001
Chegando ao quanto pude mesmo em sonho
Traçando alguma curva antes da queda
Aonde o meu caminho ali se enreda
Quem sabe qualquer curva recomponho?
O tanto quanto quis ou me proponho
No fundo o meu delírio se envereda
Nos antros do passado e me degreda
Num ermo desejar quase bisonho,
Auspiciosamente a vida traz
Uma ilusão por vezes mais tenaz
E tanto se entranhando noutra senda
Quem sabe no final mereça a luz?
Ao farto desejar jamais me opus
Sem nada, na verdade que inda atenda.
002
Tempestuosamente até quem sabe
Eu pude acreditar em tal promessa
Quem ama na verdade tendo pressa
Bem antes que ilusão em vão se acabe
Desenha outro cometa e até se gabe
Da falsa sensação e se endereça
Ao vago começar, mais que depressa
Depois percebe a casa onde desabe,
Assim ao perecer esta emoção
Momentos mais diversos se farão
E neles o vazio perpetua,
A sorte desdenhosa e passageira
No fundo quer deveras ou não queira,
Após qualquer tempesta vem a lua.
003
No mesmo caminhar aonde outrora
Pudesse adivinhar quem me quisesse
E sendo o coração em tal benesse
Apenas o vazio me decora,
O risco de sonhar, não tendo agora
No fundo deste mar, não recomece
O sonho aonde o nada se obedece
E o sentimento atroz somente ancora.
O passo rumo ao farto não mais dera
E o manto se transgride em primavera
Na espera alucinada, nada vejo,
Somente a mera sombra do que um dia
Pensasse ser só minha a fantasia
E nela desenhado o vão desejo.
004
Falar de amor com quem jamais me escuta
É como se pregasse num deserto
E quando o sentimento ali desperto
A ausência se tornando mais astuta,
O passo se encaminha, mas reluta
Este alvo nunca vejo aqui por perto
O rumo que pensara estar aberto
Somente no vazio e sem permuta.
O ranço desenhado no teu rosto,
O amor noutro momento em contragosto
O riso anunciando o fim da peça,
O sonho desmedido? Mera fraude
O quanto na verdade fora embalde
Ao sofrimento enfim já me endereça.
005
Premissas de outros dias tão iguais
Os olhos esvaziam o horizonte
Sem lua nem momento que se aponte
Os ritos se repetem, tão banais,
E quando nestes antros siderais
O amor já presumira qualquer ponte
Ainda quando muito desaponte
E traça riscos tolos e venais.
Ocaso de um poeta em solilóquio
A vida não permite outro colóquio
E a minha insensatez ora me isola,
O quanto quis deveras e não tive,
O mundo aonde o passo enfim detive
O sonho insatisfeito em dor imola.
006
Já não contenho mais algum jardim,
A morte se aproxima e se vendo
O olhar em duro corte, mal retendo
O que inda resta em luz dentro de mim,
Cenário na verdade ledo e enfim
O meu caminho apenas um remendo
Do quanto imaginara e fui perdendo
Nas tramas deste canto até o fim.
O manto destruído da esperança
E nele tão somente a vaga alcança
Naufraga qualquer messe que inda houvera,
Assim ao me sentir mais isolado,
O tempo noutro tempo sonegado
Jamais refletiria a primavera.
007
Não quero esta promessa vã de fato
Apenas prosseguir e sem descanso
Buscando dentro em mim qualquer remanso
Ou mera providência de um regato,
No todo aonde às vezes me retrato
O nada com certeza; vejo e alcanço
O prazo terminando e não avanço
Somente a solidão em tom ingrato.
Escapo da mortalha que me deste
E o canto ainda mesmo mais agreste
Não deixa que se creia num verão,
O marco desnudado mostra a face
Da morte que deveras cedo grasse
Tomando em suas rédeas o timão.
008
No prazo que termina desde agora
Acasos se repetem, pois no fundo
Do todo aonde um pouco ou não me inundo
O olhar ao ver vazios se apavora,
O quanto a fome esboça e não aflora
Sequer algum momento e neste imundo
Delírio procurando nalgum mundo
O canto aonde o prazo não demora.
Restituindo em tom diverso o quanto
Perdera noutro rumo, eu te garanto
Jamais imaginei qualquer resgate,
No tanto que pudesse e me maltrate
A vida se transforma em vil quebranto
E nesta dor intensa me desate.
009
Orgásticos caminhos do passado,
Apenas meras sombras vejo e tento
Ainda que se mostre o sentimento
O mundo há tanto tempo derrocado,
O vasto caminhar em farto prado
O coração jamais se fez detento,
E quando um novo amor, procuro e invento
Somente o meu temor mal disfarçado,
A morte se aproxima e dita o rumo
E quando na verdade me acostumo
Querendo vez em quando alguma luz,
O resto dos meus dias leda paz,
A sorte a cada ausência já desfaz
O que meu mero sonho inda produz.
010
Já não mais caberia solução
A quem se fez ausente da esperança
E o passo sem destino bem mais cansa,
Sedenta noite dita este verão,
O amor sem ter remédio, em provisão
Diversa da que tanto em confiança
Exprime tolamente esta mudança
E novos tempos tento desde então.
Se caprichosamente a vida omite
E o tanto ultrapassando este limite,
O rastro que persigo se perdeu,
Ainda vivo aquém do quanto quis,
E sei do meu delírio de aprendiz,
Num mundo onde julgasse fosse meu.
011
Jamais eu poderia imaginar
Qualquer caminho aonde se escondesse
Estrela que meu mundo merecesse
E nesta maravilha qual luar
Seguindo cada rastro até achar
Quem tanto imaginei e assim se tece
O coração afoito em tal benesse
Deveras não se cansa de sonhar.
Viver cada momento que se visse
O amor além do caos, tanta mesmice
Refaço cada passo noite afora,
E quando sinto em ti farta beleza
Minha alma se sentindo à tua presa,
No cais mais desejado, pois se ancora.
012
Meu verso se fazendo de ilusão
Ganhando qualquer passo rumo a ti,
No quanto ao desejar te mereci
Qual fosse meu caminho em teu timão,
Vagando noite adentro, a sensação
De quanto imaginara encontro aqui
E sei que te encontrando eu me perdi
Abençoada e rara perdição.
Altares que erigi ao nosso amor,
Num ato tão suave e encantador
Geraste novo altar dentro de mim
Qual fosse algum templário, nele eu vejo
O sonho discernindo benfazejo
E tramo babilônico jardim.
013
Ecléticos caminhos perfilados
Transcendem ao que pude desejar,
Quisera qualquer gota do luar
E nele meus anseios desenhados,
Os rumos na verdade demonstrados
Nas ânsias mais gostosas de encontrar,
Resumo cada passo a te buscar
Em dias tão somente iluminados,
Raiando dentro em nós cada momento
Aonde na certeza me alimento
Do sonho aonde tramo a poesia,
Qual fosse cristalina fonte eu creio
No todo que me dás e sem receio
O amor ao ver amor, amor recria.
014
Somáticos anseios; minha luta
Traduz em verso e luz o que ora almejo
Marcando com delírio mais sobejo
Vencendo calmamente a força bruta,
A noite do teu lado, o mar se escuta
E nele saciando este desejo
Sereia entoa cantos e te vejo
Desnuda nesta praia, lua e gruta.
Resulto deste tanto caminhar
Por ânsias tão diversas de um luar
Expresso em teu olhar e em tua voz,
Resumo de uma vida que pensara
Atroz e agora vejo bem mais rara,
Atando esta esperança viva em nós.
015
Já não podia mais com a incerteza,
Cansado de lutar inutilmente
O fim do nosso caso se pressente
E digo sem temor e sem surpresa,
No quanto a minha alma andara presa
E neste caminhar impertinente,
O farto do delírio já se sente
Seguindo mansamente a correnteza,
Andando em meio às tais constelações
Aonde com carinho tu me expões
A redenção divina que eu tentava,
Assíduo passageiro em verso e canto,
Deitando do teu lado eu me agiganto
E enfrento qualquer onda atroz ou brava.
016
Essencialmente eu busco a paz e tento
Sentir a providência em cada verso
No quanto nos teus braços sigo imerso
E tenho com certeza ali o alento
Que tanto procurara em pleno vento
Ansiosamente crio este universo
Ousando no caminho mais disperso
Resumo de meu mero pensamento,
Alheio aos dissabores; vejo em ti
O quanto desejei e descobri
Que um dia poderia ser só meu.
O amor desafiando qualquer sorte
No todo e no momento em que conforte
Atinge sem perguntas o apogeu.
017
Ainda que tu fosses além mar
Eu não me cansaria nem sequer
De ter nos meus delírios a mulher
Que tanto desejei um dia amar,
E a cada amanhecer, a luz solar
E nela toda a força que aprouver
Trazendo farto amor e se puder
No coração deveras aportar,
Permanecendo assim, enamorado,
O tempo transcorrendo lado a lado
Alado passageiro da esperança,
Meu canto não lamenta, comemora
E a vida que pensara atroz, agora
Ao vasto do infinito em paz me lança.
018
Acendo outro cigarro e na fumaça
Eu vejo esta presença de quem tanto
Desejo e na verdade em desencanto
Agora noutra senda além já passa,
O verso ora se cansa e sei que é baça
A vida de quem busca o claro manto
Vestindo esta ilusão, mas eu garanto
A sorte anunciada o rumo traça.
E tento após a queda a redenção
E sei que nos teus braços poderão
As luzes mais suaves conhecer.
Assim ao me entregar sem ter receios
Sentindo a maciez dos fartos seios,
Desenho no teu corpo o meu prazer.
019
Esboço uma canção aonde eu possa
Grassar sem ter o medo de uma ausência
E tendo nos teus braços a anuência
Sabendo que esta vida agora é nossa,
Ultrapassando em paz, o poço e a fossa,
O risco se mostrara em inclemência
E agora já não vejo uma imprudência
No passo rumo ao tanto que se endossa.
O amor não deixa mais qualquer detalhe
Espúrio, e se caminha enquanto talhe
No céu a redenção em luz sublime,
O quanto se percebe o nosso caso,
E nele a maravilha onde aprazo
O sonho que deveras nos redime.
020
Marcando em voz sombria o meu passado,
Agora não teria outro caminho
Senão este do qual eu me avizinho
Vivendo o dia a dia do teu lado,
O rumo com certeza já traçado
E nele o meu delírio gera o ninho
Aonde o coração qual passarinho
Encontra o seu destino enamorado.
Elaborando assim um novo tempo
Aonde não se vendo contratempo
Perpetuando a paz que se buscara,
A sorte abençoando quem se dera
Gerando dentro em nós tal primavera
Dourando com ternura esta seara.
021
.Censura teus amigos particularmente, e louva-os
em público..
Públio Siro
O quanto erraste eu sei e não me omito
O dia necessita deste sol,
Assim nossa amizade qual farol
Traçando não somente o que é bonito,
E quando se perdendo no infinito
Gerando tão somente um girassol
Assídua tempestade no arrebol,
Deveras neste ardor não acredito.
Eu louvo quando tu mereces, mas
O tanto que se mostre quando faz
Também a ti censuro na calada,
Ao ver nossa amizade desta forma,
O quanto abençoada se transforma,
Traçando em consonância a bela estrada.
022
.Meu Deus protegei-me de meus amigos! Dos meus
inimigos eu me encarregarei..
Voltaire
Bem sei que me traíste, companheiro,
E sinto por não ter em teu olhar
Beleza tão sobeja a se mostrar
E deste turvo rumo eu já me esgueiro,
O mundo tantas vezes traiçoeiro
Cansado de sentir e de lutar,
Porém em ti jamais imaginar
O bote com terror, bem mais certeiro.
Dos inimigos sei e os reconheço,
Se dos amigos perco este endereço,
Tropeço a cada passo em vão degrau,
O quanto me mostraste em fria face
E o tempo na verdade agora grasse
Moldando este cenário turvo e mau.
023
.Enquanto fores feliz contarás muitos amigos;
quando o tempo se tornar nublado estarás só..
Ovídio
Tua amizade eu sei que na verdade
Não tem qualquer sentido ou consistência
No quanto se gerara em inclemência
Na fúria quando a mesma nos invade,
Assim ao se mostrar a realidade
E nela a mais difícil convivência
O tanto que se quer, sem indulgência
Matando o que pensara e se não agrade.
O risco de tentar um novo passo
Enquanto estou feliz, já não condiz
Com toda esta beleza e a cicatriz
Traduz cada momento que ora traço,
Insólita presença deste “amigo”
Melhor é não trazê-la aqui, comigo.
024
.Ama teu vizinho, mas não derrubes tua cerca..
G. Herbert
Respeito cada passo que tu dás
E sei desta vital necessidade
Embora insuportável qualquer grade,
Limite com certeza nos compraz,
O risco de se pôr bem mais audaz
E não saber lidar com liberdade
É torpe e com certeza nos degrade
Deixando no passado qualquer paz.
Por isto meu amigo, se presume
Por mais que atinja logo imenso cume,
Nossa amizade é feita em tal respeito,
O quanto de teu canto quero e aceito
Não diz totalidade nem pudera,
Senão acordaria a tosca fera.
025
.Quanto mais cedo você fizer novos amigos, mais
cedo terá velhos amigos..
Eric Berne
Manter uma amizade é necessário
E saber discernir cada caminho
Deveras a certeza dita o ninho,
E nele todo encanto é temerário,
Mas quando o amor se faz mais solidário
E dita em mansidão eu me avizinho
Do quanto pude em sonho e já me alinho
Da paz agora manso este emissário.
No tanto que desejo este novel
Caminho que me leve ao raro céu
Eu sempre acreditei mantendo o antigo
A força com certeza multiplica
E assim bem mais que uma alma nobre e rica
Carrego o mundo inteiro, pois comigo.
026
.Não escolhas para amigo um homem de mau cará-
ter..
Talmud
Reflexo deste espelho se mostrando
No olhar de teu amigo, esteja certo,
O quanto do demônio em mim desperto
Num ar que seja turvo e até nefando,
Mas tudo se transforma desde quando
Mantendo o meu olhar bem mais aberto
O rumo com certeza agora acerto
E nele o bom caminho acompanhando.
Não temo mais as dores costumeiras
E sei também do bem que tu me queiras
E traduzindo em nós esta aliança
A vida se transcorre em paz sublime,
E todo descaminho se redime
Enquanto em nós houver tal confiança.
027
.Amigo é quem o é no infortúnio..
Do Panchatantra
Não quero esta amizade tão venal
Que apenas desfrutar e não cevar,
Assim ao aprender a caminhar
Num rumo que se faz consensual,
O risco de negar o próprio astral
E ter bem mais disperso algum luar,
Gerando o duvidoso desdenhar
Quando a verdade dita um ar fatal.
Arisco, sei que sou e na verdade,
Ao crer somente quando uma amizade
Enfrenta as tempestades corriqueiras,
Ascendo ao mais sublime quando vejo
O desenhar em mar turvo ou sobejo
De luzes tão sinceras, verdadeiras.
028
.O inimigo mais terrível é aquele que já foi nosso
amigo, pois conhece as nossas fraquezas..
Fernando Guimarães
Eu sei que tu conheces cada passo
Por onde caminhei em minha vida,
E sei desta armadilha presumida
No quanto com terror já não mais grasso
O rumo que desenhas, ledo traço,
Preparo enfim a dura despedida
E sei do quanto atroz a leda lida
E o tempo se perdendo em vago espaço.
Do laço com firmeza, nada sobra
Apenas vejo ali a fria cobra
Que atocaiada espera algum momento
Aonde o bote certo se escancara
E assim ao destruir toda a seara
Mortalha que com paz, eu alimento.
029
.O maior herói é aquele que faz do inimigo um amigo..
Talmud
Fazer de quem outrora se fez mal
Um companheiro agora é privilégio
Que vence com certeza um sortilégio
E neste caminhar, é triunfal,
Diversa realidade em tal colégio
Traduz a convivência, isto é normal,
Porém quando o temor é abissal,
O medo se transforma em tom mais régio.
A discordância gera a imprevidência
E nisto é necessária a paciência,
Mas; sobretudo além da concessão
Saber o dividir e respeitar
Permite um novo e claro caminhar
Ousando até na mesma direção.
030
.Todas as glórias deste mundo não valem um amigo
fiel..
Voltaire
É glorioso sim quem conseguira
Num mundo tão atroz, esta verdade
De ter compartilhado uma amizade
Aonde o que vigora, atroz mentira,
Olhar e mansamente ter na mira
O quanto deste canto nos agrade,
Vencendo o que deveras já degrade
E nisto uma lição sempre se tira.
Fidelidade é chave para o tanto,
E neste passo afim eu me garanto
Sobrepujando a dor do dia a dia,
E quanto estou contigo, companheiro,
O mundo que se fora um espinheiro
Transborda em rara paz bela harmonia.
031
.Na prosperidade nossos amigos no conhecem; na
adversidade nós conhecemos nossos amigos..
Collins
Enquanto a minha vida fora farta
A mesa se mostrara sempre cheia,
E agora tão somente o vão rodeia
E a solidão ninguém de mim aparta,
Porquanto enquanto a vida se reparta
Na plenitude em voz atroz e alheia,
Assim quando o vazio nos permeia
Qualquer sinal de luz, eu sei, já parta.
E tanto conhecera as duas faces
Enquanto na verdade agora grasses
Caminho bem diverso do que é meu,
O quanto no apogeu tu foste amigo,
Agora condenado ao desabrigo,
O rumo desta casa se perdeu.
032
.Aquilo que nos agrada em nossos amigos é a atenção
que eles nos dedicam..
Tristan Bernard
Jamais em ti eu vi uma atenção
Enquanto eu precisava de um afeto,
O meu caminho eu sei ser incompleto
Ausente neste fato a direção
E mesmo noutros tempos que virão,
O quanto vejo em ti eu já deleto,
O passo contrafeito nega o feto,
O aborto traduzindo ingratidão.
Desagradando sempre desta forma,
Uma amizade aos poucos se deforma
E vira mera sombra do passado,
No tanto que pensei compartilhado
Agora dividido em tez sombria,
O próprio caminhar já não se via.
033
.A amizade multiplica as coisas boas e divide as
más..
Gracián
Na exata divisão do bem e mal,
O farto caminhar em tons dispersos
Traçando na verdade os universos
Num tom que nunca foi consensual,
Assim ao me encontrar neste degrau
Os olhos noutro rumo vão imersos,
E tanto poderia, mas diversos
Destinos desfazendo o magistral.
O quase ser feliz numa amizade
Deveras cada dia se degrade
Enquanto não divide o maremoto,
Mas quando soma apenas a ventura,
Já não condiz com tudo o que procura
Quem sabe num amigo um ser remoto.
034
.Desconfio do respeito de um homem para com seu
amigo ou sua bandeira quando não o vejo respeitar
o inimigo ou a bandeira deste..
José Ortega Y Gasset
Assim como na justa divisão
O olhar não sobrepõe sequer ao quanto
Divirjo do teu rumo e te garanto,
Respeito a tua própria decisão,
Mas quando se percebe algum senão
E nele se apresenta em desencanto,
Ao denegrir imagem erro tanto
Que ao fim já não mereço compaixão.
Defendo o teu direito tal qual fora
Imagem mais diversa e refletora
Do eterno caminhar por sobre a Terra,
E tendo esta completa convergência
No quanto entre nós dois há divergência
A liberdade plena assim descerra.
035
.O amor é cego; a amizade fecha os olhos..
B. Pascal
Saber do que não vejo em farto amor,
E crer ser diverso do que eu sinto,
Assim ao se mostrar a voz do instinto
Perdão se transformando em árdua cor.
Porém quando a amizade traz no ardor
A senda mais sublime aonde eu pinto
O rumo que pensara outrora extinto
Num passo sem pensar a se propor.
Enquanto não enxergo mesmo olhando
O passo se gestando bem mais brando
Permite no futuro o solidário
Caminho da amizade, mas também
No amor tanta cegueira se contém
Que qualquer passo além é temerário.
036
.Os amigos são parentes que a gente mesmo arranja.
.
Eustache Dechamps
Durante a minha vida, a solidão
Batendo em minha porta vez em quando,
Mas ao se perceber nos transformando
Uma amizade diz desta união,
E nela o parentesco desde então
É mais do que decerto o se tomando
Numa coincidência dominando
Da vida qualquer rumo e decisão.
Meu passo eu compartilho com o amigo
E sei que na verdade assim consigo
Bem mais do que se fez ora aparente,
No fundo a gente tendo esta certeza
Vencemos com furor a correnteza
É da alma, com nobreza tal parente.
037
.A Bíblia nos ensina a amar o próximo e também a
amar nossos inimigos provavelmente porque eles
em geral são as mesmas pessoas..
Mark Twain
O próximo que a ti pode bem ser
O mais distante até do que pensavas,
E nele as ondas duras, firmes, bravas,
Fazendo qualquer messe padecer.
A dita se transforma em desprazer
E gera na verdade duras travas,
E quando noutro rumo tu te lavas,
A sorte talvez possa conhecer.
Assim ao se mostrar ao lado teu
O quanto deste encanto se perdeu
Trazendo num olhar ódio e terror,
Aonde se pudesse ser diverso,
Vagando para além meu olhar verso
Quem sabe na distância eu veja o amor?
038
.A amizade é a afeição divina..
Rose Bonheur
Bem mais do que uma bíblica promessa
De remissão e cura, ou mesmo o eterno,
Nas mãos de uma amizade o bem mais terno
Enquanto a vida além já recomeça,
Assim ao mesmo rumo se endereça
E neste desenhar, jamais inverno,
O quanto em meu amigo ora me interno
O bem que nos redima se professa.
O risco de viver em solidão
Transcorre da difícil solução
Que damos ao tentar em desalinho
Aquilo que em conjunto se consegue,
E o solitário apenas mal navegue
Já perde este timão errôneo ninho.
039
.Entre pais e filhos não há maior abismo que o silêncio..
Roger Rosemblatt
Já não suporto mais este vazio
Gerado pela voz que agora ausenta,
Assim a vida dita esta tormenta
Aonde o meu futuro é mais sombrio,
O solitário errático em tal fio
Trazendo em sua face virulenta
A dor que na verdade se apresenta
E nisto gesta apenas ledo frio.
Abismos entre nós, eu não mais quero,
Prefiro mesmo o golpe mais sincero
Ao nada que se trama quando alheio
Ao passo ou quem desenha o pensamento
E gesta com terror o sofrimento
Matando em tal quietude o que eu anseio.
040
.É na educação dos filhos que se revelam as virtudes
dos pais..
Coelho Neto
Ao ver em ti reflexo do que um dia
O ensinamento ousara ou sonegasse
Demonstrar sem saber na tua face
O que quando menino recebia,
Assusta-me viver a hipocrisia
E neste caminhar em turvo impasse
A solidão deveras não mais grasse
E trace novo canto em alegria,
O fato mais constante que se sente
Na mesma realidade tão freqüente
Retratos tão iguais de pais e filhos,
Desvendo este mistério ao conhecer
Na parte o mais completo a se tecer
Tramando caminhar em iguais trilhos.
041
.Só damos valor ao amor de nossos pais quando
também somos filhos..
Henry Ward Beecher
Quando a vida traz noutro momento
A face tão diversa e convergente
Do quanto na verdade se apresente
E nisto vejo assim, estando atento
O olhar aonde o todo eu incremento
E teimo mesmo sendo impertinente
Vencer os meus anseios, plenamente
Mudando a direção de cada vento.
Ao ser pai percebi o quanto é rude
O descaminho aonde tudo ilude
E trago noutro olhar mesmo horizonte,
Assim ao se mostrar num novo lado,
O rumo desta feita desenhado
Talvez para um consenso logo aponte.
042
.É, em grande parte, no seio das família que se
prepara o destino das nações..
Papa Leão XIII
O mundo se converge enquanto traz
No olhar a plenitude feita em brilho,
E quando a realidade eu tento e trilho
O olhar por vezes trama um rumo audaz,
Mas quando num só traço a vida faz
Gerando a realidade em estribilho
O tanto do meu mundo onde palmilho
Persiste até na vida mais voraz.
Assim ao se fazer com precisão
O certo caminhar em direção
Ao claro amanhecer em bela senda,
Unindo nossos braços, tão somente
Enquanto a vida dita esta semente
Colheita com fartura já se entenda.
043
.Se queres que seus filhos tenham os pés assentes
no chão, coloque-lhes algumas responsabilidades
nos ombros..
Abigail Van Buren
Ao dividir assim a direção
Também é necessário o quanto creio
Na vida mesmo quando em devaneio
Gerando com ternura e precisão,
O fato de viver em comunhão
Expressa a realidade deste meio
E nele ao convergir onde rodeio
Transmite em segurança este timão.
A história continua quer não queira
E quando se mostrando verdadeira
Responsabilidade transmitida
Na força que se traz e nos reúna
A sorte com juízo coaduna
E gesta com firmeza inteira a vida.
044
.Não é a carne e o sangue, e sim o coração, que
nos faz pais e filhos..
