terça-feira, 25 de maio de 2010

33950 até 34000

33951

O fogo a fome a fúria
A angústia do não ser
A falta do prazer
A dor o medo a incúria
No estado de penúria
Aonde há bem querer?
No quanto me envolver
Em lástima e lamúria
Não tento invento ou canto
No quanto pude apenas
Viver quando envenenas
Serenas? Mas, portanto
O corpo pende quando
O nada se formando...

33952

No canto sala e mesa
O fardo o sangue a dor
Entanto sonhador
Na falta de destreza
Intensa correnteza
Fosse navegador
Vencer o quanto for
Sem ser fera nem presa
Nas ânsias ondas praias
Morenas coxas saias
Balanço Rio e Mar
A sorte a faca o acoite
O sol varando a noite
Na mesa deste bar.

33953

Aonde não pude
Sentir outro vento
Pudesse um momento
Final juventude
Tomar atitude
Seguir sem alento
Gozar sofrimento
Enquanto não mude
Sentido ou começo
O quanto me esqueço
E lembro mais tarde,
O cardo, a coragem
Mesma paisagem
Que ainda me aguarde.

33954

Quando bruscamente
O tempo porfia
Da desarmonia
O tempo não mente,
Quando brusca a mente
O quanto podia
Na farta heresia
O fato premente,
Assim outro tanto
No quanto pudera
Qual fera eu me espanto
No canto calada
Na véspera, a espera
Quando encurralada.

33955

O verso sem rumo
Vagando no espaço
Porquanto não traço
Ou mesmo consumo
O vento que assumo
Faltando um pedaço
Rodando num laço
Minha alma é qual fumo,
Vasculho a tocaia
O quanto se traia
Ou mesmo se quer,
No fundo o caminho
Em pedras e espinho
Num cardo qualquer.

33956

Sou brisa e tempesta
Vital ventania
O quanto me guia
Também me detesta
Ao fundo esta fresta
Em peso e agonia
Em tanta alegria
Final de uma festa
Gerada no caos
Alçando em degraus
A escada da vida,
Ascendo apogeu
Depois bebo o breu
Até despedida...

33957


Um sopro, uma luz
A vida se fez
E quanta altivez
Assim se produz
Na fonte reluz
O que tu não crês
No amor que não vês
No corte e no pus.
Gerando este fato
Do qual me retrato
E tento a saída
Castrar o animal
Posar triunfal
Perdendo esta vida?

33958

Sou parte e sou todo
E quando me entranho
Nas asas sem ganho
Bebendo do lodo,
O fardo do engodo
O mundo que estranho
Meu sonho é tamanho,
A vida é um rodo
E roda no tempo
Gira contratempo
E tempos depois
O fim se prepara
O quanto da apara
Dizer de nós dois.

33959

Cevando este trigo
Do joio disperso
Alçando no verso
O quanto prossigo
E tanto persigo
Na conta se imerso
Um canto diverso
Versando outro antigo,
Refeito da queda
Palavra me seda
Torpores e coma,
Sem nada a perder
Nem tanto querer
Não há quem me doma.


33960

O fato se expondo
No quadro final
O gosto do sal
O mundo é redondo?
No quanto arredondo
Momento fatal,
Quem sabe cristal
Em erros se expondo
A terra tão frágil
A fera sendo ágil
O salto, a tocaia,
No fundo surpresa
Também vira presa
Do tempo que a traia.

33961

A serpente açoda
Virando esta folha
O quanto recolha
A sorte, uma roda
E nela se poda
O passo na encolha
A fome esta bolha
O templo da moda,
Cartazes e ritos
Momentos e gritos
A festa, o tormento,
No pântano em mim
O engano sem fim
Que assim alimento.

33962

Do lago secando
As águas de um rio
Na fonte, o desvio
O mundo negando
O quanto é nefando
O tempo de estio
Etéreo pavio
Rápido queimando,
A vida uma guerra
Assim se descerra
Na cena final,
O pano se abaixa
A lápide, a faixa
É a pá de cal.

33963

Um gole café
A ponta da faca
A sorte se empaca
Na falta de fé?
O quanto não é
Nem corte ou estaca
O corpo na maca
A morte e a galé
Rondando na mente
Girando no bar
A mesa o cantar
Que tanto desmente
O quanto se sente
Também a rodar...

