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Não posso e nem pretendo ser assim
A leda passageira da ilusão
E quanto os novos dias me trarão
Somente poderei saber no fim.
O corte que jamais se cicatriza,
O medo que se estampa em minha face,
Realidade ainda que me embace
Traduz no meu olhar tempesta e brisa.
Assídua navegante sem destino,
Amante sem carinho perco o sono,
E quando me entregando ao abandono
Percebo amanhecer mais cristalino,
Vagando pelos vários universos
Anseio por caminhos bem diversos
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Anseio por caminhos bem diversos
Daqueles que esperança preconiza,
E quando a realidade é mais precisa
Ausente dos meus olhos, lassos versos.
Imensa caricata não consigo
Saber do quão possível ser feliz,
E tendo demarcada a cicatriz
E dela tão somente algum perigo,
Rasgando o coração já não se vê
Tampouco quem permita a caminhada,
Depois de tanto tempo ora cansada
Não tendo nem sabendo de um por que.
No sonho, um pensamento tão cativo,
O gosto do passado ainda vivo
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O gosto do passado ainda vivo
Por mais que isto pareça uma bobagem.
O amor ao desbotar tal paisagem
Mostrara-se soberbo ou mais altivo.
Descrevo com carinho cada passo
Na busca por algum lugar sereno,
E quando solitária me enveneno,
O sonho num segundo já desfaço.
Perfaço este caminho rumo ao nada,
Somando nossas forças, minha e tua,
Uma alma se encontrando outrora nua,
Agora no vazio demonstrada.
O fardo que carrego; ter por Fado
A imensa sonhadora do passado.
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A imensa sonhadora do passado
Jogando sua sorte sem destino,
Aonde encontrarei este menino,
E o coração em trevas disfarçado.
Pereço quando ausente dos seus braços.
Menina que jamais se fez contente,
Por mais que uma esperança se apresente,
Os dias sempre iguais, doridos, lassos.
Amparo-me na falsa sensação
De segurança torpe que me trazes,
O amor se permitindo em várias fases
Jamais acerta o rumo e a direção.
Acalentando os dias mais terríveis
Dos que tentara crer serem possíveis.
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Dos que tentara crer serem possíveis
Momentos desairosos são constantes,
E mesmo quando em luzes agigantes
O corte se percebe em tons horríveis
Por que vieste agora após a chuva?
Já não comportaria um novo encanto,
E quanto mais presente em mim o pranto,
Na sensação dorida, uma viúva
Vivendo do passado agora vê
No olhar de um velho amigo, o companheiro,
E quando isto parece verdadeiro,
Procuro tuas sombras, mas cadê?
Ao mesmo tempo é nuvem e luar
Atordoando assim meu paladar.
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