33351
As nuas melodias ritos sonhos
Referem-se ao que tanto quis e nada
Gerasse nova sorte aonde cada
Momento poderia em enfadonhos
Caminhos procurar novos bisonhos
Ou mesmo reviver a velha estrada
Uma alma agora amarga ou invernada
Adentra tais cenários mais medonhos,
E sei do quanto pude e não devia,
O fruto abençoado em utopia
Gestado com carinho vira aborto
Assim ao me mostrar defronte espelho
O olhar calado e turvo, mais vermelho
Denota este futuro semimorto.
33352
Que fazem de meus olhos mais risonhos
Os cortes mais profundos que me deste
E quando a ponta surge forte e agreste
Os olhos noutros dias são tristonhos.
Assino a cada ausência o meu final,
E bebo em fartos goles a saudade,
No todo que talvez jamais agrade
Eu tento alçar a vida num degrau
E arrisco em precipícios, neste abismo
O passo rumo ao tanto que não tive,
E sei do vendaval aonde estive
E tento na medida em que não cismo,
Resquícios de uma vida noutra face
Gestada pela dor do medo e impasse.
33353
Mergulharia a voz no quanto ainda
Pudesse acreditar a não teria
Senão a mesma face em sincronia
E nela a solidão que seja infinda,
Garimpo a fantasia e se deslinda
A morte que deveras poderia
Reger qualquer momento de alegria
Portanto novo tempo já se finda,
E aos meus alentos regredira
Enquanto a solidão acerta a mira
E o fardo não mais posso suportar,
Vestindo de ironia ou de sarcasmo
Seguindo cada passo bem mais pasmo,
Espero novamente começar.
33354
Satisfação é fato mais ausente
Dos olhos entre trevas, brumas, frio
E quantas vezes teimo e subo o rio
Num ato que se mostre fascinante,
E quando noutro tanto se adiante
O medo ressonando cada fio
Do especular desejo desafio
Perdido em meio ao mundo me agigante.
E risco cada nome desta agenda
Aonde na verdade nada atenda
Senão este cenário em dor ou paz,
E a fonte inusitada se permite
Viver além do caos, qualquer limite
E ser a cada ausência mais tenaz.
33355
Chegando ao fim da linha, nada levo
Senão esta saudade ou mesmo o fardo
E quando noutro tanto mero bardo
Vivera a solidão em tom longevo,
Riscando cada passo até me atrevo
A ter além da pedra, espinho e cardo
A vida refazendo o mesmo dardo
Penetra friamente e assim me entrevo.
Paradas entre fontes e delírios
Resultam tão somente nos martírios
E deles costumeiras ilusões,
Não posso mais falar do que se veria
Aquém desta verdade ou fantasia,
E nela todos erros tu repões.
33356
O mundo dando voltas gira tanto
E quando se percebe inevitável
Seguir outro caminho mais arável
Ainda sem destino desencanto,
Refiro-me ao viver qual fosse um manto
E nele todo tempo desbotável
Restando o que pudesse ser tragável
Jogado pela casa em algum canto.
Jangadas procurando um cais suave,
Minha alma noutro tanto se faz ave
E ceva com terror ou com ternura
A velha charqueada costumeira
E nela se traçando esta bandeira
Aonde todo o mundo se amargura.
33357
Sangrando contra a fúria do vazio
Adentro nas entranhas mais fugazes
E sei quantas vezes tu me trazes
Esqueces estopim, fogo e pavio,
E o vasto caminhar onde procrio
Momentos mais doridos e mordazes,
Não representam meras tolas fases
E o manto não protege mais do frio.
Impotências diversas, morte à vista
O fim do entardecer uma alma avista
Prevendo a noite em toda turbulência
Capitulando assim sem luta ou medo,
Condeno-me deveras ao degredo
Do fim eu tenho e sei plena ciência.
