33101
A lua se derrama sobre a praia
Tocando com ternura a pele nua
Da deusa que deveras continua
Enquanto esta beleza já desmaia
A vida noutra cena ora se espraia
E quando por sobre tudo enfim flutua
Suprema maravilha feita em lua
O mar em sons diversos doura a raia,
Neste cenário deito em raro brilho,
Eu vendo-te por perto maravilho
E inebriadamente em desatino,
Sorvendo tanta luz quanto possível,
Toando ao longe um som sobejo e incrível,
Também aos poucos sonho e me ilumino.
33102
Branqueia-se esta praia em lua imensa
Adentro esta beleza em raros tons,
E ao longe das sereias, cantos, sons
Gerando a quem delira a recompensa,
Assim em tanto amor a vida pensa
E extrema maravilha, fartos dons,
O amor transcende aos ritos, claros, bons
No tanto quanto o sonho em luz intensa
Permite ao navegante este farol,
Tomando a noite como um claro sol,
Inunda-se em fagulhas cada instante,
E sendo companheiro da ilusão
Expondo sem defesas, coração
Percebo este momento deslumbrante...
33103
O quanto deste amor desejo e estimo,
Formado com delírios de um desejo
E toda a sorte agora em benfazejo
Caminho se mostrando em raro mimo,
Dos erros do passado eu me redimo
E um novo amanhecer ora prevejo,
Enquanto aproveitando deste ensejo
Os medos contumazes recrimino,
E tento adivinhar novo momento
Aonde com ternura me apresento
E beijo os lábios doces da morena
E tantas maravilhas se mostrando
Num clima mais suave, manso e brando
Felicidade enfim ora se acena.
33104
Olhando-te desnuda, devaneio
E vago por estrelas mais distantes,
Bebendo destas horas fascinantes,
Na alvura demonstrada em cada seio,
O amor que tanto quero sem receio
Tramando os mais sublimes diamantes
E nele com certeza te agigantes
Tornando mais feliz o que eu anseio,
Gerando com ternura a plenitude,
E mesmo quando a noite ainda ilude
Em brumas dominando a clara lua,
Bem sei que no final, o manso vento
Desnuda o véu brumoso, e num alento
Deidade em prata estende-se, enfim, nua.
33105
Sufoco esta vontade de tocar
A pele delicada e sou sincero,
Vivendo este momento onde venero
O raio mais sublime de um luar
Tocando a tua face devagar,
Aonde no passado o medo fero
Agora noutro tom eu me tempero
E sinto-me deveras flutuar.
Amar-te e perceber o quão divino
Enquanto a todo instante me alucino
Rendido pelo farto e claro amor,
Assim ao me entranhar em claro espaço
Futuro fabuloso então eu traço,
E vejo esta alegria a se compor.
33106
Correndo pela areia, uma beldade
Entoa com seus passos melodias
E quando mais audazes fantasias
Maior eu sei em mim, felicidade,
No encanto que decerto agora invade
E nele novos tempo em que crias
Gerados em ternuras e harmonias
Tornando qualquer sonho realidade,
Não posso me negar a tal desejo
E assim a cada instante mais eu vejo
O mundo que buscara em minhas mãos,
Os dias solitários, tolos, vãos
Deixados para trás não alimento,
Matando o que restara em sofrimento.
33107
Enquanto noutros campos devaneias
Vagando por caminhos espinhosos,
Os dias mais felizes caprichosos
Em luas sempre claras, belas cheias
Aonde com ternura me incendeias
Momentos sempre raros prazerosos,
Agora em tua ausência, desairosos,
Estradas de esperanças vão alheias,
Eu tento desvendar cada mistério
E sinto a vida assim em vão critério
Perdido sem alento em noite fria,
Enquanto tu caminhas noutros prados,
Meus cantos não serão abençoados,
Tampouco mais terei um claro dia.
33108
Por onde caminhaste em noite escusa?
