sábado, 20 de março de 2010

À CAROLINA HOMENAGEANDO MACHADO DE ASSIS

A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Machado de Assis


1

“São pensamentos idos e vividos”
Que tanto traduzindo vida e morte,
Permitem cada alento que conforte,
Trazendo dias mortos e esquecidos.

Assiduamente sigo a cada dia
Imensos turbilhões, momentos vagos,
E neles percebendo calmos lagos
Ou forte e inquestionável ventania.

Porquanto nos ensina a vida assim,
Errando e consertando e novo engodo,
A chuva traz alento e trama o lodo,
Regando ou destruindo algum jardim.

Libertos caminheiros, prisioneiros,
Farsantes tanto quanto verdadeiros.


2


“Pensamentos de vida formulados,”
Gerando contra-sensos e verdades,
Por vezes sonegando realidades,
Momentos em tormentos disfarçados.

Alçamos nossos últimos segundos
Em luzes variáveis ou sombrias,
No todo que destróis ou que recrias
Se mostram universos, tantos mundos.

Cadenciando a vida passo a passo,
Moldando uma verdade questionável,
O solo muitas vezes mais arável,
Traduz este plantio que desfaço.

Somando os meus acertos, meus enganos,
Mudando a cada instante velhos planos.


3


“Que eu, se tenho nos olhos malferidos”
Ainda continue a caminhada
Sabendo quão diversa seja a estrada
E nela se percebem mil sentidos,

Partícipe da festa feita em vida,
Sonoras discrepâncias me permito,
E quando se percebe ser finito
O mundo preparando a despedida

Servindo como ponto início e fim,
O precipício aguarda este tropeço,
Quem dera se tivesse um recomeço,
Só sei que nada sei, nem de onde vim.

Aguarda-me o vazio? Eternidade?
A dúvida transcende à realidade.

4


“E ora mortos nos deixa e separados”
Os mais complexos passos rumo ao que?
No quanto tanto creio e o quanto vê
Medonhos os abismos já traçados.

A neve ultrapassando algum inverno,
Calor adentra insano o meu outono,
O rumo vez em quando eu abandono,
E quando veraneio, mais hiberno.

Estranhas decisões, errôneos traços,
Mergulhos em vazios, cataclismo,
Ainda sem destino teimo e cismo,
Por mais que os pensamentos morram lassos,

Ardentes ou tão gélidas montanhas,
Perfazem nesta vida, minhas sanhas...


5


“Da terra que nos viu passar unidos”
Sequer o pó carrego nos meus pés,
Aonde se previra outras galés,
Momentos mais felizes são urdidos.

Esqueço-me da dor quando me entranho
Nos antros mais vorazes do prazer,
Mas logo depois disso posso ver
O quanto se perdeu em pouco ganho.

Edênico ou hedônico, portanto,
Dicotomias traço em cada verso,
E sei que quanto mais em mim imerso,
Maior será decerto o desencanto.

Desertos que criei, árida imagem,
Oásis não passando de miragem?


6


“Trago-te flores, - restos arrancados”
Dos meus momentos vários de emoção,
E neles adivinho se verão
Meus olhos novamente meus enfados.

Acrescentando o nada ao nada ser,
Perpetuando em mim cada vazio,
E quando do passado me recrio,
Pereço um pouco mais, e posso crer

No quanto se faz frágil uma existência
Certezas que não tenho nem terei,
Talvez ainda creia numa lei
Aonde possa haver luz, penitência.

Assaz maravilhosa a vida passa,
Por mais que tênue seja, qual fumaça...


7

“E num recanto pôs um mundo inteiro”
Num átimo, um mergulho ou cordilheira,
Abismos que encontrei, quer ou não queira
Traduzem variedade do tinteiro.

E sinto ser audaz enquanto medro,
Nefastas as manhãs, claras as noites,
Carinhos se misturam com açoites,
Transporto uma nobreza feita em cedro.

E quando em disparada perco o rumo,
Mesquinho, muitas vezes, me abandono,
E tendo necessários paz e sono
Errôneo caminheiro; não assumo.

Perfaço com percalços, mas acerto,
Gerando dentro em mim, caos e deserto.


8


“Fez a nossa existência apetecida”
O sonhar fabuloso ou tanto inglório,
O quanto se fazendo em torpe empório
Aquilo que pensei moldasse a vida,

Esgotam-se os caminhos por si sós,
E vastas as planícies, charcos tantos,
Por vezes mais profusos desencantos,
E neles vejo insólitos tais nós.

Apedrejado ou mesmo apedrejando,
Seguindo num hermético vagar,
Bebendo cada raio do luar,
Volvendo ao meu início em contrabando.

Esparsos versos, veios tão diversos,
Dispersos os meus tantos universos...





9


“Que, a despeito de toda a humana lida,”
Jamais se poderia crer na sorte,
Que tanto amaldiçoe e nos conforte,
Porquanto em treva e luz se faz urdida.

Ascetas ou profanos navegantes,
Espúrias criaturas, sacrossantas,
Diversidades ditam cores tantas
E nelas as belezas deslumbrantes.

Fantasmas de nós mesmos recriamos,
E temos a certeza de um incerto
Caminho que nos leve longe ou perto,
Das imaginações, servos ou amos.

Temíveis feras; somos, ou pacíficos
Retratos distorcidos e magníficos...

10


“Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro”
Enquanto algum farsante sentimento
Trazendo tempestade ou mesmo alento,
Macabro por ser claro e corriqueiro.

Aspectos tão diversos deste prisma,
E nele incomparáveis maravilhas,
Porquanto se percebem armadilhas,
Uma alma sem destino ainda cisma.

E tento ver após o que não creio,
E creio no que tanto se sonega,
A vida sendo assim, imensa e cega,
Proclama a cada passo outro receio.

E vejo-me espelhando no vazio,
Que tanto quanto posso, desafio...


11


“Trazer-te o coração do companheiro”
Depois de navegar mares imensos,
Às vezes dias calmos, frios, tensos,
Entranham nos meus olhos, vou inteiro.

Acasos são comuns, mas a desdita
Percebe-se no quanto se reluta,
A vida não passando de uma luta,
Verdade não se cala, um dia grita.

Sufoca-me deveras a gravata,
Disfarço uma nudez em rico terno,
Preparo a cada passo um novo inferno
Sabendo quanto a sorte é tão ingrata.

A queda se anuncia e desta escada
Degrau após degrau desvendo o nada...

12

“Aqui venho e virei, pobre querida,”
Trazer qualquer alento, um lenitivo,
Das ânsias do viver eu sobrevivo,
Por mais que dolorida seja a vida.

E traço sobre traços mais distintos
Caminhos tão diversos, mesmo fim.
Por vezes um demônio ou querubim
Obedecendo à luz de meus instintos.

Adentrando os umbrais do que não vejo
Escrevo com penúria, dor e glória
Aos poucos o resumo de uma história
Marcada pelo anseio e por desejo.

Só sei que no final venço e vencido,
Somente dos meus pés, um ledo olvido.


13

“Em que descansas dessa longa vida”
Após as velhas curvas costumeiras,
As chuvas que tu bebes, derradeiras,
E nelas com certeza tudo acida.

O parto se refaz em nova esfera?
É tudo o que desejo, esteja certo,
Mas quando o meu caminho eu já deserto,
Aonde se escondeu a primavera?

Esgarçam-se momentos dia a dia,
E traço do vazio esta esperança
Na qual o amanhecer novo se lança,
E a morte eternamente já se adia.

Pudesse desvendar cada segredo,
Mas como, se deveras nunca cedo?


14


“Querida, ao pé do leito derradeiro”
Somando os meus enganos e tormentas,
Enquanto com palavras apascentas
Do fim ainda tento e não me esgueiro.

Escarpas que venci, quedas terríveis,
Imensos precipícios, cordilheiras,
Assim ao desfiar minhas bandeiras,
Os dias se mostrando em vários níveis.

O peso se alivia, mas quem dera
Se todo o caminhar se resumisse
No quanto a própria história já desdisse
Gerando a imensidão da amarga fera,

Aonde se funéreo fez caminho,
Eternizando ali, último ninho...

27289/90/91/92/93/94/95/96

27289

“E num recanto pôs um mundo inteiro”
Num átimo, um mergulho ou cordilheira,
Abismos que encontrei, quer ou não queira
Traduzem variedade do tinteiro.

E sinto ser audaz enquanto medro,
Nefastas as manhãs, claras as noites,
Carinhos se misturam com açoites,
Transporto uma nobreza feita em cedro.

E quando em disparada perco o rumo,
Mesquinho, muitas vezes, me abandono,
E tendo necessários paz e sono
Errôneo caminheiro; não assumo.

Perfaço com percalços, mas acerto,
Gerando dentro em mim, caos e deserto.


27290


“Fez a nossa existência apetecida”
O sonhar fabuloso ou tanto inglório,
O quanto se fazendo em torpe empório
Aquilo que pensei moldasse a vida,

Esgotam-se os caminhos por si sós,
E vastas as planícies, charcos tantos,
Por vezes mais profusos desencantos,
E neles vejo insólitos tais nós.

Apedrejado ou mesmo apedrejando,
Seguindo num hermético vagar,
Bebendo cada raio do luar,
Volvendo ao meu início em contrabando.

Esparsos versos, veios tão diversos,
Dispersos os meus tantos universos...





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“Que, a despeito de toda a humana lida,”
Jamais se poderia crer na sorte,
Que tanto amaldiçoe e nos conforte,
Porquanto em treva e luz se faz urdida.

Ascetas ou profanos navegantes,
Espúrias criaturas, sacrossantas,
Diversidades ditam cores tantas
E nelas as belezas deslumbrantes.

Fantasmas de nós mesmos recriamos,
E temos a certeza de um incerto
Caminho que nos leve longe ou perto,
Das imaginações, servos ou amos.

Temíveis feras; somos, ou pacíficos
Retratos distorcidos e magníficos...

27292


“Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro”
Enquanto algum farsante sentimento
Trazendo tempestade ou mesmo alento,
Macabro por ser claro e corriqueiro.

Aspectos tão diversos deste prisma,
E nele incomparáveis maravilhas,
Porquanto se percebem armadilhas,
Uma alma sem destino ainda cisma.

E tento ver após o que não creio,
E creio no que tanto se sonega,
A vida sendo assim, imensa e cega,
Proclama a cada passo outro receio.

E vejo-me espelhando no vazio,
Que tanto quanto posso, desafio...


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“Trazer-te o coração do companheiro”
Depois de navegar mares imensos,
Às vezes dias calmos, frios, tensos,
Entranham nos meus olhos, vou inteiro.

Acasos são comuns, mas a desdita
Percebe-se no quanto se reluta,
A vida não passando de uma luta,
Verdade não se cala, um dia grita.

Sufoca-me deveras a gravata,
Disfarço uma nudez em rico terno,
Preparo a cada passo um novo inferno
Sabendo quanto a sorte é tão ingrata.

A queda se anuncia e desta escada
Degrau após degrau desvendo o nada...

