domingo, 16 de maio de 2010

33001 até 33050

33001

Viver felicidade aonde um dia
Pensara noutro rumo bem diverso
E tendo a companhia do meu verso
Ainda noutro tempo sonharia,
Vencendo com ternura uma heresia
De um mundo que eu conheço, mais perverso
E quando vasculhando no universo
Buscando estrela nova que me guia
Restando solitário coração
Depois de tantos anos, ilusão
Amortecendo a dor de um nada ter,
Quem tenta delirante novo rumo
Beber da tempestade todo o sumo,
Viver sem ter limites, o prazer...

33002

Sentindo sem limites o que quero
Vestindo a fantasia que me cabe
Bem antes quando o todo já desabe
Tentando pelo menos ser sincero,
O mundo se mostrando sempre fero
Ainda na verdade nada sabe
Nem mesmo quando a vida já se acabe
Ou tendo algum futuro regenero
Vestígios do passado trago em mim,
E renovando a vida chego ao fim,
Momento em amplidão e pequenez.
O quadro desenhado pela sorte
Transcende com certeza à própria morte
Eterno caminhar assim tu vês.

33003

Cantando abandonado pelos cantos
Ouvindo o mesmo choro do passado
E nele novos dias, rebuscado
Desejo se mostrando em desencantos,
Viola se fazendo em dor e prantos
Seguindo com firmeza o já traçado
Caminho percorrido ou desolado,
E navegando assim em claros mantos.
Tapetes onde piso da esperança
Levando por espaços mais distantes
E ainda se acredita em diamantes
Aonde no vazio a voz se lança,
Esqueço o que deveras poderia
Ser ainda resultado em noite fria...

33004

Ao menos não se vê mais poesia
Aonde no passado fora mote
E agora preparando novo bote
Apenas expressando teimosia,
O verso noutro verso se recria
E quando se prepara pro rebote
O tempo navegando já se esgote
E molde noutra forma a fantasia,
Soneto após soneto, nada vale,
O quanto a minha voz ainda fale
Ou morra solitária, tanto faz.
Cantando por cantar e nada mais,
Exposto aos meus desejos marginais
Ainda continuo, sou tenaz.


33005

Espero o que se espera e não se vê
Além desta ilusão vendida à prazo
Resulto do que fosse algum acaso
E vivo sem motivos, sem porque,
O quadro do passado se revê
Na foto condenada ao mesmo ocaso,
E quando ainda luto e já me atraso,
O todo que eu pensara ninguém lê.
Jogado pelos cantos, bebo um gole
Da sorte que decerto já me esfole
E trama com palavras doentias
Enquanto noutro rumo preferias
Saber dos meus cadáveres somente,
E assim à traição tudo apresente.

33006

Residualmente vivo a sorte ainda
E posso destroçar onde retrato
A vida sem limites, risco ou fato
O medo noutro tanto agora brinda,
E sabe a sutileza quase infinda
De quem já se percebe em tal maltrato
Vencido companheiro num destrato
A forma do passado se deslinda,
Engano o meu caminho com mentiras
Expondo-me decerto em tantas tiras
E logo nada mais teria aonde
O mundo sem respostas não me traça
Senão a mesma fúria em vil fumaça
Ninguém escuta a voz sequer responde...

33007

A solidão se mostra inteiramente
E nada posso mesmo ainda ver
Senão ausência atroz do bem querer
E abandonado assim ainda sente
O mundo desabando novamente
E tudo não podia mesmo ser
Quem sabe inevitável perecer
Do sonho com certeza não mais mente.
Não tendo outra saída, digo adeus
E creio que mergulhe em olhos teus
Até meu nunca mais, fatal e pálido
O sonho desejado, mera face
Do quanto o dia a dia ora desgrace,
E deixe este fantoche, quase esquálido.

