sábado, 11 de outubro de 2014

OLHOS AZUIS

OLHOS AZUIS.

Acordara cedo, como sempre fazia desde há muito tempo, criado sozinho; desde os tempos mais pueris da vida fora obrigado a trabalhar; primeiro com os tios na roça, depois com o mesmo patrão que tinha sido do pai, falecido no início dos primeiros passos, lembranças esquecidas dentro de uma gaveta qualquer, há muito fechada.
Olhou para o corpo estendido na cama, corpo de belas formas, da morena bonita que conhecera e logo se apaixonara; casamento de 10 anos, quatro filhos e poucas alegrias.
Reparou bem no despertador, 5 horas, como sempre, mesmo nas férias não conseguia acordar mais tarde, escravo de uma rotina cruel...
Naquele momento pensou na noite anterior, noite longa e estranha, cheia de fantasmas e pesadelos, o que ultimamente se tornara costumeiro, quase diário, gritos e tumulto de gente correndo, coisa estranha...
Pacato desde menino, “incapaz de fazer mal a uma mosca”, segundo comentava o tio; tio que fora pai, num ato de amor sem cobranças, amor verdadeiro.
A tia nem tanto, não gostava daquele menino melequento correndo pela casa, bastava-lhe os três que a vida deu e ainda tinha que aturar esse pestinha.
Ainda mais filho de quem, daquele mesmo que fora o primeiro, grande e único amor de sua vida; mas a irmã era mais bonita...
A peste do menino, a cada dia mais se parecia com o pai, tão diferente do seu marido, irmão do safado...
Aqueles olhos azuis do cunhado ficaram atormentando sua vida por longos anos, agora aquele moleque solto pela casa.
É provação divina, provação e provocação, como podia agüentar?
E a vida foi passando entre quintais e escola, brincar era difícil, só se a tia não estivesse em casa, a megera era terrível.
Proibindo tudo, e trancando o menino dentro de casa como se fosse uma donzelinha vigiada. Tia muito estranha, vez em quando observava os olhos dela sobre os seus, descansados e desavisados.
Quando fez quinze anos, sexo explodindo nas noites solitárias, no calor queimando tudo, em pleno inverno, acordando numa febre, febre incontida, desesperada...
E o prazer culpado, pecado, segundo a tia e o padre...
Um dia, esquecera a porta aberta e, surpreendentemente quando olhou para o lado viu uma sombra correndo pela casa afora, estranha sombra, que adivinhava ser da tia, mas não podia garantir.
Aos dezessete conhecera Marta, morena maravilhosa, corpo perfeito, coxas duras e dentes alvos, radiantes.
O tio ficou muito contente, sobrinho trabalhador, morena bonita, casal perfeito.
A tia calada, cada dia mais se trancafiava no quarto, menopausa falou o doutor, o tio aceitou e, com paciência foi agüentando as crises cada vez mais freqüentes da mulher; boa mulher, mas muito temperamental, “problemas de nervo...”
O primeiro filho chegara com o outono, casamento às pressas, Marta grávida, barriga grande, estrias muitas, Marta estava diferente e os dentes começaram a cair, pouco a pouco até não restar mais nenhum.
Menina bonita que a gravidez modificara e trouxera um menino diferente, doentio, fraco dos peitos, menino estranho que quase não chorava e, se chorava era fraquinho, quase um gatinho miando.
Dois anos depois, o segundo menino, forte, robusto, parecido com ele, dono dos mesmos olhos azuis, quem sai aos seus não degenera...
Depois as duas meninas, gêmeas, bonitas e dengosas, Marta reeditada, mas com os olhos azuis, os mesmos olhos do avô e do pai.
A esse tempo já se mudara para a cidade e trabalhando como pedreiro, fizera certo sucesso e tinha sempre emprego, e Marta conseguira um emprego como faxineira na escolinha perto de casa.
Vida simples de gente simples na cidade simples, mas os sonhos estavam deixando-o preocupados; sonhos repetidos e cada vez mais estranhos.
Aquele dia, então, os sonhos pareciam tão reais que era como se tivessem sidos verdadeiros.
O estranho é que, reparara a algum tempo, quando se olhava nos sonhos estava mais envelhecido, enrugado mesmo, como se tivesse passado muitos anos, e havia uma sombra de uma mulher com o rosto esfumaçado e, reparara num detalhe, uma coisa que chamara a atenção foi um anel que a mulher usava na mão direita, algo assim como um anel, um anel sim... De prata, com um desenho estranho, parecido com aquele que vira numa foto, sobre o Egito, com o rosto de uma mulher...
Aquela manhã; ao ver Marta deitada, com as coxas fortes e grossas exposta, resíduo de um passado glorioso, mostrando que onde havia estrias e flacidez, houvera uma cabocla desejável, pensou na vida passada e agradeceu a Deus pelo que a vida lhe dera; uma mulher boa e companheira.
Achara que o sonho era com Marta, mas ao reparar bem viu que Marta era mais alta, mais cheia de corpo que a mulher do sonho.
Ao se preparar para tomar o café, foi interrompido por uma gritaria que vinha da porta.
Um moleque gritava a toda, arfando e chamando-o pelo nome.
Ao abrir a porta, percebera que tinha se arranhado e fundo, não se lembrara, mas o trabalho estava muito árduo e poderia ter se machucado, sem perceber, isso vez em quando acontecia. No começo estranhara, mas agora já estava acostumado.
O menino então disse ao que veio.
Sua tia tinha morrido, amanhecera morta, e parece que seu tio é que tinha matado a velha. Ela estava toda machucada, estropiada, mesmo.
Saiu correndo e fora ver o que tinha acontecido.
Ao chegar à casa do tio se deparou um espetáculo dantesco; a porta arrombada, a casa toda revirada com sangue para todos os lados.
Na sala, o corpo da tia todo cortado, cheio de equimoses, os olhos esbugalhados, saltando da órbita, uma cena terrível.
O tio, preso algemado, gritando desesperado, negando tudo, porém as marcas no seu rosto denunciavam que havia tido luta, uma luta gigantesca.
- Não fui eu!! Não fui eu!!! Gritava o tio.
Falava confuso sobre um assaltante ou coisa que o valha que tinha entrado na casa, agredido a mulher e ele, ao defendê-la teria sido atingido pelo homem que, encapuzado não deixava ver nada, a não ser os olhos,, estranhos olhos azuis...
Um detalhe passara despercebido de todos, inclusive do nosso herói; num canto da sala, jogado no chão um anel, com a esfinge esculpida...
A partir daquela noite, coisa estranha, nunca mais teve aqueles pesadelos...