33358
E em plenas alegrias continuas
Depois de teres mesmo destruído
O quanto poderia dividido
E agora se mostrando em turvas luas,
E quando noutro tanto as almas nuas
Resolvem seus engodos, vou perdido,
E tento noutro tanto resolvido,
Mas quando te revoltas vens e atuas,
Flutuas entre estrelas e fantoches,
Olhares são de penas ou deboches
Dos broches na camisa, sem medalhas
Orientando o passo, a negação,
Constrito caminhar em direção
Ao quanto na verdade me atrapalhas.
33359
Jazigo do que fora uma alegria
Mortalha se tecendo no não ser
O medo transcorrendo sem poder
Viver o que talvez fosse alegria,
Resisto e quantas vezes já se adia
A morte sem defesas do querer,
Reverto o meu caminho e tento ver
O quanto nada mais se poderia,
Vestindo as ilusões em noite pária
Bebendo cada gota procelária
Das velhas porcelanas, nem sinais
Esgoto-me com frágeis sons e sonhos,
Os cantos entre temas mais medonhos
Demonstram ritos ledos, terminais.
33360
No meu momento feito em dor e riso
Condões arrebentados, cortes fundos
E quando não pudesse noutros mundos
Sentir felicidade em tom preciso,
O verso se mostrando em pré juízo
Tramando corações mais vagabundos
Os dias são ferozes e rotundos
E neles o que resta eu não matizo.
Esqueço cada frase em atos falsos,
E bebo com meus pés cortes descalços
Das velhas podridões neste quintal
Assim ao perceber noutro varal
As roupas se quarando penso ver
O tempo noutro tempo renascer.
33361
As Ruas e destinos são festejos
E nesta roda viva a vida passa
E quanto tanto penso na fumaça
Tocando com terror velhos desejos
Ainda se pudessem mais sobejos
O quanto na verdade dita a traça
E a sorte sem remédios nada traça
Deixando para trás antigos pejos
Os versos entre verso inversões
As vagas entre velhas emoções
E o manto destroçado da esperança
Morrer é ter nas mãos a solução
E sei do quanto possa em negação
Enquanto se refaz uma aliança.
33362
Despeço-me da vida como quem
Saneia seus enganos e procura
Ainda quando a sorte mesmo dura
De todos os vazios me provém,
Negando qualquer brilho, ainda vem
A sorte noutra face mais escura
Tentando renovar a velha jura
E beijo a solidão, divino bem.
Abraço os meus pedaços pelas ruas
E sei das fantasias antes cruas
E agora desenhadas com clichês
Tateio pelas noites e se vejo
O quanto noutro encanto mais desejo
Só sei que no final, tu não me vês.
33363
Arrasto pelas ruas o meu sonho
Escalpelado rito em tom sombrio,
O gesto aonde eu mesmo me esvazio
E nele todo o rumo já não ponho,
Escrevo com ternura ou quando oponho
Descanso após seguir o imenso rio
Levando pelas margens e me estrio
Na faca, adaga, foice em ar medonho,
Das arcas e das ancas marejado,
O parto tantas vezes renegado
No aborto costumeiro de onde venho,
O pantanal traçado em movediço
Caminho pelo qual se já cobiço
Adentro com terror em torpe cenho.
33364
Falar das esperanças quando a tarde
Tomada pelas nuvens vem e invade
Promete qualquer dor e tempestade
Ainda que este tanto se retarde,
O verso quando muito não aguarde
E nele cada parte diz verdade
Ou pesa sobre as costas e degrade
Enquanto a vergastada adentrando arde.
Jorrando pelas ruas meu esgoto
O tempo se mostrara agora roto
E o pensamento gera insensatez,
Ainda poderia ser feliz
Se toda a realidade contradiz
A santidade imensa em que tu crês.
33365
Não pude conceber eucaristia
E nem acredito mais num vago Deus
Vendido pelas mãos dos fariseus
E quantas vezes morta a fantasia
Negando uma esperança a quem queria
Alguma nova vida sem adeus,
Os erros que deveras fossem meus
Não podem invadir a sacristia.
