1
Abençoado o dia
Aonde pude ver
Nos ermos de um viver
Raiando esta alegria
O todo não seria
Somente de prazer,
Porém se bendizia
Nas tramas do querer
O sol sobre o quintal
As roupas no varal
O coração quarando,
O tempo foi passando
E tudo bem ou mal,
Aos poucos transformando.
2
Andavas pelas ruas
À luz de tanto sol,
Reinando no arrebol
Enquanto ali flutuas
E passas; continuas,
Da vida o meu farol,
Qual fora um girassol
Vontades minhas? Tuas.
Pudesse em liberdade
Beber a claridade
Que espalhas quando passas,
Porém minha alma espreita
Vislumbra esta perfeita
Deidade em ruas, praças.
3
Da bela e tão amada
Mulher feita menina,
O amor toma e domina
E reina em mãos de fada.
A sorte anunciada
Aos poucos determina
E revelando a sina,
Há tanto; desejada.
Vislumbro em cada canto
O sonho onde garanto
Um claro amanhecer,
E sigo passo a passo
No encanto em que me faço
Escravo do querer.
4
O tempo inda corrói
Quem dele já duvida
Assim a despedida
Deveras doma e dói,
O quanto se constrói
Ou mesmo já perdida
Seara percorrida
Saudade enfim remói.
Pudesse ter ainda
O sonho onde se brinda
À glória de um instante,
Mas nada resta então
E o tempo em solidão
De nada me garante.
5
Estava passeando
Nos astros, sóis e luas
E vê-las belas, nuas
Cenário me tomando,
As emoções em bando
Aonde além atuas,
Verdades sendo cruas
O tempo abençoando.
Mas logo se percebe
O vazio da sebe
A sede não sacia,
E quando vejo enfim
Ausente e chego ao fim,
A noite é frágil, fria.
6
Em férias, a buscar
Algum alento além
Do pouco que contém
Estrela céu e mar,
Entregue ao desejar
E tendo noutro alguém
O quanto muito bem
Aprendera a mirar,
Galopo sobre os astros
Os riscos são meus lastros
Adentro a imensidade,
Depois desta viagem,
Sem porto nem pastagem,
O que resta é saudade...
7
Neste mesmo momento
Aonde um dia eu vira
As marcas da mentira,
A vida em desalento
Ainda não contento
E o coração se atira
Rompendo em cada tira
Expondo a vida ao vento.
No pasto, o gado, o prado
Searas em verdejo,
O corte da ilusão
Estio e negação,
O meu final; prevejo.
8
Um fascinante lume
Um brilho sem igual
Domina este quintal
E tanto se perfume,
Vagando sem costume
Caminho magistral
No canto atemporal
Que tudo não se esfume.
Mergulho nos teus braços
Estreito os fortes laços
Em passos mais além,
E sigo galopando
Estrelas desvendando
Nos olhos do meu bem.
9
Estava transtornado
Depois de tanta luta
A vida não me escuta,
Um canto abandonado
E agora lado a lado
Enfrentamos a astuta
A fera não reluta
O bote atocaiado,
Somando corpo e porto,
Um mundo antigo e morto
Renova-se em promessa.
E o quanto já perdi
Renovo estando aqui
E a vida recomeça.
10
Dor que nunca pensei
Ou mesmo quis um dia,
Ausente fantasia
Castelo já sem rei,
No quanto me entreguei
E sei que não podia
Mera melancolia
É tudo o quanto herdei,
Negando o passo enquanto
Ainda tento e canto,
Disfarço bem ou mal,
Errático delírio
Apenas em martírio
Prepara o meu final.
11
Juventude se ilude
Com ares de promessa,
E tendo tanta pressa
Ainda em plenitude
Viver além; não pude
O passo em vão tropeça
E quanto a vida engessa
Ou nada mesmo mude.
Arranco algum sorriso
Aonde me matizo
Agrisalhado véu,
Depois de tantos anos,
Terrores desenganos,
Não quero carrossel.
12
Rimas pobres, meus versos
Jogados neste vento,
Do sonho me alimento
Em vários universos,
Os dias são dispersos
A vida um desalento
E quando ainda tento,
Os ritos; mais diversos.
Versando sobre o nada
A sorte desejada
Jamais seria minha,
E tendo esta incerteza
O amor negando a mesa
Somente o vão continha.
13
Andavam vagabundos
Olhares sem destino,
Se às vezes me alucino
Teimando em velhos mundos,
Os dias mais profundos
E neles não afino
O coração menino
Em pântanos imundos.
Não pude e nem pudera
Viver se a primavera
Sonega qualquer cor,
Outono se invernando
O tempo desde quanto
Sem tempo gera a dor.
14
Tantas vezes procuro
Algum lugar, eu tento
Enfrento o desalento
E cevo em chão tão duro,
O quanto me amarguro
Ou mesmo sem provento
No nada me alimento
E assim tanto torturo,
Resquícios de uma vida
Outrora decidida
Em ânsias mais felizes,
Dos passos sem destino,
Meu canto eu não domino,
E nele cicatrizes.
15
Dos olhos deste amor
Aonde pude crer
No quanto do querer
Perdera a sua cor,
E seja como for,
No pouco ou saber,
Na ausência de prazer
No gozo sonhador,
A lua sobre o campo
Em cada pirilampo
Estrelas; irradia
E tomo com doçura
A luz que se procura
Translado à noite o dia.
16
Vasculho por planetas
Entranho constelares
E tanto a te buscares
Embora não prometas,
As sortes são cometas,
Assim sem tais lugares
Aonde me amparares
Adentro furnas, gretas.
Erguendo por defesa
O sonho em fortaleza,
A boca escancarada
Sorvendo cada parte
Do nada em que reparte
A morte anunciada.
17
Muitas vezes, eu creio,
No pouco que inda resta
E quando em fria festa
Ousando algum recreio,
O olhar seguindo alheio
Procura pela fresta
Aonde já se empresta
O fim que tanto anseio.
Cavalos e montanhas
Partidas, ermos, sanhas
Já nada mais teria,
Somente esta certeza
Da vida em tal vileza
Etereamente fria.
18
Amor que se desnude
E teime contra a fúria
Da vida em tal penúria
Marcando esta atitude
Inconstante amplitude
Beirando mesmo à incúria,
Sem tempo pra lamúria
Ainda quando mude,
O vaso quebradiço
O todo onde cobiço
Instante mais feliz,
No passo rumo ao farto
Se o medo ora descarto
Vivendo o quanto eu quis.
19
Mudou e não deixou
Sequer seu endereço
Quem tanto no começo
Os sonhos; dominou,
E agora se inda sou
Apenas adereço,
Meu erro eu reconheço
E tudo transformou.
Aprendo muito ou nada
E tento em nova estada
Aquela que não vinha,
A boca, o beijo, o lábio
O sonho ausente ou sábio
Um dia; serás minha!
20
A seta procurando
A vítima ideal
Cupido bem ou mal,
O tempo transformando,
E sei que desde quando
Momento sem igual,
Pudesse este sinal
Em mim também toando
Um ritmo bem diverso
Moldando cada verso
E tendo outro destino,
Enquanto quero ou não,
Não tendo solução
Apenas me fascino.
1
Não sabe, nunca viu,
Quem tanto quis e nada
A musa desenhada
Em ar claro e gentil
Agora sendo vil
Não diz da anunciada
Manhã imaginada
Ou mesmo mais sutil.
A fonte, a fúria o medo
E o quanto me concedo
Ou nada ainda traço,
Aos poucos num remendo
O encanto eu não desvendo
E em roto rumo eu traço.
2
Espero companhia
De quem pudesse ainda
Em noite clara e linda
Viver a poesia,
Mas logo esta ironia
Com dor e medo brinda,
E tudo ali se finda
Ausência em fantasia.
Resido na esperança
E quando ainda alcança
Talvez mostre este alento,
Mas quanto mais distante
O passo não garante
Sequer o menor vento.
3
De novo a tantas praias
O coração levasse,
E quanto mais se grasse
Aonde não espraias
E mesmo quando traias
Mostrando a vera face,
O engodo não mais trace
Senão por onde caias,
Caiando a fantasia
Gerando a melodia
Ourives do não ser,
Pudera ao menos isto,
Saber quanto eu resisto
Atento a algum prazer.
4
Verão que se transborda
Em luzes bem mais fortes,
Assim quando comportes
Da vida a fina corda,
Enquanto se discorda
Ou teima noutros nortes,
As ânsias não suportes
E a sorte não te acorda,
Jogado em fogaréu
Coberto pelo véu
Desta infelicidade,
Rebanhos entre sonhos,
Os pastos tão medonhos,
Nem mesmo o canto agrade.
5
Não deixa primavera
Sequer talvez um traço
Aonde teimo e faço
A vida noutra esfera,
E quanto mais se espera
Maior o meu cansaço,
No passo me embaraço
Exposto à fúria e à fera
O vento se aproxima
E todo o manso clima
Agora em temporal,
Mundana fantasia
A sorte não seria
Deveras mais igual.
