33751
Renasce nos teus olhos, sim, querida
A lua em noite imensa, mas cruel,
E quando se perdendo ronda o céu
A sorte se prepara em despedida,
Audaciosamente já perdida
Minha alma vaga alheia segue ao léu
E tenta prosseguir no seu papel
Porquanto ora se ausenta a minha vida,
Não vejo mais a chance de voltar
E ter nos meus caminhos o que eu quero
O tempo se mostrando amargo e fero
Deixando para sempre este lugar
Aonde poderia ser feliz
E agora vira mera cicatriz...
33752
Como é bom poder sempre, enfim te amar
Pensara quando um dia vira o brilho
E agora tanto medo, este empecilho
Não deixa restar nada no lugar,
Escrevo com a dor cada momento
E tento disfarçar até sorrindo
E quando vejo o tempo curto e findo
Apenas entranhando o desalento
E arrisco alguma lua em noite escura
O vago caminhar não me permite
E tudo se transforma e num limite
Vazio toma a sorte e ali perdura,
Não pude ter além de uma ilusão
E agora sigo só sem direção.
33753
Encontrei, em ti felicidade
E tudo poderia ser retrato
De um dia mais sublime, mas sei de fato
O quanto na verdade se degrade
O passo aonde tanto quis um dia
Vibrar em plena luz, mas nada veio
E quando se percebe o olhar alheio
A vida sem caminho se esvazia
E o templo que gerara em pensamento
Altar aonde pude crer num sonho,
Agora noutra face mais medonho,
Transforma qualquer luz em desalento
E tento respirar, mas não consigo,
O mundo se perdendo em desabrigo.
33754
Tantas vezes choraste pelas ruas
Tocada pelos raios desta musa
Que agora ao ver de longe vai confusa
Enquanto nos meus sonhos tu flutuas,
Ainda sigo aquém das tantas luas
E toda a minha sorte em vão se cruza
Com farto descaminho enfim obtusa
E nada do que espero inda cultuas,
As mesmas noites vendo o dissabor
De quem se fez outrora em farto amor
E agora não tem mais sequer caminho,
Aonde poderia acreditar
As ânsias mais audazes do luar
Enquanto vago ledo, vão, sozinho...
33755
Nos erros cometidos, por amor
Insisto em procurar alguma luz
E quando na verdade ao bem me opus
E neste fato vejo a se compor
A vida noutro tanto em dor intensa
Vencido pela angústia nada levo
E quando noutro verso até me atrevo
A dita não traduz a recompensa
E quase acreditei no tal engano,
Cenário mais propício, novo dia,
Apenas mera sombra e poesia
Coleto novamente medo e dano,
Minha alma carcomida segue alheia
Felicidade é tudo o que inda anseia.
33756
Incrível; mas eu sempre me perdi
Nos rumos destes sonhos mais audazes,
E quando novamente tu me trazes
O tempo se esvaindo e estou aqui,
Emudecido agora não consigo
Vencer os meus fantasmas e me entrego,
O quanto fora em vida atroz e cego
A sorte desdenhosa nega o trigo
E apenas tanto joio dentro em mim,
Pudesse acreditar na primavera,
Mas quando a vida surge amarga e fera
Traçando a cada dia mais o fim,
O peso de viver não mais suporta
Uma alma já cerrada a sua porta.
33757
Tentando não causar nenhuma dor
A quem se fez presença, mas não vindo
Deixando para trás o mundo lindo
Causando tanto medo e dissabor,
Pudesse ainda mesmo em flor e festa
O fato de sonhar inutilmente,
A vida noutra face se apresente
Permita à claridade ao menos fresta
Negando melhor sorte a quem se fez
Estúpido poeta e agora esvai
Enquanto a vida avança e o tempo trai
Só resta dentro em mim a insensatez.
Jogado pelos cantos desta rua,
Olhando sem respostas para a lua...
33758
Se eu faço do meu verso uma quimera
Ou mesmo me poupasse da verdade,
O fato é que poder tranqüilidade
Talvez já não consiga nem se espera
Medonha luz em noite consagrada
Aos sonhos mais audazes e prolixos
Porém olhos cansados, ledos, fixos
A carpideira sorte adivinhada
Nas trevas e nos medos contumazes
Assisto à derrocada e nada além,
O medo tão constante sempre vem
E deixa para trás enquanto trazes
Sorrisos de ironia em plena festa,
E a morte a cada dia o que me resta.
33759
Desculpe nunca quis te machucar
Nem mesmo poderia crer no fato
Aonde cada dia me maltrato
E beijo as ânsias tolas devagar,
Resisto no passado e nada vejo
Sequer a menor sombra de esperança
E quando noutro fardo já se lança
Quem fora simplesmente vão desejo
Impera sobre mim o temporal
E nele cada gota se mostrando
Cenário costumeiro, mas nefando
Um fúnebre e terrível ritual.
E toda a sorte perco neste instante
Olhando para trás, nada adiante...
33760
A vida quando em lágrimas tempera
Caminho aonde quis ser mais contente
No fato de sonhar já se consente
O peso que deveras gera a fera
Negando deste o início soluções
E nelas as verdades mais argutas
Enquanto novamente tu relutas
E vejo o quanto ainda tanto opões
Não posso descartar o fim da história
Medonhamente bebo esta agonia
E quando o velho sonho a vida adia
A porta se tornando dura e inglória
Resisto o quanto mais inda consigo
O olhar se perde além, cenário antigo...
33761
Eu tenho um sonho ainda e se o acalento
Talvez eu possa mesmo inda viver
Depois de tanto tempo a me perder
Entregue sem sentido ao léu e ao vento
Cevando tão somente o sofrimento
Semente de um amor eu posso ver
E assim quem sabe, ao menos, reviver
Nem que se seja quem sabe um só momento,
Viver esta alegria e ter nas mãos
Os dias entre festas, mas bem sei
O quanto os sonhos seguem sendo vãos
E neles a verdade não se esconde,
Procuro disfarçar, mas sei que errei
Só não mais saberei dizer aonde...
33762
Quem sabe em novo dia ser feliz?
Pudesse acreditar nesta tolice
A vida tanta vez inda cobice
Aquilo que decerto já não diz
O coração etéreo do aprendiz
Cansado de viver tanta mesmice
Porquanto este caminho persistisse
Diverso do que tanto sonho e quis,
Não vejo mais talvez alguma chance
E mesmo que esta estrela o sonho alcance
Distante dos meus olhos, fugidia
Eu sinto que será mera aventura
Depois de quanto tempo em vã procura
Felicidade? Apenas fantasia...
33763
À noite tudo muda num segundo,
Adentro o paraíso feito em sonho
E até um novo tempo recomponho
Enquanto de ilusões bebo e me inundo,
Assim ao mergulhar em novo mundo
Percebo um quadro claro e mais risonho
Diverso deste vago em que me enfronho
Nas sendas da emoção sim, me aprofundo
Depois a manhã volta e nada traz
Somente este vazio tão tenaz
E tudo recomeça em tal rotina
Pudesse ter em mim o sono eterno
Assim aplacaria o triste inverno
Que a cada amanhecer vem e domina.
33764
A fantasia apenas me redime
Dos ermos e vazios que percorro
E quando nestes sonhos me socorro
Momento mais feliz que uma alma estime,
Qual fora um condenado em tolo crime
A sorte percorrendo ausente morro
No vento mais distante, ledo, eu morro
E assim toda a tormenta se suprime,
Quem sabe no final alguma luz
Ou mesmo a sensação de liberdade,
Porquanto cada dia desagrade
Talvez a tal tormento eu faça jus?
Só sei que me perdendo em solidão
Aguardo pelo menos redenção.
33765
Amor que jamais veio ou não viria
Tocar os pensamentos de quem tenta
Vencer em calmaria esta tormenta
Tornando mais feliz, quem sabe, o dia.
O quarto abandonado não traria
Senão a mesma dor que me freqüenta
E assim quando se vê a alma sedenta
Bebendo desta noite amarga e fria,
Eu creio noutro tempo, mas bem sei
Que tanto no vazio eu mergulhei
Até que não restasse sequer sombra
De um tempo mais feliz, ou mais suave,
Porém esta rotina tanto agrave
Fantasma da ilusão que vem e assombra...
33766
Carinhos que se buscam com ternura,
Assim os velhos sonhos, juventude
A vida a cada ausência já transmude
Deixando para trás mansa candura,
E quando novamente se procura
O todo que perdi, tento a atitude
Que possa me trazer a plenitude
Diversa desta vã, torpe loucura.
Apenas ser feliz e ter nas mãos
Ausente dos meus dias tantos nãos,
Riscando cada lua em claro céu.
Mas sei do quão inútil procurar
Na ausência de caminho, e sem lugar
Seguindo sem destino, vago, ao léu...
33767
Um manso beijo é tudo o que mais quero
Tocando a minha face com carinho,
Quem tanto se acostuma a ser sozinho
Vivendo um mundo ausente e mesmo austero
No sonho em que feliz eu me tempero
Mudando neste instante o meu caminho
Qual fora um libertário passarinho
Enquanto em asas sigo, me libero
E tento procurar algum alento
Entregue sem saber, solto no vento
Vagando por espaços siderais,
E quando me transtorna a fantasia
Realidade volta e da alegria
Os dias se repetem tão iguais.
33768
Acordo e se repete a mesma história
O tempo não diz nada diferente
Por mais que outro caminho ainda tente
A sorte se reflete, merencória,
Rendido pelo tempo a vida inglória
Ainda quando um brilho se apresente
De tantas ilusões seguindo ausente
Apenas mera sombra na memória.
O fardo de viver já não suporta
Uma alma que mantendo aberta a porta
Jamais conhece amor, tola visita,
E tenta acreditar num novo dia,
E quando amanhecendo já se via
Sozinho, mesmo o sol intenso evita.
33769
Sonhara com os prados verdejantes
Em flórea maravilha a vida feita,
Mas quando a solidão já se deleita
Tocando os meus caminhos delirantes
Aonde se pensaram verdejantes
As horas noutra senda ora desfeita,
Apenas poesia ainda aceita
Os templos onde em luzes me agigantes,
Não quero acreditar e nem pudera
Na vida sendo assim, tola quimera
Trazendo tão somente a solidão,
Buscara pelo menos algum cais,
O tempo me responde e nunca mais
As alegrias mortas voltarão...
33770
Quem dera perfumasse o meu caminho
As rosas que cevara com afeto,
E quando noutro rumo me completo
Percebo quanto é duro ser sozinho,
Procuro qualquer luz e não me aninho
Senão na mesma ausência e assim deleto
As doces ilusões e de concreto
Somente a eterna falta de carinho.
Das tantas emoções já prometidas,
Apenas as mortalhas que tecidas
Por mãos tão caridosas e cruéis
Retratam o que fora um sonhador,
Perdendo a cada instante o bom do amor,
Herdando desta vida apenas féis...
33771
Saudade se perdendo nos confins
De uma alma que procura a paz e nada
Do quanto desejara em voz calada
Traçada desde sempre em vários fins,
Os dias entre tantos se perdendo
No vento ao mesmo tempo mais venal
O gosto de um prazer residual
Apenas um momento e assim desvendo
O quanto imaginara ser feliz
E nada além de torpes esperanças
E quando na saudade ainda avanças
O tempo na verdade já não quis
Senão a mesma ausência e dela eu vejo
As sombras do que fora um vão desejo.
33772
Minha alma se transborda em solidão
E trama novo tempo aonde um dia
A sorte com certeza mudaria
Tramando com ternura a direção,
Mas quando me percebo e o mesmo não
Aprofundando em mim tanta agonia
Felicidade apenas utopia
Bem sei que novos sonhos moldarão
A tela aonde assim eu me preparo
Ao fim embora seja bem mais claro
O fato terminal que redimisse
A vida de um poeta, um sonhador,
Envolto pelas teias de um amor,
Que ao fim se demonstrou mera tolice...
33773
Apenas eu proponho ao fim da vida
Momento aonde eu possa crer no fato
Do amor aonde às vezes me maltrato,
Mas sei se apresentar como saída
Das tantas dores quando a sorte urdida
No peso de um passado duro e ingrato,
Queria a placidez de algum regato
Porém esta seara está perdida,
Não vejo mais sequer uma esperança
O gosto de mudança já não sinto,
O amor há tanto tempo vejo extinto
Enquanto para a morte a vida avança
E resolutamente mato em mim
O que inda recendesse a algum jardim.
33774
Pudesse ter um sonho e nada além
Deste momento em glória, mesmo falsa,
Uma alma sem destino se descalça
De tantas ilusões que inda contém,
Depois de tanto tempo sem ninguém
Caminho mais diverso um sonho inda alça
Qual fora em mar revolto, alguma balsa,
Naufrágio se mostrando ali, porém.
Ocaso de uma vida feita em tantas
Ternuras e terrores, costumeiros,
Os dias sendo agora os derradeiros
E neles com terror tu me adiantas
Cenários degradantes de quem sabe
Que o mundo, com certeza não lhe cabe.
33775
Pudesse caminhar e ter ao lado
Os dias entre luzes, rara fonte
Do amor tomando todo este horizonte,
Num verso ainda em luz anunciado,
Mas quando a vida traz o seu recado
No sol que com certeza não aponte,
Eu rompo com meus sonhos qualquer ponte
E sinto este caminho abandonado,
Vencido pela angústia de saber
O quanto não conceba o bem querer
Depois de tanta luta, atroz e inglória
Resido no passado de onde eu vim
E o mundo se afastando assim de mim,
Somente mera sombra na memória.
33776
Quem dera se eu pudesse estar contigo
Vencendo os desafios mais atrozes,
Assim os nossos rios, mesmas fozes
Enfrentariam juntos o perigo
Do quanto desejara e até persigo
Enquanto os dias seguem quais algozes
E tento ouvir ainda antigas vozes
Gerando após a chuva um claro abrigo,
Amigos e parceiros de uma vida
Que agora se percebe em despedida
Deixando esta lembrança tão somente,
O ocaso se aproxima e nada vejo,
Somente a mera sombra de um desejo
Ainda que sonhar, minha alma tente.
33777
Onde eu encontrarei felicidade?
Não posso e nem consigo adivinhar,
O mundo vai girando sem pensar
Enquanto a própria vida se degrade,
Restando dentro em mim tanta saudade
Vontade de poder recomeçar
De tanto que aprendi, jamais errar
E ter todo este bem: felicidade.
Não posso resumir em outra forma
O mundo que deveras a alma forma
E trama como fosse solução,
É tarde, reconheço, mas pudera
Matar este terror, fria quimera,
Gerando novamente este verão.
33778
Se por tanto tempo já sofri
E agora procurando remissão
Dos erros cometidos desde então
Encontro o que procuro, amor, em ti,
Depois de tantos anos percebi
O vento noutro rumo e direção
Um velho timoneiro, embarcação
Uma ilha tão distante agora eu vi
E sei que jamais posso ancoradouro
O amor quando se perde em nascedouro
Jamais recuperando o seu caminho,
E assim da solidão, velha e fiel,
Encontra novamente o seu papel
E apenas no jamais feliz me aninho.
33779
Na vida, procurando a claridade
Depois de quase cego, sem sentidos,
Os dias entre nuvens esquecidos
Apenas a saudade forte brade,
O quanto poderia em qualidade
Vencer os meus temores percebidos
Nas ânsias mais doridas, tempos idos
E neles não se vê tranqüilidade.
Resumo o dia a dia na rotina
De quem se quis além e nada existe,
O coração persiste amargo e triste,
Apenas ilusão volta e domina.
Quem dera se pudesse reviver
Os dias que jamais eu pude ter.
33780
Depois de tantas dores, sofrimento
Batendo novamente em minha porta,
Minha alma a fantasia ainda aporta
E tenta neste sonho algum provento,
E quando do passado me alimento
O frio adentra umbrais e tanto corta,
A sorte na verdade não importa
Meu mundo se resume num lamento,
Ausente do que fora uma esperança
Ainda viva em mim leda mudança
Tramada pelas mãos de uma ilusão,
Aprendo vez por outra até sorrir,
Mas sei do quão vazio é meu porvir
Em dores, sofrimentos, provisão.
33781
Agora irei vencer essas tristezas,
Depois de tanta luta em noites frias
E quanto mais atrozes fantasias
Maiores os meus medos e incertezas,
Os dias em diversas naturezas
E nelas cada tempo me trarias
Diversas faces risos e agonias
Estrelas variadas em grandezas,
As sombras do que fui ainda sinto
Aonde pensaria agora extinto
O tempo em vendaval já se aproxima,
Mas sei das intempéries costumeiras
E tento novas luas, derradeiras,
Tentando apaziguar instável clima.
33782
Soltando minha voz nesse lamento
Eu bebo da esperança mais cruel,
E sei o quanto ausente cada céu
No qual e pelo qual eu me alimento,
O quadro se desenha em desalento
O peso de viver se torna fel,
O gesto ritual, mesmo papel
Tocado pela angústia, velho vento,
Levado para além do que eu pudera
E tanto inda queria a primavera...
Não vejo soluções, mas mesmo assim
Alguma voz reclama em tom mais grave
Porquanto a própria vida o sonho entrave
Eu tento a solução vagando em mim...
33783
Buscando teu olhar nas redondezas
Aonde nada vendo nem se crê
Na vida sem motivos sem por que
E assim os meus caminhos, meras presas
Dos sonhos mais atrozes e doridos,
O resto desta estrada em medo e treva,
Aonde esta incerteza já me leva
Tocando com terror os meus sentidos,
Mas nada se aproxima do que um dia
Pensara ser mais forte e mesmo assim,
O vento dissolvendo trouxe o fim
E nele a fantasia ainda adia
O quadro terminal de quem se fez
Além de qualquer brilho ou sensatez.
33784
Vivendo sem saber sequer sorrir
Não posso nem procuro outro cenário,
O mundo muitas vezes temerário
Ausente dos meus dias o porvir,
O quanto tento mesmo redimir
O vento se mostrando vil corsário
O corte se aproxima e é necessário
Sonhar senão a morte irá bramir
Toando em sintonia com a vida
Lamentos em tormentos, nada mais.
O verso transbordara em ilusão
Agora sem saber de solução
O mundo se perdendo em vendavais...
33785
Passando pela vida sem viver
Seguindo sem sentido a caminhada
Sabendo no final, o mesmo nada
Por onde tantas vezes pude ver
Ausência do que possa amanhecer
Deixando mais tranquila a minha estada
Na vida sem destino, abandonada
Nas sendas tão dispersas do querer.
Resumo a cantoria em ladainhas
E quando ainda em sonho ao longe vinhas,
Apenas um espectro sem sentido,
O corte se aproxima da medula
A morte quanto muito me estimula
Caminho agora eu sei já resolvido.
33786
Será meu Deus que posso Lhe pedir
Apenas um momento feito em paz?
O quanto do meu tempo ainda traz
O gosto deste encanto, um elixir
Que possa redimir quem tanto quis
E nada conseguira pela vida,
A porta se mostrando sem saída
Do todo que vivera, cicatriz,
O fardo de sonhar pesando tanto,
E quando noutros sonhos me adianto
Eu bebo desta fonte em água imunda
O tempo nega a sorte que eu buscara,
A vida se transborda em tal seara
Aonde a solidão, imensa, inunda.
33787
Amor que sempre sonho conhecer
Nos antros mais atrozes do meu peito
E quando em solidão, inda me deito
Ausente dos meus olhos o prazer,
O todo se ausentando posso ver
O quadro da esperança já desfeito,
Mas sei que este percalço ainda aceito
E bebo da esperança até saber
Inutilmente o fardo que traduz
Meus olhos se negando à própria luz
A vida não transmite segurança,
O quarto ora vazio e em meus lençóis
Distantes destas luas, sem os sóis
Apenas ao não ser a alma se lança.
33788
Agora, nessa noite sem abrigo
Depois de tanta luta, dura e atroz,
O quanto poderia ter a voz
Mais forte e com ternura, não consigo.
Amar e ter ao menos a certeza
De um dia mais feliz, suprema sorte,
Sem ter qualquer carinho que conforte
Apenas me sentindo mera presa
Dos sonhos e magias mais freqüentes
Os tempos se renovam, mas sozinho
O quanto poderia em meu caminho,
Mas sei que novamente já te ausentes
E segues tua estrela tão diversa
Da minha que sem rumo se dispersa.
33789
Meu céu se iluminou: sonhei contigo
E fora um sonho bom, quase acalanto
E quando novamente ainda em tanto
Brilhar encontro o sonho que persigo
Acreditando até noutro cenário,
Mas quando amanhecendo e me percebo
No quarto aonde em trevas eu me embebo
Persisto o meu caminho, solitário.
Resumo de uma vida e nada mais,
Um nome se perdendo nesta estrada
Uma alma representa quase nada,
E o quanto poderia; sei jamais...
Assim persisto em sonho e nesta ausência
De vida é o que inda resta. Paciência...
33790
As cartas que mandaste no passado
Guardadas na gaveta da lembrança
E quanto mais o tempo ainda avança
Meu mundo também sinto ali guardado,
O vento noutro tanto desviado,
A sorte condenando outra mudança
E nada do que mostre temperança
O resto do caminho, sempre errado,
Herdara esta ilusão na juventude,
Porquanto o tempo mesmo atue e mude
Das rugas, velhas marcas, e deslizes,
Minha alma revivendo em cada carta
Desta realidade amarga já se aparta,
Meus olhos por momentos são felizes...
33791
Guardadas na gaveta da memória
Palavras entre noites deslumbrantes
Momentos maviosos por instantes
A vida se tocando em plena glória
Resumo o meu caminho na esperança
De um novo amanhecer, mesmo que seja
Apenas ilusão. Do amor a igreja
Aonde a minha fé ora se lança
E sinto que inda possa acreditar
Num dia em que talvez inda mereça
A sorte desejada e assim esqueça
A morte já cansado de esperar.
Porém esta emoção que se prometa
Guardada simplesmente na gaveta..
33792
São flores que cultivo em meu jardim
As noites onde um dia acreditara
Na lua imensamente bela e clara,
Dos sonhos o pavio, um estopim...
O tempo transformando este cenário,
Mas guardo esta emoção mesmo distante
E quando novo dia se adiante
Por vezes entre nuvens, temerário
Eu volto a reviver esta alegria
Que tanto me fez bem e inda me faz,
Revivo este momento em plena paz,
Regando com ternura a fantasia.
Jardins abandonados pela vida,
Porém na tempestade, uma saída...
33793
Trazendo tanto lume em minha história
As horas que vivemos, claras sendas
E quando novos dias inda estendas
Tramando com brandura esta memória
Da vida noutra vida resumindo
O mundo mais tranqüilo e mais suave,
E quando a tempestade mais agrave
Renasço de um passado claro e lindo
E tento algum sorriso, mesmo quando
A porta se fechara e nada vejo,
Somente a solidão, mas neste ensejo
O tempo novamente renovando
Um brilho sem igual diz do passado,
E nele novo sonho fomentado...
33794
Nossas fotografias, amareladas
Traduzem muito bem a minha vida,
E quando se prepara a despedida
Depois de tantas noites acordadas,
Resumo num soneto o quanto espero
De um mundo em que meu sonho reproduza
A vida sem terrores, sem escusa
E tento a cada dia mais sincero
Momento em alegria descoberto,
Mas sei quanto se faz dura a vida quando
Inverno se aproxima e já nevando
Do fim em treva e medo ora me alerto,
O todo que pensara e não havia
Tão degradado, atroz fotografia...
33795
Lembranças desse tempo mais feliz
Aonde a sorte disse da promessa
E quando a realidade se confessa
Diversa do que tanto busco e quis,
Eu tento resguardar esta esperança
E nela me alimento quando possa
A vida ressurgir da velha troça
E ao mais sublime encanto em vão se lança.
