01
Ergástulos dos sonhos, fantasia
Perdida entre os sidéreos antros, guetos
E quando perfilasse em vãos sonetos
Os dias onde a sorte esvaecia
Vencido pelo algoz, dura agonia
Minúsculo delírio em poemetos
Vacantes emoções, frágeis duetos
Aonde vejo a morte a cada dia.
Expresso em solitária luz aonde
O tétrico desenho corresponde
Aos violáceos tons da minha tarde
Eflúvios entre fátuos e fugazes
Anseios e se tanto ainda trazes
O passo a todo instante mais retarde.
02
Excêntricos delírios que alimento
Tramando a cada ausência outro cenário
Ultrizes os desejos; necessário
Apenas um momento em doce alento,
E quando se mostrara a pleno vento
O passo muitas vezes temerário
Restando dentro em mim vivo corsário
Saqueia a cada audácia o sentimento
Falaz angústia toma em plúmbeos tons
Heréticos anseios onde bons
Destinos não pudessem ter além
Do quanto em solilóquio expresso à vida
A sorte desenhada e já decida
O que após a chuva à tarde, vem...
03
O olhar entremeado já se esguelha
E tenta inversa sorte após a queda,
Funâmbulo caminho aonde enreda
A vida num momento em vã centelha,
E a messe desejada não espelha
O quanto da emoção deveras seda
Quem tanto desejara e não conceda
Sequer o que a verdade invade e engelha.
Apresentado à dor solenemente
A tênue fantasia se desmente
E gera apenas isto: mero ocaso,
O caos reinando agora um absoluto
Qual déspota e deveras se eu reluto
Aos poucos no vazio já me aprazo.
04
Estéticas diversas regem vidas
E traçam dissonância aonde há tanto
O mundo se diverge e se me espanto
Encontras facilmente tais saídas
Por vezes até mesmo tu duvidas
E neste variável vil quebranto
Em vórtices diversos me agiganto
Turbilhonar caminho em despedidas.
Vacante coração se faz mais frágil
Aonde desenhar até ágil
O passo rumo ao êxtase final,
Edênica serpente nega o fato
E apenas solidão mera eu constato
Numa expressão deveras usual.
05
Supremos sofrimentos ditam regras
E teimam transtornando os sonhos quando
Meu mundo noutro mundo transbordando
Enquanto feramente; o desintegras
Às cegas perfilando cada passo
Vestindo esta satânica figura
Aonde o que inda posso configura
O olhar onde deveras sou escasso
Somente esta mortalha poderia
Traçar o quanto trago dentro em mim,
A furiosa noite de onde vim
Transborda a cada instante em tez sombria
E esta deidade morta agora rege
O sonho num delírio torpe e herege.
06
O vácuo penetrando o meu passado
Transcende ao meu delírio e inclemência
E gera novo rumo em providência
Mudando a cada instante este traçado,
Resumo noutro fardo o meu legado
E tento resgatar sem imprudência
Gerando um turbilhão em convivência
Com quem desejo sempre lado a lado,
Asados sonhos vagam pelo etéreo
E sei deste delírio onde sidéreo
Pudesse desenhar em astros vários
Resvalo nos meus ermos mais profanos
E bebo os dias calmos entre os danos
Por vezes, muitas vezes necessários.
07
Excêntricos e lúdicos momentos
Aonde volto a ser quase um infante
E tento quando a vida se adiante
Moldar ao menos paz; mansos alentos
Enquanto me envolvera em sofrimentos
Trazendo este delírio onde inconstante
A vida se transborda num instante
Depois traz um estio aos sentimentos.
E quando resoluto pude ver
As dissonantes sortes de um prazer
Nesta inconstância torpe e procelária,
Esdrúxulos cenários entre tantos
Provendo aos meus olhares, desencantos
Fortuna se mostrara temerária.
08
Nas vozes variáveis ventos vãos
Invadem os meus antros e se esvaem
Enquanto em tanto tempo já me traem
Esboçam expressões e sovam chãos
Adentro centros ermos entre os nãos
E calo quando em cárceres descaem
As asas libertárias alçam, saem
Gerando generosos gráceis grãos.
E tantas vezes; ouço as dissonantes
Incúrias entre fúrias em instantes
Diversos onde os versos; vejo aquém
Do quanto quis e quase nada tem
Somente a vã semente invés do sonho,
(Reveses costumeiros, beiras várias
E nelas as estrelas/luminárias)
Traduzem luzes; ânsias que eu componho.
09
Choroso vento invade a casa quando
Abertos os umbrais dos sonhos tragas
Além das variáveis destas plagas
As algas, os sargaços esgarçando.
Penetro entre os extremos externando
O quanto quero e tanto não afagas
Ascendo às ilusões e expões as magas
Angústias onde incrustas teu nefando.
Arquétipos de estéticas diversas
Excêntricos e hedônicos; pois versas
Por entre os ermos fundos de tua alma,
Nas furnas onde adornas os teus passos
E neles os meus sonhos seguem lassos,
Apenas a incerteza ainda acalma.
10
As noites entre luas tão remotas
Ascendem luminárias, mansas fráguas
E nelas deixas quietas turvas mágoas
Enquanto novos sonhos tu já notas,
E assim as dores fartas, frágeis cotas
Das quais em turbulência vejo as águas
Neste estuário espúrio tu deságuas
E quando se percebe em vão esgotas.
Resumos destes rumos entre pedras
E ao vê-los com certeza quieta medras
E morres num instante aquém do cais,
No quanto tu deveras bebes, trais
O risco de viver já não concebe
A imensa solidão de tua sebe…
11
O amor quando demais não permitindo
Sequer olhar além noutro horizonte
E a todo instante enquanto à luz aponte
Traduz outro momento também tão lindo,
E assim quando de ti fui emergindo
Bebendo a cristalina e rara fonte
E nela novo tempo já desponte
Raiando num sol claro ressurgindo.
Desvendo em ti os sonhos mais felizes
Enquanto deste encanto também dizes
Em tantas alegrias perfiladas
E assim sem termos mais nenhum tormento
O raio mais brilhante eu te apresento
Traçando em nós divinas alvoradas...
12
Não posso me esquecer decerto quando
A vida no passado mais cruel
Negava alguma estrela, escuro céu
E a lua nem além se imaginando,
Agora ao descobrir-te e me entregando
Invado num momento feito em mel
Risonho caminhar erguendo o véu
Aonde a lua segue iluminando.
Te sentido tão perto e nisto rume
O sonho ao te tocar bebe o perfume
E dele também outro agora exala,
E nesta rara troca o sentimento
Bem mais do que decerto algum alento
A cada noite chega e nos embala...
13
Amar e ser feliz; decerto é nisto
Que penso a cada instante quando a vejo
Inebriado à luz de tal desejo
Caminho pelo qual atento insisto,
E o quanto se mostrando enquanto assisto
O sonho delicado e mais sobejo
E nele com certeza este azulejo
Tornando o céu imenso e tão benquisto.
Depois das minhas tantas desventuras
Tocado mansamente em tais branduras
Explode dento em mim esta emoção
Ditando a minha vida doravante
E a cada novo passo se adiante
A luz onde meus dias tocarão.
14
Durante a vida inteira desejei
Apenas um momento de alegria
E quando a minha estrela tomaria
Com brilho sem igual inteira, a grei.
E neste desejar eu mergulhei
Sem medo de um tropeço e dia a dia
Além do quanto pude ou mais queria
Qual fosse neste mundo um manso rei.
Amor domina e déspota comanda
A vida e desnudando na varanda
A lua plenamente prata e bela,
E quanto mais te quero e mais te tenho,
O sonho transcorrendo em raro empenho
A força deste encanto ora revela.
15
Jamais eu pude mesmo acreditar
Na dura solidão se eternizando
E sinto esta mudança desde quando
Eu pude nos teus braços me encontrar,
E neste raro encanto, algum lugar
Mais nobre e mais suave me tomando
E assim ao te sentir também tocando
Estrelas; aprendi em ti vagar.
E alcanço paraísos nos teus lábios,
Os sentimentos livres, porém sábios
Realçam os delírios em nós dois,
Renova-se a vontade a cada instante
E nisto sem limites se adiante
O que deveras vem logo depois.
16
Entorna-se a ternura nos meus versos
Desde quando deveras conheci
A divindade imensa que há tem ti
E neste delirar, sonhos imersos
Encontro nos teus braços universos
E neles mergulhando eu me envolvi
Bebendo cada instante sei aqui
Dos rumos quando outrora eram dispersos.
E sinto-te também no mesmo barco,
No sonho que me trazes; eu embarco
E traço o meu caminho lado a lado,
Alado pensamento ganha o céu
Galopa sobre estrelas o corcel
Deixando qualquer sombra no passado.
17
Amar-te muito mais do que já pude
Vencendo estas defesas naturais
De quem ao enfrentar os vendavais
Perdera a cada dia a juventude,
A luz quando dispersa nos ilude,
Porém em ti pureza de cristais
Em dias sem igual, fenomenais
Vivendo neste amor raro e amiúde.
Sentindo-te percebo que também
O amor no mesmo vértice contém
Quem tanto neste instante se entregara,
Compartilhar a vida até que um dia
Após a própria vida eu viveria
Contigo em qualquer nova seara.
18
Não mais acreditava em abandono
Depois de ter podido nos teus braços
Vencer a imensidão dos meus cansaços
Enquanto nos teus passos eu me abono,
A vida no passado em medo e sono
Os dias entre tantos medos, lassos,
E agora ao perceber divinos traços
Aonde nos teus sonhos me abandono,
Deixando este perfume solto ao ar
Traçando aonde eu possa desvendar
A flórea maravilha em roseirais,
E quando a primavera nos teus olhos
Matara com carinhos os abrolhos
Vivemos nossos dias. Magistrais.
19
Jamais eu poderia desdizer
O quanto te desejo a cada instante.
A vida noutro passo se adiante
Neste horizonte feito em teu prazer,
Somente quando a pude conhecer
Meu mundo lapidando o diamante
Refém deste caminho ora brilhante
Desenha no teu sonho o amanhecer.
Uma estupenda luz dourando os céus
E neles entranhando os meus anseios
Sentindo a maciez de belos seios
Sob esta transparência feita em véus
E nesta fantasia eternizada
A vida noutra vida desenhada.
20
Não pude acreditar quando partiste
Deixando para trás quem tanto bem
Deseja e neste tanto já contém
Apenas o luar, amargo e triste.
E quando o coração ainda insiste
Bebendo a solidão nada mais tem
Senão este vazio onde o desdém
Aponta o caminhar atroz em riste.
Vencido pela angústia agora eu tento
Depois de tantos anos, sentimento
Esparso neste infausto rumo aonde
O amor que se fizera plenamente
Agora dos meus dias já se ausente
E nada; só saudade me responde...
21
Eu já nem posso pensar
No quanto que te queria
Mera e tola fantasia
Toma ao léu o seu lugar
E se tento novo mar
Entre tons de poesia
Nova sorte poderia
Dia a dia desenhar
Onde quer que eu esconda
Turbulência traz esta onda
Inundando toda a praia
Meu amor quando se quer
Toma o rumo que puder
E, tomara nunca saia...
22
Abro os olhos vejo além
Quem decerto tanto eu quis
Deste amor um aprendiz
Tanto sonho hoje contém
E se nada ainda vem
Meu olhar bebendo o gris
Segue os traços, aprendiz
Deste encanto feito um bem,
Desejado a cada instante
E se tento sempre encante
Coração aventureiro,
Depois disto nada resta
O meu sonho adentra a fresta,
Mas razão domina e esgueiro...
23
Ao sentir esta emoção
De te ter bem junto a mim
Tanta flor neste jardim
Nossos dias mostrarão,
E o luar beija o sertão
E por ela agora eu vim
Mergulhar no amor sem fim
Que meus olhos já verão
Neste olhar entremeado
Noutro tenro desenhado
Vago além em primavera
O cenário multicor
Traduzindo nosso amor,
Cada instante o sonho gera.
24
Muitas vezes vida afora
Encontrei desilusões
E se tanto em emoções
O meu canto ainda aflora
No final já se apavora
E bebendo solidões
Entre tantas que me expões
O final amor decora
Sabe bem e leva fé
No que tanto quis porque é
A verdade em sentimento.
Quando aquém do sol eu sigo
Não consigo mais abrigo
E me entrego assim ao vento.
25
Nada mais do que outra sorte
O meu canto quis buscar,
Mas distante do luar
Sem o sol que me conforte
Preparando para o corte
Onde nada fui achar
Quero apenas navegar
Tendo amor como o meu norte.
Norteando a minha vida
Tanto sonho já decida
Cada passo quando o der,
E o meu rumo no teu rumo
Desenhando agora assumo
Seja como Deus quiser.
26
A certeza em minhas mãos
O horizonte mais brilhante
Onde quer que me adiante
Já traçando nos teus chãos
Nem mais ouço ou quero nãos
E se tento doravante
Novo tempo mais constante
Neles sonhos, artesãos.
Vagamente o meu passado
Noutro tempo se inda enfado
Não resgato nada ali,
O meu tempo de viver
Eu só pude conhecer
Quando enfim te conheci.
27
Atravesso o tempo quando
Vou seguindo cada passo
E se assim querida eu faço
O meu mundo transbordando
Em delírio e desejando
Muito além de algum cansaço
Conseguindo o seu espaço
Noutro encanto derramando;
Vou a mando de quem quero
E se amando sou sincero
Nada espero só teu colo,
E se assim se faz a vida
Não encontro a despedida
Se em teus braços eu me assolo.
28
Jamais pude no passado
Perceber outro caminho
E se agora em ti me aninho
Depois deste, desolado
Vou seguindo este traçado
Feito em luz, brilho e carinho
E não sou já tão sozinho
Tendo alguém sempre ao meu lado,
Vicejando a primavera
Este amor que agora impera
Transformou a minha vida
Depois dele percebi
Tudo havia dentro em ti,
Labiríntica saída.
29
Aprendendo a cada queda
Outro tempo recomeça
E se tento e vou sem pressa
O meu passo em ti se enreda
O desejo que nos seda
Sem temor, nada tropeça
Quando aos sonhos se endereça
A ternura, uma moeda
Onde ascendo ao paraíso
Neste encanto eu me matizo
E te bebo sem parar,
Num desenho mais suave
Meu amor já nada agrave
Penetrando o céu e o mar.
30
Quantas vezes; já me ilude
O saber que nada sei
E se tento nova lei
Novo rumo ou atitude
A verdade é que não pude
Conhecer e nem terei
Nos meus braços quem busquei
Num momento em solitude.
Se a verdade leva à glória
A saudade é merencória
E decerto nos maltrata
Quando amor já se desfaz
Leva junto a minha paz,
Deixa a noite atrás, ingrata...
31
Um sonho que, de truz já me inebria
E invade cada passo aonde eu vá
Seguindo este delírio sei que lá
A vida não seria tão sombria
E quanto mais audaz a fantasia
Decerto a queda enfim provocará,
Mas aconteça além ou mesmo já
Somente por sonhar, pois valeria.
Ainda mais um canto majestoso
Embora saiba o tempo caprichoso
E dos momentos bons, mansos acordes
Deveras no final tu mal recordes,
Porém se vivificas raro gozo
Deste delírio farto enfim transbordes.
32
Aspectos tão diversos regem vida
E trazem discordância enquanto luto
Tentando conceber um mais arguto
Desenho aonde veja uma saída
A sorte tantas vezes decidida
Nos ermos de um delírio feito em luto
E quando em sonhos tétricos, reluto,
Presumo a cada ausência a despedida.
Vencer os meus fantasmas e poder
Após a própria queda renascer
E ver outro cenário mais tranqüilo,
Por estas e por outras é que enfim
Ao regimentar força dentro em mim
Além do quanto posso em paz, desfilo.
33
Um remoinho traça o meu cenário
Jocosamente exposto às ironias
E neste desenhar tanto podias
Alçar bem mais que um passo solidário,
Vagando tão somente solitário
Encontro os meus anseios e porfias
Tentando imaginar em novos dias
O quanto poderia e necessário.
Artífice dos sonhos, a esperança
Ao fim em denso vórtice já lança
E trama a cada passo a mesma ultriz
E sei quantos caminhos tive em vida
Fortuna noutra face distraída
Felicidade à plena, nunca a quis.
34
Abrindo estes portais a dita trama
Um novo dia após a queda insana
E ao ver a natureza sobre-humana
Que traça a cada instante o velho drama,
E quando realidade reina e chama
Tomando a decisão que sempre dana
Quem tanto vos queria, soberana
E a morte noutra face me reclama.
Quiçá felicidade fosse além
De um mero caminhar onde detém
O passo de um etéreo caminhante.
Porém ao ser em vós já não me atrevo
Enquanto amor se faz atroz e sevo
Meu passo do vazio ora se espante.
35
Olhando este sobejo e tão celeste
Desenho feito em olhos, eu reparo
No quanto o amor se faz audaz e claro
Enquanto em fantasias se reveste.
E pouco do desejo tu me deste
E neste desenhar eu me preparo
E sei ao fim de tudo, o desamparo
Embora outra esperança o sonho geste.
Resumos de uma vida entre redomas
E quando tua senda enfim tomas
Deixando para trás esta lembrança
Ao ver a imensidade em azulejo
Também neste momento a ti eu vejo
De certa forma o olhar te encontra e alcança.
36
Bem mais que uma ilusão pudesse ser
O quanto desejei e nada havia
E ao fim do meu desmanche a fantasia
Tornando em tempestade este querer.
Apenas vaga imagem; pude ver
Depois de tantas noites; alegria
E agora no silêncio tocaria
As velhas fantasias; desprazer.
E quantas vezes; tento um canto aonde
A solidão deveras corresponde
Ao que mais necessito, amor e paz.
Fantástica seara em emoção
Diversa destes dias que verão
A face amortalha e mais mordaz.
37
Amanhecendo em mim a vida eu pude
Cerzir com mais desejo outro caminho
E embora seja sempre mais daninho
O vento noutra tez agora ilude
E ainda se buscando a magnitude
Aonde é percebido o mais mesquinho
Olhar quando tortura; um vago espinho
Decerto tão atroz; soberbo e rude.
Depois de tantas noites solidão
Reveste o dia a dia e serão
Os sonhos tão somente pesadelos?
Os olhos de quem tanto imaginara
Tomando todo azul desta seara,
Um dia, aonde e quando eu posso vê-los?
38
Nas ruas e alamedas do passado
Antrazes entre fúrias, turbilhões
E ainda não redimes e me expões
Qual fosse este maldito algum legado,
E o vento muitas vezes desolado
Resulta destes tantos furacões
Numa explosão sem par, agora pões
O tempo noutro tempo aonde enfado.
E sinto apenas pena e nada mais,
As dores? São deveras rituais
E delas absorvendo cada toque
O rústico cenário em tez imunda
Enquanto de terrores já se inunda
Apenas desencanto me provoque.