6
Procuro angustiado
Um canto aonde eu tente
Viver sem penitente
Delírio lado a lado,
O corte anunciado
O sonho onde se invente
O amor tanto da gente
A sorte sem recado,
O pântano persiste
E nada mais consiste
Senão num triste engodo,
Do amor outrora forte,
Agora nem se importe
Com morte, corte ou lodo.
7
Por minha companheira
De lutas e vazios
Durante dias frios
Ou senda traiçoeira
A vida não se esgueira
E bebe estes sombrios
Momentos, desafios
Jamais verte em cegueira,
Alheios aos embates
Aonde me arrebates
Estrelas, carrosséis,
O manto constelar
Vontade de tocar
Sorver os féis e méis.
8
Ninguém jamais dirá
A quem feito andarilho
Ousando quando trilho
Sabendo aqui ou lá
Do sol que negará
Ainda qualquer brilho,
Porém deste empecilho
Meu canto forjará
A fonte não sacia
O rosto em ironia
A face feita em ruga,
Especular destino,
Se nada mais domino,
Não busco qualquer fuga.
9
As nuvens que carrego
Da fome nos sinais,
Nos olhos terminais
Num rumo em nó tão cego,
E quanto mais navego
Atravesso os umbrais
E vejo os animais
E neles o meu ego.
Meninos e meninas
Os gozos nas esquinas
Vendeta em baixo preço,
E o corte na raiz
Ainda quanto quis
Apenas um tropeço.
10
Nos barcos que hoje trago
A fome de justiça
O olhar gera a cobiça
À morte algum afago,
O peso em cada bago,
A terra movediça
O sonho o gozo e a liça
O fogo eu não apago,
Tentando acreditar
Ainda num lugar
Diverso do que vejo,
Mas quanto mais me entranho,
Maior perda e sem ganho,
Em mim raro trovejo.
11
Na busca d’outro sonho
Aonde pude ver
A sombra do querer
Num ar mais enfadonho,
O quanto não proponho
Ou passo a conhecer
Depois de poder ter
O olhar triste ou bisonho,
Não vejo outra saída
A sorte produzida
Nas mãos de quem labuta
Não tendo menor chance
Enquanto sempre avance
O cão filho da puta.
12
As tábuas deste amor
Jogadas pelo templo
Aonde fora exemplo
Agora é dissabor
Do pobre redentor
Riqueza que contemplo
E nisto já me exemplo
No solo enganador.
A falta de esperança
O falso da promessa
Ao nada me endereça
Quem no vazio lança
Cordeiro? Nem rebanho,
Cangalha eu sempre estranho.
13
Mas quando te cravava
As garras no teu peito,
Enquanto fora aceito
Ou mesmo em dura trava
A sorte não tocava
Negando qualquer feito,
E quando em vão me deito,
A maré bem mais brava,
O gesto, outro começo
Além do que mereço
Talvez finalizasse
O tempo mais sutil,
Enquanto nada viu,
Marcando a mesma face.
14
Por certo, tanta vez
Quanto pudesse então
Viver frio ou verão
O mundo não me fez
Sequer em altivez
Na gelidez do vão
A sorte dita o não,
E nele nada vês,
Somente o que retrato
E nisto, eu sei de fato
O quanto nada sou,
Nos ermos de um alheio
Cenário onde rodeio
O pouco que restou.
15
Distante das promessas
Das quais não me acostumo,
Encontro ou não meu rumo
Aonde tu tropeças
Juntando velhas peças
No todo já se esfumo,
E logo se eu me aprumo
Teus erros; não confessas.
Sou mero sonhador
E sei do quanto em dor
O sonho se faz claro,
Por isso na verdade
Ainda em vão me invade
Aquém do que declaro.
16
Amor que dilacera
O olhar audacioso
E tanto enquanto em gozo
Ausenta esta quimera
Por outro lado gera
O canto desairoso
E sei que caprichoso
Negando a primavera.
O verso inverte o norte
E mesmo quando corte
Gerando outra semente,
A vida em promissória
A sorte mais inglória
O coração só mente.
17
O grito da discórdia
O medo do não ser
Aonde algum prazer
Gerando tal mixórdia
Não pude e nem queria
Sentir o quanto é rude
O amor quando me ilude
Em noite clara ou fria,
Percebo além da curva
O leito da viúva
O canto o medo a chuva
Esta água agora turva,
E o riso de desdém
De quem nada contém.
18
Morreu de inanição
Quem tanto se alimenta
Da vida esta sedenta
Loucura em divisão,
No quanto é diversão
Ou mesmo o amor fomenta,
No pouco ou tanto venta
Gerando outro verão,
Incrusta dentro em mim
O lanho que sem fim
Perpetuando a dor,
Não vejo mais talvez
O quanto ainda vês
Perdendo qualquer cor.
19
Lua. Morte sutil
Aonde tive a glória
De mudar minha história
No quanto já se viu,
Ou nada pressentiu
Quem tenta em merencória
Traçar dor ou vitória
Em meio ao passo ateu,
Eu visto esta camisa
E o tempo ainda avisa
Do inverno que virá,
Esgoto sem promessa
O quanto se tropeça
E sei aqui ou lá.
20
Saberia que aurora
Já não me traz alento,
E quantas vezes tento
O barco desancora,
Beleza em fauna e flora,
O mundo em seu provento
Enquanto além detento
O sonho desarvora.
Negando o passo aonde
O nada ainda esconde
E nada muda o rumo,
Assim o pouco em mim,
Enquanto chego ao fim,
Deveras me consumo.
1
Nos ermos desse amor
Perpetuando o nada
Aonde quis estada
O rumo em estupor
O velho sonhador
Vagando pela estrada
Há tanto abandonada
Sem rumo, meta ou flor,
Resido no que fora
A sorte tentadora
Ou mesmo o desvario,
Enquanto o verso eu crio
O quanto desafio
Senda avassaladora.
2
O trunfo que guardei
Dirime o pesadelo,
Mas quando posso vê-lo
Percebo o quanto errei,
Um ás valete ou rei,
A sorte em tal desvelo
O mundo em vão novelo
Aos poucos entranhei,
E deixo para trás
O quanto satisfaz
Mordaz e tenramente,
Arcando com a fé,
Enquanto dera pé,
Porém a crença mente.
3
Esqueci de jogar
Os sonhos sobre a mesa,
A vida em fortaleza
Não posso, sem lugar
Ainda decifrar
Se apenas incerteza
Enfrento sem destreza
E tento até lutar.
Mas quando vejo o corte
E nada mais conforte
Quem ermo descaminha,
Minha alma se inda tenho
No olhar tolo e ferrenho
Jamais seria minha.
4
Amor quando termina
Ou mesmo dita a regra
E sempre desintegra
No passo em seca mina,
Matéria cristalina
O canto nunca regra
E quando a dor integra
O passo que domina,
O medo se anuncia
E toma a cada dia
Espaço até não ter
Sequer um mero vago
Aonde não me afago
E morro em desprazer.
5
Não passa de arremedo
Remendos que fizera
Ausente nesta espera
O nada eu me concedo,
E quando assim procedo
O todo destempera
Revivo esta quimera
Mudando desde cedo
O passo, ou quanto mais,
Os dias desiguais
E os ermos sempre alheios,
Não pude e nem teria
Ainda esta alegria
Diversa dos anseios.
6
O sol poente morre
Nos ermos desta bruma
E a vida se acostuma
Sem ter quem a socorre,
O mundo anda de porre
E teima enquanto esfuma
A morte ainda apruma
Aonde o passo forre.
Não tive e nem tentasse
A mansidão na face
Em rugas já desfeita,
Amortalhado passo
Enquanto nada faço,
Minha alma em vão se deita.
7
Sem brilho não clareia
O pasto aonde eu tento
Vencer o sofrimento
Numa ânsia quase alheia,
O pó que me rodeia,
Entregue ao vário vento
Alheio ao sofrimento
O nada me incendeia,
Candeia da ilusão
Agora em direção
Ao fogaréu disperso,
E sinto assim colheita
Aonde se deleita
Enfim o duro verso.
8
Dos sonhos. Não flamejo
Nem poderia enquanto
Ainda tento e canto
Roubar este azulejo
Que nunca mais prevejo
Em pleno desencanto,
A negritude em manto
Ausente eu não harpejo
Imerso nos meus vagos,
Procuro por afagos
E nada mais teria,
Se a sorte é mais sedenta
O quanto não se inventa
Matando a poesia.
9
Nos raios deste amor
Adentro os vendavais
E teimo em rituais
Aonde o dissabor
Gerando a podre flor
Queimando em desiguais
Momentos sem sinais
De um tempo redentor
Avança sobre a senda
E quando não se estenda
E mate tudo em volta,
O olhar tão piedoso
No fundo mais jocoso
Esconde esta revolta.
