sábado, 31 de março de 2018

SONHOS FEBRIS

Nos sonhos mais febris, alvissareiros,

Procuro teus espasmos sobre mim,

Guerreira conquistando outro guerreiro

Inundo as fortalezas, perco enfim...


E ganho na derrota imaculada

Sem medo do castigo que mereço,

Avanço tuas rotas minha amada,

Em cada novo passo, um endereço.


Roçando meu desejo em teu delírio,

As rocas encontradas cada atol,

Servindo de ternura e de martírio,


Aguardo o nascimento desse sol.

Que trama nosso amor, doce veneno,

Matando e me tornando mais ameno...


MARCOS LOURES

AS MÃOS

As mãos tão delicadas, de pelúcia,

Carícias que prometem, de delícias...

As mãos que me acarinham com argúcia

Meus olhos reagindo com malícia...


Sevícias deste amor sem amarguras,

Agruras e ternuras superpostas,

Escorrem mansamente tais branduras

Descendo levemente nuca e costas...


Expostas às totais felicidades,

Nas mãos que te percorrem, fantasias;

Aos poucos construindo claridades,


Em meio a tempestades de alegrias...

Eu quero tua mão tão delicada,

Escreve meu futuro, assim, amada...


MARCOS LOURES

FANTASIA

Qual mansa borboleta em vôo breve

As asas delicadas deste amor,

A mão de quem deseja não se atreve

Com medo de ferir a leve flor...


As luzes bruxuleiam lusco fusco,

A lua entreabrindo-se modesta,

Não cabe um movimento se mais brusco,

A natureza amando em plena festa...


O sol devagarinho sobe a serra,

Tramando nos seus raios sensuais,

Amores se espalhando em toda a terra,


Vontade de te amar, de querer mais...

Amada não se esqueça deste dia,

Amor que nós fizemos, fantasia...


MARCOS LOURES

AS LUZES

As luzes diluídas na tristeza

Espelham a minha alma sem te ter,

Recebo desta vida tais rudezas

Que nada neste mundo dá prazer....


Mas vejo uma esperança renascendo

Em plena tempestade que forjei.

De tudo que vivi, amor nascendo

Dizendo ser feliz, a nova lei....


Passei por tantas pontes inseguras,

Andando pelas matas mais fechadas.

As noites maltrapilhas tão escuras,


As horas não passavam, tão cansadas...

As alegrias ressurgem sem tormentos,

Amores nos amores, alimentos...


MARCOS LOURES

QUERO TE QUERER

Os braços belos, livres sobre mim

Tramando seus segredos, desatinos...

A boca desejosa e carmesim

Badalam pensamentos tantos sinos...


Eu quero te querer a cada dia

Desta forma mais mansa e solidária

De toda minha luz em fantasia,

A vida nunca mais tão temerária...


Sem mágoas ou torturas, nosso céu;

Nos sonhos mais dourados e felizes.

Espero me esconder em teu dossel,


Curando minhas dores, cicatrizes...

Amor que não me esqueço de cantar,

Espero teu desejo em meu olhar...

MARCOS LOURES

MINHA SINA

És deusa radiante em formosura

Na boca tão perfeita quão sedenta.

Delírios, tantas graças e ternuras,

Paixão que me alucina, violenta...


Nas flores que plantei, perfeita rosa,

Ávida dos mais doces sentimentos.

Beleza que mortal e dolorosa

Transtorna vagamente, por momentos...


Amada me perdoe se magoo

Ao ver tanta beleza me transtorno...

Alçando o pensamento em pleno voo,


Depois de tanto tempo já retorno

E digo da paixão que me domina,

Nas pétalas da rosa, minha sina...

MARCOS LOURES

TEUS BRAÇOS

Na mágica opulência de teus braços,

Deitado entre tais prismas da beleza,

Recebo da ternura finos traços

Envoltos nas luxúrias, fortalezas...


Te quero meu deslumbre e fantasia,

No frescor da manhã que já desponta,

Vivendo nosso amor em harmonia,

No reino que bem sei, do faz de conta...


Amada a quem dedico esses meus versos,

Abraços e carinhos são meus motes...

Nas fontes de tais gozos mais diversos,


Desejos que me encarnas, vários lotes...

Amada quem me dera ser teu nexo

Na noite que tivemos, suor, sexo...


MARCOS LOURES

QUANDO VEJO

Caminho por estrelas quando vejo

Os olhos divinais que tanto quis.

Sabendo que vertido meu desejo

Na boca que me fez ser tão feliz...


Montanhas escaladas nos mistérios

Das noites que passamos acordados,

Amores envolvidos sem critérios

Demonstram velhos sonhos decorados...


Amada que me trouxe liberdade

Das fontes que percebo inigualáveis,

Vasculho pelos becos da cidade


Os olhos divinais inalcançáveis...

Divinos sentimentos são capazes

De penetrar amores mais vorazes...

MARCOS LOURES

PELAS TRAMAS DESTE AMOR

Dançavas sobre a cama nos volteios

Em formas delicadas de serpente

As mãos vão deslizando sobre os seios

Fazendo nosso amor onipresente...


Volúpias e carinhos se procuram

Retorcem delirantes nessa trama

Levemente as bocas se torturam

Trazendo essas estrelas para a cama.


Recebes meu amor com frenesi,

Descanso minha vida sobre a tua,

Depois de tantas coisas que perdi


Me encontro em paraíso, toda nua...

Amando quem me fez um vencedor,

Vencido pelas tramas deste amor...


MARCOS LOURES

NAS ONDAS DESTE AMOR

Tens origem no mar que mergulhamos

Nas noites belicosas, insensatas,

De tanto que nas vagas nos amamos,

Desfilam nos teus olhos, as cascatas...


As púrpuras violetas que cultivo

Em lástimas que tento não fazer,

São feitas deste mundo mais esquivo

Que invado, toda noite, no meu ser...


Surgindo como a lua nos espaços,

Vindimas dos amores no meu peito.

Trespasso assim as algas e sargaços,


Plantando no meu peito, amor perfeito...

Nas cores das auroras que procuro,

Nas ondas deste amor, já me torturo...


MARCOS LOURES

EM PURO ENCANTO

Desejo que a verdade te agracie

Com os beijos delicados deste amor

Que nada neste mundo te resfrie

Intensos os desejos com fervor...


Acostumaste a voar sem ter as alas

Que, em veros versos sempre mentes.

As luas que pretendes açoitá-las

Penetram calmamente nossas mentes.


Mas foges destes brilhos sem saber

Embora somos feitos deste sal,

A vida que transtorna cada ser,


Em dívidas da sorte, no final...

Na dúvida que corta nosso canto,

Abrace nosso amor, em puro encanto!


MARCOS LOURES

TANTA SAUDADE

Não pense que essa voz, se já cessasse,

Parava de chover tanta saudade,

A vida que em promessas não renasce

Padece sem disfarce, de maldade...


Mistérios denegrindo nossos sonhos,

Proponho nossos passos mais serenos.

Ao menos esquecermos dos medonhos

Caminhos emboscados em venenos...


O lago peregrino do meu peito

Em tantos desafios se perdeu,

Não sei se enfim terei qualquer direito


De fuga ou claridade neste breu...

A luz que salvará, tenho comigo,

Abrigo do teu braço tão amigo...


MARCOS LOURES

TEU PURO AMOR

Minha infância longínqua, entardecida,

Lembranças esquecidas neste outono,

Passando tão veloz a minha vida,

Vivida nestas cores do abandono...


Depois de tanto tempo tão distante,

Os campos e arvoredos desta infância,

Percebo no teu colo, minha amante,

O brilho desse tempo, uma fragrância...


Cansado dos caminhos mais doridos,

Arrasto minhas dores nas saudades

Das penas e das ânsias, nos olvidos,


Ficaram tantas luas, tempestades...

Agora que retorno deste mundo,

Deste teu puro amor, eu já me inundo...

MARCOS LOURES

O SONHO DESTE AMOR

A boca abrasadora que me toca

Ao mesmo tempo louca, se transforma,

Detalhe de minha alma não retoca

Pois quando enfim me beija, nada informa...


Teus olhos esquecidos adormecem

Num canto desfilando tantos lumes...

As horas que vivemos apetecem

Encharcam nossa cama de perfumes...


Roubamos tantas cores e fragrâncias

Embora não saibamos destes cais.

As cordas embebidas das estâncias


Dividem nossas mãos descomunais...

A boca escancarada sempre ri

Do sonho deste amor que trago aqui...

MARCOS LOURES

ERRANTE

Desejo tão errante te procura

Estamos tão parceiros e distantes.

Na borda do caminho da amargura

Nas curvas das montanhas deslumbrantes...


Devíamos amar tão simplesmente

Quanto respiramos, sem perguntas...

As mãos se deslocando totalmente

Seriam bem mais fortes, quando juntas...


As pedras que carrego tão pesadas

Entranham em meus ossos, não me largam.

Os sonhos de manhãs mais orvalhadas


Em tantos palavrões mordem, afagam...

Mas saiba que eu te amei, porquanto te amo,

Por isso, dessa ausência, eu te reclamo!


MARCOS LOURES

ESPINHOS

Espinhos que coroam nosso canto

Em formas eriçadas tão agudas,

Vermelhos os desejos, verso e pranto,

Não queimam nem precisam mais ajudas...


São formas dolorosas deste fogo

Que espalhas pelos campos destas flores...

Amada não se pode crer no jogo

Que arriscam, mais ariscos, os amores...


O certo é que tremulo sem sentir

As pernas temerosas laceradas,

O canto nos espinhos do porvir


Afoga minhas dores des’peradas...

Enquanto tanto amor manso e cruel

Nos leva loucamente para o céu...


MARCOS LOURES

CAPRICHOS

Caprichos dos amores que geramos

Gerânios e fragrâncias de jasmim,

Dourados os destinos que traçamos

Morrendo sem amor dentro de mim...


Mas nada mais recorda que teu canto

Em cordas e versões mais delicadas.

As portas, escancaras, não sei quanto;

Deitada nessas camas mal amadas...


Recordas nossos ramos, arvoredos,

As árvores morrendo sem teus olhos,

Jardins que te procuram, sem segredos


De flores que desmancham-se, sem molhos...

Amores que geramos não vivemos,

Apenas abortados mal nascemos...


MARCOS LOURES

REACENDE

Se chamo meu amor aqui num canto

E falo que desejo seu prazer,

Parece que desaba um negro manto

Vontade de morrer ou de sofrer.


Ofensas quando falo que te quero

Parece, na verdade que não amas.

Se falo desse amor um riso fero

Desponta e reacende velhas chamas...


Amores e desejos quando fundem

Formando um só composto da paixão,

Apenas nossos lábios se confundem,


As pernas encolhidas no seu não...

Que faço, minha amada, simples beijo

Já basta p’ra acender o meu desejo!


MARCOS LOURES

DESLUMBRANTE!

A dor maior que trago, o desamor,

Festeja uma saudade que sentimos...

Vibramos com tesão, farto calor,

Nas horas divinais, nos divertimos...


Porém depois de certo desengano

Causado por ciúmes, não sei bem;

O vento vai mudando, novo plano,

Será que depois disso, sem ninguém?


Desculpe mas não quero ser mais chato,

Amor que tanto temos somos tantos,

As águas que inundaram outro regato,


Não podem te causar tantos espantos...

Amada, minha lua é par constante,

Seu brilho, já me basta, deslumbrante!


MARCOS LOURES

MINHA AMADA

Espero minha amada que não vem...

Eu creio que talvez jamais virá;

Por certo se perdeu com mais alguém

E nunca mais meu mundo encontrará...


Amada que desfeita num luar

Deitada numa relva tão macia,

Sabendo que talvez possa encontrar

As mãos silenciosas e vazias,


Buscando noutro porto, noutro cais;

Amores que se fazem mais constantes,

Não venha pros meus braços nunca mais,


Quem dera se eu soubesse, enfim, bem antes...