39
Nos féis que a vida traz em cada dia
Expressas teus diversos desvarios
E contra a correnteza venço os rios
Depois de caminhar em tez sombria,
O manto se desfia e mostraria
Apenas os cenários mais vazios
E neles outros tantos tecem fios
Aonde na verdade nada havia
Somente este delírio a se mostrar
Tocando num instante este lugar
Demonstra a realidade aonde vivo,
E quanto mais pudesse libertário
Vencer qualquer temor; é necessário
Do amor não ser senhor e nem cativo.
40
Voltando o meu olhar para o passado
Expresso o que deveras tu me deste,
E neste delirar torpe ou agreste
A solidão num tempo mais nublado
O vórtice decerto anunciado
Aonde imaginara a paz celeste
Do nada a cada passo ora reveste
E desse vago rumo enfim me enfado;
Bebera com ternura uma esperança
E nela houvera fé, porém vingança
Domina o teu semblante em férreos tons,
E os dias que julgara serem bons
Marcando com terror o dia a dia,
E ao nada cada sonho levaria...
41
Os leitos plenos de éter perfumando
Incensos penetrantes e suaves
E quando mais além tu não entraves
Os dias de quem fora bem mais brando
O risco se assumindo desde quando
Esboçam reações supernas aves
Impávidos momentos têm as chaves
Do dia após o Dia anunciando
E o quanto se deseja e; às vezes, mudo
Delírio desenhado; mas, contudo
A vida se presume muito mais
Do que talvez pudesse ser tranqüilo
Enquanto no meu sonho ora desfilo
Essências tão supremas dos florais.
42
Às tumbas onde o sonho se esvaece
Mergulho a voz buscando alguma paz
E quanta vez sentindo que ali jaz
O amor quando o queria em vã benesse.
E sinto o tumular delírio na prece
Que aos mortos num instante mais capaz
Gerando novo tempo aonde audaz
Um raro templo em glórias se oferece.
E vago sobre as pedras deste cais
Sabendo enfim dos nossos funerais
Aonde quis a sorte alvissareira,
Mas quando em tenebrosa tez se fez
O amor perdendo rumo e lucidez
Demonstra muito aquém do quanto o queira.
43
As flores enfeitando cada túmulo
Aonde se entranhasse à fantasia
Além do quanto pude e mais queria
As dores vão chegando enfim ao cúmulo
Esboço que abortado não permite
O riso, o gozo, o pranto o medo e a fé
E sendo tão somente por quem é
No fim já não concebe algum limite
Escassas emoções e o risco zero
Assim preferes ver a tua vida,
Sem nada que traduza uma saída
Nem mesmo algum olhar manso e sincero
Austeridade em formas tão banais
Impedem nossos sonhos: sóis e sais.
44
No rústico desenho aonde um dia
Esboços tão diversos; quis e nada
Do quanto se pensara desenhada
A sorte noutra face mostraria,
E quando bebo em ti a poesia
Expressas num sorriso a alvoroçada
Vontade muitas vezes ansiada
E dela imenso caos provocaria;
Povoas com fantasmas o meu sonho
E vejo a cada instante outro medonho
Tomando plenamente o que pudera
Ser mais e sei agora não semeia,
Minha alma deste enfado segue alheia
Buscando a tão sonhada primavera.
45
Formosos olhos dizem do passado
Qual fosse alguma ponte onde se trama
Delírio sensual quando esta chama
Vestindo novo tom prenunciado.
Resumo cada passo no recado
Aonde novamente a paz reclama
Enquanto o dia a dia já se inflama
E marca cada sonho vislumbrado;
Aonde se pudesse ser edênico
O amor; um privilégio que ecumênico
Gerasse novo amor mais forte ainda,
Mas quando se abortando desde o início
Sabendo deste passo precipício
Apenas o vazio, a dor deslinda...
46
Impregnado de sonhos mais audazes
Eu tento um novo canto e nada vem,
Somente esta saudade quando alguém
Traduz os sentimentos que desfazes,
Por ter amor assim diversas fases
Geradas com carinho ou com desdém
O risco de sonhar deveras tem
Momentos tão sublimes ou mordazes.
E resignadamente busco a paz
E sei o quanto a luz já satisfaz
Quem tanto em trevas teve o mundo sevo
Ultrizes as insânias geram dores
E quando muito além ainda fores
Seguir-te, na verdade, eu não me atrevo.
47
À morte que consola e traz a paz
Marcando com real renascimento
O dia aonde em sonho eu me alimento
E neste caminhar sou mais capaz
Pudesse desenhar tempos atrás
O manso delirar e o pensamento
Teria no final discernimento
Que só maturidade à vida traz.
Neste outonal caminho reconheço
O amor como bem mais que algum tropeço
A benção que é suprema e libertária
Assim ao perpetrar em morte a vida
Minha alma com tua alma reunida
Na eternidade em foz tão necessária...
48
Uma esperança feita em sangue e pus
A liberdade exala os excrementos
E os olhos vão deveras mais atentos
Marcando cada passo aonde eu pus
O risco de sonhar e não reluz
A sorte noutra fonte de alimentos
Entregue o coração aos quatro ventos
Supero a cada instante nova cruz,
E vejo esta relíquia dita amor
E nela se percebe o multicor
Desenho aonde tudo pode e até
Vencendo os sortilégios e sevícias
Os sonhos se esbaldando em tais delícias
Apenas por somente ser quem é.
49
Um elixir que tanto me inebria
O amor já não comporta mais a si
E explode desde quando o percebi
Tomando com clamor vida sombria
E gesta em plena noite turva um dia
Aonde nem a bruma eu concebi
Vivendo este momento em frenesi
O quanto posso ou mais se concebia
Num átimo mergulho alçando os céus
E sei da maravilhas destes véus
Porquanto a vida tece novo rumo
E sinto novamente um brilho em nós
Deixando para trás o medo atroz
Enquanto este desejo em paz; assumo.
50
Ainda poderia haver quem sabe
O amor quando se fez apenas medo,
E quando nos teus braços me concedo
Impeço a fantasia que desabe,
E realçando além do quanto cabe
Sentindo as velhas tramas de um segredo
Desenho com ternura um novo enredo
E nada mais presume onde se acabe
Negando um estuário em turbulência
A sorte se produz sem inclemência
Vislumbra este cenário vivo em ti
E quando mais audaz fosse meu verso
E nele com ternura sigo imerso
Entregue ao tanto amor que eu concebi.
51
Há tanto o que fazer e nada posso
Senão ledo mergulho dentro em mim
E vejo do meu próprio camarim
Cenário onde bem quis deveras nosso,
E quando do vazio ora me aposso
Traduzo muito pouco e sei do fim
Aonde se pudera ter enfim
Palavra aonde amor tento ou endosso.
Resumo de outros tempos num só tempo
Transcende ao que pudesse em contratempo
E gera alguma messe ou esperança,
Mas quando se percebe a realidade
Apenas o silêncio ainda invade
Enquanto minha voz em nada avança.
52
Dos tantos dias turvos onde vejo
Os meus delírios fartos e entorpeço
Meu verso com amor, mero adereço
Espalha muito aquém de algum lampejo;
Resumo em solidão e sei do andejo
Delírio ensimesmado enquanto esqueço
Das contumazes quedas num tropeço
Deixando muito além o que eu almejo.
Esdrúxulos caminhos se adivinham
E neles tantas curvas me detinham
Enquanto acreditava em soluções.
E nesta tempestade presumida
Arcando com a dor invés da lida
À qual em tempestades tu me expões.
53
O ninho; aonde escondo os meus anseios,
Transcende à própria vida e dita além
Do quanto ainda resta e me contém
Mudando a direção de antigos veios
E sigo entre delírios, devaneios
Sorvendo o que decerto eu sei tão bem
Marcando cada passo e com desdém
Vislumbra outros iguais embora alheios.
Quiçá felicidade ainda exista
E nisto a sorte imensa que é benquista
Presume alguma luz instante após
E vejo o quanto posso ou mesmo quero
Sabendo desde então quanto é severo
O mundo que inda resta dentro em nós.
54
O amor quando em meus sonhos se aquieta
Vencendo dissabores, desencanto
Espaço aonde o tempo em paz garanto,
E neste caminhar superna meta
Resumo a sorte imensa em ser poeta
E acreditar no raro e belo canto
Gerado pelo espaço sem quebranto
Marcando com ternura e paz, tal seta.
Na cúpida beleza já sem par
O quanto ainda posso desnudar
Gestando dentro em mim felicidade
E neste desenhar me perpetuo
E sei quanto fui uno e agora duo
A messe incomparável que me invade.
55
Beleza em raras, alvas, belas trilhas
Traçadas pelo amor aonde aprazo
O sonho tão diverso de um ocaso
E nele em calmaria tu palmilhas,
E quando brilho farto em paz; polvilhas
Vagando pelo espaço sem acaso,
A vida se ilumina e neste caso
Também tu te iluminas e rebrilhas.
Vencer os meus tormentos e seguir
Rumando sem temores ao porvir
E nele derramar a paz enquanto
O templo se dourando em glória e luz
Ao mesmo tempo em sonhos reproduz
O imenso desvendar que em ti garanto.
56
Um anjo dominando o meu caminho
Traçando cada passo aonde eu possa
Viver esta emoção sobeja e nossa
E neste desenhar enfim me aninho
Depois de penetrar o mais mesquinho
Delírio, da esperança a voz se apossa
E vence no momento enquanto adoça
Meu canto muito além de algum espinho;
Dentre as roseiras tantas, a mais bela
E nesta maravilha se revela
O quanto sou feliz somente em vê-la
Deidade sem igual ou paralelo
Em ti a cada instante mais me anelo
Seguindo neste etéreo a imensa estrela.
57
Adelgaçando os sonhos onde um dia
Pudesse ousar em áureos brilhos quando
O mundo o também vejo em paz dourando
Trazendo a todo instante esta alegria
E nela novo canto moldaria
O rumo caprichoso se entornando
Num ato mais suave e sei tão brando
Aonde a fantasia se regia.
Após a queda vejo o renascer
De quem imaginara o bem querer
Somente como fosse algo comum.
Mas sei que amor igual jamais eu vira
Distante do desdém e da mentira.
Igual ao nosso amor? Não vi nenhum!
58
O mar em tantas vagas, mais bravio
Estende-se deveras em ressaca
E a imensidão decerto nada aplaca
Apenas poder vê-lo é um desafio
E quando se percebe e ora recrio
E esta onda furiosa agora ataca
E dentre tantas ânsias se destaca
Qual fosse um insolente desvario.
Ressalvas entre os medos mais constantes
E nestas heresias me adiantes
Somente este cenário torpe e vão
Os dias mais terríveis de um futuro
Diverso do que tento e até procuro
Teus passos neste mar transformarão.
59
Além no firmamento em tantas brumas
Dispersas solitários os meus dias
E quanto mais tentara e tu fugias
Também minha esperança; assim esfumas.
E quando noutro rumo agora rumas
E geras tão somente as agonias
E nelas se moldando hipocrisias
Meus sonhos em tempestas, leves plumas,
Esgueiro entre os diversos e sombrios
Caminhos onde tantos desafios
Expressam solitária e turva noite.
Do quanto pude crer e nada sei
Apenas o vazio toma a grei
E a solidão decerto ainda açoite.
60
Jamais acreditar em quem se faz
A cada novo dia diferente
E quando se promete não sustente
O rumo aonde sou mais pertinaz,
Vencer os meus demônios e ir atrás
De quem não pode mesmo que envolvente
O amor não mais seria tão clemente
Ousando numa voz leda e mordaz.
Neste momento bebo uma ilusão
E sei dos novos tempos onde o não
Realça a magnitude de um anseio.
Vestindo a intensa luz que sonegaste
A vida se perdendo em tal desgaste
Somente ora distante, eu devaneio...
61
O pensamento ao longe ora se espraia
E neste delirar porquanto imenso
Enquanto no passado eu teimo e penso,
A vida noutro instante já me traia,
Além deste oceano, cais ou praia
O coração agora vive tenso
E quando assim me perco eu me convenço
E creio ser melhor mesmo que saia.
A via de chegada e a de partida
São duas paralelas, mas diversas
Enquanto no princípio em sonho; imersas
As tramas da chegada; dizem vida,
Depois de certo tempo sem um norte
As de partidas lembram sempre a morte.
62
Enquanto a sorte aquém se faz amarga
E o coração deveras inda queira
Ousar numa esperança qual bandeira
E as mãos que nos consolam; ele as larga
A voz ensimesmada ora se embarga
E sabe deste ocaso a mensageira,
Uma esperança foge; derradeira
Amor já não comporta a dura carga.
E assim ao se mostrar em face vária
Ditame do prazer, da procelária
Em rumos divergentes, o caminho,
Se no começo de ti acompanhado,
O tempo com firmeza ensolarado;
Nublando quando estou ledo e sozinho...
63
Aonde poderia ter meus ninhos
E neles proteção contra um inverno
Que se aproxima enquanto em paz hiberno
Protejo-me de dias mais mesquinhos,
Mas quando se percebem tão sozinhos
O gélido cenário; diz do inferno
E neste paradoxo ora me interno
Sem ter sequer apoio nem carinhos.
Espúrio navegante sem seu cais
Exposto aos mais terríveis temporais
Na ausência de quem amo; só procelas.
Mas quando estou contigo em paz embarco
E navegando à solta o imenso barco
Abrindo sem temor as minhas velas.
64
A voz solta sem rumo no infinito
Perfaz na incoerência vários traços
E olhares penetrantes erguem laços
Dos quais eu te garanto, necessito.
O quanto deste amor é tão bonito
Vencendo a gelidez destes cansaços,
Mas quando ausente o sinto, vejo lassos
Os dias onde em nada eu acredito.
A vida se perfaz aonde há tanto
Buscara qualquer luz, delírio e encanto
E ao fim sem provisões, barco naufraga
E quanto mais vazio e sem um lastro
Não adiantam leme, vela ou mastro,
Não resistindo enfim à mera vaga.
65
A vida entremeada de surpresas
Por vezes em tons claros e celestes
Nos quais há tanto tu viestes
Vencendo em calmaria as correntezas,
Meus olhos de teus olhos, meras presas,
Porém em pouco tempo te revestes
De dores e terrores mais agrestes
E deixa muito além as sobremesas.
Cenários discrepantes, mesma vida
O vinho desejado ora se acida
E deste amor que um nos consagre
Depois de certo tempo, noutra face
Mostrando no final, quando traçasse
Das nobrezas do vinho, algum vinagre.
66
Os dias entre tantos são minúsculos
E nada se presume num porvir,
Cansado de o vazio repartir
Olhares se perdendo nos crepúsculos,
Da enciclopédia restam os opúsculos
E o tanto que pudesse sem sentir
A imensa tempestade que ao cair
Tesando inutilmente firmes músculos.
Aprendo a discernir caminhos vários
E sei dos meus anseios necessários
E tento novamente ser feliz,
Mas quando se percebe a pequenez
Da vida quando aquém tudo desfez,
Já não conseguirei o quanto eu quis.
67
Do todo imaginário nem esboço
E o corte se aprofunda desde já,
Aonde o meu destino levará
Não vejo outro caminho em alvoroço
O quanto se percebe nem um osso
Dos dias mais felizes restará
E o tanto que pudesse, mas virá
Na tarde redentora algum colosso.
E resolutamente nada tema
Uma alma acostuma co’a algema
Vencendo estas galés cotidianas,
E quando imaginavas um cativo
Até das esperanças eu me privo,
Mas saiba que decerto tu te enganas.
68
A vida traz em si a cada eflúvio
A reação talvez descomunal
E vejo noutra face o ritual
Gerado pelo caos de algum dilúvio
Ascendo ao que pudesse mais além
E sinto estar mais próxima a esperança
E quando neste anseio a vida lança
Meu passo em calmaria se detém,
E o riso toma conta do cenário
Gerando algum momento mais tranqüilo
E deste desenhar ora desfilo
O canto muito além do imaginário,
Rasgando o sentimento sou tão teu,
Porém o rumo a ti já se perdeu.
69
O quanto deste amor invade e dopa
Traçando a cada passo a direção
Num ermo mais audaz onde verão
As cenas magistrais sonhos em tropa
Adentro casa invado sala e copo
E os olhos procurando agora em vão
Quem tanto se fizera sempre em não
E este delírio audaz; sinto, não topa.
Toando dentro em mim um estribilho
Enquanto a solidão; teimo e palminha
Numa ânsia inesgotável, busco a vida.
E sinto a cada nova cinzelada
A face alabastrina deformada
Nas mãos desta artesã tão distraída.
70
Os olhos quando em ti petrificados,
Minha alma sem defesas tenta e brada
A terra dos meus sonhos bem arada
Garante uma colheita em meus legados,
Depois de dias duros, vãos enfados,
A sorte noutra face enveredada
Estradas do delírio eu sei de cada
E vejo os diamantes lapidados
Nas ânsias e suores de um anseio
Imerso em luzes fátuas. Devaneio
E chego mansamente a quem queria,
E assim ao transforma a pedra em jóia
Minha alma no infinito já se apóia
E torna esta esperança uma bandeira.
71
A vida preparando um novo adeus
E nele a solidão em dor se encerra
E quando poderia em paz; a guerra
Voracidade igual ao louva-deus
Marcando meus caminhos sem os teus
Vestindo a ingratidão que se descerra
Enquanto o meu destino, a porta cerra
E nada dos delírios, tolos, meus.
Ascendo ao mais terrível patamar
Cansado tantas vezes de lutar
E apenas entranhar nos ermos da alma,
Ao fim de certo tempo, nada resta
A imagem mais atroz, torpe e funesta,
Num paradoxo imenso é o que me acalma.
72
O coração invade as tuas plagas
Procura algum lugar onde ancorar
E sabe deste risco ao navegar
Enfrentando procelas, fortes vagas,
E ali a cada instante tu me alagas
Na furiosa senda a se mostrar
Distante do que pude imaginar
Ainda se um sorriso; em paz me tragas.
Vestindo esta ilusão de calmaria
O mar em mais temida rebeldia
Expressa a virulência de uma vida,
E quando se percebe sem saída
A noite em tempestade convertida
Impede um sol que além não mais viria.
73
A sorte; se vier em sonhos tece-a
E deixe para trás os desalentos
Seguindo com firmeza raros ventos
A vida não seria torpe e néscia
E quantas vezes pude mesmo ver
As farsas entre máscaras sutis
E neste caminhar sonho desdiz
Deixando amortalhado algum prazer
Expresso em paz ou guerra a minha sina
E sei do quanto posso ou mais pudera
E vendo se esvaindo a primavera
Ao ledo inverno a vida me destina,
Sagacidade invés de juventude,
Um passo sempre em falso; desilude...
74
A lua se perdendo nos neons
O mundo noutra face se formando
E o quanto se apresenta desde quando
A sorte discernisse raros dons,
E ao longe de violas, mortos sons
O canto noutro rumo transtornando
O velho coração em contrabando
Espera os delicados, mansos tons.