10
A noite que pensei
Talvez pudesse ainda
Trazer o quanto brinda
Em rito onde entranhei
O passo rouba à grei
Verdade onde deslinda
A sorte sendo infinda
No tempo mergulhei,
Erguera esta barreira
A nela a corriqueira
Ausência de esperança
A chuva, a curva o medo,
E quando me concedo
Enfrento fúria e lança.
11
Não veio nem virá
Quem fez desta verdade
Ausente liberdade
E sabe desde já
Cadência domará
Meu passo sem a grade
E quando enfim invade
O porto negará
Acolhedor caminho
E sendo vão mesquinho
O dia não se traz
Senão sem serventia
Ainda em alegria
O olhar se faz mordaz.
12
As cores desbotadas
As ruas sem ninguém
O parto não retém
As vidas ansiadas,
E quando em alvoradas
A sorte não mais vem,
Do encanto sou refém
Imerso nos teus nadas,
Arquejo quanto luto
E sendo mais astuto
Otimizando o passo,
No fundo não mergulho
Se eu sei do pedregulho,
Outro caminho eu traço.
13
Não fazem do cenário
Sequer a serventia
Aonde poderia
Haver o temerário
Cantar desnecessário
Ou mesmo esta alegria
Ditame da ironia
Caminho imaginário.
Olhando para traz
O quando ainda trás
Do passo que não dera,
Estende cada braço
E quanto mais desfaço
Alimentando a fera.
14
Não trazem, no horizonte
Raios que necessito
E sei deste infinito
Aonde não se aponte
Nem mesmo mais desponte
Um dia tão bonito,
O olhar claro e bendito
Gestando nova fonte.
Ourives da esperança
Aprendo em temperança
Vencer vicissitudes
E sei também porquanto
No passo que adianto
Deveras tu me iludes.
15
Restando só meu mundo
Dos mundos que eu criara,
A vida não declara
O coração imundo
E quando me aprofundo
Nos ermos da seara
A face se escancara
O peito é vagabundo,
O risco de sonhar
O gozo de tocar
Além destas estrelas
Palavras lavro em mim
E tento em tal jardim
Apenas poder vê-las.
16
Na ponta dos pés, manso
Encontro a quem pudera
Enfrentando esta fera
Aonde já me canso
Vencer qualquer remanso
O nada, nada gera
E o porto que se espera
Agora não alcanço.
Repare nesta lua
Expressa bela e nua
Realidade além
Do verso que inda pude
Em toda plenitude,
Mas nada enfim contém.
17
Procuro pelos rastros
Nos passos que deixaste
A vida sem contraste
Deixando além os mastros
Perpetuando lastros
E neles me encontraste
Se em vida fora um traste
O coração diz astros,
Vagando por caminhos
Ausentes e mesquinhos
Em órbitas diversas
Enquanto a imensidão
Ausente em direção
Aos poucos tu dispersas.
18
O rio que me leva
O olhar que me sustenta
Adentro outra tormenta
Bebendo cada treva
O amor em dura leva
A sorte tão sedenta,
O coração não tenta
Nem mesmo já se atreva
A perceber além
O quanto não contém
Nem mesmo pode haver
Sementes da emoção
Em duro árido chão
Jamais há o que colher.
19
Mostrava uma sereia
Desnuda em fantasia
Agora a maresia
Adentra em fina areia
E a sorte já se alheia
De quem não poderia
Saber de uma alegria
Que tanto enfim anseia.
Meu verso em tal lirismo
Aporta novo abismo
Mergulha neste vão,
Aonde se fez tanto
Agora em desencanto,
Das dores, procissão.
20
Infernos, paraísos,
Cenários quase iguais
E quando busco mais
Que dias imprecisos,
Ausentes os sorrisos
Ou mesmo os triunfais
Caminhos em cristais
Em turbulentos guizos.
Resolvo e me resumo
No quanto sem meu rumo
Adentro este vazio,
Demônios, querubins,
Serpentes e jardins
Com versos desafio.
1
Mas a busca não pára
Enquanto houver saída
A sorte em despedida
A vida se escancara
E perco a distraída
Noção que ainda ampara
E tento outra seara
Já muito pressentida
Nas curvas do caminho
Nos ermos do meu ser
E quando apodrecer
Gerar somente espinho,
Não tento perceber
Se eu vou ou não sozinho.
2
Lusco-fusco me invade
Nas ânsias onde um dia
Pudesse em alegria
Vencer a tempestade,
Porém nesta ansiedade
O pouco restaria
Ou tanto poderia
Viver plena verdade.
O fausto aonde a vida
Por vezes distraída
Permite algum alento,
Eu sei que nada vale,
Bem antes que se cale
Algum sorriso eu tento.
3
Mas o desejo, ardente,
De tempos mais sutis
E tanto quanto eu fiz
Ainda quando invente
O mundo, de repente
Não tendo este matiz
Percorre em cicatriz
O rito penitente,
Vergando sob o peso
O passo agora preso
Desprezo se acumula,
No olhar extasiado
Às sombras do passado
Apenas mera gula.
4
Remansos e cascatas
Deliciosamente
O tempo não desmente
Enquanto me maltratas
E tanto quanto ingratas
As sortes que se sente
Ou nada inda aparente
Ainda se arrebatas.
Os olhos sem porvir
O nada por sentir
O mundo não dá tréguas,
Quem tanto quis um dia
Agora se faria
Distante, tantas léguas...
5
Os traçados lunares
Os olhos muito além
Do quanto inda convém
Ainda que lutares
E quando te entregares
O mundo sem desdém,
Procura outro refém
Gerando vis altares,
O marca da pantera
A fera, a garra espera
O corte não sacia,
E tento embora em vão
Conter a ingratidão
Imensa e vil sangria.
6
Saudades e tristezas
Olhares sem destino,
Aonde me alucino
Em meio às correntezas
Sem ter as fortalezas
Apenas não domino
O passo e o vão menino
Dos sonhos, vãs empresas
Mergulha no passado
Bebendo do negado
E tendo outro momento
Ainda que cruel,
Alçando em turvo véu
O imenso sofrimento.
7
Caminhos que persigo
Em meio aos pedregulhos,
E quando em vis mergulhos
O tempo em desabrigo,
Vivera enfim contigo
Imerso nos orgulhos
Ouvindo estes marulhos
Do mar que inda prossigo.
Navego sem sequer
Saber do que puder
Ainda no horizonte.
O nada me guiando,
O tempo se entornando
Aonde o vão se aponte.
8
Vislumbro, do clamor
O olhar mais indigente
E quanto mais se sente
Em fúria farto amor,
O passo sonhador,
O coração demente
E nada me apascente
Vivendo em plena dor.
Restando pouco ou nada
Do quanto fora alçada
Além da própria queda,
No torpe caminhar
Distante do sonhar
O passo se envereda.
9
Cingindo meus amores,
Cevando este canteiro
Ainda o derradeiro
E nele sei as flores
Diversos tons e cores,
O sonho aventureiro
Traçando por inteiro
O quanto não te opores.
Vencer os desenganos
Puídos, velhos panos
Os danos não mais vejo,
E tento outra promessa
Aonde se tropeça
A sombra de um desejo.
10
Perdido entre esplendores
Olhar procura alento
E quanto mais invento
Em ritos sonhadores,
Diversos dissabores
Expostos neste vento
Aonde o pensamento
Dourara em raras flores,
Não vejo nada e penso
No quanto fora imenso
O mar que ora perdi,
Vagando sem destino
No quanto não domino
Chegando enfim a ti.
11
Os olhos disfarçados
Momentos terminais
De quem se fez bem mais
E nega velhos fados,
Os dias deserdados
Olhares sem sinais
De sonhos magistrais
À mesa; torpes dados,
Os dardos arremeto
E quando me prometo
Um arremedo apenas,
Ilhando o pensamento
Porquanto ainda invento
Nem mesmo me serenas.
12
Escondem-se em teu pranto
Os dias onde pude
Viver a juventude
E agora quando canto
Adentro em desencanto
O máximo que ilude
Se nada mais já mude
Restando o que garanto
Somente da ilusão
Os ermos desde então
São velhos companheiros,
As flores já não tenho,
O amor claro e ferrenho
Aborta tais canteiros.
13
Ao gerar este vinho
Aonde não pudera
Vencer a primavera
Seguindo mais sozinho
No nada se me aninho
Encontro a fúria e a fera
O porte desespera
E tanto sou mesquinho
Qual fosse em mera luz
O nada me conduz
Somente ao nada e sinto
O amor que um dia eu quis
Aquém da cicatriz
Agora sendo extinto.
14
Da mansidão transborda
O olhar iridescente
E quando se pressente
O todo rompe a corda,
E subo à velha borda
Ainda que se tente
Vencer o penitente
Delírio se recorda,
Do vento mais feroz
E nada dentro em nós
Pudesse apascentar,
O riso discordante
O nada se adiante
E toma este lugar.
15
A mão que me maltrata
O corte aonde tento
Vencer o sofrimento
Na fúria mais ingrata
O passo se desata
E nele ainda invento
O quanto em pensamento
Adentro céu e mata,
Cascatas e temores
Ausência de pudores
Humores variados,
Os dias não são meus
Apenas teu adeus
Desenha os novos fados.