Mas saibas, minha amada, não sou mudo.

E canto nosso amor morto, contudo...


MARCOS LOURES

PORVIR

Pensara que esse amor já se acabasse

Nas curvas que derrapa a cada dia.

Tentara acreditar simples disfarce

A máscara que usara, de alegria...


Pensara que teu braço mais cansado,

Envolto nos abraços fosse frio,

A mansidão do tempo, lado a lado,

O coração exaspera e vai vazio...


Pensara que jamais fosse tão franco

Ao ver envelhecer quem tanto amei,

Nestes cabelos, neve, todo branco


O manto da saudade que guardei...

Mas nada, eu percebendo que inda te amo,

Com olhos no passado, porvir tramo...


MARCOS LOURES

AMIGA...

Amiga, minha vida foi depressa

De pressa e de pressão perdi meu rumo...

A noite em tantos versos se confessa

E nada do que tive mais arrumo...


Na sombra que vagueio sem paragem,

Imagem da mulher que nada quis,

E fiz desses meus sonhos a viagem

Em busca de outro porto mais feliz...


No triz que representa quase tudo,

O tanto que não fui já vai disperso.

Sabendo que talvez, porém, contudo,


Moeda que ganhei, puro reverso...

Amiga no teu trilho, maravilho,

A sorte que estampaste em nosso filho...


MARCOS LOURES

DISFARCES

Não temo mais a face da quimera

Disfarces vou usando pela vida.

Eternamente em plena primavera

Espero por teus cânticos, querida...


Saudade tão perversa, não me toca,

Tocaias que preparo são diversas.

Amor mesmo demais, quando sufoca

Prefiro que essas dores tão perversas...


Não temo a solidão, inverno e frio,

Anseio pelos seios da morena...

Não temo um coração triste e vazio,


À noite a solução de longe acena...

E mostrando esse amor em claros dentes

Sorrisos dessas pernas envolventes...


MARCOS LOURES

A PORTA ESCANCARADA

Ela chegava, amada e tão silente,

Deixara minha porta escancarada,

Passo a passo, senti que simplesmente

Quase em nada lembrava minha amada...


Os olhos faiscantes do passado,

Agora estavam foscos, parco brilho.

Quiçá o que mudou, atordoado,

Foi o sentido claro do meu trilho.


Talvez aquele ardor que já sentira

Dormita nalgum canto tenebroso.

Embora o fogo queime em mesma pira


Contava nesse corpo o mesmo gozo...

Mas creia, meu amor inda é mais forte,

É meu último trunfo contra a morte!


MARCOS LOURES

TROPICANA

“Da manga rosa quero o gosto e sumo”

Dos braços da morena meu regaço

Evaporando amor, etéreo fumo,

Deitando no teu colo meu cansaço...


Eu te desejo esteja certa disso,

Como quem beijaria mansa flor.

De todo amor que nasce em belo viço,

No vício um precipício em denso amor.


Perfumes inebrias, meu incenso,

Intenso como quem quer ser feliz.

Amor se bobear ficando imenso,


Deseja toda a rosa em seu matiz...

Não deixe que esse canto se desfaça

Brincando qual criança em plena praça...


MARCOS LOURES

AMIGA

Dois velhos caminhando pela praça

Futuro nos trazendo um bom passado,

A vida no momento em que se abraça,

Meu braço nos teus braços, apoiado...


Amiga que me deu a vida inteira

Nos braços que me dás, tantas histórias...

De vida que mostrou-se verdadeira

Guardada num recanto, nas memórias...


Aos poucos nos unindo sempre mais,

Tornamos espelhares mas distintos,

Unido sem ser uno, isso, jamais...


Nos sangues tão diversos, todos tintos...

Dois velhos caminhando com ternura,

Depois de tanta vida, uma ventura...


MARCOS LOURES

NOS GUIZOS DA ALEGRIA

Nos guizos da alegria, sou palhaço

Que tento ser feliz sem teu amor...

Esqueço e já tropeço no compasso

Te abraço fortemente sem pudor.


Amada como é bom pisar na areia

Sentindo esse calor que a praia traz,

A mão que acaricia e que semeia

No fundo o que precisa é ter mais paz...


Amiga minha amada, minha amante,

Defronte desta estátua da quimera,

Convido passearmos num instante


Buscando dessas dores, primavera...

Amiga me desculpe se sorrio,

Esquenta um coração sofrido e frio...



MARCOS LOURES

TEU CANTO

Não quero nem silêncio nem torpor

Nem tampouco a cruel indiferença,

Vivendo tantos anos sem amor

Perdendo nesta vida toda a crença.


Há muito procurando pela rosa

Que quase não percebe um beija flor,

Quem vive nesta vida tão vaidosa,

Se perde muitas vezes, trama a dor...


Não deixe minha amiga que a tristeza

Invada teu cantar suave e brando,

A vida que é por si, maior nobreza,


Em todos os caminhos perfumando...

Amiga; te bendigo e te agradeço,

Teu canto é muito mais do que mereço!



MARCOS LOURES

SAUDADE

Não quero teu silêncio minha amiga

A noite poderá ser derradeira...

A vida que em promessas se periga

Denota uma saudade verdadeira...


Saudade do que fui e já perdi,

Saudade do que fomos, no passado,

Saudade que encontrei ao ver-te aqui

Saudade do que fora mais amado...


Saudade da verdade que não sei,

Saudade desse mar que navegamos.

Saudade do que nunca esquecerei,


Saudade dos amores, nunca amamos...

Saudade da mulher que é minha amiga,

Amada, uma ternura, tão antiga...

MARCOS LOURES

SEM SABER

Amando sem saber desta loucura

Que encerra tanto pranto de per si,

Não canso de viver nesta procura

Amores que por certo já perdi...


Assim como encontrei o meu caminho

Em meio a tantas flores sem perfume.

Vivendo quase sempre tão sozinho,

Sentindo a solidão, intenso ardume...


Cardumes de esperanças me povoam

A cada novo dia que refaço,

Os olhos desbotados sobrevoam


Amores escondidos no regaço.

Amei tão simplesmente sem cobranças

Que o céu vai se inundando de esperanças!


MARCOS LOURES

REVIGORO

Os beijos que trocamos, sem sentirmos

O doce que traziam, tanto encanto...

Será que é bem possível dividirmos

O fogo que emanamos, forte e tanto...



No jogo destes beijos juvenis,

O peito se renova e quer sonhar...

Afetos sempre mansos, tão gentis,

Permitem novamente tanto amar...



Descubro num instante que te adoro,

No canto que te faço, revigoro,



O tempo em que já fui tão sonhador...

Teu beijo no meu beijo simplesmente,

Um toque que me invade, n’alma e mente...


MARCOS LOURES

sexta-feira, 30 de março de 2018

DE TANTO QUE TE ADORO

Não deixe que se estrague o que sinto por ti,

Amor de tal certeza, espero, um dia, ter.

Decerto tanta coisa eu, nesse mundo, vi,

Agora só te peço, eu quero te esquecer...




Cada vez que respiro, estás neste meu ar;

Cada vez que sonho, encontro teu desejo...

Cada vez que penso, as ondas deste mar,

A boca que se mostra, aguarda o teu beijar...




Eu penso noite e dia em tudo que vivemos,

O mote que me move, as horas que passamos...

O canto que me inunda, o tanto que sofremos.




Em tudo que pretendo, o muito que sonhamos...

Não vejo mais a vida, em outros sentimentos.

De tanto que te adoro, amor solto nos ventos...


MARCOS LOURES

AMANDO

Amando tanto a terra como o mar

O céu, tantas estrelas, o velho sol,

Amando quem quiser enfim amar,

Fazendo deste amor o seu farol...


A noite embevecida deu a lua

Aos braços de quem sempre quis amor.

Entregue nos seus raios toda nua

Flutua nos meus olhos, seu fulgor...


Amo os rios, cascatas e montanhas,

As horas que passamos a sonhar,

Amores suas fontes são tamanhas,


Vivendo em farto sonho desse amar.

Eu amo cada canto em poesia

Amando meu amor por noite e dia...

MARCOS LOURES

NUM ACASO

Eu não temo má sorte nem quebranto

Apenas acredito nesse amor.

Que vive e sobrevive desse encanto

Que trama e que transforma em vencedor.


Amor que não se intera com fastios

Em mansa letargia sempre vence.

Quebrando tolos potes mais vazios,

Em todas as essências me convence...


As pernas que me traçam tantos nós,

Os dentes que já cravam minhas costas.

Nas horas em que estamos mais a sós,


Vencemos dos quebrantos as apostas...

E nada mais supera nosso caso,

Nascido e construído num acaso...


MARCOS LOURES

DEVOLVE O CORAÇÃO

Quem dormira num sonho mavioso

Acordando em quimera desditosa

Esquece que vivera em fino gozo,

E dorme se espinhando em mansa rosa...



Amada nosso amor somente meu

Depois de tanto tempo descoberto

Aos poucos sem sentido, enfim morreu,

Distante de teus olhos mas tão perto...



Dizer que não te adoro, é vã mentira

Porquanto esses meus versos não se calam.

A noite que em meus braços outra atira



Nos braços e na boca nada falam...

Parti, já fui embora, revivi...

Devolve o coração, deixei aí...


MARCOS LOURES

RENÚNCIA

Vivendo em tal renúncia, de partida,

Em busca de quem fora minha amada.

Vencida pelas dores vãs da vida,

Ao fim desta jornada, quase nada....



Mas voltas mal começa o meu outono,

Retiras minhas âncoras do mar.

Percebo que esse tempo de abandono,

Aos poucos, se cansando, vai parar...



Amada quem me dera se pudesse

Nas ondas do oceano, meu saveiro,

Tramando nosso caso numa prece,



Poder ser mais ditoso marinheiro...

Vagando por espaços, amplidão,

Guiar esse teu barco-coração...


MARCOS LOURES

FELICIDADE?

Perdoe se inda sonho assim contigo,

Não devo, isso bem sei, não é direito...

O tempo que se perde e que persigo

Vivendo a transtornar meu velho peito...



O céu em níveas nuvens, sem mormaço,

Promete tal calor que não suporto...

Esqueço de viver um manso abraço

Atraco meus navios noutro porto...



Talvez ressurja calma uma alvorada

Não creio, mas pretendo ser feliz...

Depois de tanta luta, sem ter nada,



A nuvem vai mudando o seu matiz...

Das chuvas que virão, em tempestade,

Quem sabe irá nascer felicidade?


MARCOS LOURES

TANTA ALEGRIA!

Trouxeste um forte sol à minha vida,

Guardada neste cofre em cadeados...

Reparo que depois de corroída

A vida se transborda nos pecados.


Suaves e macios, tramam luas...

Permitem que este sol se torne manso.

Envolto em fantasias continua

Brilhando neste lago, em meu remanso...


Se sol me trouxe lua, o que fazer?

Os lumes se encontrando em nosso ninho

Transformam as angústias no prazer,


Tornando no plural, quem foi sozinho...

Tomando tuas mãos, vamos ao dia!

Que a noite que virá, tanta alegria!


MARCOS LOURES

PELAS ESTRELAS

Procuro meu amor pelas estrelas

Nos campos e nos bosques mais floridos...

Nas flores e cascatas, nas mais belas,

Nos sonhos que percebo, divididos...


Procuro entre as calçadas, tantas ruas...

Nas matas e montanhas, no infinito...

Nas pedras mais distantes, duras, nuas,

Soltando sem ter eco, um forte grito...


Procuro minha amada pelas trilhas

Diversas maravilhas, mas não vejo...

As pernas amarradas, armadilhas,


No rastro deste céu, seu azulejo...

Depois desta procura tão antiga...

Encontro minha amada em minha amiga...


MARCOS LOURES

O TEU CARINHO

Buscando pela lua espero o teu carinho...