E arisco o pensamento agilmente
Procura outro cenário e se apresente
Nos ermos de algum gueto do passado,
Um chope, um coração enamorado
Nos bares da cidade, noite afora,
E a lua que deveras se escondera
Agora se desnuda em vela e cera
E o peito de um poeta enfim decora.
75
Vagando em tais caminhos, nada doma
O coração de quem vence o senão
E sabe dos tormentos que virão
E neles com certeza tudo soma,
O vórtice devora e gera o coma
Mudando num imenso turbilhão
Gerando novos tempos, solidão
E o risco de sonhar, a vida toma.
Na farsa desenhada a cada instante
O olhar se perde e sempre degradante
Explode no horizonte sem porvir,
E após as discordâncias sonho/dita
O tanto que deveras se acredita
Impede quem deseja prosseguir…
76
Ainda quando em sonhos me aprofundo
Olhando para além a alta montanha
O vento que o cabelo agora assanha
Transporta um ar sereno e vagabundo,
E resolutamente adentro o mundo
Ousando a cada passo noutra sanha
E vejo este senão que me acompanha
Girando contra o tempo, num segundo.
Esboços de esperanças, inda trago
E quando teu olhar suave e mago
Trouxera a panacéia desejada
Alquímica beleza me sacia,
Mas logo se percebe outra ironia,
Do todo imaginário, resta o nada...
77
Os dias entre medos e destroços,
O risco de sonhar é sempre igual,
E quando imaginara catedral
Encontro tão somente os velhos fossos,
E neles expressões de mortes e ossos
Num tétrico momento ritual
Ascendo ao que pudesse e bem ou mal
Cavando dentro em mim crateras, poços
O tempo, este artesão nada perdoa
Uma alma caminhando agora à toa
Entoa este passado em voz constante,
De um tempo mais tranqüilo, nada vejo
Somente o destroçar de algum desejo
Aonde o nada volte e se agigante.
78
Tentando nesta vida progredir
Sabendo do futuro ora estupendo
De quem neste cenário agora crendo
O tanto que inda busca o permitir,
E sei das discordâncias de um porvir
Num ato mais atroz e quase horrendo,
No amor se temperando ou já temendo
O passo noutro passo a resumir.
A vida não se dá tão meramente
Quem quer e na verdade se apresente
Não pode mais temer o quanto resta,
Porém quem vive sempre na defesa
Da solidão, deveras frágil presa
Terá noite dispersa e até funesta.
79
Ainda que perceba novas luzes
E delas faça a minha direção
Faróis das esperanças mostrarão
Caminho aonde em paz tu te conduzes,
E quando nos teus olhos reproduzes
Beleza sem igual; se notarão
As sendas mais audazes de um verão
Ausente nos caminhos flóreos; urzes.
A vida muitas vezes mera ultriz
Gerando muito aquém do que se quis
Tramando a queda a cada novo passo,
Mas quando nos teus passos vejo os meus
Os dias em supernos apogeus
Futuro incomparável; tento e traço.
80
Querida na verdade não resguardes
A vida não permite economia
E saiba da beleza a cada dia
E nela novo rumo em paz aguardes,
Sentindo algum frescor em mansas tardes
No sol que porventura inda irradia
Tocando com beleza e poesia
Sem tantas ilusões, sequer alardes,
Assim se preparando para a noite,
E mesmo que o passado vivo açoite,
Sereno te aplacando em mansidão,
Viver cada momento sem poupá-lo
Seguindo a correnteza em seu embalo
Permite as calmarias que virão.
81
O coração exposto agora nu
Na senda mais audaz onde se queira
Do amor bem mais que mera e vã bandeira
O gosto mesmo amargo, duro e cru;
A sorte em discordância muita vez
Impede o caminhar por onde eu quis
E ao pôr o meu delírio de aprendiz
O tanto que pudesse se desfez,
Vacante esta esperança ora denota
Apenas o vazio onde legaste
A vida num tormento e sem tal haste
A sensação espúria da derrota.
E o caos se aproximando no horizonte
Saída? Nem sequer uma se aponte...
82
A vida se permite e mesmo aquém
Do quanto poderia em realidade
Marcando com terror felicidade
O olhar se transbordando num desdém
E quando esta saudade invade e tem
Poder de gerar dor e iniqüidade
Aonde se tentara à saciedade
Nem mesmo uma esperança ainda vem.
Resgato pouco o pouco os meus escombros
As luzes bem acima destes ombros
Cansados desta liça rotineira,
Depois de tanto enfado, dor e medo,
Às ânsias mais sutis eu me concedo
Embora o sacro amor já não me queira.
83
A cada novo passo, um mesmo tombo
E o sonho que eu buscara, derradeiro
Agora de outro sonho é mensageiro
E neste caminhar o imenso rombo
Quem dera a liberdade de algum pombo
Vagando pelos céus, alto e ligeiro
E o corte não seria costumeiro
Vergastas açoitando a carne, o lombo;
E tanto pude crer noutro segundo
E destas ilusões ora me inundo
Cerzindo alguma luz após a treva
Minha alma sem limites, mora e seva
Já não resistiria ao tom profundo
Aonde no vazio não se ceva.
84
O quanto deste sonho não gerou
O que necessitara; meus altares
E assim se perceberes e notares
Do tanto quase nada em mim restou,
Extasiada noite terminou
E bebo dos antigos lupanares
Alçando outros caminhos, meus lugares
Aonde o meu destino se traçou.
Um pária no vazio se arremete
Uma esperança tola, este ginete
Adentra e galopando chega ao nada,
Tropéis em ilusões; o tempo esgarça
O sonho na verdade é mera farsa,
A vida noutro tom leda e forjada.
85
A sorte se desenha em inclemência
E traça a cada dia o desprazer
E quando do passado quis rever
O olhar aonde amor dita inocência,
O risco de sonhar, mera ingerência
Nos ermos de uma vida a se tecer
No tépido delírio de um viver
Além do que pudesse a consciência
Ao burilar em mim teus alabastros
Os dias perdem rumos e sem lastros
Naufrágio se aproxima; inevitável
E o quanto procurei e anda havia
Somente a mera e tola alegoria
De um tempo muito aquém do imaginável.
86
Enquanto a realidade devaneia
Vagando imensidades céu e mar,
O quanto poderia enfim amar
Expressa a solidão e nada anseia,
Minha alma se adentrando em cada veia
Presume novo tempo a desnudar
E quando se percebe sem lugar
Apenas do que eu quero; a mera teia.
Ateiam-se nas fráguas ilusões
No fátuo caminhar; agora expões
Os ritos mais banais e derradeiros,
Os olhos outonais não mais comportam
E os dias para além agora exortam
Traçando esta aridez em meus canteiros.
87
Diversos passos entre as multidões
E nestes caminhares as idéias
Quais fossem na verdade panacéias
Explodem em diversas direções,
E quando novo rumo tu compões
Não vês as reações destas platéias
As almas solitárias, pois atéias
Vagando sem destino ou provisões.
Esboçam luzes quando em paz concebes
Diversidade rara em tantas sebes
Grilando glebas várias, um posseiro.
O amor já não suporta alguma algema
E quando verdadeiro nada tema,
Esquece para sempre o cativeiro.
88
O olhar em claridades, luminoso
A mão entrelaçada em ódio e ferro
E quando encurralado tento e berro
O riso em ironia, caprichoso,
Crateras dentro da alma, meu legado
E neste desenhar pouco me sobra
A vida reconhece cada dobra
E nisto após o sonho ora me enfado
E tento vicejar aonde um dia
A flórea primavera pode até
Traçar outro caminho no sopé
Da rara cordilheira que se erguia
Com bases neste encanto iridescente
Do amor que se demais tanto apascente.
89
Os corpos desenhados, claros nus
Angústias do passado, desalentos
E quando se percebem mais atentos
Ao farto delirar em força e luz
O amor sem ter limites nos conduz
E bebe em mansidão incríveis ventos
Tomando sem defesas; pensamentos
Deixando no passado o medo e a cruz.
Expresso a cada verso outro desenho
E quando em alegria busco e venho
Cerzindo esta vontade sem igual,
O tempo antes brumoso se faz claro
E tudo o quanto eu quero ora declaro
Num ato tão superno e magistral.
90
O quanto imaginara do futuro
Vencendo as discordâncias, tanto não,
O sonho doma passo e direção
E assim do meu caminho eu me asseguro
O quanto deste solo fosse duro
Negando a mais tranquila plantação
Matando com angústia cada grão
E sem esta semente não perduro.
Anunciando o fim de uma colheita
Aonde no vazio se deleita
A fome, a fúria o medo e nada mais
O quanto de outro sonho em mim matizo
Exposto à violência do granizo
Entregue sem defesa aos temporais.
91
O coração decerto um moribundo
Aguarda esta passagem terra/léu
E quando se mostrara mais incréu
Vagando sem destino pelo mundo
Nas tramas da ilusão eu me aprofundo
E sito o meu destino em farto mel,
Embora a solidão seja cruel
Dos ermos da esperança ora me inundo.
Edênicos caminhos? Nada disto,
O verdadeiro sonho aonde insisto
Traduz a liberdade em plenitude
Em fátuas faces faço este cenário
Que um dia percebera temerário
E agora noutro instante se transmude.
92
Durante a minha vida em vãos escolhos
Os olhos procurando além da serra
O quanto da esperança se descerra
E traz delírios fartos, doces molhos,
E sei dos meus vazios e; portanto
Depois de tanto tempo em solidão
Encontro em ilusões a provisão
E neste fátuo rumo eu me garanto.
Vestindo a crença aonde nada havia
Preparo a caminhada para o adeus,
E os dias entre tantos, vãos e ateus
Agora noutro instante em alegria.
Tecer esta mortalha libertária
É mais do que sublime. É necessária.
93
O quanto deste olhar raro e brilhante
Recende ao doce aroma de uma rosa,
E a vida noutra face majestosa
Um dia mais tranqüilo me garante,
E quando se anuncia a cada instante
A dura solidão que o sonho glosa,
A estrada aonde fora pedregosa
Mudando este cenário doravante.
E bebo com fartura esta esperança
E nela o meu caminho em paz avança
Na força geratriz que me domina,
E sei da mais sobeja maravilha
Aonde o coração agora trilha
Ao revitalizar a amarga sina.
94
A vida em dor e medo, falsa idéia
De um tempo mais amargo onde à deriva
O barco da esperança já se priva,
Procura no vazio a panacéia,
E sinto ainda em mim a incúria atéia
E nesta sensação ainda viva
A luz não mais seria lenitiva
A abelha se perdendo da colméia...
E neste caminhar em meio às urzes
Ainda que diverso e além conduzes
No fundo o quanto resta é simples, mero.
E sei deste momento em dor e pranto
É quando novo tempo eu não garanto
Embora seja tudo o que mais quero.
95
No olhar mais tenebroso tais adagas
A fúria a cada passo determina
Uma aridez matando cada mina
E neste desenhar destróis as plagas
Aonde as ilusões enquanto vagas
Expressam o que tanto me fascina
E quando mais de perto se examina
Em turvas heresias tu me alagas.
Numa expressão de horror temor neste ódio
Lauréis já se afastando de algum pódio
O plúmbeo do horizonte mais grisalho
E nele com certeza se me espalho
O dia não trará o quanto busco,
Num sonho tão escuso quão velhusco.
96
O amor por ser assim diverso e imenso
Encontra mesmo em pedras uma alfombra
E quando a solidão, já nos assombra
Apenas no vazio em dor eu penso
E acentuando a vida em dor e pranto
Não posso discernir qualquer alento
E mesmo quando além ainda tento
A cada nova ausência já me espanto
Restauro os meus domínios e persigo
A plenitude aonde um dia errei
Quem dera do destino ser o rei
Sabendo a cada curva o seu perigo.
Mas vejo mais distante esta ilusão
E os dias entre trevas nascerão...
97
O amor não se permite algum rebanho
No quanto a cada passo revivera
Além da sensação de vela e cera
Nas ânsias libertárias eu me banho,
Não vejo neste sonho perda ou ganho,
Apenas da verdade me embebera
E assim outro cenário eu concebera
Sem medo, sem temor e sem tamanho;
Expresso cristandade neste fato
E sei o quanto em mim ora resgato
Ousando em libertar meu pensamento
Amor jamais se queda ou ajoelha
Não sou e nem serei a mera ovelha
Porquanto pescador, em vida eu tento.
98
O tempo se anuncia bem mais frio
E neste desenhar o sonho oculto
Permite que se veja etéreo vulto
Aonde o meu caminho eu desafio,
Perdendo em labirinto qualquer fio
Minha alma se prendendo em tal tumulto
O sonho mais audaz agora ausculto
E bebo deste céu, mesmo sombrio.
Mortalhas representam redenção,
No véu em grises tons, a liberdade
E quando esta benesse enfim invade
Traçando a mais real libertação
Eu possa me dizer do quanto eu quis
E sei, por algum tempo, eu fui feliz.
99
Enquanto no passado ainda foras
Diversa do que agora gera espanto
Anunciando a vida, enquanto canto
Procuro por palavras redentoras.
E sei das minhas ânsias sonhadoras
Envoltas em ternuras ou quebranto
E neste delirar eu me agiganto,
Embora as noites sejam corruptoras.
Os sonhos não traduzem o que possa
Seguir sem perceber a fria fossa,
Nem mesmo algum tropeço inevitável,
Mas sei quanto é preciso caminhar
Na busca por qualquer manso lugar
Que seja pelo menos mais arável.
100
Enquanto a solidão tento e deserto
O olha de outro momento convencido
Tocando o meu delírio presumido
Num coração deveras sempre aberto
E quando da esperança em paz me alerto
Deixando o sofrimento em vago olvido
O dia noutro dia resolvido
E assim após o medo; a paz, desperto.
Restauro os meus caminhos e sei bem
Do quanto em emoção amor contém
Gerando novo amor somente por
Sentir esta expressão sem paralelo,
Por isto meu destino quero e selo
Nas ânsias mais audazes deste amor.
PARA TANTOS, PRINCIPALMENTE MARCOS GABRIEL, MARCOS DIMITRI E MARCOS VINÍCIUS. MINHA ESPERANÇA. RITA PACIÊNCIA PELA LUTA.
sábado, 7 de agosto de 2010
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
44201 até 44300
1
Neste espaço sideral
Entre fúrias e tormentas
Quantas vezes inda tentas
E deveras bem ou mal
Adivinha-se o final
E se tanto me acalentas
Na verdade desalentas
Lento frui o vago astral.
Resplendores onde um dia
Tarde tépida e sombria
Anuncia a tempestade
Na ansiedade de compor
Onde quer ou mesmo for
Outro passo não a agrade.
2
Cavernosas sendas; creio
Serem éteres do sonho
Onde tudo o quanto oponho
Traduzindo em tom alheio
Com certeza me incendeio
E presumo outro enfadonho
Caminhar se me ponho
Não encontro meio e veio.
Esperando alguma luz
E severa noite eu pus
Entre tantos erros meus,
E singrar sem direção
É morrer embarcação
Sem o leme e nestes breus.
3
Tenros tempos de criança
Cadavérica figura
Onde agora se assegura
E o passado não alcança
Procurando a temperança
Numa noite torpe e escura
Ao vazio a voz mistura
E o fim ao mar se lança
Velejar contra a maré
E talvez ser e como é
Discordante a cada ausência
Nada faço ou falo ou tento
Quando a morte em desalento
Impera sobre a inocência.
4
Mumifico o sonho quando
Esbarrando em tais escórias
Procurando por vitórias
Nalgum ermo penetrando
O meu canto se negando
Sonegando algumas glórias
E se trago merencórias
Horas outras; tento e abrando.
Sacrifícios entre engodos
E penetro nestes lodos
Mofos da alma itinerante,
Cinzeladas picardias
Onde nada mais sabias
E talvez nada adiante.
5
Numa gravidade imensa
Outra eu tinto em carmesim,
E buscando sempre assim
O que ainda recompensa
Quem decerto sempre pensa
Entre as penas traça o fim,
Presumindo o que há em mim
Nada mais sequer convença.
Esgueirando pela porta
Vejo a sorte agora morta
Espraiada sobre o chão
Neste vândalo começo
Enviando o que do avesso
Não teria solução.
6
Vento um artesão das folhas
Envereda seus caminhos
Muitas vezes mais daninhos
Entre tantos que inda escolhas
No final nada recolhas
Tão somente vãos espinhos
E se queres passarinhos,
Vendavais; decerto colhas.
Seduzido em verso teu
O meu canto se perdeu
E não tem mais nada além
Do vazio em que se lança
Onde busco uma aliança
Desdenhosa face vem.
7
Tristes temas entre tantos
São deveras companheiros
Dos meus dias derradeiros
Entre dores, desencantos,
E decerto mensageiros
Tramam risos, bebem prantos
E no fundo meus espantos
São adubos de canteiros
Onde gesta esta infinita
Tepidez que necessita
Desta incúria feita em vida,
Aprisiono em dura cela
O que tange e se revela
Bem além do quanto urdida.
8
A beleza, deusa rara
Onde tanto se presume
Mais do que mero perfume
Deidade se escancara,
Mas no fundo outra seara
Esta vida em vão resume
Neste tempo aonde esfume
Qualquer glória imensa e cara;
Vendo assim a foto antiga
De quem tanto desabriga
Hoje entendo este abandono,
Quem um dia se apodera
Mesmo após a primavera
Do infinito quer ser dono.
9
Incompletos passos traço
Onde um dia me fiz tanto
E se busco ou não garanto
Perco assim o ledo espaço,
E decerto este cansaço
Traduzindo algum quebranto
Gera além do próprio canto
Um caminho atroz e lasso.
Presunção de quem se dera
E não vira esta pantera
Na tocaia a cada instante,
Num errático delírio
Bebo as sendas do martírio
Quando o passo se adiante.
10
Dos horrores mais atrozes
Vidas tantas que perdi,
E se em tanto mereci
Submetido aos vãos algozes
Com olhares que ferozes
Transcendendo em frenesi
Outro tempo eu conheci,
Mas agora nem as vozes.
Esplendores? Nada disto
O que agora ainda assisto
Derrocada em ato insano,
E se tento reações
No caminho onde as dispões
Novamente enfim me dano.
11
Quando em mim esta alma enrugo
Eu bebendo do passado
Mesmo estando extasiado
De mim mesmo sou verdugo
Ensimesmo e assim alugo
Outro tempo desenhado
Bem diverso do nublado
Onde tanto sou refugo.
Num refúgio aonde eu possa
Superar a velha fossa
E beber eternidade,
No final eu me aconselho,
Porém vejo neste espelho
Esta vã senilidade.
12
Quando em tom misterioso
O desejo se fez tanto
O que ainda não garanto
Não permite outro danoso.
Revestido em pedregoso
Delirar, o desencanto
Reformula enfim meu canto
E o contorna caprichoso,
Num delírio em verso apenas
No que tanto me condenas
Expressões diversas usas,
E as passadas ao futuro
Na verdade eu asseguro
Serão sempre mais confusas.
