sábado, 22 de maio de 2010

33751 até 33800

33751


Renasce nos teus olhos, sim, querida
A lua em noite imensa, mas cruel,
E quando se perdendo ronda o céu
A sorte se prepara em despedida,
Audaciosamente já perdida
Minha alma vaga alheia segue ao léu
E tenta prosseguir no seu papel
Porquanto ora se ausenta a minha vida,
Não vejo mais a chance de voltar
E ter nos meus caminhos o que eu quero
O tempo se mostrando amargo e fero
Deixando para sempre este lugar
Aonde poderia ser feliz
E agora vira mera cicatriz...

33752


Como é bom poder sempre, enfim te amar
Pensara quando um dia vira o brilho
E agora tanto medo, este empecilho
Não deixa restar nada no lugar,
Escrevo com a dor cada momento
E tento disfarçar até sorrindo
E quando vejo o tempo curto e findo
Apenas entranhando o desalento
E arrisco alguma lua em noite escura
O vago caminhar não me permite
E tudo se transforma e num limite
Vazio toma a sorte e ali perdura,
Não pude ter além de uma ilusão
E agora sigo só sem direção.

33753

Encontrei, em ti felicidade
E tudo poderia ser retrato
De um dia mais sublime, mas sei de fato
O quanto na verdade se degrade
O passo aonde tanto quis um dia
Vibrar em plena luz, mas nada veio
E quando se percebe o olhar alheio
A vida sem caminho se esvazia
E o templo que gerara em pensamento
Altar aonde pude crer num sonho,
Agora noutra face mais medonho,
Transforma qualquer luz em desalento
E tento respirar, mas não consigo,
O mundo se perdendo em desabrigo.


33754


Tantas vezes choraste pelas ruas
Tocada pelos raios desta musa
Que agora ao ver de longe vai confusa
Enquanto nos meus sonhos tu flutuas,
Ainda sigo aquém das tantas luas
E toda a minha sorte em vão se cruza
Com farto descaminho enfim obtusa
E nada do que espero inda cultuas,
As mesmas noites vendo o dissabor
De quem se fez outrora em farto amor
E agora não tem mais sequer caminho,
Aonde poderia acreditar
As ânsias mais audazes do luar
Enquanto vago ledo, vão, sozinho...


33755

Nos erros cometidos, por amor
Insisto em procurar alguma luz
E quando na verdade ao bem me opus
E neste fato vejo a se compor
A vida noutro tanto em dor intensa
Vencido pela angústia nada levo
E quando noutro verso até me atrevo
A dita não traduz a recompensa
E quase acreditei no tal engano,
Cenário mais propício, novo dia,
Apenas mera sombra e poesia
Coleto novamente medo e dano,
Minha alma carcomida segue alheia
Felicidade é tudo o que inda anseia.


33756

Incrível; mas eu sempre me perdi
Nos rumos destes sonhos mais audazes,
E quando novamente tu me trazes
O tempo se esvaindo e estou aqui,
Emudecido agora não consigo
Vencer os meus fantasmas e me entrego,
O quanto fora em vida atroz e cego
A sorte desdenhosa nega o trigo
E apenas tanto joio dentro em mim,
Pudesse acreditar na primavera,
Mas quando a vida surge amarga e fera
Traçando a cada dia mais o fim,
O peso de viver não mais suporta
Uma alma já cerrada a sua porta.

33757

Tentando não causar nenhuma dor
A quem se fez presença, mas não vindo
Deixando para trás o mundo lindo
Causando tanto medo e dissabor,
Pudesse ainda mesmo em flor e festa
O fato de sonhar inutilmente,
A vida noutra face se apresente
Permita à claridade ao menos fresta
Negando melhor sorte a quem se fez
Estúpido poeta e agora esvai
Enquanto a vida avança e o tempo trai
Só resta dentro em mim a insensatez.
Jogado pelos cantos desta rua,
Olhando sem respostas para a lua...