16
O brilho que me dás
No olhar enclausurado
O peso de um legado
Ausente qualquer paz
O riso mais capaz
O conto sonegado,
O verso imaginado
O nada satisfaz,
Eu vejo e me retrato
Quebrando o velho prato
E nada me sacia,
Domino mal e mal
O sonho desigual
Gerando um velho dia.
17
Mas sabes que amanhã
Não tendo nova chance
Aonde for e lance
A vida noutro afã
Pudera de malsã
O quanto ainda alcance
No passo, num nuance
A sorte temporã,
A morte não permite
Além deste limite
E sei quando a obedeço,
A velha fantasia
Apenas ironia,
Um frágil adereço.
18
Não quero ser somente
A falta de esperança
No corte em temperança
A morte outra semente,
O vago se pressente
E tudo enfim me lança
Ao mundo sem pujança
Num ato mais descrente
Encerro o meu caminho
E sei sendo mesquinho
O quanto não mais pude,
Em solilóquio invento
Um novo sentimento,
Idêntica atitude.
19
Amarras que me prendes
Olhares onde espias
As horas mais vazias
Aonde nada estendes,
E quando não desvendes
As ruas que querias
As sortes que sabias
E nelas nunca entendes
Os passos rumo ao não,
O corte, a procissão
O porte e a fantasia,
Depois de certos anos
Envolto em tantos danos
Amor não mais teria.
20
Amores se repetem
Ou mesmo se remendam,
Enquanto não se estendam
E ainda que competem
No nada já refletem
Os riscos e se emendam
Nas ânsias que inda entendam
Além e se prometem.
O peso da existência
Aonde quis clemência
Vergando quem pudera
Sentir o doce aroma
E nele já se doma
Infinda primavera.
1
Em todos os momentos
Ainda que sombrios
Envolto em desvarios
Além dos sofrimentos
Pudesse ter proventos
Em novas fontes, rios,
Mas nada além dos frios
Imensos torpes ventos,
Adentro os meus recônditos
Em sonhos quase indômitos
E tento novamente
Achar uma saída
Há tanto entristecida
E a vida, volta e mente.
2
Na busca do esplendor
Aonde nada mais
Que as ânsias tão iguais
Traduzem tanta dor,
Percebo o refletor
Caminho entre os fatais
Demônios magistrais
E neles busco a flor,
Alheio ao farto engano,
O quanto enfim me dano
Ou tento novo prumo,
Esconde esta verdade
E teimo em falsidade
Aonde me acostumo.
3
Um dia, passeando
Nas ânsias deste sonho
O tanto decomponho
E gero novo infando,
O medo me rondando
O corte se enfadonho,
O passo mais bisonho
Ausência em tempo brando
O fardo se acumula
Apenas velha gula
A porta se trancara,
E o vasto do horizonte
Aonde nada aponte
Nem mesmo a lua clara.
4
As águas fascinantes,
Os dias em resgate
Aonde se arrebate
Em sonhos diamantes,
Mas nada me garantes
Sequer o mesmo embate
E quando me arremate
Entranho em tais instantes,
Acendo este pavio
E teimo no estopim
Sonego se inda vim
O tempo agora é frio,
O corte, a morte o nada,
Ausência anunciada.
5
Meu coração deixado
Num canto desta sala,
O todo me avassala
E nada do legado
Aonde sei errado
O corte onde se fala
A boca se regala
Do beijo nunca dado.
O parto refletindo
O quanto agora findo
Num verso ou num soneto,
E tento novamente
Embora já descrente
E nada mais prometo.
6
Nos olhos da sirena
O corpo a sorte, o rito,
Adentro este infinito
Delírio que envenena,
E nada mais serena
Quem teve como mito
O sonho mais bonito
Em lua tão amena.
Areia movediça
A sorte não mais viça
E torna em dor a lida,
A praia, a noite e a lua,
Beleza seminua
Estrada já perdida...
7
Achando que pudera
Sentir mais plenamente
O todo onde se tente
Vencer qualquer quimera,
O manto que me espera
A porta se apresente
Trancada e novamente
O nada desespera.
Alhures ouço um canto
E tento além, portanto
Crisálida de um sonho,
Mas quando a larva morre
Sem nada que a socorre
O vago em mim componho.
8
Em plena primavera,
Chuva torrencial
O dia tropical
Apenas destempera,
A morte o sonho gera
Em rito sempre igual,
Adentro o funeral
E beijo quem se gera
Na perda da ilusão
No fardo e sem senão
O parto nada cria,
Olhando para trás
Amor não satisfaz
Nem doma a fantasia.
9
O céu tão gracioso
Diverso do que pude
Alheia juventude
Em ar mais majestoso,
Agora é pedregoso
E nada mais me ilude,
Vivendo o quanto mude
O rito em tom jocoso,
Acordo e não percebo
Além do que recebo
Do sol qualquer clarão,
O verso não repito
O amor é mero mito
Um erro da emoção.
10
Num misto de vermelho
Com trevas dentro de mim
Proposto dita o fim
E quando me assemelho
Do nada e me aconselho
Marcando este jardim
Nas sendas de onde vim,
O corte no joelho
O olhar nada mais tente
E quanto se inclemente
A vida não me traz
Sequer este vazio
O medo desafio
Num passo mais audaz.
11
Ao ver, tão calmamente
O peso da esperança
Aonde se balança
E toma a minha mente
O quanto já se ausente
Em luta e temperança
A vida sem pujança
Decerto teima e mente,
Ocasos sonhos ermos,
E vejo nestes termos
O pranto em face exposto,
O amor; já não consigo
Sem ter sequer amigo
Restando este desgosto.
12
As pernas mais bonitas
As praias bronzeando,
O tempo transformando
Aonde necessitas
E tentas e te excitas
No olhar se transbordando
O quadro agora em bando
Ourives em pepitas
E nada mais lapidas
Assim as nossas vidas
Em frágeis sóis morrendo,
O acordo descumprido,
O sonho da libido,
Apenas um remendo.
13
As cores deste céu
O medo do futuro
O passo neste escuro
O rito em fogaréu,
O vento em seu papel
Além não me amarguro
E bebo enquanto apuro
O vinho em doce mel,
Alheio ao quanto teimo
Ainda quando queimo
Passado em cartas, vejo
O mundo novamente
E nele se apresente
Mais vivo o meu desejo.
14
Olhar mais indiscreto
Sentido à flor da pele
Ao quanto me compele
Aonde me completo
O risco a morte o feto,
O nada me repele,
E tanto quanto sele
O gozo noutro afeto,
O vago caminhar
Nas ânsias deste mar
Ao entranhar areias
E nelas com as fráguas
Por onde não deságuas
Em sonhos incendeias.
15
Fixo, permanecendo
O olhar neste porvir
E quanto a te sentir
Deveras estupendo
Caminho se tecendo
E nele ainda ouvir
A voz do mar bramir
O sonho obedecendo,
Escuto esta sereia
E nela a fúria ateia
Imensa maravilha,
Um suicida passo
Ao longe enfim me faço
E morro em doce trilha.
16
Na beleza da diva
Senhora do meu canto,
Ainda me agiganto
Ou mesmo sobreviva,
A sorte se é cativa
E tenta este acalanto
Ausento algum quebranto
E nada mais me priva
Do peso desta vida
Aonde percebida
A sorte se semeia,
A lua que me ronda
Suprema e tão redonda,
Deveras sempre cheia.
17
Criando meus castelos
Aonde quis um dia
Viver esta alegria
Em sonhos raros belos,
Ousando em cada passo
Adentrar maravilhas
Aonde tu polvilhas
Caminho aonde grasso,
Erguendo patamares
E neles adivinho
O quanto sem espinho
O todo que criares,
Resumo a minha vida
Na estrada percebida.
18
Os olhos desta calma
Postergam qualquer dor
Quem fora sonhador,
Agora dentro da alma
Sem medo pejo ou trauma
Perfaz em rara cor
O dia encantador
Aonde o sonho acalma,
Resumos de esperanças
Aonde tu me lanças
E sei do quanto resta
Em mim desta alegria
Cevando a fantasia
O brilho em cada fresta.
19
Por vezes procurei
Olhar com calma e paz
O quanto amor me traz
E dita regra e lei,
Do todo que busquei
Porquanto ser capaz
De um passo mais audaz
Em ti eu me entranhei.
Olhando para os lados
Sem medos nem pecados
Um mero navegante
Aonde se pudera
Vencer em primavera
Agora se garante.
20
A mansidão que salva
O coração sublime
Aonde tanto estime
Sabendo sem ressalva
Do quanto a vida dita
Em glórias e harmonia
O todo poderia
Traçar hora bendita,
Vencendo o meu temor
Rasgando este infinito
O sonho mais bonito
Gestando em pleno amor
O quanto quero além
E sei que a luz contém.
1
Por tanto sofrimento
Enquanto inda se busca
Em meio à fúria brusca
Ao menos me apresento
E tento a redenção
Em forma de poema
A vida tanto algema
Mergulhos se verão
E teimo em procurar
Aonde poderia
Viver esta alegria
Não sei em qual lugar,
Apenas um retalho
Ou tanto quanto espalho?
2
Por tantas punhaladas
Que a vida já me deu
O quanto fora meu
Agora em tais estradas
Mesquinhas alvoradas
Jamais se floresceu
Aonde se teceu
Sementes maltratadas.
Não posso acreditar
Nem mesmo na promessa
De quanto recomeça
Distante deste mar
A lua nunca é plena
O nada então me acena.
3
Buscando a claridade
Imerso em trevas tento
Vencer o pensamento
Que agora se degrade
E quando em tempestade
Bebendo o imenso vento,
Teimando o desalento
Mais alto enfim já brade,
Em mim eu poderia
Vencer a hipocrisia
E ter outro segundo,
Sem seguimento eu vago
E quando o sonho afago
Nas luzes me aprofundo.
4
Agora que te vejo
Depois de tantos anos,
Mudando os velhos planos
O coração andejo
Vivendo o que prevejo
Embora tenha danos,
Ainda em desenganos
O riso num lampejo,
Cenário bem diverso
Do quanto fora imerso
O tempo em que sonhara,
A noite se prepara
E teimo noutro verso
Buscando-a bem mais clara.
5
Encontro a principal
De todas as promessas
Aonde tu tropeças
E vês velho sinal
E nisto bem ou mal
Deveras recomeças
E sabes e endereças
O sonho ao bom final,
O fato de sonhar
Também o de existir
Já pode redimir
Mesmo modificar
Quem tanto quis amar
Na ausência de um porvir.
6
De tudo que sonhei
Ou menos mais queria,
A sorte em utopia
O mundo rege a lei,
Ainda procurei
Alhures fantasia
E nada mais teria
Ou nada além terei
Senão a dura imagem
Da tétrica engrenagem
Sem rumo e sem limite.
No amor, velha bobagem
Sem porta nem barragem
Quem teima inda acredite.
7
Meu coração pesando
Derruba passo e traz
Além do que é capaz
Um dia mais infando,
Pudesse desde quando
O corte mais se faz
Gerar um passo audaz,
Mas logo se entranhando
Nas ânsias deste nada
E quando sonegada
A sorte não se vê
Meu mundo em ares frios,
Os sonhos mais sombrios
A vida sem por que.
8
Encontra, no final
Quem tanto procurava
Adentro fel e lava
E o vento ritual
A vida é tão banal
A quem não se entregava
E tanto se me dava
Começo ou bom astral,
Apenas teimosia
E tudo se faria
Diverso do quanto é,
O cardo, o passo o rumo,
E quando me acostumo,
Perdendo a minha fé.
9
Nos olhos violetas
Nas mãos belas, macias
Aonde poderias
Viver em tais planetas
E quando me arremetas
Além dos tantos dias,
Singrando poesias
No quanto inda prometas,
Ser teu e nada ser
Talvez o desprazer
Gerasse o desencanto,
Mas quando me aproximo,
O solo em pleno limo
A queda, o medo e o pranto.
10
Feroz devoradora
Dos meus ermos vazios
E quanto mais sombrios
Esta ânsia aonde fora
A vida em tentadora
Delícia perde os fios,
E os medos, desvarios
A sorte é perdedora,
Não pude e nem devesse
Talvez onde eu vivesse
Acreditar no encanto,
Agora em nova senda
A vida enfim me atenda,
E assim, em paz, eu canto.
11
Tragando todo amor
Que um dia pude crer
No meu amanhecer
Já pleno em teu calor.
Ousando noutra cor,
Ou mesmo no prazer,
O quanto recolher
Permite nova flor,
Assisto ao descaminho
E sei quanto me alinho
Nos passos que tu dás,
Mas quando discordantes
Eu sinto e me garantes
Jamais teremos paz.
12
Ferindo totalmente
As mãos de quem carinha,
A vida mais daninha
Deveras tanto mente
E nada se apresente
Senão a morte e vinha
Trazendo toda minha
A luta que pressente.
Resumo de uma ausência
Aonde sem clemência
O todo não se faz,
O passo perco além
O mundo quando vem
É duro e mais mordaz.
13
Quimera companheira
De quem pudesse até
Querer e ter a fé
Aonde tanto inteira
Palavra verdadeira
Jamais se fez, pois é
Um dia sem galé
Ou senda traiçoeira,
Vestir este fantoche
E tendo tal deboche
Não pude ser ali
O quanto desejava
Após chicote e lava,
No fundo eu já perdi.
14
Com ácidos humores
E temporais constantes
No quanto me adiantes
Ou mesmo ainda fores
Diversos medos, cores
E nelas degradantes
Caminhos por instantes
Dispersos em rancores,
Não vejo mais saída
E tento a despedida
Ainda em calmaria,
Mas quando se percebe
O vendaval na sebe
A paz já não se via.
15
A dor que não se queima,
O olhar que não acalma
A vida gera em trauma
A sorte onde se teima,
Vestir esta esperança
A verdejar meu sonho,
Enquanto me proponho
Ao nada e já se lança
O passo mais atroz
O caminhar sereno
E quando sendo pleno
Escuto a mansa voz,
E assim em rara plaga
O sonho, amor, me afaga.
16
Não some e me consome
O medo de sonhar
E tendo este lugar
Exposto em sede e fome,
O corpo se perdendo
No vago de uma senda
Aonde não se atenda
Nem cerzi este remendo,
O vento segue além
E tudo nos perturba
A vida, velha turba,
O medo em si contém,
E tento alguma chance
Aonde o sonho avance.
17
Na poderosa bruma
Tomando este cenário
O tempo imaginário
A vida já se esfuma,
E quando se acostuma
Meu canto um adversário
Além do necessário
Jamais em paz se apruma.
Olhando para o lado
O passo desvendado
A queda se anuncia,
Depositando ali
O quanto mais pedi
Matando a fantasia.
18
As nuvens que escurecem
E os dias, desalento
Enquanto me alimento
Do pouco se oferecem
Caminhos não se tecem
E bebo deste vento
Vivendo o sofrimento
Aonde enfim padecem
Os ermos de quem sonha
Em noite mais medonha
São tantas armadilhas,
E quando continua
Bebendo desta lua
Por onde tu palmilhas.
19
As mortes dos amores
Os fins mais doloridos
Os tempos divididos
Aonde não te opores
E logo sem pendores,
Esqueço das libidos
Os olhos envolvidos
Em poucas, raras flores,
Não pude e nem pudera
Sentir assim a fera
Rosnando na tocaia,
A lua derradeira,
Entranha esta ladeira
E ao longe enfim se espraia.
20
Angústia no meu peito
O medo de saber
Do quanto pude ter
E agora quando deito
Olhar já não aceito
E nem posso viver
Ainda o quanto ver
E tento em novo leito,
O bêbado caminho
Aonde sou mesquinho
E cevo esta ilusão
Do tempo em contraluz
Ao todo se me opus,
Os sonhos não virão...
1
Quem dera ver da vida
Além dos dias duros
Momentos tão escuros
A sorte sem saída,
Pudesse após a lida
Por sobre os altos muros
Em tantos vis apuros
Saber sem despedida
Do gozo mais suave
Aonde nada agrave
O passo aonde eu quero
Moldar o dia a dia
E nele a poesia
Não sendo jamais fero.
2
Na luz que não dissipa
O olhar mais nobre eu vejo,
E tento num lampejo
Jardins, lírio e tulipa
A sorte não se cala
E nada posso aqui
Se tudo o que perdi
Transforma a alma em vassala,
O gesto, o rito o riso,
O gozo mais audaz,
O quanto satisfaz
Tornando mais bonito
O dia a dia quando
Lá fora está nevando.
3
Manhã que nunca veio
Domada pelo sol,
A bruma no arrebol
No olhar, a dor e o anseio,
O tempo onde rodeio
Buscando algum farol,
Sem nada ter em prol
Seguindo assim alheio,
Vestindo esta roupagem
Cevando em tal paisagem
O brilho de um momento,
Aonde em discrepância
Ou mesmo sem ganância
Um dia novo eu tento.
4
A cor do teu olhar
O beijo disfarçado
O gozo do passado
Futuro a desvendar,
O passo par a par
A morte do meu lado,
O risco adivinhado
A queda a se moldar.
Visíveis meus engodos,
Adentro então tais lodos
E sem promessa alguma,
Minha alma não se cala,
Não foge nem se abala,
Ao fogo se acostuma.
5
Amor tão terebrante
Adentra como escara
E nada mais ampara
Aonde se adiante
O passo doravante
O corte desprepara
Quem vive esta seara
E nela se garante.
Opaco eu sou alheio
E quando o vão rodeio
Falena em falsa luz,
Encontro a minha morte,
Sem ter quem me conforte,
Em vaga estância expus.
6
O sol embora fraco,
Bronzeia a minha pele
E quanto me compele
E alheio eu me destaco
O peso de uma vida
Jamais se sentiria
Ao menos fantasia
Não fosse mal urdida.
Mas tanto quero a paz
E sei quanto é venal
O dia é sempre igual,
Cenário tão mordaz,
Assumo os meus pecados
E escuto os teus recados.
7
A cor desta esperança
No olhar de quem mais quis
Agora se infeliz
Aonde o nada lança
Perdendo a confiança
O quanto se desdiz
Ou mesmo a cicatriz
Aos poucos já se avança.
Olhando para trás
A vida não compraz
Quem quis a solução
O medo se apresenta
Na face mais sangrenta
E nega a direção.
8
O verde desbotado
Dos olhos de quem ama,
O fogo em mansa chama
Cenário desbravado
Aonde fora alçado
O sonho além da lama,
Verdade dita o drama
E nega o meu passado.
Resolvo prosseguir
Na falta de porvir
Ouvindo a voz do vento.
E quanto sou mesquinho
Andando em tal caminho
Rumando ao sofrimento.
9
Transforma-se vazia,
A casa no que outrora
A sorte desarvora
E nada mais recria,
Ausente fantasia
A vida me devora
O barco desancora
Adentra a ventania.
De tantas maldições
Aquela em que me expões
Cevando o desalinho,
Vencido pelo tempo
O vento em contratempo
A morte dita o espinho.
10
Meu medo é cordilheira
Desaba sobre o vale
E nada mais se fale
Em voz tão traiçoeira
Acende-se a fogueira
E tudo então resvale
No instante em que se cale
A farsa derradeira,
Pudesse até sonhar,
Quem sabe devagar
Em plaga mais feliz,
Mas quando se apresenta
A vida em tal tormenta
O sonho enfim desfiz.
11
O raio das manhãs
Penetra nos umbrais
E quero muito mais
Do quanto em vis, malsãs
As sortes, seus afãs
Os olhos mais venais
Em dias desiguais
Provocam tantas cãs.
Orquestro uma saída
Canhestro coração,
Aprendo esta lição
E tento nova vida,
Mas sei do quanto é vago
O canto que ora trago.
12
Nos meus jardins sofridos
Imersos em vazios
Os dias sempre frios
Jamais serão floridos
Os passos esquecidos,
Promessas desafios,
E quando perco os fios
Os rumos decididos.
Não posso acreditar
Na messe de sonhar
E ter em minhas mãos,
Na senda a cultivar
Beleza que sem par
Permita novos grãos.
13
A morte, tanta vez
Batendo em minha porta,
A sorte já se aborta
Não resta lucidez,
No quanto se desfez
A vida me recorta
E tudo não importa
Aonde nada vês,
Eu bebo este sombrio
Caminho aonde eu crio
Ao menos um atalho,
E quando tento a fuga
A pele em frágil ruga,
Deveras eu retalho.
14
Mas quando a noite cai
E toma a minha história
Além noutra memória
O rumo enfim se esvai,
O passo rumo ao nada
A fúria se desenha
E quanto mais ferrenha
A luta desejada,
No fundo nada resta
Senão esta seara
Aonde desampara
E adentra em fina fresta
A luz mesmo sombria
E à morte desafia.
15
Me lembro da manhã
Nas ânsias mais felizes
E quanto contradizes
Gerando a temporã
Vontade de amanhã
Ainda em meio às crises
Vencendo os meus deslizes
A sorte nunca é vã;
Ouvira a voz macia
De quem já poderia
Mudar o rumo disto,
Mas quando mais se sente
O amor jamais presente
Decerto, enfim, desisto.
16
Me lembro d’ outro olhar
Aonde pude crer
No claro entorpecer
Da vida em tal sonhar,
E tento devagar
Voltar a ver, tecer
Um tempo de viver
E nele mergulhar.
Restando dentro em mim
O quanto que é sem fim,
Mas nunca dessedenta,
A vida noutra face
Porquanto em nada grasse
Eu sei quanto atormenta.
17
Nas guerras, nos amores
Nos dias corriqueiros
Entranho os espinheiros
Buscando pelas flores
E quanto mais te fores
Em tais desfiladeiros
Olhos aventureiros
Moldando novas cores,
O quanto eu me resumo
No corpo já sem rumo
Na morte feita em vida,
E assim seara posta
A vida sem proposta
Não vê qualquer saída.
18
Foram tantas promessas
E nelas nada havia
Senão a fantasia
Aonde enfim tropeças
E logo recomeças
Vivendo o dia a dia,
E quanto mais seria
Aquém quando interessas
Resulto neste não
E sei que não terão
Momentos onde eu possa,
Saber além do cais
Não tendo nem sinais
Da dita que foi nossa.
19
Duvido, meu amor,
Do dia que virá
E sei se desde já
O quanto irei propor
Se imenso sonhador
O coração terá
O sol que domará
Qualquer um dissabor.
Alheio ao teu caminho,
Andando mais sozinho
Não quero outra estalagem,
O medo me conduz
E nele sendo o pus
Amor? Mera bobagem.
20
Saber se o sol nasceu
Ou mesmo ainda brilha
No quanto não se trilha
Um mundo outrora meu,
O rumo se perdeu
E nesta maravilha,
A sorte se polvilha
E teima contra o breu.
Ausência de esperança
A voz já não se lança
Sequer onde podia,
E o manto que recobre
Jamais seria nobre
Traduz melancolia.
1
O vento de esperanças
Aonde o nada existe
Caótico e tão triste
Vivas desconfianças
E nisto tu me lanças
Enquanto o vão persiste
O medo ainda insiste
E nele sem mudanças
Olhando para os lados
Os dias demarcados
Por traumas, eu sei bem,
Do vasto furacão
Da ausente direção
Que a vida agora tem.
2
O rumo que perdemos
O olhar bem mais distante
Aonde se adiante
O quanto não sabemos
Dos dias que teremos
Ou mesmo o fascinante
Delírio que garante
Os mitos; nossos demos.
Os párias e os poetas
As sensações diletas
Perpetuando o sonho,
E quanto mais me oponho
Ou nisto tu te entranhas
Ou ergues vãs montanhas.
3
A mão que me tortura
Enquanto ainda afaga
Acalentando a chaga
Ainda em amargura
No pátio da loucura
Imensa e turva draga
Tomando toda a plaga
Jamais permite a cura,
Aonde quis um dia
O sonho não traria
Sequer um novo brilho
Ao verso sem sentido
Ao mundo dividido
E nele em vão, palmilho
4
O fogo vence amor
E constrói neste solo
Sem medo, paz ou dolo
Um novo e bom fator,
Enquanto a vida for
O rumo onde degolo
No chão em dor assolo
E gero tal terror,
O fogo de minha alma
Destroça enquanto acalma,
Mas nada se verá,
Cenário alucinante
E nele se garante
O que nunca haverá.
5
Recebo das batalhas
Os olhos perfurados,
Os dias malfadados
Aonde vens e espalhas
As ânsias que trabalhas
Ares preocupados
Momentos delicados,
São fogos; frágeis palhas.
O tempo há de mostrar
Além do sonegar
O farto que não veio,
O olhar ditando o rumo
E quanto mais me esfumo,
Persisto além e alheio.
6
Que tantas vezes, finjo
Talvez não fosse meu
O quanto se perdeu
Aonde não me tinjo
E sei que quando atinjo
Quem tanto se escondeu,
O medo em apogeu
A ninguém mais impinjo.
Depois da própria queda
O passo então se veda
E cismo noutra plaga
A morte com certeza
Em sua mor nobreza
Aos poucos vem e draga.
7
A dona do meu sonho
Ceifando cada passo,
Aonde ainda traço
O olhar calmo ou medonho
E quando me proponho
O tempo em seu pedaço
O risco do cansaço
Em mar tão enfadonho,
Não pude ou não mais quis
Ainda a cicatriz
Ditame de uma vida
A parte que me cabe
Bem antes já desabe
Aos poucos corroída.
8
Retorna para, enfim,
Depois de tantos anos
Em meio aos desenganos
Traçando o que há em mim,
Vagando quando o fim
Provoca velhos danos,
E surgem rotos panos
Aonde quis assim.
O medo de existir
O corte no porvir
Raízes esquecidas,
Assisto ao funeral
Do sonho magistral
Searas já perdidas.
9
Distante das guerrilhas
Das curvas, seus espinhos,
Olhares tão sozinhos
As mortes quando empilhas
E geras armadilhas
E nelas os caminhos
Anseiam outros ninhos
Aonde nada trilhas.
Ocaso de quem tenta
Vencer a mais sedenta
Das formas de vingança
Meu passo rumo ao caos
Nos últimos degraus
Ao eterno se lança.
10
As flores do jardim
Já não mais floresciam
Meus medos me trariam
O quanto resta e enfim
Volvendo de onde vim
Os dias já se esfriam
Os rumos perderiam
Certeza, meio e fim.
Afasto-me e decerto
O quanto em ti deserto
Prenunciando o roto
Delírio de um poeta
A vida se repleta
Entranhas de um esgoto.
11
Em plena primavera,
A seca desandando
E nada deste brando
Caminho onde se espera
A flórea senda, a fera
O corpo mais infando
E o todo desabando
Na ausência de quem era,
O parto aborto o feto
O gozo se incompleto
O risco de esquecer
Vacância de esperança
Aonde o tempo avança
E não vejo prazer.
12
Calor dum sentimento
Espreita, pulo e bote
No quanto não se note
E nisto me apresento
Aonde inda apascento
O gozo sem rebote
O medo, o salto, o trote
O prazo em frágil vento.
Não tive esta certeza
E quanto mais frieza
Maior a insanidade,
O risco ao que me oponho
Do dia mais bisonho
É tudo o quanto invade.
13
Trazendo mais perfume
Aos sonhos de quem erra
E vive em tosca terra
Por onde o nada rume,
E como de costume
O sonho já desterra
Palavra vil encerra
O gozo em novo gume.
Perceba este vazio
E nele se inda crio
A poesia ou rito,
O tempo há de mostrar
O quanto deste altar
Ao menos necessito.
14
O vento, calmamente,
Depois do temporal
Ousando bem ou mal
Percebo que desmente
O quanto claramente
Pudesse ser fatal,
O dia desigual
A morte doma a mente,
Negando algum favor
Morrendo sem amor
O passo não sacia,
E tanto quis o riso,
Deveras mais preciso
Em noite menos fria.
15
Vestindo de esperanças
Os olhos aguçados
Os dias são legados
Aonde tu te lanças
E sei destas mudanças
Nos cortes mal vedados
Os mantos consagrados
As torpes alianças
O vento doma a cena
A vida não serena
Nem pode nos conter,
Aonde se fez tanto
Agora em desencanto
Somente o desprazer.
16
Fogueira das paixões
Olhares indiscretos
Aonde somos fetos
E nisto sempre expões
Diversas direções
E nelas desafetos
Ou rumos prediletos
Tomando meus verões,
Acordo e o sol não vejo
Aquém deste desejo
Pudesse ainda haver
Quem sabe noutro fato,
A curva do regato
O olhar do bem querer.
17
Volúpia que me traz
O medo da verdade
E quando em realidade
Ainda sou capaz
Do pouco ou muito em paz
No todo aonde brade
O sonho da saudade
Figura mais tenaz,
Gerando o nada após
Ouvindo a mesma voz
Que tanto fora minha,
Resumo do passado
Agora relembrado
Eternamente aninha.
18
Tenho culpa se quero
O teu olhar comigo?
O beijo sem castigo
O gozo mais sincero
Assim ainda espero
Em ti o meu abrigo
Nas ânsias já persigo
O sentido mais fero
Do pensamento quando
Aos poucos me tocando
Eu vejo muito mais
Que simples horizonte
Aonde além se aponte
Em tardes magistrais.
19
Em todas estas flores
Aromas delicados
E vejo nestes prados
A profusão de cores
Por onde tu te fores,
Dias abençoados
Momentos dedicados
E neles sem rancores.
Olhando para trás
O nada mais se faz
Se não fosse contigo
Vibrando dentro em mim
O amor que não tem fim,
E nele o meu abrigo.
20
Algumas com seu belo
Delírio em versos, vozes
Aonde sem atrozes
Desejos me revelo,
Pudesse em teu castelo
O amor sem os algozes,
Nem ritos mais ferozes,
Aonde amor atrelo,
Restando disto tudo
O quanto não mais mudo
E teimo até o fim,
A vida se mostrara
Diversa em tal seara
Profícuo este jardim.
1
São lumes duma tão
Difícil caminhada
Aonde noutra estada
Os dias não serão
Nem mesmo a solução
Há tanto anunciada
Assim adivinhada
Não sai deste porão,
O corte, a morte o riso,
O toque mais preciso,
Ausência de um alento
Vencido pelo medo,
Ao nada me concedo
E assim eu me atormento.
2
Que teima feramente
No olhar onde sacia
A noite adentra o dia
E também queima e mente,
Pudesse plenamente
Viver a fantasia
Ou longe da agonia
Que agora se apresente
Rondando o meu caminho
Gerando outro mesquinho
Aonde se apunhala
A sorte com a dor
A face em tal torpor
Traduz o mesmo nada.
3
Entre todas as flores
Jardins da vida inglória
Trazidas na memória
Aonde tu te pores
Verás os dissabores
E neles esta história
Agora merencória
Desenhada nas dores
Atrozes vilanias
E nelas poderias
Vencer os teus anseios,
Mas quando o teu olhar
Procura outro lugar,
Os meus seguem alheios.
4
Dos mansos passos luzes
Aonde se fez mais
Que tantos vendavais
Expressos nestas urzes,
E quando me conduzes
Aos dias terminais
Vertendo atemporais
Delírios, contraluzes,
Abuso da certeza
E ponho sobre a mesa
A festa mais cruel,
Rendido ao teu desejo
Apenas não prevejo
O turvo ou claro céu.
5
Pena que foste embora
Depois de tantos anos,
Amores, desenganos
A vida nos devora,
E quando tudo aflora
Sobrando tolos danos
Os dias mais profanos,
A seca revigora
Pudesse ou mais tivesse
No olhar a mansa messe
De quem se fez além,
O vago caminhar
Sem ter onde parar
Deveras me retém.
6
De uma guerreira impávida,
A fome desta luta
Aonde não reluta
Seguindo assim tão ávida,
Pudesse ter no olhar
O dia mais tranqüilo
Por onde não desfilo
Nem mesmo vou vagar,
Resolvo a cada passo
O rumo que pudera
Vencendo esta quimera
E nela me desfaço,
Risonho camarada
Buscando o mesmo nada.
7
Tanta tristeza minha
Não deixa que se creia
Na sorte, mesmo alheia
Ou nada mais continha
Senão aonde eu vinha
Agora não rodeia
E quando devaneia
Uma alma não se alinha,
Vagando por espaços
Em siderais rechaços
Espanta-me decerto,
O pouso noutro rumo,
E assim se mal me esfumo
Os sonhos eu deserto.
8
Na vida eu merecia
Quem sabe algum instante
Aonde me adiante
E veja novo dia,
Pudesse em alegria
Viver e doravante
Saber o que garante
Amor à poesia,
Pureza dentro da alma
A voz que sempre acalma
O gozo de um momento
E nele sutilmente
O coração pressente
O que decerto eu tento.
9
Será que prosseguir
Depois desta tempesta
Aonde nada resta
Nem sombras do porvir,
E ter neste bramir
O coração em fresta
Aberta e se detesta
O sonho a dividir,
O quanto da peçonha
Ainda se proponha
A quem buscar a paz,
O risco de viver
O gozo do sofrer,
Um dia mais mordaz.
10
Pois quando enfim chegar
O tempo de bonança
O sonho que te alcança
Tomando este lugar
Aonde descansar
E ter tanta pujança
A vida sem vingança
O olhar a me tocar,
Neste horizonte aberto,
O medo então deserto
E vivo a plenitude
Ainda quando o enredo
É feito onde concedo
O passo que me ilude.
11
O coração vazio,
O medo se aflorando
E sei que desde quando
O passo não recrio
Adentro este tão frio
Desejo me tomando
E tudo devorando
Aonde quis sombrio,
Relevo qualquer erro,
E quando me desterro
Encontro ali meu cais,
Pudesse ter ao menos
Momentos mais serenos,
Porém são tão iguais.
12
Amor que merecia
Talvez algum alento
Ainda quando tento
Vencer esta agonia
Atroz melancolia
Entregue ao forte vento
Ditame em sofrimento
E nele se teria
A voz embaralhada
A sorte desdenhada
E o passo sem destino,
No pouco que me resta
A porta já não presta
Apenas desatino.
13
Jóia entre tantas jóias,
A dama dos meus sonhos
E sei quanto risonhos
Sem ter as paranóias
E neles também bóias
Aonde tão bisonhos
Os dias mais tristonhos,
Abrindo clarabóias.
Resulto do que tanto
Pudesse e sempre canto
Buscando a paz enfim,
Dessedentando amor
Pudesse sonhador
Gestar outro jardim.
14
À dor da punhalada
Não tenho mais remédio
O amor tramado em tédio
Deveras não diz nada,
A sorte anunciada
O rumo noutro assédio
Destroça o velho prédio
Derruba alguma escada,
E o pântano desta alma
Decerto nada acalma
E dita a solidão
Meu mundo noutro rumo,
O quanto em ti resumo
Os dias que virão.
15
A ausência deste amor
Nefasta virulência
No olhar em inclemência
O medo a se compor,
Vislumbro a dura flor
Aonde em penitência
Encontro a pestilência
Do quanto em desamor,
Vencer os meus tormentos
Beber os tais alentos
E ser além do nada
A sorte não se toma
E quando amar diz coma,
Manhã desesperada.
16
Tantas vezes deixado
Nos ermos do caminho,
O olhar bem mais mesquinho
O dia em duro enfado,
Jamais seria gado,
Tampouco gero espinho,
E quando me avizinho
Do sonho anunciado
Encontro esta verdade
Aonde sempre agrade
A quem se fez poeta,
A vida noutra vida
Deveras não duvida
E sei que se completa.
17
Nas ruas e nos bares
Nos olhos a promessa
Amor não endereça
Ao quanto em vis luares
Pudesses nos altares
Ou mesmo se tropeça
A vida em tanta pressa
E nela acostumares,
O riso, o pranto a ceva,
A noite em lua ou treva
O parto em duro aborto,
O mundo que eu tentei
Agora encontrei
Deveras semimorto.
18
Madrugadas passadas
Em dores e quebranto
Aonde teimo e canto
Sonatas desejadas
Palavras malfadadas
Manhãs em desencanto
O quanto me garanto
E vivo em tais estradas,
Resvalo no futuro
Enquanto te procuro
E sei que não virás,
O medo se assomando
O olhar triste e nefando
Jamais foi tão tenaz.
19
Enlouquecendo, rasgo
O quanto tive em mim,
E teimo até o fim
E quando em sonho engasgo
O mundo não me traz
Felicidade ou riso,
Apenas impreciso
Caminho mais mordaz,
Vencer o meu degredo
Acreditar no sonho,
Assim se me proponho
Enquanto me concedo
Adentro o mundo além
Do todo que inda vem.
20
Ter que ficar na espreita
De quem não sabe amar,
Vencido este luar
Aonde se deleita
A sorte satisfeita
Ou mesmo navegar
Por ondas deste mar
Palavra já desfeita,
Resido no que um dia
Pudesse em poesia
Ser mais que esta mentira,
O manto recobrindo
O céu imenso e lindo
Por onde o sonho mira.
1
Amor assim dantesco
Não deixa que se creia
Na sorte se o rodeia
Num passo gigantesco,
O quanto é tão grotesco
O mundo quando anseia
Tecendo em frágil teia
Cenário quixotesco,
O corte na raiz
O medo que se quis
O passo não permite
Amena realidade
Ou fato que degrade
Adentre este limite.
2
Precisa urgentemente
Quem possa ter no olhar
Além deste vagar
Aonde a vida mente
Saber mais claramente
Por onde começar
Quem sabe noutro mar
Ou noutra face; ardente?
Gerar outra conversa
Aonde nada versa
Somente a solidão?
Eu sei do meu limite
E nada se acredite
Nos dias que virão...
3
Nem em todas as ruas
Nem mesmo nestes bares
Aonde tu chegares
Decerto belas luas,
E ali quando flutuas
Ganhando assim os ares,
Gerando em teus altares
Os sonhos que cultuas,
Verás mais claramente
O quanto já se sente
Quem ama e não se cala,
O gesto mais risonho
Agora enfim proponho
Iluminando a sala.
4
E nem nessas bodegas
Nos antros, nos covis
Os olhos mais gentis
Aonde não navegas
Decerto das adegas
Por onde já se quis
Beber deste feliz
Delírio onde te empregas,
Restando o que pudera
Apascentar quimera
Ou mesmo me trazer
Depois da tempestade
A bonança que invade
Nas ânsias de um prazer.
5
Encontro a salvação
Nos ermos de minha alma
A vida dita a calma
O sol queima em verão
Meus olhos não verão
A sorte em dor e trauma,
A lua já me acalma
Encontro a decisão,
Eu bebo cada gota
E sei da cena rota
E nela não recrio
Sequer um passo além
Do quanto me detém
Ou mata em seca o rio.
6
Estrada que me sobra
Depois do temporal,
O tempo sempre igual,
A vida se desdobra
O risco não mais cobra
Caminho em ritual,
Olhar mais triunfal
Assim já se desdobra,
Vencer o passo quando
O rumo derramando
Cenários mais diversos
Inutilmente eu tento
Liberto o pensamento
Viver mil universos.
7
Meios se justificam
Se ocasos se aproximam,
E quanto mais estimam,
Os olhos edificam
E bebo do que atesta
A vida em gozo farto,
E nada mais descarto
Senão a vera festa
E sei desta promessa
Aonde se fez luz
E sinto o quanto pus
E o passo se endereça
Ao nada ou no momento
Enquanto um rumo alento.
8
As mãos macias desta
Que tanto fora bela
E agora se revela
Em sonho onde se gesta
A vida em plena festa
O coração atrela
A morte não mais zela
Nem mesmo em fria fresta,
Acordo do teu lado
E sei do quanto é dado
A quem se deu a mais,
E sinto esta verdade
Aonde quer que brade
Imensos vendavais.
9
Minha alma satisfeita
Sabendo em sedução
Por pura dedução
Aonde se deleita
E estando agora aceita
Enfronha a direção
E quantos dias são
As sendas onde deita
Quem tanto se fez minha
E quando já se alinha
Nos braços sonhadores,
Traduz a flórea trilha
E tanto maravilha
Em luz aroma e cores.
10
Das santas alegrias
Que tanto quis sentir
O medo do porvir
Ou mesmo fantasias
E nelas me trarias
Do amor este elixir
No sonho a se exprimir
Além das teorias,
Vagando pela noite
Aonde já se acoite
O sonho mais audaz,
Eu quero e não me calo,
De ti ser o vassalo
Da guerra à plena paz.
11
A boca me promete
Caminho em beijo e sonho
Aonde eu me proponho
O todo se acomete
A vida me remete
Ao mais belo e risonho
Delírio aonde eu ponho
O corte não comete,
Vencer a minha dor
Singrar outro valor
E ter esta certeza
Do dia que virá
Aonde moldará
O mundo em correnteza.
12
Viajo por espaços
Diversos pensamentos
E nele os meus alentos
Encontram teus cansaços
Abrindo os nossos braços
E neles provimentos
Permitem meus assentos
Em raros bons espaços,
Negando qualquer lua
Quem tanto continua
Alheia ao que vier,
Não posso mais conter
O medo de querer
Demais esta mulher.
13
E a noite encantadora
Deitando sobre nós
O brilho sendo a foz
De quem decerto fora
A sorte tentadora
Ou mesmo o medo atroz
O passo mais veloz
Uma alma sonhadora,
No quanto cabe em mim
Amor jamais tem fim
E sabe da existência
Do fato de sonhar
Buscando algum lugar
Em luta e coerência.
14
Não me permitirá
Sequer um passo além
Do quanto me convém
Ou mesmo negará
A vida se mostrando
Desnuda em coração
Bebendo o ribeirão
Um mundo bem mais brando
Aonde posso até
Viver o que pudesse
E tendo a rara messe
Sem medos ou galé
Alçar a liberdade
Rompendo qualquer grade.
15
O mundo, quando um Deus
Gerara um dia a mais
E nele atemporais
Caminhos sendo meus
Os dias entre os breus
Olhando desiguais
Destinos rituais
E neles são ateus
Os ritos dessedento
E quanto bebo o vento
Ninguém inda me acolhe,
O passo não se tolhe
E quanto mais se tenta
Maior esta tormenta.
16
Não tinha inda metade
Do tempo que pudesse
Trazer em medo ou prece
O corte que degrade
Amor e liberdade
Perdão já se obedece
Enquanto a vida tece
E irrompe em claridade,
Eu vivo este momento
E tanto quanto tento
Ninguém me calaria,
A sorte mais feliz
Aonde amor eu fiz
Traduz um raro dia.
17
Que, clareando a vida,
A sorte não se nega
E quando fosse cega
Achando uma saída
Aonde em despedida
O mundo em paz navega
O corte não sonega
A morte prevenida.
O passo neste fato
Aonde fora ingrato
Quem tanto quis tão bem,
O dia não se trama
Além do medo ou drama
Enquanto me convém.
18
Aos braços desta minha
Amada em luz tranquila
O mar ora desfila
A sorte e já se alinha
No todo que convinha
Enquanto não destila
E assim logo perfila
Vida jamais daninha.
O medo a fúria a fome
O quanto se consome
No nada quem pudera
Saber de novo dia
Aonde a poesia
Desfila a primavera.
19
Me rendo aos teus caprichos,
Sem medo de sonhar
E sei que aventurar
Amor em raros nichos
Permite a claridade
De quem buscando a paz
Além já não desfaz
O passo que ora agrade,
Resumo entre vazios
Ausência de temor
Vivendo o raro amor
Aonde tu desfias
A lua imaginária
Jamais vê procelária.
20
A boca escancarada
O sonho adentra em paz,
E o toque onde se traz
A velha e bela estrada
A noite enluarada
De tudo é mais capaz
E sei que satisfaz
Quem antes teve o nada,
Assim encontro a luz
E sei quanto seduz
O olhar enamorado,
Vencer os meus perigos
E ter em ti abrigos
Viver sempre ao teu lado.
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