sábado, 14 de agosto de 2010

45001 até 46000

001

Amiga, como é bom falar teu nome,
Um manso lenitivo para mim,
Chegando bem mais perto do meu fim,
A vida por si própria me consome.

O rastro da existência aos poucos some
Voltando ao mesmo pó de aonde eu vim
Estrelas esquecidas no jardim,
O tempo se esvaindo, o nada tome...

Mas tendo esta certeza aonde amiga
Com todo o teu carinho, a vida abriga
E traz algum alívio, o derradeiro.

Meu canto se perdendo com o vento,
O sonho, na verdade nem mais tento,
E apenas no teu colo em paz, me inteiro...

002


Há quanto necessito algum apoio
Se a vida trouxe apenas decepções
E dias mais atrozes; furacões
Avassalando em mim qualquer arroio,

O tempo se oferece em lodo e joio
E os dias entre tantas seduções,
Enquanto um porto manso tu me expões
Dos sonhos refazendo o seu comboio.

Aprendo a cada instante e sei do quanto
O mundo é traiçoeiro e movediço,
E quando no teu braço, amiga eu viço

Pressinto após borrascas tal encanto
E nele mergulhando sinto que inda
Alguma luz diversa além deslinda.

003


Em aprazíveis sonhos, ilusões
Tomando com ternura outros cenários,
Os passos muitas vezes necessários
Enfrentam divergentes direções,

E quando clareza tu me expões
Os ritos mais do quanto imaginários
Ousando noutros tantos ledos vários
Reconhecendo enfim as soluções.

Depois de tantos anos, meses, dias
Imerso em sendas toscas e sombrias
Arcando com o preço de sonhar,

Eu pude finalmente ter à frente
Um dia que decerto me apascente
E possa em paz ao menos navegar.

004


A vida se prepara em tons diversos
E gera desconcertos dentro da alma
E nada na verdade ainda acalma
Quem vaga sem sentido em universos

E quando vejo aquém dos sonhos, versos
A sorte se desenha em novo trauma,
Pudesse conhecer da vida, a palma,
Destinos mal traçados e perversos.

Alentos nos teus cantos de amizade,
Sabendo neste tanto que ora invade
A rara sensação de ser além

Do pouco quanto tive e ainda tenho,
Fechando o tempo às vezes mais ferrenho,
Uma esperança em ti, amiga, vem...

005

Apascentar o verso de quem tanto
Lutara inutilmente contra a fúria
Da vida se traçando em dor e injúria
Apenas o vazio; em mim garanto

E quando vejo nua a face espanto
E sinto me rondando esta penúria
Sem nada que deveras inda cure-a
Resulto o meu vazio em farto pranto.

Mas quando ao fim de tudo vejo a luz
Refletindo teus olhos solidários
Os dias não seriam temerários

Aonde outro cenário se produz,
Erguendo o meu olhar neste horizonte,
Percebo o quanto além o olhar aponte.

006


Não pude ter senão meus erros; farto
De engodos costumeiros numa vida
Ao mesmo tempo intensa e sem medida
Enquanto ao mais distante rumo eu parto;

As luzes mais sombrias no meu quarto
A própria persistência é desprovida
De base preparando a despedida
E o nada que inda trago ora comparto.

A vida em face escusa, dura e ingrata
Aos poucos cada laço se desata
E esta alma vai liberta, sem seus lastros,

Perdida no horizonte imensurável
E quando encontro em ti o ar amigável
Persigo e até sedento leves rastros.

007


O amor quando se faz em tal partilha
Somente por haver e sem cobranças
E neles com certeza me afianças
Do rumo aonde o tempo em paz rebrilha.

Minha alma acompanha a clara trilha
Enquanto para além eu sei que avanças
E a vida se transborda em esperanças
Que a voz desta amizade além polvilha.

Reparo meus enganos do passado
E tento um novo dia anunciado
Há tanto nalgum sonho redentor.

Sabendo então decerto o que nos une
Às tantas tempestades segue imune
Mais forte até do quanto pode o amor.


008

Jazigo da esperança o dia a dia
Espalha tão somente os temporais
E vejo nestes olhos outros tais
Trazendo a face escusa em ironia,

Bem mais do quanto pude ou tentaria
A vida se repete em rituais
E os erros costumeiros e venais
Expressam o que jamais eu poderia.

Resulto de outros tempos, vida atroz
E sei quando se rompem; firmes nós
E a bancarrota gera o caos imenso.

Mas tendo um raro apoio sem cobranças
Enquanto com ternura tu me amansas,
Nos braços da amizade eu me compenso.

009


Aonde procurei estas respostas
A vida não presume senão queda
E quando o sonho em vão não se envereda
Nas cenas onde tanto queres, gostas.

Enquanto o dia a dia sempre arrostas
A sorte noutra face da moeda
Transforma o meu caminho e me segreda
Apenas as mortalhas decompostas.

Mas quando ao fim da vida, minha amiga
Trazendo esta palavra em que prossiga
Esta esperança frágil, mas presente.

Enquanto a tempestade dita regras
Os dias; em cenários bons integras
E encontro a mansidão que à dor alente.

010


Pudesse calmamente navegar
Envolto nas venais cotidianas
Paisagens dolorosas e profanas
Tentando a paz imersa em outro mar.

Cenários tão diversos; posso olhar
E neles as tristezas soberanas
Amortalhando dias e semanas
Sem cais onde eu consiga me aportar.

Mas quando te percebo, velha amiga
A sorte noutra face se desdiga
E gere a mansidão que necessito.

O risco de sonhar já não me assusta
Palavra mais tranquila e mesmo justa
Tornando este caminho mais bonito.



011

As costas já lanhadas pelo medo
E o quanto acreditara noutra cena,
A vida se perdendo me apequena
E aos erros novamente eu me concedo.

O canto procurando novo enredo
E neste desenhar o que serena
Expressa a turbulência desta pena
Aonde me desenho em ar tão ledo.

Sedento de outros rumos, vida afora
Meu canto na verdade se extrapola
Tentando propulsão em frágil mola,

E a solidão aos poucos me decora,
Não fosse a solidária companhia
Desta amizade; além me perderia...



012

A noite me encontrando ensimesmado
Sem lua, nem estrela em tez brumosa,
O fim a cada ausência se antegoza
O verso sem sentido é meu legado.

E quando neste vago mergulhado
A vida se desenha caprichosa
E sei desta figura belicosa
A cada barricada se formando.

Um passo solitário rumo ao quanto
Pudera noutra face e te garanto
Trouxesse pelo menos calmaria,

E ver o dia a dia que degrade,
Encontro a fortaleza em amizade
E assim qualquer tormenta enfrentaria.

013


Os raios que eu buscara em tantos sóis
Esparsos pelas sendas mais nubladas
Vagando por espúrias, vãs estradas,
Sem ter qualquer noção de outros faróis.

Mas quando calmamente reconstróis
As sendas mais tranqüilas, desejadas
No quanto me redimes, tanto agradas
Meus olhos te perseguem: girassóis.

Ao perceber enfim tal claridade
E nela esta real fraternidade
Expondo o que melhor eu poderia,

Resulto deste nada aonde traço
O canto mais audaz, e ganho o espaço
Ao vicejar nesta alma um novo dia.

014


A vida retornando ao seu normal
Depois de tantos erros, meus enganos,
E acumulando apenas tantos danos,
Encontro noutro rumo um magistral

Desenho feito em paz, cada degrau
Alçando com meus sonhos soberanos
Refaço o meu futuro em novos planos
E sinto dirimido qualquer mal.

Potencializando o riso em paz,
O quanto da amizade ora nos traz
Certeza de um apoio e de um abrigo;

Porquanto ser feliz é mais que sonho
No quanto te desejo e me proponho
Contigo, companheira; em paz prossigo.

015


Esqueço os meus antigos dissabores
Cerzindo alguma messe doravante,
No quanto da amizade se adiante
Permito-se seguir por onde fores.

E tento cultivar diversas flores
Aonde apenas ermo e degradante
Cenário se mostrara e num instante
Prenunciando enfim claros albores.

Esboço reações e tento até
Saber do quanto posso e sei que é
A força geratriz desta esperança.

Assim sem mais defesas sigo imerso
E em direção a Deus agora eu verso
No encanto onde a amizade diz fiança.



016


O destino por vezes é cruel
E nega ao sonhador qualquer alento,
E quando do passado ainda tento
Vencer os dias turvos dor e fel;

Percebo solitário e vago ilhéu
E nele se traduz alheamento,
Mas novo caminhar bem mais atento
Expressa um novo tom neste gris céu.

E o verso enaltecendo a qualidade
Superna de quem tanto quer e brade
Gestando outro delírio em bom anseio.

A base desenhada nos teus braços,
Vencendo com ternura tais cansaços
Deslindam horizontes; devaneio...

017

Quando a rosa dos ventos eu perdi
Naufrágio se mostrara em iminência
Além da mais dorida impaciência
O mundo se esvaindo já daqui.

E assim a derrocada; percebi
Num ermo caminhar em impotência
A vida se negando a dar ciência
Do quanto desejei e nada vi.

Respaldos; os procuro e no final
O solo movediço recendendo
Ao quanto se mostrara enfim horrendo

O olhar sem mais sentido e banal.
Resulto dos mosaicos que conheço,
Porém amiga, evitas meu tropeço.

018

A vida feita em festa, uma ilusória
Imagem discordante da verdade
E quando vem inteira e assim me invade
Traduz a realidade mais inglória.

Espelho dentro da alma a fria escória
E busco novo tempo sem a grade
Insana que impedindo a liberdade
Desfaz qualquer caminho em nova história.

Escarpas costumeiras, tanta roca,
Naufrágio da esperança se provoca
Enquanto a tempestade em mim prossiga;

De tanto sofrimento vida afora
Apenas um momento em paz se aflora
É quando te percebo aqui, amiga.


019

As alvoradas mortas entre nuvens
Espessas ditam cedo o turvo norte,
Sem ter sequer um passo onde conforte
Gerando outros caminhos em desdéns.

Ao me entranhar nos sonhos, sei que vens
Amiga e com certeza outro suporte
Cicatrizando a vida quando corte
E nela se apresentem raros bens.

Vestindo esta ilusão aonde eu pude
Viver com mansidão e plenitude
Raiando novo tempo dentro em mim,

Ao ver no manso olhar mais solidário
O rumo muito além do imaginário
Trazendo após o estio este jardim.


020


A noite traz cenários tão sombrios
E deles eu desenho novo rumo,
Tentando a cada passo o quanto assumo
Salgando com meu pranto, ledos rios.

Fortuna se perdendo nos estios
Uma esperança expressa o fátuo fumo
E quando meu caminho em vão resumo,
Os sonhos se transformam; desafios.

Negar a persistência do passado
É não traçar defesas no futuro
E quando este cenário; vejo-o escuro
Aprendo com engodos de um traçado

Marcado por imensas derrocadas
E vejo após o tanto meros nadas,
Cerzindo uma alegria que redime,

Herético desenho me degrade,
Mas quando vejo em ti rara amizade
O dia se desnuda, mais sublime.



021


O amor quando supera o próprio amor
Transcende ao mais superno desenhar
E neste raro e farto desejar,
O mundo antes grisalho é multicor.

Já não pudera mais sequer me opor
Tomando com ternura este lugar,
Trazendo a cada instante o manso olhar
E nele uma certeza em raro albor.

Enquanto o dia dita este abandono,
Nas tramas d um carinho; em paz, me abono
Vencendo as resistências de quem tanto

Bebera tão somente o desencanto
E agora neste canto já se abriga
Ousando ver em ti a grande amiga.

022


Procuro entre meus versos o que eu possa
Trazer aos meus caminhos nova luz,
E quando ao mais temível mar conduz,
Agigantando em mim cratera e fossa,

Somente uma expressão, meu sonho endossa
E dela novo fato reproduz
O quanto na verdade me seduz
Tramando a mesma dita, tua e nossa.

Após as tantas quedas costumeiras
E nelas outras; sinto. Mas tu queiras
Com tua mansidão verter a paz

Aonde a vida trama em vago enredo
Às teias da amizade eu me concedo
E sei quanta benesse o tempo traz.


023

A noite dolorida e solitária
Traduz a discordância, sonho e gesto
E quando ao mais feliz cenário empresto
A voz que tanto quero solidária.

A vida quando atroz e temerária
Num ato em sordidez, ledo e funesto
Permite o caminhar aonde atesto
Esta esperança além de necessária.

Meu canto em amizade pode até
Ser mera fantasia e por quem é
Gerar outra ilusão entre diversas.

Porém quando esta luz tu compartilhas
A messe conhecendo as raras trilhas
Por onde; minha amiga; agora versas…

024


Não quero a despedida de quem tanto
Ao vicejar minha alma me permite
Saber quanto se pode além limite
E neste desenhar; a paz garanto.

A vida se transcorre num quebranto
E quando noutra face se acredite
Sem nada que deveras delimite
Liberto com ternura um manso canto.

Mas quando distancias dos meus passos,
Os dias entre nuvens seguem baços
Negando ao andarilho uma estalagem.

Enquanto por si só tudo esvanece
Nas tramas da amizade a sacra prece
Permite renovar-se tal paisagem.

025


Estrela que se foi e não voltando
Deixou vazio imenso nos meus dias,
E quando noutro encanto não querias
Sequer o meu caminho, atroz ou brando.

O tempo; sempre o vejo transformando
Deixando demarcadas ironias
E marca com as faces mais sombrias
O quanto se desenha mais infando.

Amiga, noutro rumo não a vejo
E a cada novo dano mais almejo
A tua companhia, pois me alenta.

A sorte discordante dita o fim,
Acende do vazio este estopim
E espalha dentro em mim leda tormenta.


026

A cada novo instante a vida traça
Diversa e discordante paisagem
E quando se procura a mansa aragem,
Apenas vislumbrando esta fumaça;

O tempo como tudo escorre e passa
Ainda busco além uma hospedagem
Cansado desta longa e vã viagem
Imersa em desengano, vil trapaça.

O verso que me alenta não sacia
E o quanto vejo aquém a luz do dia
Enquanto solitário vago em vão,

Pudesse, minha amiga tê-la aqui,
Mas quando a direção; cedo eu perdi
Apenas turbulências se verão.

027


Distante de quem tanto quis um dia
Além de mero amor, compartilhar
As brumas e também raro luar
E neste desenhar te concebia.

Amiga, novo tempo em ironia
Tomando cada passo e em seu lugar
Apenas o vazio a se mostrar
Tocado por total dissintonia.

Arvoro o pensamento e busco outrora
A sorte aonde o sonho em paz ancora
E transcendendo à vida e muito além

Concebo nesta sã fraternidade
A luz que finalmente toma e invade
Gerando cada sonho que a contém.


028


O mundo que pensara em perfeição
Ou menos mais tranqüilo se perdendo
Num ato mais atroz e mesmo horrendo
Dos ermos de minha alma, solidão.

Esboço em novos dias que virão
Um rumo mais suave em dividendo
E as tramas do passado percorrendo
Ajudam discernir a direção.

Já não comporto mais o solilóquio
O sonho desde quando assim provoque-o
Expressa uma esperança onde eu prossiga

Depois de tantas quedas, erro farto
Além deste horizonte agora eu parto
Apóio-me decerto em ti amiga.


29

Amiga; uma esperança muita vez
Impede o vislumbrar deste real
Caminho tantos dias mais venal
E nele nada além ainda vês.

Não posso mais conter a estupidez
Liberto o coração; imensa nau
E galgo além de todo o sideral
O encanto aonde o sonho em paz se fez.

No passo mais seguro, este horizonte
Ainda novo rumo venha e aponte
Traçando a redenção, porquanto somos

Do mesmo caminhar em convergência
O todo sem ao menos a ingerência
Do fruto libertário; firmes gomos.


30


A vida tanto afaga quão maltrata
E nesta insensatez eu vejo a senda
Que além do quanto pode ora se estenda
E nada do meu mundo enfim resgata.

A sorte enluarando em rara prata
Aos poucos noutro rumo se desvenda
E a cada caminhada enfim estenda
Sem ter qualquer soberba e sem bravata.

Uma amizade traça em firme passo
Um novo caminhar aonde escasso
Passado se transforma em esperança;

E quando se presume novo tempo,
Vencendo qualquer medo ou contratempo
Ao mais supremo rastro ora nos lança.


31

A sorte mesmo sendo traiçoeira
Permite se sentir a nova aragem
E sendo muito além de uma miragem
Que aos poucos dos meus olhos já se esgueira

Ousando na amizade, uma bandeira
Aonde se permite uma viagem
Além da corriqueira paisagem
Demonstra mesmo a messe derradeira.

Caminhos mais diversos, sendas várias
As horas são por certo procelárias
Na dura solidão que se apresenta.

Mas quando tenho em ti a base e o apoio,
Amiga discernindo trigo e joio
A vida não se faz tão virulenta.

32


O coração por vezes tão miúdo
Em meio aos vendavais quase constantes
E neste duro anseio por instantes
Deveras meu caminho eu desiludo.

O quanto desejara, mas, contudo
Searas tão sofridas, degradantes
Até que noutro passo me adiantes
Amiga no teu canto eu me transmudo.

E sei da solidária vida em nós
Ousando acreditar em mesma foz
Após as corredeiras mais temidas.

Uníssono sonhar em liberdade
Uma amizade expressa a claridade
Ultrapassando assim as próprias vidas.

33


Procuro nova luz aonde eu possa
Trazer em canto manso esta esperança
Enquanto outro caminho me afiança
Na sorte desenhada, toda nossa.

A vida noutro enredo se destroça
E ao nada após a queda já nos lança,
Mas quando se percebe a temperança
Na qual outro momento em paz se endossa.

Vestindo muito mais do que a promessa,
O tempo noutro instante recomeça
E gera um infinito caminhar.

Dos sonhos em comum este estuário
Transcende ao que pudesse imaginário
Não tendo nem mais tempo nem lugar.



34

Ao derramar um sonho redentor
Vencendo as discordâncias de uma vida
Aonde tão somente é pressentida
Seara feita em tanto desamor,

E seja da maneira como for
Ainda se percebe uma saída
Embora a própria essência nos agrida
Espinhos resplandecem numa flor.

Depositando o sonho aonde um dia
O tempo noutra face mostraria
Apenas tão somente a negação.

Mas quando o passo além em paz prossiga
No ancoradouro em ti, querida amiga
Os dias noutras faces se verão.


35

Apenas a certeza nos redime
Dos erros costumeiros vida afora,
E quando mais a lida me apavora
Encontro no teu braço o mais sublime.

O passo noutro rumo agora exprime
O quanto deste encanto em paz ancora
E nesta placidez já se demora
A luz que toda a treva ora suprime.

Acossam-me diversos sentimentos
E os olhos com certeza mais atentos
Aprendem novamente a discernir

Entre as entranhas turvas da existência
A mão que com ternura e paciência
Numa amizade dita um bom porvir.


36

Já não pergunto mais o quanto pude
E o tempo sonegara nos caminhos,
Os dias não seriam tão mesquinhos
Soubesse da amizade a magnitude.

E mesmo quando o passo desilude
Gestando em roseiras, seus espinhos
O fato de não sermos mais sozinhos
Permite no futuro uma atitude.

Respaldos para a vida em mansidão
As luzes da amizade mostrarão
Num horizonte belo e em calmaria

Depois dos temporais, clara bonança
E a vida mais tranquila agora avança
E a cada novo dia se recria.


37

Um coração há tanto abandonado
Jorrando em dores, medos, dias vagos.
E quando imaginara mais afagos,
O rumo noutro instante desenhado.

O mundo se perdendo e quando enfado
Presumo a mansidão em outros lagos
Bebendo a vida em fartos, grandes tragos
O tempo noutro rumo anunciado.

Cansado das batalhas corriqueiras
E neste delirar busco bandeiras
Aonde eu possa até crer num futuro

É quando em consonância me permito
Viver este momento mais bonito
Que apenas na amizade ora asseguro.

38

Um novo tempo enfim se aproximando
Depois de tantos erros do passado
O quanto do caminho sonegado
Transforma em temporal o que era brando.

A vida em seu momento delicado
Presume novo tempo desenhando
Após o temporal amargo e infando
A doce maciez de um manso prado.

Escárnios são comuns, não me detenho
Sabendo do meu passo mais ferrenho
Buscando-te deveras, minha amiga

Encontro-me decerto em tais montanhas
E nelas vejo além e quando entranhas
A sorte que decerto agora abriga.

39

Promessas de outros dias; inda as vejo
Cevar a fantasia é necessário,
Ainda quando o tempo temerário
Impede qualquer luz em turvo ensejo.

Porém quanto mais duro o que negrejo
Nesta alma, noutro rumo atroz e vário
O canto adentra além do imaginário
Permite amanhecer em azulejo.

Se a vida, muita vez se faz ultriz
No quanto outro caminho em paz eu quis
Vencendo a turbulência que degrade

Meu passo sem sentido ou direção,
Agora na amizade o imenso vão
Tocado pela intensa claridade...


40


Pudesse acreditar numa perene
E firme solução para os dilemas
E quando noutro instante; ainda temas
O canto quando em paz se concatene.

A solidão deveras envenene
E dela se constroem tais problemas
A liberdade vaga traz algemas
Enquanto a turbulência não serene.

Esboço alguma sorte aonde um dia
O mundo na verdade não teria
Sequer a menor chance de mudança,

Mas quando, minha amiga esta aliança
Supera a noite amarga e mais sombria
O passo para a paz assim avança.

41


Há tantas ironias nesta vida
E quanto mais procuro explicação
Encontro a mesma frágil direção
Sem nexo, sem proveito sendo urdida.

Reflexo desta sorte decidida
Em ermos que deveras mostrarão
A mesma estupidez noutro senão,
Numa expressão há tanto já perdida.

São poucos sentimentos que inda sinto
Capazes de mudar o ledo instinto
Canibalesco e mesmo mais voraz,

Nas tramas da amizade alguma luz
E nela novo tempo reproduz
O quanto ainda vejo ser capaz.


42


Teus versos,
Doces pássaros azuis...
Voam livres nos espaços siderais
E por vezes, rasgam os céus
Como punhais...
E num pouso silencioso,
E tão profundo...
Deita os sonhos que colheu...

HELENA GRECCO

Amiga, a vida traz o libertário
Caminho aonde eu possa ter à frente
O quanto quer ou não que se apresente
Sabendo do momento temerário,

E quantas vezes; também fui corsário
Num passo até atroz e impertinente,
Mas quando outro desenho a paz pressente
O risco mais venal, desnecessário.

Meu verso se embalando na esperança
De um tempo aonde o sonho em paz se lança
Gerando outro cenário mais feliz.

Poeta é sonhador por natureza
E ainda quando o canto se faz presa
Do todo consagrando o quanto eu quis.

43


Singrar por oceanos em procelas
E ter esta certeza de algum porto,
Ainda que me sinta semimorto
Abrindo com firmeza velhas celas,

No quanto em claridade me revelas
A vida não permite um tolo aborto
Do sonho mais audaz, e sem conforto
O rumo em turbulências; sempre atrelas.

Mas sei do quanto é sempre então preciso
Vencer os mais terríveis prejuízos
Alçando no futuro a redenção.

Na voz de uma amizade se concebe
A liberdade imensa desta sebe
E dela novos tempos surgirão.


44

O amor é movediço e por isto
Traduz momentos vários, discordantes,
Mas quando na amizade tu garantes
O brilho que de longe agora avisto,

O sonho desejado e tão benquisto
Lapida dentro da alma os diamantes
E vejo a divindade por instantes
E neste delirar teimo e resisto.

Enquanto a vida traça luz opaca
E o passo noutra face já se empaca
Nas tramas da amizade a libertária

Vontade soberana não se engana
E mesmo numa face mais humana
Supera a tempestade temerária.


45

Uma esperança dita algum futuro
De quem se entrega sem a falsidade
Às sendas mais sublimes da amizade
E trama o que deveras asseguro

O passo mais audaz, vencendo o escuro
E nele não conhece algema e grade
Enquanto sem temores tanto invade
Tornando mais suave qualquer muro.

Augúrios tão diversos; vida traz
E quanto mais o mundo é vil, mordaz
Maior; vejo a importância de uma amiga

Impede que eu desista desta luta
Com força insuperável não reluta
E a vida rumo ao ápice prossiga.

46

Nadando contra a forte correnteza
Da vida em seus terríveis devaneios
Encontro na amizade os firmes veios
Vencendo qualquer medo ou vã surpresa

Banquete incomparável sobre a mesa
Ainda quando em dias mais alheios,
Presumo da esperança seus anseios
Uma alma se transporta quase ilesa.

Cerzindo o meu futuro a cada instante
Aonde a luz amiga me garante
Cenário promissor em tom suave.

O canto em consonância me permite
Ultrapassar qualquer turvo limite
Ousando na amizade como nave.

47

Não quero ser somente tanto omisso
Deixando-me levar sem luta e gládio
A vida se traduz em louco estádio
Aonde algum laurel; sempre cobiço.

E quando a vida traça em raro viço
Momento sem temor, na paz, pois; brade-o
E ao invadir as ondas deste rádio
Tocando o palacete e até o cortiço.

Uníssona expressão beija a esperança
E quanto em mais vigor além avança
Mudando a direção da humanidade

Amigos são irmãos em alma e gesto
Por isto meu cantar agora empresto
Ao redentor caminho em amizade.

48

Sem medo de enfrentar a tempestade
Ousando muito além quando percebo
E neste mesmo encanto em paz me embebo
Vibrando em consonância na amizade.

O canto quando além domina e invade
Bem mais do que qualquer mero placebo
Traduz o amanhecer onde percebo
Possível caminhar à liberdade.

Edênico cenário se veria
Aonde reine em paz esta harmonia
Numa irmandade sólida e tenaz.

Após qualquer borrasca, a luz virá
E sei do quanto quero e desde já
Na força da amizade ver a paz.


49

A raça humana perde a cada dia
O seu destino em rumo à plenitude
Enquanto no egoísmo já se ilude
Marcado cada passo hipocrisia.

O quanto o coração, pois fantasia
Numa mudança clara de atitude
Viver e perceber mais do que pude
A paz imensa e clara reinaria.

As divisões em tribos, ritos, traços
Permitem receber nestes espaços
As diferenças claras entre irmãos.

Mas na amizade pura e transparente
O olhar bem mais tranqüilo se apresente
Rompendo com cenários turvos, vãos.


50

A flor da liberdade traz a marca
Das mortes, podridões, erros venais.
Mas quando se percebem casuais
Anseios noutro rumo o sonho embarca.

A sorte se a percebo sendo parca
Não são mais importantes rituais
Do que a quanto sentem desiguais
Unidos num planeta e na mesma arca.

Encontro as cicatrizes tão profundas
E nelas outras tantas; onde inundas
Com água poluída algum futuro.

Numa amizade simples e singela
Religião mais plena se revela,
O resto é passo cego num escuro.

51

A voz; mesmo que seja tão distinta
Da tua deve ser, pois respeitada
Mesmo quando diversa alguma estrada
O céu em variável cor se pinta

E o passo rumo ao tanto não pressinta
Após a imensidão, o mesmo nada
A vida deve ser compartilhada
Ousando mesmo quando em vária tinta.

Numa amizade aprendo a conhecer
As variáveis todas deste ser,
Diversos os olhares num só foco.

E quando se presume uma amizade
Mesmo na mais sutil diversidade
Caminho para além tento e provoco.


52


Os sonhos são diversos, mas no fundo
O sentimento em paz nos aproxima,
Amaciando assim o duro clima
No quanto deste encanto eu já me inundo.

Riscando o mesmo céu, quando oriundo
De divergentes focos a doce estima
Respeito a cada passo nos redima
Enquanto no meu eu ora aprofundo.

As várias faces vivas deste Deus
Não trazem para os homens ledos breus
E a claridade irmana o pensamento

A força da amizade traduzindo
Caminho tão difícil, mas tão lindo
E nele caminhar em paz, eu tento.


53

Capacidade além do nosso passo
Traduz quando se enverga à força bruta
Inquebrantável força não reluta
E assim bem mais que possa; a paz eu traço.

Resistindo ao estio quando escasso
Caminho para o qual tanto se escuta
No fundo a solução não é astuta
E sim o respeitar de outrem o espaço.

O sol não reconhece diferenças,
Mas são diversas mesmo as recompensas
Naquilo que deveras tem valor.

Fraternidade gera a redenção
Com ela outros bens raros virão
Na paz, numa alegria em claro amor.


54

Já nada mais separe quem não creia
Na mesma divindade ou ideais
Os homens se irmanando são iguais
Até se noutra face devaneia.

A lua se transforma; nova à cheia,
Mas sempre com seus raios magistrais
E deles maravilhas; vós notais
O fogo em paz uma alma pura anseia.

Por mais que as diferenças sempre existem
Somente na amizade coabitem
Espaço igualmente repartido.

Assim ao se exercer uma amizade
Redime-se a soberba humanidade
De cada engano torpe construído.



55


Amar sem ter cobranças nem espera
Gerando noutro amor esta igualdade
E nela se percebe uma amizade
Vencendo a solidão, devassa fera.

O quanto do caminho se tempera
E se esta consonância agrada e invade
Numa transformação à liberdade
Contendo dentro em si a primavera.

Expressões variadas, mesmo tema
Vencendo calmamente algum dilema
Gestando a mais sublime poesia

Na voz onde este equânime destino
Ao qual somente em paz ainda atino.
Sublime sincronia geraria...


56


Do quanto que aprendi há muitos anos
Perdendo em egoísmo uma noção
Matando os novos dias que virão
Causando ao sentimento duros danos.

Os erros costumeiros, desenganos
Traçando a cada passo a solidão
Erguendo para além este olhar vão
Em atos de soberba, soberanos.

Os cânticos desta alma ora liberta
Permite à realidade o que desperta
Em nós a mais incrível divindade

Ousando ser ENFIM mais semelhante
Ao Deus que na amizade se agigante
Tomando em comunhão a humanidade.


57

Amigo, já te disse o quanto te gosto e admiro...
Como gostaria que os antigos estivessem certos,
Que o mel propiciasse a imortalidade,
Eternidade na temporalidade,
Alquimia do real e imaginário;
Daria-me inteira para você!
Feche os olhos,
Abra as mãos,
Receba a
Pedra Filosofal
Com toda sua unção e poder...
Regina Costa


Amiga neste alquímico caminho
O quanto se tocando a panacéia
Aonde com igual força esta idéia
Dum canto em consonância gesta o ninho.

É quando da deidade eu me avizinho
Além do mel, também real geléia
Apascentando a fera em fúria atéia
Invés da bela flor, gerando o espinho.

Amor numa partilha em mesmo rumo,
Mesmo em diversidade, também me aprumo
E bebo em raro gozo esta certeza

Da vida num harmônico desenho
E neste caminhar também me empenho
Fartando em iguaria rara; a mesa.


58


Apresentar diversa face quando
O olhar vislumbra sempre estes matizes,
E deste emaranhado tolas crises
Aos poucos plenitude deformando.

O quanto se permite ser mais brando
Sem nada que o deveras contradizes
Permite superar tantos deslizes,
A raça humana imersa em mesmo bando.

Em tantas divergências a harmonia
É sim; possível e nela se teria
Visão de uma suprema divindade.

Estendendo-se além deste horizonte
Aonde mais que a glória se desponte
A imensa força feita em amizade.


59

Compartilhar deste ar; da água em fonte
Idênticas as bases de um mosaico,
E quando se permite crente ou laico
O olhar no mesmo rumo sempre aponte.

Ousando na amizade, rara ponte
Unindo o mais moderno ao mais arcaico
Jamais se imaginando ser prosaico
O que diverge aquém deste horizonte.

Respeitar os limites e saber
Do quanto pode mesmo cada ser
Desde que esta união já prevaleça.

O canto em harmonia permitindo
Um dia mais tranqüilo audaz e lindo
Onde esta raça enfim com Deus pareça.

60

A queda nos ensina tanto quanto
A mais clara ascensão ao infinito
E neste desenhar eu acredito
Ou mesmo me adianto e já garanto

Vencendo qualquer dor, medo ou quebranto
Ousando em perpetrar superno rito
E nele mais que tudo este bendito
Momento aonde a vida tece um manto

Que possa nos cobrir em igualdade
Nas mãos de uma fantástica amizade
Um tempo aonde edênicos nos vejo.

E quando isto ocorrer um libertário
Caminho sem temer um adversário
Desenhe um mundo em paz, claro e sobejo.


61

O quanto se ensinara quando Cristo
Viera à Terra em paz e em amizade,
Ousando libertar a humanidade
E nada neste instante ainda assisto.

O fato de sonhar diz quanto existo
E neste caminhar meu canto brade
Traçando com ternura uma igualdade
E nela em paz suprema coexisto.

Enquanto a humanidade quer as bênçãos
Esquece da verdade em frágeis grãos
Cevando em discordância joio e trigo.

Ao discernir num mundo multicor
As várias faces tantas deste amor,
Soberania eu vejo em cada amigo.


62


São tantos os destinos e diversos
Dos quanto poderíamos viver
E neles noutro instante conceber
Sentidos mesmo vários, não dispersos.

Inúteis as palavras, sonhos, versos
Se na verdade noutro irmão meu ser
Já não pensar e assim reconhecer
Os meus caminhos nele agora imersos.

Ascendo ao mais sublime quando toco
Em irmandade além o mesmo foco
Embora nos caminhos diferentes

É quando se percebe a liberdade
Gerada pelas mãos desta amizade
Aonde coabites; não enfrentes.


63


Não vejo nada além deste horizonte
Que possa nos trazer a diferença
A sorte se traduz quando se pensa
Na vida como irmã, única fonte.

E quando mais até o olhar aponte
De um sol igual o mundo em paz convença
Não importando raça, cor ou crença
Usando para tal a mesma ponte

Gerada a cada dia e vigiada
Por alma em amizade desenhada
Traçando este futuro em harmonia.

Espaços são diversos, mas no fundo
Habitamos decerto igual tal mundo
Sobre ele igual estrela se irradia.

64


O amor supremo traça no respeito
O vértice dos sonhos num só canto.
E quando ao meu caminho eu me adianto
Já tenho o meu anseio satisfeito,

Na glória em irmandade me deleito
E assim também igual rumo garanto
Vencendo esta desdita e o vão quebranto
E desta forma sim, a Deus aceito.

Ao perceber em cada criatura
A imagem deste Pai, pois se afigura
Mesmo que haja diversa e vária crença;

Apenas neste amor sem ter medidas
Abençoando em paz as tantas vidas,
Esta aventura humana se compensa.


65


Lutar contra os anseios costumeiros
A sede de poder a cada passo,
E quando novo rumo penso e traço
Dividindo a colheita dos canteiros

Encontro os meus caminhos verdadeiros
E ao Criador entrego e já me enlaço
Em claridade imensa o outrora baço
Cenário entre desenhos mais rasteiros.

Alçar num horizonte a liberdade
E neste caminhar uma amizade
Expressa esta união entre diversos.

E assim ao perceber o mesmo início
Também final em precipício
Idênticos são todos universos.


66

Por mais que se divirjam os caminhos
Convergem para além, mesmo cenário,
Fazer do seu irmão tal adversário
É como à bela rosa crer espinhos;

Os ermos mais atrozes e daninhos
Há tanto disto eu sei; desnecessário
Desenho se traçando em temerário
Martírio entre diversos ledos ninhos.

Mas quando se apresenta uma amizade
O quanto houver em tal disparidade
Já se ameniza e posso até sentir

Um ar que nos redima do passado,
Deixando para trás este legado,
Criando abençoado e igual porvir.

67


Refaço a cada dia esta esperança
De um tempo sem senhores ou escravos
Por mais que os mares sejam toscos, bravos
A voz ao mais distante sempre avança

Uníssono destino ao fim de tudo
Não deixa que se veja diferenças
Em dívidas, terrores, recompensas
Ainda quando aquém me desiludo.

O Paraíso é sempre desde agora
E nele a consonância gera a paz
E dela novo rumo já se faz
Enquanto uma amizade nos ancora.

Ao aprender lições em harmonia
Um mundo mais feliz deveras cria.


68


São tantos os delírios deste alguém
Que pensa ser diverso só por crer
Em luzes e jamais as pode ver
Diversas das que traz numa alma outrem.

Soberba gera apenas o desdém
E nisto nega enfim o amanhecer
O sol a todos traça com prazer
O quanto em igualdade nos contém.

Em expressões diversas, una raça
Caminho em discordância teima e grassa
E nisto se aproxima de um demônio.

No quanto uma amizade em tom sublime
De todos os enganos nos redime
A Terra é de nós todos, patrimônio.

69

Num equilíbrio feito em paz e messe
O mundo poderia ser diverso
E assim com mais doçura cada verso
Ao mesmo caminhar já se obedece.

Mas quando este desenho não se tece
Num sonho mais comum, tanto disperso
Noutro cenário torpe e tão perverso
Origem que é comum o humano esquece.

As divisões em guetos e fronteiras
Por mais quando em verdade tu não queiras
Transformam cada ser em torpe fera,

Ao cultivar enfim uma amizade
Regendo em paz inteira a humanidade
Eternizando em nós a primavera.


70

Sedento de justiça e liberdade
O canto mais audaz se faz presente
Aonde noutro instante me apascente
Com toda a maravilha em paz invade.

Contendo com ternura a tempestade
O olhar em consonância traz em mente
Beleza sem igual e coerente
Rompendo uma corrente, galé ou grade.

Um Deus ou mesmo vários, o que importa?
Igual destino diz da mesma porta
Aberta pela vida em plenitude.

Sabendo ser assim iguais na sorte,
O quanto mais diverso já comporte
Presume com firmeza uma atitude.


71

O canto libertário necessita
Da terna e suave convivência
E neste caminhar a mesma essência
Expressa uma verdade que é bendita.

O amor sempre nos traz o que acredita
Uma alma com ternura em coerência
Não suportando assim a prepotência
Sabendo ser igual a nossa dita.

Ao terminarmos cada novo dia
Um novo com certeza se faria
E deste desenhar em cores claras

O tom que nos traduz uma amizade
Permite após a dura tempestade
A mansidão na qual messes declaras.


72


Um dia mais tranqüilo se apresenta
A quem conhece bem diversidade
E nela se transcende em amizade
Tornando a vida assim menos sangrenta

Quem tem numa justiça a voz sedenta
Concebe ser igual a humanidade
E com total desejo em claridade
A turbulência agora já apascenta.

Vestir a mesma manta feita em luz
Que equânime cenário ora produz
Num ato em pleno amor, sem distinção

Desnuda a face mansa onde resgata
A verdadeira glória intemerata
Ousando numa intensa comunhão.


73


Vencer a cada dia um desafio,
E crer numa possível liberdade
E quando o tempo além já se degrade
Saber lidar com perdas num estio.

O passo mais audaz quando o recrio
Ousando numa voz, na intensidade
Com base na mais sólida amizade
Ultrapassar as margens deste rio.

E tendo no horizonte a luz de um sol
E quando ele domina este arrebol
Divide em irmandade todo raio

Assim numa partilha conseguimos
Andar por sobre pedras, tantos limos
Enquanto o meu caminho nunca o traio.

74

A vida se permite muito mais
Do quanto inda acredita quem não sonha.
E quando tanto além já se componha
Tramando em transparência de cristais

Momentos com certeza magistrais
Enfrentando a fera mais medonha,
Ao todo que deveras se proponha
As bases sempre são fundamentais.

E quando se entrelaçam passos firmes
Nos quais e pelos quais tu reafirmes
A direção idêntica é composta

E nesta solidez a vida avança
Gerando a cada instante uma esperança
Trazendo a mais suave e audaz resposta.

75


Enquanto em horizontes mais dispersos
Os rumos se perdendo sem sentido,
Porém quando o caminho em paz urdido
Espalha esta ventura em universos

Assim reproduzimos bons, perversos
E neste desenhar o presumido
Encanto passa a ter além do olvido
Os dias mais felizes vendo emersos.

Gestando a cordilheira aonde eu possa
Saber da força imensa sendo nossa
Na solidariedade construída

Vencer as artimanhas mais atrozes
Unindo a cada canto nossas vozes,
Supremo desenhar tomando a vida.


76

Enfrentamos as tantas tempestades
Ousando numa intensa força feita
Nas tramas desta senda mais perfeita
Gerida por honestas amizades.

E quando em voz uníssona já brades
O manto se produz e se deleita
Uma alma plenamente satisfeita
Supera com ternura os vis degrades.

Nas ânsias contumazes por poder
Apenas na união eu posso crer
Na messe com amor compartilhada,

Assim por termos juntos nossos laços
Os dias não serão deveras baços
E clara em plenitude uma alvorada.



77


Bem mais do que parceiros, sendo amigos
Ousando em passo unido dia a dia
E nesta teia imensa se tecia
A força superando os desabrigos,

As mãos enfrentam mansas; os castigos
Na abençoada e rara sincronia
Levando ao mais supremo em harmonia
Vencendo em mansidão tantos perigos.

Os dias mais harmônicos conheço
E sem perder o rumo ou endereço
A vida traz em via consonante

Um brilho sem igual aonde aponte
Num claro e mais fantástico horizonte
E nele cada passo se agigante.


78


A sorte dividida multiplica
E quando se percebe em egoísmo
Gerando a cada passo o grande abismo
Que nada nesta vida justifica

Uma amizade traz a boa dica
E nela em cada passo mais eu cismo
E venço com ternura um cataclismo
E a sorte na verdade se edifica.

O tanto quanto posso e sei que existe
No canto feito em paz, e mesmo em riste
Jamais se deixaria aquém perder.

O rumo em consiste passo além
Traduz esta benesse que só vem
A quem sabe que amor gera prazer.


79


O canto solidário nos permite
Vencer qualquer temor e ter no olhar
Apenas o momento a vislumbrar
Ultrapassado assim qualquer limite

Quem neste grande amor ora acredite
Já sabe contra a fúria navegar
E neste mais feliz compartilhar
Discórdia inútil sempre, pois evite.

E o manso adentrando a eternidade
Nos laços de uma sólida amizade
Gerando a luz comum e mais potente.

Assim ao se sentir bem mais liberto
O rumo solitário ora deserto
Enquanto Deus em paz já se apresente.


80

Por vezes o destino traça metas
Em discordantes passos rumo ao tanto,
E quando em solidão nada garanto
Apenas estas cenas incompletas.

Mas quando em amizade me repletas
Encontro a maravilha em tal encanto
E neste desenhar sem mais espanto
Encontro as minhas sendas prediletas

Por ser um sonhador, encontro além
Do quanto se palpando a vida tem
E quero este ideal em novos dias,

Erguendo o meu olhar em liberdade
O canto da amizade tudo invade
E nele novos tempos tu verias.


81

A vida se depara com surpresas
Às vezes me permite acreditar
No quanto possa mesmo mergulhar
Sem medo das tormentas, correntezas.

As horas mais terríveis quando ilesas
Ensinam a deveras caminhar,
E tanto quero estar ou mesmo atar
Os laços entre nós com mais firmezas

Eu sei o quanto é sempre necessário
Viver o pleno amor e num cenário
Suave perfazer outro momento.

O quanto deste encanto se traduz
Na imensa claridade desta luz
E nela mesmo em dores, eu me alento.


82

Magnânima verdade diz do quanto
A vida transcendendo ao mais que pude
Viceja numa intensa magnitude
E nesta maravilha já me encanto,

O risco de sonhar, eu te garanto
Compensa mesmo quando desilude,
Assim ao ter firmeza em atitude
Enfrento em calmaria qualquer pranto.

Sacio este desejo de igualdade
E nele me entranhando em amizade
Já não conheço mais qualquer tempesta

Vivendo sem temor, o peito aberto
A todo instante acordo e se desperto
O coração ao gozo em paz se empresta.


83


Meu verso tantas vezes no passado
Dizia dos temores e rancores,
Agora sem saber dos dissabores
Num vértice sublime desenhado

Do vórtice que outrora vislumbrado
Enquanto minha amiga também fores
Na mesma direção, raros albores
E um sol sobejamente desenhado

A vida num instante já revela
Beleza sem igual desta aquarela
E nela entranho o canto e o meu destino.

Contigo, companheira, saiba bem
Enfrento o que ainda ao longe vem
E o passo com firmeza eu determino.


84


De todas as lições que a vida traz
As mais diversas leis regendo o espaço
E quando este horizonte agora eu faço
Ousando acreditar na plena paz.

O mundo outrora vil, duro e mordaz
Refaz a cada instante em novo passo
Sobejo caminhar outrora escasso
O canto se mostrando mais audaz.

Das trevas corriqueiras, nem sinais,
Cevando dias novos, magistrais
O rumo se fazendo com firmeza

Assim numa amizade me asseguro
E vejo bem mais simples o futuro
No olhar enternecido em tal certeza.



85


São tantos os enganos pelos quais
A vida se prepara em armadilha,
E quando tão diverso canto trilha
Esquece os mais sutis, fundamentais.

O barco se perdendo, ausente cais,
A sorte na verdade não mais brilha
Enquanto a solidão tanto palmilha
Momentos e caminhos desiguais.

Restando ao sonhador o sofrimento,
Ainda mesmo assim deveras tento
Sentir algum clarão que manso invade.

Percebo ao deslumbrar esta saída
Que tanto redimisse a minha vida
Nos laços mais fraternos da amizade.


86


Aprendo com meus erros e isto é bom,
A vida é grande mestra e mesmo em dor
Traçando novo tempo a se propor
Ousando muito além do mesmo tom.

Resumo o meu caminho na promessa
De um dia mais suave e me asseguro
Tentando até cevar num solo duro
Ao qual o desengano me endereça.

Escuto a voz do vento e me clamando
Além do quanto eu quis e não podia,
E quando prenuncia em mim um dia
Medonho; na amizade o encontro brando;

E assim ao redimir os meus engodos
Afasto-me com calma destes lodos.


87

O amor que nos redime e nos permite
Vencer qualquer tempesta que vier,
E neste desenhar não há qualquer
Presença do que trace algum limite.

Somente quando o sonho nos ensina
A ver com mais clareza o dia a dia
E neste desvendar se poderia
Mudar este cenário, leda sina.

Num canto mais gentil, primaveril
A juventude expressa em amizade
Anseia até além da eternidade
Bem mais que a solidão atroz previu.

E tanto posso mesmo prosseguir
Sabendo abençoado este elixir.

88


A imagem deste Pai crucificado
Já não combina mais com a verdade
Se tem no Seu caminho a liberdade
Benesse acompanhando lado a lado.

Bem mais do que qualquer mero pecado
A falta de carinho e de amizade
Permite que outro sonho se degrade
Deixando este cenário abandonado.

Restauro dentro em mim esta certeza
E nisto concebendo uma grandeza
Incontestavelmente mais feliz.

O quanto se presume em glória existe
No coração que mesmo em caos ou triste
Um solidário encanto forte diz.


89


Amiga a vida traça tais surpresas
E delas aprendendo a cada queda
No quanto a solidão meu canto enreda
E as vozes entre os sonhos vejo presas.

Não quero desviar as correntezas
Nem mesmo algum poder o encanto veda
Enquanto na amizade se envereda
Traçando rumos claros, com firmezas.

Vencer os dissabores e tentar
Depois de tão difícil navegar
Ancoradouro em paz e segurança.

A vida em tez tranquila traça cais
E nele desenhando em magistrais
Cenários o sobejo bem se alcança.


90


A voz já se afiando enquanto vejo
O olhar apascentado de quem tanto
Sofrendo a cada instante um desencanto
Traduz amor bem mais do que lampejo.

Assim da turbulência eu azulejo
O mundo e refazendo um claro manto
A cada novo passo me agiganto
Gerando um caminhar raro e sobejo.

Felicidade então já se aproxima
E muda mansamente o duro clima
Tramando outro momento em paz e glória

Amiga, compartilho com teus dias
O quanto noutro intento poderias
Mudando para sempre nossa história.

91

Se eu pudesse em amizade
Converter meu bem querer
Com certeza posso ver
Outro sonho onde se invade

Com maior tranqüilidade
Esquecendo de sofrer
Já que apenas posso crer
Nesta rara lealdade

Enfrentando temporais
Nos seus braços o meu cais,
O meu porto mais seguro,

Mas amor tão egoísta
Na verdade não resista
De um clarão esboça o escuro.


92

Tantas vezes percebi
Os anseios de quem busca
Numa vida sempre brusca
O melhor caminho aqui

Neste intento eu percebi
Mesmo a vida que se ofusca
Outra face mais velhusca
Da verdade que bebi.

Amizade dita a regra
Onde nada desintegra
Laço firme se mostrando,

Neste ponto insuperável
O caminho mais arável
Mostra um canto bem mais brando.

93

Versejando com ternura
Num repente, ou numa trova
O que tanto se procura
A verdade só comprova

Entre dores e amargura
O meu peito se renova
Quando além já se assegura
Da amizade à toda prova.

Nada temo neste intento
E se busco ou mesmo tento
O clarão neste horizonte,

Num suave amanhecer
Desenhado num querer
Onde o mundo em paz se aponte.


94

Tantas vezes nesta vida
Eu bebera a solidão,
Hoje rota destruída
Na amizade em precisão.

Desta estrada já perdida
Novos dias me trarão
O que vejo qual saída
E acalenta o coração.

Da sobeja maravilha
Feita em luz e claridade
O meu sonho já polvilha

Com total sinceridade
E deveras tanto brilha
Num cenário em amizade.


95

Quantas vezes; olvidada
Ou até noutro cenário
Amizade desvendada
Rumo certo e necessário

Onde a vejo desenhada
Este mundo imaginário
Traduzindo a mesma estrada
Neste passo solidário.

Resumindo cada verso
Neste encanto mais sutil,
Adentrando este universo

Com certeza tão gentil
O meu rumo não disperso
Bem mais firme então se viu.

96

Onde o mundo poderia
Transformar em amizade
O que tanto em sombria
Cada dia nos invade

Mergulhando em poesia
Traço os passos na cidade
E deveras quem me guia
Tem imensa claridade

Numa volta pelo mundo
Vou traçando a minha estrada
No desenho mais profundo

E se vejo esta alvorada
Neste encanto eu já me inundo
A minha alma transbordada.

97


O meu canto libertário
Não suporta alguma algema
E se faz como um corsário
Que deveras nada tema,

O desejo necessário
Transformado num emblema
Nada mesmo é temerário
Não comporta algum dilema

Quando o traço se fazendo
Na amizade mais leal
O caminho outrora horrendo

Hoje o vejo magistral
Sem retalho e sem remendo
Num anseio por igual.

98

Trovador e repentista
Quero muito mais que a luz
Quero o quanto já se assista
Noutro tanto reproduz,

O cenário de um artista
Onde o canto em paz eu pus,
Quem conhece não resista
Ao caminho onde eu propus

Um mergulho dentro da alma
E decerto em amizade
O que tanto nos acalma

Recendendo à claridade
Superando qualquer trauma,
Bem mais forte, o peito brade.

99


Ao poeta é permitido
Cada sonho mais audaz
E se tanto faz sentido
Na amizade vejo a paz,

O meu canto resumido
Neste instante onde se faz
O desenho construído
Onde a messe o gozo traz

De um momento incomparável
Nele tendo minha amiga
O meu sonho ora tocável

Traz a messe que persiga
Neste desenho agradável
Uma vida em luz prossiga.

100


Dos meus dias mais medonhos
Já não trago sequer traço,
Quando além do passo eu faço
Novos dias, raros sonhos

E os momentos enfadonhos
Deslindados no cansaço
Ocupando cada espaço
Dias mansos e risonhos

Quando em ti amiga minha
A certeza se anuncia
E trazendo a rara vinha

Onde a glória se faria
O meu peito já se aninha
Na amizade, em claro dia.



101


Diversos povos; tem a raça humana
E nestes tantos vejo as diferenças
Menores, bem menores que tu pensas,
Enquanto quase tudo nos irmana.

E quando se percebe que se dana
Na busca do poder por recompensas,
Ao mesmo tempo trama em desavenças
O quanto deveria: soberana.

Fraternidade diz da humanidade
E neste caminhar em igualdade
Libertação é quase uma utopia.

Amiga, veja bem quantas estrelas
Espalham neste imenso céu e ao vê-las
Dominam tanto a noite quanto o dia.


102


Enquanto acreditarmos em diversos
Caminhos para o mesmo ser, teremos
Invés da coordenada ação de remos
Naufrágios em destinos mais dispersos.

São poucos, sem valia quaisquer versos
E neste desenhar nada veremos
Senão nestes esgares nossos demos
A cada discordância; além, emersos.

Num coletivo sonho em mesmo tom,
Talvez seja possível crer no dom
De um Paraíso vivo e repartido.

Porém tantas tolices nos separam
E infernos cada dia se preparam
Quando o próprio existir não faz sentido.


103


Imaginando um mundo onde eu possa
Erguer minha cabeça e ver além
Equânime caminho e nele vêm
Aqueles cujo canto em paz se endossa.

Assim do palacete até palhoça
A mesma fantasia se contém
Numa partilha do incomparável bem
A Terra sendo finalmente NOSSA.

Pudesse em confluências os irmãos
Cevando da amizade os raros grãos
Colhendo alguma luz neste horizonte.

Porém enquanto o mundo é dividido
Esperança morrendo em triste olvido
Somente tenebroso céu se aponte.

104

Não mais eu poderia acreditar
Nas tantas divergências mais espúrias
E vendo a cada passo estas penúrias
Aonde eu deveria me atracar?

Na imensidão sobeja deste mar
Ouvir de fome e sede inda lamúrias?
São tantas heresias tais incúrias
Que impedem até mesmo de sonhar.

As diferenças nossas, eu garanto
Estão somente em tons do mesmo manto
Ou no tecido aonde a capa é feita.

Origem tão igual quanto o diverso
Caminho desenhado em vão, perverso
Que tal compartilharmos a colheita?

105

Não creio neste edênico Senhor
Com face punitiva em tez nefasta
Do qual meu pensamento já se afasta
Buscando outra resposta num amor.

Aquele que é deveras genitor
Com um só de seus filhos, pois se basta
A imagem carrancuda tanto gasta
Ainda tem seu povo seguidor.

Assim também tal qual a humanidade
A espúria e tão medonha divindade
Espalha a divergência aonde um dia

Quem sabe na amizade novos sonhos
Momentos consonantes e risonhos.
Apenas mero canto em utopia.


106


A redenção se faz a cada dia
No olhar mais carinhoso sobre todos
E neste caminhar não há engodos
Na face de outro alguém reconhecia

A mesma pela qual já se gloria,
Dos bairros nobres mesmo aos vagos lodos
Iguais em atos claros e em denodos
Também iguais em sonho e fantasia.

Ao ascender num vértice sobejo
O mundo em tal desenho eu sempre almejo
E neste tom suave de amizade

Sem díspar face exposta ao manso vento,
E quando acreditar decerto; eu tento
Percebo que o vazio em fúria, invade.


107


Satânica figura discrimina
E mata sem sentido nem razão
Ainda mesmo aqueles que virão
Secando desde origem esta mina.

Demônio quando além busca e extermina
Marcando com imenso turbilhão
Presença tão somente de algum não
Aonde a própria vida o determina.

Eu quero simplesmente conhecer
Aquele que despreza até o poder
Em nome de uma rara liberdade.

Na imagem clara e bela, soberana
Espalha sobre toda a raça humana,
Amor, perdão em tons de uma amizade.



108


O coração mais puro das crianças
Não vendo qualquer face mais diversa
Enquanto o seu caminho sempre versa
Ousando nos cenários de esperanças.

Depois o tempo traz tantas mudanças
Aquela angelical e hoje perversa
Nos charcos da existência segue imersa
Olhar para o passado, já não lanças;

E ao ver dicotomias onde um dia
Pudesse ter o sol que brilharia
Sem fazer a menor das distinções

Voltando a bela infância adormecida
Mudando plenamente e inteira a vida
Quando a fraternidade; em paz me expões.


109


Meu canto não pudesse ser deveras
Em divergência clara com meus atos,
Embora variáveis os regatos
Os passos rumo ao quanto em paz tu geras?

Não creia que matando as primaveras
Em cenas de terror e de maus tratos
Teremos dias claros e mais gratos
Enquanto nós criamos duras feras.

O amor quando demais e não comparte
Gerando outro temor e se destarte
Não mais se aprofundar o sentimento

Apenas restará somente a rude
Presença deste tom que desilude
O sonho de igualdade onde me atento.



110


Viceja dentro em nós a rara flor
Expressa em tez suave e colorida,
Gerando com ternura nova vida
Marcada pelas tramas de um amor,

O quanto se diverge no sol-pôr
A sorte noutra senda destruída
Perpetuando em nós esta ferida
Matando o que pudesse em multicor.

Espólios tão nefastos nós herdamos
Num mundo de senhores, servos, amos;
A falta de amizade se espalhando

Tocando com terrível face escusa
O passo no vazio se entrecruza
Com erro tão atroz quanto nefando.

111


Gerar fraternidade mesmo aonde
A fúria se espalhando sem medida
Matando uma esperança além de vida,
E ao nada simplesmente corresponde.

E ver que a raça humana hoje se esconde
Da própria imagem fria e retorcida
Na fome de poder constituída
Somente a voz atroz inda responde.

Acreditar possível novo sol
Tomando em igualdade este arrebol
Confraternização entre os irmãos,

E além do grande amor humanitário
O sonho; eu creio, é sempre necessário
Senão nossos caminhos, todos, vãos.



112


Somente acreditar na liberdade
Quando se consistindo em consonância
Gerada pela paz em tal constância
Que tanto nos tocando a alma se invade

Fraterno e solidário, na amizade
A Terra transformada em rara estância
Já não havendo mais a discrepância
Matando o que se fez plena verdade.

Esboço um mero sonho, um tanto utópico
A vida não permite mais tal tópico
Apenas tendo o olhar sobre o poder.

De vez em quando surge um sonhador,
Que ainda crê possível este amor
Do qual nem menor sombra eu posso ver.

113


Um canto de louvor é mais que prece
Em atos corriqueiros e banais
E neles outros tantos rituais
Aos quais; a maravilha se oferece

O mundo noutra face ainda tece
Os erros tão comuns, originais
Em passos e caminhos desiguais
A própria origem logo assim se esquece

Desnudos e indefesos tão somente,
Depois o senhorio prepotente
Soberbo caminhar por sobre tudo.

Após tanta asneirice a morte iguala
A rica criatura co’a vassala
Em mesmo duro e tolo apodrecer.

Pudesse na amizade igual partilha
Num sol que para todos sempre brilha
Consciente da bondade em seu poder.



114


Quem dera se pudesse noutro encanto
O mundo demonstrando o soberano
Caminho deste ser que é dito humano
E desumano espalha medo e pranto.

Quem dera se pudesse e quando eu canto
Tentando reparar o duro dano,
A cada novo dia mais me engano
E neste desenhar nenhum quebranto.

A vida merecia um novo alento
E quando vai liberto o pensamento
Vencendo qualquer face mais sombria

E ver a claridade deste dia
Até quando de fato anoitecia
Deliro em tal caminho quando o tento.


115


Amar é dividir e não somar
O caos gerado em nós a cada instante
Marcando com a face degradante
E o sonho se perdendo devagar.

Porém é permitido divagar
E crer que a vida um dia se agigante
E brilhe para todos num constante
Desejo deste dom; compartilhar.

O quanto se aproxima em divindade
A soberana tez, fraternidade
Gerada na amizade em pleno amor.

E assim se aproximando do infinito,
Embora tão distante eu acredito
E sei deste poder restaurador.


116

Um mesmo Pai gerando este universo
E dele se observando a maravilha
No quanto se completa e compartilha
Um mundo tão igual e tão diverso.

Sentido igualitário quando eu verso
Relembro até da fera e atroz matilha
Que unida nos ensina nesta trilha
Jamais serei feliz se me disperso.

Ao mundo em consonante desejar
Pudesse converter onde eu persigo
Na placidez serena de um amigo

Certeza do melhor a se mostrar,
Num solidário passo rumo ao tanto
Eu tento acreditar e à paz eu canto.


117


Das sendas mais diversas do planeta
Os olhos para o céu, mesmo horizonte,
E quando novo rumo além se aponte
Uma esperança em paz já se completa.

Porém realidade atroz deleta
Secando na nascente a sacra fonte
Derruba co’o futuro qualquer ponte
Restando o sonho frágil de um poeta

Trazendo dentro em si numa amizade
O quanto pode e mesmo sempre agrade
Ao passo rumo ao dia mais feliz.

Unindo os nossos cantos, num só canto
Vencendo esta desdita; este quebranto;
Porém o dia a dia contradiz.


118

Não quero divisão em guetos, classes
E nesta variante escravidão
Disseminando aqui o imenso vão
E nele a cada instante mais desgraces

Os passos superando vis impasses
Bem pior do que agir, uma omissão
Olhares mais diversos; só verão
As sendas em sofríveis desenlaces.

Um dia mais sublime e sei superno
No encanto sem igual que agora interno
Acreditar na força da unidade

Gerando um novo mundo em harmonia
E assim em tal caminho se veria
Sentido verdadeiro da amizade.



119

Equânime nascer, diversa sorte
A vida não devia ser assim,
Até porque ao ver início e fim
Também nos igualamos numa morte.

Sem nada que inda impeça nem conforte
Um ser tão desprezível quão ruim
Matando o seu irmão cerzindo enfim
A falta de horizonte em turvo norte.

Quisera acreditar e, solidário
Andando num planeta igualitário
Não vendo mais misérias, injustiças

Eu sei que este cenário imaginário
Também eu creio que cobiças,
Areias da omissão são movediças...


120

É sempre necessário ter em mente
Um novo amanhecer onde pudesse
Beber do quanto; a vida se oferece
Possível ter no olhar? Deveras, tente.

O quanto do futuro se apresente
Sem ter sequer a mínima benesse
Enquanto a solidão mordaz se tece
O rito ledo e atroz e impertinente.

Ainda que distante o som invade
Trazendo o vento manso da amizade
E neste desenhar mais solidário,

O mundo se traçando em harmonia
Decerto um novo tempo se veria;
Transforma em aliado um adversário.



121

Acreditar decerto na colheita
Expressa com denodo o lavrador
Que arando em amizade e com amor
Quaisquer diversidades, sempre aceita.

Enquanto se recolhe e em vão se deita
O omisso dentre tantos causador
Da indiferente face de um sol-pôr
Qual dura e leda fera numa espreita.

Vencer os erros fartos de quem traz
Na fuga a sua face mais audaz
Mergulhando a cabeça, um avestruz.

Depois na missa ou culto, ou numa reza
Demonstra a todo mundo quanto presa
Aquele que se deu além, na cruz.


122

Já não comporta mais este desenho
Em tons diversos quando se desnuda
A face tão atroz quanto miúda
Oculta sob o manto em duro cenho.

Ao quanto me proponho e sei que tenho
Na intensa militância o quanto acuda
Traçando sem cobrança alguma ajuda
E nisto tal prazer ora contenho.

Vestindo uma ilusão, mas mesmo assim
Lutando do princípio até o fim
Sem medo e com total perseverança

Trazendo uma esperança no meu peito,
Jamais me sentiria satisfeito
Enquanto ao nada a raça enfim se lança.


123

Não vejo divisões e nem fronteiras
Tampouco seres vários num só traço
E quando o céu se mostra obtuso e baço
Diverso do que tanto ainda queiras,

As horas mais terríveis, corriqueiras
A luta por qualquer pequeno espaço
Em choque a cada instante um novo passo
Rasgando da amizade estas bandeiras.

No quanto se faz sórdida a criatura
Que em plena turbulência já procura
Apenas conquistar qualquer poder.

E nisto em tantos erros consumida
A única benesse feita em vida
E inutilmente aos poucos se perder...