33758

Se eu faço do meu verso uma quimera
Ou mesmo me poupasse da verdade,
O fato é que poder tranqüilidade
Talvez já não consiga nem se espera
Medonha luz em noite consagrada
Aos sonhos mais audazes e prolixos
Porém olhos cansados, ledos, fixos
A carpideira sorte adivinhada
Nas trevas e nos medos contumazes
Assisto à derrocada e nada além,
O medo tão constante sempre vem
E deixa para trás enquanto trazes
Sorrisos de ironia em plena festa,
E a morte a cada dia o que me resta.


33759

Desculpe nunca quis te machucar
Nem mesmo poderia crer no fato
Aonde cada dia me maltrato
E beijo as ânsias tolas devagar,
Resisto no passado e nada vejo
Sequer a menor sombra de esperança
E quando noutro fardo já se lança
Quem fora simplesmente vão desejo
Impera sobre mim o temporal
E nele cada gota se mostrando
Cenário costumeiro, mas nefando
Um fúnebre e terrível ritual.
E toda a sorte perco neste instante
Olhando para trás, nada adiante...

33760

A vida quando em lágrimas tempera
Caminho aonde quis ser mais contente
No fato de sonhar já se consente
O peso que deveras gera a fera
Negando deste o início soluções
E nelas as verdades mais argutas
Enquanto novamente tu relutas
E vejo o quanto ainda tanto opões
Não posso descartar o fim da história
Medonhamente bebo esta agonia
E quando o velho sonho a vida adia
A porta se tornando dura e inglória
Resisto o quanto mais inda consigo
O olhar se perde além, cenário antigo...

33761


Eu tenho um sonho ainda e se o acalento
Talvez eu possa mesmo inda viver
Depois de tanto tempo a me perder
Entregue sem sentido ao léu e ao vento
Cevando tão somente o sofrimento
Semente de um amor eu posso ver
E assim quem sabe, ao menos, reviver
Nem que se seja quem sabe um só momento,
Viver esta alegria e ter nas mãos
Os dias entre festas, mas bem sei
O quanto os sonhos seguem sendo vãos
E neles a verdade não se esconde,
Procuro disfarçar, mas sei que errei
Só não mais saberei dizer aonde...


33762

Quem sabe em novo dia ser feliz?
Pudesse acreditar nesta tolice
A vida tanta vez inda cobice
Aquilo que decerto já não diz
O coração etéreo do aprendiz
Cansado de viver tanta mesmice
Porquanto este caminho persistisse
Diverso do que tanto sonho e quis,
Não vejo mais talvez alguma chance
E mesmo que esta estrela o sonho alcance
Distante dos meus olhos, fugidia
Eu sinto que será mera aventura
Depois de quanto tempo em vã procura
Felicidade? Apenas fantasia...

33763

À noite tudo muda num segundo,
Adentro o paraíso feito em sonho
E até um novo tempo recomponho
Enquanto de ilusões bebo e me inundo,
Assim ao mergulhar em novo mundo
Percebo um quadro claro e mais risonho
Diverso deste vago em que me enfronho
Nas sendas da emoção sim, me aprofundo
Depois a manhã volta e nada traz
Somente este vazio tão tenaz
E tudo recomeça em tal rotina
Pudesse ter em mim o sono eterno
Assim aplacaria o triste inverno
Que a cada amanhecer vem e domina.


33764

A fantasia apenas me redime
Dos ermos e vazios que percorro
E quando nestes sonhos me socorro
Momento mais feliz que uma alma estime,
Qual fora um condenado em tolo crime
A sorte percorrendo ausente morro
No vento mais distante, ledo, eu morro
E assim toda a tormenta se suprime,
Quem sabe no final alguma luz
Ou mesmo a sensação de liberdade,
Porquanto cada dia desagrade
Talvez a tal tormento eu faça jus?
Só sei que me perdendo em solidão
Aguardo pelo menos redenção.