13
Lavrador buscando além
De uma frase simplesmente
O que tanto esta alma mente
Na verdade nunca vem
Ao trazer o teu desdém
Entendendo-o plenamente
Num resumo já freqüente
O restante nada tem.
Expirando um ar sombrio
Quando tanto desafio
E o cenário se deforma
Um patético poeta
Quando em vida se repleta
Assumindo nova forma.
14
Esquelético porvir
Do meu sonho em provimento
Quando erguendo um pavimento
Não permite mais subir
E o que busco inda sentir
Não somente é desalento
Até mesmo me alimento
Do que tanto a repartir.
Esquemático delírio
Traz nas mãos o velho círio
Numa busca milagrosa,
Mas a vida em romaria
Tanto faz quanto faria
O jardim matando a rosa.
15
Escavando esta seara
Adentrando em rasa cova
O meu canto se comprova
Muito além do que esperara,
Traduzir a sorte quara
Os delírios noutra alcova
Da emoção imensa sova
Na desova se prepara
Numa vã mortalidade
Atravesso a meia idade
E penetro em ar senil,
Vendo a fátua luz da tarde
O meu passo não retarde
O que resta já se viu.
16
Lúgubre decerto eu sou,
Mas realidade dita
Noutra face mais aflita
Esta tanto que restou,
Meu caminho se gestou
Lapidando outra pepita
E onde quer nada acredita
Quem deveras provocou.
Queda após a queda após...
E o tormento mais feroz
Repetindo em ladainha
Compartilho o mesmo verso
E se nele eu me disperso
Pouca coisa inda continha.
17
Esforçando o passo quando
O meu tempo já se esgota
Preparando a mesma rota
Noutra rota se formando,
E decerto eu sou infando
Muito além de qualquer cota
Se esta vida me amarrota
Noutra tanta enveredando.
Vasculhar o que me importa
E fechar a aberta porta
Deste estúpido temor
De viver ansiosamente
O que a vida já desmente
E sonega em novo amor.
18
Descarnado após a queda
Nada resta do que um dia
Alma louca fantasia
E decerto em vão se enreda
Ao pagar, mesma moeda
Pouca coisa restaria
De quem vive esta utopia
E no nada; apenas seda.
Penitente aonde eu pude
Noutra face sou mais rude,
E não deixo nada em branco
Quantas vezes for preciso
O meu ar; sempre matizo
Quando a mim sou bem mais franco.
19
Ao sair do pensamento
A palavra sem a forma
Noutra farta se transforma
Na razão do frágil vento,
E seguindo mais atento
Percebendo o quão deforma
O meu rumo na reforma
Deste etéreo sentimento
Num atroz caminho vaga
E se bebe a fúria maga
De quem tanto quis começo,
Ao mostrar a minha cara
O meu antro se prepara
Revirado assim do avesso.
20
Emblemático destino
Amortalho enquanto luto
Se por vezes sou astuto
O vazio eu determino,
E bebendo em desatino
O caminho onde reluto
Na passada traço o luto
E deveras me alucino.
O meu verso que assim busco
Tendo o tom bem mais velhusco
Do que pude imaginar
Cerzi apenas o passado
E transgride o desejado
Deixa aquém qualquer lugar.
21
Restando muito pouco dentro em mim
Daquele que se dera plenamente
Ainda quando a vida se apresente
Saindo deste etéreo camarim,
E vejo o que desenho e até o fim
Tocado pela angústia e tão somente
Tentando noutro chão esta semente
Na desmedida forma de um jardim.
No quanto busco a minha liberdade
E neste tom a vida agora invade
Deixando para trás qualquer algema
Tomando a direção; rosa dos ventos
E nela se presumem sentimentos
Enquanto o firme olha já nada tema.
22
Na noite encantadora feita em brumas
Espúrias criaturas quais zumbis
E nelas outras tantas quantas quis
Vagando enquanto além tu já te esfumas
E quando em direção diversa rumas
Teimando e provocando a cicatriz
O olhar que imaginara agora gris
Entoa com terror e não te aprumas;
Ferrenhas noites vagas entre tantas
E nelas nada mais queres, garantas
Senão este demônio onde cevaste
A vida em sortilégios e abandono
E quando do teu rumo ora me adono
Retiro o quanto pôde ser uma haste.
23
O céu entre sombrias, vis matilhas
Espraia entre meus olhos nuvens fartas
E nelas os teus passos; já descartas
Bebendo as mais temidas armadilhas
E quando no horizonte espúrio tu palmilhas
Expondo sobre a mesa as velhas cartas
Ainda quando muito não compartas
E traces o temor onde te humilhas.
Sedento cão em busca de algum sonho
Perpetuando o vão eu decomponho
Meu passo entre as quiméricas loucuras,
E sendo companheiro ou mesmo quase
Ainda que a verdade o tempo atrase
Das ânsias mais sofríveis me asseguras.
24
Alcovas entre fúnebres venais
E neles tantas vezes me julgares
Gestando dentro em ti tais lupanares
Vertendo em vãs sangrias rituais,
Os ermos de minha alma em ledo cais
E nele se fizessem teus altares
No quanto queres mesmo e; provocares
Das jugulares bebo em tons fatais.
Hercúlea fantasia uma obsessão
E nela cada acerto, outra exceção
Denota muito bem quem fomos ontem,
E o quanto do futuro se dissolve
Enquanto a vida além tanto revolve
E deste desencanto os sóis dissolvem.
25
Transtorno-me em demônio quando a vejo
E sinto esta sangria e me alimento
Do quanto se presume em vão tormento
Deixando-a muito aquém deste desejo,
E quando o vento fosse benfazejo
Apaziguando em nós os tais tormentos
Os dias são somente os excrementos
De um tenebroso mar onde pelejo.
O olhar se penetrando mais selvagem
Traduz a tez voraz desta miragem
Arcaica, porém viva e renascida
Após a morte insana que provei,
Agora ao retornar à velha grei
Sorvendo o que te resta ainda em vida.
26
A noite aonde anseio uma mudança
Gestando uma emoção diversa, quando
O tempo se anuncia e já nublando
Ao êxtase divino ora me lança
Matando o quanto resta em esperança
O riso mais sardônico e nefando
Em outro tão igual se transmudando
E neste desenhar nada se alcança
Senão esta mortalha e ora reveste
O coração atroz, dorido e agreste
Marcado pelas lanças de uma meta
Trucidada a cada negação
E aonde os meus delírios levarão
A vida nesta morte se repleta.
27
Noctívago fantoche se anuncia
E dentro de minha alma perambula
No olhar quando esfaimado espúria gula
Transborda nesta foz, atroz, sombria
Marcando e amortalhando a poesia
E nela novo tempo já se ondula
Terrivelmente o tempo coagula
E gera após queda outra sangria.
Vertentes paralelas, vida e morte
E neste emaranhado eu me conforte
Apenas na mortalha que ora teces
E tendo em tais tormentos sortilégios
Momentos magistrais audazes, régios
Parindo a cada instante; áureas benesses.
28
Devoras com angústia e sofrimento
Selvagens ilusões e nelas vejo
A pútrida emoção nalgum desejo
Porquanto outro caminho; ainda tento
E sei que o libertário pensamento
Traçando na masmorra um raro ensejo
E nela com ternura eu me verdejo
Depois de tanto espúrio sentimento;
Tenacidades marcam o meu verso
E quanto mais audaz, frio e perverso
Maior esta deidade que satânica
Adentra uma alma turva em tom sombrio
Enquanto deste tanto desafio
A morte não se faz de forma orgânica.
29
Abrumam-se os desvios onde eu pude
Traçar a discordante maravilha
E nela quando a sorte já polvilha
Espalha sobre tudo olhar mais rude
E vejo assim diversa esta atitude
E quando em profusão meu passo trilha
Seguindo cada estorvo da matilha
Aonde atropelei a juventude.
Corcéis ao galoparem infinito
Transladam o que tanto necessito
Esboços de medonhas faces onde
O nada se transforma em plena luz
E o corte que profanas reproduz
A podre sensação que o corresponde.
30
Despertam dentro em mim as demoníacas
Entranhas mais atrozes e vorazes
E assim o descaminho ora perfazes
E traças com as vozes vãs, maníacas
As horas mais venais, afrodisíacas
Permitem gozos fartos e fugazes
Medonha escória; em luto agora trazes
Em convulsões espúrias e cardíacas
Legando ao que virá o mesmo impasse
E dele novo rumo não se trace
Senão esta terrível inclemência
A morte noutra face se apresenta
E bebo desta tez dura e sangrenta
Numa expressão de pura virulência.
31
Esta tristeza etérea, mas palpável
Denota o meu caminho nevoento
E quando alguma luz; inútil, tento
Destino se demonstra inexorável
E bebo demoníaco e intragável
Na gélida expressão de um sentimento
Aonde; se não há, decerto invento
Um ar sem mais proveito, insuportável;
Esfumo entre os espectros que carrego
Eflúvios costumeiros do meu ego
Vestindo algumas lúbricas promessas,
E quando me fez lúdico e banal
O canto se perdera e sem degrau
No quanto almejas ter; tu já tropeças.
32
Um mar tempestuoso ensimesmado
Navego desde quando a minha ausência
Gerada pela incúria em inclemência
Reinara plenamente no passado
Num éter muitas vezes desenhado
Na fátua sensação de impertinência
Não quero doutro fato uma ingerência
Mudando o que deveras foi traçado.
Eu sei o quanto espúrio sou; portanto
Aos ermos de minha alma eu me adianto
E bebo em tons opacos nuvens fartas,
Dos meus demônios cuido e muito bem
Sabendo o quanto a angústia me contém
E nela meus delírios dão as cartas.
33
Vindima produzindo este vinagre
E dele me espalhando sobre o chão
Esgoto os dias turvos que virão
Atrozes quando a dor deveras sagre
E gere a cada passo outro milagre
Da morte na total renovação
E um ser exposto à vaga mutação
Somente na mortalha se consagre,
E beba esta acidez porquanto a vida
Expressa a solidão e quando acida
Jamais se permitindo outro nuance,
Depois de tantas noites, brumas, ledo,
O caos reinando aonde à dor; concedo
Além do quanto mesmo o sonho alcance.
34
A vida sendo esboço do que um dia
Pensara em tom suave e agora a vejo
Desnuda num realce de um lampejo
Aonde nada mais, pois se veria.
Esgoto o meu delírio em fantasia
E bebo deste tétrico desejo
Na fétida ilusão aonde almejo
O risco após a queda em agonia.
Eu sei que no final tento um sorriso
E vago entre o mais certo e este impreciso
Delírio onde sacio a minha sede
E o quanto no passado a juventude
Traçara outro desenho, apenas pude
Deixá-lo qual um vão nesta parede.
35
Uma dor entremeando quedas, medos
E nestes desenhares meus delírios
Bebendo a cada ausência estes martírios
E neles os anseios, frágeis dedos
Percorrem o passado em desenredos
Tramando o meu futuro em alvos lírios
E após a procissão dos sonhos, círios
Em romaria dizem dos degredos.
No féretro dos tolos ideais
As noites entre espessas nuvens, tais
Momentos envolvendo a minha história,
E quando alguma luz se vê aonde
A vida em tom escuso corresponde,
Apenas tênue e frágil. Merencória...
36
Uma alegria ao menos talvez traga
Momento onde o alento se faz claro,
Mas quando em tom sutil eu me escancaro
A voz não mais conhece nova plaga.
E bebo desta espúria dor que alaga
E desta profusão não me separo
Vagando em turva tez e me preparo
À morte tão sutil, deveras vaga.
Esgarço com palavras o meu mundo
E nele em cada dia eu me aprofundo
Fartando-me da morte em tom nefasto,
E quando vejo a luz de uma esperança
Enquanto a claridade ainda avança,
Defeso e exposto ao nada eu já me afasto.
37
Deixando de buscar alguma messe
Na sorte desenhada em treva e bruma
Nas névoas costumeiras, a alma esfuma
A este cenário tétrico obedece,
E reina sobre o fim aonde tece
A fátua sensação por onde ruma
Fugindo à leve dança de uma pluma
E o quanto poderia, enfim esquece.
Esgoto onde rasteja o pensamento
As fúrias entremeiam medos, nuvens
E quando muito além ainda vens
O corpo noutro fardo eu alimento
Esbaldo-me no escombro que me resta
Depois da vida amara, vil, funesta
Retrato o meu caminho em excremento.
38
Cale a tua voz macia e siga
O rumo tão ditoso que quiseste,
Deixando-me em cenário mais agreste
Nesta insânia comum e tão antiga
E quanto mais em dores eu prossiga
Loucura sem igual já me reveste
E transitando apenas entre a peste
O farto desenhar mais rude abriga.
No herético desenho, Satanás
Em trevas e delírios já me traz
O alento necessário para a vida,
E neste meu crepúsculo precoce
Apenas o vazio ainda acosse
Quem sabe da esperança em vão perdida.
39
Uma alma arrebatada pelo nada
Transido caminheiro em voz temível
Não sabe de outro intento e perecível
No passo mais atroz, a alma lavada,
Esgarço quando tento e vejo alçada
A morte a cada instante e mesmo incrível
Desenho se moldara a cada nível
Trazendo a tempestade anunciada
Há tanto nos meus dias mais felizes
Imersos em delírios, hoje em crises
Refletem os esgares de um destino,
E caricatamente eu vejo a sorte
Sem nada nem a sombra que a suporte
Enquanto nos meus ermos, me fascino.
40
Ainda quando a vida pode entrar
Nas frestas permitidas, juvenis,
Os dias onde tanto amor se quis
Apenas noutra cena a se moldar,
A fúria sem destino e sem lugar
O corpo se estraçalha e do matiz
Mais tétrico desenha o quanto fiz
E marca com as trevas o luar.
Edênico delírio morto em mim
Expresso os meus anseios e no fim
Componho apenas ledo patrimônio
Gerado pela messe mais audaz
E nela o canto escuso satisfaz
O meu encantador, raro demônio.
41
Entre as floradas sigo em sombras quando
Amores se perdendo vida afora
E apenas este estio se demora
Embora o tempo esteja além nublando
Minha alma em lacrimejo derramando
O nada onde o tempo desarvora
E gera o canto amargo e me apavora
Apenas estiagem vã tomando.
Durante alguns momentos eu pensara
Na primavera etérea da seara
Aonde cultivara esta esperança.
Agora que este outono se apresenta
Visão apresentada em tez sangrenta
Deste sol-pôr que agora, aqui alcança.
42
Revolta e solta ao vento; vais liberta
E neste caminhar eu te acompanho,
E sei do quanto o amor se faz tamanho
Enquanto esta ilusão em vão desperta.
A vida em solidão; eu sei, alerta,
Porém o coração que desde antanho
Penetra este vazio aonde entranho
O que restara em mim e me deserta.
As sensações diversas: medo e sonho
Ao mesmo tempo busco e já me oponho
E sei das discordâncias tempo/espaço.
Mas mesmo assim ao vê-la em tal cenário
O amor por vezes tolo e temerário
Em dolorida senda, ainda grasso.
43
Nesta alva tarde em busca da promessa
De quem se fez um dia sonhador,
Vagando pelas ânsias de um amor,
O mundo noutra cena ora tropeça
E quando esta viagem recomeça
Trazendo o seu poder transformador
Eu vejo e teço além algum andor,
Porém a solidão já se confessa.
Estando tão distante, mas tão perto
De quem por vezes tento e se desperto
Algum olhar em tons suaves; alço
Além deste horizonte em claridade
E uma esperança audaz agora invade,
Mas quando me aproximo, o tempo é falso.
44
Na pálida expressão deste luar
Reinando sobre um céu inestimável,
O sonho este corcel quase indomável
Além deste horizonte irá buscar
Quem tanto eu desejei; um dia, amar,
Mas sei deste caminho intransitável
E o quanto mais quisera em alcançável
Delírio se perdera sem tocar.
A lua se encobrindo em névoas dita
A sorte desejada, mas finita
Num átimo perdida em meio ao nada,
E à velha solidão, a companheira
Que sei ser a primeira e a derradeira
Minha alma adentra em dor a madrugada.
45
Vermelhos lábios; beijo imaginário
E o quanto pude até acreditar
No amor que ao menos quando a divagar
Foi meu, durante um tempo curto e vário;
Esboço de outro sonho; é necessário
Por vezes dos meus medos, libertar
A voz e procurando algum lugar
Aonde aporte um sonho solidário.
Rascunhos desenhados dentro da alma,
Apenas esta cena ora me acalma
E traz nova esperança, mas sei bem
Que após o amanhecer a vida volta
Aos tons mais dolorosos da revolta
E nada nem ninguém; decerto vem.
46
Ardentes os desejos de um poeta
E neste corpo nu e sensual
O amor se faz constante em ritual
E nele a poesia se completa,
Vestindo esta ilusão nesta audaz meta
O tempo muitas vezes desigual
Permite novo encanto e triunfal
Sorriso se apresenta em voz concreta.
Porém o quanto fora além do porto
Agora ao percebê-lo sinto-o morto
E nada mais traduz alguma luz,
Esboço de uma sorte mais diversa
E a vida ao seu princípio agora versa
E apenas frágil estrela além reluz.
47
Carícias entre riscos, risos, sonho
O quanto pude mesmo conhecer
Do amor quando se fez em tal prazer
Diverso deste medo onde me ponho,
Resulto de um momento mais bisonho
E sinto o meu caminho a se perder,
E neste navegar pudera ver
Outro cenário em paz, mas não componho.
Restauro apenas medos e somente
O amor quando se mostra e assim se tente
Vencer os mais comuns dos meus tormentos
Depois de tantas noites solitárias
As horas se revoltam, mas corsárias,
As ilusões aumentam sofrimentos.
48
No carmesim de um sonho em lábios quentes
As noites vagam lúbricas; anseios
Desenham nos meus olhos belos seios
E toques sensuais, mais envolventes
E neste delirar tu te apresentes
Deixando para trás os teus receios
E os dias que amortalham; pois alheios
Invadem em delírios inclementes.
Mas quando me aproximo e nada existe,
O velho caminheiro não permite
Além deste vazio, o meu limite
E o olhar extasiado, agora triste
Traduz o quanto fui e nada havia
Somente a solidão, dura e sombria.
49
Um dia entre carícias, sonho e gozo
Delírios sem igual, anseio e festa,
Ao tanto que inda pode o amor se empresta
Permite um novo dia majestoso.
E quando a vida em tom mais caprichoso
Adentra sem perguntas qualquer fresta
O tanto de um delírio que assim gesta
Invade outro cenário, fabuloso.
Mas pedregosa a vida não se entrega
E segue caminhando quase cega
Tropeça nos degraus desta esperança
E a queda se anuncia em tom atroz
Depois do imaginário, eis este algoz
Um anseio aonde a sorte ao nada lança.
50
Amargas noites; vejo desde quando
Abandonaste a casa e assim levaste
O quanto poderia haver em haste
E nisto o meu cenário desabando,
Esqueço este verão e já nevando
Nesta alma condenada ao vil desgaste
Do amor que tantas vezes me negaste
Apenas o vazio se formando.
