1
Nesse mundo de magia e pura fantasia
Que nos aproxima e incendeia;
Labaredas da paixão!
Meu corpo sobre o teu
Roçando delicadamente,
Minha língua passeando,
Transitando e demarcando
O prazer em combustão;
Cavalgo lentamente
Enquanto toca e lambe meus seios,
A intensidade aumenta,
Inclino-me prá traz
Para senti-lo ainda mais
Em de mim,
Beijamo-nos com ardor
Numa explosão de êxtase e amor!
REGINA COSTA
Deliciosamente em ti roçando
A pele se traçando em rumo tal
Gerando este delírio em sol e sal
Aos poucos o meu corpo tatuando,
O mar de tanto gozo se formando
E vejo quão sublime o ritual
Aonde o corpo segue sensual
No teu sem mais defesas, mergulhando,
Num êxtase divino em cavalgada
Corcel entranha assim a desejada
Anseios em gemidos, lancinantes,
Até que num espasmo, alucinada,
O porto se encharcando e me garantes
Os fartos méis em ti já transbordantes...
Tua língua sorvendo o que a ti pertence,
Num ritual incandescente;
Faz-me perder o rumo e o tino,
Entre cavalgadas,
Espasmos e gemidos;
O frescor da
Rosa dos ventos
Arrasta-nos
Em meio ao furacão,
Etérea excitação!
Regina Costa
O rumo se perdendo em tal delícia
E quanto mais audaz maior o gozo.
Num jogo delicado e majestoso
O corpo noutro corpo com carícia,
O todo precipita imensidão
E gera maravilhas dentro em nós
Num toque mais sutil e em firmes nós
Uníssona vontade em explosão,
Um timoneiro sabe muito bem
Dos tantos descaminhos e delira
Enquanto neste mar o gozo mira
E sabe dos anseios que contém.
Assim neste naufrágio redentor
As tramas mais vorazes de um amor.
3
Encontro no teu corpo o doce veio
Aonde dessedento esta vontade
E nisto este prazer que nos invade
Enquanto noutra face me incendeio,
Ariscos sonhos? Eu não quero mais...
Apenas a verdade em festa e brilho
E quando nos teus portos eu palmilho
Sabendo destes cais fenomenais
Arrisco algum momento em plenitude
E sei do quanto eu possa refazer
A vida num cenário de prazer,
Aonde se reviva a juventude
Da qual já me distara há tantos anos,
O amor redime a dor em novos planos...
4
Olhando mansamente a já desnuda
E bela maravilha que entorpece
O gozo de um prazer suprema messe
Aonde a minha vida dita ajuda
Durante ermos momentos, solidão...
Apraza-me saber de cada orgasmo
E quando em ti percebo um louco espasmo
Também gerando em mim farta explosão,
Misturas de rocios, delicados,
Sobeja fantasia já se entorna
E toda a maravilha onde se adorna
O dia sem juízo e sem pecados,
O quanto te desejo e quero mais
Expressa em nossas vidas, vendavais...
Mergulhar na libido que
Provocas em mim
Falta-me o ar como
Num naufrágio em alto mar,
Envoltos em suaves ondas,
Mornas águas nos
Deliciamos num
Sobe, desce,
Numa dança que me deixa
Louca, emudecida, molhada, extasiada;
Vem...
Seduz-me, profana-me,
Devagar, com doçura, amor, ternura,
Penetra-me
Mar adentro... Mar afora...
Sinto-me TUA...
Desejo-te Intensamente...imensamente...insanamente...
Sensorialmente!
REGINA COSTA
Penetro mansamente estas defesas
E adentro sem limites nem pudor
Insanamente vibro em farto amor
E delirantemente as pernas presas
Arfando com ternura a cada instante
Até que neste clímax dessedento
O gozo mais audaz neste momento
Transforma a nossa vida e me garante
Um raro amanhecer aonde eu possa
De novo insaciado desvendar
Mistérios e segredos deste mar
Numa ânsia soberana e toda nossa,
Até que adormecido junto a ti
Achando o Paraíso, eu me perdi...
6
Perdido em teus caminhos noite afora
O quanto te desejo e sei que queres
Da vida este banquete, meus talheres
Meu mundo no teu corpo já se ancora
Enquanto esta vontade nos devora
Abençoada diva entre as mulheres
E quando tanto anseias e vieres
O mundo noutra face se demora,
Arguta madrugada em lábios, gozos,
Caminhos conhecidos caprichosos
Delírios entre loucos devaneios
A boca deslizando por teus seios
A túrgida presença em maravilha
Determinando assim sobeja trilha.
7
Os toques mais audazes e profanos
Desvendam entre furnas, os sinais
E neles doces rios divinais
Momentos mais felizes, soberanos,
A vida que se fora em desenganos
Agora em ritos claros, triunfais
Desvenda este caminho e quer bem mais
Por sob tua roupa em parcos panos.
Na transparência fulges, mas sutis
Desenhos preparando o que eu mais quis
Até que se desnude totalmente
A sorte noutro rumo não sacia
E a noite do teu lado nunca é fria,
Numa explosão fogosa, em fúria, ardente...
8
As cores que pintaram céus imensos
Desenhos delicados, mil matizes
Os dias do teu lado, mais felizes
Enquanto solitários, ledos, tensos,
E sigo a maravilha desnudada
Trilhando meu prazer contigo agora
O quarto em claros tons lua decora
E beija a tua pele bronzeada,
Mergulhos entre seios, coxas, pernas
As mãos audaciosas sabem quanto
Do mundo se transforma em puro encanto
E encontram nos teus olhos as lanternas
Por onde se adivinha este futuro
E nele toda a sorte que eu procuro.
9
Nós Pagamos bem caro a solidão,
Na audácia de outro dia me emergindo
Traduzo o quanto em ti conheço infindo
Meus olhos no teu corpo fartarão,
Delírios entre as fúrias de um verão,
Cenário com certeza claro e lindo,
O todo adivinhado ora deslindo
E sinto a cada toque a sensação
Do orvalho que derramas nos lençóis
Delírios entre nós, nos saciando
O mundo noutra face transbordando
E nele nossos gozos são faróis,
E quero repetida, tanta vez
O quanto em farto brilho, agora vês.
10
Bilhões de estrelas domam este céu,
Porém no quarto vejo em magnitude
Sobeja fantasia aonde eu pude
Sentir este derrame em farto mel,
Cenário tão diverso, outrora ao léu
Ou mesmo num momento onde se ilude,
Vivendo com firmeza esta atitude
Girando este universo em carrossel,
Vasculho cada ponto até sentir
Derrame delicado este elixir
Aonde insaciável não me canso,
Depois de tantas noites solitárias
As horas em tortura, procelárias
A fantasia adentra este remanso.
11
Em tanto desgoverno é natural
Momento delicado e mais sobejo
Bebendo cada gota que eu desejo,
Em afluência rara e sem igual,
Fartando-me decerto em sensual
Delírio em fantasia agora eu vejo
O tanto que buscara e enfim prevejo
Um belo e fabuloso ritual,
No qual a insaciável noite adentro
Em cada ponto agora me concentro
Até que sem limites nem fronteiras
Derrame em abundância o doce orvalho,
E junto a ti deveras eu me espalho
O quanto ou mesmo além do que tu queiras.
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Por mais que a fantasia não dê conte
Do todo em que mergulho junto a ti,
Cenário mais diverso eu percebi
Aonde cada lua nos aponte
O rumo mais sobejo no horizonte
E tente desvendar o que senti
E viva cada instante onde eu vivi
Bebendo esta nascente em rara fonte,
Do delicado gozo em rara espuma,
Meu corpo no teu corpo se acostuma
E sabe cada toque, outro segredo,
E quanto mais a vida nos ensina
O amor deveras toma e enfim domina
Caminho aonde em luz ora procedo.
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Nosso corpo faminto perde a conta
Das tantas desejosas erupções
E sinto a fantasia em tais vulcões
Aonde com certeza a sorte aponta
A dita noutra face já desponta
E singra na medida em que me expões
Diversas e sutis composições
Num mundo sem pudor que ora se apronta
A santa a dama a louca insana agora
Enquanto com delírio me devora
Ansiosamente espalha sobre o leito
O mar aonde entranha meu anseio
E sinto a cada olhar o devaneio
De quem; se satisfaz, é satisfeito.
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Mas nunca tem problema, não é mal
Quem sabe desvendar estas vontades
E quando mais ternura em mim tu brades
Revejo cada ponto em magistral
Desenho e nele um risco sensual
Bebendo de teu corpo claridades
E nelas com sutis saciedades
O corpo se emergindo em sol e sal,
Navego sem destino e chego ao cais
Momentos fabulosos, divinais
Ardências entre gozos e promessas,
Depois de saciada plenamente,
Enquanto novo rumo; a gente invente
Na fúria costumeira recomeças...
15
Que delícia te ouvir,
Saber que o prazer a nós pertence;
Não há mistérios nem segredos,
Sedutor toque que me desvendou,
Oralidade e fruição;
Eis-me desnuda e entregue a ti,
Agarrados de conchinha,
Ajustados,
Descansamos
Nesse perfeito encaixe !
Regina Costa
Arfantes noites, dias triunfantes
Momentos mais diversos, porém unas
Vontades e delírios; coadunas
E sabes plenamente e me garantes
Carinhos enfronhados nos instantes
Aonde penetrando, mares, dunas
No cais maravilho estas escunas
E os olhos em cenários deslumbrantes,
O gozo este sorriso um bom suor
Caminho com certeza eu sei de cor,
Porém sempre desvendo algum detalhe,
E sei que usufruindo enfim me entrego
E quando diariamente o jardim rego
Nesta loucura aonde o bem se espalhe.
16
Caminhos que deus Eros determina
E gera nestes portos tantas festas
E nelas teus anseios tu me emprestas
E sinto já sangrando a doce mina,
O quanto em tal nudez, ninfa fascina
E nisto o meu desejo domas, gestas,
Até numa explosão também atestas
Em água delicada e cristalina,
Resumos destes nossos desejares
E quando mais deveras te entregares
Maior saciedade enfim prevejo,
Eróticos delírios noite afora,
O corpo com ternura revigora
A fonte incomparável do desejo.
17
Não deixe que se pense noutro instante
O quanto é necessário agora e já
O nosso sol decerto tomará
Cenário em plenitude e nos garante
Um dia com certeza fascinante
Aonde cada passo domará
O farto que prevejo aqui ou lá
E sei quanto é freqüente doravante
O rumo desvendado, o passo aonde
O gozo com teu gozo se responde
Num ato de constante insanidade,
O todo se traduz enquanto invade
O corpo penetrando tais defesas
Sabendo somos duas meras presas...
18
Cevando com cuidado a rubra rosa
E nela mergulhando sem defesa
Adentro com ternura a correnteza
E bebo desta flor audaciosa,
Sedento coração contigo goza
E sabe ser deveras mansa presa,
A noite se transcorre louca e tesa,
Na fúria tão divina e gloriosa,
Rendido aos teus encantos, jardineiro
No quanto sabe o rito costumeiro
E colhe com cuidado este perfume,
No ardume sensual de corpos nus
O amor se derramando já faz jus
Ao todo que decerto agora assume.
19
Descanso o meu delírio sobre o teu
E arisco coração agora entregue
Sem nada que deveras me sossegue
O rumo no teu porto se prendeu,
O mundo neste instante obedeceu
À sensação divina onde navegue
O brilho deste sol a lua pegue
Jamais em nossa vida vejo o breu.
Das trevas do passado? Sequer rastro
Nas ânsias mais audazes eu me alastro
E sorvo com meiguice cada anseio
Retorno o meu caminho em louco veio,
Teu corpo em claros tons de um alabastro.
20
Desejo que deságua no mar
Prá do ardor se refrescar;
Mergulhar a dor,
Boiar o tempo,
Surfar com os sentimentos,
Meditar com o firmamento,
Nós dois e a imensidão,
A se perder no espaço-tempo.
REGINA COSTA
Olhando o firmamento ora vislumbro
Beleza sem igual em farto brilho
E quando além do céu imenso eu trilho
Em tanta claridade me deslumbro
O corpo dessedenta em doce alento
E segue sem destino vasto céu,
Caminha delirante e vai ao léu
Enquanto novos rumos eu invento,
Em incrementos fartos, a delícia
De um tempo em plenitude que se trama,
Mantendo com fervor acesa a chama,
Sorriso delicado em tal malícia
Toque sensualíssimo domina
E aos poucos nova vida se alucina...
Feromônios se espalham
pelo ar,
Como o mais raro perfume francês,
Impregna teu ser,
Invade teus sentimentos,
Devora teus pensamentos,
Habita teu corpo,
Avassaladoramente,
Deliciosa languidez,
Repouso merecido!
REGINA COSTA
Os devaneios rondam nosso leito
E bebo de teus sais nestes lençóis
E sei quando em ti vejo os faróis
Aonde com certeza me deleito
O corpo agora exausto e satisfeito
Percebe nos teus cios girassóis
E neles entranhando raros sóis
No quanto te procuro e sou aceito,
A sílfide insuflando dentro em mim
Delírio desmedido e sabe sim
O quanto se é capaz quando se entrega
Limites? Desconheço e tu também
E quando noutro instante outra onda vem
Um mar delicioso amor navega.
22
Quero-te assim...
Alucinado, apaixonado, delicioso,
Capaz das mais doces loucuras,
Experimentar prazeres,
Entregar-se,
Estar,
Ser,
Esquecer...
REGINA COSTA
Tocar teus seios belos, meu anseio
Descendo por teu corpo até chegar
O monte aonde eu posso vislumbrar
Do paraíso entrada, úmido veio.
E sinto esta ternura onde rodeio
Bebendo deste intenso delirar
Recebo cada raio do luar
Cenários multicores já permeio
Com fráguas, fúrias, louco incêndio agora
O corpo desejoso enfim se ancora
E sabe desvendar sobejas docas,
E quando em ondas gozos sobre as rocas
Levando num delírio ao mais extremo
Fantástico lugar onde me algemo.
23
A noite nos brindando em vinho e festa
O tanto se sacia num momento,
E quando me tocando o pensamento
Felicidade assim não se contesta,
O fato de viver permite a senda
Aonde cada passo dita aonde
O gozo com prazer já se responde
Desejo sem igual, o corpo atenda,
E vejo-te comigo a noite inteira
E sinto o teu perfume em meu jardim,
Cevando na esperança tanto assim
Aonde há messe imensa e verdadeira,
Aprazo-me deveras em saber
Em ti o mesmo bom, farto prazer.
24
Dos espaços celestes
Os astros mais singelos
Meus sonhos, teus castelos
E deles tu viestes
O quanto são agrestes
Os dias, mesmo os belos,
Apenas os rastelos
Nas mãos ora revestes.
Do encanto à realidade
O tempo onde degrade
O sonho do passado,
Apenas o sombrio
Caminho em vago estio
Seria o teu legado.
25
Trazendo tanta sorte
A quem não mais sabia
Da luz de um manso dia,
Sem rumo e sem suporte,
Agora se comporte
Além do que cabia,
Vencendo esta ironia
O mundo ganha um norte.
Revejo cada queda
A vida não se veda,
Porém vence quem luta
E o olhar bebe o horizonte
Aonde o sol desponte
Em fonte rara, astuta...
26
Encontro seu perfume
Neste rosal imenso
E quanto mais eu penso
Ali o sonho rume,
E vejo sem ardume
O sol onde eu compenso
O sofrimento intenso
Num tempo onde se aprume,
Vencidas as daninhas
As sortes, pois são minhas
E nelas eu traduzo
O amor em claros tons
Em dias raros, bons
Jamais em tais, confusos.
27
Nos astros que mergulho
O olhar em noite mansa
A vida nos alcança
E sem qualquer marulho
O quanto fora entulho
Agora em esperança
Prevendo esta mudança
Meus ermos eu vasculho
E tendo; junto a ti,
Além do que senti
Nos dias mais sombrios,
Agora a primavera
Revela e ora tempera
Matando os meus estios.
28
Recebo desta vida
Bem mais que eu mereço,
Amor, velho adereço
Outrora em despedida
Agora a voz sofrida
Aonde reconheço
Do medo este endereço
Em sanha já perdida,
Reparto os meus caminhos
E dias mais daninhos
Jamais os quero aqui,
Vencendo esta ilusão
Os passos se darão
Além do que eu previ.
29
Imerso neste brilho
Do olhar enamorado,
E tendo aqui, ao lado
A lua e nela eu trilho,
Sem medo ou empecilho,
O gozo anunciado
O tempo derramado
Num átimo eu me pilho
Roubando das estrelas
Os sóis e posso vê-las
Nos olhos de quem amo,
O quanto sou feliz
Ou mesmo mais que eu quis
Liberto, eu não reclamo.
30
A flor celestial
Reinando sobre tudo,
O olhar onde me iludo
O dia sem igual,
A noite em raro astral,
O amor serve de escudo?
Apenas me transmudo
E bebo de teu sal,
Resvalo no infinito
Aonde eu acredito
Além do que coubera,
Apascentando enfim
O quanto existe em mim
Ainda em viva fera.
31
Quem me dera colhê-la!
Já não comportaria
Sequer além do dia
A mais sublima estrela
Podendo navegar
Por astros e vertentes
Aonde tu pressentes
E teimo em novo mar,
Ressalvas entre as alvas
Diversas luzes, tons,
Momentos ermos, dons
E neles tu me salvas
Das ânsias mais sutis
E sou pleno e feliz.
32
O perfume no lume
De quem se fez bem mais
Vencendo os tão venais
Caminhos onde rume
Quem sabe do ciúme
Em gestos que banais
Impedem qualquer cais
Perdendo o seu aprume,
Vagando em noite escusa
O passo não mais cruza
Além deste horizonte
Aonde a lua deita
E o mar também enfeita
O amor que ora desponte.
33
Recendendo universo
O canto mais sobejo
E nele o que desejo
Além de cada verso
E se inda em vão disperso
O rumo quando vejo
O pária lume andejo
De quem se fez diverso,
Encontro após a lua
A deusa seminua
E nela me entranhando
Percebo num instante
O céu mais deslumbrante
Em claros tons se armando.
34
Uma flor generosa
Deitando o seu aroma
O sonho então se doma
E bebe desta rosa,
A sorte é caprichosa
Em vários tons nos toma
E quando não traz soma,
A história é duvidosa,
A dadivosa senda
Aonde o bem se estenda
E gere esta beleza,
Decerto traz além
Do quanto me convém
A vida sem surpresa.
35
Meus olhos a procuram
Nos ermos deste sonho
E quando me proponho
Decerto não se curam
Os erros asseguram
Outro delírio e ponho
O mar mesmo enfadonho
E nele os sais perduram,
Em conchas e segredos
Os dias mesmo os ledos
Talvez tragam mil mares,
E neles outros tantos
Aonde em claros mantos
Os sonhos derramares.
36
Uma mão divinal
Vagando por teu cais
O olhar desperta e mais
Que um dia sem igual
Quisesses vendaval
Ou nele originais
Essências magistrais
Perfume divinal,
Resumos de outros sonhos
Por vezes mais risonho
Medonhos pesadelos,
No fundo somos isto
E se inda aqui persisto,
Os portos; posso vê-los...
37
Em Leilane esta flor
Que um dia imaginara
Tomando esta seara
Reinando em pleno amor,
E quanto mais eu for
Além do quanto ampara
A vida se escancara
E muda sem torpor,
Resumo de uma história
E nela, sem vangloria
O tempo não se esgota,
O amar se fez presente
No quanto já pressente
Mudança desta rota.
38
Pelo céu essa estrela
Domina plenamente
Aonde se apresente
Sobeja eu possa vê-la
Sublime natureza
Domando este cenário
Além do imaginário
Dos sonhos, mera presa
Vagando por espaços
E neles te procuro
Outrora em mundo escuro
Os passos velhos, lassos
Agora renovados
No amor; iluminados.
39
Bela. Estou tão distante
De quem se fez outrora
A fonte onde se aflora
O dia fascinante,
E nada me garante
Certeza de alguma hora
Saber quando se ancora
Em mar angustiante.
Vencer os meus temores
E quando enfim não fores
Além de mero engano,
Vivenciando enfim
O quanto existe em mim
Ainda quase humano.
40
Seu brilho constelar
Domina o céu enquanto
Vislumbro em raro manto
Beleza a nos domar,
Certeza de um luar
Então vislumbro e canto
O amor sem; entretanto,
Delírio a divagar.
Resvalo nos meus ermos
E sei dos velhos termos
De histórias parecidas,
Por isso é que eu me rendo
E entregue sem remendo
Somando nossas vidas.
41
Estrela radiosa,
Seus brilhos me domaram,
E quando me tomaram
A sorte se antegoza
Vencendo os meus anseios
E sendo sempre assim,
O amor dentro de mim
Outrora vãos alheios
Encontra finalmente
Um canto onde aprumar
E em raio constelar
Domina o corpo e a mente,
Futuro anunciado
Num céu todo estrelado.
42
Com o teu raro lume
O céu se mostra além
E tudo se provém
Do quanto em ti se rume
O corpo e me acostume
Ao tanto que contém
O amor por este alguém
Gerando enfim o ardume
Entorna seus cristais
E bebo muito mais
Do quanto poderia
E como fosse um sol,
Além deste arrebol
Meu corpo dita o dia.
43
O céu, tão invejoso,
Cansado de buscar
Aonde desenhar
Além do mero gozo,
Caminho fabuloso
Domina e devagar
O tanto a divagar
Provoca o majestoso,
Outrora não soubera
Sequer da primavera
E agora em flóreo traço
O mundo se moldando
E nisto me entregando
Inteiro, eu me desfaço.
44
Pelas nuvens; formada
A tempestade dita
A sorte mais aflita
Ou trama o quase nada,
Aonde em alvorada
A vida se acredita
Bem mais do que inda fita
Uma alma enamorada,
Resulto deste tanto
E quando enfim me encanto
Adentro o paraíso,
E sei quanto é demais
O amor em magistrais
Delírios de um sorriso.
45
Quem dera se pudesse
Vencer o medo quando
O mundo se moldando
Ainda em sonho tece
O quanto em tal benesse
Vivesse e se mostrando
Um dia onde demando
O corpo e se obedece
Os ritos deste anseio
E quando não rodeio,
Adentro sem senões
O mundo em que me expões
Divina providência
Em ares de clemência.
46
A vida, então, seria
Além do que já fora
Uma alma sofredora
Transita em pleno dia,
A sorte não se muda
O corte não mais poda
A vida imensa roda
Prepara a nova muda
E transfere ao futuro
O quanto poderia
Raiando o velho dia
Em tom opaco e escuro
Gerar a liberdade,
Mas mata a claridade...
47
O meu olhar vazio
Jogado nalgum canto
Vestindo o velho manto
Atroz de algum estio,
Aonde não recrio
Nem mesmo mais me espanto
O nada enfim garanto
Enquanto desafio
O tempo e a tempestade
A lua e a claridade
O medo de seguir,
A vida não pudera
Singrar além da espera
Do pouco que há de vir.
48
A cada noite nova
O céu rejuvenesce
E tudo se obedecesse
Amor à toda prova
O quanto se renova
Ou mesmo o novo esquece
Do quanto fora em prece
E agora não comprova
O passo ou mesmo o rumo
Em ti eu me perfumo,
Roseira preferida,
Mostrando à natureza
O rumo com certeza
Sublime em nossa vida.
49
Em ti, estrela amada,
O corpo devaneia
E quando a lua é cheia
A noite deslumbrada
A sorte desejada
Há muito nos rodeia
E quanto mais se anseia
Em sombras disfarçada,
Agora que eu a vejo
E sei deste desejo
Aonde fui além,
Não tendo mais paragem
O amor segue viagem
E um mundo em si contém.