Os amores maiores e sensatos
Os dias entre ritos e maltratos
Em atos mais audazes e ferozes,
Meus rios sem fluência, em corredeiras
Adentram pelas selvas derradeiras
E perdem seus destinos, suas fozes.
33366
Felicidade morta à faca e bala
Enquanto desmaiando a sensatez
No porto aonde tudo se desfez
Nem mesmo este vazio ainda abala
Quem sabe e na verdade nada fala
Senão o quanto pude e já revês
No fardo condenando à lucidez
Quem sabe ser das lutas, a vassala.
Reconstituindo o barco do passado
Levando os amuletos dentro em mim
Esqueço qualquer forma e sendo assim,
O canto noutro encanto abandonado
Resiste e tanto pode ser diverso
Rasgando cada frase deste verso.
33367
Brilhando muito além de qualquer sol,
Cirandas entre noites luas belas
E quando no passado ainda atrelas
O todo que se fez em arrebol,
Restando da vivência nem farol,
E assim ao desenhar terríveis telas,
Porquanto noutros tantos mais revelas
Tentando ser apenas caracol,
Eu vejo o que pudesse ser assim,
E nunca acreditei tivesse fim.
O parto prometido não virá
O mundo noutro tanto me mostrando
O fardo mais atroz, vago e nefando
Nevando dentro da alma desde já.
33368
Mormaços que carrego dentro da alma
Não deixam mais a luz de um claro dia
E toda esta vacância se previa
Conheço minha vida em cada palma,
Deixando para trás o medo e o trauma
Quando inocentemente esta alegria
Gerava noutra face a hipocrisia
Nem mesmo esta incerteza ainda acalma,
O vasto caminhar já sonegado,
O dia noutro tanto amarrotado
E o cândido caminho em tez dorida,
Assim ao se mostrar a face escusa
Da vida quando a sorte usando abusa
Matando o que restara de uma vida.
33369
Realejos dos meus tempos de criança
Ainda procurando qualquer sorte
E nela se mostrara apenas morte
Aonde a cada ausência a vida lança
Pudesse reviver cada lembrança
E ter ao menos sonho que suporte
O passo sem ternura e sem aporte
Gerando alguma forma de mudança
Navego em tempestades, sou assim,
O mundo se perdendo dentro em mim
Jamais me permitindo um tom maior
Apenas nos meus olhos lacrimejo
E quando noutro ensaio diz desejo
Reside dentro da alma este suor.
33370
Pudesse acreditar noutro cenário
Aonde esta criança hoje disforme
Ainda que em verdade nada informe
Da fome traz o grito necessário,
Medonha face escusa do corsário
Que quando se aproxima e se conforme
Nas ânsias do que eu fui ainda dorme
Arrebentando assim qualquer armário,
O vento não pudesse transformar
E nem se balançasse céu e mar
Mesquinha caricata face exposta
Minha alma se mostrando ora desnuda,
Enquanto noutro tanto ainda ajuda
No fundo se retrata e ainda gosta.
33371
Quem me dera se todos os desejos
Pudessem traduzir além do caos,
E quando não se vêm mais os degraus
Que possam me levar aos mais sobejos
Caminhos onde tanto quis saber
Da sorte semelhante à liberdade,
E no tanto quanto possa a claridade
Viver esta alegria em tal prazer
Riscando já do mapa qualquer marca
Do quanto pude um dia acreditar
Na força incomparável do luar
Aonde a fantasia tola embarca
Unindo este vazio ao nada além
Apenas solidão, ainda vem...
33372
Realizassem por certo uma esperança
Os dias mais atrozes ou ferinos
E quando se tentara em desatinos
Vencer qualquer caminho em vã mudança
Porquanto uma alma tenta, tenta e cansa
Cenários são deveras mais ladinos
E bebo do dobrar dos velhos sinos
Deixando uma alegria na lembrança;
Participando assim deste fatal
Momento aonde em sombras já me fiz
O quanto se pudera um aprendiz
Riscado pela vida e descartado,
A morte se aproxima e me redime,
Assim na sensação de dor e crime,
Vestindo o velho terno amarrotado.