33765


Amor que jamais veio ou não viria
Tocar os pensamentos de quem tenta
Vencer em calmaria esta tormenta
Tornando mais feliz, quem sabe, o dia.
O quarto abandonado não traria
Senão a mesma dor que me freqüenta
E assim quando se vê a alma sedenta
Bebendo desta noite amarga e fria,
Eu creio noutro tempo, mas bem sei
Que tanto no vazio eu mergulhei
Até que não restasse sequer sombra
De um tempo mais feliz, ou mais suave,
Porém esta rotina tanto agrave
Fantasma da ilusão que vem e assombra...


33766

Carinhos que se buscam com ternura,
Assim os velhos sonhos, juventude
A vida a cada ausência já transmude
Deixando para trás mansa candura,
E quando novamente se procura
O todo que perdi, tento a atitude
Que possa me trazer a plenitude
Diversa desta vã, torpe loucura.
Apenas ser feliz e ter nas mãos
Ausente dos meus dias tantos nãos,
Riscando cada lua em claro céu.
Mas sei do quão inútil procurar
Na ausência de caminho, e sem lugar
Seguindo sem destino, vago, ao léu...

33767

Um manso beijo é tudo o que mais quero
Tocando a minha face com carinho,
Quem tanto se acostuma a ser sozinho
Vivendo um mundo ausente e mesmo austero
No sonho em que feliz eu me tempero
Mudando neste instante o meu caminho
Qual fora um libertário passarinho
Enquanto em asas sigo, me libero
E tento procurar algum alento
Entregue sem saber, solto no vento
Vagando por espaços siderais,
E quando me transtorna a fantasia
Realidade volta e da alegria
Os dias se repetem tão iguais.


33768

Acordo e se repete a mesma história
O tempo não diz nada diferente
Por mais que outro caminho ainda tente
A sorte se reflete, merencória,
Rendido pelo tempo a vida inglória
Ainda quando um brilho se apresente
De tantas ilusões seguindo ausente
Apenas mera sombra na memória.
O fardo de viver já não suporta
Uma alma que mantendo aberta a porta
Jamais conhece amor, tola visita,
E tenta acreditar num novo dia,
E quando amanhecendo já se via
Sozinho, mesmo o sol intenso evita.

33769


Sonhara com os prados verdejantes
Em flórea maravilha a vida feita,
Mas quando a solidão já se deleita
Tocando os meus caminhos delirantes
Aonde se pensaram verdejantes
As horas noutra senda ora desfeita,
Apenas poesia ainda aceita
Os templos onde em luzes me agigantes,
Não quero acreditar e nem pudera
Na vida sendo assim, tola quimera
Trazendo tão somente a solidão,
Buscara pelo menos algum cais,
O tempo me responde e nunca mais
As alegrias mortas voltarão...


33770

Quem dera perfumasse o meu caminho
As rosas que cevara com afeto,
E quando noutro rumo me completo
Percebo quanto é duro ser sozinho,
Procuro qualquer luz e não me aninho
Senão na mesma ausência e assim deleto
As doces ilusões e de concreto
Somente a eterna falta de carinho.
Das tantas emoções já prometidas,
Apenas as mortalhas que tecidas
Por mãos tão caridosas e cruéis
Retratam o que fora um sonhador,
Perdendo a cada instante o bom do amor,
Herdando desta vida apenas féis...

33771


Saudade se perdendo nos confins
De uma alma que procura a paz e nada
Do quanto desejara em voz calada
Traçada desde sempre em vários fins,
Os dias entre tantos se perdendo
No vento ao mesmo tempo mais venal
O gosto de um prazer residual
Apenas um momento e assim desvendo
O quanto imaginara ser feliz
E nada além de torpes esperanças
E quando na saudade ainda avanças
O tempo na verdade já não quis
Senão a mesma ausência e dela eu vejo
As sombras do que fora um vão desejo.