50
O céu mais ciumento
Depois da lua farta
Agora já se aparta
E leva com o vento
Beleza e alumbramento
E a noite se reparta
E a lua se descarta
Aonde eu me apresento,
Cerzindo a maravilha
Que olhar adentra e trilha
Galgando este infinito,
O tempo não sacia
E gera a fantasia
E nela, eu acredito.
51
No cigarro que fumo
O tempo se transforma
E toma em cinza a forma
Da sorte, vago aprumo,
E quando me acostumo
A qualquer preço e norma
A face se deforma
E também eu me esfumo,
Acasos, caos ocasos
Os dias, ledos prazos
Aprazo-me em saber
Do quanto pude ou nada
Da dita anunciada
Eu pude enfim conter.
52
Distante, cai a noite
E tudo se mudando
Aonde fora brando
Agora em vil açoite.
O nada se tomando
O medo onde se acoite
Tramando outro pernoite
Talvez não mais infando.
Eu quis e quem pudera
Saber se desta esfera
Ainda caberia
Um novo anunciar
De um céu a nos tomar
Domando o pleno dia.
53
O canto que sonhava
O tempo diz amém,
O corte, a poda vem
A sorte amena ou brava
Uma alma assim se lava
E nisto sei também
Do gesto muito aquém
Enquanto o passo trava.
Resisto o quanto posso
E sei se nada é nosso
O poço que ora entranho,
Aonde se pensara
Em noite turva ou clara
Jamais obtive um ganho.
54
Não quero conceber
O quanto não mais cabe
Bem antes que se acabe
Em fúria o meu viver
O nada me pertence
Ou mesmo resta enfim
O pouco do jardim
Trazendo este non sense
Tramando num neon
A noite sem luar,
E sei que navegar
A vida noutro tom
É dom onde se espalha
Um campo de batalha?
55
Alvíssima menina
A lua sobre nós
Dos sonhos rara foz
O manto onde fascina
E gera nova mina
Soltando a minha voz,
O quanto fui feroz
E o nada determina
Um passo além do cais
Em atos magistrais
Ou mesmo corriqueiros,
Aceno com meus sonhos
E sei quanto tristonhos
Espúrios mensageiros...
56
A barca que sonhei
O tempo mais tranqüilo
Agora não desfilo
Ausento desta grei
E nada mais se vendo
Ou mesmo se anuncia
Aquém da fantasia
Não tendo dividendo,
O medo se aparenta
E gera ou não meu fim,
A poda do jardim
Agora mais sangrenta
Permite à primavera
A flor que o regenera...
57
Esconde-se infeliz
Quem tanto quis um dia
Traçar em fantasia
O mundo onde refiz
O passo, a cicatriz
O tempo não sabia
Da fonte da sangria
Audácia em chamariz,
Resumo de outras eras
E quanto mais esperas
Espessas nuvem vêm,
O tempo não redime
E o quanto foi sublime
Agora é muito aquém.
58
Quem dera se tivesse
O olhar neste horizonte
E tanto se desponte
Ao quanto ele se tece,
O féretro do sonho
Cenário pontual
O corte sem igual
Atroz onde proponho
Um renascer após
Ou mesmo em provimento
Um dia sem tormento
Dos riscos, mansa foz.
Esbarro neste vago
Que ainda em mim eu trago.
59
Vivendo a solidão
Cevando a noite amarga,
O sonho não se larga
Diversa dimensão,
Pudesse o coração
Na fonte feita à larga
Gerando o que se embarga
E dores se verão.
Ocasião diversa
Por onde teima e versa
O mar que existe em mim,
Vencer os dissabores
E sendo aonde fores
Chegar a um claro fim...
60
O medo desta luz
Já não mais nos sacia
E quando a fantasia
Ao máximo conduz
O olhar se reproduz
Gerando um novo dia
Aonde viveria
O pranto a dor e a cruz.
Os fâneros podados
Os dias enredados
Nos antros que ensimesmo,
O tanto que foi mesmo
Ou nada mais me traz
Senão a dor; mordaz...
61
Embalde, procurando
Em mim o que talvez
Já nem mesmo mais vês
Em dia tão nefando,
Arranco o meu caminho
E bebo nova senda
Aonde o não se estenda
E dome o velho espinho,
Arcando com enganos
Os antros reconheço
E sei meu endereço
Abaixo destes danos,
Vencido e sem defesas
Seguindo as correntezas.
62
Sou pobre passarinho
Aonde quis ter asas,
As sortes não abrasas
E sigo vão mesquinho
O mundo onde me aninho
O passo onde te atrasas,
As horas que defasas
O mar manto mesquinho,
Mineiro coração
Procura outro verão,
Porém não resta mais
Sequer o mar e a areia
A lua não rodeia.
Saudade? Furacão!
63
O rosto que se vê
Nas ânsias do meu mundo
Aonde me aprofundo
E busco algum por que,
O quanto já se crê
No tanto onde me inundo
O amor tão vagabundo
A sorte em vão clichê
O risco, arisco sonho
O tanto que é medonho
Ao mesmo tempo ingrato,
Na fonte sem sucesso,
Ainda recomeço,
Porém jamais regato.
64
O vento me tortura
E gera este fastio,
Aonde fora estio
Agora em amargura
O templo se procura
A morte em ledo frio,
O corte não recrio
A dor jamais se cura,
Assegurando assim
O tenso e torpe fim
E nele reproduzo
A praga, o medo e a dor
Aonde quis a cor,
O céu se fez confuso.
65
Um canto de saudade
Tomando o sonho enquanto
Procuro em cada canto
O manto onde se agrade
O passo em liberdade
E quando enfim garanto
Decerto eu já me espanto
Com turva claridade,
Poeta? Quem me dera...
Teria a primavera
E nela suas flores,
Mas quando vejo o fim
Do que fora jardim
O céu perdendo as cores.
66
Amante dedicado
Adentro algum espaço
E quando a meta eu traço
O céu desafiado
No corte aprofundado
O olhar deveras lasso,
O quando agora escasso
O nada por legado,
O vasto dentro em mim
Perdendo meta e fim,
Agora não mais vejo
Somente este sombrio
E ledo desafio
Tomando cada ensejo.
67
Mergulho num segundo
Além do quanto pude
E sei da juventude
E dela se me inundo
O quanto surjo imundo
E tudo em vão se ilude
Vencer com atitude?
Nos ermos me aprofundo.
Eu penso e até talvez
O manto se desfez
Por falta de perícia,
Mas tanto poderia
Além desta ironia
Dos sonhos, ter notícia.
68
Sonhando, vou morrendo,
E perco a direção,
Sabendo que virão
Em ar duro e estupendo
Os tantos que tivera
E nele nada resta,
Senão a dor infesta
Jardins; serve à quimera.
O parto, o pranto o gozo,
O risco a morte e o fado,
Ouvindo o desejado
Delírio em tom jocoso
Trazendo este recado
Dos vãos do meu passado.
69
Valsavas, numa noite,
Enquanto em tom suave
O peito não agrave
A fúria deste açoite,
Resulto no que um dia
Pudesse ou mesmo quis
E sendo a cicatriz
Que há tanto ressurgia
Vagando em plenitude
Mordaças; entrelaço
E quando perco o passo,
A queda não ilude,
E morto, muito embora
O sonho ainda aflora.
70
O teu vestido branco
A noite a lua o sonho
E quando me proponho
Sincero e até mais franco,
O nada agora arranco
De um tempo tão bisonho,
E sinto este enfadonho
Delírio torpe e manco.
Restauro em mim o brilho
Do corte onde polvilho
As sendas mais distantes,
Mas quando me adiantes
O passo nada resta
Senão o que não presta.
71
A vida me sorria
No pouco ou quase nada
A sorte desvendada
A morte em alforria
O gozo em alegria
A ponte desolada,
A senda anunciada
Florada não havia,
Restando o quanto posso
Ainda sem ser nosso
O todo que pensei,
Deixando para trás
O amor se tanto faz
Diversa ou mesma grei.
72
As águas deste rio
O olhar questiona a foz
E sei o quanto atroz
O passo e desafio
O rumo em desvario
O corte em meros nós
E pude mesmo algoz
Morrer de medo e frio.
Nefasta coincidência?
O tanto sem clemência
Errático cometa,
Aonde aponte o sol,
Domando este arrebol
O nada se prometa.
73
Porém, em mendicância
A vida não tramara
Além da funda escara
E nela a discrepância
Enquanto em tal vacância
A sorte desampara
E gera outra seara
Aonde era abundância,
O prazo se estipula
A fome dita a gula
E o medo o meu anseio,
Vagando por tais fatos
Os passos são ingratos
O dia nunca veio...
74
O canto da esperança
E o medo não se traz
No olhar que busca a paz
E nada mais o amansa,
O peso na balança
A sorte mais tenaz
O corte mais audaz,
E o vento dita a lança,
Opaca esta figura
Aonde se assegura
Apenas o não ser,
Pudesse ainda crer
Na noite, mesmo escura
No farto amanhecer.
75
A noite em minha vida
Resulta do que um dia
Pensara em alegria
E agora diz partida
A cena repetida
Deveras sempre eu via
E quanto mais sabia
Em sombras era urdida.
Acordo e sem acordo
Adentro em tal rebordo
E morro, plena queda,
O passo rumo ao nada
A noite entrelaçada
Aos poucos nos enreda.
76
Bradando, então, teu nome
O todo se mostrara
Enfim nesta seara
Aonde a paz consome
E nada mais se dome
A sorte mesmo clara
O manto se separa
E o todo agora some,
Resumo em fumo e prazo
O quanto ainda aprazo
E bebo insensatez,
Assisto à derrocada
Da noite anunciada
E nela não me vês.
77
Quem dera reviver
Um pouco do passado
Ou mesmo estando errado
Buscando algum prazer
Deveras me perder
Nos ermos de um translado
O ritmo desejado
Jamais pude saber.
Singrando o mar imenso
Em nada me compenso
Nem penso no futuro,
A porta se trancando
O mundo desfiando
O solo amargo e duro.
78
Amada; não se engane
A vida é mesmo assim
Começo dita o fim
O coração em pane,
A sorte desengane
Quem bebe deste gim,
Partilho o vão em mim
Com quem já me profane,
O risco se anuncia
E tento em covardia
Defesas, mas não acho,
Do todo em sol urdido
Agora pressentido,
Apenas mero facho.
79
Eu gostava do mar
Sentindo o que responda
Em cada sonho uma onda
Pudesse navegar,
Distante do sonhar
Aonde já se esconda
O mundo bebe e sonda
Espaços a vagar,
Não pude, pois distante
E nada me garante
Que eu volte à antiga praia,
O tempo não condiz
E sendo este aprendiz
O tudo enfim me traia.
80
Mar, praia, areia, sonho
O tempo não perdoa
E quando segue à toa
À tona um ar medonho,
Vencido eu me reponho
Enquanto a voz ecoa
E volto a crer na boa
Visão de um mar risonho;
Mas tudo se esvaindo
No pouco ressurgindo
Além deste horizonte,
A sorte não se aponte
E um dia outrora lindo
Agora é morta a fonte.
81
Amando sobre a areia
A lua derramando
Um ar suave e brando
Fulgindo esta sereia
O quanto me incendeia
O rumo transtornando
Em tudo te tocando
Maré pra sempre cheia,
Rodeio outros vagares
Por onde tu andares
Decerto eu estarei,
Resumo a minha vida
Nesta ânsia repartida
Domando a nossa grei.
82
No Rio de Janeiro
O sol dos meus janeiros
E neles verdadeiros
Os ditos de um canteiro
Aonde fora inteiro
Em ritos derradeiros
E agora nos cinzeiros
O câncer, companheiro.
Resumos destes vãos
Momentos entre nãos
E quedas, mas persisto,
E tanto quanto pude
Viver nesta amplitude
A morte? Eu não despisto...
83
Praias, ondas, marés
Ourives da esperança
E quando o mar se lança
Tocando enfim meus pés
Olhando de viés
Bebendo esta mudança
Gestando a confiança
E nela sei quem és.
Derramo o meu olhar
E sigo a procurar
Quem possa pelo menos
Vencer os mais audazes
Caminhos entre as fases
Gerando sóis amenos.
84
Na pele, puro brilho
No olhar iridescente
O todo se apresente
Aonde amor palmilho
E sei ser andarilho
Ou mesmo algum descrente
Um tanto imprevidente
O mundo em ti eu trilho,
Vacâncias do passado
Agora noutro fado
O mundo se desnuda,
A sorte tão miúda
Disseminando o grão
Permite esta ilusão.
85
Porém a tempestade
Que tanto eu evitara
Agora em tal seara
Gerando a dor, invade
E nada em claridade
Nem mesmo se declara
A vida sem a escara
E tudo já degrade
O passo rumo ao tanto
E tento e não garanto
Senão novo tormento,
O amor gerando a luz
E nela reproduz
O quanto em ti eu tento.
86
As ondas em procela
Os mares dentro em mim
O risco chega ao fim
Enquanto pinto a tela
Aonde se revela
A paz deste jardim
Quisera querubim
Ou mesmo abrindo a vela
Navego sem timão
Os dias que virão
Trarão nova tormenta?
Mas tudo não passava
Da mesma e dura e brava
Paixão que dessedenta.
87
Meu verso, enamorado
O pranto o riso e o gozo
Momento desairoso
Resumos de um enfado,
O parto sonegado
O dia majestoso,
Apenas andrajoso
Caminho em risco e fado,
O dado se lançara
A sorte nunca é clara
O medo não se doma,
O fardo em minhas costas
As horas são respostas
O amor; espúrio coma.
88
O sol que fora amigo
Agora já não passa
Sequer desta fumaça
Aonde eu te persigo,
O risco em desabrigo
O todo ora se embaça
O riso o medo e a praça
O tempo em vão prossigo.
Eu quero e tenho atento
Olhar e sentimento
E nisto me pressinto
Porém ao desalento
O quanto ainda tento
Encontro agora extinto.
89
O tempo transtornado
Produz a intensidade
Aonde se degrade
O dia desvendado
No prazo demarcado
Jamais tento saudade
E nesta ansiedade
Errático e sedado.
O manto já puído
O sonho é vão ruído
E o medo não se cala,
Adentro esta ilusão
E nesta direção
A sorte é vã, vassala.
90
Adormecida luta
Aonde nada mais
Dos dias tão normais
E nisto se reluta
Enquanto fora astuta
A sorte em teus vitrais
Agora não, jamais
Verás esta permuta
De sonhos e delírios
Em vagos tolos círios
Desfiles e promessas,
Mas logo em romaria
A vida não traria
Senão quando tropeças.
91
A craca em meu navio
Demonstra a solidão
E falta de atenção
O tempo em desvario
Pudesse e já desfio
O risco e enfim virão
Os ledos de outro vão
E nele frágil rio.
O mar que imaginava
Agora morto em lava
Vulcânica promessa
Adormecido sonho
Aonde sou medonho,
A vida recomeça...
92
É morte, sem ter cais
O que me propicias
E logo em frágeis dias
Quebraste estes cristais
E agora o nunca mais
Aonde poderias
Vencer as ironias
E ter sonhos normais.
Resumos de uma vida
Já tanto em dor urdida
E nada mais se vê
Senão este espetáculo
E nele em mau vernáculo
A vida é sem por que.
93
Célere veio a noite
Tomando este cenário
Um vento estranho e vário
Qual fosse um vago açoite
Adentra meus umbrais
E toma todo quarto,
Nos sonhos inda parto
E enfrento os vendavais,
Porém mera ilusão,
O passo retrocedo
E sinto em torpe enredo
Os dias que virão,
A morte se anuncia
E não espera o dia.
94
Um sorriso resiste
Embora eu saiba bem
Que nada mais provém
De um coração tão triste.
A vida não persiste
E quando o sonho vem
Procuro um novo alguém,
Que é óbvio, não existe.
E além do pensamento
Tocando em desalento
A sorte dita o rumo
Percorro cordilheiras
E as horas derradeiras
Deveras eu assumo.
95
O pensamento busca
Em plena noite escusa
A sorte mais confusa
A vida em luz tão fusca,
O quanto já se ofusca
Enquanto se entrecruza
O passo em tez obtusa
A vida queda, brusca.
Resisto o mais que posso
E sei quanto foi nosso
O que jamais pensara
Um dia tão ausente
A morte se pressente
Domina esta seara.
96
Quem sabe deste vento
Traçando nova lua
A vida continua
Liberto o pensamento,
Por vezes inda tento
A noite segue nua
E volto à mesma rua
Em tom de alheamento,
Prossigo, mas sei bem
Que nada mais convém
A quem se fez distante
Se a dita me garante
O quanto sei constante
Decerto nada tem.
97
Pensamento me leva
Além do quanto pude
E sei desta atitude
Gerando a mesma ceva
A noite em plena treva
Alheia juventude
Morrendo e nada ilude
Espera mais longeva
Retalhos de uma vida
Já tanto dividida
Em ermos tão vulgares,
Amortalhado sonho
Deveras é medonho
E nele sempre estares.
98
A noite se revolta
E volve em tempestade
O medo quando invade
A sorte não tem volta
O corpo não se solta
Poeira nos degrade
Alheia liberdade
A vida sem escolta
A queda se anuncia
E vejo além do dia
A morte sem defesas,
Seguindo as correntezas
O quanto poderia
Se somos meras presas?
99
Da luta não me canso
Embora saiba tanto
O que decerto eu canto
Buscando algum remanso,
A vida em velho ranço
O mundo sem encanto,
O corte o medo o pranto,
Porém teimando avanço
E quando me degrado
A sorte noutro fado,
Mortalha se tecendo,
E vejo além da queda
A página se veda
Sou mero e vão remendo.
100
Dos sonhos, companheira
A vida não cabia
Neste raiar do dia
Aonde a sorte queira
Mudar e vejo inteira
A solidão vazia
Inócua poesia
Do nada é mensageira,
Amar? Como que eu posso
Se nada fosse nosso
Senão esta mortalha,
Vencido pelo tédio
Não tendo mais remédio
Sou mera e tosca tralha.
101
Também conheço o dia,
Embora não mais veja
O quanto da sobeja
Manhã não mais veria,
O risco de sonhar
O medo se formando
Aonde fui nefando
Negando algum vagar,
A morte se prepara
E doma sem sossego
Buscando algum apego
Além da noite clara
A manta se desnuda
E morro em plena muda.
102
A noite não percebe
O quanto pude ver
Do farto amanhecer
Outrora, velha sebe,
O todo se recebe
Depois do sem saber
O rumo a se tecer
A morte nos embebe
E sinto a cada passo
O quanto ainda traço
Do nada dentro em mim,
Vagando em luz medonha
A vida já se enfronha
Além do meu jardim.
103
O brilho da alvorada
O sol já não surgia
A morte em fantasia
A vida anunciada
O risco deste nada
Ou mesmo esta sangria
Já tanto poderia
Dizer da madrugada
Aonde fora ausente
O tempo não pressente
Mudança alguma quando
O risco se moldando
O dia morto agora
A bruma em vão se aflora.
104
Bem sabe que travei
A luta onde sabia
Perdida a fantasia
Alheio à velha lei
O quanto escancarei
Da mesma poesia
E sei que não havia
O quanto duvidei
O risco de sonhar
O medo de lutar
A morte em mim sobeja,
O tempo não discute
Ainda que eu relute
O fim somente veja.
105
Na luta mais constante
No risco de talvez
Buscar onde não vês
O quanto se adiante
O passo doravante
Tomado em lucidez
Permite o que desfez
Manhã num novo instante,
Aprendo ou tento ao menos
Em dias mais serenos
Verter em poesia
O quanto não me cabe
Bem antes que se acabe
O derradeiro dia.
PARA TANTOS, PRINCIPALMENTE MARCOS GABRIEL, MARCOS DIMITRI E MARCOS VINÍCIUS. MINHA ESPERANÇA. RITA PACIÊNCIA PELA LUTA.
sábado, 26 de junho de 2010
38801 até 38900
1
Por mais que te quisesse
Durante meses, anos
Os vários desenganos
O quanto não se esquece
Negando a sorte houvesse
Aonde sem tais danos
Pudessem soberanos
Enquanto o não se tece.
Resvalo nos vazios
E bebo em desafios
Luares divergentes,
Sentidos quase opostos
Caminhos já propostos,
Porém nada apresentes.
2
Fazer do meu caminho
O mesmo que pudera
Sentir além da espera
Em canto tão mesquinho
O doce e nobre vinho,
Mas tudo degenera
E sinto noutra esfera
Delírio que adivinho.
Arcando com meu passo
Decerto já desfaço
O quanto ainda havia
Do vasto sentimento,
Agora embora atento,
Somente fantasia.
3
Embora te procure
Vagando alheio céu,
O tempo em carrossel
Deveras não mais cure
E tanto já perdure
Na boca o mesmo fel,
Agrisalhado céu
Solar raio depure.
Aprendo e não contesto,
Somente em cada gesto
A mesma face ingrata,
O roto e vão desenho
E nele se eu detenho
A fúria não desata.
4
A vida me apresenta
Ocasos vez em quando
E tudo se mostrando
Em face mais sangrenta
O amor gera a tormenta
O vento derrubando
Enchente destroçando
Enquanto o medo aumenta.
Um bélico delírio
Em tons de vão martírio
Alheia barricada,
Aonde quis a sorte
Sem mais quem trague aporte
Não resta então mais nada...
5
As ruas que prometo
O medo após a queda
O sonho já se veda
E nega algum soneto,
O mar onde arremeto
Mergulho onde se enreda
Diversa enquanto seda
Este erro que cometo,
Vencido, mas nem tanto
Ainda assim garanto
A mim nova morada,
Depois do terremoto
O sonho antes remoto
Traduz outra jornada?
6
Mas brilho de outros sóis
Não pude e nem tentara
Porquanto mesmo clara
A sorte em maus lençóis
Deprime os girassóis
E o fim já se prepara
Aonde se depara
Ausência de faróis…
Ocaso dentro em mim
Os sonhos de festim,
A morte ganha aposta
E sei quanto teria
Não fosse alegoria
O encanto em vã resposta.
7
Quem pensa ter luz tenta
Vencer a escuridão,
Seus olhos não verão
Manhã onde apascenta
A vida em tal tormenta
Faltando direção
Fatal embarcação
Em tez dura e sedenta.
Enquanto inda se crê
No mundo sem um quê
Diverso do que eu sinto
O parto dita o aborto
O sonho agora morto
No amor, alheio e extinto.
8
Mesmo que carregasse
O olhar além do mar,
Sorvendo devagar
Mostrando a nova face,
Ainda que tentasse
Deveras navegar
Sentindo o naufragar
Aonde a morte grasse,
Escaras dentro da alma
E sei que nada acalma
Quem tenta ter além
O mundo em desvario
E quando o desafio
O nada me contém.
9
Pensava que podia
Depois do vendaval
Um dia menos mal
Ou mesmo uma alegria,
Porém dissintonia
Gerando o desigual
Caminho até a fatal
Mera idiossincrasia.
Ascendo ao meu anseio
E o quando o vão rodeio
Arrecadando o fim,
Negando uma existência
Sol gera incoerência
E mata o resto em mim.
10
Ser feliz, ser feliz!
A vida não me traz
Sequer a mera paz
Aonde o todo eu quis;
Se o rumo já desfiz
Ou fora mais audaz,
O coração falaz
Não sabe o quanto diz.
Renego a dita enquanto
Ainda tento e canto
Diversa melodia,
O manto se desnuda
E sei quanto é miúda
A vida que ora via.
11
Dos beijos que mentiste
Gerando este vazio
Aonde alheio rio
Em vão inda persiste,
E sei do quanto é triste
E nisto desafio
O rumo onde desvio
O pouco que resiste.
Reservo-me afinal
Ao dia mais venal
E sei do quanto pude.
Agora a morte ronda
O mar ditando esta onda
Não trouxe a juventude...
