sábado, 29 de maio de 2010

34601 até 34650

34601

Tentando levantar o olhar aonde
O tempo não permite mais sinais
Além dos tão constantes e venais
A própria fantasia não responde
E ali, ao crer no verme que se esconde
Na espreita de banquetes colossais
A morte se traçando em funerais
Porquanto a cada passo queda a fronde
Assim ao me entregar ao vil fastio
No peso de uma vida sem proveito
Enquanto neste vago inda me deito
E aos poucos gero em mim árido estio
Eu sinto esta benesse feita em morte
Aprofundando aos poucos cada corte.

34602

Ande é necessário ter coragem
Seguir contra os diversos vendavais
Meus olhos se negando e nunca mais
Terei além da vida uma ancoragem,
No porto que pensara em hospedagem
Os dias entre tantos são iguais
Palavras se perdendo em rituais
Idênticos caminhos, sem paragem.
Miragens tão somente os sonhos vãos
E quando acordo escuto os mesmos nãos
Sabendo ser assim até o fim,
O todo que pensara ser eterno
Adentra em plena vida neste inferno
Apodrecida face viva em mim.

34603

Enquanto ainda ao longe vejo uma obra
Diversa da que tanto imaginara
Imagem do passado, ainda clara
Noutro momento atroz já se desdobra,
O tempo sem parar deveras cobra
E o quanto a própria vida desampara
E nega em solidão, tramando a escara
Adentra no meu corpo em cada dobra,
E resta muito pouco do que tanto
Desejara durante a curta vida,
O tempo a cada instante mais acida
Gerando tão somente medo e pranto,
Restara dentro em mim uma esperança
Que agora no vazio enfim se lança.

34604

O tempo na verdade é curto, eu sei,
E a fome de viver não se sacia,
Mas quando envolto em trevas e agonia
Buscando no passado a morta grei
Do quanto que pensara desfrutei
Na face desdenhosa da ironia,
E tudo sucumbindo dia a dia
Nos ermos pesadelos mergulhei,
Escuto apenas restos do que há tanto
Julgara ser ainda um breve canto
Agora em ladainha se eterniza,
Minha alma se perdendo do seu porto,
O olhar de quem deveras está morto
Entrega-se à mortalha, mais precisa.

34605

Longínqua noite trama a sepultura
De quem ainda crê noutro momento,
E quando bebo a sorte e me apascento
A vida não perdoa e se amargura,
O corte se aprofunda e nega a cura
Aonde poderia algum alento
Aumenta dia a dia o sofrimento,
Aos poucos me entregando em tal loucura,
Amordaçado sonho nada diz
E o quanto ainda teimo em ser feliz
Traçando com sarcasmo, uma balela,
Aos poucos decomposto, pleno ocaso,
O tempo se esgotando, findo prazo
A morte em face escusa se revela.

34606

Do quanto quis em vida, tal mistério
Gerando outro caminho bem diverso
Agora me aproximo e assim eu verso
Singrando as solidões de um cemitério,
O tanto que pudera em falso império
Do todo um passo torpe e enfim disperso
Apenas no vazio sigo imerso,
A vida não traduz qualquer critério,
Assim ao perceber a despedida
Agora me entranhando em plenitude
A paz faz com que tudo enfim transmude
E encontro-a bem após a minha vida,
Da escória, simples pária agora eu vejo
Bem mais do que pensara em vão desejo.

34607

Meu peito em tantas trevas decomposto,
E quanto mais lutando maior luto
Assim olhar estúpido, reluto,
Porém sulcado em fúria vejo o rosto
Meu corpo a cada instante sendo posto
Nas tramas deste ser cruel e astuto
Porquanto na verdade, nada escuto,
Somente o tom atroz deste proposto,
Vagando pela fútil imensidão,
Uma órbita vazia busca o chão,
E o passo se transforma em vil novelo,
A cada instante entranho este terror,
A face atormentada dita o horror
De um vivo e tão presente pesadelo.

34608

A fúnebre presença da rapina
Beijando o que pudesse ser ainda
A vida que deveras já se finda
E ao mesmo tempo alheia se fascina,
No quanto nada mais a alma domina,
A fúria desdenhosa ora me brinda
E vejo esta figura podre e linda
Aonde o passo atroz se desatina,
Vivera e até pudera crer em Deus,
Agora ao perceber o vago adeus
Encontro os meus espectros, perco o rumo,
Do todo que sonhara, riso e festa,
Apenas o vazio inda me resta
E com tal sordidez eu me acostumo...

34609

A face desdenhosa e amortalhada
De quem se fez um dia majestosa,
Assim ao perceber a podre rosa
E nela toda a sorte já traçada,
Eu vejo no final o mesmo nada,
E nele cada noite caprichosa
Do quanto poderia o tempo glosa
Não resta nem sequer uma alvorada,
Eterna noite em trevas, nada mais,
Exposto após os ritos funerais
Ao vago e ao desencontro, uma alma cala,
E apenas por momentos insistira
Qual brasa se extinguindo, breve pira
Exposta num cortejo em plena sala.

34610

Apenas condenado – esquecimento-
O quanto fora em vida altivo e nobre
A morte pouco a pouco nos recobre
Depois não resta mais sequer alento,
O nome se perdendo em ledo vento,
O quanto imaginara já se cobre
Da terra e do vazio, uma alma pobre
Procura noutro ser o seu sustento,
E galga ao mais terrível dos infernos
Bebendo dos eternos vãos invernos
Negando-se talvez à própria luz,
E assim morte após morte, a vida trama
O etéreo reviver em parca chama
E dela se percebe o corte e o pus.


34611

Distante dos meus dias mais felizes
A morte toma forma e já me toca,
Ao mesmo tempo fujo em furna e toca,
Mas logo se percebem meus deslizes,
De tantos sofrimentos, cicatrizes,
A vida noutro tanto não se aloca
E o vento desdenhoso ronda a roca
Penhasco de ilusão que contradizes
E fazes dos meus dias infernais,
Momentos entre tantos desiguais
Rondando-me deveras fera e gula,
Ao mesmo tempo aumenta este ferida
Levando gota a gota minha vida
Até que a imensa chaga venha e engula.

34612

Qual fora mera flor em tempestade
O tempo não permite solução
O mundo que eu sonhara eu vejo em vão
E apenas um espectro ainda brade
Toando com terror o que degrade
Traçando num aspecto de emoção
A face da total imensidão
No quanto este vazio toma e invade.
Mesquinhos dias mortos vejo quando
O mundo noutra face deformando
O todo que julgara mais perfeito,
Depois de tanto tempo, nada resta
Somente esta figura em vão, funesta
Espelho de meus sonhos quando deito.


34613


Sentindo da mortalha o seu aroma
Entrando pela sala adentra o quarto,
E assim aos poucos vejo enquanto parto
O quanto a morte teima e já me doma,
Aonde no passado fora soma,
Agora tão distante, mero e farto,
Aos poucos desta vida me descarto
Torpores reluzindo em breve coma.
A cena se ampliando nada traz
Somente este vazio, e finda a paz
O mundo não trará qualquer alento,
Perfume de enlutado caminhar
Aos poucos me rendendo a tal altar
Entregue à profusão de um intenso vento.


34614

Profunda solidão tomando tudo
E quanto mais eu busco respirar
Não posso noutro tanto me mostrar
E apenas no vazio enfim me iludo,
O rosto decomposto e assim transmudo
Entregue aos dissabores, sem lutar
Buscara pelo menos um lugar,
Porém eu permaneço quieto e mudo.
O fardo de viver se aliviando,
Um ar mais tenebroso e até nefando
Espalha-se na casa e não escapo,
Do todo imaginado em pura seda
Imagem que ora vejo ausente e leda,
Não resta nem sequer resquício ou trapo.

34615

Vivera sob a luz e a claridade
Da lua, sol, das ânsias do futuro
E agora neste instante mais escuro
Apenas o terror ainda invade,
E a cada ausência o tempo mais degrade
Deixando no passado o que procuro,
O solo imaginário vejo duro
Da ausente liberdade, imensa grade,
Aos poucos minha vida não se vê
O quanto busco e sempre este cadê
Responde como ausência em solidão,
Aonde quis a glória nada tendo
Mistérios do vazio ora desvendo
E sei desta alma ausente direção,

34616

Aonde quis os sóis em plena praia
Desértico caminho desnudara
A vida que talvez pudesse clara
Agora a cada instante já se esvaia
Morrendo pouco a pouco, o sol desmaia
E a morte em noite escusa se declara
O passo a cada instante desampara
Porquanto uma ilusão sobeja traia.
Resisto o quanto posso, mas bem sei
Da vida eterna e amarga, leda lei
E assim ao se findar mais uma história
Por vezes sonhadora e prazerosa,
Enquanto o esquecimento dita a glosa
Do corpo resta mera e tosca escória.

34617

Dos templos do passado, este pilar
Agora destroçado já não vejo
Sequer a menor sombra do desejo
E neste vão insisto em mergulhar,
O peso do viver a me envergar
O corte cada vez mais o prevejo
E quando alguma luz ainda almejo
Eu sinto o frio imenso a me tocar,
Resíduo do que fora um vão poeta,
A sorte noutro tanto se completa
Deixando para trás minha existência
E assim ao menos pude ver no fim,
O vento transformando o meu jardim,
Na rosa aberta, imagem de clemência.

34618

Frondosa e imensa imagem de um momento
Granítico tormento a vida traz
E quando ainda vejo o passo audaz
Nem mesmo alguma luz traduz alento,
Pudesse libertar meu pensamento,
Porém a vida dita em tom mordaz
O quanto do passado mata a paz,
E assim sobrando apenas sofrimento.
No fardo que carrego, uma esperança
A morte com terror adentra e avança
Denigre cada face dita o nada,
E o parto que se aborta em tal vazio,
Em versos minha senda assim desfio
Traçando em tez sombria a madrugada.

34619

As ondas bebem praias e se vão
Espumas de uma vida já desfeita
E quando a realidade assim se aceita
Nem mesmo outros momentos, mesmo não
E quando se pensara em solução
A fúria do vazio se deleita
A morte redentora sendo feita
Nos ermos de uma torpe ingratidão,
Razões entre diversas para crer
No fim anunciado e passo a ter
Apenas um sinal do que pudesse
Trazer ainda um brilho ou qualquer luz,
Mas quando me percebo em farto pus,
Esqueço este caminho em tola messe.

34620

Misturam-se cenários mais diversos
E neles os matizes grises sinto
Tomando toda a força e por instinto
Percorro novas sendas, vãos imersos,
E tanto poderiam universos,
Porém o meu caminho vejo extinto
E quando no vazio inda me tinto
Os passos quando os dou, sinto-os dispersos.
Rasgando a minha pele esta corrente
E nela esta vergasta se apresente
Gerando esta terrível cicatriz,
O mundo imaginário, torpe senda,
Apenas o vazio ainda atenda
Traçando no final o que eu não quis.

34621

Ouvindo da esperança seus acordes
Tentando desvendar algum futuro
No quanto de mim mesmo inda procuro
Diverso do que tanto inda recordes
Ainda quando mesmo não concordes
Esculpo do passado e me amarguro
No passo feito em trevas, eu perduro
Vivendo em medonhos desacordes
Adentro os funerais sei dos velórios
Os dias sempre foram merencórios
E neles sou escória e nada mais,
Vagando sem destino sigo enfim
Buscando o que inda resta e sei no fim
Apenas bebo torpes vendavais...

34622

Solenes noites vagas ilusões
E quando relembrando cada fato
Aonde sem saber inda retrato
Em velhas e insondáveis expressões,
Ainda longe sinto estes verões
E o gosto do passado já desato
No fardo carregado quebro o prato
Olhares em venais exposições,
A marca da existência em dor e pranto
O quanto inda pudera ver e canto
Apenas os meus ermos, nada além.
Sentir desta promessa uma inconstância
O passo rumo ao nada em discrepância
Vazio cada dia me contém.

34623

As cores do poente vejo além
E tento acreditar noutro momento,
Mas quando a noite trama o desalento
Apenas o terror invade e vem
O quanto do que fora tento alguém
E quando novo tempo ainda invento
Dos tantos dissabores me alimento
E sei quanta esperança diz desdém,
Recebo o vento frio desta noite
E quando me percebo em franco açoite
Não resta uma esperança mais sequer,
Sangrando dentro em mim o que pudera
Ainda ser talvez a primavera,
Lutando contra tudo o que vier...