124

Um canto em concordância poderia
Trazer a magnitude aonde o nada
Traduz a mesma imagem desdenhada
Moldada por total hipocrisia.

Amor não pode ser uma utopia
Tampouco alguma imagem degradada
Somente traduzindo uma alvorada
Aonde uma esperança em paz traria.

Imersa em sortilégios vejo a vida
Enquanto um privilégio; mas acida
E traça a desventura invés do gozo,

Do quanto do futuro se negando
A multidão perdida em atroz bando
Criando este caminho tortuoso.


125


Há tanto desprezada esta tal ética
Que gesta uma unidade ou o respeito
Ao quanto se divirjo sempre aceito
Não importando crença ou dialética.

Também é variável nossa estética,
Mas quando vejo o encanto satisfeito
Também me satisfaço e me deleito
Além da fantasia vã, poética.

Alçar o paraíso desde agora
E crer quanto amizade em paz decora
O rumo de quem vê o Criador

Exemplo bem maior do Pleno Amor
Gerando em consonância fauna e flora
Sem traço mais mordaz por divisor.


126


Humanidade segue sem destino
Vagando pelos antros de sua alma,
Somente na sangria em vão se acalma
E neste desenhar eu descortino

O olhar intensamente maltratado
Sem ter qualquer caminho aonde aponte
Na tétrica noção de um horizonte
Pior ou tão igual ao do passado.

Não quero por amor aos nossos filhos
Que sejam simplesmente os andarilhos
Desvios entre pedras e espinheiros.

Mergulho sem temores na esperança
E um brado mais intenso ora se lança
Em sonhos mais possíveis. Verdadeiros.

127


Um canto de esperança solto ao ar
Trazendo algum alento a quem padece
Maior do que decerto qualquer prece
Em ato tão sublime o sempre amar.

Sem nada nem querer o igual cobrar
Apenas ser feliz quando oferece
E mesmo quando alguém de tudo esquece
Não seja nem preciso perdoar.

Abrir o coração ao que virá
Mudando a sua história desde já
Sem nada que o contenha, sem algema.

Quem ama com ternura e santidade
Bebendo sempre à farta da amizade
Bem sabe não há nada que inda tema.

128


O amor caminho simples e real
A cada novo instante desenhado
Traçando alguma luz desde o passado
Deixando para trás este ar venal.

Bem mais do que um momento pontual
Traduza na verdade o nosso fado
E possa ser também nosso legado
Num ato tão sobejo e magistral.

Resume esta esperança de outro dia
E neste desenhar enfim veria
A face mais feliz da humanidade;

O quanto se aproxima deste Pai
Enquanto a prepotência já se esvai
Fraternidade após reinando invade.


129


A história se repete, é sempre assim,
Humanidade traz o mesmo rito
E neste desenhar não acredito
Sequer que possa haver algum Jardim.

Afastando este cálice de mim
Eu creio num amor quando infinito
E mesmo deste sonho eu necessito
Viver é privilégio: início e fim

Transcende à própria luz que ora se emana
Na racional espécie dita humana
Agindo como fera tão somente;

A sede de poder e de dinheiro
Matando a divindade num canteiro
Onde amizade fora a grã semente.


130


Se há tanto não pudesse ter no olhar
Apenas um caminho onde se aponte
O risco de sonhar gerando a ponte
E nela mais tranqüilo me encontrar.

Desenho só possível num amar
Aonde uma igualdade já desponte
Sem nada que ao passado nos remonte
Bem mais do quanto pode em vão sonhar.

Irmãos desde o princípio, mesma Terra
A todos indistintos sempre encerra
A mãe tão generosa e mais sofrida.

O Pai, o criador, além do todo
Ao ver invés da glória o imenso lodo
Ainda luta e intenso, pela vida.



131

Regendo a humanidade esta batuta
Que é feita em tanto amor e em liberdade
Enquanto o dia a dia em paz invade,
A voz da divindade além se escuta.

Imagem delirante e sem permuta
Não vejo mais possível amizade
E nisto muito além fraternidade
Vencida pela força espúria e bruta.

A face humana sempre traz
A delirante astúcia e mais audaz
Usando da razão em própria messe.

O quanto se é possível crer num sonho
Aonde o meu caminho em luz eu ponho,
Enquanto cada feito se enaltece?


132


A divisão permite que se veja
A múltipla faceta de um só ser
E neste tão igual morrer, nascer
A sorte poderia benfazeja,

Mas quando a realidade dita andeja
Figura tresloucada por poder
Gerando noutro instante o desprazer
Enquanto o seu prazer somente almeja.

À parte deste rolo compressor
Aqueles que acreditam neste amo
Em igualdade; feito e dividido,

A grande maioria vai à missa
Ao culto, mas se cala sempre omissa
O nome de Jesus, em mero olvido...


133


A mão que tanto marca quanto bate
Ferindo a própria espécie não teria
Sequer a menor chance se alegria
Reinasse sem saber qualquer embate;

Uma alma quando pura se resgate
Da noite mais amarga e tão sombria
E nela tão somente se veria
A mansidão suave e sem debate.

Arisco passageiro de um futuro
Aonde novo instante; em vão procuro
Sabendo da insolência tão comum.

De todos os meus sonhos resta pouco
Somente o olhar vazio deste louco
Buscando um novo sol. Não vê nenhum...


134

Enquanto a multidão serena dorme
E deixa para lá o quanto deve
O sentimento em paz, somente breve
Aonde poderia ser enorme.

O ser que se transforma e assim disforme
A crer numa potência igual se atreve
E espalha sobre a Terra o gelo e a neve
E enquanto não se afeta, se conforme.

A mesma face espúria em sortilégio
Estúpido este olhar em tom mais régio
Soberba criatura, vaga insana

E quando tudo vendo, nada fala
Uma alma também ela dita a lava
E nesta dura face já se dana.


135


Acreditar num dia mais tranqüilo
É tudo que me resta, pois poeta
Sabendo quanto a vida se completa
No sonho mesmo em vão que ora desfilo.

O quanto poderia ser suave
Num cântico sereno ou mesmo até
Na falsa sensação de imensa fé
Aonde se contém a liberta ave

Ao dividir o mundo em tantas classes
Dos clãs originais já nada resta
Somente a mesma imagem tão funesta
Que ainda em guerra fútil tanto passes.

Um dia há de chegar uma alvorada
E nela nova sorte desenhada.


136


Bem mais do que se vendo na metade
Dos olhos tão famintos de justiça
Outra metade tanto já cobiça
E neste delirar a treva invade.

Porquanto o sonhador ainda brade
A Terra não se cansa desta liça
E tendo a sorte sempre movediça
Caminha em sordidez a humanidade.

Regendo cada passo, poderia
Apenas que inda fosse fantasia,
Um tempo mais suave em plenitude.

Mas quando se percebe o dia a dia,
Somente uma ilusão em poesia,
Já que decerto eu sei que nada mude.


137


Um sonhador se mostra desolado
A cada nova queda, mas retoma
Caminho sem saber o quanto o doma
E neste desenhar segue isolado,

O canto noutro rumo é abafado
O quanto dividisse vira soma
E o resto o mais sagaz deveras toma
O sonho morto está e destroçado.

Mas reavive a cada renascer
De um sol maravilhoso a oferecer
A todos os diversos seres, luz.

E assim com a esperança ressurgida
Ainda creio mesmo nesta vida
No sonho em igualdade onde me pus.



138


Ao dividir a Terra em tais fronteiras
Diversidades geram violência
E a cada novo instante a virulência
Traduz bem mais que valem as bandeiras.

As glórias nos infaustos, passageiras
A morte se desenha em inclemência,
Porém sem ter sequer a consciência
Entranha-se nas vias derradeiras.

O mesmo sangue iguala a humanidade
A mesma face em luz, natividade
Depois este degrade feito em morte.

Destino tão igual, caminhos vários
E os passos quando além são temerários
Não há deveras nada que conforte.

139


No quanto se presume a percepção
De um tempo mais tranqüilo e nada vem
Desta ilusão não quero ser refém,
É necessário sempre ter a ação.

Os dias no futuro me dirão
Tramando em duro olhar igual desdém
A humanidade perde agora o trem
E vaga sem sentido ou direção.

Não posso acreditar que houvesse um deus
Com traços tão nefastos quanto os meus
E desse à criação tantos presentes.

Inúteis sonhos morrem pouco a pouco
E quando assim concebo me treslouco
E os passos para o nada, impertinentes.


140


O quanto foi deveras é, será?
Deixando para trás uma esperança
Enquanto o renascer jamais alcança
O todo que existisse aqui e lá.

Ainda noutro dia brilhará
O sol com tanta glória e com pujança
E quando a paz nascer, bela criança
O mundo em tom gentil redimirá;

Enganos? Meramente sigo e sonho
Sabendo ser decerto o mais bisonho
Delírio de uma lúdica amizade

No amor e no perdão tanto se diz,
Porém só sei deveras que é feliz
Aquele a quem se deu a liberdade.


141

A cada novo verso aonde externo
O amor em plenitude; como o quero
Sem ter o sentimento frio e fero
Gerando invés de luz mais um inverno

E sendo um caminhar sempre fraterno
O olhar se desenhando em paz, sincero
Trazendo o que afinal desejo e espero,
Não sendo necessários Céu e Inferno.

O prêmio procurado já se vê
No canto em consonância e em tal por que
Eu posso desvendar cada mistério

Universal caminho rumo à glória
E por somente o haver rara vitória
Fazendo do meu Pai, o ministério.


142


Ocasos entre luzes? Para que?
O mundo não ganhando nada além
Do imenso entorpecer; inda contém
Ausência do que um dia ainda crê.

Redomas entre tantas construídas
Gerando a discordância e este ar impune
No passo que deveras nos desune
Matando as esperanças, ledas vidas.

Escárnio é o que merece o sonhador?
Distante do cenário em pleno amor
Apenas num mergulho ensimesmado;

Não quero ser decerto assim omisso
No vicejar do sonho eu também viço
Por mais que no vazio solto o brado.


143

Ao quanto cada passo se traçara
Ousando muito mais do quanto deve
Gerando este poder imenso e breve
Domínio sobre escusa e vã seara.

A cada novo dia se escancara
A face desditosa que se atreve
E apenas a mortalha na alma leve
Jamais conceberia a senda clara.

Estúpida canalha vaga assim,
Sorvendo cada gota até o fim
Deixando exangue aquém, uma esperança.

O rústico campônio sabe bem
O quanto da colheita sempre vem
Quando com cuidado o grão já lança.


144


Anátemas traduzem o quanto vejo
No olhar mesmo caótico de quem
Recende à vilania e agora vem
Tomado pela incúria em vão desejo.

O gozo que procura; algum lampejo
Da imensa claridade muito aquém
Uma alma mais simplória já contém
O ser que na humildade é mais sobejo.

As cruzes no caminho, tradução
Dos dias do passado e inda virão
Iguais em torpe face no futuro.

Seara da amizade destruída
O quanto irá valer a nossa vida,
Se nem meu passo além eu asseguro?

145


Um Pai vendido até como tirano
O déspota total tão absoluto
E quando a mansidão de Cristo; escuto
Não posso concebê-lo mais profano.

A cada novo tempo desengano
O rito que se faz em medo e luto
O amor ao semear amor diz fruto
E não gera tormenta, treva e dano.

Amar sem ser amado, ou mesmo até
Se por desvio em crença, mito ou fé
O olhar te perseguir, inimizade.

Sobejo perdoar em mim o abrigo
E tendo em Jesus Cristo um grande amigo
Aprendo esta delícia: a liberdade!


146


Riquezas de manjares, iguarias
Estendem-se nas mesas ricas, nobres
E quando vês de perto já descobres
A face das espúrias confrarias.

As hordas mais atrozes tu verias
Sugando o quase exangue e frágil pobre
Reinando sobre todos; o deus-cobre
Coberto destas vãs quinquilharias.

A vampiresca imagem desenhada
Traduz algum futuro em turvo nada
E mata uma esperança recém nata.

A sordidez se espalha em tais sorrisos
Comprando sempre à vista os paraísos
Ao agredir o irmão, ao Pai maltrata.


147


O amor gerando o amor nunca blasfema
Apenas a vingança em sanguinário
Caminho tolamente imaginário
Gerando a cada passo nova algema.

A vida não será qualquer dilema
Sentido mesmo vago e temporário
O quanto do sonhar é necessário
A quem a quase nada em vida tema.

Esboço caricato de algum ente
Enquanto temerário e prepotente?
Audaciosamente a raça humana

Apoderando-se em soberba da Mãe Terra
Uma esperança além ora desterra
E ao próprio Criador também profana.


148


São necessários mártires ainda?
Já não bastaram tantos os cordeiros
Jazendo na memória dos herdeiros
Da própria natureza que se finda?

A humanidade apenas então brinda
Aos últimos momentos dos canteiros
Gerando apenas urzes e espinheiros
Onde esperança nada mais deslinda.

Enquanto poderia noutra face
Traçar este caminho aonde grasse
Uma amizade plena e transparente.

Um suicida nato, o ser humano
A cada novo instante mor o dano
Que aos olhos de quem ama se apresente.



149



A velha e caricata criatura
Ungindo-se de glórias pela vida
Enquanto traz a mão já prevenida
E apenas o vazio se assegura,

No quanto da deidade se afigura
Numa alma tão espúria e resumida
Na fúria sem sentido e ora incontida
Traçando a realidade amarga e escura.

Eu quero acreditar noutra manhã
Ainda que esperança soe vã
É tudo o quanto resta, um mero sonho.

Cerzindo nesta tez imaginária
A clara dimensão da luminária
E dela cada verso que eu componho.


150


Aonde se queria um resultado
Palpável ou deveras pressentido
Apenas vejo a fúria da libido
No gozo sem igual, anunciado.

Será poder e sexo, o nosso Fado?
Não posso acreditar, não faz sentido
O amor se percebendo em ledo olvido
Destino a cada passo destroçado;

Em solilóquio busco uma resposta
A cada nova cena assim exposta
Eu vejo o meu futuro se esvaindo

Enquanto poderia ser diverso
No amor ungindo todo este universo
Um caminhar supremo, raro e lindo.

151


O quanto pude ver noutro momento
Uma esperança enquanto em claro olhar
E neste mais supremo desenhar
Traçando este caminho onde me alento.

Entregue o coração ao brando vento
Ainda me provém o raro amar
E nele me permito caminhar
Embora tão comum o sofrimento

O manto se desnuda em claridade
Bebendo deste sol quando ele invade
E toma este arrebol com plenitude

Nas tramas da amizade eu posso ver
O dia finalmente alvorecer
E neste delirar tudo transmude.


152


Amiga, percebendo o meu destino
Imerso nos caminhos discrepantes
E neles tantas vezes me adiantes
Traçando com certeza onde alucino.

E volto num momento a ser menino
Sorvendo as esperanças, diamantes
E nelas outras tantas; agigantes
No rumo aonde em paz me determino.

Seara da amizade, cristalina
A cada novo dia já fascina
E trama outro futuro, mais tranqüilo.

O risco se adivinha em desalento
Quando em verdade estando desatento
Noutro cenário ainda a paz desfilo.

153


Um dia poderia ter nas mãos
Bem mais do quanto outrora conhecera
Ao acender pavio vejo a cera
Perdendo a sua forma em tantos nãos;

Assim ao renegar os meus irmãos
Também já com certeza me perdera.
E o quanto ainda posso e concebera
Traduz ao fim da vida imensos vãos.

Amiga me perdoe se entre as feras
Fui fera e muito aquém do quanto, esperas
Matei uma esperança dentro em nós;

Em solitude sigo à turbulência
No vórtice final e em virulência
A vida encontra a dura e triste foz.


154


Quando busco esta amizade
Traduzindo em farto bem,
O caminho segue além
Do que tanto ainda invade,

No silêncio a tempestade
Transformando sempre vem
Destruído o que contém
Novo tom à vida brade

Resumindo neste intento
O desenho que ora tento
Inventando um paraíso.

Mas, contigo, minha amiga
Esta sorte se consiga
Num momento mais preciso.

155

O meu verso tenta alçar
Muito mais do que pudera
Envolvendo-se em luar
Enfrentando esta quimera.

Amizade a me guiar
Tanto bem decerto gera
E se tanto mais quisera
Encontrando onde buscar.

Resta dentro do meu peito
Um momento mais feliz
Vou seguindo cada pleito

Traduzindo o quanto eu quis,
Sendo assim eu me deleito
Tão somente um aprendiz.


156



Nada posso ou tentaria
Neste ocaso feito em vida,
Mas se tenho; pressentida
A razão para outro dia

Deixo além a tez sombria
E se tanto já duvida
A esperança é sempre urdida
No tear da fantasia.

Libertando o verso eu sigo
E sabendo cada amigo
Eu permito-me infinito.

Tendo tudo o quanto quero
Se o meu passo for sincero,
Neste rumo, eu acredito.

157


Respeitando as diferenças
Entre os homens, sigo em frente
Sem temer as desavenças
Emoção domina a mente.

Bem diverso do que pensas
No meu canto, o mais contente
Desenhar deveras tente
Sem querer as recompensas.

Revestido do tesouro
Feito em paz e plenitude
Procurando ancoradouro

Com ternura em atitude
Neste sol então me douro
E amo sempre mais que eu pude.

158


Versejando sobre o sonho
Campesino coração
Entoando o quanto ponho
O meu barco em direção

Ao que tanto me proponho,
Novos tempos me darão
Pós um mundo tão bisonho
Noutro instante este clarão.

Resumindo cada verso
No que tento no porvir
Cada canto onde disperso

Busco em paz esse elixir
Sendo assim este universo
Dentro em mim posso sentir.

159

Nada mais eu poderia
Onde a vida se traduz
Numa tez dura e sombria
Sem saber sequer da luz

O meu canto em utopia
Já não pensa numa cruz
Tanto bem transformaria
Muito além do que eu propus.

Vicejando dentro da alma
A amizade traz o brilho
Que decerto em paz acalma

E se tanto busco e trilho
Conhecendo inteira a palma
Da seara onde palmilho.


160


Minha voz já se perdendo
Sem sequer uma resposta,
Onde quis um dividendo
A verdade decomposta.

Resumindo o que estou vendo
Nua face assim disposta
O meu rumo se tecendo
Sem saber quem mesmo gosta.

Busco apenas a amizade
E deveras poderia
Neste sonho que me agrade

Revertê-lo em calmaria,
Mas bebendo a tempestade
Vendaval então traria.

161

Meu sonho poderia me trazer
Bem mais do que imagino ou mesmo espero
Num mundo tão sagaz enquanto fero
Ao menos um momento de prazer.

A vida noutra face eu pude ver
E um passo que ora traço mais sincero
Transcende ao quanto tento e sei e quero
Tocando em suavidade cada ser.

O risco se assumindo e tendo enfim
A discordante senda de onde eu vim
Tentando vislumbrar outro futuro

E quando mesmo em paz esta amizade
Co’o tempo cada vez mais se degrade
O rumo é tortuoso onde inseguro.

162

Meu mundo se transforma quando eu tento
Vencer os meus temores e seguir,
Sabendo da amizade, este elixir
No qual e pelo qual eu me alimento.

O sonho a cada dia mais sustento
E busco a luz além, nalgum porvir,
Mas quantas vezes tento redimir
Um erro que me mostre o sofrimento.

Audaciosamente a vida traz
Diverso do que anseio: amor e paz.
O vicejar de alguma claridade

Talvez seja possível quando embarco
Num sonho tão supremo sendo um arco
Da seta que presume uma amizade.

163


No quanto pude ou mesmo até tentei
Bebendo desta fonte etérea em paz,
O olhar se atenta sempre e mais sagaz
Não vendo alguma nova nesta grei

Transcende ao que imagino e tocarei
E neste desenha tudo desfaz,
Semeio cada verso e sou tenaz,
Fraternidade enfim além verei.

Granando dentro em mim uma esperança
Frutificando em clara luz avança
E gera outro momento mais sublime,

O amor que se transporta em amizade
Sem nada aonde o rumo inda degrade,
De todos nossos erros nos redime.

164


Sabendo do poder de algum perdão
Vivendo esta fraterna melodia
Um mundo mais tranqüilo enfim teria
Negando com firmeza a negação

E sei dos dias onde se terão
Bem mais do que talvez melancolia
Enquanto um novo tempo o olhar veria
Com toda esta certeza em precisão.

Apenas sonho espúrio de um poeta?
A vida noutro tanto se completa
Quando ousa dar um passo mais além.

Traduzo neste alento que ora trago
O quanto desejoso de um afago,
Amiga como é bom o querer bem.



165

Realidade exposta agora nua
Demonstra a solitude e tão somente
Enquanto outro caminho ainda tente
Minha alma insatisfeita além flutua.

E quando uma amizade se cultua
Tramando na esperança outra semente
O passo a cada instante mais alente
Gerando a mansidão por onde atua.

O mundo não permite a face ultriz
De quem fazendo sempre o que bem quis
Só gera tempestade e solidão,

Por isso no pendor, fraternidade
Um canto se ecoando quando invade
Traduz novos momentos que virão.


166

O amor que é da existência o fogo e a lenha
Nas teias da amizade se sublima
E traz em consonância o raro clima
Aonde nada pode ou mesmo nos detenha.

Sabendo desta angústia quando venha
Somente se supera em voz que prima
A real consistência desta estima,
Enquanto mais de nada ora desdenha.

Um manto consagrado à perfeição
Traduz os meus sonhares, sei que não
Pudera mais conter a primavera,

Mas quando neste outono me invernando
O tempo pressentindo bem mais brando,
A vida em mansidão já se tempera.


167


O coração cansado amargo e triste
De quem lutando tanto nada vira
Senão as mesmas sendas da mentira
Aonde o caminhar já não persiste.

O amor que num encanto se consiste
Traçando outro caminho já se atira
Às tramas mais sutis e acerta a mira
E neste novo sonho à paz assiste.

Entrego-me ao cenário onde encante
Um rumo novo em dia fascinante
Gerado pelo amor manso e fraterno.

E quando mais seguindo neste trilho,
Também como uma estrela guia; eu brilho
No canto aonde alcanço o bem e o externo.


168


Por vezes a minha alma pensativa
Procura alguma luz e nada vendo
Entrega-se ao temor e neste horrendo
Desenho da esperança já se priva.

Não posso suportar a tez cativa
Nem mesmo contentar-me com remendo
Buscando a plenitude em dividendo,
A força da amizade; imperativa.

Resgato nesta face mais gentil
O quanto se perdera e não se viu
Sequer a menor sombra: fantasia.

A vida sem saber desta beleza
Esvai-se contra a fúria em correnteza
E gera a noite tétrica e sombria.



169


Um rumo onde pudesse prateado
Delírio deslindar-se em lua plena,
No fundo cada passo ainda acena
Tentando ultrapassar este legado.

O risco tanta vez anunciado
A sorte noutra liça se envenena,
E quando se porfia já condena
Ao ermo deste mundo, desolado.

Fraterno caminhar permite e traz
Um dia mais suave feito em paz,
E nesta maravilha se acredita

Quem sabe discernir a cada instante
Noutro cenário em luz já se adiante
Sabendo neste amor, glória infinita.


170


A vida traduzindo em mel e fel
Enquanto pode haver outro caminho,
Um passo para frente e não sozinho
Desvenda da esperança o claro véu.

Assim se perpetua o nosso Céu
Que em vida se mostrara manso ninho,
E quando deste sonho eu me avizinho
Meu rumo não seria tão cruel.

Venais olhares trago para quando
O mundo noutro canto enveredando
Perdendo a mais sublime poesia

Gerada pelo amor em magnitude
Maior do que decerto ainda pude,
Estrela radiante à paz me guia.


171

Meu canto poderia estar além
Da mera fantasia noutro instante
E quando se percebe um delirante
Desenho aonde o nada me contém

Sabendo quanto o ocaso diz desdém
E o medo de outro rumo doravante
Impede o caminhar mais fascinante
Sorvendo da esperança, muito aquém.

O risco de viver não mais pudera
Calar a tão sobeja primavera
Nem mesmo emudecer enfim meu canto.

E quando em tais promessas me redimo,
Supero no meu passo qualquer limo
E assim numa amizade eu já me encanto.

172

Abrindo da esperança última porta
Tentando adivinhar algo suave
O passo sem mais nada que o entrave
Agora etérea luz em paz comporta.

Ao quanto poderia e me conforta
Sem nada que deveras inda agrave
O voo insaciável de tal ave
A fantasia ao cais sereno aporta.

Negar os meus tormentos? Nada disto.
Apenas os corrijo e se persisto
Num erro pagarei pelos engodos;

Mas tendo o coração bem mais liberto
O rumo com certeza, agora acerto
Supero a cada instante; novos lodos.


173


Ainda que deveras veja as tardes
Envoltas em neblinas a esperança
Jamais de tanto sonho em paz se cansa
E neste delirar a luz, aguardes.

E mesmo quando o passo aquém; retardes
O caminhar sereno sempre alcança
Urgindo em claro bem a temperança
Sem serem necessários vãos alardes.

O canto quando ecoa e se traduz
No encanto feito em rara e plena luz
A poesia dita o mundo aonde

O sonho noutro passo se permite
Ultrapassando assim cada limite
Ao todo da amizade corresponde.


174

Pudesse imaginar a nova aurora
Depois da tempestade de ontem quando
O mundo noutra face desabando
Na plúmbea sensação não se demora.

Bebendo a fantasia aonde aflora
O canto mais suave e mesmo brando
A cada novo dia transformando
O encanto onde este amor se revigora.

Cerzindo no tear desta esperança
O mundo em plenitude já se lança
E sabe em consonância o que virá.

Os rios mais gentis decerto vão
Ousando nesta mesma direção
Gerada desde agora aqui e lá.


175


Diáfana presença da esperança
Esparsa-se qual fumo se perdendo,
E quando se esperara um dividendo
O passo sem destino e em vão se cansa.

Aonde poderia haver pujança
Apenas esta face onde desvendo
A turva consistência de um remendo,
No horrendo delirar onde se lança.

Mergulho cada verso em tons gentis
Tentando muito além do que mais quis
Viceja a fantasia em minha alma.

E quando neste instante eu me aprofundo
Nem mesmo que só seja num segundo
A vida noutro instante tanto acalma.



176


A vida se mostrando inteiramente
Permite algum momento de ilusão
E sei que novos tempos mostrarão
O quanto na verdade se pressente.

O passo rumo ao claro e permanente
Cenário se fazendo desde então
Gerando com firmeza esta união
E nela mergulhando corpo e mente.

Vencer os desacordos e seguir
Tentando conquistar algum porvir
Com toda melhor sorte desde quando

O mundo além do caos sente a saída
E deste labirinto imenso, a vida,
Caminho em amizade nos guiando.

177


Melhor e bem mais forte vejo o rumo
De quem se dá inteiro e sem promessa
A cada amanhecer já recomeça
E neste desenhar eu me perfumo,

Desvende-se alegria e bebe o sumo
E o passo com firmeza não tropeça
À vida num momento se endereça
O quanto deste encanto acerta o prumo.

Vencer os desafios dia a dia
E crer quando de fato poderia
Vestir esta emoção imensamente

E tanto quero a messe em amizade
Que nada neste mundo em vão degrade
O canto quando à paz ainda tente.



178


Aquele que por vezes se fez vago
Bebendo a sordidez sem esperança
E ao nada novamente já se lança
Enquanto outro caminho em paz eu trago.

Não posso conceber tamanho estrago
Nem mesmo coaduno com vingança
O passo mais sublime me afiança
Da mansidão imensa deste lago.

A voz se presumindo mais tranquila
Enquanto muito além cisma e desfila
Tramada nos pendores da amizade

Já nada mais a cala, e segue assim
Traduz cada caminho e de onde eu vim
Certeza de outro encanto alto em som brade.

179


Servindo de alegria este momento
Aonde noutra face vejo a vida
E bebo desta lúcida e sentida
Vontade em plena paz que ora alimento.

Do quanto deste sonho ando sedento
Palavra a ser diversa distraída
Não deixa se vencer a desmedida
E intrépida ansiedade em caos e vento.

Esfumaçando além uma esperança
A vida perderia esta fiança
E nada poderia repará-la.

E mesmo quando o canto siga vago
No encanto deste sonho em luz me afago
Minha alma de um clarão se faz vassala.


180



Desdéns e sofrimentos; não mais quero
Apenas vislumbrar belo horizonte
Aonde o meu futuro em paz aponte
Num canto tão suave quão sincero.

O mundo é por demais; deveras fero
E nega da esperança qualquer fonte
Sem nada que outro tempo em paz remonte
Em solidão meu passo eu destempero.

Pudesse acreditar em novo dia
E nele com certeza me daria
Sem medo de perder ou de sofrer.

A sorte desdenhosa e tão infanda
Enquanto noutro rumo se debanda
Deixando o coração ao bel prazer.


181


O amor corpóreo quando é simplesmente
O todo onde resume o sentimento
Depois de certo tempo esvai no vento,
E nada no futuro se apresente.

O quanto se mostrasse impertinente
Gerando tão somente o desalento
Enquanto outro caminho em paz eu tento,
Viver esta alegria permanente.

Cenários tão diversos; mesmo em fundo
Delírio quando em messes eu me inundo
Permito uma mudança em direção;

Quando este amor traduz a liberdade
Coadunando sempre em amizade,
Os dias mais suaves se verão.


182


Apenas quando abraço a solidão
Eu penso noutro canto mais sublime,
E assim a cada passo não estime
Viver em plenitude uma emoção.

Traduzo no vazio; os que virão
E neste fato mesmo se deprime
O rumo de quem tanto não redime
Amortalhando sempre algum verão.

É necessário ter o peito aberto
E neste desenhar a dor deserto
E adentro a plenitude mais fraterna,

E assim minha alma ascende ao mais perfeito
Momento e neste encanto eu me deleito
Enquanto a minha voz jamais se inverna.



183


Às vezes delicado caminhar
Por entre pedregulhos traz a chance
De ter outro desenho onde se lance
Sem nada mais temer, bastando ousar.

Enquanto prenuncio a divagar
Do todo meramente algum nuance,
O passo em rapidez tanto me canse
E nada se percebe em seu lugar.

A discordante luz se apresentando
Gerando um clima amaro e quase infando
Matando uma esperança em nascedouro.

Mas quando em mansidão eu solto a voz,
Atando com firmeza, raros nós,
Nas tramas deste encanto em paz me douro.


184



No fundo qualquer forma poderia
Traçar quem busca apenas outro rumo,
E quando em amizades me consumo
Sagrando a cada passo a fantasia.

Um mundo mais tranqüilo se veria
E neste caminhar em paz aprumo
O canto e bebo a sorte em pleno sumo
Singrando com ternura a poesia.


Meu verso se afastando do cenário
Por vezes tormentoso e temerário
Gerado pela dor e nada mais,

Ao se encontra com toda esta beleza
Nesta amizade em teias, sendo a presa
Presume novos dias, magistrais.


185


Sentindo o manso olhar aonde eu tento
Vencer os mais terríveis temporais
Eu bebo desta sorte e a quero mais
Estando mais liberto o pensamento.

A cada novo encanto o mesmo alento
E nestes dias claros, triunfais
Transcorres mansamente sem jamais
Viver a dura face em sofrimento.

Apraza-me saber o quanto, amiga
A sorte a cada dia mais bendiga
Quem tanto se oferece em plenitude.

O manto consagrado da esperança
Enquanto em teu caminho já se lança
Não há nada no mundo que inda o mude.


186


Guiando o meu desejo pelo anseio
De um dia mais tranqüilo aonde eu possa
Saber desta ventura toda nossa
E neste caminhar sem devaneio.

As tramas do desejo que incendeio
Tramando outro desenho quando endossa
O passo rumo ao quanto já se apossa
Deixando o sofrimento aquém, alheio.

O mundo descortina uma esperança
Aonde em paz, fraterno ora se lança
Vagando como a estrela que me guia.

Marcando com ternura cada verso
Bebendo deste imenso e tão diverso
Encanto feito em luz e poesia.


187


É bom poder sentir a liberdade
Roçando cada passo aonde eu for,
E neste desenhar encontro o amor
Regido pelas mãos de uma amizade.

Que nada neste mundo inda degrade
O passo aonde quero me propor
Sabendo da alegria o seu valor
E nesta sensação a paz me invade;

Cerzindo em voz suave a mansidão
Meus olhos tão somente beberão
Da cristalina fonte da esperança.

E quando se percebe esta benesse
O encanto sem medida se oferece
E nada nem meu passo enfim se cansa.

188

Ao cantar uma esperança
Feita em plena claridade
O meu passo além alcança
A seara da amizade,

E deveras não descansa
Outro sonho busca e invade
Nele toda a confiança
Bem alto e em paz se brade.

Quem deveras sabe disso
Quando o solo é movediço
Procurando um novo cais.

Já não quero mais o caos,
Ultrapasso estes degraus
Rumo aos dias magistrais.


189


Já não posso me calar
Frente a tanta hipocrisia
Esta noite sem luar
Apresenta a tez mais fria,

E a verdade só se guia
Onde eu possa desvendar
Muito mais que a fantasia
Um lugar e lá ancorar.

Depois disto vejo o quanto
Cada verso pode e enfim,
Neste tanto me agiganto

Refletindo este jardim
E nele esperança eu planto
Colho messes dentro em mim.


190


O meu canto não comporta
A tristeza do abandono
Quando abrindo a velha porta
Neste intento tanto abono

O desejo me transporta
E transforma o quanto clono
De uma vida outrora morta
Noutra face onde me adono

Do caminho aonde eu possa
Desvendar novo futuro,
A certeza sendo nossa

O desenho mais seguro
Cada sonho em paz endossa
Nele o todo que procuro.

191

Um sonho aonde houvesse o solidário
Caminho rumo ao éter eternal
No amor e no perdão consensual
Um rito mavioso; imaginário.

Enquanto o mundo vejo temerário
E a cada passo um novo desigual
Pudesse noutro instante um ritual
Pacífico e sensato este cenário,

Assim talvez possamos entender
As diferenças entre cada ser
São mínimas perante uma igualdade

E assim nesta fraterna e mansa trilha
Justiça se mostrando na partilha
Gerando a tão sonhada liberdade.


192


Um passo para frente, olho horizontes
Diversos dos que outrora eu vira; em vão
Momentos mais tranqüilos moldarão
Entre as diversas vidas, firmes pontes.

Gerando ou preservando assim as fontes
A vida se expressando imensidão
Um solidário rumo onde terão
Olhares que também além apontes.

E nesta tão fantástica harmonia
Um tempo mais feliz se presumia,
Sem tantas diferença ou injustiça,

Eu sei o quanto utópica esta imagem
Nesta grisalha e torpe paisagem,
Porém a alma poética a cobiça.

193


Amigo, a cada instante compartilha
Tanto os prazeres quanto os dissabores
Cevando em igualdade espinho e flores
Fazendo da esperança a mansa trilha.

O quanto cada estrela em si já brilha
Promete em concordância estes albores
E seja da maneira e como pores
A vida neste encanto se estribilha,

Dos ermos mais profundos de minha alma
Conheces; teu apoio sempre acalma
Assim como a diversa opinião

Exposta com clareza e liberdade
Embora muitas vezes desagrade,
Ajuda a caminhar com precisão.


194


O confraternizar diário traz
A cada olhar um dia mais tranquilo
E quando caminhando assim perfilo
Meu canto noutro rumo mais audaz,

Percebo quando a vida se perfaz
Num novo e desejado, calmo estilo
E neste instante sigo e não vacilo
Buscando este horizonte feito em paz.

Num passo solidário ao amanhã
A história não seria mais malsã
E o canto em liberdade, uma constante.

Utópico cenário, disto eu sei,
Enquanto vejo escura e amarga grei
A todo instante um ar mais degradante...


195


Meu verso se expressando em calmaria
Traduz o quanto esta alma inda procura
E mesmo sendo a vida esta insegura
Paisagem onde a treva se recria.

Pudesse imaginar, pois novo dia
E nesta nova senda, aonde escura
A vida noutra face se assegura
Deixando para trás a tez sombria.

E resolutamente nada vejo
Senão a mesma dor em malfazejo
Cenário aonde a vida se amortalha,

O quanto pôde um dia ser diverso
Agora em tal vazio, este universo
Ainda vive um campo de batalha.


196


Perdendo a direção deste timão,
Planeta aos poucos vê a decadência
Aonde poderia uma ingerência
Em harmonia, resta a imprecisão.

E os dias tão iguais que inda virão
A cada novo olhar, mesma inclemência
E o ser humano em total virulência
Espalha o medo, a dor: degradação.

E quando se aproxima alguma luz
Apenas no vazio se traduz
O todo imaginário quando outrora

O mundo sem sentidos segue alheio
Falena em volta à luz tanto rodeio,
Porém onde esperança em paz se aflora?


197


Aprendo a cada dia e sei que tanto
Ainda hei de aprender, até o fim.
Diverso do caminho de onde eu vim
A todo instante um pouco mais me espanto.

O passo rumo ao torpe me adianto
E vejo a discordância dentro em mim,
O quanto eu aprendera e sei que enfim
Agora se perdera noutro manto.

Aonde poderia; a liberdade,
Reinar, a escravidão domina e invade
Ousando em formas várias e sutis.

Meu canto libertário, sendo inútil,
O mundo a todo instante bem mais fútil
Uma esperança ao fim, já contradiz.


198


Tendência do ermitão ensimesmado
É mesmo o solitário desenhar
De um quanto poderia e sem lugar
Expressa em seu silêncio o duro enfado.

Revolvo as minhas tramas do passado
E vejo o mesmo quadro a se formar
Na inexpressiva voz a retumbar
Matando qualquer forma de legado.

Pudesse num fraterno e bom cenário
Um canto mais suave, imaginário,
E assim a própria vida se bendiga.

O marco mais atroz a cada instante
Presume este futuro onde se espante
Quem tanto um dia quis a voz amiga.


199


Uma esperança ronda cada olhar
E dita outro futuro aonde um dia
O tanto quanto quis não poderia
Nem mesmo traçar novo caminhar.

Ao aprender em tom suave, amar
Deixara para trás a tez sombria
Tentando imaginar a poesia
Como instrumento mesmo a nos guiar.

Ao ver a discordância tempo/espaço
O verso que insistente, ousando eu traço
Há tanto sem valor, sem ter sentido.

Uma expressão vazio, tão somente
O quando na verdade se apresente
Expressa um mundo escravo da libido.


200


Olhando para trás vejo o futuro
E singro o mesmo espaço em tons diversos,
Mas sei quanto comuns tais universos
E deste caminhar, estou seguro.

O mesmo dia a dia mais escuro
Os sonhos entre trevas vão imersos
E quando se apresentam mais dispersos
Traduzem muito aquém do que eu procuro.

A velha face escusa, humanidade,
Ainda com certeza o que ora invade
Deixando uma esperança empedernida.

Assisto à derrocada do planeta
Que a cada novo dia se arremeta
Ao fim inexorável até da vida.

201


Um gélido caminho me esperando
Depois de tantos anos de bonança,
A própria espera um dia enfim se cansa
Deixando o mundo atroz, dorido e infando.

O quanto imaginara desabando
E o tempo espuriamente e sem tardança
Transcorre sob as teias da vingança
E o todo num momento se acabando.

Amores, vida afora, ledos erros
E a cada nova ausência os meus desterros
Marcados pela insânia de quem sonha.

Dos esplendores? Sórdidas mentiras
Enquanto as esperanças me retiras
A tez da noite imerge mais medonha.


202


O intenso fogaréu imaginado
Há tanto se perdera sem sentido,
O passo a cada instante desvalido
Redunda dos engodos do passado.

O quanto noutro tenho foi sonhado
Desfaz a direção e neste olvido
Não resta dentro em mim sequer o urdido
Desejo; há tanto tempo destroçado.

Resulto dos engodos e procuro
Algum lugar ao menos mais seguro
Depois de tantos erros vida afora,

E quando me percebo solitário
Meu canto noutro tom desnecessário
Apenas o vazio em mim vigora.

203


A fonte inesgotável, esperança
Também um dia seca quando ausência
Transformando em terrível penitência
O passo que ao vazio enfim se lança.

Mudando a cada instante a vida avança
E busca tão somente a confluência
De rumos onde houvera consistência,
Porém se esvaziando sem fiança.

O tempo a cada dia se deforma
E o quanto desta espúria e tosca forma
Transforma o nosso enredo em descompasso.

E aonde se pudera ver a luz
Somente o mesmo enfado reproduz
Caminho aonde insano ainda passo.


204


Dos tantos horizontes desenhados
Num erro tão comum de quem se entrega
A vida sendo assim espúria e cega
Os sonhos; impossíveis, desolados.

Errático cometa busca fados
Aonde em inconstância já trafega
E apenas no final ainda emprega
Os erros tão comuns enveredados.

Restauro vez em quando uma alegria
E sei quanto pudesse ou mais podia
Viver outro momento ao menos, mas

A vida não permite mais escolha
E quantas vezes nada se recolha
Do engodo que meu sonho em si já traz.

205


Amar o amor por ser amor somente
Vestindo a mesma roupa da ilusão
Gerando nos momentos que virão
Iguais aos quanto a vida já desmente.

E crer no imaginário grão, semente
De um tempo mais suave em progressão,
Ausento dos meus sonhos a versão
E nada no final, pois se apresente.

Impunemente a vida segue igual,
Mudando muita vez o gestual
No fundo a mesma essência em discrepância.

A sórdida figura desvendada
Enquanto poderia após o nada
Gerar outro cenário em concordância.


206



Um estrangeiro em solo conhecido
Fugindo de mim mesmo, eu me enclausuro
E quando novamente em cais seguro
Enfrento os mesmos erros, desvalido.

Expresso noutro intento o meu sentido
E singro mesmo em mar imenso e escuro,
Vagando sem sentido e me amarguro
Bebendo deste infausto prometido;

Escusas noites ditam meu caminho
E quando de algum porto eu me avizinho,
Apenas meramente uma miragem,

Percursos já sabidos, sem um norte.
Não tendo quem deveras inda aporte
O barco se perdendo em tal viagem.


207


Procuro em becos, ruas sem saída
A imagem de mim mesmo noutra face
E ainda que decerto além eu grasse
Já não conduzo em paz a minha vida.

Há tanto que pensar e a despedida
Não deixa algum sinal aonde passe
Escasso desejar ainda trace
Sabendo da seara além, perdida.

Resulto dessa insânia e se me entranho
Não vejo qualquer brilho, norte ou ganho
Aonde procurara ao menos paz.

Infaustos corriqueiros, nada resta
Senão a mesma voz turva e funesta,
Que o meu passado vivo ainda traz.



208



Desertos envolvendo cada verso
Aonde poderia até criar
Um sonho e nele mesmo divagar
Gerando um tom suave e mais disperso.

Mas quando me apresento e sei perverso
Cada momento expressa este lugar
Por onde poderia começar
E no final entranho este universo.

Audaciosamente às vezes tento
Beber outro caminho, mas sedento
O olhar já não percebe qualquer luz,

Apenas a mortalha costumeira
Desértico infinito onde não queira,
Porém meu passo insiste e me conduz.


209


Um náufrago somente, em desalento,
O rústico caminho em insolvência
E nada mais traduz a consistência
Do sonho frente ao mais terrível vento.

E quando algum desenho novo invento
O tempo se transforma e a imprevidência
Gerada pela dor e prepotência
Marcando cada dia em vão tormento.

Escassos sonhos trago de um passado
Aonde se eu vira amargurado
Reflexos desta insânia e nela estou

Aporto em ilusões outros cenários,
Mas sei o quanto são imaginários,
Do todo que eu buscara o fim restou.

210

O mundo em volta traz a neve e o frio
E neste meu anseio refletindo
Abismo de minha alma sendo infindo
Apenas o vazio inda recrio.

E quando em novo sonho eu desafio
Tentando outro desenho, não deslindo
Senão e solidão e se me brindo
O pântano desnuda-se sombrio.

Os dias se repetem e no fim
Mergulho em vaga essência e chego ao fim
Vacante caminheiro da ilusão.

O quanto pude até pensar em messe,
No fim de cada passo já se esquece
E o mundo perde rota e direção.


211

A lividez expressa o meu retrato
Que espelho não sonega e até aumenta
E quando se entranhando em tal tormenta
O rumo noutra senda; eu mal retrato

O tempo que se fora não resgato
E a solidão apenas alimenta
A furiosa senda aonde eu tenta
Restituir a força do regato.

Escassas esperança vejo além
E o quanto do vazio me contém
Presume esta inconstante caminhada,

Vagando sem destino, sigo ao léu
E quando vislumbrando algum ilhéu
É mera fantasia, não há nada...

212



O gume que afiaste do punhal
Traduz o nosso infausto caso quando
O tempo cada vez vejo nublando
Qual fosse o mais sinistro ritual.

O passo quando o quis consensual
Em rumos tão diversos já tomando
E mesmo que o pensasse ao menos brando
O risco se mostrara atroz, venal.

Esbarro nos anseios de quem busca
Vencer a solidão, mas senda brusca,
A vida não permite outra saída,

Depois de tantos anos, erro farto,
O sonho a cada passo em vão descarto
Não resta quase nada onde houve vida.

213


A face da montanha já desnuda
Expressa a solidão desta alma insana,
A cada novo passo mais se dana
Sem ter sequer quem veja ou mesmo acuda.

E nada na verdade a vida muda,
A cada novo dia o sonho engana
E morta a poesia, já profana
Esta alma tantas vezes mais miúda.

E resolutamente não se vendo
Senão esta mortalha, vil remendo
Do quanto fora outrora uma esperança,

A voz já se perdendo e nada resta
Senão a mesma imagem vã, funesta
Aonde o dia a dia em vão se lança.


214


A noite inunda cada instante além
Do quanto pude crer e não sabia
Que ainda houvesse enfim a fantasia
E nela a solidão apenas vem,

O risco de sonhar, mero desdém
A noite com certeza será fria
E nada mais transcende onde podia
Viver o quanto resta em ledo bem.

Marcando cada passo com o nada,
Mal deixo qualquer rastro e na pegada
Deixada meramente vejo o ocaso.

Bebendo cada gole deste escasso
Desenho que inda mesmo teimo e traço
E nele o dia a dia em vão embaso.


215


Um manto em cores claras, transparente
O tempo não permite e nem mais vejo
Senão a solidão neste lampejo
Aonde cada passo se apresente.

Por mais que noutro rumo ainda tente
Sentir a mansidão deste azulejo
A morte se aproxima e o fim prevejo,
Um ar deveras torpe e impertinente.

Meu verso poderia ser tranquilo
Enquanto noutro sonho a paz desfilo,
Mas sei desta inconstância e nada trago

Senão velhos cenários putrefatos
E deles saciando meus regatos,
A cada novo dia intenso estrago.


206


A lua se banhando em solidão
Expressa o quanto trago dentro em mim,
E quando me aproximo deste fim
Colhendo meramente a ingratidão

Os dias noutros tantos moldarão
A cena degradante do jardim
Aonde me encontrara e nada enfim
Somente o mesmo atroz e duro não.

Ocasionando a dor invés da messe
O passo no vazio ainda tece
Apenas a mortalha costumeira,

E ainda que pudesse ser diverso
Abismo dita a tônica do verso
Por mais que alma renegue ou mais não queira.


207


As lavas escondidas dentro da alma
De quem se cala ou mesmo não sacia
Vontade mais audaz, em fantasia,
E nada nem o tempo ainda acalma.

Vulcânica presença de um silente
Anseio aonde o nada diz do tudo
E o passo que pudesse, desiludo
Enquanto o pensamente ainda tente

Vencer os meus temores costumeiros
Deixando para trás o alheamento
E assim ao procurar o fausto eu tento
Embora em pleno estio tais canteiros.

A voz expressa apenas merencória
Realidade torpe desta história.


208


Ardentes ilusões tomando o espaço
Aonde o meu caminho desiludo
E quando me apresento e vou com tudo
Errático cometa, vago lasso.

O passo se transforma em algo escasso
E o corte com terror em tom agudo
Entranha cada parte e se transmudo
O risco noutro intento não mais traço.

Um medo consonante com meu tempo
Transcende e se engodando em passatempo
Gerando a etérea fuga para o nada,

Espelho a realidade aonde eu vivo
E sei que continuo a ser cativo
Da mesma história vil e articulada.


209


Uma paixão tamanha eu não sustento
E busco apenas fuga e nada mais,
Meus dias entre fúrias e jograis
O caos domina assim o pensamento.

Cadenciado o passo em desalento
Os dias se demonstram desiguais
E vejo a cada instante outros venais
Palavra se soltando em vago vento.

A gélida expressa em cada olhar
Transcende ao que tentei em vão buscar
Jogado pelos cantos da existência.

Herético desenho da esperança
O rumo noutra tez já não alcança
Alavancando ao fim dura inclemência.


210


Quem vendo a minha face mais suave
Não sabe do terror que eu alimento
E quando bebo a vida assim sedento
O sonho noutro enredo já se agrave.

O pensamento espelha esta livre ave
E segue mesmo contra qualquer vento,
E aonde te parece alheamento
O sortilégio traça medo e trave.

Esparso condutor dos meus caminhos
No quanto são decerto mais daninhos
Espelham a minha alma enfim desnuda.

E quando me permito uma visão
Diversa das que outrora ou mesmo em vão
A mão da realidade já transmuda.


221


O sol a prumo toma este cenário
Enquanto dentro da alma a bruma impera
Aonde poderia a primavera
Estio dominando; temerário.

A vida cobra o sonho imaginário
E traça a cada passo outra quimera
O passo sem sentido desespera
E o manto se desnuda em gris tão vário.

Revolvo dentro em mim buscando apenas
O quanto a cada ausência me condenas
Marcando em cicatrizes cada sonho.

E quando mergulhara neste abismo,
O olhar sem soluções deveras cismo
E o quanto se aproxima é mais tristonho.


222


O quanto poderia ser ardente
O sonho feito em gozos e alegria
A vida na verdade não traria
Senão este vazio onde se ausente

A sorte noutro fato, impertinente
Marcando a minha voz em tez sombria
E quando noutro instante poderia
Apenas desenganos apresente.

Errando sem destino sigo até
O hermético caminho diz quem é
E o quanto mesmo quis diversidade.

No fardo o sobrepeso dentro da alma
Um ilusão deveras não acalma
Enquanto a minha vida se degrade.


223


Andasse no verdejo da esperança
E ainda poderia haver diverso
Desenho deste agora aonde imerso
O passo no vazio já se lança.

Meu mundo na verdade ora se cansa
Do infausto a desenhar e nele verso
Alçando a solidão deste universo
Aonde quis apenas temperança.

Edênico desenho desejado
E ao ver este vazio, agora enfado
Amortalhando o riso e neste prisma

A vida se perdendo em inconstante
Caminho aonde eu quis e não garante
Senão a mesma ausência aonde cisma.


224



Ondeiam milharais em forte vento
Gerando uma superna cena aonde
O nada tão somente corresponde
Ao todo que deveras inda tento.

A sorte se transforma e num momento
Uma esperança morta já responde
E o tempo noutra face, noutra fronde
Dirime o que só fora sofrimento.

Cruzando estes espaços, sigo aquém
Do quanto poderia e nunca vem
Somente se traçando a desventura

E neste passo atroz rumo ao vazio
Instante mais diverso eu desafio
Enquanto a vida em nada me assegura.

225


O sol se derramando sobre as águas
Tranqüilas deste lago aonde um dia
Pensara muito mais do que devia
Envolto em tantas dores, medos, mágoas.

Assim também nos sonhos tu deságuas
E neste tom diverso eu merecia
Alguma luz ao menos, mas vazia
A noite não se faz em luz ou fráguas

Arranco dos meus olhos tal imagem
E mesmo entranha em mim como miragem
Emoldurada na alma de um poeta

Figura que transcende à própria vida
Paisagem soberana construída
Aonde o meu caminho se completa.


226


Festins que ainda trago em mero sonho
São falsas luminárias. Noite vaga
E apenas solidão ainda afaga
O passo noutro rumo tão medonho.

Escárnio a cada dia onde me ponho
Embora variável seja a plaga
A sorte na verdade nada traga
Senão mesmo cenário vil, bisonho.

Encontro meros restos do que há tanto
Pudesse ser diverso, mas me espanto
Ao ver esta constante derrocada.

Num quixotesco infausto, meus moinhos
Expressam os meus dias mais sozinhos
E ao fim a messe dita o mesmo nada.


227

Vagando sob a lua em sonhos tantos,
Os versos nada trazem quando os tento
E o risco de sonhar, ledo sustento,
Apenas gera fartos desencantos,

E quando recendendo aos vis quebrantos
Por mais que o meu olhar esteja atento
Ao fim de cada dia o sofrimento
Exprime os mais terríveis tristes mantos.

Acordo e me percebo em solidão
E neste mesmo barco eu sei que estão
Meus dias do passado e do futuro,

Errôneo desejar uma esperança
Se a vida em sordidez nada afiança
E apenas do vazio eu me asseguro.


228


Um mar em majestades e pujança
Transcende à própria vida e se permite
Viver além do cais, noutro limite
Aonde a própria sorte nos alcança

E o passo transformado onde se lança
A vida e neste tanto se acredite
Por mais que outro cenário delimite
Ainda viva em mim, mera esperança.


E resolvidamente sigo em frente
E mesmo que deveras se apresente
Um rumo tão diverso, eu busco o brilho

E neste espúrio cais onde me vejo
Reflito tão somente este desejo
Aonde inutilmente e em vão palmilho.


229


As toscas labaredas da ilusão
Não deixam que se veja a realidade
E o quanto da verdade se degrade
Causando a mais cruel transformação.

Meu passo se repete e sempre em vão
Gerando a cada ausência a tempestade
A morte sem defesas quando invade
Somente turbulências reinarão.

Escasso amanhece aonde um dia
Pudesse e com certeza até queria
Vencer os meus anseios mais profundos,

Mas como se meus erros contumazes
Expressam a caminho onde me trazes
Em dias mais atrozes, vagabundos...


230


Liberto coração procura um porto
Aonde poderia descansar,
Depois de tanto tempo navegar
E estando na verdade quase morto,

A solidão causasse desconforto,
Mas mesmo assim impávido a lutar
Sem nada o que temer; sequer lugar
Enquanto prenuncio o mesmo aborto.

O preço que se paga vale a pena
A vida à liberdade me condena
Embora seja sempre dolorida.

Perguntas sem respostas? Tantas tenho,
Mas quanto mais audaz, sigo ferrenho
Distante dos meus olhos a saída...




231

O verso em controvérsia ou concordância
O passo rumo ao quanto desejara
A cada novo dia outra seara
E a vida desfilando esta inconstância.

O risco de viver em militância
Enquanto a sorte além já se escancara,
A poesia trama a voz amara
Ainda que vazia a minha estância.

Resulto deste caos que mesmo crio
E sei que a cada instante mais sombrio
Arisco passageiro do não ser

Adentro em solilóquio o temerário
Desenho aonde outrora este corsário
Esquece qualquer cais que possa haver.


232


Liberto o meu destino das amarras
E nele procurando finalmente
Além do que deveras se apresente
A sorte aonde em vão ainda agarras.

E neste desenhar tanto te esbarras
Nas tramas mais audazes. Inda tente
Vencer o descaminho impertinente
Sentindo com firmeza frias garras.

O tempo reverbera ao que não fora
E o risco desta angústia tentadora
Traduzo em versos álgicos, sombrio.

E quando tento além um novo dia,
Apenas um remendo se faria
Aonde na verdade nada crio.


233


Ousar e com palavras traduzir
O quanto inda carrego e não consigo
Sentir o mesmo cais, diverso abrigo
Negando qualquer luz que inda há de vir.

Expresso a fantasia como a quis
Vestindo esta ilusória alegoria
E quanto mais sonhasse eu não veria
Senão a mesma face e por um triz.

Restauro os meus anseios e os refaço
Sabendo da sacrílega peçonha,
E ainda quando muito não me oponha
Seguindo o quanto queres; mesmo espaço.

Repare as velhas tramas do passado
Verás qual mar em fúrias hoje nado.

234


Jogado sempre ao mesmo rude cais
O barco de um naufrágio se aproxima,
E a vida repercute assim o clima
Propiciando ao fim mais temporais.

Os olhos entre frios e boçais
Aonde poderia haver a estima,
O risco de sonhar não mais se exprima
Em verso tantas vezes tão venais.

Resulto deste caos enquanto o gero
Perpetuando assim um dia mero
Após outro decerto em tom igual.

Resgato vez em quando alguma messe,
Mas quando ao meu olhar isso oferece
A morte se aproxima. Sensual...


235



Grassando sobre o nada aonde um dia
Pudesse adivinhar qual direção
Da minha velha torpe embarcação
E neste desenhar nada teria.

A solidão invade a noite fria
E o quanto se desenha em mesmo não
Traçando os dias turvos que virão
Deixando para trás a fantasia.

Negando qualquer passo a quem quisera
Saber como vencer a vil quimera
Atocaiada a cada curva ou passo.

Ao ver o meu retrato neste aprumo
O quanto tão somente em vão me esfumo
Traduz o meu olhar, sofrido e baço.

236

Não posso mais sentir ao menos isto
O riso aonde humano eu me faria
Vencer a mais dorida hipocrisia,
Enquanto ainda busco, não resisto.

O passo noutro instante já despisto
E bebo da temível heresia
Marcando a minha voz em tez sombria
À derrocada enfim, agora assisto.

Abismos onde entranho o pensamento
E quando novo dia ainda tento
Escassa realidade dita o rumo,

E o pântano que ostento dentro da alma
Nem mesmo uma mortalha ao fim acalma
E em vida pouco a pouco, eu me consumo.


237


Dos dias mais felizes; nem a sombra
Apenas a constante ingratidão
E nela novos tempos me trarão
A mesma face atroz que tanto assombra.

Vestindo a fantasia de quem tinha
Ao menos a esperança mais tenaz,
O pântano desta alma se perfaz
Aonde a sorte outrora fora minha.

Escolho cada traço aonde eu possa
Vencer os meus fantasmas, nada creio
Somente no meu rumo sempre alheio
Bebendo a cada ausência a mesma fossa.

Erguendo o meu olhar sem horizonte,
Nem mesmo algum sinal de brilho aponte.


238


Aonde poderia haver luar
Somente a tez sombria desta noite
E o canto desta ausência ainda açoite
Quem tanto inutilmente quis lutar.

Escassa luz bebendo aonde outrora
Pudera em plenilúnio ter a sorte
Que tanto mansamente nos conforte
Enquanto a solidão inda vigora

Ancoro o meu caminho em nada e sendo
Somente desta forma o meu desenho
Meu mundo na verdade ainda o venho
Tramando qual sombrio e vão remendo.

Reflito qualquer sol que ainda creia,
Porém a noite segue além e alheia...


239


Vagando sem limites céu e mar
Procuro na amplidão algum momento
E quanto mais procuro ou mesmo invento,
Mais nada com certeza hei de encontrar.

O mundo se perdendo devagar
O quanto me tocando; alheamento
E singro este nefasto pensamento
Bebendo da tristeza a me fartar.

Resplandecendo apenas o vazio
Reflito o que deveras inda crio
Nas tétricas ausências da esperança.

Pudesse enfim olhar e ver deveras
O quanto inutilmente destemperas
E a vida sem respostas vem e avança.


240


As águas turbulentas traduzindo
O quanto pude e nada tive em troca
Caminho noutro rumo se desloca
E o canto não se faz presente: findo.

O todo do meu ego se esvaindo
No cais a cada instante, a velha doca
Aonde esta esperança desemboca
Matando o quanto resta e não deslindo.

Trazendo ainda a voz mera e sombria
E nada mais pudera ou mesmo iria
Tramar novo momento dentro em mim;

A sorte se perdendo a cada instante
O nada aonde o nada se garante
Estabelece e traz em si o fim.


241


Ainda quando vejo o meu retrato
Envolto em tantas brumas, nada trago
Senão a mesma face em duro estrago
E o passo rumo ao nada, desacato.

Enquanto na verdade não resgato
Sequer a menor sombra deste afago
E turvo a cristalina tez de um lago
Marcando com penúria e com maltrato.

Ascendo às ilusões alçando além
Do quanto poderia e nada vem
Somente o mesmo infausto contumaz.

Assim em tantas urzes traço o rumo
Enquanto a cada ausência eu já me esfumo
E perco o que inda fosse alguma paz.


242


A gélida impressão de um duro inverno
Tocando a minha pele e me enrugando
Precocemente a morte se tornando
O quanto mais desejo e agora externo.

Escárnio tão somente tento um terno
Desenho de outro tempo ao menos brando,
Mas tudo se perdera desde quando
O dia a dia trama enfim o inferno.

Jogado sobre as rocas, sem o cais
Aonde me acolhesse em vendavais
Apenas a esperança, mas a vejo

Distante a cada passo dos meus olhos,
Cultivo desde então velhos abrolhos
A luz, se ainda houvesse: algum lampejo.


243


O dia noutro dia se tentando
Depois de tantos erros, só mais um.
Traduzo o meu caminho por nenhum,
E as trevas me tomando, duro bando.

Vestindo a fantasia da esperança
Amortalhada tez da solidão
E nela novos dias me trarão
A mesma ausência aonde o passo avança.

Emudecendo o quanto pude crer
Respaldos tão diversos, nada resta
Senão a mesma incúria onde se atesta
A morte noutra face; a se verter.

Pudesse acreditar em nova luz
Aonde o mesmo não se reproduz.


244


O quanto desejara ter ainda
Depois de tantos erros costumeiros,
Os dias sem os brilhos dos luzeiros
Aonde a minha messe não mais brinda.

E tento enquanto posso acreditar
Noutro momento e nele mesmo ver
Searas mais tranqüilas do prazer
Sem nada que me impeça imaginar.

Mas tudo o quanto vejo nada diz
Senão esta presença em contraluz
Do errático caminho e se deduz
Apenas outro olhar, torpe e infeliz.

Apresentando a face escusa e vaga
Meu mundo no vazio já naufraga

245


O quanto poderia ainda ter
Depois de tantos anos solitário
O canto mesmo ausente é necessário
E nele tento a sorte reverter.

Revolvo cada passo aonde um dia
Pudesse desenhar nova esperança,
Mas quando no sombrio infausto lança
A sorte noutra luz não mais veria.

Vertendo o desespero invés da glória
O risco de sonhar aumenta a dor
E aonde se tentara em resplendor
Sequer a menor sombra na memória.

E o fardo se acumula a cada não
Aborta em duro outono, outro verão.


246


Palavras são deveras tão diversas
Sentidos entre gozos, dores, medos
E os dias cada vez os vendo ledos
As horas mais audazes não dispersas,

E os erros de quem sonha reconheço
No traço mais audaz e nada levo
Senão o meu caminho duro e sevo
Aonde uma alegria é adereço.

Esgarço-me no nada e busco além
Da queda qualquer trama aonde eu possa
Rever a mesma história tua e nossa
E nela noutro fado, o que convém.

Mas vejo a mesma ausência de atitude
E nada na verdade ainda mude.

247


O quanto se pudesse em lucidez
Trazer o dia a dia noutro rumo
E quando noutro passo eu já me esfumo
O mundo se permite aonde o vês

O risco se transforma em altivez
No quanto perco o sonho e desaprumo
O meu delírio trama e rouba o sumo
Do quanto poderia e não mais crês.

Infaustos tomam o ar; cotidiano
Aonde na verdade se eu me dano
Ocasos entranhando dentro em mim.

Aprendo a cada instante um pouco mais
E sei dos meus terríveis e venais
Anseios que só trazem vivo, o fim.


248


A vida quando muito aquém tramita
Dos sonhos mais audazes, nada traz
Senão esta figura tão mordaz
Aonde poderia ser bonita.