12
Desejo ter fulgor
Aonde sou tão mero,
E sei quanto mais quero
Maior o dissabor,
Matando em mim a flor
Se tanto fui sincero,
Aos poucos desespero
E morro em franca dor.
Assumo cada engano
E quando meço o dano
Imenso e nada atrelo
Ao quanto pude outrora
O barco desancora
Em rumo paralelo.
13
No rastro das estrelas
Olhar embevecido
E quando mais provido
De luzes ao contê-las
Sabendo como possa
Traçar novo amanhã
Vivendo o duro afã
A sorte nunca nossa,
A fome o medo e o corte
O peso de uma vida
Já tanto desvalida
Sem ter como conforte
Um velho caminheiro
Além ainda esgueiro...
14
Na espera deste amor
Jorrando em tepidez
O quanto ainda vês
Ou mesmo dita a flor,
Não deixa que o rancor
Gerando insensatez
Tornando desta vez
Grisalha a nossa cor.
Adentro e me concedo,
Vencendo este penedo
E as rocas, sei do cais,
Arrisco o ancoradouro
Nos sonhos onde eu douro,
Vencendo os vendavais.
15
Não posso mais temer
A antiga tempestade
E quando desagrade
A vida em desprazer
Não posso amanhecer
Aonde sei a grade
E tento sem saudade
O sonho reviver.
Pudesse ser feliz,
O quanto tento e quis
Durante estas procelas,
O medo diz das celas
E nelas cicatriz
Aonde o não revelas.
16
Decerto me percebes
Vagando em noite escusa
E quanto mais confusa
Diversas são as sebes
E quando me recebes
Do amor jamais se abusa
Um sonho se entrecruza
Além do que concebes.
E sendo desta forma
A vida se transforma
Reformo o pensamento,
E quanto mais eu tento
Divirjo do passado
Num passo anunciado.
17
Não temo nem sequer
Quem mais se fez cruel,
Seguindo sempre ao léu
Do quanto inda puder
Gestando o que vier,
O mel, o medo e o fel,
Resumo noutro véu
O todo que se quer,
Aprendo a cada anseio
E nada mais receio
Senão este vazio.
O tanto mesmo em dor
A poda dita a flor
Calor endossa o frio.
18
A minha vida passa
Alheia às atitudes
E mesmo se transmudes
Visível tal fumaça.
A vida, a festa, a praça
Antigas plenitudes
E quanto mais me iludes
Maior sei a trapaça,
Mas gosto deste enredo
E nele então procedo
Qual fosse meramente
Um torpe pária exposto
E quanto mais deposto
Reinando em corpo e mente...
19
Recebo enfim a grande
Mortalha já tecida
Durante a minha vida
Aonde a dor tanto demande
O corte, a fúria, mande
E trace em despedida
A sorte refulgida
Ou tudo em vão desande.
Restara dentro em mim
À sombra de um jardim
O risco de sonhar.
Mas sei deste terror
E mato qualquer flor,
Desfaço o meu pomar.
20
Que o vento da saudade
Não faça desta senda
O quanto não atenda
Nem mesmo desagrade,
O risco, a realidade
O nada se desvenda
E tanto gera emenda
Na fúria que ora invade.
Apertos, medos, ermos
E sei dos velhos termos
Aonde a sorte expressa
O fim e não começa
A vida noutra vida
Finita esta avenida...
21
De novo, pois, passeias
Em tantos sonhos meus,
Meus dias sem adeus
As horas vão alheias
E quando então rodeias
Os passos entre os breus,
Os ritos mais ateus
As luas não mais cheias,
Arisco caminhante
Aonde se adiante
O passo nada versa,
A sombra dominando
O quadro desde quando
Findara esta conversa.
22
Pensava tanta vez
No dia aonde outrora
A sorte desarvora
E gera insensatez,
Assim tanto desfez
O passo onde demora
A dita e me apavora
O quanto ainda vês.
Gastando em verso e prosa
A vida sinuosa
Em curvas e desníveis,
Os ermos que eu carrego
Em passo ou num nó cego
Jamais serão visíveis.
23
Quem tanto amou implora
Por pelos menos, sonho
E quando isto eu proponho
A quem fora senhora
Da vida e se demora
Aonde sei medonho,
O passo onde reponho
O corte revigora.
Ausência de esperança
Aprendo enquanto avança
O mundo rumo ao vão,
E nesta forma insisto
Sabendo sempre disto:
Da imensa escuridão...
24
Verdades que esquecidas
Não deixam que se veja
O quanto em mais sobeja
Angústia gera as vidas.
Os medos, as partidas
O passo onde preveja
Ou nada se reveja
Apenas meras idas
E nestas aventuras,
Cenários que procuras
Já não consigo vê-los,
Meus sonhos ermos são
E neles se verão
Somente os pesadelos.
25
Destinos que se tocam
Enquanto se procuram
Os corpos se torturam
E os medos se retocam,
Navego por teus braços
Invado os teus destinos,
Os sonhos cristalinos
Os dias jamais baços,
Acordo e se te vejo
Acende em mim tal frágua
Desejo já deságua
E um dia em azulejo
Deitando sobre nós
Macio, mas feroz...
26
Quem fora amargurada
Durante a vida inteira
Ao ver esta bandeira
Aonde outra alvorada
Pudesse anunciada
E nela a verdadeira
Seara costumeira
Gerada pelo nada,
Sementes deste tempo
Alheio ao contratempo
Adentro o mais festivo
Caminho onde pudera
Vencer a tola espera
Nos sonhos que eu cultivo.
27
Quem sabe agora amores
Desvenda os dias vis,
E quanto mais te quis
Bebendo tais albores,
Sem nada mais propores
Eu sendo enfim feliz
O mundo por um triz
E nele espinhos, flores,
Acrescentando em brilho
O tanto onde palmilho
Deveras se traduz
Na própria natureza
A sorte em tal nobreza
Gestando em si a luz.
28
Nos versos que dedico
A quem se fez bastante
O amor sempre garante
E nele exemplifico
O dia onde dedico
Caminho deslumbrante
Revejo o teu semblante
Num dia intenso e rico,
O vago caminhar
Aonde procurar
O sol tão generoso,
Depois deste vazio
O tempo desafio
E nele a dor e o gozo.
29
Prevejo minha sorte
Aonde possa além
E quando a noite vem
Sem nada que conforte
O quanto me comporte
Ou mesmo sem ninguém
Dos sonhos vou aquém,
Ainda sem meu norte.
Acordo em madrugada
A vida desgrenhada
O passo em falso, o medo...
E quando vejo o rosto
Do amor a ser exposto
Um brilho enfim, concedo...
30
A treva do viver
Já não mais poderia
Reinar no dia a dia
E tudo esmorecer.
O passo volta a ter
Ao menos a alegria
Que há tanto mais queria
E nisto posso crer.
Efêmero, mas tanto
O amor onde agiganto
Permite a claridade,
E sinto na verdade
O brilho onde garanto
A paz que agora invade...
30
Água que me bendiz
Dos rios da esperança
Enquanto o tempo avança
E sei ser mais feliz,
Dos sonhos o aprendiz
Que ao tanto ora se lança
O vento em paz alcança
O quanto mais te quis.
Erijo em homenagem
Além desta paisagem
Com brilho em meu cinzel
Imagem fabulosa
Aonde se antegoza
Um mundo em raro céu.
31
Na fronte da mulher
O brilho aonde um dia
Em paz mergulharia
Sabendo o que se quer
Havendo o quanto houver
Intensa fantasia
Gerando esta alegria
Ou tudo e se vier,
O risco de sonhar
Pudesse anunciar
O tempo mais sensato,
Mas quando estou alheio
O passo em vão; permeio
E ao fim já me maltrato...
32
As dores se esvaindo,
O tempo renascendo
O sei que se estupendo
O dia em paz, mais lindo,
O todo distraindo
A vida se tecendo
Caminho obedecendo
O quanto em ti deslindo,
Anunciando a glória
Mudando a minha história
Gerando um raro sol,
E nele esta certeza
Do amor em tal beleza
Domina este arrebol.
33
Em busca de outro templo
Pudesse ainda crer
Aonde o amanhecer
Em paz hoje eu contemplo
Resumo a fantasia
Em plena liberdade
E sei desta saudade
Aonde amor havia,
Arisco pensamento
Por vezes dita a sorte
E nada mais suporte
Quem bebe o desalento,
E eu creio no futuro
Por mais que eu me torturo...
34
Nos páramos distantes
Os riscos; já não tento
E quando em sofrimento
Deveras me garantes
Os dias terebrantes
Os medos sem ungüento
E sei deste sedento
Momento em tons farsantes.
Eu posso acreditar
Enfim neste luar
Deitando o brilho intenso
E bebo à minha sorte
Aonde o amor comporte
O todo que ora penso.
35
O manto que a verdade
Não mais esconderia
Trouxesse um novo dia
Matando esta saudade
Que agora torpe invade
E traça em poesia
O quanto não podia
Além da realidade.
Esteio de outra vida
A luz reproduzida
No olhar de quem anseio,
Aonde houvera treva
Caminho que me leva
Ao tanto sem receio.
36
Marmorizado brilho
Estende no horizonte
Aonde além aponte
O rumo onde andarilho
Ainda vou, palmilho
E sei da vera fonte
E tramo onde desponte
O sol em raro trilho.
Vestindo esta ilusão
Já sei da direção
Por onde possa ver
Além deste grisalho
Cenário onde me espalho,
Um raro amanhecer...
37
Que nas constelações
Nos brilhos convergentes
Ainda que apresentes
Diversas soluções
A que decerto expões
Raros clarividentes
Momentos evidentes
E neles sem senões,
Resumo em lua imensa
O quanto se compensa
A vida após a queda,
Cenário iridescente
Aonde se apresente
O sonho que me seda.
38
É tempo de tentar
Depois da chuva, o sol,
E sei quanto em farol
Aprendo a caminhar,
Adentro então teu mar
Dos sonhos o lençol,
O rumo agora em prol
Do tanto desejar.
Restauro a fantasia
E nela não teria
Sequer outro tormento,
Vencido em dor e farsa
Meu peito não disfarça
E um novo dia eu tento...
40
Amor que se desfez
Depois da tarde enquanto
A noite em turvo manto
Gestando o que ora vês,
E nesta insensatez
O beijo não garanto
E o corte agora é tanto
E nada mais se fez,
Somente este vazio
E nele se desfio
O rumo em tom grisalho,
A poda da esperança
Aonde em vão se lança
Decerto inda batalho.
41
Renasce nos teus olhos
O brilho constelar
Pudesse adivinhar
Em meio aos vãos abrolhos
As flores mais felizes
E nelas claridade
Aonde esta saudade
Transcende aos meus deslizes,
Eu sei e sinto ainda
O tanto quanto posso,
Do encanto todo nosso
E nele a vida brinda
Com rara maravilha
E o sonho se polvilha.
42
Me leva nos pendores
Os sonhos mais sutis
E quero ou já desfiz
O manto em dissabores,
Morrendo sem as cores
Aonde fui feliz
E o peso em chamariz
Transcende aos vãos amores,
A sorte ditando isca
O passo não se arrisca
A queda se anuncia,
E vejo em turbulência
O amor sem ingerência
Alguma deste dia...
43
Eu cri no vaticano, hipocrisia!
Eu não queria ensinamentos errados,
Desolados! Pelas frestas se espia,
Deuses e demônios sendo usados.
São tantos vendilhões imunizados
Dizendo-se de Deus serem a cria,
No púlpito, no altar, na sacristia,
As mãos tão sujas dizem-se abençoadas.
E se negado o dízimo, não se cria...
É imposição da Santa Ironia
Ludibriando os pobres indefesos.
“Em nome de Jesus” e saem ilesos,
Fazendo da miséria seu altar.
Rebanho aprisionado a cantar...
Josérobertopalácio
Apenas percebendo a geração
De tantas heresias se percebe
Além do que pudesse outrora em sebe
Diversa da moldada em confissão,
Princípios desconexos moldarão
O que se vê decerto e se concebe
Domínio do poder por sobre a plebe
Dinheiro, hipocrisia e pregação?
O dano se produz e nada mais
Impedirá tal ermo caminhar
Envolto em ritos tétricos, formais,
Enquanto a liberdade é reduzida
O pasto não se esgota num altar
Negando o essencial da própria vida.
44
A noite me convida
O tempo não resiste
E quando além se insiste
Na sorte desprovida
A morte dita a vida
Cenário duro e triste
O mundo agora assiste
À trágica partida
Dos sonhos para além
E nada mais retém
O passo destas feras,
Sangrentas, virulentas
Enquanto as alimentas
Com medos que em ti geras.
45
Sob as belas estrelas
Olhando de soslaio
Sou mero e sou lacaio
Enquanto quero tê-las
E vendo em claro espaço
O olhar de quem se dera
Moldando além da espera
O tempo aonde eu traço
O passo rumo ao quanto
Pudera imaginar
Ainda este lugar
E nele não me espanto
Seguindo este tropel
De estrelas bebo o céu.
46
A luz que se reflete
No olhar enamorado
Um rumo vislumbrado
Aonde se complete
O mundo me arremete
E vejo iluminado
Caminho ora traçado
Em luz, sombra e confete.
Apraz-me perceber
O claro do teu ser
No meu já refletido,
Assim entranho em ti
O amor que ora senti
Além desta libido.
47
Emana da princesa
A deusa ou bela diva,
E quanto mais cultiva
Em ti minha alma presa,
Vencendo e tendo à mesa
A vida nada priva
Curando esta ferida
Sem medo e sem surpresa,
Negociar a paz?
Não sou nem mais capaz
De crer neste instrumento
Vencer a guerra em mim,
Chegando ao manso fim,
Se é farto o desalento?
48
Nas ruas onde passo
Ou mesmo ainda tento
Sentindo em provimento
O rumo em novo traço,
Depois deste cansaço
O farto e violento
Delírio em sofrimento
Num sonho mero e escasso,
Exemplo em minha vida
A sorte permitida
E mesmo permissiva,
No quanto se coleta
A vida de um poeta
Palavra ara e cultiva.
49
E como desfrutar
Depois do temporal
De um dia sem igual
Imerso em luz solar,
Depois ao divagar
Vencer o ritual
E ter noutro sinal
Um quanto a navegar.
Embaralhando as cartas
As horas não descartas
E os dias bebes pazes,
E desces dos altares
E quando me tocares
Perdão dos céus me trazes.
50
Bela noite passando
O dia se aproxima
E sinto em novo clima
Um tempo bem mais brando
E sei que desde quando
Amor ditando a rima
O porte já se estima
E o mundo desbravando
Caminhos dentro em mim
Cevando este jardim
E nele flórea luz,
O tempo não se esgota
Na turva ou clara rota
Aonde o pé; já pus.
51
Cometas; desfilaste
Aos olhos promissores
E ainda onde tu fores
Sem medo e sem contraste
O nada que geraste
Ou mesmo dissabores
E neles sem rancores
A vida não tem haste,
O prazo determina
E vejo em nova mina
A cristalina senda
Aonde o meu amparo
Em sonho já declaro
E a paz enfim se atenda.
52
Nos cantos mais bonitos
Olhando mansamente
Quem quer que se apresente
Ou trace novos ritos,
Os dias infinitos
Os medos, minha mente
O canto se desmente
E diz dos velhos ritos,
Aflitos caminhares
E neles ao tocares
O fim com olhos, pele,
O todo que se aflora
Domina e desde agora
Ao máximo compele.
53
Rainha dos meus sonhos
Divina fantasia
Aonde a poesia
Diria em tons risonhos
Dos dias onde possa
Viver a plenitude
E nada mais se mude,
A sorte dita é nossa,
Vencer os meus anseios
Seguir os teus caminhos
Sem tréguas nem daninhos
Sabendo destes meios
Em devaneios vago
Cevando o teu afago.
54
A boca que me toca
Com lábios, dentes, risos
Em tantos prejuízos
O corte já se aloca
Adentro em furna e toca
E teimo em paraísos
Em toques mais precisos
O amor em si provoca
Desnuda a fera e a diva
O quanto me cativa
Cogita novo templo,
A pele bronzeada
A cena desejada,
Em êxtase contemplo.
55
Não sabe do prazer
Quem não se dando inteiro
Esquece o verdadeiro
Caminho a percorrer,
Vencido se vencer
Gerando este estradeiro
Mergulho mensageiro
Das sendas do prazer,
Eu quero e bebo assim
Não deixo nada enfim
E teimo em novo engate,
Aos poucos se resgate
O quanto a vida deve
Outrora em frio e neve.
56
Da noite de luar
Do corpo em pele nua
A senda se cultua
E nela pude amar,
Além do mergulhar
Ascendo enfim à lua
E vago pela rua
Buscando o teu olhar.
Não teimo contra a sorte
Nem nada mais suporte
O passo senão isto
E quanto mais me dou,
Deveras se mostrou
No amor que agora insisto.
57
Nos braços delicados
De quem se fez sublime
O quanto já se estime
Dos dias vãos, legados
E neles mergulhados
Apenas mal redime
O corte e a dor suprime
Encontro tais enfados.
Eu vejo a sorte em ti
E quanto mais senti
O gozo incomparável,
O mundo se mostrara
Em lua imensa e clara
Além do imaginável...
58
Sons etéreos, divinos
Enquanto te procuro
E bebo e me asseguro
De dias cristalinos,
Desnudo devagar
Beleza incomparável
Mulher tão desejável,
Vontade de entranhar
Sem medos e defesas
As furnas, ermos, tocas
E quando em mim te alocas
As pernas ora presas,
Inundações, rocios
Em doces desafios...
59
As folhas balançando
Os olhos contra o vento
O tempo ainda eu tento
Enquanto houvesse o quando
O rumo desolado
O corte prenuncia
A sorte ora vazia
O termo desenhado
Nos ermos de minha alma
Vacância em plena treva
O quanto já se ceva
Colheita que me acalma,
Ou meras ilusões
Em sórdidos senões?
60
À beira das cascatas
Em dissonantes sons
Diversos dias bons
Aonde me arrebatas
E sinto esta certeza
Imerso em teu caminho,
E quando me avizinho
Da imensa correnteza
O farto então se dá
Sem nada me conter,
Começando a colher
Agora aqui ou lá
A sorte que bendiz
E me faz mais feliz.
61
Divino...libertário
O canto de quem sonha
A vida não se oponha
Além do necessário
Seguindo itinerário
Em luz clara e risonha
O manso se componha
Bem mais que o temerário,
Arrisco um passo além
E quando nos detém
O amor não mais sossega,
Uma alma bebe a luz
Aonde outrora eu pus
A sorte amarga e cega.
62
Canto da cachoeira
Ouvindo o teu chamado
Estendo este recado
Aonde mais se queira
E vivo agora à beira
Do templo imaginado
E quanto a ser fadado
A lua é mensageira
Dos tantos brilhos teus
E sem saber de adeus
Deveras me entreguei
E sento sempre assim
O amor jamais tem fim,
E reina em nossa grei.
63
Transcorre neste rio
O tempo em claridade
E quando a dor invade
Vencendo o desafio
Embora em desvario
O todo se degrade,
Além da realidade
Um novo tempo eu crio,
E vejo neste tanto
O quanto me adianto
E chego enfim a ti.
Sorvendo cada gota
A senda outrora rota
Em luz intensa eu vi.
64
Tão distante, esqueci
O fardo que deveras
Gerando em mim as eras
Diversas onde eu vi
O mundo já sem ti
E neles destemperas
Enquanto a dor tu geras
O rumo enfim perdi,
Mas quando estás comigo
O tempo que persigo
Encontro ao lado teu,
O mundo se desenha
E nele em brasa e lenha
O fogo nos prendeu.
65
Na imensidão profunda
O manto aonde um dia
Usara em alegria
A sorte que me inunda,
A morte se oriunda
Do corte em luz sombria,
Mas quando se daria
A paz já se aprofunda
E reina sem surpresas
As horas sendo presas
Dos gozos mais audazes
Não temo qualquer sombra
Se eu tenho em ti a alfombra
Onde prazer me trazes.
66
Nessas águas tão claras
Desejos se desenham
E nada mais contenham
Aquém do que declaras
E sem temor encaras
As dores quando venham
E em ti luzes embrenham
Tomando tais searas,
Arisco pensamento
Aonde num momento
Pudesse ainda ver
O brilho deste olhar
E nele navegar
Nas ânsias do prazer.
67
Perfumes doces, flores,
Delírios mais audazes
E sei que tu me trazes
Diversos dissabores,
Mas quando tu te fores
Os dias mais mordazes
E neles os vorazes
Carinhos redentores
O amor paradoxal
Jamais seria igual
E nesta variedade
Eu bebo e não sacio,
O quanto sou vadio
Também sei que te agrade.
68
Lembrar do que vivi
Depois do temporal
O corpo sensual,
Belíssimo que em ti
Um dia descobri
E neste ritual
O amor sem outro igual
Enfim sentira aqui,
Restando do passado
Apenas recortado
Um frágil e vão remendo
E quando no futuro
O passo eu asseguro
No amor que agora estendo.
69
Imagem benfazeja
Diversa maravilha
Aonde o corpo trilha
E tanto mais deseja
Belezas são tão ternas
E nelas me entranhando
O todo desejando
Começo pelas pernas,
Desnudo mansamente
O corpo desta diva,
E quando mais se criva
O amor domina a mente
E gera sem juízo
Em nós um paraíso...
70
Criatura, distante,
Dos olhos ansiosos
Aonde desejosos
Caminhos adiante
O risco se agigante
O medo em tenebrosos
Olhares pedregosos
Um dia angustiante...
Mas quando estás comigo
O todo que persigo
Encontro em todo espaço
E o vértice do sonho
Em ti quero e componho
No quanto em gozo enlaço.
71
Lavínia calmamente
Nos ermos de meu sonho
Enquanto recomponho
O passo não desmente
E o gesto persistente
Em rito mais risonho,
Agora não me oponho
Por mais que ainda tente.
Vencido em plenitude
No quanto ainda ilude
O riso, a dor e a prece,
Meu prazo não se esgota
Se em ti encontro a rota
Delírio então se tece...
72
Ouço o doce e
Irrecusável chamado,
Abundantes fluidos
suplicam por ti,
Língua, mãos,
O corpo...
Roçando a pele
Como um óleo essencial,
Tudo junto & misturado
A desafiar a física,
Ocupar ao mesmo tempo
O mesmo espaço;
Viajar para lua,
Passear pelo céu;
Sussurros e gemidos,
De fundo musical.
REGINA COSTA
Meu coração, em festa
Celebra com ternura
A fonte clara e pura
Aonde amor se empresta
Sonhando ter comigo
A bela divindade
E nela tanto agrade
O quanto ora persigo
Em gozo em brilho e luz
A vida sem marasmo
Em farto e bom orgasmo
O máximo reluz,
Amor insaciável
Delírio imaginável?
73
Notícias que recebo
Do mundo onde eu tentara
Vencer e ter a rara
Sensação que ora bebo
E quando te percebo
E a vida se escancara
O passo já se ampara
Aonde amor; concebo,
Vestindo este delírio
Ausente algum martírio
Esgoto-me no quanto
Bebera com certeza
A sorte em tal beleza
E assim eu me agiganto.
74
A vida que teimava
Ser quase atroz um dia
Agora poderia
Gerar além da lava
Palavra se lavrava
Na senda fantasia
E tudo poderia
Além do que pensava,
Regendo cada passo
Enquanto além eu grasso
Vestindo esta emoção
Meu canto te tocando
E agora sei bem quando
Os sonhos moldarão...
75
Ressurge destas mortes
O sonho mais audaz
E nele já se traz
O passo onde me aportes
E sei que em tais suportes
O corte não se faz
E o norte mais audaz
Além do que confortes,
Gerando do abandono
O canto onde me abono
Ou mesmo satisfaço
Edênico desejo
Em ti querida eu vejo
E sigo cada traço.