33373
Mas, nada , estou assim muito feliz,
Depois de não saber se tento ou não
Riscar do mapa rumo e direção
E quanto mais audaz inda eu me quis,
O fardo se pesando na raiz
Tombando com terror mergulho ao chão,
E sinto novo tempo em provação
Porquanto o corte traça o que se diz
Nas mãos do vendilhão de uma esperança
A faca se afiando agora lança
E adentra sem defesas o meu porto,
Cadenciando o passo rumo ao nada,
Apenas o que fora madrugada
Encontra-me deveras semimorto.
33374
Sabendo que virás ao fim do dia
Trazendo esta mortalha que se tece
Nas mãos de quem deveras já me esquece
E noutra face mostra hipocrisia,
Restara qualquer luz e a serventia
Do todo quando ao nada me obedece
Fartura de ternura dita a messe
E o pântano decerto ora se urdia.
Não quero este trambolho feito em rito,
Nem mesmo se pudesse ainda grito
E tento disfarçar a imensa lama,
No pasto que me deste de presente,
O vândalo delírio não se ausente
E quanto mais atroz, bem mais reclama.
33375
O brilho dessa vida, sempre traz
Resquícios de um momento aonde eu pude
Deixar qualquer formato de atitude
Ainda sem sentidos, para trás,
E noutro imaginário mais audaz
Resisto embora ausente a juventude
Mutável caminhar já não ajude
Quem tenta outro destino e nada faz.
Servir como se fosse mero apoio
E ter a sensação de torpe arroio
Deixando prosseguir em rio imenso
O fardo dividido no começo
Encontra noutra foz seu endereço,
Desculpe mas não posso e nem convenço.
33376
Revivendo invadindo a poesia
O carma sem sentido que adentrara
A morte não se mostra sempre clara
Enquanto a minha sorte não se adia,
O parto procurara em noite fria
Cenário bem diverso e desampara,
A vida noutra face sempre apara
O sonho aonde o sonho não seria
Somente esta senzala que me deste
Rasgando com terror a imensa veste
Desnuda companhia do passado
Acostumando ao erro mais freqüente
Enquanto este vazio se pressente
A morte me servindo de legado.
33377
Trazendo, ao fim da vida, uma alegria
A cena não reflete a realidade,
Porquanto bem mais alto ainda brade
A voz noutro momento não seria
Apenas o reflexo da alegria
Nem mesmo manteria a qualidade
E toda esta incerteza desagrade
Quem gera esta mortalha todo dia,
Não posso mais sorrir e me completo
No fardo costumeiro e predileto
E dele tramo o fim em solidão,
Não deixo qualquer sombra, rastro ou passo,
E quando sem defesas me desfaço
Mesquinharias tomam todo o chão.
33378
Quem dera se eu pudesse te dizer
Do faro costumeiro de sonhar
E ter ainda em mim qualquer lugar
Aonde novo tempo se faz ver,
Não tendo nem sequer no que inda crer
Vagando sem destinos, quero um ar
E teimo sem ter asas em voar
Até noutro cenário perecer.
Amargo a realidade e sem futuro
O passo rumo à dor em solo duro
Esconde estes demônios que me deste
E assim a cada ausência mais profana
A sorte com ternura já me dana
E apenas o vazio me reveste.
33379
DA SENSAÇÃO CRUEL DESSA SAUDADE
E o tempo de viver já não bastara
A porta noutra face desampara
Enquanto o frio adentra e tudo invade,
Não vejo nesta vida a qualidade
E tanto poderia ser mais rara
Ferrenha teimosia dita a escara
E nela cada ausência me degrade.