33008

Amara simplesmente a vida inteira
E nada do que tanto imaginara
Fizera esta manhã decerto clara
A ponte destroçada, derradeira,
Quem faz de uma esperança a mensageira
Bebendo com terror se desampara
E morre sem sentir ou se prepara
Sabendo desta sorte corriqueira.
Selando com meu verso a realidade,
Apenas o vazio ainda invade
E tomo um novo porre, bebo mais,
Esta aguardente amarga, a tal da vida,
Tocando com horror em despedida,
Quebrando a cristaleira e seus cristais.

33009

Dar a volta por cima? Até tentei,
Mas percebendo a queda inevitável
E a fúria deste mar imaginável
Aonde uma tristeza dita a lei.
Restando quase nada inda plantei
Em solo que pensara mais arável
No fundo novo engodo e descartável
Caminho aonde tanto mergulhei.
Escuto a voz distante de quem tanto
Amara num instante e o desencanto
Lavara para longe e sendo assim,
O mundo ronda a morte e se anuncia
Na face mais atroz dura e sombria
Trazendo finalmente agora o fim.


33010

Tristezas coletando dos meus mundos
E vendo sem saber outro caminho
No quadro desenhado em dor e espinho
Os versos são tão meros, vagabundos,
E quando não pudesse mais imundos
Encontro o desalento e vou sozinho,
Nem mesmo da alegria me avizinho
Os dias demonstrados, moribundos,
E quando ainda tento alguma luz
Mergulho no vazio e se produz
Um tétrico espetáculo feroz,
Gritando sem sequer ser mais ouvido,
O tempo noutro tempo imiscuído
Jamais escutaria a minha voz...

33011

A noite comportando atrocidades
E bebo cada gole deste sonho
E sei que na verdade não componho
Senão as velhas vãs iniqüidades
Mergulho nos vazios, ansiedades
E quando nova mente eu me proponho
Sentindo-me deveras mais medonho
Distante dos meus olhos claridades,
Nem mesmo se acalmando em luz suave
O quanto poderia e já se agrave
Desertos acumulo dentro em mim,
As flores destruídas, nada resta
Somente a face amarga e tão funesta
Traçando o que vivera até o fim...


33012

Paixão após paixão, a vida segue
E nada mais terei senão tal fato
Guardado como fosse um vil retrato
Aonde na verdade não prossegue
Senão as velharias; sigo entregue
Aos meus demônios e desato
Os laços com o senso, e me maltrato.
O tempo no vazio já se empregue.
E o todo que buscara não resiste,
A morte se apontando agora em riste
E o fim do caminhar prepara a queda,
Aonde não se entenda além do vago,
E quando de esperanças eu me alago,
Realidade chega e tudo veda...

33013

Estradas sem destino, vago à toa
E quando a realidade se apresenta
Na tez mais dolorida quão violenta
O pensamento ainda sonda e voa,
Nefasto dia ainda em mim ecoa
E tanto quanto pode me apascenta
E nesta fantasia uma tormenta
Adormecida ainda sobrevoa.
No pasto dos meus sonhos, tolerância
E nada do que fora em discrepância
Gerando um prado manso e sem fastio.
Mas quando me percebo em solidão
Acordo e vejo enfim que fora em vão
O mundo aonde em versos desafio.

33014

Servido como fosse a sobremesa
Banquete de ilusões expondo a face
Aonde a fantasia já desgrace
Deixando-me levar em correnteza,
Ainda se prepara esta surpresa
E nela o quanto o sonho tolo grasse
Mergulha nos espectros deste impasse,
E morro sem saber sequer certeza.
Residualmente tento outro caminho
E vejo-me decerto mais sozinho
E nisto acreditando piamente
Estrelas, velas, barcos, mares, lua...
O pensamento doura e assim flutua
Enquanto o dia a dia me desmente...

