangrenta,
O telefone toca. Engano e novamente

Um ermo se anuncia enquanto não se sente
Sequer o que acalente ou mesmo me condene,
E nesta paz atroz o quanto me envenene...

93


Um mês e nada além do caos dentro do peito,
Tentando descansar, inutilmente deito,
O pesadelo ronda e toma cada instante
Enquanto febrilmente a morte se agigante.

E Lara? E seu contato? A vida sem direito,
Mudando a direção encharcando o meu leito
A voz do vento ronda e torna mais cortante
A ausência de futuro o nada doravante...

Tortura deste impune, um verme sem saída,
Deixado sempre ao léu, na opaca e rude vida
Mergulho na loucura e bebo cada gota,

Minha alma se perdendo, aos poucos bem mais rota
Silenciosamente, o tempo se prepara
Tomando sem defesa a imensidão de Lara.

94

Um único detalhe; ainda não desvendo,
O que se fez audaz, agora em vão remendo
Expressa a face escusa e torpe de um canalha
Enquanto a ventania, além o sonho espalha,

E quanto mais no nada eu sinto me envolvendo
O rústico fantasma aos poucos me bebendo
No fio mais agudo e tosco da navalha
A própria resistência expressa esta batalha.

Um peso sobre mim e o todo se anuncia
Qual fosse do destino, apenas ironia,
E a morte que redima, agora já não veio,

O olhar se perde ao longe em louco devaneio
As garras adentrando o que inda resta em mim,
Preparam num sorriso estúpido meu fim.

95


E quando desistira após tanto não ser
Escuto o telefone, e quando ao atender
Na madrugada fria imerso em nuvem tanta
A sorte se anuncia e assim chega e quebranta

Matando uma esperança e nisto posso ver
O mundo que buscara, enfim se esvaecer.
De Lara reconheço a voz que não espanta
Apenas me tortura, e quando se levanta

Numa expressão feroz, e irônica detalha
A morte de quem tanto um dia sem ter falha
Viria redimir, o coração atroz,

Cessando em acidente, a derradeira voz.
E a paz que procurava aos poucos se esvaia
Deixando como rastro, apenas a agonia.

96


Procuro alguma chance e encontro o derradeiro
Alento nesta bala em tiro que certeiro
Trouxesse em suicídio a paz que procurei,
Fazendo em minhas mãos, a dura e régia lei.

Um único momento, e o prazo onde me inteiro
Sem farsa e sem disfarce, enfim um verdadeiro
Caminho que me leve ao quanto eu esperei
Trazendo finalmente esta esperada grei,

E nela o que se veja em paz ou mesmo inferno,
Melhor do que o vazio aonde ora me interno
E extremamente sinto o fim se aproximando,

No prazo decorrido, o tempo desde quando
Momento crucial, e redentor viria
Tramando além do vão um tempo em alegria...


97

Maldita seja a vida. A bala em direção
Diversa da que eu quis, leda transformação
Não me trazendo além do quanto desconforte
Negando sem proveito o que buscara: a morte.

Jogado neste quarto, ausente solução
Apenas percebendo a tétrica ilusão
E apenas se vislumbra o imenso e frio corte
Traqueostomia traz da vida o frio aporte,

E Lara gargalhando, em volta deste leito,
Imagem sem sentido; espúria, onde refeito
Não sinto agora nada, e não me movimento,

Somente vejo além o corvo que crocita
E bebe cada gota em dor quase infinita
E enquanto ora eu definho, enfim eu me atormento.

98

Vingança? Não sei bem. Apenas a mereço
E sei do que pudesse em tétrico adereço
Tentando o fim do jogo e nada conseguindo,
A vida se desenha enquanto me esvaindo

Aos poucos tento a sorte e nada mais esqueço
Somente o tempo passa, e sei de outro tropeço
O que pudera ser, um dia quase infindo,
Expressa tão somente o corpo se abstraindo

Desta alma apodrecida uma carcaça apenas,
E sei do quanto mesmo agora me condenas,
E tento algum sorriso, espúrio lenitivo

E embora sem sentido, ainda sobrevivo
E toda noite Lara, aproxima num sonho
E a vida que eu tivera; em dor a recomponho.

99


Tentando então falar, já ninguém ouviria
A sombra deste espectro em vasta hipocrisia
Rondando sem sentido algum o que virá
Matando lentamente o que inda me trará.

Imóvel, respirando a pútrida agonia
E nisto o que se vê jamais se esqueceria,
Ao longe no passado, a sala, o meu sofá
A morte redentora, eu sei demorará;

E amor, chamado Lara ainda me tortura
Na consciência plena estúpida amargura,
Sem rastros de esperança e sem talvez sequer

O quanto poderia e quando não vier
Deixando no passado a sombra de uma vida,
Há tanto sem proveito, há tanto consumida.

100

Um ano e a mesma cena; o silêncio do nada
O corvo toda noite e a vasta madrugada
Insone e sem saída, sem nexo em vão destino
E a cada novo dia, eu sei que me alucino

Na espera desta morte, há tanto abençoada
A imagem da mulher revive emoldurada
Nas telas do vazio aonde em desatino
Encontro o meu retrato exposto e me amofino,

Abutre rapineiro, eu preso em penedia,
Repete a mesma cena, um dia após o dia
E nisto me arrastando em busca sem proveito,

Jogado simplesmente, apodreço no leito,
E o quanto da mortalha, a vida prometeu
Só faz deste canalha, um novo Prometeu!