34624

Meus olhos refletidos no vazio
As brumas domam logo este horizonte
Bem antes que algum sol inda desponte
As hordas mais sutis eu desafio,
E tento percorrer airoso rio
Vagando desde agora em plena fonte,
Mas quando a cada queda desaponte
Perdendo desta história logo o fio,
Apraz-me perceber ao menos isto,
E assim mesmo sozinho vou, persisto
Tentando acreditar nalguma foz,
Acordo em dissonância e nada vejo,
Ausente de meus braços o desejo,
Há tanto desatados laços, nós.

34625

Volúpias entre noites presumidas
Assim a vida fora em negação,
Perdera desde já embarcação
Deixando para trás as tantas vidas
E nelas não se vendo mais saídas
O corte gera imenso turbilhão
E tendo em minhas mãos outro senão
Não restam mais sequer as despedidas,
Assaz maravilhosa noite morta,
E quando o sol adentra a minha porta
Encontra-me sombrio e nada tenho,
Somente o que pudera acreditar
E assim neste terrível mergulhar
Apenas no não ser eu me contenho.

34626

Aonde imaginara imenso mar,
As ondas se afastando dos meus dias,
Areias movediças e sombrias
Invés desta beleza a se moldar,
No quanto pude mesmo acreditar
E sinto mais diversas agonias
E nelas outras tantas me trarias
Matando cada sonho devagar,
Perguntas sem respostas, nada escuto,
E quando o passo dado bem mais bruto
Transcende à própria sorte, eu me desfaço,
E nada do que tanto desejara
Agora a vida traz porquanto amara
E ocupa em desvario cada espaço.


34627

Ainda que restassem esplendores
Dos tantos que busquei e não sabia
Do vento quando atroz e a melodia
Reflete tão somente os desamores,
Vagando sem caminho em dissabores
Ausente claridade dita o dia,
E quando noutro tom eu tentaria
Apenas desvendar diversas flores,
O rumo se perdendo ausente cais,
Os sonhos belos, raros, magistrais
Imensos pesadelos, noite escusa,
Meu passo rumo ao tanto se desfez
Teimando dentro em mim a insensatez
Da vida tantas vezes mais confusa.

34628

Os passos entre nadas são vadios
Os olhos buscam luzes e não há
Sequer o que talvez pudesse já
Traçar entre cenários desafios,
Reluto quanto mais claros e esguios
Os passos quando a vida negará
A luz a quem deveras sonhará
Deixando para trás tempos sombrios.
Resumo de uma ausência persistente,
Porquanto outro país ou mundo invente
Não tenho mais talvez outra ancoragem,
E sem poder ao menos descansar
A morte se aproxima devagar,
Tomando em mim enfim sua hospedagem.

34629

Aprofundando em mim adaga e faca
O quanto do viver vai se esvaindo
Enquanto noutra face bebo e brindo,
A sorte mergulhara e nada aplaca
A sede desta luta que insensata
Produz apenas frio e nada mais,
O quanto dos meus sonhos são cristais
Realidade chega e tudo mata
Esqueço alguma luz que porventura
Pudesse ainda haver dentro de mim
Ao ver se aproximando assim meu fim
A noite a cada passo se amargura,
E o resto sobre a mesa, pura escória
Reflexo de uma vida merencória...


34630

Pudesse ainda crer nalguma sorte
Após a tempestade, uma bonança
Apenas o vazio ainda alcança
Traçando dia a dia a dura morte,
Sem ter sequer um rio que me aporte
A seca molda assim torpe mudança
E quanto mais o medo ali se avança
Sentindo bem mais fundo o intenso corte,
Resgato vez em quando alguma luz,
Porém outra mortalha reproduz
O quanto poderia, mas extinto,
Galgando uma ilusão, imensa queda
O passo a cada dia já se veda,
E assim na imensa dor eu já me tinto...

34631

Ausente juventude no horizonte
Repete a mesma ausência do passado,
E quando se percebe este legado
Sem ter sequer caminho que se aponte
Porquanto se repete e se desponte
O mundo há tanto tempo amortalhado,
O passo no vazio sendo dado
Por vezes necessito alguma fonte
E embora saiba bem quanto é tardia
A luz que ainda possa me tocar,
Meu corpo; aos poucos, sinto se levar
Nos ermos de uma noite sem o dia,
Vacância de esperança em sordidez
Resulta do que o tempo nunca fez.

34632

Em vários descaminhos desde quando
Soubera ou mais tocara uma existência
E assim ao perceber farta inclemência
Uma esperança sempre sonegando
Não quis outro cenário e me afastando
Do quanto inda pudesse providência
O mundo se tornando em evidência
Penhasco com seu ar turvo e nefando,
As mãos já lapidadas pelo vão
Nos olhos horizonte e meu timão
Há tanto com vigor traçando o norte,
E quem ao se fazer precocemente
Aborta desde sempre uma semente
E aguarda tão somente a sua morte.

34633

Desastre após desastre a vida erguendo
Um muro entre meus sonhos e a verdade,
O quanto do não ser tomando invade
E o tempo de esperança se perdendo
Nos ermos caminhares, nada vendo
Somente a dor amarga e sem saudade
Riscando com a lágrima não brade
O coração espúrio se embebendo
Do fel que me envenena passo a passo
E gera a cada dia outro percalço
Condeno-me à masmorra e ao cadafalso,
Enquanto desta forma me desfaço
Não restam senão brumas e neblinas
Em tardes que eu quisera cristalinas.

34634

No meu jardim há tanto abandonado
Nem sombras do que fora algum cultivo
Apenas, relutando, eu sobrevivo
Trazendo esta mortalha bem ao lado,
O quanto que desejo sonegado,
Dos sonhos e esperanças se me privo
Somente do vazio ainda crivo
O passo rumo ao nada, transtornado.
Angustiosamente o quanto resta
Da torpe desventura dita vida
Não me deixa pensar numa saída
Encurralado ser, leda floresta,
A morte talvez inda me redima
E possa serenar tão turvo clima.

34635

Chegado meu outono, nada trago
Somente esta semente apodrecida,
O quanto inda pudera desta vida
Em sonhos mais dispersos, sem afago,
E o quadro desdenhoso aonde vago
Prepara-me somente esta partida,
E sem sequer pensar em despedida
Das ânsias e dos medos já me alago.
Dos antros mais recônditos desta alma
Nem mesmo uma ilusão sequer acalma
Sombrias noites feitas em procelas
O suicídio aos poucos se prepara
Na turva persistência da seara
Que ainda quando vens, bem mais revelas.

34636

Tentando descobrir qualquer sinal
Do quanto poderia e não redime
Ainda que uma luz ao longe prime
Cenário com beleza sem igual,
O mundo em que caminho assaz venal
Presume a velha cena de algum crime,
E o todo se perdendo não estime
Sequer o quanto possa triunfal,
Dos louros e dos sonhos, meus lauréis
Apenas aspergindo dores, féis
O todo não pudera ser diverso,
Entranho-me nos vagos da existência
E bebo sem sequer sonho ou clemência
Apodrecendo em vida cada verso.

34637

As terras inundadas da esperança
Aonde poderia haver ainda
Cultivo que decerto não mais brinda
O sonho no vazio, enfim se lança,
E quando preconiza-se a mudança
Realidade torpe se deslinda
E o peso do sonhar aos poucos finda
O quanto vive além numa lembrança
A sórdida presença de quem tanto
Pensara noutra cena e em desencanto
Prepara-se somente para o fim,
Acumulando trevas dentro da alma
O féretro dos sonhos já me acalma
Na ausência permanente de um jardim.


34638

As tumbas preparadas desde quando
O mundo noutra face se mostrara,
A estrada na verdade desampara
E a queda a cada instante se formando,
Nos antros dos meus sonhos um infando
Delírio em voz terrível, quase amara,
O corte a cada dia aprofundara
A vida sem defesas se negando,
De tudo o quanto resta uma mortalha
Aos poucos se tecendo dita a gralha
E a velha rapineira em ironia
Sentindo esta carcaça decomposta,
Revoa e aguarda apenas a resposta
Que apenas por momento a morte adia.

34639

Sonhasse com as flores maviosas
Enquanto ainda posso acreditar
Nas ânsias de outro tempo a se formar,
Envolto por carícias, belas rosas,
Mas quando as noites surgem desairosas
E os dias se renegam, posso entrar
Nas ânsias do que tanto vi negar
Gerados pelas sendas pedregosas.
A morte toma conta do que fora
Uma alma muitas vezes sonhadora,
De um tolo e sem sentido jardineiro,
Apodrecidas flores vejo então
E delas não percebo a solução
Esgota-se a esperança de um canteiro.

34640

Meu solo se regando com venenos
Cultivo pelos sonhos abortado,
O quanto poderia ter traçado
Em dias mais suaves e serenos,
Porquanto os passos morrem, são pequenos
O vento se aproxima e desolado,
Resume a inexistência de algum prado
O quanto imaginara em dias plenos
Agora nada resta senão isto
E embora encarniçado, não desisto
E beijo as minhas últimas promessas,
Sedentas ilusões, nada afinal,
Aguardo sorridente o funeral
Acreditando em vidas às avessas...


34641

Um místico caminho em meio às trevas
Pudesse transformar cada momento
Em novo caminhar e em tal provento
Distâncias tão diversas tu me levas
E quando neste sonho tanto enlevas
Gerando cada passo aonde tento
Felicidade ou mesmo um manso vento
Porquanto em minha vida mortas cevas,
Ainda que acredite em novos tempos
Que possam redimir meus contratempos,
Eu sei quando no fim o nada toma
E tudo se transcorre em ar sombrio,
Do sonho mais audaz ora desfio
Esta impressão de ausência em ledo coma.

34642

O tempo devorando algum resquício
Do quanto fora vida e já não tenho,
Aos poucos se perdendo em vago empenho
Cavando com meus pés o precipício,
Ao menos pude ver e desde o início
O quanto na verdade de onde venho
Azeda-se o caminho e em cada lenho,
Entregue sem defesas, torpe vício,
Não quero uma esperança traiçoeira
Nem mesmo carregar torpe bandeira
Gerada pelos medos e inocências,
Após o meu final em podridão,
Apenas um destroço em pleno chão,
Perdendo quaisquer sensos, consciências...


34643


Não tenho qualquer medo de um castigo
Ou mesmo de um inferno imaginário,
Da vida tão somente este corsário
Vagando sem descanso, em desabrigo,
E quando à fantasia ainda obrigo
Um coração deveras temerário,
Talvez um mal terrível, necessário
E nele – uma defesa- inda prossigo.
Eu posso acreditar em redenção
Após a imensa e turva negação
Do que fora clemência em plena vida?
Não quero esta mentira que me alente
Se queres sou deveras um descrente
Que até do próprio ser inda duvida.


34644

O sangue que alimenta a liberdade
A rosa cresce em pútridos cultivos,
Os dias mais sobejos são altivos
Enquanto esta tormenta ainda invade,
Rompendo com terror a imensa grade
Ambíguos caminhares são esquivos
E deles adivinho os vários crivos
Na fúria que decerto ainda brade,
Roubando cada passo rumo ao nada,
A imagem do futuro destroçada,
Regando com meu sangue este canteiro,
No quanto sou apenas jardineiro
E assim ao me fartar em podres cenas
Arando; pois o solo me envenenas.

34645

Levanta-se este peso dito vida
E tenta-se outra forma de ilusão
Vendida pelas ruas a emoção
Há tanto noutra face destruída,
Resumo o que pudesse na partida
E beijo os meus anseios desde então
Rasgando cada capa, se verão
Desnuda uma alma tanto repartida.
Os pés apodrecidos, meu olhar,
Ausentes horizontes, nada além,
E quanto do meu verso me contém
É como num sutil desabafar,
Ousando desnudar-me ao se exposto
Imagem de um ser vil, vão, decomposto.

34646

Proféticos cenários me desnudas
E vês a minha sorte em tramas feita,
E quando a realidade ao longe deita
As horas se prometem, falsas mudas,
Os corpos que carrego, almas miúdas
As mãos ainda tramam a desfeita
E toda a caminhada já refeita
Em sendas mais distantes ora agudas
Expressa o quanto fora em mim sutil,
Mergulho no que tanto se previu
E vejo algum sorriso – em ironia...
A cena desenhada em redenção
Ao fundo se mostrara em podridão
Aonde turva imagem não veria.