33015

Restando a quem trabalha este desejo
De ao menos um descanso, de um carinho
Mas quando retornando ao velho ninho
Sequer a fantasia que eu almejo,
O mundo que pensara em azulejo
Traduz o dia a dia mais sozinho
E tanto poderia noutro vinho
Apenas se inda fosse algum lampejo.
Mas nada tendo em mim, mesquinharias...
E assim quando distantes poesias
Esqueço pouco a pouco do que sou,
Viajo por estrelas e cometas
E ainda que deveras me arremetas
Resíduo sem valor, mero, restou...

33016

Bebendo cada gota do veneno
Ainda que se mostrem soluções
Diversas das loucuras onde expões
Um tempo mesmo atroz, não concateno
Vitória nem sequer outro sereno
Enquanto não houver aqui verões
Inverno se mostrando em turbilhões
E neles cada passo eu me condeno.
Resisto vez em quando e até procuro
Vencer a solidão, saltando o muro
Por onde se desfia a falsa luz,
E quando assim porfio inutilmente
Verdade se apresenta e qual demente
Vertendo pela pele sangue e pus...


33017

Legado de um momento sem sucesso
O mundo não podia me trazer
Senão esta faceta em desprazer
Condena-se deveras ao regresso
Do todo e prosseguindo até confesso
O quanto nunca pude cometer
E quase misturando ao me fazer
Medonha face agora recomeço
E tento novamente ser feliz,
Mas quando esta verdade me desdiz
Não deixa sequer sombra de esperança
E assim sendo vazio e tendo apenas
Do quanto poderia, meras cenas,
Ao nada sempre ao nada uma alma lança...


33018

No todo de um caminho muita vez
Sensivelmente exposto às discordâncias
Ainda se buscasse ressonâncias
Aonde na verdade nada vês
Perceba quanto tempo se desfez
Diverso das loucuras, discrepâncias
E nestes caminhares vejo infâncias
Perdidas em total insensatez,
Mergulho nas lembranças que carrego
E vejo o meu destino onde navego
Sem ter sequer as tréguas necessárias,
As ondas retornando vez em quando
E o mundo noutra face se mostrando,
Antigas sensações imaginárias...


33019

Ouvindo a velha voz do meu passado
E não pudesse crer noutro caminho,
Singrando tempestades adivinho
O tempo noutro tempo disfarçado,
E quando não pudera ter ao lado
Sequer a sensação de algum carinho
Da morte com a qual eu me avizinho
Não deixo nem a sombra por legado,
Aprendo a navegar contra as marés
Ondeio em tais procelas, mas diviso
O mundo sem saber de algum juízo
Atado eternamente às tais galés
E nelas eu percebo o teu olhar,
Qual fosse estrela amarga a me guiar...

33020

Por onde desceria o pensamento
Se assim não fosse a vida, vil resina,
O quanto do passado determina
Ao menos o meu passo bem mais lento,
Por vezes eu andara em sofrimento
E quando esta verdade me domina,
Acendo meu viver em lamparina
E sorvo de uma infância meu alento.
O tempo foi cruel e me tomando
O resto do que eu tinha dominando
Assim o dia a dia em tez feroz,
Apenas aguardando fosse um rio,
Mergulhar onde aos poucos me esvazio
Tocando com ternura última foz.

33021

Fantoches simplesmente dizem tudo
Do quanto poderia ser assim
O mundo apodrecido dentro em mim
E quando ainda atento eu já me iludo,
Não quero acreditar no quanto mudo
Após a morte vir em meu jardim,
E toda a fantasia chega ao fim,
Decerto este caminho agora ajudo
E tento com cigarros e montanhas
Vencer estas partidas sempre ganhas
Por trevas entre luzes mais sombrias,
Prefiro um arremate com firmeza
A ter que prosseguir nesta incerteza
Tornando movediços os meus dias.

33022

Quem dera fosse ao menos concebido
Pra ter o privilégio de sonhar
E quando procurara descansar
Apenas noutra história percebido
Morrendo a cada instante aonde olvido
Do tempo mais sincero a se formar
Deixando para trás céu e luar,
O verso já não fora traduzido,
Tampouco alguma luz mergulharia
No vandalismo exposto nos meus dias
E ainda se pudessem heresias
Matando a insuportável fantasia,
Mas tudo ainda resta sobre a mesa,
A morte de bandeja é sobremesa...

33023

Pudesse ter ao menos piedade
E ver outro cenário mais diverso,
Assim não poderia crer no verso
E nele não saber fidelidade,
Mas tanto quanto quero esta verdade
Rondando sem saber este universo
Girando sem sentido, mesmo inverso,
Traçado com amor ou lealdade.
Resisto às tentações e vou sozinho,
Apenas não serei jamais mesquinho
Nem mesmo irei vender esta palavra,
A seca dominando o meu canteiro,
E tento ser decerto verdadeiro
Sabendo ser inútil minha lavra.

33024

Sentindo nos teus olhos caridade
Eu peço, por favor esqueça disto,
Eu penso e em conseqüência logo existo
Por mais que ainda quieto já não brade,
O bêbado caminho da cidade
Pesquiso e tento mesmo quando insisto,
Vencer o que pudesse e se desisto,
Não vale qualquer tom, tranqüilidade.
Extingo alguma forma de sonhar,
E tento mesmo sendo devagar
Tocar este horizonte após a lua,
No fardo tão comum em meu bornal,
A morte se aproxima, e é mais leal,
No derradeiro instante sempre atua.

33025

Eterno desengano doma a cena
E tudo não se vê senão retrato
Do tempo ainda quando me desato
Porquanto a própria vida me envenena.
A sorte se inda houvesse se apequena
E o beijo na verdade diz maltrato,
Já não seria tanto assim mais grato
Não fosse a poesia que serena.
Jargões diversos sei, tantos clichês
E neles com certeza tu não vês
Sequer a menor sombra do que fomos,
Risíveis madrugadas solitárias
Aonde se pensaram solidárias
Partindo para sempre tolos gomos.


33026

Eu sei que vez em quando sou bem rude
E não resisto ao fato de saber
O quanto se mostrara sem vencer
A minha doce e amada juventude,
Por mais quando decerto ainda mude
O passo não demonstra e nem faz ver
Realidade imensa e sem querer
Não tomará qualquer nova atitude.
Jorrando feito um poço em área nobre
O mundo pouco a pouco já descobre
O temporal vindouro, mas se omite
Assim também persisto em desventura
Enquanto a solidão teima e perdura,
Ultrapassando em mim todo limite.


33027

Procuro nesta vã imensidão
Traçar outro caminho, mais contente,
E sei o quanto a vida se apresente
Diversa desta intensa solidão,
Olhando para a fonte, na amplidão
Porquanto novo rumo na nascente
Disfarça a intensidade do poente
Causando logo após renovação,
E assisto ao meu caminho no teu sonho
Reflexo deste tom onde componho
A vida após saber do quanto vale
O risco de sonhar e mesmo assim,
Voltando ao meu princípio creio enfim,
Bem antes que minha alma já se cale.


33028

As velhas tábuas dizem solução
A quem neste naufrágio já se dera
Mergulho no passado e a primavera
Traduz com mais vigor do que o verão
O sonho de sobeja floração
E nela a nova vida se tempera
E todo o meu caminho regenera,
Deixando para trás velha estação.
Mas quando neste outono sinto o frio
Do inverno que deveras se aproxima,
Ainda mesmo quando não se estima,
Percebo a mutação do velho clima
E quando o meu futuro desafio,
Encontro tão somente este vazio...


33029

O mundo em que eu sonhara, soberano
Vencendo as intempéries costumeiras,
Traçando com ternura estas bandeiras
Deixando no passado o desengano.
Enquanto caminhando quase insano
Vagando pelas rondas estradeiras,
As portas se fechando, derradeiras,
Matando o que restara deste humano.
Retratos discordantes e complexos,
Os sonhos dos meus dias são anexos
E tanto poderia acreditar
No raio que não veio nem percebo,
Ainda da ilusão, inútil, bebo,
Porém no imenso céu, perco o luar...

33030

Negando melhor sorte, olhos fechados,
Deixando nos armários velhas fotos,
Momentos de alegria são remotos,
E os dias amanhecem já nublados;
Os sonhos na verdade se perdendo
E tudo transformando em solidão
Pudesse novamente outra versão
Do amor e do desejo percebendo
As gotas sobre o rosto me tocando,
Matando a minha sede num momento,
Depois sei que virá um desalento,
Porém ao menos tive este segundo brando.
Fechando os olhos vejo a face
De quem ainda ao longe, o sonho trace...


33031

Caminhos onde estrelas e tormentas
Misturam suas cores e seus brilhos
E quando os pensamentos andarilhos
Buscaram novas luzes, apresentas
Diversas ilusões e quando inventas
Mergulhos por diversos empecilhos,
Estrada que pensara em bons ladrilhos
Agora se mostraram violentas,
Não vejo mais sequer a imensa alvura
Aonde toda a sorte se perdura
Deixando este sombrio e vão cenário,
Aonde pude crer felicidade,
Não tendo solução que ainda agrade
Amar seria um mal tão necessário?

33032

Quisesse ter as flores mais augustas
Tocando o meu olhar em primavera,
Mas quando a própria vida degenera
Mesmo as felicidades mais robustas
Não posso mais arcar com duras custas
Tampouco novo tempo ainda espera
Quem sabe a solidão, cruel pantera
Na qual os teus demônios sempre incrustas,
Vencido pela ausência de esperança
Aonde quis lauréis já nada vejo,
Aproveitando assim um mero ensejo
A voz noutro vazio o mundo lança
Balanço entre o querer e o prosseguir
Sabendo que jamais vou conseguir.

33033

Apenas reverdecem outras sendas
Enquanto as velhas morrem neste outono,
E quando me percebo em abandono
Espero pelo menos que me entendas
E já que tuas mãos não mais estendas,
Eu vejo a solidão e ora me adono
A intensa fantasia busco ou clono
E tento disfarçar com frágeis vendas.
Não quero ter somente por acaso
O tempo além da rota, findo o prazo,
Jogado sobre os restos, fria escória
A morte se aproxima e me redime
Porquanto cada dia não exprime
Funérea madrugada merencória.


33034

Adentrando por tantas galerias
Buscando nestas furnas o que sou
E tanto no vazio se entregou
Quem sabe destas noites meras, frias,
E tento enquanto ainda não mais vias
Resisto e desta forma quando vou
Refém do quanto a vida me negou,
Expresso a solidão em poesias.
Na face decomposta vejo o quanto
Roubado dos meus sonhos qualquer canto,
Percebo a imensidão do nada ser,
E tudo se mostrando em tom cruel,
Aonde se buscara além do fel
Resisto muito aquém do bem querer.


33035

Distante do restante da alcatéia
Vagando em noite escura, pois brumosa
Alçando a tempestade em que se goza
A face desdentada da platéia,
O mundo como fosse podre idéia
Ao mesmo tempo enquanto caprichosa
Permite ainda mesmo assim a rosa
Até quando se trama em assembléia
A fonte inconseqüente não traria
A réstia de uma farsa em poesia
Na imensa cordoalha em que ora me ato,
O corpo dessedenta esta vontade
E teima contra toda obscuridade,
Mas sei o quanto é frágil meu regato.


33036

Assumo este papel de troglodita
E tento as panacéias sonegadas
Enquanto caminhasse por estradas
Tentando reverter a amarga dita,
E quando a lua imensa vem e fita
Deixando para trás as destroçadas
Imagens sem poder enluaradas
Portanto sem remédios, em desdita.
Ferocidade apronta esta armadilha
E enquanto a poesia ainda trilha
Caminho mais diverso, sigo o rumo
Do velho camarada abandonado,
E tento novamente ter ao lado
O engodo pelo qual em vão me aprumo.