Perene insanidade, o que inda resta
Pensara no passado riso e festa
E agora no velório vejo as cenas
De quem se fez hipócrita e venal
Ousando desfrutar do ritual
Enquanto satisfeita me envenenas...
33380
DIZER-TE QUE, SEM TI , MELHOR MORRER,
Balela simplesmente e nada mais,
Os dias não seriam desiguais
Nem mesmo outro momento a me colher
Percebo a insanidade e posso ver
O quadro em faces turvas, mas banais
Na espreita desta morte, vis chacais
Bebendo a se fartar, todo o poder.
Expresso com palavras o que sinto
Sabendo do caminho agora extinto
Por onde ainda havia a temperança
A morte não redime qualquer erro,
E sendo assim diverso o meu desterro,
Ao menos plena paz minha alma alcança.
33381
VOU PROCURAR-TE EM TODA CLARIDADE.
Sabendo quanto escura a madrugada
Em brumas já composta aonde o nada
A cada passo atroz tanto degrade,
Riscando com terror a imensidade
Mergulho no vazio da alvorada
E bebo a sorte agora solapada
Negando com horror a liberdade,
Escassas luzes ditam o futuro
E quando na verdade não procuro
Sinais que possam tanto redimir
Engodos costumeiros não perfaço
E bebo a cada dia novo espaço
E sei bem mais distante o que sentir.
33382
JAMAIS EU SABERIA QUEM HÁ DE
Dizer do verso manso ou mesmo atroz,
Se nada nem ninguém escuta a voz
Que ainda por mais louco tente ou brade,
O fato é quando houver necessidade
Rasgando a tempestade beijo a foz,
E sei do que pudesse ainda em nós
Traçar qualquer luar, diversidade;
Meu verso se enfadando sem ninguém,
No quanto ainda teima e não contém
Resumo a minha vida desde agora,
E tento disfarçar, mas não consigo,
A cada ausência sinto este perigo
Na curva aonde a sorte se demora.
33383
INFORMAR A ESSE LOUCO SEM PORQUÊS
O quanto é necessário ter além
Do nada aonde o tudo não convém
Diverso do que ainda teimas, vês
Poeira nos sapatos? Nelas crês
E sabes desta história muito bem,
Vivera tanto tempo sem alguém
E mesmo que tivesse eram clichês
Cercado pelas lanças das promessas
Aonde cada engano recomeças
E mentes quando ris com paz incauta.
O tempo transcendendo à própria vida
O corte traz a face dividida
E dela não se sente a menor falta.
33384
EM QUE CANTO, EM QUE RUA NA CIDADE
Esconde quem pudesse ser assim
O vandalismo toma tudo em mim
Porquanto a própria história desagrade,
Restando o que pudesse em claridade
Deixando para além fúria e jardim,
A porta não se abrindo e sendo enfim
Residual caminho sem ter grade
Não pode mais sentir sequer o vento
E quando tantas vezes teimo e tento
Atento ao que talvez inda pudesse
Refino com palavras mais gentis
O que deveras tanto ou nada quis
Matando desde sempre essa benesse.
33385
EM QUE MUNDO ELE SOUBE TE PERDER,
Já que pudera ao menos crer possível
Um novo caminhar bem mais plausível
Vivendo cada gota do querer,
Assim também me sinto ao perceber
O todo se mostrando divisível
E o corte se profana em dor incrível
Mortalha cada dia a se tecer.
O fado de viver em chuva e medo,
E tanto não pudera outro segredo
Senão o mesmo e frio vendaval,
As pessoas correndo pelas ruas
E quando na calçada continuas
Imagem deste amor, residual...
33386
Procuro-te nas ruas e nas tramas
Aonde poderia acreditar
No verso noutro tanto a se mostrar
E quando se percebe nem mais chamas
Os versos de uma lua em velhos dramas
Restando sobre a terra a divagar
Esboço outro momento sem luar
E quando nem percebes, ditas lamas,
Chovendo dentro em mim a noite inteira
O porte se mostrara mais venal,
Estrela galga espaço em desigual
Caminho sobretudo em tal ladeira
Aonde desabara há tantos anos
Os velhos e doridos desenganos.
33387
Refém dos meus momentos mais audazes
E neles os discursos mais venais
Arreio o coração e em passos trazes
Os olhos entre fúrias vendavais,
Ariscos caminhares entre as fazes
Bebendo desta sorte quero mais
E sei que ainda mesmo quando atrases
Os dias não seriam mais iguais,
A prata desta lua deita em cores
Diversas dos momentos onde fores
E traça este vazio no futuro,
O sol que redimindo a noite fria
Jamais noutra alvorada mostraria
Deixando o meu caminho ainda escuro.
33388
Levanta o coração quem tenta ver
O mundo noutra face ou mesmo nesta
E quando a minha boca já não presta
Reside bem além teu bem querer,
O fado de sonhar e de viver
Adentra sem saber por toda fresta
E teima com inútil fútil festa
Deixando no passado algum prazer,
Existo por saber de outro momento
E sei que ainda mesmo quando invento
O tempo não permite acreditar
Nas fontes mais diversas da esperança
E quando esta saudade ainda alcança
Resolvo a minha vida devagar.
33389
Serena dentro em mim a tarde inteira
E beijo o temporal que inda virá
Sabendo que deveras tomará
Janela sonho pedra em vã ladeira
E quando a realidade enfim se esgueira
Deixando esta saudade aqui ou lá,
O tempo novamente cobrará
Porquanto a minha sorte é derradeira,
Coragem coração e nada disto
Percebo quando mesmo quero e insisto
Resisto e nada traça outro caminho,
Bebendo em tua boca o fel e o medo,
Ainda noutra face me concedo
E sigo sem defesas, pois sozinho.
33390
Jargões do eu passado em harmonia
Belezas sem igual, cabelo ao vento
E quando noutro tanto o pensamento
Perfaz a mesma história, ventania,
Acordo de manhã e bebo o dia
Ao mesmo tempo tento e desalento
Riscando cada frase em pensamento
Aonde nada mais jamais urdia,
Digo ao que pudesse ser assim
O vândalo resíduo que há em mim
Capenga coração já não comporta
A morte anunciada na tocaia,
E quando vejo o sol beijando a praia
Fechando esta janela, a casa, a porta...
33391
AGORA QUE AS PALAVRAS SÃO NEFASTAS
E o tempo não renova a velha história
Matando o que inda resta na memória
Enquanto dos meus passos tu te afastas
Palavras sem sentido sendo gastas
Prenunciando a vida dura e merencória
E nela sem saber qualquer vanglória
O quanto não querias sendo castas
As luas entre nuvens noite afora
E quando a poesia já se ancora
Resistes ao chamado da paixão
E vês o teu fantoche pelas ruas,
Estrelas entre noites belas luas
E nelas nem sequer a direção...
33392
AGORA QUE MEU MUNDO JÁ PERDI
Jogado pelos bares e sarjetas
Ainda quanto mais queres, prometas
Bem mais distante estou ora de ti,
O vento se percebe e pereci
Nas ânsias mais atrozes dos cometas
E quando viajasse por planetas
Diversos destes todos que bebi,
Acordos entre ritos e resenhas
A morte pouco a pouco mais desenhas
Nas franjas da ilusão torpe verdade,
E sei do quanto pude imaginar
Erguendo a cada engano um patamar
Aonde se veria esta cidade..
33393
QUANTO MAIS ME APROXIMO, MAIS T'AFASTAS
Sabendo do que tanto poderia
Traçar com dor ou mesmo em alegria
As noites mais felizes, ricas, bastas,
E tendo em minhas mãos velhas vergastas
No corte aprofundado dia a dia
O vento não proclama a fantasia
E nem as mesmas horas inda gastas
Negando qualquer sorte ou até medo
E quando de outro jeito assim procedo
Concertos entre tantas ilusões
Servindo de alimária nada quero
E se pudesse ainda ser sincero
Bebendo tão somente podridões.
