sábado, 20 de março de 2010

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“Do rosto nas feições o brilho interno,”
Diverso do que às vezes se aparenta,
Aonde se diz paz é violenta
E aonde se diz glória, pleno inferno.

Somar as nossas tantas variantes,
Seguir por vezes mitos ledos, falsos,
Comuns na caminhada tais percalços,
Mudamos nosso rumo por instantes.

E quando se aproxima o fim da história,
O quanto nós já fomos, padecemos,
Permite ao marinheiro tantos remos,
Ou traçando uma linha merencória.

Às vezes num sorriso, lacrimejo,
E em lágrimas sacio o meu desejo...


27263


“Guia a mão do pintor quando debuxa”
A soma de fatores mais diversos,
Assim quando eu componho tantos versos,
É como se imergisse em vária ducha.

Ourives da palavra, um escritor,
Usando seus disfarces nos permite,
Se acreditar além de algum limite,
Nas tramas deste insano sonhador.

O corte se bem dado do buril,
Traçando com beleza uma escultura,
Mas quando a mão se mostra fria e dura,
Por vezes o cenário se faz vil.

Não creia no que digo, mas me creia,
A mão traça diversa ou una teia.

27264


“A mesma inspiração, que acende o estro,”
Por tantas vezes traça o desespero,
E quando noutra sanha me tempero,
Por vezes verdadeiro ou mais canhestro.

Se o peso do que vivo influencia
Talvez o que não viva pese mais,
Criando do vazo, os temporais,
Palavra dita a norma e cadencia.

Apego-me ao não ser enquanto sigo,
E sigo sem saber quem mesmo sou,
Errático caminho se mostrou
Deveras muitas vezes meu abrigo.

Ilusionista, sim, porém nem tanto,
Retratando minha alma quando canto?

27265

“Perante o mesmo altar, coroam-se, ardendo”
Demônios, querubins, várias figuras,
Palavras que clareiam sendo escuras,
Momento doloroso ou estupendo.

Nefastas maravilhas, luzes tantas
Bebendo desta imensa liberdade,
O quanto do vazio que me invade,
Permitem ser profanas, créus e santas.

Ecléticos caminhos num só rumo,
As cores se misturam neste prisma,
E quando vez ou outra uma alma cisma,
Nem sempre um andarilho, eu tudo aprumo.

A queda prenuncia a redenção,
Assim como um amor dita o perdão...


27266


“Do fogo criador nas mesmas chamas,”
Encontram-se diversas fantasias
E quando delas novas tu recrias,
Revives do passado, luzes, dramas.

Tramas se entrelaçando, atemporais,
Existem desde quando existe o sonho,
O todo muitas vezes eu componho
Dos dias mais dispersos, tantos cais.

Apátrida emoção, vívida luz
Nas trevas a beleza incomparável,
Assim como um reflexo do tocável
Efeito tão complexo reproduz.

Nas crenças, ódios, medos e rancores,
Nos sonhos, nos anseios, nos amores...


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“As artes são irmãs, e os seus cultores”
Transformam qualquer forma num tesouro,
Das tantas emoções quando me douro,
Permito cultivar diversas flores.

E mesmo nas daninhas, meu alento,
Transito entre o fantástico e o real,
Portanto se feroz, tolo ou venal,
Nas tantas variáveis me sustento.

E bebo em goles fartos, outros dias,
Trafego em dissonantes maravilhas
Porquanto novos mundos sempre trilhas
Sabendo desde o eterno as melodias.

Infinitas verdades num só passo,
Num limitado espaço o mundo eu traço.

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