33772

Minha alma se transborda em solidão
E trama novo tempo aonde um dia
A sorte com certeza mudaria
Tramando com ternura a direção,
Mas quando me percebo e o mesmo não
Aprofundando em mim tanta agonia
Felicidade apenas utopia
Bem sei que novos sonhos moldarão
A tela aonde assim eu me preparo
Ao fim embora seja bem mais claro
O fato terminal que redimisse
A vida de um poeta, um sonhador,
Envolto pelas teias de um amor,
Que ao fim se demonstrou mera tolice...

33773

Apenas eu proponho ao fim da vida
Momento aonde eu possa crer no fato
Do amor aonde às vezes me maltrato,
Mas sei se apresentar como saída
Das tantas dores quando a sorte urdida
No peso de um passado duro e ingrato,
Queria a placidez de algum regato
Porém esta seara está perdida,
Não vejo mais sequer uma esperança
O gosto de mudança já não sinto,
O amor há tanto tempo vejo extinto
Enquanto para a morte a vida avança
E resolutamente mato em mim
O que inda recendesse a algum jardim.

33774

Pudesse ter um sonho e nada além
Deste momento em glória, mesmo falsa,
Uma alma sem destino se descalça
De tantas ilusões que inda contém,
Depois de tanto tempo sem ninguém
Caminho mais diverso um sonho inda alça
Qual fora em mar revolto, alguma balsa,
Naufrágio se mostrando ali, porém.
Ocaso de uma vida feita em tantas
Ternuras e terrores, costumeiros,
Os dias sendo agora os derradeiros
E neles com terror tu me adiantas
Cenários degradantes de quem sabe
Que o mundo, com certeza não lhe cabe.

33775


Pudesse caminhar e ter ao lado
Os dias entre luzes, rara fonte
Do amor tomando todo este horizonte,
Num verso ainda em luz anunciado,
Mas quando a vida traz o seu recado
No sol que com certeza não aponte,
Eu rompo com meus sonhos qualquer ponte
E sinto este caminho abandonado,
Vencido pela angústia de saber
O quanto não conceba o bem querer
Depois de tanta luta, atroz e inglória
Resido no passado de onde eu vim
E o mundo se afastando assim de mim,
Somente mera sombra na memória.


33776

Quem dera se eu pudesse estar contigo
Vencendo os desafios mais atrozes,
Assim os nossos rios, mesmas fozes
Enfrentariam juntos o perigo
Do quanto desejara e até persigo
Enquanto os dias seguem quais algozes
E tento ouvir ainda antigas vozes
Gerando após a chuva um claro abrigo,
Amigos e parceiros de uma vida
Que agora se percebe em despedida
Deixando esta lembrança tão somente,
O ocaso se aproxima e nada vejo,
Somente a mera sombra de um desejo
Ainda que sonhar, minha alma tente.


33777

Onde eu encontrarei felicidade?
Não posso e nem consigo adivinhar,
O mundo vai girando sem pensar
Enquanto a própria vida se degrade,
Restando dentro em mim tanta saudade
Vontade de poder recomeçar
De tanto que aprendi, jamais errar
E ter todo este bem: felicidade.
Não posso resumir em outra forma
O mundo que deveras a alma forma
E trama como fosse solução,
É tarde, reconheço, mas pudera
Matar este terror, fria quimera,
Gerando novamente este verão.


33778


Se por tanto tempo já sofri
E agora procurando remissão
Dos erros cometidos desde então
Encontro o que procuro, amor, em ti,
Depois de tantos anos percebi
O vento noutro rumo e direção
Um velho timoneiro, embarcação
Uma ilha tão distante agora eu vi
E sei que jamais posso ancoradouro
O amor quando se perde em nascedouro
Jamais recuperando o seu caminho,
E assim da solidão, velha e fiel,
Encontra novamente o seu papel
E apenas no jamais feliz me aninho.

33779


Na vida, procurando a claridade
Depois de quase cego, sem sentidos,
Os dias entre nuvens esquecidos
Apenas a saudade forte brade,
O quanto poderia em qualidade
Vencer os meus temores percebidos
Nas ânsias mais doridas, tempos idos
E neles não se vê tranqüilidade.
Resumo o dia a dia na rotina
De quem se quis além e nada existe,
O coração persiste amargo e triste,
Apenas ilusão volta e domina.
Quem dera se pudesse reviver
Os dias que jamais eu pude ter.


33780

Depois de tantas dores, sofrimento
Batendo novamente em minha porta,
Minha alma a fantasia ainda aporta
E tenta neste sonho algum provento,
E quando do passado me alimento
O frio adentra umbrais e tanto corta,
A sorte na verdade não importa
Meu mundo se resume num lamento,
Ausente do que fora uma esperança
Ainda viva em mim leda mudança
Tramada pelas mãos de uma ilusão,
Aprendo vez por outra até sorrir,
Mas sei do quão vazio é meu porvir
Em dores, sofrimentos, provisão.

33781


Agora irei vencer essas tristezas,
Depois de tanta luta em noites frias
E quanto mais atrozes fantasias
Maiores os meus medos e incertezas,
Os dias em diversas naturezas
E nelas cada tempo me trarias
Diversas faces risos e agonias
Estrelas variadas em grandezas,
As sombras do que fui ainda sinto
Aonde pensaria agora extinto
O tempo em vendaval já se aproxima,
Mas sei das intempéries costumeiras
E tento novas luas, derradeiras,
Tentando apaziguar instável clima.

33782



Soltando minha voz nesse lamento
Eu bebo da esperança mais cruel,
E sei o quanto ausente cada céu
No qual e pelo qual eu me alimento,
O quadro se desenha em desalento
O peso de viver se torna fel,
O gesto ritual, mesmo papel
Tocado pela angústia, velho vento,
Levado para além do que eu pudera
E tanto inda queria a primavera...
Não vejo soluções, mas mesmo assim
Alguma voz reclama em tom mais grave
Porquanto a própria vida o sonho entrave
Eu tento a solução vagando em mim...


33783

Buscando teu olhar nas redondezas
Aonde nada vendo nem se crê
Na vida sem motivos sem por que
E assim os meus caminhos, meras presas
Dos sonhos mais atrozes e doridos,
O resto desta estrada em medo e treva,
Aonde esta incerteza já me leva
Tocando com terror os meus sentidos,
Mas nada se aproxima do que um dia
Pensara ser mais forte e mesmo assim,
O vento dissolvendo trouxe o fim
E nele a fantasia ainda adia
O quadro terminal de quem se fez
Além de qualquer brilho ou sensatez.


33784

Vivendo sem saber sequer sorrir
Não posso nem procuro outro cenário,
O mundo muitas vezes temerário
Ausente dos meus dias o porvir,
O quanto tento mesmo redimir
O vento se mostrando vil corsário
O corte se aproxima e é necessário
Sonhar senão a morte irá bramir
Toando em sintonia com a vida
Lamentos em tormentos, nada mais.
O verso transbordara em ilusão
Agora sem saber de solução
O mundo se perdendo em vendavais...


33785

Passando pela vida sem viver
Seguindo sem sentido a caminhada
Sabendo no final, o mesmo nada
Por onde tantas vezes pude ver
Ausência do que possa amanhecer
Deixando mais tranquila a minha estada
Na vida sem destino, abandonada
Nas sendas tão dispersas do querer.
Resumo a cantoria em ladainhas
E quando ainda em sonho ao longe vinhas,
Apenas um espectro sem sentido,
O corte se aproxima da medula
A morte quanto muito me estimula
Caminho agora eu sei já resolvido.


33786


Será meu Deus que posso Lhe pedir
Apenas um momento feito em paz?
O quanto do meu tempo ainda traz
O gosto deste encanto, um elixir
Que possa redimir quem tanto quis
E nada conseguira pela vida,
A porta se mostrando sem saída
Do todo que vivera, cicatriz,
O fardo de sonhar pesando tanto,
E quando noutros sonhos me adianto
Eu bebo desta fonte em água imunda
O tempo nega a sorte que eu buscara,
A vida se transborda em tal seara
Aonde a solidão, imensa, inunda.