MARCOS LOURES

GRISES TONS

A noite sendo fria e solitária
Reflete o que percebo a cada ausência
Do amor já não concebo uma anuência
A sorte tantas vezes procelária, 


Aprendo a caminhar em treva vária
E bebo com terror tanta inclemência, 
Condeno-me deveras à demência
Aonde poderia solidária,


Minha alma em cicatrizes, tatuada, 
Perpetuando a noite mais nublada,
Expondo em grises tons realidade, 


E sem saber de um dia aonde tenha
Seara que decerto me convenha,
Não vejo neste mundo o que me agrade.


MARCOS LOURES


ANSEIOS

Nos tantos caminhares pela vida
Anseios entre dores, trevas, medo
E quando alguma sorte me concedo
Depois de certo tempo, está perdida.

A senda muitas vezes destruída
O corte me condena a tal degredo
E quando me encontrando ausente e ledo, 
Prepara-se deveras a descida.

Resisto vez em quando; falsa luz,
E sei que a cada passo o precipício
Mostrado sem disfarce, nego o início

Enquanto na verdade me seduz,
Pudesse ter um dia a mais, um ano...
Mas não suportaria o desengano...

MARCOS LOURES

SE FAZ MAIS BRUTO

O vento murmurando clama enquanto
Trouxesse qualquer paz a quem se dera, 
Perpetuando assim a imensa fera
E dela a cada passo o mesmo espanto.


O peso me envergando, sendo tanto, 

A morte noutro tanto degenera
Caminho de quem fora mera espera
E quando tento a sorte; desencanto.


Gerando dentro em mim a mesma sina
Que tanto me atormenta e desatina, 
Mas quando ensimesmado nada escuto,


O mundo que pensara mais tranqüilo
Em ânsias tão terríveis eu destilo
E sei o quanto atroz, se faz mais bruto.


MARCOS LOURES

CAMINHEIRO DO VAZIO


Silente caminheiro do vazio
Perdi faz tanto tempo a direção
E enquanto se imagina a solução
Meu passo dia a dia eu desafio, 

Resisto quando o tempo se faz frio
E teimo contra as fúrias que virão,
Um velho sonhador, tolo ancião,
Confusas ilusões eu propicio.

Revelo vez em quando um pouco disto
E sei que se em verdade ainda insisto
No fundo desiste e não consigo

Pensar noutro momento que não este, 
O quadro que devera revelaste
Prenunciando a queda em desabrigo


MARCOS LOURES.

ENQUANTO A VIDA CORTA




Um mundo que encantasse e transcorresse
Com toda a calma enquanto a vida corta, 
A sorte de sonhar; percebo morta, 
Não tendo mais da vida uma benesse,


E sei que se recebe o que merece, 
Por isso ao reabrir a velha porta, 
Nem mesmo a fantasia ainda importa
O quadro em solidão, assim se tece.


Fagulhas de ilusão? Meros momentos
Aonde acreditei noutro caminho,
Mas quando me percebo mais sozinho,


São variáveis mesmo tantos ventos, 
O fim se aproximando e o que fazer?
Somente os meus escombros recolher..


MARCOS LOURES.

ORAÇÃO DE GRAÇAS

ORAÇÃO DE GRAÇAS

É MARAVILHOSO, SENHOR, TER AS MÃOS RETORCIDAS E MUTILADAS, SEM QUE NELAS EXISTA UMA SÓ CICATRIZ DE QUE POSSA ME ENVERGONHAR, ENQUANTO QUE MUITOS USAM SUAS MÃOS, PERFEITAS, PARA OFENDER E HUMILHAR, ESMAGAR E OPRIMIR, NEGANDO O PÃO ÀQUELE QUE TEM FOME E O AGASALHO ÀQUELE QUE TEM FRIO.
É MARAVILHOSO SENHOR, NÃO PODER VISLUMBRAR A CLARIDADE DO SOL NEM O BRILHO DAS ESTRELAS, A IMENSIDÃO DO MAR NEM A BELEZA DAS FLORES, ENQUANTO QUE MUITOS, QUE TÊM OLHOS PERFEITOS, SEMPRE SE FECHARAM AO SOFRIMENTO E À DOR DOS MAIS HUMILDES, ESQUECIDOS DE QUE FOI A ESSES QUE TU MANDASTE OUVIR E CONSOLAR.
É MARAVILHOSO SENHOR,
NÃO TER SEQUER UM ABRIGO SEGURO PARA O CORPO CANSADO, ENQUANTO QUE MUITOS, QUE MORAM EM RICAS MANSÕES, NÃO SE LEMBRAM DE QUE, UM DIA, SERÃO DALI EXPULSOS E SE VERÃO DIANTE DE TI, IMPLORANDO A MISERICÓRDIA QUE SEMPRE NEGARAM AOS MAIS INFELIZES.
É MARAVILHOSO, SENHOR, SABER QUE MEUS PÉS ATROFIADOS IMPEDEM QUE EU ME AFASTE DE TI, ENQUANTO MUITOS CAMINHAM SEM PARAR, NA PROCURA DE UM BEM QUE NÃO SE ENCONTRA LÁ FORA, MAS SIM, NO INTERIOR DE CADA UM DE NÓS, NO CORAÇÃO QUE NOS INDICA OS CAMINHOS DA VERDADE E DA VIDA.
É MARAVILHOSO SENHOR, OUVIR TUA VOZ EM TODOS OS SILÊNCIOS, O TEU CANTO EM CADA MOVIMENTO E A TUA PRESENÇA EM TODAS ASAUSÊNCIAS.
ACIMA DE TUDO, É MARAVILHOSO SENHOR, PEDIR QUE NÃO ABANDONES AQUELES QUE SE AFASTARAM DE TI, AFIM DE QUE ELES TAMBÉM SE TORNEM DIGNOS DA TUA BONDADE E DA TUA INFINITA MISERICÓRDIA;
RIO, 11/08/1989


MARCOS COUTINHO LOURES

DE AMORES E DE ESPERANÇAS

DE AMORES E DE ESPERANÇAS

Mãe me remetes ao útero, ao colo, a ingenuidade do amor sem dívidas nem dividendos;
Ao amor primário, primeiro, intrínseco, divino.
O amor sem medos e sem segredos, puro e íntegro. Latente e inerente, portanto inteiro.
Mãe, falar teu nome emblema de vida, de luta, sem segredos outros que não o próprio amor.
Lembras-me o inerente amor de Deus pelo homem, repetes esse milagre, é o ideal realizado, nas próprias entranhas do amor.
Quando criança, tinha a distância amiga e acolhedora do colo protetor, segurança para a criança que se desenvolvia, incapaz de adivinhar as pedras do caminho; sempre afastadas pelas mãos macias que me acalentavam, deixando os olhos livres para olhar para o horizonte.
Cumprias o milagre de Midas, transformando em ouro tudo o que tocavas principalmente as esperanças do moleque livre, correndo entre laranjais, entre as quebradas dos sertões da alma; onde acalmavas meus anseios com teus fartos seios acolhedores e belos.
Minha mãe, meu início e princípio, certeza de amanhecer com alegria e, na dor, acolhedora esperança.
A mãe Terra, a mãe embriagante como o canto da vida por onde emana a eternidade do universo, agasalhando os frios da lida, acompanhando nos tombos e nos vôos.
Tenho-te tão próxima e tão distante, mas constante; em todas as partidas da vida e em todos os reinícios, todos os renasceres nos víveres e nos viveres.
A manca vida, nos solavancos diários, aprendida e apreendida a cada curva da estrada, a cada passo mal dado, a cada espinho e espreita, a cada cilada, na calada e na caída. Cálida presença.
O amor de quem nunca cobra, da que nunca nega, nas refregas da existência, a cadência da esperança.
O amor que nunca morre, que escorre e se alastra, transmuda, transporta, trafega pelas entranhas, num cordão que se distende, mas nunca se rompe, nunca se extirpa, nunca se corta.
Na porta aberta do amanhã, a certeza na frente da luta, do embate, nesse combate sem tréguas, sem mágoas, sem dívidas, sem dúvidas.
A garantia de que o mundo será melhor, bem melhor se ouvirem vossas vozes, mães.
A cadência do coração acelerado e acalentado, da febre mitigada, da dor amortecida, da luz incendiada e ascendida.
Abrindo os olhos e vejo, no atropelo das lágrimas da distância, os olhos caridosos e puros, mãe dos homens, mãe de Deus, mãe da vida...
Tua mansidão firme e sem medo seja o segredo da vida, compreendido pelos filhos ignaros que se a ti se remeterem encontrarão as respostas para as injustiças da vida.
Está no teu amor o grande segredo para a salvação dos teus filhos, no mitigar da dor, no compartilhar, no crescer e no podermos transformar a humanidade num filho pródigo da GRANDE MÃE TERRA.
Geradora e mantenedora de todos os seus filhos, muitas vezes ignóbeis.
Mãe, princípio e final. Caminho de eternidade.
Nos dias todos da vida, que Deus permaneça conosco e que, ao olharmos para ti, possamos sempre nos lembrar disso.
Amando nossos irmãos, todos, perdoando seus erros e, principalmente, unindo-nos para que não haja mais fome, miséria e injustiças.
Para que todos sejam, realmente dignos de ti, MÃE!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

SO MUCH LOVE

So much love

So much love what life could
Give me, from this moment that you are from
Unraveling my secrets, the happiness
Taking the day by day brings the property
Which in the full youth, joy
My suffering soul, for thou hast
In the eyes the power that inebriates me
On the nights dreams following Zen’s.
Honey hope looms
A vague sentiment in silent before,
The wind brought you, in love,
Drinking take your own lips the honey
And abundant of my desk delicacies
It turns our dreams in altars...

Marcos Loures

CORPS ET ÂME

CORPS ET ÂME
Je veux ton corps, âme et corps, âme et rêve
Rêver votre rêve, mettre votre rêve dans mon rêve,
Dans votre rêve, corps et âme, anima, animaux mis.
Je ne sais pas son sein, votre être sera pas savoir ou ne serait pas.
Ri et ne serait pas, grave l'arrière-pays de la série.
Soyez rien et être, sans piscine, l'amour de la mer ...
Amour Marie, aimerait, d'amour et de rire, rivière et mer ...
Je veux violent incendie dans la récolte, et le revenu et le chemin de vente.
La vente vente couvre les yeux.
Sauces et melons, mes lions et ma lyre.
Marie, la mer et rien d'autre le ferait ...
Rire or ne serait jamais voir venir, ne vient pas.
Déchirez la fureur et le mot de passe, venez ...
Continuez d'essayer, essayer les deux, le chant et le désenchantement angle ..
Dans chaque coin, tempête coelacanthe, la maladie de me donner m'épanouis et mordre.
Mor de toutes les boues et les côtés, les lacs et les câlins.
Le sec, les étangs, les algues et les eaux de feu.
Les dents serrées dents comme avant, Colossus dantesque.
L'os écrasante première moitié et de la méthode.
Tout mon antidote, avant tout et par-dessus tout.
Voir ludo vedo velours voile et de limon. Piquant, ocre ...
Vi a vécu en direct ...
Serait vu ce qui aurait voulu ou non.
Au bord de l'avant-toit des plages réels et fantastiques.
Tentacules tacites statiques et tactiques, des oracles ...
Mais au fond, caché mon culte est le vôtre, vous aimer, coeur athée ...

MARCOS Loures

ABORTION

ABORTION


With each new dawn, the absence of sun tried farming becomes more dire, and the constant snowfall gradually rots my dreams and sipping in huge gulps moods that poisoned exhale through every pore, a spurious and harmful autophagy.
So many times I dreamed ... Imbecile child whose toy - happiness - faded amid a huge mountain of debris.
Time and again, as a fatuous fire, try to expel the soul some light. But I know its base, its raw material is done with the decomposition of my helpless and dead illusions.
The time gradually shortens the distance and Mother Earth decreases, encouragement, and for my last dive awaited ...


MARCOS LOURES

AVORTEMENT

AVORTEMENT


Avec chaque nouvelle aube, l'absence de soleil essayé culture devient plus grave, et les chutes de neige constants pourrit progressivement mes rêves et en sirotant énormes gorgées humeurs qui ont empoisonné expirez par tous les pores, une autophagie fallacieux et nuisible.
Tant de fois j'ai rêvé ... Imbécile enfant dont le jouet - le bonheur - disparu au milieu d'une immense montagne de débris.
Maintes et maintes fois, comme un feu fatuous, tentent à expulser de l'âme un peu de lumière. Mais je sais que son socle, sa matière première se fait avec la décomposition de mes illusions sans défense et morts.
Le temps se réduit progressivement à la distance et Mère Terre réduit, encouragement, et pour ma dernière plongée attendu ...

MARCOS LOURES

MENINA, ME DÊ LICENÇA

Menina, me dê licença,
D”eu contar a minha história ,
Enquanto a cabeça pensa,
Vou falando de memória.
Nasci nas terras do Juca,
Lá pras bandas do Meião.
Saudade quando cutuca,
Maltrata meu coração.
Minha mãe foi benzedeira,
A melhor que havia lá,
Curava qualquer besteira,
Qualquer doença que há.
Com a fé de quem rezava,
Dia inteiro, se preciso,
Tanto mal ela curava,
E tá lá, no Paraíso.
Foi embora, a dor é tanta,
Mas, bonita sua cruz,
Morreu sexta feira santa,
Mesmo dia que Jesus.
Lá no Céu teve festança,
Movida a muito forró,
Teve prenda e teve dança.
Teve tudo o de melhor.
Meu pai, foi sertanejo,
Lavrador com muito orgulho,
Lutando com tanto pejo,
Viveu sem fazer barulho,
A morte também, destino,
Levou meu querido pai,
Deixando, tal desatino,
Que, da lembrança, não sai.
Fiquei sozinho na lida,
Sem mulher ou companheira,
Tudo que tenho na vida,
É a viola, estradeira.
Tenho o sol como meu guia,
A lua por namorada,
Vou cantando todo dia,
Canto só, sem ter parada.
Não quero cantar tristeza,
Nem tampouco solidão,
Vou cantando essa beleza,
A beleza do sertão.
A vida deu regalia
E tomou, sem perguntar,
Se era isso o que eu queria,
Mas não posso reclamar.
Foi Deus quem me deu o dom,
Dessa viola tocar,
Quando dela, tiro um som,
Canto sem pestanejar.
Não quero amar a ninguém,
Nem me prender a Maria,
Preciso de ter um bem,
Que a mim, não pertencia.
Pois somente assim, menina,
Não tendo amor que se implora,
Nem tendo vida que atina,
A minha viola chora...


MARCOS LOURES

JOIE

JOIE

Persister dans la joie fait l'amour,
Bien que plusieurs fois cette devise,
Il semble que dérange beaucoup de gens.
Quel serpent prépare un bateau froid.

Un chanteur qui fait des vers en rafales,
Il semble que vous ne pouvez pas éviter
Avoir le sentiment d'être heureux,
Et rien dans ce monde pour prévenir

Mon étape dans la recherche du bonheur
Qui est faite sans déguisement ou de la fatigue,
Louant Dieu d'amour, vous pouvez savoir
Je suis avec vous, étape par étape bien-aimé

Je ne crains pas même la tempête
Pas même la critique dure, ingrate,
Cœur du sans avoir peur ce qui peut,
Pénétrer loin de vieilles forêts,

Chanter dans le verset joyeuse sans mystères,
Suis un vieux troubadour ridicule
C'est dans sérénades vibre d'émotion
Pour alimenter notre amour défilé.

Boire cette source inépuisable,
Qui Camões un jour nous buvions,
Mon dos ne permet pas, sans jugement
Douleurs de - qui sait - a été perdu ..

MARCOS LOURES

DOR NOTURNA

DOR NOTURNA


No túmulo da amada vejo o nome
De quem, por tantas vezes já chorei.
A dor fria, noturna, me consome...
Essa dor de saber que tanto amei!

Partindo, nada fica, tudo some;
Na poeira atroz, restos do que sei.
Da solidão vertida, resta a fome,
Dum mundo mais feliz, onde essa lei,

Que faz perder a vida de quem ama,
Que faz sofrer assim, por tant’amor,
Vivendo agonizando, velho drama...

Oh! Meu Deus, me perdoe, por favor,
Não deixe que a saudade crie fama,
E não deixe a minha’alma a ti s’opor!


MARCOS LOURES

SAUDADE INSANA


No contrapé dessa saudade insana,
Eu percebi teus passos, titubeias...
Vencer todos os medos, tanta gana,
No final disso tudo, novas teias,

Emaranhadas, fétida cabana;
Onde, meus pobres sonhos, incendeias.
Mas, no fundo, pasmada dor sacana,
Percorrendo silente, minhas veias...

Eu mal sei nomear teus artifícios,
Nem ceder aos teus caprichos,
Se queres, não terás meus sacrifícios.

Pois procure encontrar, teus novos nichos,
Aonde cultivar teus velhos vícios
Sumas, de ti não quero nem indícios...


MARCOS LOURES

GUERRILLA

Guerrilla

La noche se expresando en fría haz,
Trasciendo mis fantasmas y demonios,
Sombrías fantasías denudando
La marcha de mis pies ya tan cansados.
Por cuanto fuera un día soñador,
La raza humana indigna me transmuda
Y la mano se hace ruda,
Olvido todo ensueño que mantuve
Y anclando mis navíos en el mangue
Siento el olor de un pueblo ensandecido.
Estúpidos en jornales, canallas perros
Aullando lo que mandan sus patrones.
Siento una sequia en mis labros,
Y la palabra presa en la garganta
Devastará las putas y los toscos
Serviles de un poder sin cualquiera ética,
Usando el nombre de un hombre gigantesco
Destrozado por los pastores homofóbicos,
Rabiosos ladrones de la esperanza.
Profanando lo más sagrado con su sucia
Presencia en los templos con sus cánticos,
En busca de las ofertas de los tolos
Para diseminar el odio entre los hombres.
Brasil, de Malafaias, Bolsonaros…
¿Hasta cuando Jesús ha de tener Su nombre destruido?
Las llagas siempre abiertas por los tantos
Que beben cada gota de su sangre.
Mis hermanos miserables y hambrientos,
Sirviendo cual repasto a esos lobos,
Vergüenza, y mañana venganza con cuerpos
De los lobos expuestos en las calles, en las plazas.
Guillotinados por las manos de los corderos…


MARCOS LOURES

NA NOITE FRIA

=

Quando busco o calor na noite fria

Quando busco o calor na noite fria,
Encontro, tantas vezes, verdadeiro,
A chama que transforma essa agonia,
Deliciosa chama desse isqueiro...

Que traz a luz; penumbra e poesia,
No meu cigarro, brilho mais useiro,
Traz toda essa esperança que eu queria,
Vertida nessas cinzas , meu cinzeiro...