Respaldos onde tento e até anseio
Saber ou perceber novo momento
E nele me entranhar sem mais defesa;
Porém o quanto resta em devaneio
Não traz a quem procura o quanto tento
Deixando-me da sorte amarga, presa.
51
Os prantos em tortura eu reconheço;
Sevícias de um amor inconseqüente
E ainda quando o sonho eu alimente
Apenas ilusão, mero adereço.
E tanto imaginar quando o começo
Dizia de outro sonho, mas ausente
Das mãos alguma sorte apenas tente
Voltar ao quanto pude e ora me esqueço;
Tecendo em desvario o meu anseio
E quando a solidão de volta veio
Tomando cada espaço do meu eu,
Restara tão somente este vazio
E neste caminhar ora desfio
Desejo quando a sorte se perdeu...
52
Nesta sensualidade à flor da pele
A tez amorenada de um desejo
E nela a cada instante o gozo vejo
De um tempo abençoado que revele
O tanto quanto além o amor compele
Seara aonde em paz eu me verdejo
E bebo o solitário e vil negrejo
Reflexo do vazio onde se atrele
Amante da ilusão? Já não comporto
Cenário aonde o tempo em dor aborto
Gerando tão somente a tez atroz
De quem se perdeu quando imaginara
A vida novamente bela e clara,
Porém a mesma ausência logo após.
53
Amante das estrelas, o poeta
Que um dia se fizera enamorado,
Bebendo cada sonho anunciado
Nas ânsias desta vida mais completa,
E nada do que outrora fora meta
Permite algum anseio saciado
E o rumo no vazio ao ser traçado
Deste mesmo cenário se repleta.
Angustiadamente sigo em frente
Vagando pelas ruas, inda tente
Algum momento aonde me ancorar,
Apenas a verdade se anuncia
Trazendo um nevoeiro a cada dia,
Oculta dentro em mim qualquer luar.
54
Tristonhos olhos buscam qualquer mimo
Do encantador caminho em luz intensa
E quando da esperança se convença
Apenas outro sonho onde a redimo,
Tramando a qualquer preço o que inda estimo
Embora a própria dor em vaga crença
Negando ao fim da tarde a recompensa
Por sonhos desiguais meu verso eu primo.
Escassa luz adentra qualquer fresta
E quando esta sombria tez empresta
À vida a palidez desta inconstância,
Crisálida abortada, aprisionada
Aonde se quisera libertada
A imaginária luz em discrepância.
55
Aonde o pensamento ora repousa
Descansa o coração aventureiro
E neste desenhar o meu tinteiro
Já não macula mais a clara lousa
Esgoto o meu delírio no vazio
E sei do quanto posso, mas não vens
E além dos desafios, os desdéns
Transformam o suave em turvo rio.
Ascendo num instante à fantasia
Gerada pela voz de uma inocente
Vontade quando o nada se apresente
E neste mesmo nada já recria
Cenário transbordante em dor e medo
E às tramas deste sonho eu me concedo.
56
Na palidez do olhar em busca de
Um dia aonde pude transformar
O nada noutro imenso e bom lugar,
Mas quando na verdade nada vê
Somente este caminho sem por que
Regendo dentro em mim um frio altar.
Pudesse novamente imaginar
O quanto o coração deveras crê.
E sei dos dissabores tão vulgares
Aonde teu vazio propagares
Vencendo os meus desejos mais felizes,
E quando a luz invade mansamente
Ao mesmo tempo chegas e inclemente
Este cenário em paz; logo o desdizes.
57
Sentindo em tênues tons o doce aroma
De uma esperança aonde quis bem mais
Que meros desenhares tão iguais
E nesta sensação minha alma doma,
E quando imaginário e leve coma
Em gozos e delírios sensuais
Derramas entre as pedras e não mais
Percebo o quanto outrora fora soma,
Desnudando minha alma nada veio
E o olhar quando se mostra mais alheio
Presume este falsário pensamento
Aonde noutro instante quis além
E sei que na verdade não contém
Sequer este desejo onde me alento.
58
Num prado, bosque além deste desejo
Buscando algum buquê em flóreos tons
As noites entremeiam-se em neons
E além do quanto tento e mais almejo
O coração de um pobre sertanejo
Guardando imaginários sonhos bons
Esvai-se nos grisalhos destes tons
Aonde o meu caminho ora porejo.
Arquétipos já não mais se completam
E os versos entre tantos sonhos vetam
Palavras que pudessem me alentar,
E os raros dias mansos são promessas
E neles cada passo tu tropeças
E mudas meu desejo de lugar.
59
Um delicado corpo em tons suaves
Deitado sobre a cama, um raro sonho
E nele novo encanto eu me proponho
E deste coração emergem aves
Vagando por delírios, onde graves
O dia que entre tantos, mais risonho
Permite o novo encanto e não me oponho
Apenas vislumbrando anseios, naves.
E quando me percebo mais aquém
Do tanto quanto amor já não provém
De luzes o caminho aonde um dia
A sorte noutra face desenhada
Transcende ao mesmo tempo a madrugada,
Porém a solidão atroz porfia.
60
Perfumes de verbenas e de rosas
Adentram a janela do meu quarto
E quando a solidão; não mais reparto
As noites entre dores, pedregosas
As horas são deveras caprichosas
E neste caminhar expresso o farto
Delírio aonde apenas; tento e parto
Tentando outras searas majestosas
E sei desta improvável solução
Esboço de algum sonho de verão,
Mas quando em outonal caminho eu vejo
O meu olhar se perde em tom sombrio
E quando penetrando, o desvario
Desenha nos meus céus outro negrejo.
61
Entre os albores vejo o teu olhar
E bebo cada toque mais audaz,
Mas quando a bruma espessa volta e traz
Ausência em solidão, nada a mostrar,
Somente esta inclemência onde aportar
O canto mais feliz já não se faz
Entorpecido, embora até tenaz
No contumaz vazio, o meu lugar.
Viceja a primavera em cores várias,
As horas se repetem solitárias
E outono dentro da alma se invernando,
O tempo claro expressa a realidade,
Mas dentro em mima apenas já degrade
Gerando outro momento mais infando.
62
A boca sensual carnuda e bela
Na brônzea maravilha em veraneio
O quanto deste encanto enfim rodeio
E nesta fantasia uma alma sela
Delírios sem igual, abrindo a vela
O coração navega sem receio
E quanto mais audaz o devaneio,
Maior a solidão, atroz a cela.
Esgoto a minha vida em tênue sonho
E sei do quanto posso e me proponho,
Mas como fosse assim mera vingança
A espúria realidade torna em bruma
O quanto do imaginário ora se esfuma
E o meu caminho ao léu a vida lança.
63
Teu rosto gera o sonho aonde eu pude
Vencer a timidez e a solidão,
E nesta tez suave se verão
Revivos os luzeiros: juventude,
Mas quando o sol perdendo a magnitude
Expressa novamente a hibernação
Resumo o meu delírio neste vão
Ainda que algum sonho venha e ilude.
Cerzindo do meu passo outro diverso,
Pudera acreditar neste universo
Gerado pelo anseio, mas somente
O frio tomando a alma me repleta
E aonde quis o amor, superna meta
A sombra novamente se apresente...
64
As pétalas da rosa que cevaste
Em mim num flóreo sonho mais feliz,
Ao mesmo tempo enquanto inverno diz
Deste vital tormento em tal contraste,
Resumo o meu delírio, mero traste
E o quanto ainda trago em cicatriz
A força da ilusão, má geratriz
Fragilidade expressa qualquer haste.
Resulto desta insânia ao caminhar
Por entre estes florais, os teus canteiros
E os sonhos que julgara verdadeiros
Apenas noutro tom a se formar,
Das pétalas de rosas multicores,
Grisalhos dias moldam medos, dores.
65
As lágrimas nevando dentro em mim
Na gélida expressão de invernal senda
Sem nada que o meu sonho em vão atenda
Guardando uma esperança em camarim,
A cena se aproxima do seu fim
E o trágico momento agora estenda
As garras e deveras não entenda
Senão este vazio e dele eu vim.
Ascendo em pensamento o mais sobejo,
Mas quando a realidade nua eu vejo
Pressinto este cenário; vis tragédias.
Os meus corcéis vagando num tropel
Alcançam num instante o imenso céu,
Mas como se perdi há tanto as rédeas?
66
Ao vê-la em palidez desnuda eu sinto
Esquálida figura da emoção
Esboça nos meus olhos reação
E o quanto quis agora vejo extinto.
E quantas vezes; tento, finjo e minto
Traçando noutro rumo a direção
E sei dos desvarios que virão
E o fim tão tortuoso ora pressinto.
Escassos dias dizem do abandono
E quando do vazio em mim me adono
Adorno o pensamento com engodos,
E volto ao meu caminho em charqueada
Dos tantos desejados, resta o nada,
E piso em movediços, torpes lodos.
67
Um astro entre os diversos, o mais belo,
Amor não mais sacia o quanto anseio
E nesta solidão, enfim rodeio
O quanto deste encanto ora revelo,
E ao vê-la transparente em teu castelo
Sentindo a maciez de cada seio,
O toque desejado e sem receio
Desenha outro cenário onde me atrelo.
E atrevo-me a sonhar, embora eu saiba
Do pouco nesta vida que me caiba
Resolvo acreditar em nova luz,
Semeio esta esperança em solo agreste
E quando a realidade o nada ateste
Apenas um aborto reproduz.
68
Num infernal caminho o meu desejo
Aprende com as quedas ou até
Esboça outro delírio e tenta em fé
O caminhar deveras mais sobejo
E quando no final apenas vejo
O risco atordoando o quanto se é
Vacância dentro em mim gera a galé
E o risco de sonhar, mero lampejo.
Esboço reações e tento um gozo
Aonde poderia majestoso
Desenho de uma vida mais feliz,
Sementes de esperança na aridez
Enquanto o dia a dia já desfez
E o tanto imaginado nunca quis.
69
O corte do punhal adentrando a alma
Espúria solidão domando o sonho
E quando alguma luz enfim componho
Nem mesmo esta ilusão sobeja acalma,
E quando se conhece e traz o trauma
De um tempo mais atroz, mesmo medonho
Aonde na verdade recomponho
O mundo já sonega qualquer calma,
Esplendorosa tarde do passado
Agora em tom sombrio traz, nublado
O anseio de um poeta em voz cansada,
Depois de tantas lutas vida afora
Somente a solidão teima e vigora
Gerando após o nada, o nada, o nada...
70
A face mais sinistra da verdade
Espúria noite em mim e nada trago
Sequer o meu caminho em manso afago
Enquanto a podridão da vida invade,
E tento ultrapassar a firme grade
E nesta solidão em luz me alago,
Vivendo este momento turvo e mago
E nele ao menos sonho ainda agrade
Vestindo esta emoção diversa quando
A tempestade ainda desabando
Trazendo alguma luz neste horizonte
Contraste onde deveras já se aponte
O quanto possa haver e mesmo tente
Cenário entre brumoso e iridescente.
71
Amorfa criatura em mutação
Por vezes me transformo em quase humano
Em outras pouco a pouco se me dano
Enfrento as tempestades que virão
E sei da minha eterna imprecisão
No quanto a cada passo mais insano
Mergulho no passado soberano
E causo dentro em mim, revolução
Arquétipos de quem outrora fora
Nesta ânsia tão venal e sonhadora
Ao caracterizar o quanto sou
Diverso de mim mesmo e enquanto nisto
Deveras sem saída ainda insisto
Bebendo cada gota que restou.
72
Ansiosamente vivo em preces quando
O tempo se transforma e impede o passo
Aonde na verdade o que inda faço
Noutro momento sinto-o desabando.
O medo noutro enfado. Neste bando
De cores ocres sinto o descompasso
Toando a cada verso quando traço
Meu mundo carregando-o em contrabando.
Esforço-me até a acreditar
Num tempo sem juízo e sem lugar
Apenas por contê-lo e nada mais,
Mas quando a consciência ainda impera
Gerando a mais temida e dura fera
Enquanto busca apenas os cristais.
73
Ardências entre os erros que cometo
Durante esta passagem pela Terra
E quando alguma luz longe descerra
Eu tento imaginar outro soneto.
Ousando noutra face eu me arremeto
E me alimento até do que desterra
Após a tempestade em liça e guerra
Trazendo qualquer brilho neste gueto.
Esgoto as minhas lavras quando tento
Vencer o mais diverso e vão tormento
Gestado pela angústia do não ser.
Ouvindo desde então em solilóquio
Ainda que outro instante vão, provoque-o
Desenho com desdém e ao bel prazer.
74
Neste oceano imenso onde pudera
Incendiar com bravas ondas, vida
Expressa desde então a despedida
Marcando com terror a primavera.
A sorte noutro fato destempera
E bebe da saudade sendo urdida
Nos grandes vãos teares de uma lida
E deste caminhar já nada espera.
Vacância entre domínios mais diversos
Imerso na cadência de alguns versos
Resumos de uma pálida emoção,
Vestindo a solidez da fantasia
Aonde o meu caminho se sacia
Nos tépidos desejos de um verão.
75
Enquanto ao padecer em dor e medo
De tantas ilusões sigo cansado
Vagando em sortilégios, vejo o enfado
Aonde sem temores eu procedo.
E sinto o quanto pude desde cedo
Durante o meu caminho apresentado
Nas tramas entre anseios e pecado
Tecendo com ternura um desenredo.
Esbarro nos meus ermos e vasculho
Cada pedaço feito em pedregulho
Jogado nalgum canto de minha alma.
Porquanto ser feliz ainda eu tente
Depois do céu confuso e prepotente
Tramando alguma messe que me acalma.
76
Num vórtice diário enfim porfio
E tento acreditar na paz além
Do quanto na verdade sei que vem
Traçando cada margem deste rio.
A vida sendo eterno desafio
Envolta nos domínios do desdém
Esboça novos tons onde não tem
Sequer o que pudesse ser sombrio.
E sinto já vencidas as tormentas
Quando em delírios calmos me apresentas
Diverso passo envolto em mansa luz.
Mas sei também da eterna discrepância
É quando se percebe noutra estância
O quanto de mim mesmo a reproduz.
77
Aonde entremeando crença e treva
Vagando entre os infernos, céus e ocasos
Os dias em seus mantos, ermos prazos
Durante a solidão aonde neva.
Escasso caminhar já toma e leva
A sorte noutros rumos e descasos,
Desarvorando a rota adentro os rasos
Desenhos onde a vida nada ceva.
Esparso caminhante do não ser
Esbarro nos meus âmagos e crer
Na sólida expressão e assim confirmes
Os erros costumeiros não impedem
Aonde os desejares se concedem
Desde que os solos sejam sempre firmes.
78
Entre esperanças, medos, quedas; sigo
E venço os meus diários dissabores
Sem mesmo até; diversa, tu te opores
Traçando dentro em mim algum abrigo,
E quantas vezes; teimo e até prossigo
Alçando quem me dera raras flores
E sei dos meus canteiros multicores
Na cúpida expressão onde os persigo.
Estéticas diversas; traz a vida
Atrás deixando a marca em despedida
Do impessoal desenho aonde um dia
Pudesse imaginar dispersos tons
Matizes muitas vezes tão mutáveis
E neles outros tantos desejáveis
Traçando estes delírios, raros, bons.
79
Sublimes atos; tento e quando os vejo
Trazendo dicotômica expressão
Na movediça luz se mostrarão
Os delicados rumos deste ensejo.
E quando o meu caminho é malfazejo
E dele se percebe a geração
De esgares entre teimas não verão
Sequer, os meus olhares, o desejo.
Esgoto qualquer canto aonde pude
Tentar revigorar em plenitude
O quanto renovável fosse; a vida.
Nesta avidez o incauto navegante
Ao próprio desdenhar já se adiante
E mostre a sua face. Desprovida.
80
Jamais me satisfaço e tento um rumo
Diverso a cada instante e recomeço,
E quando noutro tempo eu me endereço
Ao mesmo delirar se oponho escumo.
Nesta imprecisa voz, ausente prumo
Mostrando a cada instante outro adereço
Do todo que inda resta reconheço
E bebo o sortilégio; amaro sumo.
Escassas noites trazem a bonança
E quando a madrugada em luz avança
Prenunciando um dia mais tranqüilo,
Na revoltosa e vã dicotomia
Mudando o que decerto se anuncia
E entre as brumosas sendas eu desfilo.
81
Momentos de grandeza aonde um dia
Pensara ter somente uma ilusão
E sei que novos tempos poderão
Mudar o quanto tento e não podia.
A sorte a cada instante o sonho adia
E gera no final tola emoção
De todo este vazio uma expressão
E nela cada messe se irradia.
Após as derrocadas de um caminho
Entre delírios tolos, um daninho
Desejo agora gera em nova senda
A pérola que em lodo se formara
E transitando a vida em jóia rara
Transporta a solução e em paz se estenda.
82
Num êxtase sublime e até bendito
Esboço outro desenho aonde há tanto
Apenas garatuja; inda garanto
E neste novo tom hoje acredito
Trazendo o quanto eu quero e necessito
Marcando com ternura um belo canto
E deste raro empenho, claro encanto
Acalma um coração antes aflito.
Espalho a minha voz aos quatro ventos
E tento novamente em pensamentos
Alçar a plenitude desenhada
Nas tramas mais sinceras deste anseio
Vagando sem destino em devaneio
Depois de tanto tempo envolto em nada.
83
A natureza envolta em divergentes
Desenhos muitas vezes dicotômicos
Traduz além dos medos, os hedônicos
Anseios onde tantos novos; tentes.
E quantas vezes são mais inclementes
Os riscos e decerto desarmônicos
Por vezes quase mesmo até agônicos
Enquanto novas tramas tu pressentes.
E nesta variável fúria e paz
Entoas o que a vida em avidez
No quanto tantas vezes se desfez
Ou face mais diversa agora traz
Gestando o quanto aborta no final,
Mas sei desta inconstância em vago astral.
84
As almas se tocando além da vida
Num infinito espaço aonde um dia
Pudesse transformar em harmonia
A cena de juízo desprovida,
É quando se resume a precavida
História noutra tanta em que se via
A gestação de imensa fantasia
Jamais em plenitude resolvida.
Esboço de um eterno sentimento
E nele a cada instante a fuga eu tento,
Mas quando a gula traz esta obsessão
De ter e ser bem mais do que pudera
Renasce dentro em mim a primavera
Embora os meus grisalhos; dizem: não!
85
Mistérios entre tantos que adivinho
Servindo de alimária quando eu quis
Decerto num instante ser feliz
Embora me desenhe mais mesquinho,
Cerzidas esperanças num espinho
Esgarço o meu caminho e por um triz
Do róseo anunciado apenas gris
Tomando em desalento este ar daninho.
Deveras o cenário se percebe
Diverso e sendo assim; dispersa a sebe
O ritual se afasta e modifica
A sorte desenhada noutro tom
Exprime a imprecisão e sem ou com
Meu canto a cada sol se mortifica.
