sábado, 22 de maio de 2010

33651até 33700

33651

Atropelo a vida
Ao cortar o céu
Vagando sem véu
O medo divida
A fonte extraída
O tempo cruel
O pote de fel
A ponte, a partida
O vento soprando
O mundo rondando
E o nada se vê
Caminho ou começo
Deveras mereço
O quanto sem quê.

33652

O lacre o mercado
O barco sem rumo
O tempo se esfumo
O nada alegado
A fonte e o pecado
Mudando o que assumo
E tendo outro prumo
O peso tocado
O velho mercante
O dia adiante
O tempo que vem
E sigo sem tanto
Poder novo canto
Sem ter mais ninguém.

33653

Se eu tanto acredito
Ou nada pudesse
A vida se esquece
E bebo o infinito
Rondando este aflito
Caminho sem messe
E quanto padece
Quem gera outro grito
Navego oceanos
E tantos enganos
Os danos constantes
Risonha mortalha
A vida me espalha
Vitrais degradantes.

33654

Pudesse te ter
Ou mesmo negar
O quanto o luar
Negara o prazer
E assim passo a ver
Além do pomar
Aquém do luar
O mundo em querer,
Girando esta roda
O quanto me açoda
Do todo que eu quis,
Vital semelhança
A vida se lança
Na igual cicatriz.

33655

Calado no canto
Perdido sentido
Acalma a libido
E tudo sem tanto
Puir este manto
Novel destruído
Nos medos do olvido
Aonde adianto
Meu passo ao vazio
E quando desfio
A voz não se trama
O vento se aplaca
A sorte da faca
A fúria da chama.

33656

Mereço outra chance
Quem sabe talvez
E tudo se fez
Além deste alcance
E quanto ao nuance
Ou vã sensatez
O quanto não vês
E ainda se lance
Traduz qualquer rastro
Aonde me alastro
E busco outro cais
Gerado do medo
No quanto concedo
Ouvindo jamais.

33657

O som da guitarra
O canto em segredo
O parto este enredo
Aonde se agarra
A morte me escarra
E cospe em degredo
Contando mais ledo
O quanto desgarra
Vencido reluto
O peso do luto
Não posso e nem devo,
O mundo carrego
No passo mais cego
E tanto me atrevo.

33658

Lavrando com medo
O tiro e o pavio
O tempo sombrio
O quadro o degredo
A falta de enredo
O corte vadio
E quando me esguio
Vencido ou mais ledo,
Espero um momento
Aonde me alento
Ou bebo este tanto
E resto sem nexo
Tocado e perplexo
Enquanto me espanto.

33659

Ourives do nada
Ainda aprendendo
O quanto do adendo
Negando esta estada
Vagar sem estrada
Sentir se desvendo
O mundo contendo
A porta fechada
Do vento que bate
O farto arremate
Do beijo e da fera,
O gesto suave
Aonde se agrave
E nada tempera.

33660

Ouvindo o passado
No tempo e no espaço
Aonde não traço
Caminho velado,
Resisto ao recado
E tento outro laço
Mas tudo desfaço
Enquanto calado,
Arcando com erros
Vencendo os desterros
Um elo rompido
Assim sigo em frente
No quanto apresente
Meu tempo perdido.


33661

Arcando com falsos
Momentos diversos
Aonde em dispersos
Gerara percalços
Os dias descalços
Os medos e os versos
Reais universos
Entre os cadafalsos
Escapo do tiro
O quanto me atiro
E tento outra fuga
A rota se veste
Do medo e da peste
O tempo me enruga.

33662


Acordo satisfeito, extasiado
Bebendo cada gole da esperança
E nela novamente a farpa e a lança
O corpo pelo solo abandonado
Assim ao perceber o sonegado
Desejo aonde o nada sempre avança
O medo da fornalha e a temperança
O corte pelo tempo aprofundado,
Festejos entre mortos funerais
Os antros mais diversos e os chacais
Acasos entre falsa pedraria
E o tempo de seguir já se moldando
Aonde fora outrora noutro bando
A sorte morre em plena fantasia.

33663



Se eu trago no meu peito essa alvorada
Dispenso qualquer sol e beijo a lua
Desvendo cada fase em que cultua
A vida noutra face desmembrada
E o canto se mostrando em disparada
A porta se trancando perco a rua
O pântano desta alma continua
Palavra pelo tempo enlameada.
Arrisco alguma sorte morte ou tanto
Versejo na medida em que me espanto
Vestindo este momento sem sentido,
Jorrando dentro em mim o firmamento
O todo num instante se apascento
O mundo há tanto tempo revolvido.