33037

Atento às mutações do dia a dia
Não posso mais calar a minha voz
Ao ver a face escusa deste algoz
Matando em sacrifício a poesia,
No quanto é necessária uma harmonia
E o fato de ser tolo e até feroz,
Redime tantos erros, mas em nós
Apenas a verdade concebia.
Caduco verso feito em tons sombrios
E neles estas rimas, desafios,
Na métrica e num tom mais intimista
Eu tento desvendar este mistério
E sei quão duro vejo tal minério
Enquanto o meu olhar mais nada avista.


33038

Pessoas de Pessoa velhas luzes
E assim ao mergulhar no cancioneiro
Encontro ao fim da tarde este luzeiro
E nele cada cena reproduzes
Mudando de figura, velhas urzes,
Agora num instante costumeiro
Tentara ser do sonho um mensageiro
Herdando tão somente enfim as cruzes,
É certo que o futuro não se vê
Tampouco se percebe em tal clichê
Variações que possam me animar,
Residualmente tento alguma chance
E quando no vazio a voz se lance,
O resto vai ficando em seu lugar.


33039

Porquanto em solilóquio desconverso
E tento novamente ver por onde
A velha fantasia ora se esconde
Matando algum sentido no meu verso,
Eu sei que possa ser até perverso
Quem busca invés de nave, o velho bonde
Mas quando tanto entrave não responde
Ao quanto desejara ou mesmo verso,
No todo apodrecido, resta apenas
Ainda que sombrias, velhas cenas
E delas não recrio quase nada,
Quem dera renascer esta velhusca
Faceta, mas verdade logo ofusca
E a sorte se mostrara noutra estrada.


33040

Em nádegas pensantes vejo a vida
Tomando com terror maior espaço
E quando noutro intento ainda traço
Imagem se prepara em despedida,
Já dando esta partida por vencida,
Meu verso vai perdendo o seu espaço
E tento até vencer pelo cansaço,
Mas sei que a solução já foi urdida.
E como não consigo imaginar
A bunda num mais pálido pensar
Eu perco todo o tempo com a mente,
Quem dera se pudesse ter nas mãos,
Além da fantasia em tolos grãos,
Proeminência enorme e já pensante.

33041

Jogando minha vida neste esgoto
Por onde qualquer queda se imagina
Ao menos penetrando na latrina
Não vejo o mundo assim puído e roto,
O todo que pensara agora é coto,
E a sorte com certeza não domina
E tanto poderia noutra mina,
Porém vagina doma todo escroto,
E assim ao me pensar noutro caminho,
E vendo que deveras vou sozinho
Prefiro a consciência libertária
Embora claramente tenha nexo
Toda importância dada ao tal deus sexo,
Mas sei que uma mudança é necessária.


33042

Serpente que expulsou do paraíso
Casal sempre guloso e desejoso,
Quem sabe no final pagando o gozo
Perdera totalmente o seu juízo?
Assim quem paga a conta e o prejuízo
Quem anda neste mundo caprichoso,
E quando se percebe melindroso
O todo não domina qualquer siso,
Esqueço do final, não sei se ainda
A história recomeça ou lá se finda
Só sei que depois disso, nada presta.
O mundo foi virado já do avesso
E sei que na verdade o recomeço
Não deixa nem sequer ao menos fresta.


33043

Abraço-me ao que fora amor e agora
Não deixa qualquer sombra mais de sonho,
O tanto da verdade decomponho
Enquanto a fantasia me devora,
No tempo sem saber sequer demora,
A vida noutro tanto mais medonho,
Enquanto no passado eu já me enfronho
A sorte não percebe sequer hora.
Eu quero acreditar que a velha musa
Embora desdentada e até careca,
Nariz sempre entupido, uma meleca,
Não necessita mais tirar a blusa
Tampouco fazer cara de gostosa,
Por quanto a poesia o tempo glosa.

