sábado, 12 de dezembro de 2015

A noite entre meus fúnebres penares
Alvíssaras; esconde em seus vazios,
E os medos permanecem entre os fios,
Distante, sempre ausente meus amares;

Volver a cada canto, em tais lugares,
Aonde em profusão, angústias, frios,
Andando pelas ruas, vários bares,
E os olhos dos incautos, vãos, vadios...

Arcar com desenganos e mentiras
Enquanto em vários pontos, sempre atiras
Estirado na praça, o corpo inerte,

E incrível que pareça inda se ri,
Cadáver dos meus sonhos; vejo ali,
Enquanto a podridão ainda verte...

marcos loures
DUETO: O VERSO – 12/12/15 MARCOS LOURES & SOL Figueiredo


Meus dias entre tantos se perdendo
E sei que no final nada teria
Sabendo da total aleivosia
O mundo que se mostra é vão remendo.

O porto noutro instante se prevendo
O verso traz apenas a agonia
E o canto sem saber de uma harmonia
Somente traduzindo o quanto emendo.

Versando sobre o medo e nada após
A luta se aproxima em rudes nós
E as nódoas demarcadas: solidão,

Meu verso se tentara pelo menos
Viver dias suaves e serenos,
Mas sei que na verdade não virão.

Marcos Loures

O verso que quisera por inteiro
Se formou passo a passo, dia a dia...
Transformando esse amor em poesia
De um livro já sem capa, derradeiro!...

Meu verso não quisera ser certeiro,
Se a palavra vã não mais caberia,
Querendo só um amanhã: utopia.
Verdade verdadeira? Amor primeiro!...

Mentiras, ilusões, desilusões,
Palavras ditas, palavras malditas,
Palavras frias, quentes por paixões...

Fantasias Dantescas, quão piegas...
Almas tão sofredoras são aflitas
Na página já lida, apenas pregas!

SOL Figueiredo – 12 de dezembro de 2015 – 18h.
Na beleza do verso que ora leio,
Esqueço as culpas que, por cento tenho.
Marcos Osilia
e quando, quieto cerro o cenho
a vida me agregando em podre enleio,

e tanto quanto houvesse algum receio,
o manto descoberto de onde venho
descobre esse caminho e não convenho
tentar acreditar nalgum recreio.

perdido entre os canhões e mil obuses
preparo simplesmente entre outras cruzes
o derradeiro leito onde descanse,

meu mundo se perdeu, há tanto tempo,
conjuro cada novo contratempo
a sorte se distou do meu alcance...

Marcos Loures
No Silêncio das sombras
O silêncio sombreado nas folhagens,
Oculto um sorriso tímido, infantil.
Rasteiro como as folhas caídas
Sentimentos, Encontros... Despedidas
A busca da paz ressoa nas ramagens.
O sossego do conforto que partiu
Entre luzes e cores, a mensagem dizia...
Infinita e atenta ao farejar deslizes
Olhos rastreiam a intimidade, fugidia...
Encontrar medos e dores, noturno mar,
Estagnação confortável em vícios e matizes,
Mentiras, desculpas, verborragia... O burlar
Contraluz, penumbra, caos luminar...
Flutuações e subdivisões em devaneios...
Lucidez, loucura de questões à luz solar...
Miríade humana, estações e torneios,
Tempo passado, momento perdido...
O todo subdividido, segmentado, refletido.
O silêncio das sombras à luz de toda dúvida,
As certezas, no tempo, adquiridas e substituídas...
A ignorância acumulada, em indolências, mantida;
Toda falta de estrutura, verborragia... Vidas.
O silêncio é cruel quando sobrevém a fadiga.
Revela o martelar tirânico na artéria rompida.
Em meio ao jardim de verdades, amenidades...
As ramagens em fractais de folhas, sombreada;
A consciência milenar depara-se com nulidades
Com todas as perdas, no nada contabilizada,
Germinadas na indolência, durante eternidades...
O cansaço, o esgotamento completo em si mesmo.
O silêncio da sombra sou eu e o reflexo
Do caos sonoro em que fui ainda sendo
É o fractal emocional ainda sem nexo
A página do livro já tão amarelecido
O silêncio da sombra sou eu dividido
Entre sentir e o viver, o que já foi vivido.

Augustus César Silva 12/12/2014 & 12/12/2015.


Envolto pelas páginas carcomidas
dos velhos e diversos alfarrábios,
os olhos procurando em astrolábios
depois de tempestades, as saídas;

percorro as multidões e as toscas vidas
repetem os delírios ditos "sábios"
e vejo refletir nos murchos lábios
incongruentes ruas e avenidas.

abortos de outros sonhos, mocidade,
e agora conceber o sol, quem há de?
se as nuvens tomam todos os cenários.

restando aos loucos velhos sonhadores
a inútil primavera em mortas flores
e os rios poluindo os estuários

marcos loures
Fechado dentro em mim oceano sombrio
Nefasta sinfonia expondo a morte em vida
Estátua do vazio, aos poucos consumida,
Esculpo deste mar, em mármol duro e frio

Auto retrato aonde; os engodos desfio.
Por mais que esta desdita, ataque e mesmo agrida,
A solução; não vindo, o apocalipse cria
Do velho tabernáculo um campo nu, vazio.

Ensimesmado e quieto, atrozes dias passo,
Deste universo imenso, apenas leve traço,
Rascunho concebido em simples garatuja.

Fantoche que se expõe um tosco caricato,
O Fado traiçoeiro, insano eu desacato
Minha alma apodrecida, agora, imunda e suja...


marcos loures
Ter saudades do passado é correr atrás do vento.
(Provérbio russo)

Não guarde do passado uma lembrança
Pois ele nunca mais irá voltar
O tempo que se perde, valerá?
Passado não renova uma esperança.

O mundo não permite que se pare
O canto que cantavas não encanta
E podes destruir a velha manta,
Não te cabe mais. Nunca se antepare

Nas hastes que guardavam seus segredos
A vida que enferruja e não perdoa
Essa asa já quebrada não revoa
Esqueça o que passou, velho degredo.

A mão que maltratava se perdeu
O vento que soprava virou brisa
A vida, verdadeira poetisa
Renova toda luz no negro breu.

Portanto não esqueça minha amiga
Se faça, a cada dia, bem melhor
Alegria se faz de cada dor
Desde que teu caminho se prossiga.

As horas que passaram não retornam
Apenas são pequenas cicatrizes
De tempos que julgamos mais felizes
Simplesmente são flores, nos adornam

Mas não podem ser nossos alimentos
Futuro não conhece o que passou
Aberta essa janela Deus entrou
Nosso passado foi-se com os ventos!

marcos loures
Eu sei que tu jamais retornarás,
O medo se aproxima, traz seu cheiro...
Na porta dos palácios me permito,
Viver esta esperança sem juízo...
Eu sei que terminou o nosso caso,
Não pude receber o teu recado.
O jeito foi fingir que não te quero,
Meu pranto percorrendo todo o rosto...
Vasculho cada ponto de partida,
Encontro solução mas não vigoro,
Enluto um coração tão sem coragem,
A mão que acaricia também bate...
Nos bailes que freqüentas, nada danço
Os olhos espremidos de tristeza.
Me deste solidão que não mereço.
Tropeço cada passo, sem perdão...
Avanço teus castelos, fantasia,
Amores que não pude constatar,
Balanças tuas mãos num até breve,
Capítulos refeitos desta história...
Digeres cada beijo que te dei,
Espremes sem piedade, meus sorrisos,
Farpas esparramadas pelo chão.
Guardaste minhas dores num recanto,
Hoje descobri quanto me negavas,
Idolatrei teus passos, infeliz...
Joguei as esperanças neste lixo.
Lograste tantas falas mais hipócritas,
Mentiste sobre cada novo fato,
Na mão direita levas meu amor
Ostentas teu sorriso de vingança...
Percebo que não queres o meu braço
Quebraste meus encantos sem perdão,
Resgato meu amor no teu regato,
Saudade foi herança que sobrou.
Tarântula devora o pobre macho,
Urdindo tantos planos que nem sei,
Vinganças que te movem, cada passo...
Xingaste que te amou e não quiseste...
Zeraste tanta vida sem piedade...
Amor, então perdoa, vivo pálido,
Basta desse querer assim, esquálido,
Na barca da saudade, sou inválido,
Teus olhos se mostraram, belos, cálidos...
Não pude constatar porque sou plácido
Vestidos que queimaste, jogas ácido,
Esvaindo nas quimeras, somos gélidos,
Nos versos que te faço, caço métrica,
A noite dos amores, vem mais tétrica.
Vontade de te ter, machuca pétrea,
As mãos a percorrer, fustigam límbicas,
Querem-te devorar, mas são tão tímidas,
No escárnio que te move, finges úmida,
Mas sei que não me queres és tetânica
Espero que perdoes cada cântico,
Não sei fazer meu verso mais romântico,
Amor que dediquei, enorme, atlântico,
Tentava ser mais manso, e mais pacífico,
Não pude nem fingir que fosse bélico,
Os ventos que me movem, força eólica,
As dores que sentimos, forte cólica,
Por fim nos dividimos, bola e búlica...
Nos vestiu, tanto tempo, a mesma túnica;
Sorrindo me demonstras como és cínica,
Beijando me mordeste qual famélica.
Quem vê o teu sorriso mais angélico,
Não sabe distinguir como és atômica,
Deixaste tanta gente assim, atônita,
No fundo te fizeste catatônica,
Mentiste com verdade cruel cômica,
Minha garganta cala, mais afônica,
Viver sem ser feliz é minha tônica...
Agora que mataste não se ria,
O mundo que navego perde ria,
Na porta da saudade que seria,
Não posso me esquecer do que se via...
Amor, agora chega aqui do lado,
Te quero, vem fazer um cafuné,
Não deixe tanta coisa assim de lado,
Não posso me encantar, perder a fé,
Amada, vem sacode essa roseira,
A noite que me trazes, companheira,
Te quero, na verdade assim como és...

marcos loures
A vida passou ávida de vida,
pelo campo onde caminhava solitário.
Não quis ser mar
nem ser maré,
quis viver Maria,
que nada mais continha
a não ser poesia...

Mas me detinha a cada passo,
teu cansaço e minha sina,
meu abraço e tuas pernas,
penugens e paragens,
margens e manhãs...

Quis ser sonho e pedregulho,
ser seixo e ser queixume,
deixo meu ciúme e minha cisma;
cataclismo fatal sem fátuos fatos...
Num átimo um ótimo momento,
um último madorno me adorno
de teus ouros e perolados olhos.
Nos óleos que me tramas,
casas e camas,
nas brasas, chamas
e não respondo,
oculto.

Te cultuo num duo infernal,
sem eco, sem ego,
trôpego, trafego
e me apego a teu passo,
pássaro solto, contrafeito...
Desfeito tudo que pudesse ser
meu, mel e mal,
Maria, o mar ia amar, andei e não te vi
bem te vi, mentiras e martírios.

Marujo sem sabujo, não sei se rei,
sereia que seria minha teia,
mas atéia, ateia tantas brumas,
bruxuleante brisa, concisa e precisa, necessária...
Amar Maria, mar ondeia, nos seios,
seixos e desejos, um beijo e um aceno,
contraceno com velas e veleiros.

Nas mãos vazias, azias e ânsias,
anseias seres livre,
me contive e não tive outro chão...
O vão aberto sob meus pés,
fendida a praia, fendida a saia,
a baia, o portão...
O porto longe, a vida longe,
longevidade para quê?

Na seda que roubaste e vestiste
insiste meu tato,
permite o olfato que,
de fato serei ato, sou regato
e regado a tanta maresia...
Mar se ia sem Maria,
sem marés e sem viés
para o invés do investido,
antes tivesse ido,
morrer no mar,
sem Maria, sem mares,
sem marés,
sem poesia...

marcos loures
Diria o amor que tanto desejei
Se o mar soubesse ouvir esse meu canto
Um canto que eu até já sufoquei
E o luar chorou também com meu pranto!
comendadora Comendadora Sol Figueiredo

as nuvens embaçando em desencanto,
o céu que muitas vezes procurei,
agora nada resta, rasgo manto
da noite que sem lua eu encontrei.

as tramas enredando no meu leito,
a morte se aproxima e sei que aceito
o abraço terminal de quem quisera,

as horas invadindo a madrugada,
a boca que sonhara ser beijada,
exposta à fúria cega da pantera;

Marcos Loures
Calor que me invadiu, teu olhar...
No mar de esperançosas ventanias...
Nos dias que passei, luas redondas
Nas ondas deste mar que tanto espero
No fero sentimento te adorar!
Naufragar em teus braços minha amada...
Cada noite que passo, mais te sonho...
Ponho meus tristes barcos, meus saveiros,
Canteiros que produzem rosas belas.
Telas onde emolduraste tal beleza,
Certeza de que há Deus e que ele ama!
Na chama eternizada dos teus olhos.
Molhos de delicadas ervas trazes.
Fases lunares linda tempestade...
Arde a sutil manhã que prometeste.
Inconteste delírio destes deuses
Reluzes nos orgásticos desejos.
Nos beijos que prometes inebrias...
Frias as minhas noites se não vens...
Tens o poder sublime da loucura.
Moldura que encontrou grande pintor.
Amor que deslindando-se enlanguesce.
Esquece as amarguras e penúrias.
Nas cúrias nos escuros parlamentos,
Ungüentos que me curam e transformam...
Formando delirantes desvarios,
Vários rios que levam para o mar.
Martírios que deixei no pó da estrada.
Fada que me encantou, embriagante
Elegante desígnio divinal.
Final de toda dor, ressurreição!
Afeição extremada, desejosa...
Maravilhosamente apaixonante.
Diante de tanta luz, que faço Deus?
Os meus tormentos mortos, esperanças!
Lembranças destes tempos cristalinos.
Alabastrinos seios doce alvor.
Calor que permanece sem segredo.
O medo de perder, evanescente,
Nascentes deste rio que navego,
Carrego toda luz que te roubei...
Sei de tantos amores, vida breve,
Leve folha, flutua nos meus sonhos...
Medonhos tais fantasmas se perderam...
Eram deveras tristes os meus dias...
Frias as noites, versos sem sentido...
Incontido desejo mergulhava...
Sonhava com paixão, felicidade...
A tarde nunca vinha, nebulosa...
A rosa que plantei só deu espinhos...
Caminhos que segui perdi a esmo...
Mesmo minhas canções eram de dor.
Amor que se omitia, velho e morto.
Porto que sempre nega desembarque.
Parque que não pretende ter criança,
Dança que não deseja nem carinho...
Ninho que desprezou um passarinho...
Vinho que não me deixa embriagado,
Fado, destino, sina, desespero...
Tempero para a vida, sinal glória...
Memória triste, vaga, traz saudade...
Claridade que desfeita, deixa o breu...
Ateu coração pede por um Deus...
Meus olhos imploraram tal visão!
Solução para torpe solidão.
Solidão esvaindo-se depressa.
Compressa cicatriza essa ferida.
A vida que pensei agora trazes,
Fazes todos meus dias melodias,
Orgias são bacantes amplitudes...
Quietudes maravilhas, ambrosia...
Poesia deflagras na fragrância...
Elegância caminha mais suave,
Na nave que julguei fosse perdida,
Comovida, esperando delicia,
Caricia naufrágios tão amargos...
Nos lagos dos meus sonhos és remanso.
Um remanso que em versos, traz calor,
Calor que me invadiu, teu olhar...

marcos loures
O quanto tantas vezes foi demais
A mais do que pensara em outros dias.
As vias que eu pensara confluentes
Afluentes dos sonhos se perderam.
Muito do que buscara em noite rara
Ampara o desengano que se fez.
O mês passando a vácuo, sem proveito
No leito já vazio jaz a sorte.
Consorte desta imagem diluída
Na vida que não pude desfrutar
Altares, catedrais, festas e risos.
Avisos esquecidos na ante-sala
A fala que falseia enquanto abate.
Debate com a vida a cada verso.
Expresso o meu desejo sem limites.
Evitas, mas tu sabes que te quero.
Espero e recomeço esta vigília,
Na trilha das pegadas que deixaste
Contrastes entre partes tão diversas,
Dispersas madrugadas foram rotas.
Esgotas teus caminhos em meus braços
Nos aços de teus olhos, óleos hóstias
Hostis palavras morrem no passado,
Realças meus desejos mais sutis.
No bis que sei por certo pedirei,
Direi o amor que tanto desejei...

marcos loures
A mãe, amante, o dínamo e a potência
Aonde se quis reino; escravidão
E ao mesmo tempo é âncora e um arpão
Distante da longínqua adolescência.

Marcada pela dor e paciência
No olhar inda o sinal da emigração
Os dias venturosos voltarão?
Acreditar talvez seja inocência,

Mas quando estás deitado em meu regaço,
Os sonhos de menina; então, refaço.
Diversa realidade contradiz,

Mas posso com orgulho neste dia,
Falar com emoção e galhardia:
Sou negra, sou mulher e sou feliz!

marcos loures
Rondando na noite
Em bares, conhaques
Amores de araque
O tempo não pára.
Recebo teu beijo
Afago o teu rosto,
Desejo o desejo
Que assim vai exposto
Nas horas mais longas
Delongas, conversas
Reversos e brechas
Em frases e farsas.
Não temo nem tempo
Nem vento não venho.
Sou teu, não és minha,
São marcos da vida.
As horas cumpridas,
As horas compridas
Comprimidas e raras.
Aguardo as amarras
As tais cimitarras
Que trazes contigo.
Mas vejo e nem ligo,
Não cortam, mas matam.
Retratam sentidos
Descuidos, rapinas,
Esquinas e putas.
Reputas, recrutas
E assim vida passa,
Sem nada, disfarça
Mas te amo, demais...

marcos loures
TE AMO DEMAIS! coroa de sonetos

1


“Minha alma de buscar-te anda perdida”,
E cada amanhecer sempre renova
Esta esperança amarga e tão querida,
Amor se colocando assim à prova.

Não posso suportar tal despedida,
A vida preparando a fria cova
Aguarda tão somente uma saída
Na lua que renasce bela e nova.

Meus olhos procurando o teu olhar
Em meio a constelares viajantes.
Estrelas que encontrei a divagar

Acendem pirilampos deslumbrantes;
Jamais me cansarei de procurar
Teus raros e mais belos diamantes.

2
Teus raros e mais belos diamantes
Guardados nestes cofres, esperança;
A noite em fantasias já se avança
Amores se transformam navegantes.

Quem teve seus caminhos inconstantes
Apenas rememora tal lembrança
A paz representando esta aliança
Anseia sentimentos mais constantes.

Mas sei que depois disso tu virás,
Deixando esta tristeza para trás
Sorrisos nos teus lábios e nos meus.

Não quero mais saber deste vazio,
Vencendo a tempestade dura e o frio
A vida negará qualquer adeus.

3

A vida negará qualquer adeus
A quem já se perdeu de tanto amor.
Olhares divinais iguais aos teus
Invadem o meu peito sonhador.

Caminhos confluentes teus e meus
Refazem o perfume desta flor,
Por tantas vezes passos vãos, ateus
Tramaram tão somente amarga dor.

Partindo deste nada, tive o nada,
Porém minha alma louca e transtornada
Cansada de vagar inutilmente

Encontra no teu peito ancoradouro,
Sabendo que encontrei, enfim, tesouro
Meu rumo se transmuda num repente.

4

Meu rumo se transmuda num repente
E mostra ao fim do túnel uma luz.
O quanto ser feliz já se pressente,
Olhar que em teu olhar se reproduz

Tocando o coração de toda a gente
Amor intensamente nos seduz
E agora se eu prossigo mais contente
Não temo mais a dor, amarga cruz.

Somando nossos passos cedo alcanço
O fim da caminhada e vou feliz.
Encontro finalmente este remanso

Deitado sob estrelas luminosas
Estendo sobre a terra um chão de giz
Plantando no teu peito belas rosas...


5


Plantando no teu peito belas rosas
Eu sei que colherei felicidade
Sorvendo cada gota da saudade
Estrelas que virão são radiosas.

Palavras muitas vezes melindrosas
Não deixam vislumbrar a liberdade,
Porém se amor se faz sinceridade
Estradas surgirão maravilhosas.

Meus olhos te buscando pelas ruas,
Pegadas não encontro, pois flutuas,
Teus rastros divinais, doces perfumes

Os astros eu recolho em meu bornal
E vago livremente pelo astral
Seguindo em noite imensa, belos lumes.

6


Seguindo em noite imensa, belos lumes
Desejos se mostrando são falenas
Tocadas pelo amor e seus perfumes,
Querendo mitigar antigas penas

Dos píncaros dos sonhos, altos cumes
Refletem no meu céu divinas cenas,
Matando antigas dores e queixumes
Tornando as tristes horas mais amenas.

Não quero neste mundo privilégio,
Amor que em minha vida se fez régio
Domina cada passo e pensamento.

Na fantasia imensa que carrego,
Não posso permitir ciúme cego
Tornando a minha vida num tormento.

7

Tornando a minha vida num tormento
Temores se mostraram bem mais vis,
No fogo da paixão tão violento
Palavras nunca foram mais sutis.

Quem dera se eu pudesse num momento
Sentir quanto é possível ser feliz.
Eu não teria mais tal sentimento
Distante do que sonho, amor me diz.

Mas tendo após a dura tempestade
Bonança nos teus braços benfazejos,
O céu se colorindo em azulejos

Renasce enfim total felicidade.
Prevejo em novo dia, amanhecer
Coberto de alegria e de prazer.

8

Coberto de alegria e de prazer
Eu sinto o vento manso deste amor.
Regado pela fome de viver
Disfarço este meu peito sonhador;

Distante dos meus olhos pude ver
A força da tristeza, imensa dor,
Porém ao vislumbrar teu bem querer,
Eu pude cada passo recompor.

A lua se mostrando assim desnuda
Deixando a natureza agora muda
Espalha a luz imensa sobre nós

É como se dissesse da alegria
De quem ao desfilar já percebia
O vento da paixão doce e feroz.


9


O vento da paixão doce e feroz
Adentra em vendaval, faz reboliço
Calando num momento a minha voz
No temporal dos sonhos, perde o viço.

Amor já se mostrando mais veloz
Acende o mais divino compromisso
Juntando bem mais forte nossos nós
Permite cada sonho que eu cobiço.

Trazendo em argumento a luz mais forte,
Amor cicatrizando qualquer corte
Fagulhas espalhadas manso incêndio.

Encontro em cada parte do compêndio
Palavras que me falam deste amor
Divino, sem limites, sedutor...

10




Divino, sem limites, sedutor,
O canto que me trazes bem amada,
No encanto deste verso eu vou compor
Depois da dura lida, a bela estrada.

Renasce em meu canteiro a rara flor,
Espécie magistral feita em florada
De todo o raro encanto sou gestor
Minha alma se mostrando enamorada.

Anseio por teus seios tão sublimes
E quero que este amor tu sempre estimes,
Pois nele uma verdade transparece.

De ti cativo sigo a vida inteira,
Amor se torna enfim minha bandeira
Teu corpo catedral, canção e prece.


11


Teu corpo, catedral canção e prece
Altar ao qual dedico minha fé,
Aos gozos e prazeres obedece
Rogando o sentimento imensa Sé.

A boca que em desejos se oferece,
Rompendo estes grilhões, nega a galé
E o sonho claro em vida, amor já tece
Irei sempre contigo aonde e até.

As algas e corais, estrelas, mares,
Nas conchas, caracóis, belezas raras.
Buscando o teu amor, qual fosse Páris.

Lutando por Helena sem descanso.
As horas benfazejas me são caras
Contêm os paraísos que eu alcanço.

12


Contêm os paraísos que eu alcanço,
Teus olhos radiantes e estelares.
E neles garantia de um remanso
Depois de vagar só por tantos bares.

O coração batendo bem mais manso
Encontra refletido nos luares
O brilho deste sonho em que descanso
Sabendo benfazejos tais altares.

Na mansidão imensa deste lago
Amor preconizando cada afago
Permite que eu me entregue, prisioneiro.

Se à sombra deste sonho amada eu vivo,
Eu quero ser do amor sempre cativo
Sentindo este prazer mais verdadeiro.

13

Sentindo este prazer mais verdadeiro,
Não posso conceber a derrocada.
Se o mundo se transforma mais ligeiro
Não quero minha sorte transformada.

Do barco que navego, timoneiro
Amor vai construindo a bela estrada
Fazendo no meu peito o derradeiro
Caminho e nele faz a sua estada.

Vou bêbado da luz que me irradias,
E sigo cada passo e rastro teu,
Amor que tantas vezes me venceu

Moldando as mais suaves melodias
Agora se enfronhando em meu caminho
Impede que eu prossiga, assim sozinho...

14

Impede que eu prossiga assim sozinho
O olhar abençoado de quem amo.
Aos passos mais macios eu me alinho
E toda a noite em sonhos; sempre chamo.

Amor se aproximando tão mansinho
Tornou-se; na verdade, quase um amo.
Se eu bebo deste doce e raro vinho
Um mundo em esperança agora eu tramo.

Eu quero o teu amor e nada mais,
Sonhar com teus carinhos! Maravilhas...
Sabendo que também tu compartilhas

Do mesmo sonho, amada encontro o cais
E sinto que ao saber de nossa vida,
“Minha alma de buscar-te anda perdida”.

marcos loures em homenagem à Florbela Espanca

Alma.
Quero tua alma desnuda sobre a minha, entranhada, estranha mas atada
Alma toda, tocando cada centímetro, osmótica, orgástica.
Deliciosamente orgânica embora extra corpórea
Corporação, composição.
Com posições e variedades de sonhos.
Estanhos e formas.
Fornalhas e desejos
Seixos e sombras
Sobra sombrias vagando
E penetrando,
Tocando cada vez mais fundo,
Mistérios e maneiras
Esmos e espasmos...
Te quero alma
Corpo
Ânima, sangue e prazer.
Rompantes e delírios
Seios e mansidão

Alma
Quero alma carnívora, canibal,
Exótica, explicita,.
Cama e carmas, conexões e outros fios. Que nos ligam aos extremos.
Estréias e renovações
Deitada no meu leito, peitos e pleitos. Espreitas.
Aceitas o amor de extremos e das entregas absolutas
Que tragam a lúcida loucura e o desejo inesgotável...
De rompantes e repentes.
Te quero amada
Armada até os dentes
Ate e derrame
Méis e mãos
Plurifacetária
E cármica.
Tenho mares
E quero tuas marés,
Ondas
Ânsias e sorrisos
Sons e tons
Diversos...
Nos mesmos prismas
E tramas que se explodem nas cores e nos acordes e nos cordões.
Acorde e vamos
Buscar a madrugada
Beber até a última gota
Que nos cabe
De nossa almas.
Carnívoras....

marcos loures
Nossos corpos
Suados
Lençóis
Revirados
Procuras
Insanas
Orgástica
Senda
Que
A noite
Desvenda
Em loucuras
Totais.

marcos loures
Minha Musa será sem par canela
Co'um felpudo coninho abraseado:

Bocage

No cone da Musa
Debaixo da blusa
Amor que se abusa
De ser mais contente
Trazendo pra gente
Um sol firme e quente
Que alague esparrame
Em ramas e galhos
O corpo em frangalhos
A musa é voraz.

E quer sempre mais
Do jeito que der,
Se mais se fizer
Não cansa jamais.

Em ninfomania
De noite ou de dia
Tanto te queria
Um fauno te alcança
E dança esta dança
Em pernas abertas
Em bocas alertas
Carícias despertas
E fazes de mim,
O que tu bem queres,
Porém se preferes
Invés deste gim
Eu bebo teu rum,
Com sede medonha
Tu babas na fronha
Sem pudor nenhum...

Ó Musa que sei
Terás e terei
O que mais precisa
Em louca divisa
A noite arremete
E assim se promete
O cone da Musa...

marcos loures
Mares distantes
Ventos constantes
Cais delirantes
Portos seguros
Navegar é preciso
O siso se perde
Seguir sem alarde
Atento o meu peito
Procelas distintas
As tintas pincelas
Formando aquarelas
Revelas em velas
Selando no encanto
Do verso o convés
Deste navio
Que crio
E que crias.
Amar e morrer
Amarras romper
Irrompe a vontade
Sacia o desejo
E o vento transporta
Correntes marinhas.
Açudes, açores
As cores diversas
Trazendo este sal
No sol tropical
O espaço sonego
Renego a lonjura
No quanto a ternura
Adoça um esgoto
Clareia esta treva
Que neva e que queima,
Resiste ao verão?

marcos loures
No teu fogo
Jogo logo
Sem ter lógica
Ou logística.
Orgástica fantasia
Que vicia e propicia
A delícia
Nas primícias
Malícias
Caricias
E seduzes.
Incendeias
As candeias
Os luzeiros.
Sem eira nem beira
Beirais do infinito
Granitos
Gritos
Ritos
Rios
Ria
Rima
Resma
Réstias
Resenhas
E tudo recomeça...

marcos loures
Viver...
Saber do gosto
Do agosto
Da vida.
No outono
Do tempo
Que não volta
Revolta
E revoa.
Vida boa
Seios fartos...

Atos, matos, marcas
Marés
E mares.

Ladainhas
Rainhas
E velhas cismas.

Climas e
Cataclismos.

Abismos preenchidos
Vencidos
Medos
E segredos...

Vamos logo
No jogo
Que rogo
Onde me apego
Te pego
E não nego
Afogo...

marcos loures
Avarandado coração
Espreita a lua
Bebe estrelas
E morre ilusões...
A moça
A poça
A chuva
Estradas distintas
As tintas do céu
O mar tão longínquo
Afinco e ferrão
Solares
Somares
Porém
Divisão...

marcos loures
As dores e florestas
Cofres festas
Frestas flâmulas
Sonhos fantasias
Os ermos de minha alma
Os álamos e frisas
As brisas e as noites
Luas mais vadias
Que rodam nas janelas
Abertas do teu quarto
Espero um novo fato
E farto de teu canto
Venenos e sangrias.
Não vejo sem feridas
As horas mais sabidas
Que não mais mergulhei.
Se fasto sou nefasto
E me afasto do teu mundo.
Pré firo e não me iludo
Que é melhor sair mudo
Que inundado.
Se nada não sei nado
Cerrado que me frases
As bases combalidas
Com bário e com falidas
Esperanças.
Vencido pelas dores
Dos cofres que guardei
Não quero ser errei
Talvez queira tentei
Mas de que vale tudo isso?
Nada mais viço
Espinho ouriço
E me lanço
Embevecido
Aos braços do infinito.
Amor, faça um favor.
A porta está aberta
E nada mais me resta.
Senão a sólida solidez
Da tez da solidão....

marcos loures
Procuro insanamente antigos dias
Aonde a poesia mergulhava
E a fome num momento só matava
Centenas de crianças, fantasias...
Os coronéis decerto comandavam
Tocaias e jagunços no sertão,
Jamais eu conheci vacinação
Sarampos, diarreias só matavam.
Saudade da mulher lá na cozinha
Enquanto o seu marido passeava,
Nos bares e botecos encontrava
Prazer que na verdade não mais tinha.
Saudades dos sertões mais esfaimados
Dos olhos da miséria rebrilhando,
Crianças de três anos trabalhando,
Viados pelas ruas humilhados.
Saudades da mulher que não podia
Nem sequer escolher os seus maridos,
Os dias com certeza mais compridos
E a todos espalhando esta alegria.
Saudades do remédio que não tinha
Da benzedeira e o tétano, do crupe,
Se eu tenho esta saudade não me culpe,
A culpa do hoje em dia não é minha!

marcos loures
Feliz e não sabia! Minha infância
Passada nas montanhas, nas Gerais;
Num tempo em que criança, não sabia
Das dores e dos medos, injustiças.
O gesto carinhoso de mamãe
Trazendo uma esperança em cada riso.
A mão tão poderosa de meu pai,
Herói que em noites frias, protegia.
Irmã correndo solta pela casa,
Botões que eu espalhava nas calçadas.
A avó na Mirai onde Ataulfo
Cantava seus amores e lembranças.
Infância que se foi, restou saudade.
Agora o velho peito em desalinho,
Sozinho vê que “Minas não há mais”.

marcos loures
Nos bares e nos guetos da cidade,
Meus olhos vão buscando seus espelhos
Mosaicos se perdendo em labirinto
Meus dias nunca mais serão os mesmos.
O gosto tão amargo da saudade
Uma aguardente dura de tragar
Nos tocos de cigarro no cinzeiro
O quanto que se foi e me deixou.
Cicatrizar a dor de tua ausência?
Dos dias que se passam sem descanso
Apenas o que resta não alcanço
E deixo tudo assim, não mais irei.
Agora que já fomos sem retorno
Em torno de teus olhos eu me entorno
E guardo em minhas vísceras teu beijo.
Um seixo que este rio não levou.
Quem dera, mas não posso primavera
Apenas este inverno que hoje sou.

marcos loures
Saudade faz matar o esquecimento,
Refaz o que distante já se viu,
O renascer da vida num momento,
Transforma o mais cruel num ser gentil,
Apascentando a dor de um tormento,
Esquece da palavra e traz o til,
A face amenizada pelo tempo,
Do que se transformara em contratempo.

Porém em outras vezes agiganta,
Roubando a pequenez de alguma cena,
Ferindo uma saudade desencanta,
Marcando bem mais forte a luz amena,
Minha alma de saudades sempre canta,
Permite que prossiga, e vá serena.
No doce em amargura, mel e fel,
Saudade, tantas vezes é cruel.

Não posso mais negar uma saudade
Do amor que um dia tive e se perdeu,
Distorcendo o retrato da verdade,
Dourando o que se fora simples breu.
Não deixa perceber a realidade,
Demonstra o que decerto não fui eu,
Numa fotografia amarelada,
Saudade ressuscita o quase nada.

Permite que possamos viajar
Além do que tivemos, ilusões;
Num mar que é tão difícil navegar
Saudade nos redime em emoções
Que nunca conseguimos disfarçar
Acalma e nos liberta das paixões,
Mas deixa esta vontade de saber
De novo o que nos deu tanto prazer.

Saudades... são formatos diferentes
Daquilo que pensamos conhecer,
Deixando para trás os inclementes
Momentos mais difíceis de viver,
Saudade traz a faca entre meus dentes
Embora tantas vezes faz sofrer.
No gosto da saudade, uma lembrança
De um tempo mais feliz, pra sempre alcança...

marcos loures
Saudade – mulher amada,
Dos nossos beijos roubados,
Saudade dos tempos passados,
Na noite, na madrugada,
Da tua boca molhada,
Dos corpos entrelaçados,
Dos desejos mais molhados,
Desse tempo que não volta,
E, por não voltar, revolta,
Corações apaixonados...

Saudade da minha infância,
Onde vivi felicidade,
Trazendo tanta saudade,
A quem não teve constância,
Da sorte teve distância,
Mas foi feliz por um dia,
Vivendo da fantasia,
Que nunca mais voltará,
Saudades torrada e chá,
Que minha mãe me trazia...

Saudades da minha terra,
Que ficou no meu passado,
Olho o tempo, vou de lado,
O coração não encerra,
Pesando daquela serra,
Inclinado vai andando,
Tanto lugar se mostrando,
Nas curvas da existência,
Mas, saudade, diz clemência,
Num retrato, recordando...

Saudade da juventude,
Onde não tinha nem medo,
A força era meu segredo,
Onde sempre quis não pude,
Amar assim, amiúde,
Quem nunca mais queria,
Mas a vida era vadia;
Nem sonhava recompensa,
Vida leve, breve, densa,
Saudade faz melodia...

Saudades do grande amigo,
Que ficou lá no sertão,
Seguindo por outro chão,
Nunca mais terei comigo,
No conselho, paz, abrigo...
Na vontade de ser rei,
Tantas vezes que eu errei,
Tive o braço companheiro,
Hoje sei do mundo inteiro,
Mas saudade também sei...

Saudade do Botafogo,
De Garrincha e de Didi,
Do melhor time que vi,
Não tinha nem pena e rogo,
Brincando, ganhava jogo,
Nas pernas tortas e loucas,
Vozes delirando roucas,
No Maracanã da vida,
Pena que vai esquecida,
As lembranças são bem poucas...

De minha mãe a saudade,
Dói essa dor tão cruel,
Mãe na terra, mãe do céu,
Simbolizas claridade,
Se a vida traz falsidade,
A verdade em ti está,
Onde eu estiver, é lá,
Que teus olhos estarão,
Nesse imundo mundo cão,
És um porto mais seguro,
Se me escondo nesse escuro,
Representas o clarão...

Saudades desse meu filho,
Ceifado logo bem cedo,
Deixando meu grande medo,
Novo enredo que hoje eu trilho,
Sua dor, meu estribilho,
Entoando todo dia,
Martiriza a noite fria,
A saudade rasga o peito,
Pergunto qual meu direito!
Vou vivendo essa agonia...

Saudades dessa esperança,
De viver um mundo justo,
De respeitarem arbusto,
De respirar nova dança,
De teimar em ser criança,
De ter um mundo melhor,
Sem diferenças e guerras,
Nossa Terra, tantas terras,
Nosso sonho ser maior,
Justiça saber de cor...

Saudade trazendo um laço,
Prendendo o que for saudade,
Saindo da realidade,
A vida acolhendo meu passo,
Descansar esse cansaço,
Duns olhos de sertanejo,
Na campina, no desejo,
Do trabalho, lindo sonho,
Minha saudade, te ponho,
No canto dum realejo...

Saudade dessa mulher,
Saudade dessa criança,
Saudade dessa festança,
Saudade, jovem, me quer.
Saudade, jogo qualquer...
Saudade tão companheira
Saudade dor parideira,
Saudade doce Natal,
Saudade desse ideal,
Saudade da vida, inteira...

marcos loures
Sou quase o que não fora se assim fosse,
Palavra solta ao léu, matando albores,
Em vis expectativas, mato as flores,
E quebro logo o pote, perco o doce.

Embora tanta coisa, a vida trouxe
Um circo feito em lágrimas, horrores,
Nas sombras do que fui, os dissabores
Já gritam que o que eu quis, foi. Acabou-se.

Apenas restará vaga e sombria,
Saudades tão estúpidas, venais.
Prenúncios de um tão próximo final.

Quem sabe enfim a morte sorriria,
Tomando com seus braços espectrais,
Tornando o meu caminho natural...

marcos loures

Na tarde tão divina e rutilante,
Os brilhos se misturam com as cores...
Aberta sobre o mar, ó bela amante,
Os caminhos das nuvens e das flores

Definem tal beleza, delirante!
Persigo teus pendores, onde fores,
A vida se transforma neste instante!
As tuas mãos morenas, meus amores,

Deslindam-se na tarde delirante!

Nas praias, clara areia, mansas ondas,
Os medos se tornaram fantasias...
Nos leitos das amantes, tantas rondas,

Em cores milagrosas, primavera...
Nos sonhos e nas conchas, melodias,
A vida não permite tanta espera!

marcos loures
Tristeza de uma seca nordestina,
Tocaia da saudade me esperando.
O medo me aguardando numa esquina
Fuzil e cravinote preparando,
Mudando de repente a minha sina,
As lágrimas descendo vão aguando
O solo da caatinga, em aridez,
Tomando sem perguntas, lucidez.

Tristeza de quem sabe que perdeu
O rumo em sua vida desditosa.
Fogueira das saudades acendeu
A fome de viver vai desairosa.
Matando em nascedouro, traz o breu
O cardo em tanto espinho, nega a rosa.
Uma sanfona chora a melodia
Criada em tom menor, pura agonia.

Os olhos de quem quero, não voltaram
Nem mesmo uma asa branca me salvou.
Os verdes da esperança já secaram,
Açude dos meus sonhos se acabou.
As pedras no caminho me encontraram,
Apenas duro espinho o que sobrou.
No aboio bem distante, sou o gado,
Perdido nesta seca, desgraçado...

Os ermos do caminho são meus guias,
Pegadas não encontro nesta areia,
Das flores que plantei, só fantasias,
Deserto me impediu qualquer sereia,
As noites sem luar, seguem vazias,
A morte sorridente me rodeia
E mostra esta tristeza companheira,
Mulher em minha, derradeira.

São tantas as promessas que já fiz,
Em procissões segui, olhar distante,
Quem dera se eu pudesse ser feliz,
O dia nasceria radiante,
Da dor teria simples cicatriz,
A paz me tomaria num instante,
Porém a vida crava a sua garra,
Verão segue inclemente em clara barra.

Os filhos dos meus sonhos, pesadelos.
Carrego tantas mortes no bornal.
Os dias prometidos; como vê-los
Se o nada vem voltando no final,
Morena; tão distantes teus cabelos,
Na seca do meu peito, temporal.
Recebo a ventania no meu rosto,
Ardência se transforma num desgosto.

A seca destruindo a paisagem,
Apenas pedregulhos e mais nada,
Sorriso já não passa de miragem,
Sem rumo, vou seguindo a dura estrada,
Pressinto no final desta viagem
A mata que me resta, derrubada,
Quem dera se o sertão virasse mar,
Porém prevejo o mar a se secar.

O canto tão tristonho do urutau
Espalha o sofrimento sobre a terra,
A solidão coloca a pá de cal
E a vida, sem ninguém, assim se encerra.
As roupas não secaram no varal,
O medo de sonhar mais forte berra
E traz uma agonia a cada noite,
Tristeza me queimando como açoite.

O gado vai morrendo em tanta sede,
Sem ter uma esperança, também morro,
Retrato de quem amo na parede
Não serve nem sequer como socorro,
A morte me levando em uma rede,
Distâncias inclementes eu percorro
E vejo no final, só a tristeza
Companheira dileta de meus dias,
Tocando sobre mim as mãos tão frias.

Um dia imaginei que enfim, pudesse
Ter a felicidade que sonhara,
Porém nada valeu a minha prece,
E a sina se mostrando mais amara,
Vazio no meu peito se oferece
E a mão que conhecera, desampara.
Refém de um sentimento sem guarida,
Perdendo as ilusões, perdi a vida.

Na plantação dos sonhos, que eu agüei,
Usando uma esperança como enxada,
Secando toda flor que ali plantei,
Depois de tanto tempo não deu nada,
De tanto que eu pedi, tanto rezei,
A voz que me restou, vai embargada.
Quisera esta alegria de poder
Ao menos um sorriso recolher.

Merenda da esperança, uma alegria,
Um riso de mulher, um colo amigo.
Não tendo mais estrela vou sem guia,
A cada encruzilhada, outro perigo,
Outra sina, quem sabe eu merecia,
Mas como se lutar nem mais consigo.
Tropeiro coração perdendo o rumo,
Não sabe desta fruta mais o sumo.

Partindo pr’outras terras, talvez tenha
Um pouco a mais de alento em minha vida.
Mudando minha história, outra resenha,
Aonde a minha sina distraída,
Permita que eu descubra qual a senha
Que deixe vislumbrar uma saída.
Quem sabe... Mas não creio mais em sorte,
Adoço minha boca, mel da morte.

Somando as minhas dores, desatinos,
Tristeza que conheço, vai sem fim.
Dos pássaros não sei sequer os trinos,
A seca permanece dentro em mim.
Os dedos da esperança são bem finos,
A boca da saudade é carmesim,
O fardo que carrego, eu não suporto,
Na morte encontro enfim, amado porto...

marcos loures

Se alguém disser, um dia: “Sê discreto,
Não ostentes a dor que te consome,
Pensa na angústia de um amor secreto
E, então a todos, tu dirás o nome

De quem merece o teu profundo afeto!
Depois, se a dor, o luto, o tédio e a fome
Se abrigarem debaixo do mesmo teto
Fica em paz, a esperar que o tempo dome

A fúria sanguinária da tristeza!
O sofrimento é gêmeo da beleza!
Talvez então aí, se abrisse a porta

Do cárcere de dor que assim te prende,
E a voz de Deus se ouvisse- que se entende-
Iluminado uma esperança morta...

Quem sabe, assim, talvez a dor te traga
O gosto tão amargo da saudade.
A boca que te beija, que te afaga,
A mesma que te cospe, na verdade...

Amigo, não discuta com a morte,
A sorte de quem vai, a de quem vem,
Dependem desta fúria, deste corte,
Da vida que levamos, sem ninguém...

Mas saiba que te resta uma ventura.
A noite sem estrelas trama o sol.
Depois desta doença, morte ou cura,
A louca desventura, teu farol...

Amigo, uma esperança que morreu,
Do amor que dentro em ti, já se escondeu...

Marcos Coutinho Loures
Antonio Viçoso Magalhães
Marcos Loures
Angústia dominando a minha noite!
O medo de perder-te me devora,
O tempo não se passa, a vida chora,
E queima em minhas costas como açoite!

Meu pensamento voa e me tortura
Se deita em minha cama, triste fera,
Em dor, toda a minha alma se tempera,
Deixando um certo gosto de amargura.

Quem sabe não terei o meu descanso?
O vento me responde um não feroz,
Em lanhos, minhas costas, dor atroz,
E em meio a tantas pedras, noite avanço.

Saudades são mortalhas que carrego,
No peso desta vida, vão granito,
Um grito, meu lamento, no infinito,
Os mares da tormenta eu já navego...

Escute, minha amada, sou um rio
Que em margens desmatadas, assoreio.
O sangue se espalhando por meu veio,
E embalde tanta dor, inda sorrio...

marcos loures

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Reflexos de outros erros do passado,
Cevamos os abrolhos do futuro.
Do fim há tanto tempo anunciado,
Cravamos más sementes, solo duro.

Pisando no fantasma injustiçado,
Aumento pouco a pouco o enorme muro,
Gigante e intransponível alambrado,
Saída, na verdade não procuro.

E interno o coração neste gradil,
Que embora saiba ser imenso e vil,
No fundo me protege e me cerceia.

Matando o que podia ser o sonho,
Cenário desolado que componho,
Apodrecendo o sangue em cada veia...

marcos loures
Tua imagem, satânica e covarde,
Retrata muito bem o que nós fomos...
Apodrecendo em vida, tantos gomos,
A morte se aproxima sem alarde.

Não tendo fantasia que a retarde,
Terminam desde já; todos os tomos,
Carcaça do que outrora ainda somos
Nos olhos de quem vê; penetrando arde...

Titânicos e hercúleos, meus embates,
Somente esta derrota por medalha.
Perdendo sem pudor cada batalha,

Não quero salvação sequer resgates.
Apenas prosseguir a minha sina,
Na boca que me beija e me assassina.

marcos loures
PELO TODO SE TOMA A PARTE
Lindo e sutil trançado, que ficaste
em penhor do remédio que mereço,
se só contigo, vendo te, endoudeço,
que fora cos cabelos que apertaste?

Aquelas tranças d'ouro, que ligaste,
que os raios do Sol têm em pouco preço,
não sei se para engano do que peço
se para me atar, os desataste.

Lindo trançado, em minhas mãos te vejo,
e por satisfação de minhas dores
como quem não tem outra, hei de tomar te.

E se não for contente meu desejo,
dir lhe hei que, nesta regra dos amores,
pelo todo também se toma a parte.

Luis de Camões

Ao ver os teus cabelos enfeitados
Com conchas que encontraste em alva areia,
Qual fora simplesmente uma sereia,
Meus dias desde então enfeitiçados.

Desejo de poder tê-los tocados,
Na insânia que domina e me incendeia,
E imenso fogaréu do amor se ateia,
Ao crê-los tão macios, perfumados...

Somente por poder vê-los por perto,
No sentimento imenso que desperto,
Levando o meu amor sempre adiante,

Ao conhecer apenas o adereço,
A plena maravilha; reconheço,
Do dedo se adivinha o que é gigante...

marcos loures
PELO AMOR DE DEUS

Não quero o deus que cobra seus impostos
Tampouco padres; tétricos cantores
A multidão estúpida; seus rostos
Marcados pela voz dos impostores.

Não arredam o pé; mantêm seus postos,
Cordeiros idolatram tais pastores
Das oferendas pútridos encostos
Igrejas depositam vãos penhores.

E o amor há tanto tempo desprezado
Jogado entre os esgotos das cidades.
O Cristo por canalhas explorado

Exposto nas entranhas de um zoológico
Na cruz; qual fora pássaro em mil grades
Retrato de um desenho vil e ilógico...

marcos loures
PEDIR PERDÃO
Pedir perdão por todos os pecados
Seguindo o peito aberto, destemido.
Jamais poder pensar estar vencido
Os sonhos muitas vezes destroçados.

Restando tão somente os velhos fados,
A noite se emoldura num gemido,
E tudo o que quisera, está perdido,
Abraço-me ao Senhor dos desgraçados.

E quase posso crer em salvação
Embora a cada abismo um novo aviso,
Irônico, sem nexo, o meu sorriso

Traduz o que pensara solução.
Matar os meus enganos, ser fiel,
Afasto-me das redes do teu Céu.

marcos loures
PARA MERECER CRISTO
Enquanto houver miséria sobre a Terra,
E um povo sem apoio e desvalido,
O mal que dentre todos já se encerra
Trará o nosso Pai, frágil, vencido...

Enquanto houver tamanhas injustiças,
E a fome campear pelos países,
Os homens sendo escravos das cobiças,
As almas serão simples meretrizes...

Enquanto houver discórdias imbecis,
E as armas não calarem suas vozes,
As rapineiras aves, seres vis,
Persistirão em ritos mais atrozes...

Enquanto não houver a liberdade,
Não merecerá Cristo, a humanidade...

marcos loures
PASSOS SUJOS DE SANGUE

Passos sujos de sangue nas calçadas,
Olhares tão vazios, vida à toa,
Ouvindo estes clarins nas alvoradas
O pensamento ao longe ainda ecoa...

E as mãos sem esperança decepadas,
O naufragar sem boia da canoa,
Antigas esperanças derramadas.
A vida que eu julgara, outrora, boa

Mergulho numa insana correnteza,
Não tive e não terei força e destreza
Apenas caminhando contra o vento.

Sentindo o fogo ardendo nos caminhos,
Os dias que terei sempre sozinhos,
Matando pouco a pouco o sentimento...

marcos loures
Pudesse confessar os meus pecados,
Eu creio: fugirias num segundo,
Segredos com certeza bem guardados,
De um torpe coração tão vagabundo.

Porém estão lançados estes dados,
Quem sabe tu verás um ser imundo,
Tomando em minhas mãos, destinos, Fados,
Na lama a cada dia me aprofundo...

A podridão de uma alma; agora nua,
Num cárcere profano continua,
Regida por demônios mais diversos.

Mas passo assim sorrindo pela rua,
Olhando calmamente para a lua,
Declamando, suave, doces versos...


marcos loures
Jogaste num abismo os nossos sonhos,
Mergulho atrás das marcas e pegadas,
As horas já perdidas; emboscadas,
Em meio a confusão, seres medonhos.

Os dias vão vazios e tristonhos,
Supero as mais incríveis paliçadas,
E busco nas entranhas, nas estradas,
Momentos que já foram mais risonhos...

Escuto a tua voz? Alarme falso,
Adentro maltrapilho um cadafalso,
Masmorras de minha alma carcomida...

Quem sabe te encontrar renovaria,
E após a tempestade e a ventania,
Traria novamente à tona, a vida...

marcos loures
Bonde
Improviso meu pedido
Meu sonido e desculpas...
As culpas foram deixadas
As asas, passarinhada.
Esfarinham minha sorte...
Não posso tentar meu rumo.
Assumo e me consumo
Sou sumo e não sumi...
Não toco e nem sou toco
Rouco...
Louco
É pouco a pouco
Meu foco e meu reboco...
Amo os temas
E as tremas.
Gemas e não mais claras
Faros e faraós.
Partos e parecidas.
Paciência...
Víspora de véspera é vespeiro...
Nada mais a dizer
Pego o meu boné
Para não perder o bonde
Da História...

marcos loures
BOA SORTE, AMOR

Na lâmina suave com que cortas e me entranhas
Nos versos gelados e frios que saem de mansinho
Com as penugens podadas, do coração.
Na lâmina breve com que sonhos se cortam
E se abortam faço minhas rimas sem nexo.
Queria apenas o descanso suave do colo
Que nunca viria, nem nunca virá.
Queria o mundo que jamais seria meu.
Imerso em detalhes.
Corsário, sem rumos.
Sem prumos ou primas.
Vacilo e não ando
Desando.
Meu andor é de barro
Meu mar é sem praia
Na areia me perco.
Depois desta ceia
Desato meu mundo
Que gira e não trama
Apenas sei lama
E nada me guia.
Mas amo meu mundo
Sem mar e sem lodo
Em mim mesmo afundo
O mundo que fio
E vou sem pavio
No frio da noite
Que como um açoite
Me diz: és feliz.
Tal credo me ilude
No medo que pude
Conter nos meus olhos
As lágrimas a mais.
E amo, te amo, nas ânsias da vida.
Que trará vida
No seio da morte.
Amor boa sorte
Que a minha perdi...

marcos loures
A Besta em fantasia de profeta
Protege quem gerou, espúria brasa.
No nada versus nada se completa,
E finge que desfruta desta casa.
A Besta que brincando de poeta
Com o pobre capeta já não casa.
Disfarça e faz que gosta de xodó
Com medo de morrer fedendo e só.

Na sua servidão, desanca a todos,
Botando o seu nariz, frio, pra fora.
A Besta ressurgindo destes lodos,
A quem a Besta beija já devora.
É feita de mentiras, vãos engodos,
De todos que desejam, desde agora,
A Besta faz solenes picadinhos,
Zombando dos que gostam de carinhos...

marcos loures
BECOS SEM SAÍDA
Noites rondando
Bebendo da lua
Sarjetas
E fantasias...
Nuas presenças
Belas mulheres
Roda vida...
Medo de esquinas
Calçadas e becos
Lugares propícios
Para matar a sede
E quiçá a fome...
Beco sem saída...
Bala ou prazer
De saias levantadas?

marcos loures
Batendo à minha porta

Batendo à minha porta
O corvo ou meu passado
No tempo delegado
Do sonho que se aborta,
Do quanto não importa
Eu trago este legado
E bebo este pecado
Ou tanto a vida corta
Passado diz presente
Presente te asseguro
Sondando algum futuro
Diverso se apresente
Vagando sem destino
Aí eu me alucino.

marcos loures
Barco ao Vento
Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável. Sêneca


Procuro por um ponto de partida
Que leve meu saveiro para o mar
Evitando as procelas. Navegar
Calmamente, sem dores, pela vida...

Eu sei que esta viagem traz os medos
Naturais de quem sempre foi sozinho.
Mas sei quanto é preciso ter um ninho
Depois de tantas lutas e degredos...

Espero que este canto então me leve
Pela vida. As promessas deixo ao largo...
A vida tantas vezes trouxe amargo
Gosto. Agora proponho um novo, leve...

Os rumos a seguir são mais diversos,
Meu barco já perdeu rosa dos ventos.
Ao norte encontrarei meus sofrimentos,
Ao sul já morrerão todos os versos...

Ao leste, dispersada solidão,
A oeste tempestades e penhascos.
Rebento-me e nem sinto, tantos cascos,
Em meio tão esparsa solução.

Bem sei que sempre perco mas não canso,
A luta é necessária e muito aflita.
A morte tantas vezes foi bendita
Porém o que procuro, um mar mais manso,

Não posso perguntar de onde viria,
Pois sinto que jamais serei feliz.
E traço meu destino e diretriz
Com olhos espalhados noite e dia...

Os astros me deixaram ao relento
Sem porto nem talvez terei cais.
A sorte, com certeza, nunca mais.
Meu barco vai sozinho, solto ao vento...

marcos loures

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

as tempestades se aproximam, sem medidas
em vórtices ferozes e temíveis,
os dias mais terríveis em incríveis
granizos invadindo frágeis vidas,

e a rapineira corja entre as feridas,
banqueteando as carnes mais visíveis
rasgando os cernes das classes desvalidas
lambendo dessas chagas corroídas,

os velhos capitães do mato gargalhando
e a senzala morta nos navios.
irônicos acendem mil pavios

e a classe média, pensa,triunfando,
enquanto a casa grande aplaude os gladiadores
no circo dos eternos perdedores...

Marcos Loures

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

quisera ser, talvez além do pó,
esparramado entre as paredes mais esquálidas,
tentando adivinhar entre crisálidas
a vida sem ser vil, sem ser tão só,

buscando entre os retratos do que outrora
bebera até fartar em ilusões,
os olhos entre os frágeis diversões,
porém todo o presente me devora,

sardônico sorriso deste ignaro
expressa tal tolice que ora mato,
e quando ao fim da festa me retrato,
resgato o verso amargo e me declaro.

escória entre as escórias, meu refúgio,
ousando na esperança, um subterfúgio...

Marcos Loures
O corpo lacerado de quem tanto
amara e nunca fora amarga mente,
tomado por metano claramente
eclode num momento sacrossanto.

bebendo desta pútrida mistura,
a sorte em morte goza mais profana
e a luta que deveras desengana
reflete o quanto a vida vã depura.

escárnio simplesmente e nada além,
a marca aprofundada em minha pele,
ao tosco desvario me compele
e, apenas o que resta me convém.

amei demais; talvez fosse meu erro,
e agora em solidão, brindo o desterro...

Marcos Loures
na etérea fantasia que permita
luares e sertões, o podre cerne
do tanto que em verões ainda inverne
e torna sem valor qualquer pepita.

o cético poeta se limita
e mesmo quando o verso em vão hiberne
perfuma em sortilégios o que externe
uma alma onde o jamais teime e reflita.

medonhos e asquerosos olhos mortos,
buscando em meus naufrágios novos portos,
em tortos descaminhos que propago,

a farta comilança dos saprófitas
e a maravilha tosca das neófitas
bactérias vão brindando em farto trago...

Marcos Loures

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

o fato de pensar se faz fatídico,
não quero mais beber além do ocaso,
o tempo de viver encerra o prazo,
o beijo da mulher, tosco ou ofídico,

libidos eclodindo no que outrora
ainda se pudesse ser vivente,
explode o quanto resta e me desmente,
enquanto a própria ausência me devora.

ninguém, nem mesmo a mão de quem afaga,
trouxesse ao moribundo algum alento,
e quando respirar, ao fim eu tento,
a vida em avidez roga outra praga,

e sendo de tal forma não duvido,
ainda resta um tiro em meu ouvido...

Marcos Loures​
por vezes imagino o quanto pude
traçar em vida rude e sem valia,
tramando o que rondasse em fantasia,
tentando prosseguir, tola atitude.

não tendo mais idade nem saúde,
velando cada frase quando havia
um riso que julgaste de ironia,
quando em verdade a dor vem amiúde.

nas traças, a gaveta, os alfarrábios
a morte beija mansa os podres lábios
de quem se fez poeta, e não vencera

a própria fantasia, mais ingrata,
e agora quando a tumba me arrebata,
a pálida expressão recende à cera...

Marcos Loures
a imagem carcomida num espelho
reflete os tantos anos já perdidos,
os olhos entrelaçam esquecidos
momentos onde a morte diz conselho,

e o templo que se arrasa num instante
respalda o quanto a vida desfalece,
a praga se transforma em mansa prece
somente algum final ora adiante,

mesquinhos dias, mortes rituais,
versando sobre o nada sem proveito,
a campa se aproxima, doce leito,
e bebo destes vastos temporais.

resumos entre sumos e serpentes,
irônico demônio, já não mentes...

Marcos Loures​
porquanto a podridão do corpo inerte
expresse o mais profundo que eu carrego,
o passo sem sentido, audaz e cego
jamais a direção atroz reverte,

e quando após o nada enfim desperte,
moldando o quanto houvera, não me apego
e tento consumir o que renego,
meus erros, já ninguém mais acoberte,

superna fantasia, a morte insana,
a boca que me escarra não me engana,
profana e sacrossanta noite imunda,

e o vento quando ulula na janela
apenas o passado nos revela
e a face da carcaça o todo inunda...

Marcos Loures

domingo, 6 de dezembro de 2015

a faca no pescoço e o tempo corre,
apenas o que resta é o fim do jogo,
a boca quando beija em lava e fogo
cuspindo enquanto finge que socorre,

vivendo mais um dia, um novo ocaso,
refugo de um passado e nada além,
a porta se travando e ninguém vem,
tampouco faço disso, qualquer caso.

jogado sobre as traças, corpo inerte,
a velha solidão toma e não passa,
deixando apodrecer essa carcaça
que apenas o demônio ora desperte.

escracha companhia má,satânica,
minha alma adormecendo enfim. VULCÂNICA...

Marcos Loures.
já nada mais comportaria alguma luz,
apenas madrugada e nada além,
a senda mais atroz que me convém
expressa o próprio fim e assim conduz.

reflexo do cenário onde compus
o verdadeiro anseio onde ninguém
encontra o sortilégio que o provém,
impossível drenar o próprio pus.

arfando adentro campas de minha alma
e nada que encontrasse ao fim acalma
quem tanto se fez pranto inutilmente,

rondando outro planeta, deveria,
singrar a dimensão da fantasia,
morrendo, este bufão, nem mesmo mente...

Marcos Loures
Vagando pela noite sem paragem,
bebendo da sarjeta cada instante,
a vida prometida delirante,
encontra noutro instante a rude aragem,

e quando me entranhando, a paisagem,
ouvindo o mar sombrio e tão distante
a bruma toma tudo e, fatigante,
vertigem torna o riso, vaga imagem.

a chuva derramando em toda gota
a farsa de uma vida agora rota
e a rota se perdendo eternamente,

o suicídio ronda, e se aproxima,
o fim enfim seria doce rima
e toma inteiro e manso,a minha mente...

Marcos Loures.
Dormir... e o pesadelo continua,
a faca adentra além do que esperava,
a boca derramando amarga lava
a morte ora voraz, audaz e nua,

a sórdida expressão temível crua
e o canto que outro encanto ora esperava
esbarra no portão, terrível trava.
uivando o coração, brumosa lua...

não quero mais a gota deste orvalho,
o peso de uma vida em seco atalho
encontra esta navalha escancarada.

vestindo simplesmente outro senão,
em ávida certeza, a podridão
derrama cada gota na calada...

Marcos Loures.
Não se assustem, porém, com minha calma,
Do banquete final, fica minh"alma!
Marcos Osilia
embora apodrecida a cada passo,
o fim que me esperasse, eu mesmo traço.

e bebo do veneno quando acalma,
resumo meu caminho em todo trauma
e nele me enfronhando, antigo laço
deixando o coração rude e mais lasso

apenas coligindo o quanto houvera
da sórdida e mordaz, turva quimera
que tanto se apodera, dia a dia,

o fim em todo cálice blindado,
refém do vago ser que no passado
tornara cada verso, outra sangria...

Marcos Loures.
acreditar, talvez, num falso alento
que possa redimir o quanto houvesse,
ainda imaginando alguma prece
da palavra espalhada ao vago vento,

a morte me tomando o pensamento
enquanto o sofrimento me apetece
o corpo lacerado nunca esquece,
e pútrido cadáver, me arrebento.

os dias se refletem espelhares,
e busco além do quanto me mostrares
com tolas e vorazes orações,

não quero mais perdões tampouco pena,
apenas a mortalha que se acena
nos fim das tais terríveis estações.

Marcos Loures
Dura carnificina, o mundo toma
e bebe deste sangue apodrecido,
enquanto o quanto houvesse dividido
jamais se imaginasse pura soma,

e quando este fantoche humano doma
a sorte do que fora concebido,
ainda o quanto resta, ao fim me olvido
e tento me trancar numa redoma,

funâmbulo da vida, busco além
do nada que após nada já não vem,
e a chaga aprofundada dita o rumo,

o vórtice bebido qual absinto,
expressa o nada ser que agora sinto,
e por pior que seja, eu me acostumo...

Marcos Loures
a pútrida noção do quanto resta
de quem talvez pensasse noutro campo,
a vida representa um pirilampo
e a obscuridade apenas o que empresta
a quem o coração logo se empesta,
enquanto na neblina ora me acampo,
uma esperança além, vasta, descampo,
descambo para a noite em vil floresta.
a sorte denegrida, em vis abrolhos,
rompendo com a fúria sob os olhos
ferrolhos da impossível liberdade,
e algum carinho, ao fim, o quanto eu queira,
jogado em precipício, toca a beira
e o salto sem retorno, o peito invade...
Marcos Loures;