Deixaste para trás quem quanto quer,
Não tendo mais notícias nem sequer
Sabendo de quem tanto quer e abusa
Do amor deixando uma alma mais confusa,
Deidade em forma rara de mulher,
No quanto te querendo e se quiser
Destino com o teu a vida cruza,
E sei que na verdade ainda sonhas,
Porquanto novas luas mais risonhas
Talvez inda percebam-te sereia,
Mas quando tu cansares deste intento
Perceberá em mim, o que inda tento
Provar quando minha alma te rodeia.
33109
Longíssimo caminho desvendado
Por quem se fez amor e não pudera
Saber da etérea luz em primavera
E busca novo rumo em mesmo fado,
O tempo noutro encanto decorado,
Deixando-se antever a cruel fera
Na qual a fantasia não tempera
E desespera sempre quem ao lado
Mergulha sem defesas, plenamente,
Porquanto dos meus olhos sempre ausente
Quem tanto desejei e nunca vinha,
A sorte que imagino ser só minha,
Não traça outro caminho senão este
E nele toda a glória concedeste.
33110
Bravias ondas deitam sobre a areia
Traduzem as vontades que inda trago
Buscando tão somente algum afago
Do amor onde meu sonho se incendeia
Percebo nos teus olhos a candeia
E toma a placidez um claro lago,
E quando em tais delírios eu me alago
Bebendo desta lua rara e cheia
Eu vejo-te por perto, ninfa nua
Seara se assemelha ao Paraíso,
E assim ao ser decerto mais conciso
A sorte benfazeja agora atua
E toma com firmeza cada laço
Enquanto em fantasia amor eu traço.
33111
Em leve transparência o meu desejo
Aflora-se ao sentir-te junto a mim,
A boca de um delírio carmesim,
Um beijo mais suave, o que ora almejo
E quando o realizo já prevejo
O mundo em flóreas cores, meu jardim
Tocado por perfume sinto enfim
O amor tornando o céu, puro azulejo,
Verdeja uma esperança no meu peito
E tendo este momento satisfeito
Girando como fosse um carrossel
Alçando deste vale a cordilheira
Minha alma se liberta e ora se esgueira
Eleva-se ao superno e imenso céu.
32112
Molhada pela escuna em noite clara
A pele se mostrando em arrepios
Desejos aflorando velhos cios
O amor incomparável se prepara
E a sorte que pensara outrora rara
Vencendo os teus temores, desafios
Atinge o limiar dos desvarios
E como fosse um sol noturno ampara
Beijando mansamente bocas, lábios
Os dedos percorrendo, loucos, sábios
E as ânsias se completam num segundo,
E assim ao ver tão mansa maravilha
O amor embevecido também trilha
As rotas mais sublimes deste mundo.
32113
Tocando-nos sereno de uma noite
Maravilhosamente embelecida,
Assim ao se mostrar a nossa vida
Meu sonho busca em ti claro pernoite,
E quando o teu amor no meu se acoite
A dita noutra forma amanhecida
Traduz das ilusões a mais querida
E deixa a solidão, cruel açoite
Vagando sem destino, sem paragem,
O vento em brisa mansa, doce aragem
Adentra este cenário e me inebria,
Amar e ter nas mãos esta certeza
Do encanto aonde uma alma quer ser preza
A noite se completa em claro dia.
33114
Pisando com ternura a fria areia,
Qual fosse flutuar, os pés descalços
Ao vê-la deixo ao longe meus percalços
E a doce maravilha me incendeia,
O amor que tantas vezes já pleiteia
Vencer os mais difíceis cadafalsos
Em dias tão doridos, tristes, falsos
Agora se completa e nos rodeia.
Por mais que movediça seja a vida,
Encontro esta beleza em paz urdida
E tento dos meus sonhos, o resgate,
Assim ao me entregar sem ter sequer
Momentos de tristezas à mulher
No encanto que deveras me arrebate.