Vagando pelo céu, aguardo o meu repouso

Nos braços de quem amo, um manso e doce ninho

Onde eu encontrarei o meu campo de pouso...


Seguindo a minha rota embora indefinida

Não passo um só minuto estradas bem cuidadas

As pedras, minha cruz, carrego em plena vida,

Nas forças do destino as dores encontradas...


Estou já tão cansado, a noite se aproxima...

Espero te encontrar nas curvas, nas paragens...

Cantando essa ilusão em tosca e triste rima


Minha alma aventureira inteira-se em viagens...

Eu quero tanto amar, embora não mereça...

Eu temo que sozinha, a minha alma envelheça.


MARCOS LOURES

ENGANOS E VERDADES

Estou feliz, não nego e nem mereço...

Sorrio calmamente, rio e mar...

Amar, armando o sonho onde tropeço

Nas nuvens que choveram sem parar...


Também deste mormaço que trazia

O dia se iludia e nada vinha...

Fuligem na minha alma se escondia,

Farta dessa vida tão sozinha.


Certezas dos amores ledos erros,

Enganos e verdades confundidos...

Montanhas de desgostos, meus aterros,


Versifico meus medos escondidos...

Embora ser feliz não seja um ópio,

Felicidade: amor; mesmo que próprio...

MARCOS LOURES

O VELHO AMOR

Não sei se te pertenço ou se és de alguém

Que nada mais te traz, senão a dor...

Vivendo sem saber amor que tem

Em vão vais procurando o velho amor...


Não julgue meu amor como ousadia,

Amo-te e isso não vale para a sorte.

Não peço teu amor, não poderia...

Só quero que tu saibas que isto é forte.


Amor que mata a sede, sem ter água,

Amor que mata a fome, sem o pão,

Não causa nem tristezas, nem quer mágoa,


Mas, livre, alimentando o coração...

Amor que não percebes como é belo,

Embora não me peças, sempre velo...

MARCOS LOURES

LEMBRANÇAS

Nas cartas que mandaste há tanto tempo...

Lembranças esquecidas sem encanto.

Da vida, acumulando contratempo,

Levando uma mortalha em desencanto...


Não quero teu perdão, isso dispenso...

Jogadas sobra a chama da lareira,

Nas cartas que se foram já não penso,

Queimada, num segundo, a vida inteira...


Cartas deste amor que proibia

O sonho de viver outros planetas...

A mão que me continha em agonia,


Expressa nessas cartas, nas canetas...

Amada que se foi levou a vida,

Restando só as cinzas, despedida...


MARCOS LOURES

EM TUA VIDA

Cheguei, em tua vida, muito tarde...

Eu sei que não querias esperar

O fogo que é tão calmo mas, manso, arde...

Querias noutras chamas se queimar...


Entendo que não soube ser teu sonho,

As asas que carrego já te assustam,

O mundo que te trago, mais bisonho,

São forças que contigo não se ajustam...


Agora, que proponho outra saída,

Respondes que cheguei no entardecer.

Amada se te dei a minha vida,


Responde como posso então viver?

Destino me deixou meio de lado,

Me diga o que fazer? ‘Stou atrasado...


MARCOS LOURES

NAS PÉTALAS QUE TRAZES

Não tiveste piedade nem amor...

Mas peço que não vás, demores mais...

O tempo em que vivemos sem ter paz,

Demora na saudade e desamor...


Se houvesse tua mão, decerto amiga,

Não mais precisaria ser assim...

Tateio simplesmente, a noite abriga,

O resto do que fomos, nada enfim...


Talvez eu não consiga ter teus seios

Macios e colados junto aos lábios...

Percebo que navegas sem receios,


Refém desses desejos loucos, sábios...

Mas quero teu amor, e não me iludo,

Nas pétalas que trazes, quase tudo...


MARCOS LOURES

DOCE SOLIDÃO

Tens tudo o que desejo na mulher,

A doce solidão que acaricia,

O medo de viver amor qualquer

Que seja simplesmente fantasia...


A graça displicente de quem sabe

Da beleza sutil que me conquista,

Vaidade de saber que amor não cabe

Se nada mais restar que esteja à vista...


Sorriso de menina que não morre

Nos sonhos de eternal felicidade...

Na dor que se aproxima me socorre


Embora sempre goste da saudade...

Tu tens a maravilha do cristal

Tinindo no meu peito em festival...

MARCOS LOURES


MINHA TROIA

Quisera ter o porte da sequoia
Jamais eu temeria vendavais,
Porém a vida guarda nos bornais
Apenas esta antiga paranoia.

Minha alma perde o peso e ainda boia,
Tentando perceber se existe cais,
Eu sei que os ventos surgem desiguais,
Não posso fazer disso a minha Troia.

Mostrando do revólver, a coronha,
Quem bebe fantasia sempre sonha
Depois é que são elas, sim senhor.

Na cabeça do prego? Uma porrada,
Diabinho me diz que foi bem dada,
Porém já não suporto a tua dor...


MARCOS LOURES

CHACOTAS

Quem sabe a peste; enfim, me deixe em paz,
Não tenho paciência, se esgotou,
O esgoto que o suíno chafurdou,
Cheiro característico já traz.

Deixado há tanto tempo para trás
O barco na tempesta soçobrou
De tudo o que pensavas só sobrou
A fala de um estúpido incapaz.

Chacotas pelas ruas. Tenho pena,
Não posso relembrar a mesma cena
Mostrando a tua face de imbecil.

Enfia a tua cara num buraco,
Da gorda silhueta nem um naco
Que sirva para assar; esqueço o grill...


MARCOS LOURES

MAGNETISMO

Deslizo as minhas mãos em tua pele,
E encontro a mais perfeita silhueta,
O anseio em plenitude me compele
À esculpida em Carrara, estatueta.

Tu és a prima-dona que eu sonhei
Reinando sobre todos os sentidos
Tua vontade sendo sempre lei
Abrigam meus desejos escondidos.

E quando te decifro, me devoras,
Enigmática deusa feita esfinge
Diante de teu corpo, várias horas,
Minha alma se liberta, ou mesmo finge

Pois tens em teu olhar, magnetismo
Defronte a tal beleza; insano, eu cismo...


MARCOS LOURES

A TUA VOZ

Ainda ecoa, ao longe, a tua voz...
Saudade exorbitando qualquer senso,
E quando em teu carinho, amada, penso
Revejo o que existiu de bom em nós.

Só sei que não deixaste nada após,
Este ar que hoje respiro é sempre denso,
Qual rio que se perde de uma foz,
Do quanto fui tão fútil me convenço.

Seria muito bom poder sonhar,
Mas como se só tenho pesadelos,
Quem dera se eu pudesse convertê-los

E ver depois de tudo, clarear
O sol de uma total felicidade
Deixando no passado esta saudade.

MARCOS LOURES

ARISCO

Um dia percebi que sendo arisco
Talvez sobrevivesse aos dissabores,
E quando a fantasia; em vão, confisco,
A sina que se vê: dos perdedores.

A moça disfarçando os seus rubores,
Enquanto tão matreiro, o olhar eu pisco,
Ouvindo mais distante tais rumores
Ao fim da tarde sonho com petisco.

Mas vejo numa espreita estes chacais,
Carnificina à vista após a esquina,
Mente desocupada ora oficina

Um jeito de escapar dos animais,
Olhando de soslaio, então despisto,
Não quero mais ser pego como um Cristo...


MARCOS LOURES

AMANHECER

Renova-se a esperança de te ver
Depois de tanto tempo e desde já
Eu sei que o sol de novo brilhará
Dourando um fascinante amanhecer.

No quanto é necessário ver pra crer,
Decerto o coração sucumbirá
E todo o meu passado voltará
No desfilar sobejo do prazer.

Saudades; vou matar e nisso vivo,
Ressuscitando o sonho mais altivo,
Numa explosão de luzes e de cores.

Na terna maravilha de ser teu,
Encanto que meu sonho concebeu
Seguindo-te por certo aonde fores...


MARCOS LOURES

CRUEL AMIGA

Usando qualquer forma de linguagem
Expresso a solidão, cruel amiga
Espero que a tristeza não prossiga,
Mas sei que tal espera: uma bobagem...

Teimando em esperanças que me trajem
A luz da realidade desobriga
Quebrando desde então a antiga viga
Vivendo tão somente assim: à margem.

Um dia encontrarei eternidade?
A vida me corrige e, na verdade,
Eu sei que não terei mais que um segundo.

Cadenciando o ritmo dos meus passos,
Os dias percorridos morrem lassos,
E no Vale da Morte me aprofundo...

MARCOS LOURES

RUMOS PARALELOS?

Se eu me completo em ti por que partir?
Jamais seguimos rumos paralelos,
Somos, por certo, pares, dois alelos
Numa incessante busca do porvir.

Das almas gemelares; posso ver
Sem sombras, os destinos já traçados,
E assim, seguimos juntos, mesmos Fados
Atados num só sonho, único ser.

Tu conheces de cor, cada vontade
Assim como eu conheço tudo em ti,
Aos poucos, este dom; reconheci.

Por mais que procuremos liberdade
Nós somos mais felizes desta forma,
Sem medos, sem limites regra ou norma...


MARCOS LOURES

UMA PALAVRA DE AMIZADE

Só quero uma palavra de amizade,
Não posso carregar mais este fardo,
Enquanto a solidão cruel me invade,
A vida desfilando pedra e cardo.

Porém não venha tarde este consolo,
Seguindo sempre às cegas, não mais creio
Que ainda possa ter sequer o colo
Que há tempos necessito e tanto anseio.

Jogando sobre a mesa as mesmas cartas,
A mão que as embaralha esconde o jogo,
De dores, minhas noites andam fartas,
Ninguém escutará, enfim meu rogo?

Ao apagar dos sonhos e das luzes,
Ainda pesam tanto as velhas cruzes...


MARCOS LOURES

AUGUSTA SENSAÇÃO

Augusta sensação ungindo a vida,
Percebo esta alegria que me trazes,
Escondo sob a manga vários ases,
Quem sabe vai à luta e não duvida

Da força que se estampa desde as bases,
Calcando o meu rincão, terra batida,
Mandingas e feitiços, tu desfazes,
Preparando talvez, uma saída...

Invejo-te deveras; nunca fui
Aquele a quem a paz se fez constante,
Arrebentando tudo num rompante

O tempo vai aos trancos, já não flui.
Mereço alguma chance? Sei que não.
Preparo a cada dia, um alçapão...


MARCOS LOURES

TENTARIA SER FELIZ

No quanto eu tentaria ser feliz
O espanto toma conta do cenário,
Vencendo este inimigo temerário
O tempo tantas vezes não me quis.

O céu se demonstrando sempre gris,
Jamais desejaria solitário,
Ausente deste encanto solidário,
O quadro enegrecido sonha giz.

Acuado, não vejo solução,
E perco pouco a pouco a direção,
No pão já bolorento da saudade.

Somando os mesmo zeros, nada tenho,
Assim sei quão inútil meu empenho
Na busca pela fútil liberdade...


MARCOS LOURES

QUAL RIO QUE DESÁGUA EM MANSO MAR


Qual rio que deságua em manso mar,
Depois de ter vencido as correntezas,
Desvendo em nosso caso tais belezas
Que ensinam com destreza a navegar.

Estrelas que não canso de contar
Vislumbro em nosso céu, várias grandezas,
Sabendo desde sempre o que mais prezas,
Surpreso com o eterno renovar.

Momentos delicados numa entrega
Sem dúvidas, nem dívidas, sem medos.
Decifras os recônditos segredos

O vinho mais sublime de uma adega
Brindando ao bem da vida que me dás,
Deixando o sofrimento para trás...


MARCOS LOURES

ESCASSAS

Escassas esperanças, ancas, ócios,
Cansaços entre esparsos sentimentos
Distante dos estúpidos beócios
Já não suportaria mais lamentos,

Sejamos destes sonhos, sempre sócios
Que buscam nos seus pares, os alentos,
Se os dias não teriam luz; remoce-os
Trazendo em tuas mãos os suprimentos.

Escalando o infinito sem receios,
Não quero mais usar velhos rodeios,
Apenas ser só teu e nada além.

Indômito desejo que nos toma,
Multiplicando mais que simples soma,
Divina compleição; ele contém...


MARCOS LOURES

É MEU DIREITO

Há gente que não sabe conviver,
Respeito eu dou e peço, é meu direito.
Falta de educação é um defeito
Difícil de aturar e dá pra ver,

Pois basta tão somente não me ler,
Mas o diabo andando insatisfeito
Velhusco salafrário, desse jeito,
Parece que não tem o que fazer.

Respeite os teus cabelos já grisalhos,
Dos outros, não desdenhe os seus trabalhos,
Procure um psiquiatra, mas dos bons,

Ou quem sabe console-se nas ostras
Roçando o teu traseiro que tu mostras
Ao demonstrar assim teus toscos dons..

MARCOS LOURES

DESEJOS... MALCRIADOS

Bye bye, adeus, so long, já fui,galera;
Não guardo mais as fotos nem recados,
Os quadros esquecidos, pois mofados,
Depois de certo tempo, enfado e espera.

Quem sabe reconhece e até tempera
A vida com desejos malcriados,
Em outras direções, olhos focados,
Desleixo, a solidão, aos poucos gera.

No quarto as bandeirolas, velhas flâmulas
Futuro de fumante diz das cânulas
Traqueotomia à vista, morte a prazo.

Se eu tenho enfim por mim, tanto descaso,
A culpa é deste inferno que hoje piso
Teimando ver após, o Paraíso...


MARCOS LOURES

VERRUGAS

Se às vezes mesmo poucas inda lucro
Apontando estrelinhas sem verrugas,
Olhando para o espelho crio rugas,
E o coração persiste burro xucro.

Desenho; a cada verso o meu sepulcro,
Sabendo o desencanto em que tu sugas,
Deixando para trás antigas fugas,
Usando da esperança como um fulcro.

Buscando da verdade um grande zoom
Eu sei que por resposta ouço o nenhum,
Que faço se eu deixei pra trás o umbigo?

Os pés no meu passado cimentados,
Ouvindo do futuro os seus recados,
Um velho ultrapassado, já nem ligo...


MARCOS LOURES

FALSA CRISTÃ

A velha dos Jardins falsa cristã,
Erguendo a sua crista dita norma,
Enquanto a sua neta se transforma
Na quenga mais voraz do imenso clã.

A bruxa quis ser puta temporã,
E tenta recompor a antiga forma,
À plástica malfeita já deforma
Esta caricatura amarga e vã.

Ao ver a meninada nas baladas,
Roçando coxas, pernas e algo mais,
No fogo esmorecido, vendavais

Balançam estruturas mal armadas,
E não podendo ter seu cavaleiro,
“transforma o mundo inteiro num puteiro”.


MARCOS LOURES

quinta-feira, 29 de março de 2018

MORAL- TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE?

Moral quatrocentona é um absurdo,
Não posso com a podre burguesia,
Tampouco ficarei calado ou surdo,
Enquanto houver somente hipocrisia.

Não quero ser nem turco ou mesmo curdo,
Julgando esta moral bijuteria,
Apenas tão somente daqui urdo
O gozo que perfeito me sacia.

Prazer jamais trará felicidade!
Eu sei da diferença; um mundo harmônico
Nunca se disfarçou em tolo hedônico,

Mas não vejo nenhum mal quando o sexo
É feito com carinho, e sem complexo,
Não posso me calar defronte à grade.


MARCOS LOURES

DEUSA INSANA

Sucumbo aos teus anseios, deusa insana,
Fartando-me dos gozos que me dás,
Ao fomentar um fogo tão audaz
A mente transtornada não se engana.

Tu segues o destino de cigana,
Porém teu pouco muito satisfaz,
Na fúria da pantera mais voraz
Curare que inundou zarabatana.

O sexo é um pecado ou uma benção?
É necessário ter muita atenção
Se o fato traduziu satisfação

Jamais precisará pejo ou perdão,
Mas quando reproduz desunião,
Desejo se transforma em canastrão...


MARCOS LOURES

TIO SAM-(TÃ)

É cíclico o caminho que perfaço
Num carrossel imenso, a minha vida,
Por vezes me tomando este cansaço
Não dando nem mais crédito ou saída.

Arrasto os meus chinelos quando traço
Circunavegação que não me agrida,
Usando a fantasia por compasso,
No fundo não desejo a despedida.

Mas tenho que ir embora, amanhã
Quem sabe voltarei feito um cometa,
Minha alma é suicida, um talibã

Armando uma tocaia para o Tio,
Embora reconheça esta falseta,
Mergulho há tanto tempo no vazio...

MARCOS LOURES

O RISCO DE VIVER

Chamaste de romântico até lírico
O verso que embuti noutro poema,
Às vezes eu repito o mesmo tema,
Num ato quase métrico ou empírico.

Não bebo e com certeza um bem etílico
Talvez ajude a gente a caminhar,
Parado e sem sair do meu lugar,
Não tenho mais defesa, morro acrílico.

Aliciando os sonhos de quem posso,
O risco de viver é muito grande.
O quase se transforma em fundo poço,
Só pedindo afinal: Tocai a glande.

Assim quem sabe a gente recomeça
Aonde terminou num ato, a peça...


MARCOS LOURES

CULTURA NACIONAL? A FROTA?

Já não me reconheço nem tampouco
Procuro algum sinal que me permita
Saber se na aguardente ou na birita
O muito surge às vezes do tão pouco.

Gritar demais só deixa a gente rouco,
A arte, com certeza, a vida imita,
Ouvir besteira é coisa que me irrita,
Cultura nacional? ME DEIXA LOUCO!

Revendo este enlatado mexicano,
Sendo empurrado goela abaixo, vejo
Só resta entrar de novo pelo cano

Usando a fantasia de panaca,
Na fila principal, do gargarejo
Brasil cai no gramado e sai de maca...


MARCOS LOURES

SOPAPO

Verdade dá sopapo em minha cara.
Eu tento me iludir com poesias,
Mas vejo ao fim do túnel agonias
Enquanto a face amarga se escancara.

Ouvindo a tua voz gritando: pára!
Terríveis desenganos; concebias,
Meu sonho nunca foi mercadoria
Sequer sei a medida nem a tara.

Macacos que me mordam: desdentados,
No vácuo meus degredos alentados
Por frases sem sentido e sentimento.

Servida num banquete, na bandeja,
Cabeça sabe tudo o que deseja,
Importa se existiu tempesta ou vento?


MARCOS LOURES

OUTRORA

Outrora havia um tolo preconceito
Contra a mulher que é mãe mesmo solteira,
Um fato corriqueiro e agora aceito,
Não sendo mais tão útil tal bandeira.

Ministro da Saúde, candidato
À presidência, estúpido e venal,
Querendo demonstrar ser desacato
A gravidez da artista, até boçal,

Ouvindo uma verdade por resposta,
“Eu tenho grana para sustentar!
Saúde no Brasil anda uma bosta,
Melhor é pôr as coisas no lugar.”

Ao rei do ministério, cabra macho,
Restou somente a cara feita em tacho...


MARCOS LOURES

VAGANDO

Vagando pelas terras mais distantes,
Abraão leva consigo a esposa Sara
Até chegar ao reino de Gerara
Aonde eram apenas imigrantes.

Apresentando-a como sua irmã,
Ao rei Abimelec, que a desejara,
Porém Javé jamais o desampara,
Mudando então a sina, antes malsã

Num sonho aparecendo para o rei,
Desfaz esta mentira bem urdida,
Temendo pelo fim de sua vida,

Conforme disse o Pai em sua lei,
Apenas meia-irmã, eis a verdade,
E assim é concedida a liberdade...


GÊNESIS 20


MARCOS LOURES

INEVITÁVEL

Eu sei que é inevitável nosso caso,
Que seja belo assim e enfim perdure,
Do vigilante sonho que nos cure
Até o gran finale, num ocaso.

Não quero mais saber se existe prazo,
Nem mesmo a fantasia que perjure,
A rocha sabe da água que a perfure.
Até se chegar tarde louva atraso.

O vaso não se quebra, pois eterno,
Completamente teu, busco ser terno,
O terno amarrotado, roupas soltas,

Ouvindo este marulho anunciando,
Sereia deseja está chegando
Mesmo que as ondas sejam tão revoltas...


MARCOS LOURES

QUEBREI A CARA

Não sei aonde errei. Quebrei a cara;
A dona não se cansa de dizer
Que toda noite espera por prazer,
Que a roupa transparente me escancara.

A jóia que eu pensei fosse mais rara,
Agora só consegue esmorecer
Castelo consumido ao bel-prazer.
Balançando não cai, mas desampara.

Mudando o seu discurso, a moça ingrata,
Usando de metáfora arremata
Jogando o que restara pelo chão.

Após mais uma noite de fiasco,
Eu sei que tento tanto e afinal masco,
Prometeu me levar pro paredão...


MARCOS LOURES

CUMBUCA

Não boto mais a mão numa cumbuca
Mesmo que esteja cheia, pois surpresa
Fazendo do imbecil, a caça e a presa,
Quem sabe o quanto dói jamais cutuca.

Sentindo um arrepio pela nuca,
A moça pensa logo em safadeza,
Porém todo marmanjo que se preza
Sem pressa vai deixando ela maluca.

Bisonhos sofrimentos da novela,
Na face entristecida se revela
Depois dá um trabalho convencer

Que tudo não passou duma ficção,
Garante uma hora e meia de aflição,
Mal paga com segundos de prazer...


MARCOS LOURES

PREDILETO

Não sou ateu, porém muito ao contrário,
Neste cristianismo radical,
Entendo ser o Pai e o Filho, o sal
Que enfrenta em placidez um adversário.

No canto engalanado de um canário,
Ao acasalamento sensual,
Presença da beleza divinal,
Que não se esconde nunca num armário.

Na mão insaciada a clave forte,
No perdão, na justiça o firme Norte
O imensurável gozo de um afeto,

Fecundidade expressa na amizade,
Igualitária irmã da liberdade,
Cada filho, decerto é o predileto...



MARCOS LOURES


CADA GOTA

Não quero a calmaria dos enganos,
Somente uma verdade me liberta,
Enquanto a poesia já deserta
Não tenho compromisso, nego os planos

Jamais quero tampar com frágeis panos
A realidade amarga, a vida incerta,
Palavra mais certeira me desperta
E mostra o quão são torpes os humanos.

Bebendo cada gota deste sangue
Apodrecido imerso em lodo e mangue,
No esgoto, ratoeiras são inúteis.

A porca carcomida tão pesada,
Na morte a cada página estampada,
Retratam quanto somos todos fúteis...


MARCOS LOURES

SEM TER AMARRAS

Sem ter amarras, solto enfim meu barco
Adentro os mais recônditos recantos,
Seguindo o rastro feito em teus encantos
Cupido entesa enfim, o seu firme arco.

Atraco-me nos Céus quando eu abarco
Teu corpo com meus sonhos, frágeis mantos,
Passando a perceber suaves cantos,
No todo que pensara ser tão parco.

Ludibriando a dor e a solidão,
Usando da esperança/embarcação
Desvendo os teus sinais e te traduzo.

Hieróglifos diversos construídos,
Desabam ao ouvir nossos gemidos;
Ato divinamente tão confuso...

MARCOS LOURES

POSANDO DE BOM MOÇO

O antigo traficante arrependido,
Agora vem posando de bom moço,
Depois de mergulhar num fundo poço,
Recomeçando a vida, decidido.

Não posso duvidar e nem duvido,
Apenas neste angu vejo caroço,
São Tomé, neste caso, eu sempre endosso,
Porém eu sei que nada está perdido...

Não quero jogar pedras em ninguém,
Para todos eu vejo salvação,
Quando o arrependimento afinal; vem...

Até em extraterrestres sim, eu creio
Gladiador devorando o leão...
Mas político santo? Não há meio...


MARCOS LOURES

PROFECIA

Cumprindo a profecia que um oráculo
Há tempos proferiu como um enigma,
A sorte deslindando o seu tentáculo,
Marcando o nosso sonho em duro estigma.

Primando por saber ser oprimido,
Não vendo nem desvendo esta ilusão,
Entre os meus pesadelos comprimido,
O que restou de tudo? Nem o chão.

Pereço ao mesmo tempo em que renasço,
Morrendo nos teus braços, ressuscito,
E mesmo que pareça tão escasso,
O que inda sobra aqui é tão bonito.

Se eu fosse pelo menos um resquício,
Não buscaria sempre o precipício...

MARCOS LOURES

INUTILMENTE

Quisera inutilmente perceber
Que ainda poderia crer no rumo
Mesmo tão desairoso. Assim assumo
Os riscos inerentes do prazer.

Pagando novamente para crer,
Da fruta mais azeda tomo o sumo,
O gozo deste bem feito em consumo
Aguarda a curva inóspita do ser.

Ser mais ou ser tão pouco quem me dera,
Sertão anunciando a primavera,
Quem sabe finalmente, ser feliz

Metendo o meu bedelho em todo canto,
Agora só me restam dor e pranto
Sabendo que quebrei o meu nariz...

MARCOS LOURES

SONHO E FÉ

O quase ainda manda nos meus dias
Quase poeta, quase um trovador,
Quasimodo perdido em plena dor
Quaresmas, lobisomens, fantasias.

Quarando no quintal as alegrias,
Quadrados inexatos a compor,
Qualitativamente sem fulgor,
Quarto crescente mata poesias.

O quanto diz do tanto que não trago,
Na quântica ilusão de um mero afago
Esquartejado, sigo ainda em pé,

Quartéis abandonados, sem defesa,
Esquadros desenhando esta incerteza
Quando restar ao menos sonho e fé...

MARCOS LOURES

SAGACIDADE

As almas se procuram e se tocam,
Enroscam-se desejos, coxas, pernas,
As horas que passamos; calmas, ternas,
Rios que noutros rios desembocam.

As doces fantasias se deslocam
E buscam soluções reais e eternas,
Vagando noite afora, com lanternas
Que o gozo prometido tanto focam

Sagacidade expressa no delírio,
O corpo ali desnudo é um colírio
E o tempo vai passando devagar.

Pudesse congelá-lo e então teria
Perpetuado o fogo em ardentia
Que extasiado sinto nos queimar...


MARCOS LOURES

APENAS NADA

Pecado inominável é o aborto,
Devemos, implacáveis, condená-lo,
Perante tal verdade, eu já me calo,
Porém num pensamento torpe e torto

A vida deve ser, pois preservada,
Para quem age assim, a penitência
Levada à derradeira conseqüência,
Mesmo que sobre ao fim, apenas nada.

Melhor morrer o corpo em salvação,
Ao arcebispo cabe a excomunhão,
Arrancando da Terra, sem um rastro.

Excomungando assim tais assassinos,
A Igreja pune todos os ladinos,
Porém não fala nada do padrasto...


MARCOS LOURES

BUSCO A LIBERDADE

Com uma lupa busco a liberdade,
Mas macabras figuras aparecem,
Enquanto fantasias já se tecem
O túnel se escondeu sem claridade.

Mecânica palavra diz verdade,
Nem versos só reveses que me engessem,
E mesmo que as lembranças não regressem
O barco se perdeu, sem qualidade.

Deidade disfarçada em falsa cena,
Não quero mais genérico, tampouco
Desfilo este fantasma, pois é pouco

O quanto se fez tanto, a dor empena.
Milagre avinagrado azeda tudo,
Porém como imbecil, também ajudo...


MARCOS LOURES

NUDEZ

Se a túnica rasgada expõe nudez
Não peco por saber que nada vale,
Bem antes que a palavra em vão se cale
O quanto foi bem feito se desfez.

Vou vendendo de acordo com freguês,
Mesmo que uma mentira sempre embale,
Não quero uma verdade que inda empale
Prefiro, por preguiça, a placidez.

Agricultor teimoso, perco os grãos
E sei que os versos foram todos vãos,
Mas quero ver quem sabe, noutro dia,

Ainda resistindo bravamente,
Nascer de cada ser, freqüentemente
O belo e farto sol da poesia...


MARCOS LOURES

CARCOMIDO

Sou velho e carcomido pelo tempo,
Beirando ao romantismo sem propósito.
De tudo o que tentei; meu passatempo
É guardar os vazios num depósito

Aonde a explicação por si já basta,
Gerenciando a dor nada me acalma,
E quando da verdade a alma se afasta,
Já não reconheci; da mão, a palma.

Milito, socialista, neste imbróglio
Sarnento presidente do Senado,
E antigo Collorido renovado,

Assim abrindo a porta do escritório
Eu prefiro o mictório da esperança
Aonde quem espera, sempre cansa...


MARCOS LOURES

APENAS ISSO

O verso sendo inútil; morra a esmo,
É tempo que se joga da janela,
O beijo do fantasma em que se atrela
O sonho, na verdade é sempre o mesmo.

Cismando pelas ruas; bebo o vento
Vomito fantasia e volto só,
Amarga a vida imita esse jiló
A melhor tradução do sentimento,

Não quero esta palavra tão soturna,
Se a minha inspiração sempre é diurna
De que me vale o bar e as aguardentes,

Aguardo o meu final, apenas isso,
E o esquecimento é tudo o que cobiço
Trazendo a velha faca entre meus dentes...


MARCOS LOURES

DESTE PÃO

Já não farei- quem sabe? – outro soneto,
Tampouco a poesia inda me embala
Olhando o meu retrato, a voz se cala
E ao fim do precipício, eu me arremeto.

Não quero mais fazer parte do gueto
Aonde a fantasia teima e fala,
Arranco o meu retrato desta sala,
E o fim deste palhaço, eu te prometo.

A carga é bem pesada e sem bornal,
Não posso mais teimar num ritual
Que nada diz, somente expõe o vago.

O gosto amanhecido deste pão
Que agora percebi, foi sempre vão,
E estúpido, comigo, ainda trago...


MARCOS LOURES

CLARIDADE!

Esteio de meus sonhos, sentimentos,
Tu és a cristalina redenção,
Outrora condenado à rejeição
Em ti fartos fascínios; sei aos centos.

Tocada pela força destes ventos,
Desliza em pleno mar a embarcação,
Buscando no teu porto, atracação,
Impetuosamente e sem alentos

Já não suporto mais o lento passo,
Imprimo com vigor, velocidade,
Sabendo que há em ti felicidade,

Bem mais que pensei; simples andaço.
Enquanto nos teus pés eu me embaraço,
Caindo nos teus braços: claridade!

MARCOS LOURES

TEU CORPO, MANSAMENTE

Voluptuosos olhos te devoram,
Percorrem o teu corpo mansamente,
Paisagens divinais, eles decoram,
Guardando cada ponto em minha mente.

Desejos indomáveis já se arvoram,
No intenso vendaval que se pressente
Fotografando tudo, se demoram
Bebendo da beleza transparente...

Aumenta neste ardor, temperatura,
Incendiando o quarto em tal quentura,
Numa avassaladora sensação

Até que na avalanche, uma vertigem,
Intensa fantasia desde a origem
Condenada à fantástica explosão..


MARCOS LOURES

TEU CORPO

Teu corpo é minha casa, uma morada
Sem conceber fronteiras nem divisas,
As mãos que acariciam tão precisas
Avançam sem limites, cada estrada.

É nele que aportando em louca estada,
Adentro com vontades mais concisas,
E quando num regalo, pedes, bisas,
A sorte dá fantástica cartada

Tu és ancoradouro, cais e porto,
Aonde em plenitude eu me conforto,
Num ato de vigor transcendental.

Conheço até de cor cada caminho,
E quando nos teus braços eu me aninho
Refaço este soberbo ritual...

MARCOS LOURES

DESEJO-TE

Desejo-te deveras, não duvide,
E mesmo quando ausentas, eu te sinto,
O que julgaras longe, mesmo extinto,
Agora sobre nós, divino incide.

Assíduas fantasias que povoam
O coração artífice dos sonhos,
Os dias poderiam ser risonhos,
Por mais que as alegrias na alma doam.

Acendo a luz no túnel quando eu ouço
O teu convite à festa que ora anseio,
Legando ao torpe olvido, um vão receio

De ter como uma herança, o calabouço,
Calando bem mais forte esta certeza,
Exponho o sentimento em farta mesa...

MARCOS LOURES

UTÓPICA PAISAGEM

Embalam-me teus versos; melodia
Assaz maravilhosa que ora escuto,
Embora eu te pareça, às vezes bruto,
Tua palavra trama a calmaria.

Metáfora que esculpes, sonhos cria,
Não deixo de querer nem um minuto
E em plácido recanto eu me transmuto,
E chego mesmo à beira da euforia...

Utópica paisagem? Não mais creio,
Percorro desde sempre o raro veio,
Nas margens percorridas, flóreas sendas;

Destilas farta luz na qual me guio,
Deixando no passado o ressabio,
Seguindo ao Paraíso que desvendas...


MARCOS LOURES

CONTRA A CORRENTE

Não posso mais lutar contra a corrente,
E deixo-me levar até a foz,
Eu sei que uma ilusão se faz algoz,
Por mais que ser feliz, a gente tente...

Queria me envolver completamente,
E me entregar ao sonho que há em nós,
Porém ao perceber o nada após,
Sonego o intenso sol, queimando, ardente.

Não tendo mais defesas, sigo só,
Sabendo desta estrada o mesmo pó
Aonde tantas vezes me perdi.

Por mais que a noite trague em sonho, o riso,
Quem nunca conheceu o Paraíso
Reage desta forma, como agi.


MARCOS LOURES

IMENSOS RASTROS

O coração sabujo busca os rastros
Navega pelos ermos de teus mares,
Sagrando as fantasias nos altares
Vagando no infinito, imensos astros,

Embarcação sem lastros; vou a pique,
Entregue aos formidáveis temporais,
Não tendo ou mesmo crendo que há um cais
Inundação explode o antigo dique

Fadando à solidão, quem tanto quis,
Poder ser simplesmente mais feliz,
Galgando etéreos sonhos fascinantes.

Porém se estás comigo, a fortaleza
Ressurgindo com laivos de nobreza
Promete alvoreceres radiantes...

MARCOS LOURES

SAINDO DE SODOMA

Saindo de Sodoma, o puro Ló
Esconde-se em cavernas com as filhas
Depois de percorrer diversas trilhas
Estando abandonado, velho e só.

Desejos aflorando então nas duas,
Embriagando o pai, um ancião,
Tendo ali com ele, relação
Entregam-se à luxúria e anseios; nuas.

E grávidas no incesto consumado,
Gerando então Moab e Ben-Ami
Os filhos do prazer desabalado;

Pois Ló não percebendo este artifício,
Dos netos-filhos, feitos desde ali,
A geração moabita tem início...


GENESIS 19 II


MARCOS LOURES

OS ANJOS POR JAVÉ


Os anjos enviados por Javé
Para Sodoma, terra de pecados
Chegando a Ló, um puro homem de fé
Tão logo para outrem; anunciados.

Quiseram sodomitas relações,
Causando aos pobres anjos tal pavor,
No fogo de terríveis explosões
Pesando firme a mão do Vingador,

Poupando tão somente o pio Ló,
Transformando a cidade em simples pó,
Ceifada por total iniqüidade,

Apenas a mulher de Ló, venal,
Destruída em estatua feita em sal
Pagando por seu mal: curiosidade...