27294

“Aqui venho e virei, pobre querida,”
Trazer qualquer alento, um lenitivo,
Das ânsias do viver eu sobrevivo,
Por mais que dolorida seja a vida.

E traço sobre traços mais distintos
Caminhos tão diversos, mesmo fim.
Por vezes um demônio ou querubim
Obedecendo à luz de meus instintos.

Adentrando os umbrais do que não vejo
Escrevo com penúria, dor e glória
Aos poucos o resumo de uma história
Marcada pelo anseio e por desejo.

Só sei que no final venço e vencido,
Somente dos meus pés, um ledo olvido.


27295

“Em que descansas dessa longa vida”
Após as velhas curvas costumeiras,
As chuvas que tu bebes, derradeiras,
E nelas com certeza tudo acida.

O parto se refaz em nova esfera?
É tudo o que desejo, esteja certo,
Mas quando o meu caminho eu já deserto,
Aonde se escondeu a primavera?

Esgarçam-se momentos dia a dia,
E traço do vazio esta esperança
Na qual o amanhecer novo se lança,
E a morte eternamente já se adia.

Pudesse desvendar cada segredo,
Mas como, se deveras nunca cedo?


27296


“Querida, ao pé do leito derradeiro”
Somando os meus enganos e tormentas,
Enquanto com palavras apascentas
Do fim ainda tento e não me esgueiro.

Escarpas que venci, quedas terríveis,
Imensos precipícios, cordilheiras,
Assim ao desfiar minhas bandeiras,
Os dias se mostrando em vários níveis.

O peso se alivia, mas quem dera
Se todo o caminhar se resumisse
No quanto a própria história já desdisse
Gerando a imensidão da amarga fera,

Aonde se funéreo fez caminho,
Eternizando ali, último ninho...

27283/84/85/86/87/88

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“São pensamentos idos e vividos”
Que tanto traduzindo vida e morte,
Permitem cada alento que conforte,
Trazendo dias mortos e esquecidos.

Assiduamente sigo a cada dia
Imensos turbilhões, momentos vagos,
E neles percebendo calmos lagos
Ou forte e inquestionável ventania.

Porquanto nos ensina a vida assim,
Errando e consertando e novo engodo,
A chuva traz alento e trama o lodo,
Regando ou destruindo algum jardim.

Libertos caminheiros, prisioneiros,
Farsantes tanto quanto verdadeiros.


27284


“Pensamentos de vida formulados,”
Gerando contra-sensos e verdades,
Por vezes sonegando realidades,
Momentos em tormentos disfarçados.

Alçamos nossos últimos segundos
Em luzes variáveis ou sombrias,
No todo que destróis ou que recrias
Se mostram universos, tantos mundos.

Cadenciando a vida passo a passo,
Moldando uma verdade questionável,
O solo muitas vezes mais arável,
Traduz este plantio que desfaço.

Somando os meus acertos, meus enganos,
Mudando a cada instante velhos planos.


27285


“Que eu, se tenho nos olhos malferidos”
Ainda continue a caminhada
Sabendo quão diversa seja a estrada
E nela se percebem mil sentidos,

Partícipe da festa feita em vida,
Sonoras discrepâncias me permito,
E quando se percebe ser finito
O mundo preparando a despedida

Servindo como ponto início e fim,
O precipício aguarda este tropeço,
Quem dera se tivesse um recomeço,
Só sei que nada sei, nem de onde vim.

Aguarda-me o vazio? Eternidade?
A dúvida transcende à realidade.

27286


“E ora mortos nos deixa e separados”
Os mais complexos passos rumo ao que?
No quanto tanto creio e o quanto vê
Medonhos os abismos já traçados.

A neve ultrapassando algum inverno,
Calor adentra insano o meu outono,
O rumo vez em quando eu abandono,
E quando veraneio, mais hiberno.

Estranhas decisões, errôneos traços,
Mergulhos em vazios, cataclismo,
Ainda sem destino teimo e cismo,
Por mais que os pensamentos morram lassos,

Ardentes ou tão gélidas montanhas,
Perfazem nesta vida, minhas sanhas...


27287


“Da terra que nos viu passar unidos”
Sequer o pó carrego nos meus pés,
Aonde se previra outras galés,
Momentos mais felizes são urdidos.

Esqueço-me da dor quando me entranho
Nos antros mais vorazes do prazer,
Mas logo depois disso posso ver
O quanto se perdeu em pouco ganho.

Edênico ou hedônico, portanto,
Dicotomias traço em cada verso,
E sei que quanto mais em mim imerso,
Maior será decerto o desencanto.

Desertos que criei, árida imagem,
Oásis não passando de miragem?


27288


“Trago-te flores, - restos arrancados”
Dos meus momentos vários de emoção,
E neles adivinho se verão
Meus olhos novamente meus enfados.

Acrescentando o nada ao nada ser,
Perpetuando em mim cada vazio,
E quando do passado me recrio,
Pereço um pouco mais, e posso crer

No quanto se faz frágil uma existência
Certezas que não tenho nem terei,
Talvez ainda creia numa lei
Aonde possa haver luz, penitência.

Assaz maravilhosa a vida passa,
Por mais que tênue seja, qual fumaça...
AOS SIMPLES
Ó almas que viveis puras, imaculadas,
Na torre de luar da graça e da ilusão,
Vós que inda conservais, intactas, perfumadas,
As rosas para nós há tanto desfolhadas
Na aridez sepulcral do nosso coração;
Almas, filhas da luz das manhãs harmoniosas,
Da luz que acorda o berço e que entreabre as rosas,
Da luz, olhar de Deus, da luz, benção d'amor,
Que faz rir um nectário ao pé de cada abelha,
E faz cantar um ninho ao pé de cada flor;
Almas, onde resplende, almas onde se espelha
A candura inocente e a bondade cristã,
Como um céu d'Abril o arco da aliança,
Como num lago azul a estrela da manhã;
Almas, urnas de fé, de caridade e esp'rança,
Vasos d'ouro contendo aberto um lírio santo,
Um lírio imorredouro, um lírio alabastrino,
Que os anjos do Senhor vêm orvalhar com pranto,
E a piedade florir com seu clarão divino;
Almas que atravessais o lodo da existência,
Este lodo perverso, iníquo, envenenado,
Levando sobre a fonte o esplendor da inocência,
Calcando sob os pés o dragão do pecado;
Benditas sejas vós, almas que est'alma adora,
Almas cheias de paz, humildade e alegria,
Para quem a consciência é o sol de toda a hora,
Para quem a virtude é o pão de cada dia!
Sois como a luz que doura as pedras dum monturo,
Ficando sempre branca a sorrir e a cantar;
E tudo quanto a mim há de belo ou de puro,
- Desde a esmola que dou à prece que eu murmuro
É vosso: fostes vós o meu primeiro altar,
Lá da minha distante e encantadora infância,
Desse ninho d'amor e saudade sem fim,
Chega-me ainda a vossa angélica fragância
Como uma harpa eólia a cantar a distância,
Como um véu branco ao longe inda a acenar por mim!
...............................................................................
...............................................................................
Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além, por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!
...................................................................]
...................................................................
A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira,
mo junto dum leão um sorriso divino,
Como sobre uma for um ramo de oliveira!
* * *
Ó crentes, como vós, no íntimo do peito
Abrigo a mesma crença e guardo o mesmo ideal.
O horizonte é infinito e o olhar humano é estreito:
Creio que Deus é eterno e que a alma é imortal.
Toda a alma é clarão e todo o corpo é lama.
Quando a lama apodrece inda o clarão cintila:
Tirai o corpo - e fica uma língua de chama
Tirai a alma - e resta um fragmento d'argila.
E para onde vai esse clarão? Mistério
Não sei Mas sei que sempre há-de arder e brilhar,
Quer tivesse incendiado o crânio de Tibério,
Quer tivesse aureolado a fronte de Joana d'Arc.
Sim, creio que depois do derradeiro sono
Há-de haver uma treva e há-de haver uma luz
Para o vício que morre ovante sobre um trono,
Para o santo que expira inerme numa cruz.
Tenho uma crença firme, uma crença robusta,
Num Deus que há-de guardar por sua própria mão
Numa jaula de ferro a alma de Locusta,
Num relicário d'ouro a alma de Platão.
Mas também acredito, embora isso vos pese,
E me julgueis talvez o maior dos ateus,
Que no Universo inteiro ha uma só diocese
E uma só catedral com um só bispo - Deus.
E muito embora a vossa igreja se contriste
E a excomunhão papal nos abrase e destrua,
A análise é feroz como uma lança em riste
E a verdade cruel como uma espada nua,
Cultos, religiões, bíblias, dogmas, assombros,
São como a cinza vã que sepultou Pompeia.
Exumemos a fé desse montão de escombros,
Desentulhemos Deus dessa aluvião de areia.
E um dia a humanidade inteira, oceano em calma,
Há-de fazer, na mesma aspiração reunida,
Da razão e da fé os dois olhos da alma,
Da verdade e da crença os dois pólos da vida.
A crença é como o luar que nas trevas flutua;
A razão é do Céu o esplêndido farol:
Para a noite da morte é que Deus nos deu Lua
Para o dia da vida é que Deus fez o Sol.
* * *
Mas, ai!, eu compreendo os martírios secretos
Do pobre camponês, já quase secular,
Que vê tombar por terra o seu ninho de afectos,
A casa onde nasceu o pai, e onde seus netos
Lhe fechariam, morto, o escurecido olhar.
Compreendo o pavor e a lividez tremente
De quem em noite má, caliginosa e fria
Atravessa a montanha à luz de um facho ardente
E uma rajada vem alucinadamente
Apagar-lho com asa atlética e sombria,
Deixando-o fulminado e quase sem sentidos
A ouvir o ulular das feras e os bramidos
Do ciclone, que explui rouco do sorvedouro,
E se enrosca furioso aos plátanos partidos
A estrangulá-los como uma jibóia um touro.
Compreendo a agonia, o desespero insano
Do náufrago na rocha, entre o abismo do oceano,
Vendo rolar, rugir os glaucos vagalhões
Como uma cordilheira hercúlea de montanhas,
Com jaulas colossais de bronze nas entranhas,
E um domador lá dentro a chicotear trovões.
........................................................................
........................................................................
O vosso facho, o vosso abrigo, o vosso porto,
É umDeus que para nós há muito que está morto,
E que inda imaginais no entanto imortal.
Vivei e adormecei nessa crença ilusória,
Já não podeis transpor os mil anos da história
Que vão do vosso credo absurdo ao nosso ideal.
Vivei e adormecei nessa ilusão sagrada,
Fitando até morrer os olhos de Jesus,
Como o efémero vão que dura um quase nada,
Que nasce de manhã num raio de alvorada,
E expira ao pôr do Sol noutro raio de luz.
Eu bem sei que essa crença ignorante e sincera,
Não é a que ilumina as bandas do Porvir.
Mas vós sois o Passado, e a crença é como a hera
Que sustenta e dá ainda um ar de Primavera
Aos velhos torreões góticos a cair.
Sim, essa crença é um erro, uma ilusão, é certo;
Mas triste de quem vai pelo areal deserto
Vagabundo, esfomeado e nu como Caim,
Sem nunca ver ao longe os palácios radiantes
Duma cidade d'ouro e mármore e diamantes
No quimérico azul dessa amplidão sem fim!
Quem há-de arrancar pois do seu piedoso engaste
O vosso ingénuo ideal, ó trémulos velhinhos,
Se a quimera é uma rosa e a existência uma haste,
Rosa cheia d'aroma e haste cheia de espinhos!
Quem vos há-de cortar a flor da vossa esp'rança,
Quem vos há-de apagar a angélica visão,
Se essa luz para vós é como uma criança
Que guia numa estrada um cego pela mão!
Quem vos há-de acordar desse sonho encantado?!
Quem vos há-de mostrar a evidência cruel?!
Ah!, deixemos a ave ao ramo já quebrado,
E deixemos fazer ao enxame dourado
No tronco que está morto o seu favo de mel!
Ó velhos aldeões, exaustos de fadiga,
Que andais de sol a sol na terra a mourejar,
Roubar-vos de voss'alma a vossa crença antiga
Seria como quem roubasse a uma mendiga
As três achas que leva à noite para o lar!
Oh, não! Guardai-a bem essa crença d'outrora;
É ela quem vos dá a paz benigna e santa,
Como a paz dum vergel inundado d'aurora,
Onde o trabalho ri e onde a miséria canta.
Guardai-a, sim, guardai! E quando a morte em breve
Vos entre na choupana esquálida e feroz,
A agonia será bem rápida e leve,
Porque um anjo de Deus, mais alvo que a neve,
Há-de estender sorrindo as asas sobre vós.
E vós conhecereis em seu olhar materno
Que é o anjo que embalou vosso sono infantil
E que hoje vem do Céu mandado pelo Eterno
Para sorrir na morte ao vosso branco Inverno,
Como sorriu no berço ao vosso claro Abril.
E ao pender-vos gelada a fronte alabastrina
Irá levar a Deus o vosso coração
Tão manso e virginal, tão novo e tão perfeito,
Que Deus há-de beijá-lo e aquecê-lo ao peito,
Como se acaso fosse uma pomba divina,
Que viesse cair-lhe, exânime, na mão!


(Guerra Junqueiro)

27282

“Hei de morrer de amar mais do que pude”
Além do que talvez imaginasse,
Vencendo sem temor qualquer impasse
Ainda enquanto a vida tudo mude.

Amar sem ter limites, plenamente,
Vivendo sem temor cada momento,
E mesmo quando enfim, pressentimento
Da morte se mostrar em minha mente,

O amor transcenda ao medo e me permita
Sentir cada emoção, a derradeira,
Além do que talvez ainda queira,
Calando qualquer dor, qualquer desdita.

Amar e ter no amor a redenção
Eternizando em nós raro verão.

SOBRE VERSO DE VINÍCIUS DE MORAES

Soneto Italiano HOMENAGEM A MANUEL BANDEIRA

Soneto Italiano

Frescuras das sereias e do orvalho,
Graça dos brancos pes dos pequeninos,
Voz das anhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:

De quem me valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinza que em pranto ao vento espalho?

Também te vi chorar... Também sofreste
A dor de ver secarem pela estrada
As fontes da esperança... E não cedeste!

Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo - à vida, que nunca te deu nada!

Manuel Bandeira




1


“Tudo - à vida, que nunca te deu nada”
Tu deste sem pensar um só segundo
E quando nos teus passos me aprofundo
A sorte sem igual é vislumbrada.

Assim como se adentra em fantasias
Diversas noites; galga o pensamento
E nele ao mesmo tempo me atormento
Enquanto realidades várias crias.

A vida muitas vezes traiçoeira
Permite queda após queda e, portanto
Mesmo quando diverso seja o canto,
Não sigo fielmente uma bandeira.

Apraza-me saber diversidade
E nela se conclui realidade.

2

“Soubeste dar à vida, em que morreste,”
Um ar de soberana maravilha,
E quando ao longe estrela imensa brilha
Aonde outrora vira cena agreste

Encontro-te deveras nesta estrela
Luzindo eternamente em tal fulgor,
Do quanto em vida foste tradutor
De insofismável luz; como é bom vê-la!

Os olhos no horizonte percebendo
Incontestável fonte que me sacia,
E ao se mostrar gigante, traz ao dia
Um ar inquestionável e estupendo.

Assisto ao espetáculo divino,
Revendo-te estrelar, eu me fascino...


3


“Antes, pobre, despida e trespassada,”
Agora emoldurada em luz superna,
O quanto deste brilho já se externa
Tornando qualquer noite enluarada.

Houvesse mais caminhos como o teu
O mundo com certeza, bem melhor,
Lições que me ensinaste e sei de cor,
Dourando intensamente escuro breu.

E quando se desnuda em belas sendas,
Por sobre cordilheiras, soberana,
Tua presença etérea tanto ufana
Sublimes fantasias que desvendas.

Tu és e sempre foste além da vida,
A estrela pelos céus, em paz, ungida.

4

“As fontes da esperança... E não cedeste”
Às tentações diversas que poluem
E quando as maravilhas se diluem
O solo se transforma em tom agreste.

Apego-me aos teus passos, velha amiga,
E bebo cada gota que espalhaste,
A vida com o medo diz contraste
Ao ter quem nos acolhe e nos abriga.

Sensíveis emoções, doces promessas
E nelas se traduz um dia claro,
O quanto te querendo ora declaro
Diversas alegrias me confessas.

E sendo um escudeiro mais fiel,
Contigo vejo próximo, meu céu.

5

“A dor de ver secarem pela estrada”
As flores que espalhamos no passado,
Sabendo do futuro destroçado
E após tanta batalha, ver o nada.

À parte, não podemos desistir
Seguindo contra a força das marés,
Jamais suportaremos as galés,
A liberdade estampa este porvir.

E quando se embrenhasse em nós a dor,
Tomados pela fúria e rebeldia,
Talvez não percebêssemos que o dia
Renova-se em momentos de calor.

Fulguras sobre todos os caminhos,
Traçamos no infinito nossos ninhos...


6


“Também te vi chorar... Também sofreste”
E neste sofrimento percebi
O quão maravilhoso existe em ti,
Sabendo que a verdade; conheceste.

Apego-me aos tormentos, vez em quando,
E neles aprendendo dia a dia,
Da dor a liberdade ora se cria,
Mesmo se o sonho, eu vejo desabando.

Aprende-se a viver com cada queda,
A mansidão se aprende enquanto ensina
Deveras mui complexa nossa sina
Caminho que se abrindo já se veda.

E o pêndulo da vida, fabuloso,
Transforma uma tortura em pleno gozo.


7


“Feitos cinza que em pranto ao vento espalho,”
Os cantos muitas vezes tão dispersos,
Vagando por extensos universos,
Ao mesmo tempo eu sei o quanto é falho

O passo em contradança e contrafeito,
Escuto do vazio, cada voz
E nelas percebendo algum algoz
Do todo este pedaço sendo feito.

Mergulho nas insânias e demências
E nelas bebo a luz que a poesia
Por vezes, com fulgor tanto irradia
Gerando mesmo em tais incoerências.

A carga do viver nos atormenta,
Pois a alma sem limites é sedenta...

8


“Em que arderam meus sonhos cristalinos”
Momentos tão diversos quanto extremos,
E tendo em minhas mãos, prováveis remos,
Não sei se ainda creio nos destinos.

Anseios se transformam no vazio,
Ou mera fantasia realiza
Da tempestade imensa à branda brisa,
Porquanto cada engano eu mesmo crio.

Somando as provisões no meu farnel
Por vezes permaneço insaciável,
Aonde poderia ser palpável
Diversidade expressa amargo e mel.

À cântaros chovendo vez em quando,
Aprendo muito mais se me enganando...


9


“De ti, que tens a chave dos destinos”
E sabes comandar a minha vida,
Enquanto se prepara a despedida,
Dobrando num momento tantos sinos.

Esgueiro-me deveras, mas não creio
Possível libertar-me, pois em ti
Além do que deveras eu vivi
Singrando mesmo quando estou alheio.

Tu és a redenção e o desalento,
Medonhas emoções, vagos sentidos,
Caminhos que percorro decidido
Levados ao sabor do insano vento.

Dos acertos e enganos as lições,
Que agora como sempre tu me expões.


10


“De quem me valerei, se não me valho”
Nem mesmo desta imensa aprendizagem,
Mudando com constância tal paisagem
Seguindo vez em quando algum atalho.

Errático cometa; nada sei
Somente o que talvez ainda queira,
Realidade é sempre passageira,
Diversidade dita a mesma grei.

E tendo vastidões dentro de mim,
Acerco-me dos medos, fantasias,
Por onde tantas vezes me desvias,
Agruras entre flores, meu jardim.

A carga do saber não me apetece,
Minha alma a cada não rejuvenesce..

11


“Rosa mais alta no mais alto galho”
Esplendorosa imagem que traduz
Intensa claridade em farta luz,
Somando cada corte que amealho.

Vassalo de algum sonho; assim prossigo
E teimo contra tantas ilusões,
Mas quando o meu caminho recompões,
Vislumbro no final, crime e castigo.

A porta se entreabrindo me permite
Saber do quanto existe ou nada tem,
Por vezes tanta luz em ti contém,
Jamais se respeitando algum limite.

Floresces num canteiro, fabulosa,
Diversa e tão fantástica, uma rosa.


12


“Voz das manhãs cantando pelos sinos”
Adentrando os distantes lares, traz
Ao mesmo tempo a dor, angústia ou paz,
Trazendo ritos fúnebres, divinos.

Missais e funerais, velórios, dores,
Porém com euforia noutros cantos,
Traduz por vezes dias belos, santos
E nela se compõe fartos louvores.

Assim se faz a vida, dor e luz,
No repicar dos sinos, a verdade,
Transporta a festa, o medo ou a saudade
Cenário mais fiel se reproduz.

A voz dos sinos trama uma existência,
Da glória a mais terrível penitência...

13


“Graça dos brancos pés dos pequeninos,”
Libertos pelas ruas e calçadas,
Esperanças diversas desfraldadas
Singelos caminhares mais ladinos.

Poder de uma inocência que transforma
Talvez redima toda a humanidade,
Mas quando o mundo atroz, feroz invade,
Ditando insensatez, terrível norma,

Da Graça se perdendo dia a dia
Até se perceber crua faceta,
Depois quando senil; cada cometa
Retorna à mansidão e se recria.

Extremos que se tocam; vida e morte,
E neles a esperança tem aporte.


14



“Frescuras das sereias e do orvalho,”
Traduzem o mais belo amanhecer
Na praia o sol num raro incandescer
Areia transformada em assoalho.

Imagens tão sublimes, mansidão.
E nelas ao tecer um novo quadro,
Aonde com prazer quero e me enquadro,
Sabendo das belezas do verão.

Esqueço vez em quando o duro inverno
Que se prepara agora para mim,
Primaveril delírio num jardim,
Outono do viver onde me interno.

Na cíclica vereda que se invade,
Da estrela que seremos: claridade!

27277/78/79/80/81

27277

“De quem me valerei, se não me valho”
Nem mesmo desta imensa aprendizagem,
Mudando com constância tal paisagem
Seguindo vez em quando algum atalho.

Errático cometa; nada sei
Somente o que talvez ainda queira,
Realidade é sempre passageira,
Diversidade dita a mesma grei.

E tendo vastidões dentro de mim,
Acerco-me dos medos, fantasias,
Por onde tantas vezes me desvias,
Agruras entre flores, meu jardim.

A carga do saber não me apetece,
Minha alma a cada não rejuvenesce..

27278


“Rosa mais alta no mais alto galho”
Esplendorosa imagem que traduz
Intensa claridade em farta luz,
Somando cada corte que amealho.

Vassalo de algum sonho; assim prossigo
E teimo contra tantas ilusões,
Mas quando o meu caminho recompões,
Vislumbro no final, crime e castigo.

A porta se entreabrindo me permite
Saber do quanto existe ou nada tem,
Por vezes tanta luz em ti contém,
Jamais se respeitando algum limite.

Floresces num canteiro, fabulosa,
Diversa e tão fantástica, uma rosa.


27279


“Voz das manhãs cantando pelos sinos”
Adentrando os distantes lares, traz
Ao mesmo tempo a dor, angústia ou paz,
Trazendo ritos fúnebres, divinos.

Missais e funerais, velórios, dores,
Porém com euforia noutros cantos,
Traduz por vezes dias belos, santos
E nela se compõe fartos louvores.

Assim se faz a vida, dor e luz,
No repicar dos sinos, a verdade,
Transporta a festa, o medo ou a saudade
Cenário mais fiel se reproduz.

A voz dos sinos trama uma existência,
Da glória a mais terrível penitência...

27280


“Graça dos brancos pés dos pequeninos,”
Libertos pelas ruas e calçadas,
Esperanças diversas desfraldadas
Singelos caminhares mais ladinos.

Poder de uma inocência que transforma
Talvez redima toda a humanidade,
Mas quando o mundo atroz, feroz invade,
Ditando insensatez, terrível norma,

Da Graça se perdendo dia a dia
Até se perceber crua faceta,
Depois quando senil; cada cometa
Retorna à mansidão e se recria.

Extremos que se tocam; vida e morte,
E neles a esperança tem aporte.


27281



“Frescuras das sereias e do orvalho,”
Traduzem o mais belo amanhecer
Na praia o sol num raro incandescer
Areia transformada em assoalho.

Imagens tão sublimes, mansidão.
E nelas ao tecer um novo quadro,
Aonde com prazer quero e me enquadro,
Sabendo das belezas do verão.

Esqueço vez em quando o duro inverno
Que se prepara agora para mim,
Primaveril delírio num jardim,
Outono do viver onde me interno.

Na cíclica vereda que se invade,
Da estrela que seremos: claridade!

27271/72/73/74/75/76

27271

“As fontes da esperança... E não cedeste”
Às tentações diversas que poluem
E quando as maravilhas se diluem
O solo se transforma em tom agreste.

Apego-me aos teus passos, velha amiga,
E bebo cada gota que espalhaste,
A vida com o medo diz contraste
Ao ter quem nos acolhe e nos abriga.

Sensíveis emoções, doces promessas
E nelas se traduz um dia claro,
O quanto te querendo ora declaro
Diversas alegrias me confessas.

E sendo um escudeiro mais fiel,
Contigo vejo próximo, meu céu.

27272

“A dor de ver secarem pela estrada”
As flores que espalhamos no passado,
Sabendo do futuro destroçado
E após tanta batalha, ver o nada.

À parte, não podemos desistir
Seguindo contra a força das marés,
Jamais suportaremos as galés,
A liberdade estampa este porvir.

E quando se embrenhasse em nós a dor,
Tomados pela fúria e rebeldia,
Talvez não percebêssemos que o dia
Renova-se em momentos de calor.

Fulguras sobre todos os caminhos,
Traçamos no infinito nossos ninhos...


27273


“Também te vi chorar... Também sofreste”
E neste sofrimento percebi
O quão maravilhoso existe em ti,
Sabendo que a verdade; conheceste.

Apego-me aos tormentos, vez em quando,
E neles aprendendo dia a dia,
Da dor a liberdade ora se cria,
Mesmo se o sonho, eu vejo desabando.

Aprende-se a viver com cada queda,
A mansidão se aprende enquanto ensina
Deveras mui complexa nossa sina
Caminho que se abrindo já se veda.

E o pêndulo da vida, fabuloso,
Transforma uma tortura em pleno gozo.



27274


“Feitos cinza que em pranto ao vento espalho,”
Os cantos muitas vezes tão dispersos,
Vagando por extensos universos,
Ao mesmo tempo eu sei o quanto é falho

O passo em contradança e contrafeito,
Escuto do vazio, cada voz
E nelas percebendo algum algoz
Do todo este pedaço sendo feito.

Mergulho nas insânias e demências
E nelas bebo a luz que a poesia
Por vezes, com fulgor tanto irradia
Gerando mesmo em tais incoerências.

A carga do viver nos atormenta,
Pois a alma sem limites é sedenta...

27275


“Em que arderam meus sonhos cristalinos”
Momentos tão diversos quanto extremos,
E tendo em minhas mãos, prováveis remos,
Não sei se ainda creio nos destinos.

Anseios se transformam no vazio,
Ou mera fantasia realiza
Da tempestade imensa à branda brisa,
Porquanto cada engano eu mesmo crio.

Somando as provisões no meu farnel
Por vezes permaneço insaciável,
Aonde poderia ser palpável
Diversidade expressa amargo e mel.

À cântaros chovendo vez em quando,
Aprendo muito mais se me enganando...


27276


“De ti, que tens a chave dos destinos”
E sabes comandar a minha vida,
Enquanto se prepara a despedida,
Dobrando num momento tantos sinos.

Esgueiro-me deveras, mas não creio
Possível libertar-me, pois em ti
Além do que deveras eu vivi
Singrando mesmo quando estou alheio.

Tu és a redenção e o desalento,
Medonhas emoções, vagos sentidos,
Caminhos que percorro decidido
Levados ao sabor do insano vento.

Dos acertos e enganos as lições,
Que agora como sempre tu me expões.

27268/69/70

27268


“Tudo - à vida, que nunca te deu nada”
Tu deste sem pensar um só segundo
E quando nos teus passos me aprofundo
A sorte sem igual é vislumbrada.

Assim como se adentra em fantasias
Diversas noites; galga o pensamento
E nele ao mesmo tempo me atormento
Enquanto realidades várias crias.

A vida muitas vezes traiçoeira
Permite queda após queda e, portanto
Mesmo quando diverso seja o canto,
Não sigo fielmente uma bandeira.

Apraza-me saber diversidade
E nela se conclui realidade.

27269

“Soubeste dar à vida, em que morreste,”
Um ar de soberana maravilha,
E quando ao longe estrela imensa brilha
Aonde outrora vira cena agreste

Encontro-te deveras nesta estrela
Luzindo eternamente em tal fulgor,
Do quanto em vida foste tradutor
De insofismável luz; como é bom vê-la!

Os olhos no horizonte percebendo
Incontestável fonte que me sacia,
E ao se mostrar gigante, traz ao dia
Um ar inquestionável e estupendo.

Assisto ao espetáculo divino,
Revendo-te estrelar, eu me fascino...


27270


“Antes, pobre, despida e trespassada,”
Agora emoldurada em luz superna,
O quanto deste brilho já se externa
Tornando qualquer noite enluarada.

Houvesse mais caminhos como o teu
O mundo com certeza, bem melhor,
Lições que me ensinaste e sei de cor,
Dourando intensamente escuro breu.

E quando se desnuda em belas sendas,
Por sobre cordilheiras, soberana,
Tua presença etérea tanto ufana
Sublimes fantasias que desvendas.

Tu és e sempre foste além da vida,
A estrela pelos céus, em paz, ungida.

As Artes São Irmãs HOMENAGEM A GONÇALVES DIAS

As artes são irmãs, e os seus cultores
Do fogo criador nas mesmas chamas,
Perante o mesmo altar, coroam-se, ardendo.
A mesma inspiração, que acende o estro,
Guia a mão do pintor quando debuxa
Do rosto nas feições o brilho interno,
Dá linguagem sublime à estátua muda,
Ou lânguida na lira se transforma
Em sons cadentes, que derramam n'alma
Idéias do prazer — do mal no olvido!
O mesmo entusiasmo as vivifica,
São iguais, são irmãs no amor do belo!

1

“São iguais, são irmãs no amor do belo!”
As Musas que me inspiram em meus versos,
Sentidos muitas vezes tão diversos,
Mas neles sentimentos eu revelo.

Melodias que chegam do passado,
Momentos que vivi, outros nem tanto,
Mas quando com ternura, em tento e canto,
Algum pedaço meu é revelado.

Os sonhos se traduzem por vontades,
Às vezes saciáveis, noutras não,
Porém eles deveras mostrarão
As sombras de prováveis realidades.

Assim do imaginário eu posso ver
Um pouco do que existe no meu ser.


2


“O mesmo entusiasmo as vivifica,”
Vontades e querências recolhidas
Durante as várias faces, tantas vidas
Aonde o pensamento se edifica.

Variantes entre tantos pensamentos,
Sentidos mais dispersos, suas somas
Permite este mosaico aonde tomas
As tuas decisões; dores e alentos.

Te entregando sem medo aos temporais
Verás neles lições para o que resta
Da vida mesmo quando mais funesta
Navegação ensina onde há um cais.

Assim nas discrepâncias se concebe
O ser que em ti agora se percebe.


3


“Idéias do prazer — do mal no olvido”
Enquanto a dor se torna mais presente,
Assim quando do gozo a vida ausente
Permite imaginar-se tão sofrido.

Mas quando uma alegria nos invade,
Decerto se esquecendo pouco após,
O rio se perdendo noutra foz,
Lembramos do que fora tempestade.

Não deixe que isto faça com que tudo
Pareça bem diverso, noutro fato,
Se em dores tão somente eu me retrato,
Deveras, sobre a vida eu já me iludo.

Caminho sobre brasas; sei das dores,
Mas também sei colher, da vida, flores...

4


“Em sons cadentes, que derramam n'alma”
Encontro uma real satisfação,
Vivendo claramente uma estação,
Realidade dói? Também acalma.

As cores de um outono, invernal frio,
Primaveril beleza, imenso sol,
O quanto se transforma este arrebol,
É como perceber um desafio.

Envelhecer com arte e galhardia,
Saber da mocidade com fulgor,
Matizes tão diversos de um amor,
Que a cada novo tempo, sempre guia.

E ter uma certeza nesta vida
Cada etapa terá que ser cumprida.


5


“Ou lânguida na lira se transforma”,
Ou trágica se faz a cada passo,
O quanto muitas vezes me desfaço,
Impede que se tenha a mesma forma.

Dicotomias trago em cada passo,
E nelas a melhor das decisões
Por vezes bem diversa do que expões,
Nem sempre o melhor rumo, ainda traço.

E vivo sem temer as tempestades,
Nefastas? Muitas vezes redentoras,
As horas mais doídas, sofredoras
Aquelas que nos dizem mais verdades.

Servindo de repasto para a dor,
Um novo amanhecer saber propor...

6


“Dá linguagem sublime à estátua muda,”
Cada momento aonde se entregando
Não sei se em temporal ou ar mais brando,
O tempo tão instável se transmuda.

E quando aprendo dele sem terrores
Amadureço em mim a própria morte,
E nela algum descanso que conforte
No renovar da vida, risos, dores.

Existo e sei que basta esta existência,
Se dela eu perceber quem mesmo sou,
Já sei qual o destino pr’onde vou,
O fim é do começo, a conseqüência.

Renova-se destarte eternidade
Gerando com fulgor, diversidade...


7



“Do rosto nas feições o brilho interno,”
Diverso do que às vezes se aparenta,
Aonde se diz paz é violenta
E aonde se diz glória, pleno inferno.

Somar as nossas tantas variantes,
Seguir por vezes mitos ledos, falsos,
Comuns na caminhada tais percalços,
Mudamos nosso rumo por instantes.

E quando se aproxima o fim da história,
O quanto nós já fomos, padecemos,
Permite ao marinheiro tantos remos,
Ou traçando uma linha merencória.

Às vezes num sorriso, lacrimejo,
E em lágrimas sacio o meu desejo...


8


“Guia a mão do pintor quando debuxa”
A soma de fatores mais diversos,
Assim quando eu componho tantos versos,
É como se imergisse em vária ducha.

Ourives da palavra, um escritor,
Usando seus disfarces nos permite,
Se acreditar além de algum limite,
Nas tramas deste insano sonhador.

O corte se bem dado do buril,
Traçando com beleza uma escultura,
Mas quando a mão se mostra fria e dura,
Por vezes o cenário se faz vil.

Não creia no que digo, mas me creia,
A mão traça diversa ou una teia.

9


“A mesma inspiração, que acende o estro,”
Por tantas vezes traça o desespero,
E quando noutra sanha me tempero,
Por vezes verdadeiro ou mais canhestro.

Se o peso do que vivo influencia
Talvez o que não viva pese mais,
Criando do vazo, os temporais,
Palavra dita a norma e cadencia.

Apego-me ao não ser enquanto sigo,
E sigo sem saber quem mesmo sou,
Errático caminho se mostrou
Deveras muitas vezes meu abrigo.

Ilusionista, sim, porém nem tanto,
Retratando minha alma quando canto?

10

“Perante o mesmo altar, coroam-se, ardendo”
Demônios, querubins, várias figuras,
Palavras que clareiam sendo escuras,
Momento doloroso ou estupendo.

Nefastas maravilhas, luzes tantas
Bebendo desta imensa liberdade,
O quanto do vazio que me invade,
Permitem ser profanas, créus e santas.

Ecléticos caminhos num só rumo,
As cores se misturam neste prisma,
E quando vez ou outra uma alma cisma,
Nem sempre um andarilho, eu tudo aprumo.

A queda prenuncia a redenção,
Assim como um amor dita o perdão...


11


“Do fogo criador nas mesmas chamas,”
Encontram-se diversas fantasias
E quando delas novas tu recrias,
Revives do passado, luzes, dramas.

Tramas se entrelaçando, atemporais,
Existem desde quando existe o sonho,
O todo muitas vezes eu componho
Dos dias mais dispersos, tantos cais.

Apátrida emoção, vívida luz
Nas trevas a beleza incomparável,
Assim como um reflexo do tocável
Efeito tão complexo reproduz.

Nas crenças, ódios, medos e rancores,
Nos sonhos, nos anseios, nos amores...


12


“As artes são irmãs, e os seus cultores”
Transformam qualquer forma num tesouro,
Das tantas emoções quando me douro,
Permito cultivar diversas flores.

E mesmo nas daninhas, meu alento,
Transito entre o fantástico e o real,
Portanto se feroz, tolo ou venal,
Nas tantas variáveis me sustento.

E bebo em goles fartos, outros dias,
Trafego em dissonantes maravilhas
Porquanto novos mundos sempre trilhas
Sabendo desde o eterno as melodias.

Infinitas verdades num só passo,
Num limitado espaço o mundo eu traço.

27262/263/264/265/266/267

27262



“Do rosto nas feições o brilho interno,”
Diverso do que às vezes se aparenta,
Aonde se diz paz é violenta
E aonde se diz glória, pleno inferno.

Somar as nossas tantas variantes,
Seguir por vezes mitos ledos, falsos,
Comuns na caminhada tais percalços,
Mudamos nosso rumo por instantes.

E quando se aproxima o fim da história,
O quanto nós já fomos, padecemos,
Permite ao marinheiro tantos remos,
Ou traçando uma linha merencória.

Às vezes num sorriso, lacrimejo,
E em lágrimas sacio o meu desejo...


27263


“Guia a mão do pintor quando debuxa”
A soma de fatores mais diversos,
Assim quando eu componho tantos versos,
É como se imergisse em vária ducha.

Ourives da palavra, um escritor,
Usando seus disfarces nos permite,
Se acreditar além de algum limite,
Nas tramas deste insano sonhador.

O corte se bem dado do buril,
Traçando com beleza uma escultura,
Mas quando a mão se mostra fria e dura,
Por vezes o cenário se faz vil.

Não creia no que digo, mas me creia,
A mão traça diversa ou una teia.

27264


“A mesma inspiração, que acende o estro,”
Por tantas vezes traça o desespero,
E quando noutra sanha me tempero,
Por vezes verdadeiro ou mais canhestro.

Se o peso do que vivo influencia
Talvez o que não viva pese mais,
Criando do vazo, os temporais,
Palavra dita a norma e cadencia.

Apego-me ao não ser enquanto sigo,
E sigo sem saber quem mesmo sou,
Errático caminho se mostrou
Deveras muitas vezes meu abrigo.

Ilusionista, sim, porém nem tanto,
Retratando minha alma quando canto?

27265

“Perante o mesmo altar, coroam-se, ardendo”
Demônios, querubins, várias figuras,
Palavras que clareiam sendo escuras,
Momento doloroso ou estupendo.

Nefastas maravilhas, luzes tantas
Bebendo desta imensa liberdade,
O quanto do vazio que me invade,
Permitem ser profanas, créus e santas.

Ecléticos caminhos num só rumo,
As cores se misturam neste prisma,
E quando vez ou outra uma alma cisma,
Nem sempre um andarilho, eu tudo aprumo.

A queda prenuncia a redenção,
Assim como um amor dita o perdão...


27266


“Do fogo criador nas mesmas chamas,”
Encontram-se diversas fantasias
E quando delas novas tu recrias,
Revives do passado, luzes, dramas.

Tramas se entrelaçando, atemporais,
Existem desde quando existe o sonho,
O todo muitas vezes eu componho
Dos dias mais dispersos, tantos cais.

Apátrida emoção, vívida luz
Nas trevas a beleza incomparável,
Assim como um reflexo do tocável
Efeito tão complexo reproduz.

Nas crenças, ódios, medos e rancores,
Nos sonhos, nos anseios, nos amores...


27267


“As artes são irmãs, e os seus cultores”
Transformam qualquer forma num tesouro,
Das tantas emoções quando me douro,
Permito cultivar diversas flores.

E mesmo nas daninhas, meu alento,
Transito entre o fantástico e o real,
Portanto se feroz, tolo ou venal,
Nas tantas variáveis me sustento.

E bebo em goles fartos, outros dias,
Trafego em dissonantes maravilhas
Porquanto novos mundos sempre trilhas
Sabendo desde o eterno as melodias.

Infinitas verdades num só passo,
Num limitado espaço o mundo eu traço.

27259/260/261

27259


“Em sons cadentes, que derramam n'alma”
Encontro uma real satisfação,
Vivendo claramente uma estação,
Realidade dói? Também acalma.

As cores de um outono, invernal frio,
Primaveril beleza, imenso sol,
O quanto se transforma este arrebol,
É como perceber um desafio.

Envelhecer com arte e galhardia,
Saber da mocidade com fulgor,
Matizes tão diversos de um amor,
Que a cada novo tempo, sempre guia.

E ter uma certeza nesta vida
Cada etapa terá que ser cumprida.


27260


“Ou lânguida na lira se transforma”,
Ou trágica se faz a cada passo,
O quanto muitas vezes me desfaço,
Impede que se tenha a mesma forma.

Dicotomias trago em cada passo,
E nelas a melhor das decisões
Por vezes bem diversa do que expões,
Nem sempre o melhor rumo, ainda traço.

E vivo sem temer as tempestades,
Nefastas? Muitas vezes redentoras,
As horas mais doídas, sofredoras
Aquelas que nos dizem mais verdades.

Servindo de repasto para a dor,
Um novo amanhecer saber propor...

27261


“Dá linguagem sublime à estátua muda,”
Cada momento aonde se entregando
Não sei se em temporal ou ar mais brando,
O tempo tão instável se transmuda.

E quando aprendo dele sem terrores
Amadureço em mim a própria morte,
E nela algum descanso que conforte
No renovar da vida, risos, dores.

Existo e sei que basta esta existência,
Se dela eu perceber quem mesmo sou,
Já sei qual o destino pr’onde vou,
O fim é do começo, a conseqüência.

Renova-se destarte eternidade
Gerando com fulgor, diversidade...

27256/257/258

27256

“São iguais, são irmãs no amor do belo!”
As Musas que me inspiram em meus versos,
Sentidos muitas vezes tão diversos,
Mas neles sentimentos eu revelo.

Melodias que chegam do passado,
Momentos que vivi, outros nem tanto,
Mas quando com ternura, em tento e canto,
Algum pedaço meu é revelado.

Os sonhos se traduzem por vontades,
Às vezes saciáveis, noutras não,
Porém eles deveras mostrarão
As sombras de prováveis realidades.

Assim do imaginário eu posso ver
Um pouco do que existe no meu ser.


27257


“O mesmo entusiasmo as vivifica,”
Vontades e querências recolhidas
Durante as várias faces, tantas vidas
Aonde o pensamento se edifica.

Variantes entre tantos pensamentos,
Sentidos mais dispersos, suas somas
Permite este mosaico aonde tomas
As tuas decisões; dores e alentos.

Te entregando sem medo aos temporais
Verás neles lições para o que resta
Da vida mesmo quando mais funesta
Navegação ensina onde há um cais.

Assim nas discrepâncias se concebe
O ser que em ti agora se percebe.


25258


“Idéias do prazer — do mal no olvido”
Enquanto a dor se torna mais presente,
Assim quando do gozo a vida ausente
Permite imaginar-se tão sofrido.

Mas quando uma alegria nos invade,
Decerto se esquecendo pouco após,
O rio se perdendo noutra foz,
Lembramos do que fora tempestade.

Não deixe que isto faça com que tudo
Pareça bem diverso, noutro fato,
Se em dores tão somente eu me retrato,
Deveras, sobre a vida eu já me iludo.

Caminho sobre brasas; sei das dores,
Mas também sei colher, da vida, flores...

sexta-feira, 19 de março de 2010

27297/98/99

1

“Na comunhão ideal do eterno Bem”
Sagrando o nosso amor a cada verso,
E ter em minhas mãos este Universo
Aonde o ser feliz deveras vem

E em todos os momentos diz de alguém,
No qual meu sentimento siga imerso
Por mais que o caminhar mostre diverso
O rumo onde se expressa o que contém.

Divina providência feita em luz
À qual um brilho raro me conduz
Levando a cada dia um infinito

E nele alçando além do simples gozo,
Um templo feito em glórias, fabuloso,
Tornado muito mais que um mero mito.


2


“Juntos no antigo amor, no amor sagrado,”
Seguimos rumo ao éter. Sou feliz
Em ter sob os meus olhos o que quis,
Vivendo muito além deste passado,

O dia sempre estando iluminado,
A sorte que desejo já bendiz
E o tempo sem remorso ou cicatriz
Transcorre num caminho ora traçado

Por mãos abençoadas, redentoras,
Aonde outrora em noites sofredoras
Ditara a solidão, venal e a atroz,

E quando me percebo junto a ti,
Renasço e recupero o que perdi,
Felicidade ouvindo a minha voz.


3


“Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,”
Encantos sem igual que me entorpecem,
E neles os desejos já se tecem
Traçando este futuro que ora vem

Dizendo do passado sem ninguém,
As dores que vivemos não se esquecem,
Mas quando em nossas vidas amanheces
O sol toda a beleza em si contém.

Não posso mais seguir sendo tristonho
E quando um novo tempo; assim componho
Trafego por estrelas, constelar.

E posso até dizer que sou feliz,
O amor que me invadindo tanto diz
Permite por espaços navegar...
Hino à Razão
Antero de Quental
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre os clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Bocage
Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.
Em louvor do grande Camões
Bocage
Sobre os contrários o terror e a morte
Dardeje embora Aquiles denodado,
Ou no rápido carro ensanguentado
Leve arrastos sem vida o Teuco forte:

Embora o bravo Macedónio corte
Coa fulminante espada o nó fadado,
Que eu de mais nobre estímulo tocado,
Nem lhe amo a glória, nem lhe invejo a sorte:

Invejo-te, Camões, o nome honroso;
Da mente criadora o sacro lume,
Que exprime as fúrias de Lieu raivoso:

Os ais de Inês, de Vénus o queixume,
As pragas do gigante proceloso,
O céu de Amor, o inferno do Ciúme.
A Débil
Cesário Verde
Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorreste um misreável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.

"Ela aí vem!" disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, humilde e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais,

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.

Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça,
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.

Adorável! Tu muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.

Sorriam nos seus trens os titulares;
E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto,
Que não te morrerá sem te casares!

Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu sembalante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.

Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esvelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.

"Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!"
De repente, paraste embraçada
Ao pé dum numeros ajuntamento.

E eu, que urdia estes fáceis escbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.

E foi, então, que eu homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
Leito de Folhas Verdes
Gonçalves Dias

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu, sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d`alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!


1


“A brisa da manhã sacuda as folhas!”
E trague algum alívio para mim,
Assim ao se mostrar no meu jardim,
Por mais que as fantasias tu recolhas

Serenam-se os caminhos de quem tanto
Vivera sem destino, simplesmente,
Uma alma se mostrando transparente,
Traduz o que deveras quero e canto.

Não deixe que este verso morra aos poucos,
Tampouco não permita a solidão,
Ainda que se mostre no verão,
Os ritos entre dias parvos, loucos,

Outono dentro da alma amarelando
As folhas, sob um vento manso e brando...


2


“Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil”
Erguendo-se meus olhos na manhã
A vida se promete noutro afã
Por mais que a caminhada seja fútil.

O sol ao adentrar no quarto traz
A imensa claridade necessária,
A vida mesmo sendo temerária,
Do quanto poderia ser em paz

Transcende ao mais perfeito Paraíso,
Vestindo de ilusão triste quimera,
Eternizando na alma a primavera,
Deixando para trás o prejuízo,

Viver felicidade a cada instante
Num dia tão sublime e fascinante...


3


“À voz do meu amor, que em vão te chama!”
E nada mais terei senão meu fim,
Saber dos dissabores, mesmo assim
Tentar manter acesa a velha chama,

Minha alma se permite em sonho audaz,
Vibrando com a luz de um belo dia,
E nele se entregando à poesia
Percebo no final, imensa paz.

O vento sobre nós traçando então
A doce maravilha de sentir,
Liberto sem algemas o porvir,
Vivendo as noites claras que virão

Traçando em alegria cada passo,
Vagando sem temor, sem ter cansaço...

“ MEU GLORIOSO PECADO II HOMENAGEM A GILKA MACHADO


MEU GLORIOSO PECADO II

Gilka Machado

Quantas horas felizes, quantos dias
nos contemplamos sem jamais trocar
uma frase! - Eu temia... Tu temias...
Mas como era expressivo nosso olhar!...

Nem uma frase! E tantas melodias
no meu, no teu silêncio, no do mar,
no do céu, no das árvores sombrias,
como tudo se amava sem falar!

Trocamos o vocábulo e (oh! tristeza!)
Quantas injúrias, que contradição
nessas palestras de alma em ciúme acesa!

Ah! se mudos ficáramos então,
não profanara o orgulho e a singeleza
das palavras sem voz do coração!

GILKA MACHADO


1


“das palavras sem voz do coração”,
Delírios que se encontram, mil prazeres
Tocando com volúpia nossos seres
Deveras em insânia, com paixão.

No fogaréu intenso que contém
Delírios sensuais, viagens tantas,
Enquanto assim te encanto, tu me encantas
Na imensa maravilha, nosso bem.

Vagando por estrelas, bebo a luz,
E traço no teu corpo meus caminhos,
Envoltos pelas chamas dos carinhos,
Intensa claridade reproduz

Deliciosamente nua do teu lado,
Meu corpo no teu corpo emoldurado...


2


“não profanara o orgulho e a singeleza”
Divinas maravilhas professadas
Nas ânsias entre as ânsias demarcadas,
Decerto mais sutis tanta beleza.

Ascendo ao Paraíso e com certeza
As horas sendo assim abençoadas,
Desvendo no teu corpo tais estradas
E sigo sem pensar a correnteza.

Mortalhas do passado? Nunca mais,
Delírios em desejos magistrais
Ternura que se aflora em gozo farto,

Na intensidade plena de candura,
Depois de tanto tempo em vã procura
Deidade caminhando no meu quarto...


3


“Ah! se mudos ficáramos então”
Sabemos decifrar cada sinal,
Promessa de um momento divinal,
Eternizando aqui nosso verão.

Adentro os mais diversos paraísos
Com toques sensuais e delicados,
Unindo com prazeres nossos fados,
Vibramos em desejos mais concisos.

Ascendo ao mais sublime patamar,
Auge da emoção, luzes soberanas
As noites delicadas e profanas
Vagando sem destino, céu e mar.

E bêbados dos sonhos tanta entrega,
Infinitos sem par, amor navega...




4


“nessas palestras de alma em ciúme acesa”
Procuro uma saída que não vejo,
E quanto mais profano o meu desejo
Maior no nosso caso esta incerteza

Queria ter no olhar esta pureza
Que tanto necessitas, mas almejo
Momento mais feliz e num lampejo
Imensa claridade diz beleza.

Não posso mais conter esta vontade
E mesmo que talvez já não te agrade,
Eu quero mergulhar nos teus anseios,

Sentindo tua pele junto a minha
Minha alma na tua alma já se aninha,
Delírio feito em beijos, toques, seios...


5


“Quantas injúrias, que contradição”
O amor professa sempre tais loucuras,
Enquanto mergulhados em ternuras,
Ao mesmo tempo sinto a negação;

E quero ter em ti ancoradouro,
Mas sei quão movediço o sentimento
E nesta insensatez meu desalento,
Num sol que é tão volúvel não me douro.

Porém eu necessito dos teus dias,
E sei quantos momentos magistrais
O amor nos mais divinos rituais
Além do que deveras fantasias,

E assim nesta inconstante maravilha,
Minha alma sobre espinhos, pedras, trilha...





6



“Trocamos o vocábulo e (oh! tristeza!)”,
Por vezes carinhosos noutras não,
Às vésperas do fim, da solidão
Pudesse inda conter a correnteza.

E quando se criando a fortaleza
Tempestas, vendavais se mostrarão,
Mas nada desviando a direção
Do amor que se transcorre com firmeza.

Esgarçam-se deveras estes panos,
E neles nossos medos, desenganos
Afloram e nos tornam suscetíveis.

Pudéssemos talvez acreditar
Na força incomparável deste amar,
Os dias não seriam tão terríveis...


7


“como tudo se amava sem falar’,
Somente com os gestos já sabíamos
Do quanto sem limite nos queríamos
No encanto que aprendemos desfiar.

Assíduas emoções em passo largo,
O gozo incomparável, festa e riso,
Assim ao perceber o Paraíso
Do quanto te desejo e nunca largo

Aprendi a viver felicidade
Orgásticos prazeres, noite imensa,
E tendo neste jogo a recompensa
Encontro nos teus olhos a deidade

Que tanto procurara a vida inteira,
A sorte sendo enfim, a companheira...





8


“no do céu, no das árvores sombrias,”
Espelhos traduzindo maravilhas
E ao mesmo tempo cores onde trilhas
Mundanas emoções e fantasias.

Diverso do que outrora tu querias
As sortes onde ainda sei não brilhas
Ascendem às estrelas andarilhas,
Deixando para trás as noites frias.

Encontro no teu corpo um porto audaz,
E quando tanto amor nos satisfaz
Jamais abandonando um sonho intenso.

Se temos o prazer de ser assim,
Profícuo e fabuloso este jardim,
E nele em cada flor me recompenso...


9


“no meu, no teu silêncio, no do mar,”
Ausência do que fora tão perfeito,
E quando em solidão, agora deito,
Vontade de te ter e te tocar.

Bebendo esta saudade, nada faço
Senão seguir os rastros que deixaste,
Passado com presente em tal contraste
Do todo não restando nem um traço.

Mas quando me encontrar contigo, amor,
Eu hei de mergulhar sem ter perguntas
As almas caminhando bem mais juntas
Já sabem deste prado redentor.

E o gozo professado sem limite,
Que tanta fantasia nos permite....





10


“Nem uma frase! E tantas melodias”
Assim neste silêncio do abandono,
Do amor e do prazer eu já me adono,
Enquanto novo mundo também crias,

Diversas emoções raiando dias
E nelas cada gozo, novo abono,
Os medos mais inúteis, abandono
E teimo em viver fartas alegrias.

Carícias mais profanas, delicadas,
As horas em ternura desvendadas
Percorro sem fronteiras o infinito,

E tendo no teu corpo a minha glória
A noite nunca amarga ou merencória
Jamais o coração se mostra aflito...


11


“Mas como era expressivo nosso olhar”,
Envolto pelas luzes do desejo,
E quando mais prazeres eu prevejo,
Percorro tuas sendas devagar...

E quero cada vez mais ter de ti
O amor incomparável, nossos rumos,
E bebo dos teus gozos, tantos sumos,
Depois de tanto tempo que perdi.

Vagando por espaços magistrais,
Sorvendo cada gota do rocio,
O que tu me ofereces, propicio
E quero cada vez, e sempre, mais.

Assim vamos seguindo nossa vida,
Num mar sem desencontro nem partida...


12


“uma frase! - Eu temia... Tu temias...”
O fim de nosso caso, mas agora
Ao ver a luz imensa que se aflora
As noites não serão decerto frias,

Tampouco nossas mãos seguem vazias,
Jamais se cogitando se lá fora
A neve do passado ainda ancora,
Diverso do que tanto mais querias.

Eu beijo tua pele e me arrepio,
Na eterna sensação de um louco cio,
Mergulho em oceanos mais profanos.

Não posso suportar sequer a idéia
Do amor que se perdeu em alma atéia
Se em ti, divinos ares, soberanos...

13


“nos contemplamos sem jamais trocar”
Palavras que pudessem nos trazer
Qualquer momento em dor e desprazer,
Somente desvendando este luar

Que toca tua pele já desnuda
E vaga noite afora, em prata e luz,
Ao mesmo tempo enquanto nos conduz
A sorte do teu lado não se muda.

Assediando estradas benfazejas,
Penetrando por sendas maviosas
Enquanto nos meus braços sei que gozas,
Decerto com mais força me desejas.

E assim ao parearmos emoções,
Momentos magistrais tu dás e expões.


14


“Quantas horas felizes, quantos dias”
De imensa e incomparável fantasia
O amor com tal vigor nos propicia
E nele este caminho que sabias

Fantástico momento onde me guias
Deixando no passado uma agonia,
A fonte se renova todo dia,
E nela dessedento em alegrias.

Eternidade mesmo que finita
A luz que nos rodeia tão bendita
Permite um caminhar já demarcado

Por cores tão diversas e perfeitas,
Enquanto me deleito te deleitas
Num glorioso gozo, o meu pecado...

27249/50/51/52/53/54/55

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“no do céu, no das árvores sombrias,”
Espelhos traduzindo maravilhas
E ao mesmo tempo cores onde trilhas
Mundanas emoções e fantasias.

Diverso do que outrora tu querias
As sortes onde ainda sei não brilhas
Ascendem às estrelas andarilhas,
Deixando para trás as noites frias.

Encontro no teu corpo um porto audaz,
E quando tanto amor nos satisfaz
Jamais abandonando um sonho intenso.

Se temos o prazer de ser assim,
Profícuo e fabuloso este jardim,
E nele em cada flor me recompenso...


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“no meu, no teu silêncio, no do mar,”
Ausência do que fora tão perfeito,
E quando em solidão, agora deito,
Vontade de te ter e te tocar.

Bebendo esta saudade, nada faço
Senão seguir os rastros que deixaste,
Passado com presente em tal contraste
Do todo não restando nem um traço.

Mas quando me encontrar contigo, amor,
Eu hei de mergulhar sem ter perguntas
As almas caminhando bem mais juntas
Já sabem deste prado redentor.

E o gozo professado sem limite,
Que tanta fantasia nos permite....





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“Nem uma frase! E tantas melodias”
Assim neste silêncio do abandono,
Do amor e do prazer eu já me adono,
Enquanto novo mundo também crias,

Diversas emoções raiando dias
E nelas cada gozo, novo abono,
Os medos mais inúteis, abandono
E teimo em viver fartas alegrias.

Carícias mais profanas, delicadas,
As horas em ternura desvendadas
Percorro sem fronteiras o infinito,

E tendo no teu corpo a minha glória
A noite nunca amarga ou merencória
Jamais o coração se mostra aflito...


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“Mas como era expressivo nosso olhar”,
Envolto pelas luzes do desejo,
E quando mais prazeres eu prevejo,
Percorro tuas sendas devagar...

E quero cada vez mais ter de ti
O amor incomparável, nossos rumos,
E bebo dos teus gozos, tantos sumos,
Depois de tanto tempo que perdi.

Vagando por espaços magistrais,
Sorvendo cada gota do rocio,
O que tu me ofereces, propicio
E quero cada vez, e sempre, mais.

Assim vamos seguindo nossa vida,
Num mar sem desencontro nem partida...


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“uma frase! - Eu temia... Tu temias...”
O fim de nosso caso, mas agora
Ao ver a luz imensa que se aflora
As noites não serão decerto frias,

Tampouco nossas mãos seguem vazias,
Jamais se cogitando se lá fora
A neve do passado ainda ancora,
Diverso do que tanto mais querias.

Eu beijo tua pele e me arrepio,
Na eterna sensação de um louco cio,
Mergulho em oceanos mais profanos.

Não posso suportar sequer a idéia
Do amor que se perdeu em alma atéia
Se em ti, divinos ares, soberanos...

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“nos contemplamos sem jamais trocar”
Palavras que pudessem nos trazer
Qualquer momento em dor e desprazer,
Somente desvendando este luar

Que toca tua pele já desnuda
E vaga noite afora, em prata e luz,
Ao mesmo tempo enquanto nos conduz
A sorte do teu lado não se muda.

Assediando estradas benfazejas,
Penetrando por sendas maviosas
Enquanto nos meus braços sei que gozas,
Decerto com mais força me desejas.

E assim ao parearmos emoções,
Momentos magistrais tu dás e expões.


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“Quantas horas felizes, quantos dias”
De imensa e incomparável fantasia
O amor com tal vigor nos propicia
E nele este caminho que sabias

Fantástico momento onde me guias
Deixando no passado uma agonia,
A fonte se renova todo dia,
E nela dessedento em alegrias.

Eternidade mesmo que finita
A luz que nos rodeia tão bendita
Permite um caminhar já demarcado

Por cores tão diversas e perfeitas,
Enquanto me deleito te deleitas
Num glorioso gozo, o meu pecado...

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“das palavras sem voz do coração”,
Delírios que se encontram, mil prazeres
Tocando com volúpia nossos seres
Deveras em insânia, com paixão.

No fogaréu intenso que contém
Delírios sensuais, viagens tantas,
Enquanto assim te encanto, tu me encantas
Na imensa maravilha, nosso bem.

Vagando por estrelas, bebo a luz,
E traço no teu corpo meus caminhos,
Envoltos pelas chamas dos carinhos,
Intensa claridade reproduz

Deliciosamente nua do teu lado,
Meu corpo no teu corpo emoldurado...


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“não profanara o orgulho e a singeleza”
Divinas maravilhas professadas
Nas ânsias entre as ânsias demarcadas,
Decerto mais sutis tanta beleza.

Ascendo ao Paraíso e com certeza
As horas sendo assim abençoadas,
Desvendo no teu corpo tais estradas
E sigo sem pensar a correnteza.

Mortalhas do passado? Nunca mais,
Delírios em desejos magistrais
Ternura que se aflora em gozo farto,

Na intensidade plena de candura,
Depois de tanto tempo em vã procura
Deidade caminhando no meu quarto...


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“Ah! se mudos ficáramos então”
Sabemos decifrar cada sinal,
Promessa de um momento divinal,
Eternizando aqui nosso verão.

Adentro os mais diversos paraísos
Com toques sensuais e delicados,
Unindo com prazeres nossos fados,
Vibramos em desejos mais concisos.

Ascendo ao mais sublime patamar,
Auge da emoção, luzes soberanas
As noites delicadas e profanas
Vagando sem destino, céu e mar.

E bêbados dos sonhos tanta entrega,
Infinitos sem par, amor navega...




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“nessas palestras de alma em ciúme acesa”
Procuro uma saída que não vejo,
E quanto mais profano o meu desejo
Maior no nosso caso esta incerteza

Queria ter no olhar esta pureza
Que tanto necessitas, mas almejo
Momento mais feliz e num lampejo
Imensa claridade diz beleza.

Não posso mais conter esta vontade
E mesmo que talvez já não te agrade,
Eu quero mergulhar nos teus anseios,

Sentindo tua pele junto a minha
Minha alma na tua alma já se aninha,
Delírio feito em beijos, toques, seios...


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“Quantas injúrias, que contradição”
O amor professa sempre tais loucuras,
Enquanto mergulhados em ternuras,
Ao mesmo tempo sinto a negação;

E quero ter em ti ancoradouro,
Mas sei quão movediço o sentimento
E nesta insensatez meu desalento,
Num sol que é tão volúvel não me douro.

Porém eu necessito dos teus dias,
E sei quantos momentos magistrais
O amor nos mais divinos rituais
Além do que deveras fantasias,

E assim nesta inconstante maravilha,
Minha alma sobre espinhos, pedras, trilha...





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“Trocamos o vocábulo e (oh! tristeza!)”,
Por vezes carinhosos noutras não,
Às vésperas do fim, da solidão
Pudesse inda conter a correnteza.

E quando se criando a fortaleza
Tempestas, vendavais se mostrarão,
Mas nada desviando a direção
Do amor que se transcorre com firmeza.

Esgarçam-se deveras estes panos,
E neles nossos medos, desenganos
Afloram e nos tornam suscetíveis.

Pudéssemos talvez acreditar
Na força incomparável deste amar,
Os dias não seriam tão terríveis...


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“como tudo se amava sem falar’,
Somente com os gestos já sabíamos
Do quanto sem limite nos queríamos
No encanto que aprendemos desfiar.

Assíduas emoções em passo largo,
O gozo incomparável, festa e riso,
Assim ao perceber o Paraíso
Do quanto te desejo e nunca largo

Aprendi a viver felicidade
Orgásticos prazeres, noite imensa,
E tendo neste jogo a recompensa
Encontro nos teus olhos a deidade

Que tanto procurara a vida inteira,
A sorte sendo enfim, a companheira...

ANÁLISE - EM HOMENAGEM A FERNANDO PESSOA

ANÁLISE
Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.


FERNANDO PESSOA



1

“Em que sinto que sonho o que me sinto sendo”
Apenas ao buscar qualquer caminho
Que em meio aos dissabores adivinho
Por vezes solitário ou estupendo.

E quando em poesia me contendo
Não posso mais seguir, sendo sozinho
Esboço a precisão de um falso vinho,
E nela se percebe o dividendo

Atento ao nada ter já não consigo
Vencer o que pudera em desabrigo,
Cinzel perpetuando cada verso

Esculpo o que talvez ninguém perceba,
Mas quando da aguardente amarga beba,
Conceba num soneto este universo.


2


“Do interior crepúsculo tristonho”
Extraio o descaminho ainda que
No fundo a realidade não se vê
Tampouco ao que deveras me proponho.

Esgarço com palavras noite e dia,
Afasto-me dos medos me aproximo,
Sabendo a cada passo deste limo
E o tombo com certeza não se adia.

Extraviando assim o passo, alheio
Aos vários dissabores que desfruto
Por mais que ainda tente ser astuto
Vontade de seguir; teimo e refreio,

Tristeza soletrando a cada lavra
Colhendo em amargura uma palavra...

3


“Que te vejo, ou sequer que sou, risonho”
Falseio a realidade, vil farsante
E quando se pensara em diamante
Cristal; somente vejo e recomponho

Meu mundo mesmo quando em vago sonho,
Por vezes é terrível, delirante,
Mutável caminheiro a cada instante,
Percebo quão inválido e tristonho

Se o peso que carrego enverga as costas,
Perdendo num relance tais apostas,
Esparsas as palavras de um soneto,

E o corpo em lassidão já não comporta
Sequer a poesia semi morta
Que ainda mesmo espúrio, ora cometo.


4


“Não te vendo, nem vendo, nem sabendo”
Se o quanto se pudesse ser além
Do vago que deveras sempre vem
Depois de um tempo amargo ou estupendo.

Escuto a voz do vento me clamando
E nela as emoções são variadas
Ao medo minhas sortes já lançadas
O fogo que ora invade sendo brando

Não deixa a cicatriz nem mesmo em fráguas
Diversas embalando o pensamento,
Pudesse ter talvez algum tormento
Nos mares em que tanto crês, deságuas.

E sirvo de alimária pra quem tenta
Fazer a poesia mais sedenta...


5


“A ilusão da sensação, e sonho,”
Servir aos meus propósitos banais,
Os quadros dos desejos magistrais
São todos falsos quadros que componho.

O peso do passado não reponho
E deixo para além o porto e o cais,
Partícipe do encanto do jamais,
Percebo quão diverso se é bisonho.

Ecléticas visões de dias tantos,
E deles se concebem os quebrantos
Nos quais eu adivinho a poesia,

E o bêbado funâmbulo desaba
Na corda sempre bamba, enquanto acaba
Sem nexo, sem amor o que eu queria...


6


“E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto”
E faço da mentira a fortaleza,
Decerto quanto agravo a correnteza
O beijo que pensara segue extinto.

Vestir a alegoria mais ingrata
E ter decerto o medo que sacia
Mecânica diversa da alegria
O mundo reconhece e desbarata,

Alívio se percebe quando então
Repastos feito em luzes tu propagas,
Andando por diversas, toscas plagas,
Mergulho sem sentido ou direção,

E neste verso imerso, nada crio,
Somente permaneço mais sombrio...


7


“Consciente de ti, nem a mim sinto”
E sei que tanto quanto já me dou,
Recolho tão somente o que sobrou,
Deixando-me levar por este instinto.

E quando nos teus olhos eu me pinto
Vestindo o que deveras se rasgou,
A velha fantasia não restou
Traçando a realidade que ora minto.

Pressinto o que talvez não aconteça
Ainda quando inútil obedeça
O coração veleiro sem um porto.

Trafego por diversas avenidas
Caminho por estradas divididas,
E beijo o meu passado, mesmo morto...


8


“Sabendo que tu és, que, só por ter-me”
Eu tento em desvario prosseguir,
Mesmo que esteja longe do porvir
Não posso nem consigo mais conter-me.

E trago nos meus olhos o abandono,
Semeio mesmo em vão em solo agreste,
Bebendo cada gota do que deste,
Os erros do passado agora clono.

E vivo por saber que no futuro
Ainda existirá tal liberdade,
E quando a vida inteira se degrade
Num tempo mais cruel, portanto escuro,

Sobrevivendo aos velhos temporais,
O barco encontrará, de novo um cais...





9


“Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me”
Assim tão frágil, posso caminhar
Mesmo quando não tenha algum luar,
Ninguém jamais deveras vai conter-me

Portanto se me encontras quase inerme
Não verás no silêncio o me negar,
Somente contra tudo irei lutar
Até que alguém consiga convencer-me.

Perdendo desde sempre qualquer rumo,
As tramas enganosas eu resumo
E bebo da tempesta sem temor,

Pudesse desfiar cada novelo
E assim ao desvendar, já percebê-lo
Além do que pudesse me propor...


10


“E a idéia do teu ser fica tão rente”
Que esbarra nos meus dias e me entranha
Aquém da imensidão de uma montanha,
Por mais que ainda seja tão ardente

Agindo contra todas as promessas
E os erros convergindo num só fato,
Degenerando a vida me maltrato
Enquanto a cada tempo recomeças

Usando da palavra como açoite
Vergastas lacerando o meu futuro,
Porquanto dentro em mim inda procuro,
Além do que se fora algum pernoite

Esgoto as minhas chances de poder
Um dia, finalmente me saber...


11


“Teu corpo do meu ver tão longemente,”
Escapando das mãos, não mais consigo
E teimo contra tudo e sem abrigo,
Jamais por mais que ainda inútil tente.

Ecléticas versões do mesmo enredo,
Não podem discernir plena verdade,
Alheio ao que me dizes, vejo a grade
E tento, desairoso, e até concedo

Um tempo mais feliz quem sabe quanto
Dos antros mais estranhos, nada vejo
Somente esta semente de um desejo
Canteiro semeado em desencanto.

Pergunto sem respostas, mas não creio,
Distante dos teus olhos, meu anseio...


12


“E nada fica em meu olhar, e dista”
Das mãos a solução que ainda tento,
Pesando em minhas costas, pensamento,
A sorte se perdendo, velha artista.

O corpo se esfacela e não desista
Encontro em tua senda o forte vento
E nele com certeza tal tormento,
Por mais que a fantasia ainda insista.

Pudesse ter colheita mais perfeita,
Mas nada se mostrando quando deita
Ao solo com venal semeadura.

O passo sendo assim, trôpego e falso
Somente encontrará queda e percalço
Aonde imaginara uma ternura...


13

“Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,”
Num mosaico infinito, feito em luzes
E quando à perfeição tu me conduzes
Diversa realidade que persista.

Caleidoscópio vário em mil matizes,
No espelho de tua alma me perdi
E quando me percebo estou aqui,
Diverso do que tanto me desdizes,

Não posso ter além do que consigo
Se eu sou em ti diversidade
E quando na maior profundidade,
Vislumbro tanto amor quanto perigo.

E passo a ser somente um complemento
Deste conjunto aonde tomo assento.


14


“Que me vem de te olhar, que, ao entreter”
Não deixa qualquer dúvida e se imerso
No todo se transforma este universo,
Num misto de pavor e de prazer.

O passo mais audaz ao perceber
O quanto se propõe a cada verso
Sentindo ser apenas mais disperso
O que talvez pudesse merecer.

Alio-me ao quanto és e não me calo,
Seguindo cada passo neste embalo,
Eu sou o que tu és, e não me omito.

Transcende-se ao real e multiplica
A forma que deveras se edifica
Gerando tão somente este infinito...


15


“Tão abstrata é a idéia do teu ser”
Que quando a concretizo se percebe
Além do que pudesse simples sebe
Um universo imenso a me conter.

Percebo em ti diversa dimensão
E assim perpetuando num mosaico
O quanto inda parece ser prosaico,
Mas nunca percebera divisão.

Etéreas as imagens procriadas
E nelas prosseguindo imerso, creio
Que além de simplesmente mero veio,
Unidos somos mais que tantas vidas.

Análises complexas e reais
Fenômenos supernos, magistrais...

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“E a idéia do teu ser fica tão rente”
Que esbarra nos meus dias e me entranha
Aquém da imensidão de uma montanha,
Por mais que ainda seja tão ardente

Agindo contra todas as promessas
E os erros convergindo num só fato,
Degenerando a vida me maltrato
Enquanto a cada tempo recomeças

Usando da palavra como açoite
Vergastas lacerando o meu futuro,
Porquanto dentro em mim inda procuro,
Além do que se fora algum pernoite

Esgoto as minhas chances de poder
Um dia, finalmente me saber...


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“Teu corpo do meu ver tão longemente,”
Escapando das mãos, não mais consigo
E teimo contra tudo e sem abrigo,
Jamais por mais que ainda inútil tente.

Ecléticas versões do mesmo enredo,
Não podem discernir plena verdade,
Alheio ao que me dizes, vejo a grade
E tento, desairoso, e até concedo

Um tempo mais feliz quem sabe quanto
Dos antros mais estranhos, nada vejo
Somente esta semente de um desejo
Canteiro semeado em desencanto.

Pergunto sem respostas, mas não creio,
Distante dos teus olhos, meu anseio...


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“E nada fica em meu olhar, e dista”
Das mãos a solução que ainda tento,
Pesando em minhas costas, pensamento,
A sorte se perdendo, velha artista.

O corpo se esfacela e não desista
Encontro em tua senda o forte vento
E nele com certeza tal tormento,
Por mais que a fantasia ainda insista.

Pudesse ter colheita mais perfeita,
Mas nada se mostrando quando deita
Ao solo com venal semeadura.

O passo sendo assim, trôpego e falso
Somente encontrará queda e percalço
Aonde imaginara uma ternura...


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“Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,”
Num mosaico infinito, feito em luzes
E quando à perfeição tu me conduzes
Diversa realidade que persista.

Caleidoscópio vário em mil matizes,
No espelho de tua alma me perdi
E quando me percebo estou aqui,
Diverso do que tanto me desdizes,

Não posso ter além do que consigo
Se eu sou em ti diversidade
E quando na maior profundidade,
Vislumbro tanto amor quanto perigo.

E passo a ser somente um complemento
Deste conjunto aonde tomo assento.


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“Que me vem de te olhar, que, ao entreter”
Não deixa qualquer dúvida e se imerso
No todo se transforma este universo,
Num misto de pavor e de prazer.

O passo mais audaz ao perceber
O quanto se propõe a cada verso
Sentindo ser apenas mais disperso
O que talvez pudesse merecer.

Alio-me ao quanto és e não me calo,
Seguindo cada passo neste embalo,
Eu sou o que tu és, e não me omito.

Transcende-se ao real e multiplica
A forma que deveras se edifica
Gerando tão somente este infinito...


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“Tão abstrata é a idéia do teu ser”
Que quando a concretizo se percebe
Além do que pudesse simples sebe
Um universo imenso a me conter.

Percebo em ti diversa dimensão
E assim perpetuando num mosaico
O quanto inda parece ser prosaico,
Mas nunca percebera divisão.

Etéreas as imagens procriadas
E nelas prosseguindo imerso, creio
Que além de simplesmente mero veio,
Unidos somos mais que tantas vidas.

Análises complexas e reais
Fenômenos supernos, magistrais...