Schiller
Amar é poder ter no mesmo rumo
O olhar ditando assim este horizonte
E quando um bom caminho já se aponte
O quanto de teu passo sempre assumo,
E neste partilhar também me aprumo
Gerando entre nós dois a firme ponte
Na qual com mais firmeza se confronte
A vida em tez diversa, ou ledo sumo.
Presumo o parentesco de quem ama
E redundando assim na mesma chama
Fortalecendo então a claridade
Da qual a sorte tanto necessita
E gesta uma beleza que infinita
Com toda a mansidão agora invade.
045
.Junto dos teus pais, procede do mesmo modo que
desejarias procedessem os teus filhos..
Fiacomo Leopardi
Repito em atitude com quem amo
A mesma forma aonde eu mais queria
Ser revelada em rara sintonia
Quais fossem deste arbol, o mesmo ramo.
E quando este caminho em ti reclamo
Ousando na amizade por bandeira
Além da mais comum e corriqueira,
Um novo amanhecer contigo eu tramo.
Ascendo passo a passo ao mais completo
Cenário aonde eu vivo o pleno afeto
Traçando em consonância um passo audaz,
Qual fosse refletido num espelho
O quanto te desejo eu me aconselho
E nisto o mesmo passo, a vida traz.
046
.De uma pequena tolice e uma enorme curiosidade
resultam muitos casamentos..
Bernand Shaw
Por vezes neste enredo se percebe
A dissonante história em comunhão,
E quando se renega a floração
Matando em nascedouro a bela sebe,
O quanto no vazio não se embebe
Quem tenta neste prumo a conversão
Ousando mesmo quando dado em vão,
Um passo em prejuízo ora concebe.
O amor seja bendito enquanto unindo
Trazendo este cenário claro e lindo
Além de simples tola penitência
Curiosidade apenas, nada disto.
Eu vivo tão somente o que persisto
E nisto não concedo mais clemência.
047
.Casa-te cedo demais, e irás arrepender-se tarde
demais..
Randolph
Uma atitude assim desarvorada
Transtorna em realidade tudo em volta
E o tempo com o tempo se revolta
E gera a face atroz e desolada,
Precoce deslindar de audaz estrada
Enquanto desarmando toda a escolta
O quanto foste além deveras volta
E traz a realidade em dura alçada.
Neste arrependimento mais tardio
Certeza de viver em pleno estio
Ausente uma colheita em profusão,
Assim ao se fazer precipitado
O mundo noutro dia é condenado
E cinde com certeza esta fusão.
048
.O problema com as boas idéias é que elas acabam
dando muito trabalho..
Peter F. Drucker
Somente imaginar já não mais basta
É necessário sempre ter nas mãos
Certeza de cevar com ardor grãos
Senão a própria vida nos afasta
E quando a realidade assim contrasta
Gerando no caminho fartos vãos,
Inúteis pensamentos, artesãos
Demonstram sua vida em luta gasta.
Idéias com certeza não traduzem
Nem mesmo ao bom cenário nos conduzem
Somente por si só já se perdendo,
O quanto se batalha e enfim porfia
Num ato repetido dia a dia
É que nos dará sempre um dividendo.
049
.Não é triste mudar de idéias; triste é não ter idéias
para mudar..
Barão de Itararé
No quanto sou volúvel, mas eu penso
O risco de ficar mudo e calado
Há tanto do meu mundo não notado
E nisto a cada passo um novo, imenso,
Errático cometa? Eu me convenço
E tento caminhar mesmo negado
O rumo para além imaginado
Quem sabe no final me recompenso?
Ausente de mudança tão somente
Quem nega no caminho esta semente
E farto do vazio nada cria,
Assisto aos meus anseios e percebo
O quanto de alegria ora me embebo
Por poder albergar a fantasia.
050
.Nada é mais perigoso que uma idéia quando ela é
a única que você tem..
Émile Chartier
O fato de se crer num só estigma
Presume a derrocada no final,
E vendo a variante deste astral
Aonde na verdade vivo enigma
Não quero e não consigo um paradigma
Que seja mesmo até consensual,
No risco de perder a minha nau
Comporto alfa e também ômega e sigma.
Aberto o pensamento à novidade
O quanto do velhusco não degrade
Talvez seja melhor a comunhão,
E ter na força plena o bom futuro
Melhor do que vagar em pleno escuro,
E nisto se perder a dimensão.
51
Contemplo este tesouro
Em jóias mais diversas
E quando além tu versas
Do quanto em nascedouro
No sol aonde eu douro
O coração; imersas
Vontades que dispersas
Num raro ancoradouro,
Vestir esta beleza
E ter na fortaleza
De quem se fez bem mais,
Certeza de vencer
Com raro e bom prazer
Os tantos vendavais.
52
Ondulações da vida
Em altos entre abismos
E quando os cataclismos
Ditando a voz perdida,
Além da mais dorida
Encontro novos sismos
E destes vandalismos
A sorte é construída.
Assim ao me tecer
Nas tramas do querer
Pudesse imaginar
Um bem tão variável
E nada controlável
Expresso em vão luar.
53
A força em elegância
O passo mais audaz,
O quanto me compraz
E gera a discrepância
Aonde a concordância
Já não se fez capaz,
O mundo busca a paz
E nela uma constância.
Mas tanto quanto pude
Viver em cena rude
Ou mesmo transformá-la,
Quem sabe noutro fato
Deveras me retrato
Ou mudo toda a sala?
54
Mulher cada milagre
Que vejo em ti desnudo
Transforma mais; contudo
Além do que se sagre,
O vinho em tal vinagre
No fundo mais miúdo
O gesto onde me iludo
Também não me consagre,
Resvalo em falso prisma
Enquanto uma alma cisma
Vestir a fantasia,
Se tanto não me quis
O quanto por um triz
Quem sabe, quereria?
55
Robusta face aonde
O amor dita a seu rumo,
E quando me resumo
No fato onde se esconde
O nada me responde
E bebo enfim o sumo
Do fogo onde me esfumo
E perco a senda e o bonde.
Restauro o passo enquanto
O fardo não garanto
Nem tendo serventia,
O certo dissabor
Não diz do claro amor
Que tanto poderia...
56
Reinando sem destino
O olhar neste horizonte
Aonde quer que aponte
É lá já determino
O rumo descortino
E traço nova ponte
Matando a velha fonte
Do sonho de menino,
Agora em tez cruel
O risco toma o céu
Lampejo tão somente,
E o quanto quis um dia
Somente em voz sombria
Deveras também mente.
57
Os ócios deste rei
E as tramas do reinado
O gozo desejado
Aonde me esbarrei
E sei do quanto errei
Ou mesmo sigo errado
Caminho lado a lado
Com quem tanto sonhei,
Sorvendo o mesmo fel
Atando em tom cruel
O passo ao fim mordaz,
Mas tanto quis assim
Que até saber do fim
Deveras satisfaz.
58
Contemplo este sorriso
No olhar de quem amava
E sei que em fúria e lava
Vivi tal paraíso,
O rumo mais conciso
Aonde se tramava
A sorte desdenhava
Em tom mais impreciso.
Vasculho dentro em mim
E chego sempre ao fim
Depois de muita luta,
A noite sem estrela
Difícil percebê-la
No quanto é mais astuta.
59
Na fátua companhia
De quem se fez fugaz
O amor já não compraz
Nem mesmo mudaria
Cenário deste dia
Agora mais mordaz
Até quando tenaz
A sorte não veria
Quem tanto quis um sol,
E tendo em arrebol
A bruma costumeira,
No fundo não se vendo
Morrendo em tal remendo
Sonhando com bandeira.
60
Um prolongado olhar
Vasculha sem sentido
O quanto da libido
Ainda irei notar,
E tanto procurar
Já não mais diz do olvido
O rumo preterido
Não deixa outro chegar,
O resto ora concebes
E sabes destas sebes
Aonde no passado
Vagara sem destino
E quando me alucino,
Somente o mesmo enfado.
61
O rosto delicado
Da fêmea mais voraz
Enquanto dita a paz
O tempo sem enfado
Momento decifrado
E nele já se faz
Além do quanto audaz
O todo desenhado,
Resumos de outros dias
Aonde poderias
E mesmo não mais vices,
Os quantos ermos trago
E neste ledo afago
Amor já diz mesmices.
62
Em cada rasgo da alma
A voz que não se escuta
Traçando a face bruta
Aonde nada acalma
E sei do ledo trauma
Na fúria aonde a luta
Por vezes não recruta
Quem tanto quis a calma,
Aprendo com abismo
E quando ali eu cismo
Prismática verdade
Em tanta claridade
O amor mesmo que arcaico
Traduz qualquer mosaico.
63
Na voluptuosidade
Com fúria em tom tenaz
O amor quando compraz
Deveras se degrade
E nada mais enfade
Que o tempo inda mordaz
Alheio ao que se faz
Em crua realidade.
Sonhar não é preciso?
Eu sei do prejuízo
Em cada novo sonho,
Mas tento esta saída
Enquanto a despedida
Aos poucos eu componho.
64
Dotada em majestade
A deusa em tom profano
Aonde quis engano
Augura em tempestade,
O rosto em ansiedade
O verso onde me dano
E quando é soberano
O rumo não agrade.
Assino com meu sangue
Em pântano este mangue
Aonde me entranhara
E sirvo de alimária
Além da temerária
Faceta dura e amara.
65
Encanto quando excitas
E tramas novas regras,
Também mal desintegras
As horas infinitas
E quando necessitas
E logo não integras
Decerto já te alegras
Com horas mais aflitas.
E tento acreditar
No quanto este luar
Pudesse ainda ter
Quem sabe no futuro
Em céu turvo ou escuro
Eu tenha o teu querer?
66
Enquanto me aproximo
Do fim que desenhara
E nele a sorte aclara
O quanto não estimo,
O amor ditado em limo
Prepara nova escara
E a queda desampara
Quem tenta além do cimo.
E o vasto deste vale
Aonde quer que cale
Já não mais me conquista,
Assim ao perecer
Nas tramas do querer
Não sou mero cambista.
67
Amor quando em blasfêmia
Gerando outra vertente
Aonde se apresente
Uma alma que eu quis gêmea.
No topo deste monte
O olhar já não traduz
Sequer a mera luz
E mata este horizonte,
Resumo em verso e prosa
O vento aonde um dia
Pudesse em alegria
A senda pavorosa,
Negando qualquer sorte
A quem jamais comporte.
68
Divino corpo teu
Aonde desnudada
A vida diz do nada
Ou toma este apogeu,
O quanto se perdeu
Assim em mera estrada
A sorte desejada
Ou tudo se escondeu
Nos vértices do sonho
Aonde me proponho
Apenas mera sombra,
O risco se alentasse
E nada em dura face,
O medo toma e assombra.
69
Uma ventura dita
O rumo de quem quis
Um dia ser feliz
E disto necessita
A paz onde é finita
Seara esconde o triz
E bebe cada atriz
A prece em tal desdita,
Assisto ao fim do fardo
E quando ali retardo
O passo não me atende,
O medo se transcende
E gera em tom tetânico
O imenso e torpe pânico.
70
Mascaro com meu verso
A dor que me carrega
A sorte sendo cega
E nela vou imerso
Procuro e desconverso
Enquanto em mim se entrega
A parte que sonega
O rumo do universo.
Restauro o passo enquanto
O todo mais garanto
Na queda em que o final
Exprime a minha vida
Há tanto já perdida
Em dor fria e venal.
71
Não chorem, pois a morte
Apenas um detalhe
Aonde a vida talhe
O fim que nos conforte,
Depois da dura sorte
O vago deste entalhe
Traduz o mero encalhe
Do barco sem um norte.
Assim ao prosseguir
O rumo em meu porvir
Integro a plenitude
Da qual já não condigo
Enquanto em desabrigo
A vida tanto ilude.
72
Um anjo simplesmente
Mergulho no vazio
E tento enquanto esfrio
O passo me desmente,
O amor de mim se ausente
E neste vago estio
O quanto desafio
Do todo impertinente,
Resumos de passados
Em dias destroçados
Restauro com meu sonho,
Mas sei que no final
O velho ritual
É sempre igual: medonho!
73
Um anjo reclamava
Presença de um comparsa
Aonde a vida é farsa
E o medo gera a trava
O corte não atava
O passo não disfarça
Quem segue e já se esgarça
Na trama feita em lava,
Sorvendo cada gole
Do quanto ora se atole
O passo em lamaçal,
O amor não mais bendiz
E sigo em cicatriz
Anseio a paz final.
74
A peregrina sorte
Não tendo mais paragem
Ousando outra visagem
Na qual já se conforte,
Traduz o ledo aporte
E cerzi esta barragem
Aonde uma ancoragem
Jamais alguém comporte.
O passo sem destino
Meu ermo determino
Nos antros que freqüento
Em hordas costumeiras
As ditas são bandeiras,
Desfraldam neste vento.
75
Divina constelar
A bela se afastara
Do olhar que se prepara
Deveras a rumar
Vagando sem lugar
E nesta vã seara
A vida não é clara
E nega algum luar,
Assisto ao fim enquanto
O passo eu mal garanto
E a queda me condena,
Aonde quis promessa
A vida se professa
Em dura e leda cena.
76
Ao firmamento sigo
Buscando qualquer rastro
E quando além me alastro
Vislumbro este perigo
Estando já contigo
O mundo dita o lastro
Amor um alabastro
Cinzel? Não mais consigo.
Aprendo com a fúria
E nela esta penúria
Gestando a realidade,
O quanto fora fútil
O mundo agora inútil
Aos poucos se degrade.
76
Dormindo esta criança
Que tanto quis um dia
E agora morreria
Na paz que não alcança
O tempo diz mudança
E gera a fantasia,
Mas mera alegoria
O todo já se cansa,
E rondo esta mortalha
Enquanto além se espalha
O rumo que tentei,
Infante delirar
Aos poucos ao notar
Vazia a minha grei.
77
Reluz farta beleza
No olhar de quem anseio
E sinto em cada seio
A doce gentileza
De quem nesta surpresa
Em pleno devaneio
Vencendo algum receio
De mim fez sua presa.
Mas quando eu acordasse
E nada além da face
Venal em vago espelho,
O rito em solidão
Invade e em profusão
Meu cenho enfim engelho.
78
Carmim em lábios; trazes
E moldas a esperança
De quem a ti se lança
Em passos mais audazes,
Amor em tantas fases
Promete outra mudança
E nele esta fiança
Que agora já desfazes
No risco de sonhar
A queda a se mostrar
Maior do que eu pensava,
As frágeis ondas mortas
Batendo em toscas portas
A imensa dura e brava.
79
Os olhos dizem pranto
E o canto não me agrada
A sorte desarmada
O amor dita o quebranto
O quanto não garanto
E perco cada estada
Marcando em desolada
A vida em duro canto,
Assisto ao descaminho
E sigo mais sozinho
Enquanto nada vejo,
E morto desde então
O rumo sigo em vão
Aquém do meu desejo.
80
O riso encantador
Exposto em belo rosto,
O mundo assim proposto
Nas ânsias de um amor
Reflete o redentor
Caminho sem imposto
E o tanto do desgosto
Atroz a decompor.
O marco mais sombrio
Já tanto vejo e esfrio
Com fúria em cada olhar,
Apascentando o medo
Ao tanto me concedo
Sem nada a procurar.
81
Eu sei quanto era bela
A dama do meu sonho,
Valete que proponho
Enquanto se revela
A vida não mais sela
O rumo onde componho
E logo em enfadonho
Desenho vejo a cela.
O risco de saber
Aonde o meu prazer
Agora já se esconde
Procuro e não alcanço
Sequer qualquer remanso
Pergunto e quem responde?
82
Azuis olhares; tinha
Quem tanto fora algoz
E quando ouvisse a voz
Julgando seres minha
A sorte mais daninha
O canto mais atroz
No sonho que é feroz
A morte se adivinha,
Eu sei e não me calo
Do quanto sou vassalo
E tento a liberdade
Enquanto assim me privo
Do amor ainda vivo
A dor que tanto brade.
83
Vestida em plena luz
A dança se perfila
Em ânsia mais tranquila
Enquanto me conduz
E nisto se reluz
A sorte que desfila
E nada mais destila
Senão quanto propus.
Resumo em verso e canto
O passo que adianto
Rumando para ti,
Mas quando me percebes
Vagando noutras sebes
Eu sei que te perdi.
84
As ondas quais arranjos
De deuses do passado,
Aonde este legado
Transcende aos próprios anjos
E sinto em descompasso
O risco de sonhar,
E tento outro lugar
E nada mais eu traço
Somente o velho esgoto
E nele já mergulho
Resulto em pedregulho
Um corpo semi-roto
E todo o meu futuro
Alheio é frio e duro.
85
Dormindo neste mar
Quem tanto quis sereia
E quando me incendeia
Nas fráguas do luar,
Pudesse acreditar
Na lua sempre cheia
E quando devaneia
Uma alma se tocar
Nos ermos do meu fado
O dia relegado
O tempo não condiz
Com tudo o que eu buscara
A noite não mais clara
E sei não sou feliz.
86
Profética ermida
Da qual não escapo
E quando em farrapo
Retratos da vida
A sorte puída
O olhar antes guapo
Agora este trapo
Procura guarida
Legado da dita
E nada acredita
Senão no seu fim,
O marco que trago
Da falta de afago
Do amor morto em mim.
87
Dilato as pupilas
Nas ânsias de amores
Que nunca em pudores
Diversos desfilas
E quando destilas
Venenos e flores
Ciganos pendores
Nos sonhos que grilas,
Herética luz
Em dores produz
Reflexo em retina
Que busca e não vendo
O olhar se perdendo
Aonde alucina.
88
Em marcha me pus
Na busca do fato
Aonde em retrato
Diverso reluz
Ao medo faz jus
Quem ata ou desato
Em tal desacato
O quadro, outra cruz,
Amanso o meu peito
E não mais me deito
Alfombras granito,
E quando te quero
O corte mais fero
Sonhar; necessito?
89
Carrego os pequenos
Anseios poéticos
E tento proféticos
Olhares venenos
E neles serenos
Aonde se herméticos
Talvez mais heréticos
Ou mesmo tão plenos.
Refaço o que outrora
Ainda se ancora
No peito em tal cã.
A vida em verdade
No quanto se brade
Perdida, foi vã.
90
Os ombros feridos,
O peso da vida
A sorte cumprida
Em ermos sentidos
Olhares sofridos
A lua perdida,
Sorte presumida
Em tempos puídos
Os olhos, o anseio
E quando rodeio
As sombras restantes
Além dos meus ledos
Caminhos, enredos
Talvez adiantes.
91
São feros desejos
Os medos que tenho
Do olhar mais ferrenho
Dos dias sobejos
Assim em lampejos
O nada contenho
E de onde provenho
Dispersos ensejos,
E sendo tal forma
A vida deforma
Sem norma ou paragem,
No fundo sou nada,
A voz disfarçada
Contendo em barragem.
92
Tesouros diversos
Em olhos sombrios
As curvas e os rios
Assim universos
E neles imersos
Os meus desvarios
Os corpos vazios
Vadios meus versos,
Versando ao que possa
Além desta troça
Comum a quem passa
E vendo este verme
Aquém, quase inerme
Somente carcaça.
93
Aos pés de quem pude
Singrar noutro sonho
O manto componho
Mato a juventude
E bebo o que ilude
Ou tanto bisonho
Redundo ou me ponho
No pasto transmude.
O vasto que tento
O olhar desatento
Não vê nem sinais,
Enquanto tivera
Aquém primavera
Cantos outonais.
94
As armas luzentes
Os dias são meus
E nele apogeus
Também já não sentes,
Os olhos, os dentes
Os medos e os breus,
Os passos no adeus
Em versos, repentes.
Reflito o que tento
No olhar desatento
Atrevo em canções
Diversas das quais
Pudesse em fatais
Sutis ilusões.
95
Ao largo em carroças
Diversas; o andejo
Procura este ensejo
Aonde tu possas
Vencer o que endossas
E nada revejo
Senão meu desejo
Imerso nas troças.
As cordas que afino
O medo de então
Sem diapasão
O velho menino
Agora em sobrados
Refaz seus legados.
96
Os pés seguem sujos
Das lamas que piso
A vida em aviso
Trazendo sabujos
Diversos em cujos
Caminhos eu biso
O erro e matizo
Vitais caramujos
Aonde me escondo
E tanto repondo
Espúrias vontades
E nelas perplexo
De ti um reflexo
Enquanto me enfades.
97
Jogado em currais
Diverso caminho
No fundo este espinho
Traduz os florais
E quando bem mais
Do quanto mesquinho
Seguindo eu me alinho
Em erros fatais,
Fadado ao final
E neste sinal
Apenas tropeço,
O quanto recebo
Em gozo ou placebo
No fim, eu mereço.
98
Passeio em teus céus
Vagando um cometa
Que tanto arremeta
Em vis fogaréus
Nos olhos meus véus
E neles prometa
O quanto em faceta
Diversa os incréus
Delírios de quem
Vivera e não tem
Sequer solução.
Açodo os frangalhos
E neles os talhos
Decerto virão.
99
Os olhos pesados
De quem horizontes
Buscara quais fontes
De antigos traçados,
E nestes traslados
Os erros que apontes
E quando despontes
Os dias malgrados.
Os cantos erráticos
Os tempos temáticos
Em termos vulgares
Olhar para trás
Por vezes me traz
O que mal notares.
100
Nostálgico passo
Num álgico rumo
E neste me esfumo
Ou nada refaço,
E quando me enlaço
No corte que assumo,
Apenas sou fumo
E sigo além, lasso,
Carcaça de um sonho
Aonde bisonho
Beijando o vazio,
Ao menos pudera
Conter qualquer era,
Num sazonal rio.
PARA TANTOS, PRINCIPALMENTE MARCOS GABRIEL, MARCOS DIMITRI E MARCOS VINÍCIUS. MINHA ESPERANÇA. RITA PACIÊNCIA PELA LUTA.
sábado, 17 de julho de 2010
41701 até 41800 ermos
1
A amnésia muitas vezes nos salvando
De vãs escaramuças vida afora,
Enquanto uma saudade nos devora
No tempo quando atroz, mesmo nefando
Percebo a redenção da fuga quando
A dor em nosso peito se demora,
E o caos gerado após nos desarvora,
Um furioso vento se formando.
Porém ao me esquecer ou não daquilo,
Tentando ter um ar manso e tranqüilo
Vencendo os desacordos da lembrança
Não fosse este bendito esquecimento
Que existe ou vez em quando até invento
Infausto sem limite, a vida alcança.
2
Minha alma busca como combustível
O sonho, mas também a realidade
Num misto de mentira e liberdade
Vagando pelo astral em novo nível,
Assim por vezes quase inacessível
Delírio sem igual quando me invade
Permite que se rompa velha grade
Num mundo tão diverso quanto incrível.
Acumular estrelas e talvez
Contê-las dentro em mim, mas não mais vês
Senão este ar tranqüilo de quem passa,
Não sabes do vulcão que me contém
Nem mesmo o variável mal ou bem
Num misto de alegria e de desgraça.
3
Os órfãos sentimentos que carrego
Sem tantas emoções ou mesmo luzes,
Enquanto muito além tu reproduzes
O passo desigual dominando o ego,
E quando em oceano vão navego
Os olhos são deveras duras cruzes
E caminhando sobre tantas urzes
Fazendo-me decerto qual um cego.
Esbarro em tantos erros ou audácias
Arisco; um passageiro sem falácias
Resumos de mil vidas numa só,
Depois de certo tempo me esvaíra
Nas tramas entre medos e mentira
Deixando sequer rastro ou mero pó.
4
Um ébrio sofrimento se transmuda
E gera novamente a falsa imagem
Nublando com certeza esta visagem
Porquanto a voz se torna agora muda,
E quando a realidade é tartamuda
O tempo em suas teias, na voragem
Transforma qualquer cena em tal miragem
E nisto a fantasia nos acuda.
Escassos olhos vendo o meu passado,
Risível meramente dita o enfado
E nesta voz dispersa miscelânea
Uma alma ultrapassada e já senil
Não sabe nem decerto traduziu
Voracidade atroz, contemporânea.
5
Farândola que um dia eu freqüentara
Entre hordas mais diversas, solidão.
Ao ver este funâmbulo de então
Percebo a sordidez desta seara.
A vida se perfila e molda a amara
Realidade em torpe direção
E as súcias que deveras me verão
Traduzem quando o sonho se escancara.
Um pária entre sarjetas, antros, bares
Bebendo raios puros dos luares
Esboça uma canção em serenata,
Em sortilégios tanto a sorte trama
Do imenso fogaréu a mera chama,
E a face divergente já maltrata.
6
Calvários que inda trago do passado,
Legados de existências mais diversas
Nos quais entre estas urzes sempre versas,
Embora se perceba anunciado
O fim de tal sofrível, tosco enfado
Enquanto discordante, desconversas
Não vês as minhas dores já submersas
No corte; há tanto tempo desenhado.