76
A boca melindrosa
A sede não sacia
A sorte dita o dia
Em clara e bela rosa
Assim tão majestosa
A bela se daria
Em farta melodia
O amor que o sonho goza,
Teus pés tão delicados,
Delírios desenhados
Por deus embevecido,
E quando te desnudo
A luz domina tudo
E entranha na libido.
77
Beijava-me com fúria
Quem tanto outrora eu quis,
E agora sou feliz,
Já não penso em penúria
A vida em dor e incúria
Gerando a cicatriz
O tempo a contradiz
Esqueço a vã lamúria
E bebo em beijo audaz
O quanto a vida traz
Em fonte incomparável,
O mar se inunda em brilho
Enquanto em ti palmilho
Caminho insaciável.
78
Paraíso é viver contigo
Sensações que aos céus
Fazem-se alcançar em segundos,
Perco a mim e a noção de tudo,
Marasmo? Orgasmo!
Dos mais intensos e demorados...
REGINA COSTA
Fornalha que incendeia
E toma o pensamento,
Aonde encontro atento
O amor em luz permeia
E quando vejo a teia
Aonde em sentimento
Caminho novo eu tento
Além do que se creia,
Num farto e demorado
Delírio desenhado
Inundações em ti,
E cada gota eu bebo
Do gozo que recebo
No gozo que eu senti.
79
Escondeu-se depressa
A luz onde eu pudera
Sonhar com primavera
Que ainda não começa
E o passo em vão tropeça
A sorte dita espera,
O farto degenera
E nada mais impeça
Caminho aonde pude
Viver em plenitude
O tanto quanto eu quis,
E sei quanto alucino
Um gozo cristalino,
Talvez faça feliz.
80
Mas hoje, por capricho
A vida não permite
Além deste limite
E nisto vejo o nicho
Aonde mergulhara
Em noite magistral
E agora bem ou mal,
Já não mais vejo clara,
O pranto o medo e o frio
Apenas desconforto
Aonde quis o porto
Agora é tão vazio
Desvios matam foz
E o medo doma a voz.
81
Regressa novamente
Ao nada aonde outrora
A sorte desarvora
E doma a minha mente,
O todo se apresente
Aonde desancora
O barco e sem ter hora
A vida nos desmente,
Remeto-me ao passado
E tendo o sonho ao lado
Já nada mais comporte
O canto aonde eu pude
Mudando de atitude
Encontrar algum norte.
82
A boca que entre risos
Entoa em ironia
O quanto poderia
Tramar em paraísos,
Agora prejuízos
Dominam cada dia
E nesta vilania
Ausentes meus sorrisos,
Ardente madrugada
Somente não diz nada,
Apenas adivinha,
Mas sei que tanto atroz
O amor reinando em nós
Gestara esta daninha.
83
Muitas vezes o vento
Assoprando o teu nome,
Mas quando vejo some
Embora siga atento,
Domina o pensamento
Aos poucos me consome,
E nisto nada dome
Sequer o sentimento,
Alhures vejo a luz
E nela se conduz
O passo mais audaz,
O mundo dentro em mim
Trouxesse até o fim
O quanto amor nos traz.
84
Procura dentre tantos
Delírios sensuais
Querendo muito mais
Que meros desencantos,
O beijo se promete
Em raro carmesim
E sinto dentro em mim
Ao quanto me remete,
O sonho num anseio
Desejo não sacia,
E trama em fantasia
O gozo sem receio,
Dessedento a vontade
No encanto que ora invade.
85
Voltando aos sonhos meus
Momentos sem igual
O corpo sensual
Não sabe mais adeus,
E gero esta alegria
E nela não se vendo
A dor, qualquer remendo
Bem mais do que traria
O verso em luz profana
A sorte mais atroz,
Ouvindo a nossa voz,
O todo não se engana
E bebo com loucura
O amor que se afigura.
86
Sua beleza rara
Domina o meu olhar
Enquanto te buscar
O amor já se prepara
Reina sobre a seara
Gerando outro luar
Pudesse navegar
No mar que se escancara
Adentro paraísos
E sei quanto precisos
Os passos que ora traço
Vertendo em majestade
O quanto nos agrade
E tome todo o espaço.
87
Nas ruas que ilumina
Com olhos magistrais
Dispersas teus cristais
Beldade feminina
E quanto mais fascina
Desejos são fatais
Mergulho muito mais
O amor já nos domina
Vencido e sem defesa
De ti sou mera presa
E quero estar assim
Colado junto a ti
Deveras me perdi
Num mar de amor sem fim.
88
Os olhos desejosos
Procuram na nudez
De quem tanto se fez
Além de meros gozos
Os passos andrajosos
De outrora insensatez
Agora em nova tez
São bem mais luminosos
Desvendo os teus segredos
E bebo dos enredos
Aonde perpetuas
Vontades, teus anseios
Divinos belos seios
Imagens claras, nuas...
89
Em busca de encontrar
O quanto havia outrora
O sonho já se ancora
Em belo e raro mar,
Até poder vagar
Sem rumo e sem demora
O tanto que te explora
Até fazer gozar.
Numa ânsia delicada
A sorte desenhada
Permite muito além
E sei do quanto posso
De um mundo apenas nosso
Que tanto brilho tem...
90
Beleza fascinante
Da incomparável diva
E quando em sonhos criva
O passo em que adiante
O mundo deslumbrante
E nele sobreviva
A sorte mais altiva
Que tento a cada instante,
Navego por teus veios
E bebo sem receios
Os cios mais audazes,
Assim em belos braços
O amor ocupa espaços
Enquanto a luz me trazes.
91
Amar é necessário
Bem mais do que pudesse
Ainda sob a messe
De um rito imaginário
Não vendo um adversário
O rumo se obedece
E nele o sonho tece
Um manto incendiário
Vestindo em tal loucura
O quanto se assegura
Deste envolvente chama,
Na transparente e nua
Beleza amor cultua
Enquanto em sonhos clama.
92
O mel que minha abelha
Produz deliciada,
A messe desejada
Além desta centelha,
O quanto navegasse
Por tantas maravilhas
E quando além polvilhas
O gozo aonde trace
O rumo de um sedento
E sonhador voraz,
No tanto que se traz
Além do sentimento,
Amor gera outra senda
E um claro deus se atenda.
93
É raro e mavioso
O mundo onde penetro
E tendo em ti o cetro
O reino é fabuloso
Em loucas incursões
Diversas luas bebo
E mais do que concebo
Em ti as direções
Dos sonhos mais vorazes
Ou tanto quero além
Do amor quando ele vem
E luzes tu me trazes
Chamando por quem amo
O sonho em brilho, eu tramo...
94
Vencido pela pele
Na minha mal tocando
O corpo divisando
E nele se revele
O gozo onde se atrele
O mundo bem mais brando,
Vislumbro delirando
Amor que a vida sele,
Cenário em perfeição
Divina majestade
Aonde o sonho invade
E noites se farão
Em claro provimento
E enfim eu me apascento.
95
Minha alma dolorida
Procura algum amparo
E sei do quanto é raro
O gozo em outra vida
Diversa e distraída
O corte e o despreparo
O beijo em raro faro
A trama presumida,
O manto nos recobre
De fino e belo e nobre
Caminho aonde eu sinto
Fulgores sem igual
E neste ritual
Sou mais do que um instinto.
96
Pergunto aonde está
Quem tanto desejei
Buscando grei em grei
Aqui, ali ou lá
Até se desvendar
Mistério desta ausência
Aonde em inclemência
Não resta luz solar,
Mergulho no vazio
E quando em tal abismo
Às vezes teimo e cismo,
No todo mais sombrio,
Alcanço após; o imenso
Caminho em que ora penso.
97
A deusa que desfila
Desnuda em minha cama,
Enquanto ali me chama
O coração perfila
Desejos e delírios
Além do imaginário
O tempo necessário
E nele sem martírios
Desvendo cada anseio
E bebo até não mais
Momentos pontuais
Adentro e me incendeio
No todo se gerando
Um mundo transbordando.
98
Tudo que escorre em mim
É para ti,
Mel do mais puro e doce;
Boca e sorriso anseiam
Por um beijo,
O mais demorado,
Não menos molhado,
Igualmente quente,
Silente até que seu
Ousado toque percorra
Meu corpo em larvas
De desejo e paixão,
Ofegante e ensandecida
Tatuo tua pele com a minha,
Encaixo teu caule
Na minha flor,
Na mais doce sedução.
Regina Costa
Teu toque sensual
Delírio ensandecendo
A vida nos provendo
Do amor sem ter igual,
Teu corpo em magistral
Desejo me envolvendo
E tudo se tecendo
Em raro ritual,
Teu gozo nos meus lábios
Os dedos astrolábios
Decifram rumo e então
A boca adentra as furnas
Em ânsias que diuturnas
Meus dias mudarão.
99
A vida sem seus braços,
O corpo não permite
O quanto delimite
Em dias meros, lassos,
E sinto nos teus passos
Amor que sem limite
É mais do que acredite
Se adentro vãos espaços,
Olhando para trás
O quanto fui audaz
E agora reticente.
O manto desnudando
A sorte desejando
Amor que a gente sente.
100
Permita-me lhe amar
E crer na divindade
Aonde a realidade
Pudesse adivinhar
E ser e me somar
Ao todo quando invade
E sem saber de grade
Em sonhos libertar
Ao menos sei que assim
Desvendo em seu jardim
Caminhos sem igual,
Aonde fora atroz
Agora em tom feroz
Incêndio sensual.
159
Por mais que te quisesse
Durante meses, anos
Os vários desenganos
O quanto não se esquece
Negando a sorte houvesse
Aonde sem tais danos
Pudessem soberanos
Enquanto o não se tece.
Resvalo nos vazios
E bebo em desafios
Luares divergentes,
Sentidos quase opostos
Caminhos já propostos,
Porém nada apresentes.
2
Fazer do meu caminho
O mesmo que pudera
Sentir além da espera
Em canto tão mesquinho
O doce e nobre vinho,
Mas tudo degenera
E sinto noutra esfera
Delírio que adivinho.
Arcando com meu passo
Decerto já desfaço
O quanto ainda havia
Do vasto sentimento,
Agora embora atento,
Somente fantasia.
3
Embora te procure
Vagando alheio céu,
O tempo em carrossel
Deveras não mais cure
E tanto já perdure
Na boca o mesmo fel,
Agrisalhado céu
Solar raio depure.
Aprendo e não contesto,
Somente em cada gesto
A mesma face ingrata,
O roto e vão desenho
E nele se eu detenho
A fúria não desata.
4
A vida me apresenta
Ocasos vez em quando
E tudo se mostrando
Em face mais sangrenta
O amor gera a tormenta
O vento derrubando
Enchente destroçando
Enquanto o medo aumenta.
Um bélico delírio
Em tons de vão martírio
Alheia barricada,
Aonde quis a sorte
Sem mais quem trague aporte
Não resta então mais nada...
5
As ruas que prometo
O medo após a queda
O sonho já se veda
E nega algum soneto,
O mar onde arremeto
Mergulho onde se enreda
Diversa enquanto seda
Este erro que cometo,
Vencido, mas nem tanto
Ainda assim garanto
A mim nova morada,
Depois do terremoto
O sonho antes remoto
Traduz outra jornada?
6
Mas brilho de outros sóis
Não pude e nem tentara
Porquanto mesmo clara
A sorte em maus lençóis
Deprime os girassóis
E o fim já se prepara
Aonde se depara
Ausência de faróis…
Ocaso dentro em mim
Os sonhos de festim,
A morte ganha aposta
E sei quanto teria
Não fosse alegoria
O encanto em vã resposta.
7
Quem pensa ter luz tenta
Vencer a escuridão,
Seus olhos não verão
Manhã onde apascenta
A vida em tal tormenta
Faltando direção
Fatal embarcação
Em tez dura e sedenta.
Enquanto inda se crê
No mundo sem um quê
Diverso do que eu sinto
O parto dita o aborto
O sonho agora morto
No amor, alheio e extinto.
8
Mesmo que carregasse
O olhar além do mar,
Sorvendo devagar
Mostrando a nova face,
Ainda que tentasse
Deveras navegar
Sentindo o naufragar
Aonde a morte grasse,
Escaras dentro da alma
E sei que nada acalma
Quem tenta ter além
O mundo em desvario
E quando o desafio
O nada me contém.
9
Pensava que podia
Depois do vendaval
Um dia menos mal
Ou mesmo uma alegria,
Porém dissintonia
Gerando o desigual
Caminho até a fatal
Mera idiossincrasia.
Ascendo ao meu anseio
E o quando o vão rodeio
Arrecadando o fim,
Negando uma existência
Sol gera incoerência
E mata o resto em mim.
10
Ser feliz, ser feliz!
A vida não me traz
Sequer a mera paz
Aonde o todo eu quis;
Se o rumo já desfiz
Ou fora mais audaz,
O coração falaz
Não sabe o quanto diz.
Renego a dita enquanto
Ainda tento e canto
Diversa melodia,
O manto se desnuda
E sei quanto é miúda
A vida que ora via.
11
Dos beijos que mentiste
Gerando este vazio
Aonde alheio rio
Em vão inda persiste,
E sei do quanto é triste
E nisto desafio
O rumo onde desvio
O pouco que resiste.
Reservo-me afinal
Ao dia mais venal
E sei do quanto pude.
Agora a morte ronda
O mar ditando esta onda
Não trouxe a juventude...
12
Desejo ter fulgor
Aonde sou tão mero,
E sei quanto mais quero
Maior o dissabor,
Matando em mim a flor
Se tanto fui sincero,
Aos poucos desespero
E morro em franca dor.
Assumo cada engano
E quando meço o dano
Imenso e nada atrelo
Ao quanto pude outrora
O barco desancora
Em rumo paralelo.
13
No rastro das estrelas
Olhar embevecido
E quando mais provido
De luzes ao contê-las
Sabendo como possa
Traçar novo amanhã
Vivendo o duro afã
A sorte nunca nossa,
A fome o medo e o corte
O peso de uma vida
Já tanto desvalida
Sem ter como conforte
Um velho caminheiro
Além ainda esgueiro...
14
Na espera deste amor
Jorrando em tepidez
O quanto ainda vês
Ou mesmo dita a flor,
Não deixa que o rancor
Gerando insensatez
Tornando desta vez
Grisalha a nossa cor.
Adentro e me concedo,
Vencendo este penedo
E as rocas, sei do cais,
Arrisco o ancoradouro
Nos sonhos onde eu douro,
Vencendo os vendavais.
15
Não posso mais temer
A antiga tempestade
E quando desagrade
A vida em desprazer
Não posso amanhecer
Aonde sei a grade
E tento sem saudade
O sonho reviver.
Pudesse ser feliz,
O quanto tento e quis
Durante estas procelas,
O medo diz das celas
E nelas cicatriz
Aonde o não revelas.
16
Decerto me percebes
Vagando em noite escusa
E quanto mais confusa
Diversas são as sebes
E quando me recebes
Do amor jamais se abusa
Um sonho se entrecruza
Além do que concebes.
E sendo desta forma
A vida se transforma
Reformo o pensamento,
E quanto mais eu tento
Divirjo do passado
Num passo anunciado.
17
Não temo nem sequer
Quem mais se fez cruel,
Seguindo sempre ao léu
Do quanto inda puder
Gestando o que vier,
O mel, o medo e o fel,
Resumo noutro véu
O todo que se quer,
Aprendo a cada anseio
E nada mais receio
Senão este vazio.
O tanto mesmo em dor
A poda dita a flor
Calor endossa o frio.
18
A minha vida passa
Alheia às atitudes
E mesmo se transmudes
Visível tal fumaça.
A vida, a festa, a praça
Antigas plenitudes
E quanto mais me iludes
Maior sei a trapaça,
Mas gosto deste enredo
E nele então procedo
Qual fosse meramente
Um torpe pária exposto
E quanto mais deposto
Reinando em corpo e mente...
19
Recebo enfim a grande
Mortalha já tecida
Durante a minha vida
Aonde a dor tanto demande
O corte, a fúria, mande
E trace em despedida
A sorte refulgida
Ou tudo em vão desande.
Restara dentro em mim
À sombra de um jardim
O risco de sonhar.
Mas sei deste terror
E mato qualquer flor,
Desfaço o meu pomar.
20
Que o vento da saudade
Não faça desta senda
O quanto não atenda
Nem mesmo desagrade,
O risco, a realidade
O nada se desvenda
E tanto gera emenda
Na fúria que ora invade.
Apertos, medos, ermos
E sei dos velhos termos
Aonde a sorte expressa
O fim e não começa
A vida noutra vida
Finita esta avenida...
21
De novo, pois, passeias
Em tantos sonhos meus,
Meus dias sem adeus
As horas vão alheias
E quando então rodeias
Os passos entre os breus,
Os ritos mais ateus
As luas não mais cheias,
Arisco caminhante
Aonde se adiante
O passo nada versa,
A sombra dominando
O quadro desde quando
Findara esta conversa.
22
Pensava tanta vez
No dia aonde outrora
A sorte desarvora
E gera insensatez,
Assim tanto desfez
O passo onde demora
A dita e me apavora
O quanto ainda vês.
Gastando em verso e prosa
A vida sinuosa
Em curvas e desníveis,
Os ermos que eu carrego
Em passo ou num nó cego
Jamais serão visíveis.
23
Quem tanto amou implora
Por pelos menos, sonho
E quando isto eu proponho
A quem fora senhora
Da vida e se demora
Aonde sei medonho,
O passo onde reponho
O corte revigora.
Ausência de esperança
Aprendo enquanto avança
O mundo rumo ao vão,
E nesta forma insisto
Sabendo sempre disto:
Da imensa escuridão...
24
Verdades que esquecidas
Não deixam que se veja
O quanto em mais sobeja
Angústia gera as vidas.
Os medos, as partidas
O passo onde preveja
Ou nada se reveja
Apenas meras idas
E nestas aventuras,
Cenários que procuras
Já não consigo vê-los,
Meus sonhos ermos são
E neles se verão
Somente os pesadelos.
25
Destinos que se tocam
Enquanto se procuram
Os corpos se torturam
E os medos se retocam,
Navego por teus braços
Invado os teus destinos,
Os sonhos cristalinos
Os dias jamais baços,
Acordo e se te vejo
Acende em mim tal frágua
Desejo já deságua
E um dia em azulejo
Deitando sobre nós
Macio, mas feroz...
26
Quem fora amargurada
Durante a vida inteira
Ao ver esta bandeira
Aonde outra alvorada
Pudesse anunciada
E nela a verdadeira
Seara costumeira
Gerada pelo nada,
Sementes deste tempo
Alheio ao contratempo
Adentro o mais festivo
Caminho onde pudera
Vencer a tola espera
Nos sonhos que eu cultivo.
27
Quem sabe agora amores
Desvenda os dias vis,
E quanto mais te quis
Bebendo tais albores,
Sem nada mais propores
Eu sendo enfim feliz
O mundo por um triz
E nele espinhos, flores,
Acrescentando em brilho
O tanto onde palmilho
Deveras se traduz
Na própria natureza
A sorte em tal nobreza
Gestando em si a luz.
28
Nos versos que dedico
A quem se fez bastante
O amor sempre garante
E nele exemplifico
O dia onde dedico
Caminho deslumbrante
Revejo o teu semblante
Num dia intenso e rico,
O vago caminhar
Aonde procurar
O sol tão generoso,
Depois deste vazio
O tempo desafio
E nele a dor e o gozo.
29
Prevejo minha sorte
Aonde possa além
E quando a noite vem
Sem nada que conforte
O quanto me comporte
Ou mesmo sem ninguém
Dos sonhos vou aquém,
Ainda sem meu norte.
Acordo em madrugada
A vida desgrenhada
O passo em falso, o medo...
E quando vejo o rosto
Do amor a ser exposto
Um brilho enfim, concedo...
30
A treva do viver
Já não mais poderia
Reinar no dia a dia
E tudo esmorecer.
O passo volta a ter
Ao menos a alegria
Que há tanto mais queria
E nisto posso crer.
Efêmero, mas tanto
O amor onde agiganto
Permite a claridade,
E sinto na verdade
O brilho onde garanto
A paz que agora invade...
30
Água que me bendiz
Dos rios da esperança
Enquanto o tempo avança
E sei ser mais feliz,
Dos sonhos o aprendiz
Que ao tanto ora se lança
O vento em paz alcança
O quanto mais te quis.
Erijo em homenagem
Além desta paisagem
Com brilho em meu cinzel
Imagem fabulosa
Aonde se antegoza
Um mundo em raro céu.
31
Na fronte da mulher
O brilho aonde um dia
Em paz mergulharia
Sabendo o que se quer
Havendo o quanto houver
Intensa fantasia
Gerando esta alegria
Ou tudo e se vier,
O risco de sonhar
Pudesse anunciar
O tempo mais sensato,
Mas quando estou alheio
O passo em vão; permeio
E ao fim já me maltrato...
32
As dores se esvaindo,
O tempo renascendo
O sei que se estupendo
O dia em paz, mais lindo,
O todo distraindo
A vida se tecendo
Caminho obedecendo
O quanto em ti deslindo,
Anunciando a glória
Mudando a minha história
Gerando um raro sol,
E nele esta certeza
Do amor em tal beleza
Domina este arrebol.
33
Em busca de outro templo
Pudesse ainda crer
Aonde o amanhecer
Em paz hoje eu contemplo
Resumo a fantasia
Em plena liberdade
E sei desta saudade
Aonde amor havia,
Arisco pensamento
Por vezes dita a sorte
E nada mais suporte
Quem bebe o desalento,
E eu creio no futuro
Por mais que eu me torturo...
34
Nos páramos distantes
Os riscos; já não tento
E quando em sofrimento
Deveras me garantes
Os dias terebrantes
Os medos sem ungüento
E sei deste sedento
Momento em tons farsantes.
Eu posso acreditar
Enfim neste luar
Deitando o brilho intenso
E bebo à minha sorte
Aonde o amor comporte
O todo que ora penso.
35
O manto que a verdade
Não mais esconderia
Trouxesse um novo dia
Matando esta saudade
Que agora torpe invade
E traça em poesia
O quanto não podia
Além da realidade.
Esteio de outra vida
A luz reproduzida
No olhar de quem anseio,
Aonde houvera treva
Caminho que me leva
Ao tanto sem receio.
36
Marmorizado brilho
Estende no horizonte
Aonde além aponte
O rumo onde andarilho
Ainda vou, palmilho
E sei da vera fonte
E tramo onde desponte
O sol em raro trilho.
Vestindo esta ilusão
Já sei da direção
Por onde possa ver
Além deste grisalho
Cenário onde me espalho,
Um raro amanhecer...
37
Que nas constelações
Nos brilhos convergentes
Ainda que apresentes
Diversas soluções
A que decerto expões
Raros clarividentes
Momentos evidentes
E neles sem senões,
Resumo em lua imensa
O quanto se compensa
A vida após a queda,
Cenário iridescente
Aonde se apresente
O sonho que me seda.
38
É tempo de tentar
Depois da chuva, o sol,
E sei quanto em farol
Aprendo a caminhar,
Adentro então teu mar
Dos sonhos o lençol,
O rumo agora em prol
Do tanto desejar.
Restauro a fantasia
E nela não teria
Sequer outro tormento,
Vencido em dor e farsa
Meu peito não disfarça
E um novo dia eu tento...
40
Amor que se desfez
Depois da tarde enquanto
A noite em turvo manto
Gestando o que ora vês,
E nesta insensatez
O beijo não garanto
E o corte agora é tanto
E nada mais se fez,
Somente este vazio
E nele se desfio
O rumo em tom grisalho,
A poda da esperança
Aonde em vão se lança
Decerto inda batalho.