86
Na frágil caminhada pela vida
Esparsos e diversos tons em sóis
Aonde noutro instante tu destróis
A fonte tantas vezes mal urdida,
E quando se imagina a despedida
Transitas com delírios nos lençóis
E trazes novamente os teus faróis
Às tramas do desejo ora rendida.
Mas logo após o gozo saciado
O tempo se esboçando já nublado
Revoas para além nesta inconstante
Imagem onde o sonho ora disperso
E quando ao teu anseio ainda verso
Sonego ou reafirmo noutro instante.
87
A esfera luminosa em prata eu vejo
Tomando em claridade este horizonte
E neste delirar o olhar aponte
O contumaz anseio mais sobejo,
E bebo deste todo aonde almejo
Além de meramente grácil ponte
Um raro desenhar onde desponte
Após argêntea noite, este azulejo.
Esmeraldinos tons de uma esperança
Na multifacetária vida agora
Desenha um cais seguro e nele ancora
A sorte quando o tempo além avança
E rege com ternura o que pudesse
Traçar neste cenário esta benesse.
88
Sanções diversas; dita a voz sombria
Envolta em névoas tantas, mais espessas
E quando a minha vida; reconheças
Na falsa sensação quando emergia
O caos se aproximando reinaria
E neste desenhar sempre às avessas
Transitam as adagas e não esqueças
Do encanto e dissabor em romaria.
Capazes sonhos trazem discordâncias
E das dicotomias tais estâncias
Geradas pelas tenras ilusões,
Explodem em momentos mais diversos
Nos gêiseres desta alma sinto imersos
Cenários onde enfim, os decompões.
89
Na gênese do amor a luz envolta
Em clara sintonia com luzeiros
Aonde se apresentam verdadeiros
Desenhos deste encanto sempre à solta.
Da malta desenhada, nova face
E nela se apresenta outro cenário
No amor que tantas vezes necessário
Caminho mais diverso agora trace.
Numa eclosão dispersa e multicor
Vacâncias dentro da alma, ledo espaço
Aonde esta emoção deveras traço
Mudando a cada instante o seu sabor,
São vastas as searas e os anseios
Ainda quando mesmo em devaneios.
90
Soluços entre lenços, tanto adeus
Gerado pelas inconstantes luzes
Aonde num instante reproduzes
Os dias que pensara outrora teus.
E os ermos entre luzes frágeis, breus
Expressam o caminho em flores e urzes
E assim neste cenário me conduzes
Nos passos entre crédulos e ateus.
Ateia o fogaréu e já me alaga
Das fráguas o vazio de uma vaga
Expressa o tom vigente deste caso,
E quantas vezes; sito este momento
Entremeando paz e desalento
E desta intensidade ora me aprazo.
91
A minha alma percorrendo
Neste instante este infinito
Caminhar por onde; aflito,
Muitas vezes fui horrendo
A minha alma este remendo
Bebe quanto eu acredito
E decerto necessito
Noutro tanto se tecendo
E se às vezes me contenho
No vazio de um empenho
Em terrível sortilégio
Acenando em siderais
Desenhares onde estais
É decerto um sonho régio.
92
Entre tantos dias; langue
Percorrendo cada espaço
Onde em versos me desfaço
E sorvendo morro exangue
Neste lodo, charco e mangue
Reconheço cada traço
E se embebo o quanto escasso
Desenhar em sonho e sangue
Enveredo muito além
Do caminho onde contém
Versos tristes no abandono
De quem tanto quis a sorte
E deveras já se corte,
E meu canto eu desabono.
93
Destas asas onde apenas
Conheci a liberdade
Cada passo se degrade
Entre duras, ledas cenas
E se ainda me condenas
Numa etérea falsidade
Bebo o quanto ainda invade
Os meus olhos são falenas
Na procura desta luz
Onde amor que mais seduz
Espelhasse outro futuro,
Mas sidéreo som se emana
Numa messe até profana
Esvaece-se no escuro...
94
Qual sirena; entoas cantos
Que transcendem ao sublime
E se tanto desoprime
Noutro instante cerzi mantos
Mais diversos e os quebrantos
Onde a sorte se redime,
No final já tanto estime
Quem perfuma com encantos,
Num herético cenário
Outro fardo necessário
Para quem se quer além
E o mesquinho ora se espraia
Dominando a imensa praia
Gestações que amor contém.
95
Apenar quem tanto quis
E jamais pode saber
Dos desmandos do querer
Força etérea e geratriz
De um momento claro ou gris
Neste tanto entorpecer
E se o posso inda conter
Galgue um sonho mais feliz,
Esboçar outro senão
Onde os dias moldarão
Quanto pude discernir
Deste verso aonde o tanto
Molde o sonho e já garanto
Das benesses, o porvir.
96
Luzes fartas onde um dia
Pequenino sonhador
Ao gerar em mim o amor
Nova sorte se tecia
O caminho em tez sombria
Tantas vezes dissabor
Meramente a se compor
Nas searas da heresia
Entre os astros cores várias,
Mesmo as ditas procelárias
Invadindo o quanto pude
Discernir neste abandono
O caminho que ora abono
Com sofrível atitude.
97
Tenuemente a vida traça
Expressões diversas quando
O meu mundo desenhando
O que tanto fora escassa
Solidão por vezes passa
E se molda este ar nefando
E decerto estou nevando
Neste outono feito em traça,
Caminhante em dor e tédio
Onde a sorte diz do assédio
Desta lúbrica emoção
Visto em mim os olhos frágeis
Entre tantos sonhos ágeis
Outros tantos nascerão.
98
Aonde poderia ter a chave
Que um dia permitisse nova messe
E o vento neste espaço ainda tece
Um sonho e nele a vida não agrave
O manto desvendado dita esta ave
E nele este abandono já se esquece
De quem ao caminhar sempre padece
Do medo como fosse queda e entrave.
Vestindo a fantasia geratriz
De um vórtice onde tento desenhar
Talvez outro delírio aonde amar
Pudesse ser bem mais do quanto eu fiz
Entre os supérfluos ritos do abandono
Enquanto em voz suave enfim me abono.
99
Aonde com tristeza esta agonia
Gerasse entre os astrais sidéreo fato
E neste caminhar tanto desato
Enquanto noutra face o soerguia
Vetusto caminho poderia
Tramar este cenário onde resgato
Além do desenhar onde maltrato
O canto em tênue voz mesmo sombria
Ecléticos demônios que alimento
Com tépidas loucuras, desalento
E desta voz deveras inconstante
Apenas o somático delírio
Tramando a cada passo outro martírio
E nele a própria ausência se agigante.
100
Dos féretros desta alma incandescente
Ultrizes emoções regendo o passo
E neste desenhar turvo eu desfaço
O quanto noutro sonho se apresente
E sei o quanto eu posso e consciente
Do medo e do terror gero o compasso
Diverso do caminho aonde traço
Encanto variado e prepotente;
Esgarço com a tênue realidade
Somenos ilusões entre outras tantas
E quanto mais a vida desagrade
Festivos desenhares tu encantas
E morto aonde pude à saciedade
Sorver onde decerto o não garantas.
Neste espaço sideral
Entre fúrias e tormentas
Quantas vezes inda tentas
E deveras bem ou mal
Adivinha-se o final
E se tanto me acalentas
Na verdade desalentas
Lento frui o vago astral.
Resplendores onde um dia
Tarde tépida e sombria
Anuncia a tempestade
Na ansiedade de compor
Onde quer ou mesmo for
Outro passo não a agrade.
2
Cavernosas sendas; creio
Serem éteres do sonho
Onde tudo o quanto oponho
Traduzindo em tom alheio
Com certeza me incendeio
E presumo outro enfadonho
Caminhar se me ponho
Não encontro meio e veio.
Esperando alguma luz
E severa noite eu pus
Entre tantos erros meus,
E singrar sem direção
É morrer embarcação
Sem o leme e nestes breus.
3
Tenros tempos de criança
Cadavérica figura
Onde agora se assegura
E o passado não alcança
Procurando a temperança
Numa noite torpe e escura
Ao vazio a voz mistura
E o fim ao mar se lança
Velejar contra a maré
E talvez ser e como é
Discordante a cada ausência
Nada faço ou falo ou tento
Quando a morte em desalento
Impera sobre a inocência.
4
Mumifico o sonho quando
Esbarrando em tais escórias
Procurando por vitórias
Nalgum ermo penetrando
O meu canto se negando
Sonegando algumas glórias
E se trago merencórias
Horas outras; tento e abrando.
Sacrifícios entre engodos
E penetro nestes lodos
Mofos da alma itinerante,
Cinzeladas picardias
Onde nada mais sabias
E talvez nada adiante.
5
Numa gravidade imensa
Outra eu tinto em carmesim,
E buscando sempre assim
O que ainda recompensa
Quem decerto sempre pensa
Entre as penas traça o fim,
Presumindo o que há em mim
Nada mais sequer convença.
Esgueirando pela porta
Vejo a sorte agora morta
Espraiada sobre o chão
Neste vândalo começo
Enviando o que do avesso
Não teria solução.
6
Vento um artesão das folhas
Envereda seus caminhos
Muitas vezes mais daninhos
Entre tantos que inda escolhas
No final nada recolhas
Tão somente vãos espinhos
E se queres passarinhos,
Vendavais; decerto colhas.
Seduzido em verso teu
O meu canto se perdeu
E não tem mais nada além
Do vazio em que se lança
Onde busco uma aliança
Desdenhosa face vem.
7
Tristes temas entre tantos
São deveras companheiros
Dos meus dias derradeiros
Entre dores, desencantos,
E decerto mensageiros
Tramam risos, bebem prantos
E no fundo meus espantos
São adubos de canteiros
Onde gesta esta infinita
Tepidez que necessita
Desta incúria feita em vida,
Aprisiono em dura cela
O que tange e se revela
Bem além do quanto urdida.
8
A beleza, deusa rara
Onde tanto se presume
Mais do que mero perfume
Deidade se escancara,
Mas no fundo outra seara
Esta vida em vão resume
Neste tempo aonde esfume
Qualquer glória imensa e cara;
Vendo assim a foto antiga
De quem tanto desabriga
Hoje entendo este abandono,
Quem um dia se apodera
Mesmo após a primavera
Do infinito quer ser dono.
9
Incompletos passos traço
Onde um dia me fiz tanto
E se busco ou não garanto
Perco assim o ledo espaço,
E decerto este cansaço
Traduzindo algum quebranto
Gera além do próprio canto
Um caminho atroz e lasso.
Presunção de quem se dera
E não vira esta pantera
Na tocaia a cada instante,
Num errático delírio
Bebo as sendas do martírio
Quando o passo se adiante.
10
Dos horrores mais atrozes
Vidas tantas que perdi,
E se em tanto mereci
Submetido aos vãos algozes
Com olhares que ferozes
Transcendendo em frenesi
Outro tempo eu conheci,
Mas agora nem as vozes.
Esplendores? Nada disto
O que agora ainda assisto
Derrocada em ato insano,
E se tento reações
No caminho onde as dispões
Novamente enfim me dano.
11
Quando em mim esta alma enrugo
Eu bebendo do passado
Mesmo estando extasiado
De mim mesmo sou verdugo
Ensimesmo e assim alugo
Outro tempo desenhado
Bem diverso do nublado
Onde tanto sou refugo.
Num refúgio aonde eu possa
Superar a velha fossa
E beber eternidade,
No final eu me aconselho,
Porém vejo neste espelho
Esta vã senilidade.
12
Quando em tom misterioso
O desejo se fez tanto
O que ainda não garanto
Não permite outro danoso.
Revestido em pedregoso
Delirar, o desencanto
Reformula enfim meu canto
E o contorna caprichoso,
Num delírio em verso apenas
No que tanto me condenas
Expressões diversas usas,
E as passadas ao futuro
Na verdade eu asseguro
Serão sempre mais confusas.
13
Lavrador buscando além
De uma frase simplesmente
O que tanto esta alma mente
Na verdade nunca vem
Ao trazer o teu desdém
Entendendo-o plenamente
Num resumo já freqüente
O restante nada tem.
Expirando um ar sombrio
Quando tanto desafio
E o cenário se deforma
Um patético poeta
Quando em vida se repleta
Assumindo nova forma.
14
Esquelético porvir
Do meu sonho em provimento
Quando erguendo um pavimento
Não permite mais subir
E o que busco inda sentir
Não somente é desalento
Até mesmo me alimento
Do que tanto a repartir.
Esquemático delírio
Traz nas mãos o velho círio
Numa busca milagrosa,
Mas a vida em romaria
Tanto faz quanto faria
O jardim matando a rosa.
15
Escavando esta seara
Adentrando em rasa cova
O meu canto se comprova
Muito além do que esperara,
Traduzir a sorte quara
Os delírios noutra alcova
Da emoção imensa sova
Na desova se prepara
Numa vã mortalidade
Atravesso a meia idade
E penetro em ar senil,
Vendo a fátua luz da tarde
O meu passo não retarde
O que resta já se viu.
16
Lúgubre decerto eu sou,
Mas realidade dita
Noutra face mais aflita
Esta tanto que restou,
Meu caminho se gestou
Lapidando outra pepita
E onde quer nada acredita
Quem deveras provocou.
Queda após a queda após...
E o tormento mais feroz
Repetindo em ladainha
Compartilho o mesmo verso
E se nele eu me disperso
Pouca coisa inda continha.
17
Esforçando o passo quando
O meu tempo já se esgota
Preparando a mesma rota
Noutra rota se formando,
E decerto eu sou infando
Muito além de qualquer cota
Se esta vida me amarrota
Noutra tanta enveredando.
Vasculhar o que me importa
E fechar a aberta porta
Deste estúpido temor
De viver ansiosamente
O que a vida já desmente
E sonega em novo amor.
18
Descarnado após a queda
Nada resta do que um dia
Alma louca fantasia
E decerto em vão se enreda
Ao pagar, mesma moeda
Pouca coisa restaria
De quem vive esta utopia
E no nada; apenas seda.
Penitente aonde eu pude
Noutra face sou mais rude,
E não deixo nada em branco
Quantas vezes for preciso
O meu ar; sempre matizo
Quando a mim sou bem mais franco.
19
Ao sair do pensamento
A palavra sem a forma
Noutra farta se transforma
Na razão do frágil vento,
E seguindo mais atento
Percebendo o quão deforma
O meu rumo na reforma
Deste etéreo sentimento
Num atroz caminho vaga
E se bebe a fúria maga
De quem tanto quis começo,
Ao mostrar a minha cara
O meu antro se prepara
Revirado assim do avesso.
20
Emblemático destino
Amortalho enquanto luto
Se por vezes sou astuto
O vazio eu determino,
E bebendo em desatino
O caminho onde reluto
Na passada traço o luto
E deveras me alucino.
O meu verso que assim busco
Tendo o tom bem mais velhusco
Do que pude imaginar
Cerzi apenas o passado
E transgride o desejado
Deixa aquém qualquer lugar.
21
Restando muito pouco dentro em mim
Daquele que se dera plenamente
Ainda quando a vida se apresente
Saindo deste etéreo camarim,
E vejo o que desenho e até o fim
Tocado pela angústia e tão somente
Tentando noutro chão esta semente
Na desmedida forma de um jardim.
No quanto busco a minha liberdade
E neste tom a vida agora invade
Deixando para trás qualquer algema
Tomando a direção; rosa dos ventos
E nela se presumem sentimentos
Enquanto o firme olha já nada tema.
22
Na noite encantadora feita em brumas
Espúrias criaturas quais zumbis
E nelas outras tantas quantas quis
Vagando enquanto além tu já te esfumas
E quando em direção diversa rumas
Teimando e provocando a cicatriz
O olhar que imaginara agora gris
Entoa com terror e não te aprumas;
Ferrenhas noites vagas entre tantas
E nelas nada mais queres, garantas
Senão este demônio onde cevaste
A vida em sortilégios e abandono
E quando do teu rumo ora me adono
Retiro o quanto pôde ser uma haste.
23
O céu entre sombrias, vis matilhas
Espraia entre meus olhos nuvens fartas
E nelas os teus passos; já descartas
Bebendo as mais temidas armadilhas
E quando no horizonte espúrio tu palmilhas
Expondo sobre a mesa as velhas cartas
Ainda quando muito não compartas
E traces o temor onde te humilhas.
Sedento cão em busca de algum sonho
Perpetuando o vão eu decomponho
Meu passo entre as quiméricas loucuras,
E sendo companheiro ou mesmo quase
Ainda que a verdade o tempo atrase
Das ânsias mais sofríveis me asseguras.
24
Alcovas entre fúnebres venais
E neles tantas vezes me julgares
Gestando dentro em ti tais lupanares
Vertendo em vãs sangrias rituais,
Os ermos de minha alma em ledo cais
E nele se fizessem teus altares
No quanto queres mesmo e; provocares
Das jugulares bebo em tons fatais.
Hercúlea fantasia uma obsessão
E nela cada acerto, outra exceção
Denota muito bem quem fomos ontem,
E o quanto do futuro se dissolve
Enquanto a vida além tanto revolve
E deste desencanto os sóis dissolvem.
25
Transtorno-me em demônio quando a vejo
E sinto esta sangria e me alimento
Do quanto se presume em vão tormento
Deixando-a muito aquém deste desejo,
E quando o vento fosse benfazejo
Apaziguando em nós os tais tormentos
Os dias são somente os excrementos
De um tenebroso mar onde pelejo.
O olhar se penetrando mais selvagem
Traduz a tez voraz desta miragem
Arcaica, porém viva e renascida
Após a morte insana que provei,
Agora ao retornar à velha grei
Sorvendo o que te resta ainda em vida.
26
A noite aonde anseio uma mudança
Gestando uma emoção diversa, quando
O tempo se anuncia e já nublando
Ao êxtase divino ora me lança
Matando o quanto resta em esperança
O riso mais sardônico e nefando
Em outro tão igual se transmudando
E neste desenhar nada se alcança
Senão esta mortalha e ora reveste
O coração atroz, dorido e agreste
Marcado pelas lanças de uma meta
Trucidada a cada negação
E aonde os meus delírios levarão
A vida nesta morte se repleta.
27
Noctívago fantoche se anuncia
E dentro de minha alma perambula
No olhar quando esfaimado espúria gula
Transborda nesta foz, atroz, sombria
Marcando e amortalhando a poesia
E nela novo tempo já se ondula
Terrivelmente o tempo coagula
E gera após queda outra sangria.
Vertentes paralelas, vida e morte
E neste emaranhado eu me conforte
Apenas na mortalha que ora teces
E tendo em tais tormentos sortilégios
Momentos magistrais audazes, régios
Parindo a cada instante; áureas benesses.