Esbarro nos meus ermos e me encontro
Em plena divisão, num desencontro
Gerando a queda quase inevitável,
E o tempo se transcorre em dor e tédio
Apenas o vazio diz do assédio
No qual o que demonstro é intragável.
7
Nos arrebóis em dolos convergentes
A súcia desenhando a minha face
Aonde a solidão teima e perpasse
Tu tens no olhar a dor, e mesmo mentes.
Herética esta serpe traz nos dentes
Veneno incomparável e desgrace
O roto nauseabundo que inda grasse
Por antros tão diversos, penitentes.
Falenas buscam luzes, suicidas
Assim também as sortes mais perdidas
Anseiam pela paz que não se vê
E a vida se perdendo em mera sombra,
A pedra transformada em mansa alfombra
O sonho se esvaindo sem por que.
8
Lacrimejante escárnio me acompanha
Esbarro nos meus egos mais diversos,
Narcísicos demônios, ledos versos,
O olhar apetecera este champanha
E quando a minha vida adentra a sanha
E dela se imiscui em tons dispersos,
Os meus caminhos tortos vão submersos
Planície desdenhando uma montanha.
Arquétipos de antanho em tez moderna,
No quanto a realidade já me inferna
Ecléticos desníveis ditam quedas,
E aquém do quanto pude ou mesmo tento,
O olhar em ledo tom, sem provimento
Procura outras saídas, mas tu vedas.
9
Cadáveres de sonhos são constantes
Nos versos que inda tento em meu soneto,
E quando em tais vazios me arremeto
Diverso do caminho onde garantes
Apenas os errôneos e inconstantes
Espásticos sentidos neste gueto
Ao presumir o fim nada prometo
Senão mesmos escombros quais os dantes.
Onírico caminho; eu não perfaço
E o tempo perde aquém qualquer espaço
Deixando as emoções sem suprimento,
Mas quando vejo o sol raro e sublime
Errático delírio se redime
E bebo em solilóquio o mero vento.
10
Candores que talvez ainda alente,
No fundo são somenos importantes
Nefastos dias; vejo e me adiantes
No olhar tão doloroso e impertinente.
Porquanto uma alma alheia, esta indigente
Vagara por destinos degradantes
O quanto se apresenta nos instantes
Aonde encontro a queda, impunemente.
Esgarço-me em farrapos quando anseio
Apenas liberdade, devaneio
De quem se fez poeta e nada mais.
Percebo os meus heréticos demônios
E tento me esquivar dos pandemônios
Gerados pelos medos tão normais.
11
Ao meu sonhar vago
Diverso caminho
Aonde me aninho
E nada mais trago,
Revolvo este lago
E tento o carinho
Por vezes daninho
Em sonhos me alago.
Afago da sorte
Que tanto conforte
E gere outro tanto
Pudesse sem par
O mundo vagar
E ao fim me adianto.
12
Um passo se incerto
Na queda desvendo
Se mero remendo
Ou tanto deserto
O quanto desperto
Gerando este adendo
O nada tecendo
Sem nada por perto.
Mineiro poeta
A vida repleta
De dor e alegria
O manto se faz
No corte mordaz
Ou se desfazia.
13
São tantas as ondas
Bravio este mar
Aonde buscar
E tanto te escondas
Jamais me respondas
Cansado a lutar
O tanto sonhar
Amor dita sondas
Seara dispersa
E nela se versa
O quanto mais quis
Viver e talvez
Saber no que vês
Um tolo aprendiz.
14
A sombra ou a luz
O tempo passado
O sonho alegado
O corte onde pus
Meu verso conduz
Ou certo ou errado
Decerto levado
Em tal contraluz
Resumos de fatos
E nele retratos
De vidas sonhadas,
Ou tanto sofridas
E nelas sentidas
Dispersas jornadas.
15
Oscila entre tanto
Diverso desejo
O risco do ensejo
O quanto garanto
E teimo e me espanto
Se o nada prevejo
E quando eu latejo
Na voz de outro canto
O peso vergando
O amor mero e brando
Em bandos ou ritos,
Os cortes os medos
Diversos enredos
Sonhos infinitos.
16
A falta ou excesso
O medo a verdade
No quanto degrade
E tanto começo
Legado que peço
Dizendo saudade
Ou verso já brade
Vital retrocesso,
Impeço esta queda
Na sorte que seda
Moenda feroz,
O marco outro fardo,
Amor sendo um cardo
Calando esta voz.
17
O quanto era dia
Ou mesmo na tarde
Se nada me aguarde
O todo se adia,
O peso seria
O quanto retarde
E assim me resguarde
Da tal ventania,
Esgoto o meu canto
No quanto me espanto
Ou tento saída,
Assim labirinto
Aonde eu sinto
Cenário de vida.
18
Bem longe daqui
O todo se cala
A morte avassala
E já me perdi,
No quanto de ti
Adentra esta sala,
O verso se embala
No amor que senti.
O ranço passado
O corte alegado
O vento não cansa,
Amar e talvez
No quanto não vês
Restando esperança.
19
Jamais me sorrira
A sorte que antanho
Vivera sem ganho
Em tanta mentira
Acaso esta mira
Aonde me entranho
Ou mesmo me estranho
No verso se atira,
Esqueço o meu ermo
E tento outro termo
Ao quanto pudesse
Vencer o que trago
E mesmo em estrago
Procuro benesse.
20
Jamais percebendo
O todo que trazes
E sei quantas fases
Preparam remendo,
No gozo em adendo
Os cortes mordazes
As vozes tenazes
O dia morrendo.
A noite se entranha
E molda outra sanha
Assanha o meu ego,
E o prazo se esgota
No quanto esta rota
Além eu navego.
21
Silente coração
Já não comporta o sonho
E quando me proponho
Diversa dimensão
Os dias mostrarão
Além deste ar bisonho
O rito onde componho
Amor e tentação,
Restando do que fora
A sorte encantadora
Dos lábios da morena,
Assim a vida passa
E sem mera fumaça
A luz em paz se acena.
22
Ondeio entre os meus dias
E neles tento ao menos
Momentos mais serenos
Aonde mostrarias
As sortes e alegrias
Ou mesmo teus venenos,
Delírios? São pequenos,
Mas neles viverias.
À parte do que resta
A noite em gozo e festa
Dispersa comentários,
Dos sofrimentos fujo
O sonho este sabujo
Em riscos necessários.
23
E vagamente a mente
Escassa ou mesmo atroz
Encontra a velha voz
E nela se desmente
O quanto rege e tente
Vencer o gozo; o algoz
Que existe dentro em nós
E sinto impertinente
Vasculha cada canto
E neste pouco ou tanto
Encantos descobrindo,
Mergulho nos enganos
E coletando os danos,
O sonho é mero e findo.
24
A noite se eterniza
Nos ermos de quem sofre
E neste duro cofre
A sorte é mera brisa,
O amor não mais desvendo
E creio se inda existe
Deveras sendo triste
No fundo algum adendo
Disperso em voz e canto
O corpo se alentando
No gozo outrora brando
Agora me garanto
Versejo enquanto tento
Do sol qualquer alento.
25
Nos braços de quem ama
A vida se refaz
E sei da imensa paz
E nela a forte chama,
Assim diversa trama
No quanto sou audaz
Ou mesmo me compraz
O coração reclama,
O peso deste engodo
No fundo sei de todo
Caminho que virá,
E o corte se traduz
Na fonte em contraluz
E bebo aqui ou lá.
26
Pudesse ter o filho
Do filho da esperança
E nesta nova dança
O gozo em estribilho
No quanto não me pilho
Imerso em fúria e lança
A sorte já balança
E dela compartilho.
O cerne da questão
O dia sempre em não
Em farpa, farsa e riso,
Assim de pouco em tanto
O verso te garanto
Jamais será preciso.
27
Quem dera fosse rei
E ter esta princesa
Diversa realeza
No quanto mais sonhei
E tento e naveguei
Nas ondas da incerteza
Sabendo da surpresa
Na qual em me entranhei,
O pendular caminho
Às vezes mais mesquinho
Aninho dentro em mim.
E o vasto que inda trago
Talvez um mero afago
Dizendo deste fim.
28
Se voluntariamente
Eu sigo ou não prossigo
E vendo o vento amigo
O corpo se apascente
E sei do impertinente
Caminho e nele sigo
Sentindo em ti o abrigo
Que tanto faz contente
Quem luta dia a dia
E sabe que porfia
Fiando nova história
O carma me acompanha
Em dor, gozo e champanha
Em luz farta memória.
29
Abandonando o sonho
Por vezes nada trago
Senão vertido estrago
Aonde me proponho,
E quanto mais bisonho
O rito aonde afago
A morte onde me alago
Permite outro medonho
Restando do que quero
O olhar bem mais austero
Da moça que não quis
Deveras companhia
Aos poucos mostraria
Quem sabe um chamariz?
30
O trono que adentrara
A moça soberana
No quanto já me engana
Em jóia falsa e rara,
No porte desampara
No corte desengana
E nada mais se ufana
Senão a própria cara
Esgoto minha lavra
No fim desta palavra
Amar armando o bote,
No corpo enaltecido,
O manto já puído
Do sonho que desbote.
31
Os braços já cansados
De quem tanto labuta
A noite sendo astuta
Os olhos desolados,
Cantos enluarados
A moça não escuta
E tanto se reluta
Dias enamorados,
Restando do meu canto
Apenas o quebranto
E o brando desejar,
Marcando em serenata
A dor que me maltrata
Bebendo este luar.
32
Viris desejos trago
Em noite mais austera
A moça em primavera
O coração alago,
O gozo dita afago
E quem tanto fizera
Agora destempera
E bebe deste vago.
Alheio ao que vier
No corpo da mulher
Cerzidas esperanças,
No fundo em paz ou guerra
O todo que descerra
Traduz aonde alcanças.
33
Ao me entregar assim
Presumo outro cenário,
Mas sei do imaginário
Desenho aonde enfim
Pudesse ter em mim
O amor dito corsário
E o gozo necessário
Redime o que diz sim.
Assisto enquanto assumo
A falta de algum rumo
Num passo mais audaz,
O marco desta vida
Transforma em despedida
O que viera em paz.
34
Olhando esta coroa
Sem pedras, diamantes
Do quanto me garantes
A vida sobrevoa
E nega uma canoa
Aos tantos navegantes
Em olhos radiantes
O vento segue à toa.
Esgoto o meu caminho
Aonde sei mesquinho
O verso mais atroz,
Atrelo em mim a morte
E nada me conforte
Nem cale a minha voz.
35
Deixara noutro passo
O tempo invés do sonho
E quanto mais componho
Deveras me desfaço,
No rumo aonde traço
Em ar duro ou bisonho
O corte em que proponho
Tomando todo espaço
Esfacelando a sorte
E nada mais comporte
O risco de quem ama,
Senão a mesma face
Aonde se desgrace
O corpo em leda trama.
36
O coração não fala
Nem mesmo pensaria
No quanto a luz do dia
Adentra a minha sala
Ou mesmo me avassala
A voz da poesia
Enquanto se faria
A sorte não se cala.
Expresso em solidão
A própria negação
Do quanto em esperança
O verso não alcança
Tampouco a direção
Aonde em vão se lança…
37
Liberto minha voz
E tento outra promessa,
Mas quando já tropeça
Fortuna mais atroz,
O risco existe em nós
E nele não se expressa
Senão a velha peça
Em torpe e vão retrós
O corte não detém
Quem sabe muito bem
Do passo rumo ao fim,
Mereço alguma chance
Aonde amor alcance
E tome tudo em mim.
38
No barco aonde um dia
Pudesse navegar
Quem sabe noutro mar
Em meio à fantasia,
Mas logo não teria
Sequer aonde olhar,
Disperso do sonhar
A noite já se esfria.
O corpo tão cansado
Resumo de um passado
Em pássaro liberto,
Mas quando chego a ti
Percebo que perdi
Caminho e me desperto.
39
Organizando a vida
Ao menos vi além
O quanto amor detém
O passo sem saída
No gozo em despedida
Amor já não mais vem
E perco assim o trem
Em trágica partida.
O preço que se paga
A vida é sempre vaga
A quem se fez poeta
Na trova em que te faço
O mundo perde espaço
E nada me completa.
40
Meu canto sem sentido
O peso de um legado
Deveras desolado
Assim já presumido
O canto resumido
No tempo destroçado,
O gozo deste enfado
No corte consumido.
Esqueço o que pudesse
Ser mais que mera prece
Ou mesmo a redenção,
No gozo da morena
A vida sendo plena
Jamais dirá um não.
41
Cevar e não colher
Pensar e não sentir
O quanto do porvir
Deveras posso ver
Nas mãos do amanhecer
O sol sempre a luzir,
Amor a redimir
O tanto de um sofrer,
Cadenciando o passo
Assim eu me desfaço
Nos braços de quem quero,
Mas quando estás ausente
O que se quer não sente
E o mundo morre fero.
42
Quem fora colibri
Jardins conhece bem,
E quando quer alguém
Aonde percebi
O todo que há em ti
Desejo assim também,
Mas logo a noite vem
E diz do que perdi.
O parto renegando
O dia segue em bando
Os medos mais diversos,
E nada do que eu tento
Adentra o pensamento
Matando em vão meus versos.
43
Acendo o fogareiro
Pensando na fogueira
A moça não se inteira
Do amor mais verdadeiro
E quando garimpeiro
Encontra o que mais queira
Quem sabe da ladeira
É o tombo costumeiro.
Cerzindo com cuidado
O amor tão delicado
Agora já puído,
O quanto quis em festa
Decerto agora resta
Apenas um ruído.
44
Versando sobre o tema
Do amor que não mais tenho,
Enquanto sou ferrenho
Não quero nova algema
Assim qualquer dilema
Deveras não convenho,
E sei do desempenho
De quem se fez problema,
Amar e ter a sorte
De ter quem me suporte
É tudo o que eu queria,
Portanto não se escuta
A voz sequer astuta
Da mera poesia.
45
Jogado nalgum canto
Da sala ou deste quarto
Amor quando reparto
Deveras desencanto
Pudera e te adianto
No todo sigo farto,
Riscando o que reparto
No fim nada garanto,
Somente a mente mente
E o tempo impertinente
Não deixa qualquer tom
Do riso em festa feito
E quando já desfeito
Luar vira neon.
46
A chuva no telhado
A planta no quintal,
O amor consensual
O sensual pecado,
O risco mal traçado
O tempo bem ou mal,
Falando deste astral
Além iluminado,
Resolvo o que percebo
E quando sou placebo
Ainda curo a dor,
No verso que te faço
Aos poucos cada espaço
Adentro em céu e cor.
47
Soneto ou trova quando
Se é feito em luz suave
Liberta como uma ave
Aos poucos revoando
E nisto me mostrando
Aonde não se agrave
O passo perde a chave
E o mundo desnudando.
Rescaldos deste incêndio
Amor mero compêndio
Em inclemência e sonho,
No canto mais atroz
Ausente em mim a voz
E mesmo assim componho.
48
A moça na janela
O sonho de um passado
Agora exterminado
Perdendo rumo e vela,
O barco não se atrela
Ao canto adivinhado
E sigo outro riscando
Fugindo desta cela,
A porta não se abriu
O amor quis mais gentil
E abril já terminou.
Agora num desmaio
Adentro um novo maio
E nada transformou.
49
Um lírico poeta
Cantor em serenata
Ausente qualquer mata
Aonde se completa?
No bar ou noutra seta
A porta sendo ingrata
Ao longe se arrebata
A fonte predileta,
A lua se escondeu
E o mundo em apogeu
Agora na balada,
A morte embolorada
De quem se quis diverso
Não traz sequer um verso.
50
Romântico bufão
Palhaço da existência
Aonde em inclemência
Procura a solução
Meu verso desde então
No tanto em penitência
Ainda impertinência
Tomando a direção
Encontro timoneiro
O cais além do cais
E sei que nunca mais
O mundo em verdadeiro
Delírio se completa
A quem se quis poeta.
51
Meu canto não alcança
Quem tanto quis um dia
Assim se perderia
Qualquer uma esperança
A vida não avança
E nisto esta agonia
De quem tanto queria
E agora já se cansa.
Vestir outro momento
Aonde mesmo tento
Sentir alguma luz
E sendo tão ingrata
A sorte me maltrata
E nada mais produz.
52
Beijando o vento tento
Chegar devagarzinho
Aonde quis o ninho
E nada em desalento,
O tolo pensamento
Qual fosse passarinho
Voando tão sozinho
Em busca de alimento,
Apenas o vazio
E nele novo estio
Encontro em minha frente
Amor que tanto quis
Agora este infeliz
De mim vivendo ausente.
53
O rio entre as vertentes
Diversas chega enfim
À foz por onde vim
E nisto te apresentes
E quando me apascentes
Florindo em meu jardim,
É falso querubim
A morte traz nos dentes.
Ouvir a voz do vento
E nisto até fomento
Quem sabe a liberdade,
Mas quando ao fim da tarde
O quanto que me aguarde,
Jamais em paz agrade.
54
Percebo após a queda
O quanto ainda havia
De qualquer fantasia
E nisto a sorte veda
Pagar nesta moeda
Com tanta hipocrisia
Já não mais quereria
Quem tenta, finge e seda.
Assédios da ilusão
Eu vivo desde então
E nada satisfaz
Querendo tão somente
O amor que me alimente
E a vida em pura paz.
55
Morena do meu sonho
Aonde se escondeu?
O mundo fora meu
E agora aonde ponho
O barco mais risonho
Que tanto se perdeu
E o cais já esqueceu
Num mar triste e medonho,
Morena quem me dera
Viver a primavera,
Mas vejo o meu inverno,
E todo o pensamento
Ainda além eu tento,
Mas nada neste inferno.
56
A casa de sapé
O sonho de moleque
A vida traz no leque
Ainda um mundo em fé
Quisera ser até
O quanto mais não peque
A sorte feito um beque
Não deixa ser quem é.
Amar e ter assim
O mundo dentro em mim
E ver o sol imenso,
Mas quando em tal neblina
Vazio determina
E no teu beijo eu penso.
57
Aprendo com a dor
Também quem não sabia
Viver a fantasia
É ter um dissabor,
Ausente qualquer flor
Aonde plantaria
A paz do dia a dia
E nisto recompor
O mundo nega a luz
E tanto reproduz
Apenas solidão,
Meu verso não traduz
O quanto a ti propus,
Ouvindo o mesmo não.
58
Cadenciando a vida
Em paz ou mesmo além
Do quanto ainda tem
E traça outra saída,
Apenas despedida
E nisto sei tão bem
Do amor que sem alguém
É sonho e não duvida.
O ritmo deste canto
No quanto me garanto
Espanto a solidão,
Mas tanto quis diverso
Caminho para o verso
Sem cordas, violão.
59
A boca sensual
O corpo nu na cama,
Enquanto a vida chama,
O drama é sempre igual,
Apenas no final
O tempo não reclama,
A sorte de quem ama
É sempre outro degrau
Na escada desta vida
Aonde descaída
A lua já não brilha,
O marco mais audaz
E nele não se traz
Sequer qualquer partilha.
60
Acaso se viesses
Verias os meus medos
Em dias tanto ledos
E neles sem as messes
Porquanto vagos teces
Aonde quis enredos,
Somente estes degredos
Agora me ofereces.
Não tendo outra visão
Da vida em solução
Semente apodrecida,
O solo mais agreste
E nele tu vieste
Marcando a minha vida.
61
O verso em tal soneto
Aonde quis a prova
Do amor que não comprova
E nele me arremeto
Neste erro que cometo
A lua nunca é nova
A sorte não renova
A trova em poemeto.
O pântano desta alma
Já nada mais acalma
Imenso lamaçal,
Assim perdendo o rumo
Se nada em mim resumo
O risco é sempre igual.
62
Parâmetros diversos
Medindo o desmedido
Caminho percebido
Em dias mais dispersos,
E sei dos universos
Aonde presumido
O rumo pressentido
Traduzo em poucos versos,
Resumos de outro sonho
Enquanto não componho
Sequer mais um segundo
Vagando pelo mundo
O quanto te proponho
Jamais dele me inundo.
63
Vestindo a fantasia
Deste histrião que sou
O quanto se negou
O mundo mudaria?
Quem sabe qualquer dia
Ou mesmo o que restou
E nisto sei e vou
Beber desta alquimia
E quero a panacéia
E tendo nova idéia
Acordo o que dormira
Depois de tantos anos,
São novos desenganos,
Herdados da mentira.
64
Abrindo esta janela
Do peito em tempestade
O frio quando invade
A sorte se revela
E sei que nesta tela
O tom já se degrade
E o risco em realidade
Aos poucos diz da cela,
O manto não se faz
O gozo mais audaz
Jamais eu conheci,
O amor que fora tanto
Agora em desencanto
Deveras, eu perdi.
65
Não pude e nem quero
Sentir novo caminho
Se eu sigo até sozinho
Assim sou mais sincero,
Vestindo o que inda espero
Um dia mais mesquinho
Por onde eu adivinho
O mundo duro e fero,
Marcando com a fúria
Gerando outra lamúria
Penúria de quem tenta
Sentir outro momento,
Mas quando a sorte invento
Só resta esta tormenta.
66
Servir como puder
A quem já não mais quis
Sequer ser aprendiz
Do gozo se vier,
No corpo da mulher
A velha cicatriz,
Porém o chamariz
Desvenda o que se quer,
Restauro em ar sombrio
O quanto desafio
E nada mais contenta,
Restando esta promessa
Aonde se tropeça
E a face é mais sangrenta.
67
Aplaudo a cena quando
O risco se mostrasse
Na verdadeira face
Do sonho se mostrando
Reúno e vejo brando
O peso deste impasse
Ainda que desgrace
O corte se notando,
A cicatriz no fim
Dizendo de onde vim
Expressa em oração,
Amar e ser feliz,
Quem sabe o que já fiz
Não vê mais solução.
68
Serpente na verdade
Já não resume o medo,
O gozo em arremedo
A sorte que degrade
O tempo em tempestade
O dia onde concedo
O amor que no segredo
Jamais a sorte invade,
Respiro e tento até
Seguir quem quis ou é
A redenção e a dor,
Assim no quarto escuro
E gélido eu procuro
Em ti qualquer calor.
69
Além do medo eu tenho
Certezas que traduzo
Num passo mais confuso
Aonde sei do cenho
E nele desempenho
O quanto mais abuso
Do risco de outro fuso
No tempo em que desenho.
Escassas sortes vejo
E quando este desejo
Expressa outro cenário,
O amor que tanto outrora
Agora não demora
E muda o imaginário.
70
Peçonhas entre risos
Assim te traduzi
E sei do quanto em ti
Infernos, paraísos
Ou dias imprecisos
E nisto me perdi,
Restando o que aprendi
Diversos prejuízos.
Restauro enquanto posso
Um mundo que foi nosso
E agora não mais cabe
No peito do poeta
A sorte se deleta
E o mundo já desabe.
71
Procuro algum caminho
Aonde possa enfim
Mostrar o que há em mim
Se tanto andei sozinho
E sinto mais mesquinho
O mundo sem jardim
E nele vejo o fim
Enquanto em desalinho.
Resisto o mais que posso
E sei que sou destroço,
Mas tento a solução
Meu verso se embotando
O mundo desde quando
Eu sempre o vira vão.
72
Não pude acreditar
Nas tramas mais diversas
Aonde desconversas
E tentas procurar
O raio de um luar
E nele também versas
Ao encontrar dispersas
As rendas deste amar,
Acordo e nada tendo
Apenas sou adendo
Do sonho e nada mais,
E quando quis promessa
Meu passo em vão tropeça
Em mundos siderais.
73
No peso que se enverga
Nas costas de quem ama,
O medo dita o drama
E nada mais se enxerga,
O corpo não alberga
Sequer o quanto em chama
A vida diz e clama
Além do que já se erga.
Presumo o sumo enquanto
O passo eu adianto
E sei da queda além,
Do amor que tanto quis
Apenas aprendiz
Caminho me retém.
74
Escarpas que escalara
Na busca pelo sonho
E quando me proponho
Além da noite clara
O verso desampara
E nele não componho
Sequer o mais bisonho
Do quanto se prepara,
Separo então meu passo
E quando me desfaço
Cansaço me tomando,
Aonde quis morena
A morte toma a cena
E o mundo molda o infando.
75
Esdrúxula sonata
Aonde quis ouvir
O canto do porvir
E nada se retrata
Somente a fúria ingrata
A morte que há de vir
O tempo a presumir
O corte onde maltrata
A manta destruída
Traduz a minha vida
E dela não mais vejo
Sequer a menor messe
No quanto se obedece
Apenas mero ensejo.
76
Espreitas e tocaias
Assim são as verdades
E nelas tu degrades
Enquanto além me traias
E sinto que desmaias
E nestas realidades
Vagando em vãs saudades
Os olhos noutras praias,
Mergulho neste abismo
E quando tento e cismo
Batismos fogo e fera,
O prazo determina
O fim da minha sina
E o todo destempera.