33115
Esta umidade em lábios, pés e vento
Tocando mansamente meus anseios
E sinto quando roço os belos seios
Do amor e do desejo este incremento
E quando neste instante mais me alento,
Deixando no passado os vãos e alheios
Caminhos, dolorosos, tristes veios,
Ternura emoldurando o pensamento.
Romântico poeta enamorado
Diverso do vazio do passado
Agora embevecido se enlouquece,
No amor quando se mostra sem disfarce
Sem nada que o perturbe nem esgarce
Como se fosse o encanto de uma prece.
31116
Os ares perfumados pelo aroma
Da bela criatura que desnudo
E quando me entregando em ti me mudo
Felicidade imensa já nos toma,
O coração audaz o amor que doma
Deixando-me decerto quase mudo,
No encanto sem igual e sem escudo
Meu corpo no teu corpo, leve coma.
Assim ao me mostrar eternidade
No instante em que o desejo nos invade,
A praia se transforma em paraíso,
E o vento em maciez nos teus cabelos,
Matando os meus diversos pesadelos,
E enfim nesta beleza me matizo.
31117
Aonde tu pudesses ser diversa
Das ondas em marés mais fortes, creio
O amor que quando chega sem receio
Domando toda a cena agora versa
Beijando mansamente desconversa
E deixa o sofrimento além e alheio,
Enquanto tais estrelas eu rodeio,
Minha alma nesta senda segue imersa.
Viver cada momento e ser feliz,
É tudo o que deveras sempre quis
Quem tanto relutara e agora espera
Apenas um momento mais suave
Liberto coração qual fosse uma ave
Entrega-se ao delírio, louca fera.
31118
Aonde tu irias neste instante
Fugindo de meus braços se em ti tenho
Além do quanto quero e já me empenho
O mundo noutra face, fascinante,
O amor como se fosse um diamante
Perfaz em claro sol, o desempenho
E traça este caminho de onde venho
Matando o meu passado degradante,
Dos bares e tormentas de onde eu vim,
Primaveril amor toma o jardim
E ceva com ternura a bela rosa,
E a vida que já fora amarga e fria,
Agora nos teus braços irradia
E sinto esta magia majestosa.
31119
A pele se entregando à doce brisa
E sinto-te deveras mais feliz,
Ao ver o quanto amor sempre nos diz
Enquanto uma saudade se divisa,
Não posso perceber enquanto avisa
A sorte de outro tempo em que me fiz
Além de meramente um aprendiz,
Meu sonho em tais espaços já desliza
E chega mansamente ao que pudera
Viver eternamente em primavera
E ter a estrela guia que eu buscara,
A vida se transforma plenamente
Porquanto tanta glória se apresente
Tomando com ternura esta seara...
31120
O orvalho declinando em tua face
Ao sol que se apresenta e doura a terra,
Reflexo mavioso já descerra
E nesta fantasia em que se trace
Beleza incomparável assim grasse
Domando o coração, vencendo a guerra
Aonde a solidão cruel emperra
Caminho pelo qual dorido impasse
Gerara a imensidão do nada ter,
E agora quando envolto em teu prazer
Já não comporta mais qualquer tormenta,
O amor se faz presente e me domina,
Qual fosse da esperança a fonte a mina,
Aonde a corredeira se fomenta...
33121
Suor ao se espalhar em nossa pele
Ao brilho deste sol maravilhoso,
Enquanto se percebe o raro gozo
O amor ao grande amor já nos compele,
Porquanto esta vontade ora se sele
Transforme um mundo outrora caprichoso
Vibrando noutro tom mais prazeroso
Aonde a fantasia enfim se atrele.
Escondo-me das dores e dos medos,
Desvendo da esperança seus segredos
E tomo cada gole deste encanto,
Por ser assim o amor, rebelde e doce
Tormenta em paraíso, como fosse
Ao mesmo tempo luz, treva e quebranto.
33122
Palpitam de desejos corações
E quando os seios tocam no meu rosto,
O amor quando se vendo assim exposto
Causando no meu peito ebulições
E quanta maravilha tu expões
Do sonho que em mil sonhos recomposto
O gesto solitário de um desgosto
Morrendo entre diversos turbilhões.
Assisto aos meus momentos mais sublimes
E quanto mais desejas ou me estimes
Adentro novos mundos e te encontro,
Embora saiba a vida ser assim,
O início prenuncia após, o fim,
Jamais imaginando o desencontro...
33123
Apaixonadamente a vida toma
Cenário aonde um dia se fez tanto
Dorido caminhar em desencanto
E agora se mostrando além da soma,
Vontade sem igual decerto doma
O coração tomado por quebranto
E quando me percebo e mal me espanto
Meus olhos nos teus olhos, leve coma.
Resisto o que pudesse, mas ao fim
Adentro sem defesas, sigo assim
Jamais imaginando liberdade,
No quanto sou feliz em ser só teu,
Meu barco nos teus mares se perdeu
Felicidade uma alma insana brade!
33124
O vento ao te tocar com mansidão
Roçando os seus cabelos, devaneios
E assim ao se mostrar sobejos veios
Encontro dos meus sonhos, direção,
O amor eternizando este verão
E deixa para trás tantos anseios,
E quando se mostrasse em novos meios
Caminhos para as sortes que virão,
O tanto quanto posso ser feliz
Envolto neste sonho e em tal matiz
Por onde se percebe a claridade
Singrando este oceano das paixões,
Encontro finalmente as emoções
No encanto incomparável que me invade.
33125
Sentando nesta praia ouvindo o mar
Que traz em seu marulho uma esperança
E quanto mais ao longe o olhar alcança
Vontade de nas águas mergulhar,
E crer noutras sereias, desvendar
Aonde a solidão ainda lança
A fonte que pudesse em temperança
E sem defesas mesmo, me entregar
Vencido pela ausência do carinho
Nos ermos do oceano enfim me aninho
E tento pelo menos liberdade,
Porquanto a vida nega barco e vela,
Meu mundo se entranhando na procela
Na angústia sem medidas que me invade.
33126
Sentada nesta praia em fria areia
Pensando no passado, e no horizonte
O sol quanto mais forte já se aponte
Vazio dentro da alma te incendeia,
Assim a sorte molda quase alheia
E nega este caminho, resta a ponte
Das ilusões diversas onde apronte
O mundo noutra face em que não creia.
Restando a quem deseja ser feliz
Apenas visionário tom, matiz
Diverso do que seja o dia a dia,
E quando teu olhar se perde além
A imensa bruma invade e te contém
Enquanto inútil sol inda irradia.
33127
A mão por sobre o colo, olhar sombrio,
Cabisbaixa não vês minha presença
Saudade do que fora é tão imensa
Enquanto a própria sorte eu desafio,
Perdendo esta ilusão, tão frágil fio,
Não tendo quem deveras te convença
A vida renegando a recompensa
Traçando nos meus dias dor e frio.
Pudera acreditar noutro momento
E assim ao libertar o sentimento
Alçar espaços novos, céu sublime
Mas quando te percebo mais ausente
Por mais que outro caminho ainda eu tente
Nem mesmo esta esperança nos redime.
33128
Deitada sobre a areia em tantas mágoas
Olhando para além e nada vendo,
O amor quando demais, raro e estupendo
Enquanto noutro sonho tu deságuas
Apaga da esperança meras fráguas
E deixa este caminho que desvendo
E aos poucos dos teus braços me perdendo
Longínquos os destinos, novas águas.
E tudo não passara de ilusão
Teu mundo segue em nova direção
Enquanto resto aqui tão solitário,
Bem sei quanto é difícil navegar
Sabendo-se disperso deste mar,
Porém também o sei mais necessário...