28
Devoras com angústia e sofrimento
Selvagens ilusões e nelas vejo
A pútrida emoção nalgum desejo
Porquanto outro caminho; ainda tento
E sei que o libertário pensamento
Traçando na masmorra um raro ensejo
E nela com ternura eu me verdejo
Depois de tanto espúrio sentimento;
Tenacidades marcam o meu verso
E quanto mais audaz, frio e perverso
Maior esta deidade que satânica
Adentra uma alma turva em tom sombrio
Enquanto deste tanto desafio
A morte não se faz de forma orgânica.
29
Abrumam-se os desvios onde eu pude
Traçar a discordante maravilha
E nela quando a sorte já polvilha
Espalha sobre tudo olhar mais rude
E vejo assim diversa esta atitude
E quando em profusão meu passo trilha
Seguindo cada estorvo da matilha
Aonde atropelei a juventude.
Corcéis ao galoparem infinito
Transladam o que tanto necessito
Esboços de medonhas faces onde
O nada se transforma em plena luz
E o corte que profanas reproduz
A podre sensação que o corresponde.
30
Despertam dentro em mim as demoníacas
Entranhas mais atrozes e vorazes
E assim o descaminho ora perfazes
E traças com as vozes vãs, maníacas
As horas mais venais, afrodisíacas
Permitem gozos fartos e fugazes
Medonha escória; em luto agora trazes
Em convulsões espúrias e cardíacas
Legando ao que virá o mesmo impasse
E dele novo rumo não se trace
Senão esta terrível inclemência
A morte noutra face se apresenta
E bebo desta tez dura e sangrenta
Numa expressão de pura virulência.
31
Esta tristeza etérea, mas palpável
Denota o meu caminho nevoento
E quando alguma luz; inútil, tento
Destino se demonstra inexorável
E bebo demoníaco e intragável
Na gélida expressão de um sentimento
Aonde; se não há, decerto invento
Um ar sem mais proveito, insuportável;
Esfumo entre os espectros que carrego
Eflúvios costumeiros do meu ego
Vestindo algumas lúbricas promessas,
E quando me fez lúdico e banal
O canto se perdera e sem degrau
No quanto almejas ter; tu já tropeças.
32
Um mar tempestuoso ensimesmado
Navego desde quando a minha ausência
Gerada pela incúria em inclemência
Reinara plenamente no passado
Num éter muitas vezes desenhado
Na fátua sensação de impertinência
Não quero doutro fato uma ingerência
Mudando o que deveras foi traçado.
Eu sei o quanto espúrio sou; portanto
Aos ermos de minha alma eu me adianto
E bebo em tons opacos nuvens fartas,
Dos meus demônios cuido e muito bem
Sabendo o quanto a angústia me contém
E nela meus delírios dão as cartas.
33
Vindima produzindo este vinagre
E dele me espalhando sobre o chão
Esgoto os dias turvos que virão
Atrozes quando a dor deveras sagre
E gere a cada passo outro milagre
Da morte na total renovação
E um ser exposto à vaga mutação
Somente na mortalha se consagre,
E beba esta acidez porquanto a vida
Expressa a solidão e quando acida
Jamais se permitindo outro nuance,
Depois de tantas noites, brumas, ledo,
O caos reinando aonde à dor; concedo
Além do quanto mesmo o sonho alcance.
34
A vida sendo esboço do que um dia
Pensara em tom suave e agora a vejo
Desnuda num realce de um lampejo
Aonde nada mais, pois se veria.
Esgoto o meu delírio em fantasia
E bebo deste tétrico desejo
Na fétida ilusão aonde almejo
O risco após a queda em agonia.
Eu sei que no final tento um sorriso
E vago entre o mais certo e este impreciso
Delírio onde sacio a minha sede
E o quanto no passado a juventude
Traçara outro desenho, apenas pude
Deixá-lo qual um vão nesta parede.
35
Uma dor entremeando quedas, medos
E nestes desenhares meus delírios
Bebendo a cada ausência estes martírios
E neles os anseios, frágeis dedos
Percorrem o passado em desenredos
Tramando o meu futuro em alvos lírios
E após a procissão dos sonhos, círios
Em romaria dizem dos degredos.
No féretro dos tolos ideais
As noites entre espessas nuvens, tais
Momentos envolvendo a minha história,
E quando alguma luz se vê aonde
A vida em tom escuso corresponde,
Apenas tênue e frágil. Merencória...
36
Uma alegria ao menos talvez traga
Momento onde o alento se faz claro,
Mas quando em tom sutil eu me escancaro
A voz não mais conhece nova plaga.
E bebo desta espúria dor que alaga
E desta profusão não me separo
Vagando em turva tez e me preparo
À morte tão sutil, deveras vaga.
Esgarço com palavras o meu mundo
E nele em cada dia eu me aprofundo
Fartando-me da morte em tom nefasto,
E quando vejo a luz de uma esperança
Enquanto a claridade ainda avança,
Defeso e exposto ao nada eu já me afasto.
37
Deixando de buscar alguma messe
Na sorte desenhada em treva e bruma
Nas névoas costumeiras, a alma esfuma
A este cenário tétrico obedece,
E reina sobre o fim aonde tece
A fátua sensação por onde ruma
Fugindo à leve dança de uma pluma
E o quanto poderia, enfim esquece.
Esgoto onde rasteja o pensamento
As fúrias entremeiam medos, nuvens
E quando muito além ainda vens
O corpo noutro fardo eu alimento
Esbaldo-me no escombro que me resta
Depois da vida amara, vil, funesta
Retrato o meu caminho em excremento.
38
Cale a tua voz macia e siga
O rumo tão ditoso que quiseste,
Deixando-me em cenário mais agreste
Nesta insânia comum e tão antiga
E quanto mais em dores eu prossiga
Loucura sem igual já me reveste
E transitando apenas entre a peste
O farto desenhar mais rude abriga.
No herético desenho, Satanás
Em trevas e delírios já me traz
O alento necessário para a vida,
E neste meu crepúsculo precoce
Apenas o vazio ainda acosse
Quem sabe da esperança em vão perdida.
39
Uma alma arrebatada pelo nada
Transido caminheiro em voz temível
Não sabe de outro intento e perecível
No passo mais atroz, a alma lavada,
Esgarço quando tento e vejo alçada
A morte a cada instante e mesmo incrível
Desenho se moldara a cada nível
Trazendo a tempestade anunciada
Há tanto nos meus dias mais felizes
Imersos em delírios, hoje em crises
Refletem os esgares de um destino,
E caricatamente eu vejo a sorte
Sem nada nem a sombra que a suporte
Enquanto nos meus ermos, me fascino.
40
Ainda quando a vida pode entrar
Nas frestas permitidas, juvenis,
Os dias onde tanto amor se quis
Apenas noutra cena a se moldar,
A fúria sem destino e sem lugar
O corpo se estraçalha e do matiz
Mais tétrico desenha o quanto fiz
E marca com as trevas o luar.
Edênico delírio morto em mim
Expresso os meus anseios e no fim
Componho apenas ledo patrimônio
Gerado pela messe mais audaz
E nela o canto escuso satisfaz
O meu encantador, raro demônio.
41
Entre as floradas sigo em sombras quando
Amores se perdendo vida afora
E apenas este estio se demora
Embora o tempo esteja além nublando
Minha alma em lacrimejo derramando
O nada onde o tempo desarvora
E gera o canto amargo e me apavora
Apenas estiagem vã tomando.
Durante alguns momentos eu pensara
Na primavera etérea da seara
Aonde cultivara esta esperança.
Agora que este outono se apresenta
Visão apresentada em tez sangrenta
Deste sol-pôr que agora, aqui alcança.
42
Revolta e solta ao vento; vais liberta
E neste caminhar eu te acompanho,
E sei do quanto o amor se faz tamanho
Enquanto esta ilusão em vão desperta.
A vida em solidão; eu sei, alerta,
Porém o coração que desde antanho
Penetra este vazio aonde entranho
O que restara em mim e me deserta.
As sensações diversas: medo e sonho
Ao mesmo tempo busco e já me oponho
E sei das discordâncias tempo/espaço.
Mas mesmo assim ao vê-la em tal cenário
O amor por vezes tolo e temerário
Em dolorida senda, ainda grasso.
43
Nesta alva tarde em busca da promessa
De quem se fez um dia sonhador,
Vagando pelas ânsias de um amor,
O mundo noutra cena ora tropeça
E quando esta viagem recomeça
Trazendo o seu poder transformador
Eu vejo e teço além algum andor,
Porém a solidão já se confessa.
Estando tão distante, mas tão perto
De quem por vezes tento e se desperto
Algum olhar em tons suaves; alço
Além deste horizonte em claridade
E uma esperança audaz agora invade,
Mas quando me aproximo, o tempo é falso.
44
Na pálida expressão deste luar
Reinando sobre um céu inestimável,
O sonho este corcel quase indomável
Além deste horizonte irá buscar
Quem tanto eu desejei; um dia, amar,
Mas sei deste caminho intransitável
E o quanto mais quisera em alcançável
Delírio se perdera sem tocar.
A lua se encobrindo em névoas dita
A sorte desejada, mas finita
Num átimo perdida em meio ao nada,
E à velha solidão, a companheira
Que sei ser a primeira e a derradeira
Minha alma adentra em dor a madrugada.
45
Vermelhos lábios; beijo imaginário
E o quanto pude até acreditar
No amor que ao menos quando a divagar
Foi meu, durante um tempo curto e vário;
Esboço de outro sonho; é necessário
Por vezes dos meus medos, libertar
A voz e procurando algum lugar
Aonde aporte um sonho solidário.
Rascunhos desenhados dentro da alma,
Apenas esta cena ora me acalma
E traz nova esperança, mas sei bem
Que após o amanhecer a vida volta
Aos tons mais dolorosos da revolta
E nada nem ninguém; decerto vem.
46
Ardentes os desejos de um poeta
E neste corpo nu e sensual
O amor se faz constante em ritual
E nele a poesia se completa,
Vestindo esta ilusão nesta audaz meta
O tempo muitas vezes desigual
Permite novo encanto e triunfal
Sorriso se apresenta em voz concreta.
Porém o quanto fora além do porto
Agora ao percebê-lo sinto-o morto
E nada mais traduz alguma luz,
Esboço de uma sorte mais diversa
E a vida ao seu princípio agora versa
E apenas frágil estrela além reluz.
47
Carícias entre riscos, risos, sonho
O quanto pude mesmo conhecer
Do amor quando se fez em tal prazer
Diverso deste medo onde me ponho,
Resulto de um momento mais bisonho
E sinto o meu caminho a se perder,
E neste navegar pudera ver
Outro cenário em paz, mas não componho.
Restauro apenas medos e somente
O amor quando se mostra e assim se tente
Vencer os mais comuns dos meus tormentos
Depois de tantas noites solitárias
As horas se revoltam, mas corsárias,
As ilusões aumentam sofrimentos.
48
No carmesim de um sonho em lábios quentes
As noites vagam lúbricas; anseios
Desenham nos meus olhos belos seios
E toques sensuais, mais envolventes
E neste delirar tu te apresentes
Deixando para trás os teus receios
E os dias que amortalham; pois alheios
Invadem em delírios inclementes.
Mas quando me aproximo e nada existe,
O velho caminheiro não permite
Além deste vazio, o meu limite
E o olhar extasiado, agora triste
Traduz o quanto fui e nada havia
Somente a solidão, dura e sombria.
49
Um dia entre carícias, sonho e gozo
Delírios sem igual, anseio e festa,
Ao tanto que inda pode o amor se empresta
Permite um novo dia majestoso.
E quando a vida em tom mais caprichoso
Adentra sem perguntas qualquer fresta
O tanto de um delírio que assim gesta
Invade outro cenário, fabuloso.
Mas pedregosa a vida não se entrega
E segue caminhando quase cega
Tropeça nos degraus desta esperança
E a queda se anuncia em tom atroz
Depois do imaginário, eis este algoz
Um anseio aonde a sorte ao nada lança.
50
Amargas noites; vejo desde quando
Abandonaste a casa e assim levaste
O quanto poderia haver em haste
E nisto o meu cenário desabando,
Esqueço este verão e já nevando
Nesta alma condenada ao vil desgaste
Do amor que tantas vezes me negaste
Apenas o vazio se formando.
Respaldos onde tento e até anseio
Saber ou perceber novo momento
E nele me entranhar sem mais defesa;
Porém o quanto resta em devaneio
Não traz a quem procura o quanto tento
Deixando-me da sorte amarga, presa.
51
Os prantos em tortura eu reconheço;
Sevícias de um amor inconseqüente
E ainda quando o sonho eu alimente
Apenas ilusão, mero adereço.
E tanto imaginar quando o começo
Dizia de outro sonho, mas ausente
Das mãos alguma sorte apenas tente
Voltar ao quanto pude e ora me esqueço;
Tecendo em desvario o meu anseio
E quando a solidão de volta veio
Tomando cada espaço do meu eu,
Restara tão somente este vazio
E neste caminhar ora desfio
Desejo quando a sorte se perdeu...
52
Nesta sensualidade à flor da pele
A tez amorenada de um desejo
E nela a cada instante o gozo vejo
De um tempo abençoado que revele
O tanto quanto além o amor compele
Seara aonde em paz eu me verdejo
E bebo o solitário e vil negrejo
Reflexo do vazio onde se atrele
Amante da ilusão? Já não comporto
Cenário aonde o tempo em dor aborto
Gerando tão somente a tez atroz
De quem se perdeu quando imaginara
A vida novamente bela e clara,
Porém a mesma ausência logo após.
53
Amante das estrelas, o poeta
Que um dia se fizera enamorado,
Bebendo cada sonho anunciado
Nas ânsias desta vida mais completa,
E nada do que outrora fora meta
Permite algum anseio saciado
E o rumo no vazio ao ser traçado
Deste mesmo cenário se repleta.
Angustiadamente sigo em frente
Vagando pelas ruas, inda tente
Algum momento aonde me ancorar,
Apenas a verdade se anuncia
Trazendo um nevoeiro a cada dia,
Oculta dentro em mim qualquer luar.
54
Tristonhos olhos buscam qualquer mimo
Do encantador caminho em luz intensa
E quando da esperança se convença
Apenas outro sonho onde a redimo,
Tramando a qualquer preço o que inda estimo
Embora a própria dor em vaga crença
Negando ao fim da tarde a recompensa
Por sonhos desiguais meu verso eu primo.
Escassa luz adentra qualquer fresta
E quando esta sombria tez empresta
À vida a palidez desta inconstância,
Crisálida abortada, aprisionada
Aonde se quisera libertada
A imaginária luz em discrepância.
55
Aonde o pensamento ora repousa
Descansa o coração aventureiro
E neste desenhar o meu tinteiro
Já não macula mais a clara lousa
Esgoto o meu delírio no vazio
E sei do quanto posso, mas não vens
E além dos desafios, os desdéns
Transformam o suave em turvo rio.
Ascendo num instante à fantasia
Gerada pela voz de uma inocente
Vontade quando o nada se apresente
E neste mesmo nada já recria
Cenário transbordante em dor e medo
E às tramas deste sonho eu me concedo.
56
Na palidez do olhar em busca de
Um dia aonde pude transformar
O nada noutro imenso e bom lugar,
Mas quando na verdade nada vê
Somente este caminho sem por que
Regendo dentro em mim um frio altar.
Pudesse novamente imaginar
O quanto o coração deveras crê.
E sei dos dissabores tão vulgares
Aonde teu vazio propagares
Vencendo os meus desejos mais felizes,
E quando a luz invade mansamente
Ao mesmo tempo chegas e inclemente
Este cenário em paz; logo o desdizes.
57
Sentindo em tênues tons o doce aroma
De uma esperança aonde quis bem mais
Que meros desenhares tão iguais
E nesta sensação minha alma doma,
E quando imaginário e leve coma
Em gozos e delírios sensuais
Derramas entre as pedras e não mais
Percebo o quanto outrora fora soma,
Desnudando minha alma nada veio
E o olhar quando se mostra mais alheio
Presume este falsário pensamento
Aonde noutro instante quis além
E sei que na verdade não contém
Sequer este desejo onde me alento.
58
Num prado, bosque além deste desejo
Buscando algum buquê em flóreos tons
As noites entremeiam-se em neons
E além do quanto tento e mais almejo
O coração de um pobre sertanejo
Guardando imaginários sonhos bons
Esvai-se nos grisalhos destes tons
Aonde o meu caminho ora porejo.
Arquétipos já não mais se completam
E os versos entre tantos sonhos vetam
Palavras que pudessem me alentar,
E os raros dias mansos são promessas
E neles cada passo tu tropeças
E mudas meu desejo de lugar.
59
Um delicado corpo em tons suaves
Deitado sobre a cama, um raro sonho
E nele novo encanto eu me proponho
E deste coração emergem aves
Vagando por delírios, onde graves
O dia que entre tantos, mais risonho
Permite o novo encanto e não me oponho
Apenas vislumbrando anseios, naves.
E quando me percebo mais aquém
Do tanto quanto amor já não provém
De luzes o caminho aonde um dia
A sorte noutra face desenhada
Transcende ao mesmo tempo a madrugada,
Porém a solidão atroz porfia.
60
Perfumes de verbenas e de rosas
Adentram a janela do meu quarto
E quando a solidão; não mais reparto
As noites entre dores, pedregosas
As horas são deveras caprichosas
E neste caminhar expresso o farto
Delírio aonde apenas; tento e parto
Tentando outras searas majestosas
E sei desta improvável solução
Esboço de algum sonho de verão,
Mas quando em outonal caminho eu vejo
O meu olhar se perde em tom sombrio
E quando penetrando, o desvario
Desenha nos meus céus outro negrejo.
61
Entre os albores vejo o teu olhar
E bebo cada toque mais audaz,
Mas quando a bruma espessa volta e traz
Ausência em solidão, nada a mostrar,
Somente esta inclemência onde aportar
O canto mais feliz já não se faz
Entorpecido, embora até tenaz
No contumaz vazio, o meu lugar.
Viceja a primavera em cores várias,
As horas se repetem solitárias
E outono dentro da alma se invernando,
O tempo claro expressa a realidade,
Mas dentro em mima apenas já degrade
Gerando outro momento mais infando.
62
A boca sensual carnuda e bela
Na brônzea maravilha em veraneio
O quanto deste encanto enfim rodeio
E nesta fantasia uma alma sela
Delírios sem igual, abrindo a vela
O coração navega sem receio
E quanto mais audaz o devaneio,
Maior a solidão, atroz a cela.
Esgoto a minha vida em tênue sonho
E sei do quanto posso e me proponho,
Mas como fosse assim mera vingança
A espúria realidade torna em bruma
O quanto do imaginário ora se esfuma
E o meu caminho ao léu a vida lança.
63
Teu rosto gera o sonho aonde eu pude
Vencer a timidez e a solidão,
E nesta tez suave se verão
Revivos os luzeiros: juventude,
Mas quando o sol perdendo a magnitude
Expressa novamente a hibernação
Resumo o meu delírio neste vão
Ainda que algum sonho venha e ilude.
