sábado, 12 de dezembro de 2015

TE AMO DEMAIS! coroa de sonetos

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“Minha alma de buscar-te anda perdida”,
E cada amanhecer sempre renova
Esta esperança amarga e tão querida,
Amor se colocando assim à prova.

Não posso suportar tal despedida,
A vida preparando a fria cova
Aguarda tão somente uma saída
Na lua que renasce bela e nova.

Meus olhos procurando o teu olhar
Em meio a constelares viajantes.
Estrelas que encontrei a divagar

Acendem pirilampos deslumbrantes;
Jamais me cansarei de procurar
Teus raros e mais belos diamantes.

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Teus raros e mais belos diamantes
Guardados nestes cofres, esperança;
A noite em fantasias já se avança
Amores se transformam navegantes.

Quem teve seus caminhos inconstantes
Apenas rememora tal lembrança
A paz representando esta aliança
Anseia sentimentos mais constantes.

Mas sei que depois disso tu virás,
Deixando esta tristeza para trás
Sorrisos nos teus lábios e nos meus.

Não quero mais saber deste vazio,
Vencendo a tempestade dura e o frio
A vida negará qualquer adeus.

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A vida negará qualquer adeus
A quem já se perdeu de tanto amor.
Olhares divinais iguais aos teus
Invadem o meu peito sonhador.

Caminhos confluentes teus e meus
Refazem o perfume desta flor,
Por tantas vezes passos vãos, ateus
Tramaram tão somente amarga dor.

Partindo deste nada, tive o nada,
Porém minha alma louca e transtornada
Cansada de vagar inutilmente

Encontra no teu peito ancoradouro,
Sabendo que encontrei, enfim, tesouro
Meu rumo se transmuda num repente.

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Meu rumo se transmuda num repente
E mostra ao fim do túnel uma luz.
O quanto ser feliz já se pressente,
Olhar que em teu olhar se reproduz

Tocando o coração de toda a gente
Amor intensamente nos seduz
E agora se eu prossigo mais contente
Não temo mais a dor, amarga cruz.

Somando nossos passos cedo alcanço
O fim da caminhada e vou feliz.
Encontro finalmente este remanso

Deitado sob estrelas luminosas
Estendo sobre a terra um chão de giz
Plantando no teu peito belas rosas...


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Plantando no teu peito belas rosas
Eu sei que colherei felicidade
Sorvendo cada gota da saudade
Estrelas que virão são radiosas.

Palavras muitas vezes melindrosas
Não deixam vislumbrar a liberdade,
Porém se amor se faz sinceridade
Estradas surgirão maravilhosas.

Meus olhos te buscando pelas ruas,
Pegadas não encontro, pois flutuas,
Teus rastros divinais, doces perfumes

Os astros eu recolho em meu bornal
E vago livremente pelo astral
Seguindo em noite imensa, belos lumes.

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Seguindo em noite imensa, belos lumes
Desejos se mostrando são falenas
Tocadas pelo amor e seus perfumes,
Querendo mitigar antigas penas

Dos píncaros dos sonhos, altos cumes
Refletem no meu céu divinas cenas,
Matando antigas dores e queixumes
Tornando as tristes horas mais amenas.

Não quero neste mundo privilégio,
Amor que em minha vida se fez régio
Domina cada passo e pensamento.

Na fantasia imensa que carrego,
Não posso permitir ciúme cego
Tornando a minha vida num tormento.

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Tornando a minha vida num tormento
Temores se mostraram bem mais vis,
No fogo da paixão tão violento
Palavras nunca foram mais sutis.

Quem dera se eu pudesse num momento
Sentir quanto é possível ser feliz.
Eu não teria mais tal sentimento
Distante do que sonho, amor me diz.

Mas tendo após a dura tempestade
Bonança nos teus braços benfazejos,
O céu se colorindo em azulejos

Renasce enfim total felicidade.
Prevejo em novo dia, amanhecer
Coberto de alegria e de prazer.