33664


Que faz o meu viver iluminado
A velha cantoria aonde eu ouço
Respostas deste velho calabouço
Já há tanto dentro em mim e não notado
O cravo velho senso desbotado
O beijo em trajes novos, velho bolso,
E quando no presente sem embolso
O quarto da esperança eu vi trancado
Pedaços entre chãos mesclas de vida
E nelas se concebe ou não percebo
O quanto do que fora já concebo
E nada da verdade sendo urdida
Em fases discordantes e venais,
Assisto aos meus instantes germinais.

33665

O lacre destruído o temporal
O pântano que ainda abrigo aqui
O jeito mais sutil e me perdi
Do tempo escadaria sem degrau,
E nada do que tanto quis igual
Ou mesmo noutro encanto consenti
Ainda quando resta algo de ti
O medo se mostrara em ritual,
É cômodo seguir sem ter estrelas
E quando noutro fato posso tê-las
Ausentes dos meus olhos horizontes
Porquanto nada digo nem pudera
O beijo dita enfado e mostra a fera
E nela novos dias mais apontes.

33666

O corte, a morte, o sê-lo e o fim do dia
À parte do que tento nada mais
Pudesse se não fossem os iguais
Caminhos onde tudo moldaria
O parto sem descanso, outra agonia
A morte se aproxima do meu cais
E o cândido caminho, sem jamais
Saber se ainda resta a fantasia
Negar o contrapeso que hoje sou
Matando o que decerto inda restou
Deixando respirar e apenas isso,
O nada se mostrando indiferente
Porquanto novo rumo já se sente
E nele com certeza inda me viço.

33667




Decerto neste amor eu posso crer?
Jamais acreditando no vazio
O peso do viver se desafio
Gerando tolamente o nada ver
O quarto em abandono, sem querer
A ponta do punhal, navalha e fio
O jeito de seguir onde desfio
Meu pântano que passo a conhecer,
Servindo se pudesse em mesa farta
A vida noutro tanto já me aparta
E deixa mera sombra do que fui,
O gosto se arremete no passado
E o todo pelo vento apregoado
Enquanto o que inda sou, aos poucos pui;

33668

Resume minha vida num momento
O preço sem medida e sem remédio
Desaba dentro em mim o imenso prédio
E dele se percebe cada vento
O quanto da esperança não agüento
E vivo sem certeza morro assédio
E vendo novamente o mesmo tédio
Do qual seguira a vida em vão provento;
No pranto ou no sorriso me completo
E quando vejo o prato predileto
Tragado pela fúria de quem tenta
Vencer a fantasia com mortalhas
E assim entre cinzeiros tu me espalhas
A fonte se esvaindo vã sedenta.

33669


Momento de melhor te conhecer
Jogada pelos cantos desta casa,
Ainda quando o tempo não atrasa
A morte de tocaia passa a ver
O jeito aonde pode merecer
Um alimento a mais, e já se embasa
No corte feito em fogo fúria e brasa
Lateja dentro em mim até morrer.
Acasos não me dizem da verdade
E nada do que tento ainda invade
O passo rumo ao quanto poderia
Aonde fiz a cama, nada vejo
Sequer outro tormento em vão desejo
A noite se escorrendo sempre fria.


33670



Raiando nesse céu, no firmamento
A lua após o sol em brumas tantas
E quando novamente tu levantas
Ainda noutra face me apresento
Vestido de tortura e de lamento
As ondas entre areias desencantas
Ascendo ao que eu queria e logo cantas
Aumenta desta forma o sofrimento.
O deus que tu me deste, nada faz
Semente desairosa morta em paz
Farrapos entre trapos e mentiras
Assim ao me moldar com fúria e medo,
O quanto do que resta inda concedo
Porquanto toda a força tu retiras;


33671


Vaguei por quase todo esse infinito
Em sonhos, pesadelos, medos, risos
E quando me pensara em paraísos
Descubro esta ilusão terrível mito
Podendo desmentir prefiro e omito
Ainda não arcando os prejuízos
Em passos mais audazes e concisos,
Porém a negação me deixa aflito,
Resolvo com meus ermos a questão
E tanto posso mesmo em profusão
Falar do quanto pude e não sabia,
Após o terminar desta aliança
A morte no vazio já me lança
A noite eterna é dura amarga e fria.

33672



Em busca duma estrela que me desse
Quem sabe alguma luz em noite escusa,
O quanto da verdade a sorte abusa
E nada do que tanto se merece
Vencido pelo medo resta a prece
E assim no tanto quanto a vida acusa
Resisto e mesmo quando sonho a Musa
O quarto novamente se escurece.
Ajeito o travesseiro e beijo a fronha
A farpa se adentrando ora medonha
E o verso se tornando sem sentido,
O vento na janela me chamando
O mundo noutra face desabando
Meu porto há tantos anos já perdido.

33673



Amor maior, meu verso mais bonito
Pudesse te trazer, mas onde estás?
Não vejo sequer sombra mais audaz
Do quanto poderia ser o grito
Aonde se espalhasse no infinito
A voz de quem se mostre tão tenaz
O quadro se esvazia e busco a paz
E sei que na verdade é mero mito;
O fato de sonhar ainda impede
O vento que deveras retrocede
E deixa tudo aquém do que eu buscara,
A noite se aproxima e nada vejo
O beijo de quem tanto diz desejo
Escarra enquanto a vida se escancara.

33674


Que em tantas cores belas poderia
A noite que se note em nova face,
O passo rumo ao nada ainda grasse
Em plena tempestade em ventania
Agraciando o rumo aonde um dia
O medo noutro tanto gere impasse
O fardo carregado em desenlace
Apenas nova história mostraria
Jazigo da esperança em tal neblina
O sonho quando muito me alucina
E bebo em fartos goles tal seara
Criada pelas ânsias de outro tempo
E nele se moldando em contratempo
A morte que esta vida semeara.

33675




Depois de tanta queda e de tropeço
Cascalhos entranhados sob a pele
O todo noutra face me compele
E sei do quanto posso ou já mereço
A vida com certeza traz o preço
Do riso ou paraíso e já repele
Quem tanto realçando sempre apele
Porquanto esta mortalha eu mesmo teço
O básico do sonho é ser feliz
O cáustico caminho em que perfiz
A sórdida e venal vã caminhada,
Resisto enquanto posso ou mesmo além,
Mas sei do quanto o nada me contém
Seguindo sem sentir a leda estrada.

33676



Estavas bem aqui, desde o começo
E nada poderia desvendar
O traço aonde pude adivinhar
A morte à qual em luzes obedeço,
O vândalo sonhar que tanto apreço
Esconde dentro em si qualquer luar
E nele tantas vezes pude achar
O mundo sempre atroz e já do avesso,
Esqueço qualquer música e talvez
A porta descerrada onde não vês
Sequer a menor sombra do meu mundo,
E quando amortalhada voz se escuta
Ainda na verdade a fonte astuta
Na qual e pela qual enfim me inundo.


33677






De amores me perdera sem saber
Aonde mergulhar a estrela guia,
O vento se transborda e a ventania
Depois de certo tempo dá prazer
Aprofundando o corte no meu ser
A porta escancarada não havia
E tudo se fazendo em fantasia
O rumo pouco a pouco a me perder
Elejo entre meus dias o fatal
E sei do quanto posso em gestual
Seguir tranquilamente sem abalo
Mas quando me percebo de soslaio
Do todo apenas sou mero lacaio
E vendo a realidade enfim me calo.


33678



Percorro tantos astros que nem sei
Se ainda houvesse um ponto de chegada
A morte há tantos anos já traçada
O tempo que talvez nem mais terei
O quanto a cada ausência me estranhei
E vi depois do nada o mesmo nada
Aonde quis manhã ensolarada
Nas trevas e nos medos mergulhei.
Resido aonde pude acreditar
Nas ânsias e nos medos a vagar
Riscado desta agenda dita vida
Esqueço o que talvez pudesse ainda
Aonde a fantasia já não brinda
A cena há tanto tempo em vão perdida.

33679




De tudo que te falo, já me inundo,
E sei do quanto posso ou mesmo não
O mundo se mostrando em direção
Contrária ao que deveras num segundo
Pensara e sendo sempre um vagabundo
Riscando com palavras solução
Do medo aonde vejo a sedução
De quem noutro cenário é mais imundo.
Perpetuamente a cena feita em farsa
O medo de sonhar decerto esgarça
O passo rumo ao quanto pude ver
E toda esta mortalha assim tecida
A porta noutra face diz saída
E assim eu passo a vida, agora a crer.

33680



Da vida que sem tréguas eu busquei
Regada com o vinho da esperança
E quando a realidade enfim se alcança
Mudando desde agora norma e lei
O tanto quanto pude mergulhei
No beijo feito em dor e temperança
Assim ao procurar tola aliança
A morte num segundo desenhei.
Jogado pelos cantos simplesmente
Apenas cada dia volta e mente
Arremessando ao nada o que eu quisera
Aprendo mais depressa a me escoltar
Nos antros mais recônditos, luar
Tentando apascentar esta quimera.


33681


Paixão que me arrebata e me domina
Jogada pelos cantos desta casa
Enquanto a realidade se defasa
Apenas a ilusão expressa a mina
E nela toda a fonte que domina
Nascente feita em fúria medo e brasa
O porte mais agudo quando embasa
A vida noutra face se extermina,
Resolvo com mentiras os problemas
E quando na verdade ainda temas
Os dias que virão após o fim
Eu bebo cada gota que espalhaste
E sinto quanto enorme tal desgaste
Gerado pelo medo ainda em mim.

33682

Não deixa nem sequer achar o rumo
Quem tenta com terríveis heresias
Vencer estas cruéis hipocrisias
E nelas com certeza o todo assumo,
Vestido pelo medo não me aprumo
E quando novas noites tu trarias
E nelas outras sendas, fantasias
Além deste fantasma eu me acostumo
A crer no incomparável privilégio
De um mundo mesmo quando atroz ou régio
Tocado pelas ânsias mais fugazes,
Resisto plenamente enquanto posso
E tanto quanto fora teu e nosso
Os dias morrem longe destas fases.


33683


Perfumando tua alma cristalina
A face desmembrada do futuro
E nela novamente me procuro
Enquanto este retrato já domina
A cena aonde tudo se extermina
Até o mesmo chão vazio ou duro
E tudo noutro tanto me amarguro
Deixando para trás sonhos e sina
Fazer outro soneto simplesmente
Enquanto a realidade não ausente
E o mundo ainda possa ter um verso
Cadenciando a vida busco um par
E sei que na verdade vai chegar
Rolando sem sentido no universo.

33684



Retendo dos prazeres todo o sumo
Percebo quanto fútil fora a vida
E sei da mesma história repetida
E nela com ternura tudo assumo,
Jorrando dentro em mim, diverso fumo,
E o peso de sonhar ainda acida
E quando se pensara decidida
A dita se aprumando em novo rumo,
Refaço após pensar na calmaria
Ao menos minha morte assim se adia,
Urdindo algum momento em luz e paz
Ousando novamente tento um passo
E quando me percebo e me desgraço
Final já se esboçando e tanto faz...

33685

Amar demais passou a ser a meta
De quem se pensaria mais constante
A sorte muitas vezes fascinante
Enquanto a poesia não completa
A cena aonde outrora foi dileta
Agora nova escusa radiante
Moldando do cristal um diamante
Assim uma alma mostra-se poeta
Gerar doutro vazio eternidade
Rondando sem destino na cidade
Em bares e diversos sonhos ligo
O tempo ao que fora mais presente
E quando noutro tanto não freqüente
Sozinho sigo em paz, sempre comigo.

33686



Que traz o meu caminho mais florido
A sorte de saber aonde ausência
Pudesse novamente em florescência
Transcendendo ao que penso ora perdido,
Cortando a minha pele não duvido
Do quando ainda existe em rara essência
E nela não pudera com decência
Fazer outro momento ser sentido,
Legando ao que virá meu pensamento
E sei quanto é capaz o sentimento
E nele se prepara a morte em vida
Podando cada passo rumo ao nada,
A vaga sensação desesperada
Não deixa em labirintos a saída.

33687


Por isso em minha voz, canta o poeta
Enquanto adormecidas ilusões
E nelas mortos sempre os meus verões
Palavra com palavra se repleta,
O vento na janela, a velha meta
O tanto quanto posso e nada pões
De teu no caminhar entre as versões
Aonde toda a farsa me completa.
O pântano se erguendo em movediço
Caminho aonde tanto quero e viço
O risco de sonhar além ou tanto,
Peçonhas diluídas entre os medos
E assim ao perceber velhos segredos
Ainda sem descanso penso e canto.

33688


Sem amor nada faz sequer sentido
Ainda se fizesse não mais quero
E tento ser deveras mais sincero
Embora tenho tanto já mentido
O vento se espalhando é percebido
No quadro aonde mostro o riso fero
E assim sem ter caminho desespero
E bebo cada gota enquanto lido.
Relido caminhar entre fagulhas
E nelas outras vezes já mergulhas
Arcando com meus ermos e sem nexo
A vida não pudesse ser assim
O fardo se aproxima e mostra o fim
E nele cada dia desconexo.


33689


Amores percorrendo os universos
Aonde fiz a cama e não podia
Saber da madrugada atroz e fria
Gerada pela ausência de outros versos,
Medonha face vejo e me retrato
No especular caminho em dissonância
Ainda não pudera em discrepância
Trazer com dor e medo o mesmo fato
Prenunciando o fim da brincadeira
A boca escancarada escarra em mim,
E o corpo apodrecido no jardim
Deitando sobre a sorte, jardineira,
O verso sem sentido ou quase opaco
E o tempo dissonante; aonde estaco.

33690

Vibrando nos desejos dos meus versos
Os ventos em completa discordância
Aonde poderia em elegância
Sorver sentidos tantos e diversos
Não posso com palavras traduzir
O quanto sinto ou mesmo sentiria
Ainda quando a sorte é tão vazia
Ausente dos meus olhos o porvir
Escuto a voz do vento me clamando
E beijo ausente luz de quem não sabe
Bem antes que este todo já desabe
O tempo noutro mundo mais nefando,
Revejo cada farsa e em nada creio
Apenas coletando o meu receio.

33691


Nos braços mais gostosos deste mundo
Deitando quando posso e não pudera
Sabendo deste outono a primavera
E quanto no vazio me aprofundo
Vestindo o coração que é vagabundo
Da sorte quando a mesma destempera
E ainda navegando não se espera
Sequer outro momento e não me inundo
Do gozo mais perfeito ou mais atroz
Não posso nem deveras ter a voz
De quem se fez em luto e agora tenta
Vestir a fantasia de palhaço
O tempo quando ainda em vão eu grasso
Transforma quaisquer sonhos em tormenta.

33692



Pois sempre desejei estar aqui
Ainda que pudesse acreditar
Nas tantas heresias do luar
E nelas com ternura me perdi,
Vestindo cada sonho travesti
O mundo em dores fartas e a buscar
Aonde se pudesse algum altar
E nele com terror eu me prendi
Resisto o quanto posso, mas bem sei
Do tanto sem destino e me entranhei
Nas mãos incontroláveis da ilusão
Sorvendo cada gota no verão
E o peso cambaleia, mas se erguendo
Depois do temporal soçobra o barco
E quando no vazio ainda embarco
A morte já seria um dividendo.

33693

Não posso nem quero
Saber do final
Aonde esta nau
Num vento mais fero
Embora sincero
Naufrague em banal
Caminho venal
Ou mesmo se austero,
Resolvo o problema
E novo se tema
Aonde sem leme
O barco naufraga
Adentrando a vaga
Porquanto se algeme.

33694

Assisto ao penhasco
E beijo a tormenta
E quando não venta
Ainda sem asco
Pudesse o carrasco
Vencendo apascenta
Gerando onde alenta
Veneno em vão frasco,
Riscando do mapa
A corte me encapa
E beija este espaço
Aonde não pude
Final juventude
Assim me desfaço.

33695

Opacos noturnos
Em brumas e frio
O tanto vadio
Os passos soturnos
A vida em tais turnos
Ousando ao vazio
E perco e desfio
Aonde em diurnos
Momentos pudera
Saber da pantera
Ou quando não possa
Falar da promessa
Aonde tropeça
Gerando outra fossa.

33696

O beijo à vontade
O corte na face
A louca que grasse
Ou mesmo me invade
O jeito se agrade
E nele este impasse
Ainda que trace
A felicidade
Diz faca e promessa
O quanto se apressa
Ou mesmo não diga
O vento se espalha
A fome a batalha
Também desabriga

33697

Tocando de leve
O medo ou a vela
O tempo se atrela
E gera esta neve
E quando se atreve
Verdade revela
E nisto se sela
A cela mais breve
Revisto o passado
Aonde o traçado
Não pude seguir
Futuro sem sombra
A morte que assombra
Serve de elixir.

33698

Vital podridão
Acordo e revejo
O tanto prevejo
E mesmo senão
O corte do vão
Além deste ensejo
O mundo azulejo
Ou quedo no chão
Prenúncio de morte
Renúncia da sorte
E tanto pudera
Saber da fagulha
Aonde mergulha
Acordo esta fera.

33699

Jogado sem risco
O pântano em mim,
O vento onde vim
Porquanto se arisco
O quanto me arrisco
Ou mesmo se assim
Pudesse em carmim
O tempo o corisco
O jeito de rir
O medo de vir
Acordo negado,
Rondando esta intriga
Aonde prossiga
Sem medo ou pecado.

33700

Assisto ao programa
Da morte em sinal
Mesmo virtual
No tanto que clama
Acende esta chama
Afogo o final
Ascendo ao degrau
Invento outro drama
E tento ou disfarço
Enquanto se esparso
Não posso ou pudesse
Assim se moldando
O quanto é nefando
A morte oferece.

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