Resumo em melodias, sonhos, fatos,
E tento reviver o que perdi,
Voltando vez em quando vejo em ti
As sombras do que fomos, vãos retratos,
E bebo desta fonte embora a vida
Há tanto se promete em despedida...
33796
Cadeiras debruçadas nas calçadas
Falando deste tempo que não volta,
Minha alma se entregando com revolta
Procura as esperanças já mofadas
Os olhos numa ausência mais tenaz
O medo decorando o quarto e a sala
Ausente de alegria já se cala
Enquanto este vazio ora se faz,
Medonha face exposta da verdade
E nela não percebo qualquer luz
Ainda pesa em mim a imensa cruz
Porquanto cada passo enfim degrade
O quanto que restara da alegria,
E há tanto sem destino se perdia...
33797
Conversa que se vai e solta ao vento
Traçando outros caminhos mais diversos
E assim ao perceber inúteis versos
Encontro tão somente o desalento,
E quanto tento mesmo ser feliz,
O fardo se acumula e nada resta
Do todo imaginário sequer fresta
A vida a cada instante contradiz
O passo rumo ao tanto e sem saber
Mergulho nesta insânia dentro em mim,
Tentando reviver este jardim
Que eu sinto com o tempo perecer,
Mantendo-te mais viva na memória
A noite se apresenta vã e inglória...
33798
Tantas saudades carrego em minha alma
E nada pode mesmo transformar
O sonho que buscara sem pensar
No quanto a solidão devasta a calma,
O tempo sem limites, sempre passa
A cena revivida nada traz
Senão esta figura hoje mordaz
Rondando o dia a dia, sorte escassa,
O cada noite vejo este fantoche
E quando me percebo em solidão,
Olhando para os lados, a visão
Terrível e sofrida de um deboche,
Pudesse acreditar em novo sonho,
Mas quando acordo, um mundo atroz, medonho...
33799
Desse tempo esquecido, do passado
Sequer a menor sombra me acompanha,
Além do meu olhar cada montanha
Trazendo no seu cimo, este nevado
Retrato do que fora a minha vida,
Na falta de esperança, em desalento
E quanto mais atroz, feroz o vento
O tempo se transforma e assim agrida
O velho caminheiro da esperança
Amortalhado e quieto no seu canto,
No quarto abandonado em dor e pranto
Apenas o vazio já me alcança
E deixa esta semente em tom nefasto,
Do resto de alegria assim me afasto...
33800
O vento da lembrança já me acalma
Porquanto mostra a cena onde um dia
O mundo noutra face mostraria
O quanto fora viva esta turva alma,
Mas quando a noite chega em brumas fartas
As horas se perdendo em turbulência
O amor já não teria esta inocência
E dele sem sentir também te apartas,
Os dias desta tensa juventude
Agora se mostrando mais atrozes
Os vendavais terríveis, os algozes
Impedem a esperança e nada ilude
Tampouco a maravilha de sonhar,
As nuvens impedindo algum luar...
PARA TANTOS, PRINCIPALMENTE MARCOS GABRIEL, MARCOS DIMITRI E MARCOS VINÍCIUS. MINHA ESPERANÇA. RITA PACIÊNCIA PELA LUTA.
sábado, 22 de maio de 2010
33701 até 33750
33701
Nesta casa, contigo, num segundo
Pudesse desvendar os teus segredos
E quando me entranhasse em teus enredos
Enquanto me aproximo e me aprofundo
Do quanto poderia no teu mundo
Viver as sensações diversos medos
E assim mesmo que visse em olhos ledos
Do todo me percebo mais profundo
E sinto se perdendo em verso e rumo
E ainda que deveras perca o prumo
Vergando sobre o peso do não ser
Mesquinhamente tento outra saída
E visto o que pudesse ser a vida
Embora saiba apenas desprazer
33702
Estrela incandescente, Deus me deu
Em meio aos meus diversos pensamentos
E quando entranho em dores sofrimentos
O quanto se pensar ser só meu
Entranha noutro tanto e se perdeu
Deixando tão somente em desalentos
Os dias que eu pensara mais atentos
E todo o meu caminho pereceu
Nas ânsias mais diversas, morte e sonho
Mergulho no que eu possa e me componho
Dos restos, dos escombros e inda traço
O mundo com medonha face e bebo
Enquanto noutro tanto não percebo
Da sorte sequer sombra ou qualquer passo.
33703
Trazendo uma alegria sem igual
Aonde quis um mundo mais suave
O quanto cada passo mais agrave
Tornando mais complexo o ritual
E bebo do passado e volto à nau
E nela poderia ausente nave
Porquanto a vida mostre este fatal
Caminho e nele tudo seja trave
Embora concordando com o medo
Aonde com terror eu me degredo
E bebo cada gole em esperança
Dispenso a face exposta num sorriso
Vagando pelo intenso e mais preciso
Delírio pelo qual o nada avança.
33704
Acendes o luar no olhar que é meu
E teimas contra a fúria deste mar
Bebendo sem sentir a se fartar
Do quanto cada passo percebeu
Riscando o mesmo espaço ganha o breu
E tenta com terrores disfarçar
O quanto pode mesmo sonegar
E o medo noutro tanto concebeu.
Assim a vida trama este vazio
Gerando ponto a ponto fio a fio
Até tocar o nada de onde venho,
Assim a morte traz outro momento
No qual ao mesmo tempo olho e tento
O quanto poderia sem empenho.
33705
Fazendo a poesia natural
Aonde noutro acorde nada invento
Mergulho nos teus braços, meu provento
Ao mesmo tempo louco ritual
E sinto o mesmo gosto sempre igual
Gerando tão somente o sentimento
E nele cada dia eu me alimento
Até tocar o fundo do bornal,
Vagara por estrelas rios mares
E beijo cada sombra que tocares
E teimo contra a fúria até saber
Do quanto poderia e nunca estive
Até que imensidão tocando prive
E negue qualquer dia de prazer.
33706
Amando teus cabelos, tua pele
O fogo do desejo nos tocando
E quando se pensara ser mais brando
A fúria sem sentido me compele
E tanto quanto posso quero e atrele
O gozo noutro tanto transformando
O mundo que pensara em contrabando
E agora sem limites já nos sele,
Vagando por teu corpo, porto e cais
Bebendo do prazer eu quero mais
Insaciavelmente até o fim,
A noite rebentando na manhã
E assim vai prosseguindo neste afã
Amor arromba a porta, é sempre assim...
33707
Sorrisos que em minha alma já descansam
E sabem muito bem cada momento
Pudesse conseguir vencer o vento
Aonde os meus desejos não se lançam
Enquanto estes delírios cedo avançam
E tomam sem juízo o sentimento
Porquanto ser feliz traz o alimento
E os velhos pensamentos ora amansam.
Assim não poderia liberdade
Não fosse este caminho que me agrade
E trague novamente riso e sol,
Bebendo desta fonte inesgotável,
O mundo noutro instante memorável
Toando com ternura este arrebol.
33708
As ânsias de te amar em louca vida
Gerando cada passo rumo ao tanto
E nesta maravilha quero e canto
Apenas deixo além a despedida,
Vencer os descaminhos sendo urdida
A noite sem terror, temor, quebranto
E quando me percebo sem espanto
Mergulho sem defesa e sem saída.
Não posso mais negar o quanto eu quero
E sinto ser deveras mais sincero
O verso que hoje faço para ti,
E quando percebera este delírio
Vencendo qualquer medo e sem martírio
Quando em te conheci eu me perdi...
33709
O paraíso pleno desvendado
Nos ritos e nas ânsias mais gostosas
E quando num momento arquejas, gozas
Meu mundo no teu todo transbordando,
Resisto o quanto posso, porém quando
As noites prometidas majestosas
Deixando no passado as desairosas
Vontades de morrer num ar nefando,
Eu creio ser possível nova sorte
E ainda que este encanto não comporte
A eterna sensação que seja enfim
Imensidão enquanto ainda houver
Bebendo da beleza da mulher,
Traçando este infinito para mim....
33710
Pois sabem que encontraram o luar
Os olhos de quem ama impunemente
E toda esta beleza se pressente
Tocando a minha vida devagar,
O quanto poderia te tocar
Bebendo a tua boca, plenamente
E quando mais amor a gente sente
Vontade tão somente de ficar,
Assim entre loucuras e lençóis
Espalhas nesta cama raros sóis
E cevas com ternura esta emoção
Vivendo sem saber de algum destino,
No todo que me entrego e me alucino
Momentos mais sublimes se verão...
33711
Ansiosamente vivem para amar
Os olhos na procura do que um dia
A sorte muito além já predizia
Singrando sem defesas céu e mar,
E quanto mais eu possa mergulhar
Bebendo desta sorte em alegria
Grassando imensamente a fantasia
Vivendo sem ter medo de chegar,
O corte do passado se aprofunda
Minha alma com beleza já se inunda
E teimo entre as estrelas sem temor
Sabendo a plenitude que nos ronda
O mar das ilusões, em diversa onda
Trazendo para as praias farto amor.
33712
Não venha me falar do desengano
E nem sequer das frases incompletas
As luas que tu trazes prediletas
Amor reina diverso e soberano,
O peso do caminho traz o dano
E quando com ternura me repletas
As horas entre cores novas metas
E delas não se vê diverso plano.
Reinando sobre estrelas, céus e mares
Enquanto a cada passo me tomares
Bebendo em minha boca esta saliva
Minha alma se cativa de tua alma
A vida se transforma e tudo acalma
Até mesmo a saudade já me priva.
33713
Espero teu carinho há tantos anos
E sei quão dolorosa cada espera
E agora quando a sorte me tempera
Deixando no passado os desenganos
Os medos entre tantos outros riscos
As ânsias dominando plenamente
O corpo com vontade te pressente,
Porém os sonhos seguem mais ariscos.
Vestindo as ilusões justa medida,
Riscando até do mapa o sofrimento
Percebo com ternura o surgimento
Depois de tanto tempo, minha vida.
A morte que eu tivera sempre perto,
Aos poucos quando em ti eu já deserto.
33714
Vivendo pleno amor, ah! Quem me dera
Não fosse simplesmente uma ilusão
Qual chuva em tempestade de verão
Ao mesmo tempo nega a primavera,
O gosto de sonhar se destempera
Apenas do passado, provisão
E o gesto representa a negação
Reavivando em mim torpe quimera.
Do quanto me disseste e contradizes
A vida não supera quaisquer crises
E todo este cristal ora partido
Traduz o que pensara ser a sorte
E quanto mais se ausenta assim o norte,
O mundo noutro rumo está perdido...
33715
A vida não teria seus enganos
Não fosse esta vontade de ficar
Ausente dos meus olhos o luar
Mudando totalmente velhos planos,
Os rios desembocam no vazio
E o tempo se mostrando mais atroz
Quisera nos teus braços minha foz,
Mas nem esta verdade eu desafio, c
Cansado de lutar e sem descanso
Perdido em noite turva caço a luz
E quando tão somente reproduz
A treva que deveras cedo alcanço,
Negando qualquer brilho em meu olhar,
Cometa sem destinos a vagar.
33716
A boca que me beija e me alucina
Durante tanto tempo fora minha
E agora quando a sorte não se aninha
Matando desde sempre fonte e mina,
A porta do passado nega a sina
O jeito da menina desalinha
O passo rumo ao quanto me convinha
E agora a mão mordaz, quase assassina
Marcando a minha pele em tatuagem,
Aonde poderia nova aragem
A velha tempestade simplesmente
Amar e ter nos olhos este brilho
Enquanto esta ilusão não mais palmilho
O mundo dos meus sonhos segue ausente.
33717
Em versos declinados te proponho
Fazer deste momento inesquecível
E quando amor se mostre perecível
Assim eu sei deveras ser um sonho,
Mas quando mais além quero e componho
Num tempo imaginável, quase incrível
Sentindo esta emoção sigo passível
Do tempo além do quanto mais me ponho,
E risco teus espaços bebo a sorte
Deixando para trás qualquer suporte
Não temo mais os sonhos que virão,
E mesmo que isto mude no futuro
Encontro neste encanto o que procuro
Os brilhos mais sublimes de um verão.
33718
A lua que por certo te ilumina
Trazendo com seu brilho esta verdade
Enquanto tanta luz agora invade
O amor se demonstrando rumo e sina
Ainda mais distante me fascina
Porquanto traga sempre a liberdade
Sobeja e mais suprema claridade
Dos olhos delicados da menina
E assim sem ter limites sigo em ti
Vivendo todo o amor que concebi
Nos sonhos de uma etérea juventude
Não deixe que se acabe esta certeza
Tratemos nosso caso com leveza
Que nada neste mundo mais o mude.
33719
Nascida na delícia deste sonho
A noite em corpos juntos, sem fronteiras
E quando mais audaz ainda queiras
Maiores os delírios que eu proponho,
O mundo se mostrando ora risonho
Mantendo dentro em mim vivas roseiras
E nestas ilusões, nossas bandeiras
O tanto quanto eu quero e te proponho
Virá trazer somente esta alegria
Na qual já se estampara nossa vida,
Porquanto ao encontrar rara saída
A sorte noutro rumo vejo ungida
E tanto poderia ser assim
O mundo inteiro agora dentro em mim.
33720
Amada como é bom estar contigo
E crer na luz que emana-se de ti
Depois de tanto tempo conheci
O que deveras busco e mais persigo,
E quando me percebo aqui consigo
Viver o que decerto concebi
Num tempo aonde ausente enfim daqui
Apenas vira dor e desabrigo
E agora tendo em mim esta certeza
A vida se prepara em tal beleza
E tudo neste instante se transforma,
Amar e ser feliz, mero momento?
Se ainda dos meus sonhos me alimento
Jamais respeitaria a velha norma...
33721
É mansidão em meio a tempestade
O lago em placidez que necessito
E quando o meu olhar segue o infinito
Que o peito em harmonia sempre brade
Vivendo este calor em liberdade
Rondando cada espaço agora eu grito
E tento novamente o mais bonito
Caminho aonde tudo sempre agrade,
A vida poderia ser diversa
E quando sobre o todo já se versa
Gerando o que pudesse ser maior
O tempo sonegando algum espaço
No quanto resta o sonho e assim eu traço
Um mundo que pudesse ser melhor.
33722
Não temo mais a dor, assim prossigo,
Vagando sem saber de paz ou guerra
Apenas o vazio que me encerra
Trazendo volta e meia o desabrigo,
E tantas vezes teimo e se consigo
Riscar o que pudesse e já descerra
A porta do passado sobre a terra
Tentando agora crer somente em trigo
A velha fortaleza destruída
A vida sem saber de uma saída
O risco de sonhar e ter na queda
O olhar tão complacente de quem tenta
E segue contra a fúria da tormenta
Enquanto este caminho já se veda.
33723
Deixando ali num canto, uma saudade
Dispenso qualquer passo rumo ao todo
E beijo tão somente o limo e o lodo
Porquanto a própria vida dita a grade,
E quanto mais audaz, mais desagrade
Meu mundo feito em dor, terror e engodo,
O quanto poderia de outro modo,
Porém somente o frio agora invade
E toma com horror o passo enquanto
Ainda sem saber destino eu canto
Invariavelmente a solidão,
Jorrando dentro em mim o meu passado
O medo como fosse um bem herdado
Invade e já não vejo solução.
33724
Amor que sempre trago no meu peito
Desfaz qualquer mentira ou mesmo omite
E quando a vida trama seu palpite
Tomando com ternura quando deito
Fazendo da esperança um mero pleito
E tudo o que pudesse ou mal se evite
Resume o meu viver e sem limite
O todo que vier, eu sempre aceito.
Não pude caminhar sabendo quando
O mundo na verdade desabando
Roubando cada cena em tom feroz,
Assim ao me sentir apenas isto,
Do todo que buscara enfim desisto
Desato pouco a pouco, velhos nós...
33725
Certeza de morrer mais satisfeito
Quem dera se eu tivesse, mas nem isso,
O solo se mostrando movediço
O risco de viver adentra o leito
E quando solitário enfim me deito
Apenas companhia inda cobiço,
A vida sem saber de brilho e viço
O corte propagando invade o peito,
Os olhos no futuro? Morte é certa,
Ao mesmo tempo a vida me deserta
Minha alma se repleta do vazio,
Teimando contra a fúria do não ser
Restando tão distante o amanhecer
O meu olhar ausente em desafio...
33726
Mergulhando nos sonhos onde pude
Viver cada momento no passado
Meu prazo se findando ou terminado
Não tendo qualquer luz ou atitude
Matara o que restara em juventude
E beijo o corpo podre e amortalhado
Do ventre pelo medo destroçado
Já não permito engodo que isto mude.
Apenas esperar dobrar dos sinos,
As sobras dos meus cantos, desatinos,
Os riscos mais audazes, medo e sombra,
Assim o que pudesse em claridade
Refaz a tão dorida tempestade
Que ainda toma a cena e agora assombra.
33727
Abraçando minha deusa tão amada,
A morte, nada resta de algum sonho
A fresta a quem me dera ou me proponho
Trazendo tão somente o mesmo nada,
A ponta do punhal tão afiada
O riso de quem vejo ora medonho
O corte de um caminho mais risonho
Semente de ilusão abandonada.
Pereço enquanto busco algum momento
E tanto poderia em desalento
Saber de quem me queira ou mesmo finge,
Mas nada do que eu sinto me permite
E a vida atinge assim topo e limite,
Deixando meramente a vaga esfinge.
33728
Voando por espaços infinitos
Rondando cada estrela que viesse
O mundo noutra face recomece
E deixe para trás antigos mitos,
Os olhos entre nuvens, roucos gritos,
A sorte não traria qualquer messe
A dita se transforma e a morte tece
Cenários entre tantos, torpes ritos.
Hercúlea força doma cada passo
E quando pouco a pouco me desfaço
Não tendo soluções eu me apodreço,
E sei que finalmente nada possa
Conter no coração imensa fossa
É tudo o quanto sei que mais mereço.
33729
Em busca da manhã iluminada
Depois de tanta imensa sordidez
A cota se tomando de uma vez
A morte se aproxima e trama o nada,
A dita pelo tempo eviscerada
O medo na verdade se refez
E o corte aprofundado que ora vês
Transforma a minha senda, marca a estrada,
Reservo-me ao direito de morrer
E tento novamente poder ver
Declínio dos meus sonhos, pesadelos,
E sinto a cada noite mais ausente
O quanto do futuro nada sente,
Nem mesmo os olhos teus quero revê-los...
33730
Os raios deste sol brilhando tanto
Deixando um raro rastro sobre o chão
O amor vivera farta ingratidão
E neste nada ser já não me espanto
E tento enquanto visto o turvo manto
Marcado pelas garras da ilusão
Sabendo das angústias que virão
E nelas beijo a morte, bebo o pranto.
Não pude acreditar em falso sol,
Ainda que pudesse girassol,
As nuvens se aproximam e sonegam,
Enquanto as maravilhas que eu buscara
Deixando uma manhã tranquila e clara
Agora noutros tons grises se entregam...
32731
Trazendo uma esperança, vivo amor
No olhar de quem pudera no horizonte
Sentir cada beleza que desponte
E trace no seu céu ternura e cor,
Mas quando outro momento a se compor
E nele ressecada toda a fonte
Pudesse imaginar ainda a ponte
E nela novo tempo a se propor,
Não vejo mais a luz que inda tentara
E a vida sem calor agora amara
Somente desampara cada passo,
E quando me pensara mais feliz
O mundo sem desculpas contradiz
E assim em turbulência apenas passo...
33732
Envolto na alegria, enfim te canto
E tento conservar o que não resta
A morte noutro tempo em fria fresta
E nela mergulhando sem encanto,
Resido no passado e nada além,
A manta que recobre o meu futuro
Agora noutro tanto não procuro
Sabendo que em verdade nada tem
Senão a mesma face dolorosa
De espinhos pelas sendas e caminhos,
Os dias prosseguindo vãos sozinhos,
A sorte é com certeza caprichosa,
Mas tudo não se vê senão a ponta
De um velho amanhecer em faz de conta...
33733
E roubo deste sol todo o calor
Deixando para trás a claridade
Morrendo sem querer a eternidade
Nem mesmo novo mundo em tal torpor,
Carcaça desumana sigo só
E vejo derrocado cada dia
Aonde tanta sorte poderia
Ao menos se restasse ainda o pó
Dos sonhos entre tantos pesadelos,
Nas mãos os desatinos e as mentiras
E quando ainda tentas cedo atiras
O mundo se entranhando em tais novelos
Um torpe emaranhado simplesmente
E assim o fim de tudo se pressente...
33734
Amada como é bom viver contigo
Os riscos de uma vida mais audaz
O amor quando se mostra e tanto faz
Deixando para trás medo e castigo,
O quanto poderia e já consigo
Viver o que pudesse em plena paz
O corte se negando agora traz
A imensa cicatriz, porém nem ligo,
Permito que inda veja amanhecer
Em luzes tão sublimes do querer
Tornando o meu momento mais feliz,
Ocaso abandonado bebo o sol,
E toda a maravilha em arrebol
Traçando o que deveras bem mais quis...
33735
Sem medo do tormento e da saudade
Aonde quis o sonho e nada vinha,
A porta se trancara e tão daninha
Apenas deixa rastro e o medo invade,
O corpo anunciando o fim de tudo,
O sonho desairoso não seduz
E o quanto me faltara outrora em luz
Deveras com horror não mais me iludo,
Ausência de esperança e dor suprema,
Cabendo tão somente este final,
Assim ao perceber este degrau
Minha alma com certeza não mais tema
A morte nem o fim da minha história
Porquanto seja atroz e merencória...
33736
Aqui, eu já pressinto, sem perigo,
A curva derradeira e não mais quero
Viver o pensamento quando austero
Deixando qualquer gozo que persigo,
O fardo sobre mim, o medo e o vento
O frio refazendo em cada passo
O tempo sem saber sequer do espaço
E quando me percebo nem lamento,
Assisto o meu final de camarote,
Por tanta fantasia que eu tivera,
Ainda quando a vida diz quimera
E apenas o vazio se denote
Eu teimo contra o medo e até sorrio
Seguindo a correnteza, podre rio...
33737
Eu posso conhecer felicidade?
Não tento desvendar mais tais mistérios
A vida sem saber siso ou critérios
No quanto ainda teima e mesmo brade
E resolutamente nada diz
O vento se mostrara mais diverso
E quando tento ainda um raro verso
Que possa me deixar bem mais feliz
Ausência retomando toda a cena
No fundo deste poço, este mergulho,
E quantas vezes vendo o pedregulho
Minha alma em amargura se envenena
E bebe cada gota do que outrora
Ainda vivo em mim teima e devora.
33738
Amada, vem comigo, eu te proponho,
Singrar mil oceanos ver o cais
E ter nos olhos dias sem iguais
Vivendo claramente cada sonho,
No quanto imaginara ser assim
O mundo se mostrando em nova face
E quanto mais o tempo nada trace
O tempo me levando para o fim,
Mortalha se tecendo invés do riso
O corpo apodrecido da esperança
Enquanto a morbidez tocando alcança
Negando um passo audaz e mais preciso,
Eu vejo tão somente a negação
E nela meus demônios volverão...
33739
Na noite viajar, planeta sonho
E crer noutro segundo após o fim,
Gerando qualquer luz dentro de mim,
Um tempo mais feliz, até risonho...
Não posso mais sentir outra verdade
Porquanto a solidão, meu endereço
E nela cada passo eu obedeço
Vivendo o que deveras desagrade
O cômodo caminho não percebo
E sei do quanto pude acreditar
Não fosse tão volúvel o luar
Nem mesmo a fantasia este placebo
E sinto que chegando ao fim do jogo
Não adianta mais temor nem rogo...