GENESIS 19 I



MARCOS LOURES

quarta-feira, 28 de março de 2018

SOMENTE UM TROVADOR

Somente um trovador, um menestrel
Que tenta com palavras declarar
O encanto tão sobejo do luar
Que reina, soberano em claro céu.

Olhando para estrelas, sigo ao léu,
Buscando a fantasia derramar
Num sonho esmeraldino lapidar,
Cumprindo tão somente o meu papel,

Lavrando a cada dia, usando os versos
Que possam traduzir meus universos
Eterno sonhador, vê no horizonte

Os traços que tu deixas ao partir,
Arquitetando em paz o meu porvir
Numa aurífera, bela e intensa fonte...

MARCOS LOURES

INIQUIDADE

Três anjos para Abraão anunciados,
Vislumbrando Sodoma no horizonte,
Sabendo ali terrível e imensa fonte
De tanta iniquidade em mil pecados,

Se houvesse pelo menos alguns pios
E justos com suprema galhardia,
Javé então jamais destruiria,
Porém os corações eram vazios.

Por mais que Abraão ao Pai intercedesse,
A mão do Justiceiro ouvindo a prece
Promete a piedade, se possível.

Mandando para lá anjos divinos,
Que levam nos seus olhos os destinos.
Guiados pelo Pai bom e infalível...

GENESIS 18


MARCOS LOURES

GÊNESIS 17

Abrão tendo por Deus, obediência
Fazendo com Javé uma aliança
Que toca o coração com esperança
Traz da fecundidade, a consciência.

Sonhando com seu filho prometido,
Agora se chamando, pois de Abraão,
Tendo em Isaac enfim a concepção
Gerado após o tempo estar vencido,

A Sara, Javé deu fecundidade
Apesar de avançada a sua idade
E as bênçãos a Ismael também legou.

Cumprindo desde então Sua promessa,
A glória de seu povo assim começa
No sêmen que em velho útero brotou...

GENESIS 17


MARCOS LOURES

TANTO DESEJARA

Tu és a paz que tanto desejara
Um coração deveras sofredor,
Calando num momento a insana dor,
Decifro em ti a jóia bela e rara...

Enquanto uma tristeza desampara,
Encontro nos teus braços o calor
Que tanto procurei e num louvor
O quanto bem te quero, alma declara.

Num templo que se erige ao Deus supremo,
Ao lado deste encanto nada temo,
E sinto bem mais forte cada passo,

Assim eu poderei sorrir, enfim,
Vivendo a plenitude que há em mim,
No altar que a cada verso teu eu traço

MARCOS LOURES

OFERENDAS

Mistérios desvendados, oferendas
Que fazem florescer no roseiral
A rosa mais perfeita e magistral,
Cevada pelas glórias que desvendas,

Podendo ver sublimes, áureas sendas,
Ao diferenciar o bem do mal,
Nas entrelinhas sinto o triunfal
Sorriso que aplacando estas contendas,

Um dia reinará por sobre a Terra,
E enquanto esta beleza, o olhar descerra,
Eu posso adivinhar a placidez,

Num templo onde a fantástica harmonia
Derrame a soberana poesia
Cambiando o desvario em sensatez...


MARCOS LOURES

ENTRE OS PENHASCOS

Se eu trago bem mais firmes minhas mãos
Eu agradeço ao Pai que é libertário
Por mais que o mundo seja temerário
Os dias não serão; por certo vãos.

Caminho entre os penhascos e os penedos,
Sabendo ser meu passo mais audaz,
Pois tendo em Ti, Bendito, imensa paz,
Concebo da existência, os seus segredos.

Erguendo o meu olhar ao infinito,
Percebo quanto o mundo é tão bonito,
Presente deste Deus perfeito e Santo.

Mas quando vejo os homens com tal fúria,
Dilapidando os bens, suprema incúria,
Resisto bravamente ao desencanto...

MARCOS LOURES

SERVO

Não posso me calar perante a dor
Causada num irmão pela injustiça
Minha alma não será jamais omissa,
Pois tenho no Meu Pai, o Salvador

A prece quando é feita num louvor
Enfrenta com certeza esta cobiça
Enquanto a flor mais bela nasce e viça
Serei de Ti, Senhor, adorador;

E tenho enfim certeza da vitória
Que mostrará deveras toda a glória,
Ungida em perfeição pela palavra.

Apenas tão somente um simples servo,
Na fé que sempre trago e que conservo
E o coração campônio aduba e lavra...

MARCOS LOURES

GÊNESIS 16

Ao ver estéril Sara, quis Abrão
Deitar-se com Agar, deles escrava,
Que momentos após perde a noção,
E a Sara, depois disso maltratava.

A resposta não tarda mais chegar,
Um anjo traz à tona a lucidez
Pedindo que retorne então Agar,
Comunicando assim a gravidez

Javé ouvira as preces e os lamentos
Daquela fugitiva arrependida,
Cumprindo os mais divinos sacramentos
Da serva ressurgindo a santa vida

Chamando de Ismael o filho amado,
Do Pai escuta Agar, o Seu recado...

GENESIS 16


MARCOS LOURES

QUEM SABE...

Perdoe se me ausento. É necessário.
O tempo é o Senhor, pois absoluto,
Se der a cara à tapa inda reluto,
O lobo tem destino sanguinário.

Debilitado estou, porém eu luto,
Correndo contra mim, o calendário,
Escondo os meus anseios num armário,
Aguardo o meu descanso, estendo o luto.

A morte se aproxima devagar,
Apodrecendo aos poucos, sem confetes,
Quisera controlar tal diabetes,

Quem sabe, noutra estância repousar...
Deixando mansamente a minha vida,
Preparo a cada dia, a despedida...

MARCOS LOURES

DIA A DIA

Quem dera se eu pudesse ainda crer,
Que existe alguma chance de vitória,
Porém a minha estrada merencória
Eu vejo; dia-a-dia, esmorecer.

Agradecendo cada amanhecer,
Eu sei que a minha luta é vã e inglória.
Pudesse refazer a velha história,
Mas sinto uma esperança fenecer.

Fui homem, tive sonhos, hoje o nada
Rosnando em meus umbrais, tomando a cena,
Nem mesmo a fantasia me serena,

Meu corpo, pouco a pouco se degrada,
A morte quando bate à minha porta,
Encontra esta esperança, ausente... Morta!


MARCOS LOURES

CONTIGO

Contigo seguirei para onde fores,
Embora continues tão distante,
O final se aproxima ao mesmo instante
Deixando entre seus passos, mil horrores.

Pudesse amenizar as minhas dores,
Procuro na gaveta algum calmante,
Por mais que a tempestade se agigante,
Ainda teimo em campos, perco as flores...

Nas mágoas que carrego, esqueço as rosas,
Que outrora imaginara tão viçosas
E agora, vão murchando no jardim.

A angústia me entorpece e me alivia,
Na morte vejo a paz e a noite fria
Espalha seus granizos sobre mim...


MARCOS LOURES

DESVALIDO

Passando mais um dia de janeiro,
A madrugada traz esta agonia,
E enquanto morre à míngua, a poesia,
Dos sonhos sou apenas o coveiro.

Marcado pelo gozo derradeiro,
Adormecendo em plena fantasia,
Acordo e nada tendo, esta sangria
Derrama uma esperança no cinzeiro.

Por onde caminhar se estou perdido?
Apenas espinheiros, pedregulhos,
Arranco do meu peito estes entulhos,

E sigo sem remédios, desvalido.
A natureza esconde a claridade,
Na névoa interminável que me invade...


MARCOS LOURES

INSANA CONFRARIA

Coberto pela terra infecta e farta
Os vermes são meus únicos parceiros,
Usando a precisão de carpinteiros
Necrófago banquete me descarta,

Enquanto da esperança, o rito aparta
Expondo os frágeis ossos; carniceiros
Na orgíaca festança vão inteiros
Na podre provisão que se reparta

A realidade expressa seus humores.
E paulatinamente cessam dores,
Quem sabe até sorria depois disto,

Imerso nesta insana confraria,
Por mais que isto pareça uma ironia,
Eu sinto que deveras inda existo...

MARCOS LOURES

ESPÚRIOS

Espúrios sentimentos, morte e gozo,
Verbetes que esqueci de acrescentar,
A fruta apodrecendo o meu pomar,
Destino se mostrando caprichoso.

Quisera ter um verso mais jocoso,
Quem sabe deveria procurar
No meio dos palheiros, o luar,
Porém isto seria doloroso...

O ocaso toma enfim meu horizonte,
Bem antes que este sol não mais desponte
Eu quero ter ao menos a certeza

De que não foi em vão minha existência,
Supero desta forma a penitência
Exposta qual banquete em minha mesa...


MARCOS LOURES

ERVAS DANINHAS


Alastram-se daninhas ervas, urzes,
E tomam totalmente o meu canteiro,
Pesando desde sempre tolas cruzes,
O céu jamais se fez alvissareiro...

Distante dos teus olhos, um braseiro,
Meu céu já não comporta tantas luzes,
Outrora me entreguei, fui verdadeiro,
Porém ao precipício me conduzes...

Agônico; vergastas me lanhando,
As esperanças fogem, tosco bando,
Deixando aqui somente este amargor.

Mas ébrio de ilusões, sigo tentando,
Ao menos este fogo calmo e brando
Que um dia imaginei ao meu dispor...

EM MINHA PORTA

Mal pude perceber tua chegada
Vieste sorrateira em noite escura
Da eterna frialdade, sem ternura
Jamais esperaria além do nada.

A lua prateando esta calçada
As sombras de quem vaga e que procura
Alguma forma insana de brandura
Ou mesmo algum remanso e já se enfada.

Bateste em minha porta e com sorrisos
Deixando perceber certo sarcasmo
Silenciado então, atento e pasmo

Após ouvir de ti toscos avisos
Eu percebi selada a minha sorte,
Nos ermos mais risonhos de uma morte...

MARCOS LOURES

MORTE EM PAZ

Apenas um espectro celerado
Que vaga pelas noites sem paragem,
Especular visão, sombria imagem
Restolho de um escombro do passado,

O olhar assim distante está parado,
Sem ter um horizonte, uma miragem
Traduz ao longe o gozo da estalagem,
Mas vejo novamente estava errado.

Recolho os meus pedaços e prossigo,
Nas rotas fantasias que inda restam
Relíquias que em detalhes sempre atestam

Um conforto longínquo em manso abrigo,
E agora este farrapo, a noite traz
Tentando pelo menos, morte em paz...

MARCOS LOURES

CADA ILUSÃO

Havia dentro em mim uma esperança
Que sei agora ser simples tolice,
A vida prometera e já desdisse
Enquanto o que procuro não se alcança.

Ouvindo o mesmo grito que a lembrança
Tramando o que a verdade não cumprisse
Caminho alternativo que se visse
Mentira sem alcance, a vida lança.

Morrendo a cada instante em que sonega
O alento e o lenitivo necessários
Os dias que virão; ledos corsários

Por mares onde a sorte não navega
E todos os presságios dizem não.
Naufrago sem perdão, cada ilusão...

MARCOS LOURES

SARCASMO

A morte com sarcasmo ao ver-me brada
E lança o gargalhar decerto espúrio
Minha alma acostumada com perjúrio
Olhando de viés fica calada.

A sorte há tanto tempo abandonada
Ouvindo da esperança algum murmúrio
Destino procurando quem depure-o
Percebe quão vazia a minha estada.

As horas me devoram e não resta
Senão esta figura que, funesta
Aguarda bem tranquila o ato final.

E a morte amortalhada em negros trajes
Sorrindo e blasfemando seus ultrajes
Demonstra o seu orgulho triunfal...

MARCOS LOURES

ABISSAL

Buscara pelo menos um conforto
Em meio a tantos cactos e aridez
Apenas uma leda estupidez
O tempo de sonhar, apenas morto.

Teimando com um cais, distante porto,
Minha alma em tal loucura já desfez
A rota que deveras na altivez
Pensara e prosseguindo tão absorto

Não pude perceber ser impossível.
Além do que julgara imperecível
A vida se prepara para o fim.

E bebo este veneno em raro cálice
Enquanto a realidade grita: cale-se!
Mergulho no abissal que existe em mim...


MARCOS LOURES

PESADELOS

Durante esta jornada pela vida
Sombrios descaminhos; encontrei
Esperança deveras já perdida
Apenas a desgraça sendo a lei

Houvera mais distante uma saída
Que há tanto sem destino procurei;
Volvendo à solidão, sutil ermida
Agora nada tenho e nem terei;

Seguir sem perceber as armadilhas
Durante a noite em trevas quando trilhas
Verás já decompostos os teus sonhos.

Mereço melhor sorte? Não respondo,
O dia a cada tempo recompondo
Promete pesadelos mais medonhos...


MARCOS LOURES

TENEBROSA

A senda tantas vezes tenebrosa
Por onde procurara uma esperança
Espinhos decorando toda rosa
Na ponta dos teus dedos, fina lança.

E quando vejo imagem vaporosa
Beleza sem igual, a vista alcança;
Mas logo a realidade chega e avança
Matando esta alegria caprichosa...

Ao novo amanhecer se o sonho atreve
Encontra pela frente o frio e a neve
Nas mãos os velhos calos, nada além.

E teimo em procurar a fantasia
Que a cada amanhecer de novo adia
E com certeza, amigo, nunca vem...


MARCOS LOURES

VAPOROSA

A vida pra quem sonha é tão penosa
As dores cultivadas no jardim
Volvendo a cada instante dentro em mim,
O medo se espalhando em toda rosa.

Levara a sorte ao menos, vaporosa,
Vagando por espaços sem ter fim,
Vislumbro amanhecer e sei assim
Que a sorte muitas vezes é danosa.

O quanto imaginara soberano
No fundo apenas restos do que tive,
Minha alma tão somente sobrevive,

Aguardando o final, abaixa o pano
E a peça mal escrita já termina
Selando com a morte a negra sina...

MARCOS LOURES

EMBARCAÇÃO

Encontro em descaminho áspero solo
Enfrentando as falésias e penedos,
A vida se embrenhando em seus segredos,
Apenas tão distante, eu me consolo,

Enquanto sou vassalo nego o colo
Ausente de meus olhos toscos medos,
Mantendo mais distante; olhos, dedos
A cada nova queda mais me esfolo.

Atrozes os desníveis desta senda,
Não posso mais vencer qualquer contenda
Nas tendas em que durmo, solidão.

Hereges preconceitos, tolos tempos,
A cada nova curva, os contratempos
Levando ao vão naufrágio a embarcação...

MARCOS LOURES

RELAGOS

Por ser tão curiosa esta memória
Refaz cada momento que encontrei
Regalos que fizeram quase um rei
Até segundos raros de vanglória.

Da empáfia à realidade, minha história
Há tanto que deveras enfrentei
Diversa deste encanto que busquei
O canto mostra a senda merencória.

E apenas o vazio permanece
Nos olhos os favores de quermesse
E a prece Inesgotável serventia.

Talvez se visse espelhos com acerto
Meu mundo não seria este deserto
Que a cada amanhecer mais se esvazia...

MARCOS LOURES

CONFORTE

Acerbo este caminho leva à morte
Que tantas vezes tive à minha frente
Por mais que parecesse estar descrente
É nela a realidade firme e forte

Sem tem sequer um sonho que conforte
O fim se aproximando alma pressente
E mesmo quando a vida violente
Assim já se traçou destino e Norte.

Não posso sonegar esta verdade
E creio ser movido por tal fato
Se às vezes o futuro desacato

Apenas são bravatas; liberdade...
Ao vento estas palavras seguem soltas
Enquanto as minhas horas vão revoltas...


MARCOS LOURES

ESPELHO

Já havia deparado com o espelho
E visto esta figura caricata
A sorte que deveras me arrebata
O fim se aproximando, eu me aconselho

E nada mais que possa dirimir
As dores que não querem sossegar,
Exposto aos raios prata do luar
À noite em sonhos belos, meu porvir.

Mas tudo é ilusão, e passageira,
A dura realidade não descansa
Houvesse ainda um resto de esperança
Quem sabe. Mas a morte é corriqueira

E dela ninguém pode se furtar
Por mais que beba os raios do luar...


MARCOS LOURES

CICUTA

Jamais sonegarei qualquer verdade,
Pois dela me alimento e me sacio
Se o tempo muitas vezes desafio
Ainda posso crer na liberdade.

Mas quando me deparo com saudade
A vida novamente; em vão, desfio
E tudo o que inda penso, falo ou crio
Esvai-se num esgoto que me invade.

No velho lamaçal adentrando a alma
Somente a solidão inda me acalma
E o medo do futuro me acompanha.

Erguendo um claro brinde à poesia
Que em meio às tempestades me alivia
Cicuta faz as honras da champanha...

MARCOS LOURES

VAGA LEMBRANÇA

Pudesse te contar como soubera
Das vestes tão puídas da esperança,
Mas quando no vazio a voz se lança
Teimando com suprema primavera.

A amiga solidão, negra pantera
Almejando o final que agora alcança
Estância em plena paz, vaga lembrança
Do que vivi outrora, hoje é quimera.

Nefastas nuvens dizem temporais
Resposta repetida: nunca mais,
Minha alma se entregando à correnteza;

Pudesse ter nas mãos algum escape,
Porém a morte traz no seu tacape
Uma última verdade, esta certeza...


MARCOS LOURES

DEVASTAÇÕES

Meus sentidos o sono quando os toma
Devastações profanas entre tantas
E quando com verdades desencantas
Adentro este torpor, supremo coma.

Apenas o vazio dita a soma
E mesmo quando em guerras tu levantas
Ainda assim abrolhos cevas, plantas
E a vida ao mau presságio já se assoma.

Negar os velhos ditos deste oráculo,
Fugir desta mortalha e seu tentáculo,
Apenas ilusão e nada mais.

O sono que devia apascentar
Pelo contrário vem desmascarar
A ausência pertinaz de um manso cais...


MARCOS LOURES

À REALIDADE

Abandonando agora este caminho
Que outrora se fizera mais seguro,
O medo do presente e do futuro
Invade sem defesa o velho ninho

E quando do final eu me avizinho
A sorte caprichosa eu emolduro
Por sobre cada passo, salto o muro
E vejo que inda estou muito sozinho.

Deveras deveria ter nos olhos
Além das urzes, pedras, dos abrolhos
A pura perspectiva de uma flor.

Mas quando vejo em volta a negação
Volvendo à realidade desde então
Mudando a minha história bebo a dor...

MARCOS LOURES

COLINA

Ao longe no horizonte esta colina
Aonde em pensamentos imagino
Poder sentir o toque cristalino
Do amor que tantas vezes me fascina.

Por ser tão tentadora me domina
E desde os meus primórdios, o menino
Tomado por completo desatino
Pensara ali mudasse a dura sina.

Mas quando consegui alçar montanhas
Pensando nas vitórias e façanhas
Eu vi que na verdade era ilusão

E volto a perceber a realidade
E embora ainda teime em liberdade,
Rastejo sobre o agreste e duro chão...


MARCOS LOURES

terça-feira, 27 de março de 2018

NOS SEUS BRAÇOS

Caminho por um vale feito em trevas
Escuros os desvios e os atalhos,
Nos dedos e nas mãos profundos talhos
As dores permanecem, são longevas

Escravo das estúpidas mentiras
Que tanto apregoaste no passado,
O passo muitas vezes destroçado
Dos sonhos nem sequer pequenas tiras.

Resumo a minha vida no não ser
Servil, envilecido nada quero
O gosto do prazer amaro e fero

Impede um claro e belo amanhecer.
Somente a morte molda a fantasia
Quem sabe, nos seus braços, a alegria...


MARCOS LOURES

NAS MÃOS

Nos olhos mascarando o teu pavor
Diversas ilusões acumuladas,
As horas pela vida degradadas
Nas mãos a morte em forma de um andor.

Atravessando montes; sou condor
As hordas de fantasmas disfarçadas
Adentram pelas casas, paliçadas
Imagem dura e tétrica a compor.

No vasto das planícies de onde vim,
O medo se tornando mais frequente
Pudesse caminhar inconsequente

Talvez não padecesse tanto assim.
Mas vendo a morte em cena, triste ocaso,
Do fim que se aproxima já me aprazo...


MARCOS LOURES

TERRÍVEIS ALEGRIAS

Quem dera se de luz fosse banhado
O sonho que carrego; fantasias;
Além deste universo que querias
O tempo muitas vezes ao teu lado.

Mas quando vejo o fim já disfarçado
Em falsas e terríveis alegrias,
Apondo no caminho as agonias
Caminho entre os espinhos malfadado.

Não deixo de tentar alguma sorte,
Mas como se bebendo desta morte
Gotículas em doses mais crescentes

Olhares que inda tento disfarçar
A trágica loucura que ao findar
Expõe como uma fera, garras, dentes...


MARCOS LOURES

IMAGENS

Sentindo em minhas costas as vergastas
Lanhando com diversa profusão
Pergunto e sempre encontro o mesmo não
Por que ao ver o fim, tu já te afastas.

Imagens são deveras mais nefastas,
A morte não merece aprovação.
Porém ao dividir tal provação
Pudesses redimir. Mas não te bastas

Apenas esta cena, degradável
O mundo que sonhei mais agradável
Trazia algum prazer ; vagas mentiras?

E agora que o final se mostra claro,
Invés de companhia ou mesmo amparo,
O que negas aos cães tu já me atiras...

MARCOS LOURES

BEATRIZ

Guiado pelas mãos de Beatriz
Após ter enfrentado o duro inferno
Quem sabe então seria mais feliz
Deixando para trás nevasca, inverno.

Porém realidade se desdiz
E o que pensara manso ou mesmo terno
Demonstra os meus ares turvos, vis
E defronte à realidade em paz hiberno.

Dantescas ilusões, rara epopeia
Enfrento dentro da alma a centopeia
Gigante Calabar que desafio.

Ao fundo se gargalha esta Medusa
Quimera que deveras usa; abusa
Fazendo-me estopim, ledo pavio...


MARCOS LOURES

ARCAICO

Isolo-me; deveras sou arcaico
E vivo tão somente por saber
Que mesmo sendo até mesmo prosaico
Alguém possa talvez, um dia ler

Escrevo numa espécie de mosaico
E bebo a fantasia sem querer
Trazer à vida um tom cristão ou laico
Apenas decifrando o desprazer.

As pérolas aos porcos? Nunca mais,
Esgoto dentro em mim os meus anseios.
E teimo em prosseguir nos árduos veios

Por mais que não pareçam os normais.
Ourives da palavra sou poeta,
Somente a poesia me repleta...


MARCOS LOURES

ÀS ILUSÕES

No assombro que se mostra a cada verso
Ouvindo dos marulhos tradução
O velho timoneiro, a embarcação
Galgando desde o mar tal universo.

Em meio às ilusões fora disperso
Agora ao perceber a direção
Escuto de mim mesmo a negação
Entregue aos meus dilemas, sigo imerso.

Perversas emoções, falsos sorrisos,
Mentiras entre gozos e risadas.
Assim ao traduzir minhas estradas

Arrebentando agora os toscos guizos,
Não quero ser apenas um palhaço
E um novo amanhecer deveras traço...

MARCOS LOURES

OS DESVIOS

Desfilo o meu talento sem empáfia
E faço do meu verso perolado
Apenas tão somente este recado,
Porém não me entregando à turva máfia

Prefiro caminhar sempre sozinho
Ninguém me escutará, mas eu me basto,
O canto que tentara já tão gasto
Engasgo com mentiras, não me alinho.

E vejo que a verdade morta está
Apenas fantasias e joguetes,
Não solto nem proclamo com foguetes

O encanto que este verso não trará.
Medonhos os desvios da poesia
Minha alma libertária não se alia...


MARCOS LOURES

CONFRARIA

Perdura-se esta maga confraria
Que bebe com vontade este vinagre
Teimando ser talvez quase um milagre
O que ousam decifrar por poesia.

Não farei parte mais de tal comédia,
Assento-me deveras na verdade,
Um diamante ao ver a falsidade
Não prende e nem segura qualquer rédea.

Apenas observando este sarau
Aonde profecias são ditadas
Por almas entre arbustos mal criadas

Afundam da esperança qualquer nau.
Eu vejo repetir-se o mesmo rito,
Potencializado ao infinito...


MARCOS LOURES

DOS MEUS SONHOS

Na noite atribulada dos meus sonhos
Insônias entre medos, pesadelos,
Os dias entremeiam-se, novelos
Assustadoramente são medonhos.

Os beijos sempre falsos ou bisonhos,
Melhor é não saber como contê-los
Esqueço mesmo até velhos modelos
Agora no passado; pois tristonhos.

Nasci em meio ao gozo do vazio
E faço do meu canto o desafio
Desfio a realidade e já me perco.

A morte da ilusão amadurece
O gozo da alegria feita em prece
Servindo tão somente como esterco.

MARCOS LOURES

ÍDOLOS?

Os ídolos com pés feitos de barro,
Mentiras repetidas são verdades,
Comprando as mais diversas falsidades
Nas mãos da poesia eu já me agarro.

E teimo em correnteza, não desgarro
Apenas não direi mais veleidades
Por mais que se permitam liberdades
A boca não engole mais o escarro.

Eu sinto esta falência em toda parte
Assassinaram; toscos, a bela arte
E profanaram dela, a sepultura.

Depois são baluartes da esperança,
O fardo; não carrego nem me alcança
Apenas tenho pena da cultura...


MARCOS LOURES

BATALHA

Minha alma se esgotando na batalha
Por tantas vezes quis abandoná-la
Deixando tão vazia a velha sala
Aonde a poesia em vão trabalha.

Servindo tão somente de mortalha
Enquanto a minha voz a vida cala,
O tempo ultrapassando nada fala
E a bala se perdendo me atrapalha.

Lançando um tolo brado em direção
Ao que pensara ser uma amplidão
Não vendo uma resposta que convença,

Prossigo solitário cavaleiro,
Teimando com arcaico e vão tinteiro
Evitando porém a desavença...


MARCOS LOURES

MINHAS NOITES

Sobre as ondas navego em mar tranquilo
Deixando estas procelas para trás
A solidão traduz agora a paz,
No mundo que procuro então desfilo.

Ardis que tanto usei nada valendo
A morte da poesia; prenuncio
O espaço em que mergulho está vazio
Beleza se transforma num adendo.

E atento ao que acontece só me resta
Viver o tempo curto que inda sobra
Enquanto o sino ainda não se dobra

Imagem derradeira e tão funesta
Eu canto em liberdade, sem açoites
Dourando em fantasias minhas noites...


MARCOS LOURES

PESADELO

A noite em pesadelo, atribulada
Vencendo os mais complexos temporais
O barco se afastando de algum cais
A morte a cada instante anunciada.

A vida em tal terror já transformada
Diversos infinitos siderais
Vagando por caminhos infernais
Depois de tanta luta, resta o nada...

A sombra do que fomos; nos espreita
A lua sobre as nuvens se deleita
E guarda os raios prata, veste luto.

Assim ao despertar, a morte ronda
Nos lábios no vazio arranco a sonda
E contra a própria vida, a esmo luto...


MARCOS LOURES

AMIGA DERRADEIRA

Olhando para o céu sigo esgotado
Depois de ter lutado a vida inteira
Reluto e bebo as gotas do passado,
A morte minha amiga derradeira

Deitando mansamente do meu lado,
Estrela de minha alma, corriqueira,
O tempo se demora e maltratado
Não tenho mais sequer quem inda queira;

Vazio um pária segue nas sarjetas
Pensara ser apenas quais cometas
Que um dia voltarão; inútil sonho.

Do escuro que surgi; ao mesmo volto
Os trunfos que guardei; aos poucos solto
E o fim turvo e vazio, assim componho...

MARCOS LOURES

MORTALHA

Lutando contra o mar tão perigoso
As ondas entre ventos, tempestades,
Meu barco não suporta as novidades
Aderna sobre as ondas, caprichoso.

Aonde percebera qualquer gozo
Deveras não vislumbro as claridades,
Apenas me tomando falsidades
Mergulho no oceano vaporoso.

Dos gêiseres que tanto me aqueciam
Apenas as crateras e o vazio.
Os dias em poesia feneciam

Mortalha que inda trago pesando a alma,
Futuro de um poeta é tão sombrio,
A sorte traiçoeira, ainda acalma...


MARCOS LOURES

ANSIEDADE

Tomado por total ansiedade
Vencendo os dissabores mais frequentes
Os sonhos entre nuvens, penitentes
Apenas veredicto que se aguarde

Quisera ser mais crível liberdade
A faca carregando entre meus dentes
Momentos mais felizes são urgentes,
Somente a solidão fatal me invade.

Medonha criatura serpenteia
No mar que tantas vezes ancorei,
A sorte se envolvendo em tosca teia

Acasos refletindo o que julgara
Deveras depois disso, nada sei
Somente a morte em vida se declara...


MARCOS LOURES

LUCES

LUCES

Un verso hecho esperanza o mismo luces
Dejase en otro espacio el sufrimiento,
El canto en otro ritmo, manso aliento,
Al cuanto sin temor amor traduces,

Vestigios de una noble sensación
Son rastro que procuro en noche clara,
El sueño más sutil, en cuanto ampara
De blando amanecer, es traducción.

Vivir lo más sublime en todo instante,
Huyendo de la ruda tempestad,
Hacer camino en paz, tranquilidad,

Un paso sin temblores, tan constante.
Lecciones del pasado en el futuro,
Tornasen nuestro mundo más seguro…

MARCOS LOURES

TRILHAS

Vencido desde já um tosco espaço
Por onde perambulam almas vãs
Procuro pelas cores das manhãs
Vislumbro tão somente o meu cansaço.

E quando pelas nuvens inda passo
Espreito as alegrias vejo as cãs
O cais sonega a volta de amanhãs
Perdidos nesta noite; em que desfaço

Os nós que me atariam ao viver
E os crivos matariam cada sonho
Ainda que longínquo; não componho

Sequer uma ilusão, pois desprazer
Espalha pelo chão as armadilhas
Sonegando os caminhos onde trilhas...


MARCOS LOURES

EM PAZ

Não creio ser ditoso quem procura
A sorte em meio a vagas ilusões,
Por mais que se protelem soluções
A vida não trará mais esta alvura

Que um dia sonegando a noite escura
Mudara dos meus olhos direções
Tomando num segundo as amplidões
Forjando novo tempo em que a ternura

Pudesse desfiar belos matizes
Cegando os meus atrozes, vãos deslizes

Moldando um claro e raro amanhecer.
Mas sendo tão somente fantasia
A realidade clama e desafia,
Melhor é descansar e em paz morrer...


MARCOS LOURES

BATALHAS

Meu corpo entre os lençóis deveras lasso
Batalhas que diárias não descansam,
Enquanto estas palavras vãs se lançam,
Pergunto se valeu sequer um passo.

E quando o meu porvir, medonho traço
Os olhos sobre mim nunca se amansam,
Promessas abortadas já se avançam
E o tempo perde rumo e sem compasso

Num pendular tormento a vida plana
Manter a porta aberta, soberana
Não deixa algum momento em liberdade.

As velhas mariposas retornando
E o que pensara outrora fosse brando
Transforma-se em loucura e em vão me invade...

MARCOS LOURES

AVANTE

Seguindo sempre avante enfrento os mares
Teimoso capitão perdendo a nau
Naufrágios entre medos, rondas bares
O rito se mostrando sempre igual,

As velhas poesias seus luares
Moldando este momento triunfal
Aonde o desacerto é tão normal
Friáveis sentimentos são vulgares.

Não posso me deixar levar; contudo,
Embora solitário inda me iludo;
E teimo com meus versos mais ritmados

Soneto com tal veste esfarrapada
Não diz aos meus ouvidos quase nada
E os sonhos entre trevas enterrados...


MARCOS LOURES

A CADA PASSO

Firmando a cada passo mais os pés
Não deixo me levar pelos modismos,
Tampouco me exporei aos cataclismos,
Não quero nem algemas nem galés.

Apenas não suporto tal viés
Deixando a poesia sem batismos
Nem mesmo suportando novos sismos
Soneto merecendo rapapés.

Ourives sem as gemas não produz,
Agora escuridão sonega a luz
E o que era decassílabo se esgota.

Não tenho paciência para tanto,
O esgoto traduzindo desencanto
O terno entre bermudas se amarrota...


MARCOS LOURES

CORDILHEIRAS

Subindo ao mesmo instante em que meus versos
Alçaram cordilheiras entre os sonhos,
Mergulho nos abismos mais medonhos
E bebo dos sentidos tão diversos.

Seria o que talvez salvasse quem
Depois da tempestade nada teve,
O beijo mais atroz não se conteve,
Enquanto a madrugada fria vem

Eu traço os meus engodos entre as cores
E sei que a minha morte se aproxima,
Não sendo tão somente simples rima
Deixando para trás falsos amores.

Olhando este retrato amarelado
Entorno cada gota do passado...


MARCOS LOURES

OS RESTOS

Num salto sobre mim esta pantera
Expondo suas garras, firmes dentes,
Sangrantes ilusões, cruel espera
Os dias entre as ânsias são dementes

E quando se prepara ao bote, a fera
Em ritos tão macios e envolventes
Quais fossem os carinhos das serpentes
Atocaiado monstro; o medo gera.

E ao mesmo tempo traz tal sedução
Que entregue ao seu poder fico parado.
O bote com cuidado preparado,

O corpo destroçado cai ao chão,
E as aves rapineiras; calmos gestos,
Devoram com prazer enorme os restos...



MARCOS LOURES

TRANSTORNADA

Figura cambiante, transtornada
Vestida de ilusão finge pensar
Que ainda existe tempo pro luar
Não vê a morte exposta na calada.

O vento que pensara uma lufada
Terrível tempestade a se formar,
Os sonhos esquecidos nalgum bar
Durante o meu passado, madrugada.

Agora não consigo mais saber
Aonde se escondeu a estrela guia
Mortalha revestindo a poesia

Cansado de lutar e de viver.
Olhando para o espelho vejo em mim
As marcas tão profundas do meu fim...


MARCOS LOURES

AGÔNICA

A fera não se afasta e permanece
Olhando para mim, com mansidão,
Eu sei que no final devastação,
É como se defronte não houvesse

Um ser que tanta dor atroz padece
E muda vez em quando a direção,
Tentando algum alívio e solução,
Porém felina audaz não obedece.

Quem dera se de mim compadecida
Poupasse pelo menos minha vida,
Mas nada me permite imaginar

Outro final senão a morte agônica
Assim durante a vida, a mesma tônica
Atônito; não pude caminhar...


MARCOS LOURES

DESTROÇADO

Meu caminho tolhido pela dor
Que tanto me persegue e não me deixa
Ouvindo da esperança qualquer queixa
Quisera ser ainda um sonhador.

Mas tudo se passando desta forma,
Ausente da esperança; sigo só
Volvendo neste instante ao mesmo pó
Que a vida pouco a pouco já deforma.

A senda mais profícua; inda procuro
E vejo que talvez nada aconteça
Só peço: pelo amor de Deus me esqueça
Não posso suportar um chão tão duro.

Vergando sobre o peso do passado,
Apenas um momento destroçado...