33129
As mãos ora engelhadas entre as ondas
Procuram caracóis, conchas e estrelas
E quando posso ainda aqui revê-las
Porquanto noutro mundo tu te escondas,
Ainda quando invernos frios sondas
As horas mais sublimes revivê-las
E tanto poderia enfim contê-las
Mas sem sequer ouvir jamais respondas
E sinto-me decerto naufragado
Vivendo cada instante do passado
Morrendo pouco a pouco, insanamente,
Tormento após tormento a vida passa,
O amor que tanto eu quis, mera fumaça
E apenas o vazio se pressente.
33130
Dormindo sobre os sonhos de quem ama
O temporal invade a noite fria,
Ao longe sem respostas, melodia
Qual fosse em plenitude última chama,
Assim ao perceber temor e drama
A sorte se transforma em agonia,
E quando novo tempo se queria
O velho com clamor imenso chama,
E tudo o que pudera ser diverso
Agora emoldurando o triste verso
Impede cada passo rumo ao tanto,
E sendo necessário outro momento,
Bebendo cada gole em sofrimento,
Inútil desalento, mas eu canto...
33131
À noite em solidão, abro a janela
E solto a minha voz em desespero
No quanto tanto amor sendo sincero
Uma alma em amargura já revela,
E quando noutra cena, a velha cela
Da qual ao tentar fuga, vejo o fero
Momento em que deveras bem mais quero,
Porém uma esperança não se atrela,
Riscando este horizonte estrela guia
Bebendo cada gole em poesia
Fartando-se do sonho em que mergulho,
Ao longe um brilho apenas, vejo além
E sei que na verdade nada vem,
Castelo que eu buscara, mero entulho...
33132
Eu bebo do luar ensandecido
Momentos mais felizes que não tive,
Porquanto a solidão ainda crive
Meu corpo com terror em duro olvido,
Percebo este caminho dividido,
E vejo mesmo quando não estive
Do quanto cada passo ora me prive
De um mundo desejado e até sentido.
Da lua em tons vermelhos, noite imensa,
E assim no que não fora uma alma pensa
E tenta discernir a claridade
Que existe, mas bem sei já não me entranha
E a lua se escondendo na montanha
Responde com terror, eis a verdade...
33133
Suspiros entre audazes tentativas
Inúteis os meus ritos, mas persisto
E quando me percebo ainda existo
Palavras que tu dizes, mais altivas
Porquanto dentro em mim tu sempre vivas
Às vezes solidão até despisto,
E tento perceber que não só isto
Existe, mas ao ver-me enfim desisto.
Pudesse imaginar outra alegria
E nela uma alma tola fantasia
Bebendo cada gota da esperança,
Mas quando se percebe insanidade
Do amor que busco em forma de verdade
A voz sem ter respostas nada alcança.
33134
A noite se embeleza em tantos brilhos
E vaga-lumes seguem as estrelas
Bebendo cada instante aonde vê-las
Desenhos em clarões, sobejos trilhos,
Os sonhos como fossem andarilhos
Seguindo os rastros quando ao escondê-las
Sonegas e portanto sem sabê-las
Apenas coletando os empecilhos,
Risonha vida aonde se pudesse
Saber desta alegria, uma benesse
À qual jamais consigo imaginar,
A noite se enobrece em plena festa,
Porém a turbulência em mim se empresta
Matando sem ter pena este luar.
33135
Avisto ao longe os sonhos já perdidos
E tento recompor o meu caminho
E quando da esperança me avizinho
Rondando com ternura meus sentidos,
Percebo que tocando os meus ouvidos
O som de um inefável, bom carinho
Permite que eu não seja mais sozinho,
Os dias poderão ser divididos.
Mas quando acordo e bebo a solidão,
Expresso com meu canto e o violão
Apenas se mostrando em tom menor.
O todo deste encanto se perdendo
Aonde noutro mundo em louco adendo
Quisera transpirar gozo e suor.
33136
As lágrimas molhando a tua face
Derramam-se decerto por alguém
Que enquanto já se ausenta ou não mais vem,
Aos poucos o teu sonho já desgrace,
Riscando a poesia nada trace
E mata quando vive muito além
Do gozo imaginável e não tem
Sequer outro tormento, torpe impasse.