33964

A fonte secara
O corte profano
Assim cada engano
A capa na cara
E assim se prepara
Olhar soberano
E quando me dano
O fim se declara
Em tantos palpites
E nunca te omites
Apenas adias
Legado ou herança
A mão já se lança
Em fontes vazias.

33965

Peçonha em pessoa
O cravo ou a rosa
A sorte se goza
Também não ressoa
E quando revoa
A voz majestosa
Ou já caprichosa
Prosseguindo à toa
Voltando da cena
Amor se apequena
E trama outro enredo
No quarto calado
O corpo cansado,
À fúria eu concedo.

33966

Chegado o momento
Lacustre tempesta
O corpo se empresta
Além do tormento
E quanto apresento
O fim desta festa
Calado me atesta
O riso e o lamento.
Capacho do sonho
Por vezes medonho
Ou quanto maior
Não me deixa ver
E aquém do prazer
Labuta e suor.

33967

No olhar o horizonte
Nas mãos a certeza
Minha alma já presa
Ou tanto confronte
No quanto desponte
Servida na mesa
Bandeja em destreza
Na ausência de ponte
Mergulho no nada
A porta arrancada
O vento se espalha
E tomando a cena
Ao fim me condena
Sem luta ou batalha.

33968

Não quero o cuidado
Nem mesmo algum nexo
Se eu tento perplexo
O peso cotado
No fardo gerado
No peso complexo
Ausente reflexo
Traduz meu legado.
Na copa e na fronde
Aonde se esconde
O que fora vida?
O beijo lacera
Na boca outra espera
Já tanto perdida...

33969

Palavras ao vento
Servindo em repasto
Ao quanto desgasto
Ou tanto alimento,
No pouco se atento
O verso mais gasto,
O gesto, um emplasto
Da dor um provento.
Perceba-se logo
No quanto inda rogo
Procurando a paz,
Jazigo de um sonho
Se o nada componho
A lavra se faz.

33970

O gesto preciso
O passo no falso
E quando descalço
Minha alma sem siso,
O vento conciso
Fatal cadafalso
Perpetuo encalço
E em nada matizo.
Legar o que possa
Montanhas ou fossa
Um vale profundo,
Do charco vivido
No tempo regrido
E dele me inundo.

33971

Viver se pudesse
O tempo de amar
E assim navegar
Imensa benesse
A dor já se esquece
Encontro este mar
Aonde tocar
A força da prece
No quanto se reza
O amor embeleza
E trama segredos,
Mas quantos caminhos
Embalde, sozinhos
Desdéns e degredos...

33972

Nas mãos o futuro
No olhar outro dia
A sorte seria
O quanto procuro?
No vão, salto o muro
A porta se abria
Ou tanto, se esguia,
Gerando outro escuro
Caminho sem tréguas
Distantes mil léguas
Dos olhos de quem
Pudesse conter
Além do prazer
O amor que não vem...


33973

Aponta-me o vão
E tento outra sina
E quando domina
Imenso serão
No verso, o porão
A sorte assassina
A fonte, outra mina
Imenso verão.
Chagásica espreita
E quando se deita
Amor sem vivê-lo
Do riso e da prece
O templo se esquece
Tece pesadelo...

33974

Amar e não ter
Outro provimento
Senão tal tormento
E nele saber
O verso a tolher
O passo eu lamento
E quando incremento
Algum bem querer,
Restando-me só
Semeio este pó
Sem dó sem estima,
Desta cordoalha
Já rota, batalha
Em foice ou esgrima.

33975

Dos bares de então
Dos dias passados
Os olhos, os prados
Final estação
O trem, o portão,
Passos apressados
Os dias contados,
A falta de chão.
Não posso parar
Nem penso em sonhar
Qualquer ventania
O pasto mal feito
Depois eu me deito
E a sorte se adia...

33976

Pecados e medos
Enquanto eu cometo
A sorte num gueto
Os dias mais ledos,
Os vãos e segredos
No quanto prometo
E assim me arremeto
Sem rumos e enredos.
Procedo ao que possa
Viver sem a troça
Comum de quem ama,
O corte a façanha
A fúria me entranha
No fim resta a lama.

33977

Pudesse descobrir qualquer alento
No tempo muito além de algum instante
E quantas vezes tento e se adiante
Ao próprio caminhar, o pensamento,
Da fonte inesperada me alimento
E sei do quanto possa degradante
A ponta do punhal mais penetrante
Tramando na tocaia o sofrimento.
Regido pelo medo e nada mais
No quanto poderiam temporais
Mergulhos noutros ermos que não trago,
Mas sinto sem promessa ou recompensa
A sorte noutra face em que convença
Na própria discordância de um afago.