33787

Amor que sempre sonho conhecer
Nos antros mais atrozes do meu peito
E quando em solidão, inda me deito
Ausente dos meus olhos o prazer,
O todo se ausentando posso ver
O quadro da esperança já desfeito,
Mas sei que este percalço ainda aceito
E bebo da esperança até saber
Inutilmente o fardo que traduz
Meus olhos se negando à própria luz
A vida não transmite segurança,
O quarto ora vazio e em meus lençóis
Distantes destas luas, sem os sóis
Apenas ao não ser a alma se lança.

33788


Agora, nessa noite sem abrigo
Depois de tanta luta, dura e atroz,
O quanto poderia ter a voz
Mais forte e com ternura, não consigo.
Amar e ter ao menos a certeza
De um dia mais feliz, suprema sorte,
Sem ter qualquer carinho que conforte
Apenas me sentindo mera presa
Dos sonhos e magias mais freqüentes
Os tempos se renovam, mas sozinho
O quanto poderia em meu caminho,
Mas sei que novamente já te ausentes
E segues tua estrela tão diversa
Da minha que sem rumo se dispersa.


33789

Meu céu se iluminou: sonhei contigo
E fora um sonho bom, quase acalanto
E quando novamente ainda em tanto
Brilhar encontro o sonho que persigo
Acreditando até noutro cenário,
Mas quando amanhecendo e me percebo
No quarto aonde em trevas eu me embebo
Persisto o meu caminho, solitário.
Resumo de uma vida e nada mais,
Um nome se perdendo nesta estrada
Uma alma representa quase nada,
E o quanto poderia; sei jamais...
Assim persisto em sonho e nesta ausência
De vida é o que inda resta. Paciência...

33790


As cartas que mandaste no passado
Guardadas na gaveta da lembrança
E quanto mais o tempo ainda avança
Meu mundo também sinto ali guardado,
O vento noutro tanto desviado,
A sorte condenando outra mudança
E nada do que mostre temperança
O resto do caminho, sempre errado,
Herdara esta ilusão na juventude,
Porquanto o tempo mesmo atue e mude
Das rugas, velhas marcas, e deslizes,
Minha alma revivendo em cada carta
Desta realidade amarga já se aparta,
Meus olhos por momentos são felizes...



33791


Guardadas na gaveta da memória
Palavras entre noites deslumbrantes
Momentos maviosos por instantes
A vida se tocando em plena glória
Resumo o meu caminho na esperança
De um novo amanhecer, mesmo que seja
Apenas ilusão. Do amor a igreja
Aonde a minha fé ora se lança
E sinto que inda possa acreditar
Num dia em que talvez inda mereça
A sorte desejada e assim esqueça
A morte já cansado de esperar.
Porém esta emoção que se prometa
Guardada simplesmente na gaveta..


33792


São flores que cultivo em meu jardim
As noites onde um dia acreditara
Na lua imensamente bela e clara,
Dos sonhos o pavio, um estopim...
O tempo transformando este cenário,
Mas guardo esta emoção mesmo distante
E quando novo dia se adiante
Por vezes entre nuvens, temerário
Eu volto a reviver esta alegria
Que tanto me fez bem e inda me faz,
Revivo este momento em plena paz,
Regando com ternura a fantasia.
Jardins abandonados pela vida,
Porém na tempestade, uma saída...

33793

Trazendo tanto lume em minha história
As horas que vivemos, claras sendas
E quando novos dias inda estendas
Tramando com brandura esta memória
Da vida noutra vida resumindo
O mundo mais tranqüilo e mais suave,
E quando a tempestade mais agrave
Renasço de um passado claro e lindo
E tento algum sorriso, mesmo quando
A porta se fechara e nada vejo,
Somente a solidão, mas neste ensejo
O tempo novamente renovando
Um brilho sem igual diz do passado,
E nele novo sonho fomentado...

33794

Nossas fotografias, amareladas
Traduzem muito bem a minha vida,
E quando se prepara a despedida
Depois de tantas noites acordadas,
Resumo num soneto o quanto espero
De um mundo em que meu sonho reproduza
A vida sem terrores, sem escusa
E tento a cada dia mais sincero
Momento em alegria descoberto,
Mas sei quanto se faz dura a vida quando
Inverno se aproxima e já nevando
Do fim em treva e medo ora me alerto,
O todo que pensara e não havia
Tão degradado, atroz fotografia...

33795


Lembranças desse tempo mais feliz
Aonde a sorte disse da promessa
E quando a realidade se confessa
Diversa do que tanto busco e quis,
Eu tento resguardar esta esperança
E nela me alimento quando possa
A vida ressurgir da velha troça
E ao mais sublime encanto em vão se lança.
Resumo em melodias, sonhos, fatos,
E tento reviver o que perdi,
Voltando vez em quando vejo em ti
As sombras do que fomos, vãos retratos,
E bebo desta fonte embora a vida
Há tanto se promete em despedida...


33796

Cadeiras debruçadas nas calçadas
Falando deste tempo que não volta,
Minha alma se entregando com revolta
Procura as esperanças já mofadas
Os olhos numa ausência mais tenaz
O medo decorando o quarto e a sala
Ausente de alegria já se cala
Enquanto este vazio ora se faz,
Medonha face exposta da verdade
E nela não percebo qualquer luz
Ainda pesa em mim a imensa cruz
Porquanto cada passo enfim degrade
O quanto que restara da alegria,
E há tanto sem destino se perdia...


33797


Conversa que se vai e solta ao vento
Traçando outros caminhos mais diversos
E assim ao perceber inúteis versos
Encontro tão somente o desalento,
E quanto tento mesmo ser feliz,
O fardo se acumula e nada resta
Do todo imaginário sequer fresta
A vida a cada instante contradiz
O passo rumo ao tanto e sem saber
Mergulho nesta insânia dentro em mim,
Tentando reviver este jardim
Que eu sinto com o tempo perecer,
Mantendo-te mais viva na memória
A noite se apresenta vã e inglória...


33798

Tantas saudades carrego em minha alma
E nada pode mesmo transformar
O sonho que buscara sem pensar
No quanto a solidão devasta a calma,
O tempo sem limites, sempre passa
A cena revivida nada traz
Senão esta figura hoje mordaz
Rondando o dia a dia, sorte escassa,
O cada noite vejo este fantoche
E quando me percebo em solidão,
Olhando para os lados, a visão
Terrível e sofrida de um deboche,
Pudesse acreditar em novo sonho,
Mas quando acordo, um mundo atroz, medonho...

33799

Desse tempo esquecido, do passado
Sequer a menor sombra me acompanha,
Além do meu olhar cada montanha
Trazendo no seu cimo, este nevado
Retrato do que fora a minha vida,
Na falta de esperança, em desalento
E quanto mais atroz, feroz o vento
O tempo se transforma e assim agrida
O velho caminheiro da esperança
Amortalhado e quieto no seu canto,
No quarto abandonado em dor e pranto
Apenas o vazio já me alcança
E deixa esta semente em tom nefasto,
Do resto de alegria assim me afasto...

33800

O vento da lembrança já me acalma
Porquanto mostra a cena onde um dia
O mundo noutra face mostraria
O quanto fora viva esta turva alma,
Mas quando a noite chega em brumas fartas
As horas se perdendo em turbulência
O amor já não teria esta inocência
E dele sem sentir também te apartas,
Os dias desta tensa juventude
Agora se mostrando mais atrozes
Os vendavais terríveis, os algozes
Impedem a esperança e nada ilude
Tampouco a maravilha de sonhar,
As nuvens impedindo algum luar...

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