Cerzindo do meu passo outro diverso,
Pudera acreditar neste universo
Gerado pelo anseio, mas somente
O frio tomando a alma me repleta
E aonde quis o amor, superna meta
A sombra novamente se apresente...
64
As pétalas da rosa que cevaste
Em mim num flóreo sonho mais feliz,
Ao mesmo tempo enquanto inverno diz
Deste vital tormento em tal contraste,
Resumo o meu delírio, mero traste
E o quanto ainda trago em cicatriz
A força da ilusão, má geratriz
Fragilidade expressa qualquer haste.
Resulto desta insânia ao caminhar
Por entre estes florais, os teus canteiros
E os sonhos que julgara verdadeiros
Apenas noutro tom a se formar,
Das pétalas de rosas multicores,
Grisalhos dias moldam medos, dores.
65
As lágrimas nevando dentro em mim
Na gélida expressão de invernal senda
Sem nada que o meu sonho em vão atenda
Guardando uma esperança em camarim,
A cena se aproxima do seu fim
E o trágico momento agora estenda
As garras e deveras não entenda
Senão este vazio e dele eu vim.
Ascendo em pensamento o mais sobejo,
Mas quando a realidade nua eu vejo
Pressinto este cenário; vis tragédias.
Os meus corcéis vagando num tropel
Alcançam num instante o imenso céu,
Mas como se perdi há tanto as rédeas?
66
Ao vê-la em palidez desnuda eu sinto
Esquálida figura da emoção
Esboça nos meus olhos reação
E o quanto quis agora vejo extinto.
E quantas vezes; tento, finjo e minto
Traçando noutro rumo a direção
E sei dos desvarios que virão
E o fim tão tortuoso ora pressinto.
Escassos dias dizem do abandono
E quando do vazio em mim me adono
Adorno o pensamento com engodos,
E volto ao meu caminho em charqueada
Dos tantos desejados, resta o nada,
E piso em movediços, torpes lodos.
67
Um astro entre os diversos, o mais belo,
Amor não mais sacia o quanto anseio
E nesta solidão, enfim rodeio
O quanto deste encanto ora revelo,
E ao vê-la transparente em teu castelo
Sentindo a maciez de cada seio,
O toque desejado e sem receio
Desenha outro cenário onde me atrelo.
E atrevo-me a sonhar, embora eu saiba
Do pouco nesta vida que me caiba
Resolvo acreditar em nova luz,
Semeio esta esperança em solo agreste
E quando a realidade o nada ateste
Apenas um aborto reproduz.
68
Num infernal caminho o meu desejo
Aprende com as quedas ou até
Esboça outro delírio e tenta em fé
O caminhar deveras mais sobejo
E quando no final apenas vejo
O risco atordoando o quanto se é
Vacância dentro em mim gera a galé
E o risco de sonhar, mero lampejo.
Esboço reações e tento um gozo
Aonde poderia majestoso
Desenho de uma vida mais feliz,
Sementes de esperança na aridez
Enquanto o dia a dia já desfez
E o tanto imaginado nunca quis.
69
O corte do punhal adentrando a alma
Espúria solidão domando o sonho
E quando alguma luz enfim componho
Nem mesmo esta ilusão sobeja acalma,
E quando se conhece e traz o trauma
De um tempo mais atroz, mesmo medonho
Aonde na verdade recomponho
O mundo já sonega qualquer calma,
Esplendorosa tarde do passado
Agora em tom sombrio traz, nublado
O anseio de um poeta em voz cansada,
Depois de tantas lutas vida afora
Somente a solidão teima e vigora
Gerando após o nada, o nada, o nada...
70
A face mais sinistra da verdade
Espúria noite em mim e nada trago
Sequer o meu caminho em manso afago
Enquanto a podridão da vida invade,
E tento ultrapassar a firme grade
E nesta solidão em luz me alago,
Vivendo este momento turvo e mago
E nele ao menos sonho ainda agrade
Vestindo esta emoção diversa quando
A tempestade ainda desabando
Trazendo alguma luz neste horizonte
Contraste onde deveras já se aponte
O quanto possa haver e mesmo tente
Cenário entre brumoso e iridescente.
71
Amorfa criatura em mutação
Por vezes me transformo em quase humano
Em outras pouco a pouco se me dano
Enfrento as tempestades que virão
E sei da minha eterna imprecisão
No quanto a cada passo mais insano
Mergulho no passado soberano
E causo dentro em mim, revolução
Arquétipos de quem outrora fora
Nesta ânsia tão venal e sonhadora
Ao caracterizar o quanto sou
Diverso de mim mesmo e enquanto nisto
Deveras sem saída ainda insisto
Bebendo cada gota que restou.
72
Ansiosamente vivo em preces quando
O tempo se transforma e impede o passo
Aonde na verdade o que inda faço
Noutro momento sinto-o desabando.
O medo noutro enfado. Neste bando
De cores ocres sinto o descompasso
Toando a cada verso quando traço
Meu mundo carregando-o em contrabando.
Esforço-me até a acreditar
Num tempo sem juízo e sem lugar
Apenas por contê-lo e nada mais,
Mas quando a consciência ainda impera
Gerando a mais temida e dura fera
Enquanto busca apenas os cristais.
73
Ardências entre os erros que cometo
Durante esta passagem pela Terra
E quando alguma luz longe descerra
Eu tento imaginar outro soneto.
Ousando noutra face eu me arremeto
E me alimento até do que desterra
Após a tempestade em liça e guerra
Trazendo qualquer brilho neste gueto.
Esgoto as minhas lavras quando tento
Vencer o mais diverso e vão tormento
Gestado pela angústia do não ser.
Ouvindo desde então em solilóquio
Ainda que outro instante vão, provoque-o
Desenho com desdém e ao bel prazer.
74
Neste oceano imenso onde pudera
Incendiar com bravas ondas, vida
Expressa desde então a despedida
Marcando com terror a primavera.
A sorte noutro fato destempera
E bebe da saudade sendo urdida
Nos grandes vãos teares de uma lida
E deste caminhar já nada espera.
Vacância entre domínios mais diversos
Imerso na cadência de alguns versos
Resumos de uma pálida emoção,
Vestindo a solidez da fantasia
Aonde o meu caminho se sacia
Nos tépidos desejos de um verão.
75
Enquanto ao padecer em dor e medo
De tantas ilusões sigo cansado
Vagando em sortilégios, vejo o enfado
Aonde sem temores eu procedo.
E sinto o quanto pude desde cedo
Durante o meu caminho apresentado
Nas tramas entre anseios e pecado
Tecendo com ternura um desenredo.
Esbarro nos meus ermos e vasculho
Cada pedaço feito em pedregulho
Jogado nalgum canto de minha alma.
Porquanto ser feliz ainda eu tente
Depois do céu confuso e prepotente
Tramando alguma messe que me acalma.
76
Num vórtice diário enfim porfio
E tento acreditar na paz além
Do quanto na verdade sei que vem
Traçando cada margem deste rio.
A vida sendo eterno desafio
Envolta nos domínios do desdém
Esboça novos tons onde não tem
Sequer o que pudesse ser sombrio.
E sinto já vencidas as tormentas
Quando em delírios calmos me apresentas
Diverso passo envolto em mansa luz.
Mas sei também da eterna discrepância
É quando se percebe noutra estância
O quanto de mim mesmo a reproduz.
77
Aonde entremeando crença e treva
Vagando entre os infernos, céus e ocasos
Os dias em seus mantos, ermos prazos
Durante a solidão aonde neva.
Escasso caminhar já toma e leva
A sorte noutros rumos e descasos,
Desarvorando a rota adentro os rasos
Desenhos onde a vida nada ceva.
Esparso caminhante do não ser
Esbarro nos meus âmagos e crer
Na sólida expressão e assim confirmes
Os erros costumeiros não impedem
Aonde os desejares se concedem
Desde que os solos sejam sempre firmes.
78
Entre esperanças, medos, quedas; sigo
E venço os meus diários dissabores
Sem mesmo até; diversa, tu te opores
Traçando dentro em mim algum abrigo,
E quantas vezes; teimo e até prossigo
Alçando quem me dera raras flores
E sei dos meus canteiros multicores
Na cúpida expressão onde os persigo.
Estéticas diversas; traz a vida
Atrás deixando a marca em despedida
Do impessoal desenho aonde um dia
Pudesse imaginar dispersos tons
Matizes muitas vezes tão mutáveis
E neles outros tantos desejáveis
Traçando estes delírios, raros, bons.
79
Sublimes atos; tento e quando os vejo
Trazendo dicotômica expressão
Na movediça luz se mostrarão
Os delicados rumos deste ensejo.
E quando o meu caminho é malfazejo
E dele se percebe a geração
De esgares entre teimas não verão
Sequer, os meus olhares, o desejo.
Esgoto qualquer canto aonde pude
Tentar revigorar em plenitude
O quanto renovável fosse; a vida.
Nesta avidez o incauto navegante
Ao próprio desdenhar já se adiante
E mostre a sua face. Desprovida.
80
Jamais me satisfaço e tento um rumo
Diverso a cada instante e recomeço,
E quando noutro tempo eu me endereço
Ao mesmo delirar se oponho escumo.
Nesta imprecisa voz, ausente prumo
Mostrando a cada instante outro adereço
Do todo que inda resta reconheço
E bebo o sortilégio; amaro sumo.
Escassas noites trazem a bonança
E quando a madrugada em luz avança
Prenunciando um dia mais tranqüilo,
Na revoltosa e vã dicotomia
Mudando o que decerto se anuncia
E entre as brumosas sendas eu desfilo.
81
Momentos de grandeza aonde um dia
Pensara ter somente uma ilusão
E sei que novos tempos poderão
Mudar o quanto tento e não podia.
A sorte a cada instante o sonho adia
E gera no final tola emoção
De todo este vazio uma expressão
E nela cada messe se irradia.
Após as derrocadas de um caminho
Entre delírios tolos, um daninho
Desejo agora gera em nova senda
A pérola que em lodo se formara
E transitando a vida em jóia rara
Transporta a solução e em paz se estenda.
82
Num êxtase sublime e até bendito
Esboço outro desenho aonde há tanto
Apenas garatuja; inda garanto
E neste novo tom hoje acredito
Trazendo o quanto eu quero e necessito
Marcando com ternura um belo canto
E deste raro empenho, claro encanto
Acalma um coração antes aflito.
Espalho a minha voz aos quatro ventos
E tento novamente em pensamentos
Alçar a plenitude desenhada
Nas tramas mais sinceras deste anseio
Vagando sem destino em devaneio
Depois de tanto tempo envolto em nada.
83
A natureza envolta em divergentes
Desenhos muitas vezes dicotômicos
Traduz além dos medos, os hedônicos
Anseios onde tantos novos; tentes.
E quantas vezes são mais inclementes
Os riscos e decerto desarmônicos
Por vezes quase mesmo até agônicos
Enquanto novas tramas tu pressentes.
E nesta variável fúria e paz
Entoas o que a vida em avidez
No quanto tantas vezes se desfez
Ou face mais diversa agora traz
Gestando o quanto aborta no final,
Mas sei desta inconstância em vago astral.
84
As almas se tocando além da vida
Num infinito espaço aonde um dia
Pudesse transformar em harmonia
A cena de juízo desprovida,
É quando se resume a precavida
História noutra tanta em que se via
A gestação de imensa fantasia
Jamais em plenitude resolvida.
Esboço de um eterno sentimento
E nele a cada instante a fuga eu tento,
Mas quando a gula traz esta obsessão
De ter e ser bem mais do que pudera
Renasce dentro em mim a primavera
Embora os meus grisalhos; dizem: não!
85
Mistérios entre tantos que adivinho
Servindo de alimária quando eu quis
Decerto num instante ser feliz
Embora me desenhe mais mesquinho,
Cerzidas esperanças num espinho
Esgarço o meu caminho e por um triz
Do róseo anunciado apenas gris
Tomando em desalento este ar daninho.
Deveras o cenário se percebe
Diverso e sendo assim; dispersa a sebe
O ritual se afasta e modifica
A sorte desenhada noutro tom
Exprime a imprecisão e sem ou com
Meu canto a cada sol se mortifica.
86
Na frágil caminhada pela vida
Esparsos e diversos tons em sóis
Aonde noutro instante tu destróis
A fonte tantas vezes mal urdida,
E quando se imagina a despedida
Transitas com delírios nos lençóis
E trazes novamente os teus faróis
Às tramas do desejo ora rendida.
Mas logo após o gozo saciado
O tempo se esboçando já nublado
Revoas para além nesta inconstante
Imagem onde o sonho ora disperso
E quando ao teu anseio ainda verso
Sonego ou reafirmo noutro instante.
87
A esfera luminosa em prata eu vejo
Tomando em claridade este horizonte
E neste delirar o olhar aponte
O contumaz anseio mais sobejo,
E bebo deste todo aonde almejo
Além de meramente grácil ponte
Um raro desenhar onde desponte
Após argêntea noite, este azulejo.
Esmeraldinos tons de uma esperança
Na multifacetária vida agora
Desenha um cais seguro e nele ancora
A sorte quando o tempo além avança
E rege com ternura o que pudesse
Traçar neste cenário esta benesse.
88
Sanções diversas; dita a voz sombria
Envolta em névoas tantas, mais espessas
E quando a minha vida; reconheças
Na falsa sensação quando emergia
O caos se aproximando reinaria
E neste desenhar sempre às avessas
Transitam as adagas e não esqueças
Do encanto e dissabor em romaria.
Capazes sonhos trazem discordâncias
E das dicotomias tais estâncias
Geradas pelas tenras ilusões,
Explodem em momentos mais diversos
Nos gêiseres desta alma sinto imersos
Cenários onde enfim, os decompões.
89
Na gênese do amor a luz envolta
Em clara sintonia com luzeiros
Aonde se apresentam verdadeiros
Desenhos deste encanto sempre à solta.
Da malta desenhada, nova face
E nela se apresenta outro cenário
No amor que tantas vezes necessário
Caminho mais diverso agora trace.
Numa eclosão dispersa e multicor
Vacâncias dentro da alma, ledo espaço
Aonde esta emoção deveras traço
Mudando a cada instante o seu sabor,
São vastas as searas e os anseios
Ainda quando mesmo em devaneios.
90
Soluços entre lenços, tanto adeus
Gerado pelas inconstantes luzes
Aonde num instante reproduzes
Os dias que pensara outrora teus.
E os ermos entre luzes frágeis, breus
Expressam o caminho em flores e urzes
E assim neste cenário me conduzes
Nos passos entre crédulos e ateus.
Ateia o fogaréu e já me alaga
Das fráguas o vazio de uma vaga
Expressa o tom vigente deste caso,
E quantas vezes; sito este momento
Entremeando paz e desalento
E desta intensidade ora me aprazo.
91
A minha alma percorrendo
Neste instante este infinito
Caminhar por onde; aflito,
Muitas vezes fui horrendo
A minha alma este remendo
Bebe quanto eu acredito
E decerto necessito
Noutro tanto se tecendo
E se às vezes me contenho
No vazio de um empenho
Em terrível sortilégio
Acenando em siderais
Desenhares onde estais
É decerto um sonho régio.
92
Entre tantos dias; langue
Percorrendo cada espaço
Onde em versos me desfaço
E sorvendo morro exangue
Neste lodo, charco e mangue
Reconheço cada traço
E se embebo o quanto escasso
Desenhar em sonho e sangue
Enveredo muito além
Do caminho onde contém
Versos tristes no abandono
De quem tanto quis a sorte
E deveras já se corte,
E meu canto eu desabono.
93
Destas asas onde apenas
Conheci a liberdade
Cada passo se degrade
Entre duras, ledas cenas
E se ainda me condenas
Numa etérea falsidade
Bebo o quanto ainda invade
Os meus olhos são falenas
Na procura desta luz
Onde amor que mais seduz
Espelhasse outro futuro,
Mas sidéreo som se emana
Numa messe até profana
Esvaece-se no escuro...
94
Qual sirena; entoas cantos
Que transcendem ao sublime
E se tanto desoprime
Noutro instante cerzi mantos
Mais diversos e os quebrantos
Onde a sorte se redime,
No final já tanto estime
Quem perfuma com encantos,
Num herético cenário
Outro fardo necessário
Para quem se quer além
E o mesquinho ora se espraia
Dominando a imensa praia
Gestações que amor contém.
95
Apenar quem tanto quis
E jamais pode saber
Dos desmandos do querer
Força etérea e geratriz
De um momento claro ou gris
Neste tanto entorpecer
E se o posso inda conter
Galgue um sonho mais feliz,
Esboçar outro senão
Onde os dias moldarão
Quanto pude discernir
Deste verso aonde o tanto
Molde o sonho e já garanto
Das benesses, o porvir.
96
Luzes fartas onde um dia
Pequenino sonhador
Ao gerar em mim o amor
Nova sorte se tecia
O caminho em tez sombria
Tantas vezes dissabor
Meramente a se compor
Nas searas da heresia
Entre os astros cores várias,
Mesmo as ditas procelárias
Invadindo o quanto pude
Discernir neste abandono
O caminho que ora abono
Com sofrível atitude.
97
Tenuemente a vida traça
Expressões diversas quando
O meu mundo desenhando
O que tanto fora escassa
Solidão por vezes passa
E se molda este ar nefando
E decerto estou nevando
Neste outono feito em traça,
Caminhante em dor e tédio
Onde a sorte diz do assédio
Desta lúbrica emoção
Visto em mim os olhos frágeis
Entre tantos sonhos ágeis
Outros tantos nascerão.
98
Aonde poderia ter a chave
Que um dia permitisse nova messe
E o vento neste espaço ainda tece
Um sonho e nele a vida não agrave
O manto desvendado dita esta ave
E nele este abandono já se esquece
De quem ao caminhar sempre padece
Do medo como fosse queda e entrave.
Vestindo a fantasia geratriz
De um vórtice onde tento desenhar
Talvez outro delírio aonde amar
Pudesse ser bem mais do quanto eu fiz
Entre os supérfluos ritos do abandono
Enquanto em voz suave enfim me abono.
99
Aonde com tristeza esta agonia
Gerasse entre os astrais sidéreo fato
E neste caminhar tanto desato
Enquanto noutra face o soerguia
Vetusto caminho poderia
Tramar este cenário onde resgato
Além do desenhar onde maltrato
O canto em tênue voz mesmo sombria
Ecléticos demônios que alimento
Com tépidas loucuras, desalento
E desta voz deveras inconstante
Apenas o somático delírio
Tramando a cada passo outro martírio
E nele a própria ausência se agigante.
100
Dos féretros desta alma incandescente
Ultrizes emoções regendo o passo
E neste desenhar turvo eu desfaço
O quanto noutro sonho se apresente
E sei o quanto eu posso e consciente
Do medo e do terror gero o compasso
Diverso do caminho aonde traço
Encanto variado e prepotente;
Esgarço com a tênue realidade
Somenos ilusões entre outras tantas
E quanto mais a vida desagrade
Festivos desenhares tu encantas
E morto aonde pude à saciedade
Sorver onde decerto o não garantas.
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