sexta-feira, 19 de março de 2010

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“Dizem que há gozos no viver d'amores,”
Repetem tantas coisas que não sei,
Na ausência de esperança a minha grei
Já não conhece mais perfume e flores.

Vestindo esta mortalha, ensandecido,
Não tendo outro caminho senão crer
Na ausência do suave amanhecer,
O tempo há tanto sinto enegrecido.

Vagar por entre estrelas, pensamento,
Sentir algum carinho, mesmo falso,
A cada ausência sinto o cadafalso,
E assim sem ter ninguém, eu me atormento.

Percebo que afinal não merecia
Sequer algum momento de alegria...


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“Ambos choramos mas num só gemido”
O amor e a dor completam nosso ciclo,
E quando em novos sonhos me reciclo,
O tempo que passamos; já perdido.

Pergunto a cada amigo aonde possa
Viver a fantasia que sustenta
Uma alma muitas vezes tão sedenta,
Ouvindo por resposta quase troça.

O quadro se repete tristemente,
E o vento que alentara já não veio,
Somente nos meus olhos o receio,
E a fúria destroçando o que há na mente.

Um andarilho em busca de um carinho,
Percorro o tempo inteiro tão sozinho...


27172


“Se mão de ferro espedaçou dois laços”
Jamais imaginara resistir
E tendo tão somente no porvir
A inexistência amarga destes passos

Sem deixar rastros segues noite afora,
E quando uma saudade ora me invade
Tocado por terrível tempestade,
O medo do não ter revolve e aflora

Aprendo com meus vários descaminhos
E creio ter no olhar um leve brilho,
E quando novas sendas tento e trilho,
Meus olhos são dois ledos passarinhos

Perdidos num espaço, sem um norte
Sem nada que acarinhe ou que conforte.


27173


“Que o diga e fale o laranjal florido’
Desta aridez terrível que enfrentamos,
E quando nos meus dias desvendamos
Estradas já não fazem mais sentido.

Levando nos sapatos a poeira
Marcantes ilusões, dias tão fúteis,
Os passos com certeza são inúteis
A sorte em minhas mãos, eu sei se esgueira.

Pudesse ter alento, mas sou triste,
E nada mais percebo senão isto,
Se muitas vezes teimo e até insisto,
No fundo o coração, sabe e desiste.

Pudesse ter amor que tanto quis,
Quem sabe poderia ser feliz...

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“Oh! quantas vezes a prendi nos braços!”
Ilusões que vivera num passado
Aonde imaginara iluminado
Caminhos que hoje sei, opacos, baços.

A vida tem seus vários sortilégios
E tento desvendar cada segredo,
E quando alguma luz inda concedo
Pensando em ter ao fim, os privilégios

A sorte se transforma totalmente
E o que se fez doçura me entristece
O amor quando se vai e se esvaece
Somente o sofrimento se pressente.

E assim ao caminhar tão solitário
O rio não encontra um estuário...


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“Outro tirou a virginal capela”
Deixando a minha vida sem razões
E quando o nada ser ainda expões
Vazio tão somente se revela.

Perceba a luz ausente nos meus olhos,
E veja quão dorido este caminho,
Por mais que se procuro novo ninho,
Aonde se quis flores vejo abrolhos.

Nas urzes corriqueiras, espinheiros,
Terríveis pedregulhos pontiagudos
Os sonhos seguem quietos, quase mudos,
Momentos que percebo derradeiros.

Audaciosamente; ainda tento
Alívio para dor e sofrimento...

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