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Coberto de alegria e de prazer
Eu sinto o vento manso deste amor.
Regado pela fome de viver
Disfarço este meu peito sonhador;

Distante dos meus olhos pude ver
A força da tristeza, imensa dor,
Porém ao vislumbrar teu bem querer,
Eu pude cada passo recompor.

A lua se mostrando assim desnuda
Deixando a natureza agora muda
Espalha a luz imensa sobre nós

É como se dissesse da alegria
De quem ao desfilar já percebia
O vento da paixão doce e feroz.


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O vento da paixão doce e feroz
Adentra em vendaval, faz reboliço
Calando num momento a minha voz
No temporal dos sonhos, perde o viço.

Amor já se mostrando mais veloz
Acende o mais divino compromisso
Juntando bem mais forte nossos nós
Permite cada sonho que eu cobiço.

Trazendo em argumento a luz mais forte,
Amor cicatrizando qualquer corte
Fagulhas espalhadas manso incêndio.

Encontro em cada parte do compêndio
Palavras que me falam deste amor
Divino, sem limites, sedutor...

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Divino, sem limites, sedutor,
O canto que me trazes bem amada,
No encanto deste verso eu vou compor
Depois da dura lida, a bela estrada.

Renasce em meu canteiro a rara flor,
Espécie magistral feita em florada
De todo o raro encanto sou gestor
Minha alma se mostrando enamorada.

Anseio por teus seios tão sublimes
E quero que este amor tu sempre estimes,
Pois nele uma verdade transparece.

De ti cativo sigo a vida inteira,
Amor se torna enfim minha bandeira
Teu corpo catedral, canção e prece.


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Teu corpo, catedral canção e prece
Altar ao qual dedico minha fé,
Aos gozos e prazeres obedece
Rogando o sentimento imensa Sé.

A boca que em desejos se oferece,
Rompendo estes grilhões, nega a galé
E o sonho claro em vida, amor já tece
Irei sempre contigo aonde e até.

As algas e corais, estrelas, mares,
Nas conchas, caracóis, belezas raras.
Buscando o teu amor, qual fosse Páris.

Lutando por Helena sem descanso.
As horas benfazejas me são caras
Contêm os paraísos que eu alcanço.

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Contêm os paraísos que eu alcanço,
Teus olhos radiantes e estelares.
E neles garantia de um remanso
Depois de vagar só por tantos bares.

O coração batendo bem mais manso
Encontra refletido nos luares
O brilho deste sonho em que descanso
Sabendo benfazejos tais altares.

Na mansidão imensa deste lago
Amor preconizando cada afago
Permite que eu me entregue, prisioneiro.

Se à sombra deste sonho amada eu vivo,
Eu quero ser do amor sempre cativo
Sentindo este prazer mais verdadeiro.

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Sentindo este prazer mais verdadeiro,
Não posso conceber a derrocada.
Se o mundo se transforma mais ligeiro
Não quero minha sorte transformada.

Do barco que navego, timoneiro
Amor vai construindo a bela estrada
Fazendo no meu peito o derradeiro
Caminho e nele faz a sua estada.

Vou bêbado da luz que me irradias,
E sigo cada passo e rastro teu,
Amor que tantas vezes me venceu

Moldando as mais suaves melodias
Agora se enfronhando em meu caminho
Impede que eu prossiga, assim sozinho...

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Impede que eu prossiga assim sozinho
O olhar abençoado de quem amo.
Aos passos mais macios eu me alinho
E toda a noite em sonhos; sempre chamo.

Amor se aproximando tão mansinho
Tornou-se; na verdade, quase um amo.
Se eu bebo deste doce e raro vinho
Um mundo em esperança agora eu tramo.

Eu quero o teu amor e nada mais,
Sonhar com teus carinhos! Maravilhas...
Sabendo que também tu compartilhas

Do mesmo sonho, amada encontro o cais
E sinto que ao saber de nossa vida,
“Minha alma de buscar-te anda perdida”.

marcos loures em homenagem à Florbela Espanca

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