34647

Pupilas midriáticas, ardentes,
Vontades e delírios... Ledo engano,
O dia se promete em dor e dano
Porquanto se iludindo também mentes.
Ainda quando em sonhos apresentes,
O mundo se mostrara soberano,
Mas quando na verdade o vejo insano
A faca carregando entre meus dentes.
Espúria madrugada em tez sombria
A sorte quanto muito o tempo adia,
E o fim se aproximando nada deixa
Senão este resquício de um passado
Aonde poderia ter mudado
A voz que ora traduz somente queixa.


34648

Caminhando entre os medos levo a cria
Por sobre os velhos ombros já cansados,
Os dias que deveras são legados
Do tempo onde esta história se recria,
O fardo mais pesado esta agonia
Dos olhos pelo tempo esvaziados,
Os ritos repetidos, os enfados
Sem ter sequer promessa de outro dia,
Nem sombras deixarei por sobre a terra
Que quando abrindo a boca já descerra
Apenas podridão e nada mais
Os versos que imagino, o tempo leva,
Na imensa solidão, temida treva
A vida preparando os funerais...


34649

Tesouros que esperança acumulara
Nas ânsias de um desejo mais feliz,
O quanto da verdade jamais quis
E o tempo sem defesas escancara
A morte prenuncia a sorte amara
E trama outro momento em que desfiz
Cenário mais diverso, gris matiz
Alimentando uma alma em vaga escara,
Restando em funerais escombro apenas,
E quando ainda vens e me serenas
Apenas lenitivos espalhando
Por sobre os meus cadáveres que em vida
Adentram e preparam despedida,
A eternidade aos poucos sonegando.

34650

Luzentes armas trago em minhas mãos,
Tocaias pela frente, velhos dias
E neles entre tantas ironias
Caminhos repetidos, turvos, vãos
E quando se pensara em novos nãos
Ao ver-me quase inerme sempre adias
E tentas com terríveis sincronias
Moldar as minhas trevas, velhos chãos.
Do caos que se gerara dentro em mim,
Apenas o vazio e de onde vim
Não tendo mais sinais de um novo encanto,
Mergulho na defesa dos meus erros,
E sei quanto de mim ditam desterros,
Restando a cada ausência outro quebranto.

34551 até 34600

34551

Posso traduzir
Teu corpo no meu
Enquanto prendeu
O todo sentir
E assim pressentir
O mundo sem breu
O quanto cedeu
Ao raro elixir
Caminho em rumo
Ao quanto consumo
E bebo e me farto,
Singrando teu porto,
Meu mundo em conforto
Contigo em meu quarto.


34552

Quem sabe entender
Detalhes do quanto
Amor quero tanto
E nele o prazer
Do todo conter
Além deste encanto
Sem medo, portanto
Apenas colher
O fruto divino
Aonde fascino
E teimo e caminho,
Resumo num verso
O quanto ora imerso
Em ti se me aninho.

34553

Minha alma na tua
Num complexo enredo
Enquanto concedo
Bebendo da lua
Sorvendo esta nua
Presença em segredo,
Ausente do medo,
Assim já cultua
A deusa esta diva
Dos sonhos me criva
E trama futuro,
Em ti se me entranho
O quanto do ganho
Ao fim asseguro.

34554

As ondas provocam
O toque macio
E quando recrio
Meus dias invocam
Momentos sutis
E neles eu bebo
O quanto recebo
Além do que quis
Vencido em degredo
O medo e o tormento
Assim me alimento
Enquanto concedo,
Riscando o infinito
No amor me reflito.

34555

Teus olhos, meu mar
E neles mergulho
O quanto em marulho
Pudesse chegar
E enfim aportar
Assim me vasculho
E bebo em orgulho
Diverso luar,
Resisto ao que trama
A dor duro drama
O medo distante
E quando te vejo
Além do desejo
Real diamante...

34556

Invado esta areia
Qual mar em ressaca
A fome se aplaca
Enquanto incendeia
A sorte que anseia
Sem fúria e sem faca
Na ponta da estaca
No corte, na veia
O beijo o carinho
Ausência de espinho
Ditando tal flor
E assim nesta soma
Sentindo este aroma
Recendendo amor.

34557


Além no horizonte
Utópica luz
Que tanto conduz
Enquanto desponte
Ali já se aponte
Amor reproduz
Cenário seduz
E tanto diz fonte
Gerando outra cena
Aonde serena
Uma alma voraz
Vibrando e vivendo
O quanto sabendo
Do amor feito em paz.

34558

Real fortaleza
Aonde me entranho
Na sorte, no ganho
Deveras sou presa
E servido à mesa
Do quanto me estranho
Ou mesmo me assanho
Em tanta beleza,
Ressalvas à parte
A vida destarte
É feita de luz,
Amar e sentir
O quanto bramir
Ao tanto conduz.

34559


Gritando teu nome
Galgando infinitos
E assim nestes gritos
O mundo se some
Ao quanto consome
Diversos os ritos
E sem mais os mitos
A vida retome
Caminho sincero
Se é tanto o que quero
Bem mais que promessa
Meu passo se guia
Além cercania
E a vida começa.

34560

Tocando utopias
Diversas em sonho
No quanto componho
No quanto fugias
Assim alegrias
Em farto e risonho
Caminho reponho
Vitais harmonias,
Bebendo da sorte
Que tanto conforte
E trace outra senda
Mudando o cenário
Antes temerário
Beleza desvenda...

34561

A vida necessária e tão sentida
Ansiosamente bebo cada gole
Do tempo que deveras já me engole
E nega a persistência desta vida,
O quanto se pudesse sem saída
Ou mesmo no vazio que me esfole
O tempo se perdendo já se assole
E trame sem sentido, a sorte urdida
Nas ânsias mais vorazes de algum ser
Que possa novamente enternecer
O todo desvendado sem promessas
E quando mergulhando dentro em mim
Encontro abismo imenso e sei sem fim,
Ao passo em que dispersa tu tropeças.

34562

Os tantos perigosos descaminhos
Negados pela essência da esperança
No quanto do vazio já se alcança
Rendidos pelos medos, vãos espinhos
Seguindo cada passo bebo os vinhos
E deles tento crer na temperança
Ainda que se veja sem mudança
Os dias entre farpas são sozinhos.
Descrevo com ternura ou mesmo corte
Prenunciando assim a minha morte
Após a velha curva em capotagem,
Não tendo outra saída nem a quero,
E sei deste momento amargo e fero
Aonde se prepara outra viagem.

34563


Abismos que se vê no imenso mar
Gerado pela angústia do não ser
Pudesse novamente conceber
O quanto já não posso decorar
Do passo rumo ao tanto mergulhar
E neste emaranhado tento ver
Alguma luz que entranhe amanhecer
Distante do terrível caminhar
Nas vagas entre fartas heresias
E nelas outras tantas que recrias
Bebendo gota a gota até que possa
Vibrar em sintonias mais amargas
E quando tão distante tu me largas
Imensa solidão, sobeja fossa.

34564

As velhas turbulências dentro da alma
Aonde nada mais possa trazer
Sossego e quanto mais busco o querer
Apenas o vazio inda me acalma,
Resido no passado e bebo o trauma
Deixando para além qualquer lazer
A vida se desnuda e posso ver
Somente este vazio aonde espalma
O vento entre diversas sintonias
E sei das variantes onde guias
O passo rumo ao farto suicida,
Bebendo desta louca insensatez
Ainda quando ausente não me vês
A história já se mostra decidida...


34565

Dispersos pensamentos vida e morte
No quanto pude crer e não vestira
A sorte noutro tanto esgarça a mira
Sem ter alguma luz que inda suporte
O rumo se esvazia bebo o corte
Sangria mais diversa preferira
No quanto ainda posso ou interfira
Girando contra o tempo, nada aporte
O manto segregado da verdade
E nele todo o rumo se degrade
E mostre a solidão de quem procura
Vencer em solilóquio a imensidão
Do tempo feito em plena negação,
Traçado pelas ânsias da loucura.

34566

Ainda libertário pensamento
Singrando mares tantos e nefastos
Os dias entre dias sendo gastos
Na busca do que seja algum provento
E quando do vazio me alimento
Os olhos são deveras tolos, castos,
Gerando com terror outros emplastos
E neles a verdade diz tormento,
Não quero lenitivos, nua e crua
A vida não permite mais a lua
E sei do quanto posso ainda esparso
E tento caminhar entre penhascos,
E os dias são apenas meros cascos
Do quanto me aprofundo e não disfarço.

34567


Alago-me dos sonhos mais ferozes
E tento algum proveito disto tudo,
Mas quando noutra face me transmudo
Ouvindo do passado ledas vozes,
Os cantos mais sublimes dos algozes
E neles com certeza já me iludo,
Rescindo cada sonho e se miúdo
O passo trama noites mais atrozes,
Resisto o quanto posso e nada vejo
Senão o caminhar deste desejo
Perdido nas entranhas do que teimo,
E como fosse um mar em solidão,
Bebendo desta imensa negação
Nas tramas deste inferno ora me queimo.

34568


As ondas entre trevas noites mares
E sei dos meus anseios mais doridos,
Caminhos entre pedras pressentidos
E nele com terrores alagares
De sonhos e de sombras mais vulgares
Os passos entre tantos já perdidos
Correndo contra o tempo, divididos
Os rumos pelos quais ao me tocares
Verás algum sinal de morte quando
O peso sobre tudo derramando
Metálicos destroços do que fora
Apenas um mergulho neste nada
A sorte diz do quanto destroçada
Esta alma antes feliz e sonhadora.

34569

Por sobre pedras frágeis águas tentam
Vencer as velhas rocas, força intensa
Na luta mais diversa a recompensa
Gerada pelas dores que atormentam
E bebem do passado desalentam
E quando a minha sina se convença
Da morte como fosse sorte imensa
Nem mesmo nos penhascos arrebentam
As ondas mais ferozes e percebo
O quanto desta cena já me embebo
E sei do meu futuro em mil pedaços,
Da areia tão distante nada sinto,
Amor há tantos anos segue extinto
E dele nem sequer percebo os traços.

34570

Aonde quis Netuno o seu império
As sortes desairosas ditam ondas
E nelas com terrores já te escondas
Singrando caminhares em minério
Assim ao se mostrar cada mistério
Gerado pelo quanto ainda rondas
Do todo que pensaras e não sondas,
Deixando para trás qualquer critério.
Opacas tardes noites entre brumas,
E assim também deveras já te esfumas
Vagando por espaços mais distantes,
As cenas que se vêm dizem nada
Aonde se quisera uma alvorada
Apenas velhos ermos degradantes.


31571

De praia a praia bebo esta amplidão
E sinto a força imensa do oceano
E quando nesta imensidão me dano
Perdendo rumo, prumo e direção
Sabendo desta tosca embarcação
Na qual e pela qual refiz meu plano
A cada novo tempo um desengano
Vivendo as tempestades de verão,
Meus olhos não verão sequer um cais
E exposto aos mais diversos vendavais
Eu tento procurando algum alento
Depois de vários dias nada tendo
Apenas este mar grande e estupendo,
Entregue ao furioso e torpe vento.

34572

O quanto se humilhando em corte e medo
Das sendas mais terríveis tempestades
No quanto a cada ausência me degrades
Procuro renovar em tolo enredo
E quando nas entranhas me concedo
Nefastas noites vagas ansiedades
E tanto poderiam mortandades
De sonhos entre pedras, sigo ledo,
E arisco caminhando entre penhascos
A cada novo tempo outros fiascos
E resolutamente invado o porto
Corsário busco em saques minha paz
Apenas o vazio já se faz
No encanto que percebo há tanto morto.

34573

De tanto procurar inúteis lutas
E crer na morte em forma de vingança
Aonde não mais tendo uma esperança
As forças que percebo mais astutas
Adentro o pesadelo em tantas grutas
A morte pouco a pouco assim me alcança
A sorte se negando em aliança
As ondas são deveras fortes, brutas,
E quando me perguntas se inda sonho
Aos poucos novamente mais medonho
Sorriso em furioso temporal
Arrisco cada falso mergulhar
Nas pedras e nas ânsias a vagar
Sabendo desde já terror final.


34574

Assim minha existência segue alheia
Ao quanto pude crer em calmaria,
Aonde se transcorre em ventania
A vida noutra face me incendeia,
Galgando o temporal, buscando a cheia
E clara tempestade uma agonia
Matando o que tampouco restaria
Da sorte quando a mesma devaneia,
Resisto o mais que posso e não percebo
Do quanto a cada gole o podre bebo
Vestindo esta mortalha que me resta,
A noite sem a lua, em tais neblinas
E quando mal percebes me dominas
A sorte molda a vida atroz, funesta.

