27029
Depois de tudo vejo o simples nada
E sinto a derrocada mais feroz,
Sabendo do vazio logo após
A sorte há tanto tempo foi lançada.
Escombros do que fora outrora vida
Nefasta imagem traz desolação
Sabendo que depois não sobrarão
Sequer resquícios, leda despedida.
Algozes de nós mesmos, os demônios
Que um dia perfilaram sobre a Terra
Assim este capítulo se encerra
Nos mais terríveis fatos, pandemônios.
Desenha-se o final de tais enredos
“Com assombros, com pasmos, e com medos”.
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“Com assombros, com pasmos, e com medos”
Sintomática imagem do futuro,
E quando se percebe tão escuro
Momento em que traçamos os degredos
Aos quais nos submetemos sem saída
Esgotam-se os caminhos, vejo assim
Que quanto mais terrível nosso fim,
Maior a percepção disto sentida
E inerte sobre a Terra a raça humana,
Destrói com fúria tudo o que existira
Acende com terror última pira
E bebe a podridão que assim se emana
Negando a realidade que se aponte
Ocaso se demonstra no horizonte.
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Ocaso se demonstra no horizonte
E tudo o que talvez pudesse ser
Transfigurando a faca do poder,
Matando em aridez a imensa fonte.
O trágico caminho em tempestade
Acida uma existência que é venal,
E tendo já noção deste final,
A cada passo mais alto se brade
Putrefação gerada pela audácia
E dela se traçando o nada vir,
Assim se desenhando este porvir,
Marcado por soberba e por falácia
Nos Céus se traçam fortes, grandes riscos
“Relâmpagos, trovões, raios, coriscos.”
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“Relâmpagos, trovões, raios, coriscos”
Explodem num momento terminal,
Aonde se pensara germinal,
Destroços que carrego, são confiscos
Do quadro desenhado há tantos anos,
Medonhas as figuras que ora vejo.
Assim ainda creio e até almejo
A solução, mas sei dos desenganos
E enquanto não se vê nem atitude
Tampouco se terá uma saída,
Caminhando sem rumo e já perdida
Bem antes que a verdade crua mude
O fim sem horizonte já desponte
A fera, raça humana, fim e fonte.
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