41
Renasce nos teus olhos
O brilho constelar
Pudesse adivinhar
Em meio aos vãos abrolhos
As flores mais felizes
E nelas claridade
Aonde esta saudade
Transcende aos meus deslizes,
Eu sei e sinto ainda
O tanto quanto posso,
Do encanto todo nosso
E nele a vida brinda
Com rara maravilha
E o sonho se polvilha.
42
Me leva nos pendores
Os sonhos mais sutis
E quero ou já desfiz
O manto em dissabores,
Morrendo sem as cores
Aonde fui feliz
E o peso em chamariz
Transcende aos vãos amores,
A sorte ditando isca
O passo não se arrisca
A queda se anuncia,
E vejo em turbulência
O amor sem ingerência
Alguma deste dia...
43
Eu cri no vaticano, hipocrisia!
Eu não queria ensinamentos errados,
Desolados! Pelas frestas se espia,
Deuses e demônios sendo usados.
São tantos vendilhões imunizados
Dizendo-se de Deus serem a cria,
No púlpito, no altar, na sacristia,
As mãos tão sujas dizem-se abençoadas.
E se negado o dízimo, não se cria...
É imposição da Santa Ironia
Ludibriando os pobres indefesos.
“Em nome de Jesus” e saem ilesos,
Fazendo da miséria seu altar.
Rebanho aprisionado a cantar...
Josérobertopalácio
Apenas percebendo a geração
De tantas heresias se percebe
Além do que pudesse outrora em sebe
Diversa da moldada em confissão,
Princípios desconexos moldarão
O que se vê decerto e se concebe
Domínio do poder por sobre a plebe
Dinheiro, hipocrisia e pregação?
O dano se produz e nada mais
Impedirá tal ermo caminhar
Envolto em ritos tétricos, formais,
Enquanto a liberdade é reduzida
O pasto não se esgota num altar
Negando o essencial da própria vida.
44
A noite me convida
O tempo não resiste
E quando além se insiste
Na sorte desprovida
A morte dita a vida
Cenário duro e triste
O mundo agora assiste
À trágica partida
Dos sonhos para além
E nada mais retém
O passo destas feras,
Sangrentas, virulentas
Enquanto as alimentas
Com medos que em ti geras.
45
Sob as belas estrelas
Olhando de soslaio
Sou mero e sou lacaio
Enquanto quero tê-las
E vendo em claro espaço
O olhar de quem se dera
Moldando além da espera
O tempo aonde eu traço
O passo rumo ao quanto
Pudera imaginar
Ainda este lugar
E nele não me espanto
Seguindo este tropel
De estrelas bebo o céu.
46
A luz que se reflete
No olhar enamorado
Um rumo vislumbrado
Aonde se complete
O mundo me arremete
E vejo iluminado
Caminho ora traçado
Em luz, sombra e confete.
Apraz-me perceber
O claro do teu ser
No meu já refletido,
Assim entranho em ti
O amor que ora senti
Além desta libido.
47
Emana da princesa
A deusa ou bela diva,
E quanto mais cultiva
Em ti minha alma presa,
Vencendo e tendo à mesa
A vida nada priva
Curando esta ferida
Sem medo e sem surpresa,
Negociar a paz?
Não sou nem mais capaz
De crer neste instrumento
Vencer a guerra em mim,
Chegando ao manso fim,
Se é farto o desalento?
48
Nas ruas onde passo
Ou mesmo ainda tento
Sentindo em provimento
O rumo em novo traço,
Depois deste cansaço
O farto e violento
Delírio em sofrimento
Num sonho mero e escasso,
Exemplo em minha vida
A sorte permitida
E mesmo permissiva,
No quanto se coleta
A vida de um poeta
Palavra ara e cultiva.
49
E como desfrutar
Depois do temporal
De um dia sem igual
Imerso em luz solar,
Depois ao divagar
Vencer o ritual
E ter noutro sinal
Um quanto a navegar.
Embaralhando as cartas
As horas não descartas
E os dias bebes pazes,
E desces dos altares
E quando me tocares
Perdão dos céus me trazes.
50
Bela noite passando
O dia se aproxima
E sinto em novo clima
Um tempo bem mais brando
E sei que desde quando
Amor ditando a rima
O porte já se estima
E o mundo desbravando
Caminhos dentro em mim
Cevando este jardim
E nele flórea luz,
O tempo não se esgota
Na turva ou clara rota
Aonde o pé; já pus.
51
Cometas; desfilaste
Aos olhos promissores
E ainda onde tu fores
Sem medo e sem contraste
O nada que geraste
Ou mesmo dissabores
E neles sem rancores
A vida não tem haste,
O prazo determina
E vejo em nova mina
A cristalina senda
Aonde o meu amparo
Em sonho já declaro
E a paz enfim se atenda.
52
Nos cantos mais bonitos
Olhando mansamente
Quem quer que se apresente
Ou trace novos ritos,
Os dias infinitos
Os medos, minha mente
O canto se desmente
E diz dos velhos ritos,
Aflitos caminhares
E neles ao tocares
O fim com olhos, pele,
O todo que se aflora
Domina e desde agora
Ao máximo compele.
53
Rainha dos meus sonhos
Divina fantasia
Aonde a poesia
Diria em tons risonhos
Dos dias onde possa
Viver a plenitude
E nada mais se mude,
A sorte dita é nossa,
Vencer os meus anseios
Seguir os teus caminhos
Sem tréguas nem daninhos
Sabendo destes meios
Em devaneios vago
Cevando o teu afago.
54
A boca que me toca
Com lábios, dentes, risos
Em tantos prejuízos
O corte já se aloca
Adentro em furna e toca
E teimo em paraísos
Em toques mais precisos
O amor em si provoca
Desnuda a fera e a diva
O quanto me cativa
Cogita novo templo,
A pele bronzeada
A cena desejada,
Em êxtase contemplo.
55
Não sabe do prazer
Quem não se dando inteiro
Esquece o verdadeiro
Caminho a percorrer,
Vencido se vencer
Gerando este estradeiro
Mergulho mensageiro
Das sendas do prazer,
Eu quero e bebo assim
Não deixo nada enfim
E teimo em novo engate,
Aos poucos se resgate
O quanto a vida deve
Outrora em frio e neve.
56
Da noite de luar
Do corpo em pele nua
A senda se cultua
E nela pude amar,
Além do mergulhar
Ascendo enfim à lua
E vago pela rua
Buscando o teu olhar.
Não teimo contra a sorte
Nem nada mais suporte
O passo senão isto
E quanto mais me dou,
Deveras se mostrou
No amor que agora insisto.
57
Nos braços delicados
De quem se fez sublime
O quanto já se estime
Dos dias vãos, legados
E neles mergulhados
Apenas mal redime
O corte e a dor suprime
Encontro tais enfados.
Eu vejo a sorte em ti
E quanto mais senti
O gozo incomparável,
O mundo se mostrara
Em lua imensa e clara
Além do imaginável...
58
Sons etéreos, divinos
Enquanto te procuro
E bebo e me asseguro
De dias cristalinos,
Desnudo devagar
Beleza incomparável
Mulher tão desejável,
Vontade de entranhar
Sem medos e defesas
As furnas, ermos, tocas
E quando em mim te alocas
As pernas ora presas,
Inundações, rocios
Em doces desafios...
59
As folhas balançando
Os olhos contra o vento
O tempo ainda eu tento
Enquanto houvesse o quando
O rumo desolado
O corte prenuncia
A sorte ora vazia
O termo desenhado
Nos ermos de minha alma
Vacância em plena treva
O quanto já se ceva
Colheita que me acalma,
Ou meras ilusões
Em sórdidos senões?
60
À beira das cascatas
Em dissonantes sons
Diversos dias bons
Aonde me arrebatas
E sinto esta certeza
Imerso em teu caminho,
E quando me avizinho
Da imensa correnteza
O farto então se dá
Sem nada me conter,
Começando a colher
Agora aqui ou lá
A sorte que bendiz
E me faz mais feliz.
61
Divino...libertário
O canto de quem sonha
A vida não se oponha
Além do necessário
Seguindo itinerário
Em luz clara e risonha
O manso se componha
Bem mais que o temerário,
Arrisco um passo além
E quando nos detém
O amor não mais sossega,
Uma alma bebe a luz
Aonde outrora eu pus
A sorte amarga e cega.
62
Canto da cachoeira
Ouvindo o teu chamado
Estendo este recado
Aonde mais se queira
E vivo agora à beira
Do templo imaginado
E quanto a ser fadado
A lua é mensageira
Dos tantos brilhos teus
E sem saber de adeus
Deveras me entreguei
E sento sempre assim
O amor jamais tem fim,
E reina em nossa grei.
63
Transcorre neste rio
O tempo em claridade
E quando a dor invade
Vencendo o desafio
Embora em desvario
O todo se degrade,
Além da realidade
Um novo tempo eu crio,
E vejo neste tanto
O quanto me adianto
E chego enfim a ti.
Sorvendo cada gota
A senda outrora rota
Em luz intensa eu vi.
64
Tão distante, esqueci
O fardo que deveras
Gerando em mim as eras
Diversas onde eu vi
O mundo já sem ti
E neles destemperas
Enquanto a dor tu geras
O rumo enfim perdi,
Mas quando estás comigo
O tempo que persigo
Encontro ao lado teu,
O mundo se desenha
E nele em brasa e lenha
O fogo nos prendeu.
65
Na imensidão profunda
O manto aonde um dia
Usara em alegria
A sorte que me inunda,
A morte se oriunda
Do corte em luz sombria,
Mas quando se daria
A paz já se aprofunda
E reina sem surpresas
As horas sendo presas
Dos gozos mais audazes
Não temo qualquer sombra
Se eu tenho em ti a alfombra
Onde prazer me trazes.
66
Nessas águas tão claras
Desejos se desenham
E nada mais contenham
Aquém do que declaras
E sem temor encaras
As dores quando venham
E em ti luzes embrenham
Tomando tais searas,
Arisco pensamento
Aonde num momento
Pudesse ainda ver
O brilho deste olhar
E nele navegar
Nas ânsias do prazer.
67
Perfumes doces, flores,
Delírios mais audazes
E sei que tu me trazes
Diversos dissabores,
Mas quando tu te fores
Os dias mais mordazes
E neles os vorazes
Carinhos redentores
O amor paradoxal
Jamais seria igual
E nesta variedade
Eu bebo e não sacio,
O quanto sou vadio
Também sei que te agrade.
68
Lembrar do que vivi
Depois do temporal
O corpo sensual,
Belíssimo que em ti
Um dia descobri
E neste ritual
O amor sem outro igual
Enfim sentira aqui,
Restando do passado
Apenas recortado
Um frágil e vão remendo
E quando no futuro
O passo eu asseguro
No amor que agora estendo.
69
Imagem benfazeja
Diversa maravilha
Aonde o corpo trilha
E tanto mais deseja
Belezas são tão ternas
E nelas me entranhando
O todo desejando
Começo pelas pernas,
Desnudo mansamente
O corpo desta diva,
E quando mais se criva
O amor domina a mente
E gera sem juízo
Em nós um paraíso...
70
Criatura, distante,
Dos olhos ansiosos
Aonde desejosos
Caminhos adiante
O risco se agigante
O medo em tenebrosos
Olhares pedregosos
Um dia angustiante...
Mas quando estás comigo
O todo que persigo
Encontro em todo espaço
E o vértice do sonho
Em ti quero e componho
No quanto em gozo enlaço.
71
Lavínia calmamente
Nos ermos de meu sonho
Enquanto recomponho
O passo não desmente
E o gesto persistente
Em rito mais risonho,
Agora não me oponho
Por mais que ainda tente.
Vencido em plenitude
No quanto ainda ilude
O riso, a dor e a prece,
Meu prazo não se esgota
Se em ti encontro a rota
Delírio então se tece...
72
Ouço o doce e
Irrecusável chamado,
Abundantes fluidos
suplicam por ti,
Língua, mãos,
O corpo...
Roçando a pele
Como um óleo essencial,
Tudo junto & misturado
A desafiar a física,
Ocupar ao mesmo tempo
O mesmo espaço;
Viajar para lua,
Passear pelo céu;
Sussurros e gemidos,
De fundo musical.
REGINA COSTA
Meu coração, em festa
Celebra com ternura
A fonte clara e pura
Aonde amor se empresta
Sonhando ter comigo
A bela divindade
E nela tanto agrade
O quanto ora persigo
Em gozo em brilho e luz
A vida sem marasmo
Em farto e bom orgasmo
O máximo reluz,
Amor insaciável
Delírio imaginável?
73
Notícias que recebo
Do mundo onde eu tentara
Vencer e ter a rara
Sensação que ora bebo
E quando te percebo
E a vida se escancara
O passo já se ampara
Aonde amor; concebo,
Vestindo este delírio
Ausente algum martírio
Esgoto-me no quanto
Bebera com certeza
A sorte em tal beleza
E assim eu me agiganto.
74
A vida que teimava
Ser quase atroz um dia
Agora poderia
Gerar além da lava
Palavra se lavrava
Na senda fantasia
E tudo poderia
Além do que pensava,
Regendo cada passo
Enquanto além eu grasso
Vestindo esta emoção
Meu canto te tocando
E agora sei bem quando
Os sonhos moldarão...
75
Ressurge destas mortes
O sonho mais audaz
E nele já se traz
O passo onde me aportes
E sei que em tais suportes
O corte não se faz
E o norte mais audaz
Além do que confortes,
Gerando do abandono
O canto onde me abono
Ou mesmo satisfaço
Edênico desejo
Em ti querida eu vejo
E sigo cada traço.
76
A boca melindrosa
A sede não sacia
A sorte dita o dia
Em clara e bela rosa
Assim tão majestosa
A bela se daria
Em farta melodia
O amor que o sonho goza,
Teus pés tão delicados,
Delírios desenhados
Por deus embevecido,
E quando te desnudo
A luz domina tudo
E entranha na libido.
77
Beijava-me com fúria
Quem tanto outrora eu quis,
E agora sou feliz,
Já não penso em penúria
A vida em dor e incúria
Gerando a cicatriz
O tempo a contradiz
Esqueço a vã lamúria
E bebo em beijo audaz
O quanto a vida traz
Em fonte incomparável,
O mar se inunda em brilho
Enquanto em ti palmilho
Caminho insaciável.
78
Paraíso é viver contigo
Sensações que aos céus
Fazem-se alcançar em segundos,
Perco a mim e a noção de tudo,
Marasmo? Orgasmo!
Dos mais intensos e demorados...
REGINA COSTA
Fornalha que incendeia
E toma o pensamento,
Aonde encontro atento
O amor em luz permeia
E quando vejo a teia
Aonde em sentimento
Caminho novo eu tento
Além do que se creia,
Num farto e demorado
Delírio desenhado
Inundações em ti,
E cada gota eu bebo
Do gozo que recebo
No gozo que eu senti.
79
Escondeu-se depressa
A luz onde eu pudera
Sonhar com primavera
Que ainda não começa
E o passo em vão tropeça
A sorte dita espera,
O farto degenera
E nada mais impeça
Caminho aonde pude
Viver em plenitude
O tanto quanto eu quis,
E sei quanto alucino
Um gozo cristalino,
Talvez faça feliz.
80
Mas hoje, por capricho
A vida não permite
Além deste limite
E nisto vejo o nicho
Aonde mergulhara
Em noite magistral
E agora bem ou mal,
Já não mais vejo clara,
O pranto o medo e o frio
Apenas desconforto
Aonde quis o porto
Agora é tão vazio
Desvios matam foz
E o medo doma a voz.
81
Regressa novamente
Ao nada aonde outrora
A sorte desarvora
E doma a minha mente,
O todo se apresente
Aonde desancora
O barco e sem ter hora
A vida nos desmente,
Remeto-me ao passado
E tendo o sonho ao lado
Já nada mais comporte
O canto aonde eu pude
Mudando de atitude
Encontrar algum norte.
82
A boca que entre risos
Entoa em ironia
O quanto poderia
Tramar em paraísos,
Agora prejuízos
Dominam cada dia
E nesta vilania
Ausentes meus sorrisos,
Ardente madrugada
Somente não diz nada,
Apenas adivinha,
Mas sei que tanto atroz
O amor reinando em nós
Gestara esta daninha.
83
Muitas vezes o vento
Assoprando o teu nome,
Mas quando vejo some
Embora siga atento,
Domina o pensamento
Aos poucos me consome,
E nisto nada dome
Sequer o sentimento,
Alhures vejo a luz
E nela se conduz
O passo mais audaz,
O mundo dentro em mim
Trouxesse até o fim
O quanto amor nos traz.
84
Procura dentre tantos
Delírios sensuais
Querendo muito mais
Que meros desencantos,
O beijo se promete
Em raro carmesim
E sinto dentro em mim
Ao quanto me remete,
O sonho num anseio
Desejo não sacia,
E trama em fantasia
O gozo sem receio,
Dessedento a vontade
No encanto que ora invade.
85
Voltando aos sonhos meus
Momentos sem igual
O corpo sensual
Não sabe mais adeus,
E gero esta alegria
E nela não se vendo
A dor, qualquer remendo
Bem mais do que traria
O verso em luz profana
A sorte mais atroz,
Ouvindo a nossa voz,
O todo não se engana
E bebo com loucura
O amor que se afigura.
86
Sua beleza rara
Domina o meu olhar
Enquanto te buscar
O amor já se prepara
Reina sobre a seara
Gerando outro luar
Pudesse navegar
No mar que se escancara
Adentro paraísos
E sei quanto precisos
Os passos que ora traço
Vertendo em majestade
O quanto nos agrade
E tome todo o espaço.
87
Nas ruas que ilumina
Com olhos magistrais
Dispersas teus cristais
Beldade feminina
E quanto mais fascina
Desejos são fatais
Mergulho muito mais
O amor já nos domina
Vencido e sem defesa
De ti sou mera presa
E quero estar assim
Colado junto a ti
Deveras me perdi
Num mar de amor sem fim.
88
Os olhos desejosos
Procuram na nudez
De quem tanto se fez
Além de meros gozos
Os passos andrajosos
De outrora insensatez
Agora em nova tez
São bem mais luminosos
Desvendo os teus segredos
E bebo dos enredos
Aonde perpetuas
Vontades, teus anseios
Divinos belos seios
Imagens claras, nuas...
89
Em busca de encontrar
O quanto havia outrora
O sonho já se ancora
Em belo e raro mar,
Até poder vagar
Sem rumo e sem demora
O tanto que te explora
Até fazer gozar.
Numa ânsia delicada
A sorte desenhada
Permite muito além
E sei do quanto posso
De um mundo apenas nosso
Que tanto brilho tem...
90
Beleza fascinante
Da incomparável diva
E quando em sonhos criva
O passo em que adiante
O mundo deslumbrante
E nele sobreviva
A sorte mais altiva
Que tento a cada instante,
Navego por teus veios
E bebo sem receios
Os cios mais audazes,
Assim em belos braços
O amor ocupa espaços
Enquanto a luz me trazes.
91
Amar é necessário
Bem mais do que pudesse
Ainda sob a messe
De um rito imaginário
Não vendo um adversário
O rumo se obedece
E nele o sonho tece
Um manto incendiário
Vestindo em tal loucura
O quanto se assegura
Deste envolvente chama,
Na transparente e nua
Beleza amor cultua
Enquanto em sonhos clama.
92
O mel que minha abelha
Produz deliciada,
A messe desejada
Além desta centelha,
O quanto navegasse
Por tantas maravilhas
E quando além polvilhas
O gozo aonde trace
O rumo de um sedento
E sonhador voraz,
No tanto que se traz
Além do sentimento,
Amor gera outra senda
E um claro deus se atenda.
93
É raro e mavioso
O mundo onde penetro
E tendo em ti o cetro
O reino é fabuloso
Em loucas incursões
Diversas luas bebo
E mais do que concebo
Em ti as direções
Dos sonhos mais vorazes
Ou tanto quero além
Do amor quando ele vem
E luzes tu me trazes
Chamando por quem amo
O sonho em brilho, eu tramo...
94
Vencido pela pele
Na minha mal tocando
O corpo divisando
E nele se revele
O gozo onde se atrele
O mundo bem mais brando,
Vislumbro delirando
Amor que a vida sele,
Cenário em perfeição
Divina majestade
Aonde o sonho invade
E noites se farão
Em claro provimento
E enfim eu me apascento.
95
Minha alma dolorida
Procura algum amparo
E sei do quanto é raro
O gozo em outra vida
Diversa e distraída
O corte e o despreparo
O beijo em raro faro
A trama presumida,
O manto nos recobre
De fino e belo e nobre
Caminho aonde eu sinto
Fulgores sem igual
E neste ritual
Sou mais do que um instinto.
96
Pergunto aonde está
Quem tanto desejei
Buscando grei em grei
Aqui, ali ou lá
Até se desvendar
Mistério desta ausência
Aonde em inclemência
Não resta luz solar,
Mergulho no vazio
E quando em tal abismo
Às vezes teimo e cismo,
No todo mais sombrio,
Alcanço após; o imenso
Caminho em que ora penso.
97
A deusa que desfila
Desnuda em minha cama,
Enquanto ali me chama
O coração perfila
Desejos e delírios
Além do imaginário
O tempo necessário
E nele sem martírios
Desvendo cada anseio
E bebo até não mais
Momentos pontuais
Adentro e me incendeio
No todo se gerando
Um mundo transbordando.
98
Tudo que escorre em mim
É para ti,
Mel do mais puro e doce;
Boca e sorriso anseiam
Por um beijo,
O mais demorado,
Não menos molhado,
Igualmente quente,
Silente até que seu
Ousado toque percorra
Meu corpo em larvas
De desejo e paixão,
Ofegante e ensandecida
Tatuo tua pele com a minha,
Encaixo teu caule
Na minha flor,
Na mais doce sedução.
Regina Costa
Teu toque sensual
Delírio ensandecendo
A vida nos provendo
Do amor sem ter igual,
Teu corpo em magistral
Desejo me envolvendo
E tudo se tecendo
Em raro ritual,
Teu gozo nos meus lábios
Os dedos astrolábios
Decifram rumo e então
A boca adentra as furnas
Em ânsias que diuturnas
Meus dias mudarão.
99
A vida sem seus braços,
O corpo não permite
O quanto delimite
Em dias meros, lassos,
E sinto nos teus passos
Amor que sem limite
É mais do que acredite
Se adentro vãos espaços,
Olhando para trás
O quanto fui audaz
E agora reticente.
O manto desnudando
A sorte desejando
Amor que a gente sente.
100
Permita-me lhe amar
E crer na divindade
Aonde a realidade
Pudesse adivinhar
E ser e me somar
Ao todo quando invade
E sem saber de grade
Em sonhos libertar
Ao menos sei que assim
Desvendo em seu jardim
Caminhos sem igual,
Aonde fora atroz
Agora em tom feroz
Incêndio sensual.
159
sexta-feira, 25 de junho de 2010
38701 até 38800
1
Nesta manhã risonha
Em sonhos mais diversos
Fazendo dos meus versos
O quanto se proponha
E quando a gente enfronha
Caminhos e universos
Os medos em dispersos
Cenários. Nada oponha.
O canto mais sutil
O amor que se previu
Ou mesmo desejara
Assim a luz imensa
Deveras me convença
Desta rara seara.
2
As dores se esconderam
De quem no amor se dera
E viva a primavera
Aonde floresceram
Desejos e cresceram
Os sonhos onde espera
A luz que tanto gera
Em brilhos nos teceram.
Assim ao ver além
O quanto inda provém
Do passo mais audaz,
Resolvo em plenitude
Sem nada aonde mude
O rumo que isto traz.
3
Quem fora da alegria
Apenas passageiro
E vê neste espinheiro
A voz onde se erguia
A noite imensa e fria
E nela o verdadeiro
Caminho, o derradeiro
Sem estrela que o guia.
O quarto se escurece
Não existindo a messe
Apenas sou o ocaso,
O todo desejado
Agora no passado
Futuro eu não aprazo.
4
Esquece que na vida
A sorte dita o rumo
E quando em vão me esfumo
A senda desvalida
Sem luz e imerecida
Manhã sem mais aprumo,
Entrego o sonho e o sumo,
E perco em despedida,
Alheio ao que inda venha
A noite mais ferrenha
O medo duro e atroz,
Silente sem sequer
Saber o quanto quer
Quem solta inteira a voz.
5
Manhã do meu amor
Há muito desolado
E sinto vão nublado
O céu a se compor
No quanto em dissabor
A vida dá recado
O gesto desenhado
Em plena treva e dor,
O corte, a morte o medo
Caminho onde procedo
Ao mais cruel empenho,
E quando vejo aquém
O sonho que inda vem
Vazio mar; embrenho...
6
Que em peito apaixonado
Jamais houvera ao menos
Momentos mais amenos
Ou mesmo abençoado
Caminho a ser trilhado
Em dias tão serenos,
Os riscos são pequenos?
O tombo anunciado...
A morte entranha a pele
E quanto me compele
À fúria terminal,
Gerando em fardo e treva
O pouco aonde leva
O riso bem ou mal.
7
O brilho deste sol
Distante de um olhar
Que tanto quis sonhar
E nada em arrebol,
A vida segue em prol
De quem deseja amar
E nada a desvendar
Senão este farol,
Resisto e não me iludo
O quanto sei, contudo
Não deixa a menor chance
De um dia mais feliz,
Se a vida contradiz
Não tendo como avance.
8
É como um pescador
Vagando em noite escura,
Na tétrica procura
Por tolo ou farto amor,
O mundo a se compor
Enquanto não perdura
A sorte não mais cura,
E gera o sonhador.
Escusas e tormentas
No quanto me apresentas
Sedento, em nada eu creio,
Seguindo sem ao menos
Saber dias amenos,
Entranho um devaneio.
9
Nas danças destas nuvens
Em céus diversos, grises
Aonde me desdizes
E sei que não mais vens
Os dias seguem pálidos
Os olhos entorpecem
Os sonhos já fenecem
Os ritos são inválidos,
E nada mais se vendo
O corte trama em fúria
O quanto em tal penúria
De mim resta em remendo,
Ascendo ao nada enquanto
Ainda teimo e canto.
10
Meus olhos acompanham
Os brilhos onde estás
E tanto busco a paz
Aonde em luz se banham,
Os dias já se estranham
O corte é mais audaz
O tempo agora traz
As nuvens que me entranham,
Grisalhos neste céu
Aonde em carrossel
Teimara em esperança.
Porém ao menos isto
Num sonho tolo insisto
Enquanto o nada avança.
11
Reflexos do rei sol
Dominam todo o lago
E quando sigo vago
Sem nada em arrebol,
Procuro este farol,
E nele agora trago
O coração de um mago
Girando em girassol,
Restando dentro em mim
O quanto do jardim
Ainda se floresce,
O nada se previa
O tempo mata o dia
E a vida se escurece.
12
Libélula voando
À beira do riacho
O amor quando eu o acho
Aos poucos se acabando,
Um tempo onde mais brando
A vida mostra um facho
E nele em sonhos tacho
Meu mundo emoldurando,
A tela não se cria
E vejo a fantasia
Perdida sem ter rumo,
E o todo que pudera
Agora em vã quimera
Deveras me consumo.
13
Nos olhos regozijos
Diversos e felizes
E neles tanto dizes
Dos tempos claros, rijos
E sei quando mergulho
Nesta ânsia inconsistente
Ainda mesmo tente
Vencer o vago orgulho
E ter novo horizonte
E nele me entranhar
Sabendo do luar
Aonde além desponte
Sobeja maravilha
No amor que também brilha.
14
Na minha juventude
O tempo é nunca mais
Os olhos ancestrais
O risco não ilude
E nada mais se mude
Nem mesmo atemporais
Caminhos desiguais
Em frágil amplitude,
Repenso cada passo
E quando além eu passo
Deveras retrocedo,
Não tenho mais o brilho
E sei quando andarilho
Meu mundo em tolo enredo.
15
Nos meus caminhos vagos
Em pleno temporal
A vida sem sinal
De dias mansos, lagos,
Traduzem sem afagos
E sei deste venal
Caminho sempre igual
Onde os quisera magos,
Resulto deste nada
E sei da vaga estada
Em tez sombria e opaca,
O riso se ausentando
O tempo ora nublando
O barco não atraca.
16
As noites se fizeram
Além do que eu pensara
Tão turva esta seara
E nela se moldaram
Caminhos discordantes
Terríveis trevas, pois
O quando sem depois
Dissera e me garantes
Nos ermos deste passo
O cântico em terror
O pranto redentor
Meu mundo eu já desfaço
Enlaces mais sombrios,
Apagam tais pavios.
17
O rumo das estrelas
O mar dentro de mim,
Seguindo de onde vim
Já não consigo vê-las
Nem pouco convertê-las
Nos ermos de um jardim,
Meu sonho é vão festim,
As noites sem sabê-las
Escassa a melodia
Ausente enfim o dia
Aonde quis bem mais,
As brumas eu lamento
E sigo em sofrimento
Além de qualquer cais.
18
Passam por essas sendas
As nuvens e os temores
E quando sei das cores
Sem nada em que me atendas
Decerto não entendas
E mesmo se tu fores
Terríveis dissabores
Matando velhas lendas,
Anseio a liberdade
E sei que quanto brade
Mais alto, mais distante,
O manto em fina teia
A vida não permeia
O passo que adiante.
19
Deixaste tantas urzes
Envoltas em florais
E quando em abissais
Caminhos me conduzes
Ausentes nossas luzes
Diversos vendavais
Em ritos desiguais
E neles cevo as cruzes,
Refém do que já fora
Uma alma sonhadora
E agora se entorpece,
O tempo se anuncia
Em bruma e em heresia
Em mim cedo escurece.
20
Rastros que irão levar
Ao máximo que posso,
O quando fora nosso
E agora já sem par,
Desvia cada olhar
Aonde não endosso
Meu erro, pois destroço
Não pode respirar,
Erguendo a minha voz,
Quem sabe, mais atroz
Talvez enfim consiga,
Mas sei quanto é venal
O rito e no final,
A voz morrendo antiga.
21
Por que essas duras sebes
Aonde quis um dia
Viver esta alegria
E nisto não concebes
Além do que percebes
E tanto poderia
Erguer a fantasia
Se nela me recebes,
Mas ouço além o brado
Do tempo mais ousado
E sei que não retenho
Sequer um menor sonho,
E quando decomponho
Inútil tolo empenho.
22
Jardins de luas tão
Diversas das que busco,
E quando assim me ofusco
Incertos dias dão
O tom de indecisão
E o passo mesmo brusco,
O quanto em mim é fusco
Gerando a ingratidão,
Mereço alguma chance?
Não sei por onde avance
Se o passo é sempre incerto,
Os ermos de minha alma
Já nada mais acalma
Os sonhos? Eu deserto.
23
Nosso amor necessita
De um riso pelo menos
Ou dias mais amenos
Em tarde tão bonita
O quanto se acredita
Além destes pequenos
Delírios em venenos
Aonde o tempo fita
E rendo-me sem tréguas
Distando tantas léguas
Do porto aonde um dia
Pudera me ancorar
E sem qualquer lugar
A vida se esvazia.
24
Tão cruel essa lei
Que dita o meu destino
E quando não domino
O passo eu entranhei
As lendas desta grei
E em pleno desatino,
Vencido, eu me destino
Ao quanto em ti errei,
Não posso e não pudera
Vencer esta quimera
E crer noutro momento,
Por vezes sigo alheio
E o todo quando anseio,
Deveras inda o tento.
25
Das gaiolas vislumbro
O pranto em água farta
O sonho então se aparta
Na cena não deslumbro
O olhar buscando a fonte
Aonde gere o gozo,
Caminho majestoso
Jamais em mim se aponte,
Cerzindo a solidão
O pranto cerra o olhar,
O todo a mergulhar
Nos dias que verão
Apenas a mortalha
Que agora em mim se espalha.
26
As dores nos amores
E os ermos no meu passo,
Perdendo qualquer traço
Morrendo em dissabores,
E sinto as vagas luas
E nelas me transtornas
E quando tu retornas
Estrelas morrem nuas,
Descendo em ruas tantas
Imerge dentro em mim
O quanto sei do fim
E nele me adiantas
As ânsias mais cruéis
E nelas vários féis.
27
Depois de tantas lutas
Ainda pude crer
No raro amanhecer
Aonde tu desfrutas
Das sendas e relutas
Não posso mais tecer
Sequer o meu querer
Em cenas mais astutas.
Resumos desta vida
Ainda decidida
Nos ermos de quem teima
Singrar outro oceano
Da vida levo o dano,
Minha alma à toa queima.
28
São duros os caminhos
De quem busca sonhar
E sei quanto do olhar
Traduz erros daninhos
Adentro tais mesquinhos
Delírios num lugar
Aonde imaginar
Gerasse paz em ninhos,
Nos versos e na vida
A porta corrompida
A morte dita o passo,
E quando mais audaz
O olhar teimoso traz
Apenas descompasso.
29
Quem dera ter a luz
Que tanto poderia
Trazer a luzidia
Manhã que reproduz
O sol em contraluz
A sorte mudaria
E assim rompendo o dia
No quanto amor faz jus.
Aprendo um pouco ou tanto
E quando teimo e canto
Apresentando enfim
O muito que inda existe
O coração em riste
Aponta ao teu jardim.
30
Em tua vida eu pude
Singrar novo horizonte
E sei do quanto aponte
À velha juventude,
O tempo se faz rude
E nada dita a fonte
Pudera qualquer ponte,
Porém a queda ilude.
O vento em tom venal
O dia sempre igual
O medo se apressando
E toma este cenário
Além do imaginário
E o torna enfim infando.
31
O meu amor, lunar,
Galgando a noite imensa
E quando nele pensa
Uma alma a divagar
Percorre devagar
O mundo e sei da tensa
Manhã sem recompensa
Aonde fui moldar
O passo rumo além
E sei do quanto tem
O sonho desejado,
Quem vence o desafio
Em paz quero e recrio
A mais que o meu passado.
32
Desenhou minha sina
O manto em tez sombria
Negando qualquer dia
Ainda me domina,
E nada mais fascina
Quem tanto saberia
Viver esta heresia
O corte não ensina,
A poda açoda quem
Deseja e quando tem
Perpetuando o gesto,
Ao nada se me dera
Quem sabe esta quimera
Num ato vão funesto.
33
Amor que não perdura
Jamais pudera dar
Senão este vagar
Em área sempre escura
É tela sem moldura
É rio sem o mar,
O canto a desenhar
A noite em vã loucura,
Assisto ao fim e tento
Ainda mais atento
Vencer qualquer terror,
E o passo se programa
Transgride ao próprio drama
E gera o fino amor.
34
A dor que não se cura
O tempo mais atroz
E tendo a minha voz
No quanto se emoldura
A vida noutra face
Pudesse ser assim
Tornando dentro em mim
O tempo onde se passe
Com calma e com certezas
E nestas noites belas
O canto que revelas
Em finas sutilezas
Transforma em poesia
O quanto ainda havia.
35
Nas cartas que escondi
Os olhos não sabiam
Do quanto poderiam
Chegar enfim a ti,
O corte a poda a sorte
O mundo tão medonho
E quando me proponho
A ser quem te conforte
A fonte dessedenta
Noutro caminho audaz,
E nada mais me traz
Senão esta sangrenta
Manhã em tempestade
E tudo enfim, degrade.
36
Poeira da saudade
O tempo traz e quando
Aos poucos desnudado
Rompendo qualquer grade
Ainda teima e invade
O mundo desabando
O velho transtornando
Presente realidade,
A calma não se vê
O todo sem por que
O medo se engrandece,
E o vento traz quem fora,
Imagem tentadora
Nunca rejuvenesce.
37
Não posso reclamar
Do passo rumo ao nada
Aonde fora estrada
Agora a divagar
Tomando o seu lugar
A rota desmembrada
Aonde o tempo brada
E nada a se moldar,
Resumos de uma vida
Que tanto nos agrida
E morde enquanto alenta,
O vento não permite
Além deste limite
Uma alma mais sangrenta.
38
O mar que te deixou
Em ondas tão dispersas
Agora quando versas
Jamais se revelou
Caminho onde entranhou
Além destas diversas
Manhãs aonde imersas
Delícias, não mostrou.
Arcando com meu erro
A cada vão desterro
Aprendo um pouco além,
O tanto pude outrora
E quando nada ancora
A barca já não vem.
39
Amor que se renova
E nada traz do velho,
Fazendo este evangelho
E nele toda a prova
Da lua sempre cheia
E sei quando se crê
Além deste clichê
Que tanto nos rodeia,
Vagando em noite imensa
Gerando novo verso
Aonde desconverso
E toda a sorte vença
Restando a imensidão
De um sonho de verão.
40
Desculpe se pareço
Alheio enquanto dito
O passo, e necessito
Dizer deste tropeço,
O quanto não mereço
Ou mesmo sigo e fito
O rumo mais bonito
Em lúbrico adereço,
A sorte se espalhando
O vento nos guiando
Estrada, mundo afora,
O medo não se vendo,
Um tempo em dividendo
Beleza em ti se aflora.
41
A mão que me carinha
O olhar bem mais sincero
Dizendo do que quero
E sendo a sorte minha
Jamais será daminha
Tampouco o mundo fero
E nele sempre espero
A sorte que avizinha,
O manto me recobre
Em ar suave e nobre
Trazendo a plenitude
O barco adentra o cais
E sinto muito mais
Até mais do que pude.
42
Nos olhos trago Lara
Que foi e não voltou,
O mundo desvendou
A vida outrora clara
E agora se prepara
Em turva senda, estou
Buscando o restou
De mim nesta seara,
A morte, a sorte o fado,
O tempo desolado
A bruma a noite a treva,
Aquém do paraíso
Um passo que impreciso
Ao nada então me leva.
43
Enrubescendo a face,
Olhando cabisbaixo
Enquanto um sonho; encaixo
Vencendo um longo impasse
No tempo que inda venha
Depois de tantos anos
Em fartos desenganos
A luta mais ferrenha,
O caos dentro de mim
Vazios refletindo
O quanto fora infindo
Caminho para o fim,
E agora ao fim da tarde,
Mais nada inda me aguarde.
44
Calado, neste canto,
Temor a me exibir
A sina, o meu porvir
O quanto não garanto
O medo sendo tanto
Não tendo mais como ir
Nem mesmo prosseguir
Cevando desencanto
Ainda não prossigo
Em tanto e vão perigo
O risco se anuncia
Na falta de esperança
No câncer que se avança
Amortalhando o dia.
45
Sonhando com favores
De quem um dia eu quis
Pensando ser feliz
Em meio aos dissabores,
Arcando com as dores
Um tempo em cicatriz.
Dos males, chamariz
Sem nunca mais te opores
Vencido pelo nada
A dita anunciada
Nas curvas do caminho,
Aonde quis bastante
Um passo só garante
O amanhecer sozinho...
46
A vida, tanto sonho
Jogado pelos ares
E quando tu notares
O nada em mim componho,
O templo em ar medonho
Destroços nos altares
E em todos os lugares
O ritmo ora enfadonho,
O passo rumo ao vão,
Ausência de algum chão
A queda sobre o cardo,
O medo, o caos e o frio,
A seca atroz e o estio,
Saudade é um duro fardo.
47
Guerreiro; um tolo herói
Gerado pelos medos,
E quanto aos vis enredos
O tempo vem, corrói
O todo se destrói
Em ermos campos, ledos,
E sei dos seus segredos
E nada se constrói
Somente o velho mito,
Dele não necessito
Tampouco o quero além,
O dia a dia a fome
O quanto nos consome
E o sol que nunca vem...
48
Um príncipe virá
Dos ermos do passado,
Gerando outro legado
E sinto aqui ou lá
O quanto tornará
O rumo desejado
Num tempo já traçado
O amor dominará...
Assim a vida passa
E a roupa, o pó e a traça
A frágil fantasia
Desnuda na parede
O olhar traduz a sede
Que nunca se sacia.
49
Em plena fantasia
O manto se puíra,
Nos ermos da mentira
O nada já se cria,
O quanto não havia
E o pouco inda retira
Não resta sombra ou tira
Apenas a agonia.
O canto sem proveito
A lua quando deito
Derrama raios prata,
A sorte não desvenda
Gerando outra contenda
E tanto me maltrata.
50
Num átimo abrirá
Os rumos para quem
Sabendo o quanto vem
Espera e desde já
O mundo renegando
O passo rumo ao tanto,
E quando me adianto
O tempo sonegando,
O risco não sacia
A vida não desnuda,
A sorte tão miúda
O fim da poesia,
O gozo em desalento,
Porém teimando eu tento...
51
Menina que carrega
Os sonhos sobre as costas
Ausência de respostas
A vida dura e cega,
O tempo sempre nega
Assim suas propostas
E quando são depostas
Já nada mais sossega,
Erguendo olhar após
Procuro o rio e a foz
E nada se apresenta,
A sorte em dissabor,
Aonde quis amor
A noite é vã, sangrenta...
52
Não sabe dos demônios
Gerados pelo anseio
E quando em devaneio
Vislumbra os pandemônios
Ataques pelos flancos
Delírios entre sonhos
Momentos mais medonhos
Aonde os quis mais francos,
E resolutamente
A vida não traduz
Sequer a mera luz
Por mais que isto se tente,
Alentos? Nunca mais.
Apenas vendavais...
53
As sortes escolhidas
Os vagos da alma eu sinto,
O tempo, o louco instinto
Procuro em vãs ermidas
As rotas já perdidas
O toque, o manso instinto,
O quanto agora eu minto
Preparo as despedidas,
E sei que já não pude
Rever cada atitude
Ou prever nova queda,
O passo em sobressalto
O medo ora ressalto
E a estrada já se veda.
54
O sonho da menina
Jamais se fez presente,
E quando ainda tente
Porquanto nos fascina
O nada predomina
E a fúria não se ausente
O todo agora sente
O gozo em nova mina,
Emana-se este vinho
Aonde mais sozinho
Pudesse ainda ver
Depois da chuva e medo,
A terra em novo enredo
Enfim a amanhecer.
55
Mas, quieta, nos meus sonhos,
A deusa em luz e glória
Mudando minha história
Em dias mais risonhos,
Os passos enfadonhos
O risco da vanglória
A vida merencória
Meus medos tão medonhos,
Pudesse ainda ter
Algum mero prazer
Depois desta desdita
A lua dentro em mim
Gerenciando o fim,
Jamais se necessita.
56
Eternamente bela
A estrela eu vejo nua
Deitando sobre a rua
O sonho onde se atrela
O quanto outrora em cela
Agora vai, flutua
Além da própria lua
Intensa se revela,
O quanto fora assim
O mundo dentro em mim
Depois de te saber,
Agora em bruma e treva
O tempo inverna e neva
Não vejo o amanhecer...
57
Tempos distantes quando
A adolescência toma
As rédeas; nada a doma,
O mundo transformando,
O todo se negando
O coração em coma,
A vida além da soma,
O templo se adornando.
Depois a chuva e o frio
Num outonal caminho
O quanto vou sozinho
E teimo enquanto espio
A velha adolescência
Com ar de impaciência.
58
E desenho o sorriso
Nos olhos de quem ama,
E tento além da chama
O passo mais conciso,
E tudo o que eu preciso
Sem medo, dor ou drama
O tempo gera e trama
Sem ser qualquer juízo,
O fim, o caos o nada,
A morte anunciada
A esquina em cada queda,
O vândalo cenário
O templo imaginário,
A entrada já se veda.
59
Saudade deste tempo
Aonde se pudera
Beijar a primavera,
Agora em contratempo
O nada se apresenta
E sinto em dissabor
A morte desta flor
Em tarde mais sangrenta
O corte, a poda, o frio
O inverno de minha alma
E nada mais acalma
Um coração sombrio,
Apenas morte e luto,
Porém; ainda luto...
60
Os ventos me trouxeram
Olhares do passado
O mundo desejado,
Os dias não me deram,
E nada mais esperam
Senão terror e enfado,
O corte anunciado
Os passos desesperam,
Gerando dentro em mim
A solução do fim
Negando qualquer chance,
E quanto mais atroz
Mais perto vejo a foz,
A morte ao meu alcance.
61
Nas mãos mais imprecisas
Os passos, cambaleio,
O tempo eu sigo alheio
Além do que precisas,
E sei quanto das brisas
Vieram de permeio,
O mundo que ora anseio
Já não mais vês e avisas,
O término se vendo
O manto em vão remendo
Puída esta esperança,
A corda rota, o fardo,
O fim; somente aguardo
Enquanto o tempo avança.
62
As cores juvenis
São sombras nada mais
Disperso de algum cais
Além do quanto eu quis,
O gesto, o corte, o giz,
Velhos mananciais
As mortes desiguais
O corpo em cicatriz,
A desdentada sorte,
O parto sem suporte
A morte neste instante,
Vagando dentro em mim,
Cevando em luta o fim
Cenário degradante...
63
Olhos, luar... Amor
São meras, vãs lembranças
Agora em tais mudanças
Ausência de calor,
O novo a decompor
Enquanto ao nada lanças
E vês nestas fianças
O mundo em estupor,
Supor que ainda veja
A sorte mais sobeja
O dia após em sol
O risco de sonhar
Vontade par a par
Aquém deste farol...
64
As dores vencerão
Jamais desistiria,
Mas sei desta agonia
Do passo em negação
Aonde há direção
Tentando novo dia,
É mera fantasia
Um sonho de verão...
Atrocidades tais
E nelas os fatais
Momentos; prenuncio,
O rumo se transtorna
A tarde outrora morna
Agora em dor e frio...
65
Um rouxinol cantando
Além do quanto pude
Na minha juventude
Agora se encerrando,
O mundo desde quando
Um dia em vão ilude
Porquanto já se mude
O templo desabando,
O manto em fel e brasa,
A sorte não embasa
Quem busca muito além,
O pranto, o rogo a treva
O nada em mim se ceva
E nada me contém...
66
O sangue enrubescendo
O olhar de quem quisera
Vencer a dura fera
O corte em mero adendo,
E agora se prevendo
O fim da primavera,
O nada mais se espera
Nem paz ora desvendo,
Recebo em dor e pranto
O quanto inda garanto
De um dia que não veio,
O prazo determina
O fim da velha mina,
E sigo além e alheio...
67
Amor tão furioso
Não pude mais conter,
Jamais o quis saber
Deveras raro gozo,
O pranto em ardoroso
Caminho eu posso ver
E tento algum prazer
No mundo pedregoso,
Resumos de outras eras
E neles destemperas
Mergulhas neste vão
Eu busco a mera sombra,
Porém tudo me assombra
A vida dita o não...
68
Na morte deste amor
Aonde eu quis bem mais,
Exposto aos temporais
Encontro em dissabor
Apenas sem rancor
A vida diz jamais,
E o velho porto, o cais
Aonde e como for
Terei num só momento
O quanto ainda invento
E tento novo sonho,
Mas quando se aproxima
A vida muda o clima
Inverno em mim componho.
69
Mas sempre viverás
E sei quanto mais pude
Ao ter tal atitude
Um passo em plena paz,
O olhar se faz audaz
E mostra em plenitude
O quanto mais ilude
A sorte em que se faz,
Gerando um novo dia
A vida mudaria
E tudo será bom,
Mas quando o tempo muda
O que era farta ajuda
Agora noutro tom...
70
Amor que já renasce
Mudando o velho enredo
E quando assim procedo
Expondo a minha face,
No quanto além se grasse
O todo mata o medo,
E sigo e desde cedo
Vencendo o que se trace,
E resolutamente
O tempo não desmente
Prepara outra armadilha,
Quem teve esta esperança
Enquanto ao nada avança
O inverno em si palmilha.
71
Desfilando a beleza
Por ruas e calçadas
Aonde vejo alçadas
Além da correnteza
As sortes, delas presa
Minha alma em alvoradas
Encontra estas lufadas
E as segue com presteza,
Açoda-me o futuro
E vejo enquanto curo
Os medos mais sutis,
Um dia pelo menos
Em ares mais amenos
Quem sabe sou feliz?
72
Caminha tão distante
O olhar de quem procura
A dita se assegura
No posso onde garante
O tanto se adiante
E muda a senda escura,
E sei quanto isto cura
Em ato fascinante.
O passo rumo ao todo,
Entranho medo e lodo,
Mas sei do colossal
Delírio que adivinho
E venço pedra e espinho,
Prevendo um bom final.
73
A vida de esperanças
Em passos mais audazes
Além do quanto trazes
E ao todo quando avanças
Espalhas confianças
E mudas minhas fases,
Gerando em mim as pazes
Em tardes, noites mansas.
Anseios, sonhos, ritos
Momentos mais bonitos
A vida preparara
A quem se dera tanto
E quando agora eu canto
Penetro esta seara...
74
A noite que persigo,
O tempo mais feliz
O quanto contradiz
A falta de um abrigo,
O mundo que consigo
A morte por um triz,
O canto este aprendiz
E nele busco o trigo.
O rastro além da morte
O nada me comporte
E gero outro sinal,
Viceja esta alegria
É pura alegoria
Em ato terminal.
75
Quem dera seu amor
Pudesse ser o meu
O mundo concebeu
Jardim gerando a flor,
E o tempo em tal calor
Jamais bebendo o breu
E o coração ateu
Em luz a se compor,
Na estância desejada
A sorte anunciada
O gozo em redenção,
O medo o passo além
E nada me convém,
Meu passo segue em vão.
76
Os meus mares não passam
De riscos e de medos,
Os dias seus enredos
Os cortes entrelaçam
E tanto se esfumaçam
Além os ritos ledos,
E sei dos meus segredos
E neles vãos se traçam.
Organizando o bote
Aonde amor se note
Eu vejo e me eternizo,
No encanto mais audaz,
O passo já se faz
Além deste granizo.
77
Na graça feminina
O tanto quanto pude
Viver em plenitude
E a sorte já domina
O passo determina
E nada mais me ilude,
Adentro em mim o açude
Dos sonhos, velha mina.
E assim nada retarde
O canto mesmo tarde
E o gozo temporão,
Depois de tanto alheio
O mundo sem rodeio
Encontra a direção.
78
Que morde, que me assanha
E toma a minha pele
Assim em mim já sele
A sorte feita e ganha,
O gozo onde se arranha
O toque que revele,
O beijo onde se atrele
O mar, vale e montanha
Cenário em raro brilho
Aonde em paz polvilho
Iridescente sonho,
Dirimo qualquer medo
E quanto mais concedo
Além, bem mais, proponho...
79
Nos passos veludosos
Os medos, meus anseios
E sigo em devaneios
Procuro majestosos
Caminhos caprichosos
A vida tem seus meios
E neles tantos veios
Em tempos belicosos.
Resisto e mesmo assim,
Vencido vejo o fim,
Mas nada que inda tema,
O corte se anuncia
É morta a fantasia,
Mas rompo a velha algema.
80
Num átimo mergulha
O olhar mais desejado,
E sinto sem enfado
O quanto se vasculha.
Se outrora fui um pulha
Agora transformado
Procuro um manso prado,
Num palheiro, esta agulha.
O vasto caminhar
Em busca de um lugar
Aonde eu possa ter
Além deste non sense
O amor que recompense
E gere este prazer.
81
Ser a caça, seria
O quanto pude e tenho
Aonde mais ferrenho
Pudesse em poesia
Traçar um manso dia,
E sei que não retenho
O mundo em vago empenho,
Pois tudo se recria.
O medo gera a luz
E a luz ao fim conduz
De um túnel onde vejo
O dia ou mesmo o fim,
E volto de onde vim
Somente noutro ensejo.
82
Mas olhares; desvia
Quem sabe busca além
Do quanto mais convém
Ou mesmo poderia,
E assim no dia a dia
Dos sonhos vou aquém,
Mergulho e sem ninguém
Aonde eu viveria
A paz que tanto busco
E quanto mais é brusco
O passo rumo ao fim,
Maior voracidade
E tanto se degrade
O mundo dentro em mim.
83
Na sua vida um mero
Caminho em vaga luz,
E quando me propus
E fui claro e sincero,
Agora nada quero
E nada mais seduz
Que tanto já fez jus
E sigo enfim austero,
O rastro do passado
O tempo anunciado,
O gesto mais suave,
O coração liberto
O manto já deserto
E vago feito uma ave.
84
A espero afinal, Lara
A quem amei e pude
Durante a juventude
Tocar rara seara
Aonde já se ampara
O sonho em plenitude
E mesmo que isto mude,
A sorte ali foi rara,
A morte, o medo e o vão
Ausente atracação
De um barco sem destino,
O roto olhar agora
Além não mais se aflora,
E aos poucos me alucino...
85
Mudanças! Necessito
E nada mais me impede
Nem mesmo se procede
A dor, a fome e o mito,
O quanto em infinito
O rumo onde se cede
O vento me concede
O gozo mais aflito,
Refém de um devaneio
O sonho ainda anseio,
Pois tornará possível
O todo que inda agora
Já sinto não se aflora
E não vejo plausível
86
Já me flagraste tonto
Em noites sonho farto,
Acesa a luz do quarto
Aos poucos me defronto
E vejo em tal confronto
O quanto já me aparto
Do gozo e tento e parto
Enquanto o não remonto.
Vestindo este fantoche
Exposto ao teu deboche,
Um histrião se faz
Na face desdentada
A sorte desejada
Agora em fim mordaz.
87
Que sempre me impediram
De um passo com firmeza
Aonde sem presteza
As sortes não se viram,
Palavras se desfiram
E nelas sem surpresa
A morte em tal vileza
E os sonhos já se expiram.
Respiro este abandono
E quando desabono
Hermético caminho,
O vago sempre assoma
E tudo em tal redoma
Deixando-me sozinho.
88
Agora já não quero
Sequer olhar pra trás
E o quanto não se traz
De um tempo mais austero,
O mundo não venero
Nem tento um passo audaz,
O corte foi voraz
E em vão me desespero.
Gerando outro demônio
E nele este campônio
Em lavras mais sutis,
Agora em pleno estio,
O verso eu esvazio
Ausenta-se o que eu quis.
89
Um dia, me recordo
Dos tantos entre os medos
Desvios, desenredos
E quando estando a bordo
Do sonho; enquanto acordo
Os dias seguem ledos
E tantos vãos segredos
Com eles não concordo,
Apenas aprendendo
A ser qualquer remendo
Emendo os versos quando
Percebo a sebe atroz
E sem ter mais a voz,
Aos poucos me negando.
90
Correndo no jardim
Dos sonhos de criança
A sorte nunca avança
Ditando agora o fim,
E quando sigo assim
Ao léu sem confiança
Preparo outra esperança
E a morte vem a mim.
Pudesse ainda crer
No quanto do querer
Existe ou mesmo resta,
Mas quando se anuncia
Vazio o mero dia,
A sorte não se atesta.
91
As luzes que ficaram
Ou mesmo não vieram,
Os passos desesperam
Os partos desamparam,
Os ritos terminaram
Além do que se esperam
E nada mais, pois geram
Ou nada me entregaram,
Somente o vago e o medo
E quando assim procedo
Encontro especular
Fantasma de minha alma,
Aonde nada acalma
Só resta e em vão, vagar.
92
Não me deixam sentir
Nem mesmo as ilusões
E quando mais te expões
Desnudas o porvir
E sinto onde há de vir
Diversas tentações
E nunca soluções
No tempo a pressentir,
O rastro, o passo e a queda
O mundo hoje se enreda
Nos ermos do meu sonho,
E quando sou voraz
Já nada satisfaz
Nem mesmo o que componho.
93
Jogávamos no sonho
As ânsias mais sutis
E fui até feliz
Embora tão tristonho
E agora se proponho
E nisto até já quis
Vencer a cicatriz
De um temporal medonho
Eu posso caminhar
Sabendo do luar
E nele me entregando,
Mas desde cedo e quando
A vida se desnuda,
A dor é mais aguda...
94
Julgávamos viver
Um infinito ou mais,
Exposto aos magistrais
Caminhos pude ver
O quanto do querer
Entranha tais cristais
E tento o mesmo cais
Das ânsias de um prazer,
Dessedentando a vida
Cevando esta saída
Em porta mais suave,
Mas quando se percebe
A turva e tosca sebe
O passo em vão se entrave.
95
Histórias deste amor
De tantos sonhos quando
O rumo desvendando
Além do quanto opor
O corte gera a flor
E tudo transformando
No tempo nos podando
Em tréguas muda a cor,
Eu sinto em amplitude
Maior o que me ilude
E gera a persistência,
O amor nunca se faz
Em manto tão mordaz
Nem mesmo em prepotência.
96
A noite vem trazendo
O medo, o frio e a treva
O quanto já se atreva
O passo se revendo,
Quem dera em estupendo
Delírio nova ceva
A sorte mais longeva
No amor seu dividendo
Encontra o raro apoio
E sei ser mais que joio,
Um tempo aberto em mim,
Depois dos vendavais
Percorro estes trigais
E teimo em meu jardim.
97
Meu mundo se desaba
O temporal assisto,
E quando mais do que isto
O corte nega a taba
A senda não se gaba
Do quanto inda resisto,
Nem mesmo se eu existo
Ou tudo em vão se acaba,
Ao menos quis rever
Cenários a tecer
Nos olhos mais sombrios,
Meu tempo terminado,
O peso gera o enfado,
E o enfado dores, frios...
98
Nos escombros dos sonhos
Olhando para trás
O quanto não se faz
Nem mesmo em tais risonhos
Caminhos enfadonhos
O passo mais audaz,
O sonho mais voraz,
Meus dias são bisonhos...
Resisto e mesmo posso
Moldando um mundo nosso
Saber do quanto resto
E tento novamente
Além do que se sente
Em firme e claro gesto...
152
99
Percebo o quanto pude além do nada
E dito os meus anseios vida afora
Aonde tão somente desancora
A sorte há muito tempo naufragada,
Resumo meu caminho na alvorada
E nela cada luz inda decora
Quem tenta rebrilhar e se demora
Além da própria vida anunciada,
Aprendo com meus erros, sempre assim,
Depois do quase nada resta o fim
E o bêbado desnudo em plena rua,
Um pária entorpecido bebe o sonho
E neste mar ausente eu me reponho,
Porém alma liberta, vai, flutua...
100
Prenunciando o fim de quem se fez
Além de meramente alguma luz
O pranto o corte o cego o fardo a cruz
Aonde gera a torpe insensatez,
No quanto do remendo que ora vês
O passo noutra face reproduz
Errático delírio eu faço jus
E teimo embora em mim a estupidez.
Quisera a cupidez de um vão lirismo,
Galgando algum cenário espúrio eu cismo
E tento contra a fúria da esperança,
A mão prepara o corte, fina adaga,
A morte com certeza inda me afaga
Enquanto no vazio o sonho lança...
Nesta manhã risonha
Em sonhos mais diversos
Fazendo dos meus versos
O quanto se proponha
E quando a gente enfronha
Caminhos e universos
Os medos em dispersos
Cenários. Nada oponha.
O canto mais sutil
O amor que se previu
Ou mesmo desejara
Assim a luz imensa
Deveras me convença
Desta rara seara.
2
As dores se esconderam
De quem no amor se dera
E viva a primavera
Aonde floresceram
Desejos e cresceram
Os sonhos onde espera
A luz que tanto gera
Em brilhos nos teceram.
Assim ao ver além
O quanto inda provém
Do passo mais audaz,
Resolvo em plenitude
Sem nada aonde mude
O rumo que isto traz.
3
Quem fora da alegria
Apenas passageiro
E vê neste espinheiro
A voz onde se erguia
A noite imensa e fria
E nela o verdadeiro
Caminho, o derradeiro
Sem estrela que o guia.
O quarto se escurece
Não existindo a messe
Apenas sou o ocaso,
O todo desejado
Agora no passado
Futuro eu não aprazo.
4
Esquece que na vida
A sorte dita o rumo
E quando em vão me esfumo
A senda desvalida
Sem luz e imerecida
Manhã sem mais aprumo,
Entrego o sonho e o sumo,
E perco em despedida,
Alheio ao que inda venha
A noite mais ferrenha
O medo duro e atroz,
Silente sem sequer
Saber o quanto quer
Quem solta inteira a voz.
5
Manhã do meu amor
Há muito desolado
E sinto vão nublado
O céu a se compor
No quanto em dissabor
A vida dá recado
O gesto desenhado
Em plena treva e dor,
O corte, a morte o medo
Caminho onde procedo
Ao mais cruel empenho,
E quando vejo aquém
O sonho que inda vem
Vazio mar; embrenho...
6
Que em peito apaixonado
Jamais houvera ao menos
Momentos mais amenos
Ou mesmo abençoado
Caminho a ser trilhado
Em dias tão serenos,
Os riscos são pequenos?
O tombo anunciado...
A morte entranha a pele
E quanto me compele
À fúria terminal,
Gerando em fardo e treva
O pouco aonde leva
O riso bem ou mal.
7
O brilho deste sol
Distante de um olhar
Que tanto quis sonhar
E nada em arrebol,
A vida segue em prol
De quem deseja amar
E nada a desvendar
Senão este farol,
Resisto e não me iludo
O quanto sei, contudo
Não deixa a menor chance
De um dia mais feliz,
Se a vida contradiz
Não tendo como avance.
8
É como um pescador
Vagando em noite escura,
Na tétrica procura
Por tolo ou farto amor,
O mundo a se compor
Enquanto não perdura
A sorte não mais cura,
E gera o sonhador.
Escusas e tormentas
No quanto me apresentas
Sedento, em nada eu creio,
Seguindo sem ao menos
Saber dias amenos,
Entranho um devaneio.
9
Nas danças destas nuvens
Em céus diversos, grises
Aonde me desdizes
E sei que não mais vens
Os dias seguem pálidos
Os olhos entorpecem
Os sonhos já fenecem
Os ritos são inválidos,
E nada mais se vendo
O corte trama em fúria
O quanto em tal penúria
De mim resta em remendo,
Ascendo ao nada enquanto
Ainda teimo e canto.
10
Meus olhos acompanham
Os brilhos onde estás
E tanto busco a paz
Aonde em luz se banham,
Os dias já se estranham
O corte é mais audaz
O tempo agora traz
As nuvens que me entranham,
Grisalhos neste céu
Aonde em carrossel
Teimara em esperança.
Porém ao menos isto
Num sonho tolo insisto
Enquanto o nada avança.
11
Reflexos do rei sol
Dominam todo o lago
E quando sigo vago
Sem nada em arrebol,
Procuro este farol,
E nele agora trago
O coração de um mago
Girando em girassol,
Restando dentro em mim
O quanto do jardim
Ainda se floresce,
O nada se previa
O tempo mata o dia
E a vida se escurece.
12
Libélula voando
À beira do riacho
O amor quando eu o acho
Aos poucos se acabando,
Um tempo onde mais brando
A vida mostra um facho
E nele em sonhos tacho
Meu mundo emoldurando,
A tela não se cria
E vejo a fantasia
Perdida sem ter rumo,
E o todo que pudera
Agora em vã quimera
Deveras me consumo.
13
Nos olhos regozijos
Diversos e felizes
E neles tanto dizes
Dos tempos claros, rijos
E sei quando mergulho
Nesta ânsia inconsistente
Ainda mesmo tente
Vencer o vago orgulho
E ter novo horizonte
E nele me entranhar
Sabendo do luar
Aonde além desponte
Sobeja maravilha
No amor que também brilha.
14
Na minha juventude
O tempo é nunca mais
Os olhos ancestrais
O risco não ilude
E nada mais se mude
Nem mesmo atemporais
Caminhos desiguais
Em frágil amplitude,
Repenso cada passo
E quando além eu passo
Deveras retrocedo,
Não tenho mais o brilho
E sei quando andarilho
Meu mundo em tolo enredo.
15
Nos meus caminhos vagos
Em pleno temporal
A vida sem sinal
De dias mansos, lagos,
Traduzem sem afagos
E sei deste venal
Caminho sempre igual
Onde os quisera magos,
Resulto deste nada
E sei da vaga estada
Em tez sombria e opaca,
O riso se ausentando
O tempo ora nublando
O barco não atraca.
16
As noites se fizeram
Além do que eu pensara
Tão turva esta seara
E nela se moldaram
Caminhos discordantes
Terríveis trevas, pois
O quando sem depois
Dissera e me garantes
Nos ermos deste passo
O cântico em terror
O pranto redentor
Meu mundo eu já desfaço
Enlaces mais sombrios,
Apagam tais pavios.
17
O rumo das estrelas
O mar dentro de mim,
Seguindo de onde vim
Já não consigo vê-las
Nem pouco convertê-las
Nos ermos de um jardim,
Meu sonho é vão festim,
As noites sem sabê-las
Escassa a melodia
Ausente enfim o dia
Aonde quis bem mais,
As brumas eu lamento
E sigo em sofrimento
Além de qualquer cais.
18
Passam por essas sendas
As nuvens e os temores
E quando sei das cores
Sem nada em que me atendas
Decerto não entendas
E mesmo se tu fores
Terríveis dissabores
Matando velhas lendas,
Anseio a liberdade
E sei que quanto brade
Mais alto, mais distante,
O manto em fina teia
A vida não permeia
O passo que adiante.
19
Deixaste tantas urzes
Envoltas em florais
E quando em abissais
Caminhos me conduzes
Ausentes nossas luzes
Diversos vendavais
Em ritos desiguais
E neles cevo as cruzes,
Refém do que já fora
Uma alma sonhadora
E agora se entorpece,
O tempo se anuncia
Em bruma e em heresia
Em mim cedo escurece.
20
Rastros que irão levar
Ao máximo que posso,
O quando fora nosso
E agora já sem par,
Desvia cada olhar
Aonde não endosso
Meu erro, pois destroço
Não pode respirar,
Erguendo a minha voz,
Quem sabe, mais atroz
Talvez enfim consiga,
Mas sei quanto é venal
O rito e no final,
A voz morrendo antiga.
21
Por que essas duras sebes
Aonde quis um dia
Viver esta alegria
E nisto não concebes
Além do que percebes
E tanto poderia
Erguer a fantasia
Se nela me recebes,
Mas ouço além o brado
Do tempo mais ousado
E sei que não retenho
Sequer um menor sonho,
E quando decomponho
Inútil tolo empenho.
22
Jardins de luas tão
Diversas das que busco,
E quando assim me ofusco
Incertos dias dão
O tom de indecisão
E o passo mesmo brusco,
O quanto em mim é fusco
Gerando a ingratidão,
Mereço alguma chance?
Não sei por onde avance
Se o passo é sempre incerto,
Os ermos de minha alma
Já nada mais acalma
Os sonhos? Eu deserto.
23
Nosso amor necessita
De um riso pelo menos
Ou dias mais amenos
Em tarde tão bonita
O quanto se acredita
Além destes pequenos
Delírios em venenos
Aonde o tempo fita
E rendo-me sem tréguas
Distando tantas léguas
Do porto aonde um dia
Pudera me ancorar
E sem qualquer lugar
A vida se esvazia.
24
Tão cruel essa lei
Que dita o meu destino
E quando não domino
O passo eu entranhei
As lendas desta grei
E em pleno desatino,
Vencido, eu me destino
Ao quanto em ti errei,
Não posso e não pudera
Vencer esta quimera
E crer noutro momento,
Por vezes sigo alheio
E o todo quando anseio,
Deveras inda o tento.
25
Das gaiolas vislumbro
O pranto em água farta
O sonho então se aparta
Na cena não deslumbro
O olhar buscando a fonte
Aonde gere o gozo,
Caminho majestoso
Jamais em mim se aponte,
Cerzindo a solidão
O pranto cerra o olhar,
O todo a mergulhar
Nos dias que verão
Apenas a mortalha
Que agora em mim se espalha.
26
As dores nos amores
E os ermos no meu passo,
Perdendo qualquer traço
Morrendo em dissabores,
E sinto as vagas luas
E nelas me transtornas
E quando tu retornas
Estrelas morrem nuas,
Descendo em ruas tantas
Imerge dentro em mim
O quanto sei do fim
E nele me adiantas
As ânsias mais cruéis
E nelas vários féis.
27
Depois de tantas lutas
Ainda pude crer
No raro amanhecer
Aonde tu desfrutas
Das sendas e relutas
Não posso mais tecer
Sequer o meu querer
Em cenas mais astutas.
Resumos desta vida
Ainda decidida
Nos ermos de quem teima
Singrar outro oceano
Da vida levo o dano,
Minha alma à toa queima.
28
São duros os caminhos
De quem busca sonhar
E sei quanto do olhar
Traduz erros daninhos
Adentro tais mesquinhos
Delírios num lugar
Aonde imaginar
Gerasse paz em ninhos,
Nos versos e na vida
A porta corrompida
A morte dita o passo,
E quando mais audaz
O olhar teimoso traz
Apenas descompasso.
29
Quem dera ter a luz
Que tanto poderia
Trazer a luzidia
Manhã que reproduz
O sol em contraluz
A sorte mudaria
E assim rompendo o dia
No quanto amor faz jus.
Aprendo um pouco ou tanto
E quando teimo e canto
Apresentando enfim
O muito que inda existe
O coração em riste
Aponta ao teu jardim.
30
Em tua vida eu pude
Singrar novo horizonte
E sei do quanto aponte
À velha juventude,
O tempo se faz rude
E nada dita a fonte
Pudera qualquer ponte,
Porém a queda ilude.
O vento em tom venal
O dia sempre igual
O medo se apressando
E toma este cenário
Além do imaginário
E o torna enfim infando.
31
O meu amor, lunar,
Galgando a noite imensa
E quando nele pensa
Uma alma a divagar
Percorre devagar
O mundo e sei da tensa
Manhã sem recompensa
Aonde fui moldar
O passo rumo além
E sei do quanto tem
O sonho desejado,
Quem vence o desafio
Em paz quero e recrio
A mais que o meu passado.
32
Desenhou minha sina
O manto em tez sombria
Negando qualquer dia
Ainda me domina,
E nada mais fascina
Quem tanto saberia
Viver esta heresia
O corte não ensina,
A poda açoda quem
Deseja e quando tem
Perpetuando o gesto,
Ao nada se me dera
Quem sabe esta quimera
Num ato vão funesto.
33
Amor que não perdura
Jamais pudera dar
Senão este vagar
Em área sempre escura
É tela sem moldura
É rio sem o mar,
O canto a desenhar
A noite em vã loucura,
Assisto ao fim e tento
Ainda mais atento
Vencer qualquer terror,
E o passo se programa
Transgride ao próprio drama
E gera o fino amor.
34
A dor que não se cura
O tempo mais atroz
E tendo a minha voz
No quanto se emoldura
A vida noutra face
Pudesse ser assim
Tornando dentro em mim
O tempo onde se passe
Com calma e com certezas
E nestas noites belas
O canto que revelas
Em finas sutilezas
Transforma em poesia
O quanto ainda havia.
35
Nas cartas que escondi
Os olhos não sabiam
Do quanto poderiam
Chegar enfim a ti,
O corte a poda a sorte
O mundo tão medonho
E quando me proponho
A ser quem te conforte
A fonte dessedenta
Noutro caminho audaz,
E nada mais me traz
Senão esta sangrenta
Manhã em tempestade
E tudo enfim, degrade.
36
Poeira da saudade
O tempo traz e quando
Aos poucos desnudado
Rompendo qualquer grade
Ainda teima e invade
O mundo desabando
O velho transtornando
Presente realidade,
A calma não se vê
O todo sem por que
O medo se engrandece,
E o vento traz quem fora,
Imagem tentadora
Nunca rejuvenesce.
37
Não posso reclamar
Do passo rumo ao nada
Aonde fora estrada
Agora a divagar
Tomando o seu lugar
A rota desmembrada
Aonde o tempo brada
E nada a se moldar,
Resumos de uma vida
Que tanto nos agrida
E morde enquanto alenta,
O vento não permite
Além deste limite
Uma alma mais sangrenta.
38
O mar que te deixou
Em ondas tão dispersas
Agora quando versas
Jamais se revelou
Caminho onde entranhou
Além destas diversas
Manhãs aonde imersas
Delícias, não mostrou.
Arcando com meu erro
A cada vão desterro
Aprendo um pouco além,
O tanto pude outrora
E quando nada ancora
A barca já não vem.
39
Amor que se renova
E nada traz do velho,
Fazendo este evangelho
E nele toda a prova
Da lua sempre cheia
E sei quando se crê
Além deste clichê
Que tanto nos rodeia,
Vagando em noite imensa
Gerando novo verso
Aonde desconverso
E toda a sorte vença
Restando a imensidão
De um sonho de verão.
40
Desculpe se pareço
Alheio enquanto dito
O passo, e necessito
Dizer deste tropeço,
O quanto não mereço
Ou mesmo sigo e fito
O rumo mais bonito
Em lúbrico adereço,
A sorte se espalhando
O vento nos guiando
Estrada, mundo afora,
O medo não se vendo,
Um tempo em dividendo
Beleza em ti se aflora.
41
A mão que me carinha
O olhar bem mais sincero
Dizendo do que quero
E sendo a sorte minha
Jamais será daminha
Tampouco o mundo fero
E nele sempre espero
A sorte que avizinha,
O manto me recobre
Em ar suave e nobre
Trazendo a plenitude
O barco adentra o cais
E sinto muito mais
Até mais do que pude.
42
Nos olhos trago Lara
Que foi e não voltou,
O mundo desvendou
A vida outrora clara
E agora se prepara
Em turva senda, estou
Buscando o restou
De mim nesta seara,
A morte, a sorte o fado,
O tempo desolado
A bruma a noite a treva,
Aquém do paraíso
Um passo que impreciso
Ao nada então me leva.
43
Enrubescendo a face,
Olhando cabisbaixo
Enquanto um sonho; encaixo
Vencendo um longo impasse
No tempo que inda venha
Depois de tantos anos
Em fartos desenganos
A luta mais ferrenha,
O caos dentro de mim
Vazios refletindo
O quanto fora infindo
Caminho para o fim,
E agora ao fim da tarde,
Mais nada inda me aguarde.
44
Calado, neste canto,
Temor a me exibir
A sina, o meu porvir
O quanto não garanto
O medo sendo tanto
Não tendo mais como ir
Nem mesmo prosseguir
Cevando desencanto
Ainda não prossigo
Em tanto e vão perigo
O risco se anuncia
Na falta de esperança
No câncer que se avança
Amortalhando o dia.
45
Sonhando com favores
De quem um dia eu quis
Pensando ser feliz
Em meio aos dissabores,
Arcando com as dores
Um tempo em cicatriz.
Dos males, chamariz
Sem nunca mais te opores
Vencido pelo nada
A dita anunciada
Nas curvas do caminho,
Aonde quis bastante
Um passo só garante
O amanhecer sozinho...
46
A vida, tanto sonho
Jogado pelos ares
E quando tu notares
O nada em mim componho,
O templo em ar medonho
Destroços nos altares
E em todos os lugares
O ritmo ora enfadonho,
O passo rumo ao vão,
Ausência de algum chão
A queda sobre o cardo,
O medo, o caos e o frio,
A seca atroz e o estio,
Saudade é um duro fardo.
47
Guerreiro; um tolo herói
Gerado pelos medos,
E quanto aos vis enredos
O tempo vem, corrói
O todo se destrói
Em ermos campos, ledos,
E sei dos seus segredos
E nada se constrói
Somente o velho mito,
Dele não necessito
Tampouco o quero além,
O dia a dia a fome
O quanto nos consome
E o sol que nunca vem...
48
Um príncipe virá
Dos ermos do passado,
Gerando outro legado
E sinto aqui ou lá
O quanto tornará
O rumo desejado
Num tempo já traçado
O amor dominará...
Assim a vida passa
E a roupa, o pó e a traça
A frágil fantasia
Desnuda na parede
O olhar traduz a sede
Que nunca se sacia.
49
Em plena fantasia
O manto se puíra,
Nos ermos da mentira
O nada já se cria,
O quanto não havia
E o pouco inda retira
Não resta sombra ou tira
Apenas a agonia.
O canto sem proveito
A lua quando deito
Derrama raios prata,
A sorte não desvenda
Gerando outra contenda
E tanto me maltrata.
50
Num átimo abrirá
Os rumos para quem
Sabendo o quanto vem
Espera e desde já
O mundo renegando
O passo rumo ao tanto,
E quando me adianto
O tempo sonegando,
O risco não sacia
A vida não desnuda,
A sorte tão miúda
O fim da poesia,
O gozo em desalento,
Porém teimando eu tento...
51
Menina que carrega
Os sonhos sobre as costas
Ausência de respostas
A vida dura e cega,
O tempo sempre nega
Assim suas propostas
E quando são depostas
Já nada mais sossega,
Erguendo olhar após
Procuro o rio e a foz
E nada se apresenta,
A sorte em dissabor,
Aonde quis amor
A noite é vã, sangrenta...
52
Não sabe dos demônios
Gerados pelo anseio
E quando em devaneio
Vislumbra os pandemônios
Ataques pelos flancos
Delírios entre sonhos
Momentos mais medonhos
Aonde os quis mais francos,
E resolutamente
A vida não traduz
Sequer a mera luz
Por mais que isto se tente,
Alentos? Nunca mais.
Apenas vendavais...
53
As sortes escolhidas
Os vagos da alma eu sinto,
O tempo, o louco instinto
Procuro em vãs ermidas
As rotas já perdidas
O toque, o manso instinto,
O quanto agora eu minto
Preparo as despedidas,
E sei que já não pude
Rever cada atitude
Ou prever nova queda,
O passo em sobressalto
O medo ora ressalto
E a estrada já se veda.
54
O sonho da menina
Jamais se fez presente,
E quando ainda tente
Porquanto nos fascina
O nada predomina
E a fúria não se ausente
O todo agora sente
O gozo em nova mina,
Emana-se este vinho
Aonde mais sozinho
Pudesse ainda ver
Depois da chuva e medo,
A terra em novo enredo
Enfim a amanhecer.
55
Mas, quieta, nos meus sonhos,
A deusa em luz e glória
Mudando minha história
Em dias mais risonhos,
Os passos enfadonhos
O risco da vanglória
A vida merencória
Meus medos tão medonhos,
Pudesse ainda ter
Algum mero prazer
Depois desta desdita
A lua dentro em mim
Gerenciando o fim,
Jamais se necessita.
56
Eternamente bela
A estrela eu vejo nua
Deitando sobre a rua
O sonho onde se atrela
O quanto outrora em cela
Agora vai, flutua
Além da própria lua
Intensa se revela,
O quanto fora assim
O mundo dentro em mim
Depois de te saber,
Agora em bruma e treva
O tempo inverna e neva
Não vejo o amanhecer...
57
Tempos distantes quando
A adolescência toma
As rédeas; nada a doma,
O mundo transformando,
O todo se negando
O coração em coma,
A vida além da soma,
O templo se adornando.
Depois a chuva e o frio
Num outonal caminho
O quanto vou sozinho
E teimo enquanto espio
A velha adolescência
Com ar de impaciência.
58
E desenho o sorriso
Nos olhos de quem ama,
E tento além da chama
O passo mais conciso,
E tudo o que eu preciso
Sem medo, dor ou drama
O tempo gera e trama
Sem ser qualquer juízo,
O fim, o caos o nada,
A morte anunciada
A esquina em cada queda,
O vândalo cenário
O templo imaginário,
A entrada já se veda.
59
Saudade deste tempo
Aonde se pudera
Beijar a primavera,
Agora em contratempo
O nada se apresenta
E sinto em dissabor
A morte desta flor
Em tarde mais sangrenta
O corte, a poda, o frio
O inverno de minha alma
E nada mais acalma
Um coração sombrio,
Apenas morte e luto,
Porém; ainda luto...
60
Os ventos me trouxeram
Olhares do passado
O mundo desejado,
Os dias não me deram,
E nada mais esperam
Senão terror e enfado,
O corte anunciado
Os passos desesperam,
Gerando dentro em mim
A solução do fim
Negando qualquer chance,
E quanto mais atroz
Mais perto vejo a foz,
A morte ao meu alcance.
61
Nas mãos mais imprecisas
Os passos, cambaleio,
O tempo eu sigo alheio
Além do que precisas,
E sei quanto das brisas
Vieram de permeio,
O mundo que ora anseio
Já não mais vês e avisas,
O término se vendo
O manto em vão remendo
Puída esta esperança,
A corda rota, o fardo,
O fim; somente aguardo
Enquanto o tempo avança.
62
As cores juvenis
São sombras nada mais
Disperso de algum cais
Além do quanto eu quis,
O gesto, o corte, o giz,
Velhos mananciais
As mortes desiguais
O corpo em cicatriz,
A desdentada sorte,
O parto sem suporte
A morte neste instante,
Vagando dentro em mim,
Cevando em luta o fim
Cenário degradante...
63
Olhos, luar... Amor
São meras, vãs lembranças
Agora em tais mudanças
Ausência de calor,
O novo a decompor
Enquanto ao nada lanças
E vês nestas fianças
O mundo em estupor,
Supor que ainda veja
A sorte mais sobeja
O dia após em sol
O risco de sonhar
Vontade par a par
Aquém deste farol...
64
As dores vencerão
Jamais desistiria,
Mas sei desta agonia
Do passo em negação
Aonde há direção
Tentando novo dia,
É mera fantasia
Um sonho de verão...
Atrocidades tais
E nelas os fatais
Momentos; prenuncio,
O rumo se transtorna
A tarde outrora morna
Agora em dor e frio...
65
Um rouxinol cantando
Além do quanto pude
Na minha juventude
Agora se encerrando,
O mundo desde quando
Um dia em vão ilude
Porquanto já se mude
O templo desabando,
O manto em fel e brasa,
A sorte não embasa
Quem busca muito além,
O pranto, o rogo a treva
O nada em mim se ceva
E nada me contém...
66
O sangue enrubescendo
O olhar de quem quisera
Vencer a dura fera
O corte em mero adendo,
E agora se prevendo
O fim da primavera,
O nada mais se espera
Nem paz ora desvendo,
Recebo em dor e pranto
O quanto inda garanto
De um dia que não veio,
O prazo determina
O fim da velha mina,
E sigo além e alheio...
67
Amor tão furioso
Não pude mais conter,
Jamais o quis saber
Deveras raro gozo,
O pranto em ardoroso
Caminho eu posso ver
E tento algum prazer
No mundo pedregoso,
Resumos de outras eras
E neles destemperas
Mergulhas neste vão
Eu busco a mera sombra,
Porém tudo me assombra
A vida dita o não...
68
Na morte deste amor
Aonde eu quis bem mais,
Exposto aos temporais
Encontro em dissabor
Apenas sem rancor
A vida diz jamais,
E o velho porto, o cais
Aonde e como for
Terei num só momento
O quanto ainda invento
E tento novo sonho,
Mas quando se aproxima
A vida muda o clima
Inverno em mim componho.
69
Mas sempre viverás
E sei quanto mais pude
Ao ter tal atitude
Um passo em plena paz,
O olhar se faz audaz
E mostra em plenitude
O quanto mais ilude
A sorte em que se faz,
Gerando um novo dia
A vida mudaria
E tudo será bom,
Mas quando o tempo muda
O que era farta ajuda
Agora noutro tom...
70
Amor que já renasce
Mudando o velho enredo
E quando assim procedo
Expondo a minha face,
No quanto além se grasse
O todo mata o medo,
E sigo e desde cedo
Vencendo o que se trace,
E resolutamente
O tempo não desmente
Prepara outra armadilha,
Quem teve esta esperança
Enquanto ao nada avança
O inverno em si palmilha.
71
Desfilando a beleza
Por ruas e calçadas
Aonde vejo alçadas
Além da correnteza
As sortes, delas presa
Minha alma em alvoradas
Encontra estas lufadas
E as segue com presteza,
Açoda-me o futuro
E vejo enquanto curo
Os medos mais sutis,
Um dia pelo menos
Em ares mais amenos
Quem sabe sou feliz?
72
Caminha tão distante
O olhar de quem procura
A dita se assegura
No posso onde garante
O tanto se adiante
E muda a senda escura,
E sei quanto isto cura
Em ato fascinante.
O passo rumo ao todo,
Entranho medo e lodo,
Mas sei do colossal
Delírio que adivinho
E venço pedra e espinho,
Prevendo um bom final.
73
A vida de esperanças
Em passos mais audazes
Além do quanto trazes
E ao todo quando avanças
Espalhas confianças
E mudas minhas fases,
Gerando em mim as pazes
Em tardes, noites mansas.
Anseios, sonhos, ritos
Momentos mais bonitos
A vida preparara
A quem se dera tanto
E quando agora eu canto
Penetro esta seara...
74
A noite que persigo,
O tempo mais feliz
O quanto contradiz
A falta de um abrigo,
O mundo que consigo
A morte por um triz,
O canto este aprendiz
E nele busco o trigo.
O rastro além da morte
O nada me comporte
E gero outro sinal,
Viceja esta alegria
É pura alegoria
Em ato terminal.
75
Quem dera seu amor
Pudesse ser o meu
O mundo concebeu
Jardim gerando a flor,
E o tempo em tal calor
Jamais bebendo o breu
E o coração ateu
Em luz a se compor,
Na estância desejada
A sorte anunciada
O gozo em redenção,
O medo o passo além
E nada me convém,
Meu passo segue em vão.
76
Os meus mares não passam
De riscos e de medos,
Os dias seus enredos
Os cortes entrelaçam
E tanto se esfumaçam
Além os ritos ledos,
E sei dos meus segredos
E neles vãos se traçam.
Organizando o bote
Aonde amor se note
Eu vejo e me eternizo,
No encanto mais audaz,
O passo já se faz
Além deste granizo.
77
Na graça feminina
O tanto quanto pude
Viver em plenitude
E a sorte já domina
O passo determina
E nada mais me ilude,
Adentro em mim o açude
Dos sonhos, velha mina.
E assim nada retarde
O canto mesmo tarde
E o gozo temporão,
Depois de tanto alheio
O mundo sem rodeio
Encontra a direção.
78
Que morde, que me assanha
E toma a minha pele
Assim em mim já sele
A sorte feita e ganha,
O gozo onde se arranha
O toque que revele,
O beijo onde se atrele
O mar, vale e montanha
Cenário em raro brilho
Aonde em paz polvilho
Iridescente sonho,
Dirimo qualquer medo
E quanto mais concedo
Além, bem mais, proponho...
79
Nos passos veludosos
Os medos, meus anseios
E sigo em devaneios
Procuro majestosos
Caminhos caprichosos
A vida tem seus meios
E neles tantos veios
Em tempos belicosos.
Resisto e mesmo assim,
Vencido vejo o fim,
Mas nada que inda tema,
O corte se anuncia
É morta a fantasia,
Mas rompo a velha algema.
80
Num átimo mergulha
O olhar mais desejado,
E sinto sem enfado
O quanto se vasculha.
Se outrora fui um pulha
Agora transformado
Procuro um manso prado,
Num palheiro, esta agulha.
O vasto caminhar
Em busca de um lugar
Aonde eu possa ter
Além deste non sense
O amor que recompense
E gere este prazer.
81
Ser a caça, seria
O quanto pude e tenho
Aonde mais ferrenho
Pudesse em poesia
Traçar um manso dia,
E sei que não retenho
O mundo em vago empenho,
Pois tudo se recria.
O medo gera a luz
E a luz ao fim conduz
De um túnel onde vejo
O dia ou mesmo o fim,
E volto de onde vim
Somente noutro ensejo.
82
Mas olhares; desvia
Quem sabe busca além
Do quanto mais convém
Ou mesmo poderia,
E assim no dia a dia
Dos sonhos vou aquém,
Mergulho e sem ninguém
Aonde eu viveria
A paz que tanto busco
E quanto mais é brusco
O passo rumo ao fim,
Maior voracidade
E tanto se degrade
O mundo dentro em mim.
83
Na sua vida um mero
Caminho em vaga luz,
E quando me propus
E fui claro e sincero,
Agora nada quero
E nada mais seduz
Que tanto já fez jus
E sigo enfim austero,
O rastro do passado
O tempo anunciado,
O gesto mais suave,
O coração liberto
O manto já deserto
E vago feito uma ave.
84
A espero afinal, Lara
A quem amei e pude
Durante a juventude
Tocar rara seara
Aonde já se ampara
O sonho em plenitude
E mesmo que isto mude,
A sorte ali foi rara,
A morte, o medo e o vão
Ausente atracação
De um barco sem destino,
O roto olhar agora
Além não mais se aflora,
E aos poucos me alucino...
85
Mudanças! Necessito
E nada mais me impede
Nem mesmo se procede
A dor, a fome e o mito,
O quanto em infinito
O rumo onde se cede
O vento me concede
O gozo mais aflito,
Refém de um devaneio
O sonho ainda anseio,
Pois tornará possível
O todo que inda agora
Já sinto não se aflora
E não vejo plausível
86
Já me flagraste tonto
Em noites sonho farto,
Acesa a luz do quarto
Aos poucos me defronto
E vejo em tal confronto
O quanto já me aparto
Do gozo e tento e parto
Enquanto o não remonto.
Vestindo este fantoche
Exposto ao teu deboche,
Um histrião se faz
Na face desdentada
A sorte desejada
Agora em fim mordaz.
87
Que sempre me impediram
De um passo com firmeza
Aonde sem presteza
As sortes não se viram,
Palavras se desfiram
E nelas sem surpresa
A morte em tal vileza
E os sonhos já se expiram.
Respiro este abandono
E quando desabono
Hermético caminho,
O vago sempre assoma
E tudo em tal redoma
Deixando-me sozinho.
88
Agora já não quero
Sequer olhar pra trás
E o quanto não se traz
De um tempo mais austero,
O mundo não venero
Nem tento um passo audaz,
O corte foi voraz
E em vão me desespero.
Gerando outro demônio
E nele este campônio
Em lavras mais sutis,
Agora em pleno estio,
O verso eu esvazio
Ausenta-se o que eu quis.
89
Um dia, me recordo
Dos tantos entre os medos
Desvios, desenredos
E quando estando a bordo
Do sonho; enquanto acordo
Os dias seguem ledos
E tantos vãos segredos
Com eles não concordo,
Apenas aprendendo
A ser qualquer remendo
Emendo os versos quando
Percebo a sebe atroz
E sem ter mais a voz,
Aos poucos me negando.
90
Correndo no jardim
Dos sonhos de criança
A sorte nunca avança
Ditando agora o fim,
E quando sigo assim
Ao léu sem confiança
Preparo outra esperança
E a morte vem a mim.
Pudesse ainda crer
No quanto do querer
Existe ou mesmo resta,
Mas quando se anuncia
Vazio o mero dia,
A sorte não se atesta.
91
As luzes que ficaram
Ou mesmo não vieram,
Os passos desesperam
Os partos desamparam,
Os ritos terminaram
Além do que se esperam
E nada mais, pois geram
Ou nada me entregaram,
Somente o vago e o medo
E quando assim procedo
Encontro especular
Fantasma de minha alma,
Aonde nada acalma
Só resta e em vão, vagar.
92
Não me deixam sentir
Nem mesmo as ilusões
E quando mais te expões
Desnudas o porvir
E sinto onde há de vir
Diversas tentações
E nunca soluções
No tempo a pressentir,
O rastro, o passo e a queda
O mundo hoje se enreda
Nos ermos do meu sonho,
E quando sou voraz
Já nada satisfaz
Nem mesmo o que componho.
93
Jogávamos no sonho
As ânsias mais sutis
E fui até feliz
Embora tão tristonho
E agora se proponho
E nisto até já quis
Vencer a cicatriz
De um temporal medonho
Eu posso caminhar
Sabendo do luar
E nele me entregando,
Mas desde cedo e quando
A vida se desnuda,
A dor é mais aguda...
94
Julgávamos viver
Um infinito ou mais,
Exposto aos magistrais
Caminhos pude ver
O quanto do querer
Entranha tais cristais
E tento o mesmo cais
Das ânsias de um prazer,
Dessedentando a vida
Cevando esta saída
Em porta mais suave,
Mas quando se percebe
A turva e tosca sebe
O passo em vão se entrave.
95
Histórias deste amor
De tantos sonhos quando
O rumo desvendando
Além do quanto opor
O corte gera a flor
E tudo transformando
No tempo nos podando
Em tréguas muda a cor,
Eu sinto em amplitude
Maior o que me ilude
E gera a persistência,
O amor nunca se faz
Em manto tão mordaz
Nem mesmo em prepotência.
96
A noite vem trazendo
O medo, o frio e a treva
O quanto já se atreva
O passo se revendo,
Quem dera em estupendo
Delírio nova ceva
A sorte mais longeva
No amor seu dividendo
Encontra o raro apoio
E sei ser mais que joio,
Um tempo aberto em mim,
Depois dos vendavais
Percorro estes trigais
E teimo em meu jardim.
97
Meu mundo se desaba
O temporal assisto,
E quando mais do que isto
O corte nega a taba
A senda não se gaba
Do quanto inda resisto,
Nem mesmo se eu existo
Ou tudo em vão se acaba,
Ao menos quis rever
Cenários a tecer
Nos olhos mais sombrios,
Meu tempo terminado,
O peso gera o enfado,
E o enfado dores, frios...
98
Nos escombros dos sonhos
Olhando para trás
O quanto não se faz
Nem mesmo em tais risonhos
Caminhos enfadonhos
O passo mais audaz,
O sonho mais voraz,
Meus dias são bisonhos...
Resisto e mesmo posso
Moldando um mundo nosso
Saber do quanto resto
E tento novamente
Além do que se sente
Em firme e claro gesto...
152
99
Percebo o quanto pude além do nada
E dito os meus anseios vida afora
Aonde tão somente desancora
A sorte há muito tempo naufragada,
Resumo meu caminho na alvorada
E nela cada luz inda decora
Quem tenta rebrilhar e se demora
Além da própria vida anunciada,
Aprendo com meus erros, sempre assim,
Depois do quase nada resta o fim
E o bêbado desnudo em plena rua,
Um pária entorpecido bebe o sonho
E neste mar ausente eu me reponho,
Porém alma liberta, vai, flutua...
100
Prenunciando o fim de quem se fez
Além de meramente alguma luz
O pranto o corte o cego o fardo a cruz
Aonde gera a torpe insensatez,
No quanto do remendo que ora vês
O passo noutra face reproduz
Errático delírio eu faço jus
E teimo embora em mim a estupidez.
Quisera a cupidez de um vão lirismo,
Galgando algum cenário espúrio eu cismo
E tento contra a fúria da esperança,
A mão prepara o corte, fina adaga,
A morte com certeza inda me afaga
Enquanto no vazio o sonho lança...
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