sexta-feira, 3 de outubro de 2014

ACUADO



ACUADO

Acuado por tantas heresias
Performances diversas morte e vida
E quando este caminho se decida
Deixando no passado as fantasias

Mergulho neste vão e nele guias
Sabendo que não há sequer saída
Apenas preparando a despedida,
As horas que inda restam são sombrias.

Neófito nas ânsias mais audazes
E quando a solução deveras trazes
Não tendo uma outra opção sigo sozinho,

Mas sei que tudo molda este cenário
No quanto o meu morrer é necessário
E quando do vazio eu me avizinho.

MARCOS LOURES

MEU VERSO



MEU VERSO

Servindo a quem se mostre mais cruel
Meu verso não produz qualquer efeito
E quando me amortalho e insone deito
Vagando o pensamento sempre ao léu

Acordos do passado em vil papel
Arcando com os erros, tosco pleito
E tanto poderia estar aceito
Aonde a virulência dita o fel,

Apenas o que resta ao sonhador
A cada novo instante decompor
O quanto inda restara em viva voz,

E sendo a realidade sempre assim,
O sonho determina agora o fim
E sei o quanto a morte é mais veloz...

MARCOS LOURES

SAGRADO GENOCÍDIO



SAGRADO GENOCÍDIO

Um déspota que em louca fantasia
Escravo de outro déspota mais sábio
Ousando da mentira em astrolábio
Sonhando ser senhor tudo faria,

Em vingança cruel e incoerente,
Por não ser adorado por seu dono,
Simiesca figura, um tosco mono,
Um morto sol, já no poente,

Provocando, quiçá, num sonho obtuso,
Assassinato em série de crianças,
Fazendo com mil demos alianças
Inverossímil ato tão confuso,

Proclama-se senhor e pai da vida,
Oculta a vera face: um genocida...

MARCOS LOURES

NEM SOMBRA



NEM SOMBRA


Das lágrimas nem sombra, mas não quero
Tampouco poderia crer no apoio
De quem sabe decerto deste arroio
Infecto entre delírios, tosco e fero,

Aonde poderia ser sincero
O mundo se prepara em vão comboio
Deixando para mim o mero joio,
Eu sei que isto eu mereço, e assim espero

Nem mesmo a despedida dos meus filhos
Que tanto se fizeram noutros trilhos
Restando assim quem sabe a poesia,

Risonho prisioneiro? Nada disso,
O quanto de uma luz mera cobiço
Por onde a realidade nada cria...

MARCOS LOURES

O PESO DE UMA VIDA



O PESO DE UMA VIDA


Talvez quem sabe um dia eu possa ter
A sorte de um momento em redenção
Embora vai distante o meu verão
No mundo não cabendo mais prazer,

Opaco caminhar eu passo a ver
E tento acreditar noutra versão,
Mas sinto finalmente esta aversão
Ao que trouxesse à luz algum poder,

E quando prenuncio a bancarrota
O barco sem caminho perde e rota
E a porta sempre aberta sabe a tranca,

O peso de uma vida em dores tantas
Ao mesmo tempo ainda vens e espantas
Enquanto a realidade me desanca.

MARCOS LOURES

ESPELHO



ESPELHO

Posso até rever no espelho
Tanta sorte que talvez
Ao tocar a lucidez
Vez por outra me aconselho

Ao vencer tantas desditas
Ditos soltos, frases ocas
E deveras nestas bocas
Quando inúteis forem ditas

Perpetuam a falácia
De quem tanto aventureiro
Meu caminho derradeiro
Não se faz com tanta audácia

Caminheiro do vazio,
Com meus erros me recrio.

MARCOS LOURES