33394
Uma estrela ascendendo no meu sonho
Vagando solitária em noite imensa
No quando do desejo se compensa
O risco na verdade não proponho,
O fardo carregado se é medonho
Traçando a realidade bem mais densa
E nela toda a fúria não convença
Quem luta com terror, claro e enfadonho.
Dos prazos concedidos pela sorte
Prenunciando assim a minha morte
Não passo de somente um vago não,
Brumosa noite adentra o que ora sinto
E vejo este momento agora extinto
Nas ânsias da terrível negação.
33395
Em brisas, maciez, em plena festa
A sórdida presença de quem tenta
Vencer esta ilusão louca e sedenta
Abrindo do meu peito cada fresta
E quando no final já nada resta
O beijo se aproxima da tormenta
E assim a morte enfim que se apresenta
Aos poucos sem caminho desembesta
Pecado por pecado, é bem melhor
Usar as artimanhas do suor
Do que vender a cara de santinha,
No porto dos vinagres, vinho morto,
Ausência de esperança dita o porto,
Vadia madrugada fora minha.
33396
De tudo que sonhei, nada mais resta,
Tampouco quero sombras do passado,
Vivendo do futuro ou desolado
Não chego ao fim da noite em plena festa,
O bêbado caminho já se empresta
E traça com destroços meu legado,
O quando deste sonho sonegado
A vida de outra forma nunca atesta.
Resido no que tanto pude crer
E sem saber sequer do alvorecer
Eu quero que este tempo já se dane,
O amor não vale mais nenhum centavo
E quando do vazio assim me lavo,
O velho coração entrando em pane.
33397
Senão o meu caminho sem promessas
Valia alguma coisa, mas sei bem
Do quanto em nada tendo nada vem
E nestas heresias tu começas
Bebendo cada gota se às avessas
Do tanto que pudera ser aquém
O riso destroçado não mais tem
Embora teus pecados não confessas,
Extraio cada gota deste esgoto
E sei o quanto posso boquirroto
Vencer os meus temores, dissonância;
Partindo do princípio chego ao nada,
Assim a mesma história decorada
Gerada pela eterna discrepância.
33398
Estrela que vivendo nas avessas
Dos dias entre trevas dores brumas
E quando na verdade me acostumas
As velhas heresias recomeças
E assim conforme andando mais tropeças
E nestas emoções diversas rumas
Enquanto no banheiro ainda fumas
Negando o que seriam as promessas,
Desoladora imagem dita o abril
E o todo que deveras se previu
No outono em tons dispersos se tornando,
Aonde em tempestades se fez tanto
O amor não poderia novo encanto
As andorinhas fogem noutro bando.
33399
Transforma meu viver mais enfadonho
O parto em dores feito, sem sentido,
O quadro há tanto tempo repartido
E o peso sem saber no quanto sonho,
Eu venço o meu caminho e te proponho
Outro momento além do ser urdido
Pesando nos meus ombros decidido
Caminho aonde vejo em ar medonho,
O cardo se aproxima e cada espinho
Traçando com terror o meu caminho
Gargalha-se o vazio dentro em mim,
Aprofundando o corte nada tendo
O mundo sem caminhos se perdendo
Restando este consolo, uísque e gim.
33400
Abraço tal estrela que não sente
Sequer esta presença e poderia
Traçar com mais ternura a noite fria
E até quem sabe mesmo vê-la quente
Revejo cada passo e se desmente
A fonte desta etérea fantasia
E enquanto a realidade bendizia
O mundo noutra face é mais descrente.
Realizando assim o meu desejo
Ainda novo tempo se prevejo
Refém do que se fora já não basta
Por isso minha amiga, dê o fora
A vida noutro tanto ora se ancora
Do teu itinerário enfim se afasta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário