sábado, 12 de dezembro de 2015

A vida passou ávida de vida,
pelo campo onde caminhava solitário.
Não quis ser mar
nem ser maré,
quis viver Maria,
que nada mais continha
a não ser poesia...

Mas me detinha a cada passo,
teu cansaço e minha sina,
meu abraço e tuas pernas,
penugens e paragens,
margens e manhãs...

Quis ser sonho e pedregulho,
ser seixo e ser queixume,
deixo meu ciúme e minha cisma;
cataclismo fatal sem fátuos fatos...
Num átimo um ótimo momento,
um último madorno me adorno
de teus ouros e perolados olhos.
Nos óleos que me tramas,
casas e camas,
nas brasas, chamas
e não respondo,
oculto.

Te cultuo num duo infernal,
sem eco, sem ego,
trôpego, trafego
e me apego a teu passo,
pássaro solto, contrafeito...
Desfeito tudo que pudesse ser
meu, mel e mal,
Maria, o mar ia amar, andei e não te vi
bem te vi, mentiras e martírios.

Marujo sem sabujo, não sei se rei,
sereia que seria minha teia,
mas atéia, ateia tantas brumas,
bruxuleante brisa, concisa e precisa, necessária...
Amar Maria, mar ondeia, nos seios,
seixos e desejos, um beijo e um aceno,
contraceno com velas e veleiros.

Nas mãos vazias, azias e ânsias,
anseias seres livre,
me contive e não tive outro chão...
O vão aberto sob meus pés,
fendida a praia, fendida a saia,
a baia, o portão...
O porto longe, a vida longe,
longevidade para quê?

Na seda que roubaste e vestiste
insiste meu tato,
permite o olfato que,
de fato serei ato, sou regato
e regado a tanta maresia...
Mar se ia sem Maria,
sem marés e sem viés
para o invés do investido,
antes tivesse ido,
morrer no mar,
sem Maria, sem mares,
sem marés,
sem poesia...

marcos loures

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