O canto noutro manto se permita
Marcando a minha voz em contumaz
Caminho se perdendo aquém da paz
Marcando com terror esta desdita.

Espalho o meu temor aos quatro ventos
E quando quis momentos mais atentos
Apenas encontrara a solidão.

Apresentando ao fim o meu destino
Ainda vez em quando me alucino
Embora dias turvos; volverão.


249


Os dias que pudessem fossem tantos
E neles outros dias refletindo
O quanto imaginara ser infindo
E agora se traduz em vãos quebrantos.

Olhares somam erros, desencantos
Aonde poderia e mais não brindo
Gerando o meu caminho onde deslindo
Marcando com enganos, velhos prantos.

Resumos de outras eras vejo agora
Na face aonde a morte já se ancora
Tramando em ironia esta tocaia

Ainda quero crer noutro momento
E desta crença espúria eu me alimento
Embora o dia a dia sempre traia.


250

Meu dia no vazio se negando
Transcorre sem sequer qualquer mudança
E aonde poderia e não alcança
O mundo se desenha em vão, nefando.

E sei do meu caminho ora nevando
E nele a morte dita esta fiança
Não trago a menor sombra na lembrança
De um dia que pudesse ao menos brando.

Na sórdida ilusão já me perdera
E nada do que tanto conhecera
Permite algum alento, meramente.

E o caos se aproximando deste porto,
Aonde ainda resto semimorto
Ainda que outro sonho eu busque e tente...

251

Meu rumo se desfaz na solidão
E sigo temporária e mansamente
Tentando qualquer voz, nada desmente
E as tramas neste ocaso se verão

Desfaço o meu destino e sei que em vão
O risco de sonhar gera inclemente
Cenário aonde busque e mesmo invente
O traço noutro senda ou direção.

Esgarces tão comuns da meia idade
E neste meu outono o frio invade
Tramando algum inverno rigoroso;

E quando penso além do meu caminho
Descarrilado sigo atroz, sozinho,
Num rito tão mordaz quão pedregoso.


252


O descaminho se faz
Noutro passo aonde eu tento
Alhear o pensamento,
Mas o rumo é contumaz.

O cenário feito em paz
Hoje é mero sentimento
Meu olhar seguindo atento
Mergulhando em tom mordaz.

Vicejasse uma esperança
Onde o nada ainda alcança
Quem cansado de lutar

Na verdade já desiste,
E o meu sonho amaro e triste
Traz a morte a cada olhar.


253


Quantas vezes poderia
Mesmo até pensar no além
Quando a vida num desdém
Tece a mesma teia fria,

E o que trago em voz sombria
Na verdade não contém
O que tanto quis tão bem
E deveras não havia.

Ao cerzir desesperança
Noutro rumo a vida cansa
E amortalha qualquer luz.

Um corsário em ilusões
Onde agora o nada expões
Tanta coisa em vão compus.


254


Poderia ser diverso
O meu passo aonde o nada
Desenhando a mesma estrada
Pela qual não mais eu verso,

O meu canto ora disperso
E se tento alvoroçada
A manhã ensolarada
Não traduz este universo

Vago à toa pelos ermos
E se tanto sei dos termos
No final, ledo contrato.

A mortalha tece o fim
E a verdade dentro em mim
Num instante eu já desato.


255


Tanta angústia posso ver
Nos olhares de quem tenta
Enfrentar qualquer tormenta
Tendo em mente algum prazer,

A verdade a me deter
Quando a voz já violenta
A paixão não representa
O que tanto eu quero ter

Num cenário mais gentil
O futuro se previu
Com sossego e nada veio,

Tão somente o mesmo frio
E em verdade o duro estio
E meu canto agora alheio.


256


Do sul sinto vindo o vento
Onde tanto pude até
Encontrar e por quem é
Noutra face algum alento,

E se teimo e ainda tento
Neste sonho levo fé
Ao perder desde o sopé
O caminho diz tormento.

Vasculhando cada ponto
No final nada restara,
A verdade se faz clara

Neste engodo aonde eu conto
O terrível dissabor
Onde outrora quis amor.


257


Nesta ardente tez morena
A diversa maravilha
Onde o sonho já palmilha
E deveras me serena,

Passo além se concatena
E buscando a mesma trilha
A verdade da partilha
Traduzindo a mesma cena.

Sob a lua mergulhando
O meu sonho desde quando
A palavra fora messe.

Mas se alheio ao meu caminho
O meu canto é vão, daninho,
À tortura se oferece.


258


Ao tocar a minha pele
O sol tanto me inebria
Entoando a poesia
Onde a sorte me compele

E se tanto ali se sele
O que vivo em fantasia
Noutro tom se esvaecia
Quando o sonho desatrele.

Sendo resolutamente
O meu passo quando tente
Novo rumo ou direção,

No final o velho tom
Destruindo o que foi bom
E hoje dita o mesmo não.


259


As sementes do brilhante
Que pudesse adivinhar
Noutro tempo, outro lugar
Ou deveras noutro instante

Quando a vida não garante
Sequer sombra e me tocar
Nova face; a se mostrar
Num cenário degradante.

Vasculhando dentro em mim
O princípio dota o fim
Das espúrias ilusões

Cada verso onde desfio
A esperança de outro rio,
Só me traz mais decepções.


260


Uma lua avermelhada
Entre tantas pratas, quando
O meu mundo desabando
Não trouxera quase nada

A semente desolada
O caminho em contrabando
O cenário desnudando
A palavra abandonada.

Semeando em duro chão
O meu traço: indecisão
Volta à cena bem mais forte.

Ouso até acreditar
Noutro tom, noutro luar
Que decerto me conforte.



261

Na manhã quando se aquieta
Minha voz e em nada penso
O meu tempo segue imenso
No vazio de outra meta.

Resumindo o ser poeta
Quando apenas me convenço
Do delírio aonde tenso
O caminho não completa.

Das vertentes mais audazes
Outro rumo tu desfazes
E a nascente já se aborta,

O que tanto quis outrora
Neste vago me decora
Fecha então última porta.


262


No arvoredo: pensamento,
Tantas vezes me perdi,
E voltando até aqui
Novo ciclo ainda tento,

Se por vezes desatento
Outro passo em vão senti,
O meu canto resumi
Num quebranto e sem sustento;

Vasculhando esta gaveta
A memória me arremeta
Ao que fora sem ter sido,

Esperança se frustrando,
O caminho agora infando
Diz apenas deste olvido.


263


Estendo os braços onde
O desejo poderia
Traduzir num novo dia
O que tanto corresponde

Ao vazio onde se esconde
O meu canto em agonia
Quebrantando a poesia
Perco o rumo, estrada e bonde.

Nada levo dentro em mim
Amortalho o meu caminho
E se tanto vou sozinho,

Traduzindo de onde eu vim,
Do começo presumira
Cada sonho? Uma mentira...


264


O meu verso se perdendo
Nos desvios deste encanto
Onde busco e até garanto,
O que resta: algum remendo.

Mesmo quando noutro adendo
O meu passo rege o pranto,
Outro fim eu não me espanto
Sigo alheio percorrendo.

Esbarrando em cada olhar
Até quando a divagar
Possa ter novo momento,

Mas cerzindo cada anseio
Na esperança; em vão rodeio
E do nada me alimento.


265



Muito embora sonhador
Nada trago assim de fato,
Em verdade mal resgato
O que um dia quis amor,

No final o redentor
Desenhar se faz ingrato
E deveras me maltrato
Seja como e ainda for.

Não pudesse ter senão
Outro rumo em negação
Ao que tanto agora sei.

Mas insólito cometa
Minha vida se arremeta
Ao vazio desta grei.


266


Causticante realidade
Não permite qualquer sonho
E se ainda me proponho
A verdade já degrade

Nada mais do quanto invade
Trama além deste ar bisonho
Onde agora se me enfronho
Bebo apenas tempestade,

Vasculhando dentro da alma
Nem a ausência enfim me acalma
Visto apenas a mortalha.

O meu canto se abstraindo
Onde outrora o quis e, findo
O silêncio em volta espalha.


267



Trovador enamorado
Olha o céu e nada vendo
Presumindo em dividendo
O que traz do seu passado,

Tempo sempre demarcado
Pela angústia deste horrendo
Desenhar que ora desvendo
Onde quis enluarado.

O meu barco num naufrágio
O terror cobrando em ágio
Os meus erros, meu engano

E se tanto pude ver
Num diverso amanhecer
Meu caminho; iludo e engano.



268



Um momento mais feliz
Entre tantos dissabores
E se nisto tu te opores
Renegando o quanto a quis

O meu passo por um triz
Segue alhures, perde cores
E se envolve em tais temores
E meu mundo o contradiz.

Cada vez que inda pudesse
Ter no olhar a sorte, a messe
De um momento mais diverso,

Mas se trago tão somente
Este vazio, impertinente
Perco à toa cada verso.


269


Já não trago a minha voz
Entoando qualquer sonho,
E meu barco aonde o ponho
Desconhece rumo e foz,

A verdade de um algoz
Noutro enfado, mais medonho,
O caminho tão tristonho
Refazendo os velhos nós

A incerteza de outro rumo
Quando em nada me resumo
Traça o olhar em dor e medo,

Mas meu verso em tal clemência
Procurando a florescência
Neste inverno, eu me concedo.


270


Quando pude acreditar
Noutra face, mesmo encanto
A verdade, eu te garanto
Nada trouxe em seu lugar,

O meu rumo a divagar
Nele apenas o quebranto
E se tento e em vão eu canto
Onde posso mergulhar?

Nos momentos mais diversos
Entoando velhos versos
Renegando cada passo

Vago apenas no abandono
E se posso ou mais me abono
Meu destino eu já desfaço.



271


O meu sonho já termina
Com qualquer caminho aonde
O vazio corresponde
Ao que tanto quis ser mina,

O passado desatina
E o futuro ora se esconde
E somente me responde
Uma ausência mais ladina.

Onde quis qualquer instante
E se apenas se garante
O final após o todo,

Mergulhando nesta intento
Outro passo ainda tento,
Mas enfrento o mesmo lodo.



272


Já não trago ainda vivo
O que um dia quis sentir
E sabendo do porvir
O meu passo vai cativo

E se ainda sobrevivo
Tento até me redimir,
Mas decerto ao pressentir
Meu final, dos sonhos privo.

Arredio vez em quando
Noutro canto me tomando
Por terríveis cicatrizes,

Os meus erros costumeiros
Trazem mortos os canteiros
Onde os dias contradizes.


273


Esgueirando pela porta
Da ilusão somente eu pude
Caminhar em meio ao rude
Delirar onde se aborta

O desejo, e pouco importa
Onde escondo a juventude
Na mortalha desilude
O cenário em face morta.

Acordar e nada ver
Nem sequer o amanhecer
Traduzisse o meu destino,

E se ausento deste fato
No final nada retrato
E deveras me alucino.



274


Quis apenas um momento
Feito em paz e nada mais,
Mas deveras temporais
Vão tomando o pensamento

E se ainda mesmo tento
Vencer dias tão iguais
Em medonhos rituais
Sigo o passo, desatento.

Investindo no futuro
Onde em nada me asseguro
Tão somente no vazio,

O meu canto se percebe
Bem distante desta sebe
Onde em sonhos já porfio.


275


Nada trago da esperança
Que pudesse e redimisse
Minha vida em tal mesmice
Onde ao nada ora se lança,

O futuro não se alcança
Nem sequer ainda o visse
E se tanto presumisse
Outro rumo em temperança.

Mas a sorte nada quis
E se agora ou por um triz
Tenho apenas esta ausência

O meu barco perde o rumo
E se tanto me consumo,
No final pura inclemência.


276



Versejar sobre abandono
Quando a vida nos ensina
E deveras desta mina
Só encontro o desabono,

Cada rumo onde me adono
Da verdade ou se extermina
O sonhar nada ilumina
Perco o senso, ausente sono.

O vagar entre as estrelas
Sem deveras percebê-las
Nega ao velho caminheiro

O cenário deslumbrante
Onde apenas se garante
Outro estio em tal canteiro.


277


O meu verso poderia
Ser mais calmo ou mesmo brando,
Mas se vejo em mim nevando
Onde posso em novo dia?

A incerteza tomaria
O caminho desde quando
Outro passo irei tramando
Mesmo em noite mais sombria.

Vasculhando cada ponto
Na verdade se me apronto
Outra queda prenuncio

E o meu canto inconformado,
Bebe sempre do passado
Louco e torpe desvario.


278


Redimindo o passo aonde
Nada mais eu pude ver
Tão somente o desprazer
Ao caminho corresponde.

Ao cerzir por onde esconde
Velha trama de um querer
Sinto aquém entorpecer
E meu sonho perde o bonde.

Das senzalas e dos medos
Os meus dias sempre ledos
Entre infaustos e deslizes.

Quando bebo alguma sorte,
Na verdade nada aporte
Num instante a contradizes.


279


Ouço ainda a voz do vento
Entreabertos meus umbrais
E se tanto pude mais
O que agora é só lamento.

Escutar? Nem mesmo tento
Quando imerso em vendavais,
Dos meus sonhos, nem sinais,
Do vazio eu me alimento.

Resumindo a vida em tal
Delirar e sempre igual
Consonância anunciada.

Investindo o meu querer
Sei que nada posso ver
Nem saber de nova estada.


280



Já não vejo outro caminho
E tentando ser diverso
Do que outrora estando imerso
Presumia um fim daninho,

Revolvendo cada espinho
Neste infausto já disperso
E mergulho cada verso
Na incerteza de outro ninho.

Acolhendo tanto engodo
No final resumo em lodo
O meu sol que não mais veio

Expressão tão corriqueira
Onde a sorte não me queira
Dos seus ermos, sigo alheio.



281

Cada vez que imaginasse
Nova senda aonde um dia
Quem me dera eu poderia
Noutro passo sem impasse.

E deveras já não trace
Onde busco a fantasia
Outra luz não irradia
O caminho em tênue face.

Exultando meu destino
Se decerto eu em alucino
Perco o rumo noutro instante

Desta forma sigo alheio
Ao que busco e ora rodeio
Num cenário discrepante.

282


Jogo ao chão minha toalha,
Não mais quero inútil luta,
A verdade não se escuta
Onde o medo em vão se espalha,

Não é campo de batalha
Nem sequer a face astuta
De quem tanto não reluta
Sabe o fio da navalha,

O meu verso perde o rumo
E se tanto eu me consumo
Neste vário sentimento

No final a mesma trégua
Desmedida além de légua
O meu canto em desalento.


283


Aprendendo a cada queda
No final a sorte muda
E o meu canto em voz aguda
Penetrando apenas seda,

Resumindo esta moeda
Noutro infausto sem que acuda
A verdade desiluda
Quem seus passos envereda.

Reparando cada engano
Na verdade eu já me dano
E mesquinho, nada trago.

Tão somente o mesmo fardo
Onde o passo ora retardo
E num ermo em mim eu vago.


284

Num diverso desenredo
O meu passo nada traz
E num erro contumaz
Ao vazio eu me concedo.

Sendo assim quando procedo
Na procura mais audaz,
A verdade não se faz
Onde sigo alheio e ledo.

Resumir cada abandono
Neste fato onde me abono
E esvazio o sentimento.

O meu verso, um repentista
Noutro tempo não assista
O que agora em vão eu tento.


285


Aprendendo com meus erros
Nada trago senão isto
A vertente aonde insisto
Leva sempre aos vãos desterros,

Entoando em serras, cerros
O meu passo não desisto
E em verdade não assisto
No final, ledos aterros.

Esquecendo este cenário
Sigo o canto temerário
De quem pode crer outrora

No vazio se formando
Desde cedo ou desde quando
A saudade me apavora.


286

Ao colher a desventura
Nesta ceva aonde um dia
Tanta luz espalharia
Numa senda sempre escura,
A minha alma se assegura
Desta imensa fantasia
E se tanto inda recria
No final já nem procura.
Sendo assim deveras ledo
O caminho onde procedo
Não me traz felicidade
Sigo alheio ao que pudera
Remetendo a primavera
Ao vazio que a degrade

287


Ouço a voz do pensamento
Noutro instante aonde eu quis
Mergulhar e ser feliz,
Mas agora nada tento,
Sei do dia onde fomento
Tão somente a cicatriz
Deste céu tão turvo e gris
Sendo enfim mero excremento.
Revestindo cada olhar
Onde nada pude achar
Nem ao menos um sinal,
Dos engodos costumeiros
Tantas vezes meus canteiros
Num estio sem igual.


288

São mesquinhos os meus versos
Quando os faço sem pensar
No que possa me entranhar
Destes fardos mais perversos,
E se tanto vão imersos
Neste infausto a me tocar,
Mal pudesse desvendar
Noutros tons, meus universos.
Resumindo em dor e anseio
O caminho de onde veio
O meu passo rumo ao nada
Já não mostra qualquer luz
E se tanto me conduz
A vereda mais nublada.

289


Perco o olhar neste horizonte
E jamais pude sentir
Qualquer rastro de um porvir
Onde o nada já se aponte
O mergulho noutra fonte
Nunca mais a seduzir
Quem procura redimir
O seu mundo em nova ponte,
No poente desta vida
A verdade sendo urdida
Nada tenho senão isto,
E por ser inconseqüente
O meu mundo, num repente
Ao final já nada assisto.

290


Esgotando cada instante
Noutro errático cometa
A verdade não prometa;
Onde a vida em vão garante
Esgueirando a fascinante
Aventura se arremeta
No vazio e esta faceta
Mostra a dor mais lancinante.
Revestindo o meu caminho
Em tamanho e vão daninho
Esgueirando após a queda,
Nada tenho dentro em mim
Só procuro pelo fim
Onde a sorte se envereda.


291

Onde a vida quis e não pudera
Sentir a menor chance ou esperança
O quanto do vazio ainda trança
Marcando com terror dura quimera,
Meu passo noutro enredo destempera
E gera muito pouca confiança
E vença na verdade quem não cansa,
O pulo se prepara, torpe fera.
Reparo cada engano com o engodo
E tanto me acostumo ao frio e ao lodo
Enquanto pude mesmo crer outrora
No vértice dos sonhos onde agora
O risco se aproxima deste todo
E a morte noutra face não demora.

292


Presumo o meu caminho entre os enganos
E sei dos dias turvos que virão,
Meu passo se perdendo na amplidão
Acumulando apenas novos danos,
Os dias que pudessem soberanos
Expressam no vazio a dimensão
E erráticos tormentos singrarão
Os mesmos e diversos vãos profanos.
Escassas luzes tendo no horizonte
Aonde no vazio ainda aponte
O corte se aproxima e dita regras
E quando mergulhasse em água turva
Minha alma na verdade envolta, curva
Destino aonde logo a desintegras.

293


Ocaso tão somente o que me resta
Depois de tanta luta e nada tendo,
O caminhar talvez fosse estupendo
Não fosse a minha vida tão funesta
E quando se percebe a menor fresta
Apenas tão somente algum remendo,
E o passo no vazio não desvendo
A sorte quando chega o defenestra.
Restauro vez em quando uma esperança,
Mas sei que no vazio a voz se lança
E o todo se transforma num segundo,
Do quanto acreditei já não me inundo,
A vida perde rumo e confiança
Errático cometa, vagabundo.


294

Aprendo com meus erros? Quase ou tento
E sei do desafio até diário
E o risco muito além de imaginário
Rondando sempre o tolo pensamento.
Pudesse acreditar ou noutro intento
O sonho fosse mesmo necessário
Sem ter a cada passo um adversário
Resumo o meu cenário em tal tormento.
Vestindo a mesma face do passado
Arisco caminhar emoldurado
Nos ermos deste infausto aonde um dia
O mundo não me trouxe senão isso
O fim aonde em passo movediço
A vida novamente se recria.

295

Escassos dias tenho à minha frente
E nada do que posso ainda vejo
O amor não fora mais que algum lampejo
O passo rumo ao nada, decadente.
E quando sigo aquém esta vertente
O manto noutro infausto enfim negrejo
E aonde poderia em azulejo
O céu se mostra atroz duro e inclemente
E resolutamente nada resta
Senão a sorte amarga e mais molesta
Marcada a ferro e fogo, em carne viva.
E quando desenhando neste céu
O imenso indecifrável fogaréu
Do passo rumo ao tanto já me priva.


296


No vórtice da vida enfrento o sonho
Aonde poderia ter enfim
Alguma claridade no jardim
Se nele na verdade decomponho.
Resumos destes dias no enfadonho
Cenário feito em dor, ledo festim,
O marco em discordância dita o fim
E nele a cada passo mais me enfronho.
Vestígios do que fora uma promessa
E agora tão somente me endereça
Aos ermos de minha alma a cada instante;
Vertentes tão diversas, nada trago
Senão a mesma dor e em tal estrago
O rumo se apresenta degradante.

297


Jamais imaginei pudesse haver
Alguma luz ao fim da turbulência
Gerando em minha vida a prepotência
Comum a quem desvenda algum poder.
E quando no vazio amanhecer
O risco se transforma em violência
Não adianta mais uma ingerência
Apenas a mortalha a me caber.
E quando mergulhasse em abandono
Se enquanto desta sombra eu já me adono
O prazo se esgotando a cada dia,
E novo desenhar; leda esperança
O passo sem destino já se cansa
E o fim da estrada nada mais adia.

298


Ocasos entremeio com os ritos
E bebo deste insólito caminho,
Aonde poderia estar sozinho
Deixando para trás rumos finitos;
Os erros onde mesmo tão malditos
Erráticos deslizes tomam ninho
E bebo em desconsolo onde me aninho
No empedernido tom destes granitos.
Jogado agora às traças nada tenho
Senão o meu temor, e neste empenho
Vacante coração esvai-se à toa.
E o canto onde a sorte já destoa
Desgovernando o passo diz do rumo
E nele a cada ausência mais me esfumo.


299



Eclético cenário já desnudo
E nele nada tenho e não teria
Somente a mesma voz dura e sombria
E neste caminhar restasse mudo.
O tempo se transforma e mais agudo
O medo se aproxima e rege o dia
Aonde novamente eu poderia
Segui-lo e tão somente desiludo.
Respaldos procurados não mais vejo
E neste caminhar algum lampejo
Talvez eu mais temesse, e se aproxima
Mudando a direção de cada vento
Ainda novo rumo busco e tento,
Mas vejo a tempestade em duro clima.

300


Não posso mais nem mesmo ver o brilho
Do olhar de quem pudera e não sabia
A sorte noutro infausto poderia
Traçar este cenário aonde eu trilho
Vestígio do sonhar deste andarilho
Morrendo um pouco até a cada dia
E neste desenhar em sincronia
A vida perpetrando este estribilho.
Negaceando o passo nada vindo
Somente o caminhar em medo infindo
Ditame de um passado mais presente.
Futuro se desdenha a cada passo
E quando busco o rumo me desgraço
A cada voz temível que o apresente.


301


Jamais eu poderia imaginar
Qualquer anseio além do costumeiro
Enquanto o coração, velho luzeiro
Perdendo a direção do antigo mar,
E neste mesmo instante me entregar
Ao quando poderia ser primeiro
E ultrapassando até o derradeiro
Já não mais caberia; algum lugar.
Esvaecendo aos poucos a esperança
O quanto ainda busco e não se alcança
Um faroleiro exausto não concebe
Sequer o ancoradouro contumaz
E a vida noutra cena se desfaz
Tornando quase alheia a nova sebe.


302


Jorrasse dentro da alma nova fonte
E nesta mais audaz palavra em vão
O rumo se perdendo: imprecisão,
E nada além ainda enfim desponte.
A cada ausência a queda desaponte
Marcando com terrível solidão
Os versos com certeza não trarão
Sequer o menor brilho no horizonte.
Mergulho o meu olhar em vário ponto,
E aonde quer que pense, desaponto
Errático cenário aquém do tanto
Pudesse ainda haver um cais suave,
Mas nada e tão somente já se agrave
O quanto imaginara e desencanto.

303


Resquícios de um passado vivo ainda
Lateja como um membro que amputado
Aos poucos não se vendo mais ao lado
Deveras noutras faces se deslinda,
Por mais que a mesma história ora se finda
A etérea sensação traduz o enfado
E como fosse assim o mesmo prado
Vibrando em consonância em medos brinda.
Regendo cada dia de um futuro
Aonde na verdade me asseguro
Vagando pelos ermos de minha alma,
Presença pontual? Quase constante,
E enquanto o dia a dia se adiante
A dor deste momento surge e acalma.

304


Negar qualquer anseio aonde eu pude
Viver bem mais que o tédio corriqueiro,
O tempo se fazendo em faroleiro
Enquanto na verdade já se ilude.
Anseio pelos dons da juventude
E sei que meu cantar tão costumeiro
Transcorre noutro rumo, e se me esgueiro
Insólita e vulgar cada atitude.
Meu barco sem saber de qualquer porto,
O dia imaginário há tanto morto
Atracação se ausenta a todo instante,
No quanto pude em vão acreditar
Imenso e sem limites vejo o mar
E o dia a dia atroz e degradante.

305


Saber de cada brilho em mar escuro
E crer na direção de todo vento
E quanto mais procuro, ou mesmo tento
Apenas no vazio ora perduro,
E quando noutro sonho me asseguro,
O risco se transforma em violento
Momento aonde eu busco em novo alento
Ainda quando aquém, atroz me auguro.
Esqueço dos meus ermos e ao tocares
As ânsias delicadas quais altares
Profanas heresias disseminas,
E as trevas tomam conta do cenário,
O sonho se transforma e, temerário
Marcando com angústia as velhas minas.


306


Já não pudesse haver outro sentido
No caos quando demais e sem proveito,
O risco de seguir já não aceito
E o passo aonde o quis, é desvalido,
Resumo de outros tantos precedido
Na face mais atroz e; insatisfeito
Enquanto no vazio me deleito
Em abissais caminhos, desmedido.
Apresso-me ao saber o quanto é rude
O passo quando invade e desilude
Gerando outro momento em tal descrença,
Assim ao me entregar sem mais defesas
A sorte se prepara em vãs surpresas
E a cada novo tempo em nada pensa.


307


Espreito cada engano e vejo aquém
Este erro costumeiro de quem busca
Embora na verdade a vida ofusca
Marcando com terror o quanto tem,
A sorte desdenhosa e já velhusca
O risco de sonhar, nada provém,
Somente a mesma tez que ainda vem
Figura tão audaz, mordaz e brusca;
As tramas consonantes de um anseio
Traduzem o vazio de onde veio
O rumo, eu dessedento noutro caos,
E o quanto pude até acreditar
Perdendo a direção pleno mar,
Naufragam pensamentos, frágeis naus.

308


O mar de imensas ondas, mais bravio
Expressa a solidão porquanto eu busque
Embora num caminho aonde ofusque
O passo noutro tanto, o desafio.
E quando se percebe após o mar
Ausente porto eu posso ainda crer
Cenário onde se embota algum querer
Sem nada nem talvez qualquer lugar
Das expressões diversas onde eu tento
Vestir a mais sublime fantasia
E mesmo tanto quanto poderia
Vigor se apresentando em desalento.
Escassos olhos buscam novo rumo
Enquanto no vazio e em paz me esfumo.


309


Minha alma tantas vezes se perdendo
Nos sonhos mais audazes e infelizes
É quando num instante contradizes
Deixando tão somente o manto horrendo
Aonde novamente se tecendo
No imenso turbilhão, vários deslizes
E nestes caminhares entre as crises
Apenas o vazio enaltecendo.
Arcar com meus enganos e tentar
Ainda ver além qualquer lugar
Aonde possa enfim viver em paz,
No quanto o amor se fez; espúria fera
Ao menos um alento a vida espera
Embora no final, nada se traz.


310


Aprendo com meus erros e procuro
Ao menos um alento ou mesmo até
Uma esperança aonde houvera fé
E agora se apresenta em tom escuro.
Idealizador de outro caminho
O pensamento leva sem destino
O quanto posso ou mesmo determino
Sabendo que talvez não vá sozinho,
Regalos de uma vida em consonância
Apesar de sonhar com outro trilho,
Enquanto nos teus rumos eu palmilho
A sorte se transborda nesta estância
E essencialmente estou bem mais feliz
Até mais que pensara ou mesmo quis.


311


A dura hipocrisia marca a face
Da velha e caricata burguesia
Enquanto a cada passo fantasia
Diverso caminhar do quanto grasse,
A voz em consonância num impasse
Tentando decifrar noutra alegria
O canto aonde o todo não teria
Nem mesmo que um sinal, mero encontrasse.
O tempo este senhor dita razões
E nelas mal entendes ou compões
Este universo agora tão mutante.
No ocaso, entre os acasos casos vários
Os sonhos; sei que são féis necessários
Aonde noutro tom já se adiante.


312


Recebo dos anseios e dos ritos
Medonhas faces mortas e, talvez
No quanto ainda nada mais se fez
Os olhos sem destino vão aflitos
E quantas vezes; bebo os infinitos
Vertendo cada passo de uma vez
Audaciosamente e onde não vês
Buscando derramar méis em granitos.
Astúcia renegando uma emoção
E os traços mais audazes moldarão
Apenas o vazio onde entorpeço
E sinto degradada a minha história
Na face desdenhosa e merencória
Do sonho, meramente um adereço.


313


Apresentar diverso tom enquanto
Procuro qualquer luz onde não há
E sei que deste tanto desde já
O passo noutro rumo não garanto.
Vestindo a solidão exato manto
E neste desenhar o que virá
Transcende ao quanto pude e não trará
Sequer outro momento em dor e espanto.
Almejo pelo menos paz e tento
Vencer o mais espúrio sentimento
Arcando com engano a cada passo,
Desfaço o meu destino noutro rumo
E quando as próprias luzes eu consumo,
Tal qual minha esperança eu me desfaço.


314


Jogado pelas beiras dos caminhos
Errático poema se perdendo
Minha alma qual somente algum remendo
Arcando com meus erros mais mesquinhos.
Vivesse pelo menos novos ninhos,
Tivesse ao fim da tarde um novo adendo
Aonde tão somente me envolvendo
Presumo com terror torpes carinhos
E sendo desta forma sigo alheio
Ao quanto poderia e já rodeio
Vacante coração batendo forte,
E nada do meu canto ainda escuta
Quem muda a velha trilha e sendo astuta
Do verso nega base e seca o aporte.

315



Pudesse em consonância, mais moderno
Vencer os meus antigos preconceitos
E quando os rios secam os seus leitos
Apenas na estiagem agora interno,
E beijo noutra esquina o mesmo inferno
Sabendo dos anseios e direitos
E neles perfazendo meus defeitos
Aonde quis apenas mero ou terno.
Escassos dias trazem a esperança
E neste vendaval o que inda alcança
Já não representando quase nada,
Apenas o mergulho dentro da alma
Aonde nada mesmo toma e acalma
Deixando no passado a velha estrada.



316


Mutável pensamento; eu nada sigo
Nem mesmo algum acaso em tom alheio
Enquanto noutra face devaneio
O passo noutro rumo, velho e antigo.
Seguir o quanto posso e desabrigo
Vestindo o meu cansaço aonde veio
Somente o desmedido e tolo anseio
Num fato corriqueiro onde prossigo.
Resulto destas múltiplas facetas
E quando noutro rumo me arremetas
Retalhos; entronizo aonde um dia
Pudesse pelo menos ter descanso
Aumento o desalento enquanto avanço
E nada; nem a paz me tocaria.


317


O sonho em flórea senda desvendado
Detalha a cada instante muito além
E o vejo incontestável quando vem
Tramando novamente outro recado,
Vasculho meus engodos de um passado
Tocado pela face do desdém
E sei do quanto busco e quero bem,
Marcado com o canto desolado.
Ocasos entre os erros costumeiros
Aonde poderiam ter luzeiros
Meus olhos nada vêm, mera luz.
E quando se aproxima novo espaço
Apenas sem sentido algum eu grasso
Enquanto o velho enredo não seduz.

318


A festa prometida há tantos anos
Já não combina mais com cada olhar
De quem pudesse mesmo retorna
Após a queda em duros desenganos
E quanto mais atrozes, soberanos
Maior o meu caminho a procurar
Arcando com esta ânsia a divagar
Mudando vez em quando velhos planos.
Aprazível cenário eu não mais vejo
E quando se aproxima de um desejo
Diverso do que um dia imaginara,
A falsa sensação tomando conta
Aonde na verdade nada aponta
Sequer a noite surja intensa e clara.


319


Já não suportaria mais o encanto
Falsificado em ares prepotentes
E ainda quando alhures inda tentes
O medo noutra face não garanto,
Mergulho em solidão e sei do manto
Em noites mais atrozes, penitentes
E quantas vezes posso ou mesmo inventes
Caminho pelo qual procuro tanto.
Esbarro nos meus erros e deveras
Enfrento destemido as velhas feras
Enquanto mesmo sei do meu destino,
E nada do que eu possa ainda trago
Bebendo a cada instante o arcaico estrago
E no final das contas me alucino.


320


Jogado sobre as pedras, noutro canto
Da vida aonde nada sobrevive,
O quanto da esperança já se prive
No fim apenas tédio eu te garanto.
Alívios tão diversos onde um dia
Pudesse nova face desenhada
Traçar outro caminho nesta estada
E nela a cada passo a sorte guia.
Marcantes noites; vivo em volta à luz
Seguindo farto brilho onde produz
A sorte mais audaz quando eu pudesse
E tantas vezes busco novo fato,
E neste desenhar se me maltrato
Ao fim deste cenário eu vejo a messe.



321

Já não sou o mesmo quando tento
Vestir outra insensata maravilha
E neste caminhar onde se trilha
O rumo transformando em desatento
Desenhos entre audazes, forte vento,
E insossos quando a vida já palmilha
Seara aonde a glória é maltrapilha
E o riso se mostrando em vão lamento;
Apresentando sempre os meus erros
E nestes tão comuns desvendo os cerros
Angustiadamente a vida trama
Após a velha queda outra e mergulho
Nas ânsias deste enfado e num marulho
O meu delírio invade mar e chama.

322



Amor não mais seria qualquer flor
Nem mesmo a claridade aonde eu tento
Levar em mansidão meu pensamento
E neste desenhar a paz compor.
No fundo ao discernir em dissabor
O rústico delírio e o sofrimento
Do qual e pelo qual se estou atento
Mesquinho este cenário em nova cor.
Reparo cada engano e tento além
Do quanto na verdade me convém
Vivenciando a glória de poder
Sentir outro caminho aonde eu trace
A vida se mostrando em nova face
E nela desenhado algum prazer.


323

Nasce sem querer vivo e faminto
O anseio de viver novo desejo
E quando meu retrato ainda vejo
Na face desdenhosa deste instinto,
Resulto do que tanto quero e minto
Traçando em céu medonho, um azulejo
E quantas vezes traço noutro ensejo
O risco de sonhar outrora extinto.
Resumo a fantasia neste fardo
E leva a cada passo outro petardo
E nada mais aguardo; só meu fim
Invisto no futuro o que não tenho
E quando vejo apenas turvo cenho
Acendo outro pavio ou estopim.


324


Embora necessite de outro sonho
Aonde na verdade não sacia
Sequer o quanto posso em alegria
Ou mesmo noutro rumo, tão bisonho.
E quantas vezes tento ou mais me oponho
Vencer esta faceta: hipocrisia
Gerando o dissabor que dia a dia
Transforma o meu caminho em enfadonho.
O amor quando liberta e nos ensina
Vibrando em concordância é rara mina
E neste desenhar outro se faz
Marcando cada passo com a sorte
Que tantas vezes tome e nos conforte
Gestando assim a mansa e rara paz.


325


Vulcão que se mostrara num segundo
Numa eclosão divina, agora morta
E a solução fechando a velha porta
Cenário aonde tento e me aprofundo,
Resumo novo vórtice em meu mundo
Tempesta noutra face ainda aporta
Vencendo o meu caminho, e pouco importa
Gerando outro desnível, quase imundo.
Vestir as ilusões? Já não concebo
E quando vejo o sonho, algum placebo
Engalanando o dia aonde eu pus
O sonho mais audaz e não se vira
Além da face escusa da mentira
Sequer menor resquício de uma luz.


326


Explode sem motivos, tempestade
E nela sem defesas eu me entranho
O quanto pude crer em perda e ganho
Aos poucos no vazio se degrade,
O risco de perder a mocidade
E nele novo rumo agora estranho
E passo a imaginar o ermo tamanho
Aonde meu delírio ainda invade.
Resumos de outros sumos entre os erros
E neste desenhar temo os desterros
Dos quais eu já percebo algum sinal,
Do hermético caminho vislumbrado
Apenas mera sombra do passado
E o rito continua torpe, igual.

327


Retrata fielmente o mesmo tom
Do infausto aonde um dia mergulhara
Rasgando com furor, a velha escara
Apresentando à morte arcaico dom
Reúno dentro em mim diversidade
E sei do quanto eu posso ser feliz,
Vivendo além do todo onde me fiz
Ainda que decerto eu tente e brade.
Resumo o meu caminho em treva e pedra
E o passo na verdade não traduz
Sequer o que pudesse em contraluz
Enquanto o delirante mundo medra,
Vasculho quase tudo e nada vejo
Apenas mera sombra de um desejo.


328


Arrasa todo canto aonde eu pude
Tentar acreditar noutro momento
E quando mais audaz o pensamento
No fundo o meu delírio atroz e rude.
E nisto perco a minha plenitude
Enquanto no vazio ainda invento
Saída noutro rumo sem sustento
Amando muito além, se desilude.
Expresso em fantasia algum poema
E sei que na verdade nada tema
Quem rompe tais algemas, vai liberto,
E o passo em direção ao que virá
É dado num instante e desde já
Enquanto os meus remendos eu deserto.


329

Dizer que eu o controlo quando aceito
Os ermos de minha alma, não mais digo
E quando se percebe outro perigo
O passo rumo ao tanto perde o leito.
A cada ausência tua, novo pleito
E o canto mesmo sendo atroz e antigo
Vestindo esta ilusão, quero e prossigo
E nesta discordância eu me deleito.
Resumos de outros erros num só fato
E neste desenhar eu me maltrato
E sigo maltrapilho noutro rumo
Vestindo a melhor face em ironia,
O quanto na verdade não teria
No fundo também eu, medonho esfumo.

330


Amor é turbilhão e sem juízo
Não deixa quase nada após passagem
E quando novamente outra miragem
Somando com o antigo prejuízo
O passo que pudesse mais preciso
Sonega a mansidão numa ancoragem
E visto com terror tal paisagem
Vagando em risco vário ou indeciso.
Matizo os meus caminhos nesta fúria
E nela mergulhando sem lamúria
Não tendo outro momento, sigo só,
Arcando com meus erros, meus enganos
Ao fim novos momentos soberanos
Renascem deste anseio noutro pó.



331


Que nasce no canteiro da esperança
Apenas o espinheiro aonde eu sinto
O canto mais alegre agora extinto
Enquanto este vazio toma e alcança…
E quanto mais omito enfim eu minto
Vestindo um falso anseio de mudança
E neste desenhar a confiança
Morrendo aonde vivo pleno instinto.
Reparo cada engano com novéis
Enfeites desvendando em féis e méis
O mesmo e caricato olhar sem brilho.
E quando sou feliz, apenas traço
De um rumo e se de fato me desfaço
Audaciosamente em nada eu trilho.



332



E toda uma emoção pudesse enquanto
Meu verso se transforma em condolência
E a vida noutra face ou ingerência
Gerando com terror qualquer quebranto
E o passo aonde o nada inda garanto
Restaura o quanto fora em penitência
Marcando com terrível virulência
O passo que deveras adianto;
Não quero mais a face sem sentido
E quando me entranhando em vã libido
Ocasionando infausto e maremoto,
Derroto os meus fantasmas e inda busco
Vencer o meu demônio tão velhusco
Enquanto no vazio eu já me boto.

333


Criando a tempestade voa aonde
Já nada caberia, nem o sonho
E quando noutro infausto recomponho
O manto nem a sorte mais responde,
O medo sem sentido corresponde
Ao quanto do meu ser vejo medonho,
E neste caminhar ainda enfronho
Traçando com terror a velha fronde.
E sei quanto presumo noutro ocaso
E deste caminhar se tanto aprazo
Recendo ao mais soturno de minha alma.
O temporal degrada cada passo
E neste desenhar eu me desfaço
E nem a imensidão do mar me acalma.

334


Rasgando o que pensara ainda impune
O barco sem sentido adentra o caos
E neste desenhar velhos degraus
Aonde na verdade coadune
A sorte com terror quando nos pune
Vagando entre tormentas, ledas naus
Olhares desmedidos, rudes, maus
E nada nem o sonho mais nos une.
Imune aos sortilégios de um amor
Procuro noutro intento recompor
A vida onde nada mais havia,
Cerzindo da esperança esta mortalha
O canto sem sentido ao léu se espalha
E a noite renascendo, mais sombria.


335

Insano e sem limite nada temo
Sequer o meu anseio mais profundo
E quando destes ermos eu me inundo
No fim de certo tempo não algemo.
O amor que poderia ser supremo
No caos se transformando; vago mundo
Não perco qualquer tom nem um segundo
E a cada dia mais audaz me extremo.
Exprimo com ternura e com vigor
O quanto poderia em tal sabor
Verter com ironia em ar soturno,
Bastando para tal libertar voz
E neste desdenhar se sou atroz
Nos ermos de minha alma em paz me enfurno.


336


Mal sabes que o descuido pode até
Gerar outro tormento onde não há
E o canto se desenha desde já
Marcando com certeza e por quem é,
Segredos desvendados, erro tanto
E nada do que eu possa ainda vejo
Somente quando além de cada ensejo
O passo no vazio eu adianto
Mergulho neste caos onde pudesse
Vencer os meus anseios, ser feliz
E quando o dia a dia contradiz
Não adianta mais sequer a prece
E apresso-me a seguir em romaria
O quanto dentro da alma esconderia.


337


Deitada mal coberta num anseio
Vestindo a mesma ingrata fantasia
Aonde a cada instante um novo urdia
Traçando outro caminho de onde veio.
Restauro noutro passo o que eu rodeio
E bebo com ternura esta sangria
Invisto cada passo onde teria
Além de meramente um devaneio.
Insisto quanto posso no futuro
E nada do que eu tento ora asseguro
Senão a mesma queda costumeira.
O cântico promete redenção
E sei dos dias turvos que virão
Bem mais do que minha alma insista e queira.


338



Deixando-me antever ao menos parte
Do todo aonde um dia quis bem mais
Que os ritos entre fartos colossais
E neste caminhar nada reparte
Senão a indecisão e ao fim sem arte
A vida não respeita os teus cristais
Vencida aonde tanto ou se noutro cais
O passo em tom sombrio é vil descarte
Resumo noutro intento o que procuro
E sei do meu terror em ledo e escuro
Destino sem sentido nem razão,
E o tolo enveredar em noite fria
Sem ter seque sinal da poesia
Meu sonho traduzindo arribação.


339

Quanto brilha na tarde uma esperança
Marcando a cada instante em sol imenso,
No quanto quero e mesmo me compenso
A vida noutra face não avança
E mata o que pudesse em temperança
Vagando contra a fé num contra-senso
Vestindo o meu delírio mais intenso
A mão se desenhando em tal vingança
Restauro o pensamento aonde o pude
E sei do meu caminho atroz e rude
Viceja dentro em mim novo desejo,
E nada do que tanto quis outrora
Permite uma alegria, e desancora
A vida tão somente onde a prevejo.


340


Eu quero te sentir e apenas isto,
No fundo nada mais quero da vida
O quanto se mostrara distraída
Traçando novo rumo e não desisto,
Mergulho tão somente quando avisto
A senda outrora atroz e já perdida,
Vestindo a fantasia decidida
Num ermo quando o nada em paz conquisto
Restauro o meu anseio noutro instante
E sei da vida atroz e se garante
Apenas a semente de um futuro
Repare cada estrela e veja bem
O quanto na verdade dita a sorte
Sem nada que deveras me conforte
Eu vago aonde o nada apenas tem.


341

A saudade me consome
E não deixa mais em paz
Na verdade mato a fome
Noutro passo tão audaz
Se eu pudesse aonde some
A esperança nada traz
Onde quer já não mais dome
O meu rumo contumaz
Bebo à sorte de quem tento
E se posso noutro instante
O meu rumo mais atento
Noutro enfado se garante
O que toma o pensamento
Num cenário deslumbrante.


342


O meu mundo desabando
Noutro instante pude ver
E se tanto em contrabando
Adivinho o meu prazer
Num cenário mais infando
Recomeço a esmorecer
Procurando desde quando
Conheci o teu querer,
Vasculhando dentro em mim
Cada parte deste sonho
Vou chegando mesmo ao fim
E decerto não componho
Novo verso em tal jardim
Num ar tétrico e medonho.

343


Este grito na garganta
Traduzindo o quanto trago
E mais alto se levanta
Na procura de um afago
Quem deveras me garanta
Placidez em velho lago
Onde toda a sorte implanta
O terror que agora drago,
Venço o passo quando rude
Tento o risco mais esguio
E se tanto a vida ilude
Bebo a sorte em desvario
Resumindo o quanto pude
Neste tom que o desafio.

344


A minha asa em vão quebrada
Não permite que eu procure
No desenho deste nada
Outro caos ora perdure,
E se vejo a mesma estrada
Onde a vida não murmure
Traço aquém a madrugada
Risco o passo onde esconjure
Resultando do meu erro
A verdade noutra face
E se tanto já desterro
Meu caminho nada embace
Em verdade busco o cerro
Se a saudade me embarace.

345


A saudade dita a voz
De quem busca a claridade
E no fim um passo atroz
É o que tanto esta alma brade,
Ergo olhar busco a verdade
Viva dentro mesmo em nós
E se o canto em tempestade
Rege o passo deste algoz
No meu caos mais corriqueiro
Outro ocaso prenuncia
A verdade quando esgueiro
Reina mais que um mero dia
E traçando o derradeiro
Passo aonde nada havia.


346

Vai soltando nos espaços
O meu canto noutro verso
E se tanto dizem baços
Os meus sonhos sigo imerso
Procurando novos traços
Neste tanto onde disperso
Os meus olhos, meus cansaços
Gerando velho universo.
Sou refém da fantasia
Neste infausto me acalento
Quando vejo a poesia
Mergulhando contra o vento
Procurando dia a dia
Quem dirima o sofrimento.


347


Quando nada me consola
Nem o sol trago no olhar,
O meu canto entra de sola
E permite até sonhar,
Nada resta quando assola
A vontade de moldar
Se eu pudesse noutra escola
A saudade desvendar,
Mas infausto o meu caminho
Neste errático desejo
Cada vez mais outro espinho
No cenário não prevejo
E seguindo tão sozinho
Sou refém de cada ensejo.


348


Liberdade que busquei
Noutro instante e não pude
Ao moldar a mansa grei
Se deveras eu fui rude
O meu canto eu estranhei
Morta a velha juventude
No desenho onde entranhei
O caminho desilude,
Visto assim esta mortalha
Enlutando o coração
A palavra não se espalha
Sem sequer ter direção
Quando amor: fogo de palha
Novos dias não virão.

349


Ao vivermos do que fomos
Esperança devaneia
E se trago ainda os gomos
A vontade morre alheia,
O vazio que incendeia
Como tantos velhos tomos
No final a mesma teia
Repartindo em vários cromos
Os matizes deste céu
Onde tento novo prisma
A verdade em carrossel
Gira quanto mais se cisma
Procurando céu e fel
O meu mundo: cataclisma...

350


Este manto que me cobre
Ilusões, eu sei, garante
Na verdade o ser mais nobre
Noutra face noutro instante
Onde o rústico recobre
E o passado delirante
Procurando se descobre
Um caminho galopante.
Revestindo o dia a dia
Passo além do que pudera
Meu amor já mal sabia
Da saudade vaga fera
E se tanto a merecia,
No final, temor espera.


351

Quando visse em teu olhar
Os meus olhos refletidos
Neste instante tanto amar
Ao tocar os meus sentidos
Pouco a pouco me entregar
Sem razão aos mais doridos
Dentre todos navegar
Outros tantos resumidos
Vigorando a velha lei
Onde amor já se sacia
Venço ou mesmo vencerei
Os teares da agonia
E se tanto mergulhei
Outra sorte eu merecia.


352


Ao sentir o quanto posso
Num momento mais diverso
Caminhando sobre o nosso
Desejar fiz o universo
E se bebo ou sou destroço
Noutro passo já me aposso
Do caminho aonde verso
Procurando ou mesmo endosso
Eu em entranho e me disperso
Repartindo cada sonho
Com quem possa ou mais mereça
A verdade que componho
Vai seguindo mesmo avessa
Ao que tento e se proponho
Nada mais, pois me ofereça.


353


Quem vivendo não permite
Que se tente a direção
Esbarrando no limite
Sabe as sendas que virão
E se quero ou acredite
Na verdade desde então
Mergulhando já palpite
Sem juízo o coração,
Sendo ocaso tão distante
De quem sabe e se traduz
Num caminho delirante
Feito em glória paz e luz
Procurando noutro instante
O que agora o reproduz.


354


Bases sólidas talvez
Tenha quem procure a paz
E se tanto não mais crês
No destino tão audaz
O meu mundo aonde vês
Já deveras se desfaz
E procura em altivez
Onde nada fui capaz,
Seduzido pela vida
Nada tenho contra a sorte
De quem busca outra saída
E deveras se conforte
Com a própria desmedida
Solução em novo norte.

355


O que sinto vou tecendo
Entre versos, pensamento
E se tanto sou remendo
A verdade ainda tento
Bebo a sorte deste adendo
E no fundo não contento
Nem com pouco se desvendo
O que vivo ou mesmo alento,
Resultando deste fato
Outro fato se imergindo
No caminho onde o retrato
Mesmo sendo até infindo
O desejo não resgato
Quando em paz enfim me brindo.


356


Vou fazendo desta forma
O que tanto quis e pude,
A verdade se transforma
Num cenário bem mais rude,
O meu risco dita a norma
E no fim outra atitude
Transcendendo ao quanto informa
O meu passo em magnitude,
Versejando com encanto
Trovador bebendo a lua
Quanto muito me garanto
Nesta estrada minha e tua,
E se tenho algum quebranto
A verdade continua.

357


Neste sentimento imenso
Onde pude desenhar
O que tanto quero e penso
Noutro rumo a me mostrar
A verdade se convenço
Se não venço vou sonhar
E se bebo deste intenso
Recompenso a cada olhar
Vicejando o quanto quero
No delírio mais audaz
A saudade inda tempero
Com a sorte dita em paz,
E o caminho mais sincero
Com ternura amor me traz.

358

Tanto amor é desta vida
O que gera e reproduz
Num cenário a decida
Solução encontra a luz
A verdade é construída
Onde cada sonho eu pus
Noutra face desmedida
Gera além de medo e cruz,
A saudade traz no olhar
A lembrança do que temos
E se tanto navegar
Necessita destes remos
O meu canto a te tocar
Juntos, tudo venceremos.


359


Eu não preciso falar
Do que sinto ou mesmo penso,
O meu canto a desnudar
Um cenário mesmo tenso,
Galgo além do meu olhar
Onde em nada me compenso
Mergulhando devagar
Num momento tão imenso
Faço deste verso o mote
E se pude noutro tanto
Encontrar quem mais denote
Meu amor sem mais espanto
O caminho não desbote
Nele a luz em paz garanto.

360

A palavra mais querida
Entre tantas que conheço
Na verdade dita a vida
E se traz novo adereço
A saudade repartida
Revolvendo ao meu começo
Mergulhando logo acida
O que traz velho endereço
Resumindo assim a sorte
Num cenário multicor
Onde quer que se comporte
Marco o mesmo dissabor
Entremeio cada corte
Noutro tanto ao meu dispor.


361

Aonde procurara algum alento
Depois de tantos dias, solitário
Apenas o vazio temerário
E nele a cada instante eu me atormento
Vivesse pelo menos um momento
Sabendo quanto o sonho é necessário
Vagando sem destino, imaginário
Caminho solto além do próprio vento.
Vestindo os meus anseios mais sutis
Pudesse ao ter ao menos o que eu quis
Vencer os desafetos e peçonhas.
No quanto imaginara novo instante
Somente a decepção já se adiante
E nela impunemente tu te ponhas.

362


Palavras tão doridas; traz no olhar
Aquela onde sonhara redenção,
No fim de certo tempo mostrarão
O quão difícil é mesmo navegar,
Sabendo dos anseios e vagar
Na insólita e terrível direção
Vagando sem certezas, no senão
Alçando tão somente um vão lugar.
Resumo de outros tantos dias quando
O tempo noutro instante se moldando
Presume solitários ermos na alma,
E o passo quando encontra um lenitivo
Do qual e pelo qual somente vivo
Ao menos num instante além se acalma.


363


Rescende às tantas flores, coração
Jogado pelos cantos desta sala,
Saudade ao invadir tanto avassala
E o tempo se transforma em negação.
Resumo os dias tensos que virão
Enquanto quem sofrível, nada fala
Senão a imprecisão tomando a escala
Transforma qualquer vento em furacão.
Heréticas manhãs entre outras tantas
E neste caminhar me desencantas
Herdade incontestável na escassez
Do sonho aonde o pude num anseio
Viver o que deveras nunca veio
E nem sequer sinal; ainda vês.


364


Herdando as mesmas mágoas incontidas
Já não concebo mais um mar tranquilo
E quando noutro vão inda desfilo
Moldando em incertezas nossas vidas,
Porquanto imaginara em despedidas
O quanto quero ou não mesmo destilo
As dores costumeiras que perfilo
Gerando outras iguais tensas, perdidas.
Assumo os meus enganos e, portanto
A cada instante ausente quando canto
Tentando pelo menos um descanso
Imerso no non sense e sem destino,
O passo noutro rumo eu determino,
E o nada prometido agora alcanço.


365


Perdendo a direção conforme eu traço
O rumo entre os meus medos, meu anseio
E quando tão somente a dor rodeio
E dela ocupo aos poucos cada espaço,
O olhar extasiado e mesmo baço
O risco de sonhar, caminho alheio
Ao quanto poderia e não receio,
Embora nos meus olhos, o cansaço.
A vida se reflete noutro instante
E vejo o que deveras me garante
Apenas como fosse um mar em trevas,
E quando imaginara a claridade
Somente esta amargura toma e invade
E neste solo espúrio ainda cevas?

366

O dia se transforma na medida
Exata do que eu pude merecer
E ao presumir o quanto esvaecer
A sorte noutra história sendo urdida,
Vestindo esta ilusão, porquanto há vida
E neste delirar mal pude ver
A caricata face do prazer
Imersa noutra senda, empedernida.
Alçando com meu verso outro momento
E neste novo espaço eu alimento
Traçado com terríveis ares, quando
O mundo que pudera ser diverso
Enquanto a cada passo me disperso
Aos poucos no vazio se formando.


367


Já não me caberia mais sonhar,
E disto tenho certa cada ausência
E embora muitas vezes a clemência
Ainda posso ao longe adivinhar.
Vestindo a solidão, enfrento o mar
E nele penetrando em prepotência
Vasculho cada traço e, incoerência,
A vida não me deixa respirar.
Somente quis a paz que não havia
A voz já se cansando e a melodia
Escassa noutro rumo se perdendo,
Do todo imaginário, nada resta
Senão a mesma imagem pela fresta
Do sonho, tal qual fosse algum remendo.


368

Seguindo as velhas trilhas chego a ti
E tento redimir os meus engodos,
Os dias na verdade sem denodos
O tempo noutra face eu já perdi,
Resulto deste tanto onde senti
Apenas profusão em ermos lodos,
Os medos; acumulo quase todos
Do rumo sem saber me despedi.
E ausente dos meus olhos o horizonte
Sem nada que deveras inda aponte
O risco de sonhar já não condiz
E o peso acumulado do passado,
Somente no vazio desenhado,
Gerando imensa dor e cicatriz.


369


Ao ver os meus caminhos embotados
Marcados com a fúria da paixão,
Sabendo que outros tantos me trarão
Apenas outros ermos, meus legados.
Resulto destes erros desvendados
Nos ermos mais profundos: coração
E sei do meu cenário desde então
Aonde sobre a mesa rolam dados.
Espanto-me ao saber que nada levo
E sendo a cada dia bem mais sevo
A insólita presença da esperança
É algo que deveras não mais tenho,
Errático poeta, até ferrenho,
Ao vago de um futuro em treva alcanço.


370

Ascendo ao que pudesse ser além
Do mesmo quando tive e não sabia
Resisto ao meu cenário em agonia
E espero novos dias que não vêm.
Olhando para a vida com desdém
Certeza de outro passo não teria
Nem mesmo qualquer luz me tocaria
Enquanto deste sonho sou refém,
Esbarro nos meus ermos e deveras
A cada nova ausência outra tu geras
Num ciclo vicioso e sem saída
Assim ao me perder sem mais defesa
Levado pela espúria correnteza,
Perdendo o quanto resta desta vida.


371

O meu canto eu suavizo
Ao lembrar alguém que outrora
Sem pensar e sem aviso,
Num momento foi embora,
A saudade este impreciso
Caminhar na vida afora
Toma todo o meu juízo
Pouco a pouco me devora,
Já não resta quase nada
Do poeta e trovador
Que seguindo a velha estrada
Discordante de um amor,
Tendo a vida tão nublada
Onde a quis em multicor.

372


Ao falar de uma esperança
Muito embora não a veja
A saudade que me alcança
Tão atroz assim sobeja
O meu passo já se cansa
E o meu canto relampeja
Solto a voz e nada avança
A palavra em vão dardeja.
Resumindo minha história
No vazio que tu vês,
Nesta lua merencória
Tanto amor enfim desfez
Quem buscava uma vitória
Colhe além a insensatez.

373


Nada mais eu pude ver
De quem tanto no passado
Espalhando o seu prazer
Eu pensara sempre ao lado,
O meu canto a se perder
Neste velho emaranhado
Das angústias a colher
O vazio semeado.
Resumindo em verso e canto
O que tanto imaginei
Na verdade eu não garanto
Nem sequer em nova grei
Outro fato e se me espanto
Novamente sofrerei.


374


Num repente que se faz
Com ternura em lua mansa,
A verdade mais tenaz
De sofrida já se cansa,
E o meu passo mais tenaz
Com certeza ora se lança
Procurando ser capaz
De beber uma esperança,
Verso solto, aberto o peito
O meu barco sem destino,
Vou seguindo do meu jeito,
Um vagar onde termino
O caminho ora desfeito
Onde o quis mais cristalino.


375


Nada tenho senão isto
Os meus olhos magoados
E o destino onde persisto
Traz os ritos embotados,
Na verdade o que eu conquisto
São meus cantos isolados
E se tanto inda me invisto
Noutros ermos: desolados.
Ao vencer a tempestade
Com sorriso e com ventura
O meu sonho ledo invade
E se cansa em tal tortura
A palavra diz saudade
E o meu canto te procura.

376


Ouço a voz da ventania
A janela sempre aberta
O meu peito só queria
A saudade em mim deserta,
Mas ao vê-la descoberta
Noutro tom eu poderia
Na palavra mesmo incerta
Traduzir em utopia.
Fantasias, mais agrestes
Percorrendo além do fato
Onde em trevas me revestes
E os delírios; não resgato
Quanto ao tanto quanto destes
Já traz seco este regato.

377


Nada mais eu pude enquanto
O meu verso fora teu
O meu mundo num quebranto
Entre tantos se perdeu,
A palavra; não garanto
Outra vez não conheceu
O que mais gerando espanto
Traduzira o amor ateu
Vasculhando dentro em mim,
Vou bebendo a solidão,
Encontrando agora o fim
Novos tempos não virão
E este amor tão triste assim,
Invernando o meu verão.

378


Cada passo representa
O final se aproximando,
Onde a vida mais sangrenta
Noutro fato tão nefando
Coração não se apascenta
Nem deveras mesmo quando
Nova messe me apresenta
Outro rumo já tomando,
Esperando qualquer passo
Onde o tanto poderia
Vou vencendo o meu cansaço
Mergulhando em poesia
E o destino que hoje traço
No final, nem mais veria.


379

Incertezas ditam sorte
De quem busca tão somente
A palavra que conforte
E decerto ainda tente
Mesmo quando já sem norte
Procurando estar contente
O meu mundo não suporte
Este olhar imprevidente.
Resumindo minha lida
Noutra lida tão igual
Encontrando uma saída
Onde a quis mais triunfal,
A palavra não duvida
Morre em ato mais banal.


380


O meu rumo se perdendo
Onde tanto quis buscar
Qualquer luz em dividendo
Do que fora em paz amar,
Na verdade percebendo
O caminho a se traçar
Vou tecendo ou; num remendo
Nada pude imaginar.
O cenário se transforma
E a verdade a considero
No desejo em vária forma
O meu passo tenso e fero
Na verdade cada norma
Dita o quanto mais espero.




381

Procurasse algum alento
Onde nada mais teria
A verdade quando a tento
Sei decerto fugidia,
No cenário em sofrimento
Qualquer música traria
A emoção que é meu provento
E decerto a moldaria
Noutro errático segredo
Vasculhando cada ponto,
Se deveras me concedo
Outro dia vejo pronto
E se eu sigo agora ledo,
A esperança em contraponto.

382


Aprendendo esta lição
Quando a vida não permite
Vou abrindo o coração
Ultrapasso este limite
E sei desta indecisão
Onde o rumo se acredite
Noutros traços, negação
Inda quando em mim palpite
A incerteza mais atroz
O desenho em tons grisalhos
Escutando ao longe a voz
Dias ermos, ledos, falhos,
E meu canto é meu algoz,
Traça em mim velhos retalhos.

383


Ao falar do pleno amor
Quando nada se apresenta
A verdade é multicor
Do prazer vejo a tormenta
E o caminho a se propor
Se decerto me sustenta
Na saudade aonde eu for
Nada mais enfim me alenta.
Resumindo o meu cenário
Neste pouco quando resta
O meu passo imaginário
No final já nada gesta
Tão somente o necessário
Adentrando em fina fresta.


384


Revivendo esta cantiga
Dos meus tempos de criança
A saudade é tão antiga
E deveras não se cansa
A palavra desabriga
E a verdade já me alcança
Quando a paz se desobriga
Renegando uma aliança,
Vou vencido pelas ruas
E sem nada mais à frente
Os anseios continuas
E decerto qual demente
Envolvido pelas luas
Mesmo quando o sol eu tente.


385


Neste olhar a frialdade
Rege cada passo além
E se trago esta verdade
Ou se nada me contém,
A incerteza quando invade
Descarrila qualquer trem,
E o caminho da saudade
Noutro instante sempre vem
Vasculhando cada passo
Onde pude discernir
A vontade toma espaço
E o futuro este elixir
Quando em não meu rumo traço
Abandono o meu porvir.


386


Nada mais que algum passeio
Pelas trevas do passado,
Quando o agora em vão rodeio
Já não tendo nada ao lado,
O futuro que eu anseio
Nada diz do meu passado
Só não sigo mais alheio
Ao que fora imaginado,
Resoluto sonhador
Noutras tramas envolvido,
A incerteza de um amor
Muitas vezes revolvido
Entre medo angústia e cor
Procurando algum sentido.


387


Nada tenho do que um dia
Eu quisera ou mesmo até
Ao verter em poesia
O desejo por quem é
Nada mais eu poderia
Se não fosse a mesma fé,
E mergulho em fantasia
Ao romper qualquer galé,
Vasculhando dentro em mim
Cada ponto de partida
Traduzindo ao que hoje vim
Resumindo a minha vida,
Noutro fato sei que enfim,
Já vislumbro outra saída.

388

Um poético momento
Entre tantos que eu já vira
No final eu me alimento
Tão somente da mentira
E se um dia novo invento
Tanto dá quanto retira
O meu velho alheamento
Já não deixa acesa a pira,
Esperança se perdendo
Noutro infausto, outro segundo
Muito embora vão remendo
Nos meus sonhos me aprofundo
E deveras me revendo
De alegrias eu me inundo.


389


Presumida a queda quando
Noutro intento vi a sorte
Rumo atroz já mergulhando
Sem ter nada que a suporte,
O desejo em contrabando
A verdade nega o norte
O meu dia desenhando
Muito além do velho corte,
Se eu pudesse ser diverso
Deste quando me apresento
No delírio mais disperso
Solto a voz enfrento o vento
E meu passo além do verso
Noutro rumo: desalento.


390

Quantas vezes percebi
Tanto infausto vida afora,
O meu passo leva a ti
E no fundo nada aflora
Nem tampouco o que sorvi
Nem a sede onde se ancora
O veneno que sorvi
Sem sentido, sem ter hora,
A palavra dessedenta
O que um dia fui deveras
E se tanto ainda alenta
O caminho aonde esperas
Vou gerando outra tormenta
Sigo imerso em toscas feras.



391


Sentir o quanto vejo e mesmo ainda
O que não mais veria em noite imensa
E tendo noutro encanto a recompensa
Aonde esta verdade toma e finda
Meu passo quando a sorte se deslinda
E gera muito além do quanto eu pensa
Gestando a dor insólita e convença
Do passo a passo rude e à dor se brinda.
Na nevoenta tarde dentro da alma,
Apenas a sombria tez acalma
Quem tanto se entregara sem defesas,
Seguindo passo a passo rumo ao fim,
Revolvo esta indigesta angústia em mim
E os sonhos são da vida, meras presas.

392



Silenciosamente a noite passa
E nada do que tanto imaginara
Tomando com ternura essa seara,
A vida se esvaindo em vã fumaça,
A cada novo enredo outra trapaça
Diversa doutra cena onde sonhara,
O passo sem destino se escancara
E toda a realidade assim se embaça,
Vestindo esta ilusão tão costumeira
Ainda que deveras busque e queira
Somente dessedento o meu caminho
Nas ânsias mais atrozes dos amores
E quando mais além ainda fores,
Maior o meu anseio em vão. Daninho.

393


Olhares tão cansados buscam paz
E nada mais se traça no horizonte
Somente o que deveras desaponte
Ruindo muito além do que é capaz.
A voz impertinente e até audaz
Espalha noutro rumo o quanto afronte
Do canto mais atroz, etérea fonte,
A poesia molda e se desfaz
Espúrio caminheiro do vazio
Não tendo solução seguindo em ermo
Cenário cada dia tem seu termo
No tom mais doloroso e tão sombrio
Redundo-me dos erros e deveras
Do olhar ensimesmado nada esperas.


394


À madrugada eu brindo com sorrisos
Embora sejam quase de ironia,
Enquanto na verdade nada havia
Senão meus derradeiros prejuízos
Os passos rumo ao nada, mais precisos
A face desdenhosa e até sombria
No quanto quis e nunca poderia
Tentando revelar sonhos concisos.
E resolutamente nada tenho
Senão a mesma angústia em desempenho
Porquanto o ser feliz: imaginário.
Resvalo nos meu frágil pensamento
E quando novo dia ainda tento,
O passo se desfaz; ledo corsário...


395


Memórias tão veladas pela vida
Marcadas com a sombra de quem tenta
Vencer em calmaria uma tormenta
Enquanto o dia a dia tanto acida,
Mergulho neste caos e sem saída
A vida não permite e nem alenta
No quanto se aproxima mais sangrenta
A sorte se prepara em despedida.
Vestindo a fantasia mais espúria
Minha alma em tão tenaz, louca penúria
Já não consegue mais sequer um porto,
E quando me percebo solitário
Vencido pelo vento temerário
Meu sonho não passando de um aborto.


396


Debato-me no leito em solidão
Tentando vicejar em primavera
O quanto desta vida destempera
E marca com temida indecisão,
Eu sei dos dias tétricos que são
O todo aonde o tempo desespera
E mato a cada dia outra quimera
Resulto desta torpe ingratidão.
Vestindo a mesma face entorpecida
Resumos de outros dias tão iguais
Assim ao me perder entre os banais
Momentos desenhara a torpe vida,
Extrapolando o sonho, invado o vago
E neste mar de lodo enfim me alago.

397


Uma ave que pudesse em liberdade
Alçar além do ninho, muito mais
Que a vida se oferece e traz em cais
No quanto outra certeza ainda brade,
Meu passo bebe à farta esta saudade
E dela se entorpece em atos tais
Pensando no passado e em seus cristais
Aonde a vida toca e já degrade.
Resumos de outros dias mais atrozes,
Os rios se perdendo, espúrias fozes
As ânsias nada trazem de conforto,
E o passo rumo ao farto mais sombrio
Desfilo no meu canto e desafio
Embora saiba estar já semimorto.


398


Ternura aonde outrora fora a guerra
E nada mais somente esta ilusão,
Marcando cada dia ingratidão
Aonde o coração já não se encerra
A parte tão atroz, quando desterra
Gerando novamente a indecisão
Traçando do passado os que virão
E neste desenhar o canto emperra.
Resulto do vazio que cevaste
E o passo rumo ao nada gera o traste
Em solilóquio estúpido poeta
Um mero trovador buscando a sorte
E nada neste tanto me conforte
Somente a solidão, pois me repleta.

399

Já nada poderia contra a fúria
Da vida por si só, negando o rumo
E quando novamente reassumo
Timão das esperanças; mera injúria
E a sorte se transforma noutra incúria
E o medo mergulhando toma o sumo
E neste delirar se eu já me esfumo,
A porta se trancando em vã penúria.
Resumos de outros dias mais audazes
E neles os vazios que me trazes
Traduzem qualquer música que escuto,
O olhar em mansidão não mais pressinto
Vulcânico delírio agora extinto,
Restando tão somente o ocaso, bruto.


400



Infaustos reconheço a cada passo
E sigo numa busca insaciável
Tentando muito além deste alcançável
Cenário que deveras inda traço,
Resolvo meu caminho em tal cansaço
E beijo outro desenho palatável
No quanto se percebe imaginável
O risco de sonhar hoje desfaço,
Esbarro nos meus erros costumeiros
E quando me percebo em espinheiros
Legados de uma velha insensatez
Meu canto se presume em tom sombrio
E mesmo assim decerto eu desafio
O quanto inda resiste ou se desfez.



401


O amor bendita e rara luz aonde
O rumo se transforma totalmente
E quanto mais audaz já se pressente
Um passo e nele ao sonho corresponde
Ainda dentro em nós a luz responde
Vivendo o quanto posso e plenamente
Audaz este caminho e nele eu tente
Saber o quanto posso e ali se esconde
Resulto deste vário provimento
Dos sonhos mais felizes me alimento
Embora saiba bem ser mero sonho,
Invisto o meu olhar num novo dia
E quanto mais deveras poderia
No fundo tão somente o decomponho.


402


Da dor que amor me trouxe em cada engano
Esbarro noutros ermos de minha alma
E quando a poesia ainda acalma
O passo se reduz ao mero dano,
E tanto poderia soberano
Sabendo do caminho, inteira a palma,
No fundo o desenhar do antigo trauma
Desvia para além o antigo plano.
Dos fartos sortilégios, novo intento
Vestindo esta ilusão enquanto tento
Buscar neste horizonte um raro brilho
Vagando entre as estrelas e os planetas
Aonde no vazio me arremetas
No etéreo, sem destino, em vão eu trilho.

403


Criei uma esperança aonde um dia
Apenas emoção farta pudesse
E quando na verdade ausente messe
No fundo gera dor e hipocrisia.
O quanto deste encanto não veria
E nada do futuro o sonho tece
Meu passo noutra insânia já padece
Da falta de sobeja sincronia.
Vestígios trago na alma de um passado
Envolto no vazio e enraizado
Nas tramas de uma sórdida ilusão.
Perdendo qualquer nexo, sigo ainda
Aquém desta esperança agora infinda,
Embora tão constante a negação.


404


Nadando sem parar contra a maré,
Vagando noutros céus, infindo sonho
E quanto mais ao todo me proponho
A vida sonegando por quem é,
Resumo noutro enfado o meu destino
E bebo cada curva da saudade
Enquanto a ventania em vão invade
Aos poucos sem certeza eu me alucino,
Perdido em meio às trevas busco a luz
Embora saiba bem do nada em mim,
Vestindo esta ilusão seguindo enfim
Aonde noutro tanto se produz
Cenário mais tranquilo me permite
Viver além de algum parco limite.


405


Deixei de ver espinhos onde outrora
Não vira qualquer flor senão daninhas,
E quando noutro rumo tu te alinhas
A velha solidão já nos devora
E quantas vezes teimo desde agora
Vencendo as tantas dores que são minhas
E nelas outras tantas traçam linhas
Das quais a mais terrível desancora
Dos erros costumeiros e banais
Aos dias mais audazes entre os quais
Os riscos do que sonha são perenes
A face desmedida de outra história
Tramando a cada tempo a merencória
Ideia onde; vazio, concatenes.


406

A sorte de quem ama e busca a paz
Mudando a direção de cada vento
Jogando sem defesas, sofrimento
O passo se mostrando mais audaz
E se prossigo em passo tão tenaz
Vagando contra a fúria num momento
Enquanto a fantasia em vão fomento
O risco de sonhar já se desfaz.
Explodem multicores esperanças,
Porém deste vazio que ora alcanças
Apenas meras sombras, nada além,
E o canto onde pudesse ser suave,
A cada novo engodo mais agrave
Trazendo o que deveras não contém.


407


Entrega-se na emoção
Todo o rumo presumido
E se tanto faz sentido
Vou seguindo a direção
Dos meus sonhos desde então
Noutro tempo consumido
O cenário construído
Só me trouxe a decepção,
Ergo os olhos para além
E se nada mais me diz
Do que tem ou não contém
Espalhando o canto aonde
Coração deveras quis,
Mas o mundo inteiro esconde.

408


Eu não quero procurar
Onde um dia fui diverso
Do que tanto sigo imerso
Noutra senda a desenhar
O caminho a mergulhar
Reina sobre este universo
E se ainda além eu verso
Busco então num novo olhar
Outra senda onde se possa
Ter a sorte mais exata
A palavra sendo nossa
Noutro rumo se constata
A verdade já se endossa
Quando o sonho me arrebata.


409


A sobrevivência agora
Não depende deste instante
Onde o todo se garante
E o passado desarvora,
Ao saber desta demora
Vejo o sonho deslumbrante
E se tanto se adiante
Outro passo ali se escora,
Verso quando pude crer
Noutro encanto e se há prazer
Nada impede um claro dia,
Vivo o quanto bem mais quis
E se sou ou não feliz
Pouco até te importaria.

410


Quando vejo em tuas mãos
Demarcadas ilusões
Entre tantas direções
Vou seguindo os velhos nãos,
Ao cevar inúteis grãos
Bebo as sortes, imersões
E procuro quando expões
Num arado, áridos chãos
Semear onde não vejo
Nem sequer pudesse ver
Onde tanto o que colher
Fica aquém do meu desejo
Mergulhando sem defesa
Vou entregue à correnteza...




411

Quando a ti me dediquei
Procurando algum alento
Na verdade o sentimento
Espalhando em turva grei
Noutro instante o debelei
E se agora um novo eu tento
Vou abrindo o pensamento
E deveras, tanto errei.
Esbarrando no vazio
Outro tanto desafio
E desvio o rio então
Bebo a foz mesmo inclemente
Onde o passo se apresente
Traço a minha direção.


412


Tu me falas da ferida
Onde outrora houvesse o sonho
E se tanto o recomponho
Noutra estrada sendo urdida
Esperança desprovida
De um futuro mais risonho
Bebo a sorte que proponho,
Mas jamais fora sentida.
Resultando deste fato
Onde tanto me maltrato
Não resgato soluções
E se o mundo fosse assim
Palpitando dentro em mim
Muito além do que me expões.


413



Eu te falo da alegria
De poder estar contigo
Onde o tempo reinaria
Traz decerto o que eu persigo,
O cenário em paz me guia
Bebo a sorte e assim prossigo
Nos encantos, fantasia
No teu corpo, o meu abrigo,
Sem vencedor ou vencido
O meu canto é resumido
Num instante mais feliz,
E se outrora houvesse a luz
Meu caminho não conduz
Nega o tanto quanto eu quis.


414


Ao beijar-te mansamente
Numa noite enluarada
A palavra não desmente
Traz a sorte em paz guiada,
Já não ando qual demente
Procura desesperada
Senda amarga ou inclemente
Não me traz sequer mais nada.
Vibro em mesma sintonia
Com quem tanto bem queria
E deveras não me quer,
Ao sentir a mansidão
Deste espúrio coração
Outro bem? Algum. Qualquer.

415



Quanto te senti comigo
Do meu passo em contradança
A vontade já se avança
Não respeito algum perigo,
Novamente em ti prossigo
Onde o sonho quer e alcança
Trago a vida em temperança
E um cenário; em paz, consigo.
Vivo às custas deste sonho
E deveras se o componho
Não me canso de sonhar,
Com a luz iridescente
Que decerto se apresente
Meu amor a cada olhar.


416


Para não perder o rumo
Dentre tantos que eu conheço
Na verdade se eu me esfumo
Levo em paz teu endereço,
Quando amor tomando o prumo
Muito além do que mereço
Noutro instante me consumo
Bem diverso do começo.
Vasculhando cada ponto
Onde esteja ao menos pronto
Posso em ti realizar
Meu desejo mais audaz
Quando amor; o sonho traz
Expressão em manso olhar.

417


Quando a vi agonizando
Noutra face mais atroz,
O cenário toma a foz
E desvia o rio brando
E o caminho se nublando
Transformando tudo em nós
O meu mundo qual algoz
Gera um tempo mais nefando.
Restaurar o brilho agora
Quando a seca nos devora
Num estio sem ninguém,
Absorvendo a poesia
Onde o tanto poderia
E outro rumo em paz contém.



418


Relembrando cada passo
Entre tantos que pudesse
Ao saber deste compasso
Procurando uma benesse,
Onde apenas tento ou traço
O que a vida me embrutece
Na palavra sem espaço
Outra tanta a vida esquece.
Presumindo a queda em falso
O terror enquanto o calço
Sangra além do que eu queria,
Relevando cada engano
Na verdade se eu me dano
Tracejando esta agonia.


419


Vou seguindo pelas ruas
Sem saber da direção
Muito além; teimas, flutuas
Espalhando a precisão
Onde estrelas; vejo nuas
Outras tantas tomarão
Este céu enquanto atuas
Transformando em migração.
Vivo além do que previsse
E se tento outra mesmice
Verso disse da esperança,
Nada mais viceja em mim
Do que amor claro e sem fim
Nele a vida em paz, avança.


420


O meu coração burguês
Já não pode suportar
Toda a sorte que desfez
Meu diverso caminhar
Entre o medo, insensatez
Navegando o imenso mar
Onde nada ainda crês
Num diverso e torpe altar.
Investindo no futuro
Meu passado nada diz
Do que tanto te asseguro
E pudesse por um triz
Ter um dia menos duro
E quem sabe ser feliz...


421


Quando sinto que me chamas
Mesmo ausente volto logo
E se tanto envolto em dramas
Meu caminho em vão afogo
Desenrolo velhas tramas
O delírio eu já revogo
E o caminho onde reclamas
Noutro enredo o desafogo.
Perceber assim o quanto
Novo amor inda pedisse
Onde agora esta mesmice
Toma tudo e te garanto
Na verdade não mais visse
Tão somente o desencanto.


422



Eu em vão te procurei
Entre tantas noites vãs
Singro até pelas manhãs
Procurando o que terei
Noutro dia, mesma grei
Em vontades temporãs
Do teu corpo, tais maçãs
Que deveras desejei.
Resultando neste caso
Deste amor que tanto aprazo
E cerzisse uma esperança
Nos teares da emoção
Cada dia alheio ou vão
Nada traz e tanto cansa.



423


Quando cismo em te chamar
Mesmo estando tão distante
Outro passo me agigante
Sorvo então raro luar,
Bebo a sorte a imaginar
Como fosse um diamante
Dia audaz e delirante
Noutro instante a me tocar,
Verdejando dentro em mim
Este amor que não tem fim
E se aflora em primavera
Reunindo estes caminhos
Nada mais traz os mesquinhos
Desenhares que se espera.

424


Se nas margens deste rio
Eu pudesse cultivar
Cada raio do luar
Num enorme desafio,
Vez por outro enfim desfio
O desenho a se mostrar
Onde quero navegar
Sem saber do desvario,
Necessário o sonho quando
Noutro rumo me tocando
O meu canto se transforma
E se tenho a confiança
Este amor quando me alcança
Rege a sorte e dita a norma.



425


Ao sentir o teu perfume
Rosa rara no jardim
Todo o mundo diz enfim
Do caminho aonde eu rume,
Tanto sonho se resume
No princípio, meio e fim
Desde quando em ti eu vim
Vou sorvendo intenso lume.
Nada mais do que pudera
Produzindo a primavera
Onde outonos eu adentro,
Meu amor já não me toca
Nem semente nem na troca
Só tormenta; assim concentro.


426


Já não sei o que fazer
Discordante coração
Desta constante erupção
Recendendo ao desprazer
Noutro tempo merecer
Os momentos que trarão
Quem me dera uma emoção
Ou um fruto em paz, colher.
Nada vejo no futuro
No passado vivo ainda,
A saudade se deslinda
Onde o nada eu asseguro
Incerteza sempre brinda
Com cenário mais escuro.


427


Ao sentir o teu carinho
Tantas coisas bebo em ti
O tormento de um espinho
Hoje mesmo eu esqueci
Já não quero mais daninho
O caminho onde senti
Farto amor e se me aninho
Outra paz enfim sorvi.
Num etéreo caminhar
Entre pedras e tormentas
Quando tanto me apascentas
Tramas; claro o meu luar
E das noites mais sedentas
Em ti posso saciar.



428



Ao cantar de um sabiá
Minha vida se embalando
O desejo desde quando
A saudade chegará
Vou mudando e desde já
Noutro rumo me entornando
O cenário se nublando,
Pois nem sei o que virá.
Vendo a vida desta forma
Outro tanto me transforma
E sedento em paz eu tento
O caminho mais suave
Sendo quanto tanto agrave
O delírio em sofrimento.


429


Recordando cada dia
Do passado aonde eu pude
Encontrar com atitude
A suave poesia,
Noutro canto poderia
Vencer a vicissitude
E se tanto desilude
Já não quero a tez sombria,
Tramo o canto em paz e sei
Do vazio desta grei
Onde mergulhei em vão,
Novos tempos; luz tão farta
A tristeza ora se aparta
De outros tempos que virão.

430


Solto o grito e já me inteiro
Do caminho mais audaz
A verdade satisfaz
Traz a luz o verdadeiro
Delirar onde me esgueiro
E o cenário tão mordaz
Deixo além e para trás
Cevo em paz novo canteiro,
Bebo à glória deste encanto
E se posso ou mesmo canto
Nada mais se pode ver
Tão somente a voz amarga
Que a saudade tanto embarga
Quanto dita algum prazer.

431


Há tanto que eu não te vejo
E deveras não devia
Procurar sequer um dia
Muito aquém do quanto almejo
E se tanto o meu desejo
Noutro tom eu poderia
A verdade me traria
Outro rumo, onde a dardejo.
Versejando desta forma
Onde o nada me transforma
Noutro tempo pude além,
Mas contando co’o futuro
Nada tendo onde asseguro
Nada mais ainda vem.

432

Não te vejo, faz tempo e tanto o quis
E agora quando a vida traz um sonho
Diverso do que tento ou me proponho
Vagando tão somente por um triz
O céu imaginário, tênue e gris
Ou mesmo noutro tom turvo e bisonho
No quanto posso além e me componho
O amor já não traduz o ser feliz,
Vestígios de outras eras noutro fato
E quando no vazio eu me retrato
Resgato um ato turvo e nada mais,
Andasse contra a firme correnteza
Talvez houvesse ao fim qualquer surpresa,
Mas nada ao entregar-me aos vendavais.

433


A vida nos levou por tanto rumo
Diverso do que outrora conheci,
E quando me envolvera inteiro em ti,
O passo no vazio enfim resumo.
E quantas vezes vejo e me consumo
Nas tramas doloridas onde eu vi
O mundo repartido e não senti
Sequer a direção tomando o prumo,
Vestindo a fantasia que eu pudera
Ainda trago viva a primavera
Depois deste outonal caminho em vão,
Viceja dentro em mim flora abundante
E quando noutro passo se adiante
Somente outro vazio, desde então.

434


Eu sei quanto é preciso para quem
Depois de tanta queda quer um sonho,
E quanto mais decerto inda o componho
Das esperanças sigo mais aquém,
Vestindo o que deveras não contém
Senão tal passo audaz, mesmo enfadonho,
Riscando outro horizonte já me ponho
No olhar incomparável de um desdém,
No farto caminhar em noite escusa
O sonho noutra face tenta e abusa
Vestindo esta emoção leda e sombria,
Mergulho nos meus ermos e procuro
Um dia aonde ao menos neste escuro
A trama de um futuro em paz, veria.


435

Mesmo que diferentes passos demos
Buscando inesquecível delirar
Bebendo cada raio do luar
Deveras noutros dias merecemos.
O encanto deste sonho nos recebe
E toca mansamente nossa pele
Amor quando demais sempre compele
E reina totalmente sobre a sebe.
Vestido de ilusões, seguindo a ti
O quanto de desejo desenhei
Rumando em consonância nesta grei
O canto finalmente o descobri,
Num cântico suave e tenro quando
O sonho pouco a pouco nos tomando...


436


A vida em solidão já não me basta
Eu quero alguma luz e nela eu possa
Viver o que pensasse ser tão nossa
A poesia rara, bela e casta,
E quando a solidão agora afasta
E o canto de outro rumo já se apossa
A sorte noutra face, a vida endossa
E nada mais deveras nos desgasta.
Seguindo sem surpresa em mansidão
O tempo se aproxima num verão
Suave em claridade, em azulejo
E quanto mais te quero e sei também
Do amor quando deveras nos contém,
Um calmo amanhecer; em paz, prevejo...



437


E torna mais difíceis os enganos
O passo quando audaz e destemido,
Tomando com certeza este sentido
Deixando no passado velhos planos
E rotos desde agora tristes panos
O sonho noutro sonho resumido
Vivendo sem saber sequer do olvido
Expresso a poesia sem ter danos.
Desvendo cada passo quando eu tento
Vencer o meu terrível desalento
E neste caminhar rumo ao que vem,
O manto consagrado da esperança
A cada novo sonho mais alcança
Deixando para trás qualquer desdém.



438



Mas só em te saber querida, aqui
Meu mundo se transforma totalmente
E ainda que outro rumo a vida tente
Descubro o quanto em paz eu recebi
E vejo esta esperança viva em ti
E neste delirar tão simplesmente
A vida noutro passo não pressente
Sequer o que decerto eu não perdi,
Singrando este oceano feito em paz
O amor que se mostrara e sempre traz
Esta bonança rara de saber
O quanto posso ser bem mais feliz,
Vivendo tudo aquilo quanto quis
E neste desenhar, raro prazer.


439

Meu coração se mostra tão feliz
Toando a melodia onde esperança
A cada novo passo sempre alcança
Bem mais do que deveras eu já fiz.
Resido no cometa e por um triz
A vida noutro rumo não me lança
E quando se percebe esta aliança
Amor vai traduzindo o quanto a quis.
Repare cada estrela e veja bem
O sonho como um brilho sempre vem
Domina a paisagem noutro instante,
E assíduo caminheiro do futuro
O quanto na verdade eu asseguro,
Encanto noutra face já garante.


440



Promessa de um oásis num deserto
Imenso sem saber qualquer saída
Mudando a direção da minha vida,
Deixando este caminho sempre aberto,
O quanto deste sonho enfim desperto
Nem mesmo a solidão tanto duvida
E a sorte se desvenda entorpecida
No quando deste mundo em ti alerto,
A poesia traça novo rumo
E quando em voz intensa eu me consumo
Resumos de outros tantos tenho à frente
E neste desenhar a vida traz
Além do que eu pudesse ser capaz
Somente esta alegria onde me alente.




441


Acelerando enfim o passo rumo ao tanto
Aonde poderia ser diverso
Do todo noutro ponto mais disperso
Buscando a fantasia em raro manto.
A cada novo dia outro garanto
E neste caminhar enquanto verso
Bebendo esta aspereza do universo
Esbarro noutro caos enquanto canto.
Espalho a minha voz aonde eu posso
Saber deste delírio meu e nosso
Depois de tantas quedas costumeiras,
E quanto mais deveras tu me queiras
O mundo noutra face irei tecendo
Sem medo, sem mortalha e sem remendo.


442


Que agora se pressente tanto quando
A vida não passasse de ilusão
Bebendo cada espaço, tomarão
Meu ar estes cenários, pois nublando
E quanto mais mergulho vou tocando
As bordas mais audazes da emoção
E sei dos dias novos que virão
E neles o meu passo sempre brando.
Resulto deste tanto quando vejo
O amor noutro momento em azulejo
Reinando sobre cada senso e até,
Vestindo a mais sublime fantasia
O tempo na verdade me traria
A vida tão somente e por quem é.


443


A receber o bem que eu tanto quis
Depois de várias quedas no caminho,
Aonde na verdade mais mesquinho
O passo noutro passo não mais fiz.
E o risco de sonhar, se por um triz
Permite que se veja o mais daninho
Marcando cada flor com seu espinho,
O céu se transtornando agora gris.
Repare cada luz e siga em paz
A trilha deste amor aonde o faz
Diverso do que outrora eu pude ver
Cenário em discrepância onde me alento
Deixando no passado o sofrimento
Bebendo a me fartar tanto prazer.


444


Daquele que percebe a cada passo
A vida num momento mais diverso
E neste desenhar rude e perverso
O descaminho atroz em mim eu faço,
E quanto se procura em ledo espaço
Vivendo neste infausto e agora imerso
Mudando cada sonho onde eu disperso
O tanto quanto pude e já não traço.
Bebendo esta ilusão porquanto pude
Vencer outro caminho audaz e rude
Chegando mansamente ao que sentisse
Transcende-se à ilusão e vejo além
A vida noutro instante e me convém
Deixar no alheamento uma mesmice.


445


O que sempre mostrou a face atroz
Já não mergulharia em mar tranquilo
E assim a cada instante em vão desfilo
Alçando o que pudesse noutra voz,
Ideias tão diversas noutra foz
E o quanto do passado já perfilo
Marcando o meu delírio eu não vacilo
E bebo da alegria imensa em nós.
Se resolutamente nada fiz
E sigo o meu caminho por um triz
Deixando apenas sombra do que fomos,
A vida se apresenta em ritmo leve
Enquanto novo passo ora se atreve
Tramando da esperança raros gomos.


446


Percebo nesta chuva esta presença
De quem se desejara muito mais
E embora enfrente sempre vendavais
A cada novo sonho me convença
A vida só se dá em recompensa
A quem sem perguntar encontra o cais
E neles dias claros, magistrais
Numa alegria rara e mesmo intensa,
Brindando com a paz em raro lume,
Aonde que inda possa ou mesmo rume
Eu vejo a claridade e já me presto
Ao quanto poderia e mais ainda
O canto noutro instante toca e brinda
Deixando para trás somente o resto.


447


Na lembrança ancestral de um tempo audaz
Imerso em juventude e claridade
Agora na verdade o que me invade
No fundo já não trama a menor paz,
Do quanto quero crer e a vida traz
Somente este cenário em vã saudade,
Resumo cada passo aonde brade
A voz tanto suave e pertinaz.
Aprendo com meus erros, pelo menos,
E os dias que pudessem ser serenos
Por tantas ironias morrem sós,
E quanta vez eu quis somente o sonho
E neste desenhar me decomponho
E o rio sem destino perde a foz.

448


Do tempo em que viver pudesse além
Da mera fantasia aonde espalhas
Somente novos campos de batalhas
E neles nada mais, torpe desdém,
Restauro o meu caminho e sigo bem
Os riscos mais atrozes, novas falhas
E neste desenhar as cordoalhas
Atando o meu desejo, noutro aquém
Acrescentando um dia a mais no sonho,
E quanto mais procuro e ali me enfronho
Engano-me decerto e sou assim
Vislumbro um raro sol e nele eu vivo
A mais do que pudesse um lenitivo
Vagando neste rumo de onde eu vim.


449

Correndo inda criança, o pensamento
Já nada mais segura nem o freia
A vida noutra face mais alheia
Traduz o quanto pude ou mesmo tento
Vestindo esta esperança o desalento
Em fúria sem igual tudo incendeia
Vagando em plena lua bela e cheia
Soltando a minha voz inteira ao vento.
Resvalo no futuro e bebo à sorte
Do quando pude ou mesmo me comporte
Vagando pelo espaço de um segundo
Assim noutro momento quero a paz
E o passo noutro rumo já se faz
E neste delirar eu me aprofundo


450


Canteiros tão floridos sob olhar
De quem já desejara pelo menos
Em meio aos dias turvos e pequenos
Um novo e mavioso desenhar,
Vivendo plenamente a mergulhar
Singrando outros momentos mais amenos
Tocando em minha face estes serenos
Aonde pude tanto me entranhar,
Viceja dentro da alma esta esperança
E neste caminhar o todo alcança
Marcando em sincronia cada passo,
Vestindo a fantasia mais sublime
O amor quando demais já nos redime
E dita o novo rumo onde me traço.


451

O teu sorriso manso me tocando
Transfere a sensação de paz imensa
E nada do que eu posso esta alma pensa
Desenho noutro rumo me tocando
Fazendo da esperança um algo brando
A porta escancarada em luz intensa
E neste caminhar a recompensa
Noutro cenário em brilhos nos tomando,
Espero a cada instante outra verdade
E quando a solidão adentra e invade
Já pouco deste todo restaria
Vencendo esta temida hipocrisia
Deixando no passado a tempestade
O mundo noutra fonte se traria.


452


Num claro sentimento amor entoa
A vida sem perguntas nem porquês
E neste caminhar tanto se fez
Vagando sempre em paz a vida à toa,
Resumo meu destino e se revoa
Saudade noutra face, estupidez
Gestando o descaminho onde tu vês
Apraza-me saber do quanto ecoa.
Resumos dentro da alma tão diversos
E neles desenhando tantos versos
Enquanto pude ou posso ser feliz,
Esbarro nos meus ermos e procuro
Ainda quando além do imenso muro
O todo que deveras não desfiz.


453


Com sonhos e folguedos minha vida
Traduz o quanto quero e não consigo
Condena tão somente ao desabrigo
Enquanto a cada passo tudo acida,
Persigo meu caminho e a despedida
Marcando toda curva em vão perigo
Reserva o que pudesse e desobrigo
Meu ermo no vazio em voz perdida,
Esbarro nos meus erros e percebo
O amor como se fora algum placebo
E traz inconsistência a todo instante
Viceja dentro em mim esta esperança
E nada na verdade ainda alcança
Nem mesmo outro desenho em paz garante.




454


Quando o vento do passado
Ao tocar a minha pele
Num delírio me compele
Outro rumo a ser traçado,
Novamente desolado
Inda mesmo quando apele
Noutro enfado se repele
O que tenho sempre ao lado,
Desenhando em rude traço
Cada passo novo eu faço
Na procura inconseqüente
De um momento mais feliz,
Mas a vida contradiz
E deveras nada sente.

455


Quando meus olhos fechados
Pelos medos ou quem sabe
Muito além do quanto cabe
Outros dias sonegados
Erráticos cometas vislumbrados
Aonde com certeza já se acabe
A vida noutro fato e assim desabe
Das sortes os imensos alambrados,
Restauro com palavra força e fé
O quanto poderia ser até
E nada se fizera em torno disto,
E quanto mais eu luto mais me perco
E neste delirar em vão me acerco
E quando mais constante, enfim desisto.


456


Tua imagem tão diversa
Do que tanto imaginei
Amortalhando esta grei
Onde o pensamento versa
Nada mais segue a perversa
Aventura e se me dei
No vazio mergulhei
Outra sorte se dispersa.
Resumindo cada fato
Na verdade não constato
Nada além da mesma queda,
E o caminho se traduz
Mui diverso desta luz
Onde tudo enfim se seda.


457


Os teus lábios beijaria
Com vontade sempre assim
Se não fosse esse jardim
Onde a sorte não veria,
Muito embora a fantasia
Viva intensa dentro em mim,
O caminho de onde vim
Noutro passo já me guia,
Resumindo a minha história
Nesta face merencória
Sem a lua nem o brilho
Deste sol que inda pudesse
Traduzir uma benesse
Hoje em vão nada palmilho.


458


Tanto vento e chuva fina
Desabando sobre nós,
O cenário mais atroz
Noutro espaço descortina
A verdade se domina
Nos sonhares de um algoz
E se tento nova voz
O final já determina,
Resumindo em verso e canto
O que tanto não garanto,
Mas quisera tão somente,
O passado se anuncia
Noutra face mais sombria
E a saudade não desmente.


459


Eu te sinto, meu amor
Como fosse uma esperança
Onde o meu olhar alcança
Seja lá como se pôr
O caminho em tal sabor
Rege em paz farta pujança
No desejo em confiança
Já não vejo mais a dor.
Alcançando a plenitude
Nada mais em mim se mude
Nem transforme noutra face,
Inda quero estar contigo
Este sonho que persigo
Com certeza a lua grasse.


460


Outro beijo prometido
Sonegado a quem te quis
E se tanto hoje feliz
No passado, outro sentido,
Visto a glória em tal olvido
E seguindo por um triz
Neste céu imenso e gris
O desejo presumido.
Vasculhando cada canto
Outro tanto eu te garanto
Posso mesmo imaginar,
A verdade dita a regra
Quando amor se desintegra
A saudade tem lugar.


461


Nosso amor alimenta uma esperança
Gerando em contra-senso algum ciúme
E quanto mais fato me acostume
Maior a discordância onde se lança,
A vida se não temos confiança
Transforma tudo e aos poucos já se esfume
Diverso desenhar co’o tempo rume
E nisto se rompendo esta aliança,
Perdermos o sentido dentro em nós
E ver se desabando em queda atroz
O que pudesse ser eterno e manso,
Mas quando em destempero vejo a vida
A estrada sem final e sem saída
Infelizmente agora ao fim a alcanço.


462

É pão, é luz, é brilho quando o amor
Sacia e sendo assim tão saciado
Expresse no futuro outro traçado
Em bela fantasia multicor,
Marcando cada passo num louvor
Ao próprio caminhar já destinado
Vencendo toda pedra lado a lado,
Um só desenho em paz a se compor.
Grassando pelos prados e espinheiros
Os pés se preparados vêm inteiros
Percalços e os superam com audácia.
No amor engrandecido por si só
Ausência resta em turvo e ledo pó
Qualquer discórdia morre em vã falácia.

463


Que nasce a cada dia dentro em nós
Beleza incomparável, vida nova
E neste caminhar já se renova
A sorte com mais firmes laços, nós
E quando se percebe em mesma foz
O passo que a verdade só comprova
O próprio desenhar em paz se aprova
E reina sobre um mundo tão feroz;
Assim ao te encontrar eu me encontrei
E pude confirmar a velha lei
Da qual ninguém escapa e rege o mundo,
Amor quanto maior amor se dá
Decerto farto amor se colherá
E deste abençoado amor me inundo.


464


Vontade de viver embora eu veja
A vida sob olhar duro e mordaz
O quanto do passado sempre traz
A face mais terrível onde negreja
O passo resoluto em alma andeja
Marcando com terror fúria tenaz
E neste desenhar tanto desfaz
Gerando outra paisagem malfazeja.
A vida que seria um privilégio
Moldando a cada curva um sortilégio
Herege e caricata, apenas vil,
Do tanto imaginário e sem destino,
Aos poucos o vazio eu determino
Diverso do que imenso a alma previu.


466

Amor que tantas vezes pude até
Sentir o seu bafio benfazejo
E agora no final o quanto vejo
Não deixa se sentir, acesa, a fé.
O risco de sonhar gerando o caos
Errático cometa sem sentido,
O mundo a cada ausência, desvalido
Momentos tenebrosos, árduos, maus.
Resumo o meu caminho em pedra e espinho
E nada mais convence este andarilho
Enquanto nas searas vãs palmilho
Persisto incauto e tolo, mas sozinho.
Esbarro nos meus erros, meus engodos,
E afundo-me nos charcos, lamas, lodos.


467


E nisso, nos transporta além do cais
Gerando um mar imenso imerso em ondas
E quanto mais aos sonhos correspondas
Os dias traçam ritos magistrais,
E quando se percebe muito mais
Do que deveras tramas ou escondas
Às honras com certeza não respondas
Marcando em dissonância os erros tais.
Assim do quanto pude e nada havia
A cena se repete todo dia
E a perda se acumula em prejuízo,
Pudesse apenas ter a paz e o sonho
No quanto amor desenho e me proponho
Traçando com um toque mais preciso.


468


De tantas flores belas que eu conheço
Apenas teu olhar diz primavera,
E neste caminhar a vida gera
Bem mais do que somente um adereço,
Amar e ter além quanto mereço
A solução, resposta em paz tempera
Silenciando assim a bruta fera
Negando qualquer queda em vão tropeço.
Os sonhos em tropel adentram noites
E quanto mais ausente tu me açoites
Os ermos de minha alma ainda a vêm
E o tanto quanto pude noutro instante
Futuro mais tranquilo até garante
Deixando para trás qualquer desdém.


469

Amor que não permita outra sangria
Depois de tantas quedas costumeiras
E quando noutro rumo tu me queiras
A vida também lá já me queria,
Resumos de uma sorte onde se guia
Granando dentro em nós as verdadeiras
Beleza muito além das corriqueiras
Moldando com ternura a poesia.
Vestindo esta ilusão já nada basta
Senão a mesma face amarga e gasta
Da qual não mais me afasto e a sinto viva,
No tanto quanto pude imaginar
Certeza se transforma a me tocar
E a luz que tanto quero agora criva.


470


Senão nós morreremos noutro instante
Depois de termos feito o que podemos,
Os dias entrelaçam velhos remos
E nada mais se vê ou se garante,
O passo noutro intento delirante
Traduz o quanto mesmo não teremos
E neste desenhar nós merecemos
Quem sabe outro caminho doravante.
Vestindo esta ilusão sobeja e rara
O canto se espalhando nos prepara
À vinda deste amor que eu tanto quero,
Um dia mais suave em nossas vidas
Estradas conhecidas, repartidas
Num ato mais suave e mais sincero.




471

Na dor e na tristeza, compartilho
Contigo cada fato em nossa vida,
E mesmo quando a estrada está perdida
Nós juntos construímos novo trilho
E assim no mesmo instante também brilho
E nesta caminhada presumida
A messe deve ser tão dividida
Num justo desenhar, venço empecilho.
E o passo além do quanto poderia
Em solidão aumenta a cada dia
E gera novo rumo e traz enfim
Ao todo muito mais que mera luz
E neste refletor amor conduz
Mantendo em primavera este jardim.


472

Pois sei que em sua ausência nada resta
Daquele sonhador, agora morto,
A vida perde o rumo e sem porto
Navega imersa em senda mais funesta,
A poesia em paz decerto atesta
O quanto deste sonho traz conforto
A quem já pensara neste absorto
Caminho sem destino, sequer fresta.
Restauro, pois contigo este vigor
Gerado e fornecido pelo amor
Que tanto pode e deve nos tramar
Bem mais do que um momento de ternura
E mesmo na tempesta, vai, perdura
Num sólido e perfeito caminhar.


473


Não quero nem preciso de outro engano,
A vida não permite mais tal fato,
E quando nosso amor; vejo e constato
Percebo quão dorido é qualquer dano.
E neste caminhar decerto ufano
E sinto a cada passo que eu resgato
Minha alma; acostumada em tal destrato
E neste novo mundo ar soberano.
Presumo cada passo rumo ao tanto
E assim cada momento em paz; garanto
E ao vicejar em luz primaveril,
O amor semeia e colhe com fartura
Bem mais do que deveras já procura
Cenário tão sublime, não se viu.


474


Por Deus abençoado cada passo
Ao qual eu me entregando sem defesa
Descendo mais tranquilo a correnteza
Um novo desenhar em paz já traço,
Mergulho neste imenso e claro espaço
E sei de cada dia em sutileza
Esta alma da esperança mera presa
Deixando no passado um dia lasso.
Vestindo tanta glória por poder
Estar e desta forma me envolver
Neste espetacular desenho em gozo,
Tentacular anseio majestoso
Reticulares sonhos entremeio
Tecendo tanto amor em devaneio.



475


Amiga, nunca tema o dia a dia
A vida se repete vez em quando
E o quanto noutro tempo desabando
Agora na verdade não veria,
O sol ao nos tocar tanto irradia
E neste desenhar nos transformando
E um novo ser deveras nos tornando
Deixando no passado a tez sombria,
Vestindo esta esperança como fosse
Além de algum cenário em agridoce
Um rito magistral, mesmo dorido,
Nos ermos de minha alma tão cativa
Esta alegria sempre sobreviva
Regendo com carinho este sentido.


476


A vida sempre mostra tantas fases
E nelas se entranhando sonhos, medos
E os dias entre tantos outros, ledos
Agora com sorriso que me trazes
Transformam os meus passos mais audazes
E neste desenhar sei os segredos
Arcando com beleza os arvoredos
Já não são tão sutis mesmo fugazes,
Assim caminho contra a correnteza
No amor que nos transforma e dá certeza
De um tempo mais suave, mesmo quando
O mundo noutra face se denigre
E o pensamento além também se migre,
Porém o sentimento nos rondando.


477


Às vezes ela está sempre comigo
Ou tão diversa a vejo dos meus passos
E nestes dias turvos, meros baços
A sorte me condena ao desabrigo,
E quantas vezes tolo até persigo
Vencer os meus momentos me cansaços
Deixando para trás ledos espaços
Escassos desenhares, mas prossigo.
Vestindo a fantasia de quem sonha
E sabe desta vida e já se ponha
Em ritos consistentes e tenazes.
Assim do amor maior, a própria vida
Cicatrizando em mim cada ferida
Enquanto tanto amor; em paz, me trazes.

478


Tantas vezes, não vês o que pudesse
Ser tanto ou quase nada se em verdade
A vida noutra face se degrade
E gera com ternura uma benesse,
O risco a cada queda estabelece
O passo quando além tomando invade
Vencendo com ternura a tempestade
E o canto noutro enredo a vida tece.
Esparsos dias ledos, solitários
Momentos tão difíceis, temerários
E os ermos de minha alma se perdendo,
Num ato mais gentil, o amor se espalha
E tece novas tramas sem batalha
Não deixa para trás qualquer remendo.


479





O medo que se assoma a cada ausência
Gerando novamente outro caminho,
No qual e pelo qual se sou daninho
Já não concebo mais a prepotência
O risco de viver, leda ingerência
E neste desenhar bebendo o vinho
No quanto poderia e me avizinho
Do templo feito em rara convivência.
Explano com meus passos outro tanto
E beijo o que deveras te garanto
Pudesse me render felicidade
Rompendo do passado a velha teia
A sorte noutro lado me incendeia
E gesta esta ternura que ora invade.


480

Traz lágrimas que tantas vezes vira
No olhar quase macio de quem amo,
E quando outro caminho noutro ramo
Traduz o quanto fora em vã mentira,
A Terra não se cansa e sempre gira
E a cada inconsistência teimo e tramo
E no final apenas não reclamo
Enquanto o que traz logo retira,
Espalho a minha voz aos quatro ventos
E sigo sem sentir os tais alentos
Que um dia prometeste e não cumpriste,
Assim este cenário se transforma
E toda a consistência perde a forma,
Olhar que ainda resta, tênue e triste.




481


É hora de partida e levo aqui
Toda esperança viva em peito aberto,
Searas do passado que deserto
Traduzem muito além quanto perdi,
O todo se transforma e vejo em ti
O rumo aonde em sonhos já me alerto
E quando mais feliz enfim desperto
Sorvendo o quanto pude e mereci.
Um pirilampo solto em noite escura
A estrela companheira em vão procura
E sabe da distância; imensidão,
Mas também se luzindo em doce espera
No olhar irradiante primavera
Bebendo os dias claros que virão.

482


As chaves desta porta, uma esperança
Há tanto já perdera e sem saber
Do quanto pude ou não reconhecer
O mundo traça além qualquer fiança,
Um passo sem sentido apenas cansa
E nada do que tente, posso ver
Sentindo as variantes de um prazer
Regido pela angústia em vã lembrança,
Abrindo este portal encontro além
Bem mais do que pensara e ainda tem
Um novo reluzir em claridade
No farto caminhar sem direção,
Momentos mais sublimes mostrarão
O quanto da ternura após me invade


483


Amor que sem domínio leva ao erro
E neste caminhar cada tropeço
Além do de quanto posso ou mais mereço
Ao fim transforma tudo em vão desterro,
Eu quero poder ir além do cerro
E neste etéreo céu, meu endereço
Cenário tão sublime eu reconheço
Diverso do vazio e tolo enterro
Cerzido pelo amor em inconstância
Marcando cada passo em consonância
Com ermos quantas vezes já desnudo,
E o todo se pensando num instante
Aonde a claridade se adiante
E neste novo espaço em paz transmudo.


484


Não deixe de buscar uma saída
Embora a própria história nos desminta
E quando se pensara quase extinta
Revigorada surge, plena vida.
A glória noutro intento resumida
Por mais que a realidade tanto minta
O quanto da emoção vejo; distinta
Da face mais atroz e destruída.
Num aprazível sonho, vez em quando
O tanto noutro intento se formando
Gerando o quanto posso em harmonia,
Preâmbulos de dias mais sublimes
E neles tantos erros tu redimes
No sonho onde outro sonho viveria.


485


Nos mares que teus olhos mergulharam
Trazendo a intensidade feita em sal,
Meu tempo noutro tempo em ritual
Enquanto meras sombras se notaram,
Diversos versos meus nos embalaram
E a tônica sincera e sensual
Rondando a cada passo em magistral
Delírio onde delícias pulularam.
Risonho caminhar por entre as trevas
E neste desenhar também me levas
Urdindo uma saída a cada queda,
Viceja dentro da alma esta alegria
E nela nova face se daria
Enquanto a poesia nos enreda.


486

Por tantas madrugadas solitárias
A vida não pudesse me trazer
Senão a mesma insânia em desprazer
As horas são das horas vis corsárias,
E nada mais pudesse em temporárias
Loucuras inseridas num querer
Diverso do que tanto posso crer
Gerando novas rotas, luminárias.
Escusas são comuns e nada dizem
Somente de outros passos e deslizem
Marcando com terror a ferro e fogo,
Assim ao me encontrar em solidão
Bebendo cada gota, imprevisão
O risco de outro tanto é falso rogo.


487


Depois ao renascer do tempo em mim
Vagando colibri em alas leves
E neste desenhar também te atreves
Dourando a primavera em meu jardim,
Mas quando se aproxima então do fim
Os dias onde bebo velhas neves
Marcando com terrores, mesmo breves
Gerando outro invernal imenso assim.
Respaldos que procuro noutro intento
Vagando cada passo onde alimento
O sonho com mergulhos dentro da alma,
Não posso mais sentir qualquer anseio
O rumo de outro tempo eu devaneio
E nada; nem o fim agora acalma.

488


Seus raios sobre a dor, um lenitivo
Apenas e não mais que certa paz
Trazendo aonde tudo se desfaz
E neste caminhar em sonhos crivo,
O tanto quanto pude ser altivo
E neste delirar quase tenaz,
Vestindo o quanto quero em tom mordaz
Singrando onde deveras sobrevivo.
Reparo cada queda e; dela aprendo
Vicejo mesmo em risco torpe e horrendo
Vibrando em consonância tempo/espaço.
O dia se revela noutro instante
E o quanto do meu mundo se garante
Diverso deste insano que ora traço.


489

Nos traz a claridade a cada dia
Um sonho mais feliz e nele eu sinto
O toque mais audaz, um raro instinto
Cenário aonde a sorte se cerzia,
Vencido pelo tempo em fantasia
Resumo cada instante e nele pinto
O todo que pudesse outrora extinto
E agora noutra face revestia.
Meu canto se presume em tal detalhe
E quanto mais relute ou mais encalhe
Viceja esta esperança dentro em mim
De um tempo mais feliz após o quanto
O mundo noutra face, e até garanto
Plantio em pura festa em tal jardim.


490

Em meio a tempestades vejo o sol
Tomando este cenário, num instante
E quando mais feliz já se garante
O mundo se luzindo em arrebol.
Pudesse caminhar sob o farol
De um tempo tão suave e doravante
Sentindo o teu sorriso provocante
Marcando meu anseio sempre em prol.
Vicejo num momento em primaveras
E quando novo bote ainda esperas
Palavra em mansidão adentra a cena
E o todo se perdendo num segundo,
Alçando outro caminho eu me aprofundo
E a vida sem saída já serena.




491

Em plena solidão o meu caminho
Transforma o dia a dia em tempestade
E apenas tão somente o que me invade
Traduz em mero ocaso, mais daninho,
Vestindo esta ilusão já não me alinho
Na estância onde quisera a liberdade
E ausente a cada instante a claridade
O olhar já não rescende a algum carinho.
Dançando a noite inteira, o tempo passa
E a vida noutra face em vã fumaça
Espalha-se em terrores e temores,
Seguindo cada dia em tom diverso
Bebendo a fantasia feita em verso
Prossigo mais sutil sem nada opores.

492



Amigo, em nossas lutas vida afora
O tempo não sacia quem procura
Vencer a tempestade ou a amargura
E neste desenhar o peito ancora
A vida noutra face e se demora
Gerando com certeza outra ternura
Vestindo a fantasia outrora pura
E neste desenhar a paz devora,
Expresso a solidão aonde pude
Viver o que restara em plenitude
Ocasos entre ocasos nada mais
E quando procurando algum apoio
A sorte já resseca novo arroio
E o dia se transcorre em vendavais.


493



Tantas vezes pensei ou mesmo quis
Um dia mais tranquilo e mal sabia
Do quanto noutro tempo perderia
Gerando outro cenário em cicatriz,
A vida não se perde por um triz
Engano noutro tal se formaria
Gestando no final a hipocrisia
Aonde um novo sonho eu já desfiz.
Resumo cada passo no vazio
E quando outro caminho eu desafio
A perda se aproxima do total,
E o vândalo delírio de um poeta
Na face mais atroz não se repleta
Marcando cada dia em novo astral.


494

Acumulando dor e prejuízo
O mundo não permite melhor sorte
Sem nada que decerto me conforte
O risco tresloucando algum juízo,
O passo noutro tom mais impreciso
O peso de viver já não suporte
Quem tanto a própria ausência seda e corte
Marcando com terror sem dar aviso.
Regresso deste infausto aonde eu pude
Lutar contra o temor, vicissitude
Comum a quem poeta ou fantasia.
O ciclo se fechando e nada trago
Sequer a menor sombra de um afago
Aonde tanta coisa poderia...


495


Esperança morrendo a cada instante
Deixando para trás o que foi vida,
A senda há muito tempo vã, perdida
Errático desenho não garante.
O passo quando posso doravante
Na face mais audaz e desmedida,
Gestando novamente esta ferida
E nela o meu olhar mais degradante.
Resumos de momentos tão diversos
Invado com ternura os universos
Marcados pelo anseio de outro rumo,
Mas vejo esta aridez e num tormento
Ainda que outro sonho eu busque e tento
No fundo a cada engano em vão me esfumo.


496


Demorei certo tempo até saber
Dos tantos ou dos vários descaminhos
E sendo os dias vagos e sozinhos
Alheio ao que pudesse dar prazer
Mergulho insanamente no meu ser
E bebo destes ermos tão daninhos,
Erguendo com ternura velhos vinhos
Num brinde aonde o nada pude ver.
Se resolutamente sou assim
O início transfigura todo o fim
Marcando com terror e rebeldia,
Meu verso se apresenta em consonância
A vida renegando alguma estância
Já não trará sequer a luz do dia.


497

Que jamais encontrara a paz, decerto
Cansado de lutar contra a maré
Seguindo cada passo e por quem é
Engano noutro rumo já deserto
E bebo do passado onde me alerto
Presumo minha vida em falsa fé,
A vida não seria mesmo até
O quanto noutro enredo não conserto.
Concreto se cinzela com argúcia
E o passo noutra face sem astúcia
Marcando com terror e infaustamente
Assim ao mergulhar em tom sombrio,
Apenas o meu rumo ora desfio
E a vida simplesmente, atroz, já mente.

498

Nesta espera terrível pela vida
O corte se aproxima do final
E o sonho onde pudesse inteiro astral
A cada nova ausência compartida
Transforma aprofundando esta ferida
Em tom diverso e traça desigual
Cenário que pensara mais banal
Marcando a cada passo a despedida.
Vestindo esta ilusão deveras pude
Vencer o descaminho amargo e rude
Gerado pela insânia, tolamente
Ocaso dentro da alma de um poeta
E neste desenhar nada completa
A vida que pudera e violente.

499

Tanto amor; ou quem sabe, um sonho
No fausto de um momento em galhardia
O passo noutro rumo não veria
Além do que deveras o componho,
E sei do raro alento em paz, risonho
E neste desejar farta alegria
Moldando o quanto quero e fantasia
Uma alma sem o corte tão medonho,
Reparo nos anseios contumazes
E sei quanto do sonho tu me trazes
E neste delirar estou contigo
Estrelas que derramas pelo chão
Traçando novos dias e verão
Meus olhos neste tanto o que persigo.

500

Eu confundia tudo e sei do quanto
Enganos produzindo uma esperança
Aonde no vazio a voz se lança
Gerando tão somente algum quebranto
E quando neste espelho eu já me espanto
A sorte não produz a temperança
E o vago caminhar a vida alcança
Levada pelo vento em tosco manto.
Um canto em harmonia possa além
E quando alguma luz inda contém
Expressa a calmaria desejada,
Mas quando infausto doma o pensamento
Por mais que um novo rumo; ainda tento
No fim não restará sequer mais nada.




501


Solidão dita tristeza
E reinando a cada dia
Vou seguindo a correnteza
Onde nada mais havia
Tão somente esta incerteza
Noutra face ora sombria
E se fosse tua presa
Com certeza eu me daria,
Ao vencer cada temor
Sem segredos nem mentira
O meu passo diz amor
E acertando logo a mira
Noutro tanto a se propor
Nada mais quer ou prefira.


502


Tantas lutas pela vida
Dia e noite sem parar
A saudade dolorida
Ocupando o seu lugar,
Procurando uma saída
Teço rendas ao luar
E se vejo sendo urdida
Sorte nova a me tomar
Bebo à farta da esperança
E mergulho em rumo incerto
Meu amor sempre me lança
Onde tanto amor desperto
E se tanto a vida amansa
O teu corpo eu não deserto.


503


Um deserto dentro em mim
Tantas vezes alimento
E se busco algum jardim
Sem sentido perco ao vento
O perfume do jasmim
Outro tanto agora invento
E desejo até o fim
Este amor, raro provento
E se nada veio então
O que resta desta sorte
Na verdade a solidão
Sem ter nada que a conforte,
Meu caminho em direção
Já não sabe qualquer norte.


504


Procurasse uma saída
Onde nada mais se vê
Tanta vida sem por que
Busco além da despedida,
Outra sorte sendo urdida
E num rumo aonde crê
É viver a presumida
Aventura sem cadê
Resumindo a minha história
Neste amor que quero tanto
Outro tom entorna em glória
O caminho onde adianto
Muito além de uma vitória
Nos teus braços eu garanto.

505


Quando amor e eternidade
Caminhando lado a lado
Noutro tom a vida invade
E resume o já passado
Num cenário que se agrade
Quem deveras desolado
Buscando a felicidade
Nada encontra em seu traçado,
Mas saber deste sorriso
Tanto alenta e reconstrói
A saudade em tom conciso
Como sempre reina e dói,
Mas amor rege preciso
Nada então vem e o corrói.


506


Tantas vezes pude ver
Em cenário discordante
Tanto amor que me adiante
Transbordado de prazer,
Ao sentir o amanhecer
Num cenário deslumbrante
Outro tanto doravante
Com certeza quero ter
E saber dos teus anseios,
Ao tocar tão belos seios
Em delírios totalmente
Extasia-se minha alma
Dos temores já se acalma
Dominando o corpo e a mente.

507


Pude amar além de tudo
Sem temer qualquer caída
E sabendo da saída
Na verdade não me iludo
Minha sorte decidida
Sem talvez e sem contudo
Persistindo eu me transmudo
Bebo à sina repartida,
Vicejando esta esperança
O meu passo agora alcança
Muito além da primavera,
Ao cerzir em ti a glória
Deixo a cena merencória
E infinito me tempera.


508


Se eu fui rude num momento
Só perdões eu peço agora,
Na verdade só lamento
O que tanto te devora,
A saudade diz tormento
O meu peito se apavora
E no fundo eu me alimento
Do desejo sem ter hora.
Recebendo raro afeto
De quem tanto mais queria
Neste rumo eu me completo
Sigo inteiro à poesia
Noutro tanto o predileto
Caminhar se prenuncia.


509

Nada mais do que o passado
Poderia me trazer
Outro tempo sonegado
Onde houvera desprazer,
As vertentes do meu ser
Noutro ser o corpo atado,
Num mergulho posso ver
O seu rosto desenhado,
Vicejando em esperança
O meu passo não se ausenta
A verdade onde se lança
Novamente me alimenta
E o que tanto em confiança
Apascenta uma tormenta.

510


Já não posso mais sentir
Nem as ânsias do passado
Nem o medo do negado
Caminhar rumo ao porvir,
E se tanto resumir
Outro dia neste enfado,
Busco o velho resguardado
Num instante a redimir.
Resoluto cavaleiro
Enluaro de esperança
Ao cevar o meu canteiro
Lua inteira, bela e mansa
Traz ao sonho algum luzeiro
E aos meus passos, confiança.






511


O quanto tantas vezes poderia
Traçar outro cenário e ver além
Do pouco ou do bastante e já contém
O tempo noutra face em sincronia,
Amar é mergulhar na fantasia
Embora reconheça este desdém
Nem mesmo quero ser mero refém
Do quanto posso ou mesmo não teria.
Esparsos dias vejo quando busco
Vencer o caminhar em solo brusco
Traçando outro momento mais tranquilo,
Angústias semeando contra o vento
E neste desenhar eu me alimento
Do verso quando o mesmo em paz desfilo.


512


Não quero te perder em meio ao todo
Que um dia permitira em plena queda
O passo quando ao nada o tempo enreda
Traduz o quanto imerso em podre lodo,
O riso, a conseqüência o medo e o tanto
Escassas ilusões inda alimento
E vejo o meu caminho entregue ao vento
E neste desenhar nada garanto,
Somente novo engano e após a sorte
Ditosa em tom sombrio ou mesmo atroz,
O quanto se percebe agora nós
Impede que deveras me conforte,
Vasculho cada ponto e nada vejo
Senão a mesma angústia em vão desejo.


513


Desculpe pelos erros, sou assim
Edênico caminho eu desconheço
E sei do quanto hedônico adereço
Viceja com firmeza em meu jardim,
Aonde quis tetânico não vim
E neste insano e lúbrico eu mereço
Ainda quando herético o começo
Traduz o velho lírico no fim.
Expresso como posso ou bem entenda
Amor quando demais é tola lenda
E o risco que se vê: de capotagem,
Abrindo estas comportas nada resta
Senão a mesma face em luto e festa
Brincando com astúcia e molecagem.


514


Onde está você?

Quando te percebo longe
Essa é a frase que reverbera
Tomando-me e esvaziando...
Uma insana sensação de querer
Encontrar e se perder com você.
Regina Costa



Sinceramente espero apenas um momento
Aonde eu possa estar junto contigo,
Ousando no teu corpo, o meu abrigo
E ter em nosso enlace tal provento
Esta esperança agora eu alimento
E venço sem temor qualquer perigo
Enquanto meu caminho em ti persigo
O amor se torna mais que um sentimento,
Num furioso embate, delicado
Anseio noutro anseio saciado,
Mergulho sem defesas. Vou inteiro,
E neste delirar tendo o que eu quis
Decerto agora eu sinto mais feliz
Num sonho tão sutil e verdadeiro.



515

Meus erros eu corrijo a cada instante
E sei que quantas vezes me iludi
E neste caminhar não via em ti
O passo que pudesse doravante
E quando a poesia se adiante
Reinando absoluta e chega aqui
Domina cada passo e presumi
Apenas outro tempo, fascinante.
Restando do que eu fora muito pouco,
Mergulho nesta insânia e me treslouco
Vagando pelo espaço sideral,
E o gozo se profana e bebo enfim
O todo que inda possa vivo em mim,
Ousando neste intenso ritual.


516


Tantas vezes maltrato quem se fez
Audaz e ao mesmo tempo em tempestade
O quanto do vazio nos invade
Traçando a cada passo a insensatez,
E bebo sem saber o que talvez
Pudesse me trazer a claridade
Viceja dentro da alma a liberdade
E nela mesmo agora inda não crês.
Num átimo mergulho nos teus braços
E deixo para trás os dias baços
Vivendo em plenitude o farto amor,
E quantas vezes; vira outro cenário
Num ato temeroso e temerário
Roubando da esperança o seu frescor.


517

Isso é tão contumaz, pensar no amor
Que posso desenhar outro momento
Enquanto no passado me alimento
Buscando inutilmente algum calor,
E quantas vezes; tive no louvor
Apenas outra fonte em sofrimento
Pudesse ter no fim discernimento
E ver o meu caminho redentor.
Resumos de outros erros tão humanos
E quando se renovam velhos planos
A vida não traz luz somente o fato
Da antiga e caricata rebeldia
Marcando com terror o que viria
E neste desenhar mal me resgato.


518


Que disso, esteja certa nada traz
Senão velhos anseios onde um dia
A sorte noutra face poderia
Mostrar o quanto quer quanto é capaz,
E nada mais se vendo em tão tenaz
Desejo aonde nada mais veria
Senão tolo cenário em poesia
Marcando o meu caminho em tom mordaz,
Vestindo a fantasia da emoção
Apenas bebo a sorte e sei que irão
Tocar outros cenários, pensamentos,
E neste desenhar em tom diverso
O canto se rendendo gera um verso
E nele outros dispersos elementos.

519

Não deixe que haja em nós tal desafeto
Nem mesmo a caricata solidão
E neste dia claro de verão
O sonho noutro sonho em paz repleto,
A vida se permite e se completo
Caminho para as glórias que virão
Transcende ao quanto pude em direção
Ao meu desejo mesmo o predileto,
Resumo minha vida em verso e luz
E neste desvendar o que produz
Em profusão são risos, nada mais,
Moldando cada rito em brevidade
O tempo com certeza não degrade
Nem deixe mais partir nossos cristais.

520


A gente valoriza algum momento
Envolto em tempestades, temporais
E neste desenhar pudesse mais
Do quanto na verdade me alimento
Seguindo cada passo, o sentimento
Expondo novamente rituais
E neles outros dias desiguais
Permitem o que agora em paz eu tento,
Vencer os meus anseios e seguir
Vestindo esta esperança que há de vir
Dourando o dia a dia em face clara,
Liberto o coração já nada algema
E a voz se refletindo num poema
O todo em plenitude se escancara.



521

Assim as coisas são no dia a dia
O tempo não permite qualquer queda
E sendo desta forma já se enreda
O canto noutro espaço e se recria,
Vestindo o quanto resta, hipocrisia
Palavra sem sentido tanto seda
E neste desenhar tolo envereda
O quanto se transforma em vã sangria.
O amor em consonância pode além
E quando se mergulha e logo vem
A redenção enorme em tal cenário,
O passo rumo ao farto já se dando
E o mundo noutro sonho bem mais brando
Traduz o quanto amar é necessário.


522


Se obedecermos tudo no final
Talvez ainda veja qualquer luz,
E quando o meu cenário assim compus
O mundo não trouxera o ritual
E neste navegar ganhando astral
O risco de luar transita e o pus
No quanto a poesia me seduz
Vagando entre destinos, bem ou mal.
Refém de cada verso, o pensamento
Aonde o meu delírio ora fomento
Transcende à própria vida: eternidade.
E neste desvendar um passo trago
Marcando com ternura um senso mago
E nele toda paz agora invade.

523

O coração sozinho em noite escura
Vagando sem sentido ou direção
Marcando novos dias que virão
Com toda esta incerteza onde amargura
E a sorte desenhada em vã procura
Expressa novamente o mesmo não
E neste desejar jamais verão
Olhares onde possa haver a cura.
Insana magnitude em clara luz
O quanto do delírio eu me propus
Cerzindo com palavras, pensamento
E bebo com certeza esta beleza
E sigo mansamente a correnteza
Aonde noutra face eu me alimento.

524

De tanto que sofri a vida inteira
Desgastes são comuns e nada além
Do medo e da verdade me contém
Aonde noutro instante o todo eu queira,
Amor já não seria mais bandeira
E o olhar tão sorrateiro com desdém
Traçando a fantasia de um refém
Marcando a queda em plena ribanceira;
Navego pela insânia do improvável
Caminho aonde nunca fora arável
O tempo de sonhar e de viver,
E assim ao me entregar à solidão
Os dias tão temíveis que virão
Somente transitando em desprazer.


525


Por isso, minha amada a vida traz
Momentos tão diversos, mas sublimes
E quanto mais deveras tu estimes
Maior o encantamento se é capaz.
O passo noutro instante pertinaz
E nele novos dias tu redimes
Ousando com palavras quando rimes
Amor com plenitude em tom audaz.
Esgueiro-me nos antros do planeta
Nos guetos e nas ânsias, me arremeta
Tentando desvendar cada pegada
E neste meu delírio, o ser poeta
No todo quanto posso já completa
Cerzindo dentro em mim outra alvorada.


526

Quem me dera ter olhos onde eu visse
O todo ultrapassando o impertinente
E o risco se mostrando já apresente
A vida muito além desta mesmice,
O quanto do vazio, na crendice
Um passo sem destino se alimente
E gere novo dia prepotente
Trazendo tão somente esta sandice;
Cerzindo com palavras a promessa
Do tempo quando em paz já recomeça
Ousando muito mais do que o desejo,
Assisto ao tão sublime delirar
E neste cais meu barco há de ancorar
No dia mais feliz que ora prevejo.


527

Esse sol que jamais se põe além
Alimentando esta alma de um poeta
E nele minha vida se completa
Deixando para trás o que inda vem.
Mergulho e vou liberto, sem refém
E o risco noutro tanto já repleta
Minha alma numa lua predileta
E neste desenhar tudo convém.
Assíduo navegante do passado
Quem sabe possa ainda ver futuro
E quando mais distante me amarguro
Vistoriando o corte em vão legado
Esbarro nos meus antros e me anseio
Num pleno caminhar em devaneio.


528


Depois de tanto tempo solitário
Cansado desta luta, totalmente
O passo noutro enredo inda que tente
Traduz o sentimento de um corsário,
A cada novo dia um adversário
Marcando com a fúria plenamente
E quando uma saída ainda invente
A morte se mostrando atrás do armário.
O rumo transgredindo uma conduta
A vida noutro instante não reluta
E corta os próprios pulsos, suicida.
Vacante dentro em mim uma esperança
O quanto sem destino esta alma cansa
Marcando com terror a leda vida.


529

Nem perceber sequer a minha queda
Marcada com o medo e tão somente,
No quanto cada passo se apresente
Somente o mesmo nada agora enreda,
E quando no vazio se envereda
A sorte traduzida em vã semente
O ocaso de minha alma se pressente
E neste desenhar já nada seda.
A vida noutra face se revela
Sobrando tão somente o anseio e a cela
Masmorra aonde adentro neste instante
A fúnebre presença deste caos
A vida não permite mais degraus
E ao cadafalso entregue doravante.

530

Andando pela vida sem destino
Vagando entre mil becos sem saída
Assim vou prosseguindo a minha vida
Enquanto na verdade desatino,
O quanto do futuro eu determino
Ousando noutra face, despedida,
A sorte sendo assim em paz urdida
Permite ao coração ser mais menino.
O tempo não destrói o quanto ceva
Presença da alegria mais longeva
No peito enamorado ou mesmo até
Marcado pela estância mais sublime
E neste caminhar tanto redime
Moldando o meu delírio em rito e fé.



531

Tramando tantos sonhos o infantil
E sem juízo, torpe coração
Não sabe dos momentos que virão
Nos quais; novo cenário não se viu,
O canto em discordância já se ouviu
E o passo rumo à farta solidão
Marcando o dia a dia desde então
Num ato mais feroz e sei sutil,
Ausenta dos meus olhos luz imensa
E quando noutro fato a vida pensa
Grassando sem limites raro espaço
O quanto ainda tenho dentro em mim
Traduz o meu caminho e sei que vim
Buscando outro cenário, agora escasso.


532


Neste chão em que pisava
Coração aventureiro
Noutro tempo por inteiro
Hoje imerso em medo e lava
A palavra sendo escrava
O caminho é derradeiro
E se tento algum canteiro
Outra história ali se agrava,
Resumindo cada ponto
Neste errático cometa
Onde a vida me arremeta
E cerzindo o que hoje apronto
Navegando em mar sombrio
Qualquer sonho é desafio.


533


Eu buscava o meu amor
Nas entranhas da saudade
Ao sentir o redentor
Caminhar em claridade
Bem mais alto ainda brade
Quem se fez encantador
E no fundo a realidade
Rouba a cena e furta a cor.
Novamente busco ainda
Onde nada se deslinda
Outra messe noutro instante,
E o meu passo traiçoeiro
Já não vê qualquer ribeiro
Num estio doravante.

534


Quando agora te encontrei
Depois desta luta imensa
Todo amor sempre compensa
Quando dita clara, a lei
E se tanto mergulhei
Nesta sensação imensa
Onde o sonho teima e pensa
Num caminho em rara grei,
Vasculhando num segundo
Todo o amor eu me aprofundo
Inundando o coração,
Meu cinzel propaga em gozo
Um cenário majestoso
Escultura em precisão.


535


Quando sei que estás aqui
Tudo em mim volvendo ao tanto
Onde posso e me garanto
Depois quanto já sofri
E; portanto, tendo em ti
O caminho sem espanto
Novo rumo eu adianto
Nele amor eu concebi.
E se resolutamente
Minha vida nada mente
Segue em paz e claridade,
Outro canto mais feliz
Traduzindo o quanto quis
Com certeza tanto agrade.


536


Tu surgiste qual oásis
Num deserto sem tamanho,
E deveras sempre trazes
A ventura feita em ganho
E se tanto são audazes
Os caminhos onde entranho
O meu mundo dita em fases
O que trago desde antanho,
Na verdade sou tão teu
E também sei serás minha
O meu canto se perdeu
Onde o teu agora aninha,
Sendo o céu amargo e breu
Quando amor enfim não vinha.


537


Eu passei a descobrir
Noutro enredo minha vida
Desde quando o meu porvir
Nesta glória repartida
Aprendendo a traduzir
Eu vislumbro uma saída
E se tento o que há de vir
Minha messe bem urdida,
Nada levo do abandono
Nem sementes do vazio
Quando em ti da paz me adono
Outro tanto desafio
Vou bebendo em raro abono
Cada gota deste rio.


538


Quando amor; vieste assim
Sem perguntas nem aviso
Outro passo mais preciso
Dominando o meu jardim,
No cenário que sem fim
Desfraldando o Paraíso
Bebo à farta deste gim
Perco todo o meu juízo
Cercanias reluzentes
Entre tantos belos prados
Outro dia também tentes
Deixe as mágoas nos passados
E os caminhos pertinentes
Devem ser já desbravados.


539


Vigorosa primavera
Dominando o coração
E vivendo esta estação
No verão já nada espera
A verdade se tempera
Num segundo de emoção
E decerto além virão
Outros tais, matando a fera
Resumindo em verso e canto
Cada passo eu te garanto
Traz a imensa liberdade
Neste fausto posso ver
Minha vida em teu prazer
Nesta luz que em paz invade.

540

Este amor diverso e forte
Dominando cada sonho
Onde todo o meu aporte
Num instante ora componho
E se ali penetro e enfronho
Outro rumo, novo norte
Poderia ser risonho
Este encanto que conforte,
Sem saber de algum tormento
Calmaria eu quero e mais
No desejo que alimento
Deixo fora os temporais
E se posso ou mesmo tento
Nos teus passos meus cristais.



541

Quanto tempo eu poderia
Noutro fado ou mesmo neste
O que tanto percebeste
Gera em mim a calmaria,
O nefasto dia a dia
Num momento concebeste
E se tanto me envolveste
Cada verso moldaria.
Nada tenho de mim quando
O meu mundo transformando
Novamente em luz ou fado,
Resoluto caminheiro
Lavo os olhos, meu canteiro
Novamente em paz regado.

542


Não me julgues; por favor,
Cada passo pode ser
Bem diverso do querer
E nem mesmo muda a cor,
Vendo a estrada se compor
Novamente pude crer
No caminho a se tecer
Com ternura e sem rancor,
Vislumbrando outro cenário
O meu canto qual corsário
Já não deixa nada em paz,
Sigo aquém do que pudera
Atrapalho mesmo a fera
Que deveras, tão mordaz.



543


Sertanejo coração
Bebe a lua a cada instante
De outros tempos que virão
Nada mais busca ou garante
Vou tentando em violão
Um acorde dissonante
Entregando-me à paixão
Neste tanto doravante,
Sem temer qualquer tropeço
Sigo em frente e nada aquieta
O meu sonho, quando o teço
Ouso até pensar poeta
A verdade é que mereço
Onde o sonho se completa.

544

Nada julgo nem o jugo
Eu suporto, camarada,
Minha vida diz do nada
Onde tanto em vão me enrugo,
E se posso e não mais sugo
O caminho em vaga estada
Noutra face desenhada
A vertente onde me alugo.
Esperando qualquer chance
O meu passo sempre avance
Sem temer novo motim,
Vou bebendo cada sonho
E se tanto recomponho
Renascendo dentro em mim.


545


Tantas vezes eu errei
E percebo a ventania
Dominando a minha grei
Muito além do que eu queria,
Ao vestir a fantasia
Na verdade fui teu rei,
Mas o mundo não traria
O que tanto imaginei,
Vou cevando uma esperança
E teimando contra a fúria
Deste passo que se lança
Sem saber qualquer penúria
O meu medo em temperança
Superando esta penúria.


546


Tanto quanto foi demais
O meu risco quando eu vi
O meu mundo imerso em ti
Sem saber de novo cais
Entregue nos vendavais
O caminho resumi
Na palavra que insisti
E nos ermos magistrais
Consonante vida e queda
Outro passo não mais pude
Ao mudar minha atitude
Nada mais já se envereda
Marco a minha juventude
Quando a vida o sonho veda.


547


Minha sina a ser cumprida
Nos desvios da emoção
Vou bebendo da paixão
Procurando uma saída
Resumindo a minha vida
Nesta infausta imprecisão,
Outros dias não verão
O que possa em despedida,
Resultando deste caso
Meu amor já não tem prazo
Vivo plena e intensamente,
Na verdade me consolo
Adubando em paz o solo,
Com carinho e plenamente.


548

Quando amor se fez encanto
Noutra cena mais sutil
Tanta coisa se previu
E deveras eu garanto,
Na verdade não me espanto
Tendo o passo tão gentil
O cenário em paz se abriu
Rumo claro sem quebranto
Mergulhando no meu ego
Muito além teimo e navego
Sem saber de qualquer porto,
Onde quer que eu vá em frente
Novo dia se apresente
Com ternura e com conforto.

549

Quantas vezes tropeçando
Pela vida sem descanso
Onde agora em paz me lanço
Num momento bem mais brando
O caminho desde quando
Outro rumo quero e avanço
Traça em mim farto remanso
Em delírio desenhando.
Nada resta do que fora
Alma tanto sofredora
Neste instante bebe a paz,
Ao cerzir com tal clareza
Das tormentas segue ilesa
E se mostra mais audaz.


550


Tantas vezes me feri
Ao pensar em liberdade
No caminho, na cidade
Noutro instante ou desde aqui
O resumo eu descobri
Quando a festa toma e invade
Nada enfim inda degrade
Este amor que vive em ti,
Restaurando o meu anseio
Nada mais eu devaneio
Mergulhando agora em paz,
Numa essência tão suave
Coração libertando ave
Voa livre e o sonho traz.


551


Quando a vida já se estenda
E traduz feliz momento
Onde quero e me fomento
Solidão não mais que lenda,
O cenário se desvenda
E produz como um fermento
Alegria e sentimento
Muito além de uma contenda.
Resultando deste caso
Tanto sonho quanto aprazo
Com delírios num instante
O meu canto em sintonia
Traz o quanto poderia
E do todo me garante.


552

Tantas vezes nesta vida
Procurei felicidade
Quando a sorte eu vi perdida
Pelos becos da cidade
Novo tempo, a paz ungida
Traz enfim a claridade
E decerto resolvida
Este brilho agora invade,
Coração em poesia
Noutro tanto poderia
Desfilar eternamente,
Mas a vida continua
E bebendo inteira a lua
Outro rumo se pressente.


553

Versos tento quando vejo
Um cenário tão bonito
Muito mais do que um desejo
Neste sonho eu acredito
E se posso em azulejo
Já não quero este finito
Caminhar onde prevejo
Gelidez de algum granito,
Sendo a vida multiforme
O caminho se transforme
Num cenário de bonança
Sigo aberto o coração
Novos dias tomarão
Onde o medo agora avança…


554


Resoluto comandante
Dos meus ermos mais profundos
Os meus dias vagam mundos
E se trazem doravante
O caminho mais distante
Noutros tantos vagabundos
Em permeio aos mais fecundos,
Outra sorte se garante.
Resultando da esperança
Onde a vida em aliança
Traça novo amanhecer,
E meu passo não se cansa
Entranhado em confiança
Sabe ao fim terá prazer.


555


Nada quero do abandono
Onde a vida me traria
Tão somente a tez sombria
Em terrível desabono,
Vasculhando assim me adono
Desta imensa fantasia
Onde tudo poderia
Ter no olhar um novo dono,
Esperança dita a regra
O meu passo agora integra
O cenário inteiro teu,
E sabendo desta sorte
Novo canto me conforte
Quando a paz se concebeu.


556

Quantas vezes for preciso
Eu terei no meu olhar
O mais claro paraíso
Onde eu possa navegar
E se tanto em prejuízo
Esta vida me mostrar
O que quero mais conciso
Noutro rumo irei tocar,
Sendo assim liberto o sonho
Quando o tanto em mim componho
Nada mais eu temeria,
Tendo a sorte do meu lado
Vou cerzindo o meu legado,
Numa estrela bela e guia.

557


Trovador quando enamora
Já não teme qualquer peso,
Conseguindo vou ileso
Neste tempo onde se aflora
Poesia sem demora
Caminhando enquanto preso
Sem saber qualquer desprezo
Neste intento já se ancora.
Resoluto marinheiro
Neste encanto derradeiro
A sereia me domina,
Da incerteza do futuro
Outro porto eu me asseguro
E não seco nunca a mina.

558



Resoluto navegante
Enfrentando a fúria e o mar
Nada pode derrotar
Quem deveras se agigante
No passado e doravante
Onde tento navegar
Sei do porto a se mostrar
Numa fúria, num rompante,
Meu saveiro enfrenta as ondas
E se tanto ainda escondas
Noutro ponto irei te ver
E cerzindo a minha história
Sei além desta vitória
Explanando-se em prazer.

559


Nada mais quero na vida
Do que o riso da morena
A verdade assim acena
Noutra face resumida,
O meu passo diz saída
Quando a sorte se envenena
E se tanto a quero amena,
Novamente em paz urdida,
Venceria qualquer fúria,
Mas não posso em tal penúria
Desenhar o meu futuro,
Quero a sorte vicejando
E um caminho bem mais brando
Onde amor tenho e asseguro.


560


Trilhos novos, novo canto
E o meu rumo se traduz
Na certeza desta luz
Onde bebo e já me encanto,
A tristeza então espanto
E se nisto ora me pus
O caminho que seduz
Novamente quero e tanto.
Resumindo a minha dita
Na verdade onde palpita
A certeza de um sorriso,
Vasculhando dentro em mim,
A saudade diz motim,
Mas liberto, ao paraíso.




561

Murmúrios misteriosos noite afora,
Momentos entre angústia medo e gozo
O quanto parecia tenebroso
Num ato mais sublime já se aflora,
Mecânicas diversas, majestoso
Delírio que o prazer num antegozo
Vislumbra ao mesmo tempo pedregoso
Numa ânsia sem igual, toma e devora.
Insânia de quem ama ou mesmo tenta
Vencer em calmaria a virulenta
Ausência de quem tanto desejara,
As tramas se entrelaçam: riso e pranto
Ao abrir meus umbrais dor e quebranto,
Vazia novamente esta seara...

562


As névoas se entornando em noite fria,
Ocasos dentro da alma; de quem sonha
E quanto mais meu rumo ali se enfronha
Maior esta incerteza, vã, sombria.
E o tempo na verdade traduzia
A vida muitas vezes enfadonha
E neste caminhar onde eu me ponha
A sorte não será nem mais seria.
Vasculho pelos cantos, nada veio,
Somente o meu passo atroz e alheio
Adentra a madrugada e cerzi a dor.
Nefasta realidade afasta a luz,
Uma esperança ao nada me conduz,
O tempo do meu ego, um refletor.


563


Espiritualizando o quanto sinto
Entranho neste mar de trevas, vejo
Aquém do que pudesse algum desejo,
O mar em cujo vórtice eu me tinto.
O sonho; há tanto tempo exposto e extinto,
O passo que pudesse noutro ensejo
Deveras sem razões aonde andejo
Amortalhado e quieto, por instinto.
Vestindo de ilusões há tantos anos
Agora tão somente desenganos
Errático caminho se deslinda,
E a noite dentro da alma já não cessa
Sonega o que inda fora uma promessa
E o passo no vazio ora se finda.


564

Ruídos envolvendo a noite em trevas
E nada mais se ouvindo senão isto
Qual fosse um crocitar e quando insisto
Ao nada após o nada, ali me levas.
As horas doloridas, meras, sevas
E os passos onde vejo e inda persisto
O risco de sonhar consiste nisto
E mesmo contra a fúria ainda nevas.
Espúrio passageiro da agonia
O olhar ao mesmo tempo se perdia
E nada traduzindo uma esperança
A noite segue assim, dura e sombria
Aonde houvesse luz e fantasia,
O olhar já tão cansado não alcança...


565

De todos os lugares ouço a voz
De quem se foi há tanto e não voltara,
Domina totalmente esta seara
Melancolia em tom diverso e atroz,
Qual fosse o ressurgir de velhos nós
A noite que pudesse ser bem clara
Agora noutro tom já se prepara
Gerando outra tormenta logo após.
Vencido pelos erros de um passado
Aonde nada tendo por legado
Apenas mergulhando em tom sombrio,
E quanto mais reluto e vejo o fim
Minha alma inconsolável num motim,
Ao ermo deste instante eu desafio.


566


Num desespero imenso, a vida segue
Traçando em poesia o quanto pude
Viver ainda em mansa juventude
E o nada após o nada assim prossegue,
O quanto do meu ermo se navegue
Mostrando inconsistência em atitude
Moldando o que deveras desilude
Cansado neste instante, estou entregue.
E resolutamente nada resta
Senão a mesma face onde funesta
A vida renegando alguma chance
Esbarra nos meus ermos e se posso
Vencer qualquer caminho; eu sou destroço
Que ao pântano somente ora se lance.


567


A tênue paisagem dentro em mim
Redunda do vazio de onde trago
A falta de esperança e se me alago
O manto se desfaz; nada no fim.
Pudesse da esperança um estopim,
Porém o dia a dia atroz eu drago
E a cada nova ausência um novo estrago
Marcando este cenário de onde eu vim.
Restando dentro da alma a cicatriz
Medonha e lacerante, que ora impera
Aonde acreditei em primavera
Inverno tão somente o quanto quis
Uma alma ensimesmada, quieta e brusca,
Somente alguma messe ao fundo, busca...

568


Desesperadamente eu poderia
Alçar novos caminhos, mas não há
E o todo procurado desde já
Mergulha nesta face mais sombria,
Vibrando dentro da alma a poesia
Que um dia noutro rumo levará
A voz tão temerosa e mostrará
O quanto na verdade não havia.
Resumos de outras eras, outros tempos
E neles entre tantos contratempos
Mergulhos sem defesa, nem preparo,
A sorte se transforma em pesadelo,
E o mundo quando posso enfim revê-lo
As portas do vazio, eu escancaro.

569


No fosco desta névoa que ora expressa
Minha alma tão sedenta e agora morta,
O passo noutro rumo não me exorta
Senão ao quanto pude em vã promessa,
E o caos se produzindo sempre apressa
A imagem desdenhosa e semimorta
E quando a luz deveras tanto aborta
Apenas o vazio recomeça.
Bebendo a mesma tétrica aguardente
O quanto do não ser já se apresente
Marcando com terror o dia a dia,
E assim ao mergulhar em turvas águas
Também fétidos sonhos tu deságuas
E a morte a cada instante moldaria.

570


Suspenso pelo anseio de um momento
Alçando cordilheiras, nada tenho
Senão este desejo mais ferrenho
E a treva traduzindo cada intento,
O quanto não consigo e me alimento
Da espúria solidão enquanto venho
E a cada nova queda, eu me detenho
E tento prosseguir; apenas tento.
O todo se esvaindo num vazio,
O passo contra a enchente, eu desafio
E sei do meu naufrágio noutro instante,
Por vezes me levanto e nada vejo,
Somente a solidão num mesmo ensejo
Sustento da alma estúpida garante.



571


Nuvens tomando o céu onde pensara
Haver a claridade e a necessito,
Embora noutra face o mesmo rito
Diversa tempestade se prepara,
E quantas vezes; quis a noite clara
Tomando como bênção o infinito
E agora com terror não acredito
No tempo que diverso eu esperara.
Assim mais um momento em sortilégio,
Talvez pudesse ter o privilégio
De um dia mais suave, mas nem isto,
Ao ver outra tormenta sem bonança
Meu passo no vazio já se lança
Sinceramente, agora, enfim. Desisto.


572

A luz em movimentos tenebrosos
Espalha sobre mim o tom sombrio
E neste desenhar ora desfio
Os dias tão somente pedregosos,
Os passos noutros ermos, dolorosos
E o canto mais atroz expressa o frio
E neste navegar em turvo rio
Os dias são doridos, caprichosos.
Vencer os meus constantes dissabores
Seguir sem nada mais ainda opores
E crer que alguma foz possa inda haver
Bruxuleantes raios tomam céu,
E sigo sem destino, vago ao léu
Sem nada nem resquícios, inda a ver.

573


Um gélido começo em transição
Transmite o meu cenário ao que virá.
E sendo desta forma aqui ou lá
Os dias noutros tantos morrerão,
E a sorte desairosa desde então
Deveras noutro tom não tomará
E o rústico delírio desde já
Domina qualquer passo ou decisão.
Negar a minha sorte? Não mais posso,
Caminho pelas sendas qual destroço
Escombros do que um dia fora vida
E assim sem mais perguntas sigo em frente
E bebo cada infausto que apresente
Apenas aguardando a despedida.


574


Aberto o meu olhar sobre horizonte
E nada mais se vê; somente o vago
E neste desenhar ainda trago
O quanto cada verso desaponte,
Mergulho no vazio, infausta fonte
Marcada pela angústia, ledo estrago,
E o passo noutro rumo, quando alago
Expressa este cenário onde se aponte
O rústico desenho em tons diversos
Tocando com terror os universos
Dispersos caminheiros do futuro,
Errático cometa que impreciso
Nas ânsias deste vão me martirizo
E apenas a mortalha eu asseguro.


575


Amor às divindades mais escusas
E nelas entranhando a cada fato,
O quanto do meu erro ali resgato
Enquanto noutra face tanto abusas,
As horas são deveras mais confusas
A poluída tez deste regato
E o canto noutro rumo; se desato
Conflito com meus passos, velhas musas.
Edênicos caminhos; não conheço
A cada novo passo outro endereço
Vendido como fosse solução,
Não quero mais seguir, ledo cordeiro,
Do meu canteiro sou o jardineiro,
Havendo ou não sequer a floração.


576


Aberto o coração enfrento a fúria
Dos donos da verdade, tolos, ledos,
E quando desenhando desenredos
Preparam tão somente a vaga incúria,
Não quero cada olhar feito em penúria
Nem mesmo desvendar tolos segredos
Futuro bem na ponta dos meus dedos,
Meus medos não passando de lamúria.
Hermético cenário no futuro,
E quanto mais em vão qualquer procuro
Apenas vislumbrando a terra e o vão,
Escravizado agora pelo tempo
Esbarro no vazio e o contratempo
Traduz o quanto quis ou mesmo não.


577


Abrindo o meu caminho ao que pudesse
Vencer os meus anseios tão humanos
Aceito seres claros, soberanos
E neles acredito na benesse,
Mas não da forma tola em que se tece
Puídos pelo tempo, velhos panos,
E neste tantos erros, desenganos
A vida noutra vida se entorpece.
Sutis as várias faces deste deus
E nele não desenho os olhos meus
Tampouco os meus anseios: sordidez,
Desnudo-me apenas do desejo
E assim me aproximando, agora vejo
Da etérea divindade a mansa tez.


578


Pudesse mais amar ao ser que tanto
Trazendo um ar nefasto ao arrebol
Desfruta com angústia o mesmo sol
E neste desenhar gera o quebranto,
Pudesse ter além do eterno espanto
Um brilho mais audaz, tenro farol
E marcharia em frente sempre em prol
Do mesmo desenhar onde o garanto.
Não vejo a minha face refletida
Na fúria muitas vezes incontida
De quem se faz herege e tão atroz,
Pedindo então clemência por enganos,
Acumulando a vida em tantos danos,
Aos poucos silencio a minha voz.


579


Ao me sentir em paz, ora embebido
Das ânsias mais audazes e talvez
Deixando para traz o que não vês
Nem mesmo ainda faz algum sentido,
O passo noutro rumo decidido,
A sorte se resume em altivez
E o quanto do passado, insensatez
Já não traduz sequer algum ruído.
Vencer os meus anseios e seguir,
Tentando caminhar e no porvir
Presumo outros instantes tão iguais,
A face decomposta da verdade
A cada novo instante mais degrade
Gerando ao fim somente vendavais.


580



Caminhos onde a luz pôde entranhar
Deixando para trás a escuridão,
E nesta verdadeira procissão
A vida se transforma em raro altar.
O quanto se é possível, pois, amar
E crer no que inda houvesse em salvação
Traçando novos dias que virão
Após o decompor e o transformar.
Assim eu poderia ter a sorte
Que tanto a quem mais crê, sempre conforte
E aporta para um novo amanhecer,
Mas quando me desnudo em frente espelho
O turvo caminhar e só me engelho
Sentindo pouco a pouco o esvaecer...


591


No caos a cada dia desenhado
Oásis de esperança se distando
O quanto desejara desde quando
O mundo noutro tempo demonstrado
Resumo meu delírio e se me enfado
Mergulho neste quadro e mesmo infando
O dia a dia vejo transtornando
O pouco que me resta em vão legado,
Revolvo das entranhas cada parte,
Ideias diferentes, sonho parte
Buscando pelo menos um alento
E neste delirar sem mais perguntas
As almas que pudessem andar juntas
Em rumos tão diversos, vou sedento.

592


Ao ver o quanto pude ou mesmo quis
Depois de tantas lutas contra o nada
A sorte noutra senda enveredada
E o risco se deixando por um triz,
Mentiras entre várias; cicatriz
De um tempo mais audaz, onde alvorada
Transforma cada instante e destilada
A sorte não presume novo bis,
Bisonho passo rumo ao desvario
E quando tento além eu não desvio
O passo rumo ao vago aonde enfronho
Meu canto sem sentido e sem ventura,
Porquanto a dor em mim tanto perdura
Gerando outro caminho tão medonho.


593


Quedado frente à luta onde não pude
Sequer imaginar qualquer saída,
Aos poucos esperança já perdida,
Nem mesmo qualquer luz em magnitude
Adentrando o vazio, desilude
O passo sem saber nova guarida,
A sorte noutra face desmedida
O risco de sonhar em plenitude.
Respingam dentro da alma dores várias
As horas tantas vezes temerárias
E nada do que eu posso inda traduzo,
O canto novamente mais confuso
Jazendo noutro infausto, tão somente
A vida sem caminho se apresente.

594


Perdera há muito tempo a minha sorte
Vestida em negritude, em tom brumoso,
A porta onde pudera majestoso,
Já não me cabe mais, mal me comporte,
E o tanto que buscara inútil norte
No rito quantas vezes doloroso,
Cenário se mostrara pedregoso
E neste desenhar já sem aporte.
Fortalecer meu sonho aonde um dia
Não mesmo tanta luz eu poderia
E quando vicejasse a primavera
A morte se trazendo em tez sombria
Matando o que inda resta em poesia,
E apenas em vazios degenera.


595


Cedendo aos mais diversos, vis prazeres,
Resulto deste engodo a cada passo
E quando noutro instante eu me refaço
Distante do que tanto conheceres
Verás a mesma face em vários seres
E neste delirar faltando espaço
O rumo noutro tanto não mais traço
Vagando sem destino em vãos poderes.
Resumos de medonhas noites vãs
Sem ter sequer noção de outras manhãs
O infausto desenhar desvenda a face
Atroz e nela nada mais pudera
Ainda quando viva esta quimera
Que a todo instante volta, doma e grasse.




596



Aos poucos o caminho se perdendo
Em meio aos meus diversos desalentos
E quando me entregando aos vários ventos
Minha alma não passando de um adendo,
O rústico delírio quase horrendo
Tocando os mais doridos pensamentos
E nestes se desenham sofrimentos
Aonde novo tempo eu não desvendo.
Restauro os meus enganos e os consumo
Enquanto na verdade ledo fumo
A vida não se permite qualquer trama
Gerando uma esperança sem proveito,
Os ermos deste infausto, enfim aceito
E a sorte noutro lado não reclama.

597


O corpo entregue aos sonhos, delirante
Vestindo esta promessa onde não via
Sequer a menor sombra em poesia
E o passo noutro rumo não garante
O quanto pude crer num diamante
Marcado pela tez de uma ironia
Seguindo contra a fúria a cada dia,
O todo noutro engodo, fascinante.
Reparo cada passo noutro e tento
Fugir do que me resta em sofrimento,
Vagando pela angústia de não ser,
E tanto quanto pude novo enredo,
Apenas ao vazio eu me concedo,
E nada mais deveras posso ver.


598

Nuvens entre tantas luzes; vejo
E sei do quanto em fúria o tempo traz
O passo mais alheio e contumaz
Desenha noutro instante o mesmo ensejo,
Apenas vislumbrando este azulejo
E nele outro caminho mais tenaz,
A vida na verdade satisfaz
Quem pensa tão somente num lampejo,
Mas quando se procura muito além
Do quanto em realidade já contém
A queda se anuncia sem defesas,
Minha alma não sacia sua sede
Saudade morta exposta na parede
Os dias são terríveis correntezas.


599


Olhando para o céu reflito esta alma
Vacante sem destino em noite escusa,
A sorte desdenhada se entrecruza
E nada mais deveras inda acalma,
Resumo noutro intento esta procura
E sigo vez por outra em luz diversa
A porta se travando, nada versa
E trama tão somente esta loucura.
Pudesse acreditar em novo dia
E nada mais do quanto fora outrora
Na face desdenhosa desancora
Marcando a minha vida em agonia;
Espaços entre os sonhos, meramente
A vida nada traz e sim, só mente.

600

A dor rondando a face de quem tenta
Seguir outro caminho e nada vendo
Persiste neste infausto quase horrendo
E toda a paz se verte em vã tormenta,
Aponta-se o delírio e dessedenta
O rústico delírio onde envolvendo
Com trevas o cenário onde desvendo
A parte que me cabe virulenta.
Restauro os meus demônios e os anseio
Vivendo muita vez em devaneio
Ansiosamente nada se produz,
Ascendo às mais terríveis vastidões
E nelas tua face; agora expões
Roubando o que inda houvera em mera luz.


601


Soltando ao infinito um novo brado
Aonde nada mais se pode ver
Sequer ouvir a voz de algum prazer
Ternura toma aos pouco tal traçado,
E vejo a cada passo onde me enfado
Mergulho neste infausto e posso crer
Na angústia desenhada e tento ter
Algum alento além do meu passado.
E sinto outro cenário se mostrando
E quantas vezes busco um sonho brando
Embora nada exista neste intento
Eu sigo sem destino em volta à luz
E o quanto deste pouco me seduz
Deveras quando posso o reinvento.


602

Meu grito se dilui numa distância
Diversa da que posso imaginar
Vagando sem destino e sem parar
Procuro qualquer paz, qualquer estância
E o verso se transforma em discrepância
Marcando em tom sombrio o caminhar
Vestindo a mesma sorte a divagar
Negando com terrível virulência.
Esqueço os meus anseios mais profundos
E nego a persistência em toscos mundos
Enquanto prosseguindo resoluto,
Invisto o meu delírio neste vão
E sei dos tantos erros que virão
E mesmo assim, cansado ainda luto.

603

Um pássaro liberto em céu imenso
No quanto posso mesmo e me confesso
A sorte noutro enredo e sigo avesso
Ao quanto poderia e não mais penso,
Rascunho da esperança aonde intenso
Desejo se moldando e se tropeço
Resolvo cada engodo enquanto meço
Meu passo; pelo quanto o recompenso.
Escusas não resolvem erros tantos
E nestes desenhares desencantos
São velhos companheiros, nãos os nego,
E o quanto pude crer e nada havia
Sequer a menor sombra da alegria,
Transcende ao que pudesse em rumo cego.


604

Seguindo por seguir sem mais respostas
As horas entremeiam dor e enganos
E quando se percebem rotos panos
As faces entre tantas decompostas,
Ao quanto não permites e inda gostas
Os riscos se mostrando em tantos planos
Somando os meus delírios, desenganos
As sortes noutras sendas são apostas.
Respaldos de momentos mais felizes,
Embora a cada passo nega e dizes
Apenas do vazio que virá,
Eu creio noutro fato e neste crer
A vida pode mesmo algum prazer,
Mas sei o quanto pude aqui ou lá.


605


Gritando ao infinito o quanto rude
Desenho se fizera de quem ama,
A vida não mantendo a mesma chama
Ao mesmo tempo dana e desilude
Punindo com terror a plenitude
Restando novo enredo em velha trama
E o cais já se ausentando não reclama
O barco noutro rumo ou atitude.
Espúrias noites bebo em solidão
E sei dos desenganos que virão
Traçando novo enfado aonde eu quis
A sombra mais ditosa da esperança
O passo novamente já se cansa
E o quanto se presume, por um triz.


606


Deitando nestas margens, rio além
A vida não permite navegar
As ânsias onde tanto quis vagar
O resto na verdade não contém,
Seguindo minha sorte em tal desdém
Pudesse novamente procurar
As sendas onde tanto quis luar
E apenas tempestade ainda vem.
Espero alguma luz onde não há
E o risco se desenha desde já
Marcando em ferro e fogo, a pele inteira
E nada do que eu posso se transforma
No quanto a própria vida toma a forma
Da dor deveras rude e verdadeira.


607


Se pavorosamente a vida traz
Momentos tão diversos vida e morte
O quanto deste infausto nos conforte
Transcende ao que pudesse mais capaz,
Resumo todo passo aonde audaz
A vida não pudesse ter um norte
E neste desenhar talvez comporte
Apenas o que tanto fui tenaz.
E sinto desvairada e tensamente
A sorte noutra face e sempre mente
Marcando a ferro e fogo a fantasia,
Assim o mesmo enredo em discordância
Gerando novamente esta distância
Sabendo que ao final nada haveria.


608


Na privilegiada noite imensa
Deitando sob a lua em raro brilho
Enquanto as esperanças eu palmilho
A vida noutra face recompensa,
Gerando o que pudesse em voz intensa
O coração deveras andarilho
Marcando com ternura aonde eu trilho
O tanto quanto quero se compensa.
Vestígios de um passado dentro em mim,
Cenário se desnuda em vão festim
E gera este motim onde sacia
A marca mais tenaz diz esperança,
Mas quando na verdade sem fiança
A morte se transborda em ironia.


609

Abandonando à sorte totalmente
O quanto pude crer e não havia
Somente a mesma face em agonia
Do amor que um dia quis mais envolvente.
O rústico desenho se apresente
E nele cada tom ecoaria
Marcando com ternura a poesia
E nela se presume o ser descrente
Que tanto quis apenas um sorriso
E quando noutro tom eu me matizo
Expresso a solidão de quem amara,
Vestindo este cenário em tom mordaz
A vida na verdade nada traz
Senão aprofundando a imensa escara.


610


A solidão invade e sem defesas
Uma alma se entregando a cada passo,
O rumo dentro em pouco já desfaço
E neste caminhar sortes ilesas,
Vagando sem sentir as correntezas
O canto noutro rumo ora desfaço
E o peso de viver toma o compasso
E neste desenhar somente presas...
Nada do que eu pude acreditar
Ainda poderia me tocar
Rendendo um novo dia após a queda
E o risco de viver se aprofundando
Quisera alguma paz que até se enreda
Gerando outro cenário. Atroz, nefando...


611

A vida me entranhando em tom ardente
Não deixa qualquer medo nem anseio
E quando neste tanto devaneio
A ausência de quem quero não se sente,
E o vento se transborda em envolvente
Delírio aonde com certeza inda rodeio
Vagando sem sentido até alheio
Ao todo que mostrara imprevidente.
Espalho a minha voz e busco além
Resposta quando muito me convém
Ditando outro cenário em minha vida.
O caos onde se fez a sorte e o medo
Transcorre enquanto ao sonho eu me concedo
E bebo a mesma senda presumida.


612


Uma alma desgraçada pelo nada
Exposta aos vendavais e neles bebo
O quanto na verdade não concebo
E busco noutra face, enveredada,
Seara sem destino, destroçada
E o quanto deste sonho é vão placebo
E neste desenhar tanto percebo
O fim enquanto busco nova estada.
Restauro meus anseios numa queda
E apenas o vazio se envereda
Aonde quis além de mero ocaso,
O risco de sonhar já não presume
A sorte que desdenha e ora se esfume
Enquanto uma ilusão; em vão, aprazo...


613


O padre que reclama o prejuízo
Causado pela tal pirataria
Ao Pai com muita grana já vendia
Querendo algum lugar no Paraíso,
Decerto neste enredo o mais preciso
Demonstra a tão dorida hipocrisia
Enquanto Cristo em vão prostituía
Demônio disfarçado em tal sorriso.
Depois ao proclamar seu evangelho
Que traz à própria cruz o escaravelho
O rapineiro espúrio se constata.
Assim vendesse a Mãe num lupanar
Dinheiro com certeza a se fartar
Ao menos noutra imagem bem mais grata.


614


Uma águia abandonando a sua presa
Deixando para trás mera figura
No quanto do vazio se assegura
Causando no final farta surpresa,
Enquanto se presume a correnteza
E nesta face escusa outra procura
No infausto caminhar tentando a cura,
A morte se deslinda em sobremesa.
Negar o novo enredo aonde eu pude
Sagrar com mais ternura à plenitude
Ocasionando a queda aonde um dia
Vencera os meus anseios e, portanto
No quanto novamente eu me garanto
A senda se transforma em ironia.


615


Minha alma serpenteia pela casa
Espera, numa espreita rotineira
E quando noutra face já se esgueira
O passo com certeza e em vão, atrasa.
O risco de sonhar, decerto embasa
O quanto poderia e na certeira
Flechada desenhada, a verdadeira
Faceta que deveras tanto abrasa.
Meu verso se renega a ser assim,
E gera dentro em pouco outro motim
Marcando com terríveis tons audazes
E nele quantas vezes fui capaz
De ver o meu anseio enquanto o traz
Tramando corriqueiras, ledas fases.


616


O espaço onde se trança o passo e o rumo
Espreitas tão diversas na tocaia
A vida com certeza já se espraia
E neste delirar eu me resumo.
O quanto da esperança é mero fumo
E o vento noutro fato não distraia
Quem tenta renovar e já se traia
No engodo tão somente aonde aprumo.
Respaldos de outras eras mais sombrias
E nesta caminhada desafias
Os erros costumeiros de um poeta,
Esbarro nos meus erros e persigo
O fato de buscar somente abrigo
Aonde nada mais tenta e completa.


617


Espaços concorrendo em tom sombrio
O vento não sacia quem procura
Vencer a tenebrosa noite escura
E neste desenhar eu desvario.
Restauro o quanto pude e desafio
Errático caminho nega a cura
E a porta se transborda em amargura
Levando ao contra-senso o ausente rio.
Escuridão nesta alma onde pudesse
Traçar outro momento em meio à prece
Da qual já não conheço nem metade,
A vida noutra via se perdendo,
O sonho transformando num remendo
O quanto pouco a pouco me degrade.


618


A noite se esfriando dentro em mim,
Vestindo uma promessa que ilusória
Jamais reverteria a leda história
Tramando desde agora inteiro o fim,
De todos os meus erros, o estopim
Marcando a cada passo em vã memória
O farto desenhar leda vanglória
Traçando o quanto pude ou nada assim.
Resvalo nos meus erros, meu anseio
E quando a solidão enfim rodeio
Gerando outro cenário agora impune,
O cântico sonhado se desdenha
E nada do que posso trama a senha
Aonde cada passo nos desune.


619

Minha alma tanto triste quão vazia
Não deixa qualquer sombra do que eu fora,
Somente a mesma imagem sonhadora
Que agora pouco a pouco não veria
E sinto tão somente esta ironia
Deixando para trás a redentora
Paisagem onde nada promissora
A história noutra face se recria.
Expresso com ternura alguma luz
E quando novamente reproduz
A face escancarada da verdade,
O peso sobreposto ao quanto eu quis
E tento mesmo sendo este aprendiz
Ao qual a noite espúria adentra, invade.


620


Pudesse ser feliz ao menos quando
O mundo se descerra em tom diverso
E sinto quanto mais audaz o verso
O risco noutro infausto me tomando,
Espero algum instante atocaiando
Gerando o que pudesse mais perverso
E sigo neste tom e já disperso
Meu passo quantas vezes relegando.
Um gole de café, outro cigarro
E o quanto do que tenho desamarro
E levo para além do pensamento,
Cerzindo em solilóquio meu caminho,
No quanto ou no vazio se me aninho
Algum momento em paz, ainda invento.



621


Vem...
Posso sentir teu desejo
Roçando e lambendo minha pele
Tal o mar à areia
Num ritmo delicado e deleitoso;
Quanto mais ouso contigo sonhar,
Mais perto de ti quero estar,
Quero um tempo preguiçoso,
Momento manhoso
Onde possa te amar...

Regina Costa


Podendo simplesmente amar demais
Sem medo do que venha em dor e pranto,
O sonho a cada instante mais garanto
E neste desenhar vivo até mais,
Sentindo como fossem temporais
As águas desabando e me agiganto
Enquanto novo sonho eu sei, portanto
Querendo noites raras, magistrais,
Decifro teus anseios, seios, lábios
Os dedos e os desejos, loucos, sábios
Desvendam sem fronteiras muito além
Do quanto pude ou mesmo poderia
Vencer a imensidão com galhardia
Traçar farto delírio que amor contém.

622


A vida desenhando trevas traz
O canto doloroso de quem ama
E busca renovar a imensa trama
E nela novamente se conduz,
Errático desenho em contraluz
A farta decisão já não reclama
E o passo gera apenas novo drama
Marcando com delírio pedra e cruz.
Espero novamente outro momento
E nesse caminhar não me contento
Invisto contra a fúria de um passado
Resolvo cada engano de outra forma,
E quando a própria vida me deforma
O tempo se presume abençoado.


623


Não deixo enferrujar a minha pena
E apenas vou cumprindo a minha parte
Destrate, sem a peça não há cena;
Bela Helena ditou, de Troia, a sorte.

Alguma pena registrou tal fato forte
Eis a história transmitida sem antena
Melenau, Agamenon, agem sem pena.
Páris roubou Helenae e teve a morte.

Pela beleza da mulher todo atrito
Uma guerra entre gregos e troianos
Melenau faz Heitor dar último grito...
Um cavalo e uma guerra de dez anos.

Deve à pena a viajem da história
Que no papel perpetua sua memória.

Josérobertopalácio

A história se repete a cada instante
E deste desenhar um fato homérico
Ao quanto se pressente em vão quimérico
O tempo em mesma face se adiante,
Batalhas entre tantas, doravante
O risco de sonhar, um rito histérico
O templo atroz e vil, também ibérico
Império Inca num ato degradante.
Renova-se deveras traição
E neste desenhar a Terra gira
E marca com terror cada mentira
Marcando a sangue e ferro a geração,
Infaustos repetidos trazem na alma
A imagem que nem mesmo a morte acalma.

624


O beijo mais maldito e traiçoeiro
Esgares da esperança em tal anseio,
E quando qual falena a luz rodeio
O tempo se transforma e ali me esgueiro,
Vestindo com terror cada canteiro
O medo noutra face eu incendeio
E quantas vezes tento em devaneio
O risco desenhando em vão tinteiro.
Avanço sobre as hordas mais ferozes
E sei dos meus demônios, meus algozes
E bebo a saciar o sangue em frascos,
A morte se redime em nova vida
E quando se apresenta esta ferida
Os dias repetindo os vis fiascos.


625


Minha alma se sacia com desejos
Embora tão distantes sonho e fato,
No quanto em devaneio me retrato
Vivendo delicados, tais ensejos.
E sei dos meus anseios, azulejos
E neste caminhar tanto resgato
Gerando em mansidão novo regato
Marcado com delírios mais sobejos;
A boca não beijada me sacia
E toma por inteiro a fantasia
Gestando imensidade mesmo vaga,
E nesta ambiciosa maravilha
A sorte se desenha enquanto trilha
Na plena divindade, em ti, se alaga.


626


Em ânsias tão diversa me debato
Lutando contra a fúria da paixão
E sei dos meus enganos e verão
Olhares tão somente um ato ingrato.
Vestindo a fantasia não resgato
O peso de uma falsa sensação
Marcada com terror esta ambição
E nela sem saber eu me retrato.
Espero qualquer luz após a queda
E o passo noutro instante se envereda
Causando outro tormento mais atroz,
Resplandecente noite em tom suave,
Apenas um delírio onde se agrave
A sorte mais temida em leda voz.

627



Minha alma se perdendo sem sentido
Esbarro nos meus erros e presumo
A vida como fosse o supra-sumo
E neste desenhar de tudo olvido,
O passo noutro intento repartido
Errático cometa eu perco o rumo
E bebo o quanto posso e me acostumo
Ao nada desenhado e resumido.
Meu verso se embatendo com a luz
Medonha que deveras reproduz
Esta enfadonha face desregrada
E nela novamente me sacio,
Vencendo o quanto posso em desvario
Marcando em sortilégio cada estrada.


628


Pavorosa tempestade; agora eu vejo
E nela se desenha o fim somente
Enquanto outro caminho em vão eu tente
A morte se transforma num lampejo
E o risco de sonhar tomando o ensejo
Relega ao já não ser qualquer semente
E apenas o vazio se apresente
Marcando com terror velho verdejo.
Escuto este marulho e sei diverso
O rumo aonde agora, infaustos, verso
E bebo sem sentido alguma luz,
Insisto e sei que nada ao fim virá
E morto o meu desejo desde já
A treva tão somente se produz.


629


Me explica, por favor, por que tu somes?
Me deixas ficar só com o pensamento
Sem ti sou argamassa sem cimento
Te escondes em qual dos codinomes?

Nas conjunções dos verbos dos pronomes,
Sem ti não moldo meu entretenimento
És tu quem ao meu pensamento da os nomes
Mas insistes em sumir todo momento.

Proponho-te então ser mais amiga
Eu sei que é comum existir briga
Sei que nem sempre o mar está pra peixe.

Não seja omissa, querida, não me deixe.
Vem me ajudar fazer canções e versos.
Oh palavra! Vamos compor sucessos.

Josérobertopalácio
Procuro a cada instante quem deveras
Já não conhece mais os meus caminhos,
Embora sejam tristes e daninhos
Expostos aos terrores, duras feras,
Além do que decerto ainda esperas
Trazendo no meu passo tais espinhos
Os dias se apresentam mais sozinhos
E neles mortas-vivas primaveras.
Essências delirantes do passado,
Agora noutro rumo, um mal traçado
Desenho que esperança poluíra
A vida sem sentido sem te ter,
O risco de sonhar e de sofrer
Apenas meramente uma mentira.

630



Faz o bem sem fazer economia
Leva alegria onde houver coração!
Nunca diz não; age com simpatia
Faz do teu dia uma fonte de emoção.
Usa a razão pra tocar tua energia!
Seja mania tu atenderes a um irmão,
Tua gratidão irá brotar um dia
E a alegria dará à tristeza a mão.
Sem olvido, faz com que o bem supere o mal,
Age assim e não procure ser notado,
Sem pedir muito obrigado ou coisa igual,
Irás te sentir sempre um abastado.
Faz o bem, da de ti com alegria
Faz do abraço um pretexto, vai, sorria!
Josérobertopalácio
A vida refletindo o quanto espalhas
E neste desenhar se faz presente
O quanto da alegria se pressente
Vencendo com ternura as vãs batalhas,
No fogo quando muito, tais navalhas
Noutro cenário a sorte mais descrente
Não deixa algum momento onde apascente
Gerando tão somente dores, falhas.
Mas quando se bendiz algum sorriso
O tempo se transforma e o prejuízo
Resume-se ao vazio e a luz se trama,
Moldando com brandura aonde resta
Deixando para trás qualquer tempesta
Trazendo rara bênção sobre o drama.



631

Esquece a frase, ouve o que não digo
Pois não ligo se escutas o que falo
Não me calo e deixo ao verbo o perigo,
Sigo pondo u’a palmilha neste calo.
Se entalo vez em quando pago
Alto preço como forma de castigo
Digo sempre: meu verso é de estalo
Igualo-o à riqueza do mendigo.
Persigo no teclado o que não queres
Me feres ao dizer que não me escuta.
Filhos de puta os meus versos? Sou o pai!
Falai! E os teus banquetes sem talheres?
A trilha às vezes é reta, às vezes torta,
Te importa com teu grito e eu com meu ai.
Josérobertopalácio
A sorte se ditando em vária face
Ao mesmo tempo trama e logo esquece
Assim também a vida em tal benesse
Aonde no vazio ainda grasse,
E o quanto o dia a dia gera, impasse
Noutro momento chega e se obedece
Vestindo o que pudera ou já pudesse
O risco novamente nos desgrace,
Resulto deste engodo e sei que vou
Sozinho nesta lida e se entranhou
A vida noutro instante a quero e mais.
Invisto o meu delírio em solidão
E sei da mais diversa direção
Ousando desvendar momentos tais.

632


Eu não falei pra ti que sou poeta
Nem sou atleta pra correr atrás do verso
O livro que tentei não fez sucesso
E não ouvi acorde na sonata.
Só sei que a poesia não é chata
E onde estiver eu comprarei ingresso;
Sempre peço de uma forma tão pacata
Que acesse meu contexto não conexo.
Meu acesso é à palavra natural
E ao verbo complicado, pá de cal.
Os versos seguem entre argumentos e fatos.
Exatos, duvidosos, eu os encaixo
E qualquer obstáculo é sempre baixo.
Meus sonhos de poeta, sempre natos.
Josérobertopalácio
O verso singra o quanto desejar
Sou mero traficante destas frases
E nelas outras tantas tendo as bases
Num rápido e diverso mergulhar,
Entranho vez em quando outro sonhar
E neste desenhar tanto me trazes
Em riscos muitas vezes mais audazes
Ou noutro enredo tento navegar.
Esqueço cada tempo após a queda
E neste meu delírio a vida enreda
E seda esta seara mais augusta,
E quanto o tempo trama outro momento
Do nada vez em quando me alimento
Palavra dentro da alma não se incrusta.


633



Uma fonte inesgotável de prazer
Faz erguer o astral, não sai de moda
Forma tesuda de sorrir e de gemer!
Me diga: o que é melhor que uma foda?
Toda energia pelos poros a ferver,
Podes crer que é uma luta abençoada
Seja de dia, noite, ou, madrugada
É a mais bela das jornadas do prazer.
Nela os homens se confundem com os bichos
E os caprichos à volúpia se esvaem...
Aos que traem: espinhosos carrapichos!
E nos esguichos da porra, diga quem
Não geme sem ter dor, mesmo no coito...
Como é gostoso molhar o biscoito.
Josérobertopalácio
A sorte desenhada há tantos anos
Presume insaciável meu desejo
E quando noutra senda eu já me vejo
Os dias são deveras soberanos,
Apenas meus anseios sendo humanos
Traçando noutro corpo este lampejo
Mergulho sem defesas e prevejo
Os ritos mais sublimes, mesmo enganos.
Resplandecendo em mim eternidade
No instante quando o corpo noutro invade
Gestando nova vida ou esperança
E assim enquanto a sorte dita o rumo,
No gozo mais supremo eu já me esfumo
Após a doce lida, a noite amansa...


634


Meu corpo te procura mesmo quando
Distante dos meus verso te pressinto,
O quanto dominando e nunca extinto
Traduz o que deveras nos tocando,
Restauro cada passo e me entranhando
Na teia aonde sei quanto este absinto
Expressa o delirar e agora eu sinto
Meu sonho no teu sonho enveredando,
Presumo o delicado anseio e o gozo
Sobejo e tantas vezes majestoso
Gerado por somente consonância
E nada mais impede este caminho
Imerso neste anseio e em ti me aninho,
Mal importando até qualquer distância.


Para AMG

635

Prostrado junto a ti, num novo instante
A vida não permite mais o sonho
Diverso do que trago e se risonho
O mundo noutra face é degradante
Porquanto cada passo se adiante
Ao quanto mais desejo e até proponho
Vislumbro tão somente o que componho
Num ato tantas vezes inconstante.
Verdades absolutas? Não conheço,
Virando o meu caminho pelo avesso
Resumo em verso e paz o quanto pude,
Vivenciando a estrada mais sombria
O passo noutro rumo se daria
E neste desenhar, a plenitude.


636


O beijo morto da audácia em dor
E o caos gerado após o medo em fúria,
Ao menos retratando esta penúria
O quadro se mostrara sem se opor.
Reparo cada anseio em multicor
E bebo tão somente esta lamúria
E nada do que possa em tal incúria
Gerando outro desenho em furta-cor.
Revivo a todo instante o monstro aonde
A vida noutro esgar já corresponde
E trama sem sentido ou direção
Marcando em sangue frio, carne viva
A porta não se fecha e já se priva
Dos sonhos que deveras não virão.


637


Os lábios entremeiam gozos, medos
E assisto ao passear dos sonhos quando
O risco se assumindo e exterminando
Caminhos muitas vezes tolos, ledos,
E sei das variantes dos enredos
E nestes meus demônios recriando
O quanto se perdera em fogo brando
E agora sem terror gera segredos.
Expresso com ternura o que puder
E o corpo desejado da mulher
Insaciável tez em fogo e glória
Reverte cada passo rumo ao tanto
E quando novo dia eu mal garanto
A vida repetindo a mesma história.


638



Teus versos vão entrando em mim
Como as águas do Grand Canyon,
A calmaria engana e de repente
Vem a enxurrada;
Atordoada e paralisada,
A catarse percorre o leito das
Profundezas de mim
Num longo e lento
Processo de erosão...
Misto de emoção, encanto e paixão...

Regina Costa

Adentro-te deveras com o gosto
Sutil e delicado em raro altar,
Vislumbro a cada instante o navegar
Ao máximo desnudo e agora exposto,
Sentindo a maciez de um manso rosto
O quanto se permite imaginar
Numa erosão diversa a nos tocar
Meu corpo no teu corpo recomposto.
Assédios delicados da emoção
E deles novos prumos se verão
Gestados na nudez em corpo e em alma
Num delirante sonho a correnteza
Sabendo e se fartando em rara mesa,
Aonde este banquete nos acalma.

639


Em noite sempre tépida eu caminho
Buscando a mera sombra da emoção
E sei que mesmo sendo uma ilusão
Meu passo rumo ao teu eu encaminho
E visto o quanto eu posso, se daninho
Transitando entre o sim bebendo o não
As horas mais difíceis nos verão
Gerando com ternura um claro ninho.
Mesquinhas madrugadas solitárias
E nelas outras tantas procelárias
Vagando sem destino, rumo e prumo.
Ao ver este cenário em torpe tez
O quanto do desejo se desfez
Enquanto ao mesmo tempo já me esfumo.


640


Fugindo de mim mesmo, tanta vez
Pensara em ter somente algum alento
E quando novo cais; adentro e invento
O quanto poderia se desfez
O rito transtornando a lucidez
Entregue sem sentido ao forte vento
Reúno o quanto posso em sentimento
E neste desenhar ainda crês,
Vestígios de outras eras dentro em mim,
A fúria se transforma e no estopim
Apenas acendendo a ingratidão,
Mordaças; não suporto e sem algema
A vida se espraiando nada tema
Nem mesmo as tempestades que virão.

641

Amar-te além do quanto poderia
Sagacidade exposta em cada sonho
Na plenitude aonde me proponho
Até mais que a existência caberia,
E renovando assim em todo dia
Um mesmo caminhar e nele enfronho
O passo rumo ao tanto e me componho
No etéreo desenhar em fantasia.
Num expressão deveras insondável
O manto noutro manto renovável
Fecundo todo passo com teus rastros
E gero novamente um raro amor
E neste eterno rito a me propor
Vagando muito além dos vários astros.


642

Quisera estar contigo neste instante
Amiga e companheira ao teu dispor
A par deste teu verso inebriante
Sorver o vinho de melhor sabor.

Viver a fantasia do momento
Magia que a palavra nos permita
Deixar fluir sem rédea o sentimento
Falar do teu convite que me excita.

Rimar contigo, sempre, o bom da vida
Contigo caminhar despreocupada
Sonhar com o reverso dessa estrada

Fazer um verso desta paz sentida
E outros que retratem a leveza
Que estar contigo geram... Quê beleza!

ANA MARIA GAZZANEO


Num êxtase sublime em verso e luz
Mecânica sobeja em ritmo audaz
E assim somente a ti serei capaz
De ter outro momento onde eu me pus
Inteiro ao teu dispor e reproduz
O quanto em majestade o sonho traz
Mostrando um novo tempo e sou capaz
Ao me entranhar em ti o éter produz.
Entregue sem defesa ao sentimento
E neste delirar raro provento
Aonde se vislumbra a eternidade,
Viceja dentro da alma o que alimento
E sirvo-me de fato e em tal vontade
O todo neste instante doma e invade.


643

A vida noutro instante traduzindo
O quanto pude ou mesmo até tentara
A sorte desvendando esta seara
Num passo muitas vezes quase infindo,
Resumo noutro enfado e tento e brindo
Vencendo o quanto além já se prepara
E o farto dentro em mim, pois semeara
Um rústico cenário, claro e lindo.
Aprendo com meus tétricos enganos
E sei quando puídos velhos panos
Remendos dentro da alma redimissem
Enquanto os mesmo fardos que carrego
A vida preparando outro nó cego
Bem mais do que deveras permitissem...


644


Na dolorosa essência num sol-pôr
O passo se transforma totalmente
E a noite quando muito se apresente
Moldando outro caminho em desamor,
Vieste noutro instante e o redentor
Anseio doravante também mente
E quando a morte em vida se pressente
Apenas do que eu vira; um refletor.
Expresso com ternura ainda alguma
A sorte se transtorna e já se escuma
Vagando pelas praias do desejo.
A morte noutro intento se aproxima
Gerando a tempestade rio acima
E o corte noutro intento ainda vejo.

645


A noite se deitando em tanta estrela
E nada dentro em mim ainda brilha
A sorte preparando outra armadilha
Apenas de soslaio posso vê-la.
E quando novamente um tom sombrio
Adentrando o vazio aonde esbarro,
Acendo inutilmente outro cigarro
E o tempo na verdade desafio,
Resumo à morte e nada mais recolho
Senão a indecisão talvez, o nada,
E quantas vezes nua a madrugada
Traduz o que inda resta: algum restolho.


646


A lágrima rolando em minha face
Traduz o quanto resta deste sonho,
E o medo novamente; aonde enfronho
Não deixa que outro rumo em paz se trace,
O peso desta vida provocasse
Ao menos um caminho mais risonho,
Mas quando me envolvendo em enfadonho
Desenho apenas morte se provasse.
O tédio resumindo em verso e medo,
O quando do meu tempo em vão concedo
Na busca de respostas e não tenho
Senão a mesma espúria e caricata
Louca expressão aonde se retrata
Arisco atroz cenário, em vão ferrenho.


647


A lágrima trazendo a rara estrela
Viceja no meu rosto e tão somente
Transcende ao que deveras tanto mente
E nada noutro embate a convertê-la.
O passo rumo ao fim, apenas isto
E neste desenhar um verso triste
Seguindo tão inútil vai, persiste
E quando me aproximo já desisto,
Expresso a realidade de meu tempo
Vazio e sem cenários multicores
Aonde trafegares sem te opores
Apenas vislumbrando contratempo,
Hedônicos delírios, falso guizo
Sem ter outro caminho, eu me matizo.


648


Se pavorosamente a vida traça
O rústico desenho caricato
De quem noutro momento mal resgato
Envolto tão somente em vã fumaça,
A sorte sem destino ainda grassa
Resíduo de outro tempo e me retrato
No falso caminhar, onde noutro ato
Pudesse desejar ainda a praça,
Mas quando se percebe a insanidade
E o pouso noutro caos ainda brade
Regendo o quanto pude e não soubera,
Ao menos disfarçando algum sorriso,
Vencido pelo medo mais preciso,
Gestando dentro em mim a imensa fera.


649


Um sofrimento imenso e nada mais
Assisto à derrocada e nada tento
Senão meu velho ocaso em pensamento
Bebendo outros momentos, meus varais,
A sorte se transforma e neste cais
O canto não passando de um lamento,
Minha alma se tomando num momento
Em novos desvalidos rituais.
Resumo passo a passo o que deixaste
E o todo transformado em mero traste
Apenas resta agora em tom sombrio,
Meu cálice partindo nada brinda
O todo se transforma e mais ainda
Somente este não ser ora desfio.


650



Habito a minha dor e dela eu faço
O rumo e nele vejo o meu futuro
Do nada que deveras me asseguro
Regendo cada instante em ledo espaço.
O sonho se transforma e mesmo escasso
No quanto poderia e não conjuro
Mergulho no vazio e me procuro
Não vendo nem sequer mínimo traço.
Esbarro nos meus medos e descubro
O olhar que tanto quis agora rubro
Vencido pela angústia em solidão,
Deveras outra sorte mereceria,
Mas como quando envolto em agonia
Eu sigo os torpes dias que virão.



651


A lua se desnuda em noite imensa
E adentra sem perguntas meus umbrais
Quarando minha sorte nos varais
E o tempo noutro tempo recompensa.
A sorte muitas vezes já convença
Quem quer ou mesmo anseia muito mais
Apenas fantasias se formais
Não valem o caminho onde se pensa.
E sigo sem defesas pela noite
A cada novo passo aonde acoite
A vida sem pensar um só momento,
E nisto se presume uma esperança
Enquanto a noite em mim agora avança
Meu canto se espalhando solto ao vento.


652

Adentro sem defesas meu outono
E a vida se transforma plenamente
Apenas um inverno se pressente
Depois eternamente ledo sono,
E neste caminhar se ora me abono
Dos ermos de um passado espuriamente
Perdido entre cenários, prepotente,
Restando ao meu olhar, mero abandono.
Espalho a minha voz e tento um canto
Somente que pudesse redimir
Sabendo do vazio de um porvir
Regado noutra face em desencanto
Esgueiro-me entre tanto vis cascalhos,
E os dias se aproximam, são retalhos.


653

A carne se gerando em carne e gozo
Num átimo refaz a velha história
Trazendo desde já leda memória
E neste desenhar tão pedregoso,
O quanto quero e mesmo caprichoso
Viceja dentro em mim a merencória
Noção de outro momento em medo e glória
Embora muitas vezes majestoso.
Restauro cada passo rumo ao farto
Até que no final eu me descarto
Da pele que recobre uma alma vã,
E sei do meu sombrio e torpe fim
Regando com meu sangue este jardim
Talvez reflorescendo no amanhã.

654


Palavra reina sobre minhas mãos
E toma este teclado já de assalto
E quando noutra face, o sobressalto
Expressa novos rumos, todos vãos,
Espero renascer em novos grãos
Ou mesmo noutro encanto, num ressalto
E cevo minhas flores neste asfalto
Os sonhos são deveras artesãos.
E nada do que eu possa ainda exprimo
E tanto quanto posso em lodo e limo
Esgarço em versos tantos, mesma voz,
Sagrando cada engano, mera incúria
E sorte noutro traço diz penúria
Meu canto já se fez o meu algoz.


655


Saltando sobre o nada, espúria rota
E nela se transforma a melodia
Marcando com terror o quanto havia
E nada nem o fim a vida nota.
Esgrimo inutilmente e neste fato
O peso se transborda e nada leve
Apenas o momento audaz e breve
Aonde mal e mal eu me retrato
Esbarro nos meus erros e prossigo,
Vencido a cada ausência em tom sutil,
O quanto do vazio se previu
Traduz o que procuro em ledo abrigo
Humanamente nada existe após
O lodo se tornando a minha foz.


656


Autênticos caminhos entre os tantos
Marcados pela incúria e tão somente
A vida na verdade sempre mente
Gerando novamente tais quebrantos,
E neste desengano os desencantos
Transformam qualquer dor numa semente
E o quanto da esperança se desmente
Gestando meramente vagos cantos.
Resplandecendo apenas o vazio
Aonde noutro intento eu desafio
Errático desvio em meio às pedras
E quando vês a face entorpecida
Marcando com terror a minha vida
E neste delirar também tu medras.


657


Um rastro tão somente espúrio e ledo
Arcando com meus erros costumeiros
E nada que cevasse em tais canteiros
Pudesse traduz onde eu procedo
O rumo na verdade desde cedo
Já não traduziria os derradeiros
Cenários muitas vezes verdadeiros
Em cada novo corte; um desenredo.
Escolho os meus demônios e os devoro
No fundo aonde posso e me apavoro
Apenas por saber do nada após,
Resumo enquanto esfumo lentamente
Ainda que deveras busque e tente
Em solilóquio cismo em branda voz.


658


Poetizar a vida; algum detalhe
Apenas e no fim a sorte traça
O quanto em mim resume tal fumaça
Ainda quando a sorte me retalhe,
O barco noutro cais agora encalhe
E o risco se transforma na trapaça
E neste desenhar tanto desgraça
Apenas outro rumo tente e falhe.
Esgueiro-me decerto entre os vazios
E sinto a cada passo os desvarios
De quem se fez presente mesmo quando
O mundo noutro rumo se tomando
Matando com terror os lentos rios
E apenas no final me transbordando.


659


Imprecisão domina cada verso
Aonde pude até acreditar
No quanto de beleza diz luar
Vagando sem sentido, este universo.
E sei que enquanto luto e me disperso
O farto se transforma e ao se mostrar
A vida não permite mais sonhar,
Raiando noutro passo mais perverso,
Esgueiro-me deveras e consisto
No quanto poderia crer e nisto
A sorte se amortalha noutro ponto
Medonha noite; emirjo em tom mordaz
E o todo prometido se desfaz
Enquanto nova sorte eu quero e aponto.


660


Eu quero tão somente a voz macia
De quem se fez bem mais do que me coube
E sendo quando a vida ainda roube
Sem perceber sequer o novo dia,
Atravessando assim cada deserto
Apenas conseguindo em sal e sol
O risco de morrer sem um farol
E neste delirar não me desperto.
Anseio por respostas, nada veio
Somente o mesmo olhar medonho e triste
E quando mais audaz o mundo insiste
Maior a tempestade e vou alheio.
Resumos de outros erros num engano
O passo sobrepondo ao velho dano.


661


Os poemas que são meus
Noutros temas envolvidos
Bebem sempre dos olvidos
Revolvidos entre os breus
Presumindo novo adeus
Onde outrora quis libidos
Erros tantos cometidos
Olhos torpes, vis e ateus.
Resumindo cada fato
Nada mais saciaria
Quem deveras teve o dia
Noutro tanto e não resgato,
Vasculhando este cenário,
Risco vão, desnecessário...


662


Irmãos aonde a sorte poderia
Traçar novo cenário e nada veio
Somente o caminhar atroz e alheio
Gerando novamente a noite fria,
O verso numa espécie de magia
Conduz ao mais diverso e devaneio
Vagando sobre o tanto sem receio
Enquanto bebo à farta a poesia,
Vestindo o meu fantasma predileto
No tom mais discordante me repleto
Pulsando dentro em mim o novo ocaso
E quando me estranhando em vago espelho
Aos poucos sem remédio já me engelho
E o quanto ainda vem nem mais aprazo.


663


Um homem procurando, vã lanterna
A sorte não sacia quem a tenta
E o risco se mostrando em voz sedenta
A morte se aproxima e a vejo terna,
No quanto a poesia ora se externa
E neste desenhar tanto alimenta
O passo rumo ao nada e me incrementa
Buscando alguma sorte além, e eterna.
Esbarro nos meus erros e prometo
O quanto se fizesse num soneto
Em rimas tão vulgares e comuns,
Dos tantos que procuro e nada vejo
Apenas desenhando o meu desejo
Não trago estes caminhos; sei de alguns...


664


Procuro qualquer porto, uma estalagem
Estâncias mais diversas das que trago
E neste desenhar enquanto alago
O mundo noutro traje perde o pajem
E sei do quanto resta em tal viagem
Vencido pelo insano e imenso estrago
Apenas ilusão teimando afago
E nada mais se pede em vã paisagem.
Esboço reações e nada sinto
O peso de viver é por instinto
Semente se agourando noutro enredo,
E quando vejo a luz, é mero sonho,
O todo que deveras mais proponho
No fundo nada mais tento ou concedo.


665


Os mortos que carrego no meu peito
Pendulam quando tento algum apoio,
E o manto se transforma, colho o joio
E o dia se transcende satisfeito,
Navego noutra fonte e sem meu passo
O roto de minha alma se desnuda,
Assim a sorte atroz leda e miúda
Deveras noutro enfado teimo e traço.
Reparo cada engano e novo tramo
Mesquinhas luzes traçam outro dia
E nada mais deveras poderia
Senão traçar um novo e torpe ramo
Marcando com terror o quanto quis
Tecendo o meu olhar tolo e infeliz.


666


O beijo sonegado, o tempo atroz
A rústica impressão deste vazio
E quanto mais anseio e me sacio
Negando o quanto resta em viva voz,
A tênue fantasia gera o algoz
E neste desenhar sobejo e frio
O manto noutro rumo não desfio
E desafio a sorte em tom feroz,
Restauro com o tempo cada engodo
E sei do quanto resta em charco e lodo
Visível tempestade em voz silente.
No todo quando o quero e nada vem
Apenas do não ser, mero refém,
Que ainda outra saída inútil tente


667


Poetizar o quanto da matéria
Gerasse em nova vida um novo alento
E quando me aproximo e reinvento
A sorte se demonstra leda e séria
O quanto de minha alma em tal miséria
Condena ao mais terrível sofrimento
Expressa o quanto eu tenho, um excremento
Apenas meramente esta vã bactéria.
Açoda-me a impressão do nada ter
E neste mergulhar ao merecer
A sorte dolorosa em frágeis fráguas,
Procuro qualquer brilho mais fecundo
E quando do vazio ora me inundo,
Em outro desenhar tu já deságuas.


668


As lágrimas talvez me fragilizem,
Mas sei quanto sinceras são e tento
Vencer com paz e algum discernimento
Ainda que deveras me matizem.
Embora tantas vezes martirizem
A vida segue em tom mais desatento
Temendo cada queda outro momento
E nela seus enredos contradizem.
Angélica faceta de um demônio
O quanto resta vivo em pandemônio
Desta alma sem sentido e nem razão,
Aprendo com a queda ou mais prossigo
Embora saiba sempre o desabrigo
Dotando os ermos dias que virão.


669


Ardores onde casta; traz o riso
A vida não permite qualquer erro
E quando mergulhando em tal desterro
O passo não se faz mais tão preciso
Apenas no vazio eu me matizo
E vejo o teu retrato além do cerro
E neste desenhar o meu enterro
Gerando outro caminho onde harmonizo.
Granizos dentro da alma, em desalento
E sigo contra tudo, me alimento
De um vasto desejar e nada ter.
Somente a face escusa da verdade
E nela com terror o quanto invade
Matando em nascedouro algum prazer.


670


O barco se transforma enquanto eu sigo
Vencendo as correntezas mais audazes
E neste desenhar tu também trazes
A face mais atroz em desabrigo,
Esbarro no vazio e se eu prossigo
Os dias são temidos e mordazes
Meus passos noutros rumos tão tenazes
Sabendo a cada curva outro perigo.
Atando corpos nus, desejo e messe
Assim nosso futuro ora se tece
Vencendo os desacordos da emoção
E quantas vezes; tendo este ar sombrio
O tanto quanto posso desafio
Sabendo no final o mesmo não.


671

Ouvindo a voz do vento me chamando
Traçando novo tempo aonde o nada
Transmite o mesmo anseio e desvendada
A sorte noutro quadro foge em bando,
Restara muito pouco e desde quando
Esta alameda há tanto, desolada
Traduz o quanto busco e enveredada
Nas sendas do vazio me tocando.
Repastos tão diversos riso e gozo
O quanto se pudera caprichoso
Tormento assinalando a dura queda,
Navego contra a fúria e sei do quanto
A vida noutro enredo não garanto
Enquanto no somente agora enreda.



672


As pedras vão rolando sobre nós
E o quanto em abandono mergulhara
Tornando mais horrenda tal seara
Gerando desde agora a turva foz,
E nada poderia contra o algoz
Marcando a ferro e fogo cada escara
Navalha retalhando torna clara
A face deste ledo amor, feroz.
Adentro as ilusões e bebo cada
Ausência novamente contestada
Hermético desenho em tez sombria,
O manto se transforma e num repente
O quanto do meu mundo se apresente
No fundo nem talvez, mais poderia.


673


A vida não permite qualquer trato
E neste desenhar nada reflito
O quanto sou deveras mais aflito
Transcende ao quanto agora já retrato,
Espalho o meu caminho e não resgato
Além do que decerto eu necessito,
Mas tento cada passo onde acredito
No fundo de meu peito e me maltrato.
Esboço reações aonde o quadro
Mudando facilmente não enquadro
E brandamente invado outro tormento,
Espero qualquer coisa após a curva
Na sorte tão medonha, e agora turva
A morte se aproxima e nada eu tento.

674


O sol tomando todo este cenário
Estático e transcende à própria luz
No quanto ao mais sobejo me conduz
Apenas noutro tempo temerário,
Vagando em pleno dia, este corsário
Somente o quanto bebe reproduz
E o nada se fartando em contraluz
Mergulha o meu caminho em tolo armário.
Esboço qualquer nota aonde eu pude
Manter um ar sereno em plenitude
E deste caos outrora vejo enfim
O quanto ainda resta de alma enquanto
O passo noutro instante mal garanto
E cevo com meu sangue o teu jardim.


675

Apenas aquecendo o verbo enquanto
O parto se renega e nada vem,
O olhar se desenhando em tal desdém
Gerando a cada ausência outro quebranto,
E quando neste instante ainda espanto
O risco de virar mero refém
Do todo quando muito já não tem
E neste desenhar, infausto canto.
Aprendo com meus tétricos tormentos
E neste desenhar velhos lamentos
Não servem para nada, nem pudera
Vestindo o quanto resta de ilusão
Meu passo sem devida precisão
Somente traduzindo esta pantera.


676


O quanto de poético diria
Um mundo aonde nada se respira
Somente o mesmo laivo de mentira
E nele a sorte dita o dia a dia,
A escara na verdade sempre havia
E neste caminhar a antiga pira
Gerando novo incêndio tanto gira
E mata o quanto pude em voz sombria;
Restauro meus anseios e demônios
E tento contra os velhos patrimônios
Erguidos entre falsos e infelizes
Desejos mais audazes; nada resta
Senão a mesma audácia em tola festa
Na qual a cada passo contradizes.


677


A face desdenhosa deste gozo
Marcando com terrível sutileza
Aonde poderia haver a ilesa
Figura nada resta, é pedregoso.
O mundo noutra face temeroso
Gerando outro caminho em vaga presa
Demonstra esta iguaria sobre a mesa
E neste desenhar não proveitoso.
Escassos sonhos ditam o meu canto
E nada mais deveras eu garanto
Senão meu fim em trevas e vazio,
Assíduo companheiro da emoção
Arisco poetar e desde então
Apenas desço aquém do próprio rio.


678


O canto em maquinário se reflete
No tanto quanto resta deste sonho,
O passo rumo ao farto já medonho
Não deixa para trás sequer confete
E ao quanto no vazio me arremete
Trazendo o mesmo anseio tão bisonho
De quem em novo rumo me proponho
E nada se permite ou se repete,
A porta já cerrada impede a vista
E o quanto ainda tento não se avista
Sequer a menor sobra se adivinha,
A vida noutro enredo se desnuda
A sorte desenhada, tão miúda
Decerto não será jamais tão minha.


679


A natureza rege canto e traz
Cenários discrepantes, gozo e dor
E neste caminhar um refletor
Pudesse ser deveras mais audaz,
O canto se transcorre e pertinaz
Permite um novo tempo e aonde eu for
Teimando contra a fúria desta dor
O risco se mostrara mais tenaz.
Vencer os dissabores e poder
Seguir a correnteza e me saber
O tanto quanto posso e mais fiel,
O rumo se desvenda a cada passo
E assim o meu destino agora eu traço
Riscando com terror qualquer papel.


680


A esperança já nada mais traduz
Senão a velha queda em emboscada
A vida noutra face diz do nada
E nisto renegando a própria luz,
Ao farto caminhar já me conduz
Enveredando sempre a mesma estrada
Vacância dentro da alma desenhada
E neste infausto singro a velha cruz,
Exausto navegante do vazio
A praia tão distante deste olhar
Pudesse transferir do céu ao mar
O quanto na verdade desafio
Marcando com ternura aonde estendo
Após o mesmo enredo um novo. Horrendo.


681


O meu mundo desabando
Traduzindo o quanto eu quis
E deveras aprendiz
Num caminho bem mais brando
Outro tanto se moldando
Num cenário aonde atriz
Lua velha meretriz
No vazio prateando
Recendendo à dura sorte
Onde nada me conforte
Nem sequer a claridade,
O tormento me enlouquece
Procurando em reza e prece
O que tanto se degrade.


682


Onde ainda me fiz preso
Não pudera desvendar
Qualquer sombra ou mesmo o ar
E escapar quem sabe ileso,
O caminho mais coeso
Já não posso trafegar
Mergulhando em vago mar
Nada trago sem desprezo
Resumindo a minha lida
Noutra face decidida
Mesmo ocaso caos e dor
Não pudesse timoneiro
Encontrar o derradeiro
Navegar aonde eu for.


683

Tantas vezes fosse minha
O que nunca se daria
Nova sorte em fantasia
No vazio não se alinha
E o cenário se avizinha
Desta infausta melodia
Onde quis uma iguaria
Nada além do mar continha,
Se eu pudesse e permitisse
Escapando da mesmice
Tom diverso ou consonante
Cadafalso eu reproduzo
E se tanto sou confuso
Nada tento doravante.

684

Procurando qualquer classe
Aonde possa ter em mente
O que fosse uma semente
E mostrasse nova face,
O caminho descompasse
E gerando outra somente
Onde a vida esta demente
Gesta nada ou tanto trace,
Resumindo em verso e canto
O delírio onde me espanto
Num delito mais atroz,
A verdade mais sublime
Não consegue e nem redime
O cenário feito algoz.

685


Tantas foram quanto algumas
As palavras insensatas
E se tanto me resgatas
Na verdade logo esfumas,
No vagar aonde rumas
Outras portas não constatas
E decerto inda retratas
Marcas fundas e me espumas.
Ledamente eu quero a festa
E se nada mais contesta
Vigorosa e tensamente
Cais diverso; invisto e viso
E se tanto sem aviso
Nova história também mente.


686


Roupas velhas já puídas
Entre faustos, desenganos
Ao traçar assim os panos
Divagando sobre as vidas,
Encontrando outras saídas
Nas veredas os profanos
Lesam dias, meses, anos
Transformando em vãs feridas,
Resgatando cada engodo
A saudade dita o lodo
Charqueada aonde invado,
E o desenho deste nada
Traz a vida enluarada
E traduz um torpe fado.


687


No caminho aonde vou
Embotado coração
Novamente não verão
Nem sequer o que restou,
Mergulhando enquanto estou
Já não tenho direção
Restaurando este senão
Onde tudo me entranhou.
Esbarrando em cais e queda
Vou pagando o que envereda
No cenário costumeiro,
Pude até ser comandante,
Mas sequer um timoneiro
Tento agora em vago instante.


688


O caminho todo branco
Nevoenta tarde em mim,
Enfrentando outro motim
Pouco a pouco me desanco,
E se fosse bem mais franco
Desvendo este estopim
Desta boca carmesim
Nem um beijo a mais; arranco.
Seduzido ou meramente
Noutro infausto se pressente
O final do meu anseio,
Deste vândalo cenário
Nem um pouco é necessário,
E; portanto, eu devaneio.


689


Pela face desenhada
Noutro imensa garatuja
Onde posso e sei da suja
Farsa escusa deste nada.
Vou levando de lambuja
Outra noite desolada
Bebo à farta a velha estrada
E conheço a dita cuja,
Resvalando em todo engano
Totalmente em vão me dano
E mergulho no cascalho,
Quantas vezes; ledo sonho,
E se nada mais proponho
Vagamente e vão batalho.


690


Onde pude ver a rua
Desenhada dentro ou fora
Do delírio e desancora
A verdade nua e crua,
A saudade sempre atua
E repasta quando aflora
A metade me apavora
Noutra face continua.
Resoluto sonhador
Bebo as tramas de um amor
Desdenhoso e tão sutil,
Quando invento um desacorde
Novo tempo não recorde
O que o velho resumiu.



691

Meu verso se envolvendo em treva e luz
Ao mesmo tempo dita o quanto sinto
E noutro instante nasce por instinto
Ao quanto na verdade reproduz
Minha alma caricata em sangue e pus
E neste delirar tanto pressinto
O fim quando em verdade também minto
Festivo desenhar onde me pus.
Restauro cada passo rumo ao vago,
E neste desdenhar enquanto afago
Os ermos do caminho sem espinhos
Esbarro em solilóquio com os demônios
Gerados como fossem patrimônios
Às vezes em infaustos, mais mesquinhos.


692

No quanto tantas vezes, nada tenho
Senão a mesma inglória do passado
E neste desenhar quando me enfado
Esbarro noutro instante mais ferrenho.
Capacitando o passo em desempenho
Diverso do que posso ou atestado
Durante meus enganos, mudo o fado
E gero novo tempo onde me empenho.
Reparo cada farsa e se me iludo
Pudera ser diverso em quase tudo,
Mas tento desvendar cada segredo
E neste meu instante mais agudo
O passo muitas vezes tão miúdo
Enquanto ao nada além eu me concedo.


693


Esbarro nos fantasmas que criei
E vasculhando bem cada gaveta
Aonde no vazio me arremeta
É lá que procurara minha grei,
Espalho ventania e sorverei
Apenas o cenário onde prometa
A face mais atroz e se; cometa
Deveras noutro dia voltarei.
Respiro com certeza o mesmo ardente
Desenho aonde nada mais se tente
Senão caminhos tortos, nada mais,
E quaro esta esperança em tais varais
Deixando para trás o impertinente
Luar se derramando em meus quintais.


694

Apenas trovador e repentista
Ousando na palavra com constância
E neste delirar em nova estância
O quanto do passado não resista,
E nada mais suporta a já prevista
E velha virulência desde infância
Marcando a ferro e fogo a discrepância
Tentando novamente ser artista.
Alheio ao que pudesse ainda vir
Não quero na verdade presumir
O fato mais edênico ou terrível,
Assim assisto ao fim a derrocada
Da velha e nova noite desenhada
Noutro caminho apenas, mesmo nível.


695


Felicidade mora bem ao lado
Do quanto desejei e nunca vinha,
A sorte que pensara fosse minha
Agora este repasto em novo gado,
E bebo o desvario, meu legado
E nada mais deveras se avizinha
Senão esta falseta aonde a vinha
Produz o mesmo vinho avinagrado.
Escondo-me do fato a cada instante
E neste desenhar, um delirante
Anseio se traduz em novo trilho,
E quando noutro infausto, eu me estribilho
O passo novamente se garante
Marcando com temor o falso brilho.


696


Já não posso saber do quanto pude
E nem sequer talvez ainda o possa,
A vida perpetrando em mim a fossa
Matando o quanto resta em juventude.
Mergulho nos meus olhos, teu açude
E a sorte noutro enfado não endossa
E marca com terror o quanto é nossa
A parte em novo instante ou atitude,
Espúrio cantador da alegoria
Esbarro aonde o nada fantasia
E gera outra semente em falso agouro,
E quando bebo o sol e ali me douro
O todo que pudera não me guia
Num falso desenhar, ledo tesouro.


697


Perdendo desde agora o passo rumo
Ao todo desenhado noutro impasse
E quanto mais deveras avançasse
A vida noutro caos em dor esfumo.
Esgarço cada parte onde resumo
O quanto poderia e não se trace
A morte desnudada em turva face
Tomando este cenário num torpe prumo.
Esqueço cada fase desta vida
E nada mais se vendo tudo acida
E gera outro demônio dentro em mim,
Arrisco qualquer salto e nesta queda
A dita sem destino se envereda
Acende do vazio este estopim.


698


Falar do quanto pude ou nada quis
E trabalhar insânia a cada intento,
No quanto outro caminho ainda invento
Deixando aprofundada a cicatriz,
O manto se desenha em tom mais gris
E neste delirar o meu sustento
Galgando outro caminho em provimento
Ao quanto do passado já desfiz.
Esbarro nos meus erros, costumeiros
E tento novamente outros canteiros,
Mas nada se aproxima do que eu quero,
E quando mergulhando sem defesa
Da própria turbulência sendo presa
Minha alma em tom sombrio, amargo e fero.


699



Protótipo diverso sonho e gozo,
Arquétipos desta alma sem relevo
E quanto mais além ainda atrevo
O passo não se forma majestoso,
O quando do mundo é caprichoso
E nele caminhar não possa ou devo
Sabendo do meu tempo não longevo
O gosto se aproxima pedregoso,
Restauro com meu verso o quanto anseio
E bebo do vazio onde rodeio
Repastos entre tantos sobre a mesa,
A porta se fechando e em conseqüência
A voz já sem qualquer nova evidência
Entrego-me ao sabor da correnteza.


700


Apenas vislumbrando a imensa guerra
Sem ter tréguas sequer no dia a dia,
O canto na verdade não traria
Sequer outra impressão e já se encerra
A vida noutra face se desterra
E marca com terrível ironia
O quanto pude crer em sintonia
E o manto com terror ora descerra.
Vasculho cada ponto de minha alma
E nada do que eu vejo ainda acalma
Quem tanto se entregara ao nada e vira
A face desdenhosa da mentira
Gestando novamente um duro trauma
Aonde cada passo se desfira.


701

Quisera poder ter uma certeza
Do quanto a própria vida traz em si
E neste fato um dia percebi
Quão é difícil mesmo, a correnteza
E vejo tantas coisas sobre a mesa
Expostas como quando a conheci
E desvendando a deusa viva em ti
De todos os anseios, mera presa.
Vestindo a fantasia mais sutil
Aonde na verdade apenas viu
O raro privilégio num segundo
Do todo anunciado sem desdém
E assim a cada instante ainda vem
O todo num cenário em paz, profundo.


702


Assíduo navegante do quem dera
Vestindo outra ilusão, porquanto a nossa
História se transforma e já se apossa
Do quanto ainda tenho em primavera.
A vida se traduz noutra quimera
E neste delirar apenas possa
Traçar o que deveras não endossa
Enganos tão sutis, leda pantera.
A porta se trancando não permite
Que o sonho ultrapassando algum limite
Exploda em dimensões diversas, quando
O pouco que inda resta se desnuda
E o medo quando a vida é tão miúda
No vórtice dos sonhos derramando.

703


Invisto o meu passado no futuro
E nada se percebe aonde outrora
A sorte desejada não se aflora
E o passo é sempre dado neste escuro,
O quanto de mim mesmo inda procuro
E tendo outra emoção já desancora
Na vida mais atroz o quanto arvora
Traduz um dia audaz, mas inseguro.
Escassa luz impede algum clarão
E os dias se repetem, sempre em vão
São meras testemunhas do vazio
Aonde a cada instante tento além
E sei quando diverso sonho vem
E neste caminhar eu me desfio.



704



Um verso que pudesse traduzir
O quanto ainda tento noutro rumo,
E quando o meu caminho desaprumo
Não resta nem sequer o que há de vir,
Marcando com compasso o presumir
De um tempo mais audaz, encontro o sumo
E deste sonho audaz, agora esfumo
Morrendo no tão pouco a se sentir.
Negar qualquer abono a quem se dera
Vestindo a solidão, atroz quimera
Espreitas são diversas, e atocaio
Enquanto me preparo para o bote
O novo desejar logo desbote
Dos sonhos sou apenas um lacaio.


705

Redundo deste infausto corriqueiro
E gero novo tempo aonde um dia
Pudesse transbordar em fantasia
E nada do que traço eu sigo inteiro,
Vestindo esta ilusão qual jardineiro
No quanto a cada instante regaria
A vida com sorriso e regalia,
Mas nada se aproxima, esvai ligeiro.
Causando dentro em mim farta explosão
O medo se transforma em negação
E o caos generaliza intensamente,
O passo regressando ao nada ser
Espalha tão somente o desprazer
E o quanto ainda resta toma e mente.

706


Não pude e nem queria ter nas mãos
O risco acumulado por enganos
A vida em seus momentos mais humanos
Espalha pela senda duros grãos
E nestes dias mortos, ledos, vãos
Os erros ultrapassam; geram danos
Esqueço o quanto pude noutros planos
Embora os ritos sejam artesãos,
Esbarro nos meus erros e percebo
O quanto do desejo diz placebo
E nada pude embora inda tentasse,
Assíduo eu compartilho qualquer sonho
E assim enquanto em vão me decomponho,
Oferecendo ao tapa esta outra face.


707


Ainda quando pude ver o dia
Num átimo um suspiro e nova queda,
O quanto do meu ser em torno enreda
E traz outra expressão bem mais sombria,
Apenas na distância se veria
A face desmedida e nela seda
A sorte quando traça e se envereda
Rasgando a minha noite em fantasia.
Escasseando o passo nada tenho,
Senão da minha sorte um vão desenho
Esgares costumeiros e banais
Aonde poderia ter um riso,
Acumulando dor e prejuízo
Os dias refletindo os vendavais.



708


Não vejo outro caminho senão este
E a vida não repara algum engano,
O quanto se pudesse em soberano
Caminho muitas vezes não reveste
O todo desdenhado; concebeste
E farto delirar de um ser humano
Condena ao mais diverso e até profano
Cenário aonde tudo percebeste.
Não quero trafegar insanamente
Sem ter o que decerto me contente
Incontinente eu sigo além do vago,
E bebo a insanidade noutro instante
Enquanto a própria vida se garante
No errático desenho que ora trago.

709


A lua se desnuda plenamente
E serve em prata imensa ao meu olhar
Resumo neste fausto o delirar
Que trama minha vida e ma apresente
O sonho se moldara e vagamente
Ainda tendo aonde mergulhar,
Espalho o meu anseio num altar
Gerado pela luz plena e potente.
Restauro cada passo rumo ao farto
E quando dos meus erros me descarto
Não pude ter apenas um segundo
Da paz que desejara e nunca vira,
Caminho desdenhoso em torpe mira,
Nos âmagos do nada eu me aprofundo.


710


Um quanto deste assombro em cada face
Descarta novamente um brilho intenso,
E quando em teu olhar ainda penso
Qual mesmo após a morte vigorasse
O tanto mais audaz no qual se grasse
E veja tal cenário, atroz e denso
Gerando outro caminho bem mais tenso
Marcando cada ronda que voltasse,
Esbarro nos engodos e mergulho
No vasto feito em ódio e pedregulho
Marulhos mais distantes; nada levo
Somente alguma luz em lusco fusco
Enquanto no vazio a paz eu busco,
O dia se transforma e sigo sevo.


711


Perdido sem sentido pelas ruas
Vagando a noite inteira em inconstante
Cenário onde busque e me adiante
Sorvendo tão somente tantas luas,
Enquanto pensamento além; flutuas
A vida transcorrendo noutro instante
Diverso de onde o sonho se agigante
Levado pelas mãos que tu cultuas,
Assistimos deveras nosso enredo
Uníssono caminho em ermo e ledo
Desejo de talvez sobreviver
Aos tantos delirares e temores
E sigo cada rastro que ora deixas
As nossas vidas trazem velhas queixas,
Em consonância aonde quer que fores.

712

Ascendo ao quanto pude e não soubera
Ainda deste velho sortilégio
A vida que se fora em tom mais régio
E agora se desenha em vã quimera,
O quanto do meu canto inda pudera
Num ato mais feliz, qual privilégio
Dos tantos que não tive, sigo egrégio
Mortificando a ausente primavera,
Separo com cuidado cada esboço
E tanto quanto posso um sonho moço
Numa alma encarquilhada pela vida,
E neste desconforto em corpo e mente
O todo se transforma e novamente
A imagem nesse espelho é distorcida.


713


Murmúrios muitas vezes improváveis
Gerando tão somente a discordância
Aonde poderia em abundância
Os dias não seriam mais tocáveis,
Os sonhos meramente imagináveis
A verve se perdendo em redundância
A voz já não traduz em nova instância
Os cantos noutros tons mais lamentáveis.
E os risos entre quedas, mortes, lodos
Desenhos se desmancham e de todos
Apenas meras sombras caricatas,
Assim a minha vida se esvaindo
Aonde no final um sonho infindo
Com ânsia desmedida, tu maltratas.


714



O passo noutro rumo sem anseio
A vida não se mostra mais inteira
E quanto além da própria luz se queira
O copo na verdade agora é cheio.
E quando o meu passado inda rodeio
Vagando sem destino, a sorte esgueira
E morta sem sentidos, eira ou beira
O mundo prosseguindo além e alheio.
Não quero apenas sonho e após, a fuga,
Minha alma se entregando já se enruga
E deste agrisalhar em tom constante
O ritmo alucinante se transforma
E a calmaria agora toma a forma
Ainda que o meu sonho se agigante.


715


A tarde dentro em mim vai nevoenta
E nada mais traduz um ledo sol,
Grisalho por inteiro este arrebol,
Aproximando além nova tormenta,
E o quanto se deseja e me apascenta
Morrendo sem sentido e nada em prol,
Esbarro no silêncio e sendo atol
A vida do conjunto ora se ausenta,
Necessitando mesmo do vazio,
Aonde poderia e em paz desfio
Os ermos de minha alma em tons diversos,
Um mero pacifista e nada mais
Enfrenta com ternura os temporais
Usando em armamento livres versos.


716


A noite poderia ser mais clara
E tudo não traria apenas dor,
O mundo um gigantesco refletor
Além deste vazio se escancara,
E o brilho dominando esta seara
Permite que se creia em nova flor
Num tempo onde talvez aonde eu for
Eu veja uma surpresa bela e rara.
Mas nada espelha o fato mais audaz
E o canto aos poucos morre e se desfaz
Gerando tão somente este nefasto
Cenário desenhado em tom cinzento,
O quanto deste anseio eu não sustento
Por isto a cada instante mais me afasto.

717


São coisas bem diversas, sorte e medo,
Apenas noutro rumo me perdendo
E quando se imagina em tom horrendo
Diverso caminhar do antigo, ledo,
E quantas vezes quieto em vão procedo
Traçando qualquer sonho em mero adendo,
O nada dentro em mim logo desvendo
E a vida se perfaz em desenredo.
Reparo cada passo rumo ao nada
E desenhando em vão nova jornada
Infaustamente a vida se renega
E a sorte com certeza sempre cega
Não tendo outro desenho, é temerária,
Mas quando se aproxima em tom diverso
Aos poucos deste front eu me disperso
Minha alma vaga alheia, leda pária.


718


O sonho se mostrara bem mais vago
Do quanto poderia e mesmo quando
Em novo desenhar fosse entranhando
Enquanto no vazio eu já me alago.
Se apenas o silêncio na alma eu trago,
O dia se desnuda e vou rondando
Falena encontra a luz e se entregando
A cada novo instante um grande estrago.
Mesquinhos sonhos ditam velhos sóis
E neles outros tantos tu destróis
Deixando a marca amarga da esperança
Rendida sem defesas, vasta e espúria,
Minha alma sem defesas, na penúria
Aos poucos, finalmente então se cansa.


719


A vida já não tem qualquer sentido
Se o todo ora desfeito não traduz
Sequer um rastro ao menos onde a luz
Pudesse desenhar além do olvido,
O risco de sonhar, mal percebido,
O anseio me transtorna e reproduz
Apenas ao que tanto me propus
E nada mais pudera presumido.
Ascendo ao patamar de onde vislumbra
Além deste vazio e da penumbra
Ao fim do túnel mesmo frágil brilho
E neste desenhar em tom sutil,
O quanto do meu sonho se previu
Agora finalmente além palmilho.


720


Espiritualizando o meu caminho
Em meio às trevas tantas e constantes
Talvez consiga ver mesmo em instantes
Um rito menos vago e tão mesquinho,
Enquanto do meu auge eu me avizinho
Cenários tão diversos; tu garantes
E nestes entre caos e diamantes
Recolho muita vez somente o espinho.
Mas posso acreditar em novo dia
E neste desenhar tanto eu queria
Apenas um momento em redenção,
O passo eu negaceio em tom atroz
E nada; nem ninguém reflete a voz,
Embora novos dias; se verão.



721


Apenas mergulhando neste todo
Aonde imaginara quase tudo
O passo noutro enredo eu desiludo
Enquanto quis talvez raro denodo,
O sei que a cada instante entranho o lodo
E desde desejar ora transmudo
E quando me mostrando tartamudo
Persisto em ironia, mesmo engodo.
Respaldos de outros sonhos entre tantos
E neles outras vozes, desencantos
Regendo o passo quando quis além,
A queda se anuncia em tom atroz
E nada mais pudesse ver após,
Somente o mesmo sonho e nada vem.


722



Eu quero te encontrar aonde a vida
Desfila seus anseios e temores
E quando e mesmo até se ali te opores
Talvez encontre enfim uma saída,
A sorte muitas vezes presumida
Marcada por espinhos, medos, flores
E nestes tantos sonhos os albores
Traduzem a esperança pressentida.
Reparo com meus erros cada ponto
E neste desejar ainda aponto
Os erros costumeiros de quem sabe
A vida mui diversa do cenário
Aonde se imagina necessário,
Mas logo em tom alheio em vão desabe.


723


Matando minha sede de um afeto
Apenas meramente satisfeito,
Enquanto no tão pouco eu me deleito
O mundo que imagino, eu não completo.
O quanto poderia em predileto
Delírio se transforma quando eu deito
E morro noutra face de outro jeito,
Qual fora em lamparina um mero inseto.
Vasculho cada ponto e nada vejo
Somente a mesma face de um desejo
Jogado entre os anseios sem defesa.
O pântano que existe dentro em mim
Transcende ao quanto pude e sei do fim,
Marcando com vigor a correnteza.


724


Pegando tua boca na botija
Com toda a minha sorte em despedida,
O quanto se restara em pobre vida
No fim nem mesmo o tempo em vão exija.
A face dolorosa, porém rija
Ao tempo onde sonega, tanto acida
E marca com firmeza outra ferida
Embora falso totem inda erija
Espelho de minha alma sem juízo
Reflete muito aquém do mais conciso
Destino entre os meus ermos produzido,
E o caos se aproximando num tropel,
Apenas resumindo em medo e fel,
O quanto quis talvez fosse libido.


725


E num beijo atrevido audacioso
O tempo se transcorre em mansidão,
Embora dentro da alma um turbilhão
Traçando este cenário majestoso,
A vida prevenira em antegozo
Momentos tão supernos que virão
E neste passo audaz em precisão,
O mundo em nova tez, voluptuoso.
Rendido aos teus encantos, nada faço
O amor tomando assim qualquer espaço
Já não deixando mais sequer pensar,
Entregue e sem defesas, finalmente
A sorte sem tormentas se apresente
Gerando dentro em mim o imenso mar.


726


Penetrar em tua alma enquanto sonhas
E ter a cada instante outra certeza
Da vida se esvaindo em tal nobreza
Audácia mais sutil quando risonhas,
E neste desejar já não te oponhas
Levada pela rara correnteza
O amor insaciável toma a mesa
E neste fausto; luzes, tu proponhas;
E assim em consonância a vida rege
Deixando no passado o tom herege
De quem se dera além e nada vira,
Somente a mesma face dolorida
Reinando sem defesas sobre a vida
Cupido enfim acerta flecha e mira.


727


Invadindo todo o corpo da esperança
Lançando a minha voz ao mais profundo
Cenário aonde invade todo o mundo
No quanto com ternura além se lança
A vida a cada instante me afiança
De um novo desejar e assim me inundo
Do todo quando o quis e em mais fecundo
Caminho aonde há sorte em temperança.
Vencer os meus temores e seguir
Além do quanto posso, num porvir
Ao menos mais tranquilo e soberano,
E quantas vezes; pude acreditar
No raio mais intenso de um luar
Tornando o coração bem mais humano.


728


Eu quero desnudar-te em noite mansa,
Tocando com meu corpo esta delícia
Marcando cada toque com malícia
Aonde o meu anseio ora se lança,
Mergulho sem temor, rara pujança
Dos ermos de minha alma, nem notícia
E quando se percebe outra carícia
Aos poucos dentro da alma a confiança
Regendo cada passo doce e terno,
E quanto mais em ti agora interno
O sentimento imenso e desmedido,
A vida passa a ser bem mais diversa
E o meu caminho ao teu agora versa
Tocando com prazer cada sentido.


729


No vinho de teu corpo saciado
Bebendo o quanto posso e muito além,
O sonho desejado agora vem
Traçar com tal ternura novo fado,
Mergulho neste encanto e desvairado
No todo mais audaz o que contém
Grassando muito mais do que inda tem
Vivendo o tempo inteiro lado a lado,
Representando em ti o quanto pude
E neste desenhar nova atitude
Tramando outro momento inesquecível,
Assim do amor maior, um mero escravo
Nas ânsias deste fausto em paz me lavo
E o mundo num cenário quase incrível.


730


Levar-te para o céu em plenitude
Gerando dentro em ti tal paraíso
Num toque mais audaz quanto preciso
E nada neste mundo mais ilude,
Viver e ultrapassar vicissitude
No quanto se perdendo algum juízo
O passo junto ao teu; logo harmonizo
Singrando muito além do quanto eu pude.
Um rústico campônio eu cevo a terra
E nesta intensidade se descerra
Superna maravilha na colheita,
Abençoada sorte de te ter,
E nisto a cada instante eu posso ver
Minha alma plenamente satisfeita.


731


Lamber todo este mel que me transporta
Além de algum limite ao infinito
O passo mais audaz eu acredito
Tocando com ternura a tua porta,
E o sentimento além agora aporta
Um caminhar sobejo e necessito
Do quanto mais desejo e me permito
Alçar ao mais superno onde se exorta.
Cenários mais diversos se tocando
E nestes universos sendo brando
Encontro finalmente o quanto eu quis
E sei que após a chuva e a ventania
Um novo amanhecer já me traria
A doce sensação de ser feliz.


732


Os rumos mais gostosos desenhados
Sem medos nem fronteiras, sem pudor,
E neste desejar o imenso amor
Em dias sutilmente bem tramados.
Procuro novos tempos alentados
Em dias de ternura e em tal furor
O quanto se transcorre em sedutor
Anseio derrubando velhos fados,
Escuto este marulho e mergulhando
O coração sobejo em contrabando
Minha alma se sacia nos teus cais
E os dias mais felizes concebidos
E neles entranhando os meus sentidos
Desejam novos dias, sempre mais.


733

Arder-te em minha febre plenamente
Vagando sobre os mares onde tramas
Delírios sem limites, raras chamas
E nesse desenhar tudo apascente,
Porquanto a própria vida nos alente
Vestindo o quanto posso sem os dramas
Diversos noutros tantos me reclamas
E o dia se apresenta mais contente.
Cerzindo novos sonhos, mais audazes
Enquanto consonantes rumos; trazes
Devoro com fartura este maná,
E o amor quando demais tomando a cena,
Minha alma neste instante se serena
Sabendo quanto etérea, brilhará.



734

De pura sintonia em tom suave
A vida se transcorre mansamente,
E quanto mais deveras se apresente
O amor sem perdição, sem medo ou trave,
E neste desejar o quanto esta ave,
Liberta voa imensa e intensamente
Jamais se poderia penitente
Nem mesmo outro terror que ainda agrave.
O canto enamorado em verso e brilho,
Deslinda este caminho onde palmilho
Vagando pelo espaço sideral,
E o tanto quanto posso mais ainda
O canto com ternura teima e brinda,
Após tanta tormenta: triunfal.


735



Momento de delírio num anseio
Gerando a cada instante um novo cais
E neste desenhar eu quero mais
E sigo sem pudor e sem receio
Se apenas o tormento inda rodeio
Vagando entre os espaços siderais
Pudesse imaginar ou ter demais
O todo aonde tonto eu devaneio.
E resolutamente sigo ao fim
Buscando o quanto posso dentro em mim
Tentando novamente um ar suave
E o passo noutro rumo se perdendo
Cenário se apresenta quase horrendo
Enquanto a vida mesmo tudo agrave.


736

Eu quero o teu amor e nada além
Do quanto pude outrora reviver
E sinto o meu caminho se perder
Ainda quando o nada me contém,
Resplandecente sol nada mantém
Somente o desdenhar deste prazer
E nele poderia conceber
O quanto se procura e sigo aquém,
Arfante caminheiro da esperança
A voz noutro vazio enfim se lança
E toda esta incerteza doma o quadro,
Apenas na verdade eu não me enquadro
Nos ermos onde o tanto já não quero
Num passo mais audaz, porém sincero.


737


Que sedutora invade uma alma aonde
O tanto se pudesse adivinhar
Gerando o quanto pude mesmo amar
E neste delirar se corresponde
Ao todo que deveras hoje esconde
Uma alma tão cansada de buscar
Apenas onde possa descansar
Neste fastio imenso em vão responde.
Esbarro noutro instante e mesmo assim
Lutando intensamente chego ao fim
Espraio-me deveras quando tento
Vestir esta emoção porquanto nossa
Verdade insofismável sempre endossa
O dia mais suave em provimento.

738


Não deixo de querer quem tantas vezes
Marcando com ternura cada passo
E neste mesmo tom ainda faço
Os sonhos mais diversos dias, meses,
E quando se pudessem ver as luzes
Das mágicas loucuras entre os ritos
Diversos desenhares mais aflitos
E deles; outros tantos; reproduzes.
Nada pude ou mesmo até inda quisesse
Gerando novamente outra benesse
Do caos mais costumeiro, dia a dia,
O fogo nos alcança e já transcende
Ao quanto novamente se desvende
Marcando com terror a poesia.


739


A minha vida à tua se transforma
Em mesma sintonia ou quando posso
Tentando renascer deste destroço
Moldando com ternura a velha forma.
E o passo noutro rumo se deforma
E trama qualquer prumo, mesmo o nosso
Silenciando esta alma nada endosso
Senão a própria vida em torpe norma.
Essências tão diversas, desamores
E neste delirar por onde fores
Verás o meu caminho desenhado.
O quanto poderia e não houvera
Traçasse com ternura a leda espera
Marcando com doçura o duro fado.


740

Tu és minha alegria e nisto eu tento
Seguir cada pegada, cada rastro
E quando me percebo em ti me alastro
Sorvendo com ternura outro momento.
O dia se mostrara em raro alento
E neste delirar ainda o mastro
Trazendo ao velho engano qualquer lastro
Deste alabastro um sonho novo invento.
Marcando com meu medo este segredo
Ao quanto mais pudesse eu me concedo
E sigo sem defesas vida afora.
O tanto quanto pude e não houvera
Demonstra a sensação audaz e fera
Que aos poucos sem defesas me devora.


741

Na boca esta certeza em beijo e sonho,
Vestindo uma emoção qualquer a mais
E neste desenhar em vendavais
Um cântico sem nexo ora componho.
E ao todo quanto posso; eu me proponho
Vagando por espaços siderais
Resumo os meus anseios e se, demais,
O canto se transcorre mais medonho.
Estranhos os caminhos quando atrevo
E sei que mesmo sendo amargo e sevo
O tempo não deixara de mostrar
O rústico desenho em tom sutil,
E o todo quando muito se previu
Tramando qualquer tom, qualquer luar...


742


De que não terei a solidão
Numa espera feroz e sem sentido,
O quanto pude outrora e desvalido
Errando qualquer passo e direção
Promessas de outros tempos não virão
E o corte noutro fato resumido
Vagando sem qualquer erro, perdido
Traçando a mesma espúria sensação.
Horrendas noites vago em torno à luz
E apenas ao vazio me conduz
A prece em heresia ou mesmo alheia,
E assíduo navegante do não ser
Quisera pelo menos poder ver
Enquanto a vida segue e me incendeia.


743


Encontro uma certeza a cada engano
E bebo gota a gota o mar imenso,
E quando no passado ainda penso
Aos poucos sem sentido além me dano.
Mergulho neste infausto e sou profano
No quanto poderia e já compenso
Meu rumo noutro rumo e mesmo tenso
O gozo se aproxima desumano.
Alçando qualquer tom onde me envolva
E cada nova sorte se revolva
Marcando em discordâncias, passo tanto;
O medo me assegura a sobrevida
Apenas se imagina sendo urdida
Esta armadilha aonde o não garanto.


744

Que faço procurando a cada instante
Apenas qualquer porto em plenitude
Se a própria desventura desilude
E nada do passado se garante,
O manto noutra face fascinante,
O corte se aprofunda e nada pude,
Marcando com terror a magnitude
Aonde se pudesse ser gigante.
Esbarro nos meus erros e não vejo
Senão a mesma angústia onde o desejo
Amortalhado morre noutra queda,
O mote se repete em mesmo tom,
A boca mais lasciva, o teu batom
No corpo da ilusão já se envereda.


745

Entre tantas estrelas procurava
Apenas tão somente a que me guia
Levando para além da fantasia
Marcando o meu caminho em ânsia e lava.
A vida sonegando qualquer trava
Presume noutro fato a rebeldia
E marca em tempestade o dia a dia
E neste delirar o sonho lava.
Encontro os meus retalhos pela rua
Uma alma sem desvios já flutua
Alçando muito além do quanto almeja
E a vida noutra face mais andeja
Espelha o caminho onde cultua
Adentra o quanto a sorte em paz dardeja.


746


Tua presença meiga em tom sereno
O risco de sonhar, o passo além
E o todo que em verdade sempre vem
Tocando com ternura algum veneno,
O amor quando se fez audaz e pleno
Marcando com seu passo algum refém
Gerando após a queda num desdém
O tanto quanto posso mais ameno,
Esbarro nas estrelas, no infinito
E tendo muito mais do que acredito
Espraia o pensamento eternidade.
Apenas tão somente algum retrato
Do tanto quanto sou mais insensato
Ainda quando a vida tanto agrade.


747

De quem já no final nada teria
Apenas a verdade incontestável
O rumo noutro tempo, incontrolável
Gerando o quanto posso em harmonia
Amor já não seria uma utopia
Nem mesmo um sonho vago ou intocável
Tramando outro caminho agora arável
E neste se transforma o dia a dia,
Poética ilusão, apenas isto?
No quanto mais desejo e até insisto
Presumo nova face em mesmo tom,
E nisto se transforma em plenitude
O todo que deveras sempre mude
Ainda mesmo em luzes de neon.

748


Aguarda o renascer em novos dias
De todos os anseios que inda trago
O tempo na verdade dita o afago
E nele sem defesa tu virias.
Mergulho nos teus ermos, fantasias
E neste desenhar o imenso lago
Gestando a cada passo e não indago
Seguindo as trilhas claras que trarias.
Esbarro no infinito de um olhar
E assim me permitindo até sonhar
Enfrento as tempestades, vou em paz.
E o amor se desenhando sem temores
Aonde com certeza tu te fores
O dia se transcorre mais audaz.


749


Enquanto a fantasia se fizera
Dispersa do caminho mais audaz
O todo quanto pude já desfaz
E mata no princípio a primavera,
Assisto à derrocada da quimera
E o canto onde tentara ao menos paz
Deveras noutro intento contumaz
Gerando a mais dorida e vaga espera.
O manto da esperança poderia
Trazer com emoção diverso dia
Gestando dentro em nós a eternidade,
E nisto me aproximo do teu passo,
E o quanto te desejo busco e traço
Abençoando aonde o sonho brade.


750


Dizendo das loucuras onde outrora
A vida não pudesse ser assim,
Tramando cada passo dentro em mim
A sorte noutro tom já me devora,
E o beijo anunciado sem demora
Traduz este desejo vivo e enfim
Pudera consumir até o fim
Sem nada que deveras me apavora.
Errático cometa, a vida segue
E neste desenhar tanto se regue
O sonho com palavras mais gentis,
E tendo desta forma o quanto eu quis
O coração apenas se sossegue
Vivendo cada dia por um triz.


751


O corpo que se inunda em tal delírio
Navega por espaços siderais
E neste desenhar procuro mais
Deixando para trás medo e martírio.
Assisto ao meu caminho em paz e glória
Fomento com ternura cada passo
E desta forma tento, quero e traço
Do rústico momento à paz, vitória.
Mudando a velha dita, vã fortuna,
O canto noutro rumo se traduz
E neste audacioso passo em luz
A sorte mansamente já nos una
Vencer os meus temores, prosseguir
Sabendo da existência este elixir.

752

Causando em desvario esta vontade
De ter e muito mais poder chegar
Alçando a cada instante este luar
Onde o desejo toma e já me invade,
Porquanto esta esperança agora brade
Tocando mansamente ao mergulhar
Gerando novo passo a me entranhar
Sem medo do terror, da tempestade.
Agindo desta forma sou em ti
O quanto desejara e conheci
Vencidos os tormentos do passado,
O canto se provoca e muito mais
Amando sem juízo em vendavais
Mudando do caminho o seu traçado.


753


Desejo mais vadio em noite insana
Tocando cada parte, sem defesa,
Minha alma de tua alma segue presa
E a cada novo passo, soberana,
O quanto do passado já se dana
E a sorte desvendando outra surpresa
Fartando com ternura a plena mesa
Além da fúria atroz e desumana.
Restando dentro em nós a maravilha
E nesta fantasia o quanto brilha
Transcende à própria vida e nos entrega
Das almas consonante madrugada
Gerando novo rumo e nada enfada
Quem neste mar imenso em paz navega.


754


Seguindo o teu calor a cada instante
Não deixo de pensar um só segundo
E quando dos teus gozos eu me inundo
O mundo se transforma e me agigante
Mergulho nesta sorte e doravante
O quanto mais desejo e me aprofundo
Tomando com ternura este meu mundo
E dele novo fato mais constante.
Não deixo me perder em rumo e cais
E quando te pressinto quero mais
Gestando outro momento em tal loucura.
A vida sem temores se entregando
Mudando este cenário, agora brando
Aonde a minha paz já se assegura.



755


Aos poucos todo amor se torna além
Do quanto poderia ou mesmo quis,
O manto se mostrara outrora gris
E agora noutro instante a luz contém.
Resumo cada passo no que vem
E tento não ser mais um aprendiz,
O mundo se desenha e quero o bis
Vivendo a plenitude onde convém.
Reparo cada engano e sigo em frente
O passo noutra meta se apresente
Tramando com ternura o quanto quero,
Deixando no passado a solidão,
Os dias mais tranqüilos me trarão
O olhar que tanto busco, em paz, sincero.


756

Deitando tão suave sob a lua
Imensa desvendada em prata e brilho,
O quanto do desejo ora polvilho
Enquanto uma alma leve além flutua,
Meu passo no teu rumo sempre atua
E nisto cada tom um estribilho
Vestindo o quanto eu pude, este andarilho
Vagando sem saber cenário e rua.
Preparo tão somente a fantasia
E neste desenhar eu poderia
Viver qualquer momento em plena paz,
Assim ao me entregar num inconteste
Desejo aonde o todo me trouxeste
Amor que em pleno amor, amor me traz.



757


Teus seios prometiam a delícia
De um toque sensual em noite imensa
O gozo mais sutil, a recompensa
Gestando com ternura outra carícia,
E deste delirar qualquer notícia
Aonde meu desejo adentra e pensa
Deixando no passado a vida tensa
E neste caminhar noite propícia
Ao sonho mais voraz em plenitude
E nada mais deveras nos ilude
Apenas o desejo se moldando,
E quantas vezes tive em minhas mãos
Além de outros tormentos, tolos vãos
A vida num momento doce e brando.


758


Um fogo em ardentia nos consome
E gera a tempestade fabulosa
A vida noutro instante já antegoza
Domando e saciando toda a fome,
O quanto poderia e nada dome
Apenas a verdade caprichosa
Mergulha numa noite majestosa
Em braços mais suaves, pois nos tome.
Esqueço qualquer dor e vejo apenas
A sorte se moldando e me serenas
Com toda esta beleza mais sutil,
E o todo num momento tão audaz
Ao mesmo tempo toma e satisfaz
Gestando muito além do que previu.


759


Suores e gemidos noite afora,
O gozo eu compartilho em tom ameno
E deste desenhar eu me sereno
Gerando cada passo onde se ancora
A vida sem temor e sem ter hora,
Apenas por poder um sonho pleno
Aonde ao ser feliz eu me condeno
E a sorte delirante me devora.
Navego pelas águas tão tranqüilas
E neste navegar também desfilas
Momentos consonantes: paz e luz.
O amor quando demais nada segura
A sorte se transborda e traz a cura
Enquanto noutro amor se reproduz,


760


Buscava esta divina criatura
Após as tantas quedas, costumeiras
E quanto mais também o sonho queiras
A vida se promete sem tortura,
E quantas vezes; vejo e me assegura
Ousando em esperanças por bandeiras
Marcando com ternuras verdadeiras
A sorte que jamais nada amargura.
Felicidade apenas dita o rumo
De quem neste desejo logo assumo
Meu canto em harmonia e plenitude,
Vagando por espaços muito além
Do quanto na verdade não retém
E nada nem o impede nem o mude.


761


Que se fazendo minha aonde um dia
Pudesse ser também somente seu
O mundo neste instante concebeu
Além do que decerto poderia,
Vencer a tempesta, a ventania
Deixando no passado o medo e o breu,
Meu canto neste instante percebeu
O quanto na verdade mais queria.
E todo o meu caminho agora crê
No quanto sou feliz em ter você
Somente e nada mais, tudo o que eu quero.
Vivendo a plenitude deste instante
O passo nesse rumo já garante
Um mundo mais tranquilo e menos fero.


762


Invade a minha cama este desejo
E nele dessedento uma vontade
Aonde com ternura tome e brade
A vida noutro tom, um novo ensejo
E quando na verdade quero e almejo
Bem mais do que sonhei felicidade
Gerando após a rude tempestade
A sorte muito além de algum lampejo,
Esplendorosamente a rota eu traço
E venço a cada instante o meu cansaço
Erguendo sem limites cada olhar
Neste horizonte raro a se mostrar
Desnuda maravilha toma o espaço
Aonde tanto eu quis já mergulhar.


763


Saudades da menina que não tenho
Presença abençoada e já perdida
O quanto se imagina a minha vida
Num ato mais atroz, duro e ferrenho,
E quando noutro encanto tanto empenho
Moldando com ternura uma saída
Gerando a sorte imensa ora provida
Do todo fabuloso e nele eu venho.
Mas quando a dita muda a direção
E os dias se mostrando desde então
Apenas tenebrosos, nada resta.
Ausente dos meus pés o firme chão,
Tristezas nos meus olhos tocarão
Deixando a minha sina, vã, funesta.


764


Que sabe conquistar a cada passo
Enamorada lua entregue ao céu
Riscando meu delírio num corcel
E nele outro infinito agora grasso,
E resumindo o canto outrora baço
Num ato sem igual. Novo papel
Da vida em remoinho, carrossel,
Olhando para trás, destino lasso.
Meu mundo se transforma e neste ato
O quanto já perdera ora resgato
E marco com sorriso o que virá,
A sorte me trazendo este maná
Permite o meu caminho e num regato
O sol em plenitude brilhará.


765


Depressa o coração dispara e toma
O todo sem juízo e num anseio
Enquanto cada passo ora rodeio
O mundo se transforma em rara soma,
Passado sem ter nada que inda o doma,
Gerando o meu caminho em devaneio
O quanto poderia estar alheio
E mesmo entorpecido em leve coma,
Ao menos ao te ver agora entranho
Nos campos mais suaves, e vejo em ganho
O tanto quanto pude e num sentido
Diverso do que possa noutro encanto
Bebendo com fartura quero e canto
Moldando a minha vida além libido.


766


Enquanto em fantasia o passo segue
Reúno meus pedaços e procuro
Apenas o caminho mais seguro
E neste desenhar em paz trafegue,
O manto me recobre mansamente
E o todo que pudera sempre quis
Traçando outro momento mais feliz
E nele toda a sorte se apresente.
Esforço-me decerto e sei do todo
Diversa dimensão se mostra quando
O mundo noutro passo me tomando
Transcorre sem temor e sem engodo.
O verso traduzindo a glória plena
Aos poucos me domina e me condena.


767


Iluminando a vida com o olhar
De quem se fez bem mais do quanto pude
E traça com anseio a plenitude
Aonde aprendo cedo a navegar,
No quanto mais pudera mergulhar
Ainda que se veja em ar mais rude,
Nem mesmo a ingratidão já desilude
Quem nunca mais se cansa de sonhar.
Vestígios que deixaste em mero rastro
E quando te procuro além me alastro
Bebendo desta sorte, eu necessito
Apenas de tal paz e me garanto
Sem medo sem terror e sem espanto
Num dia mais feliz, claro e bonito.


768

Um mundo mavioso se expressara
Na rara sintonia aonde vejo
O mundo noutra face e em tal ensejo
Mergulho sem defesa em noite clara,
Aprendo com ferida e com escara,
E quando mesmo assim inda dardejo
Sem medo do que venha malfazejo
Desenho em nova luz já se escancara.
Acrescentando ao passo outro destino
No quanto te desejo e determino
Meu passo rumo ao farto delirar
Permito novo sonho onde pudesse
Talvez gerando em paz esta benesse
Transito sem limites teu luar.


769



Na luz que tão intensa se propaga
Gerando novas luzes adiante
Um passo mais feliz e tão constante
Transforma e cala o gume desta adaga
Aonde cada passo já me traga
A rota mais audaz e deslumbrante
O canto noutro enredo me garante
O manso desenhar que tanto afaga.
Realço em vários tons felicidade
E o quanto da vontade agora invade
Gestando a minha paz, pois derradeira
E o mundo em consonância traça além
O passo num compasso quando vem
Bem mais do que talvez ainda queira.


770


Dourando a minha vida num instante
Mergulho sem temores; sigo em frente
E a cada nova lua que apresente
O canto noutro rumo se agigante,
O manto mais sublime me garante
Um dia mais feliz e tão contente
Alçando o quanto quero plenamente
Num mar por si mesmo transbordante.
Escassas noites trazem solidão
E nelas outras tantas não virão
Ausento deste vórtice em teu braço,
Ponteio esta viola em serenata
E o canto noutro tom já se constata
E assim ao me entregar, tudo refaço.

771

Quem dera se pudesse transbordar
Em risos a alegria que contenho
E quando se mostrasse em tal empenho
Trazendo a própria lua ao meu olhar
E neste mesmo instante mergulhar
Traçando cada rumo de onde eu venho
Marcando com ternura o que não tenho
E busco sem deveras me cansar.
Vestindo esta esperança quero além
E todo o meu caminho ora provém
Da rara sensação de ser feliz
Tramando a cada dia novo sonho
E neste delirar eu recomponho
O mundo muito além do que mais quis.


772


Ao lado da menina que pudesse
Traze felicidade a quem se dera
E morre tão distante em leda espera
Na sorte sem ternura e sem benesse,
O rumo aonde o sonho quer e tece
Marcando com terror a primavera
Deixando para trás e degenera
Ao mesmo tempo enquanto já se esquece.
Não pude transformar qualquer caminho
E neste desenhar eu me avizinho
Do medo e tão somente, nada além.
O amor quando demais ora não cabe,
E o quanto do meu sonho finde, acabe
Gerando o que deveras não contém.


773


Vagando o pensamento aonde eu tento
Vencer o que pudesse e nada tendo
O rumo se desenha e mais horrendo
Tocando com furor o pensamento.
Navego contra a fúria deste vento
E o quadro se mostrando em dividendo
Marcando o que deveras não desvendo
Gestando o quanto pode em sofrimento.
A marca dos teus lábios carmesins,
Os corpos dos anseios mais afins
E o tanto transbordando dentro em nós
Aprendo a cada passo um novo rumo
E neste desenhar além aprumo
O passo mesmo em dia mais feroz.


774


Quem dera se eu pudesse ser o eleito
Dos sonhos de quem amo e não me quer,
Deitando mansamente esta mulher
Traçando mil delírios no meu leito,
Assim eu poderia, satisfeito
Vencer a desventura que vier
E nesta doce entrega sem qualquer
Tormento mergulhando em raro pleito,
Invisto o meu anseio neste fato
E quando a solidão; aqui, constato
Percebo quanto fútil o sonho e enfim
Depois da tempestade sem bonança
O sonho se perdendo ora se cansa
E o verso é o quanto resta em ledo fim...

775


Raiando esta alvorada em cores várias
Albores entre luzes radiantes,
E neste desvendar tu me garantes
Os sonhos como fossem luminárias,
Espalho minhas ânsias temerárias
E bebo em ti diversos diamantes,
Resulto do que fora e quanto antes
As horas transbordando em raras árias.
Esqueço dos meus danos e procuro
Momento mais suave em cais seguro
Vencendo cada vórtice que eu sinto
E o quanto se moldara em luz suave
Erguendo o meu desejo e nada trava
O quanto mavioso em ti pressinto.

776


Seria tão feliz se inda tivesse
No olhar o raro brilho da esperança
E quanto mais a vida além se lança
Encontro tão distante esta benesse.
Vazio, sem sentido me entorpece
Quem dera meramente uma aliança
Enquanto se prepara sem bonança
A sorte noutro rumo me enlouquece…
Dançando com estrelas entre os dedos
Os mantos mais sublimes; vejo-os ledos
E os temporais adentram cada verso,
Aonde pude crer sonho e perfume
Num novo delirar tudo se esfume,
E a cada novo passo me disperso.


777


Porém uma ilusão não satisfaz
Quem tanto quis além do que podia,
A vida se transcorre dura e fria
A voz noutro caminho mais mordaz,
Resulto do que um dia sem ter paz
Morrera noutro tom, mesma agonia
E quando se presume em alegria
O sonho se esvaindo já desfaz.
O corte se aprofunda dentro da alma
E nada na verdade ainda acalma
Quem sabe desejar e nada tem,
Coragem quem me dera inda tivesse
O tanto se resume e sem a prece
Apenas um sorriso de desdém...


778


A dor deste prazer quando negado
Transcorre num momento mais mordaz,
E o passo que buscara rumo à paz
Agora noutro rumo diz passado,
O gesto mais sobejo e até ousado
Deveras num enredo contumaz
Percebe o quanto a vida não mais traz
Deixando este desenho desolado.
Esqueço cada passo rumo ao quanto
Pudesse e na verdade desencanto
Vagando sem sentido e sem razão
Meu mundo noutro engano traduzindo
O tempo que pensara calmo e lindo
Somente diz das trevas que virão.


779


Encharca em nossa cama este suor
Deliciosamente desvendado
E neste caminhar já sem enfado
O tempo se mostrando bem melhor,
O rumo desejado eu sei de cor
Desenho mavioso em tal traçado
Restando o quanto posso e noutro fado
O todo se demonstra em tom maior.
Regendo em alegria a noite invade
E gera com ternura a tempestade
Num gozo magistral e sem limite
Assim ao se tramar felicidade
A sorte desnudada bem mais brade
Além do que imagino ou se permite.


780


Inundação divina toma a cena
E gera novo fato a cada traço
E neste mergulhar eu me desfaço
Deixando para trás o que envenena
A vida noutro tom já me serena
Marcando outro sentido noutro espaço
Eu vejo o que se fora outrora baço
Agora noutro instante em luz mais plena.
Navego neste mar aonde eu busco
Embora o tempo insista em lusco fusco
Um cais bem mais suave onde ancorar
E sigo sem temor o raio intenso
E nele cada engano ora compenso
Sorvendo inteiramente este luar.


781

Tua poesia me faz sentir
Uma doce e linda menina,
Fantasia a me vestir
Transmutando a dura sina.
REGINA COSTA


O quanto do passado determina
Um novo amanhecer ora contigo
Vivendo cada sonho que persigo
Enquanto a fantasia ora me nina
E sinto esta presença feminina
Tomando cada passo e assim prossigo
Vibrando em consonância em raro abrigo
Deitando junto a ti, doce menina.
A sina dolorosa que pensara
Agora se transmuda em noite clara
Desnuda a maravilha dessedenta
Uma alma se transforma e da tormenta
Uma bonança imensa agora alcança
E a vida aonde houvera tempestade
Noutro momento em paz, domina e invade
Gerando a plenitude em luz tão mansa.

782

Rompendo as velhas celas do passado
O sonho noutro rumo, coração
Tentando novo prumo e direção
Mudando o doloroso e vão traçado.
O quanto do meu mundo fora enfado
E os dias mais sublimes que virão
Tramando em belo canto a provisão
Deixando este tormento assim, de lado.
Mas quando me percebo em tal masmorra
Sem ter sequer a luz que inda socorra
Gerada pelo olhar de quem anseio
O mundo me transporta à realidade
A sombra da ilusão, meu quarto invade
E sigo solitário, amargo e alheio.


783

Relaxa e me transtorna a sensação
Do gozo entremeado com a dor
E neste delirar o quanto pôr
Da trama em mais completa solidão,
Aonde se pudesse algum verão
Tramando a cada instante este calor
Um tempo mais nublado a se compor
E traça a cada passo arribação.
Espanto os meus temores e procuro
Ainda mesmo quando em pleno escuro
Singrar a claridade que não vejo,
O passo desafio e nada vem
Somente o mesmo olhar, tolo desdém
Matando em nascedouro algum desejo.

784


Um maremoto insano dominando
O todo quanto pude acreditar
Gerando tão somente o desnudar
De um tempo mais atroz e até nefando
A sorte se trazendo em contrabando
Deixando esta esperança naufragar
E nada do que possa em céu e mar
Gestar outro caminho bem mais brando.
Resulto desta insânia e nada trago
Somente este vazio e deste estrago
Já nada mais se vendo, morro alheio.
O passo noutro fato desdenhado,
O risco traz somente a dor e invado
Outro cenário em paz. Mansa vereda
No quanto a plenitude se conceda.


785


Depois na calmaria aonde eu possa
Trazer cada momento além do tanto
Mergulho num instante e já garanto
A vida sem terror, temor e fossa.
Palavra se transforma e sendo nossa
A sorte noutro fato eu adianto
E deixo para trás qualquer quebranto
Enquanto a solução me paz se endossa.
Participando sempre desta festa
Aonde o coração domina e atesta
A plena consciência de um amor
No quanto sou capaz de me entranhar
Fartando-me de um raio de luar
E neste desejar em multicor.


786


Deixando-me levar pelo prazer
Aonde tantas vezes quis bem até
Saber da maravilha por quem é
O quanto do meu mundo em bem querer,
Não pude perceber outro caminho
E sigo sem defesas, vida inteira
Além do que deveras possa ou queira
Acostumado sempre a ser sozinho.
Acreditando agora em redenção
Mergulho sem temer qualquer abismo,
E neste desejar enquanto eu cismo
Momentos mais sublimes se verão,
E nisto sou feliz e nada cessa
O amor que já não é mera promessa.


787


E encontro com mim mesmo quanto tento
Olhar o teu olhar e refletindo
O sonho aonde inteiro bebo e brindo
Sabendo dominar o pensamento.
O quanto se transforma em mesmo vento
E neste desejar sobejo e lindo
O tempo se mostrara agora findo
E o corte sempre impede o sofrimento.
Viceja dentro da alma esta esperança
E quando a vida vem suave e mansa
Espreito o meu passado e não se note
Sequer a menor mancha de alegria
E quanto o meu final se mostraria,
O amor não tem juízo e dá seu bote.


788


Nas artimanhas, santa ou pecadora
Fazendo do meu corpo o seu altar
Pudesse neste instante superar
A senda mais atroz por onde eu fora.
E o quanto se mostrara redentora
Gerando a cada instante outro luar
Não posso e nem pudera imaginar
A vida sem a ter tão sonhadora.
Marcando o meu futuro com ternura
Enquanto me seduz já me assegura
Um fim de vida em paz e mais tranquilo,
No outono me percebo juvenil
E o amor quando diverso se previu
Agora noutro tom em luz destilo.


789


Louvores às bacantes numa orgástica
Loucura feita em sonho e claridade,
No quanto tanto anseio toma e brade
A vida não seria tão mais drástica
E a face muitas vezes quase espástica
Expressa noutro tom variedade
E gera em calmaria a tempestade
Aonde se pensara ser sarcástica.
Adentro paraísos em teu porto
E quando já me vira semimorto
A sorte muda logo a direção
E o todo mais feliz e audaz entranho,
Ao fim do meu caminho o raro ganho
Garante os novos dias que virão.


790


Fazendo de teu corpo um cais seguro
Bebendo cada gota de prazer
O quanto no teu sonho pude ver
O todo aonde em paz eu me perduro,
O mundo outrora escasso, árduo, duro
Agora noutro tom eu passo a crer
Possível desenhar em bem querer
Um porto delicado onde me curo
Dos tantos malefícios de uma vida
Jogada pelos cantos já perdida
E agora renovada plenamente.
Assim eu me percebo junto a ti
E toco o quanto quero e mereci
Na vasta sensação que me apascente.


791


Povoas minhas horas silenciosas
Escreves no meu ser o sentimento
Que faz-me das mulheres venturosas
Aquela que em teu peito teve alento.

Jamais tu sairás do pensamento
Sacrário que detém tua presença
Permanecendo vivo em mim, lá dentro
Comigo ficará, gostosa crença!

ANA MARIA GAZZANEO

Desejo o teu desejo a cada instante
E nada me permite outro caminho,
E quando no teu corpo em paz me aninho
O mundo se transforma doravante
E o passo noutro rumo se garante
Depois de tanto tempo vão, sozinho
Decerto eu mergulhando me adivinho
Num céu maravilhoso e deslumbrante
Vivendo cada passo rumo a ti
O amor quando por certo o descobri
Desenha no teu corpo esta vontade
E bebo com ternura e quero mais
Deixando para trás os vendavais
Apenas a bonança ora me invade.


792

Teus gozos vão servindo como alento
A quem se permitira muito além
Do quanto na verdade ainda vem
Tomando sem defesa o pensamento,
E quanto mais anseio, busco e tento
Dos sonhos sou apenas um refém
Deixando para trás qualquer desdém
O dia noutro rumo, hoje eu fomento.
Marcando com ternura cada passo
Aonde na verdade rumo e traço
Bebendo com fartura o teu querer,
Gerando a cada instante um novo sonho
Deveras mais bonito e tão risonho,
Traçando um raro e belo amanhecer.



793


Nas tramas que embrenhados prosseguimos
Rumando ao infinito num só ato
O sonho mais feliz; toco e resgato
Deixando para trás antigos limos,
E quando nesta forma decidimos
O rumo noutro ensejo, noutro fato
Apenas na verdade ora constato
O quanto; no passado, presumimos.
Os mimos mais felizes, rito nosso
E quanto mais eu quero, mais endosso
Mergulho no teu colo e sou tão teu,
Minha sorte transforma em senda clara
O quanto deste enredo se escancara
Meu passo nos teus passos se perdeu.

794


Orgasmos delicados mansidão,
E o tempo se mostrando em nova face
E nele meu passado já não trace
Os dias que decerto inda virão.
Bebendo com fartura e precisão
A trama se transforma enquanto grasse
Gerando outro caminho sem impasse
Moldando novo aprumo e direção.
Escassos dias tristes doravante
O passo mais tranquilo se garante
Nos ermos deste amor tão desejado,
E a boca a cada beijo saciada
Adentra sem juízo a madrugada
Tornando o imenso céu ensolarado.


795


Amor sem ter juízo toma tudo
E nada perguntando tanto invade
Deixando para trás realidade
E neste desenhar tanto me iludo.
E quando mergulhando, já transmudo
O passo noutro rumo e qualidade
A vida se transcorre em claridade
Num rito tão suave quanto agudo.
Entardecer contigo, a vida segue
E neste caminhar tanto navegue
Sem medo da tempesta, em paz se lança
E rege a cada instante novo brilho
E quando junto a ti quero e palmilho
O canto se renova em esperança.


796

De cedo naufragar neste vazio
Enquanto procurara algum momento
Aonde mergulhasse o pensamento
E neste renascer tudo recrio,
Vagando sem destino sigo o rio
Destino onde mais quero e tanto invento
Desejo sem temor e sem tormento
A cada novo instante o desafio.
Esvai-se noutra face, a minha luz
E o quanto deste todo reproduz
Apenas um momento mais feliz,
E tudo o quanto pude e desejei
Agora dominando inteira a grei
Transcende ao quanto mesmo fiz e quis.

797


Tomando no teu corpo esta bendita
Delícia desenhada em cor e glória
Mudando novamente a minha história
No quanto a sorte traça e necessita.
Palavra do passado mais aflita
Seara que já fora merencória
Agora noutro tom e sem vanglória
Presume o quanto esta alma quer e dita.
Reparo cada engano com um passo
Aonde novo mundo eu tento e traço
Vestindo com ternura a poesia,
E o todo se transborda num segundo
E quando nos teus braços me aprofundo
Encontro o que deveras mais queria.


798


Que fazem estreitar laços antigos
Os sonhos co-irmãos permitem tanto
E neste desvendar tudo garanto
Gerando a cada passo outros abrigos
O amor ao se mostrar em claridade
Não deixa qualquer dúvida e concebe
Divina maravilha em rara sebe
E nisto tanto pode quanto agrade.
Ao revestir minha alma em tal beleza
O todo se aproxima e gera além
Do quanto a cada noite em sonho vem
Servindo esta iguaria em rara mesa.
Distante dos teus olhos nada resta
Sequer uma alegria, ou mera fresta...


799


No teu seio enfeitar com meu anseio
Tocando com ternura e mansamente
Aonde cada passo se apresente
Sem medo sem angústia, sem receio.
E quando me permito e devaneio
O todo se transforma plenamente
E o corpo desejado toma a mente
E cada passo teu além rodeio.
Alçando muito mais do que pudera
A vida noutra face sem quimera
Espera algum momento mais feliz,
Abrindo o coração rasgando o véu
O mundo me transporta além do céu
Tramando o que deveras já bendiz.


800


Porém, insaciável não sossego
E bebo cada gota deste sonho
Aonde novo mundo, se eu proponho
A vida massageia em paz meu ego.
E assim sem mais defesas eu me entrego
Meu barco neste mar imenso eu ponho
E cada novo verso que componho
Recende ao paraíso onde navego.
Arcando com meus erros do passado
O tempo novamente enamorado
Transcorre em liberdade, manso dia,
E tanto quanto pude quero e busco
Aonde já se fora rude e brusco
O amor sem mais perguntas me amacia...


801


Eu que tantas vezes me procuro
Nas ânsias mais audazes da emoção
Traçando desde agora os quanto irão
Regar com alegria um solo duro,
O mundo aonde outrora fora escuro
Raiando a cada instante outro clarão
Eternizando na alma este verão
Aonde em paz encontro e assim perduro.
Apenas fantasia simplesmente
O tempo me sonega e sempre mente
Traçando o descaminho aonde eu pude
Tentar alguma sorte e nada havia
Somente este delírio em poesia
Num passo tão mordaz enquanto rude.

802



Quero meus pés fincados na realidade
Como um vergalhão afundado,
Na minha cabeça um teto colado,
E o meu coração selado
Para que não continue a sonhar
O que jamais vou realizar.
Regina Costa

Um sonho se recende à realidade
Enquanto com ternura se derrama
Mantendo sempre acesa a rara chama
Sem nada que deveras a degrade
O canto noutro instante nos invade
E a messe mais fantástica reclama
O quanto poderia e sempre trama
Vivendo esta maior felicidade.
Ousar e ser feliz, o quanto basta,
A vida muitas vezes se contrasta
E traça além do sonho um novo encanto
Pudesse ser assim o tempo inteiro
E neste caminhar nosso canteiro
Florido o tempo todo, eu te garanto.

803


Que levam a buscar outro momento
As sortes discordantes tanta vez
E neste desenhar tanto desfez
Enquanto noutro instante me alimento,
O beijo transportando o manso alento
Deixando no passado a lucidez
E gera o turbilhão aonde vês
O canto ao invadir o pensamento.
Não pude e nem pudera ser diverso
E sempre quando a ti querida, eu verso
O mundo se irradia em farta luz,
O amor reinando sobre cada passo
Trazendo o mesmo encanto aonde traço
O todo quando logo o reproduz.



804


Divinas, envolventes madrugadas
Marcando com ternura cada sonho
E neste desenhar eu me proponho
Vagando por sutis, raras estradas,
E nada mais se perde neste intento
O corpo se prolonga noutro mar
E sinto esta delícia a nos marcar
Tomando sem pergunta o pensamento.
Espreito, atocaiado o sonho e vejo
O pleno caminhar em noite mansa
E assim o meu desejo sempre alcança
O mundo delicado e mais sobejo
Superna maravilha se irradia,
Dourando com candura a noite fria.


805


Depois desta viagem rumo ao canto
Nos sonhos mais felizes onde eu pude
Viver o nosso amor em plenitude
E nisto desenhar um raro encanto
Buscara noutro instante e já garanto
O canto mais feliz nova atitude
Enquanto a vida atroz nos desilude
O sonho se emoldura em claro manto.
Estando junto a ti me transfiguro
E o dia se tornando mais seguro
Nada mais impedindo o quanto quero
Navego noutro mar e bebo a sorte
Aonde com ternura sempre aporte
O barco num desenho mais sincero.


806

Por matas e montanhas caminhando
Buscando quem se foi e não voltara
A morte desenhando esta seara
Num ato mais dorido e até nefando,
Minha alma neste instante se invernando
Apenas ao vazio se prepara
Trazendo meu desejo onde escancara
O mundo noutro rumo transbordando.
Restando tanto brilho dentro em mim
Chegando mansamente vou ao fim
E traço novo rumo num segundo,
Assim ao me entregar já sem defesa
Do todo quanto quero agora presa,
No amor sem ter limite eu me aprofundo.


807


Às portas do celeste sonho em vida
O amor se desenhando em ar sublime
A cada novo instante me redime
Deixando no passado esta ferida
E a sorte desta forma sendo urdida
Presume o quanto quero e já se estime
Marcando com ternura o quanto rime
A sorte com sorriso em paz provida.
Não pude e nem talvez ainda visse
Um dia tão diverso da mesmice
Rotina após rotina e a vida passa,
Assim novo cenário eu te proponho
Trazendo à própria história um raro sonho
Senão amor se perde qual fumaça.


808


Deliro em teu prazer e claramente
Adentro os teus mistérios e continuo
Tentando novamente ser um duo
O quanto solitário me desmente.
Apenas mergulhando num repente
O parto se transforma e quando atuo
Também em alegria ora flutuo
Vestindo a paz deveras totalmente.
Extraio em lua clara a fantasia
E bebo desta luz que se irradia
Nas margens de algum rio rumo à foz
E assim se permitindo muito mais
Deixando no passado os temporais
Escuto da esperança a firme voz.


809

Já perco meu caminho nos teus braços
E sigo sem temor cada momento
Aonde com ternura me alimento
Deixando para trás os dias baços.
Resumo minha vida nestes laços
E deste desenhar raro provento
O quanto se mostrasse mais atento
Enfrento com brandura meus cansaços.
Resulto deste sonho e tão somente
O verso quando em paz já se apresente
Permite a magnitude de outro tempo
Erguendo o meu olhar neste horizonte
E nele a própria lua ora desponte
Deixando no passado um contratempo.


810


Na sorte fabulosa se espalhando
A vida numa louca fantasia
O quanto deste tanto poderia
Traçar novo caminho bem mais brando.
O medo se desdenha desde quando
A sorte noutro canto redimia
Tramando a mais sublime poesia
E nisto também sigo me entregando.
Desejo o teu desejo e muito mais
Os corpos; entrelaces rituais
Orgástico segredo desvendado
E o templo construído em claridade
Transcende ao quanto toma e nos invade
Reinando sobre nós suave fado.


811


Sonho e fantasia

Os quero bem longe de mim,
Companhia que me empurra para a mais audaz ambição,
Atroz solidão
Faz sentir-me culpada por desprezar e querer...
Regina Costa

O sonho traduzindo em ermo passo
Aonde navegasse num segundo
E neste desenhar tanto me inundo
Enquanto noutro instante eu me desfaço,
O peso variável, descompasso
E o tanto quanto busco em novo mundo
Deveras dita o quanto me aprofundo
Embora muitas vezes siga lasso.
Vestindo esta ilusão a atrocidade
Permite a imensa dor que agora invade
Do sonho tão distante quão fugaz
Esvaecendo aos poucos nada trama
Senão a vida apenas mera chama
Que o tempo este implacável já desfaz.

812


Amar demais trazendo a plenitude
A quem se dera mais que recebeu
O mundo que pensara ser só meu
Agora noutra face desilude,
O beijo se permite em atitude
Mudando o quanto pode e percebeu
Galgando muito além onde bebeu
Do todo com suave magnitude,
Encontro sem fronteiras meus anseios
E beijo levemente os hirtos seios
Deliciosamente e até voraz,
Prenunciando a sorte que virá
Trazendo o mais sublime e bom maná
Aonde o meu caminho segue em paz.


813


Tão louca de querer amor intenso
Vagando sem destino noite e dia
Bebendo a mais suave poesia
No quanto no teu corpo sempre penso,
E a cada novo passo um dom imenso
Transforma cada traço e me traria
A doce sensação aonde havia
Um toque mais sereno e agora tenso.
Restauro num momento este cenário
E o quanto deste tom imaginário
Transcende ao próprio caos da solidão
Mergulho nos teus braços e me vejo
Sublime desenhar deste desejo
Tramando novos tempos que virão.

814


Vivendo em nosso amor a plena ação
Vibrando em consonância e em harmonia,
O todo noutro ponto nos traria
A mais sublime face em dimensão
E assim ao mergulhar nesta emoção
O quanto do mundo reluzia
Tramando em plena noite um raro dia
Bem mais do que somente algum clarão.
Numa explosão de gozos farta festa
O amor quando se faz e nos atesta
Do quanto é mais capaz a cada fato
Permite um caminhar bem mais audaz
E neste desejar a vida traz
No mesmo instante enquanto eu me resgato.


815



Às vezes eu me perco nos teus passos
Seguindo cada rastro onde houver luz
E quando novamente a paz reluz
Os dias não seriam jamais baços.
E assim aprofundando nossos laços
O todo me transporta e nele eu pus
O quanto poderia e se fiz jus
Não quero mais os dias em cansaços.
Revigorando o encanto a cada sonho,
Eternidade em lume eu te proponho
Reponho cada coisa em seu lugar,
E sendo tão somente teu agora
A vida noutra face revigora
Gestando a cada noite este luar.


816


Teu canto, minha amada, viciando
Quem tanto te deseja e sempre e tanto
O quanto da vontade eu te garanto
Marcando o meu momento em sonho brando,
O fogo da emoção já nos tomando
E neste fato insano me adianto
E quando se desenha novo canto
Minha alma na tua alma se entornando.
Apresentando a vida num momento
Enquanto novo rumo bebo e tento
Cerzido com ternura e com desejo,
O manto mais sublime nos recobre
E um dia tão tranquilo, doce e nobre
Agora simplesmente em paz eu vejo.


817


Aloca-se profundo dentro da alma
O canto mais suave aonde eu pude
Vencer o meu anseio às vezes rude
E mesmo a ventania enfim se acalma,
Revigorando o passo a cada gozo
O mundo novamente se apercebe
Da delicada luz na doce sebe
Num dia tão diverso e majestoso.
Imperioso sonho nos domina
E o sonho se transforma em plena ação
Mostrando novos dias que trarão
Ao peito a mais suave e rara mina
Emana dentro em nós rara manhã
Deixando para trás sorte malsã.


818


Não posso nem pretendo novo rumo
Enquanto nos teus braços sou feliz
Vivendo com certeza o quanto eu quis
O gozo neste instante quero e assumo.
Vestindo esta emoção tomando o prumo
O tempo na verdade não desdiz
O quanto da alegria nos bendiz
E traça a fantasia em supra-sumo.
Adentro o paraíso vivo em ti
E neste delirar eu concebi
Um mundo mais suave e mais tranquilo,
E assim ao me entregar sem mais defesa
Minha alma se aproxima deste céu
Aonde a desejada eternidade
Mais alto num amor deveras brade,
Cobrindo em santidade um claro véu.

819


Distante deste amor não sou mais nada,
Meu passo sem sentido e sem razão
A sorte noutra face em solidão
A história no vazio desvendada
Marcando com ternura cada estrada
Vestindo a mais sublime direção
Cerzida com brandura uma emoção
E nela nova sorte enveredada;
Seguindo cada passo rumo ao farto
A dor a todo instante enfim descarto
Em gestos mais gentis sou teu, inteiro
E quando se aproxima o fim da tarde
Ainda que deveras nada aguarde
Colhendo as belas flores do canteiro.


820

A mão que te procura e se sacia
Nos antros de um momento mais feliz,
E toda esta verdade contradiz
A noite no passado atroz e fria,
O rústico desenho em fantasia
Agora nova face já me diz
E nisto tendo tudo o que mais quis
O mundo noutro encanto se recria.
Revigorando o passo rumo ao tanto
A cada instante um sonho a mais garanto
E marco com brandura o meu caminho,
Resisto ao mais dorido vendaval
Sabendo deste sonho triunfal
Aonde plenamente ora me aninho.



821



Tão trêmula, deseja algum momento
Aonde possa enfim num bom mergulho
Ouvindo mais de perto este marulho
Entregue sem defesa ao manso vento,
E quando te encontrando também tento
Cansado de um cenário em pedregulho
A cada novo toque mais vasculho
E chego à fonte aonde dessedento.
Resumos destas vidas entranhadas
E nelas percebendo as alvoradas
Risonhas entre festas, guizos, riso.
E assim ao se encontrar em ar suave
A vida sem mais nada que inda agrave
Levando-nos direto ao Paraíso.


822


Meu mundo sem te ter de nada vale,
O quanto poderia ser feliz
Tentando a cada instante o que mais quis
O canto com brandura não se cale,
Teu corpo sobre o meu bendito xale
E nele toda a glória se bendiz
Uníssono desejo um só matiz
Aonde o gozo enorme me avassale,
Rendido e sem saber de outro caminho
Edênico delírio eu me avizinho
Do quanto imaginara em plenitude
A vida em avidez e maravilha
Enquanto esta ternura ora palmilha
Que nada mais deveras isto mude.


823


A vida se tornando em tom igual
Marcando cada passo com o brilho
Aonde com certeza também trilho
Galgando num instante um alto astral
Esbarro noutro sonho magistral
E quando mais além eu me polvilho
Tentando com certeza um estribilho
Num tom quase tranquilo e sensual.
Ardentes maravilhas conduzindo
Ao quanto imaginara bem mais lindo
Regendo cada passo rumo ao tanto
E quantas vezes busco nova imagem
E neste delirar nova viagem
Ao mais sublime em paz, tento e garanto.


824

Desenho o teu retrato no meu rosto
E bebo cada gole em tal ventura
Aonde a própria sorte se emoldura
O toque noutro rumo mais disposto,
E quando se vencera o contragosto
Regendo novo canto onde a brandura
Ditasse outra maneira mais segura
De ter o quanto quis e vejo exposto.
Cenários se aproximam do meu sonho
E cada novo canto ora componho
Pensando no teu corpo nu e belo,
Qual fosse neste instante imenso, um rei
No manto mais sublime eu desenhei
O quanto para nós fosse um castelo.


825

Seus raios me abraçando lua imensa
Tocando em argentina maravilha
Seguindo cada passo em rara trilha
Amor quando demais sempre convença
E neste desenhar o quanto pensa
Minha alma também toca e logo brilha
Fugindo do que fora uma armadilha
Na face mais suave a recompensa.
Esvaio em melodias sonho e gozo,
Desenho muitas vezes caprichoso
De quem se pintaria em luz e sonho,
Assim ao me entranhar felicidade
O quanto pude crer diversidade
Traduz o que deveras me proponho.


826


Amor que dói demais e logo cura
Tramando a cada passo outro cenário
O rumo quando outrora imaginário
Agora noutro instante se afigura,
E o beijo mais suave em tal procura
Marcando com sorriso o temerário
Desenho e nele pude em tom mais vário
Traçar o quanto fora uma loucura.
Reinando sobre tanto sofrimento
A vida se apresenta enquanto tento
Vagar por sobre nuvens tão distantes
E neste desejar bem mais além
Minha alma tão somente em paz contém
O quanto em alegria me garantes.

827


Traz-me do arroio, mágoas e terrores
Deságuas nos meus olhos cores, lumes
E quando noutro fato ainda rumes
Diverso caminhar por onde fores,
Vestindo as ilusões e dissabores,
As ânsias transformando em vãos ardumes
O quanto desejara e já te esfumes
Matando no canteiro belas flores
E assim eu me permito acreditar
Num raio mais suave do luar
Emoldurando em nós a fantasia.
O mundo se transforma num repente
E toda a maravilha se apresente
Enquanto além o sol toma e irradia.


828


Que no fundo da noite trama o dia
Galgando muito além do mero verso
E quando no teu sonho eu me disperso
O mundo noutra face fantasia
E singro a mais suave melodia
Tramando a cada instante outro universo
Deixando no passado o mais perverso
Moldando com ternura uma alegria,
E quero tanto amor mais do que pude
Vivendo a cada instante a plenitude
Revestindo todo passo em liberdade
O amor não se sacia e não sossega
A vida sem destino; teima cega
E nisto bebe inteira a claridade

829


Amor que se deságua noutro amor
Moldando num eterno ciclo a vida
A sorte desta forma presumida
Transcorre sem temor e sem pudor,
Vencendo da maneira aonde for
A porta sempre audaz, desguarnecida
Curando qualquer medo outra ferida,
Um passo rumo ao tanto em resplendor.
Navego por momentos mais sublimes
E neste desenhar tanto redimes
Os erros tão comuns a quem anseia
Sem tanto se entregar mais plenamente
E a vida sem amor tudo desmente
Deixando uma alma quieta, muda, alheia.

830


Amor sina que nunca me transtorna
Vencendo cada infausto gera o farto
E nesse desenhar eu já comparto
O quanto de prazer em paz entorna.
A tarde solitária fria ou morna
O canto noutro instante ora reparto
E quando mergulhando nosso quarto
A fonte luminosa em glória adorna
E o beijo prenuncia um algo mais
Desenha novas formas sensuais
E tanto vejo a sorte mais feliz,
Tramando outro cenário num instante
O passo noutro rumo me garante
Trazendo tudo aquilo quanto eu quis.



831


Amor da suave brisa à tempestade
Traçando o dia a dia em tom diverso
E quando neste rumo agora verso
O canto noutro tom intenso invade
E gera alguma luz, felicidade
Em meio ao tanto rude e mais disperso
Cenário e nele adentro e quando imerso
Procuro uma sutil tranqüilidade.
Insisto no vazio e nada tenho
Somente o discordante sonho e empenho
O rumo noutra foz onde eu pudera
Viver com paciência a plena luz
E neste desenhar o quanto opus
Transborda numa essência turva e fera.


832



Nas horas mais difíceis poderia
Trazer alguma luz a quem caminha
Em noite tão atroz dura e mesquinha
Na face mais dorida e até sombria,
Vestindo o quanto pude em ironia
A sorte noutra fase desalinha
E marca com ardume o quanto tinha
Matando com terror a fantasia.
Gerasse um novo tempo dentro em mim
A florescência intensa de um jardim
Aonde nada traz e nada colho,
Assim ao mais disperso me recolho
E morro a cada passo um pouco mais
Sem ter o que pudera crer, jamais.


833

Por raios fulgurantes traço o sol
E deste desenhar novo momento
E nele com certeza sempre tento
Vencer a imensa dor deste arrebol,
Caminho e procurando sempre em prol
Ditando este cenário eu me alimento
Do sonho e deste raro e bom provento
Adentro cada sonho em teu lençol,
Arfando com desejo em tal prazer
O todo neste instante posso ver
Bendigo todo passo rumo ao farto
Desenho a plenitude e nela habito
Um mundo com certeza mais bonito
Ao lado de quem amo já reparto.


834


Os olhos de quem amo refletindo
Um sonho mais feliz e mais audaz
Enquanto a própria vida já nos traz
O todo tão sobejo raro e lindo,
E quando noutro instante à paz eu brindo
Cenário mais feliz e assim tenaz
Bebendo tão somente a intensa paz
Aonde meu desejo ora deslindo,
Apreciando o brilho do luar
Reflexos de outro brilho dentro em mim
Num ápice superno e soberano
Amor quando em amor, sonho sacia
Transborda a claridade a cada dia
E nisto redimindo qualquer dano.


835


Na noite que não serve de consolo
Aquém da fantasia mais sutil
O todo noutro fato não se viu
E apenas coração batendo, tolo.
O risco de viver se aprofundando
A sorte sem saber de qualquer rumo
E quando na verdade em vão me esfumo
O dia se mostrara quase infando,
Vibrando em consonância com a noite
O sonho se esvaíra e tão somente
Deixando para trás o quanto tente
Marcando com temor um novo açoite
E o todo se transforma em nada agora
E a solidão deveras nos devora.


836

Parece que no fim nada mais resta
Senão a mesma dura ingratidão
E os dias novos sonhos não verão
A sorte se desenha mais funesta
E ainda quando pude em simples festa
As horas na total degradação
Marcando os dias torpes que verão
A imagem da emoção em leda fresta,
Pudesse ser feliz, ah quem me dera,
A vida noutra face, uma quimera
Transcende ao meu desejo e nada traz,
Somente o que tentasse noutra via
Marcando a minha vida em luz sombria
Aonde se queria mais audaz.


837



A ter somente um sonho e nada além
O mundo não pudera ser assim,
Marcando o meu anseio em triste fim
O todo noutro instante nada tem,
Mergulho e no vazio do desdém
O risco se aproxima em estopim
Ternura não se vendo em vão motim
Apenas do não ser, mero refém.
O quanto poderia acreditar
Em raio mais disperso do luar
Agora não traduz realidade
E o pouso noutro ledo desenhar
Marcando a minha vida a desbotar
Enquanto este temor ainda brade.


838


Em ânsias e vergonhas, passos vagos
E quando poderia ser diverso
Ainda no horizonte sempre verso
Tentando adivinhar meros afagos,
Os olhos sem saber sequer da luz
O tempo desarvora qualquer messe
E o nada aonde o brilho se esvaece
Trafega e noutro instante me conduz
Num desvario traço o dia a dia
E morto sem saber de alguma sorte
Apenas o temor que fundo corte
E o sonho quando muito já se adia,
O fato de existir somente alenta
E o resto se aproxima em vã tormenta.


839


Somente me restando a solidão
Aonde quis a glória inutilmente
A vida se transforma e tanto mente
Tramando a cada instante um novo não,
Os dias noutros erros se darão
E o corpo a dor deveras apresente
Marcando com terror cada semente
Matando o que pudesse floração,
Frutificando apenas o vazio
Enquanto cada passo ora desfio
Buscando a liberdade aonde outrora
Pudesse acreditar e nada vira,
Cenário transbordando em tal mentira
Aonde apenas medo agora aflora.


840


De um dia que se foi e não voltando
Imagem mais sutil, felicidade
E o quanto da tortura agora brade
Apenas ilusão em ledo bando,
Espero qualquer dia transformando
Moldando em tom suave esta verdade
E o peso mais atroz, sinceridade
Não deixa nem pensar sequer nem quando.
Ourives do vazio não lapido
Sequer a menor sombra em resumido
Desenho desdenhoso num tormento
Marcando em tatuagem a alma vã
Aguardo inutilmente outra manhã
E desta fantasia eu me alimento.


841


De um beijo outrora dado uma lembrança
Resume o que restou de tanto amor,
E quando a minha vida no sol-pôr
Ainda dolorosa e tensa avança
Relembro desta audácia em aliança
E o tempo trouxe o fim, medo e rancor
Deixando no passado este sabor
Aonde a vida fora bem mais mansa.
O tanto que sonhei e nada levo
Enquanto noutro instante sigo sevo
Medonha face exposta sem defesa
A vida determina um prazo rude
E neste desvendar só desilude
Nem mesmo alguma messe, vaga e tesa.


842


Olhando para estrelas perco o rumo
E sem saber sequer aonde existe
O quanto não pudesse ser tão triste
Inutilmente em vão eu me resumo,
E o tanto que pudera não presumo,
O velho caminhar ainda insiste
E deixa meu caminho e não resiste
Ao tanto quando o quis em novo aprumo.
Espraia o pensamento e nada traz
Somente o mesmo engodo tão tenaz
Num pertinaz delírio ainda vejo
Quem tanto já não sinto mais presente
E quando meu olhar de ti se ausente
Apenas mera sombra de um desejo.


843


Aonde se espalhou meu pensamento
Alçando muito além do que já pude
Viés onde presumo em plenitude
O quanto noutra face me atormento
Vestindo esta ilusão ainda tento
Cerzir aonde o tempo mostra o rude
Caminho que deveras desilude
Ainda quem prossiga mais atento.
Adentro a cada instante outro universo
E quando me percebo e me disperso
O tanto quanto eu quis já nada traz,
O risco se assumindo a cada engano
E assim com toda a dor hoje me dano
Num tempo em tempestade, mais mordaz.


844


Apenas nos acordes mais audazes
O rumo se pressente noutra face
E quando no vazio transformasse
Aonde na verdade nada trazes
A vida perpetua várias fases
E gera a cada instante novo impasse
Porquanto a solidão ainda trace
Momentos dolorosos e mordazes,
Navego entre as estrelas mais distantes
E bebo cada toque do infinito
Ainda quando mais quero e acredito
Nas sortes entre tantos diamantes,
Vagando sem perder nem rumo ou paz
Mergulho neste sonho e sigo audaz.


845


Seria a mão de Deus a que nos toca
Enquanto num amor já sem limites
Também enquanto eu creio te permites
Ousando noutro fato onde o provoca,
A sorte desenhada nos demanda
Um dia mais feliz e em tal seara
A paz aos poucos toma e se prepara
Enquanto a cada instante ora comanda.
O amor sem ter diversa provisão
Riscando cada espaço em tom mais nobre
E quando novamente se descobre
O rumo desenhado, a direção
O mundo se transforma totalmente
E o sonho noutra voz nos apascente.


846


Que trouxe teu sorriso num segundo
Vagando em mansidão além do todo
A vida se fazendo sem engodo
Aonde com ternura eu me aprofundo.
O risco de sonhar tramando a luz
E neste desenhar a santidade
Da vida num momento nos invade
E tanta glória em paz já reproduz
Cenário aonde eu posso imaginar
O canto em esplendor, louvor e fé,
O amor sabendo sempre sem galé
A cada novo instante libertar
Gerando a claridade onde se banha
Recobre em esperança além, tamanha.



847


Vencendo todo o medo aonde houvera
Apenas solidão e nada mais,
Ainda procurando um manso cais
Gestando mansamente a primavera
E neste desenhar o quanto espera
Enfrento os mais dispersos vendavais
E quero na verdade em sensuais
Delírios a superna e bela fera.
Assinalando o passo rumo ao tanto
A vida noutro fato já garanto
E marco com ternura todo passo
Aonde me desenho em tez suave
Sem nada que deveras inda agrave
O canto aonde além deveras traço.


848


Do amor que tanto cura em entorpece
Os brilhos mais audazes e felizes
E nele se enfrentando em paz as crises
O novo amanhecer deveras tece
E o canto da amizade, imensa prece
Aonde a cada dia mais bendizes
Os sonhos fantasias sem deslizes
E o tempo em sol fantástico amanhece
Regendo cada passo rumo ao mar
E neste tão divino caminhar
O todo se aproxima em luz e glória
E assim ao desenhar um brilho em nós
O rio se encontrando em mansa foz
Trazendo a cada instante outra vitória.


849

Vibrando uma esperança aonde há pouco
Apenas o vazio se sentira
A sorte noutra face em nova mira
Enquanto num instante eu me treslouco
E tento acreditar novo caminho
Vencendo os meus temores e seguindo
Num dia mais suave e manso e lindo
Aonde em divindade me avizinho.
Gerando um tempo amigo e mais audaz
E nele cada rumo se traçando
Desejo um manso alento aonde eu possa
Trazer ao meu cenário sem medo ou troça
Um belo desejar suave e brando
Harmônica certeza dita paz
E nela todo sonho em luz se faz.


850


Agora no momento a vida trama
Beleza sem igual transparecendo
Durante um longo tempo o mais horrendo
Delírio desdenhoso em caos e drama
Apenas a verdade já nos chama
E traça noutro tanto o quanto vendo
Permite caminhar em estupendo
Cenário aonde a vida nos reclama
A glória de poder estar contigo
Vencendo a cada passo o quanto sigo
Vibrando em consonante fantasia
E neste sacro alento me percebo
E quanto dos teus lábios quero e bebo
Um sol dentro desta alma irradiaria.



851


Na dor que tão antiga perde o senso
O rústico desenho de um passado
Aonde todo passo mal traçado
Gerara o quanto vejo e nem mais penso,
Audaciosamente o dia tenso
Tramando cada fonte em novo brado
E o verso se mostrando amedrontado
Gestado pelo anseio enorme, imenso.
Acendo alguma lâmpada e procuro
A sorte desvairada enquanto escuro
Cenário dominara inteiramente
Fortuna se perdendo a cada instante
E neste desvendar o não garante
O tanto quanto pude e ainda tente.


852


Viceja finalmente alguma flor
Aonde em meu canteiro se fizera
A vida numa louca e vaga espera
Tramando a cada instante um dissabor,
O canto se mostrara num louvor
Apascentando enfim torpe quimera
E o sonho noutra face já se esmera
Traçando um novo dia multicor;
Iridescente sonho em tênue voz
E o risco se fazendo mais atroz
Negando alguma messe a quem sonhara,
O peso desta sorte diz da vida
Deveras novamente preterida
Jogada em algum canto em vã seara.


853


Amor em ondas fortes, vendaval
Trazendo a todo verso outro momento
E quando desvendá-lo busco e tento
O dia se transcorre em tom venal,
Ainda que pudesse em desigual
Caminho desvendar meu pensamento
Deixando para trás o alheamento
Morrendo em noite amarga e passional.
Vasculho dentro da alma e nada vendo
Apenas o cenário aonde horrendo
O mundo se transforma e demoniza
O passo de quem ama e busca além
Do quanto na verdade ainda tem
E em plena ventania busca a brisa...


854


Poderia ser

Pudiera ser que todo lo que en verso he sentido
no fuera más que aquello que nunca pudo ser,
no fuera más que algo vedado y reprimido
de familia en familia, de mujer en mujer.
Dicen que en los solares de mi gente, medido
estaba todo aquello que se debía hacer...
Dicen que silenciosas las mujeres han sido
de mi casa materna...
Ah, bien pudiera ser...
A veces en mi madre apuntaron antojos
de liberarse, pero, se le subió a los ojos libertado,
una honda amargura, y en la sombra lloró.
Y todo esto mordiente, vencido, mutilado,
todo esto que se hallaba en su alma encerrado,
pienso que sin quererlo lo he libertado yo.


ALFONSINA STORMI

Pudesse ser diverso do que agora
A vida se transforma e transfigura
A sorte noutra face em tal ventura
Deveras pouco a pouco nos devora,
O quanto do meu sonho ainda ancora
No mar aonde a luta assim perdura
E neste decifrara tanto tortura
Enquanto na verdade me apavora.
Mergulho dentro da alma em água e canto
Num verso decifrando e já me espanto
Ao ver o meu reflexo no oceano,
Banhando com as lágrimas e sal
A trama noutro enredo, desigual
E assim neste cenário; desengano.


855


Erótica emoção, amor sutil
Aonde poderia ser singelo
A cada novo intento mais revelo
O quanto noutra face não se viu.
O amor emoldurando este castelo
E neste delirar sobejo e belo
O todo desvendando cada abril,
E o tanto num momento se anteviu
Domando com as mãos cada rastelo,
Assim com as palavras que lapido
O tempo se transforma e decidido
O rumo em voz macia e soberana
Assisto ao quanto posso e mesmo creio,
Vencendo a todo instante outro receio
Enquanto a poesia esta alma emana.


856


Cravando em minhas costas a fria adaga
A sorte traiçoeira atocaiada
Tecendo num instante o mesmo nada
Enquanto no vazio uma ânsia traga,
O passo noutro rumo a vida draga
E trama a escuridão noutra alvorada
A vida se transmuda e tão nublada
Apenas emoção atroz ou vaga.
Revolvo cada passo aonde eu pude
Tentar adivinhar em plenitude
O dia que não veio e nem virá,
O manto se transforma e num repente
Um bote perpetrado por serpente
Gerada a cada instante aqui e lá.


857


Tomando o meu caminho em forte pulso
A vida não pudera nova face
E quando uma esperança tome e grasse
Gerando a cada instante novo impulso
Um sonho tão diverso e mais convulso
E nele toda a sorte transformasse
Deixando no passado a dor e o impasse
Caído o velho arcanjo agora expulso.
E o tempo se alentando em fera e glosa
O quanto poderia majestosa
Beleza tão superna nos iguala,
E o cântico em louvor a quem pudera
Vencer em placidez a dura fera,
Numa alma libertária e não vassala.


858


Que tantas vezes mata enquanto arrasta
Cadáveres dos sonhos pela rua,
E a noite sem a bela e rara lua
Aos poucos se mostrando mais nefasta,
O passo do destino já se afasta
Esta alma atormentada além flutua
E o quanto da verdade se cultua
No rastro desta sorte amarga e gasta.
Mergulho num instante em mar aberto
E a vida noutro fato já deserto
Deixando para trás o mero alento,
E quando prosseguindo contra a fúria
Deste abissal delírio em tal penúria
Um novo amanhecer, infausto, eu tento.


859


Abençoadamente quis um dia
Após o temporal, rara bonança
A vida na verdade não se amansa
E gera a cada passo a rebeldia
Aonde quis apenas fantasia
O medo noutro rumo ainda avança
E marca com terror a confiança
E o gozo retalhado ora se adia,
Esmago outra serpente com meus pés
E vejo a minha vida num viés
Aonde se permite acreditar
Num tempo mais augusto embora vago,
E quando este demônio; em mim afago
Encontro o meu limite em fundo mar.

860


Senão quem tanto amara se inda traz
O risco nos seus olhos, e desnuda
A face desenhada em luz aguda
Um canto aonde o sonho é pertinaz,
Vencer os meus anseios, ser capaz
Da parte que me cabe e já me acuda
O manto se desenha e desiluda
O passo rumo ao quanto em medos faz,
O gesto mais atroz, o canto imerso
E nele outro momento gesta um verso
Aborto esta promessa e já me calo,
Minha alma noutro corpo se entranhando
Cenário mais temível desde quando
O sonho se mostrara um vão vassalo.



861

Distante da amargura corriqueira
A vida se presume em calmaria
E quanto mais deveras se veria
A sorte noutra face também queira.
Ousando na esperança por bandeira
O tempo novamente exigiria
Algum momento em rara fantasia
Gerando esta emoção tão verdadeira.
Encontro os meus anseios mais diversos
E tento com pureza nos meus versos
Adentrar os delírios de quem ama,
Vestindo esta ilusão, porquanto viva
A cada novo instante a primavera
E neste desenhar, o que se espera
Traduz uma esperança mais altiva.


862


Apenas alegria me redime
Dos erros e das quedas noutra estrada
E quando se apresenta a madrugada
A lua que eu bebera, mais sublime,
Ainda tão distante e em vão se estime
Moldando com ternura uma alvorada
E desta face exposta outra jornada
Os medos e os anseios; já suprime.
A paz tão desejada ora se expondo
Caminho mais suave correspondo
Ao quanto poderia imaginar
Superna maravilha dita sorte
E aonde quer que eu vá, encontro o aporte
Dos raios mais intensos de um luar.


863


Atando uma esperança aonde houvera
Somente a mesma face em maldição
Os dias se repetem, mesmo vão,
Marcando a ferro e fogo, vil quimera
E o tanto quanto espero degenera
E tempos mais doridos se verão
Na infausta e derradeira, esta estação
O inverno se desenha em tez mais fera.
Pudera ainda ter algum sorriso,
E quando em própria vida eu agonizo
Cravando as finas garras no meu peito,
O fato de sonhar e ser feliz
Que a sensação atroz ora desdiz
Expresso este temor quando eu me deito.


864

Abrindo o peito aguarda o vento manso
E sabe que ao final pouco teria
A noite se transcorre imensa e fria
E nada de um anseio mor alcanço,
A vida renovando o velho ranço
Expressa a face escusa e mais esguia
Marcando com terror esta agonia
E ao nada neste instante enfim me lanço.
Pudera acreditar noutro momento
E quando alguma messe, ainda tento
Esbarro nos meus erros costumeiros
E vendo mais distante o tolo sonho
Enquanto um fútil verso ora componho,
Os passos noutro rumo, os derradeiros.


865

Que volta de repente ao mesmo nada
Depois de tantos anos vejo o fim
Os dias noutra sorte em vão motim
Desarmam a alma outrora engalanada,
Vencido pela angústia que entranhada
Esbarra a cada instante dentro em mim
E a queda se prevendo, traz enfim
A face sem pudor, escancarada
Vestindo uma ilusão somente insisto
E quando me percebo encontro nisto
O corte aprofundado em minha pele
E o quanto do não ser já me tomando
As esperanças fogem, triste bando,
E ao nada o dia a dia me compele.


866


E mata a solidão esta presença
De quem há tanto tempo não viera
E após o surgimento da quimera
A solidão tornada agora imensa
No quanto o poder ter-te me convença
Da vida mais suave e já se espera
A sorte noutra tez quando se gera
Do todo uma certeza recompensa
Refaço cada passo numa estrada
Há tanto noutra face demarcada
Gerada pela angústia e tão somente,
Agora ao te sentir bem junto a mim
O sofrimento ausento e sinto enfim
Um raro amanhecer que se apresente.



867



Sabendo deste amor que incoerente
Maltrata e logo acolhe com carinho,
Dos ermos de minha alma eu avizinho
O quanto poderia estar presente,
E neste desejar se tanto alente
Nos lábios desejados, doce vinho
E singro este oceano onde me aninho
Sirena com seu canto me acalente.
E as tramas desta lida em desventura
Na face mais suave onde procura
Apenas o descanso e nada mais,
Erguendo o meu olhar neste horizonte
Aonde uma incerteza tome e aponte
Imerso em águas turvas, sóis e sais.


868


Os dias tão vazios noutra face
Esgarçam poesia e matam fé
Do quanto poderia ser quem é
E neste delirar me alvoroçasse
No todo se transforma e assim tomasse
Bastião que derradeiro e sem galé
Gerando nova história segue até
A vida não calar-se num impasse.
Cercando cada passo rumo ao tanto,
Ausência noutro enfado hoje eu garanto
E marco com frieza em plenitude
Este árduo desejar inconsolável,
E o tempo noutro instante interminável
Aos poucos se derrama e desilude.



869


A chama deste amor me incendiando
Tocando a minha pele adentrando a alma
E aos poucos serenando logo acalma
As dores noutro instante em ledo bando,
Ao som deste chorinho, um bandolim
Relembro de outros tempos mais felizes,
E agora quando vens também me dizes
Da rara florescência em meu jardim,
Renova em primavera o duro outono
E traça outro cenário em perfeição,
Sabendo de outros tempos que virão
Embora tão escasso, quero e adono
Dos tanto desejado sonho nosso,
Mesmo que frugalmente hoje me aposso.


870


Curando esta ferida, desamor,
Eu tento novamente um cais aonde
A vida noutra face já se esconde
E trama outro caminho, refletor?
Dos holofotes tantos, multicor
Delírio ao meu desejo corresponde
Renova-se o desejo, ora responde
Trazendo em cada luz, a rara flor,
Perfumes exalados neste intento
O amor insaciado ainda tento
Vencendo os meus enganos costumeiros
E enquanto me procuro e em ti reflito
O quanto de meu canto fora aflito
Agora noutros tons, mais lisonjeiros.



871

Vieste neste inverno, primavera
Traçando outro destino aonde eu pude
Apenas reviver a juventude
E ver o pouco tempo que me espera,
Ocaso se aproxima e esta quimera
Toando com terror em plenitude
E o passo noutro rumo desilude
Marcando com loucura e destempera.
Vieste, mas a vida não resgata
Uma alma desnudando-se insensata
Buscando tão somente alguma luz,
Enquanto a noite cai fria e nublada,
E quando noutro instante leva ao nada,
Um holofote ao longe, enfim, reluz.

872


Soltando uma emoção a cada canto
Vibrando em consonância com a vida
E neste delirar a sorte urdida
Pudesse transformar-se em acalanto
E quando em nova luz eu me adianto
Eu vejo esta seara em mim perdida,
E o todo se transforma na ferida
Causada tão somente pelo espanto.
Medonho e caricato aventureiro
O amor não se mostrando por inteiro
Esconde a face escusa e mais cruel,
O quanto imaginara em glória e festa
Agora noutro tom atroz se empresta
Num nevoento e frio, escuro céu...


873


Vencendo a sensação de nada ter
Tentando outro caminho aonde eu possa
Viver a plenitude tanto nossa
Regida pelas ânsias de um prazer,
A vida noutro instante em bem querer
Tramando esta magia que a endossa
Supera com sorriso a velha troça
E marca a magnitude em bel viver.
O amar e ter apenas a ilusão
Traçando novos temos que trarão
O quanto desejei e não sabia
Ainda ser possível nesta tarde,
Enquanto a fantasia se resguarde
Abraço esta esperança em alegria.


874

Alçando num momento outro caminho
Aonde poderia ver além
Do quanto na verdade inda contém
Porquanto siga sempre mais sozinho,
Vencendo o pesadelo onde daninho
O tempo noutro instante faz refém
Marcando em discordância não convém
Deixando um ar terrível e mesquinho.
Açoda-me a vontade de seguir
E tanto poderia num porvir
Distante dos meus olhos, ser feliz,
Mas quando a realidade já desdiz
O tanto se perdendo em mera sombra,
Presença da ilusão, mordaz, assombra.

875


Ei,
Vim te buscar nas asas da ilusão,
Vestida de fantasia,
Perfumada de alegria
A transbordar amor e magia!


REGINA COSTA



Envolta em fantasias, minha vida
Expressa a poesia a cada instante
E o tanto quanto quero se garante
Na imagem pouco a pouco construída
Da luz regendo a paz e sendo urdida
Num ato de carinho, fascinante,
O amor quando demais nos agigante
E traga aonde o busco uma saída
No quanto sou feliz apenas por
Saber da maravilha em tanto amor
Vibrando em harmonia, transbordando
Um ato mais sutil, gentil e farto,
E neste delirar em ti comparto
Momento em magnitude audaz e brando.



876

Um sonho vem pousando mansamente
Após tempestuosa vida vã
E neste caminhar nova manhã
Aonde o todo posso e ainda tente,
Vencer o descaminho plenamente
Marcando com candura um raro afã
E neste desenhar onde malsã
A vida se apresenta e me apascente,
Ascendo ao quanto pude num momento
Erguendo o meu olhar e vendo além
O quanto da esperança me contém
E nisto novo rumo ainda tento,
Expresso com ternura o quanto quis
Deveras, ao teu lado ser feliz.


877


E deita sobre um corpo esta esperança
Gerando novamente outro cenário
E o quanto se pudera temporário
Ao todo noutra face em paz se lança
A vida se transcorre em temperança
O amor sendo sublime e necessário
Vencendo o desamor, um adversário
Usando esta arma branda, a temperança.
Articulando a sorte a cada frase
Ainda quando muito teime e atrase
Mereço ser feliz e sei que nisto
Consiste o meu anseio mais sublime
Aonde a sorte rege e nos redime
Motivo pelo qual ainda existo.


878


Permite uma alegria um novo sol
Vibrando em harmonia com meu sonho
E quando novo tempo a ti proponho
Resumo toda a trilha num farol
A vida caminhando sempre em prol
Do todo aonde o mundo é mais risonho
E a cada maravilha onde me ponho
A sorte desenhada em raro escol.
Espalho o meu desejo e; solto ao vento
Apenas mansidão procuro e tento
Vencer as discordâncias mais sutis,
E nisto outro cenário se apresenta
Aonde a sorte fora virulenta
Encontro tudo aquilo o que eu mais quis.


879



Emoldurado em forma tão diversa
O sonho traz em tons suaves, canto
E neste desenhar quero e garanto
A vida aonde o canto reina e versa
A sorte discordante e mais perversa
Marcando a cada instante num quebranto
Medonho sentimento agora espanto
Enquanto a poesia se dispersa.
Vasculho cada parte do meu ser
E encontro o teu retrato no prazer
Porquanto no passado fora rude
O passo em nova senda se aproxima
Do todo mais audaz e neste clima
Amei aonde eu pude. Em plenitude.


880


Minha alma solitária noutro instante
Transcende à própria vida e num mergulho
Enquanto cada ausência inda vasculho
O mundo noutra face se adiante,
O quanto deste todo se garante
Marcando com desejo ou mesmo orgulho
Ouvindo bem mais próximo o marulho
De um mar em praia clara, estonteante.
A lua derramando sobre o sonho
Além do quanto posso ou me proponho
Irradiando em tons suaves, prata
Ainda quero o brilho dentro em mim
E o canto mesmo quando trama o fim
De toda a solidão já me resgata.


881


Assim que gosto e anseio,
Quanto mais brando,
Mais intenso e extasiante!
Que cada verso em poesia
Expresse amor e prazer
Tecendo uma biografia de
Pura ousadia e vontade de viver!
REGINA COSTA

O fato mais audaz, porquanto nobre
Gerado pela bela poesia
Marcando com ternura e fantasia
O quanto deste sonho nos recobre.
A vida noutra face se descobre
E gesta a maravilha em alegria
E neste caminhar redimiria
A própria desventura que soçobre.
Resumos em prazeres, riscos, sonho
São partes deste mundo onde componho
Um Eldorado em toda uma amplidão,
Enquanto houver a voz de um trovador
Grassando as raras trilhas de um amor
O canto não será decerto em vão.


882


Pedindo que esta imagem frutifique
Traduzo noutro verso o quanto eu quis
E neste desenhar novo matiz
Aonde cada sonho fortifique
O passo rumo ao todo enquanto eu fique
Traçando a poesia o ser feliz.
Arcando com a imensa cicatriz
Que o novo após o fato se edifique.
Amar e ter no olhar este horizonte
Aonde à plenitude já se aponte
O dia a dia feito em harmonia,
Vencer os descaminhos mais atrozes
Libertos versos, soltos albatrozes
Rumando ao mavioso e raro dia.


883


Acabe bem depressa esta maldita
E treslouca fúria por poder.
Marcando a ferro e fogo cada ser
Além do quanto deve e se acredita
O amor como se fosse uma pepita
Num lapidar tão nobre eu posso ver
Gestando um mais suave amanhecer
E nele outra certeza em paz já grita
Ousando na sutil felicidade
O quanto a cada passo nos agrade
Gerenciando assim o todo em cada
Momento mais audaz, porquanto nobre
E neste tom suave se descobre
A sorte tantas vezes desejada.


884


Que fez o pensamento além de tudo
Tocar em mansidão meu caminhar
E tendo noutro instante onde pousar
O coração em paz, não mais me iludo,
E sinto enquanto à vida ora saúdo
Traçando a cada instante outro luar
E nele tão somente rebrilhar
O mais que procurasse ainda mudo.
Resulta dos meus sonhos este instante
Aonde a própria vida se agigante
E trace novo rumo após a queda,
E o quanto em tão sublime paraíso
Vestindo esta esperança eu me matizo
No sonho enquanto à luz já se envereda.

885


Acaso, meu amor, inda buscares
A sorte noutra face mais suave,
O passo se transborda e nada agrave
O amor em raros tons, belos altares.
E quando contra a fúria navegares
Verás o coração qual liberta ave
Vencendo a sordidez; temível trave,
Alçando em pensamento mansos ares.
Resplandecente a vida se transforma
E toma num instante a rara forma
Traçada pela paz em tal constância
E assim; por conseguinte, bebo em ti
O tanto que sonhei e descobri
Sublime delirar em clara estância.


886


À dor da solidão em contraponto
Desenho algum momento em paz e tento
Vencer o caminhar mais desatento
E neste delirar agora, pronto,
Seguindo passo a passo eu já desponto
Ao todo quando muito em pensamento
Vencendo a cada instante algum tormento
Ao todo que passara sem confronto,
Navego com ternura e bebo a fonte
Aonde o meu desejo teime e aponte
Regendo todo passo rumo ao sonho
E neste desejar em absoluta
Beleza uma alma nobre não reluta
E novo delirar em paz componho.


887

Não deixe que eu persista em solidão
Vagando pela noite mais sombria
E neste caminhar tanto queria
Vencer o descaminho atroz e vão,
Os dias onde os ritmos mudarão
As fases mais agudas da agonia
E neste desejar mergulharia
O canto numa nobre direção,
Audaciosamente busco ainda
O quanto da paixão toma e deslinda
Regendo novo passo rumo ao farto
E quando sem defesas me entregara
Espalho o meu cantar nesta seara
E o sonho mais feliz, bebo e reparto.


888


Vem logo, eu necessito tanto amor
E quanto mais me entrego em paz entranho
Um mundo aonde a vida tem por ganho
O canto em paz e nisto o meu louvor,
O verso como fosse um refletor
Aonde novo dia em tom tamanho
Que possa desenhar além do lanho
O passo com ternura, redentor.
E disto se aproxima a divindade
Na glória que decerto agora invade
Quem tenta com firmeza um passo em luz,
O tanto quanto quero e mesmo pude
Gerando um canto manso em plenitude
E ali a própria vida nos conduz.,


889


Eu quero o teu carinho e isto me basta
Não vejo outro desejo aonde eu possa
Saber da maravilha aonde é nossa
A imagem mais feliz suave e casta,
O amor quando demais reinando afasta
A solidão atroz, temida fossa
E a cada novo dia mais endossa
O quanto a vida em paz toma e contrasta;
Regendo com ternura novo tom
Beijando este cenário claro e bom
Rondando qual falena a luz imensa
Do encantador caminho desenhado
Mudando num instante o duro fado
E nele toda a história em paz, compensa.


890


Que a sorte em tua ausência nada traça
Partindo o quanto pude em nada e traz
O olhar decerto amargo onde loquaz
O sonho se esvaindo em vã fumaça.
O amor não suportando uma trapaça
Vivendo a cada instante a rara paz
E nisto outro cenário pertinaz
Em rara fantasia nos enlaça.
Resulto deste fausto aonde tento
E sigo o mais suave pensamento
Vagando em noite clara e em pleno lume,
Porquanto ser feliz é o quanto busco
Ainda quando a vida em lusco fusco
Ao fardo em desacordo teime e rume.


891

Imagem de beleza sem igual
Vasculho cada ponto e bebo além
Do amor quando demais e já contém
Outro caminho raro e sensual
Vestindo novamente em ritual
O todo quanto posso e sempre vem
Tramando outro cenário sem desdém
E nisto sou decerto tal e qual
Invisto todo verso na procura
Da vida sem temor onde assegura
Cenário mais tranquilo em calmaria
E o risco de sofrer revés enquanto
O tanto quanto posso me adianto
Marcando em consonância cada dia.


892


Deitada em minha cama a brônzea lua
Espalha-se desnuda em raro brilho,
E quando em tal cenário audaz eu trilho
Minha alma em consonância ora flutua
Bebendo desta sorte onde se atua
O canto e nele tanto me estribilho
Vagando em serenata um andarilho
Iluminadamente a perpetua.
Ao cinzelar em nós o sonho em paz
Um rito mais suave já se faz
Tramando esta ventura de poder
Sabendo desde sempre a luz aonde
A vida com ternura corresponde
Gerando a cada passo este prazer.

893


Tão cedo uma ilusão tomara a forma
Sutil de uma sirena em mar imenso
E assim a cada passo eu recompenso
A vida aonde a paz tudo transforma
E o sonho em concordância nos informa
Do quanto ser feliz é ser intenso
E nisto com certeza eu me convenço
Do amor em emoção, suave norma.
Atravessando o tempo, imorredouro
O quanto neste encanto bebo e douro
Gestando a maravilha de sentir
Uma absoluta glória em rara luz
Cenário mais sublime reproduz
O mundo noutro encanto a redimir.


894


Envolta nos lençóis, seda e cetim
A deusa em tons sublimes se entregando
Ao quanto deste sonho desde quando
O amor traçando o rumo e nele eu vim
Singrando este oceano ora sem fim
E nisto outro delírio nos tomando
Melífero desenho se moldando
Glorificando a paz dentro de mim.
Esbaldo-me no encanto mais gentil
E nele todo encanto onde se viu
O rumo em concordância, mais sublime
E a vida neste instante conduzindo
Ao tanto quanto quero claro e lindo
E o medo doravante se suprime.

895


Às vésperas da dor uma saudade
Explode em farta luta contra o quanto
Pudesse desenhar e não garanto
E a vida noutro passo já degrade
O risco de viver sinceridade
E nisto outro momento em desencanto
Profana fantasia nega o manto
E traz a cada engano a autoridade.
Exímio sonhador cada poeta
Apenas noutro encanto se completa
E gera dentro em si um novo mundo
Diverso do palpável e traiçoeiro
Aonde me mostrara por inteiro
Nas ânsias mais sutis além me inundo.

896


Brandura de emoção tomando a mente
Gerindo cada passo rumo ao tanto
Aonde a todo instante mais garanto
Cultivo deste amor, rara semente,
E neste decifrar gesto contente
O quanto mais desejo e sem espanto
Um novo desvendar traçando um manto
E nele farta luz em paz se tente
Audácia se transforma em realidade
E quando esta ventura rara invade
Entrego-me ao cenário sem pensar
Vistosa lua deita sobre nós
E traça em argentina e já sem par
Beleza em consonante e clara voz.


897




Musa e trovador
Caudaloso amor,
Encontro terno e delicioso!
Regina Costa

Enamorado encanto aonde posso
Vencer os meus anseios e saber
Do quanto cada sonho tem poder
E neste delirar o mundo é nosso,
Assim ao mergulhar ali endosso
O passo aonde posso perceber
Enaltecendo em paz e conceber
Um caudaloso rio aonde adoço
A senda tão sublime em canto e trova
E quando esta delícia se comprova
Em versos, passos, luzes, fantasia.
O amor gerenciando a vida em glória
Aonde se pensara em irrisória
A magnitude em sonho a moldaria.


898



A une femme
Enfant ! si j'étais roi, je donnerais l'empire,
Et mon char, et mon sceptre, et mon peuple à genoux
Et ma couronne d'or, et mes bains de porphyre,
Et mes flottes, à qui la mer ne peut suffire,
Pour un regard de vous !

Si j'étais Dieu, la terre et l'air avec les ondes,
Les anges, les démons courbés devant ma loi,
Et le profond chaos aux entrailles fécondes,
L'éternité, l'espace, et les cieux, et les mondes,
Pour un baiser de toi !
Victor HUGO (1802-1885)

Se a vida permitisse a imensa sorte
De ter sempre ao meu lado quem eu quis
Marcando em harmonia este matiz
Que tanto nos acolha e nos conforte
Um reino aonde em paz um novo norte
Transcendendo ao etéreo hoje me diz
Da imensa maravilha e ser feliz
Traçando em luz suave o raro aporte.
Pudesse ter comigo esta mulher
E nisto crer além do que eu puder
Na clara e mais sublime sensação
Da divindade feita em viva fêmea
Uma alma se mostrando quase gêmea
Planando sobre toda a imensidão.

899

Sonnet : Que j'aime le premier frisson d'hiver...
Que j'aime le premier frisson d'hiver ! le chaume,
Sous le pied du chasseur, refusant de ployer !
Quand vient la pie aux champs que le foin vert embaume,
Au fond du vieux château s'éveille le foyer ;

C'est le temps de la ville. - Oh ! lorsque l'an dernier,
J'y revins, que je vis ce bon Louvre et son dôme,
Paris et sa fumée, et tout ce beau royaume
(J'entends encore au vent les postillons crier),

Que j'aimais ce temps gris, ces passants, et la Seine
Sous ses mille falots assise en souveraine !
J'allais revoir l'hiver. - Et toi, ma vie, et toi !

Oh ! dans tes longs regards j'allais tremper mon âme
Je saluais tes murs. - Car, qui m'eût dit, madame,
Que votre coeur sitôt avait changé pour moi ?

Alfred de Musset

Amar o cobre tom de um manso outono
Tocando esplendorosa fantasia
Aonde o meu cenário moldaria
O encanto mais sublime e nele abono,
A senda se transforma e já me adono
Deste sol-pôr suave em harmonia
E quando logo após a noite fria
Descanso num eterno e manso sono.
Assisto aos meus momentos como fosse
Um caminhar por vezes agridoce,
Mas sempre com o olhar neste horizonte
Por entre brumas tantas vejo além
E sei singrar num mar que sempre vem,
E dele novo mar a vida aponte.


890
Les fleurs
Des avalanches d'or du vieil azur, au jour
Premier et de la neige éternelle des astres
Jadis tu détachas les grands calices pour
La terre jeune encore et vierge de désastres,

Le glaïeul fauve, avec les cygnes au col fin,
Et ce divin laurier des âmes exilées
Vermeil comme le pur orteil du séraphin
Que rougit la pudeur des aurores foulées,

L'hyacinthe, le myrte à l'adorable éclair
Et, pareille à la chair de la femme, la rose
Cruelle, Hérodiade en fleur du jardin clair,
Celle qu'un sang farouche et radieux arrose !

Et tu fis la blancheur sanglotante des lys
Qui roulant sur des mers de soupirs qu'elle effleure
A travers l'encens bleu des horizons pâlis
Monte rêveusement vers la lune qui pleure !

Hosannah sur le cistre et dans les encensoirs,
Notre Dame, hosannah du jardin de nos limbes !
Et finisse l'écho par les célestes soirs,
Extase des regards, scintillement des nimbes !

Ô Mère qui créas en ton sein juste et fort,
Calices balançant la future fiole,
De grandes fleurs avec la balsamique Mort
Pour le poète las que la vie étiole.

MALLARMÉ

Ao transcender à própria primavera
Floradas noutros ermos mais diversos
Vagando com ternura os universos
Na florescência rara que me espera
A vida após a vida regenera
E traz caminhos claros e meus versos
Bebendo destes sonhos aonde imersos
Reluzem numa flórea e sublime era.
Traduzem a beleza em paz e glória
Moldando o renascer, suprema história
Ao redimir meus erros e temores,
Trazendo em redenção superno altar
E nele eternamente cultivar
A magnânima beleza em raras flores.


901


Nos teus rastros segui e me perdendo
Alastro a minha voz por toda a sebe
E o quanto deste sonho se concebe
Num ato tão diverso, ora estupendo
E quando noutro instante já contendo
Presença da esperança onde se embebe
Uma alma delirante se percebe
Enquanto em emoção, enfim recebe.
Resplandeço também neste momento
Num átimo meu mundo eu dessedento
E atinjo um limiar inesperado
E o cântico em ternura assim se aflora;
Miragem se esvaindo vai embora
Restando ao sonhador o inútil brado.


902

Languidez e ternura, sensações
Divinas entre sonhos e promessas
E quando ao mais sublime me endereças
Os olhos com brandura tu me expões
A vida entremeada em vis senões
Os erros costumeiros me confessas
E os dias entre tantos, recomeças
Ousando em diversas direções.
Tentando renascer noutro cenário
O amor este delírio necessário
Adentra sem perguntas e se aninha,
E aquela que distante eu percebia,
Num misto de loucura e fantasia
Percebo finalmente inteira, e minha.


903



E deitado sob os sonhos e luares
A noite se ultrapassa em fantasia
Restaura o que perdera a cada dia
E neste passo tanto navegares
Gerando a cada instante meus altares
No amor que se renova e se recria
Num átimo um mergulho na utopia,
Delírios entre céus, praias e mares.
Rasgando esta amplidão, raro cometa
Aonde quer e toque já prometa
Um novo e iridescente caminhar
Depois de tantos medos vida afora
O canto em novo porto ora se ancora,
Porém logo se esvai em luz solar.


904

Lembro-me quando a vira, insensatez
Tomando sem defesas a minha alma
O quanto deste sonho ainda acalma
Embora a velha história não mais vês.
O todo se esvaindo e no final
Apenas meros traços; inda vejo
A vida se perdera noutro ensejo
E o olhar agora morto ou desigual
Resume o quanto quis e nada pude,
No eterno renovar, perdendo a rota
Somente este vazio se denota
Matando o belo anseio, juventude.
No outono abandonado, ausente e ledo
Às ânsias da ilusão eu me concedo.


905

Com as marcas profundas de um passado
Ainda em cicatrizes tatuadas
Ausente dos meus olhos, alvoradas
O dia noutro tempo em mero enfado,
Vasculho o meu anseio e sem recado
As horas mergulhando desoladas
Expressam o vazio das estradas
Vivendo tão somente do sonhado.
Alheio ao quanto possa acontecer
Eu vejo o meu caminho a se perder
Imerso num enorme turbilhão,
E os dias se repetem novamente
E mesmo quando um novo sonho tente
A vida só reflete o canto em vão.


906


De toda essa beleza inigualável
A sílfide adentrando o pensamento
E neste desejar me reinvento
Eternamente esta alma renovável,
E o quando fora ausente, imaginável
Num ato suicida eu mesmo tento
Cessar em rara luz meu sofrimento,
Ousando neste encanto insofismável.
Mas tudo não passando de ilusão
Apenas escutando o mesmo não
E dele volto aos tons mais invernais,
E o cântico gerado em esperança
Somente no vazio ora se lança
E a vida me responde então: jamais!


907


Tal pureza que ao ver gerasse um sonho
Maior e em plenitude mais sobeja
Somente este momento se deseja
E nele cada verso hoje eu componho,
Marcando o meu viver antes tristonho
Num passo rumo à praia benfazeja
E neste desenhar o amor dardeja
Bem mais do quanto pude ou mais proponho.
Esbaldo-me em sinceras luzes quando
O tanto quanto pude se tornando
Além deste tornado, um fato nobre
E a imensa lua feita em esperança
Ao ápice dos céus ora se lança
E a claridade farta nos recobre.


908


Mas tão bela, decerto a concebida
Delícia feita em formas de mulher
Toando dentro da alma sem sequer
A leve sensação de uma ferida,
Alçando o paraíso em plena vida
Vivendo todo o anseio onde puder
Traçar novo cenário e se vier
A sorte desejada e percebida.
Ocasionando em mim a claridade
E nisto o delirar mais alto brade
Gestando a maravilha do existir,
Em áurea magnitude lapidada
Fortuna tantas vezes desejada
Reinando plenamente em meu porvir.

909


Nosso amor continua além da morte
E traça eternidade aonde eu creio
Num novo desenhar em claro veio,
Tal pensamento sempre me conforte,
Se neste meu caminho és raro norte
Nem mesmo o final ora receio
E quando etereamente devaneio
O amor regenerando cada aporte,
Expressa a plenitude de uma essência
Gestada com ternura, em eloqüência
Marcando e tatuando dentro em mim,
Um ato mais suave se transforma
E toma em magnitude a rara forma
Na florescência eterna de um jardim.


910


E cada vez que te vejo rememoro
O tempo mais feliz de minha vida,
E quando neste instante em concebida
Diversa maravilha eu me demoro
O passo rumo ao tanto eu revigoro
E sei do quanto fora percebida
A sorte mais audaz já construída
E nesta paisagem em sonho afloro.
Espalho o meu cantar alegremente
E o renascer em paz, pois se apresente
E nisto noutro instante o todo diz,
Que embora solitário navegante
A vida no passado noutro instante
Demonstra quanto fora mais feliz.


911

Tantas vezes, em versos declamara
A sorte mais diversa e mesmo audaz
E quando a realidade isto desfaz
Reabre dentro da alma a velha escara,
Mas mesmo assim o sonho ainda ampara
E novamente deixo para trás
O quanto mais pudesse ser mordaz
E a vida se espraiando em tal seara,
O passo num instante se transforma
Trazendo a fantasia em justa forma
Moldando do molambo o quase rei,
E nisto outro cenário se desenha
Uma ilusória luz mansa e ferrenha
Transcende ao quanto sou e inda serei.


912

Nos meus sonhos estás e não anseio
Outro caminho além se construindo
O quanto deste mundo em paz e lindo
Ainda quando fosse um devaneio,
Inseto que uma lâmpada rodeia
E nisto o meu futuro se esvaindo,
Mas mesmo assim à sorte rara eu brindo
De ter em pensamentos tal sereia.
Refaço a cada instante esta obsessão
E sei que mesmo entregue à solidão
Esta presença tanto me acalenta,
E o passo se fazendo com firmeza
Enfrenta com denodo a correnteza
Apaziguando enfim qualquer tormenta.


913


Cada vez te amo mais e não te tendo
O passo à charqueada, movediço
Diverge deste encanto onde cobiço
Um mundo mais suave, agora horrendo,
E quanto mais mergulho e não desvendo
Sequer uma esperança em mero viço,
Pudesse ser deveras mais omisso
E o mundo noutra face se revendo,
Mas nada me permite a liberdade
E quanto mais audaz, maior a grade
Encarcerando o sonho no vazio,
Esboço reações, e nada vem
Somente a solidão e sem ninguém
O passo rumo ao nada ora desfio.

914

De toda uma alegria nada tenho
Somente a cicatriz profunda e atroz
O rumo se perdendo e nesta voz
O tanto desenhado em turvo cenho,
Meu canto se mostrando em dor e lenho
A sorte se apresenta mais feroz
E o quanto se recria em novo algoz
Ditame mais mordaz enquanto eu venho.
Vasculho cada ponto e nada vejo
Apenas o desdém de um vão desejo
Marcado a ferro e a fogo em carne viva
Esbarro nos anseios mais comuns
Dos sonhos na verdade nem alguns
A própria sensação de paz se priva.


915


Somente a solidão tomando a cena
E o quanto quis e nada mesmo levo
Apenas o cenário torpe e sevo
E nele só a morte me serena,
A vida no passado fora plena,
Num cântico suave o mundo eu cevo,
Mas quando imaginara ser longevo
O rumo noutra face se condena.
E o tanto quanto sofro e nada falo,
Lacaio da esperança, um vil vassalo
Espelho alguma luz já tão perdida,
E o quanto pude mesmo acreditar
Agora sem descanso e sem lugar
Num ato mais feroz, o sonho acida.

916


A dor que a tanto amor não resistira
Agora se esvaindo em outra senda,
O quanto ser feliz, portanto estenda
E acerta com ternura em mansa mira,
Após tantos engodos, vã mentira
A luz bem mais suave se desvenda
E ao quanto se perdera em vil contenda
Noutro caminho a paz ora interfira.
Cansado de lutar inutilmente
Ainda que deveras busque e tente
Cerzir com mais denodo outro cenário
Apenas num amor me redimindo
E nisto novo dia claro e lindo
Deixando no passado, o temerário.

917

Demonstra como a vida pode ser
Em erros, desacertos, descaminhos.
E os dias mais atrozes e mesquinhos
Mergulho neste infausto a me perder
E o nada a cada instante a convencer
Da ausência do que foram raros ninhos
Marcando com terrores, os espinhos
Aonde imaginara o florescer.
Astuciosamente atocaiada
A sorte se traduz no mesmo nada
Aonde imaginar alguma luz,
E ao pânico ou talvez melancolia
O passo neste instante moldaria
O vago de um delírio onde me pus.


918



Amor quando se acaba apenas traça
O vandalismo em alma desolada,
O tanto no final resume em nada
E aos poucos se perdendo na fumaça,
A vida se prepara em tal trapaça
Deixando a face escusa e amargurada
E nisto a imagem turva e tão cansada
Qual fora fina adaga me trespassa.
Resumos de outras eras hoje vagas
E mesmo que este alento em paz tu tragas
A sorte se desenha noutro rumo,
Também em solitária face escusa
Imagem meramente vã, confusa,
Num vórtice venal, enfim me esfumo.

919


Dos olhos, tanta dor e sem alento
O manto desvendado em tom austero
O quanto imaginara e ainda quero
Perdido e se lançando ao forte vento.
Algum cenário em paz, ainda invento
E nisto procurando ser sincero
Encontro por resposta o mesmo fero
E tétrico cenário em desalento.
Esboço reações enquanto ateio
Ainda a mera frágua da esperança,
Mesquinhos dias regem meu futuro
E o porto onde pensara estar seguro
Distante dos meus olhos, não se alcança.

920

O sonho de viver em liberdade
Ausenta-se de mim a cada instante
E a face mais atroz, pois degradante
Agora tão somente o que me invade
Ainda que deveras tente e brade
O rumo se perdendo doravante
Não vejo mais a sorte delirante
Marcada com a fúria em realidade.
A poesia morre em mim enquanto
Um sonho mais audaz eu não garanto
E o medo assombra cada dia em vão,
Das tantas emoções que eu permitisse
Enfrento a cada passo esta mesmice
Sabendo que outros dias não virão.



921

Aos poucos, como tudo nesta vida
O tempo devorando o sentimento
Restando muito além no pensamento
A imagem mais saudosa e retorcida,
A dita noutra farsa vem provida
Do quanto ainda vivo, eu me contento
E traça noutro rumo o esquecimento
Ou mesmo a leda imagem consumida.
Enquanto no passado; fora imensa
Agora noutra fase nem se pensa
E morre em solitário e vago tom,
O renovar da sorte em esperança
Ao quanto no vazio o fim se lança
Transcende ao julgara outrora, bom.


922

Quem fora companheira noutras eras
E agora tão distante já não vejo,
Apenas fosca imagem num lampejo
Aos poucos noutro rumo degeneras,
E assim ao me perder das primaveras
No outono mais atroz, nada prevejo
Senão um duro inverno que dardejo
Marcando com terror audazes feras,
Jogada nalgum canto esta saudade
Aos poucos mansamente se degrade
Gestando tão somente este vazio,
E o passo rumo ao canto mais audaz
Agora noutro instante se desfaz
E novamente morto, eu me recrio.


923


E deixa, em seu lugar, apenas isto?
A vida se permite noutra cena
E o quanto do passado me envenena
Porquanto em passo rude inda persisto,
E quando me percebo já desisto
E tento a lua nova, embora plena
E a sorte a tal enfado se condena
Num novo amanhecer eu sei que existo.
Esboço luzes claras onde outrora
A dura tempestade ainda ancora
Marcando em tatuagem desencanto,
Mergulho nos meus ermos e não vendo
Senão a mesma face em vão remendo,
Um claro amanhecer eu me garanto.

924


Sabendo deste fim em dor e mágoa
A vida não perdera o seu timão,
E o quanto se mostrara imprecisão
Agora noutro instante já deságua,
Fagulhas tão dispersas, heresia
E o canto noutro tom se transformando
E o tanto que eu pudera; infausto bando
O nada ora produz e se esvazia,
Aprendo com a dor e sei do farto
Terror onde deveras mergulhara
E a cada novo instante esta seara
Diversa da que eu busco além reparto
E tento a salvação em nova luz,
Aonde a própria sorte se produz.


925

Não deixe que vivamos solidão,
Erguendo o meu olhar neste horizonte
Aonde o meu delírio quer e aponte
Marcando os dias tantos que verão
O sol numa sublime precisão
Traçando mansamente nova ponte
E neste desenhar já se desponte
O rumo em mais sobeja direção.
Restauro meus anseios mais vorazes
E quando em alegrias tu me trazes
O todo desenhado há muitos anos,
Do quanto ser feliz é o quanto basta
A imagem que julgara tanto gasta
Transborda em dias claros, soberanos,


926

Por isso, minha amada saiba bem
Do quanto ser feliz já me bastasse,
A vida transformando cada face
Traduz esta esperança que inda vem
Reinando sobre tudo e sempre além
Da cena onde alegria se traçasse
Marcando com ternura ainda grasse
Deixando no passado algum desdém.
Expresso em fantasia o meu caminho
E sei do quanto possa ou mais daninho
Embarco outro rumo e desde então
A sorte desenhada em luz suave
Liberta o coração fantástica ave
Traçando com ternura e precisão.


927


De certo irei dormir com a alegria
De quem já sabe cada noite em rara
Beleza quando a vida em paz se ampara
E traça com ternura um novo dia,
Meu canto tantas vezes poderia
Traçar a maravilha em noite clara
Marcando cada passo onde declara
A sorte mais audaz em fantasia,
Expresso com brandura o quanto quero
E tento novamente ser sincero
Vagando por estrelas, além mar,
Bebendo cada gole em lua mansa
Marcando com denodo esta esperança
Num sonho tão gostoso de sonhar.


928

Maior amor; no mundo, não havia
Nem mesmo imaginara ser capaz
De um passo noutro rumo mais audaz
Enquanto ainda viva esta agonia,
Regendo com ternura o dia a dia
O quanto poderia e sou tenaz
Vencendo o desenredo busco a paz
E nela cada sonho se recria,
Vestindo esta fantástica ilusão
Os dias mais tranquilos me trarão
Apenas um sereno e doce enleio,
E quando me percebo mais feliz
Vivendo toda a messe que mais quis
Deveras nem a morte ora receio.

929


Jamais existirá amor tão grande
Que possa desenhar a eternidade
Num ato de feliz insanidade
E nisto toda a glória se demande,
Enquanto uma tristeza em vão debande
Apenas o delírio em paz me invade
E nada do que eu viva mais enfade
Nem mesmo noutra face se desande.
Adentro o paraíso junto a ti
E amando muito mais que presumi
Esboço a plenitude e nela vibra
Uma alma sem juízo, ausente libra
O passo rumo ao êxtase desenha
A messe mais fantástica que venha.

930

Amor que se traduz em plenitude
Transcende ao quanto quero e posso até,
E neste desenhar a imensa fé
No quanto o dia a dia tanto pude,
Ainda quando mais se percebesse
Vagando por etéreos paraísos
Em passos mais audazes e precisos
Aonde a magnitude se tecesse
Vislumbro num instante o quanto possa
Viver e mergulhar em tão suave
Caminho aonde nada mais entrave
O passo e nele o tanto já me endossa
Risonha esta alvorada diz do sol,
Reinando imensamente no arrebol.


931


Encantos e desejos, sonho tanto
E vago pelas noites em luares
E quando em fantasias me tocares
O todo mavioso em paz garanto,
E assim a cada instante me adianto
Ao tempo em raros belos, bons altares
E se diversamente tu rumares
Ao menos a esperança traça um manto
Em plena claridade. Uma utopia?
E mesmo estando ausente eu proveria
A vida num instante mais feliz,
Platônico somente? O quanto faço
E mesmo que não tendo mais espaço
Eu traço doravante o que mais quis.


932



Eu quero t’a nudez em noite clara,
A lua nos tocando, prata diva
E assim a minha sorte em ti se criva
E nisto novo tempo se prepara,
O quanto da esperança eu semeara
E nesta sorte imensa a voz altiva
De uma alma que percebe agora viva
Reinando em calmaria, audaz e rara.
Pressinto nova aurora em luz sobeja
E tanta maravilha ora se almeja
Restando eternamente em primavera
O todo se aproxima do infinito
E neste desenhar teimo e acredito
Aonde a vida em paz já se tempera.


933

Nas tramas que confundem nossas pernas
Deliciosamente vejo a vida
E nesta fantasia sendo urdida
As horas são divinas, quase eternas,
E nisto enquanto em luzes tu te externas
Palavra nos bendiz e traduzida
Fortuna se transforma e da ferida
Delícias em ternura são ungidas.
Um jovem coração inda desperto
E o sonho num momento estando alerto
Presume outro cenário e nele eu vivo
Risonha tempestade em glória intensa
Minha alma da alegria se convença
Num ato mais sutil e tanto altivo.


934

Aos poucos acendendo a lua em nós
A noite recendendo à maravilha
Porquanto em novas tramas já palmilha
Chegando mansamente à plena foz,
O risco de sonhar outrora atroz
Agora em luzes fartas se polvilha
E esta alma solitária agora brilha
E marca com brandura a imensa voz,
Gestando outro cenário doravante
A paz a cada dia se garante
Marcando em glória imensa o meu caminho,
E assim enquanto em ti eu já me aninho
O todo se transborda num instante
Matando o que deveras fora espinho.


935


Depois as tuas pernas junto às minhas
Na louca confusão doce e sagrada,
Corcéis neste tropel em madrugada
E nesta profusão em mim te aninhas,
E sigo contra as sortes mais mesquinhas
Alçando o quanto posso em rara estada
Vencendo a mesma imagem desolada
E nisto noutras cenas te avizinhas,
Marcando com ternura cada passo,
O tanto quanto posso busco e traço
Galgando ao mais sublime aonde pude
Traçar com toda a glória a magnitude
E nisto venço medo e até cansaço
Tocando com ternura a plenitude.

936


Amor que se deseja muito além
Do quanto poderia acreditar
E nisto a cada instante mergulhar
Gerando o que deveras mais convém,
Do todo sou somente este refém
E bebo com fartura este luar
Aonde eu poderia me entranhar
Gerando novamente um raro bem.
Escolho cada verso com ternura
E toda esta beleza se afigura
Marcando com brandura o dia a dia,
E sinto viva na alma a fantasia
E nisto o meu caminho se assegura
Cevando com denodo a poesia.

937

Mas mente nessa eterna discordância
A vida quanto omite um grande amor,
Pudesse noutro passo me propor
Gerando com firmeza nova estância
E o todo noutro fato em discrepância
Pudesse ser deveras multicor
E sendo desta forma, ausente a dor,
Um raro delirar em consonância.
E após o caos a vida regenera
E traça no meu passo a primavera
Em flórea maravilha, e sou feliz.
Meu mundo se prepara a cada instante
E o todo noutro rumo se garante
Moldando tudo aquilo que eu mais quis.


938



Conto de fadas

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa de conto: "Era uma vez..."

Florbela Espanca

A deusa se desnuda e traz consigo
O mágico cenário a se compor
E neste reino imenso um raro amor
Aonde meu caminho; em paz prossigo
Vestindo a fantasia, um raro abrigo
Rescende ao seu desejo a multicor
Presença em primavera, rara flor
Na qual o meu delírio ora persigo.
E bebo cada gota de esperança
Aonde a plenitude esta alma alcança
E nisto me sentindo quase um rei,
Um cavaleiro audaz e enluarado
Bebendo a fantasia e estando ao lado
Da diva que decerto imaginei.


939

Meu verso poderia ser suave
E dele se trazer cada momento
Aonde num instante mais atento
Minha alma se liberta; uma mansa ave,
E o todo se transborda e num instante
Desata os velhos elos do passado
Mudando em calmaria este traçado
E nele toda a paz já se garante,
Vestindo em magnitude esta beleza
Cerzida com ternura e mansidão,
Transcende aos próprios dias que virão
Na cinzelada glória em tal certeza
Sobeja maravilha, um doce anelo
Que em toda magnitude a ti revelo.


940

Meu canto se sacia com teu gozo
E bebo cada gota do rocio
Vencendo o meu delírio em torpe estio
Um dia renascendo majestoso,
E quanto mais procuro encontro em ti
O todo desejado e noutra senda
A sorte tão diversa já se estenda
Marcando o quanto quero e concebi
Reinando sobre o mundo em transparência
Gerando com ternura um novo tempo,
Aonde não se vendo contratempo
A vida se permite em tal potência
Transito neste espaço em brilho farto
E a dor a cada instante mais descarto.



941

Escolhi você pra brincar ao luar,
Amado poeta que transita
Entre a luz e a treva,
Entre a beleza e a dor,
Entre a alegria e a tristeza,
Feito de luz,
Esperança e Força...
Não há como não amar você!
REGINA COSTA


O amor em tantas cores e matizes
Transforma o dia em dia em poesia
E mesmo quando a tarde cai sombria,
Outro momento em paz supera as crises
E neste desvendar tu tanto dizes
Do sonho quando em sonho se faria
A vida noutra face nos traria
Diversos alimentos, fantasia.
E sinto da ternura o brando alento
E quando imerso em dor e sofrimento
Eu bebo esta sincera providência,
E o tanto quanto posso ora fomento
Num dia mais suave entregue ao vento
Gerando após o caos, nova clemência.

942

Liberdade


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa

A vida traz em si diversa face
E mostra-nos deveras o que possa
Reinar sobre um anseio em dor e fossa
Enquanto novo rumo se traçasse,
Seara que decerto nada embace
Gerando após a queda o quanto adoça
Uma alma mais serena e nisto apossa
Do rumo mais bendito aonde grasse.
Gestando em magnitude a poesia
Tramando o quanto pode e mais queria
Na rara florescência em primavera,
E o tanto quanto quero em suavidade
Reflete este caminho, a liberdade
E nela a eternidade em paz tempera.


943



Talento e formosura
Catullo da Paixão Cearense
Tu podes bem guardar os dons da formosura
Que o tempo, um dia, há de implacável trucidar
Tu podes bem viver ufana de ventura
Que a natureza, cegamente, quis te dar
Prossegue embora em flóreas sendas sempre ovante
De glórias cheia no teu sólio triunfante
Que antes que a morte vibre em ti funéreo golpe seu
A natureza irá roubando o que te deu
E quanto a mim, irei cantando o meu ideal de amor
Que é sempre novo no viçor da primavera
Na lira austera em que o Senhor me fez tão destro
Será meu estro só do que for imortal
Tu podes bem sorrir das minhas desventuras
Pertenço à dor e gosto até de assim penar
Eu tenho n'alma um grande cofre de amarguras
Que é o meu tesouro e que ninguém pode roubar
Pois quando a dor me vem pedir alguma esmola
Eu lhe descerro as portas d'alma que a consola
E dou-lhe as lágrimas que vão lhe mitigar o ardor
Que a inspiração dos versos meus só devo à dor
Descantarei na minha lira as obras-primas do Criador
Uma color da flor desabrochando à luz do luar
O incenso d'água é que nos olhos faz a mágoa rutilar
Nuns olhos onde o amor tem seu altar
E o verde mar que se debruça n'alva areia a espumejar
E a noite que soluça e faz a lua soluçar
E a estrela d'alva e a estrela Vésper languescente
Bastam somente para os bardos inspirar
Mas quando a morte conduzir-te à sepultura
O teu supremo orgulho em pó reduzirá
E após a morte profanar-te a formosura
Dos teus encantos mais ninguém se lembrará
Mas quando Deus fechar meus olhos sonhadores
Serei lembrado pelos bardos trovadores
Que os versos meus hão de na lira em magos tons gemer
E eu, morto embora, nas canções hei de viver

O quando se esvaindo da beleza
Morrendo a cada dia um pouco mais
Em fatos meramente mais banais
Levada pela insana correnteza
E quem desta mortalha segue presa
Não tendo outro destino em dores tais
Expressa a variável de algum cais
E nele se perdendo sem surpresa.
Mas tendo a base em raro dom, talento,
E deste bom maná eu me alimento
Não vejo a derrocada, e bebo a glória
Mais clara e tão sobeja poesia
Altar à eternidade se faria
Ultrapassando assim à própria história.


944

Noite Cheia de Estrelas
Composição: Cândido das Neves
Noite alta, céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
De raríssimo esplendor
Só tu dormes, não escutas
O teu cantor
Revelando à lua airosa
A história dolorosa desse amor
Lua...
Manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá-la com os meus beijos
Canto
E a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama sou eu
E entre a neblina se escondeu
Lá no alto a lua esquiva
Está no céu tão pensativa
As estrelas tão serenas
Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar
Todo o astral ficou silente
Para escutar
O teu nome entre as endechas
A dolorosas queixas
Ao luar

Enquanto em serenata tanto anseio
Presença de quem tanto desejara
A noite que moldara bela e clara
Num átimo em ternura, devaneio,
Mas quando se apresenta e ali rodeio
A sorte mais suave mansa e rara
O quanto desta senda enluarara
Moldando num momento o quanto eu creio,
Diversa cena muda num instante
E deste desenhar já quase nada
Rescende à glória tanto desejada
E noutra face vejo doravante,
Aonde se pudera iluminada,
A noite se transcorre atroz, nublada...

945
Depois no regozijo da esperança
O passo se perdendo em solidão,
E apenas outra rude ingratidão
Em voz tão temerosa já me alcança
Pudesse novamente ser criança
Bebendo a doce luz em direção
Aos dias que deveras mostrarão
A paz reinando em glória, clara e mansa.
Mas quando me percebo solitário
O pensamente morre e em tal cenário
Caminho se mostrando tão adverso,
Perdendo o leve prumo, sigo aquém
Do quanto poderia e me convém,
Marcando com angústia cada verso.


946


O gozo no cansaço, satisfeito
Traduz este momento logo após
O quanto do passado fora atroz
Agora noutro instante me deleito
E o passo noutro rumo quero e aceito
Gerando que pudesse em raros nós
Tocando com ternura dentro em nós
Marcando em alegria um manso pleito.
Vencer os meus temores; prosseguir
Sabendo da beleza que há de vir
E neste decifrar tão merecido
O tanto quanto quero e ora lapido
Ourives da esperança em novo verso
Galgando muito além deste universo.


947


Tu quando me levaste além do todo
Cevando com ternura a rara trilha
Aonde uma esperança ora palmilha
Com toda esta brandura em tal denodo,
O mundo quando outrora em caos e lodo
Agora nova face maravilha
E bebe desta sorte e assim partilha
Ainda que pareça algum engodo.
Invisto cada verso na alegria
E tento o quanto posso e tentaria
Vencer toda tempesta e em tal bonança
A vida cerziria em plenitude
O quanto noutro instante se transmude
Gerando a mais sublime temperança.


948

Andando quase sempre solitário
Depois das duras quedas do passado,
O mundo noutro rumo e em bom traçado
Presume novo dia imaginário,
Vencendo cada dor um adversário
Audaz e na esperança de um legado,
Por certo tantas vezes desejado
Marcando com ternura o temerário.
Invisto cada sonho neste tanto
E assim ao próprio gozo me adianto
Esculturando a paz aonde outrora
A guerra dominara cada espaço
E assim novo momento eu busco e traço
E nele a poesia revigora.

949


Depois nas nossas bodas festa e riso,
O quanto poderia ser feliz,
Porém a realidade já desdiz
Matando em ilusões o paraíso,
O passo; aonde agora eu me matizo
No quanto a própria vida isto não quis
Tramando um novo rumo em cicatriz,
Marcando sem sequer qualquer aviso,
Prudentemente busco nova sorte
Sem ter sequer o quanto me conforte
Traçado mais diverso eu vejo ainda
E o rústico desenho em desventura
Apenas do vazio me assegura
E a história noutro enfado ora se finda


950


O tempo de viver se desprendendo
Do canto mais feliz ou mesmo até
Aonde poderia haver a fé
O todo se mostrando num remendo,
Vagando sem saber o que contendo
Pudesse mergulhar e ter o que é
Um rito mais suave e no sopé
Da vida noutra face ora desvendo,
Encontro retratado um ato inglório
E o passo morto e duro, merencório
Alçando este vazio que inda existe,
Marcando com terror o canto além
E o medo se transborda quando vem
A noite num cenário amargo e triste.

951


Eu via em tua boca desenhada
A fúria de uma loba insana e atroz,
Aonde poderia crer em nós
A farsa se desdenha e dita o nada,
Mergulho me tal vazio e vejo após
A noite noutra tez fria e nublada
Jamais a poderia enluarada
Um cântico terrível, mais feroz.
Evanescendo em névoas tão somente
O quanto do meu canto se apresente
Marcando com terror um passo em falso,
Preparo outro fantasma e neste aspecto
A história se traçando em retrospecto
Prepara esta masmorra ou cadafalso.

952


Mas nada do que vinha noutro instante
Ainda poderia traduzir
A paz tão desejada e sem porvir
Apenas a mortalha se garante,
Resumo o meu anseio delirante
E bebo cada noite que há de vir
Marcando com terror a resumir
O passo noutro rumo doravante,
Mesquinhos dias dizem do que agora
A morte noutra face desarvora
Intolerantemente nada resta
Senão a mesma angústia em tom venal,
Tramando um rumo alheio e até fatal
Aonde uma esperança é mera fresta.


953


Apenas negação aonde um dia
O todo noutra face quis e nada
Da farsa muitas vezes mal montada
Somente nova dor ora traria,
E assim o quanto quis em alegria
Não traça na verdade a nova estrada
E a carne destruída e destroçada
Somente no vazio moldaria,
O canto se resume em dor e tédio,
O amor já não concebe outro remédio
E o cântico se entranha em tom amargo,
Assim o meu anseio se perdendo
Marcando e tatuando este remendo
Enquanto a fantasia segue ao largo.


954


A vida se fazia imperativa
Aonde nada houvera senão medo
E quando em harmonia mal procedo
A sorte da alegria ora me priva,
A nisto se percebe o quanto ativa
A dor onde se mostra atroz e ledo
Caminho e nele tanto me concedo
Enquanto a poesia em luz me criva,
Resumos de outros anos, duras eras
E quando em realidade destemperas
Matando uma emoção sem mais remédio
Do amor que tanto já nada vejo,
Somente este cenário em vão desejo
Marcado pela insânia em dor e tédio.

955

As horas se passando em solidão
Vergastas adentrando a minha pele,
E o quanto do vazio me compele
Traduz o meu cenário amargo e vão
Medonha esta agonia desde então
Ao mar de imensa treva já me atrele
E assim neste cenário a dor se sele
Matando o que restara em medo e não,
O tanto quanto eu quis e nada veio
Somente este cenário atroz e alheio
Gerado pela insânia e desventura,
O corte profanando aonde a sorte
Pudesse ainda ter suave aporte,
Apenas da mortalha me assegura.



956


Os dias derrotados e vazios
Na angústia de tentar um novo passo
Aonde a cada instante me desfaço
E bebo tão somente os desvarios
Pudesse navegar em calmos rios,
E o mundo noutro rumo em manso espaço
Vencendo a cada dia o meu cansaço
Ousando em novos ritos, novos fios.
Mas quando me percebo em solidão
Os ermos de minha alma se trarão
À tona simplesmente e nada mais,
Os dias entre fúrias, sombras, medo
E ao quanto em fantasia eu me concedo
Prepara tão somente os funerais.


957

Quem fora meu amor já não concebe
A sorte desdenhada há tantos anos
E erráticos decerto os velhos planos
Vagando sem destino em turva sebe,
O coração, tal pária imerso em plebe
Ousando tão somente em tantos danos
Bebendo os mais diversos desenganos
Apenas o vazio inda percebe,
Estive além do mar, noutro horizonte
E quando a realidade desaponte
O passo se perdendo e nada traça
Senão este vazio dentro em mim,
E apenas vislumbrando o amargo fim,
A vida se transforma em vã fumaça.


958

Sorrisos disfarçados traduzindo
O olhar neste sombrio caminhar,
Aonde pude tanto imaginar
Cenário mais suave e quiçá lindo,
Anseio noutra face agora findo
E o tanto quanto pude noutro mar
Mergulho sem defesas a rondar
O falso desenhar de um tempo infindo.
Resumos de outras eras numa só,
O tanto quanto quis resume em pó
O farto se transforma em ledo ocaso,
E o quanto poderia ser feliz
Agora noutro instante por um triz,
Aos poucos noutra senda não aprazo.


959

Depois de certo tempo em busca vã
A trama se transforma em ironia
E o quanto ainda quero ou poderia
Não deixa que se veja um amanhã,
A sorte desenhada ora malsã
Impede qualquer passo e não traria
Sequer a menor sombra em poesia
Marcando esta loucura temporã.
Vestindo a mais espúria noite esta alma
Já não suporta mais o velho trauma
E sorve gota a gota o ledo inferno,
E quando alguma luz ao longe acalma
Apenas ilusão e nela externo
O todo que inda trago em duro inverno.


960


Nesse infinito amor pudesse ter
Além de algum momento em paz aonde
O tanto que eu desejo corresponde
Ao máximo sentido de um prazer.
Traçando o meu caminho eu posso ver
O todo e nele o traço já se esconde
Porquanto na verdade não responde
Deixando para trás o bem querer.
Alçara num instante o eterno sonho
E dele novo passo recomponho
Ousado caminheiro do futuro,
Mas quando vejo a face desnudada
Da vida se tramando em mesmo nada,
Apenas o vazio eu asseguro.


961


Amor que tão distante dos meus dias
Ainda poderia ter em mente
O risco de sonhar mais plenamente
E assim vencer as duras heresias,
Mas logo noutro fato me trarias
A sorte aonde o todo se desmente
E bebo desta luz tão inclemente
Gerando dentro em mim noites sombrias,
Um raro desenhar em tela; busco
E sei do meu caminho em lusco fusco
Marcado pela dor do nada ser,
E quando mais pudera em luz e glória
A história se mostrando merencória
Condena o dia a dia ao desprazer.


962


Qual fora tenebrosa madrugada
Palavra se perdendo sem sentido,
E o quanto do vazio não lapido
Gerando outra discórdia em vão, em nada.
Espreita se transforma em leda estada
E o corte a cada instante presumido
Expressa a insensatez, torpe libido
E nela a sorte em falso desenhada,
Pressinto o meu final e tento ainda
Enquanto a minha história não se finda
Um raio que me trague a salvação,
Mas quando me concebo solitário
O tempo também corre temerário
E ao fim vejo somente o mesmo não.


963


Dos ventos que, sozinho, eu enfrentara
A imensa tempestade se formando
E aonde quis um dia manso e brando
A noite não seria jamais clara,
A porta se travando desampara
E a queda a cada passo anunciando
O manto se tecendo e desbotando
Grassando em solidão cada seara,
Presumo outro cenário e nada vejo,
Somente alguma luz mero lampejo
Desenha neste céu raro clarão,
Embora seja sempre tempestade
Bonança tão distante ainda brade
Quem sabe novos dias mudarão?


964


Não vejo nem sequer um brilho ou traço
Residual de um tempo mais feliz,
E quando se transforma em chamariz
O sonho noutro rumo já desfaço,
Caminho a cada instante onde embaraço
Gerando nova dor em cicatriz,
E tantas vezes sonho quando o quis
Perdera seu aprumo em torpe espaço.
Adentro outro cenário e vejo enfim
O quanto poderia dentro em mim
Marcando com ternura e agora expõe
A vida noutra face mais atroz
Negando uma esperança em frágeis nós
E o todo noutro instante decompõe.


965

Amor que não me deixa sossegado,
Na ausência esta presença mais se sente,
E o coração atroz, ledo demente
A cada novo tombo, desolado,
Vivendo tão somente do passado
O quanto poderia estar presente
Vagando sem destino e impunemente,
A trama diz do medo em duro enfado.
Esboço reações, nada adianta,
A vida noutra face se faz tanta
E corta sem deveras lapidar,
Destroça cada sonho e diz apenas
Das horas insensatas e condenas
O meu caminho alheio ao teu vagar.

966

Embora se transborde em alegria
A vida muitas vezes nos sonega
E gera outro caminho e mesmo cega
A paz enfim decerto reinaria,
Eu vejo e bebo à farta a poesia
E nada me contém nem me sossega
A sorte noutra face se renega,
Porém novo momento e se recria.
Vestindo a maravilha de saber
O quanto deste mundo posso ter
Viceja dentro em mim rara esperança
E neste novo tempo que virá
Deliro e sorvo todo este maná
Que olhar em redenção além avança.

967

Vagando minha noite sem estrelas
Espessa nuvem toma este cenário
E o amor quando se fez tão temerário
Em árduas fantasias, sem vivê-las
Atendo ao telefone, novo engano
A vida não permite mais um sonho
E quando novo canto eu me proponho
Deveras neste infausto então me dano.
Restauro em alegrias uma ilusão,
Mas sei o quanto é vaga esta promessa
E o passo noutro engodo recomeça
Marcado pela vaga sensação
Da crença noutro instante que não veio,
O olhar persiste duro, atroz e alheio.


968


A AERONAVE
Cindindo a vastidão do Azul profundo,
Sulcando o espaço, devassando a terra,
A Aeronave que um mistério encerra
Vai pelo espaço acompanhando o mundo.
E na esteira sem fim da azúlea esfera
Ei-la embalada na amplidão dos ares,
Fitando o abismo sepulcral dos mares
Vencendo o azul que ante si erguera.
Voa, se eleva em busca do Infinito,
É como um despertar de estranho mito,
Auroreando a humana consciência.
Cheia da luz do cintilar de um astro,
Deixa ver na fulgência do seu rastro
A trajetória augusta da Ciência.

AUGUSTO DOS ANJOS

A consciência dita ao despertar
A condição humana sobre a terra
E neste desenhar em paz e guerra
O quanto poderia se poupar
Se além do tão penoso desvendar
A sorte em poesia e paz se encerra
Assim a rara porta se descerra
E traz a cada noite outro luar,
Insisto que é preciso sempre o sonho,
Num tempo mais atroz e até medonho
A fantasia gera um novo porto,
Porém imperioso este poder
Que move e não comove o humano ser
Gerando invés da messe um torpe aborto.


969


Eu sinto, nesta aurora, um raro sol
Tomando com firmeza este horizonte
E nele cada sonho se desponte
Gestando por si só raro farol,
Seguindo o meu caminho sempre em prol
Do quanto ainda tento e já se aponte
Mergulho o pensamento em mansa fonte,
E tramo outro destino em raro escol.
Vestindo esta ilusão, ah quem me dera
Vencesse em calmaria esta quimera
Jazendo em paz superna e redimisse
Os erros de uma vida em vã tolice
Marcando em florescência a primavera
Aonde uma esperança ainda eu visse.


970

En su grave rincón, los jugadores
Rigen las lentas piezas. El tablero
Los demora hasta el alba en su severo
Ambito en que se odian dos colores.
.
Adentro irradian mágicos rigores
Las formas: torre homérica, ligero
Caballo, armada reina, rey postrero,
Oblicuo alfil y peones agresores.
.
Cuando los jugadores se hayan ido,
Cuando el tiempo los haya consumido,
Ciertamente no habrá cesado el rito.
.
En el Oriente se encendió esta guerra
Cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el otro, este juego es infinito.

JORGE LUIS BORGES

A vida se prepara em xeque-mate
Marcando com derrotas cada passo
E neste tabuleiro agora eu traço
O quanto noutro mundo se arremate,

E o vândalo sonhar ora desate
E marque com terror um ledo espaço
E quando mergulhando em tal cansaço,
Um lasso caminheiro não debate,

E alçado pela sorte em tenso arpão
Já não concebe os tempos que virão
Podendo redimir em morte, a queda,

Apenas um peão e nada além
A sorte noutro instante não contém
Sequer alguma luz onde se enreda.

971


Quem sabe meu amor, eu possa ainda
Tramar outro caminho em plenitude,
Porém a vida tanto ora me ilude
Enquanto com vazios já me brinda,
O quanto poderia e não deslinda
A sorte noutro ritmo em atitude,
E mesmo que o cenário eu tente e mude
A leda fantasia ora se finda.
Resignado eu prossigo em torno à luz
E o torpe desenhar não reproduz
Sequer a menor sombra do que um dia
Pudesse ser diverso e me traria
Risonho desejar, porém a cruz
Deveras o que resta e caberia.


972


ESTÂNCIAS

Quando à tardinha rumorejam brisas
Roubando o aroma das agrestes flores,
E doce e grave, nas viçosas matas,
Mais triste canto o sabiá desata,
Eu lembro-me de ti!

* * *

Eu lembro-me de ti, por que tu’alma
É o sol de minh’alma e de meu gênio;
E neste exílio que infernal me cerca,
Mísera planta, desfaleço e morro
Ao frio toque de hibernal geada!

* * *

Quando das franjas do Ocidente róseo
Um raio ainda me clareia o cárcere,
E um tom suave de tristeza e luzes
Mistura o dia à palidez da noite,
Eu lembro-me de ti!

* * *

Eu lembro-me de ti, porque teu seio
Guarda um tesouro de piedade santa,
E nesse instante que o pesar duplica
Faltam-me as vozes de teus lábios meigos
E o doce orvalho de amorosos olhos!

* * *

Quando nas bordas de meu leito escuro
Fatais espectros de pavor se cruzam,
E exausto, e lívido, eu procuro embalde
O grato sono que meus olhos deixa,
Eu lembro-me de ti!

* * *

Eu lembro-me de ti, porque saudosa
Sonho-te a imagem soluçando ao longe,
E a fronte curva, e umedecidas pálpebras,
Meu nome dizes ao tufão que passa,
À brisa doida que te morde as tranças!
* * *

Quando meu corpo se debate em febre,
E a lava ardente nas artérias corre...
Quando cruenta, de funéreos risos,
Pressinto a morte levantar-se perto,
Eu lembro-me de ti!

* * *

Eu lembro-me de ti que és minha vida,
Último alívio neste mundo insano,
Anjo da guarda que à minh’alma aflita
Pudera as trevas espancar com as asas,
Lavar-lhe as manchas num Jordão de lágrimas!

* * *

Ai! tudo os homens entre nós quebraram:
A paz, o riso, as esperanças áureas;
Mas de teu peito me arrancar não podem,
Nem a minh’alma desprender da tua!...
Eu lembro-me de ti!...


FAGUNDES VARELLA

Eu lembro-me de ti a cada instante
Entranho nos meus âmagos e vejo
Apenas o caminho mais sobejo
No amor deveras raro e delirante,
Porquanto cada passo me garante
Apenas o que tanto agora almejo
Um dia mais tranquilo e benfazejo
Aonde se lapida um diamante,
Aurífera esperança rege o passo
De quem em novo mundo, o mesmo eu traço
Revigorando o sonho onde embebi
Meu verso mais suave em plenitude,
E mesmo que deveras tudo mude,
Eu lembro-me, querida, então de ti.


973

Por ondas inclementes, leva a vida
Além do quanto quis acreditar
E gesta com ternura céu e mar
E nesta paisagem presumida
A sorte em tal ternura sendo urdida
Permite o meu sublime caminhar,
Vencendo os meus enganos a tocar
A própria maravilha assim ungida,
Expresso noutro verso o quanto tento
Singrar mesmo que seja contra o vento
Este oceano feito em raro brilho,
E quando mergulhando em tal cenário
O mundo se mostrara farto e vário
E nele em tons suaves eu palmilho.

974

A lua refletida em teu olhar
Transcende ao próprio sol em magnitude
E quantas vezes tanto mais eu pude
Num doce e mais perfeito mergulhar,
Vagando tão distante céu e mar
Gerando dentro em mim a plenitude
Mormaços do passado, tudo mude
E eu possa em ar sereno navegar,
Ainda quando rude; outra ilusão
Marcando os dias claros que virão
Com toda uma certeza feita em paz
E o manto mais sagrado em novos tons
Ditando estes momentos raros, bons
Num passo com firmeza mais audaz.

975


Abraça tantas ondas quanto enfrenta
Redime cada engano num alento
E quando se entregando ao manso vento,
Já sabe desvendar dor e tormenta,
O quanto da esperança me alimenta
E nela outro cenário ora fomento
Deixando correr solto o pensamento
Marcando a minha vida onde apascenta.
Terríveis noites dizem de um passado
Já tanto destruído e desolado,
Olhando para frente vejo além
Reflexo de uma vida mais saudável
Num canto muito mais que imaginável
Aonde a poesia em paz contém.


976

Talvez quando retorne do sono ou coma
A vida não seria desta forma
E quando novo tempo se transforma
Cenário mais sublime enfim se soma
E o quanto da verdade nada doma
E o temporal apenas não conforma
E gera a tempestade, dura norma
E nela noto a espuma que me toma.
Adentro evanescentes fantasias
Do néctar desejado, as ambrosias
Olimpos dentro em mim já não mais visse
E o tanto quanto quis e nada veio
Gestando novamente um ar alheio
Transcorre sem defesas, na mesmice.


977


Qual lua que no mar se entrega inteira
A vida se transforma plenamente
E quando esta beleza se apresente
Além do quanto pude ou mesmo queira
A vida noutro instante lisonjeira
Expressa a fantasia e toma a mente
E mesmo quando vejo o sonho ausente,
Mantenho sempre este riste esta bandeira,
A poesia entorna a cada instante
E nela todo o passo se adiante
Moldando um novo rumo e nele entranha
Minha alma seduzida pelo tanto
E neste delirar eu me agiganto
Alçando muito além desta montanha.


978

Passado esse momento aonde eu pude
Trazer à minha vida o quanto eu quis
E sendo tão somente ora feliz
Em meio ao caminhar sombrio e rude,
A fonte em claridade ainda ilude
E tento da esperança um chamariz
Vivendo o quanto resta por um triz,
Tentando caminhar noutra atitude.
A mocidade morta nada crê
E o tempo se deslinda sem por que
Apenas por tentar a remissão
Dos erros, dos infaustos, tédio e medo
E quando desta forma em paz procedo
Momentos mais sublimes gestarão.


979

O beijo que promete nova senda
No quanto pude crer e nada havia
Marcando com terror a fantasia
Aos poucos noutro rumo não se estenda,
Vestindo esta emoção diversa lenda
O quanto deste fausto eu poderia
Gerando com ternura uma alegria
E nela todo o passo sem contenda.
Resumo o meu delírio noutra face
E a vida se transforma em novas fases
Assim ao quanto tanto Inda me trazes
O risco de sonhar gestando o tédio
E nisto a poesia em manso assédio
Ainda noutro instante se moldasse.


980


A carne tão sedenta de teu porto
Alçando muito mais que um só momento
E quando o passo além sempre incremento
O dia não seria semimorto
Vagando sem sentido num conforto
Diverso do que agora busco e tento,
Meu canto no vazio, qual lamento
Transcorre tão somente me ledo aborto.
Esbarro nos meus medos e procuro
Embora saiba o solo árido e duro
Cevar uma esperança mais audaz,
E o canto em consonância noutro acorde
Ainda do viver beba e recorde
Mostrando aonde a vida siga em paz.

981


Procura a companhia de quem tanto
Já fora muito além de mera luz,
Meu passo rumo ao tento ora produz
O mais diverso e belo, raro encanto,
E nisto tão somente tento e canto
Cenário aonde o sonho reproduz
Marcando com delírio o quanto eu pus
Em sonho, transparência; sem quebranto,
Na alva areia deitando o imenso mar
Tramando a cada instante o desejar
Sem medos, nem angústias, plenamente.
E assim num libertário caminhar
Alçando a tempestade a mergulhar
No quanto mais desejo e se apresente.

982


Que sei me negará novo momento,
Mas nada impediria cada sonho
E nele outro tormento em vão componho
Enquanto a solução, embalde eu tento,
Espraio muito além deste fomento
E busco amanhecer claro e risonho
Aonde noutro instante inda proponho
A luz em raros tons, doce alimento;
Percorro em pensamento estas coxilhas
E nelas noutro instante também trilhas
Trazendo na guaiaca esta esperança,
A vida se cevando em luz e glória
Ainda quando a vejo; merencória,
O meu olhar além procura e avança.


983

Nas seivas prometias natureza
Diversa da que tanto eu percebia,
E assim novo momento em claro dia
Marcado com ternura e com destreza,
O quanto deste sonho uma alma é presa
E vaga enquanto em si mesmo irradia
Beleza sem igual em poesia
E nela outro cenário, com certeza.
Assiste aos meus caminhos; farta luz
Galgando ao mais etéreo desnudar
Gerando noutro rumo outro sonhar
E nele este cenário inda reluz.

984


Depois de tanto tempo solitário
Vagando pelas ruas, inclemência
O canto se mostrando em tal demência
Marcando outro caminho imaginário.
O tanto quanto fora solidário
Bebendo desta sorte em ingerência
Diversa da que tanto em competência
Pudesse vencer sempre um adversário.
Tramando novo dia a cada passo
O manto em claridade eu tento e traço
Atentamente vivo em plenitude
E o passo noutro encanto mais audaz
Assim quando a verdade sempre o traz
O rústico desenho não ilude.

985

Duvido que teu corpo ainda venha
Trazendo o quanto quis em gozo e festa
A vida noutra face não atesta
Deixando demarcada a velha senha,
E quando se fizesse em frágua e lenha
O todo se transforma e vejo a mais funesta
Verdade penetrando em cada fresta
Aonde tão somente o mal contenha.
Retesa a sorte em ânsia mais mordaz,
E o passo onde buscara a mansa paz
Apenas atormenta e nada gera,
A clara fantasia se dilui
E o tempo noutro rumo tanto pui
Matando o quanto resta em primavera.



986

Mas tento, sem nenhuma redenção
Momentos mais diversos, riso e pranto
Apenas ao vazio eu me garanto
E morro sem sentido ou previsão
O tempo se desenha sempre em vão
E a cada novo passo um velho espanto
E neste desenhar ainda o canto
Mostrara novo rumo imprecisão.
Espreito os meus fantasmas e num salto
O quanto poderia e não ressalto
Esbarro noutro infausto em queda e dor,
Na merecida sorte sem lamento
Às vezes quando insano me atormento
Procuro outro caminho, o redentor.


987


E peço teu carinho embora a vida
Não deixa qualquer dúvida, não vens.
E neste desenhar tantos desdéns
Aonde a própria sorte mal urdida
Expressa a poesia e desprovida
Da glória noutros rumos, sem vinténs
Os dias morrem loucos e os reféns
Das sortes noutra face, destruída.
Acordo e continua o pesadelo
Meu dia novamente por retê-lo
Transcorre em demoníaco cenário,
O amor que redimisse em raras tréguas
Distante dos meus olhos tantas léguas
Marcando este momento, temerário...


988


Em vão; te peço então algum alento
E nada do que possa se traduz
Ainda num momento feito em luz
Grassando novamente o sofrimento,
Aonde poderia o pensamento
O rústico desenho em contraluz
Presume cada infausto e gera a cruz
E neste desenhar, raro tormento,
Meu sonho se perdera no vazio
E o quanto poderia é mais sombrio
Marcando com torturas dia a dia,
E o vento noutro rumo poderia
Trazer o quanto quero e desafio,
Mas nada se mostrara em alegria.


989


De quem tanto partiu este não ser
Apenas se esperava somente isto
E sei enquanto tento e até despisto
O mundo noutra fase em desprazer,
Vencido e meramente sem poder
O quanto em desvario agora assisto
E bebo outro cenário onde malquisto
O tempo se desvenda ao bel querer.
Restauro o meu anseio em precipício
E verto o meu caminho em medo e vício
E singro este fantoche, uma esperança,
E assim ao mergulhar me dando inteiro
O rumo se mostrando o derradeiro
Aonde o passo atroz em fúria lança.


990

E saiba quanto tempo é necessário
Para curar enfim qualquer ferida
A chaga em desespero sendo urdida
Transcorre noutro clima temerário,
A vida um sonho bom, imaginário,
Marcada pela insânia e corroída
Gerando outro momento, distraída
Vivendo dentro apenas deste armário,
Meu canto se mostrara quase fútil
E aonde poderia ser mais útil
A sorte amaldiçoa cada passo
E neste delirar sem mais proveito
Ainda em tempestade rara eu deito
E um novo amanhecer, sequer eu traço.

991

A nossa tarde; juntos, não passamos
A via que se tenta não concebe
Senão esta vazia e torpe sebe
E dela se percebem frágeis ramos,
O todo noutro instante; o desejamos
E o quanto do vazio ora se embebe
Vasculha cada canto e não recebe
Sequer a melodia em que pensamos,
Vacância doma agora este momento
E nisto se transforma em desalento
O verso mais audaz onde pudesse
Viver em plenitude um passo além
E nisto apenas morte se contém
Marcando com terror cada benesse.

992


Outonos que sabemos tão ferozes
Marcando em virulência o dia a dia,
O tempo pouco a pouco já se esfria
Os rios sem caminhos, margens, fozes,
E as esperanças são algozes
E delas nada mais se esperaria
Senão a mesma face, hipocrisia
Momentos tão doridos quanto atrozes.
Um ledo desenhar em noite escura
E o quanto do vazio se assegura
Num passo em falso rumo ao quanto eu quis,
E o todo se esvaíra num infausto
Amor não necessita de holocausto,
Que a ele neste instante contradiz.


993

Amor quando em promessa se transforma
Não deixa qualquer luz reger o passo,
E neste desenhar tanto desfaço
O quanto quis outrora em bela forma,
Vagando sem destino sempre ao léu
O todos se deforma e nada rege
Senão este caminho torto e herege
Num átimo; feroz, duro e cruel
Rescaldos de uma vida em tempestade
E nela novo passo eu não consigo
Exposto ao insolente desabrigo
A vida pouco a pouco se degrade,
E sigo à flor da pele, sem defesas
Lutando contra as minhas incertezas.


994

Compartilhamos mesma noite em vão
Tentando algum desejo onde não há
E sei que me atormento aqui ou lá
Desértica loucura, solidão.
Errático cometa, a direção
Transita entre o não tem e o não terá
Pudesse ainda um dia outro maná
E o corte não teria a precisão,
Mas vejo a minha morte desenhada
E nela outro caminho diz do nada
Porquanto poderia ser feliz
E o tanto que perdera noutra cena
Marcando o quanto mata e me envenena
Mostrando a própria luz quando a desdiz.


995


Amor que nos uniu por tanto tempo
Agora se esvaindo num segundo
Enquanto desta sombra ainda inundo
O risco se aumentando em contratempo.
Sonhando com a sorte que não veio
O tanto quanto posso e nada vejo
Apenas outro momento e num lampejo
A sorte procurada em devaneio,
Esqueço este cenário aonde eu pude
Vibrar com toda a luz em claros tons
E a vida desenhando em tais neons
Um dia mais atroz, porquanto rude,
E assim me desdenhando em desamor
O passo perde o rumo, e mata a flor.


996


Paixão que decorando um céu imenso
Transcende à própria vida e me transforma
Não respeitando lei ou regra ou norma
Traduz o quanto quero e mesmo penso,
Vestindo a glória rara eu me convenço
Da vida insofismável, rara forma,
E a cada novo instante já me informa
Do todo aonde quero e me compenso,
Atrozes dias dizem de um passado
Aonde mergulhara e noutro enfado
Jorrando em consonância uma esperança
Ao largo deste rumo sigo imerso
Na solidão cruel de cada verso
Aonde a poesia em sonhos lança.


997

Trazendo um tinto sangue em cada olhar
Vicejo outro cenário e nele eu tento
Beber a poesia num momento
Difícil de compor e imaginar;
Pudesse noutro instante desenhar
Um novo caminhar em raro alento
Deixando no passado o sofrimento,
Bebendo a fantasia devagar
Ousando em cada gole a plenitude,
E sendo muito além do que mais pude
Vencer os meus tormentos costumeiros
E em versos traduzir felicidade
E nesta maravilha aonde invade
Cevar com meus delírios, os canteiros.


998


Vibrando no teu corpo em harmonia
Gerando um sonho raro e nele eu sinto
Vulcão que inda pensara estar extinto
Num raro desenhar paz jorraria,
E assim tenacidade dia a dia
E nela muito além de mero instinto
O tanto quanto posso ora pressinto
Marcando com ternura a poesia,
E vendo este momento em rara senda,
Aonde toda a sorte se desvenda
Sem ter sequer contenda, em mansidão
Meus olhos procurando o pleno lume
E nele uma alma em luz tanto se rume
Marcando com brandura a direção.

999


Segredo mais voraz a vida insere
E transitando aonde nada havia
Mergulha cada passo em poesia
Que tanto nos transpira quanto fere,
O risco de sonhar logo interfere
E gesta com ternura o dia a dia
E neste deslindar bem mais podia
Aonde a plenitude agora impere.
Resumos de outros tempos num só astro
E nele outro momento; em paz alastro
Vibrando com o gozo desejado,
Vestindo esta promessa: ser feliz
Vivendo cada passo como eu quis
Num canto sem igual, abençoado.

1000


Voar além dos mares albatroz
Reinando sobre os céus, belo e imponente
O quanto deste encanto se apresente
Mudando este cenário mais feroz,
Vagando muito além em plena voz
A vida noutra face não desmente
E gera outro caminho onisciente
Do tanto quanto quer e traz em nós.
Razões para sonhar e ser feliz,
Meu verso noutro instante um aprendiz
Procura qualquer brilho e se entorpece,
Alçando todo o encanto que bem quis,
Vivendo e deste fausto peço o bis
Tramando a cada verso outra benesse.