33740
Quando te conheci mal percebia
A fenda que deveras já se abrira
E quantas vezes erro tema e mira,
Negando qualquer luz ao próprio dia,
O vento do passado não sabia
Do quanto a minha história em tal mentira
Pudera amanhecer, mas sei que gira
O mundo noutra forma em sintonia.
Somando os meus enganos, foram tantos,
Resumo minha vida nestes prantos
E calo cada verso que inda venha
Vencer as minhas velhas cicatrizes
E quando noutro instante tu me dizes,
Apenas reacende a torpe lenha...
33741
Que tudo que sonhara estava ali,
Jogada sobre o chão em morte exposta
A face desdenhosa da resposta
Dizendo quanto tempo em ti perdi
O verso se mostrando como eu vi
E tento novamente uma proposta
Diversa desta a qual ainda aposta
A vida sem saber nada senti,
Resumo com palavras versos frases
O quanto a cada dia nada trazes
E deixas abandono tão somente,
Vivenciar a sombra da emoção
Enquanto novos tempos não virão
Sonega desde sempre uma semente.
33742
Decerto, minha vida tão vazia,
Ao menos poderia ser diversa
Ouvindo bem ao longe uma alma imersa
Em luzes, fantasia e poesia,
A música se espalha e poderia
Mudar assim o rumo da conversa
E quando a solidão sonho dispersa
Adentro nas entranhas da alegria,
Somando o meu caminho em dissabores
Ao quanto poderia se assim fores
Traçando novamente a luz aonde
O peito sem saber de som e brilho,
Vagando pelo espaço aonde eu trilho
Ouvindo esta canção logo responde...
33743
Em tantos pesadelos, me perdi
Depois de procurar alguma forma
E nela ver o quanto se transforma
O amor quando se sente e tenho aqui,
Resulto do vazio aonde outrora
No tanto que pudesse acreditar
Matando desde cedo este luar
Jamais noutro momento a vida aflora
E toma este cenário em suavidade
Porquanto cada passo rumo ao vago
Traria noutro encanto um manso afago,
Mas resta dentro em mim medo e saudade.
Negar o desvario e ter à frente
O amor com luz intensa, tão somente...
33744
Agora que conheço a fantasia
E sei já desvendar qualquer destino
Aonde com ternura me fascino
Ou mesmo quando a sorte não traria
A intensa claridade que buscara
Quem tanto crê na vida em luz maior,
O medo se desenha e sei de cor
A porta do passado nega a clara
Manhã desconhecida para quem
Viera de outras trevas costumeiras
E quando ainda teimas ou não queiras
Apenas um caminho me convém
Amortecendo a dor do nada ser,
Vontade simplesmente de morrer...
33745
De ser feliz somente ao lado teu
Porquanto a vida seja sempre assim
Iniciando agora o ledo fim,
O todo desejado se esqueceu
Rumando para a morte e nada tendo
Apenas o vazio resta aonde
O mundo noutro mundo não se esconde
Ainda que deveras sei, desvendo
O tanto feito em dor e farpas, vejo
Resíduos de outros dias? Nem sinais
E quando mergulhando em vendavais
Amortalhando assim cada desejo,
O peso de viver vergando as costas
Não tendo da esperança mais respostas...
33746
Vivemos num momento de alegria
As meras ilusões de quem pudesse
Ao menos ter a vida onde obedece
A glória simplesmente e se faria
Um mundo bem melhor, e tanto pude
Viver este segundo e nada mais,
O quanto imaginara ser demais
Apenas sombra alheia, juventude,
As farpas adentrando a minha pele
O tempo devorando cada sonho
E quando novamente me proponho
A própria realidade me repele
E o vento desairoso do passado
Vivendo o tempo inteiro do meu lado...
33747
A luz que me ilumina e cessa o breu
Desfere uma promessa mentirosa,
A sorte desmembrando desta rosa
Agora em pleno espinho apareceu,
E o fardo de viver pesando tanto,
O manto se reveste em luto apenas
E quanto mais audaz tu me envenenas
Gerando infelizmente o desencanto
O riso dando vez ao choro expondo
O todo desconexo que hoje sou,
E assim o meu destino desenhou
A face do vazio decompondo,
Mereço alguma chance? Não mais creio,
O tempo se mostrara sem tal veio...
33748
Teus olhos, com certeza, luminária
Aonde quis um dia navegar
E sei que me perdi em tal luar
A sorte sendo sempre imaginária
A fonte já secara e nada sei
Senão a negação desta alegria
E o tempo expondo em torpe ventania
Transcende ao que desejo e mais sonhei,
Ocasionando assim naufrágio e queda
O corpo se apodrece em vida plena,
Nem mesmo uma esperança me serena
Enquanto este caminho a porta veda,
E atento ao que pudesse uma mudança
Apenas o vazio o peito alcança.
33749
Dos sonhos que sonhei na minha vida
Encontro alguns resquícios, nada mais,
E o todo se transforma além do cais
Sentindo a velha senda dividida
Resumo com terror o passo enquanto
Mergulho noutra cena, sempre igual,
Pudesse desvendar o virtual
Delírio pelo qual ainda canto
Buscando alguma paz que nunca veio
E sei do mesmo medo quando alguém
Dizendo do futuro com desdém
Espalha tão somente este receio,
Percebo o fim da história e se aproxima
A morte com terror em fina esgrima.
33750
Alegria que fora imaginária
Apenas não consigo ver mais nada
Senão a forma torpe e desgraçada
Da morte noutra cena temerária
Restara disto tudo mero olhar
Na ausência do que possa haver em nós
E tanto se pudesse, mas sem voz
Já não consigo nada imaginar
Nem mesmo algum momento em luz e glória
O tempo não produz nova esperança
E quanto mais audaz nunca afiança
O desejo feroz de uma vitória
Escória do que fui, apenas isto,
E contra tudo e todos, já desisto...
Nesta casa, contigo, num segundo
Pudesse desvendar os teus segredos
E quando me entranhasse em teus enredos
Enquanto me aproximo e me aprofundo
Do quanto poderia no teu mundo
Viver as sensações diversos medos
E assim mesmo que visse em olhos ledos
Do todo me percebo mais profundo
E sinto se perdendo em verso e rumo
E ainda que deveras perca o prumo
Vergando sobre o peso do não ser
Mesquinhamente tento outra saída
E visto o que pudesse ser a vida
Embora saiba apenas desprazer
33702
Estrela incandescente, Deus me deu
Em meio aos meus diversos pensamentos
E quando entranho em dores sofrimentos
O quanto se pensar ser só meu
Entranha noutro tanto e se perdeu
Deixando tão somente em desalentos
Os dias que eu pensara mais atentos
E todo o meu caminho pereceu
Nas ânsias mais diversas, morte e sonho
Mergulho no que eu possa e me componho
Dos restos, dos escombros e inda traço
O mundo com medonha face e bebo
Enquanto noutro tanto não percebo
Da sorte sequer sombra ou qualquer passo.
33703
Trazendo uma alegria sem igual
Aonde quis um mundo mais suave
O quanto cada passo mais agrave
Tornando mais complexo o ritual
E bebo do passado e volto à nau
E nela poderia ausente nave
Porquanto a vida mostre este fatal
Caminho e nele tudo seja trave
Embora concordando com o medo
Aonde com terror eu me degredo
E bebo cada gole em esperança
Dispenso a face exposta num sorriso
Vagando pelo intenso e mais preciso
Delírio pelo qual o nada avança.
33704
Acendes o luar no olhar que é meu
E teimas contra a fúria deste mar
Bebendo sem sentir a se fartar
Do quanto cada passo percebeu
Riscando o mesmo espaço ganha o breu
E tenta com terrores disfarçar
O quanto pode mesmo sonegar
E o medo noutro tanto concebeu.
Assim a vida trama este vazio
Gerando ponto a ponto fio a fio
Até tocar o nada de onde venho,
Assim a morte traz outro momento
No qual ao mesmo tempo olho e tento
O quanto poderia sem empenho.
33705
Fazendo a poesia natural
Aonde noutro acorde nada invento
Mergulho nos teus braços, meu provento
Ao mesmo tempo louco ritual
E sinto o mesmo gosto sempre igual
Gerando tão somente o sentimento
E nele cada dia eu me alimento
Até tocar o fundo do bornal,
Vagara por estrelas rios mares
E beijo cada sombra que tocares
E teimo contra a fúria até saber
Do quanto poderia e nunca estive
Até que imensidão tocando prive
E negue qualquer dia de prazer.
33706
Amando teus cabelos, tua pele
O fogo do desejo nos tocando
E quando se pensara ser mais brando
A fúria sem sentido me compele
E tanto quanto posso quero e atrele
O gozo noutro tanto transformando
O mundo que pensara em contrabando
E agora sem limites já nos sele,
Vagando por teu corpo, porto e cais
Bebendo do prazer eu quero mais
Insaciavelmente até o fim,
A noite rebentando na manhã
E assim vai prosseguindo neste afã
Amor arromba a porta, é sempre assim...
33707
Sorrisos que em minha alma já descansam
E sabem muito bem cada momento
Pudesse conseguir vencer o vento
Aonde os meus desejos não se lançam
Enquanto estes delírios cedo avançam
E tomam sem juízo o sentimento
Porquanto ser feliz traz o alimento
E os velhos pensamentos ora amansam.
Assim não poderia liberdade
Não fosse este caminho que me agrade
E trague novamente riso e sol,
Bebendo desta fonte inesgotável,
O mundo noutro instante memorável
Toando com ternura este arrebol.
33708
As ânsias de te amar em louca vida
Gerando cada passo rumo ao tanto
E nesta maravilha quero e canto
Apenas deixo além a despedida,
Vencer os descaminhos sendo urdida
A noite sem terror, temor, quebranto
E quando me percebo sem espanto
Mergulho sem defesa e sem saída.
Não posso mais negar o quanto eu quero
E sinto ser deveras mais sincero
O verso que hoje faço para ti,
E quando percebera este delírio
Vencendo qualquer medo e sem martírio
Quando em te conheci eu me perdi...
33709
O paraíso pleno desvendado
Nos ritos e nas ânsias mais gostosas
E quando num momento arquejas, gozas
Meu mundo no teu todo transbordando,
Resisto o quanto posso, porém quando
As noites prometidas majestosas
Deixando no passado as desairosas
Vontades de morrer num ar nefando,
Eu creio ser possível nova sorte
E ainda que este encanto não comporte
A eterna sensação que seja enfim
Imensidão enquanto ainda houver
Bebendo da beleza da mulher,
Traçando este infinito para mim....
33710
Pois sabem que encontraram o luar
Os olhos de quem ama impunemente
E toda esta beleza se pressente
Tocando a minha vida devagar,
O quanto poderia te tocar
Bebendo a tua boca, plenamente
E quando mais amor a gente sente
Vontade tão somente de ficar,
Assim entre loucuras e lençóis
Espalhas nesta cama raros sóis
E cevas com ternura esta emoção
Vivendo sem saber de algum destino,
No todo que me entrego e me alucino
Momentos mais sublimes se verão...
33711
Ansiosamente vivem para amar
Os olhos na procura do que um dia
A sorte muito além já predizia
Singrando sem defesas céu e mar,
E quanto mais eu possa mergulhar
Bebendo desta sorte em alegria
Grassando imensamente a fantasia
Vivendo sem ter medo de chegar,
O corte do passado se aprofunda
Minha alma com beleza já se inunda
E teimo entre as estrelas sem temor
Sabendo a plenitude que nos ronda
O mar das ilusões, em diversa onda
Trazendo para as praias farto amor.
33712
Não venha me falar do desengano
E nem sequer das frases incompletas
As luas que tu trazes prediletas
Amor reina diverso e soberano,
O peso do caminho traz o dano
E quando com ternura me repletas
As horas entre cores novas metas
E delas não se vê diverso plano.
Reinando sobre estrelas, céus e mares
Enquanto a cada passo me tomares
Bebendo em minha boca esta saliva
Minha alma se cativa de tua alma
A vida se transforma e tudo acalma
Até mesmo a saudade já me priva.
33713
Espero teu carinho há tantos anos
E sei quão dolorosa cada espera
E agora quando a sorte me tempera
Deixando no passado os desenganos
Os medos entre tantos outros riscos
As ânsias dominando plenamente
O corpo com vontade te pressente,
Porém os sonhos seguem mais ariscos.
Vestindo as ilusões justa medida,
Riscando até do mapa o sofrimento
Percebo com ternura o surgimento
Depois de tanto tempo, minha vida.
A morte que eu tivera sempre perto,
Aos poucos quando em ti eu já deserto.
33714
Vivendo pleno amor, ah! Quem me dera
Não fosse simplesmente uma ilusão
Qual chuva em tempestade de verão
Ao mesmo tempo nega a primavera,
O gosto de sonhar se destempera
Apenas do passado, provisão
E o gesto representa a negação
Reavivando em mim torpe quimera.
Do quanto me disseste e contradizes
A vida não supera quaisquer crises
E todo este cristal ora partido
Traduz o que pensara ser a sorte
E quanto mais se ausenta assim o norte,
O mundo noutro rumo está perdido...
33715
A vida não teria seus enganos
Não fosse esta vontade de ficar
Ausente dos meus olhos o luar
Mudando totalmente velhos planos,
Os rios desembocam no vazio
E o tempo se mostrando mais atroz
Quisera nos teus braços minha foz,
Mas nem esta verdade eu desafio, c
Cansado de lutar e sem descanso
Perdido em noite turva caço a luz
E quando tão somente reproduz
A treva que deveras cedo alcanço,
Negando qualquer brilho em meu olhar,
Cometa sem destinos a vagar.
33716
A boca que me beija e me alucina
Durante tanto tempo fora minha
E agora quando a sorte não se aninha
Matando desde sempre fonte e mina,
A porta do passado nega a sina
O jeito da menina desalinha
O passo rumo ao quanto me convinha
E agora a mão mordaz, quase assassina
Marcando a minha pele em tatuagem,
Aonde poderia nova aragem
A velha tempestade simplesmente
Amar e ter nos olhos este brilho
Enquanto esta ilusão não mais palmilho
O mundo dos meus sonhos segue ausente.
33717
Em versos declinados te proponho
Fazer deste momento inesquecível
E quando amor se mostre perecível
Assim eu sei deveras ser um sonho,
Mas quando mais além quero e componho
Num tempo imaginável, quase incrível
Sentindo esta emoção sigo passível
Do tempo além do quanto mais me ponho,
E risco teus espaços bebo a sorte
Deixando para trás qualquer suporte
Não temo mais os sonhos que virão,
E mesmo que isto mude no futuro
Encontro neste encanto o que procuro
Os brilhos mais sublimes de um verão.
33718
A lua que por certo te ilumina
Trazendo com seu brilho esta verdade
Enquanto tanta luz agora invade
O amor se demonstrando rumo e sina
Ainda mais distante me fascina
Porquanto traga sempre a liberdade
Sobeja e mais suprema claridade
Dos olhos delicados da menina
E assim sem ter limites sigo em ti
Vivendo todo o amor que concebi
Nos sonhos de uma etérea juventude
Não deixe que se acabe esta certeza
Tratemos nosso caso com leveza
Que nada neste mundo mais o mude.
33719
Nascida na delícia deste sonho
A noite em corpos juntos, sem fronteiras
E quando mais audaz ainda queiras
Maiores os delírios que eu proponho,
O mundo se mostrando ora risonho
Mantendo dentro em mim vivas roseiras
E nestas ilusões, nossas bandeiras
O tanto quanto eu quero e te proponho
Virá trazer somente esta alegria
Na qual já se estampara nossa vida,
Porquanto ao encontrar rara saída
A sorte noutro rumo vejo ungida
E tanto poderia ser assim
O mundo inteiro agora dentro em mim.
33720
Amada como é bom estar contigo
E crer na luz que emana-se de ti
Depois de tanto tempo conheci
O que deveras busco e mais persigo,
E quando me percebo aqui consigo
Viver o que decerto concebi
Num tempo aonde ausente enfim daqui
Apenas vira dor e desabrigo
E agora tendo em mim esta certeza
A vida se prepara em tal beleza
E tudo neste instante se transforma,
Amar e ser feliz, mero momento?
Se ainda dos meus sonhos me alimento
Jamais respeitaria a velha norma...
33721
É mansidão em meio a tempestade
O lago em placidez que necessito
E quando o meu olhar segue o infinito
Que o peito em harmonia sempre brade
Vivendo este calor em liberdade
Rondando cada espaço agora eu grito
E tento novamente o mais bonito
Caminho aonde tudo sempre agrade,
A vida poderia ser diversa
E quando sobre o todo já se versa
Gerando o que pudesse ser maior
O tempo sonegando algum espaço
No quanto resta o sonho e assim eu traço
Um mundo que pudesse ser melhor.
33722
Não temo mais a dor, assim prossigo,
Vagando sem saber de paz ou guerra
Apenas o vazio que me encerra
Trazendo volta e meia o desabrigo,
E tantas vezes teimo e se consigo
Riscar o que pudesse e já descerra
A porta do passado sobre a terra
Tentando agora crer somente em trigo
A velha fortaleza destruída
A vida sem saber de uma saída
O risco de sonhar e ter na queda
O olhar tão complacente de quem tenta
E segue contra a fúria da tormenta
Enquanto este caminho já se veda.
33723
Deixando ali num canto, uma saudade
Dispenso qualquer passo rumo ao todo
E beijo tão somente o limo e o lodo
Porquanto a própria vida dita a grade,
E quanto mais audaz, mais desagrade
Meu mundo feito em dor, terror e engodo,
O quanto poderia de outro modo,
Porém somente o frio agora invade
E toma com horror o passo enquanto
Ainda sem saber destino eu canto
Invariavelmente a solidão,
Jorrando dentro em mim o meu passado
O medo como fosse um bem herdado
Invade e já não vejo solução.
33724
Amor que sempre trago no meu peito
Desfaz qualquer mentira ou mesmo omite
E quando a vida trama seu palpite
Tomando com ternura quando deito
Fazendo da esperança um mero pleito
E tudo o que pudesse ou mal se evite
Resume o meu viver e sem limite
O todo que vier, eu sempre aceito.
Não pude caminhar sabendo quando
O mundo na verdade desabando
Roubando cada cena em tom feroz,
Assim ao me sentir apenas isto,
Do todo que buscara enfim desisto
Desato pouco a pouco, velhos nós...
33725
Certeza de morrer mais satisfeito
Quem dera se eu tivesse, mas nem isso,
O solo se mostrando movediço
O risco de viver adentra o leito
E quando solitário enfim me deito
Apenas companhia inda cobiço,
A vida sem saber de brilho e viço
O corte propagando invade o peito,
Os olhos no futuro? Morte é certa,
Ao mesmo tempo a vida me deserta
Minha alma se repleta do vazio,
Teimando contra a fúria do não ser
Restando tão distante o amanhecer
O meu olhar ausente em desafio...
33726
Mergulhando nos sonhos onde pude
Viver cada momento no passado
Meu prazo se findando ou terminado
Não tendo qualquer luz ou atitude
Matara o que restara em juventude
E beijo o corpo podre e amortalhado
Do ventre pelo medo destroçado
Já não permito engodo que isto mude.
Apenas esperar dobrar dos sinos,
As sobras dos meus cantos, desatinos,
Os riscos mais audazes, medo e sombra,
Assim o que pudesse em claridade
Refaz a tão dorida tempestade
Que ainda toma a cena e agora assombra.
33727
Abraçando minha deusa tão amada,
A morte, nada resta de algum sonho
A fresta a quem me dera ou me proponho
Trazendo tão somente o mesmo nada,
A ponta do punhal tão afiada
O riso de quem vejo ora medonho
O corte de um caminho mais risonho
Semente de ilusão abandonada.
Pereço enquanto busco algum momento
E tanto poderia em desalento
Saber de quem me queira ou mesmo finge,
Mas nada do que eu sinto me permite
E a vida atinge assim topo e limite,
Deixando meramente a vaga esfinge.
33728
Voando por espaços infinitos
Rondando cada estrela que viesse
O mundo noutra face recomece
E deixe para trás antigos mitos,
Os olhos entre nuvens, roucos gritos,
A sorte não traria qualquer messe
A dita se transforma e a morte tece
Cenários entre tantos, torpes ritos.
Hercúlea força doma cada passo
E quando pouco a pouco me desfaço
Não tendo soluções eu me apodreço,
E sei que finalmente nada possa
Conter no coração imensa fossa
É tudo o quanto sei que mais mereço.
33729
Em busca da manhã iluminada
Depois de tanta imensa sordidez
A cota se tomando de uma vez
A morte se aproxima e trama o nada,
A dita pelo tempo eviscerada
O medo na verdade se refez
E o corte aprofundado que ora vês
Transforma a minha senda, marca a estrada,
Reservo-me ao direito de morrer
E tento novamente poder ver
Declínio dos meus sonhos, pesadelos,
E sinto a cada noite mais ausente
O quanto do futuro nada sente,
Nem mesmo os olhos teus quero revê-los...
33730
Os raios deste sol brilhando tanto
Deixando um raro rastro sobre o chão
O amor vivera farta ingratidão
E neste nada ser já não me espanto
E tento enquanto visto o turvo manto
Marcado pelas garras da ilusão
Sabendo das angústias que virão
E nelas beijo a morte, bebo o pranto.
Não pude acreditar em falso sol,
Ainda que pudesse girassol,
As nuvens se aproximam e sonegam,
Enquanto as maravilhas que eu buscara
Deixando uma manhã tranquila e clara
Agora noutros tons grises se entregam...
32731
Trazendo uma esperança, vivo amor
No olhar de quem pudera no horizonte
Sentir cada beleza que desponte
E trace no seu céu ternura e cor,
Mas quando outro momento a se compor
E nele ressecada toda a fonte
Pudesse imaginar ainda a ponte
E nela novo tempo a se propor,
Não vejo mais a luz que inda tentara
E a vida sem calor agora amara
Somente desampara cada passo,
E quando me pensara mais feliz
O mundo sem desculpas contradiz
E assim em turbulência apenas passo...
33732
Envolto na alegria, enfim te canto
E tento conservar o que não resta
A morte noutro tempo em fria fresta
E nela mergulhando sem encanto,
Resido no passado e nada além,
A manta que recobre o meu futuro
Agora noutro tanto não procuro
Sabendo que em verdade nada tem
Senão a mesma face dolorosa
De espinhos pelas sendas e caminhos,
Os dias prosseguindo vãos sozinhos,
A sorte é com certeza caprichosa,
Mas tudo não se vê senão a ponta
De um velho amanhecer em faz de conta...
33733
E roubo deste sol todo o calor
Deixando para trás a claridade
Morrendo sem querer a eternidade
Nem mesmo novo mundo em tal torpor,
Carcaça desumana sigo só
E vejo derrocado cada dia
Aonde tanta sorte poderia
Ao menos se restasse ainda o pó
Dos sonhos entre tantos pesadelos,
Nas mãos os desatinos e as mentiras
E quando ainda tentas cedo atiras
O mundo se entranhando em tais novelos
Um torpe emaranhado simplesmente
E assim o fim de tudo se pressente...
33734
Amada como é bom viver contigo
Os riscos de uma vida mais audaz
O amor quando se mostra e tanto faz
Deixando para trás medo e castigo,
O quanto poderia e já consigo
Viver o que pudesse em plena paz
O corte se negando agora traz
A imensa cicatriz, porém nem ligo,
Permito que inda veja amanhecer
Em luzes tão sublimes do querer
Tornando o meu momento mais feliz,
Ocaso abandonado bebo o sol,
E toda a maravilha em arrebol
Traçando o que deveras bem mais quis...
