1
Já não me caberia mais sonhar
Se tudo o quanto resta diz do nada
E quando a noite tece uma alvorada
Risível na verdade o caminhar
Em sendas tão dispersas e tocar
Com a alma no vazio desenhada
A imagem comumente desolada
Num medo de seguir, ou de ficar.
Respaldo o meu anseio neste intento
E quanto mais liberto o pensamento
Apenas se traduzem temporais.
Escassos sonhos ditam poesia
E quanto mais além eu poderia
Diverso do meu rumo qualquer cais.
2
O prazo se findando e o quanto resta
Da imagem que criara em mocidade
Traduz tão meramente esta saudade
Ao mesmo tempo amarga ou indigesta.
Ao sonho o meu delírio mal se empresta
E bebo com fervor à saciedade
Marcando com terror e falsidade
A vida noutra face, mais funesta.
Mergulho nestes ermos e me faço
Apenas tão somente um mero traço
Do quanto pude um dia ser além.
Bisonhamente a vida nega a paz
Somente o desencanto e quando o traz
Já nada mais do sonho em mim contém.
3
Avento outros caminhos e procuro
Vencer os meus tormentos. Quando tento
Bebendo tão somente o sofrimento
Num mundo tão atroz porquanto escuro.
E quando me afastando deste muro
Ao menos tenho o sonho em provimento
E sei quando é possível um alento
Enquanto ao mesmo tempo me amarguro.
Vencer as variantes da alma insana
E quanto mais procuro mais se dana
A solução esgota o prazo e trama
Apenas o vazio e neste instante
O canto na verdade não garante
Acesa dentro em mim a menor chama.
4
Retaliações diversas têm a vida
E delas aprendendo muito pouco,
O quanto imaginara e me treslouco
Na imagem pelo tempo destruída,
Resulto deste nada e sei perdida
A sorte de um momento aonde mouco
Transcendo ao quanto pude além de louco
Verter noutro caminho a despedida.
Arrasto ao fim; diversas vis correntes
E quando um novo tempo; ainda tentes
Mergulho nos meus erros e assim deliro.
À parte dos meus dias mais doridos
Roçando ou mais entranham meus sentidos
Aos ermos mais profundos eu me atiro.
5
Meu verso em solilóquio traduzira
O quanto ainda resta dentro em mim,
E sei quando sair do camarim
Esgoto o personagem noutra mira.
Apraza-me saber quanto se tira
Do vértice e transforma tudo enfim,
E o manto tenebroso; dita o fim
Teimando em manter viva a mera pira.
Extraio dos meus erros outros tais
Arisco companheiro dos venais
Desejos entre tantos, hordas vis.
Mas sei o quanto posso enquanto vago
Traduzo a minha dor em manso afago
E vivo muito além do quanto eu quis.
6
Ao sonegares sonhos tu não vês
A frágil estrutura deste não,
E quando os olhos mansos tocarão
A vida em olorosos, bons buquês
Neste momento até, quem sabe a vez
De um novo amanhecer em direção
Num sol agigantando esta amplidão,
Porém em fantasias já não crês.
Resumes teu caminho neste nada,
E quando se aproxima a sorte alçada
Esbarras em vestígios de pudores.
Amortalhando a luz, nada mais resta
E tanto quanto podes ser funesta
Sem mesmo relutares ou te opores.
7
Soltando a minha voz eu me permito
Sentir a maravilha feita em luzes
Embora noutros tantos; reproduzes
Apenas o vazio deste grito.
E tudo se imagina no infinito
Caminho aonde em paz tu não conduzes
Teus olhos entranhando velhas urzes
Aquém do que decerto eu necessito.
E me perdendo enfim de teus caminhos,
Prefiro os meus audazes e sozinhos
E não compartilhar funérea tez.
O quanto do meu verso além ecoa
Enquanto esta alma espúria cisma à toa
E tudo em teu caminho se desfez.
8
Falar do amor enquanto ainda eu posso
Trazer dentro de mim esta esperança
Uma alma na verdade não se cansa
Se o sonho for também tão teu e nosso.
Mas quando do vazio enfim me aposso
O passo sem deveras a fiança
Da vida na constante e vã mudança
Transcende ao mesmo fardo onde me endosso.
Resumos dolorosos, traiçoeiros
Marcando com terror velhos canteiros
Não deixam a florada em primavera.
E quando alguma luz ainda toca
A sorte se escondendo em qualquer loca
Enquanto o verso aquém se destempera.
9
Cerzindo com meus sonhos passos sigo
Vencendo estes demônios e singrando
Um mundo mais suave e mesmo brando
E neste caminhar encontro o abrigo,
E quando ao meu delírio desobrigo
Minha alma muitas vezes sonegando
O quadro se desnuda e transformando
O todo num momento em paz, contigo.
Vagando pelos ermos da emoção,
Que o tempo nem as eras noutra forma
Enquanto a própria vida se transforma,
Os dias de outros tais, repetição,
Espalho o quanto sinto ou mesmo busco,
Sem ser ou merecer crer mais velhusco.
10
O amor desenha em mim a vária face
Sofrida e ao mesmo tempo me redime,
Enquanto se faz claro e até sublime
Apenas o delírio ainda grasse
Por vezes em diverso rumo eu trace
O canto aonde nada mais se estime
E nada além do cais inda suprime
O quanto coletei a cada impasse.
E resolutamente nada cessa
O sonho quando é mais que uma promessa
Visível e palpável sentimento
No olhar de quem se mostra extasiado
O risco sobrepuja-se ao passado
Num passo mais feliz me reinvento.
11
No manso caminhar de quem procura
Com toda paciência algum recanto
E nele desenhar em raro encanto
A fonte cristalina da ternura.
O quanto solidão tanto tortura
Aquém desta esperança onde ora canto
O sonho desejado sem, entretanto
Alívio num momento de candura.
Por vezes imagino este ribeiro
Em águas cristalinas, tão somente
E nele esta constância se apresente
Deixando para trás o corriqueiro
Anseio feito em dúvida ou temor,
Vivendo a plenitude deste amor.
12
Já não comporta mais esta tristeza
O olhar onde se embebe este horizonte
E nele um claro sol onde se aponte
Gerando intensa luz, farta beleza.
O tempo se discorre sem surpresa
E a toda turbulência, nova ponte
Tramando o amanhecer que ora desponte
Traçado co’o louvor da natureza.
E vendo esta sobeja maravilha
Meu rumo para os teus, deveras trilha
E assim em harmonia prosseguimos
Ao superar os charcos, lamas, limos
Seguindo esta nobreza que além brilha
Da cordilheira imensa, chego aos cimos.
13
Minha alma na tua alma se desterra
E nesta consonância posso ver
Um raro desenhar feito em prazer,
Vagando além da própria imensa Terra,
Pensando este horizonte que além-serra
Inunda-se em sobejo amanhecer
Reinando sobre nós farto querer
E nele toda a glória se descerra.
Vencer os meus pudores tão banais
E crer nos nossos mútuos temporais
Numa eclosão divina e maviosa.
No quanto cultivara meu jardim,
Cuidando das roseiras sei que enfim
Encontro em ti a mais sobeja rosa.
14
O pensamento adentra o imenso mar
Navega entre estas ondas mais bravias
E tanto quanto pensas, desafias
Os sonhos onde eu possa te encontrar
Rondando cada espaço a procurar
Caminhos pelos quais ora desfias
E tramas novos tons em claros dias
Depois de muito tempo a te esperar.
Vestindo esta esperança imorredoura
A sorte noutro encanto não se doura
Tampouco se acredita onde somente
O amor possa traçar o mais sublime
Desejo aonde o tempo nos redime
Até de uma esperança que se ausente...
15
A noite muitas vezes tão estranha
Imersa em nuvens fartas, mas a lua
Adentra este bloqueio e rara e nua
Eleva-se por cima da montanha.
Minha alma se espalhando ora se assanha
E a deusa tão sublime ora cultua
Meu verso neste encanto perpetua
A luz que rompe imensa enquanto entranha.
Além da imensidade feita em brumas
Também tal qual a lua agora rumas
E tocas o meu corpo; pensamento.
E bebo cada gota deste sonho
Enquanto num clarão vibro e componho
A doce fantasia onde me alento.
16
Aonde poderia se esconder
Quem tanto se fez muito e agora é nada
A dita noutra face desvendada
Gerando tão somente o desprazer.
Pudesse novamente amanhecer,
Porém a vida segue além nublada
E o quanto se deseja em alvorada
Não mais reflete em paz o bem querer.
Mosaicos em diversos tons eu sinto
E quando imaginara mais distinto
O rumo se perdera sem sentido.
E o amor que um dia fora a redenção
Traduz estes vazios e desde então
Não resta nem resquícios, ledo olvido...
17
Nascendo destes tantos claros sóis
E deles desvendando maravilhas
No quanto além dos sonhos tu palmilhas
Enquanto a fantasia; em mim, constróis
Vencer os meus temores, nos faróis
A intensidade imensa onde tu brilhas
E quantas luzes tramas e polvilhas
Meus olhos de teus olhos; girassóis...
Ardentes emoções o amor traduz
E bebo cada facho desta luz
Gerada pelo encanto em rara essência.
E quando imerso em ti, também recebo
E nisto irradiando, ora percebo
Em tons mais variados, fluorescência...
18
Buscando noutros rumos, nos outeiros
Quem possa acalentar ou mesmo até
Trazer ao caminheiro alguma fé
Depois de dias duros, corriqueiros.
Assisto ao quanto posso em teus canteiros
Urdindo cada sonho e mesmo o que é
O redentor desejo no sopé
Da imensa cordilheira, nos ribeiros.
Erguendo o meu olhar procuro então
Apenas quem moldando a solução
Permita novo dia ao sonhador.
E tendo em ti a imagem desejada
Minha alma em teu olhar já desnudada
Reveste-se somente em farto amor.
19
Ao recolher meus erros tão constantes
Tentando removê-los e seguir
Mirando o quanto resta no porvir
Alçando em pensamento os diamantes,
E quando te aproximas e garantes
A fonte inesgotável; este elixir
Ousando se além de algum emir
Meus olhos neste etéreo, navegantes.
Num êxtase supremo em glória e paz
O amor quando decerto amores; traz
Revigorando o passo rumo ao Éden.
Nem mesmo os meus temores costumeiros
Tampouco os mais terríveis espinheiros
Caminho desvendado; agora impedem...
20
Já não mais comportando tantas nuvens
Os olhos buscam claros neste dia
Aonde a sorte atroz, dura e sombria
Dizendo que deveras tu não vens.
E sei dos meus delírios onde os bens
Maiores noutro encanto eu beberia
E quando se presume uma alegria
Apenas dissabores, o que tens.
Restauro a direção e acerto o prumo,
E quando aos teus caminhos também rumo
Encontro-me decerto e sei tão bem
Do imenso desenhar onde pudera
Vencer a solidão, amarga fera
E do supremo amor, doce refém...
21
Buscara uma resposta e nem sei onde
A poderia ver ou vislumbrá-la
A sorte me espreitando na ante-sala
Ao nada tantas vezes corresponde
E quando na verdade não responde
Ou tanto sabe ou quase nada fala
E gera a solidão quando avassala
E noutro desejar o brilho esconde.
Resulto destas tantas divergências
Não quero estas sutis reminiscências
Apenas mergulhar nalgum futuro,
E embora saiba bem do quanto é vago
O mundo onde decerto eu não me alago,
Nem mesmo encontrarei o que procuro.
22
Aguardo estes desfechos onde um dia
Pudera acreditar em redenção.
Porém somente as trevas mostrarão
O quanto vale amor se me irradia.
E tento com astúcia ou poesia
Vencer esta soberba ingratidão
E sei do meu destino desde então
Apenas noutro rumo em fantasia.
Etéreas noites; bebo em solitário
Anseio aonde há tempos o estuário
Traria pelo menos um alento,
E sendo de tal forma um sonhador
Vivendo as ilusões fartas do amor,
Ao menos um sorriso; ainda tento...
23
Nas costas que lanhaste com chicotes
As fundas cicatrizes eu desvendo
Se em tua vida fui mero remendo
Deveras noutro rumo já me notes.
E quando se percebem tais coiotes
E neles este olhar se concebendo
Em táticas banais, esmorecendo
O amor quando no fim logo desbotes.
Arcar com as doridas tatuagens
Marcando com terror tais paisagens
Geradas pela fúria em tom atroz,
E prosseguir a vida noutra face
Aonde algum anseio ainda grasse
Deixando para trás o que houve em nós.
24
Amores que vivi e viveria
Somando cada queda e o novo passo
Enquanto num momento me desfaço
Noutro já me embebo em farto dia.
Destarte desenhar o que podia
E ver a solidão noutro compasso,
Ao mesmo tempo sigo cada traço
Buscando tão somente uma harmonia.
Cercando meu caminho com afeto
E neste desejar se me completo
Também completarei quem ama tanto.
Na imensa maravilha desvendada
A sorte entre nós dois; vejo-a selada
E sendo consonante a luz me encanto.
25
Fortuna muitas vezes destempera
E gesta uma tormenta aonde amor
Pudesse transformar a pedra em flor
E apascentar enfim a dura fera.
O meu olhar traduz a doce espera
Vislumbro em teu olhar igual valor,
E tantas vezes, quero o redentor
Caminho pelo qual há primavera.
Gerânios, rosas, dálias, lírios, cores
Diversas recendendo ao quanto fores
Gerando esta esperança a cada instante.