77
O tolo sonhador
Profético palhaço
Enquanto me desfaço
Procuro novo amor,
E sei da falsa cor
Aonde ledo espaço
Deveras teimo e traço
Buscando o redentor.
Ainda que em remendo
O novo percebendo
Eu tento amanhecer,
Mas quando a lua esconde
O tempo perde o bonde
E sinto esmorecer.
78
Repare nas estrelas
E nas estradas tantas
E quando além encantas
Somente por revê-las
Não pude concebê-las
E nisto já te espantas
As sortes que quebrantas
As ânsias em contê-las,
Espaços onde outrora
A sorte desancora
E doma novo rumo
O prazo determina
O fim e seca a mina
Aonde me consumo.
79
Bisonho trovador
Nas tramas mais tardias
Pudesse em alegrias
Falar do meu amor,
Mas quando a recompor
Já nada me trarias,
Senão ledas sangrias
Perdendo qualquer cor.
E assisto à derrocada
Depois de tanto nada
Da vida em falsa luz,
E o medo se aproxima
E muda logo o clima
Enquanto ao vão conduz.
80
Acréscimos não creio
E sei que já termina
Assim a vida ensina
E nela sem receio
Seguindo cada veio
Procuro a minha sina
E tudo determina
O rumo quase alheio,
Vestindo a fantasia
Que tanto me cabia
Apenas vejo o fim
Sedento navegante
A morte se adiante
E trama outro jardim.
81
Rescaldos de outras eras
Somente minha herança
E o tempo sempre avança
Enquanto a sorte esperas,
Seguindo tais esferas
No fundo por vingança
A sorte sem fiança
As horas são as feras,
Esgoto o verso em lua
E a moça outrora nua
Agora já não vejo,
Acordo e nada tendo
Apenas este adendo
Atroz de algum desejo.
82
Cerzira uma alegria
Aonde não mais tenho
Sequer o olhar ferrenho
De quem tanto eu queria,
O mundo é fantasia
E nisto tanto empenho
Palavra que detenho
Enquanto o tempo esfria,
Mordendo sempre esta isca
Quem tenta sempre arrisca
E perde ou mesmo ganha,
Assim no que talvez
Ainda mesmo crês
Que o vale quer montanha.
83
Não vejo mais quem tanto
Quisera no passado
O dia desenhado
E nele já me espanto
Enquanto torpe manto
Há muito destroçado
O corte anunciado
O medo dita o pranto,
Restando da promessa
O passo que tropeça
E a queda e nada mais,
Depois de tantos dias
Enquanto me querias,
Agora eu sei jamais.
84
Viola sertaneja
Um peito enamorado
Os dias do passado
A sorte benfazeja
E nada mais se veja
Senão lançando o dado
O medo desenhado
Na voz de quem almeja,
O passo, o preço, o poço,
O todo dita o fosso
Por onde entranho e sigo
No canto mais audaz
A sorte não mais traz
Qualquer sinal de abrigo.
85
Um gole de café
Um pedaço de broa,
A vida segue à toa
Na busca pela fé
Do quanto sei quem é
Quem segue e não revoa,
Enquanto além ecoa
Eu sigo mesmo a pé,
O risco não se mede
No quanto se concede
Do amor que mais anseio,
E sinto em claridade
O dia quando invade
E toma inteiro o veio.
86
Morena perfumada
A vida não se escusa
E quanto mais confusa
Gerando o mesmo nada,
Traduz a velha estrada
E nela sempre abusa
Por vezes mais obtusa
Ou sempre alvoroçada.
Resplendorosamente
A vida também mente
E nega outro caminho,
Porquanto sonhador
Em sonho medo e dor
Prossigo então sozinho.
87
Apenas quis um dia
E nada mais que o fato
De ter neste regato
Além desta magia
A sorte bendizia
E nisto me resgato
Porquanto já maltrato
Quem tanto me queria.
Ouvindo a voz do peito
Jamais vou satisfeito
Apenas caminhando
Não tendo desde quando
Um rumo ou outra cena,
A vida se envenena.
88
Colhendo cada fruto
Do tempo que cevaste
O amor em tal contraste
Deveras não desfruto
E sei do olhar astuto
Que tanto me negaste
E neste vão desgaste
O corte é sempre bruto,
Escuto quem pudera
Trazer a primavera,
Mas traz somente o outono,
O manto já desfeito
O amor quando me deito
Reclama apenas sono.
89
Tirando a roupa agora
Morena sensual
Em sol, suor e sal
O todo me devora,
No fundo quando aflora
Caminho magistral,
A noite em sideral
Desenho nos decora,
Mas logo em voz sombria
A vida me traria
Somente a solidão,
Semente do passado
Do tempo imaginado
Apodrecido grão.
90
Mecânicas diversas
Gerando esta engrenagem
E quando foi miragem
O quanto além não versas,
Apenas desconversas
E trazes a barragem
Negando uma ancoragem
Às ondas mais dispersas.
E tento enquanto posso
Caminho de um destroço
Em falsa claridade,
E o tempo não se trama
Além da mera chama
Que agora nos invade.
91
Ninguém jamais esqueceria quem
Durante tanto tempo fora audaz
E quando a realidade à vida traz
O sonho se transforma e tudo vem
Retorno do passado e sem desdém
O canto de outro tempo satisfaz
Por mais que seja até torpe e voraz
O conto se renova e diz do bem
Que um dia o mar levara para quando
Em outro caminhar se desenhando
Ou novo pensamento dita o rumo,
Porquanto ser feliz até mais quero
Depois de tantos anos, sou sincero
O renovar de uma alma eu não resumo.
92
No imenso simulacro aonde aporta
Esta alma desenhada em falsa cor
Gerando a cada ausência um novo andor
Mantendo sempre aberta a velha porta,
O quanto do meu ser já não comporta
O rumo deste vago sonhador,
Pudesse então deveras recompor
A imagem que carrego ainda morta,
Mereço pelo menos outra chance?
Aonde no vazio o passo avance
Queria ter somente algum degrau,
Caindo em realidade a tez sombria
Do sonho ainda vivo me traria
A morte como um claro e bom final.
93
Em pedaços restando o que de fato
Há tanto consistira na esperança
O medo a cada ausência mais avança
E nele o meu passado em vão resgato,
O quanto do meu ermo em ti retrato
E sinto perpetrando a dura lança
Gerando novo passo em tal fiança
A morte se servindo em fino prato.
Esbarro nos cenários mais atrozes
E busco retumbar em mim as vozes
De tempos onde cria ser feliz,
Mas nada do que posso perpetuo,
O quanto solitário quis um duo
E a vida noutra face nunca quis.
94
Crepita dentro em mim a brasa acesa
De um velho sentimento resguardado
Nos antros dos meus erros, desenhado
Enquanto deste fato inda sou presa,
A vida se prepara sobre a mesa
E diz do velho cheiro já mofado
Do gozo de um momento do passado
E nele se perdera a correnteza,
O tempo assiduamente me respinga
E o barco não encontra na restinga
Um porto aonde possa se ancorar,
Ausente deste sonho a solução
Somente me restando a solidão
Deitando insanamente em turvo mar.
95
Romeiro da esperança em vaga senda,
O velho coração já não avança
E quando se queria bem mais mansa
A vida na verdade não entenda
E cada passo alheio ora desvenda
A firme decisão de outra mudança
Aonde quis outrora uma aliança
Amor se transformara em mera lenda,
Arcando com enganos ancestrais
Desejo desvendar em dias tais
Ao menos o resgate do que há tanto
Pensara ser possível, mas não vejo
E o tempo não mais sendo benfazejo
Desfilo o meu caminho em desencanto.
96
Atrozes caminheiros em cenários
Diversos do que tanto imaginaste,
A vida se transforma e sem uma haste
Os passos sempre foram temerários,
Os antros mais sutis, desnecessários
Os corpos em que vejo o meu desgaste
E neste caminhar não me legaste
Sequer desejos mansos, solidários.
Resguardo-me no fim e apenas veio
O sonho como fosse um passo alheio
Ao quanto perfilara em luz tranquila,
Minha alma se esvaindo em tão pouco
E quando tento um cais, pois me treslouco
E a fúria dentro em mim, o medo instila.
97
Sobre os barrotes podres da esperança
Tentara construir o meu castelo,
Mas quando a realidade em vão revelo,
O manso caminhar já não se alcança.
Da vida que buscara em temperança
Apenas um delírio embora belo
E nele o meu desvio enquanto selo
O risco de sonhar ao nada lança.
O passo enfileirando a queda e o medo
E quando algum alento inda concedo
O senso se perdendo em luz sombria,
A casa já se vendo desolada,
A face noutra insânia retratada
Somente este final me restaria.
98
Arrasto-me aos meus erros e prevejo
O fim em discordância dos meus passos,
Os dias entre tantos, meros, baços,
O olhar se perpetrando malfazejo,
Aonde quis um dia em azulejo
Os ritos se transformam, velhos laços
E os gestos traduzindo ermos lassos
E neles sem saber teimo e trovejo.
Perpetuando em mim a dura algema
A vida se transborda e sempre tema
Um fato que comprove a decadência,
Pudesse adivinhar qualquer caminho,
Mas quando me percebo mais sozinho
Do todo imaginário, mera ausência.
99
Imaginando apenas este olvido
No qual eu precedera o passo em vão
E assim ao me mostrar o turbilhão
Há tanto noutro fato presumido,
Resvalo cada sonho em tal sentido
E bebo a mesma amarga ingratidão,
Respinga dentro em mim a maldição
Tornando inconcebível a libido.
Esgares desta vida em tom aflito
E quando alguma luz eu necessito
Apenas se espelhando em mim a treva,
O quanto em tal disfarce nada trago
Dos ermos de minha alma, mero afago
E a pútrida semente o sonho ceva.
100
Rincões mais odiosos de minha alma
Apenas são reflexos, nada mais,
E vejo desde sempre os terminais
Caminhos onde a morte teima e acalma
O quanto da verdade dita o trauma
E nele se percebem vãos cristais
Os dias se repetem tão iguais
E deles reconheço cada palma.
O manto consagrado em fé pudera
Apascentar quem sabe esta quimera,
Mas nada se apresenta e sigo alheio
Aos fatos onde creio mais sinceros,
Porém os ermos; trago em sensos feros
E a vida não responde ao que ela veio.
A amnésia muitas vezes nos salvando
De vãs escaramuças vida afora,
Enquanto uma saudade nos devora
No tempo quando atroz, mesmo nefando
Percebo a redenção da fuga quando
A dor em nosso peito se demora,
E o caos gerado após nos desarvora,
Um furioso vento se formando.
Porém ao me esquecer ou não daquilo,
Tentando ter um ar manso e tranqüilo
Vencendo os desacordos da lembrança
Não fosse este bendito esquecimento
Que existe ou vez em quando até invento
Infausto sem limite, a vida alcança.
2
Minha alma busca como combustível
O sonho, mas também a realidade
Num misto de mentira e liberdade
Vagando pelo astral em novo nível,
Assim por vezes quase inacessível
Delírio sem igual quando me invade
Permite que se rompa velha grade
Num mundo tão diverso quanto incrível.
Acumular estrelas e talvez
Contê-las dentro em mim, mas não mais vês
Senão este ar tranqüilo de quem passa,
Não sabes do vulcão que me contém
Nem mesmo o variável mal ou bem
Num misto de alegria e de desgraça.
3
Os órfãos sentimentos que carrego
Sem tantas emoções ou mesmo luzes,
Enquanto muito além tu reproduzes
O passo desigual dominando o ego,
E quando em oceano vão navego
Os olhos são deveras duras cruzes
E caminhando sobre tantas urzes
Fazendo-me decerto qual um cego.
Esbarro em tantos erros ou audácias
Arisco; um passageiro sem falácias
Resumos de mil vidas numa só,
Depois de certo tempo me esvaíra
Nas tramas entre medos e mentira
Deixando sequer rastro ou mero pó.
4
Um ébrio sofrimento se transmuda
E gera novamente a falsa imagem
Nublando com certeza esta visagem
Porquanto a voz se torna agora muda,
E quando a realidade é tartamuda
O tempo em suas teias, na voragem
Transforma qualquer cena em tal miragem
E nisto a fantasia nos acuda.
Escassos olhos vendo o meu passado,
Risível meramente dita o enfado
E nesta voz dispersa miscelânea
Uma alma ultrapassada e já senil
Não sabe nem decerto traduziu
Voracidade atroz, contemporânea.
5
Farândola que um dia eu freqüentara
Entre hordas mais diversas, solidão.
Ao ver este funâmbulo de então
Percebo a sordidez desta seara.
A vida se perfila e molda a amara
Realidade em torpe direção
E as súcias que deveras me verão
Traduzem quando o sonho se escancara.
Um pária entre sarjetas, antros, bares
Bebendo raios puros dos luares
Esboça uma canção em serenata,
Em sortilégios tanto a sorte trama
Do imenso fogaréu a mera chama,
E a face divergente já maltrata.
6
Calvários que inda trago do passado,
Legados de existências mais diversas
Nos quais entre estas urzes sempre versas,
Embora se perceba anunciado
O fim de tal sofrível, tosco enfado
Enquanto discordante, desconversas
Não vês as minhas dores já submersas
No corte; há tanto tempo desenhado.
Esbarro nos meus ermos e me encontro
Em plena divisão, num desencontro
Gerando a queda quase inevitável,
E o tempo se transcorre em dor e tédio
Apenas o vazio diz do assédio
No qual o que demonstro é intragável.
7
Nos arrebóis em dolos convergentes
A súcia desenhando a minha face
Aonde a solidão teima e perpasse
Tu tens no olhar a dor, e mesmo mentes.
Herética esta serpe traz nos dentes
Veneno incomparável e desgrace
O roto nauseabundo que inda grasse
Por antros tão diversos, penitentes.
Falenas buscam luzes, suicidas
Assim também as sortes mais perdidas
Anseiam pela paz que não se vê
E a vida se perdendo em mera sombra,
A pedra transformada em mansa alfombra
O sonho se esvaindo sem por que.
8
Lacrimejante escárnio me acompanha
Esbarro nos meus egos mais diversos,
Narcísicos demônios, ledos versos,
O olhar apetecera este champanha
E quando a minha vida adentra a sanha
E dela se imiscui em tons dispersos,
Os meus caminhos tortos vão submersos
Planície desdenhando uma montanha.
Arquétipos de antanho em tez moderna,
No quanto a realidade já me inferna
Ecléticos desníveis ditam quedas,
E aquém do quanto pude ou mesmo tento,
O olhar em ledo tom, sem provimento
Procura outras saídas, mas tu vedas.
9
Cadáveres de sonhos são constantes
Nos versos que inda tento em meu soneto,
E quando em tais vazios me arremeto
Diverso do caminho onde garantes
Apenas os errôneos e inconstantes
Espásticos sentidos neste gueto
Ao presumir o fim nada prometo
Senão mesmos escombros quais os dantes.
Onírico caminho; eu não perfaço
E o tempo perde aquém qualquer espaço
Deixando as emoções sem suprimento,
Mas quando vejo o sol raro e sublime
Errático delírio se redime
E bebo em solilóquio o mero vento.
10
Candores que talvez ainda alente,
No fundo são somenos importantes
Nefastos dias; vejo e me adiantes
No olhar tão doloroso e impertinente.
Porquanto uma alma alheia, esta indigente
Vagara por destinos degradantes
O quanto se apresenta nos instantes
Aonde encontro a queda, impunemente.
Esgarço-me em farrapos quando anseio
Apenas liberdade, devaneio
De quem se fez poeta e nada mais.
Percebo os meus heréticos demônios
E tento me esquivar dos pandemônios
Gerados pelos medos tão normais.
11
Ao meu sonhar vago
Diverso caminho
Aonde me aninho
E nada mais trago,
Revolvo este lago
E tento o carinho
Por vezes daninho
Em sonhos me alago.
Afago da sorte
Que tanto conforte
E gere outro tanto
Pudesse sem par
O mundo vagar
E ao fim me adianto.
12
Um passo se incerto
Na queda desvendo
Se mero remendo
Ou tanto deserto
O quanto desperto
Gerando este adendo
O nada tecendo
Sem nada por perto.
Mineiro poeta
A vida repleta
De dor e alegria
O manto se faz
No corte mordaz
Ou se desfazia.
13
São tantas as ondas
Bravio este mar
Aonde buscar
E tanto te escondas
Jamais me respondas
Cansado a lutar
O tanto sonhar
Amor dita sondas
Seara dispersa
E nela se versa
O quanto mais quis
Viver e talvez
Saber no que vês
Um tolo aprendiz.
14
A sombra ou a luz
O tempo passado
O sonho alegado
O corte onde pus
Meu verso conduz
Ou certo ou errado
Decerto levado
Em tal contraluz
Resumos de fatos
E nele retratos
De vidas sonhadas,
Ou tanto sofridas
E nelas sentidas
Dispersas jornadas.
15
Oscila entre tanto
Diverso desejo
O risco do ensejo
O quanto garanto
E teimo e me espanto
Se o nada prevejo
E quando eu latejo
Na voz de outro canto
O peso vergando
O amor mero e brando
Em bandos ou ritos,
Os cortes os medos
Diversos enredos
Sonhos infinitos.
16
A falta ou excesso
O medo a verdade
No quanto degrade
E tanto começo
Legado que peço
Dizendo saudade
Ou verso já brade
Vital retrocesso,
Impeço esta queda
Na sorte que seda
Moenda feroz,
O marco outro fardo,
Amor sendo um cardo
Calando esta voz.
17
O quanto era dia
Ou mesmo na tarde
Se nada me aguarde
O todo se adia,
O peso seria
O quanto retarde
E assim me resguarde
Da tal ventania,
Esgoto o meu canto
No quanto me espanto
Ou tento saída,
Assim labirinto
Aonde eu sinto
Cenário de vida.
18
Bem longe daqui
O todo se cala
A morte avassala
E já me perdi,
No quanto de ti
Adentra esta sala,
O verso se embala
No amor que senti.
O ranço passado
O corte alegado
O vento não cansa,
Amar e talvez
No quanto não vês
Restando esperança.
19
Jamais me sorrira
A sorte que antanho
Vivera sem ganho
Em tanta mentira
Acaso esta mira
Aonde me entranho
Ou mesmo me estranho
No verso se atira,
Esqueço o meu ermo
E tento outro termo
Ao quanto pudesse
Vencer o que trago
E mesmo em estrago
Procuro benesse.
20
Jamais percebendo
O todo que trazes
E sei quantas fases
Preparam remendo,
No gozo em adendo
Os cortes mordazes
As vozes tenazes
O dia morrendo.
A noite se entranha
E molda outra sanha
Assanha o meu ego,
E o prazo se esgota
No quanto esta rota
Além eu navego.
21
Silente coração
Já não comporta o sonho
E quando me proponho
Diversa dimensão
Os dias mostrarão
Além deste ar bisonho
O rito onde componho
Amor e tentação,
Restando do que fora
A sorte encantadora
Dos lábios da morena,
Assim a vida passa
E sem mera fumaça
A luz em paz se acena.
22
Ondeio entre os meus dias
E neles tento ao menos
Momentos mais serenos
Aonde mostrarias
As sortes e alegrias
Ou mesmo teus venenos,
Delírios? São pequenos,
Mas neles viverias.
À parte do que resta
A noite em gozo e festa
Dispersa comentários,
Dos sofrimentos fujo
O sonho este sabujo
Em riscos necessários.
23
E vagamente a mente
Escassa ou mesmo atroz
Encontra a velha voz
E nela se desmente
O quanto rege e tente
Vencer o gozo; o algoz
Que existe dentro em nós
E sinto impertinente
Vasculha cada canto
E neste pouco ou tanto
Encantos descobrindo,
Mergulho nos enganos
E coletando os danos,
O sonho é mero e findo.
24
A noite se eterniza
Nos ermos de quem sofre
E neste duro cofre
A sorte é mera brisa,
O amor não mais desvendo
E creio se inda existe
Deveras sendo triste
No fundo algum adendo
Disperso em voz e canto
O corpo se alentando
No gozo outrora brando
Agora me garanto
Versejo enquanto tento
Do sol qualquer alento.
25
Nos braços de quem ama
A vida se refaz
E sei da imensa paz
E nela a forte chama,
Assim diversa trama
No quanto sou audaz
Ou mesmo me compraz
O coração reclama,
O peso deste engodo
No fundo sei de todo
Caminho que virá,
E o corte se traduz
Na fonte em contraluz
E bebo aqui ou lá.
26
Pudesse ter o filho
Do filho da esperança
E nesta nova dança
O gozo em estribilho
No quanto não me pilho
Imerso em fúria e lança
A sorte já balança
E dela compartilho.
O cerne da questão
O dia sempre em não
Em farpa, farsa e riso,
Assim de pouco em tanto
O verso te garanto
Jamais será preciso.
27
Quem dera fosse rei
E ter esta princesa
Diversa realeza
No quanto mais sonhei
E tento e naveguei
Nas ondas da incerteza
Sabendo da surpresa
Na qual em me entranhei,
O pendular caminho
Às vezes mais mesquinho
Aninho dentro em mim.
E o vasto que inda trago
Talvez um mero afago
Dizendo deste fim.
28
Se voluntariamente
Eu sigo ou não prossigo
E vendo o vento amigo
O corpo se apascente
E sei do impertinente
Caminho e nele sigo
Sentindo em ti o abrigo
Que tanto faz contente
Quem luta dia a dia
E sabe que porfia
Fiando nova história
O carma me acompanha
Em dor, gozo e champanha
Em luz farta memória.
29
Abandonando o sonho
Por vezes nada trago
Senão vertido estrago
Aonde me proponho,
E quanto mais bisonho
O rito aonde afago
A morte onde me alago
Permite outro medonho
Restando do que quero
O olhar bem mais austero
Da moça que não quis
Deveras companhia
Aos poucos mostraria
Quem sabe um chamariz?
30
O trono que adentrara
A moça soberana
No quanto já me engana
Em jóia falsa e rara,
No porte desampara
No corte desengana
E nada mais se ufana
Senão a própria cara
Esgoto minha lavra
No fim desta palavra
Amar armando o bote,
No corpo enaltecido,
O manto já puído
Do sonho que desbote.
31
Os braços já cansados
De quem tanto labuta
A noite sendo astuta
Os olhos desolados,
Cantos enluarados
A moça não escuta
E tanto se reluta
Dias enamorados,
Restando do meu canto
Apenas o quebranto
E o brando desejar,
Marcando em serenata
A dor que me maltrata
Bebendo este luar.
32
Viris desejos trago
Em noite mais austera
A moça em primavera
O coração alago,
O gozo dita afago
E quem tanto fizera
Agora destempera
E bebe deste vago.
Alheio ao que vier
No corpo da mulher
Cerzidas esperanças,
No fundo em paz ou guerra
O todo que descerra
Traduz aonde alcanças.
33
Ao me entregar assim
Presumo outro cenário,
Mas sei do imaginário
Desenho aonde enfim
Pudesse ter em mim
O amor dito corsário
E o gozo necessário
Redime o que diz sim.
Assisto enquanto assumo
A falta de algum rumo
Num passo mais audaz,
O marco desta vida
Transforma em despedida
O que viera em paz.
34
Olhando esta coroa
Sem pedras, diamantes
Do quanto me garantes
A vida sobrevoa
E nega uma canoa
Aos tantos navegantes
Em olhos radiantes
O vento segue à toa.
Esgoto o meu caminho
Aonde sei mesquinho
O verso mais atroz,
Atrelo em mim a morte
E nada me conforte
Nem cale a minha voz.
35
Deixara noutro passo
O tempo invés do sonho
E quanto mais componho
Deveras me desfaço,
No rumo aonde traço
Em ar duro ou bisonho
O corte em que proponho
Tomando todo espaço
Esfacelando a sorte
E nada mais comporte
O risco de quem ama,
Senão a mesma face
Aonde se desgrace
O corpo em leda trama.
36
O coração não fala
Nem mesmo pensaria
No quanto a luz do dia
Adentra a minha sala
Ou mesmo me avassala
A voz da poesia
Enquanto se faria
A sorte não se cala.
Expresso em solidão
A própria negação
Do quanto em esperança
O verso não alcança
Tampouco a direção
Aonde em vão se lança…
37
Liberto minha voz
E tento outra promessa,
Mas quando já tropeça
Fortuna mais atroz,
O risco existe em nós
E nele não se expressa
Senão a velha peça
Em torpe e vão retrós
O corte não detém
Quem sabe muito bem
Do passo rumo ao fim,
Mereço alguma chance
Aonde amor alcance
E tome tudo em mim.
38
No barco aonde um dia
Pudesse navegar
Quem sabe noutro mar
Em meio à fantasia,
Mas logo não teria
Sequer aonde olhar,
Disperso do sonhar
A noite já se esfria.
O corpo tão cansado
Resumo de um passado
Em pássaro liberto,
Mas quando chego a ti
Percebo que perdi
Caminho e me desperto.
39
Organizando a vida
Ao menos vi além
O quanto amor detém
O passo sem saída
No gozo em despedida
Amor já não mais vem
E perco assim o trem
Em trágica partida.
O preço que se paga
A vida é sempre vaga
A quem se fez poeta
Na trova em que te faço
O mundo perde espaço
E nada me completa.
40
Meu canto sem sentido
O peso de um legado
Deveras desolado
Assim já presumido
O canto resumido
No tempo destroçado,
O gozo deste enfado
No corte consumido.
Esqueço o que pudesse
Ser mais que mera prece
Ou mesmo a redenção,
No gozo da morena
A vida sendo plena
Jamais dirá um não.
41
Cevar e não colher
Pensar e não sentir
O quanto do porvir
Deveras posso ver
Nas mãos do amanhecer
O sol sempre a luzir,
Amor a redimir
O tanto de um sofrer,
Cadenciando o passo
Assim eu me desfaço
Nos braços de quem quero,
Mas quando estás ausente
O que se quer não sente
E o mundo morre fero.
42
Quem fora colibri
Jardins conhece bem,
E quando quer alguém
Aonde percebi
O todo que há em ti
Desejo assim também,
Mas logo a noite vem
E diz do que perdi.
O parto renegando
O dia segue em bando
Os medos mais diversos,
E nada do que eu tento
Adentra o pensamento
Matando em vão meus versos.
43
Acendo o fogareiro
Pensando na fogueira
A moça não se inteira
Do amor mais verdadeiro
E quando garimpeiro
Encontra o que mais queira
Quem sabe da ladeira
É o tombo costumeiro.
Cerzindo com cuidado
O amor tão delicado
Agora já puído,
O quanto quis em festa
Decerto agora resta
Apenas um ruído.
44
Versando sobre o tema
Do amor que não mais tenho,
Enquanto sou ferrenho
Não quero nova algema
Assim qualquer dilema
Deveras não convenho,
E sei do desempenho
De quem se fez problema,
Amar e ter a sorte
De ter quem me suporte
É tudo o que eu queria,
Portanto não se escuta
A voz sequer astuta
Da mera poesia.
45
Jogado nalgum canto
Da sala ou deste quarto
Amor quando reparto
Deveras desencanto
Pudera e te adianto
No todo sigo farto,
Riscando o que reparto
No fim nada garanto,
Somente a mente mente
E o tempo impertinente
Não deixa qualquer tom
Do riso em festa feito
E quando já desfeito
Luar vira neon.
46
A chuva no telhado
A planta no quintal,
O amor consensual
O sensual pecado,
O risco mal traçado
O tempo bem ou mal,
Falando deste astral
Além iluminado,
Resolvo o que percebo
E quando sou placebo
Ainda curo a dor,
No verso que te faço
Aos poucos cada espaço
Adentro em céu e cor.
47
Soneto ou trova quando
Se é feito em luz suave
Liberta como uma ave
Aos poucos revoando
E nisto me mostrando
Aonde não se agrave
O passo perde a chave
E o mundo desnudando.
Rescaldos deste incêndio
Amor mero compêndio
Em inclemência e sonho,
No canto mais atroz
Ausente em mim a voz
E mesmo assim componho.
48
A moça na janela
O sonho de um passado
Agora exterminado
Perdendo rumo e vela,
O barco não se atrela
Ao canto adivinhado
E sigo outro riscando
Fugindo desta cela,
A porta não se abriu
O amor quis mais gentil
E abril já terminou.
Agora num desmaio
Adentro um novo maio
E nada transformou.
49
Um lírico poeta
Cantor em serenata
Ausente qualquer mata
Aonde se completa?
No bar ou noutra seta
A porta sendo ingrata
Ao longe se arrebata
A fonte predileta,
A lua se escondeu
E o mundo em apogeu
Agora na balada,
A morte embolorada
De quem se quis diverso
Não traz sequer um verso.
50
Romântico bufão
Palhaço da existência
Aonde em inclemência
Procura a solução
Meu verso desde então
No tanto em penitência
Ainda impertinência
Tomando a direção
Encontro timoneiro
O cais além do cais
E sei que nunca mais
O mundo em verdadeiro
Delírio se completa
A quem se quis poeta.
51
Meu canto não alcança
Quem tanto quis um dia
Assim se perderia
Qualquer uma esperança
A vida não avança
E nisto esta agonia
De quem tanto queria
E agora já se cansa.
Vestir outro momento
Aonde mesmo tento
Sentir alguma luz
E sendo tão ingrata
A sorte me maltrata
E nada mais produz.
52
Beijando o vento tento
Chegar devagarzinho
Aonde quis o ninho
E nada em desalento,
O tolo pensamento
Qual fosse passarinho
Voando tão sozinho
Em busca de alimento,
Apenas o vazio
E nele novo estio
Encontro em minha frente
Amor que tanto quis
Agora este infeliz
De mim vivendo ausente.
53
O rio entre as vertentes
Diversas chega enfim
À foz por onde vim
E nisto te apresentes
E quando me apascentes
Florindo em meu jardim,
É falso querubim
A morte traz nos dentes.
Ouvir a voz do vento
E nisto até fomento
Quem sabe a liberdade,
Mas quando ao fim da tarde
O quanto que me aguarde,
Jamais em paz agrade.
54
Percebo após a queda
O quanto ainda havia
De qualquer fantasia
E nisto a sorte veda
Pagar nesta moeda
Com tanta hipocrisia
Já não mais quereria
Quem tenta, finge e seda.
Assédios da ilusão
Eu vivo desde então
E nada satisfaz
Querendo tão somente
O amor que me alimente
E a vida em pura paz.
55
Morena do meu sonho
Aonde se escondeu?
O mundo fora meu
E agora aonde ponho
O barco mais risonho
Que tanto se perdeu
E o cais já esqueceu
Num mar triste e medonho,
Morena quem me dera
Viver a primavera,
Mas vejo o meu inverno,
E todo o pensamento
Ainda além eu tento,
Mas nada neste inferno.
56
A casa de sapé
O sonho de moleque
A vida traz no leque
Ainda um mundo em fé
Quisera ser até
O quanto mais não peque
A sorte feito um beque
Não deixa ser quem é.
Amar e ter assim
O mundo dentro em mim
E ver o sol imenso,
Mas quando em tal neblina
Vazio determina
E no teu beijo eu penso.
57
Aprendo com a dor
Também quem não sabia
Viver a fantasia
É ter um dissabor,
Ausente qualquer flor
Aonde plantaria
A paz do dia a dia
E nisto recompor
O mundo nega a luz
E tanto reproduz
Apenas solidão,
Meu verso não traduz
O quanto a ti propus,
Ouvindo o mesmo não.
58
Cadenciando a vida
Em paz ou mesmo além
Do quanto ainda tem
E traça outra saída,
Apenas despedida
E nisto sei tão bem
Do amor que sem alguém
É sonho e não duvida.
O ritmo deste canto
No quanto me garanto
Espanto a solidão,
Mas tanto quis diverso
Caminho para o verso
Sem cordas, violão.
59
A boca sensual
O corpo nu na cama,
Enquanto a vida chama,
O drama é sempre igual,
Apenas no final
O tempo não reclama,
A sorte de quem ama
É sempre outro degrau
Na escada desta vida
Aonde descaída
A lua já não brilha,
O marco mais audaz
E nele não se traz
Sequer qualquer partilha.
60
Acaso se viesses
Verias os meus medos
Em dias tanto ledos
E neles sem as messes
Porquanto vagos teces
Aonde quis enredos,
Somente estes degredos
Agora me ofereces.
Não tendo outra visão
Da vida em solução
Semente apodrecida,
O solo mais agreste
E nele tu vieste
Marcando a minha vida.
61
O verso em tal soneto
Aonde quis a prova
Do amor que não comprova
E nele me arremeto
Neste erro que cometo
A lua nunca é nova
A sorte não renova
A trova em poemeto.
O pântano desta alma
Já nada mais acalma
Imenso lamaçal,
Assim perdendo o rumo
Se nada em mim resumo
O risco é sempre igual.
62
Parâmetros diversos
Medindo o desmedido
Caminho percebido
Em dias mais dispersos,
E sei dos universos
Aonde presumido
O rumo pressentido
Traduzo em poucos versos,
Resumos de outro sonho
Enquanto não componho
Sequer mais um segundo
Vagando pelo mundo
O quanto te proponho
Jamais dele me inundo.
63
Vestindo a fantasia
Deste histrião que sou
O quanto se negou
O mundo mudaria?
Quem sabe qualquer dia
Ou mesmo o que restou
E nisto sei e vou
Beber desta alquimia
E quero a panacéia
E tendo nova idéia
Acordo o que dormira
Depois de tantos anos,
São novos desenganos,
Herdados da mentira.
64
Abrindo esta janela
Do peito em tempestade
O frio quando invade
A sorte se revela
E sei que nesta tela
O tom já se degrade
E o risco em realidade
Aos poucos diz da cela,
O manto não se faz
O gozo mais audaz
Jamais eu conheci,
O amor que fora tanto
Agora em desencanto
Deveras, eu perdi.
65
Não pude e nem quero
Sentir novo caminho
Se eu sigo até sozinho
Assim sou mais sincero,
Vestindo o que inda espero
Um dia mais mesquinho
Por onde eu adivinho
O mundo duro e fero,
Marcando com a fúria
Gerando outra lamúria
Penúria de quem tenta
Sentir outro momento,
Mas quando a sorte invento
Só resta esta tormenta.
66
Servir como puder
A quem já não mais quis
Sequer ser aprendiz
Do gozo se vier,
No corpo da mulher
A velha cicatriz,
Porém o chamariz
Desvenda o que se quer,
Restauro em ar sombrio
O quanto desafio
E nada mais contenta,
Restando esta promessa
Aonde se tropeça
E a face é mais sangrenta.
67
Aplaudo a cena quando
O risco se mostrasse
Na verdadeira face
Do sonho se mostrando
Reúno e vejo brando
O peso deste impasse
Ainda que desgrace
O corte se notando,
A cicatriz no fim
Dizendo de onde vim
Expressa em oração,
Amar e ser feliz,
Quem sabe o que já fiz
Não vê mais solução.
68
Serpente na verdade
Já não resume o medo,
O gozo em arremedo
A sorte que degrade
O tempo em tempestade
O dia onde concedo
O amor que no segredo
Jamais a sorte invade,
Respiro e tento até
Seguir quem quis ou é
A redenção e a dor,
Assim no quarto escuro
E gélido eu procuro
Em ti qualquer calor.
69
Além do medo eu tenho
Certezas que traduzo
Num passo mais confuso
Aonde sei do cenho
E nele desempenho
O quanto mais abuso
Do risco de outro fuso
No tempo em que desenho.
Escassas sortes vejo
E quando este desejo
Expressa outro cenário,
O amor que tanto outrora
Agora não demora
E muda o imaginário.
70
Peçonhas entre risos
Assim te traduzi
E sei do quanto em ti
Infernos, paraísos
Ou dias imprecisos
E nisto me perdi,
Restando o que aprendi
Diversos prejuízos.
Restauro enquanto posso
Um mundo que foi nosso
E agora não mais cabe
No peito do poeta
A sorte se deleta
E o mundo já desabe.
71
Procuro algum caminho
Aonde possa enfim
Mostrar o que há em mim
Se tanto andei sozinho
E sinto mais mesquinho
O mundo sem jardim
E nele vejo o fim
Enquanto em desalinho.
Resisto o mais que posso
E sei que sou destroço,
Mas tento a solução
Meu verso se embotando
O mundo desde quando
Eu sempre o vira vão.
72
Não pude acreditar
Nas tramas mais diversas
Aonde desconversas
E tentas procurar
O raio de um luar
E nele também versas
Ao encontrar dispersas
As rendas deste amar,
Acordo e nada tendo
Apenas sou adendo
Do sonho e nada mais,
E quando quis promessa
Meu passo em vão tropeça
Em mundos siderais.
73
No peso que se enverga
Nas costas de quem ama,
O medo dita o drama
E nada mais se enxerga,
O corpo não alberga
Sequer o quanto em chama
A vida diz e clama
Além do que já se erga.
Presumo o sumo enquanto
O passo eu adianto
E sei da queda além,
Do amor que tanto quis
Apenas aprendiz
Caminho me retém.
74
Escarpas que escalara
Na busca pelo sonho
E quando me proponho
Além da noite clara
O verso desampara
E nele não componho
Sequer o mais bisonho
Do quanto se prepara,
Separo então meu passo
E quando me desfaço
Cansaço me tomando,
Aonde quis morena
A morte toma a cena
E o mundo molda o infando.
75
Esdrúxula sonata
Aonde quis ouvir
O canto do porvir
E nada se retrata
Somente a fúria ingrata
A morte que há de vir
O tempo a presumir
O corte onde maltrata
A manta destruída
Traduz a minha vida
E dela não mais vejo
Sequer a menor messe
No quanto se obedece
Apenas mero ensejo.
76
Espreitas e tocaias
Assim são as verdades
E nelas tu degrades
Enquanto além me traias
E sinto que desmaias
E nestas realidades
Vagando em vãs saudades
Os olhos noutras praias,
Mergulho neste abismo
E quando tento e cismo
Batismos fogo e fera,
O prazo determina
O fim da minha sina
E o todo destempera.
77
O tolo sonhador
Profético palhaço
Enquanto me desfaço
Procuro novo amor,
E sei da falsa cor
Aonde ledo espaço
Deveras teimo e traço
Buscando o redentor.
Ainda que em remendo
O novo percebendo
Eu tento amanhecer,
Mas quando a lua esconde
O tempo perde o bonde
E sinto esmorecer.
78
Repare nas estrelas
E nas estradas tantas
E quando além encantas
Somente por revê-las
Não pude concebê-las
E nisto já te espantas
As sortes que quebrantas
As ânsias em contê-las,
Espaços onde outrora
A sorte desancora
E doma novo rumo
O prazo determina
O fim e seca a mina
Aonde me consumo.
79
Bisonho trovador
Nas tramas mais tardias
Pudesse em alegrias
Falar do meu amor,
Mas quando a recompor
Já nada me trarias,
Senão ledas sangrias
Perdendo qualquer cor.
E assisto à derrocada
Depois de tanto nada
Da vida em falsa luz,
E o medo se aproxima
E muda logo o clima
Enquanto ao vão conduz.
80
Acréscimos não creio
E sei que já termina
Assim a vida ensina
E nela sem receio
Seguindo cada veio
Procuro a minha sina
E tudo determina
O rumo quase alheio,
Vestindo a fantasia
Que tanto me cabia
Apenas vejo o fim
Sedento navegante
A morte se adiante
E trama outro jardim.
81
Rescaldos de outras eras
Somente minha herança
E o tempo sempre avança
Enquanto a sorte esperas,
Seguindo tais esferas
No fundo por vingança
A sorte sem fiança
As horas são as feras,
Esgoto o verso em lua
E a moça outrora nua
Agora já não vejo,
Acordo e nada tendo
Apenas este adendo
Atroz de algum desejo.
82
Cerzira uma alegria
Aonde não mais tenho
Sequer o olhar ferrenho
De quem tanto eu queria,
O mundo é fantasia
E nisto tanto empenho
Palavra que detenho
Enquanto o tempo esfria,
Mordendo sempre esta isca
Quem tenta sempre arrisca
E perde ou mesmo ganha,
Assim no que talvez
Ainda mesmo crês
Que o vale quer montanha.
83
Não vejo mais quem tanto
Quisera no passado
O dia desenhado
E nele já me espanto
Enquanto torpe manto
Há muito destroçado
O corte anunciado
O medo dita o pranto,
Restando da promessa
O passo que tropeça
E a queda e nada mais,
Depois de tantos dias
Enquanto me querias,
Agora eu sei jamais.
84
Viola sertaneja
Um peito enamorado
Os dias do passado
A sorte benfazeja
E nada mais se veja
Senão lançando o dado
O medo desenhado
Na voz de quem almeja,
O passo, o preço, o poço,
O todo dita o fosso
Por onde entranho e sigo
No canto mais audaz
A sorte não mais traz
Qualquer sinal de abrigo.
85
Um gole de café
Um pedaço de broa,
A vida segue à toa
Na busca pela fé
Do quanto sei quem é
Quem segue e não revoa,
Enquanto além ecoa
Eu sigo mesmo a pé,
O risco não se mede
No quanto se concede
Do amor que mais anseio,
E sinto em claridade
O dia quando invade
E toma inteiro o veio.
86
Morena perfumada
A vida não se escusa
E quanto mais confusa
Gerando o mesmo nada,
Traduz a velha estrada
E nela sempre abusa
Por vezes mais obtusa
Ou sempre alvoroçada.
Resplendorosamente
A vida também mente
E nega outro caminho,
Porquanto sonhador
Em sonho medo e dor
Prossigo então sozinho.
87
Apenas quis um dia
E nada mais que o fato
De ter neste regato
Além desta magia
A sorte bendizia
E nisto me resgato
Porquanto já maltrato
Quem tanto me queria.
Ouvindo a voz do peito
Jamais vou satisfeito
Apenas caminhando
Não tendo desde quando
Um rumo ou outra cena,
A vida se envenena.
88
Colhendo cada fruto
Do tempo que cevaste
O amor em tal contraste
Deveras não desfruto
E sei do olhar astuto
Que tanto me negaste
E neste vão desgaste
O corte é sempre bruto,
Escuto quem pudera
Trazer a primavera,
Mas traz somente o outono,
O manto já desfeito
O amor quando me deito
Reclama apenas sono.
89
Tirando a roupa agora
Morena sensual
Em sol, suor e sal
O todo me devora,
No fundo quando aflora
Caminho magistral,
A noite em sideral
Desenho nos decora,
Mas logo em voz sombria
A vida me traria
Somente a solidão,
Semente do passado
Do tempo imaginado
Apodrecido grão.
90
Mecânicas diversas
Gerando esta engrenagem
E quando foi miragem
O quanto além não versas,
Apenas desconversas
E trazes a barragem
Negando uma ancoragem
Às ondas mais dispersas.
E tento enquanto posso
Caminho de um destroço
Em falsa claridade,
E o tempo não se trama
Além da mera chama
Que agora nos invade.
91
Ninguém jamais esqueceria quem
Durante tanto tempo fora audaz
E quando a realidade à vida traz
O sonho se transforma e tudo vem
Retorno do passado e sem desdém
O canto de outro tempo satisfaz
Por mais que seja até torpe e voraz
O conto se renova e diz do bem
Que um dia o mar levara para quando
Em outro caminhar se desenhando
Ou novo pensamento dita o rumo,
Porquanto ser feliz até mais quero
Depois de tantos anos, sou sincero
O renovar de uma alma eu não resumo.
92
No imenso simulacro aonde aporta
Esta alma desenhada em falsa cor
Gerando a cada ausência um novo andor
Mantendo sempre aberta a velha porta,
O quanto do meu ser já não comporta
O rumo deste vago sonhador,
Pudesse então deveras recompor
A imagem que carrego ainda morta,
Mereço pelo menos outra chance?
Aonde no vazio o passo avance
Queria ter somente algum degrau,
Caindo em realidade a tez sombria
Do sonho ainda vivo me traria
A morte como um claro e bom final.
93
Em pedaços restando o que de fato
Há tanto consistira na esperança
O medo a cada ausência mais avança
E nele o meu passado em vão resgato,
O quanto do meu ermo em ti retrato
E sinto perpetrando a dura lança
Gerando novo passo em tal fiança
A morte se servindo em fino prato.
Esbarro nos cenários mais atrozes
E busco retumbar em mim as vozes
De tempos onde cria ser feliz,
Mas nada do que posso perpetuo,
O quanto solitário quis um duo
E a vida noutra face nunca quis.
94
Crepita dentro em mim a brasa acesa
De um velho sentimento resguardado
Nos antros dos meus erros, desenhado
Enquanto deste fato inda sou presa,
A vida se prepara sobre a mesa
E diz do velho cheiro já mofado
Do gozo de um momento do passado
E nele se perdera a correnteza,
O tempo assiduamente me respinga
E o barco não encontra na restinga
Um porto aonde possa se ancorar,
Ausente deste sonho a solução
Somente me restando a solidão
Deitando insanamente em turvo mar.
95
Romeiro da esperança em vaga senda,
O velho coração já não avança
E quando se queria bem mais mansa
A vida na verdade não entenda
E cada passo alheio ora desvenda
A firme decisão de outra mudança
Aonde quis outrora uma aliança
Amor se transformara em mera lenda,
Arcando com enganos ancestrais
Desejo desvendar em dias tais
Ao menos o resgate do que há tanto
Pensara ser possível, mas não vejo
E o tempo não mais sendo benfazejo
Desfilo o meu caminho em desencanto.
96
Atrozes caminheiros em cenários
Diversos do que tanto imaginaste,
A vida se transforma e sem uma haste
Os passos sempre foram temerários,
Os antros mais sutis, desnecessários
Os corpos em que vejo o meu desgaste
E neste caminhar não me legaste
Sequer desejos mansos, solidários.
Resguardo-me no fim e apenas veio
O sonho como fosse um passo alheio
Ao quanto perfilara em luz tranquila,
Minha alma se esvaindo em tão pouco
E quando tento um cais, pois me treslouco
E a fúria dentro em mim, o medo instila.
97
Sobre os barrotes podres da esperança
Tentara construir o meu castelo,
Mas quando a realidade em vão revelo,
O manso caminhar já não se alcança.
Da vida que buscara em temperança
Apenas um delírio embora belo
E nele o meu desvio enquanto selo
O risco de sonhar ao nada lança.
O passo enfileirando a queda e o medo
E quando algum alento inda concedo
O senso se perdendo em luz sombria,
A casa já se vendo desolada,
A face noutra insânia retratada
Somente este final me restaria.
98
Arrasto-me aos meus erros e prevejo
O fim em discordância dos meus passos,
Os dias entre tantos, meros, baços,
O olhar se perpetrando malfazejo,
Aonde quis um dia em azulejo
Os ritos se transformam, velhos laços
E os gestos traduzindo ermos lassos
E neles sem saber teimo e trovejo.
Perpetuando em mim a dura algema
A vida se transborda e sempre tema
Um fato que comprove a decadência,
Pudesse adivinhar qualquer caminho,
Mas quando me percebo mais sozinho
Do todo imaginário, mera ausência.
99
Imaginando apenas este olvido
No qual eu precedera o passo em vão
E assim ao me mostrar o turbilhão
Há tanto noutro fato presumido,
Resvalo cada sonho em tal sentido
E bebo a mesma amarga ingratidão,
Respinga dentro em mim a maldição
Tornando inconcebível a libido.
Esgares desta vida em tom aflito
E quando alguma luz eu necessito
Apenas se espelhando em mim a treva,
O quanto em tal disfarce nada trago
Dos ermos de minha alma, mero afago
E a pútrida semente o sonho ceva.
100
Rincões mais odiosos de minha alma
Apenas são reflexos, nada mais,
E vejo desde sempre os terminais
Caminhos onde a morte teima e acalma
O quanto da verdade dita o trauma
E nele se percebem vãos cristais
Os dias se repetem tão iguais
E deles reconheço cada palma.
O manto consagrado em fé pudera
Apascentar quem sabe esta quimera,
Mas nada se apresenta e sigo alheio
Aos fatos onde creio mais sinceros,
Porém os ermos; trago em sensos feros
E a vida não responde ao que ela veio.
41601 até 41700 solidão
Pudesse acreditar noutra faceta
Diversa da que e a vida me mostrara
Na dor incomparável se prepara
O mundo presumindo esta falseta
Aonde cada passo se arremeta
Trazendo a falsa luz de uma seara
Porquanto a própria vida desampara
Negando os meus delírios na incompleta
Visão que aos poucos vejo e se cometa
Na farta sensação onde escancara
O passo rumo ao fim refaz a história
E trama no vazio o que a memória
Pudesse pelo menos esboçar,
Cansado desta luta aonde a sorte
Deveras no final não nos conforte
Apenas o vazio a se mostrar.
2
Em meio aos devaneios que em verdade
Transcendem ao que fosse outro delírio
Da vida feita em dor, medo e martírio
No fundo cada passo já degrade
Quem tanto percebeu felicidade
Nesta promessa feita em reza e círio
Sem nada que decerto ora retire-o
O espinho dentro da alma agora invade.
Ocasos são comuns a quem pudesse
Acreditar talvez em tal benesse
Errático vagar na noite espúria
Não resta quase nada de quem tanto
Vestira a falsa luz e te garanto
Somente entre os enredos da penúria.
3
Um miserável sonho do poeta,
Em trevas e terríveis dissabores
Seguindo as emoções fossem andores
A morte a cada ausência se completa
A farpa traduzindo a predileta
Seara aonde quer que tu te fores
Negando com certeza alguns albores,
A quem tal fantasia gera a meta.
Estradas convergentes. Nada disto
Ao ver o meu retrato em tal contraste
Percebo a dor diversa que legaste,
Porém insanamente inda resisto.
4
A vida, esta comédia de um bufão
Apenas representa o quanto pude
Ao menos no meu passo audaz ou rude
Os dias se repetem, mesmo não,
E vendo a denegrida servidão
Porquanto uma alma perde a juventude
E tenta noutro rumo o que amiúde
Expõe diversa trama, indecisão.
Esgarces são comuns a quem porfia,
E o medo se transcorre dia a dia
Gerando após o sonho, a tempestade.
E a morte me açodando não permite
Que eu veja além de um vago e vão limite
Enquanto a dor deveras me degrade.
5
Numa manhã tão rara e esplendorosa
O olhar se perde além e nada vendo
Somente este vazio e vão remendo
De uma alma dolorida e caprichosa
Restando muito pouco ou quase nada
A sorte se perdendo sem adendo
O manto no vazio revertendo
O quanto imaginara nova estada.
Escusas não resolvem nossos erros,
Tampouco quero mais que estes desterros
Aterros da esperança, morte e cruz,
Certezas mais doridas se percebem
E os olhos no vazio não concebem
Senão este cenário em que me pus.
6
Sucumbes ao eterno movimento
Da vida pela vida e nada mais
Embora em teus caminhos os cristais
São meras ilusões de um pensamento,
No quanto a cada passo o alheamento
Transforma em tais momentos terminais
Os ódios excrementos entre os quais
Por vezes inconstante eu me alimento,
O nada que decerto agora vês
E nele o quanto possa ser diverso
Regendo a mesma lei deste universo
Aonde impera o medo e a sordidez,
Não vendo qualquer brilho, a vida nega
Qualquer luzir a quem tem a alma cega.
7
A lei universal regendo a história
E nada mais se vendo além do fato
Aonde vez por outra eu me retrato
Tentando vasculhar tosca memória,
A imagem refletida e merencória
Traduz o caminhar em tom ingrato
Trazendo a negação a cada prato
Qualquer aceno além traduz vitória.
O marco mais audaz da leda vida
Expressa a noite enquanto dividida
Por várias e estrelares discordância
Se enfim há claridade, então alcance-a
E o tempo seja mais suave e manso,
No vago desenhar onde me lanço.
8
Eternizando o risco em farto gole
Esboço a face espúria de um alento
Enquanto noutro instante desatento
A vida sem defesas já me engole
E quando a solidão assim assole
Traçando o que pudesse ou mesmo tento,
Restauro com meus erros e me incremento
A pedra não resiste em água mole
Pereço enquanto posso e não percebo
Sequer esta visão, medonha e tosca
Numa ácida ilusão caminho e bebo
O risco mais atroz ou inerente,
Vestindo o que pudera a vida fosca
Mudando este cenário plenamente…
9
Voltaste ao mesmo errático caminho
Estrela em noite imersa, vaga além
Do quanto amor decerto inda contém
No fato mais herético e daninho,
Sementes solapadas, mero espinho
No olhar enamorado, o vão desdém
De quem se procurara e já não vem
Tentando ao menos crer, beber tal vinho.
Vinhedos destroçados, a aridez
Resume o quanto pude e já desfez
O tempo em variante discordância
Esbarro nos meus vagos dissabores
E sei que não tendo mais albores
O corarão procura noutra estância.
10
Seguir as várias sendas da ilusão
E ter no olhar imersa a dor que trago
Enquanto no vazio enfim me alago
Restando noutro encanto, a direção
Jamais aprumaria desde então
O passo em ritmo vário e sinto o estrago
Causado pelo medo e o canto vago
Traçando em desespero a negação.
A morte demoníaca figura
Edênico castigo se traduz
Na eternidade enquanto em contraluz
A podridão deveras assegura
A branda e resoluta realidade
No passo aonde a vida se degrade.
11
Em procelosa senda se desfaz
O quanto de este etéreo caminhar
Precede ao mais diverso desejar
Mesquinharia às vezes dita a paz.
E o vago desenhar em noite audaz
Expondo a podridão a desnudar
A vida se repondo e sem notar
O tanto noutra face se refaz.
A morte em tal verdade nos redime
E quando se aproxima mais sublime
Realça o que tu queres, ser eterno.
Não temo no apagar das luzes nada
Nem mesmo a mansidão já desenhada
Na face mais escusa deste inferno.
12
Esplendorosa tarde em tom diverso
Daquele que eu pudera desde quando
O manto destroçado se mostrando
Num árido delírio em vago verso,
Pudesse desenhar tal universo
Aonde o meu caminho desenhando
Em ar deveras turvo ou mesmo brando,
Mas sinto o quanto possa estar imerso
No pântano desta alma aonde outrora
Cerzindo o meu caminho nada aflora
Sedento e destemido enquanto rude,
Viver outro cenário mais atroz
Tomando em discordância a minha voz
No canto que amortalha enquanto ilude.
13
Aspérrimo caminho aonde entranho
Meus passos em diversa tentativa
A vida não traz mais prerrogativa
E dita cada passo desde antanho,
O quanto poderia ser um ganho
E nele na verdade nada viva
Viceja a tempestade onde se priva
O sonho que eu buscara em ar tamanho.
Heréticos fantoches, meu retrato
E quando nesta face eu me arrebato
Esgoto qualquer luz que ainda houvera,
Depois de tantos erros cometidos,
Os passos noutros ermos presumidos
Alimentando em mim a viva fera.
14
Em árduas formas vejo esta verdade
Resisto enquanto posso, mas ao fundo
Enquanto na verdade me confundo
Apenas o vazio ainda invade.
Certeza sobreposta à falsidade
Vislumbro na penumbra o olhar imundo
E tanto vago aquém neste submundo
Buscando inutilmente a claridade.
A morte talvez surja como um cais
E possa finalmente em funerais
Trazer a redenção que tanto busco,
No olhar mais traiçoeiro este festim
Banquete traduzindo ao que ora vim
Num ato em calidez, mas duro e brusco.
15
Helênicos caminhos do passado
Traduzem desvarios que ora vejo
Na face mais sutil de algum desejo
O mundo se transforma em velho fado,
O sangue inutilmente derramado,
A sorte se apresenta em vário ensejo
E neste caminhar tanto dardejo
O canto como fosse um hino, um brado.
Heróicos desenhares, tradução
Da mesma face exposta em podridão
Cenário repetindo em tom igual,
A fera impertinente, humanidade
Demonstra o olhar dorido onde degrade
Desenha a liberdade em funeral.
16
Diversas hostes dizem desta luta
Aonde o dia a dia se traduz,
No quanto imerso em dor, temor e pus
A fúria a cada instante não reluta
E bebe e se sacia enquanto bruta
Na morte a redenção em vária luz
Não quero nem inferno nem a cruz,
A sorte por si só se mostra astuta.
No prazo onde o viver se determina
A podre face expondo a nova mina
Na fonte renovável se retrata
O quanto pouco somos, senão isto
E quando noutra face inda resisto
Verdade se desnuda, sempre ingrata.
17
Ao retirar do olhar uma esperança
A guerra se prepara neste instante
Enquanto este vazio se agigante
{a fúria sem igual o corpo lança,
E assim aonde houvera a temperança
Somente o desdenhar já se adiante
E mostre noutra face o degradante
Caminho feito em dor, sangria e lança
No quanto a concessão permite a paz
E o caminhar mais manso ora se faz
Nas tramas onde o passo se permite
A liberdade dita em sanguinário
Caminho muitas vezes temerário
Por vezes sem saber qualquer limite.
18
No déspota se mostra a estupidez
E vejo quanto mesmo é mais sombrio
O vândalo delírio em desafio
Aonde a própria história assim se fez,
O rústico cenário da altivez
E nele com certeza aqui desfio
Sabendo quanto é turvo algum desvio
Embora noutra face tu te vês.
Arcar com ledos erros e sentir
O quanto molda a vida no porvir
Festiva ou mesmo inglória realidade
Mortalha tece um ar de plenitude
Que tanto quanto doma nos ilude
No espúrio caminhar à liberdade.
19
Tropéis diversos levam mais distantes
Os sonhos quase herméticos de quem
Sabendo do vazio sempre vem
Buscar nos ermos solos, diamantes,
E quanto deste errôneo tom garantes
Gerando da esperança este refém
O caos se desenhando aonde vem
Dispersos caminhares galopantes.
Rescaldos tão diversos restam quando
Iluminando os antros com as sombras
E neste nada ser tu tanto assombras
Enquanto vejo o mundo desabando
Deidades perfiladas entre os vários
Resumos de momentos onde um dia
Pudesse acreditar em tais cenários,
Mas vejo o quanto a sorte enfim se adia.
20
Vendetas entre festas quase orgásticas
Ao burilar disforme realidade
O templo se desnuda e à saciedade
Imagens dolorosas e sarcásticas
No fausto em que se mostram as fantásticas
Imagens onde a vida sempre brade
Um bardo se tomando em liberdade
Vagando pelas dores, vagas, drásticas.
Resguardo o quanto posso, mas no fundo
O medo aonde em tal delírio inundo
Meu prazo se termina enquanto vejo
A face desdentada e até sombria
Da morte onde deveras soerguia
Aquém de qualquer messe um vão ensejo.
21
Esboço o caminhar
Em antros que carrego
E sigo mesmo cego
Na busca de um luar
Aonde retratar
Reflexo de algum ego
E nele não me entrego
Senão ao desenhar
De um vasto e tolo passo
Por onde quer que traço
Resumos são iguais
Vencido pelo tempo
A cada contratempo
Desenho os funerais.
22
Arisco no que eu possa
Trazer em verso ou medo
E quando além concedo
Sorriso ou mesmo a fossa
A sorte não endossa
O manto em que o degredo
Vestira desde cedo
A morte quando endossa
O riso ou pranto ou nada
A marca desenhada
Na face mais cruel,
Resulta do que fora
Uma alma sonhadora
Vagando sempre ao léu.
23
Aprendo com a sorte
Deveras traiçoeira
E bebo a derradeira
Noção que trace o aporte
E vejo o quanto o norte
Resvala em verdadeira
Imagem onde eu queira
Apenas crer na morte
Que tanto desejara
Em noite dura e amara
Vestindo esta promessa
Do pranto que se traz
E nela sendo audaz
A vida recomeça.
24
Meu canto se desdisse
Na face deste sonho
Aonde recomponho
Embora em tal tolice
O mundo diz mesmice
E o vasto vão medonho
No quanto sou tristonho
Além do que predisse
A sorte transmitida
Nos ermos desta vida
Vencida pelo engodo,
O quanto quis um dia
Melhor e não teria,
Senão a lama e o lodo.
25
Aprazo o verso em luz
E o corte me trespassa
E assim cada fumaça
Deveras reproduz
O olhar em gozo e pus,
E a vida alheia passa
Restando o quanto traça
Gerando enfim a cruz,
Não pude e não devia
Saber que a poesia
Talvez trouxesse alento.
A porta já trancada
A sorte desolada
Diversa da que invento,
26
Vestindo o meu lamento
Aonde tanto pude
Sentir a plenitude
e agora me atormento
apenas um momento
em voz ou atitude
no pântano que ilude
o risco em vão fomento.
No passo rumo ao tanto
Por onde me adianto
E sei da queda e abismo,
Vagar entre as escórias
Trazendo nas memórias
O vago aonde eu cismo.
27
a terra sem defesas
o marco em dor e medo,
aonde me concedo
deveras sem surpresas
percorro as incertezas
e sigo sem segredo
no tolo desenredo
e nele estas grandezas.
Acerca do que somos,
Diversos, unos gomos
Metades incompletas
Assisto ao fim e mudo
O canto ou mesmo mudo
Em ânsias me repletas.
28
jazendo sob a terra
herdade que me resta
a face mais funesta
deveras ora encerra
o berro, a queda e a serra
aonde houvera fresta
o parto não se empresta
e a vida ora desterra
além de qualquer brilho
porquanto em vão eu trilho
descréditos se vendo,
o amor jamais contive
e o pouco onde retive
não passa de um remendo.
29
fremindo a liberdade
no peito em ânsias feito
resgate onde deleito
esta aura que degrade,
o risco em ansiedade
a morte no seu pleito
enquanto insatisfeito
o sonho em dor invade.
Gerenciar promessas
E nela se endereças
Buscando um novo fato,
A marca mais audaz
Que tanto invade e traz
Decerto em ti resgato.
30
por certo vingador
dos tantos mais sombrios
alheio aos desafios
encontro enfim a dor,
e neste vão louvor
passando em ermos fios
precedo meus estios
tentando além a flor.
Primaveril cenário
Aonde temerário
Jamais eu pude ver
Senão a mesma face
Da dor e quando a grasse
Encontro o desprazer.
31
donde vem este engano
há tantos que não sei
o quanto poderei
rever um velho plano
e quando assim me dano,
resumo a dura grei
nas tramas que tracei
e nela sigo insano.
Apresentando ao fim
O sonho de festim
Qual fora redenção
Nos pântanos desta alma
Apenas o que acalma
Meu sonho em remissão.
32
e quando vês no olhar
de quem se fez presente
um prisma iridescente
aonde caminhar,
não vejo mais lugar
nem luz que me apascente
o pranto em penitente
delírio a desenhar
o risco mais agudo
e assim se não me iludo
enfrento o que inda tenho,
o marco já desfeito
o sonho não aceito
um ar turvo e ferrenho.
33
os bárbaros caminhos
aonde um dia entrara
que tendo esta seara
em meio aos tais espinhos
percebo quão mesquinhos
os rumos, vida ampara
quem tanto procurara
enfim outros carinhos,
arcar com medo e dor,
sentir e não se opor
ao quanto ainda atesta
o corarão servil,
aonde se previu
o fim de qualquer festa.
34
a liberdade opressa
o canto mais dorido,
e o vento percebido
aonde a dor se teça
e nada se obedeça
sementes deste olvido
o passo resumido
a vida sempre avessa.
Se eu peço alguma luz
O nada reproduz
O que esta alma continha,
A morte se aproxima
E torna em tosca estima
A que inda fosse minha.
35
inspira confiança
o passo rumo ao nada
e sei da desolada
loucura que me alcança
a noite não se amansa
e mata esta alvorada
aonde ensolarada
resiste uma esperança
apreços e desprezo
o quanto sigo ileso
ao tanto temporal,
os vastos campos vejo
e a cada novo ensejo
o dia [e sempre igual.
36
os dias são tiranos
e nada além do quanto
pudesse e até garanto
em vastos desenganos
os dias mais profanos
e neles o quebranto
enquanto além me espanto
ultrapassando os anos
não quero outra certeza
senão a mesma mesa
e nela esta iguaria
repasto repartido
negando algum sentido
aonde nada havia.
37
memórias tão antigas
de tempos quando eu pude
vencer a magnitude
e nisto não consigas
sentir as mãos amigas
e nelas já se ilude
o sonho mesmo rude
em meio às tantas brigas,
castigos são constantes
e neles me adiantes
a queda enquanto luto,
partindo para o nada
marcando a velha estrada
porquanto siga astuto.
38
a vida em tal pujança
pudesse ter além
do olhar por onde vem
o medo que me alcança
o risco em tal fiança
o manto no desdém
vagando quando tem
o corte que se amansa,
alheio ao que inda venha
a noite mais ferrenha
expondo em dor e prece,
o corpo se transforma
e toma qualquer forma
na qual o medo tece.
39
uma incontida fúria
testemunhando a queda
assim a vida veda
além desta penúria
e bebo desta injúria
enquanto o sonho seda,
arisco passo enreda
nas tramas da penúria.
E o vento que trouxera
Al[em paz e quimera
Agora nada diz,
O marco em discordância
O amor em tal instância
Um dia em cicatriz.
40
memórias ancestrais
de tempos onde antanho
o mundo mais estranho
negando os rituais
quebrando os meus cristais
e quando além me entranho
percebo o ledo ganho
em trevas, vendavais.
Avais que eu procurava
Adentro em fogo e lava
Vulcânica verdade,
No amor ou na promessa
O passo se confessa
Enquanto o nada invade.
41
uma alma emudecida
em frente aos tantos fatos
por vezes mais ingratos
a sorte suicida
a morte doma a vida
e diz destes retratos
gerando em torpes atos
a face carcomida
da próxima mortalha
aonde já se espalha
o olhar sem rumo e nexo,
o tanto quanto resta
traduz a tez funesta
apenas meu reflexo.
42
a mente diz ainda
dos sonhos mortos, quando
o dia se moldando
além nada deslinda,
o canto já se finda
em nada transformando
meu rumo se inundando
aonde o vão se brinda.
Escuros dentro da alma
A dor que ora se acalma
Traduz o nada em mim,
Restaurações diversas
E nelas vejo imersas
As luzes de um festim.
43
encerra medo ou pena
quem tanto quis um dia
aonde se veria
o sonho onde se acena
a vida inteira e plena,
porém em ironia
o corte moldaria
a face mais serena.
Ouvir a voz do vento
E neste envolvimento
Sentir outro começo
O amor que tanto eu quis
Gerando a cicatriz
Marcada em adereço
44
por esta minha terra
depois de tantos anos
em meios aos desenganos
o canto já descerra
paisagem onde a serra
traduz os velhos planos ,
mas rotos meros panos
meu ciclo aqui se encerra.
Esboço luzes quando
A noite se nublando
Traduz grisalhos tons,
Das esperanças ledas
O quanto me conceda
Reflete amargos sons.
45
resisto contra o fado
que sei não mais meu poupa
e quando noutra roupa
o mundo destroçado
o peso da esperança
sobreposto nas costas
além do quanto gostas
o mundo não me lança
esgarço em poesia
o tanto que inda tenha
a noite mais ferrenha
jamais se mostraria
diversa da que agora,
ao longe em dor se aflora.
46
um campo mais hostil
aonde nada colha,
o sonho em torpe bolha
aos poucos se partiu
e quando dividiu
sem Ter sequer escolha
ao nada se recolha
e mostre a face vil,
cerzir uma pujante
verdade que agigante
ou mesmo um passo alheio,
no tanto ou no tão pouco
o quanto sigo louco
traduz o antigo veio.
47
servil caminho eu sigo
e tento nova trilha
aonde se polvilha
cevando joio e trigo,
buscando aqui contigo
o sonho compartilha
e gera esta armadilha
descreve o desabrigo.
Opaca noite enquanto
Ainda busco e canto
Tentando nova sorte
Meu rumo se trouxera
No olhar em tola espera
Sem nada que o conforte.
48
um inimigo império
no olhar que não reluta
a força imensa e bruta
o passo sem critério
olhando em tal mistério
a luz por mais astuta
enquanto esta alma luta
na face vexatória
de quem busca a vitória
e nada mais descreve
em torpe consonância
a vida em desde a infância
deveras sei ser breve.
49
submeto o meu reinado
aos tantos dissabores
e mato as raras flores
num tempo desolado,
e sinto já traçado
e sem sequer te opores
o quanto em redentores
delírios diz o fado,
massacro com engodos
os dias, tantos, todos
herdando este vazio
e nele apenas isto,
o fato em que resisto
porquanto desafio.
50
excita-me o saber
do fato aonde possa
vencer a dura fossa
e Ter onde colher
o sonho em vão prazer
e quando a vida endossa
e nada mais se apossa
senão ausência em ser
ao menos transparente
e quando me apresente
aquém do quanto quero
o olhar atocaiado
o riso desolado,
o gozo duro e fero.
51
eu não falarei mais
das mortas primaveras
aonde destemperas
em torpes funerais
e os tantos vendavais
gerando em si as feras
nas quais somente esperas
os ritos terminais,
ausento dos meus olhos
jardins e sei de abrolhos
aonde eu quis florida
seara mais feliz
e o tempo contradiz
negando a própria vida.
52
na janela fechada
das tolas esperanças
as noites quietas, mansas
a doce madrugada
agora ditam nada,
e nelas tu avanças
em meio às vãs pujanças
matando outra alvorada
a sorte não traduz
sequer a mansa luz
por onde eu poderia
em pleno inverno da alma
trazer a voz que acalma
gestando um novo dia.
53
o sol já não conhece
as frestas onde outrora
na face que decora
gerasse este benesse,
e quanto a vida tece
a fonte sem demora
o mundo desarvora
não resta medo ou prece;
somente esta certeza
da fera feita em presa
surpresas de uma vida
em passo reticente
o nada se apresente
enquanto o sonho acida.
54
os céus tão azulados
da infância mais distante
num dia degradante
mudando assim traçados
permitem nos legados
os erros onde espante
a sorte a cada instante
e gere mais enfados,
acertos? São bem poucos
os dias sempre loucos
não deixam menor sombra
de sorte alvissareira
e mesmo que se queira
realidade assombra.
55
a terra se vertendo
em novéis esperanças
e quando ali alcanças
um mundo sem remendo,
o olhar mais estupendo
esgarça em finas lanças
marcando as temperança
aonde o vão tecendo
apenas teias frágeis
portanto quis mais ágeis
os passos, nada veio
somente o mesmo enredo
aonde mal procedo
buscando um canto alheio.
56
o inverno adentra abril
e toma o que pudesse
gerar ainda em prece
o quanto não se viu,
em outonal, sutil
delírio a vida tece
o nada que obedece
ao passo duro e vil,
restando quase nada
a quem nesta invernada
pensara em primavera
a vida é carrossel,
mas sei final cruel
depois, o nada espera.
57
o tempo, este corsário
saqueia cada engano
e quando enfim me dano
num dia temerário,
o quanto em visionário
caminho mais profano
adentro e rompo o pano
outrora imaginário
escusas não aceito
e quando tento um pleito
diverso, nada vem
procuro inutilmente
quem tanto se apresente
e sei, virá ninguém.
58
ainda se ultimando
o sonho em vaga esfera,
o passo destempera
e gera o mais infando
caminho se formando
e nele sei da fera
o quanto em paz se espera
e o nada transformando,
resisto o quanto posso,
e sei ser mero e nosso
um mundo em paz e glória,
rascunhos do passado,
aonde quis meu fado
são ermos da memória.
59
ultimo o meu caminho
em tétrico desenho
e quando além me empenho
percebo quão daninho
o mundo onde avizinho
o risco e dele venho
vencendo o que inda tenho
de espúrio e mais mesquinho.
{as vezes quis bem mais
que meros rituais
amores burocráticos,
e o tenso dia a dia
aos poucos poderia
gerar sonhos apáticos.
60
após o desespero
não resta quase nada
e a sorte desarmada
eclode em destempero,
o quanto do tempero
permite a desejada
manhã já desenhada
cevada neste acero,
o canto em discordância
o sonho em ressonância
errático e medonho,
assim ao me perder
do quanto foi prazer,
à ermida eu me proponho.
61
num derradeiro verso
eu posso até quem sabe
viver o que não cabe
e nisto sigo imerso
o quanto já disperso
e nada mais se acabe
somente o que desabe
além deste universo
criado pelo sonho
e quando me proponho
encontro apenas isto.
O resto do que um dia
Pudesse em fantasia,
Só sei que não desisto.
62
o meu papel na vida,
bufão ensandecido
tocando este sentido
aonde a despedida
gerasse outra saída
e quando resolvido
esbarro em meu olvido
seara em vão perdida,
restauro o que inda trago
em tento algum afago
desta esperança atroz.
Porém já nada resta
Somente a mera fresta
Ausente rumo e foz.
63
revendo em sincronia
o passo que trouxera
a mansidão e a fera
e nele não teria
senão a hipocrisia
aonde destempera
a vida sem espera
e mata o dia a dia,
esboço algum alento
e quando além eu tento
vencer os meus engodos,
arcando com meu charco
do medo já me encharco
e bebo os vários lodos.
64
reproduzindo o sonho
diversa esta aquarela
aonde se revela
em ar duro e bisonho
o quanto te proponho
destino não atrela
e nada mais se sela
somente este ar medonho,
proposições diversas
e nelas são imersas
as ilusões de quem
cerzindo em tom sombrio
o olhar que desafio
e o nada já contém.
65
acres canções que a vida
prepara em armadilha
aonde compartilha
a história sem saída
enquanto não duvida
quem tanto busca a trilha
e além já não mais brilha
na farsa presumida.
Esboço em verso e canto
Aonde se me espanto
Promessas maltratadas
As horas mais mordazes
Deveras quando trazes
Destroças alvoradas.
66
maldito seja o outono
aonde me negaste
e sei que sendo um traste
da morte mero abono
aos poucos já me adono
e sigo em tal desgaste
além do que mostraste
num rito em abandono,
tristezas as conheço
e sei cada adereço
no qual eu poderia
traçar qualquer disfarce,
porém se a vida esgarce
não resta qualquer dia.
67
como se fosse o fruto
de um sonho meramente
maior do que aparente
o dia amargo e bruto,
enquanto não reluto
e tento este clemente
cenário onde aparente
o passo mais astuto,
restando deste fato
o quanto me retrato
em ar quase sombrio,
meu canto em tom maior,
quem dera o teu suor
tomasse em desafio.
68
um pássaro liberto
buscando algum aporte
aonde se conforte
e veja sempre aberto
caminho que deserto
e nele em novo norte
a vida com mais sorte
gestando onde desperto,
arcar com erros pude
e tendo esta atitude
no farto caminhar,
dessedentando o medo
ao todo me concedo
e em ti bebo o luar.
69
à flor que tanto vi
um brilho que sacia
gestando em harmonia
o gozo, um colibri
aos poucos descobri
assim num novo dia
o quanto poderia
viver a paz em ti,
desvendo os meus enredos
e bebo dos segredos
que tanto me escondeste
amor maior do que este
deveras não concebo
e assim, em paz me embebo.
70
ao céu e à terra eu sigo
sem medos nem façanhas
e quando além me entranhas
em ti decerto o abrigo,
resumo o que persigo
em noites claras, ganhas
e sei das tais montanhas
vencendo algum perigo,
e resolutamente
o passo não desmente
o quanto mais eu quis,
e sendo desta forma
o amor tanto deforma
enquanto faz feliz.
71
neste encorajamento
enfrento qualquer troça
e mais do que se possa
percebo enquanto tento
o olhar suave e atento
da vida toda nossa
e nada mais endossa
o amor em provimento,
e sem qualquer temor
adentro em raro amor
e nele me sacio,
expresso em solução
os dias que virão
ausente medo e frio.
72
é sempre o mesmo efeito
e nele não me esgoto
o tempo mais remoto
agora mal me deito
traduz o satisfeito
cenário onde me boto
e nego o terremoto
enquanto o sonho eu pleito.
Apraza-me saber
Do quanto em bem querer
Também tu me desnudas
As horas apascentam
E nelas se apresentam
Ternuras mais agudas.
73
eternamente creio
na luz que intemerata
deveras não maltrata
e gera novo veio,
por onde o sonho anseio
e sei da força grata
na qual amor retrata
o mundo onde rodeio,
versejo com carinho
e sigo cada ninho
aonde eu possa Ter
o olhar que me ilumine
e sei deste ar sublime
das ânsias do querer.
74
efeito refletindo assim a causa
transcorre em concordância a cada passo
e quando novo rumo em paz eu traço
o amor já não comporta queda e pausa,
a vida se aproxima da andropausa
e o cálido caminho hoje desfaço
mudando o meu olhar em novo espaço
uma esperança além da menopausa
esboça o fim da história e se degrada
mudando neste instante rumo e estrada
o verso não traduz sequer o canto,
e nele resumindo a minha sina
aonde qualquer luz inda fascina
herético cenário se adianta.
75
os versos refletindo igual desenho
e neles entranhando a dura sorte
sem ter que na verdade me conforte
apenas o vazio enfim contenho
e o canto aonde alhures eu desdenho
o quanto pude ainda ver em norte
enquanto uma ilusão a vida aborte
o olhar já não reflete o desempenho,
ascendo ao constelar caminho quando
o manto desfiara e demonstrando
o pouco que inda resta, mas eu tento,
aprendo com engodos ou falácias
e tento embora vagas tais audácias
vencer em mansidão meu sofrimento.
76
a vida este festejo mais banal
no quanto traz em si caminho e fim,
o manto se desvenda e sendo assim
o corte se aproxima do fatal,
e vago sem destino pelo astral
resumo o desalinho de onde vim
no herético prazer que vive em mim,
cerzindo este cenário bem ou mal,
ascendo ao que pudesse em verso e canto.
E quando na verdade além me espanto
Eu bebo cada gota que espalhaste,
Do todo em voz sombria e tom mordaz,
Somente a solidão, a vida traz
Gerando a cada ausência este desgaste.
77
as máscaras dançantes entremeiam
festejos mais dispersos e em verdade
o tanto que pudesse e se degrade
enquanto os meus delírios não anseiam
sequer outros caminhos que incendeiam
a vida com ternura e nos invade
ditando cada passo em falsidade
e os passos mais distantes já se alheiam.
Não mais eu necessito desta farsa.
A vida com certeza ora se esgarça
E deixa estes sinais aonde eu pude
Vestir em tantos medos minha dita
No quanto cada verso necessita
Sentir desta esperança a magnitude.
78
condena-se ao caminho torpe a treva
que tantas vezes disse da verdade
no passo mais atroz a realidade
a cada novo tempo, um templo atreva
a vida poderia ser longeva,
mas quando em erros tantos nada brade
deixando para trás mera saudade
ao nada o sortilégio já me leva.
Mesquinharias ditam o futuro
Aonde a paz somente em vão procuro
E tento discernir entre os demônios
Sedentos do que eu tento e não pudera
Gestados pelas ânsias da quimera
Traçando a cada engodo, pandemônios.
79
cansado de bailar entre os enganos
entranho as cicatrizes que carrego
o passo na verdade duro e cego
negando aonde houvera meros planos,
e assim ao se cerrarem últimos panos
a peça em que deveras eu me entrego
resulta no vazio onde trafego
vestindo as ilusões em ermos planos,
estranhas noites formas virulentas
e nelas com certeza me atormentas
tramando as variantes da emoção
aporto os desenganos costumeiros
e tento procurar noutros canteiros
provável primavera em floração.
80
enquanto a vida orquestra
diversa sinfonia
a sorte não traria
a mão que agora adestra
e vendo esta canhestra
verdade em ironia,
o pouco que teria
negando a sorte, mestra.
O quanto diz do quando
E o vago transbordando
Gerando outro excremento,
No todo ou mera parte
A vida se reparte
E o fim, logo incremento.
81
ao som dos violinos
guitarras, violões
e neles sensações
de dias cristalinos
os tantos desatinos
e neles provisões
diversas direções
porquanto são ladinos
os passos onde tento
vencer o alheamento
um tanto costumeiro,
resumos de outros tempos
em fartos contratempos
o enfarto derradeiro.
82
brilhantes constelares
desenhos siderais
e tento ou muito mais
do quanto não notares
vagando em teus altares
espaços magistrais
e neles rumos tais
porquanto procurares
ver[as e tão somente
assim quando fomente
a vida em novo rumo,
o passo dessedento
e bebo então do vento
e em vão enfim me esfumo.
83
na fúnebre verdade
que tantas vezes dita
a sorte necessita
do vento que degrade
o passo em realidade
a sorte mais aflita
o corte aonde fita
o olhar em claridade,
no pranto saciado
o vento desolado
inverno dentro em mim,
o canto que pudera
apascentar a fera
chegando agora ao fim.
84
a vida em tais anseios
gerando o que não pude
vencer em plenitude
e assim adentro os ermos veios
e sinto mais alheios
os passos onde eu mude
e trace em atitude
aquém dos meus receios
caminhos mais diversos
e neles vejo imersos
os ermos de minha alma
no tanto que pudesse
vencer em reza e prece
o canto onde se acalma.
85
um fúnebre desdém
de quem quisera tanto
e agora não me espanto
enquanto o nada vem,
apenas sou refém
do amor e quando adianto
o passo e não garanto
senão o quanto tem
a queda após tropeço
e quando me endereço
ao farto que inda vejo
cercando cada passo
no intento onde desfaço
o sonho em vão desejo.
86
neste turbilhonar
caminho aonde eu tento
vencer o sofrimento
e crer na luz solar,
o medo de levar
o risco mais atento
e nele o provimento
impede algum luar
espero a cada ausência
do amor tal anuência
que possa traduzir
o quanto ainda tenho
e nisto o velho cenho
impede algum por vir.
87
um raio deste sol
tomando o céu imenso
e quando além eu penso
nas tramas do arrebol,
o amor que segue em prol
do quanto ainda extenso
delírio mesmo tenso
e nele és o farol,
ascendo ao quanto quero
e mesmo quando fero
destino desvendado
o verso se enaltece
tentando outra benesse
além do velho enfado.
88
declínio deste arcanjo
em tramas mais profanas
e quando tu me danas
em novo desarranjo
o tanto que inda arranjo
do mundo enquanto enganas
e mostras soberanas
verdades que ora tanjo
tentando discernir
momento que há de vir
após a tempestade,
escusas não reparam
os erros que separam
o amor da claridade.
89
o homem mais sombrio
desenho onde Deus quis
fazer o mais feliz
num caos em desafio
assim ao ver o frio
desdém da cicatriz
e nela feito a giz
o parto a cada fio
estendo após a queda
o quanto inda se enreda
o passo muito além
do cardo aonde entendo
o sonho sem remendo
meu canto enquanto vem.
90
presságios entre sonhos
são caos e na verdade
o quanto inda me invade
ditando em tais medonhos
delírios enfadonhos
e neles a saudade
ditando a realidade
em ares mais tristonhos.
E quando posso ver
Somente o desprazer
E nele me redime
O fato doloroso
Por vezes andrajoso
E nunca mais sublime.
91
não falo em primavera
que há tanto já não vejo
sequer de algum desejo
gerando nova espera
a sorte não mais gera
sequer menor ensejo
apenas o negrejo
da vida, espúria fera.
O amor já não mais grita
Tampouco na finita
Manhã se apresentando
Anoitecer de uma alma
Morna visão que acalma
Num tempo frio ou brando.
92
falando deste inverno
que sinto desde agora
do frio que devora
o coração mais terno,
e quando o sonho externo
na fonte se demora
e gera sem Ter hora
o sonho aonde hiberno,
a falta de esperança
o olhar já não alcança
sequer um horizonte,
ao mergulhar na neve
minha alma não se atreve
sequer um rumo aponte.
93
imóvel em frialdade
granito do meu ser
há tanto a se perder
no frio que me invade,
o resto nem saudade
tampouco algum prazer
aos poucos ao morrer
percebo última grade,
e o vento em agonia
transforma o dia a dia
em névoa e nada mais,
quem tanto quis a glória
na face merencória
dos ermos invernais.
94
olhar fúnebre trama
o fim em tez dorida
do quanto quis ser vida
e agora ao fim da chama
já não revela trama
somente a despedida,
a sorte apodrecida
o corpo volta à lama.
O fim se aproximando
Num ar quase nefando
Nevando sem descanso,
Apenas o vazio,
Qual fosse um desafio
Enfim, em paz alcanço.
95
nesta estação da morte
a gélida impressão
dos dias que virão
e nada mais aporte
o rio sem um norte
somente um passo em vão
e nele imprecisão
tomando cedo a sorte,
acordo e nada além
da bruma, o olhar contém
e disto me alimento.
Noctívago poeta
A sorte se deleta
Na falta de provento.
96
na tenebrosa espera
do fim e tão somente
o pouco que alimente
o quanto existe em fera,
não mais resta e tempera
o corpo e a penitente
loucura que inclemente
procura a primavera.
No inverno agrisalhado
O olhar já desolado
Não tendo mais sequer
O brilho da esperança
Ao longe, não alcança
As sombras da mulher.
97
não quero a compaixão
também não necessito
de um riso mais aflito
ou nova direção
e sei que desde então
o sol em tal granito
presume este finito
delírio em dimensão.
Acossa-me a saudade
E o quanto ainda invade
Traduz somente o fim.
A pele se engelhando
O coração nevando
Na morte viva em mim.
98
ao findar de estações
os dias noutra face
o tempo duro grasse
e nele os meus verões
dispersas emoções
caminhos onde trace
além do vago impasse
perdidos os vagões,
descarrilada sorte
aguarda então a morte
que venha e já redime
os ermos de quem tanto
outrora noutro canto
sonhara em ar sublime.
99
da antiga mocidade
as sombras, num receio
o rio perde o veio
bebo a salinidade
na foz aonde invade
o quanto em devaneio
do sonho ainda veio,
no olhar que se degrade,
resulto deste ciclo
e sei já não reciclo,
o fim em lama e pó,
apenas levo na alma
a farsa que me acalma
e o sonho, ausente ou só.
100
das flores ao agosto
o tempo não refaz
e quando quis a paz
no nada em turvo rosto
o coração exposto
autêntico e mordaz
o quanto ainda traz
aos poucos decomposto,
o frio, o vento e a treva
aonde o sonho leva
em derradeiro passo,
somente a cada esgarce
a vida sem disfarce
em solidão eu traço.
Diversa da que e a vida me mostrara
Na dor incomparável se prepara
O mundo presumindo esta falseta
Aonde cada passo se arremeta
Trazendo a falsa luz de uma seara
Porquanto a própria vida desampara
Negando os meus delírios na incompleta
Visão que aos poucos vejo e se cometa
Na farta sensação onde escancara
O passo rumo ao fim refaz a história
E trama no vazio o que a memória
Pudesse pelo menos esboçar,
Cansado desta luta aonde a sorte
Deveras no final não nos conforte
Apenas o vazio a se mostrar.
2
Em meio aos devaneios que em verdade
Transcendem ao que fosse outro delírio
Da vida feita em dor, medo e martírio
No fundo cada passo já degrade
Quem tanto percebeu felicidade
Nesta promessa feita em reza e círio
Sem nada que decerto ora retire-o
O espinho dentro da alma agora invade.
Ocasos são comuns a quem pudesse
Acreditar talvez em tal benesse
Errático vagar na noite espúria
Não resta quase nada de quem tanto
Vestira a falsa luz e te garanto
Somente entre os enredos da penúria.
3
Um miserável sonho do poeta,
Em trevas e terríveis dissabores
Seguindo as emoções fossem andores
A morte a cada ausência se completa
A farpa traduzindo a predileta
Seara aonde quer que tu te fores
Negando com certeza alguns albores,
A quem tal fantasia gera a meta.
Estradas convergentes. Nada disto
Ao ver o meu retrato em tal contraste
Percebo a dor diversa que legaste,
Porém insanamente inda resisto.
4
A vida, esta comédia de um bufão
Apenas representa o quanto pude
Ao menos no meu passo audaz ou rude
Os dias se repetem, mesmo não,
E vendo a denegrida servidão
Porquanto uma alma perde a juventude
E tenta noutro rumo o que amiúde
Expõe diversa trama, indecisão.
Esgarces são comuns a quem porfia,
E o medo se transcorre dia a dia
Gerando após o sonho, a tempestade.
E a morte me açodando não permite
Que eu veja além de um vago e vão limite
Enquanto a dor deveras me degrade.
5
Numa manhã tão rara e esplendorosa
O olhar se perde além e nada vendo
Somente este vazio e vão remendo
De uma alma dolorida e caprichosa
Restando muito pouco ou quase nada
A sorte se perdendo sem adendo
O manto no vazio revertendo
O quanto imaginara nova estada.
Escusas não resolvem nossos erros,
Tampouco quero mais que estes desterros
Aterros da esperança, morte e cruz,
Certezas mais doridas se percebem
E os olhos no vazio não concebem
Senão este cenário em que me pus.
6
Sucumbes ao eterno movimento
Da vida pela vida e nada mais
Embora em teus caminhos os cristais
São meras ilusões de um pensamento,
No quanto a cada passo o alheamento
Transforma em tais momentos terminais
Os ódios excrementos entre os quais
Por vezes inconstante eu me alimento,
O nada que decerto agora vês
E nele o quanto possa ser diverso
Regendo a mesma lei deste universo
Aonde impera o medo e a sordidez,
Não vendo qualquer brilho, a vida nega
Qualquer luzir a quem tem a alma cega.
7
A lei universal regendo a história
E nada mais se vendo além do fato
Aonde vez por outra eu me retrato
Tentando vasculhar tosca memória,
A imagem refletida e merencória
Traduz o caminhar em tom ingrato
Trazendo a negação a cada prato
Qualquer aceno além traduz vitória.
O marco mais audaz da leda vida
Expressa a noite enquanto dividida
Por várias e estrelares discordância
Se enfim há claridade, então alcance-a
E o tempo seja mais suave e manso,
No vago desenhar onde me lanço.
8
Eternizando o risco em farto gole
Esboço a face espúria de um alento
Enquanto noutro instante desatento
A vida sem defesas já me engole
E quando a solidão assim assole
Traçando o que pudesse ou mesmo tento,
Restauro com meus erros e me incremento
A pedra não resiste em água mole
Pereço enquanto posso e não percebo
Sequer esta visão, medonha e tosca
Numa ácida ilusão caminho e bebo
O risco mais atroz ou inerente,
Vestindo o que pudera a vida fosca
Mudando este cenário plenamente…
9
Voltaste ao mesmo errático caminho
Estrela em noite imersa, vaga além
Do quanto amor decerto inda contém
No fato mais herético e daninho,
Sementes solapadas, mero espinho
No olhar enamorado, o vão desdém
De quem se procurara e já não vem
Tentando ao menos crer, beber tal vinho.
Vinhedos destroçados, a aridez
Resume o quanto pude e já desfez
O tempo em variante discordância
Esbarro nos meus vagos dissabores
E sei que não tendo mais albores
O corarão procura noutra estância.
10
Seguir as várias sendas da ilusão
E ter no olhar imersa a dor que trago
Enquanto no vazio enfim me alago
Restando noutro encanto, a direção
Jamais aprumaria desde então
O passo em ritmo vário e sinto o estrago
Causado pelo medo e o canto vago
Traçando em desespero a negação.
A morte demoníaca figura
Edênico castigo se traduz
Na eternidade enquanto em contraluz
A podridão deveras assegura
A branda e resoluta realidade
No passo aonde a vida se degrade.
11
Em procelosa senda se desfaz
O quanto de este etéreo caminhar
Precede ao mais diverso desejar
Mesquinharia às vezes dita a paz.
E o vago desenhar em noite audaz
Expondo a podridão a desnudar
A vida se repondo e sem notar
O tanto noutra face se refaz.
A morte em tal verdade nos redime
E quando se aproxima mais sublime
Realça o que tu queres, ser eterno.
Não temo no apagar das luzes nada
Nem mesmo a mansidão já desenhada
Na face mais escusa deste inferno.
12
Esplendorosa tarde em tom diverso
Daquele que eu pudera desde quando
O manto destroçado se mostrando
Num árido delírio em vago verso,
Pudesse desenhar tal universo
Aonde o meu caminho desenhando
Em ar deveras turvo ou mesmo brando,
Mas sinto o quanto possa estar imerso
No pântano desta alma aonde outrora
Cerzindo o meu caminho nada aflora
Sedento e destemido enquanto rude,
Viver outro cenário mais atroz
Tomando em discordância a minha voz
No canto que amortalha enquanto ilude.
13
Aspérrimo caminho aonde entranho
Meus passos em diversa tentativa
A vida não traz mais prerrogativa
E dita cada passo desde antanho,
O quanto poderia ser um ganho
E nele na verdade nada viva
Viceja a tempestade onde se priva
O sonho que eu buscara em ar tamanho.
Heréticos fantoches, meu retrato
E quando nesta face eu me arrebato
Esgoto qualquer luz que ainda houvera,
Depois de tantos erros cometidos,
Os passos noutros ermos presumidos
Alimentando em mim a viva fera.
14
Em árduas formas vejo esta verdade
Resisto enquanto posso, mas ao fundo
Enquanto na verdade me confundo
Apenas o vazio ainda invade.
Certeza sobreposta à falsidade
Vislumbro na penumbra o olhar imundo
E tanto vago aquém neste submundo
Buscando inutilmente a claridade.
A morte talvez surja como um cais
E possa finalmente em funerais
Trazer a redenção que tanto busco,
No olhar mais traiçoeiro este festim
Banquete traduzindo ao que ora vim
Num ato em calidez, mas duro e brusco.
15
Helênicos caminhos do passado
Traduzem desvarios que ora vejo
Na face mais sutil de algum desejo
O mundo se transforma em velho fado,
O sangue inutilmente derramado,
A sorte se apresenta em vário ensejo
E neste caminhar tanto dardejo
O canto como fosse um hino, um brado.
Heróicos desenhares, tradução
Da mesma face exposta em podridão
Cenário repetindo em tom igual,
A fera impertinente, humanidade
Demonstra o olhar dorido onde degrade
Desenha a liberdade em funeral.
16
Diversas hostes dizem desta luta
Aonde o dia a dia se traduz,
No quanto imerso em dor, temor e pus
A fúria a cada instante não reluta
E bebe e se sacia enquanto bruta
Na morte a redenção em vária luz
Não quero nem inferno nem a cruz,
A sorte por si só se mostra astuta.
No prazo onde o viver se determina
A podre face expondo a nova mina
Na fonte renovável se retrata
O quanto pouco somos, senão isto
E quando noutra face inda resisto
Verdade se desnuda, sempre ingrata.
17
Ao retirar do olhar uma esperança
A guerra se prepara neste instante
Enquanto este vazio se agigante
{a fúria sem igual o corpo lança,
E assim aonde houvera a temperança
Somente o desdenhar já se adiante
E mostre noutra face o degradante
Caminho feito em dor, sangria e lança
No quanto a concessão permite a paz
E o caminhar mais manso ora se faz
Nas tramas onde o passo se permite
A liberdade dita em sanguinário
Caminho muitas vezes temerário
Por vezes sem saber qualquer limite.
18
No déspota se mostra a estupidez
E vejo quanto mesmo é mais sombrio
O vândalo delírio em desafio
Aonde a própria história assim se fez,
O rústico cenário da altivez
E nele com certeza aqui desfio
Sabendo quanto é turvo algum desvio
Embora noutra face tu te vês.
Arcar com ledos erros e sentir
O quanto molda a vida no porvir
Festiva ou mesmo inglória realidade
Mortalha tece um ar de plenitude
Que tanto quanto doma nos ilude
No espúrio caminhar à liberdade.
19
Tropéis diversos levam mais distantes
Os sonhos quase herméticos de quem
Sabendo do vazio sempre vem
Buscar nos ermos solos, diamantes,
E quanto deste errôneo tom garantes
Gerando da esperança este refém
O caos se desenhando aonde vem
Dispersos caminhares galopantes.
Rescaldos tão diversos restam quando
Iluminando os antros com as sombras
E neste nada ser tu tanto assombras
Enquanto vejo o mundo desabando
Deidades perfiladas entre os vários
Resumos de momentos onde um dia
Pudesse acreditar em tais cenários,
Mas vejo o quanto a sorte enfim se adia.
20
Vendetas entre festas quase orgásticas
Ao burilar disforme realidade
O templo se desnuda e à saciedade
Imagens dolorosas e sarcásticas
No fausto em que se mostram as fantásticas
Imagens onde a vida sempre brade
Um bardo se tomando em liberdade
Vagando pelas dores, vagas, drásticas.
Resguardo o quanto posso, mas no fundo
O medo aonde em tal delírio inundo
Meu prazo se termina enquanto vejo
A face desdentada e até sombria
Da morte onde deveras soerguia
Aquém de qualquer messe um vão ensejo.
21
Esboço o caminhar
Em antros que carrego
E sigo mesmo cego
Na busca de um luar
Aonde retratar
Reflexo de algum ego
E nele não me entrego
Senão ao desenhar
De um vasto e tolo passo
Por onde quer que traço
Resumos são iguais
Vencido pelo tempo
A cada contratempo
Desenho os funerais.
22
Arisco no que eu possa
Trazer em verso ou medo
E quando além concedo
Sorriso ou mesmo a fossa
A sorte não endossa
O manto em que o degredo
Vestira desde cedo
A morte quando endossa
O riso ou pranto ou nada
A marca desenhada
Na face mais cruel,
Resulta do que fora
Uma alma sonhadora
Vagando sempre ao léu.
23
Aprendo com a sorte
Deveras traiçoeira
E bebo a derradeira
Noção que trace o aporte
E vejo o quanto o norte
Resvala em verdadeira
Imagem onde eu queira
Apenas crer na morte
Que tanto desejara
Em noite dura e amara
Vestindo esta promessa
Do pranto que se traz
E nela sendo audaz
A vida recomeça.
24
Meu canto se desdisse
Na face deste sonho
Aonde recomponho
Embora em tal tolice
O mundo diz mesmice
E o vasto vão medonho
No quanto sou tristonho
Além do que predisse
A sorte transmitida
Nos ermos desta vida
Vencida pelo engodo,
O quanto quis um dia
Melhor e não teria,
Senão a lama e o lodo.
25
Aprazo o verso em luz
E o corte me trespassa
E assim cada fumaça
Deveras reproduz
O olhar em gozo e pus,
E a vida alheia passa
Restando o quanto traça
Gerando enfim a cruz,
Não pude e não devia
Saber que a poesia
Talvez trouxesse alento.
A porta já trancada
A sorte desolada
Diversa da que invento,
26
Vestindo o meu lamento
Aonde tanto pude
Sentir a plenitude
e agora me atormento
apenas um momento
em voz ou atitude
no pântano que ilude
o risco em vão fomento.
No passo rumo ao tanto
Por onde me adianto
E sei da queda e abismo,
Vagar entre as escórias
Trazendo nas memórias
O vago aonde eu cismo.
27
a terra sem defesas
o marco em dor e medo,
aonde me concedo
deveras sem surpresas
percorro as incertezas
e sigo sem segredo
no tolo desenredo
e nele estas grandezas.
Acerca do que somos,
Diversos, unos gomos
Metades incompletas
Assisto ao fim e mudo
O canto ou mesmo mudo
Em ânsias me repletas.
28
jazendo sob a terra
herdade que me resta
a face mais funesta
deveras ora encerra
o berro, a queda e a serra
aonde houvera fresta
o parto não se empresta
e a vida ora desterra
além de qualquer brilho
porquanto em vão eu trilho
descréditos se vendo,
o amor jamais contive
e o pouco onde retive
não passa de um remendo.
29
fremindo a liberdade
no peito em ânsias feito
resgate onde deleito
esta aura que degrade,
o risco em ansiedade
a morte no seu pleito
enquanto insatisfeito
o sonho em dor invade.
Gerenciar promessas
E nela se endereças
Buscando um novo fato,
A marca mais audaz
Que tanto invade e traz
Decerto em ti resgato.
30
por certo vingador
dos tantos mais sombrios
alheio aos desafios
encontro enfim a dor,
e neste vão louvor
passando em ermos fios
precedo meus estios
tentando além a flor.
Primaveril cenário
Aonde temerário
Jamais eu pude ver
Senão a mesma face
Da dor e quando a grasse
Encontro o desprazer.
31
donde vem este engano
há tantos que não sei
o quanto poderei
rever um velho plano
e quando assim me dano,
resumo a dura grei
nas tramas que tracei
e nela sigo insano.
Apresentando ao fim
O sonho de festim
Qual fora redenção
Nos pântanos desta alma
Apenas o que acalma
Meu sonho em remissão.
32
e quando vês no olhar
de quem se fez presente
um prisma iridescente
aonde caminhar,
não vejo mais lugar
nem luz que me apascente
o pranto em penitente
delírio a desenhar
o risco mais agudo
e assim se não me iludo
enfrento o que inda tenho,
o marco já desfeito
o sonho não aceito
um ar turvo e ferrenho.
33
os bárbaros caminhos
aonde um dia entrara
que tendo esta seara
em meio aos tais espinhos
percebo quão mesquinhos
os rumos, vida ampara
quem tanto procurara
enfim outros carinhos,
arcar com medo e dor,
sentir e não se opor
ao quanto ainda atesta
o corarão servil,
aonde se previu
o fim de qualquer festa.
34
a liberdade opressa
o canto mais dorido,
e o vento percebido
aonde a dor se teça
e nada se obedeça
sementes deste olvido
o passo resumido
a vida sempre avessa.
Se eu peço alguma luz
O nada reproduz
O que esta alma continha,
A morte se aproxima
E torna em tosca estima
A que inda fosse minha.
35
inspira confiança
o passo rumo ao nada
e sei da desolada
loucura que me alcança
a noite não se amansa
e mata esta alvorada
aonde ensolarada
resiste uma esperança
apreços e desprezo
o quanto sigo ileso
ao tanto temporal,
os vastos campos vejo
e a cada novo ensejo
o dia [e sempre igual.
36
os dias são tiranos
e nada além do quanto
pudesse e até garanto
em vastos desenganos
os dias mais profanos
e neles o quebranto
enquanto além me espanto
ultrapassando os anos
não quero outra certeza
senão a mesma mesa
e nela esta iguaria
repasto repartido
negando algum sentido
aonde nada havia.
37
memórias tão antigas
de tempos quando eu pude
vencer a magnitude
e nisto não consigas
sentir as mãos amigas
e nelas já se ilude
o sonho mesmo rude
em meio às tantas brigas,
castigos são constantes
e neles me adiantes
a queda enquanto luto,
partindo para o nada
marcando a velha estrada
porquanto siga astuto.
38
a vida em tal pujança
pudesse ter além
do olhar por onde vem
o medo que me alcança
o risco em tal fiança
o manto no desdém
vagando quando tem
o corte que se amansa,
alheio ao que inda venha
a noite mais ferrenha
expondo em dor e prece,
o corpo se transforma
e toma qualquer forma
na qual o medo tece.
39
uma incontida fúria
testemunhando a queda
assim a vida veda
além desta penúria
e bebo desta injúria
enquanto o sonho seda,
arisco passo enreda
nas tramas da penúria.
E o vento que trouxera
Al[em paz e quimera
Agora nada diz,
O marco em discordância
O amor em tal instância
Um dia em cicatriz.
40
memórias ancestrais
de tempos onde antanho
o mundo mais estranho
negando os rituais
quebrando os meus cristais
e quando além me entranho
percebo o ledo ganho
em trevas, vendavais.
Avais que eu procurava
Adentro em fogo e lava
Vulcânica verdade,
No amor ou na promessa
O passo se confessa
Enquanto o nada invade.
41
uma alma emudecida
em frente aos tantos fatos
por vezes mais ingratos
a sorte suicida
a morte doma a vida
e diz destes retratos
gerando em torpes atos
a face carcomida
da próxima mortalha
aonde já se espalha
o olhar sem rumo e nexo,
o tanto quanto resta
traduz a tez funesta
apenas meu reflexo.
42
a mente diz ainda
dos sonhos mortos, quando
o dia se moldando
além nada deslinda,
o canto já se finda
em nada transformando
meu rumo se inundando
aonde o vão se brinda.
Escuros dentro da alma
A dor que ora se acalma
Traduz o nada em mim,
Restaurações diversas
E nelas vejo imersas
As luzes de um festim.
43
encerra medo ou pena
quem tanto quis um dia
aonde se veria
o sonho onde se acena
a vida inteira e plena,
porém em ironia
o corte moldaria
a face mais serena.
Ouvir a voz do vento
E neste envolvimento
Sentir outro começo
O amor que tanto eu quis
Gerando a cicatriz
Marcada em adereço
44
por esta minha terra
depois de tantos anos
em meios aos desenganos
o canto já descerra
paisagem onde a serra
traduz os velhos planos ,
mas rotos meros panos
meu ciclo aqui se encerra.
Esboço luzes quando
A noite se nublando
Traduz grisalhos tons,
Das esperanças ledas
O quanto me conceda
Reflete amargos sons.
45
resisto contra o fado
que sei não mais meu poupa
e quando noutra roupa
o mundo destroçado
o peso da esperança
sobreposto nas costas
além do quanto gostas
o mundo não me lança
esgarço em poesia
o tanto que inda tenha
a noite mais ferrenha
jamais se mostraria
diversa da que agora,
ao longe em dor se aflora.
46
um campo mais hostil
aonde nada colha,
o sonho em torpe bolha
aos poucos se partiu
e quando dividiu
sem Ter sequer escolha
ao nada se recolha
e mostre a face vil,
cerzir uma pujante
verdade que agigante
ou mesmo um passo alheio,
no tanto ou no tão pouco
o quanto sigo louco
traduz o antigo veio.
47
servil caminho eu sigo
e tento nova trilha
aonde se polvilha
cevando joio e trigo,
buscando aqui contigo
o sonho compartilha
e gera esta armadilha
descreve o desabrigo.
Opaca noite enquanto
Ainda busco e canto
Tentando nova sorte
Meu rumo se trouxera
No olhar em tola espera
Sem nada que o conforte.
48
um inimigo império
no olhar que não reluta
a força imensa e bruta
o passo sem critério
olhando em tal mistério
a luz por mais astuta
enquanto esta alma luta
na face vexatória
de quem busca a vitória
e nada mais descreve
em torpe consonância
a vida em desde a infância
deveras sei ser breve.
49
submeto o meu reinado
aos tantos dissabores
e mato as raras flores
num tempo desolado,
e sinto já traçado
e sem sequer te opores
o quanto em redentores
delírios diz o fado,
massacro com engodos
os dias, tantos, todos
herdando este vazio
e nele apenas isto,
o fato em que resisto
porquanto desafio.
50
excita-me o saber
do fato aonde possa
vencer a dura fossa
e Ter onde colher
o sonho em vão prazer
e quando a vida endossa
e nada mais se apossa
senão ausência em ser
ao menos transparente
e quando me apresente
aquém do quanto quero
o olhar atocaiado
o riso desolado,
o gozo duro e fero.
51
eu não falarei mais
das mortas primaveras
aonde destemperas
em torpes funerais
e os tantos vendavais
gerando em si as feras
nas quais somente esperas
os ritos terminais,
ausento dos meus olhos
jardins e sei de abrolhos
aonde eu quis florida
seara mais feliz
e o tempo contradiz
negando a própria vida.
52
na janela fechada
das tolas esperanças
as noites quietas, mansas
a doce madrugada
agora ditam nada,
e nelas tu avanças
em meio às vãs pujanças
matando outra alvorada
a sorte não traduz
sequer a mansa luz
por onde eu poderia
em pleno inverno da alma
trazer a voz que acalma
gestando um novo dia.
53
o sol já não conhece
as frestas onde outrora
na face que decora
gerasse este benesse,
e quanto a vida tece
a fonte sem demora
o mundo desarvora
não resta medo ou prece;
somente esta certeza
da fera feita em presa
surpresas de uma vida
em passo reticente
o nada se apresente
enquanto o sonho acida.
54
os céus tão azulados
da infância mais distante
num dia degradante
mudando assim traçados
permitem nos legados
os erros onde espante
a sorte a cada instante
e gere mais enfados,
acertos? São bem poucos
os dias sempre loucos
não deixam menor sombra
de sorte alvissareira
e mesmo que se queira
realidade assombra.
55
a terra se vertendo
em novéis esperanças
e quando ali alcanças
um mundo sem remendo,
o olhar mais estupendo
esgarça em finas lanças
marcando as temperança
aonde o vão tecendo
apenas teias frágeis
portanto quis mais ágeis
os passos, nada veio
somente o mesmo enredo
aonde mal procedo
buscando um canto alheio.
56
o inverno adentra abril
e toma o que pudesse
gerar ainda em prece
o quanto não se viu,
em outonal, sutil
delírio a vida tece
o nada que obedece
ao passo duro e vil,
restando quase nada
a quem nesta invernada
pensara em primavera
a vida é carrossel,
mas sei final cruel
depois, o nada espera.
57
o tempo, este corsário
saqueia cada engano
e quando enfim me dano
num dia temerário,
o quanto em visionário
caminho mais profano
adentro e rompo o pano
outrora imaginário
escusas não aceito
e quando tento um pleito
diverso, nada vem
procuro inutilmente
quem tanto se apresente
e sei, virá ninguém.
58
ainda se ultimando
o sonho em vaga esfera,
o passo destempera
e gera o mais infando
caminho se formando
e nele sei da fera
o quanto em paz se espera
e o nada transformando,
resisto o quanto posso,
e sei ser mero e nosso
um mundo em paz e glória,
rascunhos do passado,
aonde quis meu fado
são ermos da memória.
59
ultimo o meu caminho
em tétrico desenho
e quando além me empenho
percebo quão daninho
o mundo onde avizinho
o risco e dele venho
vencendo o que inda tenho
de espúrio e mais mesquinho.
{as vezes quis bem mais
que meros rituais
amores burocráticos,
e o tenso dia a dia
aos poucos poderia
gerar sonhos apáticos.
60
após o desespero
não resta quase nada
e a sorte desarmada
eclode em destempero,
o quanto do tempero
permite a desejada
manhã já desenhada
cevada neste acero,
o canto em discordância
o sonho em ressonância
errático e medonho,
assim ao me perder
do quanto foi prazer,
à ermida eu me proponho.
61
num derradeiro verso
eu posso até quem sabe
viver o que não cabe
e nisto sigo imerso
o quanto já disperso
e nada mais se acabe
somente o que desabe
além deste universo
criado pelo sonho
e quando me proponho
encontro apenas isto.
O resto do que um dia
Pudesse em fantasia,
Só sei que não desisto.
62
o meu papel na vida,
bufão ensandecido
tocando este sentido
aonde a despedida
gerasse outra saída
e quando resolvido
esbarro em meu olvido
seara em vão perdida,
restauro o que inda trago
em tento algum afago
desta esperança atroz.
Porém já nada resta
Somente a mera fresta
Ausente rumo e foz.
63
revendo em sincronia
o passo que trouxera
a mansidão e a fera
e nele não teria
senão a hipocrisia
aonde destempera
a vida sem espera
e mata o dia a dia,
esboço algum alento
e quando além eu tento
vencer os meus engodos,
arcando com meu charco
do medo já me encharco
e bebo os vários lodos.
64
reproduzindo o sonho
diversa esta aquarela
aonde se revela
em ar duro e bisonho
o quanto te proponho
destino não atrela
e nada mais se sela
somente este ar medonho,
proposições diversas
e nelas são imersas
as ilusões de quem
cerzindo em tom sombrio
o olhar que desafio
e o nada já contém.
65
acres canções que a vida
prepara em armadilha
aonde compartilha
a história sem saída
enquanto não duvida
quem tanto busca a trilha
e além já não mais brilha
na farsa presumida.
Esboço em verso e canto
Aonde se me espanto
Promessas maltratadas
As horas mais mordazes
Deveras quando trazes
Destroças alvoradas.
66
maldito seja o outono
aonde me negaste
e sei que sendo um traste
da morte mero abono
aos poucos já me adono
e sigo em tal desgaste
além do que mostraste
num rito em abandono,
tristezas as conheço
e sei cada adereço
no qual eu poderia
traçar qualquer disfarce,
porém se a vida esgarce
não resta qualquer dia.
67
como se fosse o fruto
de um sonho meramente
maior do que aparente
o dia amargo e bruto,
enquanto não reluto
e tento este clemente
cenário onde aparente
o passo mais astuto,
restando deste fato
o quanto me retrato
em ar quase sombrio,
meu canto em tom maior,
quem dera o teu suor
tomasse em desafio.
68
um pássaro liberto
buscando algum aporte
aonde se conforte
e veja sempre aberto
caminho que deserto
e nele em novo norte
a vida com mais sorte
gestando onde desperto,
arcar com erros pude
e tendo esta atitude
no farto caminhar,
dessedentando o medo
ao todo me concedo
e em ti bebo o luar.
69
à flor que tanto vi
um brilho que sacia
gestando em harmonia
o gozo, um colibri
aos poucos descobri
assim num novo dia
o quanto poderia
viver a paz em ti,
desvendo os meus enredos
e bebo dos segredos
que tanto me escondeste
amor maior do que este
deveras não concebo
e assim, em paz me embebo.
70
ao céu e à terra eu sigo
sem medos nem façanhas
e quando além me entranhas
em ti decerto o abrigo,
resumo o que persigo
em noites claras, ganhas
e sei das tais montanhas
vencendo algum perigo,
e resolutamente
o passo não desmente
o quanto mais eu quis,
e sendo desta forma
o amor tanto deforma
enquanto faz feliz.
71
neste encorajamento
enfrento qualquer troça
e mais do que se possa
percebo enquanto tento
o olhar suave e atento
da vida toda nossa
e nada mais endossa
o amor em provimento,
e sem qualquer temor
adentro em raro amor
e nele me sacio,
expresso em solução
os dias que virão
ausente medo e frio.
72
é sempre o mesmo efeito
e nele não me esgoto
o tempo mais remoto
agora mal me deito
traduz o satisfeito
cenário onde me boto
e nego o terremoto
enquanto o sonho eu pleito.
Apraza-me saber
Do quanto em bem querer
Também tu me desnudas
As horas apascentam
E nelas se apresentam
Ternuras mais agudas.
73
eternamente creio
na luz que intemerata
deveras não maltrata
e gera novo veio,
por onde o sonho anseio
e sei da força grata
na qual amor retrata
o mundo onde rodeio,
versejo com carinho
e sigo cada ninho
aonde eu possa Ter
o olhar que me ilumine
e sei deste ar sublime
das ânsias do querer.
74
efeito refletindo assim a causa
transcorre em concordância a cada passo
e quando novo rumo em paz eu traço
o amor já não comporta queda e pausa,
a vida se aproxima da andropausa
e o cálido caminho hoje desfaço
mudando o meu olhar em novo espaço
uma esperança além da menopausa
esboça o fim da história e se degrada
mudando neste instante rumo e estrada
o verso não traduz sequer o canto,
e nele resumindo a minha sina
aonde qualquer luz inda fascina
herético cenário se adianta.
75
os versos refletindo igual desenho
e neles entranhando a dura sorte
sem ter que na verdade me conforte
apenas o vazio enfim contenho
e o canto aonde alhures eu desdenho
o quanto pude ainda ver em norte
enquanto uma ilusão a vida aborte
o olhar já não reflete o desempenho,
ascendo ao constelar caminho quando
o manto desfiara e demonstrando
o pouco que inda resta, mas eu tento,
aprendo com engodos ou falácias
e tento embora vagas tais audácias
vencer em mansidão meu sofrimento.
76
a vida este festejo mais banal
no quanto traz em si caminho e fim,
o manto se desvenda e sendo assim
o corte se aproxima do fatal,
e vago sem destino pelo astral
resumo o desalinho de onde vim
no herético prazer que vive em mim,
cerzindo este cenário bem ou mal,
ascendo ao que pudesse em verso e canto.
E quando na verdade além me espanto
Eu bebo cada gota que espalhaste,
Do todo em voz sombria e tom mordaz,
Somente a solidão, a vida traz
Gerando a cada ausência este desgaste.
77
as máscaras dançantes entremeiam
festejos mais dispersos e em verdade
o tanto que pudesse e se degrade
enquanto os meus delírios não anseiam
sequer outros caminhos que incendeiam
a vida com ternura e nos invade
ditando cada passo em falsidade
e os passos mais distantes já se alheiam.
Não mais eu necessito desta farsa.
A vida com certeza ora se esgarça
E deixa estes sinais aonde eu pude
Vestir em tantos medos minha dita
No quanto cada verso necessita
Sentir desta esperança a magnitude.
78
condena-se ao caminho torpe a treva
que tantas vezes disse da verdade
no passo mais atroz a realidade
a cada novo tempo, um templo atreva
a vida poderia ser longeva,
mas quando em erros tantos nada brade
deixando para trás mera saudade
ao nada o sortilégio já me leva.
Mesquinharias ditam o futuro
Aonde a paz somente em vão procuro
E tento discernir entre os demônios
Sedentos do que eu tento e não pudera
Gestados pelas ânsias da quimera
Traçando a cada engodo, pandemônios.
79
cansado de bailar entre os enganos
entranho as cicatrizes que carrego
o passo na verdade duro e cego
negando aonde houvera meros planos,
e assim ao se cerrarem últimos panos
a peça em que deveras eu me entrego
resulta no vazio onde trafego
vestindo as ilusões em ermos planos,
estranhas noites formas virulentas
e nelas com certeza me atormentas
tramando as variantes da emoção
aporto os desenganos costumeiros
e tento procurar noutros canteiros
provável primavera em floração.
80
enquanto a vida orquestra
diversa sinfonia
a sorte não traria
a mão que agora adestra
e vendo esta canhestra
verdade em ironia,
o pouco que teria
negando a sorte, mestra.
O quanto diz do quando
E o vago transbordando
Gerando outro excremento,
No todo ou mera parte
A vida se reparte
E o fim, logo incremento.
81
ao som dos violinos
guitarras, violões
e neles sensações
de dias cristalinos
os tantos desatinos
e neles provisões
diversas direções
porquanto são ladinos
os passos onde tento
vencer o alheamento
um tanto costumeiro,
resumos de outros tempos
em fartos contratempos
o enfarto derradeiro.
82
brilhantes constelares
desenhos siderais
e tento ou muito mais
do quanto não notares
vagando em teus altares
espaços magistrais
e neles rumos tais
porquanto procurares
ver[as e tão somente
assim quando fomente
a vida em novo rumo,
o passo dessedento
e bebo então do vento
e em vão enfim me esfumo.
83
na fúnebre verdade
que tantas vezes dita
a sorte necessita
do vento que degrade
o passo em realidade
a sorte mais aflita
o corte aonde fita
o olhar em claridade,
no pranto saciado
o vento desolado
inverno dentro em mim,
o canto que pudera
apascentar a fera
chegando agora ao fim.
84
a vida em tais anseios
gerando o que não pude
vencer em plenitude
e assim adentro os ermos veios
e sinto mais alheios
os passos onde eu mude
e trace em atitude
aquém dos meus receios
caminhos mais diversos
e neles vejo imersos
os ermos de minha alma
no tanto que pudesse
vencer em reza e prece
o canto onde se acalma.
85
um fúnebre desdém
de quem quisera tanto
e agora não me espanto
enquanto o nada vem,
apenas sou refém
do amor e quando adianto
o passo e não garanto
senão o quanto tem
a queda após tropeço
e quando me endereço
ao farto que inda vejo
cercando cada passo
no intento onde desfaço
o sonho em vão desejo.
86
neste turbilhonar
caminho aonde eu tento
vencer o sofrimento
e crer na luz solar,
o medo de levar
o risco mais atento
e nele o provimento
impede algum luar
espero a cada ausência
do amor tal anuência
que possa traduzir
o quanto ainda tenho
e nisto o velho cenho
impede algum por vir.
87
um raio deste sol
tomando o céu imenso
e quando além eu penso
nas tramas do arrebol,
o amor que segue em prol
do quanto ainda extenso
delírio mesmo tenso
e nele és o farol,
ascendo ao quanto quero
e mesmo quando fero
destino desvendado
o verso se enaltece
tentando outra benesse
além do velho enfado.
88
declínio deste arcanjo
em tramas mais profanas
e quando tu me danas
em novo desarranjo
o tanto que inda arranjo
do mundo enquanto enganas
e mostras soberanas
verdades que ora tanjo
tentando discernir
momento que há de vir
após a tempestade,
escusas não reparam
os erros que separam
o amor da claridade.
89
o homem mais sombrio
desenho onde Deus quis
fazer o mais feliz
num caos em desafio
assim ao ver o frio
desdém da cicatriz
e nela feito a giz
o parto a cada fio
estendo após a queda
o quanto inda se enreda
o passo muito além
do cardo aonde entendo
o sonho sem remendo
meu canto enquanto vem.
90
presságios entre sonhos
são caos e na verdade
o quanto inda me invade
ditando em tais medonhos
delírios enfadonhos
e neles a saudade
ditando a realidade
em ares mais tristonhos.
E quando posso ver
Somente o desprazer
E nele me redime
O fato doloroso
Por vezes andrajoso
E nunca mais sublime.
91
não falo em primavera
que há tanto já não vejo
sequer de algum desejo
gerando nova espera
a sorte não mais gera
sequer menor ensejo
apenas o negrejo
da vida, espúria fera.
O amor já não mais grita
Tampouco na finita
Manhã se apresentando
Anoitecer de uma alma
Morna visão que acalma
Num tempo frio ou brando.
92
falando deste inverno
que sinto desde agora
do frio que devora
o coração mais terno,
e quando o sonho externo
na fonte se demora
e gera sem Ter hora
o sonho aonde hiberno,
a falta de esperança
o olhar já não alcança
sequer um horizonte,
ao mergulhar na neve
minha alma não se atreve
sequer um rumo aponte.
93
imóvel em frialdade
granito do meu ser
há tanto a se perder
no frio que me invade,
o resto nem saudade
tampouco algum prazer
aos poucos ao morrer
percebo última grade,
e o vento em agonia
transforma o dia a dia
em névoa e nada mais,
quem tanto quis a glória
na face merencória
dos ermos invernais.
94
olhar fúnebre trama
o fim em tez dorida
do quanto quis ser vida
e agora ao fim da chama
já não revela trama
somente a despedida,
a sorte apodrecida
o corpo volta à lama.
O fim se aproximando
Num ar quase nefando
Nevando sem descanso,
Apenas o vazio,
Qual fosse um desafio
Enfim, em paz alcanço.
95
nesta estação da morte
a gélida impressão
dos dias que virão
e nada mais aporte
o rio sem um norte
somente um passo em vão
e nele imprecisão
tomando cedo a sorte,
acordo e nada além
da bruma, o olhar contém
e disto me alimento.
Noctívago poeta
A sorte se deleta
Na falta de provento.
96
na tenebrosa espera
do fim e tão somente
o pouco que alimente
o quanto existe em fera,
não mais resta e tempera
o corpo e a penitente
loucura que inclemente
procura a primavera.
No inverno agrisalhado
O olhar já desolado
Não tendo mais sequer
O brilho da esperança
Ao longe, não alcança
As sombras da mulher.
97
não quero a compaixão
também não necessito
de um riso mais aflito
ou nova direção
e sei que desde então
o sol em tal granito
presume este finito
delírio em dimensão.
Acossa-me a saudade
E o quanto ainda invade
Traduz somente o fim.
A pele se engelhando
O coração nevando
Na morte viva em mim.
98
ao findar de estações
os dias noutra face
o tempo duro grasse
e nele os meus verões
dispersas emoções
caminhos onde trace
além do vago impasse
perdidos os vagões,
descarrilada sorte
aguarda então a morte
que venha e já redime
os ermos de quem tanto
outrora noutro canto
sonhara em ar sublime.
99
da antiga mocidade
as sombras, num receio
o rio perde o veio
bebo a salinidade
na foz aonde invade
o quanto em devaneio
do sonho ainda veio,
no olhar que se degrade,
resulto deste ciclo
e sei já não reciclo,
o fim em lama e pó,
apenas levo na alma
a farsa que me acalma
e o sonho, ausente ou só.
100
das flores ao agosto
o tempo não refaz
e quando quis a paz
no nada em turvo rosto
o coração exposto
autêntico e mordaz
o quanto ainda traz
aos poucos decomposto,
o frio, o vento e a treva
aonde o sonho leva
em derradeiro passo,
somente a cada esgarce
a vida sem disfarce
em solidão eu traço.
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