33735
Sem medo do tormento e da saudade
Aonde quis o sonho e nada vinha,
A porta se trancara e tão daninha
Apenas deixa rastro e o medo invade,
O corpo anunciando o fim de tudo,
O sonho desairoso não seduz
E o quanto me faltara outrora em luz
Deveras com horror não mais me iludo,
Ausência de esperança e dor suprema,
Cabendo tão somente este final,
Assim ao perceber este degrau
Minha alma com certeza não mais tema
A morte nem o fim da minha história
Porquanto seja atroz e merencória...
33736
Aqui, eu já pressinto, sem perigo,
A curva derradeira e não mais quero
Viver o pensamento quando austero
Deixando qualquer gozo que persigo,
O fardo sobre mim, o medo e o vento
O frio refazendo em cada passo
O tempo sem saber sequer do espaço
E quando me percebo nem lamento,
Assisto o meu final de camarote,
Por tanta fantasia que eu tivera,
Ainda quando a vida diz quimera
E apenas o vazio se denote
Eu teimo contra o medo e até sorrio
Seguindo a correnteza, podre rio...
33737
Eu posso conhecer felicidade?
Não tento desvendar mais tais mistérios
A vida sem saber siso ou critérios
No quanto ainda teima e mesmo brade
E resolutamente nada diz
O vento se mostrara mais diverso
E quando tento ainda um raro verso
Que possa me deixar bem mais feliz
Ausência retomando toda a cena
No fundo deste poço, este mergulho,
E quantas vezes vendo o pedregulho
Minha alma em amargura se envenena
E bebe cada gota do que outrora
Ainda vivo em mim teima e devora.
33738
Amada, vem comigo, eu te proponho,
Singrar mil oceanos ver o cais
E ter nos olhos dias sem iguais
Vivendo claramente cada sonho,
No quanto imaginara ser assim
O mundo se mostrando em nova face
E quanto mais o tempo nada trace
O tempo me levando para o fim,
Mortalha se tecendo invés do riso
O corpo apodrecido da esperança
Enquanto a morbidez tocando alcança
Negando um passo audaz e mais preciso,
Eu vejo tão somente a negação
E nela meus demônios volverão...
33739
Na noite viajar, planeta sonho
E crer noutro segundo após o fim,
Gerando qualquer luz dentro de mim,
Um tempo mais feliz, até risonho...
Não posso mais sentir outra verdade
Porquanto a solidão, meu endereço
E nela cada passo eu obedeço
Vivendo o que deveras desagrade
O cômodo caminho não percebo
E sei do quanto pude acreditar
Não fosse tão volúvel o luar
Nem mesmo a fantasia este placebo
E sinto que chegando ao fim do jogo
Não adianta mais temor nem rogo...
33740
Quando te conheci mal percebia
A fenda que deveras já se abrira
E quantas vezes erro tema e mira,
Negando qualquer luz ao próprio dia,
O vento do passado não sabia
Do quanto a minha história em tal mentira
Pudera amanhecer, mas sei que gira
O mundo noutra forma em sintonia.
Somando os meus enganos, foram tantos,
Resumo minha vida nestes prantos
E calo cada verso que inda venha
Vencer as minhas velhas cicatrizes
E quando noutro instante tu me dizes,
Apenas reacende a torpe lenha...
33741
Que tudo que sonhara estava ali,
Jogada sobre o chão em morte exposta
A face desdenhosa da resposta
Dizendo quanto tempo em ti perdi
O verso se mostrando como eu vi
E tento novamente uma proposta
Diversa desta a qual ainda aposta
A vida sem saber nada senti,
Resumo com palavras versos frases
O quanto a cada dia nada trazes
E deixas abandono tão somente,
Vivenciar a sombra da emoção
Enquanto novos tempos não virão
Sonega desde sempre uma semente.
33742
Decerto, minha vida tão vazia,
Ao menos poderia ser diversa
Ouvindo bem ao longe uma alma imersa
Em luzes, fantasia e poesia,
A música se espalha e poderia
Mudar assim o rumo da conversa
E quando a solidão sonho dispersa
Adentro nas entranhas da alegria,
Somando o meu caminho em dissabores
Ao quanto poderia se assim fores
Traçando novamente a luz aonde
O peito sem saber de som e brilho,
Vagando pelo espaço aonde eu trilho
Ouvindo esta canção logo responde...
33743
Em tantos pesadelos, me perdi
Depois de procurar alguma forma
E nela ver o quanto se transforma
O amor quando se sente e tenho aqui,
Resulto do vazio aonde outrora
No tanto que pudesse acreditar
Matando desde cedo este luar
Jamais noutro momento a vida aflora
E toma este cenário em suavidade
Porquanto cada passo rumo ao vago
Traria noutro encanto um manso afago,
Mas resta dentro em mim medo e saudade.
Negar o desvario e ter à frente
O amor com luz intensa, tão somente...
33744
Agora que conheço a fantasia
E sei já desvendar qualquer destino
Aonde com ternura me fascino
Ou mesmo quando a sorte não traria
A intensa claridade que buscara
Quem tanto crê na vida em luz maior,
O medo se desenha e sei de cor
A porta do passado nega a clara
Manhã desconhecida para quem
Viera de outras trevas costumeiras
E quando ainda teimas ou não queiras
Apenas um caminho me convém
Amortecendo a dor do nada ser,
Vontade simplesmente de morrer...
33745
De ser feliz somente ao lado teu
Porquanto a vida seja sempre assim
Iniciando agora o ledo fim,
O todo desejado se esqueceu
Rumando para a morte e nada tendo
Apenas o vazio resta aonde
O mundo noutro mundo não se esconde
Ainda que deveras sei, desvendo
O tanto feito em dor e farpas, vejo
Resíduos de outros dias? Nem sinais
E quando mergulhando em vendavais
Amortalhando assim cada desejo,
O peso de viver vergando as costas
Não tendo da esperança mais respostas...
33746
Vivemos num momento de alegria
As meras ilusões de quem pudesse
Ao menos ter a vida onde obedece
A glória simplesmente e se faria
Um mundo bem melhor, e tanto pude
Viver este segundo e nada mais,
O quanto imaginara ser demais
Apenas sombra alheia, juventude,
As farpas adentrando a minha pele
O tempo devorando cada sonho
E quando novamente me proponho
A própria realidade me repele
E o vento desairoso do passado
Vivendo o tempo inteiro do meu lado...
33747
A luz que me ilumina e cessa o breu
Desfere uma promessa mentirosa,
A sorte desmembrando desta rosa
Agora em pleno espinho apareceu,
E o fardo de viver pesando tanto,
O manto se reveste em luto apenas
E quanto mais audaz tu me envenenas
Gerando infelizmente o desencanto
O riso dando vez ao choro expondo
O todo desconexo que hoje sou,
E assim o meu destino desenhou
A face do vazio decompondo,
Mereço alguma chance? Não mais creio,
O tempo se mostrara sem tal veio...
33748
Teus olhos, com certeza, luminária
Aonde quis um dia navegar
E sei que me perdi em tal luar
A sorte sendo sempre imaginária
A fonte já secara e nada sei
Senão a negação desta alegria
E o tempo expondo em torpe ventania
Transcende ao que desejo e mais sonhei,
Ocasionando assim naufrágio e queda
O corpo se apodrece em vida plena,
Nem mesmo uma esperança me serena
Enquanto este caminho a porta veda,
E atento ao que pudesse uma mudança
Apenas o vazio o peito alcança.
33749
Dos sonhos que sonhei na minha vida
Encontro alguns resquícios, nada mais,
E o todo se transforma além do cais
Sentindo a velha senda dividida
Resumo com terror o passo enquanto
Mergulho noutra cena, sempre igual,
Pudesse desvendar o virtual
Delírio pelo qual ainda canto
Buscando alguma paz que nunca veio
E sei do mesmo medo quando alguém
Dizendo do futuro com desdém
Espalha tão somente este receio,
Percebo o fim da história e se aproxima
A morte com terror em fina esgrima.
33750
Alegria que fora imaginária
Apenas não consigo ver mais nada
Senão a forma torpe e desgraçada
Da morte noutra cena temerária
Restara disto tudo mero olhar
Na ausência do que possa haver em nós
E tanto se pudesse, mas sem voz
Já não consigo nada imaginar
Nem mesmo algum momento em luz e glória
O tempo não produz nova esperança
E quanto mais audaz nunca afiança
O desejo feroz de uma vitória
Escória do que fui, apenas isto,
E contra tudo e todos, já desisto...
33651até 33700
33651
Atropelo a vida
Ao cortar o céu
Vagando sem véu
O medo divida
A fonte extraída
O tempo cruel
O pote de fel
A ponte, a partida
O vento soprando
O mundo rondando
E o nada se vê
Caminho ou começo
Deveras mereço
O quanto sem quê.
33652
O lacre o mercado
O barco sem rumo
O tempo se esfumo
O nada alegado
A fonte e o pecado
Mudando o que assumo
E tendo outro prumo
O peso tocado
O velho mercante
O dia adiante
O tempo que vem
E sigo sem tanto
Poder novo canto
Sem ter mais ninguém.
33653
Se eu tanto acredito
Ou nada pudesse
A vida se esquece
E bebo o infinito
Rondando este aflito
Caminho sem messe
E quanto padece
Quem gera outro grito
Navego oceanos
E tantos enganos
Os danos constantes
Risonha mortalha
A vida me espalha
Vitrais degradantes.
33654
Pudesse te ter
Ou mesmo negar
O quanto o luar
Negara o prazer
E assim passo a ver
Além do pomar
Aquém do luar
O mundo em querer,
Girando esta roda
O quanto me açoda
Do todo que eu quis,
Vital semelhança
A vida se lança
Na igual cicatriz.
33655
Calado no canto
Perdido sentido
Acalma a libido
E tudo sem tanto
Puir este manto
Novel destruído
Nos medos do olvido
Aonde adianto
Meu passo ao vazio
E quando desfio
A voz não se trama
O vento se aplaca
A sorte da faca
A fúria da chama.
33656
Mereço outra chance
Quem sabe talvez
E tudo se fez
Além deste alcance
E quanto ao nuance
Ou vã sensatez
O quanto não vês
E ainda se lance
Traduz qualquer rastro
Aonde me alastro
E busco outro cais
Gerado do medo
No quanto concedo
Ouvindo jamais.
33657
O som da guitarra
O canto em segredo
O parto este enredo
Aonde se agarra
A morte me escarra
E cospe em degredo
Contando mais ledo
O quanto desgarra
Vencido reluto
O peso do luto
Não posso e nem devo,
O mundo carrego
No passo mais cego
E tanto me atrevo.
33658
Lavrando com medo
O tiro e o pavio
O tempo sombrio
O quadro o degredo
A falta de enredo
O corte vadio
E quando me esguio
Vencido ou mais ledo,
Espero um momento
Aonde me alento
Ou bebo este tanto
E resto sem nexo
Tocado e perplexo
Enquanto me espanto.
33659
Ourives do nada
Ainda aprendendo
O quanto do adendo
Negando esta estada
Vagar sem estrada
Sentir se desvendo
O mundo contendo
A porta fechada
Do vento que bate
O farto arremate
Do beijo e da fera,
O gesto suave
Aonde se agrave
E nada tempera.
33660
Ouvindo o passado
No tempo e no espaço
Aonde não traço
Caminho velado,
Resisto ao recado
E tento outro laço
Mas tudo desfaço
Enquanto calado,
Arcando com erros
Vencendo os desterros
Um elo rompido
Assim sigo em frente
No quanto apresente
Meu tempo perdido.
33661
Arcando com falsos
Momentos diversos
Aonde em dispersos
Gerara percalços
Os dias descalços
Os medos e os versos
Reais universos
Entre os cadafalsos
Escapo do tiro
O quanto me atiro
E tento outra fuga
A rota se veste
Do medo e da peste
O tempo me enruga.
33662
Acordo satisfeito, extasiado
Bebendo cada gole da esperança
E nela novamente a farpa e a lança
O corpo pelo solo abandonado
Assim ao perceber o sonegado
Desejo aonde o nada sempre avança
O medo da fornalha e a temperança
O corte pelo tempo aprofundado,
Festejos entre mortos funerais
Os antros mais diversos e os chacais
Acasos entre falsa pedraria
E o tempo de seguir já se moldando
Aonde fora outrora noutro bando
A sorte morre em plena fantasia.
33663
Se eu trago no meu peito essa alvorada
Dispenso qualquer sol e beijo a lua
Desvendo cada fase em que cultua
A vida noutra face desmembrada
E o canto se mostrando em disparada
A porta se trancando perco a rua
O pântano desta alma continua
Palavra pelo tempo enlameada.
Arrisco alguma sorte morte ou tanto
Versejo na medida em que me espanto
Vestindo este momento sem sentido,
Jorrando dentro em mim o firmamento
O todo num instante se apascento
O mundo há tanto tempo revolvido.
33664
Que faz o meu viver iluminado
A velha cantoria aonde eu ouço
Respostas deste velho calabouço
Já há tanto dentro em mim e não notado
O cravo velho senso desbotado
O beijo em trajes novos, velho bolso,
E quando no presente sem embolso
O quarto da esperança eu vi trancado
Pedaços entre chãos mesclas de vida
E nelas se concebe ou não percebo
O quanto do que fora já concebo
E nada da verdade sendo urdida
Em fases discordantes e venais,
Assisto aos meus instantes germinais.
33665
O lacre destruído o temporal
O pântano que ainda abrigo aqui
O jeito mais sutil e me perdi
Do tempo escadaria sem degrau,
E nada do que tanto quis igual
Ou mesmo noutro encanto consenti
Ainda quando resta algo de ti
O medo se mostrara em ritual,
É cômodo seguir sem ter estrelas
E quando noutro fato posso tê-las
Ausentes dos meus olhos horizontes
Porquanto nada digo nem pudera
O beijo dita enfado e mostra a fera
E nela novos dias mais apontes.
33666
O corte, a morte, o sê-lo e o fim do dia
À parte do que tento nada mais
Pudesse se não fossem os iguais
Caminhos onde tudo moldaria
O parto sem descanso, outra agonia
A morte se aproxima do meu cais
E o cândido caminho, sem jamais
Saber se ainda resta a fantasia
Negar o contrapeso que hoje sou
Matando o que decerto inda restou
Deixando respirar e apenas isso,
O nada se mostrando indiferente
Porquanto novo rumo já se sente
E nele com certeza inda me viço.
33667
Decerto neste amor eu posso crer?
Jamais acreditando no vazio
O peso do viver se desafio
Gerando tolamente o nada ver
O quarto em abandono, sem querer
A ponta do punhal, navalha e fio
O jeito de seguir onde desfio
Meu pântano que passo a conhecer,
Servindo se pudesse em mesa farta
A vida noutro tanto já me aparta
E deixa mera sombra do que fui,
O gosto se arremete no passado
E o todo pelo vento apregoado
Enquanto o que inda sou, aos poucos pui;
33668
Resume minha vida num momento
O preço sem medida e sem remédio
Desaba dentro em mim o imenso prédio
E dele se percebe cada vento
O quanto da esperança não agüento
E vivo sem certeza morro assédio
E vendo novamente o mesmo tédio
Do qual seguira a vida em vão provento;
No pranto ou no sorriso me completo
E quando vejo o prato predileto
Tragado pela fúria de quem tenta
Vencer a fantasia com mortalhas
E assim entre cinzeiros tu me espalhas
A fonte se esvaindo vã sedenta.
33669
Momento de melhor te conhecer
Jogada pelos cantos desta casa,
Ainda quando o tempo não atrasa
A morte de tocaia passa a ver
O jeito aonde pode merecer
Um alimento a mais, e já se embasa
No corte feito em fogo fúria e brasa
Lateja dentro em mim até morrer.
Acasos não me dizem da verdade
E nada do que tento ainda invade
O passo rumo ao quanto poderia
Aonde fiz a cama, nada vejo
Sequer outro tormento em vão desejo
A noite se escorrendo sempre fria.
33670
Raiando nesse céu, no firmamento
A lua após o sol em brumas tantas
E quando novamente tu levantas
Ainda noutra face me apresento
Vestido de tortura e de lamento
As ondas entre areias desencantas
Ascendo ao que eu queria e logo cantas
Aumenta desta forma o sofrimento.
O deus que tu me deste, nada faz
Semente desairosa morta em paz
Farrapos entre trapos e mentiras
Assim ao me moldar com fúria e medo,
O quanto do que resta inda concedo
Porquanto toda a força tu retiras;
33671
Vaguei por quase todo esse infinito
Em sonhos, pesadelos, medos, risos
E quando me pensara em paraísos
Descubro esta ilusão terrível mito
Podendo desmentir prefiro e omito
Ainda não arcando os prejuízos
Em passos mais audazes e concisos,
Porém a negação me deixa aflito,
Resolvo com meus ermos a questão
E tanto posso mesmo em profusão
Falar do quanto pude e não sabia,
Após o terminar desta aliança
A morte no vazio já me lança
A noite eterna é dura amarga e fria.
33672
Em busca duma estrela que me desse
Quem sabe alguma luz em noite escusa,
O quanto da verdade a sorte abusa
E nada do que tanto se merece
Vencido pelo medo resta a prece
E assim no tanto quanto a vida acusa
Resisto e mesmo quando sonho a Musa
O quarto novamente se escurece.
Ajeito o travesseiro e beijo a fronha
A farpa se adentrando ora medonha
E o verso se tornando sem sentido,
O vento na janela me chamando
O mundo noutra face desabando
Meu porto há tantos anos já perdido.
33673
Amor maior, meu verso mais bonito
Pudesse te trazer, mas onde estás?
Não vejo sequer sombra mais audaz
Do quanto poderia ser o grito
Aonde se espalhasse no infinito
A voz de quem se mostre tão tenaz
O quadro se esvazia e busco a paz
E sei que na verdade é mero mito;
O fato de sonhar ainda impede
O vento que deveras retrocede
E deixa tudo aquém do que eu buscara,
A noite se aproxima e nada vejo
O beijo de quem tanto diz desejo
Escarra enquanto a vida se escancara.
33674
Que em tantas cores belas poderia
A noite que se note em nova face,
O passo rumo ao nada ainda grasse
Em plena tempestade em ventania
Agraciando o rumo aonde um dia
O medo noutro tanto gere impasse
O fardo carregado em desenlace
Apenas nova história mostraria
Jazigo da esperança em tal neblina
O sonho quando muito me alucina
E bebo em fartos goles tal seara
Criada pelas ânsias de outro tempo
E nele se moldando em contratempo
A morte que esta vida semeara.
33675
Depois de tanta queda e de tropeço
Cascalhos entranhados sob a pele
O todo noutra face me compele
E sei do quanto posso ou já mereço
A vida com certeza traz o preço
Do riso ou paraíso e já repele
Quem tanto realçando sempre apele
Porquanto esta mortalha eu mesmo teço
O básico do sonho é ser feliz
O cáustico caminho em que perfiz
A sórdida e venal vã caminhada,
Resisto enquanto posso ou mesmo além,
Mas sei do quanto o nada me contém
Seguindo sem sentir a leda estrada.
33676
Estavas bem aqui, desde o começo
E nada poderia desvendar
O traço aonde pude adivinhar
A morte à qual em luzes obedeço,
O vândalo sonhar que tanto apreço
Esconde dentro em si qualquer luar
E nele tantas vezes pude achar
O mundo sempre atroz e já do avesso,
Esqueço qualquer música e talvez
A porta descerrada onde não vês
Sequer a menor sombra do meu mundo,
E quando amortalhada voz se escuta
Ainda na verdade a fonte astuta
Na qual e pela qual enfim me inundo.
33677
De amores me perdera sem saber
Aonde mergulhar a estrela guia,
O vento se transborda e a ventania
Depois de certo tempo dá prazer
Aprofundando o corte no meu ser
A porta escancarada não havia
E tudo se fazendo em fantasia
O rumo pouco a pouco a me perder
Elejo entre meus dias o fatal
E sei do quanto posso em gestual
Seguir tranquilamente sem abalo
Mas quando me percebo de soslaio
Do todo apenas sou mero lacaio
E vendo a realidade enfim me calo.
33678
Percorro tantos astros que nem sei
Se ainda houvesse um ponto de chegada
A morte há tantos anos já traçada
O tempo que talvez nem mais terei
O quanto a cada ausência me estranhei
E vi depois do nada o mesmo nada
Aonde quis manhã ensolarada
Nas trevas e nos medos mergulhei.
Resido aonde pude acreditar
Nas ânsias e nos medos a vagar
Riscado desta agenda dita vida
Esqueço o que talvez pudesse ainda
Aonde a fantasia já não brinda
A cena há tanto tempo em vão perdida.
33679
De tudo que te falo, já me inundo,
E sei do quanto posso ou mesmo não
O mundo se mostrando em direção
Contrária ao que deveras num segundo
Pensara e sendo sempre um vagabundo
Riscando com palavras solução
Do medo aonde vejo a sedução
De quem noutro cenário é mais imundo.
Perpetuamente a cena feita em farsa
O medo de sonhar decerto esgarça
O passo rumo ao quanto pude ver
E toda esta mortalha assim tecida
A porta noutra face diz saída
E assim eu passo a vida, agora a crer.
33680
Da vida que sem tréguas eu busquei
Regada com o vinho da esperança
E quando a realidade enfim se alcança
Mudando desde agora norma e lei
O tanto quanto pude mergulhei
No beijo feito em dor e temperança
Assim ao procurar tola aliança
A morte num segundo desenhei.
Jogado pelos cantos simplesmente
Apenas cada dia volta e mente
Arremessando ao nada o que eu quisera
Aprendo mais depressa a me escoltar
Nos antros mais recônditos, luar
Tentando apascentar esta quimera.
33681
Paixão que me arrebata e me domina
Jogada pelos cantos desta casa
Enquanto a realidade se defasa
Apenas a ilusão expressa a mina
E nela toda a fonte que domina
Nascente feita em fúria medo e brasa
O porte mais agudo quando embasa
A vida noutra face se extermina,
Resolvo com mentiras os problemas
E quando na verdade ainda temas
Os dias que virão após o fim
Eu bebo cada gota que espalhaste
E sinto quanto enorme tal desgaste
Gerado pelo medo ainda em mim.
33682
Não deixa nem sequer achar o rumo
Quem tenta com terríveis heresias
Vencer estas cruéis hipocrisias
E nelas com certeza o todo assumo,
Vestido pelo medo não me aprumo
E quando novas noites tu trarias
E nelas outras sendas, fantasias
Além deste fantasma eu me acostumo
A crer no incomparável privilégio
De um mundo mesmo quando atroz ou régio
Tocado pelas ânsias mais fugazes,
Resisto plenamente enquanto posso
E tanto quanto fora teu e nosso
Os dias morrem longe destas fases.
33683
Perfumando tua alma cristalina
A face desmembrada do futuro
E nela novamente me procuro
Enquanto este retrato já domina
A cena aonde tudo se extermina
Até o mesmo chão vazio ou duro
E tudo noutro tanto me amarguro
Deixando para trás sonhos e sina
Fazer outro soneto simplesmente
Enquanto a realidade não ausente
E o mundo ainda possa ter um verso
Cadenciando a vida busco um par
E sei que na verdade vai chegar
Rolando sem sentido no universo.
33684
Retendo dos prazeres todo o sumo
Percebo quanto fútil fora a vida
E sei da mesma história repetida
E nela com ternura tudo assumo,
Jorrando dentro em mim, diverso fumo,
E o peso de sonhar ainda acida
E quando se pensara decidida
A dita se aprumando em novo rumo,
Refaço após pensar na calmaria
Ao menos minha morte assim se adia,
Urdindo algum momento em luz e paz
Ousando novamente tento um passo
E quando me percebo e me desgraço
Final já se esboçando e tanto faz...
33685
Amar demais passou a ser a meta
De quem se pensaria mais constante
A sorte muitas vezes fascinante
Enquanto a poesia não completa
A cena aonde outrora foi dileta
Agora nova escusa radiante
Moldando do cristal um diamante
Assim uma alma mostra-se poeta
Gerar doutro vazio eternidade
Rondando sem destino na cidade
Em bares e diversos sonhos ligo
O tempo ao que fora mais presente
E quando noutro tanto não freqüente
Sozinho sigo em paz, sempre comigo.
33686
Que traz o meu caminho mais florido
A sorte de saber aonde ausência
Pudesse novamente em florescência
Transcendendo ao que penso ora perdido,
Cortando a minha pele não duvido
Do quando ainda existe em rara essência
E nela não pudera com decência
Fazer outro momento ser sentido,
Legando ao que virá meu pensamento
E sei quanto é capaz o sentimento
E nele se prepara a morte em vida
Podando cada passo rumo ao nada,
A vaga sensação desesperada
Não deixa em labirintos a saída.
33687
Por isso em minha voz, canta o poeta
Enquanto adormecidas ilusões
E nelas mortos sempre os meus verões
Palavra com palavra se repleta,
O vento na janela, a velha meta
O tanto quanto posso e nada pões
De teu no caminhar entre as versões
Aonde toda a farsa me completa.
O pântano se erguendo em movediço
Caminho aonde tanto quero e viço
O risco de sonhar além ou tanto,
Peçonhas diluídas entre os medos
E assim ao perceber velhos segredos
Ainda sem descanso penso e canto.
33688
Sem amor nada faz sequer sentido
Ainda se fizesse não mais quero
E tento ser deveras mais sincero
Embora tenho tanto já mentido
O vento se espalhando é percebido
No quadro aonde mostro o riso fero
E assim sem ter caminho desespero
E bebo cada gota enquanto lido.
Relido caminhar entre fagulhas
E nelas outras vezes já mergulhas
Arcando com meus ermos e sem nexo
A vida não pudesse ser assim
O fardo se aproxima e mostra o fim
E nele cada dia desconexo.
33689
Amores percorrendo os universos
Aonde fiz a cama e não podia
Saber da madrugada atroz e fria
Gerada pela ausência de outros versos,
Medonha face vejo e me retrato
No especular caminho em dissonância
Ainda não pudera em discrepância
Trazer com dor e medo o mesmo fato
Prenunciando o fim da brincadeira
A boca escancarada escarra em mim,
E o corpo apodrecido no jardim
Deitando sobre a sorte, jardineira,
O verso sem sentido ou quase opaco
E o tempo dissonante; aonde estaco.
33690
Vibrando nos desejos dos meus versos
Os ventos em completa discordância
Aonde poderia em elegância
Sorver sentidos tantos e diversos
Não posso com palavras traduzir
O quanto sinto ou mesmo sentiria
Ainda quando a sorte é tão vazia
Ausente dos meus olhos o porvir
Escuto a voz do vento me clamando
E beijo ausente luz de quem não sabe
Bem antes que este todo já desabe
O tempo noutro mundo mais nefando,
Revejo cada farsa e em nada creio
Apenas coletando o meu receio.
33691
Nos braços mais gostosos deste mundo
Deitando quando posso e não pudera
Sabendo deste outono a primavera
E quanto no vazio me aprofundo
Vestindo o coração que é vagabundo
Da sorte quando a mesma destempera
E ainda navegando não se espera
Sequer outro momento e não me inundo
Do gozo mais perfeito ou mais atroz
Não posso nem deveras ter a voz
De quem se fez em luto e agora tenta
Vestir a fantasia de palhaço
O tempo quando ainda em vão eu grasso
Transforma quaisquer sonhos em tormenta.
33692
Pois sempre desejei estar aqui
Ainda que pudesse acreditar
Nas tantas heresias do luar
E nelas com ternura me perdi,
Vestindo cada sonho travesti
O mundo em dores fartas e a buscar
Aonde se pudesse algum altar
E nele com terror eu me prendi
Resisto o quanto posso, mas bem sei
Do tanto sem destino e me entranhei
Nas mãos incontroláveis da ilusão
Sorvendo cada gota no verão
E o peso cambaleia, mas se erguendo
Depois do temporal soçobra o barco
E quando no vazio ainda embarco
A morte já seria um dividendo.
33693
Não posso nem quero
Saber do final
Aonde esta nau
Num vento mais fero
Embora sincero
Naufrague em banal
Caminho venal
Ou mesmo se austero,
Resolvo o problema
E novo se tema
Aonde sem leme
O barco naufraga
Adentrando a vaga
Porquanto se algeme.
33694
Assisto ao penhasco
E beijo a tormenta
E quando não venta
Ainda sem asco
Pudesse o carrasco
Vencendo apascenta
Gerando onde alenta
Veneno em vão frasco,
Riscando do mapa
A corte me encapa
E beija este espaço
Aonde não pude
Final juventude
Assim me desfaço.
33695
Opacos noturnos
Em brumas e frio
O tanto vadio
Os passos soturnos
A vida em tais turnos
Ousando ao vazio
E perco e desfio
Aonde em diurnos
Momentos pudera
Saber da pantera
Ou quando não possa
Falar da promessa
Aonde tropeça
Gerando outra fossa.
33696
O beijo à vontade
O corte na face
A louca que grasse
Ou mesmo me invade
O jeito se agrade
E nele este impasse
Ainda que trace
A felicidade
Diz faca e promessa
O quanto se apressa
Ou mesmo não diga
O vento se espalha
A fome a batalha
Também desabriga
33697
Tocando de leve
O medo ou a vela
O tempo se atrela
E gera esta neve
E quando se atreve
Verdade revela
E nisto se sela
A cela mais breve
Revisto o passado
Aonde o traçado
Não pude seguir
Futuro sem sombra
A morte que assombra
Serve de elixir.
33698
Vital podridão
Acordo e revejo
O tanto prevejo
E mesmo senão
O corte do vão
Além deste ensejo
O mundo azulejo
Ou quedo no chão
Prenúncio de morte
Renúncia da sorte
E tanto pudera
Saber da fagulha
Aonde mergulha
Acordo esta fera.
33699
Jogado sem risco
O pântano em mim,
O vento onde vim
Porquanto se arisco
O quanto me arrisco
Ou mesmo se assim
Pudesse em carmim
O tempo o corisco
O jeito de rir
O medo de vir
Acordo negado,
Rondando esta intriga
Aonde prossiga
Sem medo ou pecado.
33700
Assisto ao programa
Da morte em sinal
Mesmo virtual
No tanto que clama
Acende esta chama
Afogo o final
Ascendo ao degrau
Invento outro drama
E tento ou disfarço
Enquanto se esparso
Não posso ou pudesse
Assim se moldando
O quanto é nefando
A morte oferece.
Atropelo a vida
Ao cortar o céu
Vagando sem véu
O medo divida
A fonte extraída
O tempo cruel
O pote de fel
A ponte, a partida
O vento soprando
O mundo rondando
E o nada se vê
Caminho ou começo
Deveras mereço
O quanto sem quê.
33652
O lacre o mercado
O barco sem rumo
O tempo se esfumo
O nada alegado
A fonte e o pecado
Mudando o que assumo
E tendo outro prumo
O peso tocado
O velho mercante
O dia adiante
O tempo que vem
E sigo sem tanto
Poder novo canto
Sem ter mais ninguém.
33653
Se eu tanto acredito
Ou nada pudesse
A vida se esquece
E bebo o infinito
Rondando este aflito
Caminho sem messe
E quanto padece
Quem gera outro grito
Navego oceanos
E tantos enganos
Os danos constantes
Risonha mortalha
A vida me espalha
Vitrais degradantes.
33654
Pudesse te ter
Ou mesmo negar
O quanto o luar
Negara o prazer
E assim passo a ver
Além do pomar
Aquém do luar
O mundo em querer,
Girando esta roda
O quanto me açoda
Do todo que eu quis,
Vital semelhança
A vida se lança
Na igual cicatriz.
33655
Calado no canto
Perdido sentido
Acalma a libido
E tudo sem tanto
Puir este manto
Novel destruído
Nos medos do olvido
Aonde adianto
Meu passo ao vazio
E quando desfio
A voz não se trama
O vento se aplaca
A sorte da faca
A fúria da chama.
33656
Mereço outra chance
Quem sabe talvez
E tudo se fez
Além deste alcance
E quanto ao nuance
Ou vã sensatez
O quanto não vês
E ainda se lance
Traduz qualquer rastro
Aonde me alastro
E busco outro cais
Gerado do medo
No quanto concedo
Ouvindo jamais.
33657
O som da guitarra
O canto em segredo
O parto este enredo
Aonde se agarra
A morte me escarra
E cospe em degredo
Contando mais ledo
O quanto desgarra
Vencido reluto
O peso do luto
Não posso e nem devo,
O mundo carrego
No passo mais cego
E tanto me atrevo.
33658
Lavrando com medo
O tiro e o pavio
O tempo sombrio
O quadro o degredo
A falta de enredo
O corte vadio
E quando me esguio
Vencido ou mais ledo,
Espero um momento
Aonde me alento
Ou bebo este tanto
E resto sem nexo
Tocado e perplexo
Enquanto me espanto.
33659
Ourives do nada
Ainda aprendendo
O quanto do adendo
Negando esta estada
Vagar sem estrada
Sentir se desvendo
O mundo contendo
A porta fechada
Do vento que bate
O farto arremate
Do beijo e da fera,
O gesto suave
Aonde se agrave
E nada tempera.
33660
Ouvindo o passado
No tempo e no espaço
Aonde não traço
Caminho velado,
Resisto ao recado
E tento outro laço
Mas tudo desfaço
Enquanto calado,
Arcando com erros
Vencendo os desterros
Um elo rompido
Assim sigo em frente
No quanto apresente
Meu tempo perdido.
33661
Arcando com falsos
Momentos diversos
Aonde em dispersos
Gerara percalços
Os dias descalços
Os medos e os versos
Reais universos
Entre os cadafalsos
Escapo do tiro
O quanto me atiro
E tento outra fuga
A rota se veste
Do medo e da peste
O tempo me enruga.
33662
Acordo satisfeito, extasiado
Bebendo cada gole da esperança
E nela novamente a farpa e a lança
O corpo pelo solo abandonado
Assim ao perceber o sonegado
Desejo aonde o nada sempre avança
O medo da fornalha e a temperança
O corte pelo tempo aprofundado,
Festejos entre mortos funerais
Os antros mais diversos e os chacais
Acasos entre falsa pedraria
E o tempo de seguir já se moldando
Aonde fora outrora noutro bando
A sorte morre em plena fantasia.
33663
Se eu trago no meu peito essa alvorada
Dispenso qualquer sol e beijo a lua
Desvendo cada fase em que cultua
A vida noutra face desmembrada
E o canto se mostrando em disparada
A porta se trancando perco a rua
O pântano desta alma continua
Palavra pelo tempo enlameada.
Arrisco alguma sorte morte ou tanto
Versejo na medida em que me espanto
Vestindo este momento sem sentido,
Jorrando dentro em mim o firmamento
O todo num instante se apascento
O mundo há tanto tempo revolvido.
33664
Que faz o meu viver iluminado
A velha cantoria aonde eu ouço
Respostas deste velho calabouço
Já há tanto dentro em mim e não notado
O cravo velho senso desbotado
O beijo em trajes novos, velho bolso,
E quando no presente sem embolso
O quarto da esperança eu vi trancado
Pedaços entre chãos mesclas de vida
E nelas se concebe ou não percebo
O quanto do que fora já concebo
E nada da verdade sendo urdida
Em fases discordantes e venais,
Assisto aos meus instantes germinais.
33665
O lacre destruído o temporal
O pântano que ainda abrigo aqui
O jeito mais sutil e me perdi
Do tempo escadaria sem degrau,
E nada do que tanto quis igual
Ou mesmo noutro encanto consenti
Ainda quando resta algo de ti
O medo se mostrara em ritual,
É cômodo seguir sem ter estrelas
E quando noutro fato posso tê-las
Ausentes dos meus olhos horizontes
Porquanto nada digo nem pudera
O beijo dita enfado e mostra a fera
E nela novos dias mais apontes.
33666
O corte, a morte, o sê-lo e o fim do dia
À parte do que tento nada mais
Pudesse se não fossem os iguais
Caminhos onde tudo moldaria
O parto sem descanso, outra agonia
A morte se aproxima do meu cais
E o cândido caminho, sem jamais
Saber se ainda resta a fantasia
Negar o contrapeso que hoje sou
Matando o que decerto inda restou
Deixando respirar e apenas isso,
O nada se mostrando indiferente
Porquanto novo rumo já se sente
E nele com certeza inda me viço.
33667
Decerto neste amor eu posso crer?
Jamais acreditando no vazio
O peso do viver se desafio
Gerando tolamente o nada ver
O quarto em abandono, sem querer
A ponta do punhal, navalha e fio
O jeito de seguir onde desfio
Meu pântano que passo a conhecer,
Servindo se pudesse em mesa farta
A vida noutro tanto já me aparta
E deixa mera sombra do que fui,
O gosto se arremete no passado
E o todo pelo vento apregoado
Enquanto o que inda sou, aos poucos pui;
33668
Resume minha vida num momento
O preço sem medida e sem remédio
Desaba dentro em mim o imenso prédio
E dele se percebe cada vento
O quanto da esperança não agüento
E vivo sem certeza morro assédio
E vendo novamente o mesmo tédio
Do qual seguira a vida em vão provento;
No pranto ou no sorriso me completo
E quando vejo o prato predileto
Tragado pela fúria de quem tenta
Vencer a fantasia com mortalhas
E assim entre cinzeiros tu me espalhas
A fonte se esvaindo vã sedenta.
33669
Momento de melhor te conhecer
Jogada pelos cantos desta casa,
Ainda quando o tempo não atrasa
A morte de tocaia passa a ver
O jeito aonde pode merecer
Um alimento a mais, e já se embasa
No corte feito em fogo fúria e brasa
Lateja dentro em mim até morrer.
Acasos não me dizem da verdade
E nada do que tento ainda invade
O passo rumo ao quanto poderia
Aonde fiz a cama, nada vejo
Sequer outro tormento em vão desejo
A noite se escorrendo sempre fria.
33670
Raiando nesse céu, no firmamento
A lua após o sol em brumas tantas
E quando novamente tu levantas
Ainda noutra face me apresento
Vestido de tortura e de lamento
As ondas entre areias desencantas
Ascendo ao que eu queria e logo cantas
Aumenta desta forma o sofrimento.
O deus que tu me deste, nada faz
Semente desairosa morta em paz
Farrapos entre trapos e mentiras
Assim ao me moldar com fúria e medo,
O quanto do que resta inda concedo
Porquanto toda a força tu retiras;
33671
Vaguei por quase todo esse infinito
Em sonhos, pesadelos, medos, risos
E quando me pensara em paraísos
Descubro esta ilusão terrível mito
Podendo desmentir prefiro e omito
Ainda não arcando os prejuízos
Em passos mais audazes e concisos,
Porém a negação me deixa aflito,
Resolvo com meus ermos a questão
E tanto posso mesmo em profusão
Falar do quanto pude e não sabia,
Após o terminar desta aliança
A morte no vazio já me lança
A noite eterna é dura amarga e fria.
33672
Em busca duma estrela que me desse
Quem sabe alguma luz em noite escusa,
O quanto da verdade a sorte abusa
E nada do que tanto se merece
Vencido pelo medo resta a prece
E assim no tanto quanto a vida acusa
Resisto e mesmo quando sonho a Musa
O quarto novamente se escurece.
Ajeito o travesseiro e beijo a fronha
A farpa se adentrando ora medonha
E o verso se tornando sem sentido,
O vento na janela me chamando
O mundo noutra face desabando
Meu porto há tantos anos já perdido.
33673
Amor maior, meu verso mais bonito
Pudesse te trazer, mas onde estás?
Não vejo sequer sombra mais audaz
Do quanto poderia ser o grito
Aonde se espalhasse no infinito
A voz de quem se mostre tão tenaz
O quadro se esvazia e busco a paz
E sei que na verdade é mero mito;
O fato de sonhar ainda impede
O vento que deveras retrocede
E deixa tudo aquém do que eu buscara,
A noite se aproxima e nada vejo
O beijo de quem tanto diz desejo
Escarra enquanto a vida se escancara.
33674
Que em tantas cores belas poderia
A noite que se note em nova face,
O passo rumo ao nada ainda grasse
Em plena tempestade em ventania
Agraciando o rumo aonde um dia
O medo noutro tanto gere impasse
O fardo carregado em desenlace
Apenas nova história mostraria
Jazigo da esperança em tal neblina
O sonho quando muito me alucina
E bebo em fartos goles tal seara
Criada pelas ânsias de outro tempo
E nele se moldando em contratempo
A morte que esta vida semeara.
33675
Depois de tanta queda e de tropeço
Cascalhos entranhados sob a pele
O todo noutra face me compele
E sei do quanto posso ou já mereço
A vida com certeza traz o preço
Do riso ou paraíso e já repele
Quem tanto realçando sempre apele
Porquanto esta mortalha eu mesmo teço
O básico do sonho é ser feliz
O cáustico caminho em que perfiz
A sórdida e venal vã caminhada,
Resisto enquanto posso ou mesmo além,
Mas sei do quanto o nada me contém
Seguindo sem sentir a leda estrada.
33676
Estavas bem aqui, desde o começo
E nada poderia desvendar
O traço aonde pude adivinhar
A morte à qual em luzes obedeço,
O vândalo sonhar que tanto apreço
Esconde dentro em si qualquer luar
E nele tantas vezes pude achar
O mundo sempre atroz e já do avesso,
Esqueço qualquer música e talvez
A porta descerrada onde não vês
Sequer a menor sombra do meu mundo,
E quando amortalhada voz se escuta
Ainda na verdade a fonte astuta
Na qual e pela qual enfim me inundo.
33677
De amores me perdera sem saber
Aonde mergulhar a estrela guia,
O vento se transborda e a ventania
Depois de certo tempo dá prazer
Aprofundando o corte no meu ser
A porta escancarada não havia
E tudo se fazendo em fantasia
O rumo pouco a pouco a me perder
Elejo entre meus dias o fatal
E sei do quanto posso em gestual
Seguir tranquilamente sem abalo
Mas quando me percebo de soslaio
Do todo apenas sou mero lacaio
E vendo a realidade enfim me calo.
33678
Percorro tantos astros que nem sei
Se ainda houvesse um ponto de chegada
A morte há tantos anos já traçada
O tempo que talvez nem mais terei
O quanto a cada ausência me estranhei
E vi depois do nada o mesmo nada
Aonde quis manhã ensolarada
Nas trevas e nos medos mergulhei.
Resido aonde pude acreditar
Nas ânsias e nos medos a vagar
Riscado desta agenda dita vida
Esqueço o que talvez pudesse ainda
Aonde a fantasia já não brinda
A cena há tanto tempo em vão perdida.
33679
De tudo que te falo, já me inundo,
E sei do quanto posso ou mesmo não
O mundo se mostrando em direção
Contrária ao que deveras num segundo
Pensara e sendo sempre um vagabundo
Riscando com palavras solução
Do medo aonde vejo a sedução
De quem noutro cenário é mais imundo.
Perpetuamente a cena feita em farsa
O medo de sonhar decerto esgarça
O passo rumo ao quanto pude ver
E toda esta mortalha assim tecida
A porta noutra face diz saída
E assim eu passo a vida, agora a crer.
33680
Da vida que sem tréguas eu busquei
Regada com o vinho da esperança
E quando a realidade enfim se alcança
Mudando desde agora norma e lei
O tanto quanto pude mergulhei
No beijo feito em dor e temperança
Assim ao procurar tola aliança
A morte num segundo desenhei.
Jogado pelos cantos simplesmente
Apenas cada dia volta e mente
Arremessando ao nada o que eu quisera
Aprendo mais depressa a me escoltar
Nos antros mais recônditos, luar
Tentando apascentar esta quimera.
33681
Paixão que me arrebata e me domina
Jogada pelos cantos desta casa
Enquanto a realidade se defasa
Apenas a ilusão expressa a mina
E nela toda a fonte que domina
Nascente feita em fúria medo e brasa
O porte mais agudo quando embasa
A vida noutra face se extermina,
Resolvo com mentiras os problemas
E quando na verdade ainda temas
Os dias que virão após o fim
Eu bebo cada gota que espalhaste
E sinto quanto enorme tal desgaste
Gerado pelo medo ainda em mim.
33682
Não deixa nem sequer achar o rumo
Quem tenta com terríveis heresias
Vencer estas cruéis hipocrisias
E nelas com certeza o todo assumo,
Vestido pelo medo não me aprumo
E quando novas noites tu trarias
E nelas outras sendas, fantasias
Além deste fantasma eu me acostumo
A crer no incomparável privilégio
De um mundo mesmo quando atroz ou régio
Tocado pelas ânsias mais fugazes,
Resisto plenamente enquanto posso
E tanto quanto fora teu e nosso
Os dias morrem longe destas fases.
33683
Perfumando tua alma cristalina
A face desmembrada do futuro
E nela novamente me procuro
Enquanto este retrato já domina
A cena aonde tudo se extermina
Até o mesmo chão vazio ou duro
E tudo noutro tanto me amarguro
Deixando para trás sonhos e sina
Fazer outro soneto simplesmente
Enquanto a realidade não ausente
E o mundo ainda possa ter um verso
Cadenciando a vida busco um par
E sei que na verdade vai chegar
Rolando sem sentido no universo.
33684
Retendo dos prazeres todo o sumo
Percebo quanto fútil fora a vida
E sei da mesma história repetida
E nela com ternura tudo assumo,
Jorrando dentro em mim, diverso fumo,
E o peso de sonhar ainda acida
E quando se pensara decidida
A dita se aprumando em novo rumo,
Refaço após pensar na calmaria
Ao menos minha morte assim se adia,
Urdindo algum momento em luz e paz
Ousando novamente tento um passo
E quando me percebo e me desgraço
Final já se esboçando e tanto faz...
33685
Amar demais passou a ser a meta
De quem se pensaria mais constante
A sorte muitas vezes fascinante
Enquanto a poesia não completa
A cena aonde outrora foi dileta
Agora nova escusa radiante
Moldando do cristal um diamante
Assim uma alma mostra-se poeta
Gerar doutro vazio eternidade
Rondando sem destino na cidade
Em bares e diversos sonhos ligo
O tempo ao que fora mais presente
E quando noutro tanto não freqüente
Sozinho sigo em paz, sempre comigo.
33686
Que traz o meu caminho mais florido
A sorte de saber aonde ausência
Pudesse novamente em florescência
Transcendendo ao que penso ora perdido,
Cortando a minha pele não duvido
Do quando ainda existe em rara essência
E nela não pudera com decência
Fazer outro momento ser sentido,
Legando ao que virá meu pensamento
E sei quanto é capaz o sentimento
E nele se prepara a morte em vida
Podando cada passo rumo ao nada,
A vaga sensação desesperada
Não deixa em labirintos a saída.
33687
Por isso em minha voz, canta o poeta
Enquanto adormecidas ilusões
E nelas mortos sempre os meus verões
Palavra com palavra se repleta,
O vento na janela, a velha meta
O tanto quanto posso e nada pões
De teu no caminhar entre as versões
Aonde toda a farsa me completa.
O pântano se erguendo em movediço
Caminho aonde tanto quero e viço
O risco de sonhar além ou tanto,
Peçonhas diluídas entre os medos
E assim ao perceber velhos segredos
Ainda sem descanso penso e canto.
33688
Sem amor nada faz sequer sentido
Ainda se fizesse não mais quero
E tento ser deveras mais sincero
Embora tenho tanto já mentido
O vento se espalhando é percebido
No quadro aonde mostro o riso fero
E assim sem ter caminho desespero
E bebo cada gota enquanto lido.