Na fátua fantasia não detenho
O canto mais audaz e mais ferrenho
Que apenas vero amor toma e garante.
26
O meu destino segue as trilhas quando
Deixaste como rastro esta esperança
E a cada novo sonho mais te alcança
Um horizonte belo vislumbrando.
Não vejo mais o tempo se nublando
E quando a noite vem serena e mansa
Meu canto ao mais sublime encanto lança
Em tons suaves, tudo nos tomando.
Ecléticos caminhos ditam sortes
Diversas e se tanto me confortes
Decerto estarei sempre em paz contigo.
Vivendo a intensidade deste intento
Das tramas deste sonho eu me alimento
E trazem tudo quanto mais persigo.
27
Apostas nesta vida onde eu subisse
Aos mais diversos cimos, cordilheiras
E quanto mais decerto ainda queiras
Maior o sol que em sonhos resumisse.
A falta deste encanto, uma mesmice
Errando tão disperso das bandeiras
Erguidas pelas ânsias verdadeiras
Aonde tanto amor nos consumisse.
Atando os nossos corpos, num só ato
Em ti o quanto ausente eu fui resgato
E passo a desejar a vida em festas.
Marcando o meu outono em luz suprema
Minha alma na tua alma ora se algema
E sonhos tão fantásticos tu gestas.
28
O amor quando em amor se faz maior
E vence as mais complexas vãs tormentas
Eclode no momento onde fomentas
A sorte desenhada e bem melhor.
A estrada pedregosa sei de cor
E nela as noites vagas, virulentas.
Mas quando novo rumo agora tentas
Valera cada gota de suor.
Arisco coração por tantos erros
Vivera em tolos ermos e desterros
E agora ao perceber alento em ti
Embebe-se de luz e compartilha
Seguindo com firmeza a mesma trilha
Aonde tenho mais que eu mereci.
29
O quanto quis saber e nada havia
Somente a imagem vária e deformada
De quem se transformando em quase nada
Matara com terror a fantasia,
E quantas vezes vivo esta euforia
Minha alma em tuas sendas entranhada
Riscando com ternura a mesma estrada
No amor a estrela rara que nos guia.
Hercúleos os delírios de quem tenta
E sabe desta vida em tez sangrenta
Sem nexo, sem destino, sempre ao léu.
E quando reconhece noutro ser
A imagem fabulosa do prazer
Encontra finalmente o imenso céu.
30
Não vejo sentimento aonde há tanto
Fingiste calmamente. Sortilégio
Gerindo este caminho outrora régio
E nele nada mais busco ou garanto,
Ao ver o teu olhar quieto, eu me espanto
E sinto como fosse um privilégio
Vencer os meus demônios num egrégio
Delírio feito em prece, luz e canto.
Há males que afinal dizem do bem
E quantas maravilhas já contêm
Os dias entre brilhos onde assumo
Minha rosa dos ventos, vendo o norte
E nele esta benesse que conforte
E trace em mansidão, suave rumo.
31
A noite me flagrando em solidão
Ausente até de mim e nada mais tendo
Somente o mesmo olhar aonde, horrendo
Desenho se traçando neste não.
E quando os novos dias mostrarão
A face desdenhosa de um remendo
E tento disfarçar, mas não entendo
Meu passo sem ter norte e precisão.
Escassas fantasias inda habito
E sei do quanto sou mesmo maldito
E neste mergulhar vasculhando a alma
Espúria voz em andrajosa tez
Somente o quanto agora ainda vês
E nada nem a morte já me acalma.
32
Os raios de uma lua inexistente
O canto em tom sombrio dita as regras
E quando mais além me desintegras
Ainda quando muito lute ou tente
Não deixa que se veja outra manhã
Porquanto a vida em luzes escasseia
E a lua quando a vira imensa e cheia
Decerto não sabia deste afã.
Resulto então da insana turbulência
E beijo a tua boca em agridoce
Desejo e neste incauto passo eu fosse
Além de meramente uma excrescência.
Não vejo nem sequer qualquer bonança
Aonde a voz inerte não alcança.
33
O tempo se refaz e traz após
A queda novo sonho, mas sei bem
O quanto de vazio a alma contém
E nada do que busco toma a voz.
Resumo o meu martírio neste algoz
E sei de seus delírios quando vem
Tocando a minha pele com desdém
Marcando em turbulência a mansa foz.
Resgates de outros dias mais suaves
E neles com certeza soltas aves
Vagando em infinitos dentro em mim.
Mas quando percebi neste horizonte
O olhar tão desvairando que desponte
Marcando o recomeço do meu fim.
34
Quem dera se pudesse ver além
Do pouco onde vislumbro o meu caminho
Vacância dentro da alma em tom mesquinho
Trazendo o quase nada que contém.
Resgato e na verdade se, refém,
Ainda posso crer num novo ninho
E nele mergulhando me avizinho
Do quanto amor decerto agora tem.
Apascentando a fera coração
Eu busco meu desejo e sei virão
Apenas discordantes ironias.
Mas quando vasculhasse com denodo
Além do lamaçal, do imenso lodo
Quem sabe novas luzes me trarias?
35
Não quero tão somente festa e dança
Aonde se perdesse alguma luz,
Ao quanto meu desejo me conduz
Somente outro desenho a vida trança.
Resumo cada fato na lembrança
De um dia e nele o todo em paz compus
Vencendo o sortilégio, faço jus
Num doce caminhar em lua mansa.
Escalo com meus sonhos o infinito
E tendo muito mais que necessito
Ardências se transformam em prazer.
Num ato mais audaz, o passo rege
Deixando no passado o fardo, herege,
E a lua renascendo no meu ser.
36
Delírios onde os quis celestiais
Transcendem ao meu passo dia a dia,
E neste desejar tanto se cria
A messe nestes bons mananciais.
E os versos adentrando o pensamento
Ganhando em letras, forma onde procuro
Vencer o quanto posso e mesmo impuro
Encontre o cais e nele já me alento.
Arcar com desenganos e seguindo
Sem medo de cair nem do tropeço,
E tendo muito mais do que mereço
Um dia noutro tempo bem mais lindo.
Resumos de um momento e nada além?
Só sei do quanto brilho ela contém...
37
Percorro os mais diversos descaminhos
Buscando ter somente alguma paz
E o rumo quando agora se desfaz
Demonstra dias sórdidos, mesquinhos.
E venço com ternura tais espinhos
E sei do passo até bem mais audaz
Enquanto a fantasia já me traz
Sobeja provisão; fartos carinhos.
Escassos os anseios sem te ter,
E quando mais me entranho em tal prazer
Percebo insaciável meu desejo.
Contigo desvendando a rara estrada
Na glória redentora, anunciada
O céu em claros tons, eu azulejo.
38
Ascético momento em minha vida
Aonde mergulhara sem respostas
Deixando para além as mais dispostas
Vontades de saber, ousar guarida.
E quando noutro instante, distraída
A sorte em messe e tanto quanto gostas
Vencendo no final estas apostas
Encontro nos teus braços a saída.
Eventualmente tendo um desalento,
Porém jamais regrido e não contento
O sonho com um sonho tão somente
E assim novo cenário em luz desvendo
Deixando no passado o mais horrendo
Vibrando em tanto amor que ora se sente.
39
Um arco sem a seta nada vale
Assim também percebo o meu destino
E quando junto a ti me determino
Singrando além do quanto me avassale.
Teu corpo sobre o meu, sublime xale
E neste acalentar eu me alucino
E volto num instante a ser menino
Bebendo cada luz que amor exale.
Restando esta esperança de outro dia
E nela com certeza a sorte guia
Tramando nova aragem mansamente;
Cevando este canteiro em raras flores
E nelas traduzindo o quanto fores
Num passo que deveras nos alente.
40
Deflagram-se estopins e vejo em paz
O quanto guerrilheiro fora o amor,
E sendo nova luz a se compor
Gerando o que decerto o sonho traz,
Encontro a todo instante o mais audaz
Desejo e nele bebo cada cor
Deixando no passado este bolor
Que aos poucos nosso encanto já desfaz.
Nos esplendores raros da existência
O amor trazendo assim rara afluência
Esboça um novo tempo em divindade.
E sei do quanto pude ou mais e quis
Deveras ser um tanto mais feliz
Num canto aonde esta alma em luz se invade.
41
Jamais eu poderia ver um brilho
Jorrando neste olhar que me despreza
A vida noutra face segue ilesa
E traz outro cenário e em paz palmilho
Vestindo a fantasia, este andarilho
Mesclando cada passo aonde tesa
A sorte mais audaz e assim se preza
O tanto quanto posso ou novo trilho,
Negar a própria dor e ser bem mais
Vencer os tantos vários vendavais
Vagando em voz suave além do quanto
A vida investe em vértices audazes
E sendo meus caminhos onde os fazes
Quem sabe no final ainda encanto?
42
Respaldos aonde tento e não mais creio
Transcendem ao quanto pude acreditar
E sendo tão diverso o mesmo mar
Ainda dos meus sonhos quero um veio,
Meu canto noutro tom quando incendeio
O rústico desenho a se mostrar
Desnudo esta esperança a me sondar
Deixando para trás qualquer receio.
Resumos de momentos onde eu sigo
Buscando qualquer passo mais amigo
Acrescentando apenas fantasias
Erguer as minhas mãos numa oração
E ter certeza mesmo que virão
As luzes pelas quais ora me guias.
43
Ainda quero além do mero espelho
E traço outro caminho dentro em mim
Arcando com meus erros e no fim
Apenas novo rumo me aconselho
Escassas soluções, e se me engelho
Arfantes ilusões bebendo enfim
Resulto do princípio e de onde vim
Já não mais meteria o meu bedelho
Restando do passado quase oculto
Desenho pelo qual não mais eu culto
O risco de sonhar e ter na queda
Somente o mesmo bêbado cenário
Aonde cada engano é necessário
Até para saber o quanto o veda.
44
Arcar com erros sei e tento até
Vencer os meus perpétuos dissabores
E quanto mais atrozes me dispores
Algozes gerariam a galé
E o riso desdenhoso dita a fé
De quem se perde aquém destes albores
Ainda cultivara algumas flores
Pernicioso infausto por quem é.
Afeto aos meus anseios, pesadelo
Traçando cada passo com desvelo
Gerando outro demônio vivo em mim,
Escassos dias trazem a alegria,
No mais a vida segue tão sombria
Matando devagar todo o jardim.
45
Um gole de conhaque, a noite, o bar
A sorte desenhada noutra face,
E ainda que deveras tente e trace
Jamais eu poderia te tocar.
Um erro prosseguir e vasculhar
Alegando somente algum impasse
Aonde na verdade não chegasse
Sequer a imaginar outro lugar.
Reverso do que fora noutro tempo
O manto mais sagrado em contratempo
Urdido com ternura e agora em dor,
Transfunde dentro em mim esta ilusão
E dela novas tantas matarão
O quanto eu poderia recompor.
46
Já não mais conseguira qualquer meta
Senão a mais atroz e conhecida,
O risco de sonhar em nova vida
No fundo ao mesmo nada me incompleta.
E quando se traçara rumo ou seta
A porta já cerrada e empedernida
Sem nada que deveras mais me agrida
Até o próprio sonho, a dita veta.
Num caprichoso e vago itinerário
O amor se desenhando temerário
Explode em discordância e mata aquém.
Pudesse acreditar noutro momento
Enquanto com ternura ainda tento,
Apenas tempestade invade e vem.
47
Não quero mais saber desta esperança
Enganadora e torpe meretriz
No quanto do passado a contradiz
Ao ver o meu final, o sonho dança;
E nada na verdade mais amansa
Quem gera dentro em si este infeliz
Caminho em turbulência e me desfiz
Da velha e tão batida confiança.
Escalo os meus anseios e os derroto
Amores? Nem sequer até por foto
Somente desfilar desilusões.
E quando em paz estou, pois finalmente
Deveras outra face se apresente
No sonho aonde amor agora expões...
48
Convido-te querida para um trago
A noite sendo nossa, que se dane
O sonho quando a vida entrara em pane
E neste caminhar sem mais afago.
Ainda na ilusão quando me alago
O passo na verdade não engane
E a morte que decerto me profane
Mais viva dentro em mim, agora eu trago.
Um tempo mais um tempo após, mas quando
A sorte mudará, pois de feição,
Aonde quis somente uma afeição
O todo num momento desabando,
E assim neste verão se está nevando
O que fazer na longa hibernação?
49
Eu sei dos meus anseios e também
Resolvo estes problemas costumeiros
E neles dias turvos os luzeiros
Apenas no meu sonho ainda vêm.
Não quero ser escravo e nem refém
Dos dias entre tantos, corriqueiros
Vencido pelo encanto em doces cheiros
E neste desenhar vejo o desdém.
Rejeito cada engano e sigo em frente
Não tanto por querer ser mais clemente
Apenas por defesa, entenda amiga.
E quando eu conseguir a liberdade,
Embora esteja pleno de saudade,
Que a vida noutro rumo enfim prossiga.
50
Alheio ao que pudesse ser diverso
Do canto aonde um dia acreditei
Soubesse em calmaria de outra grei
E nela meu desejo enfim disperso.
Resulto do vagar deste universo
Sem ter sequer medidas, norma ou lei
E nisto com certeza eu sei que errei
Ousando acreditar e estar imerso.