Sim, fugiste; fumaça, labareda...
Restando apenas tristes recordares,
A sombra, esfumaçada, na vereda;

Por onde tu partistes, nos luares.
Só peço a Deus, então, que me conceda:
Poder te procurar, por esses bares...

MARCOS LOURES

FESTA GOSPEL

FESTA GOSPEL

Não perco um carnaval, destes, cristãos, 
Adoro tomar umas vez em quando
Deu confusão? Depressa vou sarrando
A mão vai passeando pelos vãos.

A moça faz carinha de coitada, 
Mas gosta desta puta sacanagem, 
A bunda arrebitada dá coragem, 
Nas coxas de um babaca uma encoxada

E seja tudo em nome do Senhor, 
A putaria toma toda a praça
É reza misturada com cachaça
E nisto o pessoal faz seu louvor.

Olhando lá pra cima logo avisto, 
Pedindo ao Pai perdão de novo, Cristo...

MARCOS LOURES

NAS MINHAS MÃOS CANSADAS

NAS MINHAS MÃOS CANSADAS



Nas minhas mãos cansadas, a luta incessante da lida, os ouvidos atentos, espreitando o canto do amanhecer, refletido na lida distante e constante, na tímida fragilidade das esperanças acalentadas pelo gosto da aurora, brilhando por sobre os edifícios e barracos.
Minha vingança nunca tarda, retrata o tempo esgotado, o ardor mitigado da dor da contradança consumada num ato insensato de perdão.
Quero a pretensão de ser livre e morrer no mar, no amor e marte, na sorte dos destinos sem tatos e sem tinos, sentidos expostos e impressionantemente vagos.
Quero o vagão do trem passando pela porta da namorada, na amada alma, animada festa, pela fresta da porta entreaberta, na cidadezinha pacata, acatando o recato e o recado das meninas, que me ninam e me transitam, corpo e alma...
Quero o orgasmo da chama ardente no peito, no contrasenso imenso, imerso, às avessas, bailando a esmo por entre sentimentos e lamentos, meus momentos mais frágeis e cruéis.
Nos reveses, as lacaias dores, amores vencidos e passados a limpo, num timpânico reboliço, noviço e vicioso, contraposto e audacioso, num exposto e nevrálgico alento.
Quero ter o termômetro e o tormento, o acento e o incestuoso desejo de amar a mã terra, minha origem e meu ocaso, por acaso, companheira de tantos tempos e temores.
Na natureza soluçante de meu amante peito, perto e completo, complexo e sem nexo como o vai e vem das ondas, das vastas ondas do meu mar, marés e manhãs são, sobremaneira enfáticas nas mãos cansadas da tarde crepuscular da da existência.
Quero a clemência pelos pecados, pelos olfatos e carícias, pelas delícias algozes, vorazes e velozes que me conduzem ao orgasmo.
Quero o marasmo da vida o cansaço do depois, após o cio, o vazio do prazer satisfeito, do tudo feito e nada compreendido, no sarcástico sorriso preciso e necessário, dos vários modos de amores- perfeitos, mesmo contrafeitos, do feitio exato, do ato exalando o olor de todas as dores que o prazer proporciona.
Sei ser o não fui, nem sei nem serei, sei ser o calado, o mudo e sensato, mesmo que, na insensatez da tez que a vida apresenta, sei me conter no infinito, no rito mais melodioso dos cantos mais belos, nos vôos perfeccionistas das artistas borboletas.
Sei o amor da mãe, numa manhã, numa manha, numa sanha que assanha e debocha, desabrocha no outro colo, no solo do amor maior.
Do amor divino pelo atino e desatino, desalinhando cabelos e novelos da lã mais bonita, numa multicolorida esperança.
Falo do tempo, do tento, do invento e contrato, do cadarço do sapato que a surpresa desamarrou, no tropeço mais distante, num concerto mais vibrante, consertando o que fora erro e desterro de um sonhador.
Meu gesto tresloucado, atado a cada passo, num compreensível desgaste, num arremate fatal, trazendo a tradução do trabalho que atalha o complexo processo de batalhas pela sobrevida anunciada, com os medos e cantigas esquecidos no fundo da memória.
Marcho para o misto de broto e poda, num eterno ziguezaguear do parto e morte, arrematando-me integralmente para o futuro, escuro e vago da brisa e tempesta, da festa e sofrimento que acalentam e acalmam, que riscam, cometas e cometem as mesmas intransigências que nem as clemências nem as impotências podem traduzir mais corretas.
Por fim, tenho meu mundo nas mãos cansadas, mas soltas, arrematadas para o amanhã.
Ditos e mitos são meus cálices onde mergulho e naufrago, onde me embebedo nos tragos trazidos pelo transitar dos meus segredos, os medos e os cantos.
Meu pomar de carinho, meus ninho, aninho-me, te acarinho, mas morro, sozinho..



MARCOS LOURES.

UN NUEVO BRASIL...

UN NUEVO BRASIL…

El viejo comunista se despierta
En el corazón de un demócrata
Envuelto por cenizas sin provecho
En el pecho las marcas de las garras
Hambrientas de los cuervos brasileños,
La sucia se desnuda en la prensa
Con la omisión de los hombres del poder.
Los pastores y los curas de las parroquias
Tragando el mismo opio hecho en rabia,
Ecologistas besando latifundios,
Socialistas unidos con dictadores,
Y ese intricado en desencanto
Prepara el genocidio de los pobres.
Así, orquestados por un crápula.
¿Cual barco enfrentará hasta un manso arroyo?


MARCOS LOURES

AS SOMBRAS DO QUE FUI



AS SOMBRAS DO QUE FUI

Olhando cada sombra do que fui
Revejo desde cedo os meus engenhos,
E aonde poderia com empenhos
Mudar o meu caminho, nada influi.


O tanto que sonhei e o peito intui
Traduz estas diversas faces, cenhos, 
Traumáticos deveras desempenhos
A incompetência; assumo e o mundo rui.


Risível caricato, nada além.
Perdendo tanto tempo em solitário
Caminho que bem sei desnecessário


A poesia é morta e não convém
Somente a quem delira ou se perdeu,
Assim como bem sei, deveras, eu.


MARCOS LOURES.

TANTO MAR

TANTO MAR

Tanto mar, quantos meus desejos pedem
Tanta vida, meus mares perceberam
Esses carinhos, tentadores, cedem
Por mãos mais que fiéis, te conceberam

Nesse último instante, em que se medem,
O quanto fora vida que me deram
Num prenúncio cruel dos que antecedem
As dores dessa angústia, me fizeram

Buscar, nessas cansadas, manhãs vivas,
Um trapo, restos, cárceres privados
Onde alimento tantas mais cativas

Quanto forem meus ritos mais calados
Mais contidos, qual flores que cultivas,
No meu ato final, desesperado...

MINHAS ESPERANÇAS

Seriam tantas, minhas esperanças
que nunca mais tentar, conseguiria
tenho na boca, o gosto das lembranças
dos beijos e da farta fantasia...

seriam tolas, loucas as andanças
por vagas noites, noites de Maria
doce menina, belas negras tranças,
além do mar, do sonho em que podia,

transportar os meus barcos no teu mar,
cravar de meus delírios, os teus seios,
amar além do cais, no caos, amar,

viver sem ter mais medos nem receios,
compor as melodias ao luar,
saber-te mais feliz, nos meus anseios..

MARCOS LOURES.

PROCURADO PELA ESSÊNCIA

PROCURO PELA ESSÊNCIA

procuro pela essência sem clemência, de um canto novo
onde posso escapar devagarinho, como fora um rio
instigado a conhecer o mar, imenso mar onde espero
por doces brilhos de luares mansos, onde espero o que
por ser o que é, só por ser, venero, e não alcanço;
procuro pelo colo amigo, sem perigo, sem transtorno
onde poderia de retorno à vida, encontrar perdidos dias
vazias as mãos, o peito aberto, recoberto, descoberto
insensatamente exposto, num agosto qualquer,
a procura de um silencioso reflexo de um por de sol
nesse mar intenso que penso ser meu porto, onde
vivo ou morto, pouco importa, descansaria
procuro pelo canto singelo de um pássaro, qualquer
pelo afago de mãos carinhosas, quaisquer.
por um trago doce de uma boca amiga
que nada mais faria a não ser abençoar
a força inaudita e bendita que nos faz capaz
de sermos o infinito, um maravilhoso grito
um grito fantástico e formidável
amável, sereno um canto de paz...

QUEM DERA SER POETA

QUEM DERA SER POETA

Quem dera ser poeta e traduzir
O quanto de esperança possa ter
O amor quando além de algum prazer
Transcende a cada instante o que há de vir,

Meu corpo amortalhado no sentir
As marcas de um passado onde viver
Dizia deste rude  conceber
Sem mãos o dia a dia a se esculpir.

Agora que percebo um novo ocaso,
O mundo se desnuda em mero atraso
Volvendo seu olhar para a rapina.

A dama com nariz apodrecido,
No pó pelos mais ricos consumido,
Prostituindo o sonho da menina…


MARCOS LOURES


ESTREITO TUAS MÃOS EM MEU PEITO

ESTREITO TUAS MÃOS EM MEU PEITO...

EU ESTREITO TUAS MÃOS EM MEU PEITO
MEIO CONTRAFEITO, MAS CONTENTE
ÉS O NASCENTE, MEU RUMO
ME APRUMO E TE DESEJO
UM SEIXO ROLANDO NO RIO
MEU ÓCIO É TEU VÍCIO
MEU CIO TEU CONFORTO
MEU PORTO O TEU MAR
MEU MUNDO TUA LUA
A RUA QUE TRAFEGAS
ME COMPLETA, ME TRADUZ
SE SOU POETA, TU ÉS LUZ

MARCOS LOURES

EL VIEJO BUITRE, o la canción de un brujo sin carácter

EL VIEJO BUITRE, o la canción de un brujo sin carácter

El buitre viejo y sin carácter
Ahora un inmoral hecho inmortal
Trasciendo su platea mendicante
Desnuda siempre la misma arrogancia,
Y la platea tola en su mediocridad
Aplaude el viejo crápula con su falacia,
Emborrachado cocainómano hermoso
Con el dinero de las escuelas
Hace un aeropuerto en sus haciendas
Y los cristianos apoyan esa excrecencia
Después, arrodillados en sus iglesias,
Maldicen un trigal lleno de joyo.
Olvidando las hierbas nefastas de sus quintales.
Así es la imagen más dolorosa
Que espeja lo que fuera un país.
Y, mañana, saciará el hambre de los poderosos
Con la sangre de nuestros haitianos brasileños…


MARCOS LOURES 

BRASIL... EL PAÍS ABORTADO

BRASIL… EL PAÍS ABORTADO

La fuerza se perdiendo con el tiempo,
Los cuchillos penetrando el pecho inerte,
Rompiéndose los anhelos, esperanza,
Trucidando con el desarrollo de la farsa,
Dispersos pedazos en las calles,
Mi cuerpo prenuncia apocalipsis
Y los puercos burgueses con sus risas,
Entregan el futuro, sin saber,
El presente destroza algún futuro
Y jactase de tener hombredad.
Un cocainómano sobrevuela con alas abiertas
Escondiendo las garras más ferinas,
Y la prensa vendida a los sucios intereses
Persiste estimulando eso holocausto.
El claustro de las esperanzas
Emblemático cielo gris en azul hecho.
Así camina mi Brasil,
Rumbo al increíble abismo
Creado por los canallas, ignorantes y mediocres.


MARCOS LOURES 

AGUARDANDO A MORTE




Sabendo ser minha alma quieta e triste, 
Vasculho qualquer sombra de ilusão
E tento mesmo às vezes negação
Porém esta incerteza enfim persiste.


O quando da mortalha ainda existe
Moldando esta figura em solidão,
O rito mais audaz: transformação, 
O mundo ainda teima, atroz insiste.


Resido no passado e disto eu sei,
Pudesse renovar a minha grei
E ter novo horizonte, mas a sorte


De quem se fez um louco alucinado
Viver marmorizado neste prado, 
Aguardando silente pela morte



MARCOS LOURES.




FECUNDIDADE, O AMANHECER

FECUNDIDADE, O AMANHECER

O amanhecer repete o gosto do desejo reprimido, repetido na boca doce da madrugada,no beijo dado na esperança de uma aurora mais fecunda.
O gosto da vida inunda os pastos, a lavoura, a alma, no pólen que se espalha, preso nas patas das abelhas, no vento na explosão de fecundidade.
A avidez pela sobrevivência confunde pernas e penas, sêmen e sementes, espectros passeiam loucos, desvairados, orgísticos.
Num místico canto, da terra emanam os sons do amor divino, num hino de louvor ao nascimento, ao contínuo ato de amor, orgásmico e acalentador.
Das estranhas do solo, florescem entre poros, os olhos risonhos dos brotos e dos filhos;
Nesse momento místico, o transe da terra, numa transa sem trâmites, sem nexo, o sexo pulula, amanhece o dia e a vaga poesia invade tudo.
Transborda por todos os cantos, num mantra, num cântico, entre tantas esperas, num desesperado gesto, um incesto sem protesto, uma dança profusa, confusa, abusa de tantas rimas e climas, atiça o desejo, sem beijo, sem traumas.
Na aparente calma, um tornado em torno de todos e tudo, transita pelos galhos, pelas folhas, voando nas borboletas, nas asas das libélulas, em todas as células e gametas, cometas são estrelas da vida, dívida paga, da vida devida, afaga e completa-se.
Nessa profusão de cores, de amores e de flores, nessa confusão bendita, neste solo acariciado, marcado por mãos divinas.
Nesse néctar, ser poeta é fácil, vira vício, é o início da revivida manhã, da sortida alegria desse dia, novo dia, novo canto, meu encanto, poesia...
O cheiro do amanhecer me toma inteiro, nesse janeiro do meu país; em busca da farra fantástica da igualdade, da brincadeira à esmo, do gosto do torresmo, do cheiro da dama da noite, da distância do açoite, do vento assoprando suave.
Da chave da felicidade, na feliz cidade, no gosto do beijo da história.
Na vitória inadiável, no amor incontrolável, na paz capaz de vingar.
No fim da noite sangrenta, no dia que arrebenta; que profuso, faz o cafuso sonhar.
Com o gosto da goiabada, o beijo da mulher amada, o cheiro intenso do café, da fé de saber-se imenso, maior que tudo, o mar...
Brasil, me abrasa teu rumo, chegaste, afinal ao prumo, agora ninguém te detém.
Nesse louco cataclismo, o meu, teu socialismo, me traz teu novo refrão; o de fecundar o solo, de transmudar todo poro de tua gente em perfume.
Agora, atrás do teu lume, iluminando o continente, cheio de gente contente, que atravessa por cordilheiras, por matas, abrindo bandeiras, atrás de rica esmeralda;
Esmeras, pois és Eldorado, mundo mais que encantado, é tua a solução.
Para se acabar com os soluços tantas vezes convulso, da triste América católica, extropiada e frágil, agora, correndo ágil, em busca da liberdade.
Da liberdade do solo que, na sua fecundidade transporta o belo amanhã.


MARCOS LOURES