Relido caminhar entre fagulhas
E nelas outras vezes já mergulhas
Arcando com meus ermos e sem nexo
A vida não pudesse ser assim
O fardo se aproxima e mostra o fim
E nele cada dia desconexo.
33689
Amores percorrendo os universos
Aonde fiz a cama e não podia
Saber da madrugada atroz e fria
Gerada pela ausência de outros versos,
Medonha face vejo e me retrato
No especular caminho em dissonância
Ainda não pudera em discrepância
Trazer com dor e medo o mesmo fato
Prenunciando o fim da brincadeira
A boca escancarada escarra em mim,
E o corpo apodrecido no jardim
Deitando sobre a sorte, jardineira,
O verso sem sentido ou quase opaco
E o tempo dissonante; aonde estaco.
33690
Vibrando nos desejos dos meus versos
Os ventos em completa discordância
Aonde poderia em elegância
Sorver sentidos tantos e diversos
Não posso com palavras traduzir
O quanto sinto ou mesmo sentiria
Ainda quando a sorte é tão vazia
Ausente dos meus olhos o porvir
Escuto a voz do vento me clamando
E beijo ausente luz de quem não sabe
Bem antes que este todo já desabe
O tempo noutro mundo mais nefando,
Revejo cada farsa e em nada creio
Apenas coletando o meu receio.
33691
Nos braços mais gostosos deste mundo
Deitando quando posso e não pudera
Sabendo deste outono a primavera
E quanto no vazio me aprofundo
Vestindo o coração que é vagabundo
Da sorte quando a mesma destempera
E ainda navegando não se espera
Sequer outro momento e não me inundo
Do gozo mais perfeito ou mais atroz
Não posso nem deveras ter a voz
De quem se fez em luto e agora tenta
Vestir a fantasia de palhaço
O tempo quando ainda em vão eu grasso
Transforma quaisquer sonhos em tormenta.
33692
Pois sempre desejei estar aqui
Ainda que pudesse acreditar
Nas tantas heresias do luar
E nelas com ternura me perdi,
Vestindo cada sonho travesti
O mundo em dores fartas e a buscar
Aonde se pudesse algum altar
E nele com terror eu me prendi
Resisto o quanto posso, mas bem sei
Do tanto sem destino e me entranhei
Nas mãos incontroláveis da ilusão
Sorvendo cada gota no verão
E o peso cambaleia, mas se erguendo
Depois do temporal soçobra o barco
E quando no vazio ainda embarco
A morte já seria um dividendo.
33693
Não posso nem quero
Saber do final
Aonde esta nau
Num vento mais fero
Embora sincero
Naufrague em banal
Caminho venal
Ou mesmo se austero,
Resolvo o problema
E novo se tema
Aonde sem leme
O barco naufraga
Adentrando a vaga
Porquanto se algeme.
33694
Assisto ao penhasco
E beijo a tormenta
E quando não venta
Ainda sem asco
Pudesse o carrasco
Vencendo apascenta
Gerando onde alenta
Veneno em vão frasco,
Riscando do mapa
A corte me encapa
E beija este espaço
Aonde não pude
Final juventude
Assim me desfaço.
33695
Opacos noturnos
Em brumas e frio
O tanto vadio
Os passos soturnos
A vida em tais turnos
Ousando ao vazio
E perco e desfio
Aonde em diurnos
Momentos pudera
Saber da pantera
Ou quando não possa
Falar da promessa
Aonde tropeça
Gerando outra fossa.
33696
O beijo à vontade
O corte na face
A louca que grasse
Ou mesmo me invade
O jeito se agrade
E nele este impasse
Ainda que trace
A felicidade
Diz faca e promessa
O quanto se apressa
Ou mesmo não diga
O vento se espalha
A fome a batalha
Também desabriga
33697
Tocando de leve
O medo ou a vela
O tempo se atrela
E gera esta neve
E quando se atreve
Verdade revela
E nisto se sela
A cela mais breve
Revisto o passado
Aonde o traçado
Não pude seguir
Futuro sem sombra
A morte que assombra
Serve de elixir.
33698
Vital podridão
Acordo e revejo
O tanto prevejo
E mesmo senão
O corte do vão
Além deste ensejo
O mundo azulejo
Ou quedo no chão
Prenúncio de morte
Renúncia da sorte
E tanto pudera
Saber da fagulha
Aonde mergulha
Acordo esta fera.
33699
Jogado sem risco
O pântano em mim,
O vento onde vim
Porquanto se arisco
O quanto me arrisco
Ou mesmo se assim
Pudesse em carmim
O tempo o corisco
O jeito de rir
O medo de vir
Acordo negado,
Rondando esta intriga
Aonde prossiga
Sem medo ou pecado.
33700
Assisto ao programa
Da morte em sinal
Mesmo virtual
No tanto que clama
Acende esta chama
Afogo o final
Ascendo ao degrau
Invento outro drama
E tento ou disfarço
Enquanto se esparso
Não posso ou pudesse
Assim se moldando
O quanto é nefando
A morte oferece.
33601 até 33650
33601
Refém do passado
O corte profundo
Rondando no mundo
Vestindo o legado
Caminho negado
Aonde me inundo
Do tão vagabundo
Seguindo o riscado
Arrisco ou arisco,
Mas nunca petisco
Nem mesmo concedo
O quarto se escuro
Aonde perduro
Mantendo o segredo.
33602
Levando no peito
A faca o punhal
Amor ritual
Jamais satisfeito
E quando me deito
Arcando degrau
A cena fatal
Sem ter o conceito
Do fardo ou do fato
Aonde contrato
Medonha figura
O beijo ou o escarro
Se nele eu me esbarro
Ternura tortura.
33603
Vencido por tanto
Ou mesmo por nada
A corda traçada
A faca ou o encanto
E quando me espanto
Alçando esta escada
Rolando da estrada
Cevando algum pranto,
Mortalhas que teço
Enquanto obedeço
À farpa ou ao vinho,
Ainda mergulho
No resto ou entulho
Que em mim adivinho.
33604
Dos deuses diversos
Dos velhos missais
Caminhos iguais
Mercados dispersos,
Assim uno versos
Em tons desiguais
Velhos rituais
Carinhos perversos,
Assídua promessa
A porta se empresta
E quando uma fresta
Nela recomeça
Em hóstias sacrários
Velhos temerários.
33605
Pudesse bramir
Ondeias e matas
Arcando cascatas
E nelas por vir
O quanto sentir
As horas sensatas
E quando arrematas
Também a pedir
Ou mesmo no assalto
A cada ressalto
O tombo se dá,
Nevando por dentro
A força eu concentro,
Pois me alentará.
33606
Alegas perdão
Aonde vendias
E tantas vadias
Mortalhas de então,
A vida se não
Houvesse outros dias
Ao fim me trarias
Fatal solução,
A bala e o penhasco,
O olhar do carrasco
O frasco quebrado,
Venenos espalha
Assim se batalha
Cotando o pecado.
33607
Recados ouvidos
Medonhas fumaças
E quando trapaças
Ainda sentidos
Os dias perdidos
E neles tu traças
Audazes e escassas
Fagulhas, libidos.
Da negociata
O quanto se paga
Do prego e da chaga
Da mão que maltrata
Torturas à parte,
A corja reparte.
33608
Jazigo cevado
Nas ânsias do não
E assim no perdão
Ou mesmo o pecado
Imenso mercado
E nele verão
Os corpos de então
No morto o legado
Deixado pra trás
Assim Satanás
Vestido em pastor
O gado o curral,
Velho ritual
Longínquo do amor.
33609
Pereço no quanto
Vendido na esquina
Se ainda alucina
E gera o quebranto
E às vezes me espanto
Bebendo da mina
Aonde domina
A fúria do pranto,
Rendendo milhões
Senzalas prisões
E algemas diversas
Quebrando correntes
As mãos destes crentes
Nas ânsias imersas.
33610
Jorrando dinheiro
A velha figura
O quanto assegura
Real carpinteiro
Do amor verdadeiro
Que é plena ternura
Aonde procura
Vejo o interesseiro
Roubando o rebanho
Assim neste ganho
A cruz num leilão
E quanto me interno
Na porta do inferno
Gentil previsão.
33611
Seguindo o meu passo
Rumo ao que pudera
Vencer esta fera
Que ainda desgraço
No vento que traço
Ou mesmo na espera
A sorte venera
O velho palhaço
Riscando do mapa
O quanto se encapa
Na farpa e no riso,
Assim ao me ver
No fardo querer
Meu verso é preciso.
33612
Aqui me deserto
E bebo do nada
A sorte lançada
Estando desperto
O peito se aberto
A chaga tramada
No corte da enxada
E quando me alerto
Espreitas e caças
Ainda se caças
Os restos de mim,
Mercante falácia
O peso da audácia
O canto sem fim.
33613
A mão que labuta
O grão sobre a terra
A sorte descerra
Enquanto reluta
Da velha permuta
O quanto se cerra
A paz diz da guerra
Fornalha tão bruta
E assim me renego
E seguindo cego
Restando pedaços
E neles escória
Traduz a vitória
Inúteis tais passos.
33614
A sorte que é vária
A morte nas mãos
Os olhos cristãos
A paz necessária
Minha alma corsária
Adentrando vãos
Escuta dos nãos
A força contrária
Pudesse ter visto
Além do previsto
Conquistas e siso,
Mas nada se deu
E o quanto que é meu
Um passo impreciso.
33615
Legar ao futuro
Herança maldita
Enquanto acredita
No passo no escuro,
O fardo perduro
E nada se evita
A morte descrita
E assim amarguro
O dia vindouro
Ausente tesouro
Estouro em boiada,
O pântano em mim,
Cevado jardim
Traduz sempre o nada.
33616
Loquaz esperança
Vingança em seara
A porta escancara
Mas nada se alcança
Vital temperança
O vento prepara
A fonte tão rara
E nela se avança
Mortalhas em riste
No quanto não viste
Invisto meu passo,
E sei desta ausência
Sutil inclemência
Refaz o cansaço.
33617
Mesquinho caminho
Em meio aos vazios
Os dias sombrios
Olhar mais sozinho
E quando do vinho
Bebera em estios
Rompendo estes fios
Ausente carinho,
A chama se apaga
Apraz-me tal chaga
E vago sem rumo
Enquanto pudera
Viver primavera
Eu mesmo me esfumo.
33618
Janelas abertas
Palavras ao vento
E tanto me atento
Enquanto desertas
Assim das incertas
Fatal sofrimento
E sem um alento
Arrancas cobertas
E beijas o nada
Na rua e calçada
Um bêbado passa
E o vento balança
Refém da mudança
Gerando a fumaça.
33619
Coragem não tenho
Nem posso ou pudera
Assim cada espera
E nela me empenho,
Cruel desempenho
Da vida tão fera
E não degenera
Nem mesmo convenho,
Risível fardão
Ourives do não
Espúria conversa
A vida não trama
Além deste drama
E nele dispersa.
33620
A voz do não ser
O medo em pedaços
Os dias os braços
A fonte a perder
O quanto sem crer
Nos antros e laços
Os olhos mais baços
Pudessem rever
O todo se dando
No quanto ou no quando
Vestindo este roto
Desejo marcado
No rosto velado
Um riso maroto.
33621
Jazendo no vão
Do quanto se quer
O gozo qualquer
O medo o senão
Esperas virão
E nelas mulher
Sem riso sequer
Ausência em verão
O peso da vida
A sorte fingida
A morte selada,
Assim pós o fardo
Apenas o cardo
Depois, resta o nada.
33622
Vivendo esta saudade que me ronda
E tento desvendar realidades
E quando com ternura tu me invades
A vida noutra vida adentra e sonda,
O mundo se refaz e como uma onda
Voltando às velhas luas e cidades,
Trazendo antigas rotas, claridades
Nas quais a alma fugindo já se esconda
Tentando discernir diversas luzes
E nelas novamente reproduzes
Olhares e canções, doces delírios...
E quando se percebe em treva e dor,
O todo noutro tanto a decompor
Resulta no vazio e nos martírios...
33623
Cavar minha sorte
Na fonte que esgota
Embora remota
Ainda conforte
E tanto se forte
Ou quanto já trota
O sonho uma frota
Sem rumo sem norte
Verdade tecida
Nas ânsias da vida
No fundo do poço
E quando começo
Avesso endereço
Voltando a ser moço.
33624
Negando o que tento
No ponto em partida
A sorte outra vida
Bebendo do vento
Seguindo este alento
A voz pressentida
A morte sortida
Na bala ou no intento
Realço o meu verso
No passo sem nexo
Visível reflexo
E nele se imerso
Peçonha se brinda
Na dor mera e finda.
33625
Resolvo meus dias
Nas fúrias e fomes
E quando tu somes
As sortes adias
Mansões já vazias
E nelas consomes
Os ritos e os nomes
Por onde seguias
Resulto do nada
E volto do chão
Do vinho e do pão
Da morte em caçada
Do corte o punhal
Cenário ideal.
33626
Jogadas escassas
Esparsas vontades
Vitais qualidades
Aonde esfumaças
Ainda sem caças
Mortais claridades
Em velhas cidades
Caminhos e praças
Realço o que penso
E tanto se imenso
Pudesse ser vão
Assino meu rumo
E quando o consumo
Perdendo a razão.
33627
Livrando o caminho
Restando o meu tanto
E quando me encanto
Prefiro sozinho
Vencer o carinho
De quem desencanto
E morto sem canto
Alpendre avizinho
E nego o legado
E beijo o passado
Refém do que eu fora
A voz sofredora
No peito a senzala
O medo não diz
A sorte esta atriz
Também já se cala.
33628
Jogando meu mundo
No fardo medonho
No quadro que sonho
Enquanto me inundo
Do pouso um segundo
Caminho reponho
E tanto bisonho
Qual vil vagabundo.
Mereço esta sorte
Da faca do corte
E tento outra sina,
Mas sendo diversa
Da sorte a conversa
Também me fascina.
33629
Os olhos no nada
O tempo se aflora
E o quando demora
A sorte vedada
No passo de agora
A porta cerrada
A morte tramada
No peito se ancora
E o gesto desmente
O que se premente
Não fora fugaz
O vento me açoda
A vida sem poda
O nada se faz.
33630
O quanto em capacho
Revolta quem sagre
O medo o milagre
Aonde me empacho
E bebo se eu acho
E ainda avinagre
Enquanto consagre
Da vida este facho,
Acosso em palavras
As mais várias lavras
E lavo meus olhos
Na fonte, horizonte
E nisto se apronte
No chão, tais abrolhos.
33631
Ainda ao olhares
Além do horizonte
No quanto se aponte
Diversos lugares
Por onde tocares
Renasce esta fonte
A tudo se apronte
Em tantos luares
Resisto porquanto
No medo no espanto
Amor faz das suas
E mesmo distante
Real, delirante
Nos sonhos flutuas.
33632
Percebo no verso
O peso da mão
E quando sem não
Ainda disperso
O vago universo
Sem ter direção
No quanto em senão
O muito converso
E tento outra sina
A morte é ladina
E o corte profana
A força se alheia
A morte incendeia
E tanto me engana.
33633
Ser frágil ser forte
E ter no começo
Ainda o adereço
E nele o suporte
Porquanto comporte
O medo e o tropeço
Além se mereço
O tanto que aborte
Meu sonho feliz
O quanto não quis
E sendo sutil
A morte se vê
Sem tanto por que,
Suave e gentil.
33634
Ao passo do nada
Ocasos em mim
O peso se enfim
A sorte envergada
A morte tramada
Começo do fim
Tropeçando assim
Não resta alvorada
E deixo esta história
Aquém da memória
No fundo da fossa
Enquanto a saudade
Ainda degrade
A morte remoça.
33635
Ouvindo esta voz
Do todo se faz
O parto mordaz
O peso feroz
E nada se algoz
O corte tenaz
O peso me traz
Ausência de foz,
Realço este inferno
E quando em externo
Sutil, levemente
Levando ao passado
O mesmo traçado
Que agora desmente.
33636
Os olhos de fada
O enfado dos dias
Aonde podias
E não dizes nada
A saia rodada
A renda alegrias
Tantas fantasias
A noite fechada
A lua se embota
O quando sem rota
Meu passo sem nexo,
A noite vazia
A porta se abria
Mas nada de sexo.
33637
No fardo que trago
Por ser sonhador
As tramas e a dor
Ainda em afago
O beijo tão mago
O peso a compor
O tempo sem flor
Ausência de lago,
E o leite derrama
Enquanto esta trama
Jamais se completa
Quem dera liberto,
Mas quando desperto
A vida deleta.
33638
Chegar ao final
Por onde viera
Bebendo esta fera
E nela outro astral
O passo irreal
O jeito de espera
O corte tempera
A sorte com sal,
E o vento se espalha
Levando esta palha
Que ainda resido,
E tanto pudesse
Viver outra messe
Diverso sentido.
33639
Jogado na rua
Cigarro apagado
Assim meu legado
Jamais continua
Enquanto flutua
O beijo negado
O corpo tocado
Por diversa lua,
O monte outro vale
A vida se cale
E a cela se faça
Assino este ponto
E quanto desconto
Aonde de graça.
33640
Arcar com engano
Beber do vazio
E tento outro rio
Melhor ou profano
Assim cada dano
Diverso do fio
Aonde o pavio
Vital soberano
Resinas em sonho
O parto reponho
Atrás do não ser,
E quando amanheço
Medonho adereço
Ditando o querer.
33641
Cartada final
A vida me dando
E tanto sem quando
Pudesse afinal
Sabendo ou negando
Alçar tal degrau
O quanto sem nau
Assim naufragando
Perdendo o caminho
Vencido e sozinho
Resumo o meu fardo
No tempo que busco
Ainda se brusco
O passo eu retardo.
33642
Vencido sem nexo
Ainda me entrego
E sigo ou navego
Buscando o reflexo
Mas sinto perplexo
Meu rumo mais cego
E tanto carrego
Ainda o complexo
Qual fora este trauma
E nada me acalma
Tampouco podia
Viver o que eu quero
Se o mundo que é fero
Traduz agonia.
33643
Esqueço meu passo
No fundo do nada
E quando alcançada
A dita refaço
No gole ou no traço
Velha madrugada
Aonde a guinada
Ainda não grasso,
E tendo incerteza
Pudesse presteza
Ou outro desejo,
Mas quando desnudo
O tempo miúdo
É tudo o que vejo.
33644
Jogado no canto
Na sala no quarto
Por onde me aparto
E busco outro tanto
Aonde me encanto
Ou quanto reparto
A vida outro parto
O beijo outro espanto,
Medonho formato
Por onde desato
Meus nós e persigo
O tempo perdido
O gozo sentido
A falta de amigo.
33645
Levando meu mundo
No tempo que exata
A fonte arrebata
O todo em segundo
Real vagabundo
A morte em cascata
O peso reata
O quando me inundo,
E bebo a aguardente
Na qual já se sente
Viagens e espaços,
Beijando o infinito
Se ainda não grito
Os dias são lassos.
33646
O jeito sem dono
O peso do quando
O tempo remando
Viver abandono
Estando sem sono
Ou mesmo abortando
O porto negando
Meu rumo não clono
E tento outra sorte
Aonde comporte
O quanto seria
Quem sou se não fosse
A vida agridoce
Fatal fantasia.
33647
Jogado no canto
No prato e na mesa
A mesma certeza
O velho quebranto
E quando este manto
Tocado em surpresa
Realça a beleza
Ou mais inda espanto
Vestígios de mim
No fundo, no fim,
O peso da vida,
Resgate do fado
Ainda negado
O quanto duvida.
33648
Servir de alimária
Serviço completo
O tanto repleto
Na voz necessária
A senda corsária
O vaso deleto
Prato predileto
Da alma adversária
E gesto após gesto
Se ainda não presto
Empresto-me ao vago
E quando pereço
Além do adereço
Arranho-te e estrago.
33649
Jorrando na veia
Meu sangue feroz
A pútrida voz
Que tanto incendeia
A lua se é cheia
O canto do algoz
O medo da foz
E a fonte recreia
Mortalhas e medos
Aonde os segredos
Escondem seus fins,
Espero na espreita
A vida se deita
Em falsos jardins.
33650
O cheiro do mato
O pranto na face
Porquanto não trace
Aonde retrato
O mundo de fato
Ou mesmo um impasse
No quando se grasse
Eu tanto maltrato
A voz não se cala
O peso da bala
A mão preparando
Cortando navalha
A sorte se espalha
Dos lutos um bando.
Refém do passado
O corte profundo
Rondando no mundo
Vestindo o legado
Caminho negado
Aonde me inundo
Do tão vagabundo
Seguindo o riscado
Arrisco ou arisco,
Mas nunca petisco
Nem mesmo concedo
O quarto se escuro
Aonde perduro
Mantendo o segredo.
33602
Levando no peito
A faca o punhal
Amor ritual
Jamais satisfeito
E quando me deito
Arcando degrau
A cena fatal
Sem ter o conceito
Do fardo ou do fato
Aonde contrato
Medonha figura
O beijo ou o escarro
Se nele eu me esbarro
Ternura tortura.
33603
Vencido por tanto
Ou mesmo por nada
A corda traçada
A faca ou o encanto
E quando me espanto
Alçando esta escada
Rolando da estrada
Cevando algum pranto,
Mortalhas que teço
Enquanto obedeço
À farpa ou ao vinho,
Ainda mergulho
No resto ou entulho
Que em mim adivinho.
33604
Dos deuses diversos
Dos velhos missais
Caminhos iguais
Mercados dispersos,
Assim uno versos
Em tons desiguais
Velhos rituais
Carinhos perversos,
Assídua promessa
A porta se empresta
E quando uma fresta
Nela recomeça
Em hóstias sacrários
Velhos temerários.
33605
Pudesse bramir
Ondeias e matas
Arcando cascatas
E nelas por vir
O quanto sentir
As horas sensatas
E quando arrematas
Também a pedir
Ou mesmo no assalto
A cada ressalto
O tombo se dá,
Nevando por dentro
A força eu concentro,
Pois me alentará.
33606
Alegas perdão
Aonde vendias
E tantas vadias
Mortalhas de então,
A vida se não
Houvesse outros dias
Ao fim me trarias
Fatal solução,
A bala e o penhasco,
O olhar do carrasco
O frasco quebrado,
Venenos espalha
Assim se batalha
Cotando o pecado.
33607
Recados ouvidos
Medonhas fumaças
E quando trapaças
Ainda sentidos
Os dias perdidos
E neles tu traças
Audazes e escassas
Fagulhas, libidos.
Da negociata
O quanto se paga
Do prego e da chaga
Da mão que maltrata
Torturas à parte,
A corja reparte.
33608
Jazigo cevado
Nas ânsias do não
E assim no perdão
Ou mesmo o pecado
Imenso mercado
E nele verão
Os corpos de então
No morto o legado
Deixado pra trás
Assim Satanás
Vestido em pastor
O gado o curral,
Velho ritual
Longínquo do amor.
33609
Pereço no quanto
Vendido na esquina
Se ainda alucina
E gera o quebranto
E às vezes me espanto
Bebendo da mina
Aonde domina
A fúria do pranto,
Rendendo milhões
Senzalas prisões
E algemas diversas
Quebrando correntes
As mãos destes crentes
Nas ânsias imersas.
33610
Jorrando dinheiro
A velha figura
O quanto assegura
Real carpinteiro
Do amor verdadeiro
Que é plena ternura
Aonde procura
Vejo o interesseiro
Roubando o rebanho
Assim neste ganho
A cruz num leilão
E quanto me interno
Na porta do inferno
Gentil previsão.
33611
Seguindo o meu passo
Rumo ao que pudera
Vencer esta fera
Que ainda desgraço
No vento que traço
Ou mesmo na espera
A sorte venera
O velho palhaço
Riscando do mapa
O quanto se encapa
Na farpa e no riso,
Assim ao me ver
No fardo querer
Meu verso é preciso.
33612
Aqui me deserto
E bebo do nada
A sorte lançada
Estando desperto
O peito se aberto
A chaga tramada
No corte da enxada
E quando me alerto
Espreitas e caças
Ainda se caças
Os restos de mim,
Mercante falácia
O peso da audácia
O canto sem fim.
33613
A mão que labuta
O grão sobre a terra
A sorte descerra
Enquanto reluta
Da velha permuta
O quanto se cerra
A paz diz da guerra
Fornalha tão bruta
E assim me renego
E seguindo cego
Restando pedaços
E neles escória
Traduz a vitória
Inúteis tais passos.
33614
A sorte que é vária
A morte nas mãos
Os olhos cristãos
A paz necessária
Minha alma corsária
Adentrando vãos
Escuta dos nãos
A força contrária
Pudesse ter visto
Além do previsto
Conquistas e siso,
Mas nada se deu
E o quanto que é meu
Um passo impreciso.
33615
Legar ao futuro
Herança maldita
Enquanto acredita
No passo no escuro,
O fardo perduro
E nada se evita
A morte descrita
E assim amarguro
O dia vindouro
Ausente tesouro
Estouro em boiada,
O pântano em mim,
Cevado jardim
Traduz sempre o nada.
33616
Loquaz esperança
Vingança em seara
A porta escancara
Mas nada se alcança
Vital temperança
O vento prepara
A fonte tão rara
E nela se avança
Mortalhas em riste
No quanto não viste
Invisto meu passo,
E sei desta ausência
Sutil inclemência
Refaz o cansaço.
33617
Mesquinho caminho
Em meio aos vazios
Os dias sombrios
Olhar mais sozinho
E quando do vinho
Bebera em estios
Rompendo estes fios
Ausente carinho,
A chama se apaga
Apraz-me tal chaga
E vago sem rumo
Enquanto pudera
Viver primavera
Eu mesmo me esfumo.
33618
Janelas abertas
Palavras ao vento
E tanto me atento
Enquanto desertas
Assim das incertas
Fatal sofrimento
E sem um alento
Arrancas cobertas
E beijas o nada
Na rua e calçada
Um bêbado passa
E o vento balança
Refém da mudança
Gerando a fumaça.
33619
Coragem não tenho
Nem posso ou pudera
Assim cada espera
E nela me empenho,
Cruel desempenho
Da vida tão fera
E não degenera
Nem mesmo convenho,
Risível fardão
Ourives do não
Espúria conversa
A vida não trama
Além deste drama
E nele dispersa.
33620
A voz do não ser
O medo em pedaços
Os dias os braços
A fonte a perder
O quanto sem crer
Nos antros e laços
Os olhos mais baços
Pudessem rever
O todo se dando
No quanto ou no quando
Vestindo este roto
Desejo marcado
No rosto velado
Um riso maroto.
33621
Jazendo no vão
Do quanto se quer
O gozo qualquer
O medo o senão
Esperas virão
E nelas mulher
Sem riso sequer
Ausência em verão
O peso da vida
A sorte fingida
A morte selada,
Assim pós o fardo
Apenas o cardo
Depois, resta o nada.
33622
Vivendo esta saudade que me ronda
E tento desvendar realidades
E quando com ternura tu me invades
A vida noutra vida adentra e sonda,
O mundo se refaz e como uma onda
Voltando às velhas luas e cidades,
Trazendo antigas rotas, claridades
Nas quais a alma fugindo já se esconda
Tentando discernir diversas luzes
E nelas novamente reproduzes
Olhares e canções, doces delírios...
E quando se percebe em treva e dor,
O todo noutro tanto a decompor
Resulta no vazio e nos martírios...
33623
Cavar minha sorte
Na fonte que esgota
Embora remota
Ainda conforte
E tanto se forte
Ou quanto já trota
O sonho uma frota
Sem rumo sem norte
Verdade tecida
Nas ânsias da vida
No fundo do poço
E quando começo
Avesso endereço
Voltando a ser moço.
33624
Negando o que tento
No ponto em partida
A sorte outra vida
Bebendo do vento
Seguindo este alento
A voz pressentida
A morte sortida
Na bala ou no intento
Realço o meu verso
No passo sem nexo
Visível reflexo
E nele se imerso
Peçonha se brinda
Na dor mera e finda.
33625
Resolvo meus dias
Nas fúrias e fomes
E quando tu somes
As sortes adias
Mansões já vazias
E nelas consomes
Os ritos e os nomes
Por onde seguias
Resulto do nada
E volto do chão
Do vinho e do pão
Da morte em caçada
Do corte o punhal
Cenário ideal.
33626
Jogadas escassas
Esparsas vontades
Vitais qualidades
Aonde esfumaças
Ainda sem caças
Mortais claridades
Em velhas cidades
Caminhos e praças
Realço o que penso
E tanto se imenso
Pudesse ser vão
Assino meu rumo
E quando o consumo
Perdendo a razão.
33627
Livrando o caminho
Restando o meu tanto
E quando me encanto
Prefiro sozinho
Vencer o carinho
De quem desencanto
E morto sem canto
Alpendre avizinho
E nego o legado
E beijo o passado
Refém do que eu fora
A voz sofredora
No peito a senzala
O medo não diz
A sorte esta atriz
Também já se cala.
33628
Jogando meu mundo
No fardo medonho
No quadro que sonho
Enquanto me inundo
Do pouso um segundo
Caminho reponho
E tanto bisonho
Qual vil vagabundo.
Mereço esta sorte
Da faca do corte
E tento outra sina,
Mas sendo diversa
Da sorte a conversa
Também me fascina.
33629
Os olhos no nada
O tempo se aflora
E o quando demora
A sorte vedada
No passo de agora
A porta cerrada
A morte tramada
No peito se ancora
E o gesto desmente
O que se premente
Não fora fugaz
O vento me açoda
A vida sem poda
O nada se faz.
33630
O quanto em capacho
Revolta quem sagre
O medo o milagre
Aonde me empacho
E bebo se eu acho
E ainda avinagre
Enquanto consagre
Da vida este facho,
Acosso em palavras
As mais várias lavras
E lavo meus olhos
Na fonte, horizonte
E nisto se apronte
No chão, tais abrolhos.
33631
Ainda ao olhares
Além do horizonte
No quanto se aponte
Diversos lugares
Por onde tocares
Renasce esta fonte
A tudo se apronte
Em tantos luares
Resisto porquanto
No medo no espanto
Amor faz das suas
E mesmo distante
Real, delirante
Nos sonhos flutuas.
33632
Percebo no verso
O peso da mão
E quando sem não
Ainda disperso
O vago universo
Sem ter direção
No quanto em senão
O muito converso
E tento outra sina
A morte é ladina
E o corte profana
A força se alheia
A morte incendeia
E tanto me engana.
33633
Ser frágil ser forte
E ter no começo
Ainda o adereço
E nele o suporte
Porquanto comporte
O medo e o tropeço
Além se mereço
O tanto que aborte
Meu sonho feliz
O quanto não quis
E sendo sutil
A morte se vê
Sem tanto por que,
Suave e gentil.
33634
Ao passo do nada
Ocasos em mim
O peso se enfim
A sorte envergada
A morte tramada
Começo do fim
Tropeçando assim
Não resta alvorada
E deixo esta história
Aquém da memória
No fundo da fossa
Enquanto a saudade
Ainda degrade
A morte remoça.
33635
Ouvindo esta voz
Do todo se faz
O parto mordaz
O peso feroz
E nada se algoz
O corte tenaz
O peso me traz
Ausência de foz,
Realço este inferno
E quando em externo
Sutil, levemente
Levando ao passado
O mesmo traçado
Que agora desmente.
33636
Os olhos de fada
O enfado dos dias
Aonde podias
E não dizes nada
A saia rodada
A renda alegrias
Tantas fantasias
A noite fechada
A lua se embota
O quando sem rota
Meu passo sem nexo,
A noite vazia
A porta se abria
Mas nada de sexo.
33637
No fardo que trago
Por ser sonhador
As tramas e a dor
Ainda em afago
O beijo tão mago
O peso a compor
O tempo sem flor
Ausência de lago,
E o leite derrama
Enquanto esta trama
Jamais se completa
Quem dera liberto,
Mas quando desperto
A vida deleta.
33638
Chegar ao final
Por onde viera
Bebendo esta fera
E nela outro astral
O passo irreal
O jeito de espera
O corte tempera
A sorte com sal,
E o vento se espalha
Levando esta palha
Que ainda resido,
E tanto pudesse
Viver outra messe
Diverso sentido.
33639
Jogado na rua
Cigarro apagado
Assim meu legado
Jamais continua
Enquanto flutua
O beijo negado
O corpo tocado
Por diversa lua,
O monte outro vale
A vida se cale
E a cela se faça
Assino este ponto
E quanto desconto
Aonde de graça.
33640
Arcar com engano
Beber do vazio
E tento outro rio
Melhor ou profano
Assim cada dano
Diverso do fio
Aonde o pavio
Vital soberano
Resinas em sonho
O parto reponho
Atrás do não ser,
E quando amanheço
Medonho adereço
Ditando o querer.
33641
Cartada final
A vida me dando
E tanto sem quando
Pudesse afinal
Sabendo ou negando
Alçar tal degrau
O quanto sem nau
Assim naufragando
Perdendo o caminho
Vencido e sozinho
Resumo o meu fardo
No tempo que busco
Ainda se brusco
O passo eu retardo.
33642
Vencido sem nexo
Ainda me entrego
E sigo ou navego
Buscando o reflexo
Mas sinto perplexo
Meu rumo mais cego
E tanto carrego
Ainda o complexo
Qual fora este trauma
E nada me acalma
Tampouco podia
Viver o que eu quero
Se o mundo que é fero
Traduz agonia.
33643
Esqueço meu passo
No fundo do nada
E quando alcançada
A dita refaço
No gole ou no traço
Velha madrugada
Aonde a guinada
Ainda não grasso,
E tendo incerteza
Pudesse presteza
Ou outro desejo,
Mas quando desnudo
O tempo miúdo
É tudo o que vejo.
33644
Jogado no canto
Na sala no quarto
Por onde me aparto
E busco outro tanto
Aonde me encanto
Ou quanto reparto
A vida outro parto
O beijo outro espanto,
Medonho formato
Por onde desato
Meus nós e persigo
O tempo perdido
O gozo sentido
A falta de amigo.
33645
Levando meu mundo
No tempo que exata
A fonte arrebata
O todo em segundo
Real vagabundo
A morte em cascata
O peso reata
O quando me inundo,
E bebo a aguardente
Na qual já se sente
Viagens e espaços,
Beijando o infinito
Se ainda não grito
Os dias são lassos.
33646
O jeito sem dono
O peso do quando
O tempo remando
Viver abandono
Estando sem sono
Ou mesmo abortando
O porto negando
Meu rumo não clono
E tento outra sorte
Aonde comporte
O quanto seria
Quem sou se não fosse
A vida agridoce
Fatal fantasia.
33647
Jogado no canto
No prato e na mesa
A mesma certeza
O velho quebranto
E quando este manto
Tocado em surpresa
Realça a beleza
Ou mais inda espanto
Vestígios de mim
No fundo, no fim,
O peso da vida,
Resgate do fado
Ainda negado
O quanto duvida.
33648
Servir de alimária
Serviço completo
O tanto repleto
Na voz necessária
A senda corsária
O vaso deleto
Prato predileto
Da alma adversária
E gesto após gesto
Se ainda não presto
Empresto-me ao vago
E quando pereço
Além do adereço
Arranho-te e estrago.
33649
Jorrando na veia
Meu sangue feroz
A pútrida voz
Que tanto incendeia
A lua se é cheia
O canto do algoz
O medo da foz
E a fonte recreia
Mortalhas e medos
Aonde os segredos
Escondem seus fins,
Espero na espreita
A vida se deita
Em falsos jardins.
33650
O cheiro do mato
O pranto na face
Porquanto não trace
Aonde retrato
O mundo de fato
Ou mesmo um impasse
No quando se grasse
Eu tanto maltrato
A voz não se cala
O peso da bala
A mão preparando
Cortando navalha
A sorte se espalha
Dos lutos um bando.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
33551 até 33600
33551
Na cama que nos trouxe essa alvorada
Relembro em solidão nossos momentos
E vejo dos anseios seus proventos
E a sorte novamente uma guinada
Aonde poderia ser estrada
Apenas se vislumbram os tormentos
E quando deles mesmos desalentos
Ansiosamente a vida dita o nada,
Aprendo a discernir na escuridão
O quando deste tanto fora em vão
E o parto se transforma em mero aborto,
Das perdas costumeiras, já nem ligo,
O peso contrapõe ao desabrigo
Uma esperança feita em frágil porto.
33552
Do amor, vasculharei parte por parte
Até chegar ao frágil desenlace
A sorte não permite algum impasse
Nem mesmo que este rumo se reparte
O fato de sonhar gera outro aparte
Da vida quanto mais em nova face
E ainda que deveras teime e grasse
A morte não passando de um encarte
Do qual se noticia nova festa
E além do quanto possa ou não se empresta
Poeta se faz tolo pra viver
O conteúdo expressa a realidade
E o vento quanto muito ainda invade
Deixando para trás qualquer querer.
33553
Eu amo teu amor com tal fartura
Que até parece mesmo ser verdade
E o fato de tentar enquanto brade
Deixar para depois esta amargura
Não deixa que se veja tal moldura
Aonde se retrate o desagrade
De um tempo feito em luto ou tempestade
E ainda vez em quando se procura,
Restituindo assim alguma luz
Resisto enquanto posso e até me opus
Ao peso de uma vida sem proveito
Emaranhados tantos desvendados
Assim guardando em mim velhos recados
Não quero nem deveras mais te aceito.
33554
Preenchendo minha vida de ternura
Pesando a imensa mão sobre o costado,
O verso noutro tanto enlameado
Mesquinharia agora em fonte pura,
Acordo e na verdade se procura
No telefone algum mote ou recado
E o gesto noutro tanto provocado
Provando desta imensa envergadura
Aonde coube toda esta incerteza
E sendo mais sutil a sobremesa
O perdulário mundo não cogita
Da boca desdenhosa e nem fugaz
Bebendo o que a verdade não me traz
A sorte noutra face molda a dita.
33555
Recebo teu carinho em contraluz
E sei das mentirosas noites vãs
E nelas com as vagas e malsãs
Palavras onde tanto não me opus,
Resido no vazio aonde eu pus
As plagas mais diversas nas manhãs
E risco dos meus trastes velhas cãs
E delas o meu corpo enfado e cruz.
Parábolas diversas dizem tudo
O quanto poderia, mas me iludo
E verso sobre o tanto quanto pude
Não tendo mais ousada esta promessa
O quadro se esvazia e recomeça
Renova-se deveras amiúde.
33556
Seduzido afinal não tenho escolha
E sei do quanto pude resistir,
Mas quando a morte toma este elixir
Porquanto cada passo já recolha
Esbarro no vazio e sei que a rolha
Não deixa esta garrafa se eclodir
E o luto se espalhando sem porvir
Deixando-se antever diversa bolha,
Covardemente adentro em caracol
Deixando para trás a luz do sol
E beijo a treva imensa de onde veio
O mundo mais atroz e até sincero
Assim vivendo além do que mais quero
Não tendo outro caminho nem recreio.
33557
Amor como uma flor que me seduz
Apresentando pragas entre espinhos
E vejo tão comuns os descaminhos
Aos quais por tantas vezes me propus
Sabendo da verdade em contraluz
Restando os dias vagos e sozinhos
Buscara com certeza novos ninhos
E neles o que tanto inda produz
O medo na discórdia e no fascínio
Perdendo qualquer forma de domínio
Ocasos entre cardo e temporal
O jogo se aproxima do não dito
E o peso de viver sendo finito
Agora se aproxima do final.
33558
Deixa-me essa tristeza de ser folha
No outono de uma vida quase vã
E toda a minha dita noutro afã
Mergulha quando mesmo sem escolha
Resume dentro em mim, a fonte e o fim
Nascentes entre fozes, afluência
Queria pelo menos coerência
Mas nada se transforma sem enfim
Mudar a minha face em tez medonha
Porquanto noutro tanto pude crer
O velho desdenhoso parecer
Aonde a minha sina já se enfronha
Capacho desta insânia costumeira
Aonde a minha vida quis bandeira
33559
Esgoto meu caminho em temporais
Resumo no final desde o começo
A farpa se tornando um adereço
E vejo que talvez não possa mais
Vencer a sorte amarga e os vendavais
Jogados pelas ruas, num tropeço
O corte se aprofunda e já mereço
A morte com seus fardos rituais,
Esgarçam-se palavras e mesquinho
Vagando sem saber de outro momento
O beijo se pudesse em vão tormento
O quanto peregrino sou de mim,
No todo se aproxima mesmo o fim
Deixando sem defesas casa e ninho.
33560
Orbito tão calado sobre a flor
Qual fosse um colibri sem direção
E vejo a cada nova exposição
Meu mundo num eterno decompor,
Restando muito pouco a te propor
Entrego sem defesa o coração
E morro num instante em podridão
E nela a cada verso sem me opor
Bisonhamente piso esta carcaça
E quando a vida assim decerto passa
Jogada pelos ermos do não ser
O quanto quis do todo e não existe
O peso me transforma em morte e triste
Esqueço até quem sabe de morrer.
33561
Pudesse cantar
O quanto se quis
Vivendo feliz
Outrora luar
Vibrando a toar
O mesmo aprendiz
Vencendo e se fiz
Não posso negar
A morte se vê
Num velho clichê
Em balas e risos
Assim num mergulho
Agulhas e entulho
Reais pré-juízos.
33562
O verso canoro
O tiro no escuro
O beijo procuro
E nele este foro
Aonde quis soro
E agora perduro
No tempo torturo
Ou tanto me escoro
Resisto ao que possa
Ser mundo e ser fossa
Roçando o segredo
E sendo venal
O tempo fatal
Não mais te concedo.
33563
Lacaio da sorte
No tanto pudesse
Ainda em benesse
Ousando o suporte
Buscando este aporte
Aonde obedece
A sorte confesse
E mude meu norte,
Lavar com teu sangue
O beijo no mangue
O corte profano,
Assim sendo exato
O quanto retrato
Venal desengano.
33564
Acordo sem rima
E tanto pudera
Viver primavera
Aonde se estima
A faca redima
Dos erros da fera
E quanto se espera
No todo se prima
Percebo este engodo
E quando no lodo
Metade tu vês
O conto sem mágoa
A vida deságua
Sem ter nem porquês.
33565
Jogado no canto
Da casa ou da sala
A fonte se cala
Gera desencanto
E beijo este manto
Da sorte vassala
E nada mais fala
Quem bebe este pranto
Risonho ou feroz
Sem ter sequer voz
Algoz do que fomos,
Domando o pecado
Ouvindo o recado
Destroçando gomos.
33566
Apenas lacaio
Do quanto pudesse
A sorte obedece
E tanto me espraio
No quanto este raio
Bebendo da prece
E nela esta messe
Porquanto não traio
O passo se dando
Aonde no brando
Caminho tentara
A porta fechada
A morte sondada
A noite mais clara.
33567
Jogado no canto
Da sala ou do quarto
Caminho reparto
E bebera tanto
O medo eu espanto
Enquanto não parto
E beijo este farto
Momento em encanto
Cadência diversa
A sorte dispersa
Conversas sutis
E geram palavras
Aonde tu lavras
Bem mais do que eu quis.
33568
Pecado e tropeço
O charco num viço
Atroz movediço
Mudando o endereço
Assim reconheço
O corpo mestiço
E nele cobiço
Além do começo,
Vestindo a senzala
Minha alma não fala
Apenas se empolga
E o quanto pudera
Vencer esta fera
Sem medo e sem folga.
33569
Jogada no vento
A frase bendita
O quanto em desdita
Não traz mais alento
E quando não tento
Vencer esta dita
Promessa transita
Ganhando outro alento
Amor merecia
Não mercadoria
Apenas retalho
E quando navego
Se tanto me emprego
Também busco atalho.
33570
Das lapas do sonho
Das pedras do cais
Andara em venais
Caminhos me oponho
E tanto proponho
Viver muito mais
Dos tantos iguais
E sei do medonho
Restando do verso
Algum universo
Imerso no chão,
Aonde a semente
Sem nada apresente
Reaviva o grão.
33571
Antroposofia
Gesta o pensamento
Aonde o sentimento
Além do que se via
Erguendo em sintonia
História tempo e atento
Vital conhecimento
Em completa harmonia
Gerando além do tanto
O quanto quero e posso
O mundo sendo nosso
E nele me adianto
Enquanto me repleto
Assim já tanto posso
Estando em mim completo.
33572
O amor além do amor
O tempo após o todo,
Não resta mais engodo
Nem mesmo a se compor
Além do justapor
Caminho em vento e lodo,
O peso deste modo
Diverso recompor
E tanto posso além
Do quanto me contém
Na etérea realidade,
À parte do que sou
O todo se mostrou
Aonde o tanto invade.
33573
Minha alma completa
No tanto pudera
Além desta espera
Vencendo repleta
Se hoje poeta
Amanhã besta fera
Diversa quimera
Perfeição é meta
O corte aprofunda
A morte me inunda
Da vida em diversa
Embora se tenha
Acesa esta lenha
Já nunca dispersa.
33574
Recebo o que sou
E sinto se nada
O tempo de estada
Jamais se moldou
No quanto restou
Ou mesmo mudada
A forma traçada
Já não se mostrou
Na face real
Ou mesmo fatal
Do corpo somente,
Assim sou refeito
No quando desfeito
Renasço em semente.
33575
Jogado na terra
Acendo o pavio
E beijo este estio
Enquanto se encerra
O ciclo desterra,
Mas logo recrio
E nunca este frio
Bebendo se cerra
Travando comigo
O tempo em abrigo
Anseios dispersos
Assim navegando
O quanto sem quando
Em mundos diversos
33576
Palácio e tapera
Temperos da vida
O quanto perdida
E assim regenera
A boca se espera
E nela a sortida
Imagem dorida
Refaz primavera,
No fardo do tempo
Após contratempo
O medo não trilha
Vencendo o que sou
Já tanto sobrou
Vital maravilha.
33577
Não tendo este aquém
Somente o futuro
E nele perduro
Vivendo este além
E o beijo que tem
Porquanto amarguro
Depois não torturo
Nem mesmo convém
Assim já persisto
E tanto eu insisto
E me purifico,
Cenário sombrio
Depois propicio
Momento mais rico.
33578
Jogado nas tramas
Das lamas e ritos
Aonde finitos
Não podes, reclamas
Revives em chamas
Aonde os aflitos
Momentos e mitos
Ainda não clamas
Mas vês o futuro
E quando no escuro
O brilho refaz,
Assim ao se ver
No eterno fazer
A vida é tenaz.
33579
Além do mortal
Caminho que vês
E tanto em porquês
Não sabes real,
Gerando afinal
O quanto não crês,
Mas há lucidez
Na fonte em cristal
Da qual tu vieste
E quando regresse
Sobeja esta messe
Num solo que agreste
Floresce o jardim
Do eterno que vim.
33580
Risonhos os prados
Aonde não sabes
O quanto não cabes
E nem velhos fados,
Assim os recados
Bem antes que acabes
No tanto desabes
Ou mesmo enfadados
Restara do todo
Sequer sem engodo
Completa visão,
A morte não vivo
E sei sobrevivo
À própria missão.