Aporto em cais decerto bem tranqüilo
Enquanto em poesia eu já desfilo
Apenas o cenário onde se empresta
Desdita costumeira de quem ama
E sabe com certeza a espúria chama,
Enquanto sedutora; é tão funesta...
51
Tomar uma cerveja bem gelada
Em boa companhia; quem não quer?
Ao ver a deusa feita na mulher
Que tanta noite eu sonho, desenhada
Expressa a sensação da inebriada
Vontade de saber e o que vier
Traçando novo rumo sem sequer
Deixar do meu passado, quase nada.
Um tempo e toda gata fica parda
A sorte noutra mesa, pois me aguarda
E lança algum sorriso mais matreiro,
Depois a gente entende o que de amor?
Se nada do que tanto irei propor
Resume em: Por favor; empreste o isqueiro...
52
Aprendo com porrada após porrada
E sei quanto pudesse ser diverso,
A vida vagão solto no universo
A sorte noutra tez descarrilada,
E vejo no final, o mesmo nada
E sigo num sentido mais disperso
Tateio quando muito e sei perverso
O canto que deveras já me enfada.
Ao pressentir assim o fim da tarde
Sem ter o que pudesse e não resguarde
A luz de meu caminho, mesmo assim,
Enfrento; cara limpa, a realidade
E quando estou às voltas co’a saudade
A lua traz a boca em carmesim...
53
Versando tão somente sobre o fato
De ter a crença apenas no que eu possa
Além de desenhar a velha fossa
Num outro desejar o amor resgato.
Temeridade um passo sempre ingrato
E nele esta vontade vã se endossa
Riscando o meu delírio a luz que é nossa
Não vale nem sequer falso contrato.
Retaliações encontro quando um dia
Pensara noutro encanto e se me guia
Levando para o abismo e nada mais.
Assinalando em mim cada detalhe
O olhar tão majestoso me retalhe
Em gestos levianos, mas boçais...
54
Ao perceber em ti tanta ironia
Desculpe, mas o saco não agüenta
E segue contra a força da tormenta
Que esta paixão estúpida já cria
E seja de outra forma, novo dia
Sem ter que perceber esta placenta
Unindo minha vida à virulenta
Canalha quando em santa se vestia.
E vadre retro enfim, pois Satanás
Eu já não suportando, quero a paz
Mergulho aonde alguém enfim escuta
A voz de um lamentoso coração
Mal importando os dias que virão,
Nem mesmo a face obtusa desta puta.
55
Resumos de outros ermos; sigo assim
Promessa se abortando a cada instante
O olhar que poderia doravante
Traduz outro cenário morto em mim,
Esculhambando a sorte de onde vim
Num ato mais audaz ou provocante
Não quero nem talvez que se adiante
Deixando para trás qualquer jardim.
Ocasos entre caos e negações
Assim tanto delito tu me expões
Gerando outra faceta em falsos tons,
Vontade de explodir, mandar às favas
As tramas onde tanto me buscavas,
Atômica explosão em megatons...
56
Não quero mais chiliques, haja saco!
O tempo não permite esta frescura
E quando novo tempo se assegura
Num sórdido caminho eu não me empaco;
Ainda se mostrasse ser um fraco
E logo o mal não tinha sequer cura,
Mas quando a minha luz já me tortura
Enfio a própria cara num buraco.
Da peçonhenta e louca viperina
Apenas o veneno determina
O quanto de distância se permite,
Por isso caio fora e desde já,
Em quem o bote estúpido dará
Ultrapassando todo o meu limite.
57
Apresentando os pêsames por tal
Momento aonde arisco se escondeu
Quem tanto noutro instante se fui teu
Agora sigo em rumo desigual.
O amor tem sutilezas de cristal
E nele quando a luz se concebeu
Permite muito além do mero breu
E vive em raro encanto, um ritual.
Mas quando desta forma me rodeia
Minha alma noutro instante segue alheia
E busca tão somente enfim a paz,
Agora o que vier decerto eu lucro
Prefiro ser assim um tolo e xucro
Do que seguir contigo. Satanás!
58
Ao menos um instante após a queda
Merece uma atenção bem mais distinta
E quando a solidão em mim se pinta
Martírio sem pudores já se enreda,
Mas pago com tal juros a moeda
E embora na verdade nada sinta
O corte degenera e em breu se tinta
Capenga fantasia não me seda...
Eu sei quantos pudores tens e tento
Vencer com mais carinho o alheamento
Pensando ser decerto natural,
Mas quando te percebo mais de perto
O olhar noutro cenário enfim desperto
E vejo o quanto sou tolo e boçal.
59
Após o fim da tarde espero apenas
Que o tempo colabore com meu sonho,
E quando novamente te proponho
Embora na verdade não serenas
Mudando de repente noutras cenas
O quanto quero além calmo e risonho
E neste desejar jamais me oponho
Enquanto de outra forma me condenas.
Eu sei o quanto fui e sou agora,
O canto num só tom não se demora
E segue libertário sem fronteiras,
Por isso ser mutável desta forma
Enquanto a própria vida me deforma
Eu não serei conforme tu me queiras.
60
O bote preparado, a cascavel
A virulenta face desgrenhada
Da moça ao penetrar nesta alvorada
Acinzentando enfim inteiro o céu.
Aonde eu quis amor em fogaréu,
Sequer a labareda desvendada
O passo que deveras desagrada
Impede o caminhar e sigo ao léu.
Nadar contra a corrente? Nunca mais
Os dias são deveras outonais
E a força se perde co’a paciência.
E quero que se dane vida afora
Quem tanto noutro encanto já se arvora
Não vivo pra pagar tal penitência.
61
Um dia acreditar em novo sonho
E ter esta certeza e nada mais
Enquanto traço dias magistrais
Cenário se apresenta mais medonho.
Não quero este desejo que enfadonho
Transforma em pedras raros bons cristais
Nem mesmo nos anseios infernais
Já não suporto e noutra tez me enfronho.
Arcando com as dívidas prossigo
E tento perseguindo algum abrigo
E nele me escondendo vez em quando.
O amor não pode ser mero chupim,
Por isso é que enxergando o nosso fim,
A um novo caminhar me preparando...
62
Esqueço o que pudesse ainda ter
No olhar tão desdenhosa face atroz,
Embora nada tenha logo após
O fato de seguir só dá prazer
Estando desta forma o meu querer
Buscando uma afluência ou nova foz,
A linha se perdendo do retrós
Não tendo mais sequer o que a conter.
Escalo os meus desejos e traduzo
O passo noutro enredo, pois confuso
O rito nos teus braços gera o caos.
Da velha escadaria feita em vida
A sorte tantas vezes preterida
Prefere na verdade outro degrau.
63
Um gole de café, pão com manteiga
E a gente vai levando deste jeito,
O quanto em ti me sinto satisfeito
A sorte se mostrando agora meiga.
Porém aonde a fome bate à porta
O amor desacelera logo o passo
E sei que desta forma me desfaço
E o sonho a cada dia mais se aborta.
Jogado nalgum canto desta casa
Qual fosse uma mobília num brechó
O tanto que caminho agora só
Aos poucos do teu rumo se defasa,
Voltar a conviver numa sarjeta
É tudo que este amor ora prometa.
64
Um copo de conhaque, outro cigarro,
A noite passa em tanta fantasia
E quando mais deveras se inebria
Maior tenho a certeza, o tolo sarro,
Ousando ser além no nada agarro
E passo com total hipocrisia
Vendendo como fosse estrela guia
O quadro desenhado em lama e barro.
Chinfrins os meus caminhos, disto eu sei
E nada modifica a velha grei
Há tanto destruída e em abandono,
Depois de tal momento em dor e tédio,
A solidão passando a ser remédio
E dela doravante em paz me adono.
65
Chamusca dentro em mim tal labareda
E traça em mera frágua o que foi luz,
E quando novo instante eu me propus
O amor noutro caminho se envereda.
E apenas o que tanto em vão conceda
Reflete o meu destino em contraluz,
Uma esperança além ora me abduz
E nada de outra forma já proceda.
Há tanto me escaldara e agora sigo
Buscando em mansidão e mesmo antigo
O pé busca um sapato do meu jeito.
E se for da vontade de meu Deus
Apenas conhecer um novo adeus,
Ao fim em paz deveras eu me ajeito.
66
A sorte esta jagunça traiçoeira
Já não comporta mais outra atitude
Bem antes que meu rumo se transmude
A vida se prepara, ratoeira.
Bebendo desta sorte já se queira
Vencer o tanto quando desilude
E sei quando certo além eu pude
Subir com mansidão tal cordilheira
O bote se prepara e a jararaca
A cada novo instante vem e ataca
E não suporto mais tanta tocaia
Caindo fora eu tento em outro cais
Depois de conhecer os vendavais
Que a sorte derradeira não me traia.
67
Chama de contra-senso o que carrego
Nesta alma imorredoura ou mesmo até
Que nada se garanta além da fé
O passo noutro rumo jamais cego,
E bebo enquanto aos poucos me encarrego
De acreditar e ser até quem é
Noutra feição desenho o meu chalé
Enquanto do teu canto, desapego.
Esbarro nos enganos, mas no fim
Já não suporto a casa em tal cupim
E neste teu desvelo nada traço,
O amor que um dia fora tanto e agora
No quanto em pouca luz ainda aflora
Ocupa um bem menor e ledo espaço.
68
Lacaio da ilusão; não sou, portanto
Seguindo com os olhos no futuro
E quando novo rumo eu asseguro
Vagando pela dor onde me encanto.
Saber do ser enorme em cada canto
Desta alma muitas vezes não procuro
Senão ao desenhar o imenso muro
Também por outro lado eu me agiganto.
A poesia vira uma cachaça
E cada vez maior tanto rechaça
A farsa feita em tédio entre nós dois,
Ainda trago viva esta semente
Embora noutro solo se apresente
Danando-se decerto o que há depois.
69
Não vou ficar aqui mostrando a bunda
A quem passando além deseja a morte
E tendo até talvez o olhar comporte
Navego sem saber se o barco afunda
A cena costumeira onde se inunda
Esta alma com ternura ou mesmo em corte
Desvia num instante todo o norte
E gera outra impressão, desta oriunda.
Num antro transformaste o coração,
E neste simples traço me arremeto
Escondo o meu delírio noutro gueto
E sei que novos tempos me trarão
Um gosto bem diverso deste que
Apenas cada dia se descrê.
70
O quanto nosso amor abençoado
E traz outro momento em paz somente
Enquanto noutro canto se alimente,
Deixando totalmente o meu passado,
Resulto deste tanto enquanto enfado
O risco de virar tola semente
E morno coração quer um demente
E neste sonho apenas desvendado
Por ter e ser assim ou nada mais
Esgoto o tempo em dias tão iguais
Sem iguarias novas sobre a mesa.
Meu canto tão somente determina
O quanto tu me trazes em rotina
Sem ter qualquer momento de surpresa.
71
Sombria tarde toma este horizonte
E sorve uma esperança que inda busco
E neste desenhar em lusco fusco
Somente o mesmo não ainda aponte
Negando ao mais sedento qualquer fonte,
Um passo mais audaz seria brusco
E quando em esperanças me chamusco
Sem nada que inda posso ou já desponte
Apresentando assim a face escusa
De quem tanto procura e não mais usa
Sequer esta vontade em maciez,
E tendo em tais momentos este incerto
E vândalo cenário ora desperto
Enquanto qualquer rumo enfim não vês.
72
Um dia aonde houvera a claridade
Distante dos meus passos, meramente
Transcende o quanto tento e se apresente
Enquanto a cada instante não agrade
Marcado pelo anseio da saudade,
O coração invade e toma a mente
E sinto-me decerto um penitente
Ausenta da venal, dura verdade.
Delírios tão somente e nada vejo
Senão cada desmanche de um desejo
Outrora redentor e agora imerso
Nos âmagos profanos e abissais
E tento novos dias, mas iguais
Aos quanto num instante vão eu verso.
73
Desenhas sem pudor a face escusa
E tento nova luz aonde as trevas
Dominam cada passo onde me levas
E apenas o vazio se entrecruza.
A face degradada e mais confusa
Impede o desenhar em novas cevas
E quando dentro da alma adentras, nevas
Egocentrismo tramas, leda Musa.
O tempo não permite uma mudança
Enquanto o sentimento ao nada avança
E gera o desalento e sei capaz
De ter aquém do olhar este cenário
E um canto mais ditoso, imaginário
Já não traria enfim a mansa paz.
74
Sacrílego fantoche, noutro enlace
A vida não me trouxe mais a sorte
Aonde a imensidade me comporte
E um novo amanhecer em paz se trace.
E quando uma esperança em vão renasce
Marcando com ternura, ou mesmo em corte
O sonho noutro intento se reporte
Enquanto a vida aos poucos me devasse.
Eclodem artifícios quando eu quis
Apenas meramente ser feliz
Ousando em ter no amor tranqüilidade
E quando esta tortura se desenha
Na escusa realidade esta ferrenha
Loucura noutro instante me degrade.
75
Banhando este horizonte algum luar
Transcende ao que pensara em tal beleza
E neste desenhar tanta certeza
Moldando o quanto quero em vós buscar
Cansado tantas vezes de lutar
Minha alma na tua alma segue presa
E venço mais tenaz, a correnteza
E encontro aonde eu possa me ancorar.
Escuras noites; ledos temporais,
Mas quando noutro instante vos notais
Servindo aos vossos dias, também meus
Restauro a confiança aonde o nada
Por vezes traça a senda desdenhada
Gerando invés de sonho, o duro adeus.
76
Aonde pude outrora em mansa fonte
Nascente de esperanças e de glórias
E tendo sob as vistas merencórias
Imagens onde o vago aquém desponte.
E quando noutro rumo já se aponte
Traçando desde os ermos as memórias
E nelas outras sendas meritórias
Trazendo ao caminheiro, a firme ponte.
O canto dessedenta esta esperança
E o tempo com certeza me afiança
De um dia mais feliz, e mesmo rude
Eu posso doravante desenhar
A cada novo passo, outro lugar
E nele o meu destino agora mude.
77
A vida resumindo esta peleja
E nela nada vejo senão isto
O fato pelo quando inda persisto
Embora solidão já se preveja
O amor quando por certo assim dardeja
Num sonho entre dores, risos; misto
Um querubim traveste-se em Mefisto
E a noite dentro em mim leda, negreja.
Prenunciando a chuva e após, bonança
Enquanto tal destino a vida alcança
O risco de sonhar se torna ledo,
Dos cantos mais audazes, nem vestígios
Restando em meus caminhos os litígios
E neles como sempre enfim eu cedo.
78
Luares entre trevas, noite farta
Ascendo ao meu desejo mais audaz,
E quando o canto apenas satisfaz
A sorte aonde o riso se descarta
Ainda quando além o sonho parta
Deixando todo encanto para trás
O risco se entranhando em tom mordaz
Minha alma noutra senda em paz comparta.
Abrindo estas comportas, a barragem
Alaga inteiramente a vã paisagem
Tornando caudalosa a voz de um rio
Aonde se bramisse uma esperança
E agora noutro engano o passo trança
E após a queda, nada em mim recrio...
79
Os trilhos onde um dia quis a dita
Já não concebem mais qualquer destino,
E quando noutro enfado determino
O quanto alma sensata necessita
A sorte desenhada ora é finita
E o passo se traçando em desatino,
Ainda amortalhado, não domino
Sequer aonde a vida se acredita
Respaldos onde um dia procurara
Já não comportam mais esta seara
E o risco de viver não mais permite
Caminho se perdendo a cada engodo,
Entranho o meu martírio neste todo
Aonde a morte trame o meu limite.
80
Rolando nestas pedras, cachoeiras
E delas se percebe o mesmo engano
Enquanto a cada ausência enfim me dano
Do olhar bem mais suave tu te esgueiras
As horas onde as quis mais verdadeiras
Mudando a cada instante em novo plano
Aonde me quisera soberano
Apenas vejo quedas e ladeiras.
Senzalas coabitam com chicote
E o canto na verdade não se note
Audaciosamente eu busco a paz,
Da xepa da esperança, o quanto resta
Imagem tão perversa ou indigesta
E nela o vago enredo se desfaz.
81
Aguardo esta chegada, mas apenas
A sombra do passado ainda ronda
E como fosse assim uma imensa onda
Retorna com furor às mesmas cenas,
Ao quanto em tua ausência me condenas?
Aonde neste instante já se esconda
A voz que na verdade não responda
Queria noites mansas e serenas...
E volto ao velho ponto de partida
E chego a tal instante em minha vida
Num imantado sonho fero e atroz;
Ainda vibra viva dentro alma
Palavra que deveras se me acalma
Reflete a mesma turva e morta voz.
82
Quimérica presença de quem tanto
Durante muitos anos desejara,
A vida noutra face se depara
Com trevas entre o farto desencanto.
E quando simplesmente ainda canto
Tentando reverter a dor tão rara,
O corte na verdade mais que escara
Expõe apenas este vão quebranto.
Nefasta imagem; vejo, toco e sorvo
Qual fora um rapineiro e tosco corvo
A crocitar insana e intensamente
O mundo não permite novos sons,
A vida se perdera em grises tons
Loucura derradeira se pressente...
83
Desta anuência um dia procurada
Já não resulta além de uma esperança
E quando a sorte ao menos inda alcança
A imagem possa ser, pois restaurada.
Descrevo com pavor o mesmo nada
Do qual e pelo qual ora afiança
A vida sem sequer qualquer mudança
Há tanto decidida e propalada.
Num átimo eu mergulho nos meus erros
E vejo muito além enormes cerros
Vagando em pensamento libertário.
Mas quando se anuncia a realidade
Apenas esta bruma que ora invade
Opacidade cobre o imaginário...
84
Ao desfrutar um sonho aonde eu pude
Vencer os meus anseios e temores,
Cevando com ternura frutas, flores
A vicejar em plena magnitude.
A queda noutro instante desilude
Tornando tão distantes estas cores
E quanto mais além de mim te pores
Vazante dominando o meu açude.
E embora rude eu tente algum alento
O quanto inda me resta eu apresento
Nos olhos sem sentido e sem razões.
Inerte passageiro em fim de estrada,
A sorte noutra senda desenhada
E quando me desprezas; logo a expões.
85
Outros vários anseios eu cultivo
E tento reverter a minha história
Jogada em algum canto, a merencória
Verdade é que somente sobrevivo.
Às vezes ou calado ou agressivo
A fúria represada numa inglória
Explode e me transforma nesta escória
Enquanto da esperança assim me privo.
E resolutamente ensimesmado,
Refaço cada traço do passado
E vejo que talvez fora feliz.
Olhando sem mais ver outro caminho,
Um ser inerte vaga tão mesquinho
E este horizonte nada mais me diz...
86
Perversa solidão invade o quarto
E tomando de assalto quem um dia
Tentando desfiar a fantasia
Que aos poucos, sem valia eu já descarto.
E quando noutro rumo além eu parto
O quanto ainda em vida poderia
Já não resume mais a melodia
Olhando para o espelho, hoje estou farto.
Assisto à derrocada do meu sonho
E quando alguma luz enfim proponho
A vida se profana e sempre a nega
Há tanto se esvazia a minha adega
Num átimo ébrio caos tosco e medonho
Perambulando em círculos se entrega.
87
Já não mais quero dias turbulentos
Tampouco belicosas realidades
Não tenho destas sombras nem saudades
Aberto o peito enfrenta; manso, os ventos
E quanto mais libertos, pensamentos
Ainda quando vens e assim me enfades
Querendo impor decerto estas “verdades”
Os dias se entornando em desalentos.
O tempo tanto ensina quando cobra
Do amor que imaginara simples sobra
Trazendo insensatez invés de paz.
E o passo para além já se imagina
Paisagem mais sutil e cristalina
E nela meu caminho se refaz.
88
Não tendo dentro em mim a fortaleza
Que um dia imaginara, eu me permito
Aquém do quanto fora este infinito,
Apenas queda intensa e sem defesa.
Espúria caminhada na incerteza
Na dura frialdade do granito
Deixando para trás o que acredito,
A idade me tomando sem surpresa.
Invernos rigorosos; noites vãs
Apenas proliferam tantas cãs
E o canto se mostrara destoante
No vórtice dos sonhos juvenis
Quem sabe tendo o quando ali eu quis
Perdera pela vida, um diamante...
89
Deixando à mostra a face incauta e fria
De quem se fez aquém do quanto quis
E nada mais traduz além do gris
O tempo quando o mesmo mudaria
A cena repetindo esta heresia
Revela muito pouco do aprendiz
Que a cada nova ausência por um triz
Resvala no vazio em excrescência
A sórdida figura ora se espelha
Do amor que incendiara; uma centelha
Apenas sobrevive e não me aquece.
Transito entre o vazio e não mais ser
E vejo a cada instante esmorecer
Sem dar sinal algum esquece a messe...
90
Desmoronando em mim o quanto havia
De solidez num templo dito amor,
E ao perceber este ar desolador
A vida se transforma. É mais sombria.
Do todo que pudesse dia a dia
Viver ou vicejar; matei a flor
E o quanto fora até libertador
Trouxera para esta alma, a poesia.
Escombros que acumulo vida afora,
A força quando tudo desancora
Gerando esta loucura aonde eu vejo
Retratos de uma vida mais atroz,
Relembro cada engodo vivo em nós
E a morte já não traz temor ou pejo.
91
Pudesse ter aqui o teu perfume
Ao menos; e quem sabe desta forma
A vida que deveras nos deforma
De um tempo mais feliz em paz assume?
E nada do que eu tento já resume
O amor quando demais esquece a norma
E; claro. Com o pouco não conforma
Enquanto desarrume logo aprume.
Tocando o telefone, novo engano.
O corte mais tenaz onde eu me dano
Presume tão somente a solidão.
Aonde procurei a mansa face
De quem ainda viva provocasse
Em mim uma fantástica erupção.
92
As luzes que escondeste neste olhar
Roubando a claridade de uma lua
Extensa em plenitude, bela e nua
Agora aonde eu posso me encontrar?
Estética diversa a se tomar
Na face mais audaz o nada atua
Verdade se apresenta bem mais crua
E embora todo logo o seu lugar.
Apresentar meus pêsames talvez
Traduza o quanto agora se desfez
De um grande amor, já morto e sepultado,
Vestira esta emoção por tantos anos
E agora tão somente em desenganos
Percebo desenhado enfim, meu fado.
93
Queixumes são comuns para quem ama
E tenta acreditar ser tão amado,
Depois a vida deixa assim de lado
E apaga o que pudesse ser a trama,
E quando noutro instante já se inflama,
O incêndio aonde o quis é debelado
No tempo que abandona e se me enfado
Apenas o final em mim derrama.
As cartas sobre a mesa, não me escondes
E sei quantos são frágeis estes frondes
E a queda no final, inevitável.
Mas também sei o quanto vale a pena
Mesmo se alma depois quieta apequena
O amor é por si mesmo assim: mutável...
94
Eu quero ser feliz e isto me basta,
Cansado de dar murro nesta faca
O passo quando o tempo logo empaca
A imagem que percebo encontro gasta.
Meu passo da esperança ora se afasta
E quando necessito nada aplaca
A senda desdenhosa e quase opaca
De quem se fez em falsos tons; tão casta.
Alheio ao quanto pode o coração
Eu bebo novamente o mesmo vão
E nesta face espúria da aridez
Encontro discordantes luzes quando
O tempo novamente vai nublando
E a chuva despencando de uma vez.
95
Vem,
me abraça
por favor,
quero sentir
o teu calor ...
(Olhos de Boneca)
Sentir tua presença delicada
Voltando a me tocar suavemente
É tudo que decerto eu mais alente
Nesta alma há tanto tempo abandonada.
Na clara mansidão, superna estrada
Tomando o coração invade a mente
E quem andava mesmo até descrente
Percebe a senda enfim, iluminada.
Respaldos encontrando neste encanto
E quando me encontrara em paz, eu canto
A doce sensação de ser tão teu.
Assíduas esperanças rondam passos
Depois de dias turvos, tristes, lassos,
Meu mundo a glória intensa conheceu.
96
Quem tenta disfarçar o sentimento
Ousando acreditar noutra promessa
No fundo a cada passo se endereça
Ao velho e torpe amargo sofrimento,
Por isso é que decerto ainda tento
Trazer o meu caminho sem a pressa
Aonde num segundo se tropeça
Ainda quando mostro mais atento.
Repare e veja bem a imensa lua
Deitando sobre nós sobeja e nua
Argêntea maravilha em tons suaves.
Assim meu pensamento ao te tocar
Qual fosse um claro raio de luar;
E os sonhos, libertárias soltas aves...
97
O quanto fora lírico em meu canto
Tentando te agradar e nem notaste,
A vida se perdendo num desgaste
Gerando tão somente o desencanto,
O risco de sonhar enfim espanto
Sabendo ser decerto o velho traste,
Transtorno; a cada engodo me entornaste
Colhendo tão somente o que ora planto.
Esqueça, por favor, meu endereço
E sendo assim também o teu esqueço
E a gente pode até ser mais feliz.
Diverso do caminho aonde eu quis
Viver e renascer cada começo
Quando escapei; eu sei, foi por um triz...
98
Amor em cordilheiras gigantescas
São ermos desta tola juventude
Ao passo quando a vida tudo mude
Imagens se transformam; quixotescas...
Das tardes mais suaves, mansas, frescas
O vento com suave magnitude
Transforma qualquer sonho ou atitude
Destroçam tais figuras vãs, dantescas.
No emaranhado feito em riso e dor,
O mesmo etéreo e frágil sonhador,
Já não mais reconhece algum espaço.
Neste outonal caminho, sigo manso
E quando ao grande amor, enfim me lanço,
Sereno desejar; procuro e traço.
99
A glória de sentir a nova aragem
Depois de acostumado aos temporais
Transcende aos meus anseios mais normais
Renova com furor tal paisagem,
Ainda que buscasse uma hospedagem
Em dias mais brumosos, desiguais
Eu perco o meu caminho entre os fatais
Anseios de romper velha barragem.
Errático cometa vida afora,
Apenas o desejo ainda ancora
Aonde a morte eu sinto mansamente.
Porquanto fui assim a vida inteira
Bem mais do que deveras não a queira
Aos poucos devagar, já se apresente.
100
Poetizando a vida quebro a cara,
Arisco no passado agora otário?
O amor é mais que tolo e imaginário
E nele toda a sorte se escancara,
Resumo dentro em mim esta seara
E vago noutro enfado, temerário.
Aprendo a conviver com cada horário
Na queda que deveras desampara.
Outono diz outono e nada mais,
Por isso nos meus passos outonais
Já não comporta ver a primavera.
Negando o que se crê, deixo de lado
E bebo do meu tempo desenhado
Na placidez suave se tempera...
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