34575

Demônios desnudados num festim
Aonde em pesadelos vejo a morte
Bebendo insaciável cada corte
Esvai-se pouco a pouco o que há em mim,
E chego intempestivo e amargo fim,
Sem ter sequer a luz que me conforte
Singrando com terror nego o suporte
A queda se aproxima e sei enfim
Do podre amanhecer em turva senda
E nada do que quero ainda atenda
Ao gozo onde pudera saciar,
E exposto neste charco em lodo e lama,
Enquanto esta mortalha me reclama,
Eu gozo cada instante sem parar

34576


Brindando cada noite outro motim
O sanguinário gozo do vazio
E quando ainda insano desafio
Acendo do infinito este estopim,
A morte como fosse algum festim
O tempo noutro tempo já desvio
E tomo deste imenso desvario
Singrando o que restara ainda em mim
De humano numa face demoníaca
A sorte se mostrara enfim maníaca
E bebo até fartar esta loucura,
Servido-me em bandejas, meus destroços
Restando tão somente poucos ossos,
Orgástico delírio enfim me cura.

34577

Dos gozos em banquetes e heresias
Resíduos pela casa, ratos, restos,
E os dias entre imensos, torpes gestos
As portas com ternura trancafias,
E bebes das sobejas, vãs sangrias
Aonde poderiam ser funestos,
Incêndios e prazeres, mil incestos
Abortos de esperanças mais vadias,
Encontro-me desnudo neste inferno
E quanto mais ao fundo ali me interno
Maiores os prazeres, mil orgasmos,
E quando prenuncia-se a partida
A morte feita em gozo trama a vida
Deixando os meus olhares ledos, pasmos.

34578

Do nervo à flor da pele à calma senda
Resisto a cada golpe, foice e adaga,
A morte pouco a pouco já me afaga
Desejo mais atroz que se desvenda,
E assim a cada dia mais atenda
O quanto se produz em riso e chaga,
Vagando sem destino plaga em plaga
Até que a realidade enfim entenda,
Bebendo cada gota deste sangue
Exposto em lamaçal, procuro o mangue
E rendo-me à Satã, Deus soberano...
E tento sem saída outro tormento,
E quanto mais assim eu me alimento
Eu sei que com certeza mais me dano.

34579

Servindo de deleite em tal repasto
Sarcásticos demônios me rondando,
Um ar tempestuoso e tão infando,
A cada novo dia já me afasto
Do sonho que pensara e me desgasto
O tempo dos meus olhos se riscando
E o passo para o sempre reformando
Caminho de esperança há tanto gasto.
Imenso este banquete que é servido
E cada nova festa resolvido
O fato de sonhar e não poder,
Durante a podre vida, um ser infame
Agora neste inferno que me inflame
Derramo-me nas fúrias do prazer...

34580


Chegando às cordilheiras, cada cume
Mostrando outra paisagem bem diversa,
E quando uma alma morta ali dispersa
Já sabe e com certeza se acostume
Ao podre amanhecer onde se esfume,
E nesta solidão crua e perversa
Meu mundo no vazio enfim se versa
E bebe do terror cada perfume,
Resumo-me no nada e gosto disto,
Assim ao me encontrar tentando insisto
E deixo qualquer vale para trás,
O quanto poderia ser terrível
Agora se mostrando em força incrível
Trazendo finalmente alguma paz...


34581

Qual fora um peregrino em noite escura
Vagando sem a lua que me guia
Ausente dos meus olhos fantasia
Imensa solidão já me emoldura,
O tempo que pensara com ternura
Aos poucos se afastando em noite fria
A vida continua e desafia
Enquanto a realidade me tortura.
Vestindo esta ilusão por tantos anos,
Agora no final, perdas e danos,
Somente vasculhando cada resto
Daquilo que pensara ser maior,
O mundo desdenhoso sei de cor,
Eu sei que na verdade enfim, não presto.

34582


Vencido pelas ondas deste imenso
E gigantesco mar aonde um dia
Pensara ter apenas a alegria,
E o tempo se tornara escuro e denso,
Nas sendas do passado quando penso
Apenas mera sombra inda se erguia
Galgando sem pensar a poesia
O mundo noutro tanto, eu me convenço.
Aborto da esperança e nada mais,
Dispersas emoções em vendavais
E tudo se perdendo já sem rota,
Sedentas ilusões, tolo caminho,
Agora persistindo mais sozinho,
O tempo pouco a pouco, assim se esgota.

34583

Um coração exposto ao farto risco
Buscando lenitivo na esperança
E quando ao mar imenso o sonho lança
Apenas vejo o sonho mais arisco,
Tentara ser feliz, raro petisco,
O medo com ternura em aliança
Produz a tempestade por vingança
Gerando da alegria este confisco,
Respondo tão somente e nada falo,
O tempo se mostrando assim de estalo
Sombrio e mais nefasto, nega a sorte,
Restando a quem pensara ser feliz,
Distante do que tanto busco e quis,
Adentro outras veredas, as da morte...

34584


Caminho entre as tormentas
Febrilmente bebo do vazio
E quando cada passo eu desafio
E nele com terror tu te apresentas
Ao mesmo tempo quando violentas
A sorte transformando em duro estio
O quanto imaginara algum rocio,
As horas se arrastando, frias, lentas...
Buscando alguma paz onde não há
Sequer eu poderia aqui ou lá
Vencer o que carrego dentro em mim,
E assim como um corsário da esperança
O amor sem ter juízo já se lança
Destroça esta estrutura qual cupim.


34585

Delírio tão frenético, este sonho
Aonde mergulhara há tantos dias,
E vendo as mais terríveis sinfonias
Num ar tão dolorido e até medonho,
No quanto novo tempo inda proponho
E assim por outro lado não me guias
Matando o que restara em cenas frias
Frisando a cada engano o ser tristonho
Que arrasta-se soturno pelas praias,
Além do que pudesse enfim espraias
E foges dos meus olhos no horizonte
A velha solidão se aproximando,
O tempo novamente vai mudando
Sem ter sol nem luar que inda desponte...


34586

O sangue se esvaindo pelas mãos,
O tempo revelando a negação
Do quanto poderia e sei que não
Vivendo velhos dias, sempre vãos,
Revelo a cada dia falsos grãos
E tento desvendar a solução
Do amor que se mostrara em sedução
Apenas outros dias, velhos chãos.
Mesquinhos passos tento rumo ao nada,
E assim ao ver ausente alguma estrada
Perdido nos meus ermos sinto o fim
Tomando cada espaço que me resta,
E quando a realidade nega a festa
Acende da mortalha um estopim...

34587


Prazeres que bem sei decerto rudes
E neles o meu dia se entornara
A noite nunca mais seria clara
Porquanto ainda tentes, mesmo mudes,
Não tendo nos meus olhos atitudes
Nem mesmo esta emoção que desampara
A vida para a morte se prepara
Há tanto não conheço mais açudes
E a seca dominando este cenário,
Amor como se fosse um vil corsário
Saqueia o que inda sobra e leva a sorte,
A dita se mostrando mais nefasta
Meu passo da esperança ora se afasta
Restando a solução fria da morte.


34588

Aonde poderia ver a glória
Depois de tantos anos, quieto e mudo,
No quanto ainda tento e me transmudo
A sorte não percebe, sigo escória,
E nada do que trago na memória
Ainda poderia em paz, contudo
O resto se mostrando e quando ajudo
Ausente dos meus braços a vitória.
Afasto-me do cais, busco o naufrágio,
A vida cobra caro e com seu ágio
Desfaz qualquer promessa do passado,
O passo que acredito e não consigo
Buscando sem sucesso algum abrigo,
O barco da esperança abalroado...

34589

A lua se anelando nos meus dias
Pensara alguma chance e nada veio,
Aonde poderia sem receio,
Apenas vejo medos e heresias,
No quanto ainda sonhas e porfias,
A vida se mostrando em devaneio
Procuro pelo menos algum meio
De ter neste horizonte novos dias,
Mas nada se transforma em minha vida,
Revivendo esta eterna despedida
Não tendo qualquer porto e sem coragem
Difícil prosseguir contra a procela,
O quanto do vazio se revela
Transforma em impossível a ancoragem.

34590

Ao longe desmaiando a plena lua,
O cerne dos problemas traz o vento,
E quando busco enfim algum alento
A sorte noutra face continua,
O amor quando demais já se cultua
E nada serviria e me atormento,
Por vezes um país, um cais invento
Verdade se aproxima e a vejo nua.
Restando muito pouco do que fui,
O todo que inda resta aos poucos rui
Não deixa mais escombro nem destroço,
E assim neste vazio já me esfumo,
O quanto poderia, mas sem rumo,
Deveras com certeza nada posso...

34591

De todos os mistérios da existência
Pudesse discernir para onde vou
E sei que na verdade nada sou
Senão da própria vida uma excrescência
E sendo mesmo a lida esta inclemência
Ditame do que tanto procurou
Quem sabe o descaminho onde restou
Não seja por si só tal penitência?
A morte se refaz a cada vida
E sei ser na verdade uma saída
Que assim perpetuando o já passado
Transfere para além adia o sonho
E quando noutro ser eu me reponho,
Não trago nem a sombra por legado.


34592

O quanto a consciência não revela
Da vida feita após a própria morte
Ou mesmo qualquer luz onde conforte
O barco aberta agora a sua vela,
E tanto se refaz em nova tela
O quanto na verdade sei mais forte,
E bebo do passado e tramo o corte
No qual o persistir enfim se atrela.
De tal fragilidade sou composto
E quando vejo assim no espelho o rosto
Das rugas e das marcas, tatuado
Eu sorvo gota a gota o que inda resta
Tentando adivinhar a menor fresta
Que possa traduzir um novo fado.

34593

Pudesse noutro ser continuar
Sem ter tanto pavor neste horizonte
E quando bebo assim a podre fonte
Que impede talvez mesmo de sonhar,
A fé já se ausentando, e sem tocar
Sequer a menor luz onde se aponte
O norte mesmo quando se confronte
Com todo o meu antigo caminhar,
Eu tento a redenção em nova senda,
Sem ter ao menos quem ainda estenda
Alguma vã promessa ou mesmo sonho,
E sinto se esvaindo dia a dia
O quanto deste todo poderia
Ao menos ser suave e hoje é medonho.

34594

Quisera perceber por que nasci
Se em tanto padecer percorro a vida,
A morte a cada passo pressentida
Tramando uma esperança desde aqui,
E sinto que decerto eu me perdi
Nos antros da emoção tão mal vivida
E quando a minha sorte o tempo olvida
Os laços se rompendo, qual previ.
E sei ao menos disto: nada sou.
E quando na verdade não restou
Sequer destroços mesmos do que eu fora
A pedra lapidada pelo sonho
Agora num cenário mais bisonho
A boca deste verme comemora...


34595

Pudesse tanto ser e não sentir
Imenso e tão cruel padecimento
Por vezes outro ser ainda invento
E sei que na verdade sem porvir
O quanto do passado pode vir
Tramando com horror amargo vento,
E sei do que se vê neste tormento
Sem nada nem tampouco repartir,
O passo rumo ao vão, resumo agora,
E a vida se perdendo sem demora
O corte na garganta cala a voz,
E o tanto que pudera acreditar
Na eternidade feita e num vagar
Entregue à solidão dura e feroz.

34596

Do nada em que surgira, imenso caos
Retorno ao mesmo nada, sem promessa
Do quanto a própria vida recomeça
Ou perco para sempre tais degraus,
Os dias entre tantos sem as naus
A sorte noutro vago se tropeça
E quando nada mesmo da remessa
Refaz os dias velhos, turvos, maus.
Eu sinto que meu fim já se aproxima
E quando ausente vejo um novo clima
Apenas gelidez da qual eu vim,
De inverno para inverno, um curto tempo
E nele tão imenso contratempo
Negando esta esperança viva em mim.

34597

A vida se minguando, falsa lua
Aonde não verás o renascer,
Assim no dia a dia a percorrer
O quanto do vazio se cultua,
E beijo a imensidão sublime e nua
Pensando neste instante num prazer
Eternizado ali, crendo poder
Viver além do quanto alma flutua,
Vencido pelo tempo, agora inverno
E bebo deste duro e amargo inferno
Gerado pelas ânsias, nada veio.
Apenas o terror toma o cenário
Eu sei quanto sofrer é necessário
E sigo dos meus sonhos, mais alheio...

34598

A vida este prodígio sem sentido,
Restando como fosse algum alento,
E nela se procura algum provento
Às vezes derramado na libido,
Mas quando nada mais é pressentido
Senão todo voraz pressentimento
Do mundo mais atroz entregue ao vento,
Além do que pudera permitido,
Restando do que fora um sonhador
Apenas a promessa e a farta dor,
No corpo decomposto por rapinas,
A sorte desdenhando o novo dia,
Traçada com terror ou ironia
Secando estas nascentes, frágeis minas.


34599

Já não consigo crer na liberdade
Após ser algemado pela sorte
Funesta que deveras me comporte
E a cada novo tempo mais invade,
Restando tão somente a tempestade
E nela se adivinha a doce morte,
Pudesse acreditar onde se aporte
Ainda renascendo e mesmo brade
Gestando outro momento mais sublime,
Vivendo cada gozo que se estime,
Porém tanto lastime esta existência
Sem nexo totalmente desvairada,
Do nada de onde vim ao mesmo nada
Eternizando assim esta impotência.

34600

Porquanto uma alma busca algum espaço
Durante o curto tempo em que se vive,
Aonde no passado não estive
Deveras o futuro já não traço,
Resumo o meu momento e me desfaço
Enquanto dentro em mim só sobrevive
O quanto do viver o tempo prive
Gerando tão somente este cansaço,
Resumo minha história no vazio
E sei que deste nada inda desfio
O tempo mais atroz vida após vida?
Não tendo mais um porto de chegada
A vida sem saber de quase nada
Traria um novo cais, nova partida?

34501 até 34550

34501

Num quieto rincão
A lua derrama
A luz desta chama
Tocando este chão
O beijo e o perdão
Ao longe reclama
Uma alma desama
E tenta outro não.
O vago caminho
O risco, o sozinho
O peso da vida.
A sorte adormece
E o quanto fenece
No sol a saída?

34502

Ao rolar as peças
Vida tabuleiro
No quanto me esgueiro
Ou nada tropeças
Ainda que impeças
Dia derradeiro
Ausente braseiro
As várias promessas
E as teias do nada
Na voz da alvorada
A morte na adaga,
Assim se refaz
O canto sem paz,
A vida em tal chaga.

34503

O tempo é severo
Não deixa paragem
Vagando paisagem
Além do que espero
Se tanto inda quero
Viver outra aragem
Diversa estalagem,
Vazio diz fero
E o canto se espalha
Campos de batalha
A vida sem nexo,
E olhando no fundo
Do vago me inundo
Assim meu reflexo.

34504

Perdendo estas cores
Os céus do passado
O tempo nublado
O campo sem flores
Ainda se fores
Levando o recado
De quem se fez gado
E busca os albores,
Manhã renegada
A fonte traçada
Há tanto sedenta,
A morte se trama
E quando sem drama
Enfim se apresenta.

34505

Dos tantos rigores
Da vida sem rumo
Do tempo em que esfumo
Caminhos em dores
Ausentes amores
No beijo me escumo
E tanto perfumo
Com falsos pendores
O templo já roto
A vida este esgoto
Caminho sem volta,
O mar que buscara
Agora escancara
Uma onda revolta...

34506

Nesta luta homérica
A sorte perdida
Ausência de vida
A sorte quimérica
Distante da América
O tempo a saída
O templo, a rendida
Nesta terra esférica
O giro completo
O mundo eu repleto
Do nada que sou,
E somo o vazio
Enquanto desfio
O quanto restou.

34507

Cavalo ligeiro
Alçando o infinito
E quando inda grito
O tempo estradeiro
Do vão mensageiro
Deveras um mito
Olhar mais aflito
Do nada me inteiro
E sigo esta farsa
Aonde se esgarça
O passo num trote,
Porquanto pudera
Vencer esta fera
Salvar-me do bote.

34508

Reinando a noturna
Canção que se faz
Na luta mordaz
Vital e soturna,
A vida se enfurna
Nas tramas da paz
E quando se traz
Adentro outra furna
E bebo do quanto
Pudesse em encanto,
Mas sei que não veio.
Assim caminhando
Sem rumo, sem bando,
Fatal devaneio...

34509

Os tantos peões
Nos velhos traçados
Os dias negados
Em outras versões
Assim dos tablados,
Outras soluções
Ausentes verões
Em dias gelados,
Quedando sem ter
Ao menos querer
A vida renega
Quem tanto porfia
E sabe sombria
A noite vã, cega...

34510

Diversas jogadas
Saídas e fins,
Ausentes jardins
Buscando alvoradas
Já tanto negadas,
Dispersos chupins,
Os tantos cupins
Casas destroçadas,
E as sortes e os rios
Vagar desvarios
Cevando aridez,
Assim meu caminho
No quanto sozinho
O tempo desfez...

34511

O vento sulino
O canto cigano
A vida um engano
E assim não domino
Vitral cristalino
A sorte sem dano,
O quanto me ufano
Do velho menino
Que ainda alimento
Vital tal provento
A quem busca além
As fráguas, a lua
A vida flutua
E o mundo contém.

34512

Ardentes sonhares
Por onde morena
A lua serena
E quando voltares
Verás os luares
Na fonte que encena
A pele morena
Sobejos altares,
Guitarras e sonho,
O quanto componho
E tanto pudera,
Assim noite afora
A vida se aflora
Já morta a quimera...

34513

Tocando essa pele
A lua desnuda
O quanto me ajuda
E tanto compele
Ao gozo que atrele
A sorte miúda
E tudo se muda
No quanto revele,
Manias e ritos
Vagando infinitos
Dispersos momentos
Entregue aos umbrais
Olhando os cristais
Bebendo dos ventos.

34514

Espalhas sementes
Nos olhos e terras
E quando descerras
Os dias mais quentes
Rondando em dementes
Caminhos encerras
As noites as guerras
Os tempos descrentes,
Galgando o corcel
Alçando este céu
Lunar paraíso,
O vento me leva
Vencendo esta treva
Galope preciso.

34515


Brilhantes semeias
Entre tantas luas
As horas culturas
Enfim devaneias
As luas tão cheias
Diversas e nuas
Deitando nas ruas
Tramando sereias,
Ausente granizo
Meu passo preciso
Meu mundo se faz
Em tantos caminhos
Diversos, dos vinhos
Um gole voraz.

34516

Olhar se fartando
Do gozo da vida
Aprendo a saída
Num tempo mais brando
As nuvens em bando
Vital despedida
O quanto surgida
Em luzes tocando
A pele cigana
A sorte se dana
E o mundo se entrega,
Galgando o infinito,
Distante do grito,
A morte sossega...

34517

A lua vermelha
Deitando nas fráguas
Bebendo das águas
Aonde se espelha,
A sorte é centelha
E nela deságuas
Distando das mágoas
A vida assemelha
Ao sonho mais belo
Risonho castelo
Em meio ao cenário
Total claridade
Da lua que invade,
Do sol estuário...

34518

Ardis soluçantes
Em medos passados
Os dias negados,
Passos adiantes
Cristais diamantes
Os olhos regados
Por tantos recados
Dos cantos distantes.
Vestindo esta lua
A noite cultua
Beleza sem par
A crina o cavalo,
O sonho vassalo
Do imenso luar...

34519

Por sobre alamedas
A lua se espalha
E a fome e a navalha
Não mais te concedas
E quando segredas
A fonte e a batalha
A sorte se atalha
Em tendas e sedas,
Bebendo este sonho,
Há tanto reponho
Meu canto no encanto
Em luzes diversas,
Ao longe as conversas
Sem dita ou quebranto.

34520

Se mesmo tão tarde
Vieste trazendo
O olhar estupendo
Que tanto se aguarde,
O quanto retarde
O amor se fazendo
Além recebendo
E assim se resguarde
Meu passo, meu rumo,
Na noite me esfumo
Com sonhos e festas
Aonde te emprestas
Dos medos descalço
E danço e assim te alço.

34521

A noite rolando
Em luas e sonhos
Momentos risonhos
Um templo mais brando
E o quanto sem quando
Saber dos medonhos
Mergulho enfadonhos
Tormentos em bando.
Mas quando a centelha
Espalha e avermelha
Na chama e na brasa
Cigana presença
De uma alma convença
E a morte se atrasa.


34522

Ausência de vento
Na noite sombria
O quanto se esfria
Total desalento
E assim me alimento
Da falta do dia
Da guerra vazia
Do mundo em lamento,
Atento ao que vem
Buscando outro bem,
Sentindo o delírio
Do tempo em batalha
A faca, a navalha,
A sombra e o martírio...

34523

Roda coração
Nas ondas e ritos
Nos olhos aflitos
Na vida em senão
No medo do vão
Nos sóis infinitos
Os dias e os gritos
Total negação
Do quanto pudera
A vida se espera
E trama outro salto,
Volvendo esta lua
O todo cultua
Um templo enfim lauto.

34524

Nos ventos do norte
O canto da vida
A sorte partida
O rito da morte,
Ao menos suporte
Fatal despedida
E quando surgida
Permita outro aporte,
Restando do vago
O quanto me afago
Nas tramas da lua,
E bebo do vento
Ausente provento,
Minha alma flutua...

34525

Tocando o meu sonho
O verso lunar
O canto do mar,
O quanto componho
Das tramas me ponho
Vencido a vagar
Por tanto lutar
Diverso e tristonho,
Resisto e me entrego
O quanto navego
Sem ter mais timão,
Meu mundo vagara
Bebendo da rara
E bela amplidão...

34526

Espectros dispersos
Entranham em mim,
Galgando o sem fim
E nele se imersos
Os dias diversos
Traçaram assim
O quanto em jardim
Perderam meus versos,
Ausente chegada
Da lua velada
Em sonho e promessa,
Açoda-me o frio
O tempo desfio
E nada começa.

34527

Em risos e ritos
Palavras esparsas
E quando disfarças
As noites em mitos
Outrora em aflitos
Agora nas garças
As sortes e as farsas
Geradas nos gritos
Dos tantos pendores
Das luas e albores
Auroras e luzes,
Caminho em cigana
Vontade se dana
Por onde conduzes.

34528

Bebendo da estrela
Em goles sublimes
No quanto me estimes
Ou quando revê-la
Enfim percebê-la
Bem mais do que rimes
Assim me redimes
Somente em contê-la.
Reviso os meus passos
Ganhando os espaços
Esparsos ao vento.
A lua se entranha
Atrás da montanha
E assim me apascento.

34529

O quanto de limo
Adentra o penhasco
O mundo um carrasco
Que dano e que estimo,
O tanto inda estimo
Sem medo e sem asco,
E quando sem casco
O mundo suprimo
E venço o cansaço
E assim beijo e traço
Lunares caminhos,
Vagando sem ermo,
A vida sem termo,
Ausentes espinhos.

34530

A chave perdida
A sorte danada
O corte outra espada
Adagas da vida,
A morte sentida,
A farsa tocada
A lua enredada
Nas tramas, fugida
O vento da noite
O corte que açoite
E a sanha desfeita,
Assoma-se o medo
Bebendo o degredo
A vida se deita...

34531

Das brisas e ventos
Dias majestosos
Ritos, risos gozos
Diversos momentos
E nele os proventos
Maiores, fogosos
Dias prazerosos
Ausentes tormentos
Vestindo esta lua
Deitada flutua
E bebe este espaço
Seguindo teu prumo
Deveras me esfumo
Também me desfaço...

34532

Olhando esta rosa
Diversa de tantas
Enquanto agigantas
Bela e majestosa
A vida se goza
As dores espantas
E assim me adiantas
Em verso ou em prosa
O quanto se trama
Na fúria e na chama
No rito mais nobre
E o quanto se quer
Do gosto, mulher
Assim se descobre...

34533

Em pétalas várias
A sorte se faz
E tanto ou mordaz
Assim procelárias
Velhas luminárias
O tempo desfaz
E o quanto se traz
Das almas corsárias
Em brumas e medos
Dispersos enredos
Mortalhas tecidas
Nos ermos de um ser
A morte e o prazer
Retalhos de vidas.

34534

Os ventos tocando
A face de quem
Procura outro bem
E tanto negando
O quanto rumando
Mergulho convém
Sabendo o desdém
E nele o comando
Do corte e do vento
E quando alimento
O tempo com nada
Além do que eu possa
A vida destroça
Negando alvorada...


34535

O quanto encadeias
Em versos e luzes
As dores e cruzes
Também incendeias
E tomando as veias
Aonde produzes
Os cortes e as urzes
Matando as sereias
Dos sonhos de outrora
O mar se decora
Do esgoto e vinhoto
O quanto se brinda
À morte que finda
O sonho ora roto.

34536

A voz mais cativa
O tempo se cala
A vida vassala
A morte cultiva
Na fonte que priva
E tanto regala
Quem nada mais fala
Apenas reviva
O gozo do fim
Ausente de mim
Procuro um apoio
Nascente sedenta
A vida alimenta
De nada este arroio.

34537

Já não posso ver
Além do passado
Nem mesmo o recado
Sabendo conter
Nas mãos do querer
O tanto traçado
Ou mesmo negado
Restando o perder,
Montanhas e vales
E quanto mais fales
Maior desafio,
E sigo sozinho
Cevando este espinho
Perdendo o meu fio.

34538

A fonte secando
A morte resolve
O quanto me envolve
O vento que infando
Permite sem quando
O tanto revolve
Passado dissolve
O dia chegando,
Ausente do imenso
No tanto não penso
Seguindo sem rumo,
Galgando promessa
A sorte tropeça
Enquanto me aprumo.

34359

Aonde os mergulhos
Pudessem trazer
Além do querer
Verdades e entulhos
Atrozes marulhos
O vento a conter
A morte a tecer
Os meus pedregulhos,
Resumo meu verso
No tanto disperso
E quando revejo
O tempo não traz
Sequer mais a paz
Tampouco o desejo.

34540

Inútil sonhar
Se o templo desfeito
No quanto me deito
Diverso luar,
Bebendo a fartar
Uma alma este efeito
Do quanto perfeito
Já sei disfarçar
O gozo incontido
O dia se urdido
Nas tramas do medo,
E quando me abismo
E sorvo do sismo,
Além me concedo.

34541

Doçura infantil
Nos sonhos de outrora
O tempo devora
E tudo se viu
Ausente e partiu
No quanto demora
Ou tanto se ancora
Num templo mais vil,
Resisto o que posso
E sei que destroço
Do todo restando
No peito de quem
Sonhara e contém
Ausência tomando...

34542

Quando amanhecer
Nos olhos de quem
Se fez em desdém
Não podendo ver
A luz a tecer
Caminho que vem
Trazendo outro bem
Refeito o viver,
Negando este fato
O quanto desato
Do mundo que um dia
Gerara num sonho
E agora medonho,
A sorte fugia...

34543

Deitando seus braços
Nas sendas distantes
Olhar por instantes
Diversos espaços
E quando em tais traços
Também adiantes
Fardos degradantes
Momentos mais baços
E os dias alheios
Totais devaneios
Em ritos sombrios,
E assim se fazendo
A vida perdendo
Do gozo seus fios...

34544

Um ar tenebroso
O tempo desfeito
E quando me aceito
Diverso do gozo,
Bem sei caprichoso
E quando no leito
A lua faz pleito
Disperso e penoso
Caminhos que faço
Aonde inda traço
Alguma esperança,
Mas sei deste nada
A sorte lançada
A mão não alcança.


34545

Em riscos e ritos
Os sonhos e as sanhas
Além das montanhas
Momentos finitos
E gritos aflitos
Aonde me apanhas
Com medos e ganhas
Os sonhos malditos.
Resisto o que posso
O mundo se nosso
Jamais poderia
Trazer esta cena
Aonde envenena
Ferrenha agonia.

34546


Traçados em seda
Momentos que tento
Aonde este vento
Em paz se conceda,
A vida se enreda
Além do lamento
E assim me apresento
No quanto se veda
A porta e se erguendo
O mar estupendo
Nefasto e sombrio,
Beijando outro tanto
Assim desencanto,
Meu mundo esvazio...

34547

Pudesse em cristal
Traçar os meus dias
Quantas alegrias
Num novo degrau
O tempo outro astral
Vitais fantasias
E quando te erguias
Além bem ou mal
A vida detalha
Além da batalha
Imensa esta paz
E nela o que penso
Agora no intenso
Desejo se faz...

34548

De um manancial
Em águas suaves
O quanto me agraves
Ou fardo venal
Contemplo este igual
Momento, quis aves
Apenas entraves
E o sonho mortal
Da faca em garganta
A voz se levanta
A morte se trama,
Deixando de lado
O quanto traçado
Espelha este drama...

34549

Num canto qualquer
Deixado-me em paz
A vida se traz
Enquanto puder
No quanto vier
Ou mesmo é capaz
Do sonho tenaz
Se tanto quiser
Seguir nova senda
Aonde se entenda
Meu canto e lamento,
Mas quando me vejo
Aquém do desejo,
Entrego-me ao vento...

34550

Qual um caracol
À sombra das folhas
Enquanto recolhas
Diverso teu sol,
Tomando o cenário
O vento sutil,
O quanto partiu
O mundo corsário
Naufrágios e saques
Mergulhos no nada,
Na atroz alvorada
Sentindo tais baques,
Restando o quintal
Refúgio final.

34451 até 34500

34451

No alto da montanha
Ouro entre azulejos
Sinto os meus desejos
Vejo minha sanha
O sol que nos apanha
Momentos sobejos
Sonhos mais andejos
O horizonte banha
Corpos e delírios
Longínquos martírios
Sinto cada adeus,
Distante de mim
Vento toca e enfim
Posso ver Meu Deus.

34452

Lua em meus jardins
Olhos prata bebem
Tudo o que percebem
Princípios e fins
Anjos querubins
Os sonhos concebem
Raios se recebem
Sonhos gritam sins.
Vejo ao longe a dama
Nua em plena chama
Prateando a terra,
Ouço a sua voz
Deita sobre nós
Tanta paz descerra.

34453

Ouro sobre o vale
Sol se enamorando
Quando verdejando
Em silêncio fale
Sonho em que se embale
Momento mais brando
Aves levam bando
Sob o azul do xale.
Ouro verde e azul,
Os ventos do Sul,
Etéreo momento,
Entre guerras, medos,
Batalhas e enredos,
Logo me apascento...

34454

Precioso orvalho
Claro amanhecer
No céu a tecer
Sob o sol espalho
Meu olhar tão falho
E consigo ver
Vivo este prazer
Para um Deus, atalho.
Sol cristalizado
Do viver nublado
Gotas de esperança;
Delicada tela
Que a manhã revela
Sentimento alcança.

34455

Tua boca em trevas
Olhos sorridentes
Beijos, ritos, dentes
Paraísos levas
Quando assim elevas
Sonhos transcendentes
Quais iridescentes
Brilhos sobre cevas,
Noites em neblinas
Logo me fascinas
Diamantina e bela,
Na brumosa cena
Presença serena
Doma, vem, revela...

34456

A ave em seu gorjeio
Liberdade em asas
Quando assim embasas
Raro devaneio,
Distante receio
Teu olhar em brasas
Das dores defasas
O tormento alheio
Liberdade em cantos
Invadindo os cantos
Vira plenitude,
Do tempo cruel
Revertido ao léu,
Brilha a juventude.

34457

A penumbra oculta
Tal beleza rara
Quanto disto ampara
Sonho que se ausculta,
Viva catapulta
Para além dispara
A presença clara
Natureza culta
Cultuando a cena
Alma se serena
Bebe eternidade,
Neste mesmo instante,
Como um diamante
Sorvo a claridade...

34458


Quieto, emudecido,
Vejo além, no mar
Azuis a tocar
Sonho enternecido,
Dores, ledo olvido
Permito encontrar
Cais e porto. Amar
Rejuvenescido.
Ouço este marulho
Neste mar mergulho
Vago profundezas
Conchas, ondas, ritos
Misto de infinitos
Beijo de grandezas...

34459

Vejo no jardim,
Rosas caracóis
Dias belos sóis
Brilham dentro em mim,
Do vazio eu vim,
Ausentes faróis
Hoje girassóis
Num olhar sem fim,
Bebo este horizonte
Quando já desponte
Raro amanhecer.
Lírico cenário
Ao longe um canário
A amarelecer.

34460

Tanta maravilha
Céu, sol, lua e vida,
Sorte concebida
Sonho vivo trilha,
Luz que se polvilha
Cena sendo urdida
Beleza surgida
Onde Deus palmilha.
Num olhar distante
Cada vago instante
Ao longe contrasta.
Muito além estás
De uma ausente paz
Teu olhar se afasta...


34461

Copa do arvoredo
Pássaros migrantes
Raios deslumbrantes
Sol invade cedo
Desvenda o segredo
Quanto te agigantes
Sebes fascinantes
Meu olhar concedo,
Entre frondes tantas
Tu também encantas
Canto em harmonia,
Vejo beijo e sonho
Aos poucos componho
Cenário de um dia.

34462

O que fora adaga
Agora se cala
Adentrando a sala
O luar que afaga
Aplacando a chaga
Liberta a vassala
Voz que enquanto fala
Em ânsia tão maga
Toma plenamente
Assim se apresente
Tempo após tempestas
E deitada nua
Bela sob a lua
Deusa exposta; restas...

34463

Sinto em outra mão
O que não sabia
Quem trafega o dia
Leda contramão
Vento em direção
Traça em fantasia
Sorte ou alegria
Cenas de verão.
Ouço o vento além
Do quanto contém
Contem raras luzes,
Num momento apenas
Tão sublimes cenas,
Sem saber produzes.

34464

Na calçada a lua
Cadeiras, conversas
Entre tantas versas
A alma ali cultua
A beleza crua
Em luzes dispersas
Presenças imersas
Divindade atua.
Bebo gota a gota
Minha história rota
Rota agora nova,
E nesta calçada
Noite enluarada
Coração renova.

34465

Bastam tão somente
Olhos luas claros
Noites dias raros
Da vida semente,
Assim se apresente
Dos mil deuses aros
Elos nobres caros
Brilho que alimente
Sonhares dispersos
Em tais universos
Versam para um só
Ao longe contemplo
O Pai neste templo
Em dourado pó.

34466

Debaixo da lua
Cenas entre tantas
Quando te levantas
A deusa ali nua
Quieta além flutua
Derramando mantas
Sem notares cantas
Velhas melodias,
Noites tão vazias
Saudades de alguém,
Meu olhar se alheia,
Bebe a lua cheia
Que em deslumbre vem.

34467

Dourado senhor
Entre milharais
Ventos ancestrais
Beijos de um louvor,
Sonho multicor
Raios siderais,
Bebo e quero mais
Deste bom licor,
Vida gera sonho
Sonho gera vida
Deveras surgida
Enquanto componho
Com gotas deste ouro
Meu maior tesouro.

34468

Olhando seus brilhos
Sol derrama luzes
Aonde conduzes
Teus sobejos trilhos,
Sonhos andarilhos
Dias dores cruzes,
Caminhar em urzes,
Tantos empecilhos...
Mas do sol tais garras
Quando ali te agarras
Verás no horizonte,
Este ciclo eterno,
Tormentoso e terno
Que ao viver se aponte.

34469

No albor da manhã
Raios e matizes
Brilhos mais felizes
Num suave afã,
Da noite malsã
Horas que desdizes
Quando após as crises
Vês neste amanhã
O sol se derrama
Beba cada chama
Alimenta a vida,
E se faça de ouro
Vivo nascedouro
A alma renascida.

34470

Destroçadas dores
Entre luzes fartas
Jogas tuas cartas
Bebendo os albores,
Raios redentores
Quando tu te apartas
Das loucuras, partas
Rumo aos redentores
Caminhos do sol,
Dourando arrebol
Dominando tudo.
Vendo este cenário
Farto e necessário
Toda a senda eu mudo.

34471

Chuva derramando
Sobre a terra agreste
Assim tu vieste
Neste sonho brando
Tudo transformando
E o prazer que deste
Hoje se reveste
Em ar mais nefando,
Negando o provento
Sigo mais sedento
Ventos sem destino,
Quando me recordo
Hoje nada a bordo,
Ledo; eu me alucino.

34472

Sobre as pedras vejo
O cair dos sonhos
Mergulhos medonhos
Ausente desejo,
Neste instante em pejo
Olhares tristonhos,
Dias enfadonhos,
Também me negrejo.
Ritos mais tenazes
Dias turvos trazes
Em mordazes cenas,
Longe estás de mim,
Saudade, um chupim,
Resto lasso, apenas...

34473

Como fosse a terra
Entranhas expostas
Faces decompostas,
Em constante guerra
Sonho, a vida encerra
Retalhando em postas
Dos mares, as costas
Vazios; descerra.
Sigo alheio ao fato
Do quanto retrato
Mera semelhança
Vivo por viver,
Longínquo prazer
Nem um vento alcança.

34474

Pudesse ser mais
Do que tanto quis
Eterno aprendiz
Entre temporais,
Versos tão banais
Dentre tantos fiz
Buscando o feliz
Momento e jamais.
Resto sobre o leito
O degredo aceito
Cenário nefasto,
Dos meus sonhos fartos,
Dias mortos, quartos
Aos poucos me afasto.

34475

Homem, alvorada
Dia nasce torto,
Meu olhar já morto
Não trazendo nada,
Riso em voz cansada
Quando ausente porto,
Nascedouro aborto
Vida renegada,
Marcam meus caminhos
Os vários espinhos
Deixando pra trás
Flores que pensara
Da manhã tão clara
Tempesta se faz.

34476

Houvesse caído
Sobre a terra agreste
O quanto pudeste
Ser um mero olvido,
Passo decidido
Nada sigo, e a veste
Onde se reveste
Moldando o tecido
Tempo em aridez
Tudo no que crês
Já não mais consigo,
Sigo alheio ao tanto
Vivo desencanto,
Constante perigo.

34477

Do meu sangue ao solo
Gotas, chuvas, morte,
A diversa sorte
Com terror e dolo,
Quando assim assolo
Meu caminho, o norte
Nada me conforte,
Queda e corte; esfolo
Meu olhar ausente
Busca ainda e tente
Horizonte manso,
Mas distante sonho,
Nada mais componho,
Nada mais alcanço.

34478


Na batalha a vida
Entre vidas tantas
Quando te agigantas
A sorte puída,
A morte tecida
Nela tanto espantas
E quando levantas
Vejo a despedida,
Beijo o nada ser
E no alvorecer
Feito em brumas, dores,
Já não mais prossigo,
Morto em vida, sigo
Neste céu sem cores.

34479

De uma noite vã
Outra se aproxima
Nada que se estima
Na sorte malsã,
Vida segue o afã
E deveras rima
Mutação de clima,
Ausente manhã
Tento ver além
O que eu sei não vem
E jamais veria,
Assim sendo a noite
Dor, vagar, açoite
Morto está meu dia.

34480

Silabas e frases
Medos, ritos, tramas
Quando tu reclamas
Ou melhor atrases
Vejo em velhas fases
As dispersas chamas,
E se ainda clamas
Destroçando bases,
Vento mais agreste
E quanto me deste
Deste nada ser,
Ao sentir a face
Deste não que grasse
Mato o amanhecer.

34481

Trabalhos arados
Os dias em sol,
O quanto do prol
Em fardos negados
Olhares recados
E todo arrebol
Vestido dos prados
Momentos alçados
Sentir girassol,
Risonhos alentos
As brisas, os ventos
Mergulhos em mim,
E tento outro fato
E nada retrato
Senão ledo fim.

34482

Já não vejo a morte
Nem mesmo pressinto
O quanto ora extinto
Ausente meu norte
Sem ter quem suporte
Dourando me minto
E tanto repinto
Da vida sem sorte
Resgato este nada
Aonde se alçada
A lua não vinha
A senda desnuda,
Uma alma transmuda
E o nada retinha.

34483

As mortes os dias
Os sonhos e as frases
Os olhos que trazes
Em faces sombrias
E neles podias
Mas quando sem bases
Os ritos mordazes
Luzes fugidias
Figuras dispersas
E quando ali versas
Investes na dor,
Assim porfiando
O tempo passando,
Sem sonho e sem cor.

34484

Já sem alvorada
Negada sem rumo,
O quando consumo
Traduz mesmo o nada,
E tento outra alçada
Ou mesmo me esfumo
E beijo outro prumo
A sorte sondada,
Reduz ao vazio
O quanto desfio
E morro sem paz.
O peso sentido,
O corte e vencido,
Ausência se faz.

34485

Olhar imortal
Dos deuses além
E quando contém
Fator desigual,
Meu canto venal
Ao seguir aquém
Procuro e não vem,
O sonho é fatal,
Resíduos coleto
E quando repleto
Já não bastaria
Sequer outro tanto
Total desencanto
Negando outro dia.


34486

Pudesse dizer
Do quanto sou grato
E quando retrato
A vida ou querer
Sem tanto saber
Ou mesmo do fato
E assim já reato
Meu canto a perder
Nos ermos da noite
Sem nada que acoite
Percebo a brumosa
Manhã que se eleva
Bebendo da treva
Uma alma andrajosa.


34487

As luzes modestas
As sortes banais
E quando sem cais
A vida sem festas
Apenas emprestas
Momentos iguais
E vês nos bornais
As meras vãs frestas
E tudo eu refaço
Ausente meu traço
Permite o vazio,
E quando pudera
Vencer a quimera
Também me esvazio.

34488

Meu sonho, a rotina
Que tanto se esgota
E quando sem rota
A sorte alucina
Perdida e ladina,
O passo amarrota
O beijo não trota
Nem sabe da crina,
Vagando sem ter
Sequer o querer
Aonde pudesse
Viver plenitude
Bem antes que eu pude
A vida me esquece.

34489

O sabor desta água
Em trevas e medos
E deles degredos
Aonde deságua
A sorte sem frágua
A lua em enredos
Diversos segredos
Carregam a mágoa
O tempo nefasto
O quanto me afasto
E bebo este insano
Caminho entre trevas
Por onde me levas,
Prenúncio de dano.

34490

A face suspeita
De quem se maltrata
A morte retrata
Enquanto se deita
A fonte desfeita
A face que ingrata
Destroça e desata
A noite perfeita,
Restando este frio
E quando baldio
Meu peito se aquieta
Quem sabe se a vida
Trouxesse a saída,
Paisagem completa.

34491

Meu verso ladino
Meu canto sem rumo
O quanto resumo
Ou mesmo domino
Palavra sem tino
Num tempo sem prumo,
E quando acostumo
Dobrando outro sino
A morte anuncia
Ausência do dia
Que tanto se quis,
Assim sigo alheio
E em tal devaneio
Quem sabe feliz?

34492

Memória em mulher
Pintada e cravada
Numa alma calada
Que tanto se quer
Vencer um qualquer
Caminho que ao nada
Trouxesse esta estrada
Sem outra sequer,
Querendo o descanso
No quanto me lanço
E nada se vê
A vida vazia
O tempo se esfria
E vou sem por que...


34493

Só e abandonado
Não tendo saída
Olhando esta vida
Revelo o passado
E sinto o recado
Da sorte sofrida
Da morte gerida
Nos passos do enfado,
Resolvo um problema
Porém novo tema
Teimando em surgir,
Seguindo sem termo,
O mundo tão ermo,
Ausente porvir.

34494

Em tantos momentos
Segredos dispersos
Em sonhos imersos
Totais desalentos
Negando proventos
Aos sonhos e versos,
Os cantos imersos
Nos meus sofrimentos
A morte outra vez
Negar lucidez
Gerar a loucura
E assim se atirando
Ao tempo negando
Qualquer luz ou cura.

34495

Podendo lembrar
Dos dias distantes
Olhares brilhantes
Constante luar,
Tocando e vagar
Os sonhos farsantes
Dias degradantes
Ainda a roubar
A cena e trazendo
Apenas ascendo
Ao quando pudera
A vida não trama
Aquém desta chama,
Aberta a cratera.

34496


De tanta amargura
Que a vida promete
No quanto arremete
Além da procura
Bebendo a ternura
De um falso confete
Assim me compete
Somente a loucura
Resumo o passado
Ouvindo o recado
Do quanto pudesse
Tecer novo brilho,
Mas tanto empecilho
Que nada obedece...

34497

Não vejo o presente
Nem mesmo o queria
O tempo, a alegria
A morte apresente
A farsa desmente
Em farta agonia,
A porta se abria
E o vento me alente.
O quarto sombrio
Meu mundo esvazio
E sigo sem rumo,
Queria um segundo
Apenas de um mundo
Diverso consumo...

34498

O que se vier
Traçado no quanto
Pudesse e ora canto
Encanto qualquer
A senda, a mulher,
O riso outro pranto
O beijo, o quebranto
Sem nada sequer,
Realço o meu passo
E quando outro traço
Mostrando a verdade
Impede o sorriso,
O quanto é preciso
Deveras degrade.

34499

Ao ser desleal
O tempo renega
A sorte carrega
E trama o final,
O passo mortal
A vida tão cega
O quanto navega
Bebendo do sal
Da morte presente
Do sonho constante
E quando adiante
O passo se sente
O vento e a tormenta,
E enfim acalenta...

34500

Sentindo de pronto
Momento feliz
Se tudo o que eu quis
Tramado em desconto
No quanto me apronto
Ou tanto desdiz,
A sorte aprendiz,
Refaço outro conto
E tento um sorriso
Disperso e preciso
Fadado a sonhar,
Mas sei quanto resta
Da noite sem festa
Sem sonho ou luar...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

34401 até 34450

34401

Vagando universos
Procuro paragens
Em tantas viagens
Usando meus versos
E quando confesso
Miragens e sonhos
Às vezes bisonhos
Ao nada regresso
E tento outro espaço
E mesmo que possa
Vencer qualquer fossa
Ainda me enlaço
Nas tramas sombrias
Em busca de dias.

34402

Atroz caridade
No olhar que promete
E quando arremete
Enquanto degrade
No passo a verdade
Ou mesmo remete
Dos sonhos grumete
Comanda esta herdade
E levo distante
Qual fora meu barco
O sonho que embarco
Ou mesmo adiante
Mordendo este anzol,
Matando o meu sol.

34403

O quanto em contraste
O passo se dera
E assim primavera
Que tanto negaste
Agora sem haste
Morrendo na espera
Que tanto tempera
Enquanto desgaste
Restando o vazio
E nele este frio
Aonde me fiz,
O quanto inda resta
Da noite sem fresta
Do mundo infeliz.

34404

Sentindo este vício
E nele morrendo
A vida um adendo
Total precipício
Volvendo ao início
E nisto podendo
Do quanto perdendo
Refeito e propício
Aos fardos e sanhas
Vontades tamanhas
Em manhas e medos,
Assim me assomando
Sem ter nem mais quando
Viver meus segredos.


34405

O mundo se infando
No tanto que um dia
Pudesse sombria
A vida negando
O passo moldando
Total heresia
Assim se faria
O dia mais brando,
Resenhas e ritos
Momentos e gritos
Medonhos e vários
Meus barcos sem rumo
Aos poucos consumo
Males necessários.

34406

Um astro seguindo
Vital poesia
No quanto se cria
Ou quanto esvaindo
Momento em que brindo
Fatal fantasia
E nela a alegria
Deveres cumprindo,
Resisto ao que entranha
A sorte me ganha
E leva os segredos,
Assim se mostrara
A vida mais clara
Distantes os medos.


34407

Voando por sobre
O mundo que quero
O passo sincero
Que o sonho recobre
E quanto mais nobre
O tempo se é fero
Também desespero
Enquanto descobre
O rito sutil
E nele se viu
Cenário composto,
O vento assolando
O templo tomando
Roçando meu rosto.

34408

O quanto da dor
Pudesse sentir
Quem sabe seguir
Nos ritos a flor
E tento o calor
Que embora por vir
Já tanto pedir
Sem ter mais rancor.
Resolvo meus fardos
E tento outros bardos
Entoam-se trevas
Enquanto sombria
A sorte vadia
Aos poucos tu levas.

34409

Quando humanidade
Sentir seus encantos
E neles os prantos
Na dor que degrade
No quanto a saudade
Invade teus cantos
E neles quebrantos
Dizendo verdade,
Resolutamente
A paz se desmente
E o todo se vê
No pouco que resta
Ao menos a fresta
Traduz um por que.

34410


Os olhos sombrios
Os dias calados
Enganos traçados
Em versos vadios,
Meus olhos teus rios
E tanto jogados
Nos cantos e lados,
Velhos desafios,
Resolvo e não tento
Ainda que atento
Poder nova sorte,
Sabendo do quanto
A morte, outro tanto
Bem fundo me corte.


34411

Cenário de horrores
O mundo que vejo
E quando desejo
Nos céus outras cores
Diversos pudores
Ausente azulejo
Enquanto verdejo
Buscando os penhores
Da sorte mordaz
Do tempo voraz
Atrás nada vem
Somente a centelha
Que tanto me espelha
Somando o desdém.

34412

O quanto concentre
Meu mundo num manso
Caminho descanso
E sempre se adentre
O quanto foi entre
A vida e o remanso
Ao longe me lanço
Abrindo este ventre
Do sonho mais alto
E em cada ressalto
O peso se pende,
E o verso sonega
A sorte que é cega
De nada depende.

34413

A vida diz mágoa
Enquanto transmite
O quanto se evite
Em vão já deságua
Apaga esta frágua
Além do limite
E sem teu palpite
Andar sobre esta água
Vagando em resumo
No quanto me esfumo
E teimo sem nexo,
Além do que vês
O quanto sem quês
E dele reflexo.

34414

A sorte nefasta
O porte vulgar
A lua sem mar
O canto se afasta
E tanto desgasta
Quem tenta lutar
Ou mesmo sonhar,
A vida mais casta,
Realço num mote
O quanto se bote
Nos seios do sonho,
E tendo comigo
Além do castigo
O rosto medonho.

34415

Arrasto correntes
Nas noites vazias
E quando esvazias
As horas mais crentes
Bebendo aguardentes
Aonde sangrias
E nelas podias
Cravando teus dentes
Riscar o que traço
No sonho onde faço
Distante porvir,
E assim do não ser
Total desprazer
Sem nada a sentir.


34416

A vida se toda
Não deixa pedaços
E tento outros traços
Aonde se poda
E quando já roda
Entranham-se laços
Diversos abraços
Ardência de soda,
Armando outro bote
Ainda se esgote
Meu passo no aquém
Do quanto pudera
Se a vida diz fera
O nada retém.

34417

Da velha coberta
Puído tecido
O mundo surgido
A porta se aberta
O quanto se alerta
Tocando o sentido
De quem nunca ouvido
Agora desperta.
Resumo a conversa
Aonde se versa
As águas do rio
Deveras teu mar
Pudesse tocar
Com fúria e pavio.


34418

Da semeadora
Dos sonhos e dores
Ainda sem flores
A porta onde fora
Aberta a penhora
E nela os pendores
De quem em horrores
Também se assenhora,
Vestir este trapo
E quando eu escapo
Farrapos e sanhas
Não tendo saída
A lua servida
Além das montanhas.

34419

Por tantos carinhos
Em noites vazias
Aonde querias
Viver os caminhos
Diversos espinhos
Por onde seguias
E neles tu vias
Os dias sozinhos,
Dos sóis, luas, mares
Mergulho tocares
Vencendo os teus medos
E assim se translada
Além da calçada
Os vários enredos.

34420

Amar só revela
Os erros de quem
Buscando outro alguém
Abrindo esta vela
Pensando ser ela
Aquela que vem
Trazendo o seu bem
Aonde se atrela
O passo mais firme
Que tanto confirme
Chegadas e ritos,
Assim os meus dias
Conforme pedias
Serão mais bonitos.


34421

Ao abrir as portas
Dos sonhos audazes
Tu tanto me trazes
Enquanto deportas
E sigo entre as mortas
Manhãs mais mordazes
E tanto tenazes
As hordas que exportas
Compotas abertas
Enchentes em mim,
Vivendo o sem fim
Enquanto me alertas
Ao mesmo caminho
Retorno sozinho.

34422

Sem medos nem horas
Negando outro passo
No quanto desfaço
E quando devoras
Ourives não faço
Do sonho em pedaço
Amor que decoras
Em fartas promessas
E quando tropeças
A queda se vê
E a vida promete
Além me remete
Sem ter nem por que.

34423

As sortes já mortas
Os dias medonhos
Aquém dos meus sonhos
Palavras deportas
E beijas e cortas
Os olhos bisonhos
Em dias medonhos
No quanto me exortas
Campeio por sendas
E nelas desvendas
Momentos de glória
Assim se refaz
O quanto sem paz
Já fora uma história.


34424

O mundo inda vem
Tocando os cabelos
Viver pesadelos
Distante de alguém
A sorte em desdém,
Momentos ao vê-los
Buscando com zelos
O tanto que tem
Amar e sentir
O quanto há de vir
Ou nada virá,
Cenário diverso
No qual se inda verso
O sei desde já.

34425

Pudesse beijar
A boca, esta pele
Que tanto compele
Sem nada a negar,
Mas quando a vagar
O sonho repele
E nada se sele
Ao tanto buscar,
Vasculho tais rastros
E seguindo os astros
Encontro os anéis
E neles mergulho
Meu ermo vasculho
Em ritos fiéis.

34426

Dias pobrezinhos
Em meio aos vazios
E tantos os fios
Perdessem os ninhos,
Resumo os caminhos
E neles esguios
Os traços vadios
As ânsias e os vinhos
Renego meu erro
Em cada desterro
Apenas resquício,
E tento saída
Aonde outra vida
Traduz seu início.


34427

O quanto se torna
O quase que fui
E assim já se flui
A vida que entorna
No quanto retorna
Ou nada mais rui
O vento me pui
E a sorte contorna,
Vencer a promessa
Sentir que começa
A vida num ermo,
O tanto que possa
Viver sem a troça
Mudando este termo.

34428

Sentir das tormentas
As águas e os ventos
Beber sentimentos
Enquanto me alentas
E tanto apascentas
Negando proventos
Tocando momentos
E neles me inventas
Palavras precisas
E quando indecisas
As sortes se mudam,
Assim os meus dias
Em tais sintonias
Também nada ajudam.


34429

Pudesse ser mais
Que apenas um dia
A sorte traria
Novos rituais
Beber e demais
Do quanto podia
Sentir a alegria
Em tais vendavais,
Resisto o que posso,
Ao tanto que é nosso
E nunca se alheia,
A morte não vendo
O quadro tecendo
Diversa tal teia.


34430

Aonde em tais calmas
Os ventos não chegam
E quando navegam
Adentrando em almas
Deixando estas palmas
Por quanto sossegam
E assim mal se entregam
Enquanto me acalmas
Levando meu barco
Aos poucos num arco
Perfaço infinitos,
Os dias vindouros
Divinos tesouros
Em sonhos descritos.

34431

O quanto se ouvira
Do mar em tempesta
A vida funesta
Ao mesmo interfira
E quando esta mira
Gerando o que gesta
No quanto diz fresta
Aos poucos retira
As ânsias mais lúbricas
Em noites tão lúdicas
Momentos sutis,
E assim ao me ver
Exposto ao querer
Também sou feliz.

34432

O medo e o soluço
O risco e o mergulho
O mar seu marulho
Ao longe se eu tusso
E perco este esboço
Do quanto pudera
Vencer outra fera
Ainda sou moço,
Mas velho no peito
E tento e o repente
O corte a serpente
A cama e me deito
Nas turvas e trevas
Enquanto me elevas.


34433

O quanto do mundo
Coubesse no abismo
Aonde se cismo
Pudesse e aprofundo,
Viver vagabundo
Fatal cataclismo
Ausente otimismo
Do nada me inundo
E resto sozinho
Sem ermo, sem vinho
Sem termo e sem trégua
A sorte se afasta
Na cena tão gasta
Bem mais que uma légua.

34434

Olhando pra dentro
Dos ermos procuro
Além deste muro
Aonde concentro
O passo me adentro
Vagando no escuro
E tanto perduro
Enquanto no centro
Das ânsias e gozos
Dias pedregosos
Caminhos sortidos,
Assim ao me ver
Aquém do prazer
Além dos sentidos.

34435

Falar de um amor
Ainda que ausente
Por mais que se tente
É como um louvor,
E sem ter a cor
Do olhar que se sente
No tanto freqüente
A cena de horror
Na qual desvario
Sedento e sombrio
Refaço o começo
Do medo sem trama
Da queda e da lama
Aquém do tropeço.

34436

O quanto se abrange
O mundo sem paz
E sendo capaz
Do tempo que range
Correntes e medos
Sementes e grãos
Dos dias mais vãos
E neles enredos
Diversos dos quais
Pudesse sentir
Ausente por vir
Dias desiguais
Riscando meu nome
Palavra que some...

34437


Palavras sei todas
E tento a promessa
Que tanto em remessa
Também ditam rodas
E quando me açodas
A vida tropeça
E falsa se expressa
Negando tais podas,
As honras e as horas
As ondas demoras
E os mares afastas,
Assim minha vida
Há tanto sentida
Em faces mais gastas.

34438

Bebendo este céu
Aonde pudesse
No quanto se esquece
Além deste véu
Seguindo o cruel
Caminho sem prece
E tanto oferece
Negando este mel,
O risco patente
O mundo se ausente
Na voz do que tanto
Pudesse vencer
Além do prazer
Farto desencanto.

34439


Aonde em estrelas
Ascendo ao etéreo
O mundo sidéreo
Vontades; contê-las
E tanto bebendo
Em goles maiores
Os dias decores
Com sóis rico adendo
Percebo o vazio
E nele me engano
O quanto do dano
Também já desfio
E tento outra sorte
Diversa da morte.

34440

O quanto se veste
De sonhos a vida
Não tendo partida
A força que agreste
Regendo me deste
E nela sentida
A sorte fingida
Ou mesmo se empeste
O tempo entre brumas
E quando acostumas
Fugindo de mim,
O medo e a vergonha
Ainda se sonha
Distante do fim.

34441

Em fluidos dispersos
O meu pensamento
Tocando este vento
Bebendo dos versos
E neles perversos
Caminhos alento
E quanto mais tento
Em ritos imersos
Escrevo o que penso
E sendo mais tenso
Ou tanto suave
A bala resolve
E quando me envolve
Também já me entrave.

34442

Atroz misticismo
Rondando o pensar
E quando a vagar
Ainda se cismo
Beirando este abismo
Que tento negar
A vida a tomar
Com tal pessimismo
O rumo que traço
Perdido no espaço
Ausente de mim,
Bebera do farto
E agora descarto
Em goles o gim…

34443

Na força que vibra
O medo da queda
Pagando a moeda
Que não equilibra
Em dólar ou libra
A sorte não seda
E quanto me enreda
Tenaz esta fibra
Refaz o caminho
Nas teias e tendas
E assim em contendas
Persisto sozinho
Realço meu medo
No quanto procedo.

34444

Aonde foi nosso
Agora não creio
Além deste alheio
Caminho que endosso,
Realço se posso
E tanto recreio
Minha alma recheio
Nos olhos, destroço
O peso da vida
Herdado do quando
Pudesse tombando
Gerar a ferida
E assim serviçal
Mundo desigual.

34445

O meu organismo
Entranha o veneno
E quanto apequeno
Porquanto este abismo
Refaço e redigo
O tanto que possa
Vivendo a palhoça
Qual fora castigo
Abrigo meu sonho
E quando revelo
Sondando um castelo
Em rito bisonho,
Pereço e não vejo
Além do desejo.

34446

Atroz sentimento
Tocando de leve
E quando me eleve
Além do tormento
No quanto apascento
Sem medo se atreve
E tanto diz neve
Conforme diz vento
Refaço esta idéia
E tanto em platéia
Aplaudo o final,
Assim nesta cena
A vida apequena
E desce um degrau.

34447

Tentando alegria
Aonde não vira
Sequer outra mira
Senão fantasia
A sorte sorvia
E tanto prefira
Da velha mentira
O quanto sabia
Resisto, porquanto
Ainda me encanto
Com tanto e tão pouco,
Meu rito resume
No quanto em costume
Também me treslouco.

34448

A luz sempre acesa
A sorte não via
Em tal sintonia
A vida surpresa
E sendo tal presa
Que há tanto sabia
Da falsa agonia
Vital correnteza,
Apátrida sonho
E nele reponho
Meus ermos finitos
E quanto pudera
Tramar primavera
Em dias bonitos.


34449

As noites são nossas
Se tanto quiseres,
Mas quando interferes
Nas horas que endossas
E quando remoças
Também regeneres
As sortes, talheres
E neles me adoças,
Vestindo o passado
Diverso e negado
Do quanto mais quis,
Pensei na promessa
Que o tempo confessa
E trama infeliz.

34450

A vida às avessas
A sorte maldita
E quando acredita
Além das cabeças
Nos dias as peças
As portas, a aflita
Palavra que dita
Enquanto começas
E vences os risos
Os medos precisos
Somando afinal,
O corte e a navalha
A sorte se espalha
Num grito geral.