33978

Prenunciando a morte que virá
Após a chuva forte de hoje à tarde
Por quanto cada passo já retarde
A solução não vejo aqui ou lá,
Ainda noutro sol não brilhará
Nem mesmo quando muito ainda aguarde
O corte bem mais forte sem alarde
Adentra e desde sempre marcará
Quem tenta outra saída e nada vê
Somente o caminhar e sem por que
Resiste aos mais doridos horizontes,
Mas sei que na verdade pouco resta,
E tento apenas ver pequena fresta
Por onde novo tempo ainda apontes.


33979


Jogado em algum canto pelas ruas
Nefasta realidade me aproxima
Do quanto ainda resta em auto-estima
Diverso do caminho em que inda atuas
Assim assisto ao fim das nossas luas
E tento conquistar, o amor se prima
Enquanto noutra face a vida esgrima
E além do que pudera tu flutuas.
Restando ao caminhante o desabrigo
E tento novo rumo, mas prossigo
Nos bares e nas noites vagas, só.
Mentores da ilusão amores tantos
E neles se tramando em desencantos
Caminho retornando ao mesmo pó.

33980

Não quero o desabrigo de um amor
Que possa condenar ao cardo e espinho
Prefiro caminhar sempre sozinho
Não tendo novo tempo ao meu dispor.
Gerado com ternura noutra cor
Se às vezes na ilusão em vão me aninho,
Eu bebo e tento até saber do vinho
Ou mesmo um delicado e bom licor.
Mas tudo se reflete neste vago
Anseio por um tempo bem mais firme,
Sem nada que inda possa ou mais confirme
Das velhas emoções sequer me alago,
E tento discernir sorte e mortalha,
Mas quanto mais eu tento, mais se falha.

33981

Descrevo ou mesmo até vivo e retrato
O rumo em que desfio o dia a dia
Usando como uma arma a fantasia
O sonho se traduz em pouso e fato,
Do tanto quanto sou assim ingrato
Ou mesmo noutra face mostraria
Realidade torpe em que se fia
O pensamento aonde às vezes me ato.
Eu lembro dos meus ermos quando tento
Vencer o mais profano sentimento
Exposto em galerias dentro da alma,
Do mostruário apenas um sinal
O corte se aprofunda e bem ou mal
A poesia vem sedando e acalma.

33982

O medo a faca a foice o corte e o cego
Caminho que entre pedras inda invento
Sem faro noutro instante sei tormento
E beijo cada curva onde navego,
O pendular momento onde me apego
E quantas vezes sigo sem provento
Do pensamento em vão se me alimento
O mundo noutro instante já renego.
Audaciosamente quis a vida
O parto muitas vezes inaudito
E quando nos meus sonhos acredito
Preparo uma mortalha ou beijo o luto,
Não sei se ainda posso, e assim reluto
Da labiríntica loucura uma saída...

33983

Pudesse em elegância a decadência
Mostrar a sutileza em fina classe,
Mas sei que quanto mais a sorte trace
Caminho mais diverso da clemência
O peso profanando esta cadência
Gerando novamente algum impasse
Oferecendo ao tapa uma outra face
Do quanto poderia, penitência.
Resisto ou tento ao menos ter nos olhos
Além dos espinheiros, dos abrolhos
O brilho desta flor, mesmo de plástico,
Assim na queda livre vejo a vida
Sem ter sequer sinal do quanto olvida
Um mundo que já fora tão fantástico.

33984

Dos inocentes olhos da esperança
O peso desta vida em glória e medo,
E sendo cada dia onde concedo
O passo no vazio já me lança
A vida sem saber sequer lembrança
Do quanto poderia ser enredo
Ou mesmo entranho algum segredo
E nele nova porta em aliança.
Rondando cada cena do que um dia
Vivera em treva ou luz, eu poderia
Saber de alguma chance, mas não vejo
Sequer a menor sombra do futuro
E tento tão sombrio, o mundo escuro
Apenas da alegria algum lampejo.

33985

As mãos entrelaçadas tentam luzes
E nelas outras luzes mais profundas,
E quando destas luzes tu te inundas
Caminhos mais diversos reproduzes,
Ao mesmo tempo vejo finas cruzes
E nelas as mortalhas mais imundas,
Pudessem se trazer as vagabundas
Manhãs por onde tentas e conduzes
Não sei e na verdade nem mais acho
O rumo de um ser vil feito em capacho
Rolando pelas pedras e penhascos,
Dos dias mais felizes, nada resta
E quando se percebe alguma fresta
Sorriso de ironia dos carrascos.

33986

Não tento ou não pudesse acreditar
Na fonte inesgotável vida e morte
E ainda quando a cena me reporte
À falta de caminho ou de lugar
Aonde eu possa mesmo mergulhar
Sem ter sequer sentido medo ou norte,
E ainda que deveras já me corte
O porte não permita mais sangrar.
Em casas casos rastros medos ritos
Os dias entre dias são finitos
E tantas horas perco procurando
Algum sentido mesmo na existência
E quando me percebo em penitência
O tempo pelas mãos; sinto escoando...

33987

Aprendo com meus erros ou não posso
Seguir entre as diversas tempestades,
E mesmo se talvez já não te agrades
Do sonho quando em sonho a dor emposso
Fartura do que fora outrora nosso
E agora noutra face tu degrades
Perceba quantos dias vagos brades
Lutando pelo tempo e não remoço.
Especular verdade dita a ruga
E todo este caminho a vida suga
Sem ter a menor pena, nem dar chance
E ainda que tivesse uma esperança
O vento noutro rumo logo avança
E assim neste vazio a voz se lance.

33988

Vagando pelas ânsias de quem tenta
Sentir algum alento após a queda
Do sonho aonde o tempo mesmo veda
O passo navegando outra tormenta,
No fardo aonde tudo se acalenta
Pagando sem sentir, mesma moeda,
O verso na verdade ainda seda
E nele teimo em rito que apascenta.
Desvio o meu olhar e busco a fonte
Aonde cada luz imensa aponte
Tramando outra saída bem mais clara,
O sol regando em brilhos a manhã
Palavra sem sentido, amor, é vã
E nisto a minha vida se declara.

33989

Andando sem destino noite adentro
No passo contra a fúria do passado
Gestando novo dia, tendo ao lado
O peso do sonhar eu me concentro
No fato de saber do novo centro
Por onde possa ver encaminhado
O dia novamente renovado
Mantendo o coração mais vivo e dentro
Jazigos entre restos do que eu fora
Na face mais atroz ou tentadora
Resgates de outro tempo em dor e pranto,
E quando me aproximo ou me retrato
No quanto poderia ser o prato
Servido neste enredo em desencanto.

33990

O siso o rosto o peso o corte e o tanto
Semeiam dentro em mim a discordância
E possa com terror ou elegância
Gerar o que talvez pudesse enquanto
Não sei quando sonhar ou mesmo canto
No peso derivado em leda infância
Não quero outra saída ou militância
Portanto sigo ao vento e assim me espanto.
Olhos sorvendo luzes no horizonte
Audaciosamente já desnudo
E quando o meu passado tento ou mudo
Encontro a realidade que o confronte
Assim ao me sentir desamparado
Eu bebo em conta-gotas outro enfado.

33991

Arcando com meus erros sigo em frente
E tento nova fonte aonde eu sei
Que tanto poderia nova grei
Ou mesmo conseguir quem de repente
Pudesse trazer luzes novamente,
E assim inutilmente eu me fartei
Do mundo em que penara e mergulhei
Nos antros mais profanos de uma mente.
Revivo cada passo e tento ainda
A sorte noutra face e a vida brinda
Com trapos e farrapos nada mais,
O pântano gestado pelo medo
E nele se deveras teimo e cedo
Bebendo os mais dispersos vendavais.

33992

Anestesias tantas entre farpas
E nelas outros dias não veria
Quem tanto mergulhando em fantasia
Encontra nos caminhos as escarpas,
Ascendo aos vãos penhascos da emoção
Volvendo ao meu caminho em passos rudes
E sei que talvez tentes, mesmo mudes
Traçando novo passo e direção
Fadando-me ao engano triunfal
Jorrando em tal sangria a morte e a pena
A vida por si só tanto apequena
Jogando sobre mim a pá de cal.
Quem fora sonhador mortalhas veste
E bebe a tempestade mais agreste...

33993

Risonho caminhar por entre sonhos
Promessas discernidas da verdade
No quanto cada passo me degrade
Fadados por mergulhos enfadonhos
Em ritos e delírios mais medonhos
Ao mesmo tempo bebo a tempestade
E vejo quanto possa à saciedade
Riscar outros desejos tão risonhos.
Mapeio os meus espectros e os devoro
E quando nos vazios me decoro
Aflora-se a vontade da mortalha,
As lágrimas descendo rosto afora,
O medo aonde o tempo se devora
Gerado pelo corte da navalha.

33994

Ocasos entre nuvens e fornalhas
Acesas maravilhas entre trevas
E quando noutra face teimas, nevas
Marcando com terríveis cortes, falhas?
Ourives do temor por onde espalhas
Dispersas ilusões em mesmas cevas
No quanto do meu mundo ainda levas
As mortes entre tantas velhas gralhas
Escadas que me levem para além
Do topo das montanhas, cordilheiras,
E quando a noite bebo e nada vem
Senão mesmo acordes, cortes, tramas
E quando noutro tanto tu reclamas
Ao ver este contraste já te esgueiras.

33995

Estrelas entre quedas mortes facas
E vês o meu retrato muito aquém
Do vandalismo exposto onde contém
As fontes mais terríveis, mesmo opacas
E quando noutro tanto tu me aplacas
Com fúria ou tempestade sempre vem
A noite noutra face de um desdém
Amortalhada noite onde empacas
O passo rumo à morte dita o bem.
Guitarras em noturnas vãs viagens
Moldando com horror velhas aragens
E nelas os meus dias vão contados,
Resisto o quanto posso e nada tento,
Mas sei quanto vazio este provento
Marcando com o sangue os vis tratados.

33996

Liberdade soando em tais instantes
Transborda no horizonte mais brumoso,
A morte em podridão incrível gozo
Nefasta maravilha em diamantes,
E posso mesmo quando me adiantes
Riscar o temporal em majestoso
Caminho preparado ou pedregoso
Cenário mais propício pros levantes
Espreito a minha morte e até me afasto
Porquanto sei deveras mais nefasto
O fardo aonde gero outro momento,
Pesquiso e vago infames ventanias
E nelas outras tantas que recrias
Traçando o mais completo desalento.

33997

Espúria fonte feita em risco e morte
No peso do viver que me atropele
O tanto do vazio se revele
Na falta de emoção e de suporte,
O medo de sonhar ainda corte
Sem ter sequer quem busque ou mesmo zele
Assim o meu caminho já se sele
Na imensa charqueada que o comporte.
Alago estas estradas com a fúria
Gerada pela insânia ou vã loucura
Aonde cada passo se mistura
Traçado pelos olhos da penúria
Erguendo cada dia um pouco mais
Quebrando o que restara dos cristais.

33998

Histéricos momentos de alegria?
Não pude contornar qualquer tormento
E quando na verdade ainda tento
A morte noutra face moldaria
O vandalismo imenso da agonia
Eu sei que me restara este excremento
E nele quanto muito sigo atento
Buscando revolver imenso dia
Apraz-me o não saber de outro caminho
E sei que prosseguindo mais sozinho
Terei qualquer instante mesmo parco
Da sorte ou do sorriso procurado,
Mas sei quanto se vê neste nublado
Mergulho onde meu passo ainda abarco.


33999

Aquém da fantasia ou da verdade
Apreços entre dias e senzalas
No quanto de outros dias teimas, falas
Encontra a face escusa que degrade
E tente revelar o quanto agrade
No pendular espaço em que te calar
Ou mesmo adentras louca pelas salas
E quanto mais se vê maior a grade.
Resisto ao vendaval e tento até
Gerar com minha estada nova fé
Reflexos de mim mesmo noutro espaço
Atento às variantes deste tempo
Poupada luz enfrenta o contratempo
Por onde a cada instante me desfaço.

34000

Olhando para trás quase não vejo
A face decomposta da verdade
E tento novamente até que invade
Cruel caminho aonde em vão latejo
O ponto de partida, meu desejo,
Não deixe completar realidade
E sei do pouso além que ainda agrade
Espécie de tormenta onde apedrejo
A sorte desdenhosa, porém farta
E dela cada passo se descarta
Criando falsos mitos vida afora,
Dos deuses entranhados dentro em mim,
Mergulho neste mar que sei sem fim
Aonde a fonte bebe e me devora.

Nenhum comentário: