sábado, 13 de março de 2010

01001

E sigo cada passo, cada rastro.
Daquele que me fez enamorada,
Depois de tanto tempo resta o nada,
E o sonho mais audaz, aos poucos castro.

Vivesse pelo menos a alegria
De um tempo tão feliz, mera ilusão
Ao ver-me neste espelho: solidão
No descaminho imenso em que se urdia

A estrada feita em pedra e temporal,
Ainda que pudesse imaginar
O brilho suave e manso de um luar,
O dia se repete sempre igual.

A morte talvez seja o melhor jeito
De poder descansar em calmo leito...

01000

Completa-se este ciclo em minha vida,
Audácia se transforma em solidão,
E quando renovar esta estação
Não deixe a caminhada em vão, perdida.

O custo que se paga, o de uma ermida
Causando muitas vezes confusão
Ditando com ternura e compaixão,
Por mais distante luz, ainda agrida.

Resquícios de um passado se perdendo,
O mundo noutra senda se envolvendo
A poesia é morta, disso eu sei.

Aquém dos descaminhos de hoje em dia,
Quem tanto necessita da utopia
Não deveria andar na mesma grei.

00999

Mulher que tanto teve e não sabia
Das duras armadilhas que encontrara
Durante a sua vida tão amara
Distando sempre e tanto da alegria,

Vestindo a solidão jamais podia
Saber da solução que ora se aclara
Nos olhos de quem tanto quis e ampara
O passo que ao futuro ela daria.

Eu teimo contra tantas ilusões,
E vivo tão somente o que me expões
Num ato de insolência e nada mais.

Apago os rastros todos e as pegadas,
As horas noutras luzes desvendadas
Matando os meus desejos mais venais...

ESPIRAL DE SONETOS SOBRE 3 SONETOS BÁSICOS

1

Aonde se fizesse uma esperança
Não pude conseguir felicidade
E quando se percebe a tempestade,
Aos poucos se perdendo a confiança

Uma alma segue livre, ganhando ares
E teima sem destino na amplidão,
Exposta aos temporais, ledo verão
Traçando a fantasia em vãos altares.

Não posso e nem pretendo ser assim,
A imensa sonhadora do passado,
O gosto do prazer dita o pecado
E o mundo desabando dentro em mim.

Percebo muito além do simples fato
E quando não consigo, me retrato...

2

E quando não consigo, me retrato
E deixo para trás qualquer desejo,
O mundo bem melhor já não prevejo,
Somente nos meus olhos o maltrato.

Anteriormente eu via alguma luz
Aonde a turbulência se fez plena,
Nem mesmo a fantasia me serena
O corpo sendo exposto. Imensa cruz.

Anseio por caminhos bem diversos
Dos que tentara crer serem possíveis.
E quando se percebem impossíveis
Alheios, sem sentidos, os meus versos.

Assim encaminhando para a morte,
Não tendo quem ainda me conforte...


3


Não tendo quem ainda me conforte
Aguardo algum momento aonde possa
Depois de conhecer a dor e a fossa,
Ter sob o meu olhar um novo Norte.

Austeridade é tudo o que pretendo,
Não poderia ser assim liberta
Quem sabe que a verdade é tão incerta,
E nela não percebe dividendo.

O gosto do passado ainda vivo
Atordoando assim meu paladar,
Vontade de talvez ter e levar
Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo

Anseio tão somente algum momento
Aonde não encontre tal tormento...

4

Aonde não encontre tal tormento
Apenas o caminho se desfaz
E tudo que pensara mais audaz,
Diverso do que invade o pensamento.

A voz de um coração enamorado,
Audaciosamente se perdeu
E quando se percebo imenso breu,
Mergulho no vazio deste prado.

Matizes tão complexas, grises céus,
E neles os meus dias se perdendo,
Aonde se pensara em estupendo
Momento se entranhando sob os véus,

E quando a fantasia em vão me invade
Não pude conseguir felicidade


5

Não pude conseguir felicidade
Tampouco inda desejo um novo tempo,
Aonde se percebe o contratempo,
Não posso deslindar após a grade.

E o jeito é caminhar mesmo que em vão,
Atrocidades vejo nesta estrada,
Palavra libertária encarcerada
Mudando minha história e direção,

Vestindo esta mortalha que inda trago
Depois de tanto inverno em minha vida,
Percebo quão difícil e imerecida
A falta de carinho, de um afago

Vivendo este terror o fim prevejo
E deixo para trás qualquer desejo.

6

E deixo para trás qualquer desejo
Após me perceber tão iludida
Aonde se aportasse a minha vida
Com trevas e delírios, já negrejo.

O peso do passado enverga quem
Pensara ser possível liberdade,
Mas quanto mais terror, mais alto brade
O coração daquela sem ninguém.

Na ausência de outro rumo vou em frente,
Lutando contra tudo e contra todos,
Os pés enlameados nestes lodos.
O fim já se aproxima e uma alma sente

Sair desta terrível, podre fossa
Aguardo algum momento aonde possa.

7

Aguardo algum momento aonde possa
Viver com mansidão que desconheço,
O mundo se fazendo em adereço
De vez em quando amarga enquanto adoça.

Vencida, a caminheira não percebe
Ainda a claridade que envolvente
Ao mesmo tempo nega e já desmente,
Tornando mais dorida a velha sebe.

O preço de uma falsa alegoria
Não vale mesmo quando se faz pouco,
No encanto e desencanto me treslouco,
Viver uma alegria? Uma utopia...

Rotina só termina em dor que invade
E quando se percebe a tempestade.

8

E quando se percebe a tempestade
Um tempo mais nublado se anuncia,
A sorte se perdendo em noite fria,
Deixando como herança a dor que brade

Estímulos diversos? Nem um deles,
Amor não poderia me trazer
Sequer a menor sombra de um prazer
Momentos que pensei sobejos, reles.

E o pêndulo traçando o meu destino,
Na inconseqüente luz fascinação,
Mergulho neste abismo feito em vão
E a força necessária não domino,

Usando esta mortalha de um desejo
O mundo bem melhor já não prevejo.

9

O mundo bem melhor já não prevejo
E sinto a derrocada do meu sonho,
Não vejo mais futuro se, medonho,
Caminho onde alheia perco o ensejo.

O risco de quem ama se transforma
Na imensidão da dor que não me larga,
E quando não suporto mais a carga,
A vida pouco a pouco me deforma.

E aonde se pensara em um carinho
Não tendo outra resposta senão essa,
Terrível temporal que recomeça
Deixando o meu destino mais sozinho.

Sobreviver então não há quem possa
Depois de conhecer a dor e a fossa.

10

Depois de conhecer a dor e a fossa
Jamais imaginara alguma luz
E quando ao nada ser amor conduz
Enquanto seduzindo nos destroça.

E o vendaval expondo esta ferida
Rondando a minha casa, a morte expõe
A face desnudada em que compõe
O fim da longa estrada dita vida.

Abandonada e sem sequer sonhar,
O beijo que recebo, traição,
Momento onde me iludo, sendo vão
Não deixa sequer rastro do luar,

E assim quando ao vazio uma alma lança
Aos poucos se perdendo a confiança.



11

Aos poucos se perdendo a confiança
Já não consigo ao menos discernir
Se ainda ao meu alcance algum porvir
E nele a tempestade sempre avança

Repondo com desdém o que não trago,
A saga de uma louca poetisa
Que tanto se propõe e não matiza
Sequer uma impressão de manso lago.

Atrozes os desníveis que ora encontro
E neles se traduz minha amargura,
Pudesse transformar minha procura
Diverso deste eterno desencontro;

Futuro mentiroso se diz grato
Somente nos meus olhos o maltrato.


12


Somente nos meus olhos o maltrato
Desejo que se fez em falsa luz,
Apenas refletindo reproduz
O vendaval que agora sei de fato.

Vivenciara ao menos um segundo
Aonde poderia em paz viver,
E tendo em minha vida o desprazer
Nas mágoas mais profanas me aprofundo.

Expondo a minha face aguardo o tapa
Medonha realidade se afigura,
Aquele a quem amei, vã criatura,
Das mãos de quem procura sempre escapa.

Uma ilusão deveras me conforte:
Ter sob o meu olhar um novo Norte.

13

Ter sob o meu olhar um novo Norte
Talvez ainda mostre à caminhante
Um dia pelo menos mais constante
Que traga com prazer algum suporte.

Esqueço dos meus erros, teus enganos,
E tudo recomeça bem ou mal,
Amar e desamar, vil ritual
Mudando num instante ritos, planos.

Não pude caminhar contra esta imensa
Força que traduzindo mera dor,
Pudesse cruelmente decompor
Gerando ora mormente a dor intensa

Distante dos meus medos, teus altares
Uma alma segue livre, ganhando ares


14

Uma alma segue livre, ganhando ares
E vaga sem destino em pleno ocaso,
Da sorte quando amarga, me defaso
Ainda me afastando dos Palmares

Que tanto disseminas vida afora,
E quando se mostrando mais inglória
Distante do que outrora quis vitória
Mergulho no vazio e vou embora.

Perceba quão dorida a caminhada
De quem ao se propor não percebia
Imensidão da dor, feito agonia
E nela se presume nova escada.

Na treva que me mundo reproduz
Anteriormente eu via alguma luz.

15

Anteriormente eu via alguma luz
Aonde se percebe totalmente
O inútil caminhar que se pressente
E ao mesmo nada sempre nos conduz.

Descrevo com carinho cada passo
E nele são mesquinhas as falácias
Terrível solidão calando audácias
E tudo o que quiser já desfaço

Não posso me calar perante à dor
Tampouco me entranhar da podridão
No amor que tanto eu quis, a negação
Permite o nada além a se propor.

E quando me mostrara ledo adendo
Austeridade é tudo o que pretendo.

16

Austeridade é tudo o que pretendo
E não mais saberia prosseguir
Sabendo do vazio no porvir
Depois dum caminhar tão estupendo.

Bebendo a solidão não posso mais
Tentar a solução em novas sendas,
E quando as minhas ânsias tu desvendas
Prepara esta armadilha em vendavais.

Mordaça em minha boca, não comporta
A sina de uma tola caminheira,
Que mesmo entre estas pedras já se esgueira
Tentando adivinhar se existe porta.

A furiosa dor explode num senão
E teima sem destino na amplidão.

17



E teima sem destino na amplidão
Quem tanto se pensara mais feliz
A vida se deveras me desdiz
Traçando novo rumo ou direção

Não pode nem sequer trazer com ela
O sonho mais audaz, pois sinto morto
E quando procurara um simples porto
Imensa solidão já se revela.

Vagando como fosse algum cometa,
Depois de tantos anos sem ninguém
Apenas o vazio me contém
E nele uma alma amarga se arremeta

Melhor do que viver a fria cena
Aonde a turbulência se fez plena.

18


Aonde a turbulência se fez plena
Jamais encontrarei a calmaria
O mundo a cada sonho não veria
Sequer uma emoção que me serena

Nefasta tal imagem que conduzo
E nela me espelhando nada vejo,
O quanto se pensara em vil desejo
Configurando agora tanto abuso.

Usar com maestria uma palavra
E dela perceber a qualidade
Enquanto o nada ser ainda invade
Destroça-se em verdade minha lavra

Quem tenta e da ilusão já não deserta
Não poderia ser assim liberta.


19


Não poderia ser assim liberta
Uma alma sonhadora que se deu
Durante a tempestade em pleno breu
Vagando pelo mundo quase incerta.

Servil e sofredora não consegue
Vencer os seus anseios, sofre tanto
E quando se percebe em desencanto
Por mais que uma esperança inda navegue

Alvissareiras luzes, dores tantas,
Mergulhos num vazio dentro em mim,
Pudesse crer na força de um jardim,
Mas como se não restam flores, plantas...

E sigo sem defesa ou direção
Exposta aos temporais, ledo verão.

20


Exposta aos temporais, ledo verão
Não sei se poderia crer na luz,
Que tanto me maltrata e me seduz
Trazendo em si deveras negação.

Poeira se transborda a cada passo,
E não consigo mais outra esperança,
A sorte se transforma enquanto lança
Vazia sensação e me desfaço.

Vencer estas tormentas e seguir
Devendo ter no olhar bem mais sombrio,
Veneno que ora sorvo inda porfio
Traçando tão medonho o meu porvir

E quando a tempestade se faz plena
Nem mesmo a fantasia me serena.



21

Nem mesmo a fantasia me serena
Sabendo quanto traz ansiedade
O medo que este sonho se degrade
Mudando num repente toda a cena

Não deixa alguma chance para aquela
Na qual a poesia ainda entranha,
A vida se tornando muito estranha,
Destino incoerente já se sela

O peso do viver arcando as costas
E nada poderia dar alívio,
Quem teve tanta dor em seu convívio
Deveras retalhada em finas postas

O amor constantemente já deserta
Quem sabe que a verdade é tão incerta.

22


Quem sabe que a verdade é tão incerta
Não pode mais trazer algum momento
Aonde se mostrasse tal tormento
Enquanto a dor aos poucos se desperta.

Tentara a qualquer preço outro caminho,
Vestida de ilusões, pobre menina,
A morte muitas vezes me fascina
E dela com certeza me avizinho

Ao terminar cansada a minha lida,
Deixando-me levar pelo terror
E quando se pensara em novo amor,
Memória na verdade dolorida

Vagando sem destino, ruas, bares
Traçando a fantasia em vãos altares.


23

Traçando a fantasia em vãos altares
Jargões tão corriqueiros não serenam,
Momentos em que as dores cedo acenam,
Destroçam meus jardins e meus pomares.

A bêbada que outrora fora gente,
Agora uma indigente, quase pária,
A sorte muita vezes necessária
A cada amanhecer, sonhos desmente

Não deixa sobrar nada do que fui,
Mesquinhas ilusões são quais quimeras
E quando em tantos medos tu temperas
Castelo que criara aos poucos rui

Ao longe este cenário reproduz
O corpo sendo exposto. Imensa cruz.

24


O corpo sendo exposto. Imensa cruz
Aonde em holocausto já me dei,
O amor ao transgredir assim a lei
Fatalidade imensa reproduz.

O tempo não suporta algum disfarce
Da sorte que deveras me atormenta,
A morte se aproxima violenta
Sem ter sequer momento em que disfarce

Com atos mais audazes soberanos,
Fomenta-se o terror em quem outrora
Vivendo a poesia sem demora
Encontra pela vida desenganos.

Aos poucos a emoção estou perdendo
E nela não percebe dividendo.

25


E nela não percebe dividendo;
Da sorte desregrada e sem juízo,
E quando precisava sem aviso,
O mundo em minhas mãos se desfazendo.

Custava pelo menos ter no olhar
Razão que permitisse um novo sonho,
E quando pouco a pouco decomponho
A vida que pensara navegar.

Bisonhos os desejos mais ardentes,
Tentando alguma luz já não consigo,
Condenando-me então ao desabrigo,
Que tanto quanto eu mesma tu pressentes.

Fantasma do que houvera dentro em mim
Não posso e nem pretendo ser assim.

26


Não posso e nem pretendo ser assim
A leda passageira da ilusão
E quanto os novos dias me trarão
Somente poderei saber no fim.

O corte que jamais se cicatriza,
O medo que se estampa em minha face,
Realidade ainda que me embace
Traduz no meu olhar tempesta e brisa.

Assídua navegante sem destino,
Amante sem carinho perco o sono,
E quando me entregando ao abandono
Percebo amanhecer mais cristalino,

Vagando pelos vários universos
Anseio por caminhos bem diversos


27


Anseio por caminhos bem diversos
Daqueles que esperança preconiza,
E quando a realidade é mais precisa
Ausente dos meus olhos, lassos versos.

Imensa caricata não consigo
Saber do quão possível ser feliz,
E tendo demarcada a cicatriz
E dela tão somente algum perigo,

Rasgando o coração já não se vê
Tampouco quem permita a caminhada,
Depois de tanto tempo ora cansada
Não tendo nem sabendo de um por que.

No sonho, um pensamento tão cativo,
O gosto do passado ainda vivo


28

O gosto do passado ainda vivo
Por mais que isto pareça uma bobagem.
O amor ao desbotar tal paisagem
Mostrara-se soberbo ou mais altivo.

Descrevo com carinho cada passo
Na busca por algum lugar sereno,
E quando solitária me enveneno,
O sonho num segundo já desfaço.

Perfaço este caminho rumo ao nada,
Somando nossas forças, minha e tua,
Uma alma se encontrando outrora nua,
Agora no vazio demonstrada.

O fardo que carrego; ter por Fado
A imensa sonhadora do passado.

29


A imensa sonhadora do passado
Jogando sua sorte sem destino,
Aonde encontrarei este menino,
E o coração em trevas disfarçado.

Pereço quando ausente dos seus braços.
Menina que jamais se fez contente,
Por mais que uma esperança se apresente,
Os dias sempre iguais, doridos, lassos.

Amparo-me na falsa sensação
De segurança torpe que me trazes,
O amor se permitindo em várias fases
Jamais acerta o rumo e a direção.

Acalentando os dias mais terríveis
Dos que tentara crer serem possíveis.

30

Dos que tentara crer serem possíveis
Momentos desairosos são constantes,
E mesmo quando em luzes agigantes
O corte se percebe em tons horríveis

Por que vieste agora após a chuva?
Já não comportaria um novo encanto,
E quanto mais presente em mim o pranto,
Na sensação dorida, uma viúva

Vivendo do passado agora vê
No olhar de um velho amigo, o companheiro,
E quando isto parece verdadeiro,
Procuro tuas sombras, mas cadê?

Ao mesmo tempo é nuvem e luar
Atordoando assim meu paladar.



31

Atordoando assim meu paladar
As noites embaladas no vazio
Amor quanto podia noutro estio
Morrendo num inverno secular.

Aprendo a navegar por mar revolto
E teimo contra pedras sem a praia
Por mais que a realidade ainda traia
Vivendo em liberdade sigo solto.

E tenho vez por outra esta vontade
De ser além do nada que hoje entranho
O ser que mesmo tendo perda ou ganho
Concebe no cantar tranqüilidade

Não creio neste tom apregoado:
O gosto do prazer dita o pecado?

32


O gosto do prazer dita o pecado?
Não posso acreditar em tal mentira,
O amor quando nos sonhos já se atira
Ao sofrimento e a dor está fadado.

Descreves cada dia com ternura,
Mas quando se aproxima nada dás,
Aonde poderia ter a paz
Se mesmo uma alegria não me cura.

Eu quero a liberdade no meu canto
Jamais suportaria alguma algema
Ausência de futuro já se tema,
Porém acostumei-me ao desencanto

Vencer batalhas duras, mesmo incríveis,
E quando se percebem impossíveis.

33


E quando se percebem impossíveis
Os ritos mais comuns do amor mundano,
Percebo a cada passo que eu me engano,
Delírios são deveras implausíveis.

Os dias se repetem, nada faço,
Somente este vazio em minha mente,
E quando me disfarço tolamente
A vida vai perdendo seu espaço.

Pedisse ao caminheiro algum momento
Aonde eu mergulhasse sem defesas,
Já não suportaria correntezas
Tampouco merecia o sofrimento

E a vida em que desejo caminhar,
Vontade de talvez ter e levar.

34

Vontade de talvez ter e levar
A sorte desta forma bem tranqüila,
E quando a realidade me aniquila
Não tendo outro caminho, bebo o mar.

E sei quanto salgada a fantasia
Deveras em medonha garatuja,
Minha alma se sentindo imunda e suja,
Aos poucos sem defesas se esvaia.

E o gesto intempestivo de quem ama,
Mudando a direção de um vendaval
Atravessando o mundo em frágil nau,
Mantendo a qualquer custo acesa a chama.

Só sei que nada tenho e sigo assim,
E o mundo desabando dentro em mim.


35

E o mundo desabando dentro em mim
Transcende à própria sorte e me sonega,
Bebendo todo o vinho desta adega
A morte se aproxima, até que enfim...

O gesto mais audaz de um ser temente
Não pode superar qualquer impasse,
E quando a fantasia me ultrapasse
Jamais cultivaria esta semente.

Jogada pelos cantos sem destino,
Sarjetas são meus lares corriqueiros,
Aonde semeasse se os canteiros
Há tanto destrocei em desatino

Por isso seguem tolos e dispersos
Alheios, sem sentidos, os meus versos.

36

Alheios, sem sentidos, os meus versos.
Falando sobre amor que não percebo,
E quando se conhece qual placebo
Momento entre carinhos tão dispersos,

Eu singro por caminhos mais complexos
Vagando feito em luz parca e sombria,
Não tendo da esperança quem me guia,
Os dias se perdendo sem os nexos

E vendo o terminar da torpe vida
Nos ermos de uma insólita paixão,
O traço que queria, de união,
Há tanto tendo a corda já rompida

Promessa deste encanto vão, cativo:
Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo.

37

Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo
Depois de conhecer as suas manhas
E quando noutro rumo tu te entranhas,
Meu peito não se torna mais altivo,

Espero algum momento mais feliz,
E disso desenhando caricata
Figura que deveras me maltrata
E toda a realidade contradiz.

Assisto aos meus minutos derradeiros
Alheia aos sofrimentos mais banais,
Pudesse desfrutar dos roseirais,
Mas como se não tenho mais canteiros.

E quando esta verdade assim destrato
Percebo muito além do simples fato.

38


Percebo muito além do simples fato
Decerto muitas vezes mais comum,
E quando me encontrando sem nenhum
Caminho, com certeza eu me maltrato.

Amputo as ilusões e morro só,
Vasculhos estas gavetas e nada encontro,
O amor quando se dá em desencontro
Desmoronando a vida, resta em pó.

Escombros do que fomos inda trago,
E deles não refaço um novo mundo,
Somente no vazio me aprofundo,
Observo com temor um velho estrago

E sem ter mais alguém que me suporte
Assim encaminhando para a morte.

39



Assim encaminhando para a morte,
Não via senão dores, tanto espinho,
E um velho coração se faz sozinho,
E dele não percebo mais aporte.

O mundo se destroça claramente
E o beijo que recebo, o de um falsário,
Amar e ter aquém do necessário
Jamais eu pensaria, mesmo ausente

Das ânsias mais comuns da adolescência
E agora quando sei maturidade,
Delírio de menina vem e invade
Domando toda a minha consciência,

Da paz que já perdi neste tormento
Anseio tão somente algum momento.

40

Anseio tão somente algum momento
Aonde decifrar os meus enredos,
E neles coletando velhos medos
Somente o que me resta, um vão lamento.

Ouvisse pelo menos um instante
A voz de quem vivera a dor outrora,
Mas quando a realidade vai embora
Sobrando a fantasia delirante,

Não tendo solução, mergulho e cismo
Vagando sem saber sequer destino,
Ensandecida logo me alucino
Sabendo do final em cataclismo,

Percebo quanto amor é vil e ingrato
E quando não consigo, me retrato...

41


E quando não consigo, me retrato;
Falando dos anseios e das dores,
Deixando no jardim carinhos, flores,
Apenas tão distante algum regato

Aonde poderia esta sedenta
Saciar desejos entre luzes,
Sabendo que ao vazio me conduzes,
Nem mesmo a fantasia me apascenta.

Morresse pelo menos não teria
Terrível decepção que tu causaste,
A vida se condena a tal desgaste
Deixando demarcada esta sombria

Verdade que traduz no fim a morte,
Não tendo quem ainda me conforte...


42



Não tendo quem ainda me conforte
Jamais eu poderia crer no todo,
O amor ao se entranhar em lama e lodo
Transforma totalmente a nossa sorte,

E sigo desairosa pela vida,
Tentando algum momento feito em paz,
E quando a realidade é tão mordaz,
Decerto já me encontro então, perdida.

Qual fora navegante do não ser,
Morrendo a cada tempo mais um pouco,
Deveras sem ninguém eu me treslouco
E sinto se esvaindo o meu prazer

Quem dera um novo e nobre sentimento
Aonde não encontre tal tormento...

00992/993/994/995/996/997/998

992


Alheios, sem sentidos, os meus versos.
Falando sobre amor que não percebo,
E quando se conhece qual placebo
Momento entre carinhos tão dispersos,

Eu singro por caminhos mais complexos
Vagando feito em luz parca e sombria,
Não tendo da esperança quem me guia,
Os dias se perdendo sem os nexos

E vendo o terminar da torpe vida
Nos ermos de uma insólita paixão,
O traço que queria, de união,
Há tanto tendo a corda já rompida

Promessa deste encanto vão, cativo:
Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo.

993

Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo
Depois de conhecer as suas manhas
E quando noutro rumo tu te entranhas,
Meu peito não se torna mais altivo,

Espero algum momento mais feliz,
E disso desenhando caricata
Figura que deveras me maltrata
E toda a realidade contradiz.

Assisto aos meus minutos derradeiros
Alheia aos sofrimentos mais banais,
Pudesse desfrutar dos roseirais,
Mas como se não tenho mais canteiros.

E quando esta verdade assim destrato
Percebo muito além do simples fato.

994


Percebo muito além do simples fato
Decerto muitas vezes mais comum,
E quando me encontrando sem nenhum
Caminho, com certeza eu me maltrato.

Amputo as ilusões e morro só,
Vasculhos estas gavetas e nada encontro,
O amor quando se dá em desencontro
Desmoronando a vida, resta em pó.

Escombros do que fomos inda trago,
E deles não refaço um novo mundo,
Somente no vazio me aprofundo,
Observo com temor um velho estrago

E sem ter mais alguém que me suporte
Assim encaminhando para a morte.

995



Assim encaminhando para a morte,
Não via senão dores, tanto espinho,
E um velho coração se faz sozinho,
E dele não percebo mais aporte.

O mundo se destroça claramente
E o beijo que recebo, o de um falsário,
Amar e ter aquém do necessário
Jamais eu pensaria, mesmo ausente

Das ânsias mais comuns da adolescência
E agora quando sei maturidade,
Delírio de menina vem e invade
Domando toda a minha consciência,

Da paz que já perdi neste tormento
Anseio tão somente algum momento.

996

Anseio tão somente algum momento
Aonde decifrar os meus enredos,
E neles coletando velhos medos
Somente o que me resta, um vão lamento.

Ouvisse pelo menos um instante
A voz de quem vivera a dor outrora,
Mas quando a realidade vai embora
Sobrando a fantasia delirante,

Não tendo solução, mergulho e cismo
Vagando sem saber sequer destino,
Ensandecida logo me alucino
Sabendo do final em cataclismo,

Percebo quanto amor é vil e ingrato
E quando não consigo, me retrato...

997


E quando não consigo, me retrato;
Falando dos anseios e das dores,
Deixando no jardim carinhos, flores,
Apenas tão distante algum regato

Aonde poderia esta sedenta
Saciar desejos entre luzes,
Sabendo que ao vazio me conduzes,
Nem mesmo a fantasia me apascenta.

Morresse pelo menos não teria
Terrível decepção que tu causaste,
A vida se condena a tal desgaste
Deixando demarcada esta sombria

Verdade que traduz no fim a morte,
Não tendo quem ainda me conforte...


998



Não tendo quem ainda me conforte
Jamais eu poderia crer no todo,
O amor ao se entranhar em lama e lodo
Transforma totalmente a nossa sorte,

E sigo desairosa pela vida,
Tentando algum momento feito em paz,
E quando a realidade é tão mordaz,
Decerto já me encontro então, perdida.

Qual fora navegante do não ser,
Morrendo a cada tempo mais um pouco,
Deveras sem ninguém eu me treslouco
E sinto se esvaindo o meu prazer

Quem dera um novo e nobre sentimento
Aonde não encontre tal tormento...

00987/988/989/990/991

987

Atordoando assim meu paladar
As noites embaladas no vazio
Amor quanto podia noutro estio
Morrendo num inverno secular.

Aprendo a navegar por mar revolto
E teimo contra pedras sem a praia
Por mais que a realidade ainda traia
Vivendo em liberdade sigo solto.

E tenho vez por outra esta vontade
De ser além do nada que hoje entranho
O ser que mesmo tendo perda ou ganho
Concebe no cantar tranqüilidade

Não creio neste tom apregoado:
O gosto do prazer dita o pecado?

988


O gosto do prazer dita o pecado?
Não posso acreditar em tal mentira,
O amor quando nos sonhos já se atira
Ao sofrimento e a dor está fadado.

Descreves cada dia com ternura,
Mas quando se aproxima nada dás,
Aonde poderia ter a paz
Se mesmo uma alegria não me cura.

Eu quero a liberdade no meu canto
Jamais suportaria alguma algema
Ausência de futuro já se tema,
Porém acostumei-me ao desencanto

Vencer batalhas duras, mesmo incríveis,
E quando se percebem impossíveis.

989


E quando se percebem impossíveis
Os ritos mais comuns do amor mundano,
Percebo a cada passo que eu me engano,
Delírios são deveras implausíveis.

Os dias se repetem, nada faço,
Somente este vazio em minha mente,
E quando me disfarço tolamente
A vida vai perdendo seu espaço.

Pedisse ao caminheiro algum momento
Aonde eu mergulhasse sem defesas,
Já não suportaria correntezas
Tampouco merecia o sofrimento

E a vida em que desejo caminhar,
Vontade de talvez ter e levar.

990

Vontade de talvez ter e levar
A sorte desta forma bem tranqüila,
E quando a realidade me aniquila
Não tendo outro caminho, bebo o mar.

E sei quanto salgada a fantasia
Deveras em medonha garatuja,
Minha alma se sentindo imunda e suja,
Aos poucos sem defesas se esvaia.

E o gesto intempestivo de quem ama,
Mudando a direção de um vendaval
Atravessando o mundo em frágil nau,
Mantendo a qualquer custo acesa a chama.

Só sei que nada tenho e sigo assim,
E o mundo desabando dentro em mim.


991

E o mundo desabando dentro em mim
Transcende à própria sorte e me sonega,
Bebendo todo o vinho desta adega
A morte se aproxima, até que enfim...

O gesto mais audaz de um ser temente
Não pode superar qualquer impasse,
E quando a fantasia me ultrapasse
Jamais cultivaria esta semente.

Jogada pelos cantos sem destino,
Sarjetas são meus lares corriqueiros,
Aonde semeasse se os canteiros
Há tanto destrocei em desatino

Por isso seguem tolos e dispersos
Alheios, sem sentidos, os meus versos.

00982/983/984/985/986

982


Não posso e nem pretendo ser assim
A leda passageira da ilusão
E quanto os novos dias me trarão
Somente poderei saber no fim.

O corte que jamais se cicatriza,
O medo que se estampa em minha face,
Realidade ainda que me embace
Traduz no meu olhar tempesta e brisa.

Assídua navegante sem destino,
Amante sem carinho perco o sono,
E quando me entregando ao abandono
Percebo amanhecer mais cristalino,

Vagando pelos vários universos
Anseio por caminhos bem diversos


983


Anseio por caminhos bem diversos
Daqueles que esperança preconiza,
E quando a realidade é mais precisa
Ausente dos meus olhos, lassos versos.

Imensa caricata não consigo
Saber do quão possível ser feliz,
E tendo demarcada a cicatriz
E dela tão somente algum perigo,

Rasgando o coração já não se vê
Tampouco quem permita a caminhada,
Depois de tanto tempo ora cansada
Não tendo nem sabendo de um por que.

No sonho, um pensamento tão cativo,
O gosto do passado ainda vivo


984

O gosto do passado ainda vivo
Por mais que isto pareça uma bobagem.
O amor ao desbotar tal paisagem
Mostrara-se soberbo ou mais altivo.

Descrevo com carinho cada passo
Na busca por algum lugar sereno,
E quando solitária me enveneno,
O sonho num segundo já desfaço.

Perfaço este caminho rumo ao nada,
Somando nossas forças, minha e tua,
Uma alma se encontrando outrora nua,
Agora no vazio demonstrada.

O fardo que carrego; ter por Fado
A imensa sonhadora do passado.

985


A imensa sonhadora do passado
Jogando sua sorte sem destino,
Aonde encontrarei este menino,
E o coração em trevas disfarçado.

Pereço quando ausente dos seus braços.
Menina que jamais se fez contente,
Por mais que uma esperança se apresente,
Os dias sempre iguais, doridos, lassos.

Amparo-me na falsa sensação
De segurança torpe que me trazes,
O amor se permitindo em várias fases
Jamais acerta o rumo e a direção.

Acalentando os dias mais terríveis
Dos que tentara crer serem possíveis.

986

Dos que tentara crer serem possíveis
Momentos desairosos são constantes,
E mesmo quando em luzes agigantes
O corte se percebe em tons horríveis

Por que vieste agora após a chuva?
Já não comportaria um novo encanto,
E quanto mais presente em mim o pranto,
Na sensação dorida, uma viúva

Vivendo do passado agora vê
No olhar de um velho amigo, o companheiro,
E quando isto parece verdadeiro,
Procuro tuas sombras, mas cadê?

Ao mesmo tempo é nuvem e luar
Atordoando assim meu paladar.

00977/978/979/980/981

977

Nem mesmo a fantasia me serena
Sabendo quanto traz ansiedade
O medo que este sonho se degrade
Mudando num repente toda a cena

Não deixa alguma chance para aquela
Na qual a poesia ainda entranha,
A vida se tornando muito estranha,
Destino incoerente já se sela

O peso do viver arcando as costas
E nada poderia dar alívio,
Quem teve tanta dor em seu convívio
Deveras retalhada em finas postas

O amor constantemente já deserta
Quem sabe que a verdade é tão incerta.


978


Quem sabe que a verdade é tão incerta
Não pode mais trazer algum momento
Aonde se mostrasse tal tormento
Enquanto a dor aos poucos se desperta.

Tentara a qualquer preço outro caminho,
Vestida de ilusões, pobre menina,
A morte muitas vezes me fascina
E dela com certeza me avizinho

Ao terminar cansada a minha lida,
Deixando-me levar pelo terror
E quando se pensara em novo amor,
Memória na verdade dolorida

Vagando sem destino, ruas, bares
Traçando a fantasia em vãos altares.


979

Traçando a fantasia em vãos altares
Jargões tão corriqueiros não serenam,
Momentos em que as dores cedo acenam,
Destroçam meus jardins e meus pomares.

A bêbada que outrora fora gente,
Agora uma indigente, quase pária,
A sorte muita vezes necessária
A cada amanhecer, sonhos desmente

Não deixa sobrar nada do que fui,
Mesquinhas ilusões são quais quimeras
E quando em tantos medos tu temperas
Castelo que criara aos poucos rui

Ao longe este cenário reproduz
O corpo sendo exposto. Imensa cruz.

980


O corpo sendo exposto. Imensa cruz
Aonde em holocausto já me dei,
O amor ao transgredir assim a lei
Fatalidade imensa reproduz.

O tempo não suporta algum disfarce
Da sorte que deveras me atormenta,
A morte se aproxima violenta
Sem ter sequer momento em que disfarce

Com atos mais audazes soberanos,
Fomenta-se o terror em quem outrora
Vivendo a poesia sem demora
Encontra pela vida desenganos.

Aos poucos a emoção estou perdendo
E nela não percebe dividendo.

981


E nela não percebe dividendo;
Da sorte desregrada e sem juízo,
E quando precisava sem aviso,
O mundo em minhas mãos se desfazendo.

Custava pelo menos ter no olhar
Razão que permitisse um novo sonho,
E quando pouco a pouco decomponho
A vida que pensara navegar.

Bisonhos os desejos mais ardentes,
Tentando alguma luz já não consigo,
Condenando-me então ao desabrigo,
Que tanto quanto eu mesma tu pressentes.

Fantasma do que houvera dentro em mim
Não posso e nem pretendo ser assim.

00972/973/974/975/976

972

Austeridade é tudo o que pretendo
E não mais saberia prosseguir
Sabendo do vazio no porvir
Depois dum caminhar tão estupendo.

Bebendo a solidão não posso mais
Tentar a solução em novas sendas,
E quando as minhas ânsias tu desvendas
Prepara esta armadilha em vendavais.

Mordaça em minha boca, não comporta
A sina de uma tola caminheira,
Que mesmo entre estas pedras já se esgueira
Tentando adivinhar se existe porta.

A furiosa dor explode num senão
E teima sem destino na amplidão.


973



E teima sem destino na amplidão
Quem tanto se pensara mais feliz
A vida se deveras me desdiz
Traçando novo rumo ou direção

Não pode nem sequer trazer com ela
O sonho mais audaz, pois sinto morto
E quando procurara um simples porto
Imensa solidão já se revela.

Vagando como fosse algum cometa,
Depois de tantos anos sem ninguém
Apenas o vazio me contém
E nele uma alma amarga se arremeta

Melhor do que viver a fria cena
Aonde a turbulência se fez plena.



974


Aonde a turbulência se fez plena
Jamais encontrarei a calmaria
O mundo a cada sonho não veria
Sequer uma emoção que me serena

Nefasta tal imagem que conduzo
E nela me espelhando nada vejo,
O quanto se pensara em vil desejo
Configurando agora tanto abuso.

Usar com maestria uma palavra
E dela perceber a qualidade
Enquanto o nada ser ainda invade
Destroça-se em verdade minha lavra

Quem tenta e da ilusão já não deserta
Não poderia ser assim liberta.


975


Não poderia ser assim liberta
Uma alma sonhadora que se deu
Durante a tempestade em pleno breu
Vagando pelo mundo quase incerta.

Servil e sofredora não consegue
Vencer os seus anseios, sofre tanto
E quando se percebe em desencanto
Por mais que uma esperança inda navegue

Alvissareiras luzes, dores tantas,
Mergulhos num vazio dentro em mim,
Pudesse crer na força de um jardim,
Mas como se não restam flores, plantas...

E sigo sem defesa ou direção
Exposta aos temporais, ledo verão.


976


Exposta aos temporais, ledo verão
Não sei se poderia crer na luz,
Que tanto me maltrata e me seduz
Trazendo em si deveras negação.

Poeira se transborda a cada passo,
E não consigo mais outra esperança,
A sorte se transforma enquanto lança
Vazia sensação e me desfaço.

Vencer estas tormentas e seguir
Devendo ter no olhar bem mais sombrio,
Veneno que ora sorvo inda porfio
Traçando tão medonho o meu porvir

E quando a tempestade se faz plena
Nem mesmo a fantasia me serena.

00967/968/969/970/971

967

Aos poucos se perdendo a confiança
Já não consigo ao menos discernir
Se ainda ao meu alcance algum porvir
E nele a tempestade sempre avança

Repondo com desdém o que não trago,
A saga de uma louca poetisa
Que tanto se propõe e não matiza
Sequer uma impressão de manso lago.

Atrozes os desníveis que ora encontro
E neles se traduz minha amargura,
Pudesse transformar minha procura
Diverso deste eterno desencontro;

Futuro mentiroso se diz grato
Somente nos meus olhos o maltrato.


968


Somente nos meus olhos o maltrato
Desejo que se fez em falsa luz,
Apenas refletindo reproduz
O vendaval que agora sei de fato.

Vivenciara ao menos um segundo
Aonde poderia em paz viver,
E tendo em minha vida o desprazer
Nas mágoas mais profanas me aprofundo.

Expondo a minha face aguardo o tapa
Medonha realidade se afigura,
Aquele a quem amei, vã criatura,
Das mãos de quem procura sempre escapa.

Uma ilusão deveras me conforte:
Ter sob o meu olhar um novo Norte.

969

Ter sob o meu olhar um novo Norte
Talvez ainda mostre à caminhante
Um dia pelo menos mais constante
Que traga com prazer algum suporte.

Esqueço dos meus erros, teus enganos,
E tudo recomeça bem ou mal,
Amar e desamar, vil ritual
Mudando num instante ritos, planos.

Não pude caminhar contra esta imensa
Força que traduzindo mera dor,
Pudesse cruelmente decompor
Gerando ora mormente a dor intensa

Distante dos meus medos, teus altares
Uma alma segue livre, ganhando ares


970

Uma alma segue livre, ganhando ares
E vaga sem destino em pleno ocaso,
Da sorte quando amarga, me defaso
Ainda me afastando dos Palmares

Que tanto disseminas vida afora,
E quando se mostrando mais inglória
Distante do que outrora quis vitória
Mergulho no vazio e vou embora.

Perceba quão dorida a caminhada
De quem ao se propor não percebia
Imensidão da dor, feito agonia
E nela se presume nova escada.

Na treva que me mundo reproduz
Anteriormente eu via alguma luz.

971

Anteriormente eu via alguma luz
Aonde se percebe totalmente
O inútil caminhar que se pressente
E ao mesmo nada sempre nos conduz.

Descrevo com carinho cada passo
E nele são mesquinhas as falácias
Terrível solidão calando audácias
E tudo o que quiser já desfaço

Não posso me calar perante à dor
Tampouco me entranhar da podridão
No amor que tanto eu quis, a negação
Permite o nada além a se propor.

E quando me mostrara ledo adendo
Austeridade é tudo o que pretendo.
962

E deixo para trás qualquer desejo
Após me perceber tão iludida
Aonde se aportasse a minha vida
Com trevas e delírios, já negrejo.

O peso do passado enverga quem
Pensara ser possível liberdade,
Mas quanto mais terror, mais alto brade
O coração daquela sem ninguém.

Na ausência de outro rumo vou em frente,
Lutando contra tudo e contra todos,
Os pés enlameados nestes lodos.
O fim já se aproxima e uma alma sente

Sair desta terrível, podre fossa
Aguardo algum momento aonde possa.

963

Aguardo algum momento aonde possa
Viver com mansidão que desconheço,
O mundo se fazendo em adereço
De vez em quando amarga enquanto adoça.

Vencida, a caminheira não percebe
Ainda a claridade que envolvente
Ao mesmo tempo nega e já desmente,
Tornando mais dorida a velha sebe.

O preço de uma falsa alegoria
Não vale mesmo quando se faz pouco,
No encanto e desencanto me treslouco,
Viver uma alegria? Uma utopia...

Rotina só termina em dor que invade
E quando se percebe a tempestade.

964

E quando se percebe a tempestade
Um tempo mais nublado se anuncia,
A sorte se perdendo em noite fria,
Deixando como herança a dor que brade

Estímulos diversos? Nem um deles,
Amor não poderia me trazer
Sequer a menor sombra de um prazer
Momentos que pensei sobejos, reles.

E o pêndulo traçando o meu destino,
Na inconseqüente luz fascinação,
Mergulho neste abismo feito em vão
E a força necessária não domino,

Usando esta mortalha de um desejo
O mundo bem melhor já não prevejo.

965

O mundo bem melhor já não prevejo
E sinto a derrocada do meu sonho,
Não vejo mais futuro se, medonho,
Caminho onde alheia perco o ensejo.

O risco de quem ama se transforma
Na imensidão da dor que não me larga,
E quando não suporto mais a carga,
A vida pouco a pouco me deforma.

E aonde se pensara em um carinho
Não tendo outra resposta senão essa,
Terrível temporal que recomeça
Deixando o meu destino mais sozinho.

Sobreviver então não há quem possa
Depois de conhecer a dor e a fossa.

966

Depois de conhecer a dor e a fossa
Jamais imaginara alguma luz
E quando ao nada ser amor conduz
Enquanto seduzindo nos destroça.

E o vendaval expondo esta ferida
Rondando a minha casa, a morte expõe
A face desnudada em que compõe
O fim da longa estrada dita vida.

Abandonada e sem sequer sonhar,
O beijo que recebo, traição,
Momento onde me iludo, sendo vão
Não deixa sequer rastro do luar,

E assim quando ao vazio uma alma lança
Aos poucos se perdendo a confiança.

00957/58/59/60/61

957

Aonde se fizesse uma esperança
Não pude conseguir felicidade
E quando se percebe a tempestade,
Aos poucos se perdendo a confiança

Uma alma segue livre, ganhando ares
E teima sem destino na amplidão,
Exposta aos temporais, ledo verão
Traçando a fantasia em vãos altares.

Não posso e nem pretendo ser assim,
A imensa sonhadora do passado,
O gosto do prazer dita o pecado
E o mundo desabando dentro em mim.

Percebo muito além do simples fato
E quando não consigo, me retrato...


958

E quando não consigo, me retrato
E deixo para trás qualquer desejo,
O mundo bem melhor já não prevejo,
Somente nos meus olhos o maltrato.

Anteriormente eu via alguma luz
Aonde a turbulência se fez plena,
Nem mesmo a fantasia me serena
O corpo sendo exposto. Imensa cruz.

Anseio por caminhos bem diversos
Dos que tentara crer serem possíveis.
E quando se percebem impossíveis
Alheios, sem sentidos, os meus versos.

Assim encaminhando para a morte,
Não tendo quem ainda me conforte...

959


Não tendo quem ainda me conforte
Aguardo algum momento aonde possa
Depois de conhecer a dor e a fossa,
Ter sob o meu olhar um novo Norte.

Austeridade é tudo o que pretendo,
Não poderia ser assim liberta
Quem sabe que a verdade é tão incerta,
E nela não percebe dividendo.

O gosto do passado ainda vivo
Atordoando assim meu paladar,
Vontade de talvez ter e levar
Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo

Anseio tão somente algum momento
Aonde não encontre tal tormento...

960

Aonde não encontre tal tormento
Apenas o caminho se desfaz
E tudo que pensara mais audaz,
Diverso do que invade o pensamento.

A voz de um coração enamorado,
Audaciosamente se perdeu
E quando se percebo imenso breu,
Mergulho no vazio deste prado.

Matizes tão complexas, grises céus,
E neles os meus dias se perdendo,
Aonde se pensara em estupendo
Momento se entranhando sob os véus,

E quando a fantasia em vão me invade
Não pude conseguir felicidade


961

Não pude conseguir felicidade
Tampouco inda desejo um novo tempo,
Aonde se percebe o contratempo,
Não posso deslindar após a grade.

E o jeito é caminhar mesmo que em vão,
Atrocidades vejo nesta estrada,
Palavra libertária encarcerada
Mudando minha história e direção,

Vestindo esta mortalha que inda trago
Depois de tanto inverno em minha vida,
Percebo quão difícil e imerecida
A falta de carinho, de um afago

Vivendo este terror o fim prevejo
E deixo para trás qualquer desejo.

00956

“Completa-te exposta à Volúpia do Vento”
A força deste encanto aonde me entregara
Vivendo esta emoção audaz, feroz e rara
Espasmos me domando, delírio de um tormento

Aonde com prazeres, deveras me apascento
Na fúria desenhada enquanto se declara
Maravilhosa noite aonde se escancara
Em gozo repetido o amor que eu acalento.

Quem dera fosse assim o tempo sem limite,
A mais do que talvez ainda se acredite
Incomparavelmente anseio satisfeito

Na intensidade plena, a luz já nos tomando
E assim o que pensara outrora fosse brando,
Agora em explosão adentra nosso leito...

citando Gilka Machado

ESPIRAL DE SONETOS - FANATISMO - HOMENAGEANDO FLORBELA ESPANCA

SONETO BÁSICO

FANATISMO – FLORBELA ESPANCA

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!"

2

“Que tu és como Deus: Princípio e Fim,"
E tomas minha vida em tuas mãos,
Os dias sem te ter; concebo vãos
O mundo desabando dentro em mim.

Percorro noites frias, sem ninguém
Vagando na procura por quem tanto
Mostrando a fantasia em raro encanto,
Buscando inutilmente, nada vem...

Somente o frio intenso, madrugada,
E nela se percebe este granizo,
Diverso do que quero e que preciso,
Depois de tanto amar, não resta nada,

E o quanto te desejo, como um Deus,
Deixando em cicatriz a dor do adeus...

3

Deixando em cicatriz a dor do adeus
Não pude imaginar outra saída
A sorte temerária sendo urdida
Vazio dominando os rumos meus...

Percebo quão doridos os meus dias
Na ausência de quem tanto desejei,
O amor que poderia ser a lei
Diversa realidade, tu me guias.

Apelos, brados, lágrimas não bastam,
Os dias são idênticos, banais,
Felicidade dita o nunca mais,
As trevas mesmo em sol frias contrastam.

E assim sem ter na vida algum prazer
“Meus olhos andam cegos de te ver!”


4

“Meus olhos andam cegos de te ver!”
Ainda que pudesse ter a sorte
Do amor em luz imensa que conforte
Não poderia o brilho perceber.

Cansada de tentar seguir meu rumo,
Perdida, alucinada em vagas tantas,
E quanto mais terrível, desencantas
Maior o meu amor isso eu assumo.

Aonde te encontrar amado meu,
Se tudo não passou de fantasia?
Sonhando com o sol em noite fria,
Meu mundo há tanto tempo escureceu

Nos sonhos caminhamos sem os nãos
E tomas minha vida em tuas mãos.


5


E tomas minha vida em tuas mãos.
Devastações imensas, tempestades,
E quando me dominas, tanto invades
Deixando tantos rastros, dias vãos

E neles a esperança se transforma,
O medo me fascina e me seduz,
Qual fosse uma falena em plena luz
Amor já não respeita qualquer norma

E furiosamente enamorada
Bebendo do fulgor que tu me trazes
Momentos de delírio mais audazes,
Tomando a cada dia mais a estrada

E nela minto às vezes ao dizer:
‘Não és sequer razão do meu viver”.


06

‘Não és sequer razão do meu viver”.
Além da minha vida, eternidade.
Por mais que volte enfim à realidade,
Sem teu amor não posso nada ver

Além do mar azul, deste oceano,
Vivendo etéreo sonho: ser feliz,
Imensidade em tu tudo me diz,
Amor suprema luz, dom soberano.

Escravizada uma alma se acorrenta
E abençoando assim esta prisão,
No encanto muito além da sedução,
A força da paixão tão violenta

Tu és das esperanças, nobres grãos
Os dias sem te ter; concebo vãos


07

Os dias sem te ter; concebo vãos
Vazias esperanças, nada além
Do quanto sobrevivo sem alguém
Repetem-se deveras tantos nãos.

Não deixe que esta história chegue ao fim,
Não quero e nem consigo perceber
O que será, Meu Deus, do meu viver
Se tudo terminasse o que há de mim?

Apenas respirar e nada mais,
A morte então seria a redenção
Vazio e sem destino coração
Exposto aos mais terríveis vendavais.

Sem rumo uma alma solta, vã, perdida
“Pois que tu és já toda a minha vida!”

08

“Pois que tu és já toda a minha vida”
Não posso mais negar o quanto quero
O verso se mostrando mais sincero
Uma alma solitária está perdida.

Revejo cada toque, louca espera,
Delírios de uma amante sonhadora,
Por onde, em que caminho ainda fora
Quem tanto refloriu a primavera

Depois do duro inverno que passara,
Apenas entre trevas, breus e medo,
Ao grande amor então se me concedo,
A vida se tornando bem mais clara

Porém se houvesse seca em meu jardim,
O mundo desabando dentro em mim.


09

O mundo desabando dentro em mim
Se tudo o que sonhei fosse mentira,
Minha alma sem defesa em ti se atira
E traz toda a ternura, sendo assim

Não posso imaginar nova quimera,
Nem mesmo me entregar a um novo amor,
A solidão com todo o seu furor
Sanguínea tempestade feita em fera.

Ao caos direcionando a caminhada,
Nefastas emoções, insânia vil,
Terrível pesadelo o que se viu,
Tomando toda minha madrugada

É como me encontrasse sem saída,
“Não vejo nada assim enlouquecida...”

10

“Não vejo nada assim enlouquecida...”
Vagando pelas noites, bar em bar
A sorte; não consigo deslumbrar
Perfaço a madrugada entorpecida.

Amarga penitência pra quem ama
Viver sem ter destino, ser vazia,
Bebendo tão somente a fantasia,
Matando pouco a pouco, o sonho e a chama,

O peito lacerado desta que
Durante a vida inteira quis teu colo,
E agora vou perdendo o chão, meu solo
Numa aridez terrível, já se vê.

Sabendo que o vazio me contém
Percorro noites frias, sem ninguém.

11


Percorro noites frias, sem ninguém
E quando me percebo em dor imensa,
Ainda que pudesse a recompensa
Somente outro castigo sinto e vem.

Pudesse acreditar num amanhã
E nele o sol tomando este horizonte,
Mas quanto mais a vida desaponte
Maior esta esperança, tolo afã.

Não vejo nem sequer sombra de ti,
E os rastros que percebo nada dizem,
Por entre tais ladeiras já deslizem
Caminhos onde a sorte eu nunca vi,

Ensandecida o livro do sofrer
“Passo no mundo, meu Amor, a ler”.

12

“Passo no mundo, meu Amor, a ler”
Enigmas que não posso decifrar,
Aonde se escondeu nosso luar
Que nada nem um rastro posso ver?

Perdida, tão somente eu adivinho
O quanto é necessário ser feliz,
Se a vida com terror tudo desdiz,
Sem rumo desvendando este caminho

Que traz a cada passo, um pedregulho,
E nele se resume minha história,
A sorte caprichosa e merencória
Deixando para além, mar e marulho.

Portanto canto amor em desencanto
Vagando na procura por quem tanto...

13


Vagando na procura por quem tanto
Sonhei durante a vida, rumo e cais,
E enfrento tempestades, vendavais
Colhendo no final somente o pranto.

Esqueço dos meus dias, sigo só
E teimo navegar contra a maré,
A cada novo passo outra galé
Do sonho só restando, amargo pó.

Não pude decifrar os teus segredos,
E assim sem ter a chave, vou sozinha,
Somente a solidão inda se aninha
Aonde quis ternura em vãos enredos.

Pudesse aprender cedo logo a ler
“No misterioso livro do teu ser.”

14

“No misterioso livro do teu ser”
Jamais conseguiria ter nas mãos
Além dos costumeiros, tristes nãos,
Alguma forma nobre de prazer.

Não sei se ainda resta a luz e o brilho
Do todo que pensara ser só meu,
Se tudo em minha vida escureceu
E apenas o vazio ainda trilho,

Não quero outro caminho senão este
Aonde poderei ter teu carinho,
Cansado deste mundo vão sozinho,
Depois que outro desejo concebeste

Somente uma ilusão ainda canto
Mostrando a fantasia em raro encanto.

15

Mostrando a fantasia em raro encanto
O Amor abençoando e maltratando
Quimera se fazendo em ar mais brando,
O riso se transforma em dor e pranto.

Matiza-se deveras minha senda
Nas luzes e nas trevas que me trazes,
Mudando com freqüência tantas fazes,
Segredo deste todo não desvenda

Uma alma sonhadora em tal mosaico
Perdendo qualquer nexo, prismas vários
Enquanto radiantes temerários
Enquanto renovasse, mais arcaico

Porém durante a noite em ti perdida:
“A mesma história tantas vezes lida”...

16

“A mesma história tantas vezes lida”
E mesmo assim inédita pra mim,
O amor que se tornou princípio e fim,
Enquanto me alivia, tudo acida.

O gosto da melífera esperança
Durante a tempestade modifica,
E quanto mais feroz, mais mortifica
Quebrando com a vida uma aliança.

Estranhos pesadelos, noite turva,
A cada passo vejo outro problema,
E quando ao grande amor o sonho algema
Minha alma se perdendo, leda, curva

Vagando na procura deste alguém
Buscando inutilmente, nada vem...


17


Buscando inutilmente, nada vem
E quando me percebo solitária
A sorte tantas vezes necessária
Do sonho permanece muito aquém.

Cadenciando o passo rumo ao fim,
Vestígios não deixando nesta estrada,
Herdando do vazio o imenso nada,
Retorno ao descaminho de onde vim,

Pudesse pelo menos ter a chance
De ver sob meus olhos a ternura,
Que tantas vezes quis, leda procura,
E nela finalmente em paz, descanse...

Mas quando me reparo qual fumaça
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."


18

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa",
Somente o sofrimento não me deixa,
Vivenciando a dor, terrível queixa
A sorte se mostrando tão escassa...

Fingindo vez em quando algum momento
Aonde poderia ser melhor,
Porém a minha história sei de cor,
Traduz eterna dor e sofrimento.

Perceba meu amado, quanto dói
Saber que estás aqui e não estás,
Presença tão bendita quão mordaz,
Aos poucos esperança se corrói

A noite num luar tão impreciso
E nela se percebe este granizo.

19

E nela se percebe este granizo,
Numa alma delicada enquanto pena,
A sorte poderia ser amena,
Diversa do que agora em vão, diviso.

O beijo deste amado vive ainda
No peito de quem tanto desejou,
O mundo de repente, desabou,
Somente a solidão já se deslinda.

Vencer os meus anseios, ser feliz...
Quem dera, mas não posso e sigo alheia,
Apenas a saudade me incendeia
Realidade chega e contradiz.

“Tu és bonita”, e a sorte leda traça,
“Quando me dizem isto, toda a graça...”


20


“Quando me dizem isto, toda a graça”
Perdendo algum sentido e sem noção,
O mundo se mostrando sempre em vão,
Apenas tempestade então já grassa,

“Tu tens no teu olhar imenso brilho”
Quem dera ele mostrasse então minha alma,
Mas quando se percebe com mais calma,
Das lágrimas, reflexo do que trilho.

Mesquinhas ilusões povoam sonho,
E tudo não passando do vazio,
No verso aonde o mundo já desfio
Percebo este retrato tão medonho

E nele concebendo um triste aviso
Diverso do que quero e que preciso.

21


Diverso do que quero e que preciso
Um áspero caminho é o que me espera
E nele a solidão, terrível fera
Estraçalhando o solo aonde piso.

Das farpas, dos espinhos que espalhaste
Negando a minha sorte benfazeja,
Por mais que novo tempo se preveja,
Somente acumulando este desgaste,

As cordas arrebento e nada tenho,
O medo transfigura o meu olhar,
Cansada deste inútil procurar
Já não valeu à pena tanto empenho.

E o resto que percebo, ledo fim
“Duma boca divina fala em mim!”


22

“Duma boca divina fala em mim”
As ânsias de quem tanto desejou
E nada se mostrando aonde vou,
Ausência de alegria em meu jardim.

Mortalha da esperança sou aquela
Que tanto se entregou e nada tendo,
Queria algum momento que estupendo,
A solidão impede e não revela.

E quando mal percebo já me calo,
Não tendo mais sequer o que dizer,
Pudesse no final só perceber
De uma alegria tola, algum regalo.

Titubeando em turva madrugada
Depois de tanto amar, não resta nada.

23


Depois de tanto amar, não resta nada
Nem mesmo algum momento de alegria,
Sem ter sequer estrela que me guia
Escura e em trevas feita madrugada

Pudesse acreditar no amanhecer
Em raros claros sóis maravilhosos,
Os dias são deveras caprichosos
Somente uma neblina, pude ver.

Pegadas do que amei em lua cheia,
Não vejo nem tampouco alguém me diz,
O olhar se mostra triste e a cicatriz
Deveras retornando me incendeia.

O mundo se perdendo sem seus lastros
“E, olhos postos em ti, digo de rastros.”


24

“E, olhos postos em ti, digo de rastros”
Perdidos nos meus vários descaminhos,
Aonde poderia sem carinhos
Viver sem ter decerto, em ti, meus mastros.

Meu barco navegando sem destino,
Ancoradouro ausente e morto o cais,
Apenas enfrentando temporais,
E neles solitária me alucino...

Penetro nas entranhas do vazio,
A cada dia eu vejo em minha frente
O olhar tempestuoso em que se sente
Amarga solidão que desafio

Pudesse ouvir ao menos, prantos meus
E o quanto te desejo, como um Deus.

25


E o quanto te desejo, como um Deus.
Não pude sufocar esta vontade
Imensa sensação de dor invade,
Olhando para trás, momentos teus

Aonde junto a mim tu caminhavas
Constelações divinas, mil estrelas,
E agora não consigo nem mais vê-las,
Somente a cada passo, novas travas.

O jeito é prosseguir sabendo o quanto
O amor em luzes fartas conheci,
Beleza incomparável que há em ti.
E quanto mais distante, mais eu canto

Sabendo que estes cantos nos teus rastros
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros”


26

"Ah! Podem voar mundos, morrer astros”
Os desejos que tu sabes muito bem
Traduzem tanto amor que amor contém,
E nele as ilusões são falsos mastros.

Ausente de meus olhos, o teu brilho,
Mascaram-se vontades com promessas
E quando noutros rumos tu tropeças
Diverso deste mar aonde eu trilho

Buscando inutilmente te encontrar,
Na lassidão imensa do não ter,
Vivenciando a fúria em desprazer
Na insânia de temer, mas procurar

E quando me percebo invado breus
Deixando em cicatriz a dor do adeus...


27

Deixando em cicatriz a dor do adeus
Deveras poderia crer que um dia
A sorte de repente mudaria,
Sanando os sofrimentos, todos meus.

Cansada de lutar inutilmente
Traduzo num soneto este não ser
E nele mergulhando em desprazer
A sanha de quem sonha não desmente...

Vivesse pelo menos um momento
Aonde com teus lábios possa em paz
Saber do Amor que a vida ainda traz
E nele tão somente encontro alento.

Podendo então bradar, quem sabe enfim:
“Que tu és como um Deus: Princípio e fim!”

00944/45/46/47/48/49/50/51/52/53/54/55

944

“A mesma história tantas vezes lida”
E mesmo assim inédita pra mim,
O amor que se tornou princípio e fim,
Enquanto me alivia, tudo acida.

O gosto da melífera esperança
Durante a tempestade modifica,
E quanto mais feroz, mais mortifica
Quebrando com a vida uma aliança.

Estranhos pesadelos, noite turva,
A cada passo vejo outro problema,
E quando ao grande amor o sonho algema
Minha alma se perdendo, leda, curva

Vagando na procura deste alguém
Buscando inutilmente, nada vem...


945


Buscando inutilmente, nada vem
E quando me percebo solitária
A sorte tantas vezes necessária
Do sonho permanece muito aquém.

Cadenciando o passo rumo ao fim,
Vestígios não deixando nesta estrada,
Herdando do vazio o imenso nada,
Retorno ao descaminho de onde vim,

Pudesse pelo menos ter a chance
De ver sob meus olhos a ternura,
Que tantas vezes quis, leda procura,
E nela finalmente em paz, descanse...

Mas quando me reparo qual fumaça
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."


946

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa",
Somente o sofrimento não me deixa,
Vivenciando a dor, terrível queixa
A sorte se mostrando tão escassa...

Fingindo vez em quando algum momento
Aonde poderia ser melhor,
Porém a minha história sei de cor,
Traduz eterna dor e sofrimento.

Perceba meu amado, quanto dói
Saber que estás aqui e não estás,
Presença tão bendita quão mordaz,
Aos poucos esperança se corrói

A noite num luar tão impreciso
E nela se percebe este granizo.

947

E nela se percebe este granizo,
Numa alma delicada enquanto pena,
A sorte poderia ser amena,
Diversa do que agora em vão, diviso.

O beijo deste amado vive ainda
No peito de quem tanto desejou,
O mundo de repente, desabou,
Somente a solidão já se deslinda.

Vencer os meus anseios, ser feliz...
Quem dera, mas não posso e sigo alheia,
Apenas a saudade me incendeia
Realidade chega e contradiz.

“Tu és bonita”, e a sorte leda traça,
“Quando me dizem isto, toda a graça...”


948


“Quando me dizem isto, toda a graça”
Perdendo algum sentido e sem noção,
O mundo se mostrando sempre em vão,
Apenas tempestade então já grassa,

“Tu tens no teu olhar imenso brilho”
Quem dera ele mostrasse então minha alma,
Mas quando se percebe com mais calma,
Das lágrimas, reflexo do que trilho.

Mesquinhas ilusões povoam sonho,
E tudo não passando do vazio,
No verso aonde o mundo já desfio
Percebo este retrato tão medonho

E nele concebendo um triste aviso
Diverso do que quero e que preciso.

949


Diverso do que quero e que preciso
Um áspero caminho é o que me espera
E nele a solidão, terrível fera
Estraçalhando o solo aonde piso.

Das farpas, dos espinhos que espalhaste
Negando a minha sorte benfazeja,
Por mais que novo tempo se preveja,
Somente acumulando este desgaste,

As cordas arrebento e nada tenho,
O medo transfigura o meu olhar,
Cansada deste inútil procurar
Já não valeu à pena tanto empenho.

E o resto que percebo, ledo fim
“Duma boca divina fala em mim!”


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“Duma boca divina fala em mim”
As ânsias de quem tanto desejou
E nada se mostrando aonde vou,
Ausência de alegria em meu jardim.

Mortalha da esperança sou aquela
Que tanto se entregou e nada tendo,
Queria algum momento que estupendo,
A solidão impede e não revela.

E quando mal percebo já me calo,
Não tendo mais sequer o que dizer,
Pudesse no final só perceber
De uma alegria tola, algum regalo.

Titubeando em turva madrugada
Depois de tanto amar, não resta nada.

951


Depois de tanto amar, não resta nada
Nem mesmo algum momento de alegria,
Sem ter sequer estrela que me guia
Escura e em trevas feita madrugada

Pudesse acreditar no amanhecer
Em raros claros sóis maravilhosos,
Os dias são deveras caprichosos
Somente uma neblina, pude ver.

Pegadas do que amei em lua cheia,
Não vejo nem tampouco alguém me diz,
O olhar se mostra triste e a cicatriz
Deveras retornando me incendeia.

O mundo se perdendo sem seus lastros
“E, olhos postos em ti, digo de rastros.”




952


“E, olhos postos em ti, digo de rastros”
Perdidos nos meus vários descaminhos,
Aonde poderia sem carinhos
Viver sem ter decerto, em ti, meus mastros.

Meu barco navegando sem destino,
Ancoradouro ausente e morto o cais,
Apenas enfrentando temporais,
E neles solitária me alucino...

Penetro nas entranhas do vazio,
A cada dia eu vejo em minha frente
O olhar tempestuoso em que se sente
Amarga solidão que desafio

Pudesse ouvir ao menos, prantos meus
E o quanto te desejo, como um Deus.

953


E o quanto te desejo, como um Deus.
Não pude sufocar esta vontade
Imensa sensação de dor invade,
Olhando para trás, momentos teus

Aonde junto a mim tu caminhavas
Constelações divinas, mil estrelas,
E agora não consigo nem mais vê-las,
Somente a cada passo, novas travas.

O jeito é prosseguir sabendo o quanto
O amor em luzes fartas conheci,
Beleza incomparável que há em ti.
E quanto mais distante, mais eu canto

Sabendo que estes cantos nos teus rastros
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros”


954

"Ah! Podem voar mundos, morrer astros”
Os desejos que tu sabes muito bem
Traduzem tanto amor que amor contém,
E nele as ilusões são falsos mastros.

Ausente de meus olhos, o teu brilho,
Mascaram-se vontades com promessas
E quando noutros rumos tu tropeças
Diverso deste mar aonde eu trilho

Buscando inutilmente te encontrar,
Na lassidão imensa do não ter,
Vivenciando a fúria em desprazer
Na insânia de temer, mas procurar

E quando me percebo invado breus
Deixando em cicatriz a dor do adeus...


955

Deixando em cicatriz a dor do adeus
Deveras poderia crer que um dia
A sorte de repente mudaria,
Sanando os sofrimentos, todos meus.

Cansada de lutar inutilmente
Traduzo num soneto este não ser
E nele mergulhando em desprazer
A sanha de quem sonha não desmente...

Vivesse pelo menos um momento
Aonde com teus lábios possa em paz
Saber do Amor que a vida ainda traz
E nele tão somente encontro alento.

Podendo então bradar, quem sabe enfim:
“Que tu és como um Deus: Princípio e fim!”

00936/37/38/39/40/41/42/43

936

“Pois que tu és já toda a minha vida”
Não posso mais negar o quanto quero
O verso se mostrando mais sincero
Uma alma solitária está perdida.

Revejo cada toque, louca espera,
Delírios de uma amante sonhadora,
Por onde, em que caminho ainda fora
Quem tanto refloriu a primavera

Depois do duro inverno que passara,
Apenas entre trevas, breus e medo,
Ao grande amor então se me concedo,
A vida se tornando bem mais clara

Porém se houvesse seca em meu jardim,
O mundo desabando dentro em mim.


937

O mundo desabando dentro em mim
Se tudo o que sonhei fosse mentira,
Minha alma sem defesa em ti se atira
E traz toda a ternura, sendo assim

Não posso imaginar nova quimera,
Nem mesmo me entregar a um novo amor,
A solidão com todo o seu furor
Sanguínea tempestade feita em fera.

Ao caos direcionando a caminhada,
Nefastas emoções, insânia vil,
Terrível pesadelo o que se viu,
Tomando toda minha madrugada

É como me encontrasse sem saída,
“Não vejo nada assim enlouquecida...”

938

“Não vejo nada assim enlouquecida...”
Vagando pelas noites, bar em bar
A sorte; não consigo deslumbrar
Perfaço a madrugada entorpecida.

Amarga penitência pra quem ama
Viver sem ter destino, ser vazia,
Bebendo tão somente a fantasia,
Matando pouco a pouco, o sonho e a chama,

O peito lacerado desta que
Durante a vida inteira quis teu colo,
E agora vou perdendo o chão, meu solo
Numa aridez terrível, já se vê.

Sabendo que o vazio me contém
Percorro noites frias, sem ninguém.

939

Percorro noites frias, sem ninguém
E quando me percebo em dor imensa,
Ainda que pudesse a recompensa
Somente outro castigo sinto e vem.

Pudesse acreditar num amanhã
E nele o sol tomando este horizonte,
Mas quanto mais a vida desaponte
Maior esta esperança, tolo afã.

Não vejo nem sequer sombra de ti,
E os rastros que percebo nada dizem,
Por entre tais ladeiras já deslizem
Caminhos onde a sorte eu nunca vi,

Ensandecida o livro do sofrer
“Passo no mundo, meu Amor, a ler”.

940

“Passo no mundo, meu Amor, a ler”
Enigmas que não posso decifrar,
Aonde se escondeu nosso luar
Que nada nem um rastro posso ver?

Perdida, tão somente eu adivinho
O quanto é necessário ser feliz,
Se a vida com terror tudo desdiz,
Sem rumo desvendando este caminho

Que traz a cada passo, um pedregulho,
E nele se resume minha história,
A sorte caprichosa e merencória
Deixando para além, mar e marulho.

Portanto canto amor em desencanto
Vagando na procura por quem tanto...

941


Vagando na procura por quem tanto
Sonhei durante a vida, rumo e cais,
E enfrento tempestades, vendavais
Colhendo no final somente o pranto.

Esqueço dos meus dias, sigo só
E teimo navegar contra a maré,
A cada novo passo outra galé
Do sonho só restando, amargo pó.

Não pude decifrar os teus segredos,
E assim sem ter a chave, vou sozinha,
Somente a solidão inda se aninha
Aonde quis ternura em vãos enredos.

Pudesse aprender cedo logo a ler
“No misterioso livro do teu ser.”

942

“No misterioso livro do teu ser”
Jamais conseguiria ter nas mãos
Além dos costumeiros, tristes nãos,
Alguma forma nobre de prazer.

Não sei se ainda resta a luz e o brilho
Do todo que pensara ser só meu,
Se tudo em minha vida escureceu
E apenas o vazio ainda trilho,

Não quero outro caminho senão este
Aonde poderei ter teu carinho,
Cansado deste mundo vão sozinho,
Depois que outro desejo concebeste

Somente uma ilusão ainda canto
Mostrando a fantasia em raro encanto.

943

Mostrando a fantasia em raro encanto
O Amor abençoando e maltratando
Quimera se fazendo em ar mais brando,
O riso se transforma em dor e pranto.

Matiza-se deveras minha senda
Nas luzes e nas trevas que me trazes,
Mudando com freqüência tantas fazes,
Segredo deste todo não desvenda

Uma alma sonhadora em tal mosaico
Perdendo qualquer nexo, prismas vários
Enquanto radiantes temerários
Enquanto renovasse, mais arcaico

Porém durante a noite em ti perdida:
“A mesma história tantas vezes lida”...

00933/34/35

933

E tomas minha vida em tuas mãos.
Devastações imensas, tempestades,
E quando me dominas, tanto invades
Deixando tantos rastros, dias vãos

E neles a esperança se transforma,
O medo me fascina e me seduz,
Qual fosse uma falena em plena luz
Amor já não respeita qualquer norma

E furiosamente enamorada
Bebendo do fulgor que tu me trazes
Momentos de delírio mais audazes,
Tomando a cada dia mais a estrada

E nela minto às vezes ao dizer:
‘Não és sequer razão do meu viver”.


934

‘Não és sequer razão do meu viver”.
Além da minha vida, eternidade.
Por mais que volte enfim à realidade,
Sem teu amor não posso nada ver

Além do mar azul, deste oceano,
Vivendo etéreo sonho: ser feliz,
Imensidade em tu tudo me diz,
Amor suprema luz, dom soberano.

Escravizada uma alma se acorrenta
E abençoando assim esta prisão,
No encanto muito além da sedução,
A força da paixão tão violenta

Tu és das esperanças, nobres grãos
Os dias sem te ter; concebo vãos


935

Os dias sem te ter; concebo vãos
Vazias esperanças, nada além
Do quanto sobrevivo sem alguém
Repetem-se deveras tantos nãos.

Não deixe que esta história chegue ao fim,
Não quero e nem consigo perceber
O que será, Meu Deus, do meu viver
Se tudo terminasse o que há de mim?

Apenas respirar e nada mais,
A morte então seria a redenção
Vazio e sem destino coração
Exposto aos mais terríveis vendavais.

Sem rumo uma alma solta, vã, perdida
“Pois que tu és já toda a minha vida!”

00930/931/932

930

“Que tu és como Deus: Princípio e Fim,"
E tomas minha vida em tuas mãos,
Os dias sem te ter; concebo vãos
O mundo desabando dentro em mim.

Percorro noites frias, sem ninguém
Vagando na procura por quem tanto
Mostrando a fantasia em raro encanto,
Buscando inutilmente, nada vem...

Somente o frio intenso, madrugada,
E nela se percebe este granizo,
Diverso do que quero e que preciso,
Depois de tanto amar, não resta nada,

E o quanto te desejo, como um Deus,
Deixando em cicatriz a dor do adeus...

931

Deixando em cicatriz a dor do adeus
Não pude imaginar outra saída
A sorte temerária sendo urdida
Vazio dominando os rumos meus...

Percebo quão doridos os meus dias
Na ausência de quem tanto desejei,
O amor que poderia ser a lei
Diversa realidade, tu me guias.

Apelos, brados, lágrimas não bastam,
Os dias são idênticos, banais,
Felicidade dita o nunca mais,
As trevas mesmo em sol frias contrastam.

E assim sem ter na vida algum prazer
“Meus olhos andam cegos de te ver!”


932

“Meus olhos andam cegos de te ver!”
Ainda que pudesse ter a sorte
Do amor em luz imensa que conforte
Não poderia o brilho perceber.

Cansada de tentar seguir meu rumo,
Perdida, alucinada em vagas tantas,
E quanto mais terrível, desencantas
Maior o meu amor isso eu assumo.

Aonde te encontrar amado meu,
Se tudo não passou de fantasia?
Sonhando com o sol em noite fria,
Meu mundo há tanto tempo escureceu

Nos sonhos caminhamos sem os nãos
E tomas minha vida em tuas mãos.

ESPIRAL DE SONETOS 3

Pudesse ter nos olhos a alegria
De quem se preparou para saber
Da vida desenhada com prazer
E a sorte cruelmente tudo adia.

A porta que se abrira está fechada,
Caminho pelo qual já não consigo
Saber sequer se existe algum abrigo
Vivenciando o eterno e frio nada.

Amenas ilusões, cruas mentiras,
Acordo sem ninguém, torpe rotina,
Um sonho tão somente me alucina
Aonde mansamente em mim te atiras.

Quem dera ser feliz, ah quem me dera,
Já não veria morta, a primavera...


2

Já não veria morta, a primavera
Depois de tanto inverno vida afora,
E quando a solidão feroz se aflora
A sorte num instante destempera.

E o gozo de quem tanto quis um dia
Beleza deste amor incomparável,
Num solo mais tranqüilo quanto arável,
Felicidade imensa se irradia

Trazendo vez em quando esta lembrança
Do tempo em que feliz seguira em ti
Agora que esta estrada já perdi
Sequer neste horizonte o olhar avança

Mentindo e sonegando este prazer
De quem se preparou para saber.


3

De quem se preparou para saber
O quanto a vida dói e nos maltrata
Sabendo ser a sorte muito ingrata
Ansiedade imensa posso ver

No olhar de quem desejo há tantos anos
Mergulho sem defesas, plenamente.
E quando novo dia se pressente
Momentos que queria soberanos

Traduzem a saudade que me invade
E nela a dor imensa se permite,
Ultrapassando assim qualquer limite
Gerando no final a tempestade.

Pudesse ter verão, querido, agora
Depois de tanto inverno vida afora.

4


Depois de tanto inverno vida afora
Percebo no final que a primavera
Ainda que se faz em longa espera
E mesmo tantas vezes já demora

Um dia chegará, eis o que penso,
E o corpo se exaurindo no caminho,
Andando em pedregulho, farpa e espinho
Gerando este terror cruel e intenso.

Recordo cada passo desta estrada
E nela este desenho se apresenta
A sorte muitas vezes violenta
Traduzindo no fim o mesmo nada.

Quem dera se entranhasse o bom viver
Da vida desenhada com prazer


5

Da vida desenhada com prazer
Apenas recordando cada passo,
E dela quando aos poucos me desfaço
Não tendo outro caminho, posso ver

A sombra de um passado mais feliz,
E agora o tempo traz a negação
Bebendo deste mar, ingratidão,
Salgando o meu caminho contradiz

Beleza que pensara interminável,
Um dia após a noite em temporal,
Sabendo este sorriso triunfal
Num mar completamente navegável,

Porém a dor percebo desde agora
E quando a solidão feroz se aflora.


6

E quando a solidão feroz se aflora
Não deixa sobrar pedra sobre pedra
O amor quando demais a gente medra
E tudo num momento vai embora.

Adentro os mais fantásticos caminhos
E neles adianto cada passo,
Felicidade em sonhos, sei que traço,
Criando com prazer diversos ninhos.

Mas tudo não passando de ilusão
A queda se anuncia e num tropeço,
Do quanto desenhara em paz esqueço
O vento muda então de direção

Morrendo dentro em mim a fantasia
E a sorte cruelmente tudo adia.

7


E a sorte cruelmente tudo adia
Terrível amargura em mim se avança
Matando o que restara da esperança
Gerando tão somente esta agonia.

E o beijo deste amado já não sinto,
Tampouco o seu carinho, tão ausente
O fim do sonho agora se pressente
Amor que tanto quis se vendo extinto

As chaves da emoção segredos tantos,
Delírios entre noites, gozos fartos,
Vagando vez em quando noutros quartos,
Colecionando apenas desencantos.

Quem tanto desejara primava,
A sorte num instante destempera.


08

A sorte num instante destempera
E nada restará do nosso sonho,
Diverso deste encanto que proponho
Já nem sequer um brilho nos tempera.

Morrendo pouco a pouco, esta ilusão
Deixando como herança o sofrimento,
Por vezes com ternura ainda tento
Vencer as tempestades de verão

E o gesto sendo inútil não repito,
Cansada de lutar contra a maré,
Ainda que restasse alguma fé,
Já não suporto mais tanto conflito

E assim ao me perder na madrugada
A porta que se abrira está fechada.


09


A porta que se abrira está fechada
E nada representa a realidade,
O medo do futuro quando invade
Trazendo a minha noite tão nublada

Expressa a solidão da qual eu bebo
Esta aguardente amarga que me deste
O solo se tornando mais agreste
Diverso do prazer que inda concebo.

Esqueço dos meus dias mais felizes
E sigo esta brumosa noite insana,
A sorte muitas vezes nos engana
Deixando tão somente cicatrizes,

Se eu tenho algum prazer só fantasia
E o gozo de quem tanto quis um dia.

10


E o gozo de quem tanto quis um dia
Jamais se mostrará ora presente,
Por mais que novo tempo se apresente
Não posso conceber mais alegria.

O corte aprofundado dentro da alma,
Imensas as escaras que carrego,
O passo cada vez audaz e cego,
Gerando em desamor terrível trauma,

Mesquinhos os caminhos de um amor
Que tanto desejei e nunca tive,
Vontade simplesmente sobrevive
E nela posso mesmo até propor

Um tempo feito em paz, suave abrigo;
Caminho pelo qual já não consigo...

11


Caminho pelo qual já não consigo
Saber dos dissabores mais constantes
E neles com certeza me adiantes
Ao fim da tempestade algum abrigo.

Eu sei que tantas vezes pude ter
Nas mãos além da dor, esta esperança
E quando ao mesmo sonho amor me lança
Desvendo nos seus olhos meu prazer.

O custo da alegria é longa espera,
E o beijo se anuncia redentor,
Aonde no passado houvera dor
Agora se percebe a primavera

E nela com certeza inesgotável
Beleza deste amor incomparável.

11


Beleza deste amor incomparável
Transcende à própria vida: eternidade
E quando rompo algema já sem grade
O mundo se transforma, fica arável.

Um gesto mais audaz me faz feliz,
Menina muitas vezes sofredora
Que quando no passado em tentadora
Figura que o presente não desdiz

Espalho os meus desejos por aí
Percebo que tu chegas num repente
Trazendo tanta luz aonde ausente
Caminho muitas vezes percebi

E assim junto de ti já não consigo
Saber sequer se existe algum abrigo.


12


Saber sequer se existe algum abrigo
Vivenciando a treva e a solidão,
Distante deste sol, belo verão,
A sombra do que fomos eu persigo.

Pensando neste amor que não voltou
Deixando tão somente esta saudade,
Não posso e não conheço a liberdade,
Caminho feito em nuvens se mostrou.

Eu quis amar de novo e não podia,
A ausência de carinho me maltrata,
A vida com certeza é tão ingrata,
Felicidade é mera alegoria

Quem dera outro momento fosse amável
Num solo mais tranqüilo quanto arável.


13


Num solo mais tranqüilo quanto arável
Pudesse cultivar minha esperança
A tarde solitária agora avança
E o mundo se tornando inabitável,

Vencida pela dor de uma paixão
Há tanto destroçada, agora vejo
A sombra do que fora meu desejo
Guardada há muitos anos no porão,

Renasce após a paz que tanto engana
E muda a direção do pensamento,
Quem sabe no final terei alento
Depois da caminhada amarga e insana?

Mas quando me percebo abandonada
Vivenciando o eterno e frio nada.

14

Vivenciando o eterno e frio nada
Durante a caminhada pela vida,
A sorte há muito tempo sem guarida
Ferida dentro em mim aprofundada

Vencer os desafetos e prosseguir
Não tendo nem sequer a cicatriz
É tudo na verdade o que se quis,
Imagem radiante de um porvir.

No sonho que domina a noite intensa
Qual fora a claridade de uma lua
Deitada sob os raios, toda nua
Minha alma neste amado tanto pensa

E assim na minha bela fantasia
Felicidade imensa se irradia


15

Felicidade imensa se irradia
No olhar de quem se deu e não pensava
Que a vida transformando fogo em lava
Destrói todo o caminho em ardentia.

Furiosa tempestade, inundação,
O mundo desabando, terremoto,
O sonho se tornando então remoto,
Apenas neve e frio se darão

Enquanto a poesia me abandona
A moça do passado, morta está,
E sei que tudo aquilo desde já
Retorna com terror, invade a tona

No coração exposto em finas tiras
Amenas ilusões, cruas mentiras.

16

Amenas ilusões, cruas mentiras
É tudo o que me resta. O que fazer?
Ausente dos meus olhos o prazer
O pouco que me sobra tu retiras,

E quando se mostrasse mais amigo,
Eu pude acreditar; doce ilusão.
O tempo transformando em negação
Aquilo que pensara ser abrigo,

Vestígios de um momento mais feliz
Ainda os trago vivos na memória,
Final desta aventura merencória
A dor que herdei de ti tudo já diz.

Mas quando a noite chega e em luz se avança
Trazendo vez em quando esta lembrança.

17

Trazendo vez em quando esta lembrança
O mundo poderá tramar um dia
Aonde a realidade e a fantasia
Unidas numa luz feita esperança.

Audaciosamente teimo e busco
Lugar aonde possa crer na imensa
Beleza que em verdade recompensa
O que passara outrora em ar tão brusco.

Vencer os meus temores e tentar
De novo após a chuva em tempestade
Rompendo cada algema, cada grade
E em liberdade enfim, poder voar.

Mas quando o dia a dia descortina
Acordo sem ninguém, torpe rotina.

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Acordo sem ninguém, torpe rotina;
Depois de não saber sequer se há rumo.
Deveras solitária me acostumo,
E mesmo uma lembrança inda fascina.

Marcada em tão profunda tatuagem
Jamais me libertando do passado,
Caminho que conheço, decorado,
Repito novamente esta viagem

E volto a ter nos olhos o horizonte
Maravilhosamente enternecido
O amor que tanto quis não esquecido
No sonho, pelo menos já desponte

Revive cada brilho que bebi
Do tempo em que feliz seguira em ti.


19


Do tempo em que feliz seguira em ti
Ainda trago vivo na memória
Algum momento ao menos de vitória
Depois de tudo aquilo que perdi.

Vencer os meus temores; prosseguir
Errático cometa; eu não consigo
Sentir e decifrar qualquer perigo
Inúteis caminhares do porvir.

Mas tudo revoltando dentro em mim,
A moça envelhecida pela dor
Não sabe seu destino recompor,
A flor já morta e fria no jardim.

Tentando descobrir a fonte e a mina
Um sonho tão somente me alucina.

20


Um sonho tão somente me alucina
E nele tua imagem se preserva,
Minha alma de tua alma mera serva
É como se uma chuva mansa e fina

Caísse sobre o rumo que previra
Nublados os caminhos sem saída
Assim ao perceber em despedida
O amor que tanto quis e a vida tira

Nos olhos inda trago um mero brilho
Vestígio do fulgor de antigamente
Realidade dura me desmente
E a senda entre espinheiros, ora trilho

Que faço, meu amado, pois, sem ti
Agora que esta estrada já perdi.



21

Agora que esta estrada já perdi
Não posso mais seguir contra a maré
Perdendo pouco a pouco minha fé,
Jamais encontrarei o que há em ti

A força incandescente de um carinho
Delírio feito frágua que incendeia
No doce emaranhado, tua teia
Na qual, tão suavemente ora me aninho

Sonhar nunca faz mal e me alimenta,
E nestas noites duras, solitárias,
As ânsias se mostrando sempre várias
Apaziguando assim cruel tormenta

E neles reacendo velhas piras
Aonde mansamente em mim te atiras.

22

Aonde mansamente em mim te atiras
Num átimo mergulho sem pensar.
Pudesse ao adentrar em raro mar
Viver longe de todas as mentiras.

Pudesse pelo menos, quem me dera,
Vencer os meus anseios e temores,
Colhendo finalmente em ti as flores
Plausíveis numa imensa primavera.

Pudesse ser feliz, eu tentaria
Vagar contra as tempestas mais ferozes,
Dos sonhos escutando brados, vozes,
Percebo ser somente fantasia

E quando a realidade em mim se lança
Sequer neste horizonte o olhar avança.

23


Sequer neste horizonte o olhar avança
E deixo para trás a caminhada
Sabendo tão distante esta alvorada,
Minha alma sobrevive da lembrança.

Eu quis beber da fonte maviosa
E dela ter eterna juventude,
Mas quando percebê-la vaga eu pude
A vida se mostrou em fria glosa.

E os rastros do cometa dito amor
Jamais eu consegui reconhecer,
Aonde se escondera o meu prazer,
A luz já não se põe ao meu dispor

E quando viva em mim terrível fera
Quem dera ser feliz, ah quem me dera.


24

Quem dera ser feliz, ah quem me dera
E ver após a chuva um belo sol,
E como fosse assim um girassol
Bebendo da alegria em primavera.

Assíduas emoções tomando o peito
Daquela que se deu sem perguntar
E tendo nos meus olhos este amar
Caminho muitas vezes satisfeito.

Mas vejo quão falsário este momento,
E nele não percebo mais a luz,
O olhar que do passado reproduz
O brilho se perdendo, desalento

E quem tanto eu queria, a se perder
Mentindo e sonegando este prazer.


25

Mentindo e sonegando este prazer
A vida destroçando a fantasia,
E quando novas luzes eu veria
O tempo novamente, escurecer.

Percorro os meus anseios e vontades
Desvendo cada queda e seu por que,
O mundo que sonhara não se vê
Tampouco reconheço claridades.

Os olhos embaçados pelo medo,
Vestindo este terror já costumeiro,
E quando em novas rotas eu me esgueiro
Uma esperança tola me concedo.

Assim domando a dor, terrível fera
Já não veria morta, a primavera...

26

Já não veria morta, a primavera
Tampouco poderia reclamar
A ausência da beleza de um luar
Que a cada nova noite destempera.

O verso repetindo a minha sina,
E nelas os meus enganos em contraste
Com toda esta ternura que encontraste
Carência toma a conta e me domina

Meus olhos entrelaçam a esperança
E ainda buscam luzes no horizonte,
Por mais que a realidade desaponte,
Futuro sob olhar chegando, avança

Quem sabe a recompensa possa ter
De quem se preparou para saber.

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Agora que esta estrada já perdi
Não posso mais seguir contra a maré
Perdendo pouco a pouco minha fé,
Jamais encontrarei o que há em ti

A força incandescente de um carinho
Delírio feito frágua que incendeia
No doce emaranhado, tua teia
Na qual, tão suavemente ora me aninho

Sonhar nunca faz mal e me alimenta,
E nestas noites duras, solitárias,
As ânsias se mostrando sempre várias
Apaziguando assim cruel tormenta

E neles reacendo velhas piras
Aonde mansamente em mim te atiras.

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Aonde mansamente em mim te atiras
Num átimo mergulho sem pensar.
Pudesse ao adentrar em raro mar
Viver longe de todas as mentiras.

Pudesse pelo menos, quem me dera,
Vencer os meus anseios e temores,
Colhendo finalmente em ti as flores
Plausíveis numa imensa primavera.

Pudesse ser feliz, eu tentaria
Vagar contra as tempestas mais ferozes,
Dos sonhos escutando brados, vozes,
Percebo ser somente fantasia

E quando a realidade em mim se lança
Sequer neste horizonte o olhar avança.

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Sequer neste horizonte o olhar avança
E deixo para trás a caminhada
Sabendo tão distante esta alvorada,
Minha alma sobrevive da lembrança.

Eu quis beber da fonte maviosa
E dela ter eterna juventude,
Mas quando percebê-la vaga eu pude
A vida se mostrou em fria glosa.

E os rastros do cometa dito amor
Jamais eu consegui reconhecer,
Aonde se escondera o meu prazer,
A luz já não se põe ao meu dispor

E quando viva em mim terrível fera
Quem dera ser feliz, ah quem me dera.


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Quem dera ser feliz, ah quem me dera
E ver após a chuva um belo sol,
E como fosse assim um girassol
Bebendo da alegria em primavera.

Assíduas emoções tomando o peito
Daquela que se deu sem perguntar
E tendo nos meus olhos este amar
Caminho muitas vezes satisfeito.

Mas vejo quão falsário este momento,
E nele não percebo mais a luz,
O olhar que do passado reproduz
O brilho se perdendo, desalento

E quem tanto eu queria, a se perder
Mentindo e sonegando este prazer.


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Mentindo e sonegando este prazer
A vida destroçando a fantasia,
E quando novas luzes eu veria
O tempo novamente, escurecer.

Percorro os meus anseios e vontades
Desvendo cada queda e seu por que,
O mundo que sonhara não se vê
Tampouco reconheço claridades.

Os olhos embaçados pelo medo,
Vestindo este terror já costumeiro,
E quando em novas rotas eu me esgueiro
Uma esperança tola me concedo.

Assim domando a dor, terrível fera
Já não veria morta, a primavera...

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Já não veria morta, a primavera
Tampouco poderia reclamar
A ausência da beleza de um luar
Que a cada nova noite destempera.

O verso repetindo a minha sina,
E nelas os meus enganos em contraste
Com toda esta ternura que encontraste
Carência toma a conta e me domina

Meus olhos entrelaçam a esperança
E ainda buscam luzes no horizonte,
Por mais que a realidade desaponte,
Futuro sob olhar chegando, avança

Quem sabe a recompensa possa ter
De quem se preparou para saber.