Gerado pela insânia de um momento
Aonde noutro sonho me apresento
E sei que não me notas, mas prossigo,
Quem dera ser o amante desejado,
Mas quando me percebo do teu lado
Apenas sendo um mero, vão amigo.
33137
As águas desta chuva em meu jardim
Molhando cada rosa, em doce orvalho,
Assim ao mesmo tempo onde trabalho
O pensamento doura e torna enfim
O mundo abençoado e vejo ao fim
Da tarde a maravilha em assoalho
E quando novos sonhos amealho
Sorvendo o doce aroma de um jasmim,
Imaginável senda se desnuda
E a sorte noutra face não se muda
Inunda-me a esperança mais feliz,
E sei que agora posso finalmente
Tocado pela sorte em corpo e mente
Viver esta alegria que bem quis.
33138
Segredos que conheces muito bem
Contados pelo sonho em que entranhara
O pensamento em bela face rara
Mistérios e delírios já contém
E sabes quanto quero tanto e além
Da noite aonde o sonho se escancara
Viver a poesia bela e clara
Do amor no quanto amor ora convém.
Percebo-te deveras sonhadora
E assim como talvez um dia fora
Minha alma embevecida se alimenta
Do sonho que te move e ora me guia
Reparto cada instante de alegria
Sabendo logo após vaga tormenta...
33139
Morena com beleza sensual
Tocando a minha pele; sonho apenas...
E quando as noites fossem mais serenas
O dia neste belo ritual,
A plenitude agora em desigual
Caminho aonde tanto me envenenas
Diverso do que outrora quis amenas
As sendas num caminho em vão, dual.
Recebo cada verso como ainda
Pudesse acreditar quando deslinda
A noite em lua e estrelas redimindo
O passo rumo ao tanto que desejo,
Mas quando a turva cena agora eu vejo
O todo que eu sonhara sei-o findo.
33140
Tu já nem sentes mais necessidade
De ter esta presença que buscara,
E assim a minha vida segue amara
E toda esta tristeza agora invade,
No quanto amor se trama e já degrade
O passo noutra senda semeara
A vida que deveras fora clara
E teima contra toda a realidade,
Mas nada deste sonho já compensa
A solidão pressinto e quando imensa
Não tento disfarçar e assim num pranto
O mundo desejado se esvaíra
Ao longe a solidão acerta a mira
Entorna nos meus dias desencanto.
33141
Porquanto em solidão ainda gemo
Na ausência de quem tanto desejara
A sorte noutra face se declara
E assim em pensamento atroz eu temo
O dia que virá em tom supremo
E nada do que ainda se fez clara
Demonstra novidade e enfim me ampara,
Vagando sem destino em sonho algemo,
Negando qualquer sorte a quem deseja
Momento mais feliz mesmo que seja
Apenas ilusão e nada mais,
Sentindo esta emoção noutro caminho,
O todo me traduz este sozinho
Delírio entre diversos temporais.
33142
Eu tanto necessito ser feliz!
Jamais imaginei outra seara,
Mas quando a própria vida mais negara
O todo que em verdade bem mais quis
Deixando tão somente a cicatriz
E nela a face escusa e tão amara
O tempo novamente semeara
O amor onde já fora e se desdiz.
Viver ao fim da tarde o amanhecer
É como redimir-se dos enganos,
Mas quando se percebem novos danos
Percebo cada sonho perecer,
O sol não combinando com a lua,
A velha solidão, pois continua...
33143
Restando a quem procura pelo menos
Saber de outra existência traz alento
E quando novamente me alimento
Dos dias mais tranqüilos e serenos,
Pensando nos momentos áureos, plenos
Aonde se mostrasse manso vento
E tendo no final discernimento
Dos tantos e diversos vis venenos,
Partindo para o quanto poderia
E tendo a minha mão sempre vazia,
O quadro se aproxima em dura tez,
Assim ao mergulhar dentro de mim,
Pressinto duramente o amargo fim
E nele todo o sonho se desfez...
33144
Recomeçando aos poucos meu caminho
Depois de tantos anos solitário
Eu sei o quanto o sonho é necessário
E dele se pudesse me avizinho,
Mas quando sem ninguém cadê carinho?
O mundo se mostrara um adversário
E todo o meu delírio imaginário
Não deixa qualquer sombra onde sozinho
Tentara pelo menos lenitivo,
Agora me percebo bem mais vivo
E busco finalmente a estrela guia
E sei que ela virá no fim da estrada,
A sorte noutra senda remoçada
Transcende a qualquer dor ou fantasia.
33145
Legado de quem ama é ser feliz?
Gestando outro momento mais atroz
Aonde ninguém ouça a minha voz
Desfaço a velha jura que já fiz
Pensando neste tanto em que se quis
Porquanto a própria vida é mais feroz
Atando estes caminhos, novos nós
E neles a esperança tanto diz...
Eu beijo a tua boca imaginária
E vejo ao fim da noite a luminária
Que tanto poderia me guiar,
Mas quando me confundo com a sorte,
Ao ver tanta beleza que conforte,
Apenas meros raios de luar.
33146
Beijo as tuas mãos, belas, pequenas
E sinto-te deveras junto a mim,
Amor que tanto quis jamais sem fim
Mudando em pouco tempo velhas cenas,
Tocando com ternura tais melenas
Bebendo deste espaço que há em mim
Riscando o paraíso bebo enfim
As noites mais sublimes e serenas.
Já não consigo mais saber dos rumos
Diversos entre quedas desaprumos
E tento novamente mergulhar
No quanto tanta luz pudesse ver
Bebendo a me fartar deste prazer
E nele jamais posso descansar...
33147
Reféns dos dias duros e sombrios
Seguimos contra a fúria das marés
Ainda sinto em mim frias galés
Vencendo os mais antigos desafios,
Descendo as ilusões, diversos rios
E beijo com ternura o que não és
Riscando em aflição, traçando os pés
Tocando com terror valor e brios,
Sedento caminheiro em noite clara
A porta dos meus sonhos escancara
E nada do que eu quis ainda existe,
Morrendo pouco a pouco, mera sombra,
O mundo na verdade ainda assombra
O velho coração amargo e triste.
33148
Ausência de quem tanto desejei
Deixando a minha casa mais vazia
Apenas solidão tomando guia
O passo feito em turva, tosca grei,
E quando noutro sonho me adentrei
Sentindo finalmente a poesia
Ainda se pudesse a melodia
Que tantas vezes tolo imaginei.
Mas tudo se refaz e a vida segue
Por mais quando em instantes a alma negue
Prossegue a caminhada rumo ao tanto
E neste caminhar a paz desnuda
E quanto mais desejo a tua ajuda
Maior sinto afinal o desencanto...
33149
Retorno aos meus momentos mais felizes
Bebendo desta sorte que não vejo
E sinto cada noite este desejo
Embora revivendo tantas crises
O quanto do passado ainda dizes
E neles tão somente algum lampejo
Vibrando com ternura tanto almejo
Viver além de meras cicatrizes.
Restando ao sonhador seguir o passo
Do quanto num delírio ainda traço
Vestindo a fantasia de um alento,
E tento o lenitivo mais audaz
E toda a minha história se desfaz
Deixando para trás o sofrimento.
33150
Negando cada passo ainda tento
Vestir a fantasia, um carnaval
Aonde no passado triunfal
Percebo tão somente o frágil vento
De quem se mostra em tanto sofrimento
E busca novamente outro degrau,
Resisto sem saber do quanto é mal
Viver apenas dor, ressentimento.
E tudo fora em vão, mas sei valeu
O todo que deveras fora meu
Agora se dilui, mas eu prossigo,
Vencendo as tempestades costumeiras
E tendo neste amor minhas bandeiras
O vento se mostrando enfim abrigo.
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