33581
O Deus que tu me deste agora morto
Não serve para nada nem pudera
Vencer o que talvez desse a quimera
E nela sem saber se existe porto
Tocado pela angústia vou absorto
Aonde esta mortalha me tempera
E deixa que se veja nele a fera
O peso do sonhar; já nem comporto
Riscado deste mapa há quantos anos
Vencido pelos mesmos desenganos
Nos quais gerara apenas ilusões,
Não quero a falsa imagem de um profeta
Ainda mesmo morta ou incompleta
Vendida nas esquinas ou leilões.
33582
Eu quero Satã
Na noite completa
E tanto repleta
A morte amanhã
Visão que malsã
Gerara o poeta
A boca me espeta
Na fome terçã
Cruel passeata
Da fome insensata
Gestando o vazio
E quando desfio
O medo repete
O que me reflete.
33583
Nem santo nem pranto
Apenas a fera
A boca se espera
E bebe este manto
Aonde pus tanto
Momento tempera
O corte se gera
No verso em quebranto,
O banco de sangue
A morte no mangue
O peso da mão
E nada se tenta
Ainda sedenta
Sem ter direção
33584
Bendito demônio
Aonde me esgoto
E quando remoto
Vital pandemônio
Acende este hormônio
E tento e me boto
No fogo em que troto
Risonho campônio
Vestindo a fornalha
Na qual se batalha
E morre com sorte,
A ponte partida
Gerada após vida
Não mais me comporte.
33585
Ainda se existo
Deveras percebo
O quanto concebo
De mim em Mefisto
Ausência Do Cristo
Quem sabe um placebo
E nada que bebo
Pudera eu insisto
Vencer temporais
Gerar anormais
Caminhos diversos,
Satã me abençoe
No quanto revoe
Além os meus versos.
33586
Perdidas promessas
Entregas brumosas
E quando tu gozas
Não vês recomeças
As festas avessas
Os dentes em prosas
Horas prazerosas
Matando sem pressas
As horas medonhas
Aonde reponhas
Os ritos banais
E beba este vinho
No podre caminho
Velhos rituais.
33587
Entorno o café
Por sobre esta mesa
Sigo correnteza
Vomito na fé,
E sinto esta Sé
Cercada e surpresa
E quando se preza
Vivendo a galé
Do fardo capaz
De ter muito audaz
O peso da morte,
Confrades e freis
Fazendo das leis
O que mais conforte.
33588
Pastores e ovelhas
Carneiros sangrados
Em ritos sagrados
Apenas centelhas
Aonde te espelhas
E deixas legados
Comprando pecados
Vendendo tais telhas,
E nada renova
A boca comprova
Faminta quimera
Igrejas Satãs
E tantas manhãs
A morte venera.
33589
Rodízios e tramas
Assisto ao fatal
Caminho venal
Por onde tu clamas
E dízimos chamas
Enchendo o bornal
Satã triunfal
Bebendo das chamas
E nelas pastores
Em tantos clamores
Vendendo esta cruz
Aonde perdura
Sem pena e sem cura
O velho Jesus.
33590
Não sou apoplético
Tampouco seria
Se houver serventia
No verso que herético
Falasse em profético
Sem hipocrisia
Toda eucaristia
Caminho patético
E neste fardão
Medonho senão
Vivendo mordaz
Beijando esta capa
Vestido de papa
Vejo Satanás...
33591
Pecado alimenta
A corja a canalha
E quando a batalha
Se faz violenta
Aonde se alenta
A própria fornalha
O quanto se atalha
Na boca fomenta
Assim nesta missa
A fonte que é omissa
Vestindo algum anjo
Também no pecado
Ao dar meu recado
Poderes esbanjo.
33592
Vendendo o milagre
A porta do inferno
E nela este inverno
Aonde avinagre
A sorte consagre
O poder eterno
Dum fardo que terno
Ainda se sagre
No sangue do Cristo
E se assim persisto
Perfaço um puteiro
E nele me esgoto
Até num remoto
Caminho em luzeiro.
33593
No corpo da puta
No beijo da morte
Ao ver o meu norte
Na imensa labuta
A fome se astuta
Também se comporte
Enquanto conforte
Adentra outra gruta
Resenhas diversas
E nelas conversas
Com deus e diabo,
No porto sem nexo
A morte em complexo
Gerando o nababo.
33594
Lavando com fome
A boca de quem
Viver se convém
E ainda se some
Poder que se dome
No pouco que tem
O peso contém
O quanto se come
Da fúria deste homem
E nele consomem
Igrejas e padres
Assim podre fato
No qual me retrato
Ainda que ladres.
33595
Diversos ladrões
Entoam sinais
E bebem venais
Aonde me expões
E quando em senões
Percebem totais
Ou tão desiguais
Vendendo perdões
Igreja farsante
Aonde o gigante
Derruba Davi,
Assisto à promessa
E quando começa
Também me perdi.
33596
Macabro cenário
E nele me exponho
Assim vejo o sonho
Um mal necessário
O quanto o corsário
Vergonha componho
E tanto reponho
Enchendo este armário
No bêbado passo
Se tanto refaço
O ganho mensal,
Demônios à solta
Uma alma se escolta
Em tal bacanal.
33597
Aonde em altares
Pudessem Jesus
Agora só pus
Vitais lupanares,
E quando tentares
Conforme me opus
Jogados na cruz
Diversos bazares,
Satã se procria
Aonde heresia
Se faz mais freqüente
Usando a palavra
Dinheiro se lavra
E Deus vejo ausente.
33598
No peso complexo
Da morte sem rumo
O quanto consumo
Do medo em reflexo
Risonho sem sexo
Ou mesmo sem prumo,
Bebendo este Sumo,
Vestido sem nexo,
Espelho em Satã
A vida se é vã
Vanglórias diversas
Distinto demônio
Com seu patrimônio
Aonde tu versas.
33599
Jargões conhecidos
E tantos em glória
Rendendo a vitória
Aos apodrecidos
Esqueça as libidos
E mude esta história
Fazendo da escória
Templos discernidos
Em fúria medonha
Além do que sonha
O pobre judeu,
O mundo da graça
Agora esfumaça
E já se perdeu.
33600
Perdoe os safados
Entregues aos ritos
E dizem benditos
Aonde são fados
Os medos marcados
Os olhos aflitos
E neles finitos
Assim dos mercados
Pecados perdões
Totais podridões
Nas mãos dos pastores,
Vendilhões do templo
Ainda contemplo
Incríveis atores.
Na cama que nos trouxe essa alvorada
Relembro em solidão nossos momentos
E vejo dos anseios seus proventos
E a sorte novamente uma guinada
Aonde poderia ser estrada
Apenas se vislumbram os tormentos
E quando deles mesmos desalentos
Ansiosamente a vida dita o nada,
Aprendo a discernir na escuridão
O quando deste tanto fora em vão
E o parto se transforma em mero aborto,
Das perdas costumeiras, já nem ligo,
O peso contrapõe ao desabrigo
Uma esperança feita em frágil porto.
33552
Do amor, vasculharei parte por parte
Até chegar ao frágil desenlace
A sorte não permite algum impasse
Nem mesmo que este rumo se reparte
O fato de sonhar gera outro aparte
Da vida quanto mais em nova face
E ainda que deveras teime e grasse
A morte não passando de um encarte
Do qual se noticia nova festa
E além do quanto possa ou não se empresta
Poeta se faz tolo pra viver
O conteúdo expressa a realidade
E o vento quanto muito ainda invade
Deixando para trás qualquer querer.
33553
Eu amo teu amor com tal fartura
Que até parece mesmo ser verdade
E o fato de tentar enquanto brade
Deixar para depois esta amargura
Não deixa que se veja tal moldura
Aonde se retrate o desagrade
De um tempo feito em luto ou tempestade
E ainda vez em quando se procura,
Restituindo assim alguma luz
Resisto enquanto posso e até me opus
Ao peso de uma vida sem proveito
Emaranhados tantos desvendados
Assim guardando em mim velhos recados
Não quero nem deveras mais te aceito.
33554
Preenchendo minha vida de ternura
Pesando a imensa mão sobre o costado,
O verso noutro tanto enlameado
Mesquinharia agora em fonte pura,
Acordo e na verdade se procura
No telefone algum mote ou recado
E o gesto noutro tanto provocado
Provando desta imensa envergadura
Aonde coube toda esta incerteza
E sendo mais sutil a sobremesa
O perdulário mundo não cogita
Da boca desdenhosa e nem fugaz
Bebendo o que a verdade não me traz
A sorte noutra face molda a dita.
33555
Recebo teu carinho em contraluz
E sei das mentirosas noites vãs
E nelas com as vagas e malsãs
Palavras onde tanto não me opus,
Resido no vazio aonde eu pus
As plagas mais diversas nas manhãs
E risco dos meus trastes velhas cãs
E delas o meu corpo enfado e cruz.
Parábolas diversas dizem tudo
O quanto poderia, mas me iludo
E verso sobre o tanto quanto pude
Não tendo mais ousada esta promessa
O quadro se esvazia e recomeça
Renova-se deveras amiúde.
33556
Seduzido afinal não tenho escolha
E sei do quanto pude resistir,
Mas quando a morte toma este elixir
Porquanto cada passo já recolha
Esbarro no vazio e sei que a rolha
Não deixa esta garrafa se eclodir
E o luto se espalhando sem porvir
Deixando-se antever diversa bolha,
Covardemente adentro em caracol
Deixando para trás a luz do sol
E beijo a treva imensa de onde veio
O mundo mais atroz e até sincero
Assim vivendo além do que mais quero
Não tendo outro caminho nem recreio.
33557
Amor como uma flor que me seduz
Apresentando pragas entre espinhos
E vejo tão comuns os descaminhos
Aos quais por tantas vezes me propus
Sabendo da verdade em contraluz
Restando os dias vagos e sozinhos
Buscara com certeza novos ninhos
E neles o que tanto inda produz
O medo na discórdia e no fascínio
Perdendo qualquer forma de domínio
Ocasos entre cardo e temporal
O jogo se aproxima do não dito
E o peso de viver sendo finito
Agora se aproxima do final.
33558
Deixa-me essa tristeza de ser folha
No outono de uma vida quase vã
E toda a minha dita noutro afã
Mergulha quando mesmo sem escolha
Resume dentro em mim, a fonte e o fim
Nascentes entre fozes, afluência
Queria pelo menos coerência
Mas nada se transforma sem enfim
Mudar a minha face em tez medonha
Porquanto noutro tanto pude crer
O velho desdenhoso parecer
Aonde a minha sina já se enfronha
Capacho desta insânia costumeira
Aonde a minha vida quis bandeira
33559
Esgoto meu caminho em temporais
Resumo no final desde o começo
A farpa se tornando um adereço
E vejo que talvez não possa mais
Vencer a sorte amarga e os vendavais
Jogados pelas ruas, num tropeço
O corte se aprofunda e já mereço
A morte com seus fardos rituais,
Esgarçam-se palavras e mesquinho
Vagando sem saber de outro momento
O beijo se pudesse em vão tormento
O quanto peregrino sou de mim,
No todo se aproxima mesmo o fim
Deixando sem defesas casa e ninho.
33560
Orbito tão calado sobre a flor
Qual fosse um colibri sem direção
E vejo a cada nova exposição
Meu mundo num eterno decompor,
Restando muito pouco a te propor
Entrego sem defesa o coração
E morro num instante em podridão
E nela a cada verso sem me opor
Bisonhamente piso esta carcaça
E quando a vida assim decerto passa
Jogada pelos ermos do não ser
O quanto quis do todo e não existe
O peso me transforma em morte e triste
Esqueço até quem sabe de morrer.
33561
Pudesse cantar
O quanto se quis
Vivendo feliz
Outrora luar
Vibrando a toar
O mesmo aprendiz
Vencendo e se fiz
Não posso negar
A morte se vê
Num velho clichê
Em balas e risos
Assim num mergulho
Agulhas e entulho
Reais pré-juízos.
33562
O verso canoro
O tiro no escuro
O beijo procuro
E nele este foro
Aonde quis soro
E agora perduro
No tempo torturo
Ou tanto me escoro
Resisto ao que possa
Ser mundo e ser fossa
Roçando o segredo
E sendo venal
O tempo fatal
Não mais te concedo.
33563
Lacaio da sorte
No tanto pudesse
Ainda em benesse
Ousando o suporte
Buscando este aporte
Aonde obedece
A sorte confesse
E mude meu norte,
Lavar com teu sangue
O beijo no mangue
O corte profano,
Assim sendo exato
O quanto retrato
Venal desengano.
33564
Acordo sem rima
E tanto pudera
Viver primavera
Aonde se estima
A faca redima
Dos erros da fera
E quanto se espera
No todo se prima
Percebo este engodo
E quando no lodo
Metade tu vês
O conto sem mágoa
A vida deságua
Sem ter nem porquês.
33565
Jogado no canto
Da casa ou da sala
A fonte se cala
Gera desencanto
E beijo este manto
Da sorte vassala
E nada mais fala
Quem bebe este pranto
Risonho ou feroz
Sem ter sequer voz
Algoz do que fomos,
Domando o pecado
Ouvindo o recado
Destroçando gomos.
33566
Apenas lacaio
Do quanto pudesse
A sorte obedece
E tanto me espraio
No quanto este raio
Bebendo da prece
E nela esta messe
Porquanto não traio
O passo se dando
Aonde no brando
Caminho tentara
A porta fechada
A morte sondada
A noite mais clara.
33567
Jogado no canto
Da sala ou do quarto
Caminho reparto
E bebera tanto
O medo eu espanto
Enquanto não parto
E beijo este farto
Momento em encanto
Cadência diversa
A sorte dispersa
Conversas sutis
E geram palavras
Aonde tu lavras
Bem mais do que eu quis.
33568
Pecado e tropeço
O charco num viço
Atroz movediço
Mudando o endereço
Assim reconheço
O corpo mestiço
E nele cobiço
Além do começo,
Vestindo a senzala
Minha alma não fala
Apenas se empolga
E o quanto pudera
Vencer esta fera
Sem medo e sem folga.
33569
Jogada no vento
A frase bendita
O quanto em desdita
Não traz mais alento
E quando não tento
Vencer esta dita
Promessa transita
Ganhando outro alento
Amor merecia
Não mercadoria
Apenas retalho
E quando navego
Se tanto me emprego
Também busco atalho.
33570
Das lapas do sonho
Das pedras do cais
Andara em venais
Caminhos me oponho
E tanto proponho
Viver muito mais
Dos tantos iguais
E sei do medonho
Restando do verso
Algum universo
Imerso no chão,
Aonde a semente
Sem nada apresente
Reaviva o grão.
33571
Antroposofia
Gesta o pensamento
Aonde o sentimento
Além do que se via
Erguendo em sintonia
História tempo e atento
Vital conhecimento
Em completa harmonia
Gerando além do tanto
O quanto quero e posso
O mundo sendo nosso
E nele me adianto
Enquanto me repleto
Assim já tanto posso
Estando em mim completo.
33572
O amor além do amor
O tempo após o todo,
Não resta mais engodo
Nem mesmo a se compor
Além do justapor
Caminho em vento e lodo,
O peso deste modo
Diverso recompor
E tanto posso além
Do quanto me contém
Na etérea realidade,
À parte do que sou
O todo se mostrou
Aonde o tanto invade.
33573
Minha alma completa
No tanto pudera
Além desta espera
Vencendo repleta
Se hoje poeta
Amanhã besta fera
Diversa quimera
Perfeição é meta
O corte aprofunda
A morte me inunda
Da vida em diversa
Embora se tenha
Acesa esta lenha
Já nunca dispersa.
33574
Recebo o que sou
E sinto se nada
O tempo de estada
Jamais se moldou
No quanto restou
Ou mesmo mudada
A forma traçada
Já não se mostrou
Na face real
Ou mesmo fatal
Do corpo somente,
Assim sou refeito
No quando desfeito
Renasço em semente.
33575
Jogado na terra
Acendo o pavio
E beijo este estio
Enquanto se encerra
O ciclo desterra,
Mas logo recrio
E nunca este frio
Bebendo se cerra
Travando comigo
O tempo em abrigo
Anseios dispersos
Assim navegando
O quanto sem quando
Em mundos diversos
33576
Palácio e tapera
Temperos da vida
O quanto perdida
E assim regenera
A boca se espera
E nela a sortida
Imagem dorida
Refaz primavera,
No fardo do tempo
Após contratempo
O medo não trilha
Vencendo o que sou
Já tanto sobrou
Vital maravilha.
33577
Não tendo este aquém
Somente o futuro
E nele perduro
Vivendo este além
E o beijo que tem
Porquanto amarguro
Depois não torturo
Nem mesmo convém
Assim já persisto
E tanto eu insisto
E me purifico,
Cenário sombrio
Depois propicio
Momento mais rico.
33578
Jogado nas tramas
Das lamas e ritos
Aonde finitos
Não podes, reclamas
Revives em chamas
Aonde os aflitos
Momentos e mitos
Ainda não clamas
Mas vês o futuro
E quando no escuro
O brilho refaz,
Assim ao se ver
No eterno fazer
A vida é tenaz.
33579
Além do mortal
Caminho que vês
E tanto em porquês
Não sabes real,
Gerando afinal
O quanto não crês,
Mas há lucidez
Na fonte em cristal
Da qual tu vieste
E quando regresse
Sobeja esta messe
Num solo que agreste
Floresce o jardim
Do eterno que vim.
33580
Risonhos os prados
Aonde não sabes
O quanto não cabes
E nem velhos fados,
Assim os recados
Bem antes que acabes
No tanto desabes
Ou mesmo enfadados
Restara do todo
Sequer sem engodo
Completa visão,
A morte não vivo
E sei sobrevivo
À própria missão.
33581
O Deus que tu me deste agora morto
Não serve para nada nem pudera
Vencer o que talvez desse a quimera
E nela sem saber se existe porto
Tocado pela angústia vou absorto
Aonde esta mortalha me tempera
E deixa que se veja nele a fera
O peso do sonhar; já nem comporto
Riscado deste mapa há quantos anos
Vencido pelos mesmos desenganos
Nos quais gerara apenas ilusões,
Não quero a falsa imagem de um profeta
Ainda mesmo morta ou incompleta
Vendida nas esquinas ou leilões.
33582
Eu quero Satã
Na noite completa
E tanto repleta
A morte amanhã
Visão que malsã
Gerara o poeta
A boca me espeta
Na fome terçã
Cruel passeata
Da fome insensata
Gestando o vazio
E quando desfio
O medo repete
O que me reflete.
33583
Nem santo nem pranto
Apenas a fera
A boca se espera
E bebe este manto
Aonde pus tanto
Momento tempera
O corte se gera
No verso em quebranto,
O banco de sangue
A morte no mangue
O peso da mão
E nada se tenta
Ainda sedenta
Sem ter direção
33584
Bendito demônio
Aonde me esgoto
E quando remoto
Vital pandemônio
Acende este hormônio
E tento e me boto
No fogo em que troto
Risonho campônio
Vestindo a fornalha
Na qual se batalha
E morre com sorte,
A ponte partida
Gerada após vida
Não mais me comporte.
33585
Ainda se existo
Deveras percebo
O quanto concebo
De mim em Mefisto
Ausência Do Cristo
Quem sabe um placebo
E nada que bebo
Pudera eu insisto
Vencer temporais
Gerar anormais
Caminhos diversos,
Satã me abençoe
No quanto revoe
Além os meus versos.
33586
Perdidas promessas
Entregas brumosas
E quando tu gozas
Não vês recomeças
As festas avessas
Os dentes em prosas
Horas prazerosas
Matando sem pressas
As horas medonhas
Aonde reponhas
Os ritos banais
E beba este vinho
No podre caminho
Velhos rituais.
33587
Entorno o café
Por sobre esta mesa
Sigo correnteza
Vomito na fé,
E sinto esta Sé
Cercada e surpresa
E quando se preza
Vivendo a galé
Do fardo capaz
De ter muito audaz
O peso da morte,
Confrades e freis
Fazendo das leis
O que mais conforte.
33588
Pastores e ovelhas
Carneiros sangrados
Em ritos sagrados
Apenas centelhas
Aonde te espelhas
E deixas legados
Comprando pecados
Vendendo tais telhas,
E nada renova
A boca comprova
Faminta quimera
Igrejas Satãs
E tantas manhãs
A morte venera.
33589
Rodízios e tramas
Assisto ao fatal
Caminho venal
Por onde tu clamas
E dízimos chamas
Enchendo o bornal
Satã triunfal
Bebendo das chamas
E nelas pastores
Em tantos clamores
Vendendo esta cruz
Aonde perdura
Sem pena e sem cura
O velho Jesus.
33590
Não sou apoplético
Tampouco seria
Se houver serventia
No verso que herético
Falasse em profético
Sem hipocrisia
Toda eucaristia
Caminho patético
E neste fardão
Medonho senão
Vivendo mordaz
Beijando esta capa
Vestido de papa
Vejo Satanás...
33591
Pecado alimenta
A corja a canalha
E quando a batalha
Se faz violenta
Aonde se alenta
A própria fornalha
O quanto se atalha
Na boca fomenta
Assim nesta missa
A fonte que é omissa
Vestindo algum anjo
Também no pecado
Ao dar meu recado
Poderes esbanjo.
33592
Vendendo o milagre
A porta do inferno
E nela este inverno
Aonde avinagre
A sorte consagre
O poder eterno
Dum fardo que terno
Ainda se sagre
No sangue do Cristo
E se assim persisto
Perfaço um puteiro
E nele me esgoto
Até num remoto
Caminho em luzeiro.
33593
No corpo da puta
No beijo da morte
Ao ver o meu norte
Na imensa labuta
A fome se astuta
Também se comporte
Enquanto conforte
Adentra outra gruta
Resenhas diversas
E nelas conversas
Com deus e diabo,
No porto sem nexo
A morte em complexo
Gerando o nababo.
33594
Lavando com fome
A boca de quem
Viver se convém
E ainda se some
Poder que se dome
No pouco que tem
O peso contém
O quanto se come
Da fúria deste homem
E nele consomem
Igrejas e padres
Assim podre fato
No qual me retrato
Ainda que ladres.
33595
Diversos ladrões
Entoam sinais
E bebem venais
Aonde me expões
E quando em senões
Percebem totais
Ou tão desiguais
Vendendo perdões
Igreja farsante
Aonde o gigante
Derruba Davi,
Assisto à promessa
E quando começa
Também me perdi.
33596
Macabro cenário
E nele me exponho
Assim vejo o sonho
Um mal necessário
O quanto o corsário
Vergonha componho
E tanto reponho
Enchendo este armário
No bêbado passo
Se tanto refaço
O ganho mensal,
Demônios à solta
Uma alma se escolta
Em tal bacanal.
33597
Aonde em altares
Pudessem Jesus
Agora só pus
Vitais lupanares,
E quando tentares
Conforme me opus
Jogados na cruz
Diversos bazares,
Satã se procria
Aonde heresia
Se faz mais freqüente
Usando a palavra
Dinheiro se lavra
E Deus vejo ausente.
33598
No peso complexo
Da morte sem rumo
O quanto consumo
Do medo em reflexo
Risonho sem sexo
Ou mesmo sem prumo,
Bebendo este Sumo,
Vestido sem nexo,
Espelho em Satã
A vida se é vã
Vanglórias diversas
Distinto demônio
Com seu patrimônio
Aonde tu versas.
33599
Jargões conhecidos
E tantos em glória
Rendendo a vitória
Aos apodrecidos
Esqueça as libidos
E mude esta história
Fazendo da escória
Templos discernidos
Em fúria medonha
Além do que sonha
O pobre judeu,
O mundo da graça
Agora esfumaça
E já se perdeu.
33600
Perdoe os safados
Entregues aos ritos
E dizem benditos
Aonde são fados
Os medos marcados
Os olhos aflitos
E neles finitos
Assim dos mercados
Pecados perdões
Totais podridões
Nas mãos dos pastores,
Vendilhões do templo
Ainda contemplo
Incríveis atores.
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