sexta-feira, 19 de março de 2010

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27181

“Sem ter carícias no voar da brisa,”
A tarde se transforma em noite escura
O amor que tantas vezes se procura,
Somente com a dor ora divisa.

Arcando com enganos, sigo assim
Semeio uma esperança em solo agreste,
E quantas ilusões, outrora deste
Pudesse crer em flores no jardim.

Mas nada se transforma em realidade,
Tristeza dominando a minha vida,
Há tanto se prepara a despedida
Terror do nada ter ainda invade.

E o gozo prometido já se esvai,
O temporal intenso, agora cai...


27182

“E como a flor que solitária pende”
Durante as tempestades infernais,
O amor que eu desejara; nunca mais
O fogo da esperança reacende.

Arranco dos meus olhos este brilho
E perco a direção de cada passo,
Se ainda algum destino tento e traço
Diverso caminhar deveras trilho.

Eu pude acreditar num novo tempo,
E quando na ilusão ainda acampo,
Ao ver tal aridez tomando o campo
Aonde quis a paz, só contratempo.

Escassas emoções em noite amarga,
A voz ao ver o nada, já se embarga...

27183


“Nem doce canto o sabiá do mato”
Poderia trazer algum alento
A sorte se transforma em sofrimento
E o medo do sonhar, ora retrato.

Caminho sem sequer saber se existe
Momento que permita ter a paz,
E quanto mais feroz, bem mais mordaz.
Mantendo uma alma amarga, fria e triste.

Percorro os descaminhos costumeiros
E sinto quanto a dor já me domina,
Secando da esperança toda a mina,
Não posso mais ter flores nos canteiros,

E o canto que se ouvia, sabiá,
No peito de quem ama, calará...

27184

“Nem beijos dá-lhe a viração que corre,”
Nem ânsia satisfeita de um querer,
Aonde se encontrando o desprazer
Nem mesmo a fantasia me socorre.

Espaços entre luzes e vertentes,
A seca dominando o meu jardim,
Vivesse esta emoção, porém o fim
Transborda em dias tristes, penitentes.


Ascendo aos mais sublimes caminhares,
Querências pululando, nada vêm
Somente a solidão clamando alguém,
Distante dos meus dias, meus pomares.

Arcando com enganos mais venais,
O tempo me responde: nunca mais...

27185

“Pendida à beira do riacho ingrato;”
A flor que imaginara a mais bonita,
Porém na sorte amarga e tão maldita
Apenas no vazio eu me retrato.

Servindo de alimária, sou bufão
E teimo contra a força deste mar,
Sabendo que ninguém me proverá
Do encanto necessário, da paixão.

Acolho o meu destino entristecido,
E sigo mesmo sendo tão cruel,
Ausente dos meus olhos, lua e céu,
O peso nunca sendo dividido.

Destroço do que fora esperançoso,
Caminha pelas ruas, andrajoso...


27186


“Minh'alma é triste como a flor que morre”
E não deixa sequer semente ou grão,
Extingue desde cedo a plantação,
E apenas o vazio já decorre

Do que pensei outrora fosse além,
Somente em minha pele tatuada
A imagem de uma vida destroçada,
Que nada, sempre o nada inda contém.

Ocaso se mostrando num espelho,
As rugas dominando a minha face,
Ainda que esperança em vão se trace
O coração audaz nega o conselho,

E segue entre os espinhos, lacerado,
Olhando tão somente pro passado...

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