27141
“Livre de enganos e visões escuras”
Caminho pelas noites, bar em bar
Beijando cada raio do luar
Aonde encotro a paz, diversas curas,
Arranco do meu peito a solidão
E vejo a cada esquina nova luz,
Aonde o meu amor se reproduz
Explode sem juízo o coração.
Escapo dos medonhos temporais
E bebo cada gota deste orvalho,
E quando mais ausente mais me espalho
Vagando por imensos, raros cais.
Assim eu permaneço um sonhador
Nas ânsias delicadas de um amor...
27142
“Floresce o riso e o júbilo se abriga,”
Nas horas mais fecundas e felizes,
Aonde muitas vezes os deslizes
Encontram quem acolha e até abriga.
Não posso descuidar da caminhada
Em flóreas emoções, a poesia,
E nela novo mundo que se cria
Depois da dor imensa desnudada.
Cortejos de insólita beleza,
Vislumbro neste raro amanhecer,
E tendo esta certeza de prazer,
Seguindo mansamente a correnteza.
Ligeiras nuvens passam pelo céu,
Porém o sol imenso rasga o véu...
27143
“De calma consciência à sombra amiga”
Já não mais caberia outro momento,
Senão este que bebo e me apascento,
Por mais que a fantasia me persiga.
Esqueço os dissabores mais venais,
E tendo nos meus olhos farto brilho,
Olhando para ti me maravilho
E sei que a solidão não volta mais.
Meu verso se tornando bem suave,
Não deixa a tempestade me domar,
Ao longe iluminando, luz solar,
Sem ter qualquer temor que ainda agrave
Estreito nos meus braços teu carinho,
No colo de quem quero, já me aninho...
27144
“Mais encantos encerra e mais doçuras, “
Quem tanto se concede amor imenso,
E quando nos teus braços inda penso
Depois de vários anos de procuras
Estreito esta alegria de saber
O quadro que se tece em luzes fartas,
Dos sonhos só te peço, não te apartas,
Pois deles reconheço o meu querer.
Ardentes emoções, noites de gala,
As bocas se tocando, loucamente,
Assim manhã sobeja se pressente
E a dor já não concebe, e já se cala.
Predigo então real felicidade
Enquanto o amor intenso agora invade...
27145
“Triste vaidade! O alvergue de um colono”
Não caberia os sonhos de um valete
Que tanto por amor inda compete,
Mas sabe no final, um abandono.
Resisto aos meus anseios e te peço
Vencido o meu temor, nada mais quero
Senão viver o amor, raro e sincero
E a cada novo dia recomeço
Vagando nesta busca que, inerente,
Já traz ao sonhador uma esperança,
E quando a dor do não ainda avança
O fogo do desejo é mais ardente.
Pressinto finalmente alguma luz,
À qual esta esperança me conduz...
27146
“Que vale a pompa e o resplendor do trono”
A quem se fez vassalo deste sonho,
E quando o meu caminho em ti reponho,
Ausente dos meus olhos medo e sono.
Esqueço os dissabores, sigo em paz,
E teimo contra a força da maré,
Rompendo dos meus pés esta galé
Sentindo-me deveras mais capaz.
Do quanto te queria e não podia
Viver felicidade num segundo,
E agora deste amor eu já me inundo
E bebo com vigor a fantasia,
Sabendo que deveras tanto errei,
Mas posso, nos teus braços, ser um rei.
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