33044

Acendo outro cigarro e tiro um trago
Bebendo mais um copo da aguardente
Ainda o que me resta e se apresente
Embora garantido imenso estrago,
Demônios mais diversos eu afago
Arranco minha face e já sem dente
No olhar quase satânico, um demente
Riscando o velho nome, sigo gago,
E tento perceber outro momento
Aonde nada veja nem alento
E atento às tais mudanças principais,
Encontro qualquer sombra de um Noel
Vestida em Melancia, ou mesmo ao léu
Fazendo melodias nadegais.

33045

Pereço enquanto tento ressurgir,
E vejo a foto escura de um passado
Aonde noutro tempo desvendado
Jamais se pensaria no por vir.
E tento descobrir um elixir
Que faça meu futuro assegurado
Em troca deste verso bem rimado,
Tentando novo gozo permitir.
Mas como se não posso ver senão
A mesma velharia e desde então
Estou numa sinuca, das de bico,
Não sei se ao partir, deveras sigo,
Nem sei se aqui correndo me persigo,
Mas devo confessar, por mim eu fico.

33046

Jazigo da esperança? Nada disso,
Eu quero renascer e que se dane
Se a vida permitindo a nova pane
Traduz um caminhar mais movediço,
E quando novo tempo até cobiço,
Porquanto cada dia desengane,
O fato que deveras já se explane
Permite que se creia nalgum viço.
Escapo da mesmice quando invento
E tento ser diverso de mim mesmo,
Por isso é que bem sei quando ensimesmo
Às vezes eu me torno mais sedento,
E cedo quando vem a primavera,
Deixando a velha dor, em longa espera...


33047

Das tantas persianas da janela
Subindo os corrimões da velha escada,
Aonde imaginara madrugada
Apenas a fumaça se revela,
E tanto poderia noutra cela
Embora seja assim sempre fadada
Uma alma noutro rumo ou caminhada
Enquanto a fantasia não se sela.
Azedo-me com versos vez em quando
E tento algum sorriso, sem sarcasmo,
Há quanto já nem sei sequer o orgasmo
E o tempo ora pressinto se acabando,
Tomando mais um gole de café
Procuro manter viva a minha fé.


33048

Sou chato como deve sempre ser
Quem tenta descobrir e nada encontra
Não é que na verdade eu siga contra
A correnteza e nada possa ver,
Só sei que a poesia dá prazer
E quando a realidade desencontra
Qual peixe se escondendo de uma lontra
Eu tento com palavras proteger
Caquética figura do soneto,
E nela não se vê senão tais ossos
Resume-se em verdade nos destroços
Por isso vez em quando me arremeto,
E tento defender este defunto,
Mudando de conversa, mesmo assunto.

33049

Às vezes eu me sinto um paquiderme
E piso sobre todos os que vejo,
No fundo aproveitando algum ensejo
Perceba ser apenas quase inerme,
Assim arrepiando uma epiderme
A fonte inesgotável do desejo
Mostrando esta nudez raro lampejo,
Eu volto a ser deveras tolo verme.
E sei que isto te traz futilidade
Embora tenha alguma utilidade
O fato de ser mais que fantasia,
Mecânicas à parte sigo em frente
E quando me pressinto mais presente
A história noutra face se esvazia.

33050

Deixara de pensar em ser embuste
O fato de saber de um tom poético
E sei que inda pareça mais patético
Sabendo quanto mesmo ainda custe
Voltar a ser deveras mais macio
O coração pesado em dores feito,
E quando bebo a lua mal me deito,
O tempo de sonhar teimo e recrio,
Mordaz realidade traz à cena
O quanto nada disto mais importa,
Apenas arrombar decerto a porta
Enquanto a fechadura o tempo empena.
Assim ao se mostrar mais realista
Um horizonte turvo já se avista.

Nenhum comentário: