27192
“Minha'ahna em notas de chorosa endeixa”
Explode-se em terrível solidão,
Ausente dos meus olhos o verão,
Apenas invernal e dura queixa.
A fúria do não ser tanto atormenta
Quem pode acreditar num novo dia,
Mas sem ter alegria e poesia
Descrente do futuro vai sedenta.
Pudesse ter nas mãos quem tanto eu quis,
Sonhando com seus lábios... não consigo
Viver além do duro e vão castigo,
Seguindo pela vida, um infeliz.
Ouvindo a voz tristonha da verdade,
Por mais que a fantasia ainda brade...
27193
“O bosque acorda desde o albor da aurora,”
Recebe em cada raio deste sol,
Beleza que se espalha no arrebol,
Dourando maravilhas que o decora.
Mas quando se percebe mais nublado
O amanhecer se torna amargo e frio,
E quando a realidade eu já desfio,
Percebo o sonho há tanto destroçado.
Escravizando uma alma em tristes dores,
Ausente dos meus olhos luz intensa,
Não tendo uma alegria que convença
Não posso perceber claros albores.
E vivo tão somente por viver,
Aonde se escondeu o meu prazer?
27194
“E como a rola que em sentida queixa”
Aguarda tão somente um estilingue
A sorte a cada dia mais se extingue
E o vago em seu lugar, chorosa, deixa.
Eu pude perceber algum momento
Aonde acreditei ter na esperança
O brilho que deveras já se lança
E nele vez em quando me apascento.
Mas quando se percebe a realidade,
Audaciosos passos? Não mais vejo,
E tendo o sofrimento e sem desejo,
Somente este vazio que degrade
A par do que não pude nem sabia,
Presente nos meus olhos, a agonia...
27195
“Bóia nas águas de gentil lagoa”
Um barco que procura um cais sereno,
Mas quando em tempestade me enveneno
As águas invadindo logo a proa.
O caos tomando conta dos meus dias,
Espúrias ilusões já fenecendo,
O quanto imaginara em estupendo
Momento são deveras noites frias.
Esgoto a minha força, nada sei,
Partícipe do infausto que domina
A cena e sem perdão me desatina
Traçando na desgraça a sua lei.
Descrevo com terror o meu futuro,
Tristeza torna o mundo mais escuro...
27196
“Bem como a folha que do sul batida”
Estraçalhada e mesmo amarelada,
Deixando no lugar o mesmo nada
Que tanto representa a minha vida.
Apática ilusão morrendo em vão
Acasos dominaram cada passo,
E quando novo dia ainda traço,
Somente os meus terrores mostrarão
Que tudo se perdera num tormento,
E nele com certeza a vaga luz,
Pesando em minhas costas feito cruz,
Tomando em dor imensa o sentimento.
Ocaso se mostrando insanamente,
Quem tenta e se aproxima, também mente...
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